Direito, Justi莽a e Mem贸ria
Bernardo G. B. Nogueira Emerson Luiz de Castro | Organizadores |
Direito, Justi莽a e Mem贸ria Bernardo G. B. Nogueira Emerson Luiz de Castro | Organizadores |
| Belo Horizonte | 2015 |
©2015 Os organizadores ©2015 by Centro Universitário Newton Paiva 2015
ISBN 978-85-98299-49-5
Centro Universitário Newton Paiva Unidade Juscelino Kubitschek: Av. Presidente Carlos Luz, 220 - Caiçara Unidade Buritis: Rua Jose Claudio Rezende, 26 - Buritis Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil
Direito, Justiça e Memória
expediente
Presidente do Grupo Splice: Antônio Roberto Beldi Reitor: João Paulo Beldi Vice-Reitora: Juliana Salvador Ferreira de Mello Diretor Administrativo e Financeiro: Antônio Roberto Beldi Secretária Geral: Jacqueline Guimarães Ribeiro Coordenação GERAL DA ESCOLA DE DIREITO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA: Emerson Luiz de Castro coordenadora do curso de direito - Unidade CCL: Valéria Edith Carvalho de Oliveira coordenadora do curso de direito - Unidade buritis II: Sabrina Torres Lage de Melo
ORGANIZAÇÃO Bernardo G.B. Nogueira Emerson Luiz de Castro
COLABORAÇÃO Nathália Ventura
APOIO TÉCNICO Núcleo de Publicações Acadêmicas do Centro Universitário Newton Paiva EDITORA DE ARTE E PROJETO GRÁFICO: Helô Costa - Registro Profissional 127/MG DIAGRAMAÇÃO: Kênia Cristina e Márcio Junio Gonçalves (estagiários do Curso de Jornalismo)
Direito, Justiça e Memória
apresentação
Imperfeições Poderia ser uma apresentação de textos escritos pelos alunxs da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva. Poderia ser um agradecimento ao Estado de Minas e mais precisamente aos responsáveis pelo Caderno Direito e Justiça. Poderia ser mais uma compilação de trabalhos interessantes acerca de temas atuais do mundo jurídico. Poderia ser um momento de exaltar o serviço que um veículo de informação como o Estado de Minas presta à comunidade jurídica e aos seus leitores. Poderia ser um novo caderno de memórias. Poderia ser uma homenagem aos alunxs e ex-alunxs da nossa Escola de Direito. Poderia ser mais uma ideia interessante de uma coordenação preocupada em manter próximos aqueles que construíram sua história misturada com a história da Escola de Direito. Poderia ser um exercício retórico procurar um motivo para tal construção acadêmica. Poderia... O Direito é uma construção histórica. Dá-se no tempo. É fruto dele. E também seu artífice. Na mesma direção, na medida em que alargamos a reflexão acerca do fenômeno jurídico. Há um alargamento das possibilidades de justiça. Ou seja, a cada margem avançada pelo pensamento dos juristas, nela podemos ver habitar um cadinho mais de humanidade. Estamos a falar de construções humanas, certo? Direito, Justiça e Memória
Logo, se o Direito figura nessa posição de regulador e construtor do tempo, há que se cuidar para que o criador e sua obra estejam em sintonia. Essa é a dimensão importante assumida em países democráticos que possuem no Direito seu organizador social. Não basta apenas a criação de leis a regularem o fazer humano cotidiano. Por detrás do cenário, o trabalho é árduo. Talvez a coxia deva ser um local a ser cuidado dentro do teatro jurídico-social. Os atores passam por lá. Lá fica o diretor. O figurinista. O roteirista. Os câmeras. O responsável pelo som. O que deixa cair a cortina. Todas as pessoas que são citadas nos créditos que ninguém lê. O holofote não incide sobre quem o opera, tampouco o zelo das pessoas que trabalham nas limpezas reflete-se no tratamento dado a elas. Nesse sentido, um caderno que traz o título Direito e Justiça e recebe textos de alunxs, de alguma maneira acompanha a reflexão proposta. Ora, o Direito enquanto esse construtor de tempos, não poderia deixar de lado, de fora, sem luz, aqueles que com seus próprios sonhos inscrevem-no em seu tempo. Assim, quando recebemos o texto de uma reflexão feita por um alunx, o mesmo assume um relevo interessante. Aliás, não é bem e exatamente o texto que possui uma importância maior. Em verdade, esse caderno presta uma função social e humanitária importantíssima: simboliza a hospitalidade de um rosto que ainda está a se esculpir. O texto discente traz em suas linhas o temor da exposição. O medo da crítica. Mas, ao mesmo tempo, traz em seu bojo o frescor de quem se descobre também construtor do Direito. Logo, também construtor de tempos. O espaço se torna mais plural com a paixão do alunx que tem à frente todo o desconhecido da carreira jurídica. Esse desconhecido é sua possibilidade, portanto, infinita. O caderno Direito e Justiça é construtor de tempos. Inaugura com esse espaço possibilidades que sequer os ávidos estudantes têm a real dimensão. É uma publicação de encontros. Encontros feito aqueles que nos surpreendem quando ao invés do ator principal, dedicamos um olhar atento ao esmero artístico daqueDireito, Justiça e Memória
le que deixa brilhando o palco. Essa surpresa, raiz do conhecimento segundo os gregos, é a mesma que os estudantes são tomados quando sentem suas palavras ganhando dimensão, também infinita, que o Jornal Estado de Minas possui. Poderia ser uma apresentação a se regozijar por fazer andar próximos alunxs e professores. Juristas formados e aqueles em formação. Regozijo pelo cuidado com quem fez parte de uma história. A Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva, acima de tudo, são seus alunxs. Contudo, em verdade, trata-se de um agradecimento, estendido aos alunxs que deixaram nestes textos a graça do frescor de suas reflexões, até aos editores do Estado de Minas que recebem estas palavras e unem Direito e Justiça. Que deixam falar quem não está no palco. Que dão voz plural ao seu Jornal. Que acolhem juristas, diretores, atores, roteiristas, decoradores, limpadores, alunxs e humanos. Todos com sua arte pronta a ser publicada, à espera de justiça. No presente, não no pretérito, imperfeito. Emerson Luiz de Castro Bernardo G.B. Nogueira
Direito, Justiça e Memória
sumário
CLAREZA NA LINGUAGEM........................................................................................................11 EXERCÍCIO DA CIDADANIA......................................................................................................15 CONSTRANGIMENTO NO TRABALHO CONSTRANGIMENTO NO TRABALHO.................19 ESFORÇOS PELO FIM DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.................................................................23 DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA.................................................................................................27 MAIORIDADE PENAL..................................................................................................................29 CONFLITOS ENTRE PATRÕES E EMPREGADOS.......................................................................33 RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS.......................................................................................37 DIREITO À SAÚDE AOS PACIENTES COM CÂNCER.................................................................41 CORRUPÇÃO: UM DOS LEGADOS DA COLONIZAÇÃO........................................................45 TOMBAMENTO E O DIREITO DE CONSTRUIR.......................................................................49 DEVER DO ADVOGADO............................................................................................................51 REINSERÇÃO DO CONDENADO NA SOCIEDADE.................................................................55 A PRISÃO PREVENTIVA E O ESTADO DE INOCÊNCIA..............................................................59 ENTRE A LEGALIDADE E A EFICIÊNCIA.....................................................................................63 CINEMA SOB A ÓTICA DO DIREITO.........................................................................................67 BEM DA FAMÍLIA: PROTEÇÃO A UMA VIDA DIGNA.................................................................71 Direito, Justiça e Memória
A LIBERDADE DE EXPRESSÃO...................................................................................................75 SISTEMA PENAL..........................................................................................................................79 ECA - CONQUISTA PARA SER POSTA EM PRÁTICA..................................................................83 MÉTODO APAC E O SISTEMA PRISIONAL................................................................................87 ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO....................................................................91 O TRABALHO DO MENOR.......................................................................................................95 ELEMENTO ÉTICO NA POLÍTICA.............................................................................................97 ASSÉDIO SEXUAL NO TRABALHO..........................................................................................103 ADICIONAL DE INSALUBRIDADE COMO PARCELA SALARIAL.............................................107 CLÁUSULA DE NÃO RESTABELECIMENTO............................................................................111 BENEFÍCIOS DA NOVA LEI DO AGRAVO................................................................................115 A RETÓRICA DO PODER..........................................................................................................119 O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO....................................................................................123 O MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E O ECA.....................................................................127 PROJETO INOVADOR PARA TRATAR O LOUCO INFRATOR......................................................131 ACÃO TRABALHISTA E A NECESSIDADE DO ADVOGADO...................................................135 ETICA NA POLÍTICA.................................................................................................................139 AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA............................................................................143 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE IMÓVEL POR PARTICULAR......................................................147 LIBERAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS........................................................................................151 FÉRIAS PROPORCIONAIS AO DISPENSADO POR JUSTA CAUSA...........................................155 NORMA SUCESSÓRIA DO COMPANHEIRO...........................................................................159
Direito, Justiça e Memória
CLAREZA NA LINGUAGEM Blandina Mara de Lima Freitas Aluna do 9º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 16 de abril de 2007 pág. 02
Aluno: Blandina Mara de Lima Freitas Texto: Clareza na Linguagem
A linguagem é uma ferramen-
buscada, como se esse tipo de atitude
ta que tem como função primordial
conferisse qualidade aos trabalhos.
possibilitar o entendimento entre as
Muitos ainda acreditam que o uso de
pessoas. Porém, aplicá-la de maneira
palavras com significados pratica-
clara e compreensível por todos não
mente desconhecidos pela maioria das
tem sido algo de uso corriqueiro por
pessoas e de frases inteiras em latim -
parte de muitos magistrados e outros
algumas sem qualquer conexão com o
profissionais da área jurídica. Em vez
sentido do texto em que são inseridas
de ser mais um instrumento de exer-
- é sinônimo de vasto saber jurídico e
cício de cidadania (sinônimo de aces-
de competência profissional.
so a todos os outros direitos), falar ou
Contudo, os estudiosos do direi-
escrever juridicamente tem sido algo
to devem se mobilizar para não con-
usado como um fim em si mesmo.
taminar seus textos com tais vícios.
Tal afirmação decorre do fato
É necessário que se conscientizem
de que muitos profissionais da área
de que suas palavras, faladas ou es-
tentam impressionar pelo uso de uma
critas, têm uma importante função
linguagem desnecessariamente re-
social. São eles que, utilizando-se de
Direito, Justiça e Memória
linguagem técnica adequada e aces-
ca -, cujo uso fere até mesmo o que
sível ao entendimento das pessoas
preceitua o artigo 156, do Código de
comuns, funcionarão como facilita-
Processo Civil: “Em todos os atos e
dores da aplicação dos princípios
termos do processo é obrigatório
constitucionais basilares que podem
o uso do vernáculo”. Consequen-
ser resumidos em um só preceito:
temente, atinge, também, todas as
garantir a dignidade da pessoa.
garantias processuais referentes ao
A linguagem jurídica é técnica
devido processo legal, entre elas a
e isso não há como negar. O direito
ampla defesa, assegurada constitu-
é uma ciência revestida de todos os
cionalmente pelo artigo 5º, LV.
pressupostos necessários para que
A verdadeira técnica jurídica
assim seja considerada. E, entre es-
está em se usar uma linguagem que
ses requisitos, coloca-se a existência
prime não pela forma erudita da le-
de uma linguagem técnica própria.
tra, mas pela clareza e correção de
Mas essa característica deve obje-
seu conteúdo. A principal preocupa-
tivar um bem maior, cumprindo o
ção deve se voltar ao atendimento
importante papel a que se destina:
dos critérios de consistência e coe-
esclarecer os cidadãos, os quais são
rência entre o que os profissionais
seus verdadeiros destinatários.
do direito dizem ou escrevem e o que
A técnica jurídica deve pri-
realmente querem dizer ou escrever.
mar pela conquista da confiança
É tão somente a partir de
daqueles que procuram (sozinhos
suas palavras, livres de quaisquer
ou orientados por seus advogados),
falácias, que nascerá no cidadão
junto ao Poder Judiciário, uma res-
comum o sentimento de confiança
posta para suas dúvidas sobre o que
no Judiciário, pois somente enten-
é ou o que não é direito.
dendo o que seus direitos realmente
A linguagem dos estudiosos
12
da área há que ser técnica, sim. Mas
significam é que terá esperança de vê-los garantidos.
aquela que seja verdadeiramente
E, para comprovar a importân-
assim considerada. Não está vincu-
cia do que neste artigo se expressa,
lada ao uso de vocábulos incompre-
basta realizar uma simples interpre-
ensíveis às pessoas comuns, muito
tação sistemática da Constituição
menos ao uso de frases em latim -
Federal de 1988, que em seu Título II,
língua de beleza incontestável, mas
Dos direitos e Garantias Fundamen-
inadequada para a atualidade jurídi-
tais, esclarece no início de seu artigo
Direito, Justiça e Memória
5º que: “Todos são iguais perante a
possível, para que cumpra a sua fi-
lei”. Depois, em seu artigo 13, inse-
nalidade de promover entendimento
rido nesse mesmo título, afirma: “A
entre as pessoas dos mais diferentes
língua portuguesa é o idioma oficial
níveis culturais e educacionais. O emprego do “juridiquês” cer-
Portanto, o português (e não
ceia as garantias fundamentais que
esta espécie de dialeto conhecido
a CR/88 promete estender a todos
como “juridiquês”) é o idioma capaz
igualitariamente e, por isso, deve ter
de garantir igualdade de acesso a
seu uso evitado pelos profissionais
todos os cidadãos brasileiros. Ele
do direito, ou, melhor ainda, deve
deve ser usado sempre com a maior
ser eliminado dos textos e discursos
clareza, simplicidade e objetividade
produzidos por eles.
Direito, Justiça e Memória
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da República Federativa do Brasil”.
EXERCÍCIO DA CIDADANIA Natália Ribeiro de Oliveira Aluna do 9º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 02 de abril de 2007, pág. 02
Aluno: Natália Ribeiro de Oliveira Texto: Exercício de Cidadania
A importância dos juizados es-
e têm como objetivo e competência a
peciais cíveis de Belo Horizonte, já
conciliação das partes envolvidas no
previstos constitucionalmente (artigo
processo, respeitando o princípio da
98, I), se mede pelo que proporcionam
oralidade, da economia processual, da
à população, em especial à economi-
segurança e da celeridade.
camente menos favorecida. Ou seja,
É da competência dos juizados
o acesso à Justiça, em respeito aos
especiais processar e julgar as cau-
princípios basilares, previstos na
sas que versarem sobre direitos pa-
Constituição da República Federativa
trimoniais, cujo valor não exceda a 40
do Brasil de 1988, que são: a digni-
vezes o salário mínimo. Até 20 salá-
dade da pessoa, a cidadania, a igual-
rios mínimos, o autor poderá deman-
dade e a redução das desigualdades
dar sem a presença obrigatória de
sociais, entre outros.
advogado. Acima desse valor, se faz
Os juizados especiais cíveis são
necessária a presença de procurador.
regidos pelo microssistema - Lei Fede-
Ainda que constituído advogado, este
ral nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,
não poderá representar as partes, as
complementada pela Lei nº 10.259/01
quais deverão comparecer pessoal-
Direito, Justiça e Memória
mente às audiências. A Lei nº 9.099/95 trouxe ao ci-
Lei dos Juizados Especiais. Porém,
dadão a possibilidade de ter o seu
uma das partes deve ser residente
conflito resolvido com eficiência, em
ou estar estabelecida na região do
tempo hábil e sem custo, amparado
Barreiro, ou seja, deve haver compe-
pelo Estado, o qual tem o dever de
tência territorial.
prestar a jurisdição. Os juizados
A partir da Constituição Fede-
especiais cíveis não devem ser vis-
ral de 1988, conhecida como Consti-
tos como sucessores dos juizados
tuição Cidadã, houve uma reconstru-
de pequenas causas, e sim, como
ção social, com origens na Revolução
uma nova fonte de acesso à Justiça,
Francesa, e, posteriormente, na
permitindo à sociedade evoluir na
Declaração dos Direitos Humanos.
afirmação dos direitos sociais, reco-
As normas passaram de um modelo
nhecendo que não existem pequenas
rígido e inflexível para moldes volta-
causas, mas conflitos que precisam
dos ao fortalecimento do conteúdo
de solução.
ético das relações sociais.
Existem quatro unidades de
A Lei dos Juizados Especiais
juizados especiais cíveis localizadas
faz parte desse processo de decodi-
em Belo Horizonte. A do Gutierrez
ficação, juntamente com o Estatuto
atende a ações ajuizadas contra em-
da Infância e da Juventude, o Código
presas concessionárias de serviços
de Defesa do Consumidor e o Esta-
de telecomunicações, a ações exe-
tuto do Idoso. Esse caráter princi-
cutivas de títulos extrajudiciais e a
piológico trouxe a possibilidade de
ações ajuizadas por microempresas.
interpretações solidaristas, ou seja,
O Juizado Especial das Rela-
aquelas engajadas na realidade
ções de Consumo atende às deman-
social brasileira, fazendo com que
das ajuizadas por consumidores
o direito sofresse modificações de
contra empresas fornecedoras de
acordo com a evolução da sociedade,
produtos ou prestadoras de servi-
caminhando para uma vida justa e
ços. Já a unidade na UFMG tem com-
digna para todos, tratando desigual-
petência residual, abrangendo as
mente os desiguais.
ações cíveis em geral, exceto aque-
Por meio da Lei dos Juizados,
las previstas nas unidades Gutierrez
o Brasil consegue dar mais um pas-
e Consumo.
so em busca do bem-estar social.
E a Unidade Barreiro atende 16
a ações cíveis em geral, previstas na
Direito, Justiça e Memória
A Justiça não pode estagnar, mas
sempre acompanhar a evolução da
consegue solucionar conflitos inter-
sociedade. Todas as causas que dão
subjetivos de forma rápida e desbu-
entrada nos juizados especiais são
rocratizada. Os juizados especiais
grandes causas, pois atrás de cada
aproximaram o Judiciário da popu-
petição, de cada história, existe um
lação, dando cumprimento ao pacto
ser humano, um cidadão que precisa
social firmado na Constituição Fede-
ser ajudado.
ral de 1988, o que nos leva a pensar e a repensar o Judiciário, e o atual significado de justiça e cidadania.
Direito, Justiça e Memória
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A Lei n9 9.099/95, ainda que deva ser aprimorada e valorizada
CONSTRANGIMENTO NO TRABALHO Décio Guimarães Júnior Aluno do 8º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 27 de novembro de 2006, pág. 02
Aluno: Décio Guimarães Júnior Texto: Constrangimento no Trabalho
Desde setembro de 2005, o segmento aeroviário brasileiro convive
estar sujeita a ataques terroristas e sequestros.
com uma polêmica. Foi quando a Jus-
Ora, o teste do polígrafo, de efi-
tiça decidiu que as empresas do setor
cácia duvidosa, consiste em analisar
podem usar o polígrafo, mais conhe-
as reações físicas de uma pessoa, tais
cido como detector de mentiras, para
como a sudorese e os batimentos car-
monitorar o comportamento de seus
díacos, à medida em que responde a
funcionários.
perguntas - inclusive sobre sua vida
A decisão foi proferida pelo Tri-
pessoal. Porém, releva observar que
bunal Superior do Trabalho, após ter
nosso direito constitucional consagra
julgado pedido de pagamento de in-
o princípio de que ninguém é obriga-
denização por danos morais de uma
do a produzir prova contra si mesmo.
ex-funcionária de uma companhia aé-
O Art. 5°, II, da Constituição Federal,
rea norte-americana, que trabalhou
também dispõe que ninguém será obri-
como agente de segurança no Aero-
gado a fazer ou deixar de fazer alguma
porto de Confins (MG). Tal prática
coisas e não em virtude de lei. Inserido
era justificada pelo fato de a empresa
na mesma Carta no artigo 5º, inciso X,
Direito, Justiça e Memória
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lê-se: “São invioláveis a intimidade, a
sando- se: “Considerando que, desde
vida privada, a honra e a imagem das
1999, estaria a ex-funcionária sob a
pessoas, assegurando o direito à inde-
influência do regulamento geral da
nização pelo dano material ou moral
empresa, submetendo-se aos testes,
decorrente de sua violação.”
sua tolerância afasta a ideia de omis-
Há aqueles que defendem o
são à regra protetiva de sua intimi-
uso do detector de mentiras, entre
dade. Aquilo que violenta a moral e a
eles o juiz Ronald Cavalcante So-
ética será sempre imediato”.
ares, relator do agravo, que diz: “A
Se a todo empregado é facul-
alegação da defesa de que a condu-
tada a prerrogativa de cobrar seus
ta empresarial violou o dispositivo
créditos resultantes das relações de
constitucional que protege a intimi-
trabalho, em cinco anos, até o limite
dade e a honra das pessoas não se
de dois anos após a rescisão con-
sustenta em face da natureza da
tratual (artigo 11,I, CLT e CF 88, 7º,
empresa e da constatação de que o
XXIX), deduz-se que o conceito de
teste era aplicado desde o início do
“imediato” na área trabalhista não
contrato de trabalho”.
é tão simples. Nesse caso, há que se
Todavia, não são poucos os
mencionar entendimentos diversos.
que condenam tal procedimento,
Tais direitos devem ser reclamados
sob a alegação de que a submissão
durante o teste do polígrafo? Um dia
do funcionário ao teste de polígra-
após o primeiro ou o último teste?
fo fere direitos constitucionais e
Um mês depois? Dentro do período
do trabalhador. Também entendem
estabelecido na CLT? Vê-se que tra-
que, o ato de sujeitar o empregado
ta-se de elemento normativo. Isto é,
a essa situação, tolhendo-lhe a liber-
o vocábulo “imediato” depende de
dade e diminuindo-lhe a capacidade
valoração. É subjetivo.
de autodeterminação - pelo fato de
Embora a funcionária tenha
lhe causar constrangimento ilegal
concordado em fazer o teste uma
- pode configurar-se como crime do
vez, não quer dizer que ela tenha se
artigo 146 do Código Penal.
conformado com o procedimento con-
Por sua vez, o Tribunal Regio-
tínuo. Muitas vezes, para se manter
nal do Trabalho, em Minas Gerais,
no emprego, o funcionário submete-
afastou a caracterização de dano mo-
se a situações ridículas, mesmo não
ral em razão do tempo de serviço da
concordando com elas. Como se sabe,
agente de segurança, assim expres-
o empregado encontra-se em posição
Direito, Justiça e Memória
Portanto, entendo ser equivo-
ção jurídica e objetiva perante o em-
cada a aprovação do uso do polígra-
pregador. Assim, tolerar não quer di-
fo pela Justiça. É mister considerar
zer concordar com a situação. Não é
que as empresas podem adotar o
de praxe que o empregado questione
método de segurança que melhor
procedimentos da empresa, mesmo
lhes aprouver. Todavia, nenhum pro-
quando se sente ofendido, o que aca-
cedimento pode ser contrário às leis
ba por criar uma situação de extremo
e ao consentimento expresso e es-
constrangimento.
pontâneo de seus funcionários.
Direito, Justiça e Memória
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de hipossuficiência, com subordina-
ESFORÇOS PELO FIM DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Hélia Marta Teixeira Gonçalves Aluna do 10º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/ Página 05 de fevereiro de 2007, pág. 02
Aluno: Hélia Mara Teixeira Gonçalves Texto: Esforços pelo fim da violência doméstica
Durante um ano, desenvolve-
No âmbito do Juizado Especial
mos um estudo que investigou as
Criminal, verificamos uma reincidên-
consequências
do
cia considerável e representativa.
aumento da pena em relação aos cri-
jurídico-sociais
Analisamos cerca de 100 Termos de
mes cometidos no ambiente familiar,
Ocorrência Circunstanciados, em que
bem como o impacto gerado pela tipi-
foram narradas situações acerca da
ficação dessa conduta (Lei nº 10.886,
violência
de 17 de junho de 2004). O trabalho
que 60% desses termos já vinham
desenvolveu-se por meio do acompa-
acompanhados de Termo de Desis-
nhamento processual junto ao Juiza-
tência no prosseguimento da repre-
do Especial Criminal de Contagem;
sentação assinado pela vítima na
de entrevistas com 50 mulheres víti-
própria Delegacia de Mulheres.
doméstica.
Constatamos
mas da violência doméstica; além de
Nos casos em que elas persisti-
pesquisa de campo nos conselhos,
ram, constatamos em 30% a ocorrência
centros e núcleos de apoio à mulher
da suspensão em sede de audiência
da capital, bem como na Delegacia de
preliminar, podendo a vítima retomar
Crimes contra as Mulheres.
ao juizado e declarar o desejo de conti-
Direito, Justiça e Memória
nuar com a representação no período
no que tange aos crimes de violência
de seis meses, a contar da data do co-
doméstica, em que a vítima acaba
nhecimento da autoria do delito.
tendo que abandonar o próprio lar e,
Na praxe, a interveniência do Ministério Público, e até mesmo dos
ou cidade para fugir do agressor.
“conciliadores”, faz calar a mulher,
A problemática jurídica, por
que acuada no seu papel de vítima,
conseguinte, continuou a residir no
é induzida a deixar o processo sus-
âmbito processual, pois, embora o
penso em nome da tão clamada “pa-
legislador tenha tido a intenção de
cificação social”. E 10% dos casos
coibir a prática da violência com
tiveram o triste fim de penalização
o acréscimo da pena do crime de
com o pagamento de cestas básicas,
lesão corporal cometida no seio fa-
prestação de serviços ou até mesmo
miliar, processualmente esta con-
arquivamento por falta de provas
tinuou a gerar os mesmos efeitos
consistentes,
testemunhas,
que gerava antes do advento da lei,
exames de corpo de delito, entre ou-
pois o autor da violência continuou
tras. Vale ressaltar que constatamos
a gozar dos mesmos benefícios an-
uma reincidência de 20% nos casos
teriores, quais sejam, a transação
anteriormente citados.
penal e o sursis processual, o que
como
A Lei nº 9.099/95, que instituiu os juizados especiais criminais, tra-
24
muitas vezes, até mudar de emprego
impede a aplicação de prisão ou mesmo da condenação.
çou um modelo de consenso que, em
Corrobora-se ao nosso estudo
tese, representou um avanço para as
o advento da Lei nº 11.340/06 (Lei
vítimas e trouxe grandes novidades,
Maria da Penha), que cria mecanis-
entre elas a composição civil, a tran-
mos para coibir a violência domés-
sação penal e a suspensão condicio-
tica e familiar contra a mulher, dis-
nal do processo. Todos esses insti-
pondo sobre a criação dos juizados
tutos, se bem usados, podem servir
de Violência Doméstica e Familiar
para resolver a questão penal e re-
contra a Mulher; alterando o Có-
parar o dano causado pelo delito. Po-
digo de Processo Penal, o Código
rém, não são suficientes para garan-
Penal e a Lei de Execução Penal.
tir a reparação do dano em todos os
A lei traz grandes inovações, entre
casos, sendo necessário ao Estado
elas o disposto em seu art. 41: “Aos
criar mecanismos para que essa re-
crimes praticados com violência do-
paração seja efetiva, principalmente
méstica e familiar contra a mulher,
Direito, Justiça e Memória
dos juizados de Violência Doméstica
se aplica a Lei nº 9.099/95”. Além de
e Familiar contra a Mulher.
estabelecer a aplicação subsidiária
Não podemos afirmar que a
do Código de Processo Penal, do Có-
nova lei será mais eficaz. Mas temos
digo de Processo Civil, do Estatuto
certeza de que, para isso, mais do
da Criança e do Adolescente, do Es-
que disposições legais, é necessário
tatuto do Idoso e de outras normas
o trabalho conjunto e o comprometi-
específicas, autoriza-se a criação
mento de toda a sociedade.
Direito, Justiça e Memória
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independente da pena prevista, não
DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA Valdeana Dias dos Santos Aluna do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 19 de novembro de 2007, pág. 02
Aluno: Valdeana Dias dos Santos Texto: Despertar da Consciência
A sociedade tem experimenta-
políticos têm a função de representar
do momentos de extrema reflexão.
o povo. Podemos considerar sua exis-
A midia escrita e falada divulga no-
tência como reflexo das vozes da so-
tícias que preocupam os brasileiros.
ciedade, ou seja, cabe a eles defender
O que causa maior perplexidade, en-
os direitos das pessoas.
tretanto, são os intensos deslizes das
Contudo, o que se vê é uma bus-
classes superiores do nosso Estado
ca egocêntrica por poder e dinheiro,
Democrático de Direito: o executivo,
para satisfação futura, quando não
o legislativo e, infelizmente, o judi-
estiverem mais na liderança. A so-
ciário. Há uma percepção clara da
ciedade, tão estigmatizada, sobrevive
total banalização desses setores, tão
às torturas diárias. Felizmente, vive-
importantes para a evolução do país.
mos em uma república relativamente
Pretendo aqui ressaltar uma
nova, denominada Brasil, mas, devido
classe, cuja função é de suma impor-
ao seu intenso crescimento e evolu-
tância, e que, infelizmente, tem des-
ção, ocorrem distorções e injustiças.
virtuado sua trajetória, sem nenhum
A nós, brasileiros, homens ou
constrangimento: a classe política. Os
mulheres, seja qual for a crença ou
Direito, Justiça e Memória
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raça, cabe a função de guardiões, em
materiais. Caio Mário da Silva Pereira
gritarmos incansavelmente por uma
entende que o dano moral é “qualquer
sociedade politicamente correta, éti-
sofrimento humano que não é causa-
ca, justa e igualitária, palavras estas
do por uma perda pecuniária e abran-
cada vez menos usadas.
ge todo atentado à sua segurança e
A cada quatro anos temos em
tranquilidade, ao seu amor-próprio
nossas mãos uma das armas mais
estético, à integridade de sua inteli-
poderosas já conquistadas, o voto.
gência, às suas afeições etc...”.
Devemos nos conscientizar de sua
Esse conceito diz respeito a to-
importância e não permitir que se-
dos os cidadãos que prezam por sua
jamos agenciados por pessoas cor-
auto-integridade. A cada instante
ruptas, sem nenhum critério moral e
somos atacados, sem oportunidade
social. Este deve ser um momento de
de nos defendermos. Menosprezam a
reflexões e denúncias. Devemos dar
nossa inteligência, a nossa dignidade.
crédito àqueles em que temos espe-
Ocorre, então, uma redução do nosso
rança e denunciar nossa indignação
patrimônio, porque ao se apropriarem
por todas as provocações causadas.
de coisas públicas, como por exemplo,
Esta tão sonhada conquista
o dinheiro, realiza-se um desfalque no
não pode escoar pelo ralo. Não pode-
bolso de cada cidadão, que contribui
mos permitir que ela, muitas vezes
pagando impostos e tributos.
obtida de forma violenta e sangren-
Se fossemos ao judiciário re-
ta, por cidadãos que já não estão
quisitar indenização por dano moral,
entre nós, fique abandonada. Acei-
o Estado não conseguiria arcar com
tamos tudo de forma muito fácil e,
essa obrigação. Sabemos que a re-
por isso, não somos compreendidos
paração é medida pela extensão do
no momento da indignação. Um grito
dano, não obstante, seus líderes, sem
de amadurecimento social está sen-
nenhum constrangimento, superam,
do ecoado, mas infelizmente, este é
cada vez mais, as nossas expectati-
um eco interno, escondido, medroso,
vas. Enfim, como diz uma conhecida
tímido, que deve ser libertado.
frase: “A qualidade de um vencedor é
Ao experimentar tanta corrup-
nunca desistir”. Sendo assim, não po-
ção, talvez fosse o momento de requi-
demos nos acomodar e acreditar que
sitarmos o nosso Estado Democrático
tudo está perdido, mas reconhecer
de Direito e uma recompensa, ou seja,
que existe um futuro de sucesso nas
uma indenização por danos morais e
mãos das novas gerações.
Direito, Justiça e Memória
MAIORIDADE PENAL Kleyson Anilton Duarte Marques Aluno do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 28 de abril de 2008, pág. 02
Aluno: Kleyson Anilton Duarte Marques Texto: Maioridade Penal
No Brasil, a maioridade penal é
fevereiro de 2007. Caso pudessem ser
fixada em 18 anos, ou seja, a impu-
enquadrados dentro do Código Penal,
tabilidade inicia-se aos 18. Nossa le-
os assassinos responderiam por ho-
gislação adotou o sistema biológico,
micídio qualificado, com pena de 12 a
ignorando o desenvolvimento mental
30 anos de prisão.
do menor, considerando-o inimputá-
Porém, como alguns acusados
vel, mesmo tendo capacidade para
são menores de 18, só podem ser res-
entender a ilicitude do fato.
ponsabilizados pela Lei nº 8.069, de
O aumento do índice de crimi-
13 de julho de 1990, o ECA (Estatuto
nalidade envolvendo menores infra-
da Criança e do Adolescente), artigo
tores traz à tona a viabilidade prática
121, que diz: “ Em nenhuma hipóte-
do atual modelo brasileiro. Os casos
se o período máximo de internação
de maiores repercussões foram, sem
excederá a três anos”. Não é de se
dúvida, o assassinato dos estudan-
espantar o tamanho da dor, revolta,
tes Felipe Silva Caffé, de 19, e Liana
sensação de impunidade e injustiça.
Friedenbach, de 16, em novembro de
O filósofo e jurista Sólon, por vol-
2003, e do menino João Hélio, de 6, em
ta de 590 a.C, tendo sido perguntado
Direito, Justiça e Memória
30
sobre a maneira mais eficaz de dimi-
já antecipava e recomendava: “É
nuir os crimes, disse: “Isso ocorrerá
melhor prevenir o crime do que cas-
se eles causarem tanto ressentimen-
tigar” e “É a celeridade e a certeza
to nas pessoas que não são vítimas
da pena, mais que a sua severidade,
dos mesmos quanto nas que são”.
que produza efetiva intimidação”.
Foi o que aconteceu no caso
Nem o CP, nem o ECA, a me-
do menino João Hélio. A sociedade
lhor doutrina defende a possibi-
brasileira tomou uma conduta ética.
lidade de uma terceira via: “uma
Uma conduta ética é uma tomada de
responsabilidade penal diminuída,
posição. Não há nada mais antiético
com
que a indiferença, ser indiferente é
das, para os infratores jovens com
banalizar a violência.
idade entre 16 e 21 anos, cujas
consequências
diferencia-
Há mais de 16 anos surgia o
sanções devam ser cumpridas em
ECA, em substituição ao ultrapas-
outra espécie de estabelecimento,
sado Código de Menores. O atual
exclusivas para menores, com tra-
diploma representa um novo pacto
tamento adequado, enfim, um tra-
político-social, que busca consolidar
tamento especial”.
o Estado Democrático de Direito,
Mesmo não sendo recepciona-
priorizando a cidadania, uma das
do pela Constituição Federal, o arti-
faces da CRFB de 1988.
go 50 do CPM é semelhante ao texto
De acordo com o artigo 112 do
do Senador Demóstenes Torres e da
ECA a medida de internação só poderá
proposta defendida por Bitencourt.
ser aplicada quando for esgotada todas
No entanto, o Brasil não tem uma
as medidas específicas de proteção e
estrutura moral e jurídica para via-
todas as medidas socioeducativas.
bilizar tal proposta.
Segundo o saudoso Nelson
Nilo Batista, em Introdução
Hungria, uma condenação penal ar-
crítica ao direito penal brasileiro,
ruinará, talvez irremediavelmente, a
cita Zaffaroni, quando trata da ques-
existência inteira do adolescente, é
tão da co-culpabilidade do Estado:
preferível, sem dúvida, corrigi-lo por
“Reprovar com a mesma intensida-
métodos pedagógicos, prevenindo a
de a pessoas que ocupam situações
sua recaída no malefício.
de privilégio e a outras que se acham
Em 1764, na cidade de Madri,
em situação de extrema penúria é
o Marquês de Beccaria, publicou o
uma clara violação ao princípio da
livro Dei delitti e delle pene, em que
igualdade corretamente entendido”.
Direito, Justiça e Memória
a responsabilidade da família. Essa,
cef, 45% das crianças e adolescentes brasileiros são pobres.
que recebe a proteção estatal, não
Para Michel Foucault, o ser
tem só direitos, mas o grave dever,
humano tem uma forma particular
juntamente à sociedade e o Estado,
de se relacionar com aquilo que re-
de assegurar, com absoluta priori-
jeita, ele interna. A internação não
dade, os direitos fundamentais da
é o sistema mais eficiente de punir.
criança e do adolescente enumera-
Ao contrário, criamos uma organi-
dos no art. 227 da CR.
zação terrorista dentro da própria
A maioria desses jovens mal
sociedade, que tende a crescer e a
sabe ler e escrever, foram criados
se organizar. Por isso, a pena pri-
em vilas e favelas, quase todos são
vativa de liberdade será, sempre, a
negros, vítimas de um histórico de
ultima ratio legis, ou seja, a última
desigualdade social, preconceito e
saída para a indispensável manu-
corrupção. Segundo dados da Uni-
tenção da ordem jurídica.
Direito, Justiça e Memória
31
José Afonso da Silva destaca
CONFLITOS ENTRE PATRÕES E EMPREGADOS Israel Gonzaga Ferreira Aluno do 8º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 24 de setembro de 2007, pág. 02
Aluno: Israel Gonzaga Ferreira Texto: Conflitos entre patrões e empregados
As comissões de conciliação
tigo 625-E do mesmo dispositivo legal.
prévia são uma afronta ao artigo 5º
A conciliação é objeto primordial do
da Constituição Federal Brasileira? A
processo trabalhista que, ao longo
pergunta acima é algo que o advoga-
do tempo, tem dirimido conflitos en-
do (geralmente do reclamante) afir-
tre empregadores e empregados, o
ma veementemente ser inconstitu-
que caracteriza a Justiça trabalhista
cional, quando a reclamada argúi, na
como uma das mais céleres.
contestação, a inépcia da inicial, por
Tais comissões vieram desafo-
não ter termo de acordo emitido pelas
garas diversas demandas trabalhis-
comissões de conciliação prévia.
tas que existem hoje nos tribunais. De
As mesmas foram instituídas
acordo com estatística do Tribunal
por meio da Lei nº 9.958 de 2000,
Superior do Trabalho (TST), em 2005,
que acrescentou os artigos 625-A a
de todas as ações impetradas na Jus-
625-H, na Consolidação das Leis do
tiça do Trabalho no país, 443% resul-
Trabalho (CLT). Essa norma também
taram em conciliações. Nesse mesmo
tornou o termo de conciliação título
ano, foram recebidos no TST 116.294
executivo extrajudicial, conforme ar-
processos, nos TRTs, 544.828, e nas
Direito, Justiça e Memória
34
Varas do Trabalho espalhadas por
exemplo é que a empresa fica livre
todo o país, 1.739342, somando um
de custas processuais e o empregado
total 2.400.364 lides.
tem seus direitos garantidos, sem a
A partir daí, nota-se a impor-
necessidade de procurar o judiciário.
tância do artigo 625-D da CLT. Con-
O que geralmente ocorre no
forme dados do TST, quase metade
Brasil é o desvirtuamento de tudo
dessa demanda não precisaria ter
que é criado. As comissões de con-
chegado à Justiça. O artigo supraci-
ciliação prévia foram criadas com o
tado em nada contraria o artigo 5º,
objetivo de trazer benefícios para
inciso XXXV, da Constituição Fede-
as pessoas envolvidas na relação
ral. Não existe nenhuma afronta ao
de trabalho - empresa e empregado
princípio do livre acesso ao Poder
- além de buscar o desafogamento
Judiciário, uma vez que não existe
do judiciário.
impedimento para ingresso de ação
Entretanto, advogados já no-
na Justiça, mas, sim, a exigência de
ticiam que comissões ligadas a sin-
um pré-requisito.
dicatos têm chegado a cobrar até
Tal entendimento já é pacífico
mesmo o percentual de 20% do valor
em vários acórdãos do TST. O artigo
da causa para possíveis soluções de
114 da Constituição Federal, em seu
conflitos, enquanto na Justiça do
§ 2º, e o artigo 616, da CLT, exigem
Trabalho não existe ônus nenhum
esse instituto para o ingresso da
para o reclamante.
ação nos casos de dissídio coletivo.
É vedada a cobrança indevi-
Não é necessária a chegada do pro-
da de taxa de conciliação realiza-
cesso ao tribunal para se transa-
da, bem como qualquer percentual
cionar, uma vez que isso pode ser
sobre o resultado da negociação. A
feito antes. Não havendo acordo ou
tabela de honorários da OAB prevê
quando o empregado não puder e
a cobrança do mesmo percentual
não quiser dispor de direito seu, aí,
para o patrocínio do reclamante
sim, poderá submeter sua demanda
em uma ação trabalhista. Contudo,
à apreciação do judiciário, conforme
sob o ponto de vista dessa portaria
os § § 2º e 3º do artigo 625-D da CLT.
editada pelo TST, é ilegal a cobran-
A inovação da Lei nº 9.958 de
ça de qualquer valor por parte das
2000 não prejudica empregados e
comissões, pois assim elas perdem
empregadores. Pelo contrário, traz
a finalidade para a qual foram cria-
benefícios para ambas as partes,
das. A portaria supracitada não
Direito, Justiça e Memória
Por isso, além da análise cons-
teio para as comissões, entretanto,
titucional da lei, deve ser feita a
o artigo 149 da Constituição Federal
análise teleológica do caso, para ve-
veda expressamente tal ato, uma
rificar a real eficácia da norma, pois
vez que é de competência exclusiva
quando ela é criada para facilitar e
da União a autorização de contri-
melhorar a vida de muitos, outros já
buição sindical.
pensam em mil maneiras de burlá-la.
Direito, Justiça e Memória
35
proíbe a cobrança de verba de cus-
RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS Valdeana Dias dos Santos Aluna do 5º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 23 de julho de 2007, pág. 02
Aluno: Valdeana Dias dos Santos Texto: Respeito aos Direitos Humanos
Ao longo de séculos, tem se
beleceu-se o que era lícito, e ocorria
discutido diversos temas. Entre eles,
o julgamento para quem infringisse
como marco principal, se encontram
as leis. A partir de 1.175 a.C., nasce
os direitos humanos fundamentais.
o Código de Hamurabi, constituído de
Essa expressão surge com a necessi-
diversos artigos, tais como: direito à
dade de limitar o poder dos chefes de
vida, à propriedade, à honra, à digni-
Estado, os quais usavam sua autori-
dade, à igualdade, à supremacia das
dade para ferir a dignidade humana.
leis em relação aos governantes.
Nasce, nesse momento, a consciência
A influência filosófica também
de que o respeito aos direitos do ser
foi bastante expressiva, como Antígo-
humano é o alicerce de um Estado De-
na de Sófocles defendendo o direito
mocrático de Direito.
natural, considerado universal, me-
Sua história é remota. Consta-
tafísico, indivisível e imutável. No en-
ta-se o surgimento dos direitos huma-
tanto, percebemos no direito romano
nos fundamentais em alguns séculos
um maior destaque, ao visá-lo como
a.C„ no antigo Egito e Mesopotâmia.
tutela do direito, criando-se normas
Na sociedade arcaica, 4.000 a.C, esta-
para resolver litígios sociais.
Direito, Justiça e Memória
38
Os direitos humanos funda-
desequilíbrio em relação à participa-
mentais têm características essen-
ção efetiva da sociedade para alcan-
ciais tais como: a imprescritibilidade
çar aquilo que é seu por direito.
(não perde sua validade pelo decur-
A população, desacreditada,
so do tempo); a inalienabilidade (não
cria uma concepção errônea de que
pode ser transferido); a irrenuncia-
direitos humanos são institutos de
bilidade (não pode ser renunciado);
proteção aos delinquentes ou às au-
a inviolabilidade (não pode ser viola-
toridades, afastando daqueles que
do, principalmente por funcionários
infringiram a lei qualquer tipo de
públicos): a universalidade
punição. Contudo, ao contrário, estes
(pertence a todos os indivíduos, in-
só existem para proporcionar ao ho-
dependentemente de raça, cor, cre-
mem um devido processo legal, com
do ou convicção político-filosófica);
todos os seus direitos e garantias de-
a efetividade (o poder público tem
clarados na Constituição da Repúbli-
que fazer prevalecer as garantias
ca Federativa do Brasil de 1988.
contidas na Constituição); a iso-
Constatamos ainda, apesar de
nomia (todos são iguais perante a
tantos defensores que acreditam e
lei), entre outras.
confiam nessa missão, vários casos
A Constituição Federal vêm
de injustiça e de condenação social
consagrar e proteger os valores in-
para aqueles que lutam por essa cau-
dividuais do ser humano, que, por
sa, que participam efetivamente da
vezes, é tão vulnerável e oprimido.
trajetória dos que têm conduta des-
Em seu artigo 5° ela ressalta que
viante, mas que merecem um míni-
“todos são iguais perante a lei, sem
mo de dignidade e respeito por parte
distinção de qualquer natureza, ga-
da sociedade, sobretudo desses que
rantindo-se aos brasileiros e aos
operam esta arma tão poderosa e de
estrangeiros residentes no pais a
transformação que é o direito.
inviolabilidade do direito à vida, à
As demonstrações de barbari-
liberdade, à igualdade, à segurança
dades que observamos no dia-a-dia,
e à propriedade (...)”.
infelizmente, são decepcionantes e
O Estado tem como dever pro-
merecedoras de toda a nossa indig-
porcionar essas garantias, de forma
nação. Mas, será que ao proporcio-
ampla e eficaz, sendo esse o grande
narmos uma situação desumana a
desafio para as autoridades brasilei-
essas pessoas resolveríamos a situ-
ras. Percebemos de forma nítida um
ação do nosso país?
Direito, Justiça e Memória
Mediante isso, nasce a neces-
tome conhecimento e faça valer o
sidade de aflorar uma conscientiza-
seu direito ético, universalmente vá-
ção. Assim dizia Afonso Arinos: “A
lido. A omissão não pode perpetuar,
eficácia de um conjunto de normas
pois a efetivação dos direitos huma-
desse tipo, ainda que adotado ofi-
nos fundamentais cabe a cada um de
cialmente por quase todos os Esta-
nós, brasileiros ou estrangeiros, in-
dos, depende muito da penetração
dependentemente.de raça, cor, credo
dos seus princípios na consciência
ou convicção político-filosófica.
nas diretrizes dos governos”.
Muitos enxergam esses direitos como uma utopia. Entretanto,
Em suma, constatamos a im-
precisamos pensar em um país me-
portância desses direitos para a so-
lhor, com igualdade e respeito. Como
brevivência de qualquer sociedade,
disse o mesmo Afonso Arinos: “Não
principalmente em um Estado Demo-
se pode separar o reconhecimento
crático de Direito. A lei foi promul-
dos direitos individuais da verdadei-
gada. É necessário que a sociedade
ra democracia”.
Direito, Justiça e Memória
39
coletiva dos povos, e, através dela,
DIREITO À SAÚDE AOS PACIENTES COM CÂNCER Luciana Matozinhos Aluna do 10º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 15 de dezembro de 2008, pág. 02
Aluno: Luciana Matozinhos Texto: O Direito á Saúde aos pacientes com câncer
O direito à saúde faz parte dos
postos de saúde, hospitais, progra-
chamados direitos sociais, que têm
mas de prevenção, medicamentos etc.
como inspiração o valor da igualdade
E, além disso, que esse atendimento
entre as pessoas. Durante a Consti-
seja universal (atingindo a todos os
tuinte de 1988 as responsabilidades do
que precisam) e integral (garantindo
Estado foram repensadas e promover a
tudo o que a pessoa precise).
saúde de todos passou a ser seu dever,
O Sistema Único de Saúde
principalmente para os doentes com
(SUS) foi criado pela Constituição
enfermidades graves como o câncer.
Federal de 1988 e regulamentado
A saúde é um direito de todos,
pelas leis 8.080/90 e 8.142/90. A ideia
porque sem ela não há condições
do SUS é mais que simplesmente
de uma vida digna, e é um dever do
disponibilizar postos de saúde e
Estado, visto que é financiada pelos
hospitais. Infelizmente esse sistema
impostos pagos pela população. Des-
ainda não está completamente orga-
ta forma, para que esse direito seja
nizado, no entanto, alguns direitos
uma realidade é preciso que o Esta-
estão garantidos e devem ser cobra-
do crie condições de atendimento em
dos para que sejam cumpridos.
Direito, Justiça e Memória
42
Se o Estado não pode propor-
alguma política efetiva de combate
cionar diretamente um tratamento
ao câncer no país. Na verdade isso
ou, quando um procedimento não é
é uma utopia, visto que é desconhe-
assegurado pelo SUS, ou, ainda, não
cida qualquer política de saúde que
está contemplado nas leis, deve, com
venha abranger o câncer.
base no princípio da isonomia da
O SUS envolve ainda duas ou-
administração pública, por meio da
tras questões que devem ser encara-
aplicação de critérios médico-cientí-
das pelas autoridades. Em primeiro
ficos (por meio de laudos e exames),
lugar, ao deixar de cobrir procedi-
fixar e autorizar os tratamentos e
mentos como o home-care (cuidados
remédios que devem ser fornecidos
em casa), muitas vezes acaba ar-
ao indivíduo. Entretanto, para que
cando com despesas maiores; neste
isso ocorra, muitas vezes, o paciente
caso, mantendo a internação do pa-
precisa recorrer a justiça.
ciente no hospital. Outro ponto é o
No momento em que a Consti-
alto patamar dos custos da medicina
tuição Federal dispõe em seu artigo
moderna. Torna-se necessária a am-
196 que a “saúde é direito de todos
pliação dos medicamentos oncológi-
e dever do Estado”, isso significa
cos com isenção de impostos.
que todos, sem exceção, acometi-
A incidência do câncer cresce
dos de qualquer doença, inclusive
no Brasil, como em todo o mundo,
câncer, têm o direito a tratamento
num ritmo que acompanha o enve-
pelos órgãos de assistência médica
lhecimento populacional decorrente
mantidos pela União, pelos estados
do aumento da expectativa de vida.
e pelos municípios.
É com essa perspectiva que o direito
A questão das políticas nacio-
à saúde deve ser tratado, porque é
nais de controle do câncer, mais uma
um direito fundamental sem o qual
vez, passa desapercebida do debate
não se realiza efetivamente a digni-
público. Não raro, ouve-se dos espe-
dade da pessoa.
cialistas de oncologia a crítica de
Tem-se uma problematiza-
que a estratégia governamental de
ção: de um lado está um sistema
combate à doença ainda limita-se a
com filas, falhas e carências bási-
ações de campanhas pontuais. Com
cas. De outro, a lei, que prevê aces-
resultados para lá de modestos, le-
so universal à saúde e assegura
vando profissionais e autoridades da
que aqueles pacientes necessita-
área a perguntarem se de fato existe
dos de remédios excepcionalmente
Direito, Justiça e Memória
caros terão a medicação fornecida
problemas de gestão administrativa.
pelo Estado. Equilibrar as duas de-
Mas é um erro acreditar que somen-
mandas é o desafio.
te eles sejam os responsáveis pelo quadro que se apresenta. O problema da efetivação das
insere em uma questão bem maior,
políticas públicas traz inserido a dis-
que é o da generalizada carência do
cussão do papel a ser exercido pelo
país. Há uma expressiva quantidade
Poder Judiciário. É imprescindível
de cidadãos carentes e o Estado tem
uma nova postura dos operadores
inúmeras necessidades sem recur-
jurídicos e do administrador público
sos suficientes para custeá-las. Essa
diante da Constituição de 1988, de
situação deficitária encontra múlti-
modo que a sua atuação seja apro-
plas causas, dentre as quais estão
priada aos novos direitos.
Direito, Justiça e Memória
43
O problema do acesso à saúde, especialmente à saúde pública, se
CORRUPÇÃO: UM DOS LEGADOS DA COLONIZAÇÃO Silvia Iglésias Aluna do 4º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 25 agosto de 2008, pág. 02
Aluno: Sílvia Iglésias Texto: Corrupção: um dos legados da colonização
Abolir a corrupção no Brasil ainda é um dos maiores desafios
dos com a justiça em verdadeiras ações de cidadania.
no País. Isso porque tal prática,
Vários momentos históricos
comum nos dias atuais, tanto na
de corrupção, nas mais diversas
Justiça brasileira como nas esferas
formas, marcam os 508 anos do
dos poderes Executivo e Legislati-
Brasil, e o Judiciário vem se des-
vo - alvos de denúncias de atos cor-
tacando como um poder, cada vez
ruptos e ilícitos, não é fato recente
mais, fortalecido. O que se deve le-
na história. No entanto, conside-
var em consideração é que, desde a
rando-se o direito como dinâmico
“descoberta’’ do “novo mundo”, as
e renovado, algumas ações dos ma-
bases da formação jurídica nacional
gistrados vêm apontando efetivas
foram fundadas com a imposição do
mudanças no poder Judiciário bra-
direito português por meio da bu-
sileiro, já que alguns operadores
rocracia, da troca de favores e das
jurídicos mostram-se comprometi-
relações pessoais de parentesco.
Direito, Justiça e Memória
Nessa configuração, estruturou-se
mais rápidas, tendo como afiada a
o direito no Brasil: de um lado, uma
imprensa, que traz a lume as suspei-
elite com esquemas formados de
tas de irregularidades. Isso reflete a
corrupção e manutenção de status;
responsabilidade maior do Judiciá-
de outro, magistrados dispostos a
rio em dirimir as controvérsias com
tudo para garantir privilégios para
imparcialidade e segurança, ainda
si e para os seus.
que pese na mais alta cúpula do po-
Desde os primórdios, o direi-
der - o Supremo Tribunal Federal
to nacional não representou a con-
(STF) - a atuação de ministros esco-
tento os interesses do bem comum
lhidos pelo presidente da República.
da coletividade. O papel dos juízes,
Entre muitos casos envolven-
por exemplo, que já era o cargo mais
do magistrados, a maioria já chega
importante do poder Judiciário, con-
ao conhecimento da opinião pública.
siderando os pontos relevantes para
O julgamento histórico em 2007 foi
tomadas de decisões, dava-se com
mais uma ação que devolveu a con-
base na lei ou nos aspectos subje-
fiança ao poder Judiciário, desven-
tivos. Enquanto algumas heranças
dando amplo esquema de corrupção
históricas se perpetuam ainda nos
política - o conhecido “mensalão”.
dias atuais, outras tiveram grande
Ao transformar os 40 denunciados
evolução para o exercício da cida-
em réus, em um processo criminal,
dania. A legislação não era expres-
o STF cumpriu seu papel e se agi-
são da vontade das populações ori-
gantou como uma instituição sólida
ginárias e nativas, e sim imposição
e soberana, já que nunca ocorreu um
respaldada na dominação das elites
processo como esse na história dos
agrárias. Diferentemente, existem,
tribunais, tendo em vista o interesse
hoje, um regime democrático par-
político que envolvia a questão.
ticipativo e a consolidação de uma
46
identidade cultural e nacional.
Atualmente,
as
denúncias
chegam ao conhecimento da popu-
Com a democratização do País,
lação, com considerações amplas
depois de 20 anos de ditadura, a cor-
e ágeis e atuação extensiva da im-
rupção tem sido constantemente co-
prensa. São inúmeras denúncias de
locada no banco dos réus e, mesmo
corrupção na magistratura. como a
em um processo lento, os resultados
venda de sentenças, abuso de poder
têm sido muito benéficos, já que a
em benefício próprio e até mesmo li-
sociedade tem exigido respostas
beração de habeas corpus a pesso-
Direito, Justiça e Memória
deral. Basta conhecer a história no
assegurado
constitucionalmente,
passado para compreender a rea-
entre outras. Muitos são julgados
lidade atual e começar a agir para
e transitados independentemente
mudanças eficazes e urgentes. Mas
de qualquer status, mas a impuni-
será que a sociedade realmente tem
dade ainda é realidade no Brasil.
criado mecanismos para coibir a
Isso pelo formalismo que conduz às
corrupção ou acredita-se que a im-
injustiças pelos “influentes” reinan-
prensa tem atuado de forma mais
tes nas esferas de alto escalão.
cidadã no que tange às denúncias de
Consciente e crítica, a nação
forma isenta e explicita, com o de-
brasileira poderá construir um país
vido acompanhamento das práticas
verdadeiramente democrático, como
dos magistrados e dos operadores
é assegurado na Constituição Fe-
do Legislativo e Executivo?
Direito, Justiça e Memória
47
as que não fazem jus a esse direito,
TOMBAMENTO E O DIREITO DE CONSTRUIR Herbert Silva Quintão Aluno do 10º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 06 de abril de 2009, pág. 02
Aluno: Herbert Silva Quintão Texto: Tombamento e o Direito de Construir
A transferência do direito de
que previa a possibilidade de criar so-
construir é sustentada na separação
los artificiais, não mais dependendo
entre o direito de propriedade e o
apenas da extensão da área do solo
direito de construir e na questão da
natural. Desses estudos, originou-se
função social da propriedade. Só pas-
um documento denominado Carta de
sou a fazer parte do mundo jurídico
Embu, de 1976.
brasileiro em 2001, com a publicação
Esse documento previa aos pro-
do Estatuto da Cidade. No entanto,
prietários que sofressem limitações
pode-se observar que esse recurso
administrativas a possibilidade de
vem sendo utilizado e regulamentado
transferência do potencial construti-
em leis municipais há algum tempo.
vo, isto é, aqueles que ficassem impe-
Na década de 1970, o Centro de
didos de utilizar em sua plenitude o
Pesquisas da Administração Munici-
coeficiente único de edificação pode-
pal (Cepam), sediado em São Paulo,
riam transferir a parcela não utilizá-
foi palco de estudos realizados com o
vel do direito de construir. No caso do
intuito de regulamentar o “solo cria-
imóvel tombado, ao proprietário to-
do”, instituto urbanístico inovador
ma-se facultado o direito de alienar o
Direito, Justiça e Memória
direito de construir correspondente
artigo 2º que as áreas de interesse
à área não edificada até alcançar o
ambiental (ADE), zona especial de
coeficiente de aproveitamento.
interesse social (ZEIS) e os imóveis
Em Belo Horizonte, esse ins-
tombados são passíveis de transfe-
trumento foi apresentado pela Lei
rência do potencial construtivo. De-
Orgânica de 1990, sendo instituído
fine também as áreas passíveis de
em 1994 por meio da Lei 6.706/94. No
serem receptoras do potencial cons-
caso de programas habitacionais,
trutivo de acordo com a Lei de Par-
essa lei autoriza que seja transferido
celamento, Ocupação e Uso do Solo
até 50% do saldo de potencial cons-
Urbano de Belo Horizonte.
trutivo da área. Diferentemente dos
Com o intuito de incentivar a
demais empreendimentos, que têm
preservação do patrimônio históri-
como limite de recepção da transfe-
co e minimizar o impacto financeiro
rência o índice de 20% excedente do
sofrido pelos proprietários de bens
coeficiente do potencial construtivo.
imóveis tombados pelo município,
Por meio da Lei 8.766/96, a uti-
a Prefeitura de Belo Horizonte es-
lização desse instrumento por Belo
tabeleceu medidas compensatórias
Horizonte foi ampliada para além
para esses proprietários. Entre elas,
da preservação do património cultu-
destacam-se a isenção de Imposto
ral e da implantação de programas
Predial Territorial Urbano (ÍFTU) e
habitacionais, isto é, visa também a
a Transferência do Direito de Cons-
preservação de áreas de interesse
truir (TDC). A Lei 3.640/83 oferece
ambientai. Em 27 de agosto de 1996,
aos proprietários de imóveis tomba-
foram sancionadas as leis 7.165/96 e
dos pelos órgãos de proteção ao pa-
7.166/96, respectivamente, o Plano
trimônio histórico e cultural desde
Diretor e a Lei de Uso e Ocupação do
que comprovado a preservação do
Solo, trazendo modificações à legis-
mesmo.
lação e ã regulamentação da transferência do direito de construir.
regulamentada
O Plano Diretor da capital
desse instrumento urbanístico vem
dispôs em seu titulo IV, capítulo I,
crescendo a cada ano; e consequen-
a possível transferência do direito
temente a preservação do patrimó-
de construir, sendo regulamentada
nio histórico, cultural e ambiental do
peio Decreto 9.616, de 26 de junho
município.
de 1998. Esse decreto dispõe em seu 50
Atualmente
pelo Decreto 5.531/86, a utilização
Direito, Justiça e Memória
DEVER DO ADVOGADO Ana Paula da Silva, Fabíola Mendonça Nikolau, José Henrique dos Santos, Liliana Mara da Silva Mendonça, Luiz Antônio Braga, Maria Regina Soares Moreira Alunos do 7º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 16 de março de 2009, pág. 02
Aluno: Ana Paula da Silva, Fabíola Mendonça Nicolau, José Henrique dos Santos, Liliana Mara da Silva Mendonça, Luíz Antônio Braga, Maria Regina Soares Moreira Texto: O dever do advogado
Em nossa sociedade, a ética
dade como um todo, no entorno de
vem ganhando destaque no mundo
transmitir um conforto e uma maior
jurídico, principalmente no que tan-
segurança, o que vem garantir a pri-
ge à formação do perfil do advoga-
mazia da “paz social.
do. Podemos ver claramente que a
Na visão de Plácido e Silva,
relação cliente e advogado deve ser
ética é definida como “A ciência da
pautada nos princípios da verda-
moral, (...) sobre a expressão de éti-
de absoluta, na qual jamais deverá
ca profissional, para indicar a soma
existir a ocultação de dados por am-
de deveres, que estabelece a norma
bas as partes que envolvam o pro-
de conduta do profissional no de-
cesso, dando assim a mais ampla
sempenho de suas atividades e em
veracidade ao mesmo. Desse modo,
suas relações com o cliente e todas
estaremos respeitando não somen-
as demais pessoas com quem possa
te os “atores” da lide, mas a socie-
ter trato”.
Direito, Justiça e Memória
52
Consoante ao Código de Ética
Nessa posição, aludimos os
da Ordem dos Advogados do Brasil
casos veiculados na midia dos quais
(OAB) em seu artigo 1º: “Os deveres
pai e madrasta matam, esquartejam
do advogado compreendem, além da
e queimam os filhos e a Operação
defesa dos direitos e interesses que
Satiagraha e tantos outros. Apesar
lhes são confiados, o zelo do prestígio
de a opinião pública já os terem con-
de sua classe, da dignidade da ma-
denado, todos merecem se valer dos
gistratura, no aperfeiçoamento das
princípios constitucionais do devido
instituições de direito, e, em geral, do
processo legal e da ampla defesa, o
que interesse à ordem jurídica”.
que vem traduzir assim a obrigação
No exposto, destarte que se
do advogado em negar-se da opinião
voga ao princípio da lealdade pro-
pública para que possa atuar com
cessual, na qual todas as partes
observância das normas jurídicas no
devem atuar no processo com éti-
combate ao destino já intitulado peta
ca, combater a acusação, articular
sociedade que é a “condenação”.
a defesa e exigir a fidelidade à or-
O operador do direito tem por
dem profissional. No exercício da
obrigação demonstrar ao cliente
profissão, é preciso que o advoga-
que os atos a serem praticados não
do tenha conhecimento do universo
lhe darão uma certeza de êxito em
jurídico para que possa atuar com
seu pleito, mas sim garantir a esse
independência técnica e confiança
que todos os procedimentos legais
nos seus atos, desta maneira, hon-
serão utilizados para obtenção da
rosamente vai praticar a defesa do
justiça. Cabe assim arguir que o
envolvido, desvinculada da satisfa-
advogado é indispensável à admi-
ção da moral pública.
nistração da Justiça. Ao advogado
Mister observar que o advo-
procurado por um cliente não cabe-
gado deve ter sempre uma distân-
rá garantir a conquista do ato alme-
cia entre seu íntimo e a causa do
jado, mas sim trabalhar no sentido
cliente, de modo a traduzir a mais
de conseguir o melhor, tendo como
ínfima pureza na condução da de-
objetivo envidar todos os esforços
fesa ou da acusação, demonstran-
possíveis dentro da ética profissio-
do que o importante não é conse-
nal e da lealdade processual.
guir uma vitória, e sim efetivar a
Essa postura vem dos ensi-
utilização das leis a benefício da-
namentos do ilustre Rui Barbosa.
quele que necessita de socorro.
Para alcançar o objetivo pretendido,
Direito, Justiça e Memória
legais que possam traduzir um jul-
pel do advogado, que é se pautar na
gamento voltado para justiça verda-
dignidade da pessoa humana, vonta-
deira, e não manipulada, conforme
de pela busca da verdade e ética ao
a visão egoística da sociedade, que
trabalhar com todas as dificuldades
não deixa permear os ensinamentos
que possam envolvê-lo em relação à
de Rui Barbosa consoante o Código
visão maledicente da sociedade.
de Ética do advogado, artigo 87, XII:
Concluímos assim que o pro-
“Recusar o patrocínio de causa que
fissional do direito deve trabalhar de
considere imoral ou ilícita, salvo a
forma a trazer à tona todos os meios
defesa em processo criminal”.
Direito, Justiça e Memória
53
necessário é ter em mente o real pa-
REINSERÇÃO DO CONDENADO NA SOCIEDADE Victor Marcos Oliveira de Assis Aluno do 8º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 21 de setembro de 2009, pág. 02
Aluno: Victor Marcos Oliveira de Assis Texto: Reinserção do Condenado na Sociedade
A progressão de regime para
to e aberto, conforme legislação
presos por crimes dolosos é de di-
disposta nos artigos 34, 35 e 36 do
fícil aceitação para a realidade
Código Penal (CP).
brasileira, já que grande parte da
No regime fechado, o preso per-
população defende a restrição do
manece no estabelecimento prisional
direito de um criminoso de sair às
trabalhando ou estudando durante o
ruas enquanto cumpre pena. No en-
dia e fica no isolamento à noite (arti-
tanto, a progressão de regime é um
go 34, CP), enquanto no regime semi
direito do preso, que não lhe pode
aberto, “o condenado fica sujeito a
ser negado. Isto é, no decorrer do
trabalho em comum durante o perí-
cumprimento de uma pena privativa
odo diurno em colónia agrícola, in-
de liberdade, o preso tem o direito
dustrial ou estabelecimento similar”
de cumprir um regime mais brando
(artigo 35, CP), podendo exercer tra-
nas seguintes condições de clausu-
balho externo ou estudar, limitando
ra: nos regimes fechado, semi aber-
sua saída ao horário das atividades.
Direito, Justiça e Memória
Ao contrário do que a maio-
dar e frequentar cursos profissiona-
ria pensa, no regime semi aberto o
lizantes são possíveis apenas para
preso não sai durante o dia e dor-
os presos dos regimes semi aberto e
me no estabelecimento prisional
aberto. À medida que o preso avan-
à noite. Essa é uma permissão do
ça em relação às atividades de res-
regime aberto, em que, segundo o
socialização, ele vai alcançando a
artigo 36 do CP, o preso pode tra-
liberdade. Caso ele não tenha o com-
balhar, estudar “ou exercer outra
portamento adequado depois da pro-
atividade autorizada, permanecen-
gressão, poderá regredir de regime,
do recolhido durante o período no-
retornando para um mais rigoroso.
turno e nos dias de folga”.
Entende-se, então, que a possibilida-
Vale ressaltar que a progressão de regime não é direito de qual-
incentivo para sua ressocialização.
quer preso. É necessário que ele
O direito formal estabelece,
preencha alguns requisitos e prefe-
por meio do CP, a determinação dos
rencialmente possa demonstrar, de
requisitos para o alcance do benefí-
forma efetiva, ao Estado que pode
cio: o bom comportamento e o cum-
confiar nele novamente. No entan-
primento de pelo menos um sexto
to, o direito existe e é inerente à
da pena. Ou seja, durante o período
aceitação social.
em que o preso cumpre a parcela
Para que se possa entender
exigida da pena, ele terá a chance
a importância da progressão de
de mostrar bom comportamento e
regime é necessária a quebra de
que realmente quer ser reintegrado
paradigma em relação ao assunto:
à sociedade. Um preso que participa
o de que a pena tem como objetivo
de uma rebelião nunca progredirá
castigar o criminoso. Na verdade, a
de regime porque o direito ao bene-
função da pena é a ressocialização
fício é somente para aqueles que têm
do preso, de forma a permitir que,
comportamento excepcional.
com a condenação, ele possa se
56
de de progressão funciona como um
Enfim,
a
possibilidade
de
reintegrar à sociedade. Quando um
progressão de regime permite que
criminoso é preso em regime fecha-
o preso se ressocialize enquanto
do, ele desenvolve, dentro do estabe-
cumpre sua pena, o que viabiliza
lecimento prisional, atividades que
gradativa reinserção na vida social.
lhe permitem a possibilidade de se
É certo que o sistema penitenciário
ressocializar. Já direitos como estu-
brasileiro, dadas as suas condições,
Direito, Justiça e Memória
jurista, como operador do direito,
criminoso. Porém, tal fato não é mo-
expor à sociedade os fundamentos
tivo para que a progressão de regi-
da aplicação das normas jurídicas.
me penal perca seu valor. E, se em
Quando a sociedade compreende
tais condições o preso preencha os
os fundamentos do direito penal,
requisitos para a progressão, não se
ela está apta a aceitar aquele que
pode negar que ele a mereça.
paga sua dívida com a sociedade.
Conclui-se, dessa forma, que
Desse modo, a pena pode cumprir a
a resistência da sociedade em
sua função social: devolver, reedu-
aceitar a progressão se dá por fal-
cado, aquele que comete um delito
ta de informação. É então dever do
ao seio da sociedade.
Direito, Justiça e Memória
57
não contribui para a correção do
A PRISÃO PREVENTIVA E O ESTADO DE INOCÊNCIA Cliford Rosa e Silva Aluno do 10º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 31 de agosto de 2009, pág. 02
Aluno: Cliford Rosa e Silva Texto: A prisão preventiva e o estado de inocência
A prisão preventiva é um instituto do direito processual penal previsto nos artigos 311a 316 do Código de Processo Penal (CPP).
praticar ilícitos penais com perturbação da ordem pública ou econômica. A prisão é procedimento de alta capacidade punitiva, tendo em vista
Seus objetivos principais são
que invade diretamente o direito à li-
impedir que o acusado, durante a fase
berdade. A utilização preventiva desse
de inquérito policial ou da instrução
ato deve ser analisada de modo extre-
criminal, promova atos que dificultem
mamente criterioso para que a temida
ou impeçam a formação de provas
arbitrariedade e a afronta aos direitos
testemunhais ou materiais contra ele
e garantias constitucionais individu-
ou, ainda, quando o mesmo apresenta
ais não venham a acontecer, assim se
real possibilidade de fuga, frustrando
sustentando o Estado de direito.
a possível execução de sentença con-
Quando for utilizada em ca-
denatória. Conforme o disposto no
ráter preventivo, é importante con-
artigo 312 do CPP, a prisão preventiva
siderar os critérios que venham a
pode também ser decretada se o acu-
dar embasamento ao exercício da
sado continuar comprovadamente a
prisão preventiva, uma vez que os
Direito, Justiça e Memória
requisitos para a aplicação dessa
preventiva, se este ainda não foi
não podem se alicerçar apenas em
condenado com sentença que tenha
suposições de situações vindouras
transitado em julgado, conforme
e condicionais subjetivas ligadas
prevê o disposto constitucional?
60
ao acusado.
Ocorre que a prisão preventi-
Pergunta-se: será admissível
va não é ato punitivo condenatório,
prisão preventiva no caso de pairar
é ato procedimental processual do
sobre o acusado a suspeita de que
juiz, que pode fazê-lo de ofício, por
esse venha a dificultar ou impedir
requisição do Ministério Público,
a produção de provas, ou que apre-
por requerimento da autoridade
sente uma futura real possibilidade
policial, ou mesmo por requisição
de fuga? Não há de se responder a
do querelante. Distingue-se de sen-
tal questão de maneira generalista
tença condenatória e, portanto, não
e padronizada, correndo-se o risco
pretende tratar o acusado como
de a afirmativa colidir com os princí-
culpado. Tão somente manifesta o
pios e as regras constitucionais das
entendimento do juiz, baseado em
garantias individuais.
elementos consubstanciados nos
O estado de inocência é princí-
autos, de que o acusado apresen-
pio constitucionalmente estabelecido
ta capacidade de obstruir o devido
no ditame do artigo 5º, LVII: “Ninguém
andamento do processo legal no
será considerado culpado até o trân-
que diz respeito à produção de pro-
sito em julgado da sentença penal
vas e/ou está com a possibilidade
condenatória”. Ou seja, somente após
de prejudicar não só o transcurso
sentença condenatória definitiva é
processual, mas, também, frustrar
que uma pessoa poderá ser aponta-
sua execução, evadindo-se do país.
da como culpada por delito criminoso
Mesmo quando utilizada a
cometido. Portanto, durante todos os
prisão preventiva, o preso acusa-
procedimentos do devido processo le-
do deve ser considerado em esta-
gal, o acusado é considerado inocente
do de inocência. Tal afirmativa se
e, desse modo, livre de punição e de-
baseia nos princípios constitucio-
tentor de todos os seus direitos, sem
nais e, também, na própria previ-
a afetação da sentença condenatória.
são legal que garante ao acusado
Indaga-se então: como pode o
a revogação da prisão preventiva
acusado, na fase de inquérito ou na
a qualquer tempo do inquérito ou
ação penal, ser submetido à prisão
da instrução criminal, caso seja
Direito, Justiça e Memória
garantia do devido processo legal
que a tenham determinado, con-
no que tange à formação de provas
forme o disposto no CPP.
para a apuração da verdade proces-
Não deverá ser considerada a
sual e à garantia da devida execu-
possibilidade de aplicação da prisão
ção da sentença sem que, para isto,
preventiva, caso não seja possível a
seja admitida qualquer afronta aos
fundamentação objetiva de seus re-
direitos e garantias fundamentais
quisitos. As finalidades utilitárias
do cidadão e, consequentemente, ao
dela estão estritamente ligadas à
Estado de direito.
Direito, Justiça e Memória
61
apurada a cessação das causas
ENTRE A LEGALIDADE E A EFICIÊNCIA Silvia Raquel Barbosa Castelo Branco Aluna do 10º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 20 de julho de 2009, pág.02
Aluno: Sílvia Raquel Barbosa Castelo Branco Texto: Entre a legalidade e a eficiência
A positivação das normas é um
plamente difundidos pelo Decreto-lei
reflexo do cotidiano e das condições
200/67 e ratificados pelos teóricos da
sociopolíticas como garantidoras de
reforma da década de 1990.
ideologias dominantes. Nesse aspec-
Consubstanciada na reforma
to, são as condições sociais e o “jogo
de 1995, positivou-se o princípio da
político” do momento que construirão
eficiência como intrínseco à adminis-
a legislação que garantirá uma ou
tração pública no caput do artigo 37
outra ideologia: ora intervencionista,
da Constituição Federal de 1988. To-
ora liberal. Assim, as reformas do Es-
davia, em contrassenso, no momento
tado são reflexo direto da concepção
em que se inseriu no texto constitu-
ideológica de quem está no poder.
cional, por meio da Emenda 19, o de-
Nas últimas décadas, o Brasil sofreu
ver de obediência da administração
duas grandes reformas da máquina
ao princípio da eficiência, instalou-se
administrativa. No entanto, não há,
no cenário nacional a ideia de um Es-
em tais reformas, grandes distinções
tado em crise, ineficiente, incapaz de
e sim criação de novas terminologias
gerir e satisfazer o chamado “cliente-
que abrigam antigos conceitos am-
cidadão”. Os teóricos da reforma con-
Direito, Justiça e Memória
64
frontaram o modelo burocratizado
co baseado na legalidade dos atos
e centralizador da máquina estatal
administrativos e em muitos casos
com nova modelação de um Estado
necessitará de ações burocratizadas
estritamente gerencial, o Estado
a fim de garantir o Estado democrá-
subsidiário, com competência prin-
tico de direito. Percebe-se em algu-
cipal de fomentar e regular os servi-
mas situações a utilização indevida
ços e não executá-los.
dos termos de parceria como forma
Essa formulação teórica refle-
de se esquivar do regime jurídico pu-
tiu no mundo jurídico e criaram-se
blicístico, pois as Oscips têm maior
leis e instrumentos que amparassem
liberdade em contratar e gerir, dis-
essa nova concepção, como a Lei
pondo de dotação orçamentária
9.637/98, as leis 9.801/99 e 9.790/99,
para tal, bem como de incluir em seu
que criou as Organizações Sociais
quadro funcional os recursos huma-
Civis de Interesse Público (Oscip).
nos da entidade, sem concurso pú-
Essa lei foi muito relevante para o
blico. Esse panorama refletiu direta-
terceiro setor, pois o transformou
mente nas relações de trabalho dos
em um novo ator da esfera adminis-
servidores públicos, seja na sua su-
trativa capaz de gerenciar focado
pressão, na inutilização da sua força
nos resultados sem necessitar do
de trabalho ou no desvio de funções
controle burocrático estatal. Nesse
com o remanejamento do trabalho
período, muitas Oscips foram cria-
exercido nos órgãos instintos para
das como verdadeiros braços do go-
as novas instituições privadas, em
verno, demonstrando um processo
flagrante desvio do vínculo de traba-
lento e silencioso de privatização do
lho ao qual são submetidos.
Estado. Comumente, essas institui-
Dessa forma, a discussão ora
ções absorveram, além das ativida-
colocada é o limiar imposto entre a
des públicas, as instalações públicas
desburocratização e a legalidade,
com seus bens móveis e imóveis e
a fim de alcançar a eficiência. Pois,
a absorção de servidores públicos
em dissenso ao que apregoava a re-
para a execução dos serviços.
forma administrativa da década de
Sabe-se que o Estado, por não
1990, as Oscips têm demonstrado
ser um ente estático, sofre modifi-
resultados desfavoráveis. Em 2008,
cações pelas alterações de governo.
o Ministério Público atuou em pro-
Tais transformações têm como limi-
cessos que constataram irregulari-
te a supremacia do interesse públi-
dades em quase 50% das unidades
Direito, Justiça e Memória
essa eficiência sem as amarras le-
otimismo político anterior, há nesse
gais da máquina administrativa.
dado o indicativo de que elas não al-
No entanto, pouco labutaram para
cançaram a eficiência. Esclarece-se,
identificar como, de forma intrínse-
não é ser eficiente o mote da discus-
ca, poderiam buscar essa eficiência
são, e sim, como sê-lo. A ideologiza-
em vez de descentralizar delibera-
ção posta em 1995 de uma suposta
damente as suas competências para
crise estatal trouxe à tona buscar
que um terceiro a exerça.
Direito, Justiça e Memória
65
avaliadas. Assim, antagônico ao
CINEMA SOB A ÓTICA DO DIREITO Kleyson Marques Aluno do 8º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 6 de julho de 2009, pág. 02
Aluno: Kleyson Marques Texto: O cinema sob a ótica do Direito
Os filmes Tropa de Elite e Va-
co que revolucionou a história do
lente apresentam finais semelhantes
direito. Durante um tribunal, pre-
e surpreendentes, em que os protago-
sidido pela deusa Atena (Minerva
nistas executam o agente criminoso:
para os romanos), essa decide que
neste com o consentimento do inves-
Orestes será absolvido da acusa-
tigador e naquele, o próprio capitão
ção de assassinato de Clitemnestra,
da polícia, criticado por excessos de
mesmo em caso de empate entre os
fúrias e características fascistas. Um
juízes. É a primeira prova escrita do
desafio aos princípios do contraditó-
princípio in dubio pro reo.
rio, ampla defesa e devido processo
As Eríneas (ou fúrias), divinda-
legal, entre outros, e que traz à tona a
des personificadas do ciclo sangrento
luta do Estado contra a vingança pri-
da vingança, encarregadas de casti-
vada, batalha instigante, de 1200 a.C.
gar os crimes, exigem o derramamen-
aos dias de hoje.
to de sangue de Orestes. Atena con-
No segundo episódio da trilo-
vence as Eríneas de que só o Estado
gia de Esquilo, fundador da tragédia
tem o direito de punir, ius puniendi,
grega, temos o julgamento mitológi-
que a justiça é uma vingança públi-
Direito, Justiça e Memória
ca, que encerra o ciclo sangrento da
e colisões de princípios penais, pro-
vingança privada, pois o agente não
cessuais, constitucionais e interna-
poderá se vingar do forte Estado.
cionais de direito.
As obras cinematográficas ci-
No capítulo “O avesso da vin-
tadas acima revelam uma exceção
gança”, grupo de oficiais planeja vin-
ao ius puniendi, a justa causa, pois
gar o assassinato de Juarez, colega
existem indícios probatórios inques-
de farda do Bope:
tionáveis, mas o ius persequendi não foi usado como meio para o Estado punir, e sim, despertar as Eríneas,
“(...) Era lícito vingar um co-
sucesso estrondoso de público nas
lega executado a sangue-frio por
últimas temporadas.
criminosos sanguinários. Ou não
Assim como em Kill Bill, roteiro adaptado aos provérbios “a
era? Lícito talvez não fosse, mas legítimo era.”
vingança é um prato que se come
“(...) A caveira tem um nome a
frio”, “se eu morrer, estás perdoado,
zelar. Oito marginais foram executa-
se eu me recuperar, então veremos”
dos para que se fizesse justiça.”
e ainda, “vencer não é tudo, é pre-
O coronel é espírita e rece-
ciso humilhar o adversário”. Poli-
bera uma mensagem psicografada
ciais matam traficantes, que matam
de Juarez. Então, chama os quatro
policiais, em um ciclo sangrento de
policiais mais amigos do morto para
vingança, uma guerra onde não há
uma conversa em seu gabinete:
vencedores. Enfim, nunca tantos sofreram por tão poucos.
“O Juarez, com palavras bem suas, o seu jeitão típico de falar,
Um exemplo atípico para o ci-
pedia aos colegas que não se vin-
nema, e típico para o direito, é Babe,
gassem por sua morte, que uma
o porquinho atrapalhado, que salva
desgraça só já bastava, (...) que nós
a vida de um cão feroz, que minutos
orássemos por ele e apoiássemos
atrás tentou matá-lo. E o Estado diz;
sua mulher e seus filhos. E que não
Thank you pig’.
acrescentássemos outros cadáveres
O livro Elite da tropa, base
68
“Não era só ódio e indignação; era fúria (...) Queríamos vingança.”
à história dele.” Tarde demais!
do roteiro de Tropa de elite, é ain-
Outro capítulo, “Justiça a do-
da mais violento que o filme, traz
micílio”, prova que, na favela, have-
relatos explícitos de vingança e
rá juízo e tribunal de exceção, pois,
execuções sumárias, entre conflitos
determinou o capitão Cássio:
Direito, Justiça e Memória
sou a palavra ao réu (...). O marginal
to do réu. Distribuiu as funções: eu
foi sentenciado à pena capital, que
seria o promotor; o réu faria a pró-
deveria cumprir-se, imediatamente.
pria defesa. Determinou que fizésse-
(...) determinou que ele fosse calado
mos um 360 graus, que significa um
com um tiro na testa. (...) Estava en-
círculo completo de proteção, para
cerrada a sessão.”
evitar surpresas e prevenir ataques.
Bruno Amaro Lacerda, mestre
Relatei a ocorrência, como se esti-
e doutor em Filosofia do direito pela
vesse diante de uma autoridade ju-
UFMG, destaca que a vingança não
diciária imitei um promotor e pedi a
obedece a nenhuma proporcionali-
condenação. Treinando a linguagem
dade. Quem vinga uma morte, nem
empolada e a coreografia do tribu-
sempre se contenta com apenas ou-
nal, o capitão, imitando um juiz, pas-
tra morte.
Direito, Justiça e Memória
69
“(...) Vamos fazer o julgamen-
BEM DA FAMÍLIA: PROTEÇÃO A UMA VIDA DIGNA Letícia Silva de Oliveira Aluna do 4º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 24 de maio de 2010, pág. 02
Aluno: Letícia Silva de Oliveira Texto: O bem da família: Proteção a uma vida digna
Na esfera civil, às obrigações
nialização das obrigações.
contraídas responde nosso patrimô-
O instituto do bem de família é
nio, apesar de nem sempre ter sido
uma das exceções do direito civil em
assim. Em tempos remotos, havia
relação à responsabilização patrimo-
a denominada “personificação das
nial. Diz respeito â proteção especial
obrigações”, onde o indivíduo respon-
dada ao imóvel que seja destinado à
dia com o próprio corpo em caso de
residência do núcleo familiar, isen-
inadimplemento (assim figurava a au-
tando-o da penhora.
totutela). Felizmente, a teoria da res-
Há na legislação brasileira dois
ponsabilização obrigacional evoluiu
regimes de tal instituto. No Código
no sentido de hodiernamente termos
Civil de 2002, os artigos 1.711 a 1.722
não a personificação, e sim a patrimo-
disciplinam o bem de família volun-
Direito, Justiça e Memória
72
tário. Nessa situação, há, por ato de
inclusive os de uso profissional e os
vontade (seja dos titulares ou tercei-
móveis que guarnecem a casa, desde
ro), a instituição por escritura pú-
que quitados.
blica e posterior registro, tornando
Vê-se que o bem de família le-
assim o imóvel residencial familiar
gal confere efetividade à proteção
impenhorável e inalienável. Logo,
a todos que têm imóvel próprio,
além de ficar isento de penhora, não
conferindo eficácia plena ao direito
pode ser objeto de venda ou doação.
essencial de moradia, independen-
Tem sua duração vinculada à vida
temente da situação patrimonial
dos instituidores ou até a maiorida-
dos titulares do bem. Inclusive,
de dos filhos (artigo 1.722 do Código
em claro alargamento da proteção,
Civil). A instituição voluntária, no
a Súmula 364 do Superior Tribu-
entanto, sofre limitações, sendo a
nal de Justiça (STJ) prevê que “o
principal não poder o imóvel ultra-
conceito de impenhorabilidade de
passar um terço do patrimônio líqui-
bem de família abrange também o
do existente ao tempo da instituição
Imóvel pertencente a pessoas sol-
(artigo 1.711 do CC).
teiras, separadas e viúvas”.
Ao deixar para o particular a
Nossos tribunais superiores,
responsabilidade de proteger o imó-
principalmente o STJ, vêm a cada
vel residencial familiar, o Estado se
dia reinterpretando a proteção ao
exime da tutela do direito constitu-
bem de família legal, estendendo-a
cional de extrema importância que
à garagem do apartamento residen-
deveria ser encargo dele, tomando,
cial (REsp 222.012/SP); ao freezer,
na prática, tal espécie de bem de fa-
máquinas de lavar e secar roupas
mília de pouco ou nenhum uso.
(REsp 118.205/SP); e até a um tecla-
Temos, também, o bem de famí-
do musical, como já decidido em bri-
lia legal, regulado pela Lei 8.009/90.
lhante voto do então ministro Sálvio
Nela, a impenhorabilidade (o legis-
de Figueiredo Teixeira, o qual enten-
lador não fala em inalienabilidade)
deu que “em uma sociedade marca-
do imóvel residencial independe da
damente violenta como a atual, seja
manifestação volitiva do agente -
valorizada a conduta dos que se de-
pois decorre de lei, e abrange não
dicam aos instrumentos musicais, so-
só o imóvel, mas também as plan-
bretudo sem o objetivo de lucro, por
tações, as benfeitorias de qualquer
tudo que a música representa, nota-
natureza e todos os equipamentos,
damente em um lar e na formação
Direito, Justiça e Memória
normas de direito privado à luz do
siderações. Ademais, não seria um
texto constitucional, em completa
mero teclado musical que iria contri-
observância ao princípio funda-
buir para o equilíbrio das finanças de
mental da dignidade da pessoa hu-
um banco” (REsp 218.882/SP).
mana, consagrado no artigo 1°, III,
Ainda em relação à jurispru-
da Carta Política como fundamento
dência, verifica-se inclusive a ex-
da República Federativa do Brasil,
tensão da proteção ao direito de
e ainda o direito social à moradia,
uso de jazigo perpétuo, como forma
consubstanciado no caput do arti-
de viabilizara plenitude do direito
go 6º da CF/88, a demonstrar que,
mesmo depois da morte. Vide AG
não obstante haja uma dívida, exis-
2008.01.00.015660-8/MG.
te um patrimônio mínimo a ser pro-
Tais entendimentos demons-
tegido, para que todos tenham uma
tram a “constitucionalização do di-
vida digna, um mínimo existencial
reito civil”, ou seja, interpretar as
a ser analisado no caso concreto.
Direito, Justiça e Memória
73
dos filhos, a dispensar maiores con-
A LIBERDADE DE EXPRESSÃO Marcela Máximo Aluna do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Aluno: Marcela Máximo Data/Página 17 de maio de 2010, pág. 02
Texto: A liberdade de expressão
No Sistema Interamericano de
O artigo 13 da CADH declara
Proteção aos Direitos Humanos (SIP-
tanto a proteção a esse direito quan-
DH) vigora a Convenção Americana de
to as limitações ao seu exercício.
Direitos Humanos (CADH), que em seu
Quanto ao uso do direito, a Corte, ao
artigo 13 prevê a proteção americana
interpretar o dispositivo, estabelece
internacional ao direito de liberdade de
não só o direito de se expressar li-
pensamento e expressão. Essa prote-
vremente, mas também o direito de
ção está indissociavelmente relaciona-
buscar e receber informações e ideias
da à consolidação da democracia nos
de toda índole. Portanto, o direito de
países que compõem a Organização
liberdade de pensamento e expressão
dos Estados Americanos (OEA). Por
é dotado de duas dimensões: uma in-
ser considerada pedra angular em uma
dividual e outra coletiva. O conceito,
sociedade democrática e condição es-
bem como a delimitação do direito,
sencial para que esta seja devidamente
foi atribuído pela própria Corte. A
informada, a liberdade de expressão
dimensão individual demanda que
deve ser respeitada e garantida pelo
ninguém seja arbitrariamente impe-
Estado em todas as esferas disponíveis.
dido de manifestar seu próprio pen-
Direito, Justiça e Memória
76
samento e não se esgota no reconhe-
devem ser necessárias e condizen-
cimento teórico do direito de falar ou
tes em uma sociedade democrática,
escrever, mas prescreve também que
dada sua implicação direta na cole-
à plenitude desse direito deve asso-
tividade, devendo ser demonstrada
ciar a garantia de meios adequados
a necessidade imperiosa para se
e eficazes para disseminar ao maior
restringir um direito arduamente
número de destinatários a informa-
conquistado depois de décadas de
ção pretendida. No concernente à
opressão ao direito de pensar, se
dimensão coletiva, esta cumpre seu
expressar e difundir informações
propósito quando garante à liberda-
na América. Como já mencionado,
de de expressão sua primordial ca-
o abuso não pode estar sujeito a
racterística: fornecer o intercâmbio
um controle estatal preventivo, mas
de ideias, opiniões e informações.
será o fundamento para a responsa-
Tal dimensão, a social, requer que o
bilização ulterior, que caberá ante o
fruto dessa fusão seja a possibilida-
cumprimento de quatro requisitos
de de difundir pontos de vista de um
cumulativos: as causas de respon-
indivíduo. Para o cidadão comum,
sabilidade devem estar previamen-
a estima de receber informações
te estabelecidas; a existência de de-
alheias nivela-se à importância de
finição expressa e taxativa dessas
compartilhar a sua própria.
causas; a comprovada legitimidade
Nesse contexto, o entendi-
dos fins objetivados ao estabelecê
mento da Corte Interamericana
-las e que essas causas sejam ne-
consolida a obrigatoriedade de o
cessárias para assegurar tais fins
Estado garantir a proteção simul-
em uma sociedade democrática.
tânea de ambas as dimensões em
Nesse sentido, a Corte tem assi-
âmbito interno. Ou seja, a violação
nalado que o “necessário’’ e, por con-
de uma naturalmente viola a ou-
seguinte, a legalidade das restrições
tra, mesmo que indiretamente. Já
impostas visam satisfazer um inte-
os limites impostos à prática da
resse público imperativo, o que legi-
liberdade de pensamento e expres-
tima e justifica os objetivos coletivos
são dentro de um Estado são pro-
como parâmetro à identificação da
nunciados na constância do artigo
real necessidade para a responsabi-
13.2, que prevê a forma ulterior de
lização ulterior aplicada ao compro-
responsabilização para sancionar o
vado abuso do direito de liberdade de
abuso desse direito. Tais restrições
pensamento e de expressão.
Direito, Justiça e Memória
regressão prática de regime de go-
sões, bem como suas restrições, o
verno e na consequente violação dos
SIPDH determina a importância
direitos humanos indispensáveis à
desse direito na relação estreita que
manutenção deste, o que configura-
este tem com a democracia e sina-
ria a desproporcionalidade entre o
liza a imperatividade do respeito
que se discursa e o que se materiali-
às disposições previstas na CADH,
za dentro de um Estado democrático
para que o Estado não incorra numa
de direito na América.
Direito, Justiça e Memória
77
Ao analisar as duas dimen-
SISTEMA PENAL Jeniffer Cocovich Aluna do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 16 de agosto de 2010, pág. 02
Aluno: Jeniffer Cocovich Texto: O sistema penal
No Brasil, tem-se entre os legis-
demos citar a Lei de Crimes Hedion-
ladores a ideia geral de uma política
dos, datada de 25 de julho de 1990,
voltada ao endurecimento das penas.
que tipifica os crimes considerados
Acredita-se que com medidas puni-
hediondos e lhes dá uma pena mais
tivas mais duras quanto à restrição
elevada. Assim, o autor desse tipo de
de direitos, em especial a liberdade,
delito é mantido em cárcere privado
haveria a punição adequada do delin-
por tempo superior aos demais cri-
quente e esta mesma lei seria vista
mes tipificados. Tal ideia advém da
pela população como forma de preve-
visão social e da repercussão gerada
nir futuros atos criminosos.
por esse tipo de crime.
Infelizmente, a realidade é ou-
Os crimes hediondos, do pon-
tra. Uma lei penal mais rígida não
to de vista da criminologia, são en-
garante a diminuição de delitos, e
tendidos como crimes mais graves,
menos ainda que o criminoso tenha
mais revoltantes, que causam maior
uma pena que de fato o puna e tenha
aversão à coletividade. E dessa vi-
o caráter retribucionista almejado a
são surge a necessidade de punir
princípio. Como exemplificação, po-
com maior rigor esses atos. mas
Direito, Justiça e Memória
penas mais duras não resolvem o
a criminalidade de uma nação. As
problema, e muitas vezes acabam
penitenciárias são o fim de um pro-
por criar outros.
cesso que começou bem antes e que
Um criminoso que tenha sua
ainda podem e devem ser moldadas
liberdade restrita e permanece
para que esse fim não tenha um re-
muito tempo em cárcere sofre um
começo tão ruim ou pior que o pri-
processo chamado de “descultu-
meiro, e para isso mudanças profun-
ração” por Alexandre Baratta em
das devem ocorrer no sistema penal.
seu livro intitulado Criminologia
Não podemos fazer justiça so-
crítica e crítica ao direito penal.
cial por meio de leis penais, elas não
Esse processo consiste no “distan-
resolvem o problema. Punir o crimi-
ciamento progressivo dos valores
noso em vez de evitar que ele cometa
e dos modelos de comportamento
crimes, seria o inverso do que pede
próprios da sociedade externa”
a razão; e quando o punimos não
(Baratta). Com esse distanciamen-
podemos dar margem para que ele
to, valores básicos e fundamentais
volte à sociedade deixando no cárce-
à sociabilidade são perdidos. Em
re sua moral e dignidade. Isso só o
contrapartida, há o que Baratta
tomaria mais vulnerável a crimes e
chama de “aculturação” ou “prisio-
mais propenso ao retorno ao cárce-
nalização”, que seria o inverso.
re. Esse círculo que se forma é ruim
80
O criminoso aprende os valo-
para a sociedade e para o Estado.
res e regras de conduta do cárcere.
A execução de fato da Lei de
Esse processo cria um novo “ser”,
Execuções Penais (LEP) seria, sim,
diferente daquele que foi condenado.
uma saída a princípio. Tal lei en-
Esse, agora, age por outras regras
trou em vigor em 1984 com propos-
de conduta e de acordo com o que
tas ousadas, carregando sonhos
o cárcere o ensinou, fazendo assim
que ainda hoje, 26 anos depois de
aversão à proposta inicial penal de
sua publicação, não foram reali-
sociabilização e punição.
zados. Claro que depois da LEP
A grande dificuldade seria
houve mudanças, porém ainda há
adaptar a atual proposta penal às
muito que se fazer para que de fato
mudanças que trariam benefícios
haja eficácia plena da legislação. A
não só ao criminoso, mas à coleti-
estrutura ainda é falha sua aplica-
vidade como um todo. Não é cons-
bilidade esbarra em questões polí-
truindo prisões que se acaba com
ticas e preconceitos sociais.
Direito, Justiça e Memória
grupos sociais que defendam a
regido por preconceitos sociais,
pena de morte como solução para a
questões meramente políticas e
criminalidade; continuarão com os
recheado de ideais já ultrapassa-
olhos vendados e não serão capa-
dos não sairemos do lugar e ainda
zes de enxergar que o problema é
haverá legisladores apoiados por
muito mais além.
Direito, Justiça e Memória
81
Enquanto o direito penal for
ECA - CONQUISTA PARA SER POSTA EM PRÁTICA Amanda Martins Rosa Andrade Aluna do 1º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 29 de novembro de 2010, pág. 02
Aluno: Amanda Martins Rosa Andrade Texto: ECA -Conquistar para ser posta em prática
O Estatuto da Criança e do
tecimentos históricos importantes
Adolescente (ECA) - criado em 1990
relacionados aos direitos humanos.
pela Lei 8.069 - está completando
Não é, como alguns podem pensar,
duas décadas de existência. O con-
um fato isolado. Não há dúvidas, por
junto de normas que visa regular e
exemplo, de que sua produção foi for-
proteger os direitos da população
temente influenciada pela promulga-
infanto-juvenil, apesar de ser con-
ção da Constituição Federal em 1988
siderado avançado, atualmente é
e por tratados internacionais. Antes
alvo de muitas discussões sobre sua
mesmo que ele fosse instituído, a
aplicabilidade no cotidiano brasi-
Constituição brasileira, incorporando
leiro, uma vez que há uma grande
conteúdos da Convenção Internacio-
discrepância entre o que está codi-
nal dos Direitos da Criança - um dos
ficado e o que ocorre na realidade.
tratados mais importantes de direitos
Não pode haver discordâncias,
humanos que só foi aprovado em 1989
no entanto, de que o ECA simboliza
-, já tratava da garantia dos direitos
uma grande conquista para o Brasil,
das crianças e adolescentes em seu
pois ele é resultado de vários acon-
artigo 227.
Direito, Justiça e Memória
84
Diante dessas influências, o
a que muitas crianças estão submeti-
estatuto foi criado e estabeleceu
das, pois já são de conhecimento ge-
condições de exigibilidade dos direi-
ral, vão de casos de bebês abandona-
tos previstos nele próprio, na Consti-
dos em lagoas até crianças jogadas da
tuição e nos tratados internacionais;
janela pelo próprio pai.
e contribuiu para transformar a an-
Para complicar, o Conselho Tu-
tiga visão assistencialista, arbitrá-
telar - dito como o que mais tem au-
ria e repressiva a respeito de nossas
xiliado crianças e adolescentes nas
crianças em algo mais humano, tor-
horas difíceis - encontra muitas bar-
nando-as, sob outro ponto de vista,
reiras nos momentos de executar sua
sujeitos de direitos.
função de zelar pelo cumprimento
O ECA é evoluído e propõe di-
dos direitos infantojuvenis. Seus es-
reitos e garantias muito avançados.
forços são minimizados pela falta de
Seu livro é dividido em duas partes:
estrutura. É difícil de acreditar quan-
geral e especial. A parte geral refere-
do se ouve que existem conselhos
se aos direitos fundamentais (saúde,
que não têm telefone. Sem estrutura,
liberdade, dignidade, educação etc.),
o Conselho Tutelar perde sua força.
os quais objetivam garantir à crian-
Mas a cruel realidade está lon-
ça e ao adolescente: a sobrevivência;
ge de ser o pior. Pior são as pessoas
o desenvolvimento social e pessoal;
que veem essas situações lamentá-
e a integridade física, moral e psico-
veis todos os dias, e de tanto vê-las
lógica. A parte especial, por sua vez,
não as veem mais. Tornou-se natu-
trata dos órgãos e procedimentos
ral. Poucos se comovem com as más
protetivos. Nessa parte, por exem-
condições sob as quais as crianças
plo, podem-se encontrar dispositivos
vivem. A população geralmente se
referentes ao acesso à Justiça e ao
revolta quando elas são protegidas
Conselho Tutelar.
por seus direitos e garantias ao co-
Comparando o estatuto com o
meter um delito. Acham um absur-
dia a dia brasileiro é que se encontra o
do. Esquecem-se, porém, de que a
problema. O que se vê na lei são crian-
marginalidade não nasce sozinha,
ças em condição para se desenvolver
ela é fruto das desigualdades so-
plenamente. O que se vê na realidade,
ciais. Fazem uma inversão injusta
porém, não é exatamente isso. Não
de causa e efeito. Além do mais,
se faz necessário ficar dizendo aqui
desprezam o fato de que crianças
sobre as péssimas condições de vida
e adolescentes são pessoas em de-
Direito, Justiça e Memória
se concretizar como uma realidade
tratamento que se adeque a elas,
no Brasil. Hoje tramitam no Senado
sejam direitos ou penalidades.
mais de 100 propostas de alteração
Logo, o ECA, resultado de fa-
do ECA. Cabe para uma reflexão,
tos históricos marcantes, apesar de
perguntar: devemos mudar a lei ou a
todo ânimo, ainda está distante de
nossa realidade?
Direito, Justiça e Memória
85
senvolvimento e por isso devem ter
MÉTODO APAC E O SISTEMA PRISIONAL Ana Luiza Ribeiro Diniz Aluna do 2º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 18 de outubro de 2010, pág. 02
Aluno: Ana Luíza Ribeiro Diniz Texto: Método APAC e o sistema prisional
A Associação de Proteção e As-
cam de forma muito clara e objetiva a
sistência aos Condenados (Apac) é
falta de competência e ineficiência do
um método criado a fim de solucionar
Estado ao lidar com o sistema penal.
o problema da violência e desumani-
É interessante conduzir uma
zação com que são tratados os sen-
reflexão em face do sistema prisio-
tenciados dentro das prisões. É do co-
nal, tendo em vista as grandes desi-
nhecimento de todos as condições e o
gualdades sociais, tão perceptíveis
tratamento aos quais os condenados
no interior do cotidiano. Ora, todos
são inseridos quando submetidos ao
sabemos que na maioria dos casos
sistema carcerário brasileiro. O siste-
de infração da lei a peça central,
ma penitenciário do país é deficitário
isto é, o autor do crime, geralmen-
principalmente no que diz respeito a
te advém de condições mínimas de
condições físicas e estruturais dos es-
dignidade de vida, bem como saúde
tabelecimentos destinados ao confi-
e educação. A Constituição Federal
namento. A superlotação das cadeias
defende no inciso III do artigo 5º
e, consequentemente, a falta de higie-
que ninguém será submetido a tor-
ne são alguns pontos que exemplifi-
tura nem a tratamento desumano
Direito, Justiça e Memória
ou degradante, no entanto, dentro
160 recuperandos - forma correta
das penitenciárias, não se observa
de referência ao condenado - e todos
esse direito assegurado.
têm direitos iguais e dignos de uma
Em virtude de uma preservação dos direitos fundamentais dos
direitos dos cidadãos.
indivíduos previstos na Constituição
Os condenados, dentro do
Federal, a Apac propõe uma metodo-
sistema prisional comum, cada vez
logia diferente para o cumprimen-
mais se encontram em situação não
to da pena ao condenado, ou seja,
só de deterioração da dignidade
acredita-se que o sistema prisional
humana, mas também do próprio
comum não proporciona condições
corpo. As condições insalubres da
para que o indivíduo possa se recu-
água para as necessidades pessoais,
perar. Assim, por meio de assistên-
instalações sanitárias, má ventila-
cias psicológica, espiritual e médica,
ção e iluminação são uma constante
busca-se não só a concretização
dentro do ambiente carcerário, sem
desses direitos, mas também a ca-
contar com outros problemas como
pacitação dessas pessoas para uma
todos os tipos de doenças, disputas
ocupação, bem como de frequenta-
por poder dentro das celas, tráfico
rem cursos profissionalizantes e ati-
de drogas e rebeliões.
vidades dentro da Apac.
88
vida saudável e condizente com os
No ambiente da Apac, essas
No país, existem atualmente
condições se fazem totalmente con-
26 Apacs em funcionamento, núme-
trárias, o que torna as possibilida-
ro divulgado pelo Tribunal de justiça
des de conscientização e mudanças
de Minas Gerais (TJMG) e que tem
comportamentais advindas dos re-
dado resultados no que se refere à
cuperandos infinitamente maiores.
modificação da forma de pensar e
Segundo vídeo divulgado pela Apac
agir do preso, possibilitando sua
de Itaúna, os índices de recuperação
inclusão no ambiente social. As dife-
por meio do método são de 91%. No
renças entre o sistema prisional co-
regime comum, nacionalmente, es-
mum e o método Apac são drásticas,
ses índices chegam a apenas 15% e
a começar pela destituição do maior
a margem mundial é de apenas 30%,
dilema das penitenciárias: o excesso
além de os custos de manter um con-
de presos no espaço de confinamen-
denado em regime penitenciário co-
to. A Apac, dependendo de onde se
mum serem muito maiores que man-
encontra, pode comportar de 80 a
ter um recuperando dentro da Apac.
Direito, Justiça e Memória
Consiste a disciplina e a ordem como
valorização da vida e da justiça, in-
pontos centrais juntamente com o
dependentemente do comportamen-
apoio da família no processo de rein-
to outrora realizado pelo condenado.
tegração social e combate ao crime.
Direito, Justiça e Memória
89
A ideia principal da Apac é a
ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO Mariane Roberta Menezes Rosa Aluna do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 27 de junho de 2011, pág. 02
Aluno: Mariane Roberta Menezes Rosa Texto: Assédio moral no ambiente do trabalho
Há algum tempo, quem tinha
gumas vezes a saúde do trabalhador
poder aquisitivo escravizava os que
é prejudicada por causa dos abusos
tinham condições desfavoráveis. As
de alguns empregadores ou chefes.
pessoas eram compradas, comercia-
O chefe passa a tomar atitudes dis-
lizadas como mercadorias. Passa-
criminatórias contra o empregado,
ram-se os anos e a história continua
submetendo-o a torturas, e este, com
a mesma: alguns que têm cargos su-
medo de perder o emprego ou sofrer
periores no âmbito de trabalho insis-
outro gravame, deixa-se crucificar, se
tem na humilhação para com os mais
expondo a tamanha humilhação.
fracos hierarquicamente. Acham que
O assédio moral no ambiente de
podem humilhar, forçá-los a fazer coi-
trabalho, conforme ensina Margarida
sas contra a sua vontade.
Maria Silveira Barreto, caracteriza-
Mesmo com todos os direitos
se pela exposição dos trabalhadores e
trabalhistas, como jornada fixa e
trabalhadoras a situações humilhan-
repouso remunerado - desfrutando
tes e constrangedoras, repetitivas
do descanso e lazer para que tenha
e prolongadas durante a jornada de
uma qualidade de vida melhor -, al-
trabalho e no exercício de suas fun-
Direito, Justiça e Memória
92
ções. São mais comuns em relações
trabalho. Ela constitui, assim, aciden-
hierárquicas autoritárias e assimé-
te de trabalho e, por consequência, o
tricas, em que predominam condu-
assediado poderá buscar os benefí-
tas negativas, relações desumanas e
cios de auxílio acidente, bem como a
aéticas de longa duração, de um ou
estabilidade de 12 meses do contrato
mais chefes, dirigida a um ou mais
de trabalho depois da cessação de
subordinados, desestabilizando a
tal benefício. Conforme o artigo 5º da
relação da vítima com o ambiente de
Constituição Federal, as vítimas pelo
trabalho e a organização, forçando-o
dano ainda podem buscar ressarci-
a desistir do emprego.
mento pelo prejuízo moral.
Essa sensação de humilhação
A vítima deve anotar com de-
prejudica o trabalhador não só no
talhes todas as humilhações sofri-
ambiente de trabalho, com a des-
das (dia, mês, local, nome do agres-
qualificação profissional e queda da
sor, colegas que testemunharam) e
produção. Atinge também sua vida
informações que possam facilitar a
particular, sua dignidade e relações
comprovação do constrangimento
afetivas e sociais, pois passa a convi-
sofrido. Deve evitar conversar com
ver com depressão, dores generaliza-
o agressor sem a presença de uma
das e distúrbios do sono, causas que
testemunha, procurar seu sindicato
podem gerar o pensamento e a ten-
e relatar o acontecido, assim como
tativa ao suicídio porque a vítima se
outras instâncias, como o Ministé-
sente inferior em relação aos amigos
rio Público, Justiça do Trabalho,
e sua família. Como não tem coragem
Comissão de Direitos Humanos e
de contar a ninguém o ocorrido, fica
Conselho Regional de Medicina.
isolado, com sentimento de fracasso
Deve ainda buscar o apoio dos fa-
e inutilidade diante de todos.
miliares e colegas, pois a solidarie-
É possível estabelecer nexo
dade é fundamental para a recu-
causal entre o assédio moral e doen-
peração da autoestima, dignidade,
ças psicológicas e físicas que possam
identidade e cidadania.
surgir pelo constrangimento e pela
Deve-se acabar com essa si-
constante humilhação. O assédio mo-
tuação constrangedora, que causa
ral não é uma doença, porém pode
vários danos não só para aquele que
incidir em uma doença ocupacional,
é excluído, mas de todos que teste-
como a Síndrome de Burnout, que é
munham esse ato. É preciso medidas
causada pelo estresse extremo no
preventivas, legislações adequadas,
Direito, Justiça e Memória
superiores hierarquicamente, uma
sa e a adoção de um código de ética.
mediação, para que se tenha uma
O importante é o combate a todas as
boa convivência nas relações de
formas de discriminação e de assé-
trabalho, com respeito ao próximo,
dio moral, para que dê aos emprega-
independentemente da sua escala
dos segurança para denunciar seus
hierárquica.
Direito, Justiça e Memória
93
um programa social em cada empre-
O TRABALHO DO MENOR Giovana Antonieta Moreira Viola Aluna do 7º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 12 de setembro de 2011, pág. 02
Aluno: Giovana Antonieta Moreira Viola Texto: O Trabalho do menor
Desde muito tempo, temos vis-
garantia de percepção salarial igual
to várias violações e explorações no
ao do empregado maior, se praticar
trabalho do menor. Mas essa situação
a mesma atividade e tiver o mesmo
vem mudando e diversas foram as al-
tempo de serviço. Podendo o menor
terações em relação ao trabalho do
assinar o recibo de pagamento sa-
menor no decorrer da história da hu-
larial, nos casos de rescisão do seu
manidade, com amparo legal visando
contrato de trabalho é proibido a ele
coibir tal conduta.
dar, sem auxílio de seus responsátrabalhador
veis legais, quitação ao empregador
menor, para efeitos legais, aquele
É
considerado
pelo recebimento das verbas resci-
que tenha entre 14 e 18 anos. E proi-
sórias que lhe é devida.
bido qualquer trabalho aos menores
O trabalho do menor tem dura-
de 16 anos de idade, salvo na condi-
ção de 44 horas semanais, não exce-
ção de aprendiz, a partir de 14 anos.
dendo a 8 horas por dia. É proibido
Ao menor é assegurado o salário
prorrogar a duração de trabalho nor-
mínimo como contraprestação mí-
mal, salvo se a prorrogação for de no
nima devida pelo empregador, tendo
máximo 2 horas, independentemente
Direito, Justiça e Memória
de acréscimo salarial, desde que,
Juventude. O magistrado examinará
decorrente de convenção ou acordo
se a ocupação é imprescindível para
coletivo e que o excesso de horas em
o seu próprio sustento ou de seus
um dia seja compensado pela dimi-
pais, avós ou irmãos, ou tenha fins
nuição, em outro, de maneira a ser
educativos, e se essa ocupação não
seguido o limite de 44 horas sema-
vai prejudicar a sua moralidade.
nais. E, exclusivamente, por motivo
É proibido, de qualquer forma,
de força maior, até o máximo de 12
o trabalho que consista na venda a
horas, com aumento salarial de pelo
varejo de bebidas alcoólicas, boates,
menos 25% sobre a hora normal e
cassinos, cabarés, dancings ou en-
desde que o trabalho do menor seja
trega e venda de cartazes, desenhos,
indispensável ao funcionamento do
símbolos, imagens que tenham em-
estabelecimento.
blema degradante à sua integridade
O ideal é proteger e dar segu-
física ou moral, considerados preju-
rança ao menor, para que ele possa
diciais à sua moralidade. Não poden-
viver de uma maneira segura e ade-
do também o empregador estabele-
quada, sendo vedado que ele tra-
cer que o menor faça trabalho com
balhe em locais prejudiciais ao seu
emprego de força muscular superior
desenvolvimento físico, psicológico,
a 20 quilos para trabalhos contínuos
moral e social ou prejudique o seu
e 25 quilos para trabalhos eventuais.
horário de estudo. Não sendo permi-
Em relação às férias, os de-
tido que trabalhe em condições peri-
mais trabalhadores podem dividí
gosas ou insalubres e exerça traba-
-las em dois períodos. Já as férias
lhos noturnos, realizados entre 22h
do menor serão sempre concedidas
e 5h, uma vez que tal horário aflora
de uma só vez, tendo eles o direito
com mais frequência a violência,
de combiná-las com o período de
sendo de grande risco o deslocamen-
recesso escolar.
96
to entre casa e trabalho.
O ideal seria um salário me-
O trabalho desempenhado nas
lhor aos adultos para evitar que o
ruas, praças, logradouros, teatros
menor tenha que trabalhar, mas
de revistas, cinemas, e em empre-
tendo em vista a baixa renda das
sas de circos, em função de acro-
famílias do nosso país, vê se a neces-
bata, saltimbanco, ginasta e outras
sidade do menor trabalhar. Então o
semelhantes, dependerão de prévia
jeito é permitir que trabalhem, mas
autorização do juiz da Infância e da
afastá-los de empregos que diminu-
Direito, Justiça e Memória
motivo da exigência de uma idade
de estudo ou de descanso, necessá-
mínima para que ele não se afaste
rios à sua saúde e composição física.
dos estudos e do lar. Atualmente,
O menor é um ser em total
com o progresso do direito do traba-
desenvolvimento físico, emocional,
lho, o menor passou a ter mais prote-
psicológico e social, de maneira que
ção, de forma que agora pode ajudar
pode trabalhar, mas desde que não
sua família, e não ser mais explora-
atrapalhe o seu crescimento. Daí o
do e prejudicado na esfera social.
Direito, Justiça e Memória
97
am consideravelmente o seu tempo
ELEMENTO ÉTICO NA POLÍTICA Henrique Guimarães Silva Aluno do 8º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 06 de junho de 2011, pág. 02
Aluno: Henrique Guimarães Silva Texto: Elemento ético na política
O grande problema da socieda-
todos os patamares éticos que de-
de em geral é se pautar apenas nas
veriam reger os representantes do
informações trazidas pela midia,
povo. Mas será que podemos gene-
para generalizar e atribuir a todos
ralizar? Não haverá um, apenas um,
características e qualidades referen-
que respeite o de coro de sua pro-
tes a alguns. É comum os penalistas
fissão? Se afirmarmos que não há
afirmarem que, ao contrário do que
ética na política, estaremos sendo
informa a imprensa, não são todos os
injustos com aqueles que ainda não
presidiários ou moradores de favelas
foram picados por sua mosca azul e
que cometem algum crime. Dizer que
que acreditam que podem ajudar os
ser favelado é ser criminoso é coisa
cidadãos que neles confiaram.
de burguês mal informado.
Ressalta-se que, o que a po-
E na política? Os meios de
pulação de um modo geral consi-
comunicação insistem em nos in-
dera uma atitude imoral, como as
formar que todos os políticos apro-
famosas verbas de gabinete e auxí-
veitam do seu cargo para receber
lio paletó, não passam de um mero
vantagens
direito, uma prerrogativa que eles
indevidas,
quebrando
Direito, Justiça e Memória
podem gozar, assim como a invio-
Nesse sentido, na busca de re-
labilidade material que é usada, na
presentantes dignos do povo brasi-
maioria das vezes, para atacar ad-
leiro, o Congresso Nacional aprovou
versários. Mais uma atitude repu-
a Lei da Ficha Limpa, que foi poste-
diada por todos, mas como já dito
riormente sancionada pelo presiden-
anteriormente, não passam de di-
te da República, a qual impede que
reitos. Por que eles não renunciam
políticos com condenação na justiça
a esses direitos? Ou por que não al-
possam concorrer às eleições. Essas
teram as leis? Mas o que pode um
condenações geralmente ocorrem
único político fazer em um mundo
por ter o candidato agido de modo an-
contaminado de corruptos? A res-
tiético, se valendo de corrupção e do
posta é: praticamente nada.
próprio cargo para obter vantagem.
A eles, a grande minoria, só
Apenas para se ter ciência, a
resta esperar e se iludir que um dia
matéria foi posta em questão no Su-
o país possa mudar e ter, por exem-
premo Tribunal Federal (STF), que
plo, um salário mínimo decente, pro-
decidiu, nos ditames da Carta Magna,
porcional para cada profissão, de
em seu artigo 16, que a Lei da Ficha
maneira que nenhuma seja muito
Limpa só terá aplicabilidade nos pro-
elevada e a outra diminuída.
cessos eleitorais que ocorram depois
O problema da população é
Com o advento da Lei da Fi-
faz entre decoro e ética. Ter deco-
cha Limpa, observamos que, face à
ro é agir da maneira estabelecida
necessidade de se juntarem docu-
pela Constituição em seu artigo 54
mentos que comprovem a inexistên-
e pelos regimentos internos das
cia de processo de corrupção, ainda
respectivas Casas, que estabele-
existem candidatos que não são acu-
cem a forma com a qual um legíti-
sados de nenhuma conduta antiética
mo representante do povo deve se
formalmente e nossa Constituição é
portar no exercício de suas fun-
taxativa em dizer, em seu artigo 5º,
ções. Em contrapartida, ser ético
LVII, “ninguém será considerado
é se comportar de acordo com o
culpado até o trânsito em julgado da
que a sociedade em geral conside-
sentença penal condenatória”.
ra normal, é não agir de modo que
100
de um ano da data de sua vigência.
a confusão que todo homem médio
Dessa forma, não podemos
cause repudio ou demonstre evi-
dizer comprovadamente que deter-
dente abuso de poder.
minado candidato é antiético e des-
Direito, Justiça e Memória
uma política idônea não sejam rotu-
pelo eleitor brasileiro. Por essa ra-
lados como se fossem da parte ruim
zão, até que se prove o contrário,
do bolo e sim como a “fruta boa em
não podemos generalizar o elemen-
um cesto de fruta podre’’, um pouco
to ético de forma a dizer que não
de ética na política. Sendo assim, se
há ética na política, pois ainda há
existe um único representante do
candidatos que comprovam não ser
povo honesto e digno do cargo que
acusados de nenhum tipo de abuso
lhe foi confiado, não se pode dizer
de prerrogativa.
que não há ética na política de forma
Frisa-se que o que se preten-
generalizada, mas que em sua gran-
de não é “passar a mão na cabeça”
de maioria a corrupção predomina,
dos corruptos em prol dos decentes,
porém há poucos que ainda lutam
mas garantir que os que lutam por
por decência e valores políticos.
Direito, Justiça e Memória
101
merecedor da confiança concedida
ASSÉDIO SEXUAL NO TRABALHO Giovana Antonieta Moreira Viola Aluna do 7º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 5 de dezembro de 2011, pág. 02
Aluno: Giovana Antonieta Moreira Viola Texto: Assédio sexual no Trabalho
O assédio sexual existe desde
trabalho ou que tenha relação com o
muito tempo, onde sempre houve uma
trabalho. A conduta deve ser de forma
dominação dos mais fortes sobre os
repetida, característica desnecessária
mais fracos. A situação pirou ainda
nos casos em que o ato for muito grave.
mais quando a mulher ingressou no
O assédio sexual não pode ser
mercado de trabalho. E óbvio que há
confundido com cantadas, elogios e
casos inversos, onde o homem se vê
piadas. A jurista Alice Monteiro de
assediado, porém essa não é a regra,
Barros afirma que “só o repúdio ma-
e sim a exceção. Mas, seja em qual-
nifesto a uma solicitação sexual ou
quer hipótese, tal conduta agora é
a oposição declarada a uma atitude
crime, com legislação específica e pe-
sexual ofensiva justifica a ação ju-
nalidades previstas.
dicial. Galanteios ou meros elogios
O assédio sexual é toda tentativa
acompanhados de certas sutilezas
de caráter sexual praticada geralmen-
comuns entre os povos não carac-
te pelo empregador ou por uma pes-
terizam o assédio sexual”. Não se
soa em posição hierárquica superior
pode banalizar o assédio sexual, ou
em relação ao empregado, no local de
seja, achar que tudo é assédio.
Direito, Justiça e Memória
Os exemplos mais comuns são:
pública, que assegura o direito a in-
promoções que envolvam favores
denização decorrente da violação da
sexuais: palavras humilhantes; ame-
intimidade, da honra e da imagem
aças e chantagens com abuso de po-
das pessoas, que se ajusta perfeita-
der, colocando a vítima em estado de
mente na relação de emprego.
grande constrangimento em que terá
O valor de tal indenização
dificuldades em se defender, seja por
deve ser aquele necessário para
medo de perder o emprego ou qual-
trazer comodidade tanto material
quer outro resultado negativo.
quanto espiritual à vítima, apesar
A prova do acontecimento não
de o sofrimento físico e psicológico
é nada fácil nessa matéria, uma vez
causado a ela não estarem sujeitos
que o ato não ocorre de maneira pú-
à apreciação financeira.
blica. Por isso, as provas podem ser
Algumas atitudes que podem
buscadas por melo de exibição de do-
ser tomadas pela vítima assediada
cumentos (bilhetes, roupas rasgadas)
é contar para a chefia hierarquica-
gravações, e-mails, testemunhas.
mente superior ao assediador (se
O juiz vai examinar as provas
houver), denunciar ao sindicato da
e julgar se houve assédio sexual, po-
categoria ou até levar o caso a uma
dendo pleitear indenização por danos
delegacia comum.
morais por parte da vítima ou tam-
Portanto, a primeira coisa
bém o pedido de rescisão indireta do
que deve ser feita para combater
contrato de trabalho. Dependendo da
o assédio sexual é manter um bom
gravidade da situação, a vítima pode
ambiente de trabalho e satisfatório
até dar início a uma ação penal que
a ambos, evitando brincadeiras e co-
prevê detenção de três meses a um
mentários graciosos.
104
ano e multa para o assediador.
O assédio sexual viola a dig-
A rescisão indireta é o caso em
nidade da vítima quando afetada
que o empregado pede judicialmente
a sua integridade física e psicoló-
sua demissão, é aquela que ocorre
gica, gerando efeitos humilhantes,
justa causa cometida pelo empre-
seja no cumprimento do seu traba-
gador, tendo o empregado direito a
lho ou nas relações com os colegas,
todas as verbas rescisórias, como se
podendo trazer a ela um trauma e
tivesse sido demitido.
reduzir sua capacidade laboral.
A indenização por dano moral
Assim, o ideal é que se impo-
está prevista na Constituição da Re-
nham diretrizes contra o assédio,
Direito, Justiça e Memória
com programas de treina mento e
confortá-la para evitar traumas
campanhas de cons cientização. As
Acabar com a prática do assédio
vítimas devem perder o temor de de-
sexual no trabalho é o principal
nunciar formalmente o assédio.
passo do combate pela igualdade
sediada precisa de apoio, deve-se
de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.
Direito, Justiça e Memória
105
Lembrando que a vítima as-
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE COMO PARCELA SALARIAL Débora Caroline Pereira Aluna do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 25 de abril de 2011, pág. 02
Aluno: Debora Caroline Pereira Texto: Adicional de Insalubridade como parcela salarial
O salário constitui-se no valor
parcela contra prestativa suplemen-
que o empregador paga ao empre-
tar à parcela salarial principal, que
gado, mensalmente, em função da
deverá ser paga pelo empregador, a
vigência de um contrato de trabalho.
fim de assegurar direitos do empre-
É composto, como discorre Maurício
gado, constitucionalmente garanti-
Godinho, “por outras parcelas pagas
dos. A essa parcela dá-se o nome de
diretamente pelo empregador, dota-
adicional. Contudo, é mister ressaltar
das de estrutura e dinâmica diversas
que o adicional não está vinculado de
do salário básico, mas harmónicas a
forma definitiva ao contrato de traba-
ele no tocante à natureza jurídica”.
lho, haja vista estar sujeito à ocorrên-
Logo, como exemplo de parcelas sa-
cia da circunstância mais gravosa no
lariais, podemos citar os adicionais.
exercício das funções do empregado.
Quando o empregado presta
Enquanto a parte hipossuficiente se
serviços em condições mais gravosas
encontrar em situação de risco, a ela
que o habitual, a ele será devida uma
será atribuído o adicional. Uma vez
Direito, Justiça e Memória
cessada a condição gravosa, o adi-
termitente, não será afastado do em-
cional não será mais pago, o que nos
pregado o seu direito à importância
leva à conclusão de que o adicional
do adicional de insalubridade.
108
consiste em um salário condição.
Nos casos de o empregado se
O legislador, ao criar o adi-
encontrar em situação considera-
cional de insalubridade, não teve o
da duplamente gravosa, o Tribunal
intuito de atribuí-lo como um ônus
Superior do Trabalho (TST) consi-
ao empregador, nem de imputar-lhe
derou ser expressamente vedada a
caráter de indenização, mas apenas
cumulação de adicionais quando o
viu nessa categoria de adiciona: uma
empregado trabalha sujeito a mais
forma de desestimular a prestação
de um agente insalubre, pois assim
de serviço mais gravosa. O artigo
determina a NR-15 do MT (“No caso
192 da Consolidação das Leis Traba-
de incidência de mais de um fator de
lhistas (CLT) dispõe que se o traba-
insalubridade, será apenas conside-
lho é exercido em condições gravo-
rado o de grau mais elevado, para
sas, acima dos limites estabelecidos
efeito de acréscimo salarial, sendo
pelo Ministério do Trabalho, será as-
vedada a percepção cumulativa.”).
segurada ao empregado o adicional
Nesse mesmo diapasão, determina
de insalubridade.
o artigo 193, §2º, que o empregado
No entanto, são exigidos dois
poderá optar pelo adicional de insa-
requisitos para que o empregado o
lubridade que porventura lhe seja
receba: que a atividade seja conside-
devido, isto é, poderá optar pelo re-
rada insalubre pela Norma Regula-
cebimento da parcela que lhe seja
mentadora 15 (NR-15) do Ministério
mais vantajosa.
do Trabalho e que perícia a reconhe-
No tocante ao fornecimento de
ça. Preenchidos esses requisitos, o
equipamentos de proteção individu-
empregado poderá perceber de for-
al (EPI), não basta que o emprega-
ma graduada o referido adicional.
dor os forneça, sendo obrigação do
Seu valor é estipulado em porcen-
empregador fiscalizar o seu uso pelo
tagens de 10%, 20% ou 40% calcu-
empregado. O objetivo da proteção
lados sobre o salário mínimo, e será
individual é justamente diminuir ou
atribuído quando o obreiro trabalha
eliminar o risco. Uma vez eliminado,
diretamente com agentes físico, quí-
não haverá mais a necessidade do
mico e/ou biológico. E ainda que o
pagamento de adicional pela insalu-
trabalho seja exercido de forma in-
bridade. Por fim, a perícia é de ímpar
Direito, Justiça e Memória
tipificada, ou seja, aquela parcela
insalubridade, por isso é imprescin-
prevista em lei, cabendo o seu re-
dível e obrigatória. Quem arca com
cebimento a todos os empregados
a perícia na Justiça do Trabalho é
e trabalhadores avulsos que te-
a parte sucumbente, e como o em-
nham contato com agentes insalu-
pregado é a parte hipossuficiente
bres, podendo causar-lhes danos
na relação, se sobre ele recair a su-
à saúde. E no caso de verificar-se
cumbência, quem tomará para si o
mediante perícia a prestação de
pagamento dos serviços periciais é a
serviços em condições nocivas e
União, por meio de precatório.
o agente insalubre for diverso ao
Conclui-se, destarte, que o
apontado na inicial, tal fato não
adicional de insalubridade, como
prejudicará o pedido de adicional
parcela salarial, classifica-se em
de insalubridade.
Direito, Justiça e Memória
109
relevância para a caracterização da
CLÁUSULA DE NÃO RESTABELECIMENTO Eddyanty Helena Assis dos Santos Aluna do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 7 de novembro de 2011, pág. 02
Aluno: Eddyany Helena Assis dos Santos Texto: Cláusula de não restabelecimento
Ordenamento jurídico brasileiro,
presarial e o direito de propriedade
adepto da corrente hierarquizante de
garantido pela CF/88 para ilustrar
normas, estipula que todas as leis edi-
as dicotomias da legislação brasilei-
tadas pelo legislador ordinário devem
ra. Quando um imóvel é locado com
estar em consonância com as normas
a finalidade de abrigar um estabeleci-
oriundas do Poder Constituinte. Ape-
mento empresarial, seu contrato traz
sar de tal posicionamento, relevantes
algumas peculiaridades próprias da
são as situações onde é impossível ha-
exploração a que se destina.
ver integração entre a Magna Carta e
Uma das cláusulas de contra-
as normas infraconstitucionais, haja
tos de locação empresarial é doutri-
vista o grande volume de normas inefi-
nariamente conhecida como cláusula
cazes e mal elaboradas por um Poder
de não restabelecimento. Dela de-
Legislativo deficiente, que pouco sabe
riva a impossibilidade de o locador,
de disposições constitucionais.
depois de restabelecido da posse de
Adequado é o exemplo da cláu-
seu imóvel, explorar pelo prazo de
sula de não restabelecimento esti-
cinco anos a mesma atividade a que
pulado em contratos de locação em-
se destinava a sociedade empresária
Direito, Justiça e Memória
-locatário, salvo se no ato de cele-
Nesse sentido, somente deve
bração do contrato expressamente
ser dada proteção ao locatário até
outra coisa se acordar.
o limite do direito de propriedade
Tal proteção visa impossibili-
do locador, garantido constitucio-
tar que um terceiro usufrua do pon-
nalmente. Em consonância com
to, referência para a clientela, para
esse pensamento, julgado da nobre
obter lucros advindos do trabalho
desembargadora Ana Maria Duarte
alheio, fundamentado na teoria de
Amarante Brito, em face de agravo
que se deve evitar qualquer forma
que decidia sobre conflito de loca-
de enriquecimento ilícito, onde uma
ção, onde estavam em enfoque o
pessoa possa haver património às
conflito existente entre norma in-
custas de trabalho alheio.
fraconstitucional que dava proteção
Paralelamente a esse pensamen-
ao locatário, e norma constitucional
to, a disposição constitucional, em seu
que garantia o direito de proprieda-
artigo 5º, enuncia ser a propriedade
de do locador, in verbis:
um direito individual garantido a todos
112
os brasileiros e por isso inviolável.
(...) o legislador constituinte originário erigiu o direito de
Observamos um conflito do or-
propriedade à categoria de direi-
denamento interno no que se refere
to fundamental, a ser protegido e
à proteção dada pela norma constitu-
garantido pela Constituição Fede-
cional e os limites estabelecidos pelo
ral (artigo 5º, caput e inciso XXII).
artigo 1.147 CC/02, que estabelece
Nesse sentido, havendo conflito
essa limitação do direito de proprie-
entre direitos individuais assegu-
dade garantido por cláusula pétrea.
rados pela legislação, deve prevale-
Há que se ressaltar que a dou-
cer aquele de índole constitucional,
trina estabelece que na presença de
qual seja, o direito de propriedade.
tais divergências há hierarquia da
Somente será conferida proteção
norma constitucional sobre as ou-
ao locatário se e quando seu direito
tras, haja vista ser essa suprema em
não interferir no exercício do direi-
todo direito brasileiro, lex superior
to de propriedade pelo locador (...)
revocat inferiori. Concluí-se, então,
Portanto, frisa-se que toda vez
que tal garantia dada pelo Código Ci-
que houver um conflito entre normas
vil brasileiro é ineficaz quando anali-
constitucionais e infraconstitucio-
sada em face da norma suprema, que
nais haverá prevalência da primeira,
sempre prevalecerá sobre as outras.
hierárquica mente superior, e que
Direito, Justiça e Memória
trária poderá alegar sua inconstitu-
sem sobre a matéria da cláusula de
cionalidade e exigir o respeito ao seu
não restabelecimento, a parte con-
direito de explorar sua propriedade.
Direito, Justiça e Memória
113
quando demandadas lides que ver-
BENEFÍCIOS DA NOVA LEI DO AGRAVO Eddyant Helena Assis dos Santos Aluna do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 11 de abril de 2011, pág. 02
Aluno: Eddyany Helena Assis dos Santos Texto: Benefícios da nova lei do agravo
Foi aprovada no Brasil, em se-
Humberto Teodoro Júnior, “Justiça
tembro de 2010, a nova legislação
tardia é, segundo a consciência geral,
pertinente ao Agravo por Instrumen-
Justiça denegada”.
to cabível em face de decisão denega-
Desta feita, graças à sua im-
tória de Recurso Especial e Recurso
portância, em 2004, com o advento
Extraordinário, que passou a vigorar
da Emenda Constitucional nº 45, o
em dezembro do mesmo ano.
principio passou a ter status de direi-
Tal lei busca consolidar um dos
to fundamental, visto estar presente
princípios constitucionais mais ova-
na redação do inciso LXXVIII artigo
cionados nos dias de hoje, o da Econo-
5º da CF/88, diretamente vinculado à
mia Processual, que pretende evitar
garantia do Devido Processo Legal.
a morosidade do litígio causada por
Pautado por esses fundamen-
atos inúteis e onerosos, fazendo com
tos, o Congresso Nacional decretou
que o Judiciário solucione de imedia-
e o presidente sancionou a nova Lei
to conflitos retardados por questões
do Agravo, lei nº 12.322/10, que an-
puramente burocráticas, pois, como
teriormente vinha acrescido do ter-
exemplifica o ilustre processualista
mo por instrumentos, remetendo à
Direito, Justiça e Memória
116
necessidade de cópias de peças re-
Com o advento do novo pro-
levantes ao processo que garanti-
cedimento do Agravo, não há mais
riam a sua apreciação pelo Supre-
a necessidade dos instrumentos,
mo Tribunal Federal ou Superior
ou seja, os advogados não teriam
Tribunal de Justiça.
mais a tarefa de juntar aos autos
Para que o recurso de Agra-
do processo peças que seriam in-
vo por Instrumento fosse admitido
dispensáveis para sua apreciação,
nos tribunais, necessária era a
o que satisfaz tanto o princípio da
realização de uma petição autó-
economia processual, haja vista não
noma, que deveria vir acrescida
haver mais a perda considerável de
da documentação exigida no arti-
tempo na formatação da peça, como
go 544, parágrafo 1º do Código de
os anseios da sociedade, que perdeu
Processo Civil Brasileiro, o que
a esperança numa jurisdição célere
acarretava grande despesa para o
e justa, resultado advindo da não
Judiciário e, principalmente, para
apreciação do processo pelos tribu-
os advogados, que não só prepara-
nais por falta de formação do ins-
vam a argumentação do recurso,
trumento, ou seja, peças que eram
quanto também tinham a tarefa de
necessárias para sua admissão, dei-
juntar aos autos peças legalmente
xando, por conseguinte, de reavaliar
exigidas, sob pena de ter seu Agra-
decisões erróneas por questões pu-
vo inadmitido.
ramente formais.
Grandioso, observa-se tam-
A partir de dezembro de 2010,
bém, era o modo pelo qual o meio
o Agravo deverá ser remetido ao
ambiente era afetado pelo volume
tribunal nos autos do principal, den-
de papel utilizado por um único
tro do prazo ainda de 10 dias, sem
recurso, que chegaram a totalizar
a necessidade de peça autónoma e
20 milhões de folhas em 2009. Além
cópias volumosas, como nos relatou
disso, relevantes eram os gastos
o ilustre presidente do STF, minis-
dos tribunais para a conferência
tro Cezar Peluso; “O agravo subirá
dos requisitos de admissibilidade
ao tribunal nos próprios autos do
do Agravo por Instrumento. Só na
processo principal, o que significa
Secretaria Judiciária do STF, ha-
que não haverá necessidade de for-
viam 60 funcionários eram incum-
mação “do instrumento” - que nada
bidos da função exclusiva de con-
mais é do que um conjunto de cópias
ferir os Agravos por Instrumento.
do processo original.”
Direito, Justiça e Memória
Desta feita, não há que se negar
tores relativos ao novo Agravo
que a nova legislação com relação ao
devem ser citados: se provido o
antigo Agravo por Instrumento trouxe
agravo, haverá a possibilidade de
grandes benefícios para o meio jurídico
apreciação imediata do mérito pelo
e também para a sociedade como um
tribunal, evitando assim os custos
todo. Uma Justiça que atenda todos
ocasionados pela demora da comu-
os anseios sociais é ainda uma utopia,
nicação e remessa; e, na prática
um desejo de todos os cidadão, filóso-
do sistema de processos levados
fos, sociólogos, juristas, entre muitos
ao STF, é exigido ao agravo que
outros, que imaginam como seria ter
respeite o requisito material da re-
rapidamente suas lides solucionadas
percussão geral, presente também
sem delongas e com precisão de julgo.
para a admissibilidade do Recurso
Com o advento da nova lei, esse sonho
Extraordinário.
se aproxima mais de cada um de nós.
Direito, Justiça e Memória
117
Dois outros importantes fa-
A RETÓRICA DO PODER Emerson Luiz Xavier Pereira Aluno do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 04 de abril de 2011, pág. 02
Aluno: Emerson Luiz Xavier Pereira Texto: A retórica do poder
No último 19 de março, as for-
governo. No direito internacional este
ças da coalizão, lideradas por Fran-
filme já foi visto antes. O argumento
ça, Estados Unidos e Reino Unido,
mais forte a favor das intervenções
dois dias depois de o Conselho de Se-
foi a defesa dos inocentes.
gurança da Organização das Nações
A história nos é contada pelas
Unidas (ONU) aprovar uma resolução
vozes de quem detém o poder de in-
que previa o uso de “todos os meios
fluenciar a opinião pública, muitas
necessários” para proteger a vida de
vezes incapaz de fazer uma análise
civis na Líbia, invadiram o espaço aé-
crítica, justificando assim a interven-
reo daquele país e bombardearam al-
ção e o direito à ingerência na sobe-
vos estratégicos, para criar uma zona
rania dos estados.
de exclusão aérea.
Não estamos defendendo a
A justificativa seria que o di-
posição do ditador Kadhafi, mas a
tador Muammar Kadhafi estaria en-
invasão da coalizão atinge não ape-
viando tropas e usando de força ar-
nas os alvos líbios, mas macula a
mada para combater os rebeldes que
legitimação do povo, dos rebeldes,
insistem em pedir a sua renúncia do
daqueles que estão lutando para
Direito, Justiça e Memória
mudar o regime do seu país. É tra-
permitir que o sonho da liberdade
zer à tona a sensação dos povos
que surgira da revolta do povo da
árabes, que mais uma vez o mundo
Líbia se tomasse realidade pelas
ocidental desrespeita essa região e
mãos daqueles que a iniciaram, é
a soberania de seu povo.
enfraquecer o próprio “tsunami”
Nas palavras do brilhante
120
Immanuel Wallerstein, “quando de-
democrático que surgiu no Leste Europeu, África e países árabes.
mocracia quer dizer algo mais am-
Nesse contexto, a mídia tem
plo, como o controle das decisões
papel importante na formação da
pela maioria da população, a capa-
opinião pública global. Negativa
cidade real de a minoria exprimir-se
ou positivamente. Negativamente
em debate político aberto, parece
quando ela repete o discurso que
claro que essas condições precisam
interessa às grandes potências e
amadurecer nos diversos países
“vende” a ideia de que esses são
que, em geral, a intervenção exter-
os heróis que defendem os fracos
na é contraindicada por associar o
e oprimidos. Positivamente quando
conceito de democracia ao controle
ressalta que devemos estar atentos
externo e aos fatores negativos pro-
às reais intenções por trás de atos
vocados pela intervenção”.
intervencionistas.
Winston Churchill já dizia: “A
Na história recente existem
democracia é a pior forma de go-
vários casos de intervenção ou do di-
verno, depois de todas as outras.”
reito de ingerência na soberania dos
Cito esse famoso estadista inglês,
estados por organizações interna-
para ressaltar que embora a demo-
cionais. Em 1999, a Organização do
cracia não solucione todos os pro-
Tratado do Atlântico Norte (Otan)
blemas de um Estado, ela legitima
decidiu atacar a República da Iugos-
o alcance e a alternância do poder,
lávia por causa das atrocidades e
impede regimes ditadores e garan-
violências cometidas pelas autorida-
te a participação popular.
des iugoslavas contra o Kosovo.
Mas usar o discurso da demo-
Mas o apoio não foi unânime.
cracia e a defesa dos mais fracos
A Corte Internacional de Justiça jul-
como cortina de fumaça para usar
gou medidas cautelares requeridas
da força para enfraquecer um po-
pela Iugoslávia contra 10 membros
der por meio da superioridade bé-
da Otan que participaram dos ata-
lica, quando o mais sensato seria
ques contra os iugoslavos.
Direito, Justiça e Memória
O argumento para tal intentada
sovo, não foi favorável a uma inter-
era salvar o mundo do ditador Sad-
venção? Porque, primeiro, não tinha
dam Hussein, que tinha armas de des-
o apoio dos EUA. Segundo porque os
truição em massa, e pretendia usá-las
países ocidentais temiam que a Rús-
contra seus inimigos. Mais tarde des-
sia vetasse as resoluções do Conse-
cobriu-se que tais armas não existiam
lho de Segurança. Assim como euro-
e que eram justificativa para legitimar
peus não obtiveram o apoio dos EUA
a invasão. Ficam, assim, fortalecidos
para intervir na guerra do Kosovo,
os indícios de que nem sempre é a de-
os americanos não obtiveram apoio
fesa dos fracos e oprimidos que está
europeu, com exceção do Reino Uni-
em jogo, e sim o mútuo interesse da-
do, para invadir o Iraque.
queles que têm o poder de intervir.
Direito, Justiça e Memória
121
Por que a ONU, no caso do Ko-
O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO Luciana Sette Morais Pinto Coelho Aluna do 2º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 07 de março de 2011, pág. 02
Aluno: Luciana Sete Morais Pinto Coelho Texto: O sistema carcerário Brasileiro
O Brasil tem a terceira maior
no, já que não busca a reintegração
população carcerária do mundo e a
dos presos na sociedade e nem lhes
maior da América Latina. No último
proporciona um local que permita a
levantamento do Conselho Nacional
recriação de seus valores e de seus
de Justiça (CNJ), chamou a atenção
princípios básicos, além de privá
o crescimento vertiginoso da popu-
-los de seus direitos elementares e
lação carcerária, que nos últimos
de sua singularidade.
cinco anos aumentou 37%, com um
Teoricamente, a execução pe-
total de 494.598 presos. Isso justifi-
nal tem como objetivo a privação da
ca as constantes manifestações de-
liberdade do infrator das leis e nor-
vido ao inconformismo dos presos
mas sociais. Não tem como propósito
diante das penitenciárias superlo-
a privação de seus direitos elemen-
tadas, que não lhes proporciona la-
tares. Porém, o que se nota nas pe-
zer, uma boa formação educacional
nitenciárias é o descaso para com os
e profissional, bem como condições
presos, a falta de recursos para cria-
mínimas de higiene e saúde. O siste-
ção de projetos sociais que possibili-
ma carcerário é, portanto, desuma-
tem a sua integração com os familia-
Direito, Justiça e Memória
res, a falta de profissionais na área
Apac. Uma entidade civil, sem fins
de psicologia, terapia ocupacional,
lucrativos, com personalidade ju-
assistência social, a falta de cursos
rídica própria, que tem por finali-
profissionalizantes que proporcio-
dade recuperar o preso, protegera
nem o aprendizado de um oficio
sociedade, socorrer a vítima do
para que encarcerados saiam de lá
sistema carcerário e promover a
capacitados profissionalmente.
justiça, tem como filosofia “matar”
As
124
devem
o criminoso e socorrer o homem. A
deixar o modelo opressor. Devem
penitenciárias
Apac de Itaúna, um modelo nacio-
investir nos presos, visando à sua
nal, tem prédio próprio e trabalha
reinserção na sociedade de forma
administrando três regimes — o fe-
digna. A repressão presenciada
chado, o semiaberto e o aberto, no
nas penitenciárias acaba com a
qual não há presença de policiais
singularidade do indivíduo: o pre-
civis, militares ou de agentes peni-
so tem sua integridade física e
tenciários. Com um índice de rein-
moral abalada pela má qualidade
cidência inferior a 10%, enquanto
do sistema em que está inserido.
no país é de 80%. A Apac valoriza
Está explícita a desumanização do
a participação familiar na vida do
sistema carcerário em relação às
recuperando. Lá eles têm acesso
penitenciarias, nas quais a ausên-
a projetos sociais, a assistência
cia de condições básicas de saúde
médica e psicológica e a alimenta-
desrespeita o direito do réu de ser
ção balanceada. Os recuperandos
tratado como pessoa humana. Tal
saem da Apac capacitados com
direito foi aprovado pela Assem-
cursos profissionalizantes, aptos
bleia Geral das Nações Unidas
a prover seu próprio sustento e ter
em 10 de dezembro de 1948, na
uma vida digna.
Declaração Universal dos Direitos
A desumanização do sistema
Humanos, em cujo preâmbulo está
carcerário brasileiro se expressa
escrito que devemos todos, indi-
na negligência da aplicação dos
víduos e comunidades, nos empe-
direitos humanos nas penitenciá-
nhar para que os direitos nela ins-
rias. Levando em conta que a preo-
critos se tornem realidade.
cupação não é com o criminoso em
Há alguma alternativa para
si, mas com a dignidade da pessoa
amenizar a situação das peniten-
humana, o que inclui ampliar o
ciárias lotadas? Sim, o método
acesso da humanidade ao traba-
Direito, Justiça e Memória
O
regime
penitenciário
é
e à Justiça. Sendo a Justiça para
opressor da figura humana. Em pe-
qualquer ser humano, seja ele um
nitenciárias privadas há obtenção
criminoso ou um homem de bem. O
de lucros em cima da criminalidade,
regime aplicado nas penitenciarias
enquanto o método Apac busca a re-
negligencia o resultado da evo-
cuperação da dignidade da pessoa
lução do pensamento filosófico e
humana e sua inserção no mercado
políticossocial posto em prática no
de trabalho, bem como na vida so-
direito que concretizou a universa-
cial. Há prisões que são muito mais
lidade da pessoa humana.
do que grades e celas.
Direito, Justiça e Memória
125
lho, à saúde, à educação, ao lazer
O MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E O ECA Marcela Máximo Aluna do 10º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 11 de junho de 2012, pág. 02
Aluno: Marcela Máximo Texto: O melhor interesse da criança e o ECA
A adoção no Brasil é permeada
criança ao abrigo, depois de tornar-
pelo princípio do melhor interesse da
se indesejada pela família substituta.
criança, previsto implicitamente no
Ele permite a devolução do adotado
caput do artigo 227 da Constituição
sem qualquer sanção e a qualquer
Federal. O Estatuto da Criança e do
tempo. O que é desconsiderado pelos
Adolescente (ECA), mesmo diante
agentes envolvidos nesse processo é
de inúmeras reformas sobre o insti-
a revitimização da criança, que sofre
tuto, ainda não apresentou formas
abandono duas ou mais vezes, ferin-
eficazes de impedir as consequências
do brutalmente o chamado “melhor
emocionais e psicológicas que agri-
interesse da criança”.
dem as crianças que são restituídas
Diante desse quadro fático,
ao abrigo depois de adoção definitiva.
perquirir os problemas vivenciados
A partir da alteração, o proces-
pelas crianças depois da adoção
so de adoção, mesmo com inovações,
tornou-se uma preocupação emer-
ainda apresenta-se carente no que diz
gente no Brasil, especialmente do
respeito ao seu procedimento. Não há
Ministério Público (MP). A reper-
impedimento legal para devolução da
cussão dos problemas reiterados no
Direito, Justiça e Memória
128
seio das famílias adotivas e a ocor-
positivo ou não. Em consideração à
rência sistemática de processos
iminência do risco inerente a qual-
adotivos falidos constituem-se ob-
quer processo de adoção, causa do
jeto de reanálise para a construção
excesso de burocracia atribuído ao
de melhores políticas públicas de
procedimento no Brasil, as aten-
direitos humanos que incentivam a
ções dispensadas à desistência da
adoção no Brasil.
adoção, depois de definitivamente
Ao passo em que o método
homologada, e às espécies de san-
operacional para adotar no Brasil se
ções destinadas a essas famílias
apresenta extremamente burocrá-
apresentam-se anêmicas e devem
tico, ele permanece sem garantir a
ser distintivamente valoradas.
segurança almejada à criança a ser
Isso posto, ressalta-se que
adotada. Constata-se que, depois da
um país com grau de discernimento
homologação judicial, que confere
legislativo em matéria de direitos
a adoção à família substituta, a de-
humanos como o Brasil não pode
sistência da adoção já definitiva e a
corroborar com o inadequado cum-
posterior restituição da criança ao
primento das diretrizes que regem
abrigo é mais comum do que se ima-
os direitos humanos das crianças,
gina, isso porque inexiste na legis-
em âmbito internacional, mundial-
lação pátria uma espécie de sanção
mente resguardados. Atualmente, o
para os pais que não mais aspiram
tratamento jurídico dado à causa,
permanecer com a criança.
permeada pela nova representação
Assim, em que pese as al-
dos direitos humanos no país, espe-
terações realizadas nos últimos
cialmente por aqueles que se refe-
anos no ECA, a adoção no Brasil,
rem às crianças, atribuiu novo signi-
em todos os seus termos, ainda
ficado ao instituto da adoção.
não atende o melhor interesse da
Urge no cenário jurídico atu-
criança, princípio fundamental do
al no que concerne ao instituto da
corpus iuris dos direitos humanos
adoção a emergente análise da le-
no país. Com efeito, o Poder Judi-
gislação pertinente, a fim de pro-
ciário, ainda restrito às faculdades
por alternativas mais eficazes por
a ele conferidas, não consegue cal-
meio da atuação incisiva do MP, de
cular os prejuízos acarretados pela
maneira repressiva, como tem sido
restituição da criança ao abrigo ou
nos últimos tempos, e preventiva
mesmo prever se o resultado será
interdisciplinar, que atribuam maior
Direito, Justiça e Memória
de tamanha complexidade e res-
país e simultaneamente assegurem
ponsabilidade. Sabe-se que evitar
a proteção e a promoção de direitos
adoções malsucedidas em 100% dos
humanos da criança.
casos é tarefa árdua para os juízes
A pretensão pelo exposto não
e quase impossível. Para esses ca-
é, incontestavelmente, obrigar a
sos, resta a sanção pecuniária, a
criança indesejada a permanecer
título de indenização, com natureza
sob a guarda da família substituta,
alimentar, como tem sido pleiteada
mas atribuir maior seriedade sobre
pelo Ministério Público de vários
a decisão de cada família antes de
estados brasileiros e notadamente
investir num procedimento dotado
aceita por nossos tribunais.
Direito, Justiça e Memória
129
segurança ao processo de adoção no
PROJETO INOVADOR PARA TRATAR O LOUCO INFRATOR Amanda Torquato Duarte Aluna do 5º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 23 de abril de 2012, pág. 02
Aluno: Amanda Torquato Duarte Texto: Projeto inovador para tratar o louco infrator
Segundo o Código Penal brasi-
e tratamento psiquiátrico, os chama-
leiro, as pessoas que cometem algum
dos manicômios judiciários, ao trata-
crime e são portadoras de doença
mento ambulatória!
mental não respondem pelo ato, ou
O objetivo da aplicação dessas
seja, são consideradas inimputáveis.
medidas de segurança é a preven-
Tal entendimento é baseado no fato
ção da ocorrência de novos compor-
de que as pessoas acometidas de
tamentos perigosos. A ideia é criar
algum transtorno mental não são
um local que associe o tratamento
capazes de reconhecer o caráter ilí-
ao doente e o atendimento de suas
cito do fato ou de determinarem- se
necessidades, para que ele possa
de acordo com a lei. Portanto, não
responder de outra maneira ao seu
compreendem a gravidade da sua
sofrimento. Longe dessa realidade,
atitude. Por isso, são submetidas a
os manicômios judiciários represen-
medidas de segurança que vão desde
tam verdadeiros depósitos de pesso-
a internação em hospital de custódia
as com doenças mentais, presos sem
Direito, Justiça e Memória
previsão de liberdade e excluídos
total ao portador de sofrimento
da sociedade sem qualquer ampa-
mental, desde o processo criminal
ro. Eles representam total aversão
até a finalização da execução pe-
aos princípios que regem os direitos
nal, por meio de uma equipe inter-
humanos, principalmente ao fato de
disciplinar composta de assistentes
que o doente mental só será liberado
sociais, psicólogos, assistentes ju-
quando não representar mais qual-
rídicos e estagiários. Essa equipe
quer risco, ou seja, quando o indiví-
tem várias funções, como apresen-
duo obtiver laudos psiquiátricos que
tar recursos capazes de inserir o
confirmem a cessação da sua peri-
paciente na sociedade; interpretar
culosidade, convertendo-se assim o
os anseios do paciente por meio da
que seria uma medida de segurança
escuta; informar ao paciente sobre
em uma possível prisão perpétua.
sua situação processual; acompa-
Os
132
judiciários
nhá-lo em audiências e formatar
são semelhantes às penitenciárias,
manicômios
os ofícios que serão encaminhados
configurando inclusive os mesmos
ao juiz com base nos pareceres da
problemas, tais como superlota-
equipe e da rede, entre outros.
ção, violência e arbitrariedade. A
Assim, o empenho no acompa-
diferença está no destinatário, pois
nhamento do caso é fundamental,
os doentes mentais não foram sub-
visto que os materiais fornecidos
metidos a uma condenação, mas a
pela equipe funcionam como auxí-
uma medida que pudesse desenvol-
lio aos juízes na formação de sua
ver o seu tratamento jurisdicional,
opinião sobre o desenvolvimento do
clínico e social ao mesmo tempo.
paciente. Além do trabalho conjunto
O tratamento ao qual o paciente é
de toda essa equipe, o projeto PAI-PJ
submetido é totalmente falho, visto
se orienta pelos princípios da refor-
que faltam enfermeiros e médicos
ma psiquiátrica, alavancado pela Lei
e que o isolamento impossibilita o
10.216/01, promovendo a partir daí,
seu desenvolvimento como pessoa
uma parceria com o Sistema Único
capaz de reingressar na sociedade.
de Saúde (SUS), por meio da rede de
Pensando nisso, em dezembro
atenção à saúde mental, que garan-
de 2001 foi implementado em Minas
tirá o acesso do louco infrator ao tra-
Gerais o Programa de Atenção Inte-
tamento em saúde mental. O acom-
gral ao Paciente Judiciário (PAI-PJ),
panhamento dos casos é orientado
que estabelece acompanhamento
pela clínica das psicoses do ensino
Direito, Justiça e Memória
de Lacan, grande psicanalista fran-
projeto na rede SUS, conforme es-
cês que afirma que o crime cometido
truturado pelo Ministério da Saúde.
para uma grande angústia.
O PAI-PJ interliga, portanto de maneira eficaz a saúde men tal
Buscando viabilizar uma as-
e a aplicabilidade da justiça dispen-
sistência que produza resultados
sando o manicômio judiciário como
eficazes ao louco infrator, é preciso
única maneira de o doente mental
o comprometimento de todos, tanto
responder pela consequência de
na capacitação dos profissionais da
seus atos. O projeto representa um
saúde, quanto dos profissionais da
caminho democrático, inovador e,
Justiça, a fim de superar os entraves
principalmente, humano que merece
e dificuldades da atenção extra-hos-
ser conhecido e recriado além das
pitalar e sustentai a realização do
comarcas de Minas Gerais.
Direito, Justiça e Memória
133
na psicose é fruto de uma resposta
ACÃO TRABALHISTA E A NECESSIDADE DO ADVOGADO Raissa Izabella Antunes Aluna do 7º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 23 de janeiro de 2012, pág. 02
Aluno: Raíssa Izabella Antunes Texto: Ação Trabalhista e a necessidade do advogado
O princípio do jus postulandi,
faculdade de utilizá-Io, ingressando
preconizado no artigo 791 da Conso-
sem representação de advogado, até
lidação das Leis do Trabalho (CLT),
as varas do Trabalho e o Tribunal Re-
tem como finalidade garantir a aces-
gional do Trabalho (TRT), não abar-
sibilidade do empregado e do empre-
ca o referido princípio, demandas que
gador na Justiça do Trabalho, assegu-
tratem de ações rescisórias, ações
rando-lhes capacidade postulatória,
cautelares, mandados de segurança e
sem que reclamado e reclamante se
recursos para o Tribunal Superior do
vejam obrigados a constituir advo-
Trabalho (TST).
gado para praticar atos no processo.
A maior controvérsia que rege
Tal princípio assegura às partes o
o princípio em pauta se baseia no ar-
acompanhamento das suas respecti-
tigo 133 da Constituição da Repúbli-
vas reclamações até o final. Embora o
ca de 1988. O referido assim dispõe:
jus postulandi tenha sua abrangência
“O advogado é indispensável à admi-
limitada, de forma que a parte tem a
nistração da Justiça, sendo inviolá-
Direito, Justiça e Memória
136
vel por seus atos e manifestações
Embora quando da promulga-
no exercício da profissão, nos limi-
ção da CR/88 a validade do princípio
tes da lei”. Tal artigo deixa clara a
tenha sido questionada, é de suma
função essencial do advogado à ad-
importância que seja compreendida
ministração e bom funcionamento
a diferença entre a função essencial
da Justiça, o que não deve conduzir
do advogado à administração da
a uma errônea interpretação do ar-
Justiça, questão levada ao patamar
tigo 791 da CLT, uma vez que o prin-
constitucional, que prevê que os ad-
cípio não retira em momento algum
vogados, Ministério Público e os juí-
a essencial presença do advogado
zes constituem todos os fundamen-
perante as demandas judiciais dos
tos da administração da Justiça do
cidadãos, tendo apenas o condão
Estado democrático de direito. Isso
de demonstrar o caráter popular
não deve ser confundido com a obri-
da Justiça do Trabalho, conferindo
gatoriedade de figurar advogado nas
ao reclamante um meio acessível
demandas trabalhistas, diferença
e democrático de acesso a Justiça,
que deve ser sempre interpretada à
ainda que com limitações.
luz de alguns dos princípios nortea-
O que dispõe o artigo 133 da
dores da Justiça do Trabalho, como
Carta Magna é um princípio que
por exemplo o princípio da informa-
proclama a essencialidade pública
lidade e instrumentalidade.
e social da advocacia, princípio que
Esse último, que prevê que o
não deve atritar com as situações
processo é apenas um meio para se
excepcionais que concedem e até
chegar a uma determinada finalida-
aconselham outorga de capacidade
de, viabiliza a positiva interpretação
postulatória às partes. O princí-
do princípio do jus postulandi, ob-
pio do jus postulandi tem o intuito
servando-se também o artigo 840 da
de assegurar a todos a solução de
CLT, que determina a possibilidade
suas respectivas controvérsias tra-
da reclamação ser verbal ou escrita,
balhistas, através de um meio de-
e nesse último caso, o reclamante
mocrático e informal, o que são ca-
não necessita se fitar em questões
racterísticas da Justiça trabalhista.
de escrita técnica, devendo apenas
Os dois artigos, 133 dá CR/88 e 791,
expor com clareza um breve relato
da CLT devem conviver harmonica-
dos fatos, que demonstrem o direito
mente, não se interpretando um em
postulado, de maneira que se não
detrimento do outro.
vislumbrada contrariedade ou obs-
Direito, Justiça e Memória
ção da Justiça, mas há também os
ensão da lide, válida estará a com-
princípios populares e informais que
preensão do pedido inicial.
direcionam o funcionamento da Jus-
Conclui-se, portanto, que o
tiça trabalhista, onde o reclamante
artigo 133 da CR/88 deve ser inter-
deve ter acesso à jurisdição traba-
pretado em consonância e harmonia
lhista, e por consequência, ao seu
com o artigo 791 da CLT. Há a essen-
direito postulado, atingindo assim o
cialidade do advogado à administra-
bem da vida que lhe é devido.
Direito, Justiça e Memória
137
curidade capaz de obstar a compre-
ETICA NA POLÍTICA Bruno Ferreira Araújo Aluno do 9º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 1° de outubro de 2012, pág. 02
Aluno: Bruno Ferreira Araújo Texto: Ética na Política
Muito se discute sobre a atua-
tempo, eles viviam sob a organização
ção dos políticos no âmbito dos po-
de cidades-estados chamadas polis,
deres Executivo e Legislativo com
nome do qual derivou a palavra po-
o desencadear de escândalos de
lítica (que era definida como ciência
corrupção, onde a ética e a trans-
do governo dos Estados).
parência deveriam reinar de forma
O fim da política deve ser, por
absoluta e inconfundível. Desde os
meio dos políticos, alcançar, em cada
primórdios da representação políti-
situação, as prioridades do grupo. A
ca, nascida com o contrato social de
política, dito por muitos, não tem um
Rousseau, Locke e Hobbes nos sécu-
fim constante, ou um fim que compre-
los 16 e 17, vive-se a busca pelo ideal
enda todos ou possa ser considerado
de organização social estruturada.
verdadeiro: “Os fins da política são
Antes disso, já era discutido nas
tantos quantos são as metas que um
praças e agrupamentos de Roma ou
grupo organizado se propõe, de acordo
na Grécia, com Aristóteles e Platão.
com os tempos e as circunstâncias”. A
Aliás, foi na própria Grécia que sur-
política deve ser a busca incessante do
giu a palavra política, pois, naquele
bem coletivo em detrimento do indivi-
Direito, Justiça e Memória
140
dual. Assim rege o mais importante
Será que assim a interpreta-
princípio da administração pública
mos e, assim, a praticamos? Desde
brasileira: a supremacia do interesse
logo, respondo que não. Pelo menos,
público em detrimento do particular.
não na maioria das vezes. Pode-se
Ressaltado isso, pela impor-
perguntar a um político se ele se
tância de se entender a função polí-
considera ético. De pronto respon-
tica de como e, de onde, vem a ideia,
derá que sim. Mas na prática não é
podemos começar a compreender
bem assim o que vemos.
com clareza os motivos de se buscar,
Conjugar esses dois objetos
de uma forma às vezes quase utópi-
nos parece impossível. Mas na re-
ca, a ética e a honestidade nas ações
alidade é o que mais desejamos e
políticas e governamentais.
esperamos com convicção. Acredita-
Por mais que se pareça utópi-
mos que pode haver não só a ética,
ca, como dito antes, a ideia de ética
como a honestidade nas relações, a
na política não foge do sentimento
probidade e a moral. Se de nós tiras-
de possibilidade de sua aplicação. A
sem esse utópico pensamento, onde
esperança de que nosso governo seja
ficaria amparada a motivação para
ético, isso incluindo os que fazem as
exercer os direitos e deveres políti-
leis, como os que trabalham sob a
cos a nós pertencentes?
égide legal, pode parecer impossível
Surge a ideia de que tudo deve
e até ser abandonada por muitos,
começar pela educação. No Brasil, te-
mas acreditamos que, no fundo, to-
mos um problema sério de educação
dos esperam, conscientes ou não,
desde muito tempo, e acreditamos que
que seja feita justiça na política.
os demais problemas, como corrup-
A ética não precisa ser enten-
ção, atos imorais, antiéticos e falta de
dida no seu conceito puro, basta que
consciência política, são apenas efei-
seja aplicada nas atividades e atitu-
tos colaterais da educação defasada.
des políticas. Não precisa ser descri-
Onde não há informação, facilmente
ta fielmente pelo interlocutor para
se corrompe. Assim, aqueles que lu-
que esse deseje plenamente que seja
tam pela melhoria dessas condições
manifestada. Assim é no Brasil, país
vergonhosas acabam por desanimar e
que está no topo da lista dos mais
se conformar com a situação.
corruptos. Isso porque se entende
Renovação é a palavra que sem-
que a ética é o contrário de corrup-
pre dizemos e esperamos que real-
ção, só depois vindo a honestidade.
mente aconteça. Uma vez que dizemos
Direito, Justiça e Memória
Não esperamos por um país
mos que chegamos ao fundo do poço e
onde todos os políticos sejam éti-
devemos lutar para reerguer a nossa
cos em todas as suas atividades,
moral política. Não sabemos quanto
pois, assim, seria uma utopia ge-
aos outros, mas a nós nos parece que
neralizada. Mas queremos um mí-
é uma verdadeira guerra contra o ter-
nimo ético, a punição para aque-
ror. O terror dos desvios da saúde, da
les que infringem a moral e o bom
segurança pública, da falta de educa-
senso. Queremos nos enquadrar
ção ou da educação precária que não
nos últimos lugares da lista dos
só propicia que os mesmos corruptos
mais corruptos, pelo menos. E es-
continuem no poder, como também
peramos confiantemente que seja
barra o desenvolvimento do país.
pra agora, pra já.
Direito, Justiça e Memória
141
“pior do que está não fica”, acredita-
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA Laiane A. Santos de Oliveira Aluna do 7º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 28 de junho de 2013, pág. 02
Aluno: Laiane A. Dantas de Oliveira Texto: As medidas socioeducativas do ECA
As medidas socioeducativas estão previstas no Estatuto da Criança
lescente para atingir a normalidade da integração social”.
e do Adolescente (ECA), tendo como
Sendo assim, o ECA, em seu
finalidade inibir a reincidência de in-
artigo 112, disciplina várias espécies
divíduos (criança e adolescente) na
de medidas socioeducativas, que são;
pratica de atos infracionais, valendo
advertência, obrigação de reparar o
ressaltar que essas medidas têm ca-
dano, prestação de serviços à comu-
ráter excepcionalmente pedagógico.
nidade, liberdade assistida, regime
Segundo Wilson Donizeti Libe-
de semiliberdade e internação.
rati, as medidas socioeducativas po-
A advertência consiste em ad-
dem ser conceituadas como “aquelas
moestação verbal que será reduzida
atividades impostas aos adolescen-
a termo, feita pelo juiz da Infância e
tes quando considerados autores de
da Juventude.
ato infracional. Destinam-se a for-
A obrigação de reparar o dano
mação do tratamento tutelar empre-
será aplicada para atos infracionais
endido, a fim de reestruturar o ado-
com reflexos patrimoniais, podendo
Direito, Justiça e Memória
a autoridade determinar que o ado-
deverá ser demonstrada imperiosa
lescente restitua a coisa, promova
necessidade. Sendo assim, não ha-
o ressarcimento do dano ou com-
vendo fundamentação sobre a ne-
pense de outra forma o prejuízo
cessidade da semiliberdade, pode-
resultante à vítima.
rá ocorrer a nulidade da sentença.
A prestação de serviços à co-
Por fim, a internação será
munidade consiste em uma atividade
aplicada quando tratar-se de ato
gratuita, em que o infrator prestará
infracional
serviços comunitários em entidades
grave ameaça ou violência a pes-
assistenciais, hospitais, escolas e
soa, como por exemplo roubo e
outros estabelecimentos congêneres,
extorsão; por reiteração no come-
cumprindo jornada máxima de oito
timento de outras infrações gra-
horas semanais aos sábados, domin-
ves em que o Superior Tribunal
gos e feriados ou em dias úteis. Vale
de Justiça (STJ) exija no mínimo
lembrar que o infrator não poderá
três atos infracionais para que
ser prejudicado em frequência na
seja cabível a internação, ou por
escola ou jornadas de trabalho, e que
descumprimento reiterado e injus-
tal medida não poderá ser exercida
tificável de outra medida anterior-
por tempo superior a seis meses.
mente imposta. Vale ressaltar que
mediante
Já a liberdade assistida será
tal medida não pode ser aplicada
decretada no prazo mínimo de seis
quando houver outra medida so-
meses. Essa medida socioeducati-
cioeducativa mais adequada e me-
va será sempre aplicada quando
nos severa ao infrator.
for figurada como mais adequada
De acordo com a Súmula 108
para o fim de acompanhar, auxiliar
do STJ, a competência para aplica-
e orientar o adolescente, que ficará
ção de tais medidas é exclusiva do
em liberdade, sendo assistido por
juiz, que fará a aplicação da medida
um responsável.
socioeducativa baseando-se na gra-
O regime de semiliberdade é
144
cometido
vidade do ato infracional.
uma medidas socioeducativa res-
Há de se lembrar também que
tritiva de liberdade, podendo ser
durante a execução as medidas
aplicada desde o inicio ou como
socioeducativas podem ser substi-
progressão para uma medida me-
tuídas, ou seja, são medidas fungí-
nos grave. Entretanto, para que ela
veis, sendo possível a progressão
seja aplicada como medida inicial,
de medidas socioeducativas em
Direito, Justiça e Memória
Diante do exposto, conclui-se
mais grave por uma mais leve, ou
que o ato infracional deve ser per-
poderá ocorrer a regressão des-
cebido. Por isso, as medidas socioe-
sas medidas, em que a mais leve
ducativas disciplinadas no Estatuto
se converterá por uma mais grave.
da Criança e do Adolescente visam
Entretanto, para que seja decreta-
promover a ressocialização do me-
da regressão, é necessária a oitiva
nor e reeducá-lo, sendo uma forma
do menor, conforme prevê a Súmu-
de inibi-los para que eles não voltem
la 265 do STJ.
a cometer outros tipos de infrações.
Direito, Justiça e Memória
145
que há a substituição de medida
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE IMÓVEL POR PARTICULAR Lorena Muniz e Castro Lage Aluna do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 1° de março de 2013, pág. 02
Aluno: Lorena Muniz e Castro Lage Texto: Alienação Fiduciária de Imóvel por particular
A alienação fiduciária de imóvel
A segunda hipótese prevista
foi instituída pela Lei 9514/97 e é de-
na referida lei dispensa para reco-
finida como negócio jurídico pelo qual
nhecimento de eficácia o uso da la-
o devedor (fiduciante), com o escopo
vratura de escritura pública própria
de garantia, contrata a transferência,
perante o cartório de notas, permi-
ao credor (fiduciário), da proprieda-
tindo a constituição da garantia,
de resolúvel de coisa imóvel.
inclusive da alienação fiduciária
A Lei 9.514/97, que dispõe sobre
de imóvel, mediante uso de instru-
o sistema de financiamento imobiliá-
mento particular com efeitos de es-
rio e instituiu a alienação fiduciária
critura pública. A lei que instituiu
de coisa imóvel para fins de garantia,
a alienação fiduciária estabelece
permite a celebração por escritura
em seu artigo 23 que se constitui
pública ou por instrumento particular
a propriedade fiduciária de imóvel
com efeitos de escritura pública, con-
mediante registro do instrumento
forme nova redação dada ao artigo 38
que lhe serve de título, dispensando
pela Lei 11.076/04.
o duplo registro. Direito, Justiça e Memória
Com a utilização do instrumento particular, o desdobramento
Ainda, conforme voto do de-
da posse ocorrerá normalmente,
sembargador Valdez Leite Macha-
tomando-se, portanto, o fiducian-
do, no caso em epígrafe, in verbis:
te possuidor direto e o fiduciário o
“Observando, rigorosamente, os
possuidor indireto da coisa imóvel,
comandos legais, a ré, proprietá-
incluindo o efeito erga omnes contra
ria dos imóveis discriminados no
terceiros. O entendimento dos tribu-
contrato, vendeu-os à autora que,
nais acompanha o raciocínio da dis-
no mesmo ato, deu-os em garantia
pensa do duplo registro, conforme
fiduciária Referido contrato, com
julgado abaixo do TJMG:
força de escritura, foi regularmente registrado no competente Re-
Apelação Cível 2.0000.00.424785-8/000
-
ferindo-se à autora, a propriedade
4247858-41.2000.8.13.0000(1)
resolúvel como disposto no artigo
- EMENTA: RESCISÃO CONTRA-
23 do mesmo diploma legal.’’
TUAL
148
gistro de Imóveis (f. 50-51), trans-
C/C
RESTITUIÇÃO
DE
“O artigo 23 da Lei 9.514/97
QUANTIAS PAGAS - ALIENAÇÃO
declara que a propriedade fiduciá-
FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL-LEI
ria se constitui mediante registro
N. 9514/97 -CONTRATOCOM FOR-
do contrato que lhe serve de título.
ÇADE ESCRITURA REGISTRADO
Ou seja, antes do registro tem-se,
EM CARTÓRIO- IMPOSSIBILIDADE
unicamente, o contrato de alienação
DE RESCISÃO CONTRATUAL - Res-
fidudária em garantia. Contrato este
tando comprovado nos autos que a
que, preenchendo todos os requisi-
propriedade de bem imóvel foi trans-
tos tipológicos e uma vez acessado
ferida ao comprador por contrato,
ao registro imobiliário competente,
com força de escritura, com garantia
oportunizará o surgimento da pro-
de alienação fiduciária, nos termos
priedade fiduciária.”
da Lei 9.514/97, é evidente a impos-
Ademais, em virtude do uso
sibilidade de se rescindir o contrato,
exclusivo do instrumento parti-
com força de escritura, regularmen-
cular, dispensando a lavratura da
te registrado no competente ofício
escritura pública, tem-se a possi-
de registro de imóveis.
bilidade de expressiva redução de
Direito, Justiça e Memória
das partes, certidões imobiliárias,
que faz-se necessário o pagamento
as certidões fiscais, certidão de fei-
dos emolumentos apenas do ins-
tos ajuizados, e certidão de ônus
trumento particular, por meio de
reais, ficando dispensada apenas a
um processo evidentemente mais
sua transcrição.
célere, tendo em vista que também
Portanto, o registro com o uso
reduziremos o tempo dispensado
exclusivo do instrumento particu-
para o registro, já que dispensa-
lar de alienação fiduciária produz
remos a primeira fase, bem como
os mesmos efeitos, atribuindo ao
reduziremos a burocracia do ne-
fiduciário o direito de propriedade
gócio jurídico, tendo em vista que
resolúvel sobre o imóvel que lhe foi
através do instrumento particular
transmitido e conferindo ao fidu-
faz-se necessária a apresentação
ciante, o direito real de aquisição,
no cartório de registro de imóveis
sob condição suspensiva em posição
apenas do instrumento particular,
de se tomar novamente proprietário
enquanto para lavratura da escri-
do bem que transmitira em caráter
tura pública faz-se necessária a
resolúvel ao credor fiduciário, supri-
apresentação no cartório de notas
mindo uma fase de escritura perante
dos documentos relativos a imó-
o cartório de notas, mas, mantendo a
veis, documentos de identificação
solidez do negócio jurídico.
Direito, Justiça e Memória
149
custos financeiros, tendo em vista
LIBERAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS Brenno Silveira Ladeia Aluno do 6º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 13 de setembro de 2013, pág.02
Aluno: Breno Silveira Ladeia Texto: Liberação das Drogas Ilícitas
Devido à problemática do as-
co de entorpecentes, onerando drasti-
sunto, proporei uma ideologia e uma
camente o Estado e não tendo, muitas
afirmativa que causará muito espan-
vezes, resultados satisfatórios.
to em muitos leitores: sou plenamente
Isso causa grande destruição,
a favor da liberação e da legalização
não só a sociedade que sofre em rela-
das drogas ilícitas. E, ainda, que o po-
ção aos furtos, roubos, assaltos e as-
der estatal forneça a substância psi-
sassinatos, como também as famílias
coativa aos viciados.
que veem seus membros sendo corro-
Parece ousado? Entenda melhor o caso.
ídos pelo consumo de drogas. Quanto à afirmação no início do
O mundo vive atualmente um
texto, quero me referir que o Estado
grande caos em relação ao tráfico de
deve promover meios que facilitem
drogas. O sistema público de saúde
o acesso a drogas ilícitas e de forma
usa de meios outros para ampliar a
gratuita aos usuários. Mas isso não
prevenção e a oferta no tratamento
deve ser feito de qualquer forma
de viciados, além do uso de políticas
O poder público deverá pri-
de segurança para o combate do tráfi-
meiramente providenciar um cen-
Direito, Justiça e Memória
tro para o fornecimento de drogas
Se, ainda assim, a pessoa quiser
para que qualquer pessoa possa
se submeter ao efeito de substância
fazer uso e assim suprir seu vício.
psicoativa, ela será encaminhada a
O usuário, nesse centro de for-
uma das salas da instituição e poderá
necimento, fará um cadastro com
livremente usar a droga que foi indi-
todos os seus dados pessoais, como
cada pelos profissionais, não podendo
endereço, tipo de droga usada, con-
sair da instituição enquanto estiver sob
dições de saúde etc., e ele somente
efeito da substância e nem levá-la para
poderá usar a droga de menor po-
sua casa ou outro lugar, para não cau-
tencial ofensivo à sua saúde física
sar nenhum dano à sociedade e a ela
e mental que ele já consumia. Por
mesma, uma vez que sob efeito de dro-
exemplo, se o viciado usava crack,
ga não tem controle sobre os seus atos.
agora ele passa a usar maconha
O segundo ponto benéfico
de forma a manter o seu vício sem
dessa ação promovida pelo Estado
extingui-lo por completo para não
seria a supressão parcial ou, qui-
gerar abstinência total. Inclusive, o
çá, totalmente, de um dos maiores
uso de drogas menos nocivas é de-
problemas do Brasil e do mundo,
fendido por muitos estudos cientí-
que é o tráfico de drogas.
ficos para ajudar no tratamento da
152
dependência química.
Com a legalização e o fornecimento gratuito de entorpecentes
Tudo isso deverá ser feito com
pelo próprio Estado, os viciados
muito critério por uma instituição es-
não precisarão se submeter às vio-
pecializada do Estado e deverá, tam-
lências e às chacinas promovidas
bém, ter profissionais especializados,
pelos chefões do tráfico quando os
como médicos, enfermeiros, psicólo-
viciados não puderem pagar pelos
gos e assistentes sociais para darem
seus vícios, gerando uma grande
apoio psicológico e emergencial a es-
falência desses donos do tráfico,
sas pessoas, caso necessitem.
que não mais terão incentivos para
Também, nesse centro, essas
adquirir, produzir, guardar, manter
pessoas serão informadas sobre to-
em depósito ou transportar as dro-
dos os malefícios que as drogas fa-
gas ilícitas, podendo haver extinção
zem ao corpo e ao psicológico, além
desse comércio pelo desestímulo e
de orientações sobre internações em
pela não procura da droga por parte
instituição de apoio ao drogado para
dos usuários, uma vez que, como já
se curar, se houver interesse.
se disse, as drogas serão gratuitas.
Direito, Justiça e Memória
muitos
cal, que é a proibição e ilegalidade to-
delitos relacionados ao tráfico e uso
tal do uso de drogas que fazem parte
de drogas e entorpecentes ilícitos
da vida de muitos viciados doentes, e
diminuirão drasticamente, poupan-
atuar melhor em outros meios para
do vidas e muita violência causada
tentar solucionar esse problema que
devido a essas substâncias.
afeta implacavelmente a humanida-
As políticas públicas devem su-
de, diminuindo consequentemente o
prir as necessidades da população e
grande encargo financeiro estatal e o
tentar desviar de uma posição radi-
poderio dos chefões do tráfico.
Direito, Justiça e Memória
153
Consequentemente,
FÉRIAS PROPORCIONAIS AO DISPENSADO POR JUSTA CAUSA Erenícia Ágata Saraiva Nunes Aluna do 10º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 16 de agosto de 2013, pág. 02
Aluno: Erenífia Ágata Saraiva Nunes Texto: Férias Proporcionais ao Dispensado por Justa Cauca
O direito trabalhista é norteado
Organização Internacional do Traba-
por princípios básicos que objetivam
lho (OIT), que dispõe sobre as férias
trazer ao empregado uma maior pro-
remuneradas, expondo o direito que
teção. Entretanto, os aplicadores do
todo trabalhador tem de perceber
direito têm se posicionado majorita-
férias
riamente a uma norma menos favorá-
temente da modalidade da extinção
vel no que tange ao direito às férias
contratual.
proporcionais ao empregado dispensado por justa causa.
proporcionais,
independen-
As férias proporcionais são aquelas em que o período de aquisi-
Nosso sistema jurídico aplica o
ção do direito ainda não se comple-
que dispõe a Consolidação das Leis
tou. Contudo, deveriam ser encara-
Trabalhistas (CLT), em que o obreiro
das como um direito adquirido devido
dispensado por justa causa deixará
ao trabalho despendido no dia a dia.
de receber as férias proporcionais,
Nesse sentido, Maurício Go-
agindo em inobservância às regras
dinho (2007, p. 958) traz a ideia de
estipuladas na Convenção 132 da
que as férias sofrem efeitos diretos
Direito, Justiça e Memória
em função da modalidade da cessa-
por haver uma convenção interna-
ção do contrato e, quando por justa
cional ratificada pelo Brasil que
causa do obreiro, confere o efeito de
trata beneficamente o recebimento
que ele não terá direito às férias pro-
das férias proporcionais ao obrei-
porcionais acrescido do terço cons-
ro dispensado por justa causa, de-
titutional, como dispõe o parágrafo
monstra-se incoerência em aplicar o
único do artigo 146 da CLT, sendo
artigo da CLT em vez da Convenção,
entendimento majoritário aplicado
visto que, nesses casos de conflito,
em nosso ordenamento, desconside-
prefere-se a norma mais favorável
rando os preceitos advindos da Con-
ao trabalhador, considerando que
venção 132 da OIT.
diversas normas tratam do mesmo
Há um conflito aparente entre
Nesta linha, José A Pinto
quanto à aplicabilidade do instituto
(2000, p.386) comenta que o direito à
das férias proporcionais. E então,
remuneração das férias deveria es-
qual aplicar? Adota-se a corrente
tar associado ao fato de ter-se pres-
em que sobre férias proporcionais
tado o serviço e, “consequentemen-
deve-se aplicara Convenção 132 da
te, ter havido o desgaste orgânico
OIT, pois é um tratado internacio-
do empregado”, e de que em férias
nal de direitos humanos, ratifica-
proporcionais “não existe repouso,
do pelo Brasil. Logo, com status
mas somente sua remuneração”. O
de norma supralegal, abordando
gozo das férias seria materialmente
assunto considerado como direito
impossível, pela inviabilidade de sua
fundamental pela Constituição Fe-
concessão sem contrato. Portanto,
deral de 1988, artigo 7º, XVII, em
“a denominação juridicamente exa-
que é direito de todo trabalhador
ta deve ser de remuneração propor-
o “gozo de férias anuais remune-
tional de férias por extinção do con-
radas com pelo menos um terço a
trato, e não férias proporcionais”.
mais do que o salário normal”.
156
assunto de formas distintas.
a CLT e a convenção supracitada
Destaca-se que o direito tra-
Observa-se que a Constituição
balhista deve sempre evoluir no
não repassa para qualquer lei infra-
que tange à proteção do trabalha-
constitucional a responsabilidade de
dor. Com isso, os ditames apre-
redigir os pormenores referentes ao
sentados na referente convenção
assunto. Portanto, é uma norma de
trazem uma norma mais favorável
aplicabilidade imediata. Ademais,
acerca das férias proporcionais ao
Direito, Justiça e Memória
derá também o direito de receber as
modalidade de extinção contratu-
férias proporcionais acrescidas do
al, mas por considerar que é um
terço constitutional Mister esclare-
direito ligado aos dias despendidos
cer que, por tal dispensa ser consi-
de trabalho e à perda de energia fí-
derada grave e prejudicial ao em-
sica e mental durante os dias que
pregador e ao ambiente de trabalho,
prestou o serviço.
tal fato é passível muitas vezes, de
Por fim, quando o empregado é
apreciação em outras esferas, como
dispensado por justa causa há uma
a penal e a cível. Cada caso deverá
dupla punição, sendo inadmitida
ser analisado em sua peculiaridade
no ordenamento jurídico brasileiro,
e, conforme o grau de culpa do em-
pois além de perder o emprego, per-
pregado, aplicar a sanção cabível.
Direito, Justiça e Memória
157
empregado, não o diferindo pela
NORMA SUCESSÓRIA DO COMPANHEIRO Ana Luíza Ribeiro Diniz Aluna do 8º período da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva
Data/Página 14 de fevereiro de 2014, pág. 02
Aluno: Ana Luíza Ribeiro Diniz Texto: Norma Sucessória do Companheiro
O Código Civil de 2002, ao de-
1.790 do CC que trata da ordem de
terminar quem seriam os herdeiros
vocação hereditária do companheiro,
necessários à sucessão legítima, não
quando determina que, ao contrário
incluiu no dispositivo legal relativo à
do cônjuge, o companheiro não terá
matéria, a figura do companheiro, dis-
direito à parte da herança que será
pondo, dessa forma, que são herdeiros
obrigatoriamente destinada àquelas
necessários apenas os descendentes,
pessoas discriminadas na lei civil,
ascendentes e o cônjuge (artigo 1.845
configurando-se assim um problema,
do CC). Sendo assim, uma vez exclu-
haja vista que são violados princí-
ído do rol dos herdeiros necessários,
pios fundamentais previstos na Carta
o companheiro não terá direito à me-
Magna de 1988, quais sejam: o princí-
tade dos bens da herança que consti-
pio da isonomia e o princípio da digni-
tuírem a legítima (artigo 1.846 do CC).
dade da pessoa humana.
Feitas essas considerações, ob-
Assim, por exemplo, se após a
serva-se que o próprio Codex estabe-
constituição da união estável, um dos
leceu uma situação de discriminação,
companheiros vier a falecer deixando
além daquelas previstas no artigo
patrimônio e testamento dispondo de
Direito, Justiça e Memória
todos os seus bens para um paren-
cônjuge por analogia. O Superior
te da linha colateral, o companheiro
Tribunal de Justiça (STJ) tem se
supérstite terá resguardado apenas
pronunciado no sentido de que deve
o seu direito de meação - que é ins-
haver essa equiparação e, por esse
tituto de direito de família e não su-
motivo, será considerado herdeiro
cessório, diga-se de passagem - com
necessário sendo-lhe assegurado o
o que o restante do patrimônio será
direito à partilha dos bens que cons-
integralmente entregue ao benefici-
tituírem a legítima, ficando apenas a
ário do testamento.
parte disponível sujeita à disposição
A violação aos princípios da
A Constituição Federal de 1988
soa humana é plenamente visível,
reconheceu a união estável como en-
uma vez que o casal que optou pela
tidade familiar (artigo 226, §3º CF)
união estável, se quiser resguardar
e o mesmo diploma não deu trata-
o direito sucessório do companhei-
mento diferenciado a qualquer das
ro sobrevivente, deverá formalizar
formas de constituição de família.
a união ou mesmo realizar testa-
Por isso mesmo, a diferenciação tra-
mento incluindo-o como beneficiá-
zida pelo Código Civil não só atinge
rio; o que não ocorre com o cônju-
direitos fundamentais como também
ge, cujo direito lhe assiste de forma
é claramente inconstitucional. Desta
automática. Percebe-se que o pró-
feita, se o texto maior equiparou to-
prio direito à liberdade é cerceado,
das as formas de constituição fami-
uma vez que se interfere no direito
liar, não pode a lei infraconstitucio-
de escolha do casal.
nal limitar direitos consagrados em
Trata-se
160
testamentária.
isonomia e da dignidade da pes-
de
questionamen-
âmbito constitucional.
to que tem dividido a comunidade
O companheiro, sem justifica-
jurídica, em que, de um lado estão
tiva alguma, foi colocado em posi-
aqueles que defendem que a letra da
ção de inferioridade em relação ao
lei deve ser aplicada tal como se en-
cônjuge, não fazendo jus a qualquer
contra expressa no texto legal e de
reconhecimento e apreço por parte
outro, aqueles que defendem que as
da lei. Isso é o mesmo que dizer que
normas legais devem ser interpreta-
o instituto da união estável não me-
das de acordo com os princípios nor-
rece o mesmo reconhecimento que
teadores do direito, devendo a figura
é dado ao casamento, contrariando
do companheiro ser equiparada ao
disposição da Constituição Federal.
Direito, Justiça e Memória
Isto posto, necessário se faz repen-
verso que o legislador ao prever o
sar a regra civilista, uma vez que
instituto da união estável, estabe-
os princípios constitucionais da
lece diferenciações e preferências
isonomia e da dignidade da pessoa
com relação ao instituto do matri-
humana foram flagrantemente dei-
mônio; o que merece ser criticado.
xados de lado.
Direito, Justiça e Memória
161
Nesta senda, resta incontro-