Edição 1 - eHealth Innovation

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Carta ao leitor

UM OLHAR ATENTO PARA TI EM SAÚDE O crescimento do mercado de tecnologias da informação e comunicação para o setor de saúde tem evoluído rapidamente no mundo inteiro, graças a uma exigência crescente do paciente, o chamado epatient, que cada vez mais absorve as novas tecnologias e convive com a interatividade em seu dia a dia, inclusive nos cuidados da saúde. A indústria entendeu essa necessidade e as empresas provedoras de tecnologia, bem como os grandes players de Telecom, têm apostado em inovação. Com quase 15 anos de atuação como publisher na área de saúde, no qual integrei a equipe de diversas editoras, revistas e jornais do setor, um dos pedidos prementes que tenho recebido de gestores e executivos da indústria refere-se à necessidade de mais espaço na mídia para temas ligados às Tecnologias da Informação e Comunicação em Saúde (TICSs). Quando observamos outros mercados, seja ele americano ou europeu, encontramos dezenas de publicações direcionadas ao segmento. O Brasil, que já é a sexta economia mundial, integra o bloco de países “emergentes” e está na mira dos investidores. É impensável não haver um canal de conteúdo específico para troca de experiências nacionais e internacionais sobre eHealth. Foi com esta motivação que a Publimed Editora apostou na eHealth_Innovation, primeira publicação

brasileira com conteúdo 100% focado em Tecnologias da Informação e Comunicação em Saúde. Desde a sua fundação, em 2003, a Publimed tem como premissa levar conhecimento para o desenvolvimento dos profissionais de saúde, através de publicações e portais. A eHealth_Innovation é uma revista de ideias e negócios e é direcionada aos tomadores de decisão do setor de saúde. Sejam os CIOS, CEOS, CFOS, bem como os diretores e gestores de tecnologias da informação que atuam no setor saúde, tanto do setor público como do privado. O conteúdo privilegia a inteligência de seus leitores e se dedicará em atingir profissionais que estão interessados em informação de qualidade. A revista passa a contar com articulistas renomados e ampla cobertura nacional e internacional, trazendo estudos de caso, tendências, e oportunidades em eHealth. Todo conteúdo é adensado com a participação do consultor Guilherme S. Hummel, que atua há 17 anos no mercado de TICSs, e, sem dúvida, um dos mais importantes pesquisadores deste mercado. Você pode participar ativamente da publicação enviando sugestões e críticas. Juntos, desenvolveremos uma revista completa e indispensável ao setor. Boa Leitura! KELLY DE SOUZA Editora-Executiva

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Sumário www.ehealthinnovation.com.br DIRETOR EXECUTIVO Adilson Luiz Furlan de Mendonça adilson@publimededitora.com.br DIRETORA ADMINISTRATIVA Vanessa Borjuca Favalle Almeida Santos vanessa@publimededitora.com.br

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Tendências para TeleHealth

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DIRETORA DE REDAÇÃO Leda Lúcia Borjuca leda@publimededitora.com.br MTb 50488 DRT/SP EDITORA EXECUTIVA Kelly de Souza kelly@publimededitora.com.br MTb 33.523 CONSULTOR EDITORIAL Guilherme S. Hummel guilherme.sydow@ehealth-summit.com GERENTES DE CONTAS Ronaldo de Almeida Santos ronaldo@publimededitora.com.br

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Tecnologias futuras em Saúde

Nelson de Brano Jr. brano@publimededitora.com.br

Profissionalização da Informática em Saúde

Márcio Augusto Gama gama@publimededitora.com.br ASSISTENTE COMERCIAL Nádia de Nadai nadia@publimededitora.com.br GERENTE DE RELACIONAMENTO Andréa Neves de Mendonça andrea@publimededitora.com.br EDITOR DE ARTE Ronei Lacerda studio@publimededitora.com.br A revista eHEALTH_INNOVATION é uma publicação bimestral, voltada aos mercados provedores e consumidores de soluções tecnológicas para o setor de Saúde com circulação em todo o Brasil, para leitores previamente qualificados. A eHEALTH_INNOVATION não se responsabiliza por conceitos emitidos atráves de entrevistas e artigos assinados e também pelas informações constantes nos anúncios, bem como sua regulamentação nos junto aos orgãos competentes, sendo estes de exclusiva responsabilidade das empresas anunciantes.

Rua Professor Castro Pereira, 141 – CEP: 02523-010 – São Paulo/SP Telefone: (11) 3966-2000

Ano I, nº 01 – julho/agosto/2012 Circulação: julho/2012 Conheça as soluções completas em midias de negócios que a Publimed oferece, acesse

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eHealth A Revolução chega ao Brasil... com atraso

Reduzindo a sinistralidade com as TICSs


42 mHealth: Mobilidade digital incrementa negócios na Saúde

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Apps para Saúde: Uma avalanche de opções

54 Hospitais ao redor do mundo fazendo a diferença através de eHealth

Telemonitoramento Residencial revoluciona os Sistemas de Saúde

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Na Prática: O CIO na Saúde

eHealth no alvo dos investidores

76 Feira Hospitalar: Valorização do setor de TI e eHealth

Mercado de Healthcare Cloud Computing vai às nuvens

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Próxima edição

Índice de Anunciantes Apotheka..............................................................................81 Beta Eletronic.......................................................................31 Bradesco ..................................................................... 3ª capa CBIS 2012 . ...........................................................................35 Dal Ben................................................................................ 71 Digital Health 2012...............................................................75 Futurecom 2012 ..................................................................13 GTT ..................................................................................... 69

Lafer . .................................................................................. 65 LG . ........................................................................................ 5 LJM.......................................................................................79 MV............................................................................2ª capa, 3 Sincron . ...............................................................................63 SPData..................................................................................23 TOTVS ..........................................................................4ª capa WEM . ..................................................................................59

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PONTO.COM

ehealthinnovation.com.br EHR reduz erros médicos Pesquisa publicada pelo JAMA (The Journal of the American Medical Association) mostra que os níveis de alegações de negligência médica foram reduzidos após a implementação das ferramentas de EHR (Electronic Health Records). Os números são impressionantes: a redução é de um sexto após adoção do EHR. A pesquisa foi desenvolvida pelos pesquisadores da Harvard Medical School.

Relatório mostra crescimento do CPOEs

Reduzindo os custos de atendimento com eHealth A possibilidade de destravar a “sinuca dos custos” passa cada vez mais pelos modelos de adoção das Tecnologias de Informação e Comunicação. Segundo Peter Tippett, vice-presidente da Verizon Connected Healthcare, essa realidade está cada vez mais clara. “Este é um momento sem precedentes para a transição no ecossistema de cuidados de saúde através do uso de tecnologia”, ressaltou na publicação do trabalho “10 Most Promising Ways to Use Health IT to Enhance Patient Care, Reduce Costs” (julho/2012). Acesse o site e saiba quais são esses caminhos.

Pesquisa registra maior aderência de médicos mais velhos à eHealth Pesquisa publicada pela MedPage Today, em julho/2012, mostra que três em cada cinco médicos estão agora utilizando a tecnologia para se comunicar melhor com os pacientes, sendo que dois quintos deles afirmaram que os pacientes estão mais bem informados do que há cinco anos. A pesquisa “Today’s Physician: Managing Change” foi realizada com 214 médicos, e entre várias informações importantes o trabalho identificou uma baixa diferença de idade entre os usuários de eHealth. Médicos com 56 ou mais anos se mostraram mais propensos a utilizar o computador em sua prática médica (90%, contra 86% daqueles que estão abaixo de 56 anos).

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A GIA (Global Industry Analysts, Inc.), uma das mais prestigiadas empresas de análise dos EUA, publicou relatório mostrando que o mercado mundial de CPOE (Computerized Physician Order Entry) pode chegar a US$ 1,5 bilhão até 2018. O relatório (“Computerized Physician Order Entry (CPOE) Systems: A Global Strategic Business Report”) apresenta de forma abrangente o crescimento das aplicações não só de CPOE, mas também os sistemas de HIS e EHR.


Desafios para eHealth Trabalho realizado em 15 países pela KPMG International entrevistou 39 lideres executivos da área de eHealth, todos eles com consagrada reputação nacional e internacional em gestão de Saúde, políticas de saúde e drivers do segmento de eHealth, revela os aspectos de fundamental importância para as transformações em curso na área de eHealth.

Data Storage em Saúde Pesquisa realizada pela Frost & Sullivan, intitulada “European Data Storage Market in Healthcare”, é um dos exemplos de valoração dos mercados de armazenamento de dados. Segundo o estudo, o mercado europeu de data storage deve chegar a US$ 2,4 bilhões em 2017. O número é considerável quando levamos em consideração que em 2010 as receitas desse setor na Europa foram pouco maiores que US$ 1 bilhão. A pesquisa cobre o mercado hospitalar, notadamente o segmento de armazenamento de imagens. As tecnologias de PACS avançam solidamente na produção de imagens com resolução cada vez mais alta, o que necessariamente exige maior espaço para seu armazenamento. Outro fator é a necessidade de que essas imagens (e as demais informações clínicas dos pacientes) sejam armazenadas por extensos períodos de tempo, conforme a legislação vigentes em cada país.


TECNOLOGIAS FUTURAS EM SAÚDE 10 | www.ehealthinnovation.com.br


Fundadora e presidente do FHTI Future Health Technology Institute, dedicado à definição da agenda de tecnologias em saúde para o século 21, Renata Bushko faz parte da Cúpula de Tecnologias Futuras em Saúde no MIT- Massachusetts Institute of Technology. Sob sua liderança, o instituto tem sido reconhecido como pioneiro na pesquisa das tecnologias da saúde e organização de treinamento no país. Em outubro, a pesquisadora estará em São Paulo durante o I Fórum Anual Setorial de TI, evento organizado pela Associação Brasileira CIO Saúde – ABCIS, entidade que reúne os profissionais do setor de tecnologia da informação na saúde, responsáveis pela inovação e suporte tecnológico aos hospitais brasileiros.

4 Idéias... Renata Bushko

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Quais são as tecnologias emergentes que farão a diferença no futuro? Todas as tecnologias emergentes baseadas em nanodispositivos moleculares acoplados em nossos corpos, para que agentes como nanorobôs analisem e expliquem os dados, irão conter programas de softwares. Intelligent Caring Centers (equivalente aos hospitais atuais, mas sem os pacientes, porque eles estarão livres da infraestrutura para cuidados de saúde) vão reprogramar e atualizar o software médico no futuro. Investimentos significativos em metodologias de desenvolvimento de software são necessários para reduzir o gargalo na engenharia de software, tendo certeza de que poderemos tirar proveito de todo o hardware atualmente disponível. Hoje a Lei de Moore não funciona em software como funciona em hardware. Essas metodologias de desenvolvimento de software vão garantir a qualidade de outras tecnologias emergentes, tais como: • Telefonia celular voltada a dispositivos de diagnóstico e monitoramento clínico (exemplo: monitoramento PSD) • Virtual Health Coaches • Equipamentos inteligentes de cuidados a saúde • Biossensores para roupas inteligentes, camas, residências, veículos, espelhos, etc. • Interfaces máquina-cérebro (HBMI) • Humanoides - Enfermeiros Cyborg • Animais de estimação virtuais e artificiais • Linguagens naturais de comunicação • Displays flexíveis e móveis - OLED • Equipamentos distribuídos para aprendizagem • Testes genéticos (Profiling) • Drogas personalizadas em tempo real • Biometria (face, DNA, voz) • Computer Vision • Quantum Computing • Sistemas de suporte a decisão (heurística) • Nanorobôs (Chromallocyte) e outros

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Estamos nos movendo muito rápido na área de Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde (eHealth). Mais rápido até que os mecanismos de regulação. No futuro, quais são os riscos das ferramentas de eHealth (mHealth, EHR, TeleHealth, etc) perderem a credibilidade junto aos usuários? O consumismo na área da Saúde está em ascensão. Biosensores de eHealth geram petabytes de dados biométricos e comportamentais – cataratas de dados do tamanho de um Iguaçu - o risco é que, em breve, necessitaremos de “healthmaticans” (matemáticos centrados na análise de dados de saúde), além de médicos para interpretar esses dados. No futuro, os avanços na engenharia social permitirão que nós derivemos métodos de mudança comportamental a partir desses mesmos dados. Por exemplo, as ações futuras das pessoas serão derivadas da comunicação anterior realizada com amigos. Um risco é que a publicidade possa utilizar os mesmos avanços para promover seus produtos. Em saúde pública, o objetivo é estancar a doença antes mesmo dela se iniciar. Na comunicação feita através da moderna mídia, por exemplo, o objetivo é conhecer as decisões dos consumidores com base no padrão de comportamento social deles. O grande desafio na Saúde é a utilização da engenharia social para ajudar os consumidores a se manterem saudáveis, e eles mesmos equilibrarem as mensagens publicitárias destinadas a eles.

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Como reagirá a comunidade médica a estas tecnologias? Alguns neurocientistas comparam o cérebro humano a uma floresta de neurônios. Essa analogia pode

ser aplicada para a comunidade médica. Assim como o abastecimento de água e a quantidade de precipitação pluviométrica determina a saúde das árvores em uma floresta, a taxa de penetração das ferramentas de eHealth influencia a saúde da população. Um sistema de saúde é como um ecossistema. O processo de adoção da tecnologia é de natureza orgânica. A comunidade médica não está no formato reativo. Ao invés disso, a comunidade médica está absorvendo tecno-nutrientes, desenvolvendo estruturas sociais relacionadas ao uso da tecnologia dentro de sua própria velocidade, que só pode ser alterada pelas forças do mercado e pelos incentivos econômicos.

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Como o “empowerment” do paciente influencia as decisões médicas relativas ao diagnóstico clínico? Quais são os riscos no futuro? Na era do patient empowerment, o tempo e a precisão do diagnóstico médico irão aumentar devido às novas ferramentas para coleta e análise dos dados nas mãos do consumidor. Os pacientes irão exigir um mínimo de seis médicos para rever o seu caso, de forma virtual, e não irão tolerar uma experimentação prolongada de diagnóstico baseada na lógica do “se o medicamento X funcionou deve ter sido por causa de Y”. Pacientes sem acesso a cuidados médicos podem usar um repositório médico de forma gratuita ou com baixo custo, e sistemas de diagnóstico (mobile) baseados em milhões de casos semelhantes, e aplicações de mobile phone acopladas a hardwares para disgnóstico, como o eye-NETRA. A indústria de medical devices estará focada nos consumidores de modo a incentivá-los ao consumo de dispositivos de autodiagnóstico e automonitoramento. O mercado de biosensores já foi de US$ 13 bilhões em 2011. O risco é que as metodologias de desenvolvimento de software não sejam capazes de manter um alto grau de sofisticação e adaptabilidade, itens necessários aos sistemas médicos de diagnóstico. É a mais importante área atual de desenvolvimento de software. A solução óbvia é termos intermediários capazes de combinar o poder das atuais aplicações de aferição humana e uma síntese do “Medical Data Scientist”. Consumidores de saúde produzirão uma nova profissão médica, não um MD antiquado, mas um novo e poderoso MDS (Medical Data Scientist)! g

Leia artigo de Renata Bushko no portal www.ehealth_innovation.com.br.

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eHealth

Revolução chega ao Brasil... com atraso POR GUILHERME S. HUMMEL

Em 2006 publiquei o livro “eHealth – O Iluminismo Digital chega a Saúde”. Seis anos depois, eHealth não é mais novidade, não causa mais histeria dentro da comunidade médicoacadêmica e tampouco reclama seu espaço na mídia. Acostumamo-nos a esse neologismo, bem como a todos os demais que se seguiram a ele (mHealth, TeleHealth, eConsulting, etc.). Todavia, só agora começam a se abrir as cortinas no Brasil para esse grande espetáculo. Só agora a Revolução eHealth mostra ao país a sua gênesis de transformação. Estamos prontos. Estamos ávidos. O ePatient está fazendo a sua parte, o eDoctor vai fazer a dele e o mercado lustra seu elmo, afia sua espada e já escuta o rugido dos leões na arena. Definitivamente eHealth chegou ao Brasil. A indiferença virou minoria. O Brasil mudou? Está mudando, mas isso pouco importa. O que conta é perceber que as determinantes mudaram e que os Sistemas de Saúde mundo afora estão se adequando. O Brasil pegou sua senha, entrou na fila e já ouviu seu nome ser chamado. Não dá para voltar atrás. Usar as Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde (TICSs), também conhecidas por eHealth, não é mais um adereço ou uma escolha, mas a chance do país minimizar o emaranhado de problemas na Saúde pública e privada. 14 | www.ehealthinnovation.com.br


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Não gosto de dizer que “estamos vivendo tempos de transformação”. Todos os tempos são transformadores, de uma forma ou de outra. O que ocorre é que estamos inseridos numa época de desparalização. Não há mais tempos mortos. A velocidade dos efeitos multiplicou a busca das causas e baniu a miopia conceitual. Vivemos o renascimento do Utilitarismo, se é que um dia ele desapareceu. Zygmunt Bauman, um dos mais importantes sociólogos contemporâneos, chamou de “modernidade sólida” o período em que as ameaças sociais eram ostensivamente mais claras. Os perigos eram mais reais, menos misteriosos, menos complexos, mais palpáveis e, por conseguinte, menos difíceis de serem neutralizados. Assim, por exemplo, nas palavras do próprio Bauman, o remédio para a fome era o alimento, e ponto final. Por outro lado, o sociólogo define “modernidade líquida” como a fase em que tudo é temporário. Como no estado físico líquido, os tempos atuais se caracterizam pela incapacidade de nossos “quadros de referência” manterem a forma. As instituições, os estilos de vida, as geotendências, as crenças e as convicções “mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades evidentes”. Se existe algo que tomou a “forma líquida” nos últimos anos foram os drivers de referência que direcionam a saúde humana. Não há um dia em que não tenhamos acesso a uma nova pesquisa médica que não nos surpreenda. Não só pelas novas realidades clínicas que ela aborda, como, muitas vezes, pela negação de outras realidades que tomávamos até então como verdades absolutas. Tempos de surpresa, tempos líquidos. Por outro lado, nunca, em toda a história da civilização, desenvolvemos com tanta solidez as capacidades e competências das ciências médicas. Ocorre que as descobertas e avanços, que parecem tangíveis do ponto de vista factual, em grande parte ainda não conseguem ser efetivas em escala. Se por um lado, no último meio século, tivemos avanços sem precedentes no controle da saúde humana (visto o aumento global da expectativa de vida), por outro, os benefícios são notavelmente mal distribuídos. Medicamentos, procedimentos terapêuticos, equipamentos, tecnologias e muitas outras soluções alcançadas nos grandes centros, pouco chegam aos países subdesenvolvidos ou mesmo às nações em desenvolvimento. Pior que isso, muitos produtos que atendem especificamente a esses países sequer são pesquisados. A distribuição desigual dos benefícios aumenta as desigualdades na saúde, e estas são exportadas de volta aos centros de excelência em forma de guerrilha viral. Para romper o ciclo é necessário

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distribuir a benfeitoria, e para que isto seja feito é necessário fazer uso das Tecnologias de Informação e Comunicação. Tudo é possível sem elas, mas nada é efetivo em escala sem elas. Isso sem falar nas novas patologias, que surgem cotidianamente e que ameaçam constantemente o custeio do setor. Até doenças que já pareciam ter “saído de moda” e entrado para o catálogo das patologias extintas voltam a ameaçar. Este ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) surpreendeu a todos informando que a poliomielite pode “estar chegando a um ponto crítico entre o sucesso e o fracasso”. Segundo a OMS, o aumento no registro da doença vem ocorrendo em países que já tinham sido declarados livres de seus males, mostrando que o seu ressurgimento vem se tornando realidade. Outro caso notável, também apresentado pela OMS este ano, é a variação mais resistente da bactéria que causa a gonorreia. Uma mutação descoberta no Japão em 2008 não só é resistente à maioria dos tratamentos antibióticos, como está em constante evolução, o que pode torná-la não tratável no futuro. A insensatez também conspira contra o resgate das contas públicas na saúde. Já somos um planeta de “fofinhos”, com 0,5 bilhão de pessoas consideradas obesas (12% da população mundial). Os desdobramentos desse avatar consumista são óbvios: um em cada três adultos no


mundo sofre de hipertensão, ocasionando cerca de 50% de todas as mortes por derrames e problemas cardíacos (um em cada dez terráqueos sofre de diabetes). Resultado: 2/3 dos cadáveres globais são originários de doenças não contagiosas. No meio dessa escalada de evidências sombrias temos de melhorar a qualidade do atendimento, educar os pacientes, reduzir custos, distribuir os avanços clínicos, melhorar a formação dos profissionais de Saúde, reduzir a automedicação, aumentar a regulação... são muitos pratos girando simultaneamente.

Informar e Informatizar É verdade que muito está sendo feito, bem mais do que se imaginava há três décadas. Mas se quisermos preservar as mínimas condições sanitárias já conquistadas, devemos convocar todos os mortais para essa luta. Sem a cumplicidade direta da população, sem a sua participação seremos mais “uma tentativa a espera de um fracasso”. O tempo em que imaginávamos que caberia ao Estado, e somente ao Estado, a solução de todos os problemas na saúde findou. Cada indivíduo, em qualquer parte do planeta, terá de se alistar nessa guerra. E, para isso, é necessário arregimentá-lo através da Informação. Bem

embasada, dirigida, de fácil acesso, distribuída em escala, e absorvida desde a tenra idade a informação pode ser a mais poderosa arma para ganhar espaço nesse combate. Mas informar não significa só comunicar, ou anunciar. Na engenharia sanitária do século XXI, onde se lê informar deve-se ler também informatizar. Em 2006 tínhamos pouco menos de 2 bilhões de linhas de telefonia móvel no mundo, hoje são mais de 6 bilhões. Isto é, entre tantas outras, dispomos hoje de mais uma ferramenta para distribuir informação sanitária muito mais barata, rápida e seletiva. Não fazer uso dela é sequestrar o bom senso. Sempre é válido lembrar que a ignorância corrompe a produção de valor. Um exemplo dessa ideia foi apresentada recentemente pela World Heart Federation, em pesquisa realizada com a OMS. O estudo mostra que metade de todos os fumantes chineses, e um terço dos fumantes indianos e vietnamitas, não sabem que fumar provoca doenças do coração. Mesmo em países desenvolvidos, como Canadá, Reino Unido, Estados Unidos e Austrália, entre um terço e metade dos fumantes não sabe que o fumo passivo pode prejudicar o sistema cardiovascular. E não precisamos ir tão longe para perceber que a desinformação do paciente faz

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parte do núcleo da morbidade. No final de 2011, o Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba revelou que mais de 80% dos jovens iniciados sexualmente desconhecem a ação da contracepção hormonal e não têm qualquer conhecimento sobre o uso da chamada pílula de emergência. Não pense que a desinformação ocorre só na varanda dos pacientes. Em 2010, outro estudo realizado pela UNICAMP mostrou que 22% dos ginecologistas desconheciam o mecanismo de ação da pílula de emergência, acreditando que ela seria unicamente um método abortivo. Mas a boa notícia é que cresce o número de convocados para essa guerra, seja de forma espontânea, ou através dos mecanismos utilitaristas dos Sistemas de Saúde (mandatórios). Nessa nova tomada de consciência, um fator vem fazendo a diferença e acelerando o passo para as transformações: a expansão das Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde (eHealth). As principais entidades que de alguma forma vigiam de perto a Saúde (OMS, Banco Mundial, OECD, ONU, etc.) são unânimes em celebrar a importância das TICSs para equacionar uma grande parte dos problemas que aflige o planeta nessa área. Os mercados, não menos vigilantes em detectar oportunidades, também se expandem no setor de Saúde, notadamente no universo de eHealth e em todos os seus subsets: mHealth, TeleHealth, Telemonitoring, HIS (Hospital Information Systems), EHR (Electronic Health Records), PACS (Picture Archiving and Communication System), etc. A Revolução eHealth ainda está longe de mostrar todo seu potencial, mas em quase todos os centros mundiais de decisão sobre saúde pública fica cada vez mais evidente que pouco conseguiremos sem dois vetores: (1) eHealth e (2) Educação Básica Sanitária.

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Avanço no mercado e na mente dos indivíduos Recente trabalho (“Advancing Global Health IT”), publicado em 2012 pelo HIMSS (Healthcare Information and Management Systems Society) em conjunto com o Banco Mundial, mostrou claramente como eHealth avança e, apesar dos inúmeros obstáculos, vai ocupando espaços no mercado e na mente dos indivíduos. O Banco Mundial já tem um portfólio de 55 projetos de eHealth, com investimentos superiores a 1,5 bilhão de dólares. O relatório do HIMSS mostra que dos 6 trilhões de dólares consumidos pela Saúde num contexto global, cerca de 2% já são orientados às Tecnologias de Informação e Comunicação. Embora o número possa parecer insignificante, o que o torna respeitado é a sua taxa de crescimento anual: 10%. As projeções do estudo mostram que o mercado global de eHealth em 2015 deve ultrapassar 250 bilhões de dólares. As curvas de crescimento desse mercado surpreendem porque os problemas para a implementação de suas aplicações ainda são de grande alcance: segurança de dados, padronização, regulação, privacidade de informações clínicas, componentes culturais, ceticismos dos gestores, etc. Apesar de tudo isso os investimentos são crescentes e a expansão do setor carrega uma cesta de esperanças de que as TICSs possam ajudar a minimizar uma grande parte dos problemas endêmicos do setor de Saúde. Só na Índia, por exemplo, estima-se que o mercado de eHealth chegue até o final de 2012 em 5 bilhões de dólares, segundo dados da Confederation of Indian Industry (CII). Num país onde 68% da população habita em áreas rurais, as soluções de Telemedicina são


uma das grandes apostas do país, apesar dos problemas de infraestrutura local. De acordo com a empresa de consultoria Zinnov, com sede na Índia, só o mercado indiano de cloud computing para o setor de Saúde deve ser chegar a 600 milhões de dólares em 2020. A Índia, como o Brasil, tem grandes extensões territoriais. O esforço do país em implantar soluções de atendimento remoto (Teleconsulting) não deixa de ter explicações cabais. O país tem um médico para cada 1700 pacientes (os EUA tem um para 390). Com uma população superior a 1,2 bilhão de habitantes, isso significa um gap de 1,4 milhão de médicos e 2,8 milhões de enfermeiros, de acordo com os padrões da OMS. Com essa defasagem não existe cenário otimista que não tenha as TICSs como um fator crítico de sucesso, embora a palavra sucesso ainda seja em saúde pública uma quimera. Como a Índia detém uma das indústrias de software mais poderosas do mundo, existe grande chance de que o país obtenha resultados em menor espaço de tempo, embora a distância ainda seja brutal: o gasto per capita em eHealth na Índia é de US$ 2, contra US$ 5 na China e US$ 230 na Alemanha. Mesmo os EUA, atulhados em problemas econômicos, não para de investir. Estudo publicado este ano pela Wintergreen Research revela que o mercado de Telemedicina nos EUA deve sair dos atuais US$ 736 milhões para US$ 2,5 bilhões em 2018. O crescimento das soluções de Home TeleHealth Monitoring (telemonitoramento residencial) não deixa dúvida sobre a importância dessa tecnologia para reduzir custos e acomodar a exigente conveniência do paciente norteamericano. Um exemplo: a operadora Geisinger Health Plan revelou que em março/2012 seus programas de telemonitoramento reduziram em 44% a readmissão de pacientes.

de eHealth, com grande força de atuação e uma brutal escalabilidade. Prova disso foi o estudo publicado em 2012 pela PricewaterhouseCoopers (PwC) detectando a sintonia fina que já existe entre os usuários das Redes Sociais e os temas da Saúde. A pesquisa (“Social media “likes” healthcare - From marketing to social business”) mostra que 1/3 dos usuários adultos das redes de relacionamento nos EUA já utiliza esse ambiente digital como habitat natural para questões sobre saúde. Os dados da PwC não deixam de surpreender, embora pouca coisa em eHealth ainda me surpreenda. A pesquisa, feita junto aos consumidores informa que as mídias sociais influenciam 41% dos usuários em sua escolha por um determinado hospital, clínica, ou mesmo por um médico específico. Perto de 45% dos entrevistados disseram que as Redes Sociais afetariam sua decisão de buscar uma segunda opinião em saúde, e 34% responderam que elas influenciam sua decisão na hora de ingerir um medicamento. Mais que isso: 32% admitiram que

Redes Sociais Também podemos trazer para essa conversa as mudanças que vêm ocorrendo na vertical de Saúde com o crescimento das Redes Sociais. É certo que ainda precisaremos de algumas décadas para explicar como e por que o Facebook, por exemplo, tinha 5 milhões de usuários em 2005 e hoje tem quase 1 bilhão. Aquilo que parecia ser um mero passatempo de adolescentes vem dragando toda uma geração, e introduzindo também na área de Saúde uma nova forma de estabelecer parâmetros informacionais sobre as condições físicas do usuário. As mídias sociais não deixam de ser uma ferramenta

As mídias sociais não deixam de ser uma ferramenta de eHealth, com grande força de atuação e uma brutal escalabilidade www.ehealthinnovation.com.br | 19


as mídias sociais afetam a sua decisão no momento da escolha de um plano de saúde. Todas essas considerações acenam com vários aspectos, sendo que um deles é a atenção que os prestadores de serviços devem ter com a porosidade das redes, que produzem relacionamentos horizontais não hierárquicos que podem ser altamente benéficos ou maléficos para seus negócios. Nesse sentido, é notável o trabalho de monitoramento que vem sendo feito pelo Laboratório Fleury no Brasil. Ciente da importância dessa modalidade de marketing de relacionamento, a empresa tem desenvolvido vários mecanismos para atuar não só de forma preventiva como proativa na relação digital com seus clientes. Os bons resultados dessa ação seguramente vêm produzindo uma vantagem competitiva para a empresa. Existem poucos e bons exemplos de utilização das aplicações de eHealth no país. O Brasil chega atrasado nessa corrida. Como não existem vencedores e nem vencidos na maratona eHealth, afinal, todos “vão acabar chegando” (querendo ou não), as circunstâncias internacionais podem adicionar impulso ao país. Com a

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crise econômica mundial pressionando os mercados da Europa, EUA e até alguns BRICs, uma significativa “flotilha de guerra”, formada por empresas de serviços, produtos e devices para o setor de Saúde, busca novos mercados para ancorar suas embarcações. Poucos países estão tão à mercê de uma invasão como o Brasil. Pouco assistido pela indústria nacional de eHealth, e com um mercado de quase 50 milhões de vidas na saúde suplementar e mais de 100 milhões na saúde pública, o país se mostra extremamente atrativo para as empresas estrangeiras desse setor. Leverage para o mercado nacional, que ainda drena seus avanços por conta do corpo a corpo perdulário com o crédito bancário.

Medical Devices Uma das áreas em que o Brasil cumpre algum papel de destaque, e por isso mesmo torna-se cada vez mais atrativa para investimentos internacionais, é o setor de manufatura de equipamentos e dispositivos médicos. Segundo a ABIMO (Associação Brasileira


da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios), o setor registrou faturamento de R$ 10 bilhões em 2011, com um crescimento de 17,7% (contra 9,4% em 2010). Desse total, 86% das vendas foram para o mercado interno. Boas notícias, sem dúvida, mas há muito que fazer. Se o setor exportou em 2011 mais de US$ 700 milhões, as importações somaram US$ 4 bilhões, gerando um déficit comercial de US$ 3,35 bilhões (com crescimento acumulado desde 2010 superior a 45%). Com um parque industrial onde 75% das empresas são de capital nacional, e com uma imperativa demanda por tecnologia de ponta (coloca ponta nisso), é pouco provável que o setor de manufatura nacional de equipamentos e dispositivos médicos não seja tentado a flertar cada vez mais com as empresas dos países que esbanjam inovação nesse setor. Principalmente quando sabemos que essa é uma das áreas que mais cresce no mundo. Chineses, indianos, israelenses, sul-africanos e norte-americanos, que detêm patentes, tecnologia superavançada, mercados cativos e uma base de conhecimentos em eHealth altamente testada, desembarcam todos os dias no país, ávidos por ocupar espaços e lançar suas amarras. A consultoria Frost & Sullivan estima que em 2015 a indústria de TICSs movimentará 121 bilhões de dólares na América Latina. Como o Brasil responde pela maior parte desse mercado, seguramente somos o que os anglo-saxões chamam de best corner to make money. Este ano, a Emergo Group, uma das mais importantes

multinacionais em consultoria regulatória, divulgou estudo (2012 Medical Device Industry Survey) em que questiona empresas desse setor, sediadas ao redor do mundo, sobre quais mercados ofereceriam melhor potencial de crescimento ao longo dos próximos cinco anos? As respostas mostraram que encabeçando a lista continua a China. Mas, na sequência vem o Brasil, seguido da Índia e EUA (num ranking de 16 países). Talvez o dado mais importante é que a mesma pergunta feita em 2010 já tinha o Brasil na segunda posição, mas o percentual de indicações cresceu em quase 10%. Isto é, o Brasil está na alça de mira do mercado produtor mundial de equipamentos e dispositivos médicos. Boa notícia para a manufatura nacional, principalmente para as empresas que entendem a velha máxima: “quem altera algo dentro da Cadeia de Valor não é alguém que faz parte dela, mas quem está fora dela”. Certamente que os demais eixos da indústria nacional de produtos e serviços de eHealth não estão parados. Os tradicionais players do mercado de software, por exemplo, habituais desenvolvedores de sistemas de prontuário eletrônico, aplicações de HIS (gestão hospitalar), plataformas de PACS, prescrição eletrônica e várias outras ferramentas de eHealth, se movimentam turbinando seus aplicativos, ou entrando em novos nichos de mercado. Os mais hábeis se aconchegam em parcerias com a “flotinha invasora”, ganhando espaço rapidamente e incorporando novas tecnologias e novos modelos de negócio. Os menos inspirados se aventuram no crédito nacional, pouco circulante e com juros

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ainda aviltantes. Mas de certa forma todos se animam com as novas perspectivas, embaladas pelo poder de consumo dos usuários e pelas dramáticas condições da Cadeia de Assistência à Saúde, que podem ser nefastas para os oprimidos consumidores, mas podem significar grandes oportunidades de negócios para os investidores. A velocidade das transformações nos dias de hoje com certeza nos desequilibra e nos causa perplexidade. E não é diferente no setor de Saúde, notadamente na vertical eHealth. Conciliar interesses individuais com parâmetros coletivos é um dos mais desafiadores dilemas do mundo contemporâneo. Saber que a obsolescência corre atrás de nós com a fome de um predador é realmente asfixiante. Mas, é bom lembrar que a modernidade líquida de Bauman não está embasada, ou lastreada, ou mesmo sustentada por mecanismos sólidos totalitários. Os tempos fluídos, onde tudo muda a todo instante, não comportam tradições ideológicas ultrapassadas, parâmetros ortodoxos irrevogáveis ou cenários definitivos. Se essa mutação sistêmica nos desequilibra e nos incomoda, por outro lado nos mostra que nenhuma derrota é definitiva. Nenhum fracasso é total ou final. Estamos sempre prontos a ressurgir, a renascer e a fecundar nossas falências com novas saídas e novos horizontes. eHealth decolou no Brasil. Esse fluído se move facilmente. Ele escorre, transborda, inunda e, em geral, ao contrário dos sólidos, não pode ser contido. Esse novo modelo de pensar a Saúde tem a leveza dos líquidos. Pode contornar obstáculos, dissolver outros e pode também derramar-se por zonas de difícil entendimento e de dura aceitação. Se eHealth pode respingar e borrar áreas fora do discurso bioético, como um fluído, ele também pode ser filtrado, destilado e canalizado para boas práticas. Tudo depende de nossa habilidade em lidar com essa nova realidade. g GUILHERME S. HUMMEL é Mentor e Senior Advisor em Tecnologias de Informação em Comunicação em Saúde, tendo trabalhado com várias multinacionais líderes no segmento de eHealth. Autor dos livros: “eHealth – O Iluminismo Digital chega a Saúde” (2006); “ePatient – A Odisséia Digital do Paciente em Busca da Saúde” (2008), e “eDoctor – A Divina Comédia do Médico e a Tecnologia” (2011). Site: http:// www.ehealth-summit.com - Twitter: @eHealthSummitW

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Tendências para TeleHealth Desafios e oportunidades As soluções de TeleHealth devem ter um impacto direto na arquitetura dos modelos de custeio, remuneração médica e reembolso

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Uma das mais respeitadas entidades mundiais focadas em Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde, a American Telemedicine Association (ATA), publicou as tendências prementes para TeleHealth. O CEO, Jonathan Linkous, apresentou previsões que mostram como as verticais de Telemedicina e TeleHealth estão inseridas dentro do cenário dos grandes desafios e oportunidades para a indústria de Saúde dos EUA, e, consequentemente, para o mercado global. As predições mostram o impacto das soluções de TeleHealth em toda a Cadeia de Assistência à Saúde, bem como no formato das novas relações entre os prestadores de serviços médicos e pacientes. A primeira tendência, “Mudança dos Modelos de Reembolso”, já acena para o grau de transformação que temos à frente. As soluções de TeleHealth devem ter um impacto direto na arquitetura dos modelos de custeio, remuneração médica e reembolso. As bases do Telecuidado remoto, onde paciente e prestador de serviço não estão necessariamente em um mesmo ambiente presencial, devem modificar significativamente a forma como os serviços serão remunerados daqui por diante. Novas regras, novas regulações e novos mecanismos de controle orientam o debate sobre a reengenharia do setor de Saúde, seja nos países desenvolvidos, ou nas nações emergentes, ou mesmo nos rincões mais pobres do planeta. Nesta nova ópera de inovações temos TeleHealth como um dos aceleradores das transformações. Outra tendência da ATA aponta para a mesma direção transformadora: “Telemedicina como um Padrão de Atendimento”. A tendência cristalina (já real em muitos países) é de que as soluções de TeleHealth passem a ser uma referência na Atenção Básica. Imagens Médicas estarão cada vez mais no centro por onde gravita boa parte do diagnóstico clínico. Se já é assim em muitas disciplinas (como na Radiologia e Tomografia Computadorizada), a tendência é que as soluções de PACS (Sistemas de Gestão de Imagens Médicas) tornem-

“As bases do Telecuidado remoto, onde paciente e prestador de serviço não estão necessariamente em um mesmo ambiente presencial, devem modificar significativamente a forma como os serviços serão remunerados”

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se cada vez mais integradas e ambiciosas, da mesma forma que sua utilização em escala deverá reduzir cada vez mais os custos (como já vem ocorrendo) e acelerar os investimentos em infraestrutura digital. A terceira tendência citada por Linkous, o “Crescimento do Mercado de Interpretação Remota de Imagens”, concentra-se no desenvolvimento de um novo player dentro da Cadeia de Atenção à Saúde. Empresas novas investem na interpretação de imagens médicas, de forma remota e terceirizada. Muitos hospitais nos EUA, por exemplo, já vêm utilizando esse serviço, tendo como base uma premissa simples: se é possível terceirizar plenamente os serviços radiológicos, por que não terceirizar também outras aplicações de PACS, como nas áreas de neurologia, psiquiatria ou em outros serviços de diagnóstico clínico? Nessa direção, multiplicam-se as pequenas e médias empresas que investem em equipamentos e profissionais


“O crescimento do mercado de interpretação remota de imagens concentra-se no desenvolvimento de um novo player dentro da Cadeia de Atenção”

especializados em Telemedicina, e que atuam junto aos hospitais, por exemplo, agilizando e barateando os laudos em imageologia. Outra projeção apresentada pela ATA é a “Ascensão de Centros Médicos Virtuais”, ou seja, o crescimento das clínicas virtuais de atendimento (Virtual Care Center). Um exemplo foi anunciado em outubro de 2011 pelo Mercy Hospitals: a construção de uma unidade de atendimento remoto em Chesterfiel, Missouri, no valor de US$ 90 milhões em investimentos. A unidade visa atender pacientes a distância, como já acontece em menor escala no Inova Health System, onde os médicos proveem assistência remota a 122 leitos de UTI em todo o norte da Virginia. Versões semelhantes já existem no Brasil, e a tendência é que esse perfil de oferta cresça nos próximos dois anos. Isso sem contar na variada quantidade de projetos que já estão sendo implantados na África e Índia, financiados por fundos filantrópicos ou pelo próprio Estado, que têm como eixo central a forte utilização de aplicações TeleHealth (videoconsulta, telediagnóstico, etc.). A tendência da ATA mais visível, mas não menos espetacular, é “mHealth”. Com um início de muitas promessas e poucas evidências de bons resultados, as tecnologias móveis avançam de maneira rápida, ocupando largos espaços no setor de Saúde. O mix de tecnologias móveis saltou por cima dos players da Cadeia de Atenção à Saúde e foi parar no colo dos usuários. É difícil imaginar os desdobramentos dessa gigantesca onda, que conta só no setor de Saúde com mais de 15 mil aplicações (apps). Existe um grande divisor de águas que pode acelerar todas essas tendências, assim como toda a oferta de eHealth no planeta: cloud computing. As promessas da Computação em Nuvem (possibilidade de acessar e executar arquivos diferentes pela Internet, sem necessidade de instalar aplicativos localmente) são de grande alcance, sendo que muitos especialistas já a descrevem como um marco da era pós-PC. Grandes provedores como Google, Microsoft, Skype, todas as

grandes Operadoras de Telecom e um infindável rol de empresas não tão abastadas, alimentam todos os dias o imaginário da evolução tecnológica, muitas vezes passando por cima de questões relevantes, como Segurança, Privacidade e Credibilidade dos provedores. Todavia, aparentemente, a tecnologia em nuvem veio para ficar, e está se instalando rapidamente também no setor de Saúde. O mercado de cloud computing para imagens médicas nos EUA foi de US$ 56 milhões em 2010, mas as projeções acenam para um crescimento anual de 27%. Até o renomado Johns Hopkins Hospital anunciou este ano que está implementando seu projeto de computação em nuvem para armazenar dados médicos e compartilhar imagens médicas com outras instituições. Com ou sem nuvem, as aplicações de TeleHealth parecem atingir todas as instâncias, mas principalmente os sistemas de monitoramento residencial de pacientes. Trabalho publicado em maio último pelo British Medical Journal (BMJ) analisa de forma cirúrgica os efeitos da utilização de TeleHealth nos tratamentos residenciais (home-based telehealth interventions). Participaram 3230 indivíduos com diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica ou insuficiência cardíaca, sendo eles recrutados a partir de 179 práticas utilizadas atualmente em três áreas na Inglaterra. A pesquisa concluiu que, comparado com o tratamento usual, os tratamentos que utilizam medical devices para monitorar remotamente os pacientes reduziram em 18% as admissões hospitalares e em 46% as mortes (após 12 meses, 4,6% dos pacientes monitorados através de TeleHealth morreram, contra 8,3% das mortes ocorridas em pacientes que não utilizavam essas tecnologias). Se por um lado o estudo identifica ganhos com relação aos tratamentos, por outro, também mostra que os investimentos (paquidérmicos) em TeleHealth feitos pela NHS (Agência do Sistema de Saúde Britânico) ainda não trouxeram retorno, ou ainda estão aquém dos resultados econômicos prometidos. Mesmo com a discussão sobre qual a melhor forma do poder público investir em TeleHealth, o fato é que mercadologicamente a utilização cada vez maior de sistemas, devices, equipamentos e toda a sorte de soluções em TeleHealth é irreversível. A tecnologia móvel já fez um “estrago” considerável no setor bancário há três décadas, está fazendo no setor de varejo e fará o mesmo na indústria da Saúde. O debate deve ser intenso na direção de quais os melhores formatos e modelos de negócio, ou mesmo sobre qual a regulação mais correta para se impedir disparates comerciais. Um dos imperativos de médio e longo prazo que concentram

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atenção dos provedores de TeleHealth é a sua integração com os sistemas de EHR (Electronic Health Records), o velho conhecido Prontuário Eletrônico do Paciente. Dificilmente soluções de alto impacto nos custos e na qualidade do atendimento deixarão de ter a necessidade dessa interoperabilidade, sendo que boa parte dos novos sistemas de TeleHealth já têm embarcados em seus pacotes as aplicações de EHR. Nos EUA, o escritório de fomento às soluções de eHealth na área rural (Health Resources and Services Administration Rural Health) possui uma área específica orientada à TeleHealth (OAT - Office for the Advancement of Telehealth). Estudos recentes da OAT mostram os progressos na integração remota de médicos e pacientes. Todavia, passou a ser regra que os projetos de TeleHealth tenham associados o uso intenso do EHR. A OAT administrou fundos de 36 projetos de Telemedicina, totalizando mais de US$ 10,3 milhões (de 2009 a 2011). Soluções que privilegiam o setor de TeleHospital (utilização de videoconferência como instrumento de comunicação entre os profissionais do hospital) representaram um mercado de US$ 8,1 bilhões em 2011, e devem crescer para US$ 17,6 bilhões em 2016, segundo dados da BCC Research. No centro desse crescimento está a integração com os sistemas de EHR. A interoperabilidade das aplicações de TeleHealth com as soluções de EHR não é simples. Entre os vários motivos está a dificuldade de compatibilizar funcionalidades severas dos sistemas de EHR com as praticidade das soluções de TeleHealth, sem falar no velho problema dos ambientes serem diferentes por também serem diferentes os fornecedores. Quanto menos interoperável mais discutível são os resultados do projeto. Um bom exemplo desta “encrenca” pode ser avaliado no case do hospital UCDCH (University of California Davis Children’s), com seus 118 leitos. Ele teve de desenvolver soluções alternativas para documentar a consulta feita através de TeleHealth

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(videoconsulta). A UCDCH provê serviços remotos de cuidados intensivos para 11 parceiros (Unidades Médicas Rurais) no norte da Califórnia (TeleHealth para Emergência Pediátrica), sendo que cada site possui uma unidade de videoconferência com alta resolução. Para manter o projeto factível (barato e sustentável) a troca de informações clínicas dos pacientes, realizada entre os médicos do UCDCH e a equipe da unidade rural, é feita através do telefone, fax, ou por simples conferência visual nos monitores do sistema de videoconsulta. Embora os bons resultados sejam evidentes, tanto no custeio como na assistência ao paciente, certamente que essa não é a melhor forma, ou mais segura, de trocar informações. Entretanto, integrar um EHR na plataforma ainda adiciona custos consideráveis, que podem inviabilizar a relação custo x benefício do serviço de TeleHealth. O que vem sendo feito para minimizar o problema é a utilização de protocolos-padrão de intercomunicação (como o H.323, para comunicação IP). Standards, como o HL7, garantem que qualquer instituição tenha um equipamento intercomunicável, não sendo este necessariamente do mesmo fornecedor que de outra instituição. Paralelamente, sempre são feitos estudos para a utilização de uma aplicação única de EHR, que possibilite mais segurança e efetividade na troca de informações. No caso da UCDCH, como as Unidades Rurais são independentes societariamente, as coisas não são fáceis, mas tendem a se resolver em médio prazo mediante as facilidades que os registros médicos eletrônicos adicionam aos projetos. Outro exemplo norte-americano são os esforços que estão sendo feitos pela unidade de TeleHealth da University of Arkansas for Medical Sciences (UAMS), que participa do projeto Arkansas START (System To Access Rural Telecolposcopy), um programa que oferece Telecolposcopia (transmissão remota de imagens de um Colposcópio, com propósito de diagnóstico ou consulta) para três comunidades rurais, cobrindo as lacunas existentes no atendimento ginecológico dos pacientes do sistema Medicaid. Desde 2006, o programa START tratou mais de 3 mil pacientes. Através de uma solução de teleconferência clínica o especialista localizado na UAMS conversa com o médico local e analisa as imagens, registrando em papel suas observações. Mesmo tendo o UAMS um EHR, os médicos não podem dar entrada no sistema com as informações colposcópicas sem que o paciente tenha recebido a conta. Trata-se de um requisito básico de subvenção. Assim, todos os registros são feitos em papel e enviados às Unidades Rurais através de fax. Obviamente que esforços estão sendo feitos para “desbloquear” essa iniciativa obsoleta, mas enquanto


isso não ocorrer o sistema continuará tendo a ponta de TeleHealth desvinculada do EHR. Aliás, esses desequilíbrios regulatórios, burocráticos, lentos e muitas vezes descolados do bom-senso não ocorrem somente nos países avançados. No Brasil, a jornada regulatória é longa e se arrasta pelos poderes públicos, ora com mais velocidade, ora quase parando. Some-se a isso as pedras colocadas no meio do caminho tentando reduzir a velocidade das transformações. O CFM (Conselho Federal de Medicina), por exemplo, em agosto de 2011, apresentou uma Resolução (no. 1.974/2011) que veda “consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de comunicação de massa ou a distância”. Diante desses entraves (que certamente são provocados com a melhor das intenções bioéticas), fica sempre a percepção difícil sobre como os players da Cadeia devem se comportar. Até porque, desde que a telefonia fixa foi implantada, médicos e pacientes se comunicam por telefone e trocam ideias sobre os problemas clínicos, principalmente em disciplinas cuja relação direta torna-se imperativa para assegurar a tranquilidade dos familiares do paciente (caso, por exemplo, da pediatria). De qualquer maneira, temos menos entraves hoje do que tínhamos há uma década, e teremos bem menos daqui para frente. A lógica dos resultados conspira contra a lógica da preservação dos modelos ultrapassados. Apesar das dificuldades, os projetos de TeleHealth e Telemedicina avançam no Brasil, embora não com a velocidade desejada. O esforço da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), por exemplo, nessa área é alto e os resultados são espantosos. Coordenados pelo Prof. Chao Lung Wen, presidente do CBTms (Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde) os projetos têm grande alcance e mereceriam maior atenção dos poderes públicos no sentido de massificar seus resultados. O mesmo acontece na UFMG, na UFRJ e em vários outros centros universitários. Outra iniciativa é o Programa Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde, que já incorpora 11 Estados da Federação e oferece teleconsultoria, telediagnóstico e tele-educação. Toda logística e infraestrutura do programa estão concentradas nas Universidades, e o Governo vem tentando ampliar seus resultados e os investimentos. Ocorre que as ações ainda são tímidas quando comparadas com outros países. Mais ainda porque a emergência e a demanda que o país tem em atender a seus milhões de beneficiários (SUS e Saúde Suplementar) exigiria uma sólida operação transformadora, que utilizasse em escala as ferramentas de atendimento remoto. g


Recursos Humanos Profissionalização da Informática em Saúde 32 | www.ehealthinnovation.com.br


A Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) está lançando o proTICS - Programa de Profissionalização da Informática em Saúde que visa capacitar e certificar os profissionais que atuam nas áreas de Informática Médica, Bioinformática e eHealth, compreendendo ainda subáreas como Telessaúde, Processamento de Sinais e Imagens Médicas. Lastreada na experiência internacional, a SBIS defende que o crescimento e a consolidação da atividade no Brasil requerem um processo permanente de capacitação, reconhecimento e evolução do profissional de Informática em Saúde. “Acreditamos que uma área de conhecimento só evolui se tiver uma massa crítica de profissionais com conhecimento e capacitação. Assim, é fundamental que os profissionais da área de informática

em saúde estejam preparados para atuar como agentes transformadores”, explica Cláudio Giulliano Alves da Costa, presidente da SBIS. De acordo com o executivo, a ideia é certificar inicialmente cerca de 1200 profissionais ligados à entidade. Apesar de não haver estatística oficial, a estimativa é de que atuem cerca de três mil profissionais no país. “Não estou dizendo que temos três mil especialistas, mas profissionais que trabalham com essa área, seja na iniciativa privada, pública ou em instituições de ensino”, ressalta. Entretanto, o déficit por profissionais pode ser muito maior. A COACH Associação Canadense de Informática em Saúde realizou uma pesquisa sobre o assunto e estimou que o Canadá precisa de 32 mil profissionais nessa área. “Veja, se o Canadá que tem cerca de 35 milhões de

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habitantes precisa de 32 mil profissionais de informática em Saúde, de quanto precisa o Brasil?”, questiona. Para que essa demanda seja atendida, é preciso que a Capacitação Profissional também evolua. “Os cursos de informática em saúde precisam evoluir para preparar melhor o profissional para o mercado de trabalho. Por isso, um dos documentos de referência do proTICS indica quais as competências essenciais de um profissional de informática em saúde, bem como sugere um currículo mínimo para os cursos da área”. Por outro lado, defende o presidente da SBIS, a Certificação é o reconhecimento de que o profissional possui conhecimento técnico na área de informática em Saúde. “Com o passar do tempo, acredito que o mercado contratante (público e privado), passará a recrutar profissional com esse tipo de certificação”, ressalta. Com um Modelo de Carreira definido, a SBIS acredita que as instituições de saúde poderão contar com um profissional mais bem preparado, capaz de entender a complexidade da Saúde, os mecanismos do setor e aplicar as ferramentas de TI para a melhoria do atendimento ao paciente, além de contribuir para o aumento da eficiência operacional da instituição.

Competência e Perfil Profissional O desejo de encontrar experiências internacionais que pudessem ser utilizadas como base de conceitos para acelerar o processo de capacitação de profissionais de Saúde fez com que a SBIS realizasse uma revisão da literatura para avaliar iniciativas internacionais como as da AMIA, da HIMSS, da IMIA e da COACH – a Associação Canadense de Informática em Saúde. A análise da proposta da COACH de implantação dos conceitos de “HIP – Health Informatics Professionalism” levou a SBIS a concluir que esta é a iniciativa mais próxima da cultura e das práticas de Informática em Saúde no Brasil. “A COACH conseguiu reunir diversas estratégias para amplamente criar as condições para que a área de informática em saúde se desenvolvesse no Canadá. Adaptamos o modelo canadense para que correspondesse à realidade brasileira, com extensa revisão dos descritos de cargos, competências essenciais, conhecimentos específicos do Brasil (por exemplo, SUS e certificação SBIS-CFM). Também consideramos a experiência do AMIA 10 x 10 para o proTICS”, explica Cláudio Giulliano. Um dos pontos importantes do projeto diz respeito aos Perfis Profissionais e ao Modelo Brasileiro de Carreira para o Profissional de Saúde. Se o entendimento proposto for considerado adequado, os próximos passos

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Projeto de Capacitação Profissional: tem o objetivo de fomentar e estimular a criação de novos cursos de graduação e, especialmente, pós-graduação na área de informática em saúde, sejam cursos curtos ou longos, presenciais ou a distância. Além disso, objetiva colaborar com a definição do conteúdo mínimo e critérios de qualidade para que assim ocorra o credenciamento deste curso no proTICS, obtendo o reconhecimento oficial da SBIS. Processo de Certificação Profissional: a SBIS prepara um processo de certificação com o objetivo de reconhecer as competências essenciais deste profissional e assim oferecer um certificado, um reconhecimento de sua sociedade científica, na forma de um Certificado Profissional em Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde (cpTICS).

consistirão em: a) revisar e ratificar as profissionais; b) propor a sua hierarquização formal associada aos níveis de especialização; c) associar cada perfil profissional a um conjunto de Perfis Funcionais (da versão original) ou a parte de um deles; e d) atribuir a cada perfil profissional o conjunto adequado de competências essenciais que o caracterizam. “A SBIS está proporcionando ao Brasil um amplo programa educacional para a informática em saúde. Isso irá contribuir intensamente para realizar uma verdadeira transformação na saúde, elevando a qualidade da atenção à saúde da população brasileira, com o uso adequado e inovador da tecnologia da informação”. Atualmente, a entidade está finalizando os documentos de referência e elaborando as questões da prova para realização do primeiro cpTICS, durante o CBIS 2012 que será realizado de 19 a 23 de Novembro, em Curitiba. g



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Reduzindo a sinistralidade com as TICSs É imperativa a adoção das Tecnologias de Informação e Comunicação para produzir escala e efetividade em programas de prevenção, predição e promoção da Saúde. Três eixos estão ligados à geração de informação rápida e segura, que pode ser compartilhada de forma fluente e barata.

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A palavra “sinistro” vem do latim sinister, que significa “esquerdo, canhoto”. Como a maioria dos seres humanos usa preferencialmente a mão direita, qualquer ação realizada com a esquerda, em geral, não é bem feita, gerando a conotação de uma ação “desajeitada, fraca e desfavorável”. Assim, ao longo do tempo, a palavra sinistro foi assumindo o significado de algo “ameaçador, mau e assustador”. Com razão, pelo menos no setor de Saúde. É difícil imaginar hoje algo tão assustador para os Planos de Saúde do que a sinistralidade. Risco para as organizações de Saúde nada mais é do que a incerteza gerada pela possibilidade de um ou mais eventos interferirem na sua capacidade de cumprir resultados operacionais positivos. Prevê-los pode parecer simples, mas não é. Já a sinistralidade é a perversa taxa entre os custos da assistência sobre as suas receitas. A Saúde Suplementar no Brasil, em geral, dorme e acorda com medo da mão esquerda. Com quase 50 milhões de beneficiários (cerca de um quarto da população brasileira), o segmento tem se tornado ao longo das últimas duas décadas como o mais próximo que temos de uma medicina pós-moderna. Mais de mil operadoras médico-hospitalares, e quase três centenas de organizações odontológicas, se esgrimam todos os dias para escapar da armadilha de crescerem ao mesmo tempo em que devem controlar sua sinistralidade. Segundo dados da ANS, a taxa de sinistralidade média do mercado já ultrapassou 82%, com uma margem de lucro líquido ao redor de 4% (7% no segmento odontológico). Já foi pior, mas não muito pior. Um número aceitável para essa taxa gravitaria em torno de 72% (a média ponderada da sinistralidade dos seguros gerais no Brasil se mantém ao redor de 60%). Por mais que se aborde o problema, o mantra dos players da Saúde Suplementar para explicar esse alto índice segue sempre a mesma cartilha: incremento de novas tecnologias médicas, aumento do uso de exames diagnósticos, envelhecimento da população, etc. Um credo simplista, embora repleto de verdades. Ao iniciarmos a segunda década do Século XXI, esse rol de explicações torna-se cada vez mais incompleto, desproporcional e mal fundamentado. Países, sistemas e empresas de saúde que já superaram a fase do “a culpa é dos outros” têm obtido bons resultados considerando outros vetores para justificar a sinistralidade dos financiadores da Saúde. Os métodos tradicionais, a contabilidade pós-revolução industrial e os mecanismos conservadores de avaliação de risco estão caducando. Ferramentas como Balanced Score Card, por exemplo, vêm moldando as novas formas de pensar a gestão do

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risco, redistribuindo as responsabilidades em função de novos indicadores de desempenho. É difícil imaginar que uma “geração espontânea” (ou através dos mesmos referenciais ortodoxos de aferir problemas), consiga reduzir esses índices. Os motivos são até óbvios. Do lado do custeio, não há um único indicador sério que projete para os próximos anos, ou décadas, uma redução sensível nos custos da assistência médica, pelo contrário. Segundo dados do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar), a variação dos custos médico-hospitalares (VCMH) até setembro de 2011 foi de 11,6%, mantendo-se sempre superior ao IPCA (6,4%). Vale considerar ainda, que numa perspectiva histórica (2007 a 2011), nunca o VCMH foi igual ou inferior ao IPCA, portanto é pouco pragmático imaginar que isso ocorrerá em curto e médio prazo. Na ponta das receitas, por mais que ajustemos os prêmios anualmente, dificilmente conseguiremos fazê-lo in perpetuum. Em tempos de bonança econômica, como a que atualmente o Brasil sustenta, os reajustes são neutralizados pela dramaticidade que a Saúde projeta no imaginário público. Assim, da mesma forma, é difícil imaginar que haverá por parte dos usuários uma redução na utilização de seus Planos de Saúde. Em tempos de dificuldades econômicas (como ocorreu no final dos anos 90), o repasse de preços será ainda mais suado. Assim, a mão esquerda continuará a ser usada (mal usada) enquanto não identificarmos outros modelos de gerenciar as organizações e seus problemas.

Reinventando a Saúde Suplementar Depois de quase duas décadas de experiências, cases, programas e projetos, as soluções de eHealth já demonstraram o alcance de seu poder de reduzir custos, melhorar a gestão operacional e incrementar qualidade e conveniência ao atendimento. Ainda pouco exploradas no Brasil, as TICSs (Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde) são de longe a melhor forma de reinventar a Saúde Suplementar, com base em novas realidades que promovam a relação com os beneficiários. Estes, por sua vez, estão descobrindo esse novo portal digital de interlocução, negociação e relacionamento. Cabe às Operadoras avançar ao seu lado, engavetando os ceticismos e abrindo portas e janelas para o século XXI. O evento “eHealth in Proof and Practice: Opportunities and Challenges in International Health”, promovido em maio de 2012 pelo instituto Swiss TPH (Swiss Tropical and Public Health Institute), ligado à Universidade de


“Se as práticas da medicina baseada em evidências (MBE) são um poderoso caminho para a redução de custos, é necessário aumentar e melhorar a captação dessas mesmas evidências, o que só pode ocorrer com utilização das aplicações de eHealth” Basel, se propôs a avaliar alguns dos resultados práticos das aplicações eHealth, convidando especialistas para mostrar ganhos reais obtidos em vários projetos. O médico Najeeb Mohamed Al Shorbaji, por exemplo, Diretor de Gestão do Conhecimento da OMS (Organização Mundial de Saúde), e um dos maiores especialistas em eHealth do mundo, mostrou no evento exemplos claros e disse que as tecnologias podem apoiar substancialmente a redução de custo. Para Al Shorbaji, se as práticas da medicina baseada em evidências (MBE) são um poderoso caminho para a redução de custos, é necessário aumentar e melhorar a captação dessas mesmas evidências, o que só pode ocorrer com utilização das aplicações de eHealth. Essas evidências são necessárias para promover a equidade de acesso aos serviços de Saúde, e nesse sentido, segundo ele, há uma grande necessidade de comunicar rapidamente as evidências (registros clínicos, por exemplo), fornecendo exemplos documentados das melhores práticas que promovam a melhor governança dos sistemas de saúde. Para Al Shorbaji, eHealth reduz custos, aumenta a eficiência e a qualidade do atendimento ao paciente, ao

mesmo tempo em que promove equidade, transparência e induz a uma maior responsabilidade por parte dos atores da Cadeia de Atenção à Saúde. Nesse sentido, países vêm aumentando seus investimentos em eHealth. O Reino Unido, por exemplo, através de seu National Programme for IT (NPfIT), está investindo US$ 20 bilhões em soluções de eHealth. Os EUA investem outros US$ 20 bilhões (Clinical Act), enquanto a Austrália injeta US$ 480 milhões na expansão (rollout) de seu EHR (Electronic Health Record). O Canadá corre na implementação de seu programa de eHealth (Canada Health Infoway), no qual está alocando US$ 2,6 bilhões. Por outro lado, financiadores dos Sistemas de Saúde desses países, sejam eles planos de saúde, seguradoras, ou os gestores públicos (como Medicare e Medicaid), em geral pouco simpáticos ao risco, já entenderam que não podem esperar muito tempo até que as evidências comprovem cabalmente os ganhos. Em março deste ano, o BMJ (British Medical Journal) publicou o artigo “How to judge the value of innovation - More evidence is needed but promise is important early on” (em tradução livre: “Como julgar o valor da Inovação - São

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necessárias provas, mas “promessas” são importantes no início”). O artigo, assinado por Bruce Campbell, chairman do NICE (National Institute for Health and Clinical Excellence), a mais importante entidade de estudo e avaliação de novas tecnologias no sistema de Saúde do Reino Unido, não deixa margem à dúvida sobre como as tecnologias devem ser avaliadas. Só pelo título do texto percebe-se o alcance do trabalho do NICE, que leva em consideração todas as evidências reais (pesquisas, estudos de caso, relatórios, ensaios, etc.) para julgar uma nova proposta tecnológica, sem nunca deixar de considerar as suas promessas embutidas. A conclusão do artigo é que o driver de avaliação será sempre evidencial, mas devemos avaliar o potencial de seus benefícios (principalmente em termos de redução de custos). O NICE está consciente de que novas tecnologias, ou inovações digitais na área de Saúde, nem sempre possuem a completude de evidências em sua fase inicial, e que, portanto, é necessário uma certa dose de presunção pragmática para levar adiante determinados ensaios, ainda que não totalmente comprovados ou já embasados em dados reais. Segundo Campbell, “... a promessa da tecnologia deve compreender a natureza dos benefícios, a dimensão deles e a sua plausibilidade. Um elemento singular e novo pode ser reconhecido subjetivamente... Se a plausibilidade do benefício for suficiente, então está montado o palco para a formulação de uma proposta de valor”. Essa perspectiva é valiosa para entendermos a introdução de eHealth no Brasil, notadamente em nosso mercado de Saúde Suplementar. Um dos argumentos utilizados pelas empresas do setor é a falta de embasamento em dados reais para julgar as TICSs. Ocorre que no Brasil esses dados são raros, e em geral não são divulgados pelas empresas (ou entidades públicas). Esse vazio dá respaldo a poucos investimentos, e descrédito com relação ao que acontece fora do país. Enquanto isso, a sinistralidade aperta o cerco e faz vítimas. Segundo dados do último Caderno de Informação da Saúde Suplementar, publicado pela ANS em junho/2012, a taxa de sinistralidade das Operadoras médico-hospitalares nos últimos oito anos foi de 81,25% (sendo de 82,4% em 2011). Em média, do total das despesas das Operadoras MédicoHospitalares, só para citar um único núcleo financiador, mais de 98% advêm dos custos médico-hospitalares. Destes, cerca de 40% são despesas com internações, 22% com exames, 18% em consultas, quase 5% com terapias, perto de 7% para outros atendimentos ambulatoriais e outros 7% para as demais despesas. Dentro desse quadro, é preciso entender a necessidade de utilizar ferramentas de eHealth para reduzir, por exemplo, as internações, ou os custos inerentes às consultas médicas. Está claro que não existe possibilidade de reduções na matriz de custeio sem acelerar ações em três eixos sanitários

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básicos: (1) Prevenção, (2) Predição e (3) Promoção. Qualquer outra medida de alcance que não inclua essas verticais como prioridade terá impactos de curto prazo, mas dificilmente de médio e longo prazo. Nesse sentido, é imperativa a adoção das Tecnologias de Informação e Comunicação para produzir escala e efetividade em programas de prevenção, predição e promoção da Saúde. Os três eixos estão intimamente ligados à geração de informação rápida, segura e que pode ser compartilhada de forma fluente e barata. Esse é o papel central das aplicações em eHealth. O próprio Ministério da Saúde, em seu Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), com alcance de 2011 a 2022, deixa clara a necessidade dessa orientação. Hoje as DCNTs constituem o problema de saúde de maior magnitude no país, correspondendo a 72% das causas de mortes, estando também entre as principais causas de internações hospitalares. A OMS indica que países que tiveram declínios em certas DCNTs só obtiveram sucesso através de programas de prevenção. O Registro Eletrônico do Paciente, as práticas de Telemedicina (TeleHealth, Telemonitoramento Residencial, Teleconsulta, etc.), notadamente àquelas que promovem o atendimento remoto para pacientes em locais distantes, ou que tenham dificuldade de locomoção, a espetacular porta aberta pelas aplicações móveis (mHealth – mobile health), são exemplos que mostram a indissociável relação entre as TICSs e as taxas de sinistralidade. Dois exemplos nacionais de iniciativas em eHealth, o TISS (Troca de Informação em Saúde Suplementar) e o TUSS (Terminologia Unificada da Saúde Suplementar), já mostram resultados, ainda que a ANS seja tímida em divulgálos quantitativamente. Da mesma forma, é crescente no mundo a implantação de sistemas de Prescrição Eletrônica (ePrescription). Relatório da Surescripts – The Nation’s E-Prescription Network, rede dos EUA que acompanha a utilização da prescrição eletrônica em todo o país, mostra os ganhos que os sistemas digitais têm nessa área. Segundo o relatório, a utilização da prescrição eletrônica nos consultórios médicos (rede Surescripts) chegou a 58% até o final de 2011, isto é, um em cada dois consultórios prescrevia eletronicamente. Um dado relevante, já que três anos antes esse percentual não passava de 10%. Muitas são as áreas em eHealth que têm apelo direto para as operadoras de Saúde Suplementar, e muitos são os benefícios que podem ajudar a reduzir a sinistralidade do setor. Ou percebe-se isso com audácia corporativa e vontade investigativa, ou a mão esquerda continuará a fazer seus estragos. g

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mHealth Mobilidade digital incrementa negócios Mercado global de produtos e serviços de mHealth deve chegar a US$ 23 bilhões até 2017. No Brasil esse segmento pode se aproximar dos US$ 700 milhões

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Se olharmos para um adolescente hoje, o que veremos? Cabeça, tronco, dois braços, duas pernas e um telefone celular. Possivelmente ele não terá um relógio no pulso, mas dificilmente o veremos sem um mobile phone. Parece que nasceu com ele, que faz parte de sua estrutura orgânica e que seus neurônios estão diretamente conectados a ele. Só no Brasil, em um único mês (maio de 2012), foram adquiridas quase 2 milhões de novas linhas de telefonia celular. A base nacional já chega a 255 milhões de linhas ativas (cerca de 40 milhões a mais do que 2011), segundo dados divulgados em junho pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Quando o IBGE mostra que já somos 190 milhões de habitantes, fica claro que todos os estados do Brasil já possuem mais de um acesso por habitante. Nessa escalada seria impensável desconsiderar o crescimento das aplicações móveis voltadas à Saúde (medical apps). Um mercado ascendente em todo o mundo, a área de mobile health (mHealth) chega ao Brasil estabelecendo suas bases operacionais. Seja através da instalação no país dos grandes players mundiais, seja através das empresas de pequeno e médio porte que desenvolvem aplicativos para Saúde, seja através das operadoras de Telecom, ou até mesmo através das iniciativas público-acadêmicas, o setor só tende a crescer. Segundo estudo divulgado em junho pela Kalorama Information, uma das mais importantes consultorias em pesquisa de eHealth, o mercado de medical apps (softwares de telefonia móvel orientados à Saúde) crescerá 25% por ano até 2016. Um número impressionante quando comparado com a projeção de crescimento para o mesmo período dos aplicativos padrão não voltados à Saúde: 23%. Já a PricewaterhouseCoopers mostra que o mercado global de produtos e serviços de mHealth deve chegar a US$ 23 bilhões até 2017, sendo que só no Brasil esse mercado pode se aproximar dos US$ 700 milhões. Boa parte das receitas mundiais não deve vir dos EUA, mas de países menos desenvolvidos. Não deixa de ser surpreendente que o relatório da PwC aponte que os mercados emergentes, como África do Sul, Índia e Brasil, são “pioneiros” no desenvolvimento de aplicações móveis para a Saúde. O estudo ressalta que a fragilidade dos sistemas de saúde dos países em desenvolvimento impulsiona a demanda por novas soluções e abordagens. Outro dado interessante mostra que dos médicos inquiridos pela pesquisa apenas 27% incentivam seus pacientes a utilizar as tecnologias móveis como

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apoio ao controle de sua Saúde (sendo que 13% desencorajam firmemente os pacientes). A resistência médica à tecnologia não é algo incomum, embora venha sendo reduzida ao longo dos últimos anos. Mesmo assim, segundo a pesquisa da PwC, 42% dos médicos expressaram preocupação de que mHealth transfira exagerada independência aos pacientes. Nesse sentido o relatório também corrobora com a visão geral dos consultores especializados em tendências para o setor de Saúde: as resistências serão cada vez menores, pois a pressão dos usuários, muitos portadores de patologias crônicas, será cada vez maior. Chris Wasden, responsável pelo relatório da PwC, compara os dados com um estudo semelhante realizado pela mesma empresa em 2009: “Quando fizemos nosso primeiro relatório, descobrimos que os pioneiros em mHealth eram pessoas saudáveis. Três anos mais tarde, os que mais necessitam das soluções móveis são os que mais a utilizam. Estamos começando a entrar em uma fase mais madura”. Os dados finais mostram que 59% dos médicos e fontes pagadoras entrevistadas disseram ser inevitável que as tecnologias móveis sejam amplamente adotadas no futuro próximo.

Chris Wasden, da PricewaterhouseCoopers: os que mais necessitam das soluções móveis são os que mais a utilizam.


Uma das mais importantes vozes atuais sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde, o médico e pesquisador Eric J. Topol, autor de vários livros, entre eles “The Creative Destruction of Medicine: How the Digital Revolution Will Create Better Health Care” (2012), que rapidamente tornou-se um best-seller com grande impacto na comunidade médica, ressaltou: “Assim como os pequenos telefones móveis transformaram radicalmente nosso dia a dia, tais dispositivos têm um impacto sísmico sobre o futuro dos cuidados da Saúde”. Topol dá exemplos: “Você pode carregar seu eletrocardiograma no smartphone e enviar a seu médico. Você tem uma lesão suspeita na pele, que pode ser um câncer? Basta tirar uma foto em seu mobile phone e ter um texto, em minutos, com alguma orientação se precisa ou não fazer uma biópsia. Seu filho tem uma infecção no ouvido? Basta conectar uma lente especial em seu smartphone e obter uma visão de seu tímpano, ampliada 10 vezes e em alta resolução, enviando-a para detecção automática, de modo a verificar se é necessário utilizar antibióticos. Preocupado com glaucoma? Você pode obter uma lente de contato com um chip embutido que mede continuamente a pressão dos olhos e transmite os dados para seu celular. Esses são apenas alguns exemplos de mHealth (software e hardware para smartphone) que têm sido desenvolvidos e que em breve estarão disponíveis para ampla utilização”. Cardiologista, geneticista e pesquisador, Topol (que foi chairman do prestigiado Cleveland Clinic Lerner College of Medicine) é categórico em expressar que desde a sua criação a profissão médica tem sido caracterizada pela assimetria das informações clínicas. Os médicos eram detentores do controle e de todos os dados, informações e conhecimento. “Não diferente dos sacerdotes antes da imprensa, a profissão médica fazia toda a leitura essencial. A grande inflexão que a medicina está prestes a dar é produzir cada vez mais poder aos consumidores, de modo que sejam capazes de ler essas informações (não apenas fazer uma medição one-off, como aferir uma pressão arterial), mas também ter acesso aos indicadores de suas condições fisiológicas, através de dados aferidos continuamente”, escreve Topol. “Com a crescente escassez de médicos que se aproxima, a utilização desses dispositivos é mais uma razão para se abraçar uma nova forma de unplugged medicine (medicina desconectada). Nota aos meus colegas médicos: é hora de se deixar levar!”, completou o médico no artigo. Diante das pressões crescentes sobre os Sistemas de Saúde em todos os países, é imperativo pensar em novas soluções. Governos e provedores privados de Saúde são cada vez mais impotentes em prestar serviços de qualidade

“Assim como os pequenos telefones móveis transformaram radicalmente nosso dia a dia, tais dispositivos têm um impacto sísmico sobre o futuro dos cuidados da saúde”

com os recursos existentes e com os métodos tradicionais. Nas economias mais maduras, já há consciência sobre a crise que atinge a manutenção do bem-estar de cada cidadão. Nos países em desenvolvimento, ou mesmo nas nações mais pobres, existe um gigantesco esforço para reduzir minimamente as taxas de mortalidade infantil, morbidade na saúde materna, e combater a HIV/AIDS, malária e outras doenças, enquadrando o país nas metas do programa “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para 2015” (“Millennium Development Goals - MDGs”), das Nações Unidas. Nesse sentido, um estudo publicado em abril de 2012 pelo Boston Consulting Group em conjunto com a operadora de Telecom norueguesa Telenor Group, denominado “The Socio-Economic Impact of Mobile Health”, dá pistas importantes para ajudar a reduzir os problemas de saúde com o apoio das soluções de mHealth. O trabalho estima que 30% dos usuários de smartphones tendem a usar aplicações voltadas ao bem-estar (wellness apps) até 2015, enquanto o mesmo smartphone e os tablets tendem a se tornar para os médicos algo tão importante como foi a invenção do estetoscópio.

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Outro indicador apresentado é como as soluções de mHealth podem apoiar os Governos a reduzir os custos operacionais dos Sistemas de Saúde, ajudando hospitais e centros de saúde a reduzir a nefasta burocracia clínico-administrativa. Acelerar os processos, reduzir a possibilidade do erro humano, evitar o retrabalho, possibilitar o acesso remoto aos Prontuários Eletrônicos e outros usos podem, ainda segundo o relatório, reduzir os encargos administrativos de 20 a 30%.

ePatient As aplicações de mHealth se multiplicam em competência para apoiar inúmeras verticais de assistência e apoio aos pacientes e médicos. Quando se trata de responsabilizar os cidadãos, ou energizar seu empowerment, as comunicações móveis oferecem meios de “entregar ao público” educação sanitária através de campanhas (texto ou mensagens de voz) que podem chegar aos usuários através de smartphones. Uma das práticas que vem sendo mais utilizadas é o envio de mensagens (SMS) alertando sobre os horários de ingestão de medicamentos. Lembretes, por exemplo, para pacientes com tuberculose (TB) informando sobre o momento em que devem tomar sua medicação podem melhorar a adesão ao tratamento entre 30 a 70%. No caso de patologias como a tuberculose isso é de extrema relevância, pois já está provado que a efetiva adesão à ingestão das drogas corretas para essa doença pode causar a cura de 90% dos pacientes. “Caixas de comprimidos” (pill boxes), com recursos integrados de tecnologia mobile, já são amplamente utilizadas em alguns sistemas de saúde. Elas lembram constantemente os pacientes crônicos, por exemplo, sobre os horários corretos de ingerir seus medicamentos, reduzindo as curvas de agravamento devido aos problemas de esquecimento de ingestão, ou minimizando os erros de ingestão incorreta de medicamentos (existem patologias crônicas que exigem a ingestão de 5 a 10 drogas diariamente). Nessa corrida por aplicações e tecnologia móvel para saúde, o Brasil fez bonito este ano. Um software para medir a audição e detectar suas deficiências, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology), foi o grande vencedor do “Mobile Health University Challenge”. Trata-se de uma competição mundial sobre mHealth promovida pela GSMA (entidade que representa os interesses de mais de 800 operadoras de Telecom) em cooperação com a Qtel Group e a Qualcomm Incorporated. Das 13 equipes

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inscritas, 4 foram selecionadas para a etapa final e a UFRN foi a grande vencedora, concorrendo contra: (1) Jordan University of Science and Technology, (2) Berkeley University e (3) University of Oxford. A solução nacional (Sana AudioPulse) usa código aberto, roda em telefonia celular e permite realizar uma bateria de testes, cujos dados são transmitidos para um centro médico, onde os profissionais avaliam os resultados e identificam as deficiências. Como vencedora, a equipe vai receber orientação de especialistas em inovação para dispositivos mHealth. As estimativas indicam que existem quase 600 milhões de indivíduos no mundo


Realidade brasileira

com perda auditiva, sendo que só no Brasil os números giram em torno de 5,7 milhões. O prêmio foi entregue no “GSMA-mHealth Alliance Mobile Health Summit 2012”, conferência realizada na Cidade do Cabo, África do Sul, no primeiro dia de junho passado. Importante prêmio, bela escolha e um bom driver para ser seguido por outras universidades do país, bem como pela iniciativa privada, que há muito já sabe que pode contar com bons profissionais locais para desenvolver projetos de mHealth. g

A GSMA, entidade que reúne 800 operadoras de comunicações móveis de todo o mundo, promoveu em junho, na sede da Vivo (SP), o Connected Living Latam Summit. Durante o evento foram anunciados os resultados de uma pesquisa inédita feita junto a médicos e pacientes brasileiros, sobre as vantagens na saúde móvel ou mHealth. Segundo o estudo, a maioria dos médicos e dos pacientes brasileiros acredita que os recursos de mHealth (uso de dispositivos móveis em medicina ou saúde pública) serão benéficos para os tratamentos de saúde e monitoramento de pacientes. A pesquisa, realizada pela Ipsos MORI, a pedido da Associação GSM www.gsma.org, baseou-se em entrevistas que aconteceram entre os dias 1 e 18 de junho em São Paulo. A pesquisa é parte de um estudo que envolve mais três países (EUA, Índia e China). O principal objetivo é avaliar de que modo médicos e pacientes veem e percebem os produtos e serviços de mHealth. Nas entrevistas, feitas com 190 cardiologistas, endocrinologistas e clínicos, e com 194 pacientes portadores de diabetes ou problemas cardiovasculares, as respostas mostraram que os benefícios de mHealth são percebidos por 98% dos médicos e por 84% dos pacientes. Os benefícios mais significativos são percebidos pelos médicos: 69% deles acreditam que os recursos de mHealth vão proporcionar-lhes melhores informações para diagnóstico e para tratamento; 68% acreditam que conseguirão, finalmente, monitoramento do paciente em tempo real; e 74% acham que mHealth proporcionará ao paciente suporte e motivação para que ele consiga mudanças na dieta ou no estilo de vida. Pelo lado dos pacientes, os grandes benefícios percebidos são também o monitoramento em tempo real (62%), melhor qualidade do acompanhamento (53%), redução na necessidade de consultas (54%), além de suporte e motivação para conseguir mudanças na dieta ou no estilo de vida (57%). Na visão dos dois públicos, mHealth poderia então resolver os maiores desafios enfrentados hoje pelos médicos no tratamento das doenças crônicas dos seus pacientes. Para 75% dos médicos, o maior deles é a mudança no estilo de vida e o cumprimento das dietas. Esse desafio é confirmado por 55% dos pacientes. Enquanto 44% dos médicos acham que seus pacientes simplesmente esquecem de tomar os remédios corretamente, só 21% deles concordam que isso seja um desafio real. Os dois públicos (94% dos médicos e 84% dos pacientes) concordam que a adoção de mHealth será maximizada, dependendo de alguns fatores críticos, como custo acessível do serviço (70% dos médicos e 60% dos pacientes), prova de que mHealth traz melhores resultados no tratamento (67% dos médicos), indicação do médico e possibilidade de utilizar a solução mesmo em viagens.

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Apps Saúde uma avalanche

de opções

MobHealthNews, uma das mais importantes fontes de informação mercadológica em mHealth, identificou mais de 80 subcategorias de Apps ligados à área de Saúde. Conheça os 20 aplicativos mais cobiçados

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Aplicativos de mHealth sempre aparecem na lista dos mais baixados. Em julho de 2011, a previsão era de que o número de aplicativos para saúde chegaria a 13 mil. Esse número foi alcançado três meses antes do previsto, segundo dados do portal MobHealthNews, uma das mais importantes fontes de informação mercadológica em mHealth. Em abril de 2012, já havia mais de 13.600 aplicativos mobile para Saúde, sem contar os milhares de Apps classificados de forma incorreta, ou que apelam ao oportunismo de ocasião para lançar soluções sem as mínimas funcionalidades que caracterizam esses sistemas, ou mesmo que não se encaixam na categoria de Health & Fitness and Medical da AppStore da Apple. Em relatório publicado recentemente, o portal identificou as mais de 80 subcategorias de mHealth Apps. Segundo o estudo, 5,3% dos Apps em Saúde são direcionados ao controle de Doenças Crônicas, e 4,9% são Calculators (aplicações que calculam índices baseados em dados informados pelos usuários, como, por exemplo, cálculo do IMC - Índice de Massa Corporal). O sono continua sendo um dos itens que induzem os usuários a baixar aplicações mHealth. Segundo a pesquisa, 3,6% dos Apps estão nessa categoria. Outros porcentuais podem ser divididos em: 2,5% na categoria Emergência, 2,0% na Eliminação do Cigarro (Smoking Cessation), 1,7% em Aderência a Medicações e 0,9% em aplicações voltadas ao PHR (Personal Health Records). Dentro das funcionalidades médicas segmentadas, a pesquisa mostra que 16,2% dos Apps mHealth envolvem a disciplina de Cardiologia, pouco mais de 14% são direcionados a Dietoterapia e 10,4% referem-se a Stress e Relaxamento. A Saúde da Mulher reúne mais de 7% dos aplicativos e a Saúde Mental 5,4%. Com essa imensa massa de Apps é necessário diferenciálos e identificar as melhores opções. Essa classificação é tão imperativa que já existem portais e empresas centradas na segmentação e certificação de mHealth Apps, de modo a apoiar os usuários em sua escolha. Um exemplo é o Happtique, site que se propõe a realizar algum tipo de separação entre o “joio e o trigo”, embora seja difícil de colocar todas as fichas em empresas que certificam outras empresas, mas que também apoiam vendas de aplicativos. De qualquer forma, como em outros setores do eCommerce (varejo de livros, DVDs, etc.), a tendência é que existam cada vez mais entidades, empresas, universidades e demais players do mercado fazendo esse trabalho de identificação, classificação, certificação e orientação sobre os melhores e mais funcionais aplicativos para Saúde. Outro item que tem sido cada vez mais considerado refere-se à segurança e privacidade das aplicações. Estudo

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publicado em julho de 2012 pela entidade FPF (Future for Privacy Forum), sediada em Washington, objetiva estudar e discutir as práticas responsáveis ​​referentes à segurança de dados em aplicações de mobile phone em geral (não focando necessariamente em mHealth). O estudo, realizado com os aplicativos mais populares (pagos e gratuitos), revelou alguns resultados surpreendentes e até encorajadores quanto às políticas de privacidade. Quando comparada com a mesma pesquisa realizada em 2011, nota-se que houve maior incremento dessas políticas nos aplicativos gratuitos do que nos pagos. Para a plataforma iOS (loja App), os aplicativos gratuitos com políticas de privacidade cresceu de 40% (2011) para 84% (2012), sendo que os nos aplicativos pagos esse número foi de 60% para 64%. Na plataforma


isso não significa serem essas as melhores aplicações. Listamos abaixo alguns dos apps mais cobiçados, ou mais baixados, ou mais referenciados pela mídia (especializada ou não), em língua inglesa ou em português. MyFitnessPal – Apps gratuito que ajuda as pessoas a perder peso. Possui controle de calorias e acompanhamento dos níveis de atividade física. Pesquisas mostram que aqueles que registram a ingestão de alimentos conseguem perder peso com mais facilidade do que aqueles que não anotam. Esse aplicativo, como milhares de outros, vai nesta direção. Seu contador de calorias conta com 1,5 milhão de alimentos, e seu driver de exercícios físicos registra mais de 350 modalidades. Foi indicado pela PC Magazine Editor’s Choice Selection e também pelo Wired Magazine’s Editor’s Pick for Lifestyle Apps. Idioma: Inglês. Lose It! – Apps gratuito para controle de calorias. Possui a funcionalidade de gestão, no qual ajuda o usuário a programar o consumo calórico, assim como metas de ingestão de proteínas, carboidratos, etc. Idioma: Inglês. Hora da Pílula – Apps gratuito para lembrar o usuário sobre a ingestão de medicamentos. Possui funcionalidades como: lembretes diários; customização de horários para os lembretes e contagem das pílulas restantes na cartela (suporta cartelas de 21, 24 e 28 comprimidos). Idiomas: Português, Inglês e outros.

Google, os Apps gratuitos foram de 70% para 76%, sendo nos pagos de 30% (2011) para 48% (2012). Não deixa de ser boa notícia saber que o mercado em geral está mais atento ao ecossistema de segurança e privacidade nos Apps, embora seja importante ressaltar que, da mesma forma, também aumentaram as exigências e pressões dos órgãos reguladores, como FDA, HIPAA, etc. Nem sempre os aplicativos mais baixados são os melhores, e as listas com os “Top 10” ou “Top 20” não possuem regras claras a não ser a quantificação de downloads feitos pelos usuários. Um exemplo são os aplicativos que já possuem a certificação FDA (Food and Drug Administration), órgão de regulação do mercado norte-americano. Certamente que aqueles apps que estão dentro dos requisitos da FDA levam vantagem, mas

Pedal Brain – Apps com acessório capaz de informar (tempo real) dados sobre as pedaladas dos ciclistas. Posteriormente o app possibilita uma análise sobre os números levantados, apoiando o ciclista em seus treinos. Um GPS apoia a quantificação dos dados. Idioma: Inglês. OmbroeCotovelo – Apps gratuito com informações sobre as principais doenças do ombro e cotovelo, como bursite, tendinite, epicondilite, etc. O aplicativo dispõe de informações descritas de forma simples e descomplicada, com linguagem acessível. Possui também banco de imagens e vídeos que podem servir de referência em casos cirúrgicos. Idioma: Português. Sleep Cycle Alarm Clock – Apps pago que apoia o usuário em sua “missão sagrada de alcançar o sono”. O sono possui numerosos ciclos, com diferentes

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e esquemas que configuram ao longo do tempo (depois de várias aferições) o comportamento da pressão sanguínea. Também calcula a pressão arterial média, podendo todos os resultados ser enviados ao médico que fará análises mais apuradas. Usuários com patologias crônicas que carecem de constantes aferições têm no aplicativo um razoável gestor dessas medições. Idioma: Inglês.

graus de importância em nossa “agenda cerebral”. O aplicativo ajuda o usuário a acordar no momento certo para que se sinta bem descansado. (dentro do ciclo ideal). O sistema utiliza um accelerometer para calibrar o ciclo de sono do usuário e realizar as corretas anotações sobre o período em que ele esteja dormindo. Assim, o indivíduo não é perturbado durante um sono profundo. Instruções específicas informam como programar o ciclo ideal de sono. Idioma: Inglês. Drugs and Medications – Apps pago que auxilia o usuário a entender as fórmulas dos medicamentos. A compra ainda é um processo em que o paciente tem pouca ou nenhuma informação sobre as prescrições ou sobre as informações contidas nas bulas. Da mesma forma os médicos nem sempre estão dispostos a explicar as características das drogas indicadas. O aplicativo fornece informações sobre os componentes químicos que estão sendo consumidos, revelando caminhos e opções que evitam a ingestão de drogas de forma equivocada. Idioma: Inglês. Medicamentos de A a Z – Apps pago que informa os principais medicamentos utilizados na prática clínica. São mais de 500 medicamentos, com informações que incluem preço, nomes comerciais, genéricos, posologia e informações sobre receituários. Idioma: Português. iBP Blood Pressure – Apps pago que informa dados referentes à medição da pressão arterial. Não se trata de um medidor de pressão, mas possui gráficos

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Dieta e Saúde – app gratuito para controle de emagrecimento, um dos mais baixados no Brasil. Acesso a 4 mil alimentos com dados nutricionais (carboidratos, proteínas e gorduras), com pontuação automática para controle de ingestão. Também realiza uma avaliação de peso ideal baseado no IMC (Índice de Massa Corporal) do usuário, que poderá acompanhar ao longo do tempo o seu peso. Idioma: Português. Medida Certa – Apps para controle de peso que cria um programa de treinamentos específicos. Os treinamentos foram desenvolvidos por especialistas, e podem ajudar na evolução do condicionamento físico, contando com alertas para informar etapas cumpridas ou outros indicadores. Também calcula IMC e disponibiliza canais de comunicação via Facebook e Twitter. Foi utilizado pelos apresentadores do programa Fantástico (Rede Globo de Televisão), Zeca Camargo e Renata Ceribelli, como exemplo de aplicativo para condicionamento físico. Pode ser utilizado com pedômetro. Idioma: Português. Diário do período menstrual Lite (Period Diary Lite) – Apps gratuito que orienta a usuária sobre o ciclo menstrual. Sucesso em outros mercados, o Period Diary Lite pode rastrear a ovulação e controlar os sintomas menstruais, bem como medicamentos, testes mais usados e outros. A usuária introduz seus dados básicos e informações sobre as suas características físicas, sendo que o aplicativo, com base nesses dados, seleciona a melhor fórmula para calcular o ciclo menstrual, utilizando o Método Knaus–Ogino e o Método dos Dias, desenvolvidos pelo Instituto Universitário de Georgetown para a Saúde Reprodutiva. Idioma: Português, Inglês e outros. Cardiógrafo (Cardiograph) - Apps pago que mede a frequência cardíaca. Utiliza uma câmera embutida para tirar fotos da ponta do dedo do usuário e calcular seu ritmo cardíaco (mesma abordagem é


utilizada pelos equipamentos médicos profissionais). Os dados podem ser salvos para referência futura, mantendo um acompanhamento constante das condições da frequência cardíaca. Idioma: Português, Inglês e outros. RememberItNow! – Apps de Personal Health Record (Registro Pessoal de Saúde) contendo as informações clínicas dos pacientes, com suas anotações e observações relativas à saúde e ao bem-estar. Entrada de dados para qualquer tipo de informação médica do usuário, sendo acessada através de senha de segurança. Os dados podem ser compartilhados pelos médicos e demais indivíduos que o usuário definir. O aplicativo apoia a gestão da saúde através de aconselhamentos, melhores práticas e acesso à informação sobre medicamentos. Idioma: Inglês. CID-10 Pro – Apps gratuito que contém acesso ao código de doenças CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). O aplicativo permite a divisão por categorias das condições de saúde, tendo cada categoria uma variedade de doenças similares. Possui mais de 12 mil códigos CID 10, atualizados pelo DATASUS, possibilitando a eleição dos favoritos. Idioma: Português. Hemograma Manual de interpretação – Apps gratuito contendo uma versão digital do livro “Hemograma - Manual de Interpretação” (Renato Failace e Colaboradores). Com ilustrações, o aplicativo é orientado a hematologistas e demais profissionais de Saúde interessados em dados sobre Hematologia. Trata-se de um guide para interpretar os issues dessa disciplina médica, com possibilidade de troca de informações com outros profissionais. Idioma: Português.

as mais diversas drogas e um Dicionário Médico com mais de 100 mil termos médicos. Idioma: Inglês. Anti Mosquitos – Apps pago que emite sinais ultrassons, imperceptíveis para o ouvido humano, mas que repele os mosquitos-fêmea (insetos responsáveis pelas picadas, muitas vezes de grande impacto à saúde humana). Produz três tipos de sons, sendo que um deles imita o mosquito macho causando impacto reativo no mosquito-fêmea. Idioma: Português, Inglês e outros. Procedimentos SUS – Apps gratuito contendo a Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses e Próteses e Materiais Especiais (OPM) do SUS. Possui acesso aos procedimentos com detalhamento dos CID-10 principais e secundários. Também possibilita busca inteligente por qualquer parte do nome ou código de um procedimento, sendo, segundo os fabricantes, constantemente atualizado com dados fornecidos pelo Ministério da Saúde. Idioma: Português. WebMD – Apps gratuito, um dos mais utilizados no mercado de língua inglesa. Propõe-se a fornecer um número substancial de respostas às perguntas sobre Saúde. Trata-se de uma base de dados médicos, com termos mais fáceis de ser entendidos e que promovem uma melhor avaliação do usuário sobre seus problemas de Saúde. Sem pretender substituir o médico, o aplicativo serve como um banco de informações para primeiros-socorros, ou para avaliar as indicações dos médicos, ou mesmo para entender termos técnicos que constantemente aparecem na mídia. Idioma: Inglês.

Epocrates – É um dos mais utilizados apps pagos em saúde. Trata-se de um guia de informações sobre drogas, sendo utilizado também para controle de algumas patologias. Possui módulo de Interação de Medicamento (Drug interactions), onde o usuário introduz o nome das drogas que vai ingerir e o sistema checa se há alguma interação entre elas. Também contém Identificador de Pílulas (quando o paciente não sabe ao certo o nome do medicamento, mas lembra de suas características), Calculadora Médica (para controle de consumo calórico, nutrientes e proteínas), um Bulário repleto de informações sobre

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Hospitais que fazem a diferença atravÊs de eHealth

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O Brasil possui baixos níveis de gestão hospitalar e uma das mais frágeis estruturas de utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde (pouco mais de 15% são “informatizados”). O uso intenso de eHealth é um dos mais importantes potencializadores dos Sistemas de Saúde, principalmente para mitigar suas complexas práticas operacionais, quase sempre de alto custeio mais ainda se forem realizadas sem as TICSs. Conheça hospitais ao redor do mundo que são considerados referência em gestão utilizando ferramentas de eHealth.

Children’s Hospital Boston Com toda a sua organização operacional centrada na utilização das TICSs, o Children’s Hospital Boston (Massachusetts), considerado pela EUA News & World Report o melhor hospital infantil dos Estados Unidos (edição 2012-13), iniciou em 2003 a implantação do HIS (Hospital Information System), embora a decisão de utilizá-lo tenha ocorrido na década de 90. Com ideia inicial em utilizar uma solução de mercado, acabou optando por uma solução própria já que as especificações requeridas mostraram que não existiam fornecedores e aplicações com a completude necessária. O projeto CHAMPS (Children’s Hospital Applications Maximizing Patient Safety) começou a ser desenvolvido em abril de 2004 e “entrou em produção” por fases. Em janeiro de 2006 foi ao ar a fase 1, com os módulos de Farmácia e Laboratório. A fase 2 foi introduzida em setembro do mesmo ano, entrando em produção o fluxo de documentação da enfermagem. Em abril de 2007 o hospital recebeu o módulo de CPOE (Computerized Physician Order Entry), ou entrada de dados estruturada, que permitiu e redução dos erros de prescrição, bem como controle de formulários e alertas sobre alergias e outras interações de drogas. A fase seguinte entrou em produção em setembro de 2008, tendo como núcleo operacional a gestão do centro cirúrgico e outras funcionalidades do prontuário médico eletrônico. Com a implantação do projeto, o Children’s Hospital Boston reduziu o desperdício operacional em 30% (cerca de 1,6 milhão de dólares ao ano). Só com a implementação do CPOE e da estrutura de código de barras (em 2008) a organização reduziu em 50% os erros graves de medicação. Em abril de 2012 o hospital anunciou o lançamento de seu Aplicativo Móvel (app), Hospital Infantil de Boston MyWay, que proporciona aos pacientes e familiares a massa de informações pediátricas do hospital. Os usuários do aplicativo podem também ter acesso às informações

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de mais de 1000 médicos e cerca de 200 programas clínicos pediátricos. Da mesma forma, as famílias podem solicitar uma consulta, ou acessar em segundos o site MyChildren’s Patient Portal, que nada mais é que um PHR (Personal Health Records) onde estão os registros médicos digitais de seus filhos. Nesse sentido, o hospital foi uma das primeiras entidades a apostar no PHR. O projeto Dossia, uma comunidade de grandes empresas voltadas ao desenvolvimento de soluções de PHR para seus empregados, utiliza a solução de registro pessoal do Children’s Hospital Boston. Além de ter acesso aos dados clínicos, os usuários podem também acessar o espaço administrativo de suas contas, verificando, por exemplo, suas condições de seguros, informações de seus dados demográficos, etc. O EHR do hospital conta também com ferramentas de apoio à decisão aos médicos, facilitando a mitigação dos chamados erros médicos cognitivos. O hospital também disponibiliza aos pacientes uma Rede Social própria (CarePages), onde eles participam de grupos focados em determinados problemas de saúde, ou podem interfacear com as demais mídias sociais, como Facebook, Twitter e YouTube. O hospital está implementando atualmente novas otimizações, como o desenvolvimento de um novo módulo de Documentação Digital de Anestesias, a reavaliação dos fluxos de Informações Ambulatoriais (Ambulatory Workflows), implantação de novas


interfaces com os sistemas de Suporte à Decisão Médica (por especialidade), etc. Por tudo isso o Children’s Hospital Boston está graduado no nível mais alto (Stage 7) do HIMSS Analytics, indicador de desempenho do HIMSS (Healthcare Information and Management Systems Society), que é hoje uma das mais importantes organizações de estudos sobre eHealth no mundo. O HIMSS Analytics avalia as organizações hospitalares quanto ao grau de utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde (eHealth).

Seoul National University Bundang Hospital Outro hospital que está na lista dos mais bem administrados, e que utiliza intensamente as TICSs, é o Seoul National University Bundang Hospital (SNUBH), localizado na Coreia do Sul. Trata-se de uma organização com receita anual de US$ 275 milhões (900 leitos), possuindo um corpo clínico de 515 médicos e 780 enfermeiros (mais 640 outros funcionários). Em 2001, o hospital tomou a decisão de se reinventar, e passou a ter uma das mais sólidas plataformas do mundo em gestão digital do paciente, capaz de atender as demandas de seus mais de oito Centros Clínicos Especializados. Nessa época, no entanto, não havia uma

solução completa de EHR, ou um HIS que atendesse aos requerimentos do corpo clínico. Seu sistema de CPOE (prescrição médica eletrônica) já estava sendo amplamente utilizado, mas nos processos que envolviam o registro clínico digital do paciente ainda não existiam soluções. Assim, o hospital iniciou o desenvolvimento do projeto BESTCare (Bundang Hospital Electronic System for Total Care), que envolve a construção de um sistema completo, flexível e estruturado, capaz de atender aos novos processos de negócios e à nova estrutura organizacional. Foi contratada a empresa coreana ezCareTech para desenvolver e implementar em 22 meses uma solução completa de EHR. Em maio de 2003 o sistema entrou em operação e o SNUBH tornou-se uma das organizações hospitalares mais avançadas do mundo. Mas havia um desafio: treinar e habilitar seu corpo de profissionais para utilizar o sistema. Grupos de adaptadores foram criados para capacitar cada departamento (separados em turnos diferentes), utilizando avançados instrumentos didáticos, diferentes para cada nível de profissional e para cada função operacional (médicos, enfermeiros, atendentes, supervisores, etc). O investimento no sistema de EHR foi de US$ 116 mil dólares anuais. Todos os medicamentos são identificados através de um sofisticado sistema de RFID, o que reduziu de maneira significativa os custos e os erros no fluxo de processo entre a farmácia e os departamentos. A informação médica do paciente que é compartilhada pelo corpo clínico local, e também com outras 36 clínicas próximas ao hospital, só é possível graças ao um dos módulos do sistema (Clinical Document Architecture) que garante a privacidade e a segurança dos dados. Segundo o SNUBH, a taxa de erros médicos foi reduzida em 2% e a segurança do paciente foi ampliada devido à implantação do módulo de Suporte à Decisão Médica (Clinical Decision Support System), que é capaz de gerenciar alterações da medicação, checar a dosagem correta das drogas, alertar sobre as interação medicamentosas arriscadas, e ainda mapear contraindicações, prescrições sobrepostas, etc. Os dados clínicos do paciente podem ser acessados remotamente pelos médicos de qualquer lugar com acesso à Web. Trata-se do único hospital fora dos EUA a receber a certificação Stage 7 do HIMSS Analytics (só 1% dos hospitais dos EUA possuem essa graduação). Da mesma forma, o SNUBH disponibiliza vários aplicativos para smartphone, no qual os médicos podem acessar os dados do EHR (tanto em plataforma iPhone como Android).

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Max Healthcare Algumas organizações hospitalares ao redor do mundo têm optado por implementar a plataforma WorldVistA EHR em seus ambientes. O software WorldVistA EHR é uma aplicação desenvolvida pela VistA Software Alliance e WorldVistA (entidades sem fins lucrativos) centradas em fornecer apoio aos veteranos de guerra dos EUA. O software tem sido utilizado há cerca de 20 anos e fornece registros médicos eletrônicos de milhões de veteranos de guerra, que utilizam 163 hospitais, 135 asilos e 850 clínicas. O sistema opera com arquitetura Open Source, já tendo desde 2006 a certificação CCHITSM (Certification Commission for Healthcare Information Technology). Como é um produto livre, desenvolvido em cooperação com o governo dos EUA, o WorldVistA não possui uma estrutura de comercialização de direitos semelhante a outros EHRs. Com esse histórico de expertise, muitos hospitais optam por trabalhar com a solução WolrdVistA EHR. Esse é o caso da organização Max Healthcare. Trata-se de uma rede hospitalar na Índia que conta hoje com 12 unidades nove hospitais em Nova Delhi, dois hospitais em Punjab e um hospital em Dehradun), somando mais de 930 leitos, mais de 1500 médicos e 3500 funcionários de apoio. Max Healthcare é uma das maiores cadeias de hospitais da Índia, estando as unidades do grupo entre as mais avançadas do mundo em eHealth. Até o final de 2011, a implementação do projeto Max eCare (WorldVistA EHR integrado ao Max-HIS-PACS), já havia sido completada em 4 das Unidades (Saket, Bathinda, Mohali, Shalimar Bagh), sendo que o projeto total alcança nove unidades. Novas funcionalidades estão sendo implantadas em 2012 e o projeto para completar a implantação segue dentro do cronograma. Nas unidades que já receberam o sistema, vários módulos já estão em funcionamento, como: CPRS (Computerized Patient Record System), eCare Pharmacy, BCMA (Bar Code Medication Administration), LIS (Laboratory Information System), RIS (Radiology Information System), entre outros. O prontuário eletrônico (EHR) da Max Healthcare mantém um registro único do paciente, sendo que os dados clínicos podem ser acessados remotamente pelas demais unidades do grupo. Além disso, o EHR também promoveu uma intensa colaboração entre os hospitais do grupo, que hoje pode ter um especialista localizado em Delhi, por exemplo, visitando virtualmente a Unidade de Bathinda (distante 400 km). Todas as unidades do Max operam com rede Wi-Fi e workstations móveis

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disponíveis em cada ala. Os desktops são equipados com uma câmera, que permite a comunicação visual entre os centros de decisão especializada em qualquer outra unidade. Os dados clínicos do paciente podem ser compartilhados, sendo que o hospital utiliza a aplicação de eCollaboration Lync, da Microsoft. Um decisivo avanço do Max Healthcare é que seus dados estão localizados em uma nuvem privada, com aplicações centralizadas e unificadas, permitindo acesso em tempo real muito mais barato e fácil. Um desktop de videoconferência (point-of-care) vem sendo implantado, o que permitirá, por exemplo, que o departamento de emergência da unidade de Saket esteja constantemente conectado às unidades de Bhatinda e Mohali. Com isso, os médicos estão cotidianamente discutindo casos específicos, de maior gravidade (virtual in-patient rounds), no qual o EHR centraliza a documentação e fonte de análise. Da mesma forma, as estações de videoconferência poderão ser utilizadas para consultas remotas (ou em segundas opiniões), ajudando os pacientes a ter acesso mais fácil aos médicos. Todos os pacientes que dão entrada no hospital recebem uma pulseira com código de barra, que o acompanha ao longo de toda internação. Da mesma forma, todas as equipes de enfermagem também possuem código de barra em suas pulseiras. Coletores móveis (COW Computer on Wheels) estão, sempre que necessário, identificando o profissional (no caso, por exemplo, da distribuição de medicamentos até o leito dos pacientes). Através de um forte planejamento de treinamento e capacitação, o número de usuários da solução do Max Healthcare vem aumentando. Quando o sistema entrou em produção eram cerca de 1700, sendo hoje, um ano após, quase 2000. Da mesma forma, os medical templates (telas com as funcionalidades do software) têm aumentado, sendo inicialmente 237 e somando hoje mais de 330, o que prova a nova visão sobre as aplicações de HIS e EHR: necessidade de serem expansíveis ao longo do tempo. Avaliação realizada em 2012 pelo Max Healthcare concluiu ganhos reais após a implantação do sistema. Na unidade hospitalar de Saket West, por exemplo, o número de interações medicamentosas danosas caiu de 66 em Dezembro/2011 para 16 em Janeiro/2012. Na mesma unidade e no mesmo período, a duplicação de solicitações (orders) caiu de 65 mil para 18 mil. Todos esses indicadores sinalizam com uma melhoria na qualidade do atendimento, mas principalmente na redução de custeio a médio e longo prazo. g



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Philips – Divulgação


Telemonitoramento residencial Desde 2009, o mercado de telemonitoramento de pacientes só cresce. Aplicações de eHealth para aferição de sinais vitais, cada vez mais sofisticados, são lançadas no mercado todos os dias, e seus custos, inicialmente extremamente elevados, vêm se reduzindo. A residência do paciente, seu habitat natural, passou a ser uma extensão dos hospitais.

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Em 2007, o Journal of the American Medical Informatics Association publicou um dos mais importantes artigos sobre o impacto da telemetria residencial para pacientes com patologias crônicas. O artigo (“Systematic Review of Home Telemonitoring for Chronic Diseases: the Evidence Base”) foi sem dúvida um dos importantes milestone para a credibilidade da telemedicina com foco no monitoramento pessoal. O texto avaliou mais de 65 estudos empíricos voltados a quatro condições crônicas (problemas pulmonares, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares) nos EUA e Europa. Embora o artigo mostrasse que ainda existem muitas situações inconclusivas, uma das conclusões foi um sopro para impulsionar os mercados: “O telemonitoramento residencial de doenças crônicas parece ser uma abordagem promissora para produzir dados precisos e confiáveis​​, sendo que os mesmos podem influenciar os pacientes em suas atitudes e comportamentos. Potencialmente esse monitoramento pode melhorar as suas condições clínicas”. Dois anos mais tarde, pesquisa realizada pela empresa de consultoria Deloitte Consulting (“Survey of Health Care Consumers”) mostrava que 68% dos consumidores estavam interessados ​​em dispositivos de telemonitoramento em suas casas para aferir eletronicamente algumas de suas condições clínicas, relatando-as depois aos médicos. Entre os indivíduos com uma ou mais patologia crônica a taxa de adesão subiu para 75%, e entre os idosos o percentual atingia os 78%. Desde 2009, o mercado de telemonitoramento de pacientes só cresce. Aplicações de eHealth para aferição de sinais vitais, por exemplo, lastreadas em medical devices cada vez mais sofisticados, são lançadas no mercado todos os dias, e seus custos, inicialmente extremamente elevados, vêm se reduzindo. A residência do paciente, seu habitat natural, passou a ser uma extensão dos hospitais. Mas outros players entram todos os dias nesse mercado (Assisted Living Environment) lançando não só serviços de atenção residencial re-

mota, como novas tecnologias capazes de assessorar os pacientes em suas casas de forma efetiva. O barateamento das soluções de videoconferência, por exemplo, com suas aplicações embarcadas em qualquer PC, Notebook, Tablet ou mesmo na telefonia celular, é um dos fortes impulsionadores dos novos modelos de atenção sanitária remota. Em 2012, pesquisa realizada pela HealthPartners Research Foundation, apresentada em junho no evento científico American Heart Association’s Quality of Care 2012, mostrou que pacientes que recebem telemonitoramento remoto (e suporte clínico) estão, por exemplo, mais propensos a reduzir suas taxas de pressão arterial. O mais interessante e didático do trabalho foi mostrar a participação do profissional farmacêutico no processo de apoio aos pacientes em regime de telemonitoramento. Em tempos que se discute no Brasil o papel desse profissional, que vem sendo reduzido de importância pelo Estado e pelas comunicadas médicas. É alvissareiro perceber que ele pode ter um lugar importante dentro da Cadeia de Provedores de Serviços de Telemonitoramento Residencial. As conclusões da Pesquisa da HealthPartners Foundation mostram que após seis meses cerca de 45% dos pacientes monitorados de forma tradicional (sem o uso de home telemonitoring) tinham reduzido sua pressão arterial, contra quase 72% dos participantes que estavam utilizando dispositivos de telemonitoramento (chamado no estudo de grupo de intervenção). Mais que isso, a pressão arterial diminuiu mais no grupo telemonitorado. No início do estudo, a pressão sanguínea média dos pacientes era de 148/85 mm Hg. Depois de seis meses, a média foi de 126/76 no grupo telemonitorado, contra 138/82 no grupo que recebia os cuidados tradicionais. Da mesma forma, os pacientes enquadrados no regime de telecuidado residencial lembravam com muito mais facilidade da necessidade de ingestão de seus medicamentos.

Home Care “Ministério da Saúde promete financiar 100% dos custos das equipes de atenção domiciliar (perto de R$ 1 bilhão), e projeta para 2014 a implantação de mil equipes e mais 400 equipes de apoio. “

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A ideia imediata que nos vêm à mente quando falamos de Telemonitoramento Residencial é o mercado de Home Care. Também conhecido com outros nomes, como Internamento Domiciliar, Assistência Domiciliar, etc., trata-se de um setor em forte expansão não só no Brasil como em todo o mundo. A longevidade da população, a necessidade de desospitalização, o incremento das patologias crônicas, os crescentes custos da internação hospitalar, os insolúveis problemas de infecção hospitalar, etc., são


alguns dos fatores que fizeram esse mercado crescer, embora o conceito de cuidado domiciliar já existisse desde o Século XVIII. Na Europa pós-guerra, por exemplo, as possibilidades de o paciente ser atendido em seu ambiente familiar, com um grande apelo holístico, foi um forte catalisador para o crescimento dos programas que oferecem atenção médica residencial. No Brasil, o desenvolvimento do setor privado de home care vem sendo rápido, gerando há quase três décadas um núcleo de empresas que oferecem essa modalidade de assistência. A partir de 2006, quando a Anvisa passou a regular o setor (RDC 11), o mercado sentiu segurança para avançar e investir. Ainda temos uma enorme dificuldade de obter números sobre o tamanho desse ecossistema, visto que existem discrepâncias semânticas dentro da Anvisa e ANS sobre como classificar esse modelo de negócio. Mas que ele é emergente e cresce de forma significativa não há dúvida. Sua força é de tal natureza que até o poder público nacional, normalmente lento para avaliar novas opções de atendimento, percebeu a sua importância. Em novembro de 2011 o Ministério da Saúde (MS) “acordou” definitivamente e lançou o programa “Melhor em Casa”. Municípios com população entre 40 mil e 100 mil habitantes podem participar do projeto, sempre que estejam em regiões metropolitanas e que tenham o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) instalado.

As cidades com mais de 100 mil habitantes também participam, mas carecem de ter pelo menos um Hospital de Referência. O MS promete financiar 100% dos custos das equipes de atenção domiciliar (perto de R$ 1 bilhão), e projeta para 2014 a implantação de mil equipes e mais 400 equipes de apoio. Segundo dados do MS, divulgados em julho/2012, o Programa “Melhor em Casa” (que gravita em torno do SUS) já tem equipes habilitadas em 19 estados, beneficiando a população de 75 municípios. As equipes são formadas por médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, fisioterapeutas e assistentes sociais. Também existem várias iniciativas estaduais e municipais nessa direção, com velocidades de avanço desiguais, sempre dependendo das iniciativas orçamentárias (ou políticas).

Regulação As iniciativas públicas são muito importantes e tendem a criar uma sólida ideia de que Home Care não é simplesmente mais um modismo de ocasião. Todavia, os programas do setor público ou privado só terão sustentação ao longo do tempo se adicionarem uma forte e sólida estrutura de eHealth em suas operações. Alguns já o fazem, mas dependem sempre das políticas, resoluções e direcionamento das entidades que de alguma forma

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Cisco - Divulgação

“interferem” no setor de atenção domiciliar. Talvez um dos principais entraves seja a demora da Anvisa em certificar equipamentos médicos (RDC no. 25). Importadores, distribuidores e atacadistas de medical devices, muitos deles com contratos já assinados com empresas do setor de Home Care e outros players da Cadeia de Atenção à Saúde (hospitais, clínicas, laboratórios, etc.), têm de aguardar meses pela vistoria obrigatória da Agência. O home telemonitoring é pura Telemedicina, em sua essência mais prática e menos acadêmica. Trata-se de um conjunto de várias disciplinas e aplicações que objetiva monitorar pacientes a distância através da utilização de medical devices, sensorização, medical call center, registro eletrônico do paciente e várias outras tecnologias e processos operacionais que juntos recolhem os sinais vitais do paciente localizado em sua residência (com ou sem sustentação de serviços de home care) e os transmitem para estações de monitoramento. Essas unidades interpretam constantemente as informações e estabelecem parâmetros e procedimentos clínicos. Na realidade, em não menos que meio século os pacientes vêm sendo cada vez mais monitorados, principalmente dentro dos hospitais. As Unidades de Terapia In-

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tensiva dos hospitais tornaram-se centrais de tecnologia de ponta, utilizando cada dia mais o crème de la crème de eHealth. Pesquisa da iData Research mostrou que em 2011 mais de 50% de todos os pacientes internados foram monitorados. A expansão dos equipamentos sem fio, voltados a monitorar os sinais vitais, foi tão revolucionária nas últimas décadas que as aplicações “escaparam” dos ambientes hospitalares e podem hoje se alojar em toda e qualquer residência. Ainda segundo a pesquisa do iData Research, o número de medical devices wireless (dispositivos médicos sem fio) em 2018 terá duplicado em comparação a 2008. Só em 2011, o mercado de dispositivos de atenção domiciliar nos EUA cresceu 16%. Outro relatório, publicado em dezembro de 2011 pela Berg Insight (“mHealth and Home Monitoring”) mostrou que o número de pacientes em todo o mundo utilizando monitoramento remoto sairá dos atuais 2,2 milhões de indivíduos para 4,9 milhões até o final de 2016. O Telemonitoramento Residencial se consolidará e tende a ser uma das mais importantes formas de atenção à saúde.g



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NA PRÁTICA O CIO NA SAÚDE

O CIO (Chief Information Officer) tem papel fundamental na liderança organizacional, desenvolvendo e implantando estratégias de informação para viabilizar prioridades clínicas e de negócios da organização. Mas, dentro das instituições de saúde no Brasil, esses profissionais estão atuando estrategicamente ou exercem apenas a função de gestores de infraestrutura? David Oliveira, gestor de Tecnologia da Informação do Hospital Sepaco (São Paulo) e presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS), responde a questão. POR KELLY DE SOUZA

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os. Deixe isso para empresas especializadas e foque em gestão de infraestrutura. É preciso terceirizar tudo aquilo que não é foco da TI e do negócio, como impressão, desktops, datacenter, e abusar dos modelos de negócio para garantir renovação automática. Hoje, quais são os principais desafios do profissional de TI em saúde no Brasil? O maior desafio deste profissional é fazer o time de TI acreditar que pode ser o agente de mudança, e, a partir daí, buscar formas de entender e principalmente “ouvir” a área de negócio. Essas demandas são as maiores diretrizes para este profissional que, naturalmente, estará entendendo como a TI pode gerar valor se utilizada a favor de garantir a segurança do paciente. É preciso acreditar que a TI pode fazer a diferença e que esta decisão está muito além da TI. Há resultados intangíveis que são impossíveis de mensurar.

David Oliveira é graduado pela Escola de Engenharia Mauá, pós-graduado em Gestão de Projetos - PMI pelo grupo IBMEC, com MBA em Gestão Estratégica em Tecnologia da Informação pela Fundação Getúlio Vargas - FGV. É Gerente de TI do Hospital Sepaco e presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS), além de ter integrado o Grupo Amesp/Medial Saúde e o Hospital e Maternidade Dr. Christóvão da Gama.

Na prática, como evitar que CIOS se transformem em meros gestores de infraestrutura? Garantir informação sempre disponível aos gestores é o principal objetivo do CIO. Essas informações são, em sua grande maioria, o alicerce para salvar vidas, pois estamos falando de prontuário eletrônico, portanto, é preciso garantir alta disponibilidade de toda infraestrutura. Após entender e “ouvir” o negócio, ficará evidente quais são as restrições que o impedem de pensar estrategicamente. É preciso trazer junto todo o time de TI no pensamento e roadmap tecnológico. Não há mais motivos para se preocupar com troca ou upgrade de maquinári-

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Como gestor de TI, você já atuou nas duas frentes do setor: no prestador de serviço e na fonte pagadora. Em sua opinião, por que a gestão da informação de saúde – seja ela clínica ou administrativa – ainda é tão pouco eficiente no país? Pela falta de padrões e regras claras que estabeleçam obrigatoriedade para ambos. Há ainda um mito de que informações estratégicas possam ser reveladas, isso já não é mais segredo há muito tempo. Neste mercado, a saúde suplementar encontra-se em forte demanda, cabe aos administradores seguir estratégias para conquistar cada vez mais seu espaço. Não há outra forma disso ocorrer sem investir fortemente em tecnologias integradas que vão além da TI. Os sistemas focados em prevenção têm papel fundamental neste panorama – e dependem quase que exclusivamente das ferramentas de eHealth. Por que há tão poucos programas preventivos (no sistema público e privado), que poderiam diminuir significativamente os custos? Ainda há pouco investimento neste setor. Há uma forte necessidade de se utilizar cada vez mais desses sistemas e para isso é preciso garantir que tudo estará sempre disponível a qualquer momento. Estamos falando de uma organização 24x7x365 que não para nunca e aí entra a habilidade do CIO em conseguir elevar o nível de tecnologia para “estratégico”, garantir integração efetiva e a partir daí usar da inteligência organizacional e competitiva de modo a garantir que o sistema seja o principal aliado na prevenção e eliminação de custos em toda a cadeia. O CIO irá errar e não conseguirá o investimento


necessário se olhar apenas para o departamento de TI. As respostas para conseguir alavancar tudo isso estão no horizonte. Pensando na baixa informatização dos hospitais no País (cerca de 15%), qual o principal fator que ainda atrasa a adoção das TICSs? Custo, educação ou a questão cultural? Eu diria que todo este tripé! É preciso ter educação para pensar estratégico, convencer a organização e demonstrar os caminhos para mudança de cultura e quebra de paradigmas para colher a redução de custos ao longo de todo processo. Em sua prática diária, há um contato direto com os fornecedores de soluções. Como você vê o papel da indústria de TICSs? Ainda existem muitos fornecedores “aventureiros” no

setor de saúde. Há também muita confusão de entender que o mercado é diferente da indústria. Não se aplica um ERP (Enterprise Resource Planning) num hospital e muito menos o contrário, o HIS (Hospital Information System) numa indústria. Quando se fala de infraestrutura básica há um entendimento mútuo e equacionado, mas ainda há muito a oferecer quando o assunto é usar tecnologias para ajudar a salvar vidas. As decisões referentes à TI eram soberanas por parte do principal executivo do hospital, uma vez que eram raras as instituições que mantinham um gestor de tecnologia. Hoje, como funciona essa relação? A TI já é percebida como o caminho para crescimento sustentável, mas poucos ainda conseguem sair do marco zero. As tecnologias estão mudando em velocidades cada vez mais agressivas, há fabricantes lançando novos produtos a cada quatro meses, e é preciso entender que

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isso já é um motivo pelo qual não se imobiliza mais ativos de TI, pois em pouco tempo ele será “lixo eletrônico” e este tempo não pode ser perdido. Não basta querer, é preciso ter um modelo de governança corporativa e de TI, mesmo que não registrado, para garantir os retornos necessários à sobrevivência do negócio aliada a um CIO atualizado. As decisões fora de soluções já não cabem mais neste setor. Não dá para pensar como gestor de infraestrutura. Que peso tem hoje o paciente nas decisões de um gestor de TI? As mídias sociais e a internet estão transformando essa relação? Um dia, nos corredores do hospital, depois de investir mais de R$ 6 milhões em integração tecnológica, numa conversa com o superintendente comentei que não tinha feito nada além do mercado, quando uma criança passou por nós e disse: Vamos mamãe bater uma “fotinha”. (A impressão já não era mais em filme e sim em papel e a sala de Raios-X era clara e alegre). Foi quando percebi e tive a certeza de que para inovar neste setor é preciso que o paciente perceba que tudo isso é para garantir que seu diagnóstico e tratamento estão cada vez mais evoluídos. Por outro lado, as mídias sociais têm seu papel importante, pois são elas que ditam como sua organização é

percebida, e não dá para fechar os olhos para esta pesquisa ativa e extremamente transparente. Olhe, responda e mostre que houve a mudança. Você assumiu recentemente a presidência da ABCIS. De que maneira a entidade promoverá o intercâmbio de conhecimento que visa a evolução das aplicações de TI no universo da Saúde? A ABCIS nasceu da ambição de tornar cada vez melhor a qualidade do atendimento na área da Saúde. É o canal de relacionamento e comunicação entre os profissionais de TI responsáveis pela inovação desse setor. Com os avanços tecnológicos e o crescimento do segmento no Brasil e no mundo, as instituições são obrigadas a seguir complexas normas de qualidade. Para auxiliá-las nessas adequações, grandes gestores de Tecnologia de Informação em Saúde se dedicam a trocar ideias e criar estratégias para integrar ferramentas que garantam a satisfação plena do seu principal cliente: o paciente. O grande objetivo da associação é ser o meio para integração efetiva neste setor. Queremos estreitar e acabar com as dificuldades entre áreas e atestar que a TI é o grande agente de mudança e melhoria contínua da organização. Temos que deixar claro as barreiras que causam impactos logísticos onerosos e ainda obscuros. g

Tecnologia com foco no paciente O I Fórum Anual Setorial de TI, criado pela Associação Brasileira CIO Saúde – ABCIS e que será realizado no dia 04 de outubro, em São Paulo, terá como tema central a “Tecnologia com foco no paciente” e, como keynote speaker, a especialista Renata Bushko, pesquisadora do MIT - Massachusetts Institute of Technology e presidente da FHTI - Future Health Technology Institute, dedicado à definição da agenda de tecnologias em saúde para o século 21. O objetivo do evento é discutir e aprofundar o tema da tecnologia da informação como ferramenta estratégica para a inovação e a melhoria da qualidade do atendimento da saúde, além de promover a convergência de conhecimentos de um grupo diferenciado de profissionais da saúde, mesclando experiências e técnicas empregadas em diferentes países e situações, a fim de gerar novas estratégias que aumentem a qualidade e a segurança nos cuidados com o paciente. A criação do Fórum visa estabelecer um canal permanente de comunicação do setor.

O I Fórum Anual Setorial de TI terá quatro painéis: Análise Setorial de TI em Saúde; A integração e desafios da engenharia Clínica e TI; Segurança da Informação Aplicada à Saúde; e Tecnologia com foco no Paciente. Além de Renata Bushko, compõe o time de palestrantes especialistas renomados como Adriano Carlos Gliorse, Diretor de Tecnologia e Processos Santa Helena Saúde; Avi Zins, especialista e consultor em saúde; David Oliveira, presidente da ABCIS; Franklin Lindolf Bloedorn, CEO do Hospital Bahia Sul, que traz conhecimento como CEO, consultor em instituições de saúde e especialista em melhora de desempenho para as atividades de Avaliador do Consórcio Brasileiro de Acreditação e para a Joint Commission International e atua como avaliador em hospitais na Europa, América Latina e América do Sul, Ásia e Oriente Médio; Jussara Pinho Rotzsch, Diretora Fundadora da Open EHR e Consultora do Ministério da Saúde.

Informações sobre o I Fórum Anual Setorial de TI através do e-mail: tmjobs@tmjobs.com.br

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No alvo

dos investidores O Brasil vive um momento ímpar no cenário mundial, com destaque para os setores de Tecnologia e Saúde. Fatores como o crescimento e envelhecimento da população brasileira, combinados com a expansão dos sistemas de saúde públicos e privados, além da substituição dos modelos de cuidados paliativos para um modelo de saúde preventiva, têm fomentado a indústria nacional de Tecnologias da Informação e Comunicação em Saúde (TICSs) chamando a atenção de investidores estrangeiros. A Insight Venture Partners, gestora americana de fundos de “private equity”, é um desses exemplos. Líder global em fundos de participação com foco exclusivo no mercado de empresas de software, e-commerce, internet e data-services, a empresa anunciou recentemente o investimento na Bionexo, empresa brasileira focada em soluções de comércio eletrônico no mercado de Saúde. Larry Handen, Diretor da Insight Venture Partners, conta que o Brasil está na mira dos investidores por ser uma país diversificado, e com grande potencial de crescimento. Mas, por que as tecnologias da informação e comunicação estão no alvo dos investidores? O executivo ressalta que como a população tende a ficar mais velha, com poder aquisitivo maior e mais focada em cuidados preventivos, os investidores esperam um forte crescimento da indústria de Saúde e de Tecnologia. “Estamos empolgados com o setor de Saúde brasileiro. O

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5 pontos sobre o negócio 1. A Bionexo procurou essa parceria ou foi acionada pela gestora americana? A Bionexo foi acionada pela Insight em 2011, ocorreram várias rodadas de reuniões até o fechamento da operação.

crescimento do Brasil como um mercado emergente exige mais tecnologia para apoiar essa expansão e também para trazer eficiência”. Fundada em 1995, a companhia americana já captou mais de 5 bilhões de dólares e investiu em mais de 150 empresas. Entre essas empresas incluem a Healthcare Source, que oferece tecnologia SaaS para hospitais e organizações de saúde com interesse em gerenciar seus recursos humanos, bem como a Kinnser Software, que fornece soluções de SaaS para o mercado de saúde domiciliar. “Anteriormente, a Insight investiu em soluções como a Medidata, que abriu o capital em 2009 e está centrada em software de gestão clínica”, ressalta.

Bionexo Larry Handen conta que a parceira junto à Bionexo se deu porque as soluções da empresa formam um poderoso conjunto de produtos e serviços, que vão ao encontro da alta demanda existente no Brasil e na América Latina (Argentina, Colômbia, Espanha e México). “A Bionexo capitaliza essa tendência, simplificando fortemente o processo através do qual os hospitais possam adquirir dispositivos médicos, produtos farmacêuticos e outros itens essenciais. Através da Bionexo o processo de aquisição é significativamente mais eficiente, tanto para os hospitais como para os fornecedores. Os hospitais podem prover alta qualidade de atendimento, enquanto os fornecedores obtêm para seus serviços acesso a um canal de distribuição muito mais amplo”, analisa. Para Maurício De Lázzari Barbosa, CEO da Bionexo, a entrada desse importante sócio estratégico pretende agregar valor na governança corporativa e acelerar o plano de expansão nacional e internacional da empresa. “O aporte de capital será usado para acelerar o crescimento da Bionexo, que está ancorado em um robusto crescimento orgânico, aliado ao lançamento de outros produtos que estão no pipeline da empresa”, conclui. g

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2. O novo sócio terá poder de decisão e gestão na Bionexo? O fundo entra como sócio minoritário no capital da Bionexo e não participará da gestão atual, recebendo o mesmo tratamento dos outros sócios quanto a participar nas reuniões trimestrais para apresentação dos resultados e aprovação dos resultados anuais, assembleias, bem como participar de reuniões especiais para tratar de assuntos estratégicos. 3. Como esse aporte financeiro será investido na empresa? O aporte de capital será usado para acelerar o crescimento da empresa, que está ancorado em um robusto crescimento orgânico aliado ao lançamento de outros produtos que estão no pipeline da Bionexo. Haverá melhorias em todas as áreas da companhia, principalmente na estrutura de TI, que receberão investimentos para oferecer cada vez mais agilidade nas negociações via plataforma, atendimento aos requisitos das certificações internacionais, segurança da informação, novas funcionalidades e novos produtos. 4. A atuação no setor público pode sofrer alguma alteração, principalmente em relação às questões jurídicas, já que a empresa agora tem capital estrangeiro? A rigor, não haverá qualquer alteração, já que a presença de capital estrangeiro já era detectada na empresa desde a sua formação e, para suas atividades, não há vedação constitucional de participação de capital estrangeiro. 5. Essa negociação pode ser considerada como uma desnacionalização da empresa? Não, a empresa continua sendo 100% brasileira.



Ministro da Saúde Alexandre Padilha visita estandes da Hospitalar Digital Health

Dra. Linamara Battistella

Dr. Claudio Lottenberg

Dr. José Vital

Fotos: Jefferson Bernardes © Preview.com | StudioF Imagem | Ofício da Imagem

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Valorização do setor de TI e eHealth

Feira e Fórum sobre os benefícios da tecnologia na gestão de saúde foram as grandes novidades da HOSPITALAR 2012 Acompanhando a forte tendência de crescimento do segmento de Tecnologia da Informação no setor de Saúde, a Hospitalar anunciou um novo evento em sua edição 2012, a Hospitalar Digital Health - Feira e Fórum Internacional de Telemedicina, Telessaúde e Tecnologia da Informação para Saúde. O tema já faz parte da Hospitalar há diversas edições, mas passou a ter mais destaque este ano, tanto na parte de exposição, quanto na parte do seminário. A novidade acompanha uma tendência de mercado, que valoriza TI, e_health e todo o tipo de tecnologia que aprimore o desempenho dos equipamentos, serviços e otimização dos resultados com foco no paciente. Com tratamento visual diferenciado, o Pavilhão Verde do Expo Center Norte reuniu as empresas dedicadas ao setor de TI, atraiu a atenção dos visitantes e favoreceu o contato e os negócios para as empresas expositoras. Na parte do seminário, foram discutidas novas oportunidades de empreendedorismo na área de Telemedicina e Telessaúde, e o temário teve a coordenação do Prof. Dr. Chao Lung Wen, titular da Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Presidente do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde e parceiro da Hospitalar há vários anos.

Novas oportunidades para expositores e visitantes A Hospitalar Digital Health trouxe para a feira a oportunidade comercial que o mercado estava buscando. Além de dar mais visibilidade para os expositores e criar

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Dra. Waleska Santos

Prof. Dr. Chao Lung Wen

oportunidades de contato com visitantes que são in– fluenciadores ou tomadores de decisões nos ambientes hospitalares, o novo evento fortalece todo o setor de tecnologia para a saúde. “Com essa iniciativa, a Hospitalar contribui para abrir uma nova via de relacionamento entre fornecedores e estabelecimentos de saúde, com ganhos evidentes para ambas as partes e, em última análise, para o consumidor final”, acrescenta Dra. Waleska Santos, pPresidente da Hospitalar.

do as oportunidades de negócios que estas novas tecnologias abrem para empreendedores no setor de Saúde. Durante dois dias, o programa inovador apresentou propostas objetivas de aplicação da Telemedicina para gerar negócio, emprego e renda. Na plateia estavam gestores hospitalares e de empresas de homecare, representantes de operadoras de saúde, universidades e provedores de tecnologia. “Discutimos e identificamos os processos para melhor qualidade de atendimento e novos serviços, além de como a telemedicina pode aumentar a eficiência na saúde”, diz o Dr. Chao Lung Wen, presidente de honra do seminário.

Seminário discutiu empreendedorismo em Telemedicina e eHealth A primeira edição do Seminário da Hospitalar Digital Health teve como objetivo difundir ainda mais as características e potencialidades da Telemedicina, evidencian-

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O evento discutiu três eixos temáticos: telehomecare para hospitais, telehomecare para empresas de homecare e e_Health/mobile health para planos de saúde. Entre os profissionais que relataram suas experiências nesta área estiveram o Dr. Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein; Dr. Josier Vilar, presi-


dente da Pronep; e a Secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Dra. Linamara Battistella, entre outros. Representando fornecedores de tecnologia, participaram do seminário José Luís Bruzadin, da Intel; Katia Galvane, da Vivo; e Alexandre Okumura, da Microsoft.

Comitê permanente discute inovação e sustentabilidade Um dos primeiros resultados do Seminário Hospitalar Digital Health foi a criação de um Comitê Nacional de Inovação e Sustentabilidade em Telemedicina e Telessaúde. Coordenado pelo Dr. Chao Lung Wen, o grupo-tarefa inclui representantes de todas as partes envolvidas – instituições de saúde, empresas de homecare, órgãos públicos, academia e provedores de tecnologia – para discutir de forma permanente as oportunidades de novas aplicações da Telemedicina. O comitê terá três eixos de trabalho: tecnologias (ultrabook, tablet, smartphone e banda larga); sistematização e fortalecimento do e_Health e mobile health; e telehomecare com apoio aos cuidadores.

HOSPITALAR é protagonista no desenvolvimento do setor de telemedicina e eHealth A cada ano, a Hospitalar se renova e se atualiza com as necessidades e novidades do setor. Na área de Telemedicina, o evento atuou de forma ativa para que o tema tivesse destaque e crescesse. Em 2005, a Estação Digital Médica, um projeto desenvolvido pela Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, obteve destaque na Hospitalar. O projeto teve como objetivo promover uma grande ação em prol da saúde da população brasileira através da aplicação da tecnologia. Em 2011, a HOSPITALAR foi homenageada durante o 5° Congresso Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde. O evento foi realizado em Manaus pelo Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde (CBTms). A iniciativa foi um reconhecimento ao apoio que a Dra. Waleska Santos sempre ofereceu ao segmento, contribuindo para sua crescente expansão no país.

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Healthcare Cloud Computing Relatório publicado pela MarketsandMarkets, denominado “Healthcare Cloud Computing Market – Global Trends, Challenges, Opportunities & Forecasts – 2012/2017”, traz importantes constatações sobre o impacto das nuvens computacionais (cloud computing) no setor de eHealth, analisando as restrições e oportunidades já existentes na América do Norte, Europa, Ásia e resto do Mundo. Entre as projeções, o estudo mostra que o mercado mundial de cloud computing para Saúde deve atingir receitas superiores a US$ 5,4 bilhões até 2017. Em 2011, o mesmo mercado foi avaliado em US$ 1,7 bilhão. Além disso, segundo o relatório, o índice de crescimento do mercado mundial de healthcare cloud computing deve chegar a espantosas taxas de 20,5% (2010-2017). O grande drive que impulsiona esse crescimento é a redução de custo. Nos EUA, os grandes players provedores desse ambiente (CareCloud, Carestream Health, Merge Healthcare, GE Healthcare, entre outras) jogam pesado nos investimentos de infraestrutura para disponibilizar cada vez mais “nuvens” seguras e com custos de acesso decrescentes. O trabalho também concluiu que os três formatos de cloud computing (nuvens Privadas, Públicas ou Híbridas) ainda sofrem na área de Saúde (como obviamente deve ocorrer) excessos regulatórios, sempre frequentes

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quando uma nova tecnologia aparece no mercado e dá sinais de uma suculenta cesta de oportunidades para os prestadores de serviços médicos. A oferta de soluções em nuvem para aplicações como CIS (Clinical Information System), EMR (Electronic Medical Records), PACS, LIS (Laboratory Information Systems), PHR (Personal Health Records), etc, está crescendo e, da mesma forma, acrescentando músculos nas verticais de Segurança, Privacidade e Acessibilidade. Os principais modelos de oferta (como acesso a softwares de gestão hospitalar, por exemplo), estão centrados nas arquiteturas de serviços já conhecidas pelo mercado, como o SaaS (Software-as-a-Service), PaaS (Platformas-a-Service) e IaaS (Infrastructure-as-a-Service), sendo que em todos os casos o serviço de cloud computing é ofertado como uma aplicação “pagamento-por–utilização” (pay-as-you-go), ou On-Demand, como chamam outros. O principal motivador para a Cadeia de Assistência à Saúde se interessar pelas soluções de computação em nuvem ainda é o barateamento dos custos de acesso e gestão das informações. Todavia, outros fatores também são incentivadores dessa adesão tais como as facilidades de Gestão das Informações (quanto menos servidores locais, menos risco de perda de dados e quebra de segurança e privacidade). As possibilidades de escalibilidade


das tecnologias em nuvem podem, em tese, ser ilimitadas. Assim, projetos de expansão operacional do comprador de serviço são extremamente facilitados, gerando com isso grande atratividade (cada email enviado ou recebido, por exemplo, terá armazenamento “eterno” na nuvem). Outro fator que tem incentivado a adesão é a possibilidade de uma rápida implantação. Os grandes atrasos ocasionados pela incorporação de infraestrutura (sem falar em custos e leadtime de implementação), como, por exemplo, a escolha, implantação, atualização e manutenção dos softwares e hardwares necessários, geram grande insegurança nos gestores. No caso das tecnologias em nuvem esse delay praticamente inexiste, podendo uma aplicação ser “embarcada” ao ambiente do comprador do serviço em poucos dias. Da mesma forma, num ambiente altamente regulado, onde as regras do jogo podem mudar a cada dia (como no caso do Brasil,

onde as resoluções e alterações regulatórias no Sistema SUS são, às vezes, semanais) manter uma base de dados única, em nuvem, facilmente customizada e com grande agilidade de atualização, é um forte ingrediente para a velocidade da adesão das empresas da Cadeia de Saúde. Um exemplo típico é a adesão de um novo médico à estrutura operacional de um hospital. Como a maioria do mercado hospitalar do país (Saúde Suplementar) trabalha com prestadores de serviços médicos autônomos, sem vínculos trabalhistas e, muitas vezes, com pouco acesso presencial, essa adesão pode ser facilmente feita através de uma estrutura em nuvem. O profissional médico é plugado ao ambiente digital do hospital em minutos, tendo acesso aos dados de seus pacientes em qualquer ambiente, fora inclusive da instituição de saúde (em sua residência, consultório, outra unidade de atendimento, etc.). g

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Na próxima edição Prontuário Eletrônico do Paciente a principal arma nos controle de patologias crônicas

PACS – a imagem mudou a medicina... e vai mudar muito mais

A nova geração de médicos infornautas – a tomada de decisão ao alcance das mãos

Medical Devices – uma caravana de soluções mundiais chegando ao Brasil

eLearning – a Universidade dentro do consultório, dos hospitais e das casas dos profissionais de Saúde

Indústria - O mercado nacional exportador de eHealth

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