Revista do Meio Ambiente 88

Page 1

O zika tem a ver com a mudança do clima André Corrêa: saneamento básico é alvo de articulações Brasileiro é quem mais consome agrotóxicos no mundo Cerveja brasileira é feita de milho: saiba dos riscos

revistadomeioambiente.org.br

9772236101004

ISSN 2236-1014

a n o X • feve r e i r o 2 0 1 6

88

o jovem de hoje

acha que a vida é uma festa



As olimpíadas

estão aí

Bom momento para refletirmos sobre nossos limites e sonhos de superioridade por viLmar sidnei demamam berna*

a

s olimpíadas estão aí. Bom momento para refletirmos sobre nossos limites e nossos sonhos de suoerioridade. O planeta, a vida, está precisando mesmo cultuar valores de superheróis que não só não se conformam em viver no limite como anseiam e lutam por ultrapassá-lo? Um exemplo está em esportes que estimulam a competição desmedida, que premiam campeões que levam o ser humano aos seus limites, corridas de carros, etc. Tais valores motivam a sociedade a achar legal respeitar limites, ser menos competitiva, menos individualista, mais respeitadora dos limites da natureza? Acho que não. Vejo mais, vejo idosos recusando os limites do próprio envelhecimento e cultuando valores de quando eram jovens e tinham performances próprias dos jovens. Vejo canções, como o sucesso da Anitta, “não pára, não pára, não pára não”, e da-lhe viagra que, surpreendentemente é bastante consumido entre os jovens, para que suas performances sexuais desconheçam pausas! Antes de agirmos, nosso coração e nossa mente precisa estar repleta de ideias, de sonhos, de valores, de informações, de motivações. Nossos gestos concretos são apenas a ponta do iceberg. que ideias e Valores são esses que nos MotiVaM? Já estamos usando os recursos do Planeta mais de 30% de sua capacidade natural de se regenerar e a ordem é “ não pára, não para, não para não”! Em vez dos esportes de competição, por que não valorizar os de cooperação, que diminuam o ego, o individualismo, em vez de promove-lo! Sempre haverá competição, claro, por que é intrínseco à natureza humana, assim como também é a cooperação. E numa sociedade como a nossa, diante dos desafios globais que ameaçam a própria espécie humana, parece mais prudente estimular valores e atividades que promovam a cooperação entre os indivíduos, as organizações, as nações, em vez de fabricar heróis e campeões que podem até ir e chegar mais rápido, sozinhos, quando o que precisamos, enquando civilização mesmo, é chegar juntos e mais longe. Os esportes de competição estão contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos e cooperativos? Quando foi que perdemos o prazer da participação, da brincadeira, sem obrigação de apresentar resultados crescentes? Quando foi que perdemos o prazer do contato com a natureza e elegemos o passeio no shopping como o melhor entretenimento para a família, para os casais? Não é à toa que vivemos numa sociedade competitiva, cada vez mais desigual, cada vez mais individualista, materialista, onde os lucros crescentes e gigantescos são troféus erguidos com orgulho por uns poucos que se acham “vencedores” e que, em vez de serem criticados em suas ganâncias, são eleitos como líderes a serem seguidos! Que pena que são tão poucos os que se importam, enquanto a maioria aplaude alegremente. * Escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de Informação Ambiental (rebia.org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas

Sede e Redação Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - Jurujuba (Cascarejo, Ponta da Ilha) - Niterói, RJ - 24370290 • Telfax: (21) 2610-2272• vilmar@rebia.org.br • CNPJ 05.291.019/0001-58 A instituição A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e o fortalecimento da Cidadania Sociambiental Planetária, ofertando informações, opiniões, denúncias, críticas, com ênfase na busca da sustentabilidade, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente, entre outros produtos e ações. Para isso, a Rebia está aberta à parcerias e participações que reforcem as sinergias com demais parceiros, redes, organizações da sociedade civil e governos, e também com empresas privadas, que estejam comprometidas com os mesmos propósitos. Fundador da Rebia A Rebia foi fundada em 01/01/1996, pelo escritor e jornalista Vilmar Sidnei Demamam Berna, que em 2003 recebeu no Japão o Prêmio Global 500 das Organizações das Nações Unidas de Meio Ambiente. • escritorvilmarberna.com.br • (21) 9994-7634 Conselho Editorial A missão da Rebia só se torna possível graças a uma enorme rede de parceiros e colaboradores, incluindo jornalistas ambientais e comunicadores comunitários, e de seus mais de 4.000 membros voluntários que participam dos Fóruns Rebia, democratizando informações, opiniões, imagens, críticas, sugestões e análises da conjuntura, um rico conteúdo informativo que é aproveitado para a atualização diária do Portal e para a produção da Revista. São estes colaboradores que representam o Conselho Editorial e Gestor da Rebia, participando ativamente no aperfeiçoamento e na divulgação do Projeto. A Rebia na web • Facebook: facebook.com/rebia.org.br • Twitter: twitter.com/pmeioambiente • Linkedin: www.linkedin.com/company/ rebia---rede-brasileira-de-informacoes-ambientais?trk=hb_tab_compy_id_2605630 • RSS: www.portaldomeioambiente.org.br/component/ injarsssyndicator/?feed_id=1&format=raw Coordenadas GPS da Rebia: -22.929432, -43.111917 A REBIA mantém TERMO DE PARCERIA na forma da Lei com as seguintes OSCIPs (Organização sem fins lucrativos de interesse público), estando através delas ISENTA DE IMPOSTOS, DISPENSADA DE LICITAÇÃO, e poderá conceder às empresas de Lucro Real que investirem nos Projetos e Veículos de Comunicação da REBIA, Declaração de Renúncia Fiscal que permitirá o abatimento de até 2% do imposto declarado devido: PRIMA – Mata Atlântica e Sustentabilidade CPNJ: 06.034.803/0001-43 / Insc. Estadual: ISENTA / Insc. Municipal: 131974-0 / Dados bancários para pagamento: CEF Ag. 3092 OP 003 C/C 627-5 / Sede: Rua Fagundes Varela, nº 305/1320 – Ingá, Niterói – RJ - 24210.520 Associação Ecológica Piratingaúna CNPJ: 03.744.280/0001-30 / Insc. Estadual: ISENTA / Utilidade Pública Municipal ( LEI 3.283 de 04/03/ Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - no bairro Ano Bom Barra Mansa, RJ CEP: 23.323.300 / Presidente: EDUARDO AUGUSTO SILVA WERNECH (24) 9 9264 - 2353 (Rural/Fixo/sede) - 9 8857-0224 - Nextel: 7811-6082 / ID: 12*88984 - Residencial (24) 3323-0224 eduardo.piratingauna@gmail.com / eduardo.wernech@piratingauna.org Blog: http://oscip-piratingauna.blogspot.com.br

Projeto gráfico e diagramação Estúdio Mutum • (11) 3852-5489 skype: estudio.mutum haldney@estudiomutum.com.br Razão Social: Haldney Antonio Silvino Ferreira - ME • CNPJ 07.413.335/0001-80 estudiomutum.com.br

Webmaster Leandro Maia Araujo - MEI (21) 9729-6312 suporte@lmatech.com.br webmaster@rebia.org.br CNPJ 18.463.673/0001-43 Rua Adelaide Correia Machado, 56 CS São Gonçalo, RJ • 24732-725

Impressão Colorsystem Gráfica Digital e Offset (11) 3789-1903 • paula@colorsystem.com.br (Paula Hyppolito/Comercial) Razão Social: Dsystem Indústria Gráfica Ltda - EPP • CNPJ 04.495.167/0001-21 Av. dos Autonomistas, 4900 Osasco Business Park • Osasco, SP 06194-060 • colorsystem.com.br

revista ‘neutra em carbono’ prima.org.br

Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas veiculados através dos veículos de comunicação da Rebia expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia. Para acessar a Revista do Meio Ambiente online ao vivo com o código QR é só escanear o código e ter acesso imediato. Se não tiver o leitor de QR basta abaixar o aplicativo gratuito para celulares com android em http://bit.ly/16apez1 e para Iphone e Ipads em http://bit.ly/17Jzhu0 foto desta CaPa: DOLLAR PHOTO CLUB

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

editorial / expediente

3


A valsa brasiliense por Luiz prado

P

elo jeito, o que os órgãos do governo federal e dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo ainda não sabem mesmo é como dividir a grana da Samarco, se ela depositar, para fazer obras e prestar serviços através de concorrências públicas. Serão R$ 500 milhões prá lá, R$ 1 bilhão para cá? E também não sabem o que fazer com o dinheiro, depois de tantos meses do “acidente” provocado pelo desleixo geral. Que tal começar a indenizar as pessoas mais pobres que perderam as suas casas e áreas de cultivo, os pescadores que ficaram desamparados, ou mesmo a fazer as melhorias necessárias nos sistemas de captação e tratamento de água dos municípios? Ha, ha – a dúvida é mesmo sobre como dividir o bolo! Mas, antes da partilha da grana, uma observação. Nos últimos dias – mais de 2 meses após o “acidente” –, uma empresa mineira especializada em projetar barragens de contenção de resíduos de mineração – ou seja, mais da mesma bobagem – avisa que são grandes os riscos de que outras estruturas similares se rompam, com resultados ainda piores do que a devastação já causada. E o que está sendo feito para impedir que isso aconteça, além da própria Samarco informar sobre monitoramentos “até com drones”, como se isso fosse uma grande novidade. Que moral tem a Samarco para dizer que está fazendo algo que não lhe seja determinado? Vão reforçar essas barragens? Ou as autoridades vão ficar aguardando? O que dizem os órgãos ambientais e o Serviço Geológico Nacional? O fato é que o poder público – União, Minas Gerais e Espírito Santo – conseguiram uma determinação judicial de primeira instância para que a Samarco deposite R$ 2 bilhões por mês durante 10 anos com base num cálculo mágico e…. não sabe como dividir esse improvável cascalho, um montão de dindin! Esse “percalço” foi expresso claramente – e candidamente – pelo advogado-geral da união (com minúsculas mesmo, vai), Luis Inácio Adams que, candidamente, declarou que “a opção por mais prazo foi para decidir o que exatamente será feito com os recursos“. Ah, bom! Em tese, o valor será utilizado para implementar um tal “plano inicial de recuperação ambiental“, contratado pela São Marcos com a empresa Golder Associates – que trabalha com projetos de mineração “preservando a integridade da Terra”. Ninguém ainda divulgou o conteúdo do tal plafevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

Quando o poder público reconhece que ainda não sabe o que fazer com a bufunfa

Adriano Makoto Suzuki / flickr cc 2.0

parceiro REBIA

4

no inicial. Será que não ocorreu à imprensa perguntar ou os repórteres simplesmente aceitaram alguma das usuais respostas e notas evasivas? No final, a pizza, com a Globo mostrando a felicidade do nascimento de uma criança, uma família retirante do mar de lama numa casa humilde. Por fim, mas não menos importante: nas eleições de 2015, a Vale foi generosa em doações para diversos partidos, em particular para o PMDB e para o PT, inclusive para a candidatura de Dilma Roussef que, com especial deferência, recebeu o presidente da empresa para tratar… do mar de lama causado pela Samarco. Uma recepção que alguns poderão achar inadequada ou mesmo repulsiva, no momento em que a União processa a empresa e sua sócia BHP Billinton, juntamente com a Samarco. *** Novamente, recomenda-se, enfaticamente, àqueles que sofreram prejuízos – inclusive prefeituras, indústrias, associações de pousadas e de pescadores, etc – que ajuízem as suas próprias ações indenizatórias, com as devidas comprovações financeiras. *** O que já deveria estar em discussão é o próprio conceito de barragens para conter a mistura de água e resíduos, mas a mesmice oficial tem aversão à inovação ou qualquer mudança do status-quo. Novamente: por que é mesmo que essa água altamente contaminada que aos poucos causa o rompimento das tais barragens não é tratada desde sua origem, isto é, imediata e continuamente após a mineração? Ninguém sabe! Por que custa caro? Tolice! Apenas a aversão à inovação e ao trabalho de equipes multidisciplinares que marcam tão profundamente a alma brasileira, ou pelo menos a de um poder público de sesmarias e monoglota, que tem como referência apenas o seu próprio umbigo. E nenhum diretor da Samarco ainda teve a prisão preventiva ou o arresto dos bens pessoais determinados pelo Judiciário, talvez em decorrência da lerdeza do Ministério Público Federal, ou de Minas Gerais (o estado de triste nome). Se fosse o caso de um caipira ou sertanejo que tivesse pego uma “voadeira”, ave de arribação ou calango para comer já teria sido preso, depois de autuado em flagrante por um fiscalzinho qualquer – mas armado, autoritário e truculento – do tal do Ibama ou do ICMBio (a sigla é engraçada). E assim vai a valsa brasiliense, planaltina, aos trancos e barrancos – se bem que nos últimos tempos mais aos barrancos. *** Depois do indiciamento de dois diretores da Samarco por crime ambiental, ambos foram afastados pelo Conselho de Administração da empresa. A parte risível fica no fato de que a diretoria de operações tenha passado a ser ocupada, “de forma interina”, pelo diretor de projetos e ecoeficiência. A cara de pau dessa turma é muito engraçada! Ecoeficiência? Na Samarco?


5

A Cedae e a cobrança ilegal de coleta

e tratamento de esgotos Usuários podem e devem acionar a empresa para reaver valores pagos indevidamente à concessionária dos serviços, no Rio de Janeiro e em outros estados por Luiz prado

Kristian Bjornard / flickr cc 2.0

A

CEDAE – Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro foi novamente condenada pela cobrança da “taxa de esgoto” sem a devida prestação do serviço, já que os esgotos do condomínio autor da ação judicial são lançados na galeria de águas pluviais. A decisão foi tomada pela 10ª. Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Esse tipo de cobrança acontece com frequência, é feito com base no volume de água consumida e é mais do que ilegal – é indecente. Outros usuários podem e devem acionar a empresa para reaver valores pagos indevidamente à concessionária dos serviços, no Rio de Janeiro e em outros estados. “Regularmente citada, a ré não apresentou contestação. (…) A conduta da empresa que sequer recolhe o esgoto e deixa de tratá-lo adequadamente, não justifica a cobrança da tarifa de esgoto. Com efeito, a pratica adotada, ilegalmente chamada de ‘serviço prestado’ agride violentamente o meio ambiente, vez que não há preocupação quanto ao seu tratamento ecológico. (…) Não pode o Poder Judiciário incentivar a prática antiecológica das empresas concessionárias. Permitindo a abusiva cobrança pelo serviço de esgoto, sem haver qualquer tratamento. O fato é que posição contrária incentivará a necessária implantação do tratamento de esgoto.” Em sua decisão, a desembargadora relatora da Apelação Cível no 2009.001.34891, Marília de Castro Neves Vieira, cita súmulas de processos anteriores em que é mencionada a “inexistência de estação de tratamento sanitário, existência apenas de serviço de coleta, inadmissibilidade da cobrança da tarifa por serviços não prestados, enriquecimento sem causa”, e por aí afora. Agora, resta saber como o mesmo tribunal julgaria ações similares dos moradores dos bairros da Glória até o Leblon, que são atendidos por rede de coleta que leva os esgotos para o mar sem qualquer tratamento. O mesmo vale para todo o sistema de coleta da Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes, em particular depois da farsa da reinauguração de uma estação de tratamento que nada trata, pois só faz a remoção de sólidos grosseiros através de um mero sistema de gradeamento. Saem os OBs, fica o cocô, que é lançado sem real tratamento no mar.

(…) A conduta da empresa que sequer recolhe o esgoto e deixa de tratá-lo adequadamente, não justifica a cobrança da tarifa de esgoto. Com efeito, a pratica adotada, ilegalmente chamada de ‘serviço prestado’ agride violentamente o meio ambiente, vez que não há preocupação quanto ao seu tratamento ecológico (…)

Uma chuva de processos solicitando a restituição de valores cobrados pelo tratamento requereria, apenas, uma auditoria simplificada na “estação de tratamento”, já que a observação a olho nu diria se os equipamentos eletro-mecânicos que fazem ou fariam o tratamento foram ou não instalados. Com a palavra, o Ministério Público que atua na área ambiental e/ou na área de defesa do consumidor. Riscos de transmissão de doenças não há, mas o mar fica um bocado feio, o que é ainda pior no caso de uma cidade que pretende continuar a receber turistas, além de jogos olímpicos e a Copa do Mundo de Futebol! Neste caso, a imprensa que cobriu o evento foi enganada de maneira tão fácil quanto grosseira. E os usuários foram tratados como “eleitores” otários. Pode-se caracterizar um caso de propaganda enganosa? *** Para uma empresa que resolveu mudar o nome para “Nova CEDAE” e diz que pretende abrir o capital, essa condenação é um importante alerta para a CVM. A “Nova CEDAE” não conseguirá chegar à bolsa de valores! Entre outras coisas, por não ser sequer capaz de ter os poderes concedentes – os municípios – como centros de custos para fins do cálculo do retorno sobre o investimento ao fim de cada concessão. E tampouco tem informações sobre os níveis de depreciação de suas redes. fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Quem liga?

divulgação

Mineração está matando outro grande rio no Pará. por MAnuel dutra

A morte anunciada chegou: Adeus Tapajós, adeus encontro das águas, adeus praias, adeus Alter do Chão Manuel Dutra

Denúncia

6

Crescimento verde global

Investir em energia limpa cria mais oportunidades de emprego, aponta relatório Alter do Chão, em 2013. Ainda se via a cor natural do rio. E agora, turismo?

D

e nada adiantou mostrar, pedir, denunciar, publicar carta aberta ao governador do Estado, fazer abaixo-assinado, solicitar a interferência do vice-governador que nasceu às margens do Tapajós, prefeitos, vereadores, deputados. Até mesmo parte da sociedade da região Oeste do Pará parece ter imaginado que isso nunca aconteceria, aliás, que isso nunca se repetiria, como se verificou há quase três décadas: a contaminação de mais de 700 quilômetros de extensão do Rio Tapajós e de seus principais afluentes chegou à sua foz, diante de Santarém. E agora, como ficará a nascente indústria do turismo que hoje emprega milhares de pessoas ao longo do rio entre Santarém e Itaituba? E a saúde pública, ameaçada pela contaminação dos cardumes por metilmercúrio? E a economia, de modo geral, do Oeste do Estado? E as decantadas belezas daquela região, que atrai os próprios moradores e visitantes de muitas outras partes do Brasil e do exterior? Talvez ainda agora, hoje, alguém haverá de negar a realidade que está aí diante dos olhos: a poluição por barro, mercúrio, cianeto, sabões, detergentes, graxas e combustíveis tudo isso está agora chegando à frente de Santarém, matando o o encontro das águas e fazendo desaparecer a coloração verde/azulada cuja beleza sempre foi uma das características da foz do Tapajós, onde o grande rio deságua no Amazonas. Hoje de manhã, o engenheiro agrônomo Nilson Vieira, uma voz quase solitária a mostrar a devastação das fontes de vida e beleza do Oeste do Pará, em sua página do Facebook, escreveu o que segue: “As duas primeiras imagens foram mostram o Rio Tapajós com águas sem as cores verde-azuladas que lhe são características. As duas outras foram feitas em um passado bem recente, em agosto e novembro de 2014, apresentando cores bem típicas. Segundo moradores das margens do Tapajós, isso não resulta de um fenômeno natural, sendo consequência da atividade garimpeira no leito do Tapajós e de seus afluentes. Pelo jeito, a mistura de barro, lama e metais pesados chegou à foz do nosso lindo rio azul. E agora, José?” fonte: santaremdadepressao.blogspot.com.br

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

M

elhorar o investimento em energia limpa cria mais oportunidades de emprego. A conclusão consta de um relatório lançado no ano passado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi) e o Instituto Global de Crescimento Verde (GGGI). O relatório Crescimento Verde Global: Investimento Industrial em Energia Limpa e Expansão de Oportunidades de Emprego fornece evidências de que substituir os investimentos da indústria de energia convencional baseada em combustíveis fósseis para uma que aposta na energia limpa provoca ganhos evidentes na geração de emprego. O documento, apresentado no Fórum de Energia em Viena de 2015, afirma que das 45 milhões de toneladas mundiais de gases de efeito estufa emitidos em 2010, cerca de 82% foram gerados por fontes de base energética. “Progressos significativos já foram realizados para superar a, até então, convencional sabedoria de que tomar medidas para reduzir os gases de efeito estufa era incompatível com o crescimento econômico”, destacou o diretor-geral do GGGI, Yvo de Boer.” fonte:ecoD

leia o relatório em: http://gggi.org/ wp-content/uploads/2012/10/Global_ Green_Growth_Clean-Energy_Flyer.pdf


Ceará possui a primeira usina de ondas

C

onsiderado uma fonte estratégica para todo o mundo e, principalmente, para o Brasil, o mar vem chamando a atenção de especialistas em energia, que já testam e implantam algumas alternativas de geração, como a usina de ondas. Localizada no quebra-mar do Porto de Pecém, a 60km de Fortaleza, a usina de ondas é a primeira na América Latina responsável pela geração de energia elétrica por meio do movimento das ondas do mar. Com tecnologia 100% nacional, a estimativa é de que o equipamento de baixo impacto ambiental esteja completamente pronto para funcionar até o ano de 2020. O projeto dos pesquisadores da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é financiado pela Tractebel Energia, dentro do programa de P&D da Aneel, e conta com apoio do Governo do Estado do Ceará. O custo estimado é de R$ 18 milhões. Deverão ser gerados 100 quilowatts (KW) para o abastecimento de energia do principal porto cearense. Ou seja, é possível abastecer cerca de 60 famílias. Entenda o funcionamento A Usina de Ondas traz como principal inovação a construção em módulos, o que permite a ampliação da capacidade. Cada módulo é formado por um flutuador, um braço mecânico e uma bomba conectada a um circuito de água doce. A medida que as ondas passam, os flutuadores sobem e descem, o que aciona bombas hidráulicas, que fazem com que a água doce contida em um circuito fechado, no qual não há troca de líquido com o ambiente, circule em um local de alta pressão. Essa água que sofre grande pressão vai para um acumulador, que tem água e ar comprimidos em uma câmara hiperbárica. Além das ondas, o mar oferece a possibilidade de geração de energia impulsionada pela movimentação

Com orçamento estimado em R$ 18 milhões, o projeto já gera energia em modo experimental na região Coppe UFRj

da América Latina

das marés. De acordo com estudos, o Brasil tem condições de explorar todas essas fontes. Estima-se que os 8 mil quilômetros de extensão litoral no Brasil podem receber usinas de ondas suficientes para gerar 87 gigawatts. Desse total, 20% seriam convertidos em energia elétrica, o que equivale a aproximadamente 17% da capacidade total instalada no País. fonte: pensamentoverde.com.br

Confira o vídeo do projeto, divulgado pela Coppe UFRJ: https://www.youtube.com/ watch?v=EEmM6Qxnd_w

O objetivo da campanha é conscientizar o maior número possível de pessoas para o fato de que é errado massacrar os animais para comer suas carcaças. Existe muita comida boa e saudável no mundo, sem precisar comer a carne dos animais. A estratégia de Divulgação da Campanha, que consiste em colocar nas mãos de 1 milhão de pessoas uma cópia do DVD “Paz e Amor aos Animais”, pois em tal DVD consta um panorama geral da barbaridade que é praticada diariamente contra os indefesos animais e que vai tocar muitos corações sensíveis ao problema. Para participar da Campanha basta enviar um e-mail para: contato@servegano.com.br informando seu nome e endereço completo que nós enviaremos sem nenhum custo uma caixa com 50 ou 100 DVDs para serem distribuídos gratuitamente.

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

Energia

7


Jesús Gorriti / flickr cc 2.0

animais

8

A era da

carne por MARTÍN CAPARRÓS

A

carne se tornou, de repente, ainda mais fraca. Já era atacada por vários lados e agora, subitamente, veio o golpe ardiloso: causa câncer. Sabemos disso, tentamos ignorá-lo: viver causa muito câncer e essas vidas do século XXI produzem principalmente paranoicos, cidadãos tão satisfeitos com essas vidas, tão aborrecidos com essas vidas que vivem para preserválas. Para tanto se entrincheiram em si mesmos — porque tudo o que vem de fora pode ser perigoso: fumaças, sais, açúcares, hidratos, gorduras, várias drogas, corpos estranhos ou mesmo conhecidos. E agora, claro, a carne cancerígena. Dizem que, no início, a carne fez os homens: que aquelas animaizinhos carniceiros que fomos há três milhões de anos desenvolveram suas mentes graças às gorduras e proteínas animais que comiam quando encontravam um cadáver não decomposto. Assim foram melhorando, aprenderam a matar eles mesmos e melhoraram mais; descobriram o fogo, cozinharam fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

O consumo de animais é um luxo recente para a humanidade. Talvez o alerta da OMS seja o início do fim dessa época

A carne é um estandarte e é uma mensagem: que este planeta só pode ser usado assim se bilhões se resignarem a usá-lo muito menos

e, lentamente, se fizeram homens e mulheres. Comiam a carne que caçavam e frutas que coletavam até que, há poucos dias, alguém percebeu que, se enterrasse uma semente conseguiria uma planta e o mundo foi se tornando outro, este: surgiram a agricultura, as cidades, os reis, novos deuses, a roda, os metais, milhões de pessoas, as cáries, as classes, a riqueza e suas diversas injustiças. A revolução neolítica mudou tudo e também a alimentação: desde então os humanos – exceto, é claro, os ricos e famosos – passaram a comer principalmente algum cereal, tubérculo ou verdura, ocasionalmente acompanhados por um pedacinho ou dois de alguma carne. E assim foi, durante dez mil anos, até que, algumas décadas atrás, as sociedades mais ricas do planeta entraram na Era da Carne. Hoje nos parece normal, mas é muito estranho: um bife com batatas, salsichas com purê, frango com arroz, proteína animal com algum vegetal como acompanhamento é uma inversão da ordem histórica, uma enorme mudança cultural – e nem sequer pensamos nisso. E pensamos ainda menos no que isso significa como gesto econômico e social. Não digam a ninguém o que está dizendo um argentino: comer um bife/ chuleta/filé, um grande pedaço de carne, é uma das formas mais eficazes de validar e aproveitar um mundo injusto. Consumir animais é um luxo: uma forma muito clara de concentração da riqueza. A carne


9

* Escritor e jornalista argentino e autor de Hambre (Anagrama)

Uso de animais para transportar carga e gente

é proibido no Rio Montagem sobre foto de Rui Ornelas / flickr cc 2.0

acumula recursos que poderiam ser compartilhados: são necessárias quatro calorias vegetais para produzir uma caloria de carne de frango; seis para produzir uma de porco; dez calorias vegetais para produzir uma caloria de vaca ou de cordeiro. A mesma coisa acontece com a água: são necessários 1.500 litros para produzir um quilo de milho, 15.000 para um quilo de carne de vaca. Isto é, quando alguém come carne se apropria de recursos que, compartilhados, seriam suficientes para cinco, oito, dez pessoas. Comer carne é estabelecer uma desigualdade brutal: sou eu quem pode engolir os recursos de que vocês precisam. A carne é um estandarte e é uma mensagem: que este planeta só pode ser usado assim se bilhões de pessoas se resignarem a usá-lo muito menos. Se todos quiserem usá-lo igualmente não pode funcionar: a exclusão é condição necessária – e nunca suficiente. Cada vez mais pessoas se empurram para sentar-se à mesa das carnes – os chineses, por exemplo, que há 20 anos consumiam cinco quilos por pessoa por ano, e agora mais de 50 – porque comer carne te define como um predador bemsucedido, um vencedor. Nas últimas décadas, o consumo de carne aumentou o dobro da população mundial. Ao redor de 1950, o planeta produzia 50 milhões de toneladas de carne por ano; agora, quase seis vezes mais — e a previsão é de que volte a dobrar em 2030. Enquanto isso, um bom terço da população mundial continua comendo como sempre: bilhões de pessoas não provam a carne quase nunca, a metade da comida que a humanidade consome diariamente é o arroz, e um quarto mais, trigo e milho. E surgem rachaduras no império da carne. Primeiro foi o imperativo da saúde: quando nos disseram que o colesterol da carne nos enlameava o corpo. E agora, nos bairros mais cool das cidades ricas, cada vez mais senhoras e senhores rejeitam a carne por várias convicções: não querem comer cadáveres, não querem ser responsáveis por essas mortes, não querem exigir assim de seus corpos, eles não querem. Chove, agora, no molhado: a ameaça de câncer. Até chegar a impossibilidade mais pura e dura: tantos quererão comer seu quinhão de carne que o planeta, esgotado, dirá basta. Vai demorar: o comércio mundial de alimentos está organizado para concentrar os recursos em benefício de uns poucos, poderosos interesses defenderão seus interesses. Mas em algum momento, dentro de décadas, um século, os historiadores começarão a olhar para trás e falarão sobre estes tempos – um lapso breve, um suspiro na história – como A Era da Carne. Que terá, então, terminado para sempre.

V

ocê provavelmente já viu pessoas andando de carroça pelas ruas ou, quem sabe, até foi transportado em uma dessas. A prática vem de uma tradição antiga, época em que ainda não existiam outros meios de transporte e os animais eram usados para carregar pessoas e cargas. No entanto, ainda hoje, apesar dos avanços em termos de meios de transportes, animais continuam a ser explorados para o uso de tração de veículos. Por isto, foi sancionada no dia 8 de janeiro, pelo governador Luiz Fernando Pezão, a Lei 7.194/16, que proíbe o uso de animais de tração para transporte de materiais, cargas ou pessoas em charretes, carroças e demais materiais usados para tração no Estado do Rio. A norma não se aplica aos animais utilizados em áreas rurais e turísticas. De acordo com o texto, o poder público é obrigado, através de seus órgãos competentes, a recolher os animais utilizados em transportes de cargas, materiais ou pessoas, atividades caracterizadas como maus tratos. A nova lei já está em vigor e, ao ser constatado o crime, qualquer cidadão poderá comunicar aos órgãos competentes e de proteção animal. O projeto foi aprovado por unanimidade e em regime de urgência pela Assembleia Legislativa. Quem for pego em flagrante descumprindo a medida poderá ser indiciado e penalizado, de acordo com as leis vigentes relacionadas a maus tratos. O animal será recolhido e levado à Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa). Sabemos que ainda há muito o que ser feito pelos animais, mas pelo menos já é um avanço, né? Fonte: http://petchannel.com.br

Fonte: http://brasil.elpais.com fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Geração Y: “O jovem de hoje acha que a vida

é uma festa openbar” por carmadélio

D

iretor do laboratório de inovação e empreendedorismo e sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, Ademar Bueno é um professor universitário diferente. Ele dá aulas, mas também desenvolve projetos paralelos com os jovens para que empreendam. Atualmente,está desenvolvendo uma série de mini-documentários sobre o Movimento Y, que fala da geração conhecida pela mesma consoante. Seu papel não é tanto o de transmitir o conhecimento na forma tradicional das aulas, mas sim de orientar e ajudar o aluno a desenvolver-se na profissão escolhida através do coaching, atividade que exerce há 18 anos. A Geração Y é conhecida pelos jovens de classe média que às vezes nem estudam, nem trabalham. Também por aqueles que não amadurecem. Sem contar os que ficam na casa dos pais até os 30 ou mais. De onde surgiu a ideia de fazer um documentário sobre eles? Ademar Bueno: Eu tenho muito contato com os alunos na Universidade e principalmente com os que saem da faculdade. E eu escuto deles que ao invés de ter certeza do que querem fazer, saem mais perdidos do que quando entraram. Essa geração recebeu as maiores oportunidades da história mas não tem propósito e sai ao mercado de trabalho sem conseguir alinhar estudo com atuação profissional. Esses jovens entraram na faculdade entendendo que o Brasil é a bola da vez, não o país do futuro, como na geração anterior. Então eles pensavam que seria fácil. E a situação econômica reforçou a visão educacional que os pais passaram aos filhos. O que eu quero com os vídeos é trabalhar isso em várias esferas. Quero criar o Movimento Y para que eles possam alinhar sonhos, valores e formação, porque os empregadores e educadores não estão conseguindo ajudá-los neste sentido, porque são de gerações diferentes. E, até o momento, qual é o diagnóstico? Percebemos que eles receberam tudo pronto. É uma geração cujos pais conseguiram uma série de conquistas, onde ambos trabalhavam e, em alguns casos, tentam suprir essa ausência ofertando benefícios materiais e financeiros. Principalmente para que esses jovens não precisassem passar pelas necessidades que eles passaram. É uma geração que não tem experiência profissional nem de vida. O grande desafio da vida deles é passar no vestibular. E ele acha que seguindo o roteiro de enfevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

A Geração Y é conhecida pelos jovens de classe média que às vezes nem estudam, nem trabalham. Também por aqueles que não amadurecem. Sem contar os que ficam na casa dos pais até os 30 ou mais

trar na faculdade e conseguir um estágio automaticamente resulta em êxito profissional. Só que quando ele chega ao mercado ele encontra um chefe diferente. É a primeira vez que ele vai ouvir não, que terá que confrontar ideias. E ele não tem isso desenvolvido, o que chamamos de senso de frustração. P. E eles têm consciência disso? A justificativa que ouvimos deles é “a empresa não está alinhada com aquilo que eu imaginava”. Só que eles não sabem que chegando no outro emprego vai acontecer a mesma coisa. E isso é o que as empresas reclamam, de não conseguir atender essa geração nem encaixá-la nos perfis ou vagas que possuem. E como se conserta isso? Porque se ele sai preparado e se frustra, e as empresas também se decepcionam com ele, é uma situação complicada… O que estamos tentando fazer é mudar o processo motivacional, porque ele está deturpado. Antes de criar um desejo esse jovem já recebe uma recompensa. São crianças de 12 anos ou menos que ganham um iPhone sem saber a utilidade daquilo. A ideia é simples: você chama o jovem para um desafio, não vale uma disciplina obrigatória, ele precisa estar aberto a isso. Depois, explicamos que ele precisa participar do processo da criação de um projeto. Só que descontruímos o projeto. E quem vai determinar o desafio, o desejo, o objetivo final, é ele. Nosso papel é orientar. E funciona? Em 1996 desenvolvi um projeto nacional para dar sentido de vida para os jovens universitários através do terceiro setor. Funcionou muito bem, surgiram ótimas ideias de empresas e sustentabilidade. Estamos começando agora uma turma de empreendedores políticos para um país sustentável, a RAPS. Tivemos

dollar photo club

matéria de capa

10


171 inscrições de jovens de 20 estados do Brasil. De diversas classes sociais, um da periferia do Rio, outro que estuda com bolsa em Harvard e outro que tem um projeto social na Cidade Tiradentes. São jovens que querem achar um sentido para sua vida por meio de uma atuação político-institucional. Se você dá oportunidade e orienta, o resultado é maravilhoso. Existe essa oportunidade na área de empreendedorismo, sustentabilidade e política. Se esta geração está tão bem preparada, fala línguas e são conectados, é uma grande oportunidade oferecer um sentido bacana para eles dentro daquilo que o país precisa, que são essas três áreas. Será que convém esperar a que cheguem na Universidade para mudar essa mentalidade? Eu convivo com esse público e a sensação que eu tenho é que a maioria dos jovens desta geração acham que vieram para o mundo pensando que é uma festa openbar. Que eles merecem uma festa, receber do bom e do melhor. Só que não pensam que alguém precisa colocar a bebida para gelar, organizar e arrumar a bagunça depois. Eles precisam ralar, arriscar, aprender, refazer, não desistir, como sempre foi, seja na Universidade ou na vida. Não é porque nasceram com a internet que o mundo vai mudar por conta disso. Existe um período de ajuste geracional que esse pessoal terá que encarar e isso começa em casa. E o papel dos pais? Mudou? Acho que grande parte da existência da geração Y está relacionada ao novo modelo de casamento e relações familiares. Ninguém precisa assumir nada com ninguém para ter sexo, nem namorar, muito menos casar. A relação social do casamento está totalmente diferente e isso influencia essa geração porque eles crescem com a liberdade de fazer o que querem, na hora que querem. Antes morar com os pais era um sinal de fracasso. Eles agora assumem que não têm a necessidade de casar, porque seria um compromisso financeiro para constituir família. É uma questão de imaturidade, então O fim da adolescência e o início da vida adulta sempre foi entendido que terminava aos 21 anos. As recentes pesquisas de neurociência indicam que agora a adolescência acaba entre 26 e 28 anos. Isso significa que antes disso eles não têm o cérebro definido e as decisões de livre arbítrio também não estão desenvolvidas. Já se sabe que as crianças que cresceram jogando videogame têm um desenho cerebral diferente, mas a imaturidade também faz parte. É por conta dela que eles têm medo de encarar desafios, de querer tudo pronto. Eles optam por uma oferta de conforto por mais tempo até entenderem que precisam sair e encarar a vida.

Akatu e Febraban lançam aplicativos e hotsite que auxiliam consumo

consciente Versões dos apps Nossa Água e Nosso Transporte para iOS foram lançadas

O

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o Instituto Akatu lançaram a versão para aparelhos smartphones iOS dos aplicativos Nossa Água e Nosso Transporte, e o hotsite da iniciativa Nosso Consumo, que detalha os projetos dos apps, traz depoimentos de usuários, novidades, disponibiliza os downloads das ferramentas e está disponível no site www.nossoconsumo.meubolsoemdia.com.br. O projeto tem o objetivo de conscientizar a população sobre como o desperdício, o consumo exagerado e a falta de controle impactam negativamente o indivíduo, seu bolso, a sociedade e o planeta. Os apps Nossa Água e Nosso Transporte fazem parte do programa de educação financeira da Febraban, por meio do portal Meu Bolso em Dia, que traz informações didáticas sobre finanças pessoais, além de conteúdo diversificado sobre o consumo consciente, elaborado em parceria com o Instituto Akatu. Os outros dois aplicativos lançados pela Federação, também em parceria com o Akatu, para smartphones na versão Android são: Nossa Energia e Nossa Alimentação, que serão lancados em breve para aparelhos na versão iOS. O app Nossa Água foi idealizado para sensibilizar os indivíduos e seus familiares quanto aos impactos sociais e ambientais que um consumo desordenado pode causar. Além de dicas para a economia de água, o app oferece uma calculadora, que contabiliza em litros o consumo de água conforme o tempo de duração do banho. Ainda é possível comparar se houve economia ou desperdício de água em relação aos banhos anteriores e compartilhar o resultado nas redes sociais. Jogo, calculadora e catalisador Outra utilidade do app está no Jogo O Encanador, em que o usuário deve emendar vazamentos nos canos até que todas as extremidades estejam ligadas para a água fluir livremente pela tubulação. Em cada fase do jogo, o participante recebe uma dica de economia e pode optar por ler mais sobre o assunto e fazer compartilhamentos nas redes sociais. O aplicativo Nosso Transporte tem o objetivo de auxiliar a população a fazer escolhas mais conscientes na locomoção pela cidade. A ferramenta oferece dicas de transporte, economia, saúde e meio ambiente. O app conta com a Calculadora Transporte Consciente, que compara gastos financeiros, emissão de carbono e calorias gastas pelo usuário, caso ele escolha percorrer um determinado percurso de carro, transporte público, de bicicleta ou a pé. O aplicativo ainda conta com o Jogo Catalisador. Nele, o usuário precisa filtrar todas as fumaças lançadas na atmosfera. O objetivo do game é despertar a consciência do jogador sobre o quanto a atmosfera é poluída diariamente pelos veículos. Fonte: ecycle.com.br

Fonte: blog.comshalom.org fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

sustentabilidade

11


Cidadania Ambiental

12

Contra a expansão do carvão mineral como

fonte de energia no Brasil por equipe eCycle

O

fenômeno do crescimento econômico chinês teve um fator determinante: a utilização intensiva do carvão como fonte de energia elétrica. O uso do carvão gera grande preocupação, principalmente por conta da poluição gerada e do alto índice de emissões. No fim de dezembro de 2015 pelo menos dez cidades e uma província da China estavam em “alerta vermelho” devido a poluição do ar. Mais de 70% da eletricidade chinesa é produzida a partir do carvão. Segundo a revista Exame, Pequim pretende diminuir o consumo de carvão, um dos maiores poluentes, para menos de 65% de sua demanda energética até 2017. Mas o que o Brasil tem a ver com isso? Nos últimos anos, o Brasil tem aberto um perigoso espaço para a utilização de usinas termelétricas movidas a carvão. Após a reativação de usinas e aprovação da construção de novas, como a Pampa Sul, vencedora do leilão A-5 2014, fica evidente a necessidade de frear esse retrocesso. Na época, o portal eCycle já alertava sobre o perigo da expansão do carvão mineral como fonte energética no Brasil e da importância de excluir projetos que valorizassem essa fonte de energia. Duas grandes empresas chinesas, a Power China Sepco e a Hebi Company Energy, em parceria com empresários gaúchos, miram a construção de usinas térmicas movidas a carvão no Brasil. Um projeto avaliado em R$ 4 bilhões, batizado de Ouro Negro, prevê a construção de uma usina capaz de gerar 600 megawatts (MW). Ela seria construída no Rio Grande do Sul entre os municípios de Pedras Altas e Candiota, na fronteira com o Uruguai. Com essa capacidade, ela se tornaria a segunda maior usina a carvão do País, atrás apenas da térmica de Pecém, no Ceará, que possui 720 MW. Os empresários desejam que o projeto participe do leilão de energia A-5 2016, feito pelo governo federal para contratar a construção de novas usinas. O empreendimento já foi aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas ainda necessita de uma licença ambiental prévia que aponte sua viabilidade. O pedido de licença já foi protocolado no Ibama. O órgão pediu informações complementares e marcou para janeiro de 2016 audiências públicas para discutir o projeto com a população local. O leilão O leilão A-5 2016, promovido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME), irá definir as empresas contratadas para entregar energia elétrica ao mercado a partir de 1º de janeiro de 2021. Mais de mil projetos se inscreveram para o leilão. Apesar da maioria das iniciativas priorizarem as fontes renováveis, inscrições baseadas em extração de energia não renováveis, como termelétricas movidas a gás natural e carvão mineral, também foram realizadas. Ao todo, foram 47.618 MW inscritos em projetos eólicos, termelétricas a gás natural, biomassa, biogás e carvão, hidrelétricas, e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Os projetos de fonte eólica são responsáveis por 21.232 MW do total cadastrado e os sete projetos de termelétricas a carvão correspondem a 3.056 MW. Marcado para ocorrer no dia 5 de fevereiro de 2016, o leilão foi adiado pelo MME para 31 de março. A data, publicada na Portaria MME nº 542, foi postergada a pedido dos interessados. Além da mudança na data do leilão, foram definidos novos prazos para entrega de documentação pelos interessados na EPE. fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

Termelétricas a carvão para a geração de energia trazem diversos riscos socioambientais e mesmo assim estão se expandindo no Brasil. Posicionese para frear o uso dessa matriz energética: atue pela exclusão dessa fonte não renovável do leilão A-5/2016 O carvão mineral é uma fonte não renovável de origem fóssil e uma das formas de produção de energia mais agressivas ao meio ambiente. Ele foi um dos pilares da Primeira Revolução Industrial e uma das primeiras fontes de energia utilizada em larga escala pelo homem. O carvão mineral é majotariamente empregado na geração de energia por meio de usinas termelétricas e também na aplicação industrial para a geração de calor para processos de produção (secagem de produtos, fabricação de vidros entre outros). Existem tecnologias que tornam as novas usinas mais eficientes, como a gaseificação, que consome menos carvão para gerar a mesma energia, entre outros processos tecnológicos. Contudo, segundo a Aneel, o método tradicional de queima para a produção de vapor continua sendo o mais utilizado. O carvão brasileiro possui baixo potencial calorífico, ou seja, é de baixa qualidade. Ele não admite beneficiamento nem transporte, devido ao elevado teor de impurezas. Com isso, sua utilização é feita sem beneficiamento e na boca da mina. Mesmo que a extração e a produção de energia gerem benefícios econômicos diretos e indiretos, não dá para negar o forte impacto socioambiental em todas as etapas de produção e consumo. A ocupação do solo para a exploração de jazidas interfere na vida da população local, nos recursos hídricos, na flora e na fauna locais. Logo na extração, já há a degradação de áreas de mineração, com barulho, poeira e erosão. O efeito mais severo é o volume de emissões de gases decorrentes da combustão do carvão. O carvão é responsável por, em média, 30% e 35% do total de emissões do principal agente do efeito estufa: o CO2. As usinas termelétricas movidas a carvão mineral são intensamente mais poluentes que as outras opções, liberam óxido de nitrogênio, enxofre, mercúrio metálico.


13

Miriam Zomer

7.500 MW. Esses dados incluem termelétricas movidas a gás natural e carvão mineral. As térmicas são defendidas por integrantes do governo por garantirem uma geração de energia chamada de mais firme, ou seja, não dependem de fatores climáticos como chuvas, ventos ou incidência solar.

A expansão do carvão como fonte de energia no Brasil O carvão é um combustível do século XIV. Com a abundância de opções renováveis em nosso país e considerando os acordos mundiais que buscam a preservação ambiental, principalmente com relação ao efeito estufa e às mudanças climáticas, é difícil entender como esse tipo de projeto ainda seja considerado viável. Diferentemente de países como China e EUA, o Brasil não é um país onde o carvão é a principal fonte para a produção de energia elétrica. A maior parte de nossa energia é produzida por meio de usinas hidrelétricas. A utilização de carvão mineral para a produção de energia foi deixada de lado e, durante nove anos, nenhum projeto com esse insumo foi contratado, justamente por conta de seu alto impacto ambiental. Contudo, em novembro de 2014, a Tractebel Energia, empresa do grupo GDF Suez, venceu o leilão A-5 para a criação da Usina Pampa Sul. A empresa chinesa Sdepci é a responsável pela construção da usina em Candiota (RS). A previsão é de que a Pampa Sul entre em funcionamento em 2019. O uso de termelétricas movidas a óleo diesel e carvão mineral cresceu diante da seca. O carvão é considerado uma fonte estratégica a ser acionada quando os níveis de água das barragens estão baixos e há a redução da oferta de energia hidroelétrica. Esse processo aconteceu em 2013, quando diversas usinas termoelétricas paralisadas foram reativadas. O Plano Decenal de Expansão de Energia 2023 prevê a expansão do parque gerador com termelétricas entre os anos de 2019 e 2023, totalizando

Alternativas Instituições financeiras globais, como o Banco Mundial, já sinalizaram o corte de financiamentos e subsídios ao uso de combustíveis responsáveis pelo aquecimento global. Investidores privados elevaram investimentos em energia solar, eólica e biomassa em todo o mundo. Enquanto isso, o governo federal brasileiro destina grande parte de recursos à geração de energia com combustíveis fósseis - as térmicas a carvão estão de volta nos leilões oficiais para geração de energia e mais de 68% dos investimentos previstos no Plano Decenal de Energia 2021 terão como destino o setor de petróleo e gás natural. Atualmente, o Brasil é fortemente dependente de hidroelétricas para a produção de energia. Em consequência disso, em períodos de instabilidade da matriz, o abastecimento se encontra comprometido. Contudo, ao diversificar as matrizes, ganha-se no quesito complementaridade. Pois, mesmo que a energia eólica e a solar também tenham intermitência, quando usadas em conjunto, elas são seguras. Ou seja, se estivermos em um período com baixa incidências de chuvas para a geração hidrelétrica, ainda haverá correntes de ar para a produção eólica, haverá Sol para a geração solar, matéria orgânica para a produção a partir de biomassa, e assim por diante. É, no mínimo, improvável, pra não dizer impossível, que todas falhem ao mesmo tempo para justificar o uso de carvão para garantir a segurança energética. Mesmo dentre as matrizes energéticas não renováveis, o carvão é a pior opção. Para fazer a transição para um modelo de economia de baixo carbono, é possível a utilização do gás natural. Ele é um combustível fóssil que apresenta uma mistura de hidrocarbonetos leves. Apesar dos impactos ambientais negativos, é a fonte não renovável que menos prejudica o meio ambiente e se mostra tão competitivo quanto o petróleo e o carvão. O Brasil encontra-se em uma posição privilegiada quanto à oferta de gás natural devido as recentes descobertas na área do pré-sal. O livro “Gás Natural e Transição para uma Economia de Baixo Carbono” escrito pelos professores Fernando M. R. Marques, concluinte de programa de pós-doutoramento na FEA/USP, e Sergio Luiz Pereira, livre-docente da Escola Politécnica da USP, dá luz a essa questão. Segundo os autores, o gás natural emite menos poluentes e seu uso poderia evitar um colapso no abastecimento até que as fontes renováveis se desenvolvam e ganhem a escala necessária para excluir fontes não renováveis. A expansão das termelétricas coloca em xeque o discurso ufanista do governo de matriz energética mais sustentável do mundo industrializado e representa um imenso retrocesso. Os custos ambientais se mais uma usina termelétrica a carvão for vencedora do leilão A-5 são imensos. A utilização do carvão como matriz energética, em um país que traça um rumo para alternativas energéticas renováveis, é andar na contramão do que foi feito e é uma aposta imoral para a história de nosso país. Apesar da insegurança atual e o receio de uma possível crise energética, é essencial que a sociedade civil se informe, reflita, opine e atue para evitar medidas como essa que só levam em conta vantagens e interesses econômicos de curto prazo. Não podemos ser irresponsáveis quanto aos custos sociais e ambientais implícitos no uso do carvão mineral. Se você também é contrário à contratação de usinas termelétricas a carvão, exija a exclusão dessas propostas do referido leilão, que será realizado em 31 de março de 2016. Assine a petição online, endereçada a membros do governo federal, que solicita a exclusão da participação de projetos de termelétricas que utilizam carvão do leilão A-5/2016. Fonte: ecycle.com.br

Assine a petição em: http://bit.ly/1PDLfO6.amazonas/ fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Mudanças Climáticas

14

Agora é oficial: 2015 foi o ano

mais quente da história por CÍNTYA FEITOSA

T

rês agências governamentais dos EUA e do Reino Unido confirmaram de forma independente em janeiro a notícia que já era aguardada desde os últimos meses do ano passado: 2015 desbancou 2014 e foi o ano mais quente desde que os registros globais de temperatura começaram, em 1880. Segundo a Nasa (agência espacial dos EUA) e a Noaa (Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, também dos EUA), o ano passado teve uma média de temperatura 0,13oC mais alta do que 2014. O Met Office, serviço de meteorologia do Reino Unido, afirmou que a temperatura do ano ficou 0,75oC mais alta do que a média de 1961 a 1990. Todas as três agências apontaram – numa coincidência rara entre entidades que usam modelos e bases de dados diferentes – que o ano passado teve temperatura 1 grau Celsius mais alta do que a média pré-industrial. O ano que passou ficou marcado por eventos climáticos extremos em todo o mundo – seca e incêndios nos EUA, recordes de temperatura no verão de países europeus, onda de calor que deixou milhares de mortos na Índia, calor acima da média na Rússia, na China e na América do Sul, com algumas capitais brasileiras batendo recordes históricos de temperatura, ciclones extratropicais como o Patricia, inundações na Ásia, entre outros. A combinação das mudanças climáticas globais, causadas pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, e de um forte El Niño está provavelmente por trás do tamanho do recorde – a última vez que um recorde de alta de temperatura global foi batido com tanta folga foi justamente em 1998, outro ano de El Niño forte. O El Niño é um ciclo natural de aquecimento no Oceano Pacífico, que tem um impacto sobre o clima global, elevando os termômetros.

Combinação de El Niño e mudança climática fez temperaturas 0,13 grau mais altas que recorde de 2014 e 1 grau Celsius mais altas do que a média pré-industrial, confirmam agências Gavin Schmidt, diretor do Centro Goddard de Pesquisas Espaciais, diz, no entanto, que o recorde teria sido batido mesmo na ausência de um El Niño em 2015. “O ano de 2015 não começou com um El Niño”, afirmou o pesquisador. Segundo ele, o impacto do fenômeno na temperatura da superfície só é sentido seis meses mais tarde. Isso ajudaria a explicar as altíssimas temperaturas de outubro, novembro e dezembro, e permite também prever que 2016 será um ano ainda mais quente que 2015. Mas não explica o restante do ano passado. “O recorde que tivemos é apenas um sintoma da tendência de longo prazo”, afirmou. “E não temos nenhuma evidência de que a tendência de longo prazo esteja mudando nas últimas décadas.” Este século teve 15 dos 16 anos mais quentes.

Percentuais de temperatura dos territórios e oceanos (Dez/15) do NOAA’s National Centers for Environment Information Recorde de temperatura (quente) Muito mais quente que a média Mais quente que a média Próximo à média Mais frio que a média Muito mais frio que a média Recorde de temperatura (frio) fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Acordo do Clima Na COP21, a conferência do clima das Nações Unidas que ocorreu em Paris no fim de 2015, os países de todo o mundo concordaram em agir para limitar o aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus em relação à era pré-industrial, com o esforço de buscar um limite em 1,5ºC. O “teto” em 2 graus Celsius tem como base recomendações do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que alerta para a possibilidade de graves consequências das mudanças climáticas caso o mundo aqueça mais do que isso. Para cumprir a missão, o mundo inteiro deve adotar medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa, a um ritmo acelerado. Análises sobre as metas voluntárias de redução de emissões apresentadas pelos governos às Nações Unidas mostram que caminhamos para um planeta de 2,7ºC a 3,5ºC mais quente do que era antes da industrialização. Os cientistas da Nasa e da Noaa foram claros em dizer que os dados apresentados hoje não possibilitam a projeção para o futuro, apesar da já observada tendência de aquecimento nos últimos anos. Gavin Schmidt disse que “nada de especial aconteceu” com o que foi decidido na COP21 a partir dos números divulgados hoje. “Os dados servem para que os formuladores de políticas decidam o que fazer”, disse o pesquisador. “O importante para reverter a tendência de aquecimento é quão rápido vamos reduzir as emissões.” José Marengo ressalta que, mesmo que haja redução significativa de emissões, as regiões mais vulneráveis precisam estar preparadas. “Com as medidas de Paris estamos pensando no clima futuro. Para os impactos que já estamos vivendo no presente, temos que pensar em medidas de adaptação.”

Câmara rejeita alteração na lei do sistema de unidades de conservação da natureza Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

José Marengo, climatologista chefe de pesquisas do Cemaden (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), diz que muitos dos eventos climáticos vivenciados no Brasil no último ano, como inundações nas regiões Sul e Norte, calor no Centro-Oeste e seca no Sudeste e Nordeste, refletem os dados confirmados pelas agências internacionais. Segundo ele, o El Niño ainda deve atingir seu pico nos próximos meses, e os brasileiros continuarão a sentir seus efeitos. “Porém, não foi só o El Niño”, reforça o pesquisador. “O que estamos vivendo hoje é consequência de décadas de emissões de gases de efeito estufa. Os anos anteriores, que não tiveram El Niño, também foram mais quentes, não é mais atípico.”

Sarney Filho: além de ser tecnicamente incorreto, o projeto está evidentemente atrelado a interesses econômicos

A

Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável rejeitou proposta que modifica o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza prevendo novas regras para a criação de zonas de amortecimento e de corredores ecológicos. Por ter sido rejeitado pela única comissão de mérito a que foi distribuído, o Projeto de Lei 1299/15, do deputado Toninho Pinheiro (PP-MG), será arquivado. Autor do parecer vencedor, com voto pela rejeição, o deputado Sarney Filho (PV-MA) afirmou que, além de ser tecnicamente incorreto, o projeto está evidentemente atrelado a interesses econômicos. “Não se pode prejudicar um dos poucos instrumentos de que ainda dispomos para a proteção do meio ambiente e da espécie humana para atender interesses particulares”, avaliou Sarney Filho. Pelo texto do projeto, a definição dessas duas áreas deveria ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitiriam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados, conforme regulamento a ser editado. Ainda pelo texto rejeitado, o limite da zona de amortecimento seria de no máximo 2 mil metros. Para Sarney Filho, há casos em que dois mil metros são suficientes para garantir a integridade da unidade de conservação (UC). Em outros, segundo ele, há necessidade de uma área muito maior. “É, assim, impossível a padronização de unidades tão diversas, em biomas e regiões distintos”, conclui.” Fonte: câmara

leia íntegra da proposta em: http://www2.camara.leg.br/ proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1215821

Fonte: observatoriodoclima.eco.br fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

unidades de conservação

15


O zika tem a ver com a

mudança de clima Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

saúde

16

Aumento de temperaturas, das cidades a da população fizeram mosquito se espalhar e área de dengue triplicar no Brasil em uma década; vírus da microcefalia também pode se tornar comum por CÍNTYA FEITOSA

A

incidência do zika vírus pode ficar tão comum quanto os casos de dengue no Brasil. E os próximos anos podem trazer novas doenças do tipo, por um fator muito simples: o Brasil está um lugar melhor de viver para o mosquito Aedes aegypti. A associação de mudanças climáticas globais, ilhas de calor urbanas, aumento da população e más condições de saneamento forma o combo perfeito para a proliferação da praga. “O Aedes tomou conta do mundo”, diz o virologista Átila Iamarino, do Instituto de Biociências da USP. Ele explica que o inseto que ficou conhecido como “mosquito da dengue” pode portar diversos outros vírus aparentados com a dengue – os chamados flavivírus, que precisam de vetores como mosquitos e carrapatos. “Se o mosquito tem cada vez mais espaços para circular e está adaptado às cidades, o surgimento de outras doenças é questão de tempo”, alerta Iamarino. O zika tem esse nome por causa de uma floresta homônima em Uganda, onde foi descoberto na década de 1940. Sua forma de chegada ao Brasil ainda não é consenso entre os pesquisadores. A hipótese mais aceita é que o vírus tenha aportado por aqui durante a Copa do Mundo, quando ocorreu grande circulação de estrangeiros no Brasil. A Copa aconteceu no inverno, período em que, em tese, a circulação de mosquitos no Centro-Sul do país cai devido ao frio. O vírus pode ter incubado na população de mosquitos nesse período, para começar a infectar humanos após o fim da estação seca. “A dengue já está no país todo, e cresceu em grandes cidades onde antes era mais frio e agora

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

as temperaturas são mais altas”, diz Christovam Barcellos, pesquisador da Fiocruz. Ele afirma que, quanto mais calor, mais as doenças vão se espalhar. “O mosquito se reproduz mais rapidamente em locais de clima quente.” O pesquisador diz que a situação não deve ser controlada tão cedo e que a tendência do zika, assim como ocorreu com a dengue, é se espalhar pelo centro do Brasil. O mapa abaixo ajuda a entender por quê. Ele mostra que a área de transmissão de dengue no Brasil mais do que triplicou apenas entre 2001 e 2011, de 2 milhões de quilômetros quadrados para 7 milhões de quilômetros quadrados. O número de pessoas em risco dobrou, de 80 milhões para 160 milhões.

Boa Vista

Belém Manaus

Fortaleza Teresina

Natal Recife

Porto Velho

Salvador Cuiabá

Brasília Goiânia

Campo Grande

Campo Grande

Área de transmissão de dengue no Brasil, por ano Antes de 2002 2002-2005 2005-2009 2009-2012

Rio de Janeiro São Paulo Curitiba

Porto Alegre


Dados do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, por sua vez, ajudam a explicar o mapa. A maior parte do Brasil esquentou mais do que a média mundial no último século. O Nordeste, o centro do país e partes da Amazônia aqueceram de 1,2ºC a 1,6ºC desde 1960, em média. O número de noites quentes cresceu no país inteiro. Em alguns lugares, as temperaturas mínimas subiram 1,4ºC por década. Temperatura mínima é um parâmetro importante para o mosquito, porque o Aedes precisa de calor e água – e uma série de noites frias pode ser a diferença entre uma nova geração de insetos nascer ou não. De acordo com o Ministério da Saúde, já há registros do vírus zika em 19 das 27 unidades federativas do país. Ainda não há confirmação do número de casos. Já a dengue teve 1,6 milhão de registros em 2015, 62,2% deles na região Sudeste. O aumento do número de casos em relação a 2014 é de 178%. A febre chikungunya teve, em 2015, 20.661 registros, contra 3.657 no ano anterior. Os Estados Unidos e países europeus já emitiram alerta, aconselhando seus cidadãos a evitar viagens ao Brasil e outros países da América do Sul, além da América Central, pelo risco de contágio. Já há ocorrência de casos no Reino Unido – importados da América do Sul, de acordo com a imprensa local –, Estados Unidos, Espanha, Itália, México, entre outros. Um estudo publicado no periódico de saúde The Lancet alerta para o potencial de exportação da epidemia a partir do Brasil. A pesquisa mapeou os destinos finais dos 9,9 milhões de turistas estrangeiros que passaram por áreas de risco no país: 65% deles tinham como destino as Américas, 27% para a Europa e 5% para a Ásia. Os dados são alarmantes: cerca de 60% da população dos EUA, Itália e Argentina – alguns dos países com maior fluxo de turistas para o Brasil – vivem em áreas vulneráveis à transmissão sazonal da doença, considerando condições climáticas e ambientais favoráveis à proliferação do Aedes. Até 2007, menos de 20 casos de zika eram conhecidos em todo o mundo, na África e na Ásia. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), entre novembro de 2015 e janeiro de 2016, a transmissão local do vírus, os chamados casos autóctones, foi detectada em 14 novos países e territórios. Iamarino diz que mesmo que haja menos casos em países mais frios, o Aedes albopictus, outro tipo do mosquito, é mais resistente a essas condições climáticas. Controle do mosquito O consenso entre os pesquisadores ouvidos pelo Observatório do Clima é que a única forma de evitar epidemias é eliminar o mosquito. “O mosquito sempre foi portador dessas doenças. O problema é que ele se espalhou”, diz Margareth Capurro, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Em locais quentes e com condições sanitárias ruins – cidades secas em que há reservatórios domésticos de água para consumo, por exemplo –, o mosquito encontra o ambiente ideal para se reproduzir. Foi provavelmente o que aconteceu em São Paulo em 2014 e 2015, anos em que o número de casos de dengue foi alto mesmo com um verão muito seco, no qual a população estocou água. Mas a pesquisadora afirma que a adaptação do Aedes ao meio urbano tem facilitado a sua proliferação. “Eu já encontrei larva do mosquito em papel de bala em Porto Velho”, conta. Capurro diz que o controle do Aedes no Brasil deve considerar todas as alternativas – campanhas educativas, eliminação de focos, controle biológico, fumacê, armadilhas simples para o mosquito, mosquitos transgênicos –, mas que não adianta começar no verão, quando o mosquito já está em grande quantidade. “Tem que pensar no combate ao Aedes como uma guerra e usar todo o arsenal. Fonte: observatoriodoclima.eco.br

O virologista fala sobre as viagens do Aedes pelo mundo neste vídeo didático em seu canal no YouTube, o Nerdologia: https:// www.youtube.com/watch?v=pm3do0nEuuM

Tupinambah / flickr cc 2.0

17

Força bruta contra

o aedes Brasil permite a entrada à força em propriedades para lutar contra o zika por MARÍA R. SAHUQUILLO

O

Governo do Brasil reforça sua luta contra o zika vírus. A medida mais recente autoriza as equipes de fumigação a entrar em edifícios e casas abandonados para eliminar focos do vírus. O decreto provisório, publicado recentemente no Diário Oficial, afeta imóveis nos quais o proprietário não possa ser localizado durante dez dias, e nos quais o proprietário se negue a deixar a fumigação ser feita. A polícia pode colaborar com as equipes de saúde para que estas entrem nos domicílios. As equipes de especialistas e militares já visitaram 11 milhões de imóveis no Brasil, 22% do previsto pelo Ministério da Saúde, e encontraram focos do mosquito em 355.000. Em mais de 45.700 moradias, os proprietários se negaram a receber a fumigação, de acordo com a Agência Brasil. O Governo também anunciou a mobilização de 220.000 militares para ajudar na fumigação e informar a população das medidas para combater a epidemia. Segundo os especialistas, o zika vírus produz microcefalia, uma malformação fetal que desde outubro do ano passado pode ter afetado 3.448 bebês em todo o Brasil. O mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue, aproveita água parada, preferivelmente no interior das casas e na época de chuvas e calor (janeiro, fevereiro e março). Fonte: brasil.elpais.com

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Conhecendo para conservar: as baleias-de-bryde no Rio de Janeiro foto: Adelcio Junior

Artigo Científico

18

por Adriana Alves Costa de Araujo1 e Liliane Lodi2

D

esde os primórdios o homem realiza à atividade de caça à baleia. Durante grande parte da história, as baleias foram tidas como mais um recurso natural inesgotável, fonte de produtos valiosos para o conforto e progresso da humanidade (PALAZZO; FLORES, 1999). A partir do século XIX, com o desenvolvimento do canhãoarpão as baleias foram caçadas sistematicamente para fins comerciais. Ao longo dos anos a exploração comercial aumentou exponencialmente gerando um decréscimo no tamanho populacional de várias espécies e populações, que atingiram níveis extremamente baixos. No presente as baleias estão protegidas por leis que aboliram a caça em vários países, incluindo o Brasil. No entanto, outras ameaças contemporâneas foram surgindo à medida que a humanidade foi ocupando a costa e explorando os recursos marinhos de forma exponencial. A baleia-de-bryde (Balaenoptera edeni) apresenta uma distribuição circunglobal nas zonas tropicais e subtropicais. Trata-se de uma espécie parcialmente migratória raramente alcançando regiões temperadas frias e subpolares, pois não migra para as áreas de alta produtividade no verão como as outras espécies de baleias geralmente o fazem. Habita regiões costeiras de maior produtividade bem como as áreas oceânicas. No Brasil existem registros confirmados entre o Rio Grande do Sul e a Bahia, Paraíba e Maranhão (LODI; BOROBIA, 2013). No estado do Rio de Janeiro, B. edeni pode ser observada em áreas próximas da costa ou às ilhas costeiras, especialmente na primavera e verão que estão associadas à sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) que se aproxima da costa para reproduzir e que é um dos principais itens da sua dieta. Por esse motivo, a baleia-de-bryde também é conhecida popularmente como baleia-sardinheira. Essa espécie apresenta um estilo típico de natação, se deslocando com súbitas acelerações e mudança de direção em zigue-zague, tanto abaixo quanto acima da superfície (LODI; BOROBIA, 2013). De acordo Reilly et al. (2008) a baleia-de-bryde encontra-se incluída na categoria “Deficiente em Dados” segundo o critério de classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, Versão 2015.4). Pouco é conhecido no Brasil sobre seu padrão de distribuição e movimentos. O projeto de informação ambiental intitulado Conhecendo para conservar: As baleias-de-bryde fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

Desenho da baleia-de-bryde elaborado por um aluno do 4º ano do Colégio Rede MV1 – Icaraí

no Rio de Janeiro foi elaborado devido ao aumento das avistagens das baleias-de-bryde em águas costeiras do Rio de Janeiro e de Niterói nos últimos dez anos (LODI; TARDIN, 2014) e as ameaças potenciais as quais a espécie vem sofrendo tais como a poluição das águas da Baía de Guanabara e do Emissário Submarino de Ipanema, redes de espera colocadas em áreas onde as baleias se deslocam, risco de colisão com embarcações, distúrbios e molestamento provocando por embarcações e motos aquáticas (LODI; TARDIN, 2014). O projeto de Educação Ambiental não formal intitulado Conhecendo para conservar: As baleias-de-bryde no Rio de Janeiro reitera a importância da informação ambiental na interatividade, articulação e exercício da cidadania contribuindo para a formação de uma nova consciência, valores e cultura ambiental, pois quanto maior acesso a sociedade tiver as informações ambientais qualificadas, maiores serão as chances de um desenvolvimento global sustentável. Entende-se como Educação Ambiental: “O processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atividades e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”, segundo o artigo 1º da Lei Nº. 9795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999). Nesta lei a Educação Ambiental não formal referese às ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. A aprovação desta lei e do Decreto Federal Nº. 4.281, de 25 de junho de 2002, estabeleceram a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), trazendo grande esperança para educadores, ambientalistas e professores. A trajetória da Educação Ambiental brasileira apresenta a necessidade de universalização dessa prática educativa por toda a sociedade (LIPAI; LAYRARGUES, 2007). A Educação Ambiental não é uma área de conhecimento e atuação isolada. Seu propósito é de formar agentes capazes de entender a interdependência dos


19

vários elementos que compõem a cadeia de sustentação da vida, as relações de causa e efeito da intervenção humana nessa cadeia, engajar-se na prevenção e solução de problemas socioambientais e de criar formas de existência mais justas e sintonizadas com o equilíbrio do planeta. O direito ambiental, portanto, tem uma dimensão humana, ecológica e econômica que se devem harmonizar sob o conceito de desenvolvimento sustentado (BESSA, 2000). O presente projeto tem como objetivo geral levar o conhecimento sobre a distribuição, bioecologia, comportamento e ameaças potenciais as quais estão sujeitas às baleias-de-bryde às crianças do 4º e 5º ano do ensino fundamental de Niterói, Rio de Janeiro, através de atividades de Educação Ambiental não formal. Os objetivos específicos incluem: 1) esclarecer sobre a importância ecológica da baleia-de-bryde nos ecossistemas marinhos, 2) reconhecer que as baleias não se tratam de um recurso natural renovável e que as ameaças atuais bem como o retorno da caça comercial podem ter consequências irreversíveis para esses animais; 3) compreender a responsabilidade e o papel do cidadão para a manutenção e conservação do ambiente marinho, 4) desenvolver atividades lúdicas despertando a curiosidade a respeito do assunto abordado, chamando a atenção das crianças para a importância da conservação das espécies e, 5) verificar o grau de assimilação e compreensão do tema proposto através da análise de um questionário estruturado. Este projeto busca através da integração com a comunidade escolar desenvolver habilidades e conhecimentos aplicáveis à realidade local, enfatizando a importância do indivíduo e da comunidade tanto na conservação das baleia-de-bryde quanto dos ecossistemas marinhos. Materiais e Métodos O projeto foi realizado em escolas particulares do município de Niterói, Rio de Janeiro. As atividades foram desenvolvidas com alunos do 4º e 5º anos do ensino fundamental, numa faixa etária compreendida entre 8 e10 anos. Foram selecionadas 5 escolas particulares e a proposta do programa de Educação Ambiental não formal e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foram encaminhados às secretarias dos estabelecimentos de ensino para o consentimento da direção. O 4º e 5º ano do ensino fundamental foram escolhidos para fazerem parte da realização desse projeto por serem os anos de escolaridade nos quais uma das autoras leciona e por acreditar que as crianças são multiplicadoras de opiniões, e não têm conceitos formados a respeito de vários assuntos, diferentemente dos adultos. Foram ministradas palestras utilizando slides abordando aspectos sobre a biologia, ecologia e às ameaças as quais estão sujeitas as baleias-de-bryde. Em seguida, foram efetuadas atividades lúdicas com desenhos e uma dinâmica com barbante: as crianças esticaram o barbante até atingir o comprimento da baleia-de-bryde (o barbante foi marcado a cada 1 metro), depois colocaram o barbante esticado no chão e completaram com outros pedaços de barbante a figura da baleia-de-bryde. A seguir os alunos entraram “na baleia-de-bryde de barbante”, dando as crianças à verdadeira noção do tamanho desse animal (15 metros). Após as atividades lúdicas foram aplicados os questionários estruturados com 10 perguntas, sendo 9 fechadas e uma aberta, nas quais as respostas foram analisadas quali-quantitativamente a fim de verificar os resultados da assimilação das palestras e o entendimento das crianças sobre a importância da conservação da baleia-de-bryde. As visitas em cada turma da unidade escolar tiveram a duração em média de 1 hora e 30 minutos. As atividades de Educação Ambiental não formal têm o objetivo de articular conceitos e práticas de atividades tradicionais e temáticas atuais favorecendo o aprender como processo interativo e estimulando a participação dos jovens nas questões ambientais. Através da análise dos questionários, foi observado que os objetivos propostos pelo Projeto Conhecendo para conservar: As baleias-de-bryde no Rio de Janeiro foram alcançados de forma satisfatória, pois a maioria das crianças se mostrou interessada e preocupada com o meio ambiente além de com-

preenderem as informações repassadas durante as palestras e as atividades lúdicas. É importante repassar informações para o público infantil, pelo fato de ser mais fácil trabalhar com crianças, pois ainda não tem conceitos formados em relação a diversos assuntos, diferentemente do adulto. Através deste trabalho nas escolas notou-se que é possível haver transformação pela educação no sentido de conservar as baleias-de-bryde, e que a maioria das crianças envolvidas no projeto será multiplicadora das informações obtidas para seus pais, amigos e vizinhos, fazendo com que mais pessoas saibam a respeito da necessidade da conservação das baleias-de-bryde mediante seu papel ecológico no ambiente marinho. O projeto corrobora a importância da informação ambiental na interatividade, articulação e exercício da cidadania contribuindo para a formação de uma nova consciência, valores e cultura ambiental, pois quanto maior acesso a sociedade tiver as informações ambientais qualificadas, maiores serão as chances de um desenvolvimento global sustentável. A continuidade desse projeto é importante pelo fato de ter abrangido apenas cinco escolas, funcionando como um projeto piloto que pode ser estendido as demais escolas de Niterói, em especial as municipais e estaduais localizadas próximas as de colônias de pesca. Além disso, a Educação Ambiental é um trabalho que deve ser realizado em longo prazo, dando subsídios para o cidadão alicerçar suas ideias, habilidades, atitudes e ter a consciência da importância de se preservar o meio ambiente, não só durante a sua existência, mas também pensando em assegurar um horizonte melhor para as futuras gerações.

1 Discente do Curso de Pós-Graduação em Biologia Marinha e Oceanografia Faculdades Integradas Maria Thereza. 2 Docente do Curso de Pós-Graduação em Biologia Marinha e Oceanografia Faculdades Integradas Maria Thereza.

REFERÊNCIAS BESSA, P. A. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. BRASIL. Lei Nº. 9795/99 de 28 de abril em 1999. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 29 de abril de 1999. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/c civil_03/ leis/l9795.htm>. Acesso em 13 de novembro de 2015. LIPAI, M. E.; LAYRARGUES, P. P. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília: UNESCO, 2007. LODI, L.; BOROBIA, M. Baleias, botos e golfinhos do Brasil: guia de identificação. Rio de Janeiro: Technical Books, 2013. LODI, L.; TARDIN, R. Baleias-de-bryde: nômades do oceano. InforMar: v. 21, p. 8-10. 2014. PALAZZO Jr., J. T; FLORES, P.A.C. 1999. Plano de Ação para a Conservação da baleia franca, Eubalaena australis, em Santa Catarina, Brasil. Projeto Baleia Franca – IWC/Brasil. 1999. REILLY, S.B., BANNISTER, J.L., BEST, P.B., Brown, M., BROWNELL JR., R.L., BUTTERWORTH, D.S., CLAPHAM, P.J., COOKE, J., DONOVAN, G.P., URBÁN, J. & ZERBINI, A.N. 2008. Balaenoptera edeni. The IUCN Red List of Threatened Species 2008: e.T2476A9445502. Acesso em 17 de novembro de 2015. fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


psam

20

Saneamento básico é alvo de articulações

com a população e representantes dos municípios do Rio por andré correa

O

início de um novo ano traz o sentimento de renovação e um forte desejo de melhoria na qualidade de vida. Por isso, resolvi começar 2016 falando aqui no blog de um tema que foi intensamente trabalhado em 2015 e que ganhará ainda mais destaque nas ações desse ano: o saneamento básico. O lançamento de esgoto sem tratamento nos solos, mares, rios e lagoas ainda é uma das principais causas de degradação ambiental do Rio de Janeiro. Visando melhorar esse cenário, a Secretaria de Estado do Ambiente vem mantendo uma articulação constante com os municípios fluminenses para realizar e monitorar ações voltadas para o saneamento, como a elaboração de planos municipais, ligação de estações de tratamento (ETEs) às redes de esgoto e educação ambiental das comunidades para acompanhar e contribuir com essa temática. Um exemplo de boa prática nesse sentido é uma iniciativa local, em Niterói, que com a implantação do Projeto Se Liga está conseguindo melhorar o saneamento na cidade e já contribuiu para reduzir a emissão de cerca de 235 mil litros de esgoto por dia na região oceânica. Confira mais a seguir. Projeto orienta moradores a se ligarem à rede oficial de esgoto Com o objetivo de acabar com as ligações clandestinas à rede de esgoto e combater práticas como o uso de fossas ou despejo sem tratamento no mar e lagoas, o Projeto Se Liga notifica proprietários de imóveis para que liguem suas casas à rede de esgotos da cidade. A iniciativa foi concebida por meio da Campanha de Regularização do Uso de Recursos Hídricos promovida pela Superintendência da Baía de Guanabara (SUPBG/Inea), em parceria com a Concessionária Águas de Niterói, por meio de um termo de cooperação técnica. O trabalho de fiscalização do Projeto Se Liga funciona da seguinte forma: • A concessionária, no caso a Águas de Niterói, mapeia a rede coletora e identifica os imóveis que não estão com a ligação regularizada; • Os endereços identificados são enviados ao Inea para que seja emitida uma notificação ao proprietário; • Ao receber a notificação, o proprietário tem 60 dias para fazer a conexão;

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

Iniciativas como o Projeto Se Liga, em Niterói, mobilizam comunidades para regularizar ligações às redes oficiais de esgoto • No fim do prazo, é realizada uma nova vistoria e aqueles que não se regularizarem são autuados, recebendo uma multa no valor de R$ 1.240,00. Com a chegada do verão, a proposta é intensificar esse trabalho com a regularização das casas de veraneio, que ficam fechadas durante o ano e dificultam a notificação. Além disso, as expectativas para 2016 são grandes, pois a concessionária está implantando a rede coletora em Pendotiba e um novo plano de ação deve ser lançado após fevereiro. Por enquanto, o projeto está sendo executado em Niterói, mas, devido ao sucesso, deve ser replicado em outros lugares do Rio de Janeiro. De acordo com o superintendente da Baía de Guanabara do Inea, Paulo Cunha, até o momento 826 imóveis foram notificados e 683 imóveis já se ligaram. Isso representa a interrupção do lançamento indevido de 264.810 litros de esgoto por dia, que é um volume bastante alto. “O Projeto Se Liga só aborda os imóveis que não estão conectados à rede coletora, após levantamento prévio realizado pela concessionária. Dessa forma, é extremamente necessária a fiscalização, pois se trata de usuários que já haviam sido informados anteriormente da necessidade da adequação. Importante destacar ainda o percentual de sucesso de mais de 83% de imóveis que são notificados e se conectam a rede coletora, caracterizando que o Projeto Se Liga tem caráter educativo e de resultados, e não de arrecadação de multas”. Vale ressaltar que no ano passado o projeto obteve, no Ministério Público, um acordo que obrigou todas as mansões de um condomínio de luxo em Itacoatiara a se ligar. Trata-se de uma conquista, visto que em uma área que dispõe de rede coletora, independente da classe social os imóveis são notificados e devem se adequar. Com uma vitória como essa, o sentimento que fica é o de dever cumprido. Benefícios de regularizar a ligação do esgoto Esse é um processo simples que permite que o esgoto coletado nas residências seja tratado adequadamente, evitando o lançamento in natura em praias, lagoas e rios. Dessa forma, contribui para a despoluição da Baía de Guanabara, gerando benefícios como: • Preservação de espécies de grande importância para o equilíbrio do ecossistema da baía e de toda a região; • Aumento da segurança dos atletas que costumam realizar esportes marítimos, o que é fundamental para a realização das Olimpíadas Rio 2016, em agosto deste ano na capital fluminense; • Valorização dos imóveis com acesso regularizado à rede de esgoto, o que beneficia também a região como um todo; • Incentivo à atividade pesqueira, que se beneficia com a melhoria da qualidade da água e contribui para o desenvolvimento econômico local; • Melhora da balneabilidade das águas da Baía de Guanabara por meio de ação de saneamento básico preventiva e com enfoque em educação ambiental. Niterói sobe no ranking nacional de saneamento Trabalhos como esse rendem bons frutos e, de acordo com a última avaliação do Instituto Trata Brasil, Niterói já ocupa a primeira posição no Rio de Janeiro e a sexta no país no que diz respeito ao saneamento básico. Essa classificação analisa, principalmente, a coleta e o tratamento de esgoto e de água, os investimentos realizados e a perda de água com ligações clandestinas e vazamentos.


21

Os proprietários serão identificados e notificados a providenciarem a ligação de seus esgotos na Rede pública de coleta - que já atende cerca de 90% de Niterói. Os proprietários que se recusarem serão multados em R$ 1.240,00

Conversando com o superintendente Paulo Cunha, ele comentou como vê esse desafio: “Se consideramos que no Brasil a questão do tratamento de esgoto é tão deficitária, que desde 1999, quando a Concessionária Águas de Niterói assumiu os serviços de fornecimento de água e coleta e tratamento de esgoto, cerca de 90% do município passou a ser contemplado por rede de esgoto, fazendo com que Niterói passasse a estar entre os 10 primeiros municípios no ranking de saneamento básico do Instituto Trata Brasil. O alerta contra a má qualidade dos corpos hídricos continua. Assim, o maior desafio do projeto é a melhora ambiental na qualidade das águas”. No site do Instituto Trata Brasil podemos conferir também outras boas práticas de cidades brasileiras que já geram importantes resultados para o saneamento básico. Estado intensifica articulação com representantes locais Além de Niterói, outros municípios do Rio de Janeiro estão atuando fortemente em saneamento. No ano passado, realizamos na Secretaria do Ambiente importantes iniciativas, algumas delas a serem continuadas em 2016, que aproveito para compartilhar a seguir: • Diálogo Construtivo com Comunidades das Escolas: essa série de encontros, feita em parceria com o Instituto Baía de Guanabara (IBG), reúne comunidades da Bacia do Rio Alcântara para discutir educação ambiental e mobilizar a população no acompanhamento das obras de saneamento em São Gonçalo. No último encontro, em novembro, pais e alunos do Ciep 041 – Vital Brasil puderam conhecer os benefícios e impactos das obras e apresentar suas sugestões. A implantação do sistema de saneamento em Alcântara vai beneficiar 520 mil pessoas e reduzir em 2,4 mil litros por segundo o volume de esgoto despejado na Baía de Guanabara; • Pacto das Águas e Pagamento por Serviços Ambientais (PSA): dentro do programa Pacto pelas Águas, que visa proteger mananciais e garantir,

a Secretaria de Estado do Ambiente vem mantendo uma articulação constante com os municípios fluminenses para realizar e monitorar ações voltadas para o saneamento, como a elaboração de planos municipais, ligação de estações de tratamento (ETEs) às redes de esgoto e educação ambiental das comunidades para acompanhar e contribuir com essa temática

em médio e longo prazo, o abastecimento seguro de água para a população, estão os projetos de PSA. Trata-se de compensações decorrentes de licenciamento ambiental, plantio voluntário e adequação de propriedades rurais. Em outubro, participei do lançamento do edital de projetos de PSA desenvolvido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Guandu, com recursos do Fundo Estadual de Recursos hídricos (FUNDRHI). As ações são voltadas para os 15 municípios da bacia e têm como meta inicial a restauração de mais 600 hectares e a conservação; • Planos Municipais de Saneamento Básico: estamos entregando a diversos municípios do Rio de Janeiro os respectivos planos de saneamento, que consiste em uma parceria com os governos locais para orientar as ações e investimentos de cada município no setor para os próximos anos. Durante a elaboração dos planos, a população também foi envolvida em audiências públicas, a fim de contribuir com sugestões para o documento. Teresópolis e Resende receberam seus planos no final do ano passado; • Inauguração de Estações de Tratamento de Esgoto: está prevista para 2016 a retomada das obras de saneamento de Barra Mansa, com a construção das ETEs de Ano Bom e Saint-Gobain, provenientes da verba de R$ 52 milhões do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam). As obras da ETE Ano Bom estão 67% concluídas e a unidade será responsável por tratar, em média, 50 litros de esgoto por segundo. Já a estação Saint-Gobain será a maior ETE horizontal do Sul do Estado, com capacidade para tratar 200 litros de esgoto por segundo e tem 55% das obras concluídas. Além delas, será construída a ETE Saudade, com parte do recurso de R$ 89,2 milhões do PAC 2, com capacidade de tratar 180 litros de esgoto por segundo, beneficiando cerca de 60 mil pessoas; • Obras de saneamento em São Conrado: em setembro de 2015 visitei as obras, que já têm 3.200 metros de galeria construída a seis metros de profundidade e será responsável por transportar para o emissário de Ipanema 500 litros de esgoto por segundo. • Programa Limpa Rio: em novembro, visitei as cidades de Carmo e Cordeiro, no Centro-Norte Fluminense, para acompanhar o andamento de obras que são feitas na região, como as ações do Programa Limpa Rio. Esse trabalho realiza o desassoreamento de rios e visa melhorar a circulação das águas e evitar enchentes. Nossa atuação em prol do saneamento básico no Rio de Janeiro continuará em 2016 e peço a sua colaboração para denunciar irregularidades que estejam afetando a região onde você mora. Deixe a sua mensagem no Fale Comigo ou nos meus perfis no Facebook, Twitter e YouTube. Conto com a sua parceria! fonte: andrecorrea.com.br fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Por que você deve pensar duas vezes antes de tomar

Multa para quem jogar

café de cápsulas lixo na rua descartáveis Assim como canudos, guardanapos, talheres, copos e outras coisas descartáveis, as cápsulas de café entraram na lista de uso diário de muita gente. Entretanto, parece que ninguém reflete muito sobre uma questão simples: para onde todas essas cápsulas descartadas vão?

Projeto vai para análise da Câmara dos Deputados Edilson Rodrigues/Agência Senado

Lixo & Reciclagem

22

S

ó em 2013, 8 milhões de cápsulas descartáveis foram produzidas e o número de cápsulas descartadas já era suficiente para dar a volta ao mundo 11 vezes. Com versões mais baratas de máquinas e cápsulas lançadas nos últimos dois anos, além do incentivo fiscal anunciado pelo governo brasileiro esse ano, o número de pessoas consumindo e descartando cápsulas de café aumentou ainda mais no Brasil. O grande problema, além do uso de matérias primas, é que as cápsulas de café são recicláveis na teoria, mas na prática é trabalhoso demais e não vale a pena o investimento. As cápsulas descartáveis são feitas de plástico, alumínio e um tipo de material orgânico. A reciclagem exigiria a separação desses materiais, isso sem falar que, no Brasil, apenas 3% do lixo reciclável é realmente reciclado. As primeiras cápsulas descartáveis foram as K-Cups e seu criador, John Sylvan, se arrependeu de criá-las devido ao imenso impacto gerado por sua criação. “Não importa o que digam, as cápsulas nunca serão recicláveis”, afirmou ele ao jornal The Atlantic. No Brasil, nós não temos as K-Cups, mas a Nestlé conta com as cápsulas de três camadas, que só são recicláveis na teoria, e a Nespresso alega que suas cápsulas são feitas 100% de alumínio, o que facilitaria a reciclagem. O problema é que a própria empresa conta com pouquíssimos pontos de coleta de cápsulas no país (apenas 12), dificultando até para as pessoas que têm interesse em fazer essa devolução. Isso quer dizer que a cada café, estamos poluindo ainda mais o meio ambiente. Milhares de cápsulas descartáveis vão parar em aterros sanitários ou lixões, garantindo não só uma extração de papel, plástico e alumínio insana para produção e embalagem, como também emissão de CO2 e gás metano durante o apodrecimento das cápsulas a céu aberto. Uma campanha da internet chamada #KillTheKCup mostra os danos causados pela produção e descarte dessas cápsulas e convoca as pessoas a entrarem nesse movimento. O vídeo apocalíptico com pouco mais de 2 minutos de duração mostra as cápsulas literalmente assolando a terra. Vale assistir e pensar duas vezes antes de tomar aquele cafezinho em cápsula. Opte pelas opções coadas ou prensadas e ajude a salvar o planeta das cápsulas descartáveis. Fonte: insectashoes.com

assista o vídeo no vimeo em: https://vimeo.com/116606409

A

Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) aprovou, em decisão terminativa, no dia 29 de setembro, o projeto que obriga os municípios e o Distrito Federal a multar quem for pego jogando lixo nas ruas. A medida já é comum em algumas cidades, como no Rio de Janeiro – a medida foi para a análise da Câmara dos Deputados. Caso seja aprovada, passará a valer em todo o território nacional. De acordo com o Senado, o texto altera a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) para proibir o descarte irregular de lixo em via pública e para determinar que os municípios e o Distrito Federal regulamentem a forma correta de descarte. O relator na CMA, senador Jorge Viana (PT-AC), apresentou voto favorável à proposta, apresentada pelo ex-senador Pedro Taques. Para Jorge Viana, “sanções pecuniárias ainda são ações pedagógicas e preventivas necessárias para se evitar condutas indesejadas”. Ele considera que o projeto contribuirá para educar a população com relação ao correto descarte dos resíduos sólidos. Viana também apresentou emenda para retirar previsão de prazo de regulamentação da medida do projeto - ele considera que a a atitude seria uma ingerência sobre o Distrito Federal e sobre os municípios. Fonte: agência senado

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Edilson Rodrigues/Agência Senado

23

Quatro itens que você não deve colocar na Fragmentos excretados por larvas podem ser usados como fertilizantes em plantações

Larva que come plástico pode ser solução futura para problema do lixo

O

besouro conhecido como bicho-da-farinha (Tenebrio molitor), quando larva, pode viver a partir de uma dieta de isopor e de outras formas de poliestireno, de acordo com estudos do engenheiro Wei-Min Wu do departamento de engenharia civil e ambiental da Universidade de Stanford, nos EUA, e em conjunto com Jun Yang e outros pesquisadores da Universidade de Beihang na China. Micro-organismos presentes no sistema digestivo das larvas são capazes de biodegradar o plástico em seu processo digestivo. A descoberta foi recebida com surpresa e entusiamo. “Nossas descobertas abriram uma nova porta para resolver o problema global com a poluição de plásticos”, disse Wu para o Stanford News Service. Entender como as bactérias são capazes de biodegradar plástico pode abrir possibilidades para inovações na gestão de descarte de compostos plásticos. Foram testadas 100 larvas que comeram entre 34 mg a 39 mg de isopor por dia. Elas converteram metade do isopor em dióxido de carbono, assim como fariam com qualquer outra fonte de alimento. Depois de 24 horas, elas excretaram os restos do plástico como fragmentos biodegradados muito similares a fezes de coelhos. As larvas que se alimentaram do isopor obtiveram uma saúde normal quando comparadas às larvas com dieta normal. Segundo Wu, as fezes poderiam também ser usadas como fertilizantes para plantações. Pesquisadores, Wu incluso, já haviam descoberto que larvas de mariposa possuem micro-organismos em seus sistemas digestivos que eram capazes de biodegradar polietileno. A nova pesquisa com o bicho-da-farinha é mais significante, pois achava-se que o isopor era um produto não biodegradável e extremamente problemático para o meio ambiente. Os pesquisadores planejam estudar se os micro-organismos dentro das larvas do bicho-da-farinha e de outros insetos são capazes de biodegradar plásticos como polipropileno, microesferas de plástico e bioplásticos. Outra área de interesse dos pesquisadores é o equivalente marinho das larvas do bicho-dafarinha. A poluição dos mares pelo plástico é uma preocupação a se levar em conta, pois estraga habitats e mata inúmeras espécies da vida marinha. No entanto, será preciso muito mais pesquisas para entender as condições favoráveis da degradação do plástico e enzimas que quebram polímeros. Em troca, isso pode ajudar cientistas a criar enzimas mais poderosas na degradação do plástico e guiar fabricantes a desenvolver polímeros que não acumulam-se no meio ambiente ou em cadeias alimentares.

lata do lixo

A

reciclagem está se popularizando. Grande parte das pessoas sabe que não é correto se desfazer de eletrônicos, lâmpadas outros itens de produção complexa simplesmente ensacando-os para que os caminhões de lixo os levem aos lixões. Isso porque muitos deles contêm metais pesados em sua composição, que podem trazer grandes danos ambientais e também aos seres humanos. Mesmo assim, quatro tipos de itens muito usados no dia-a-dia costumam ter o destino convencional. A eCycle relembra, de forma rápida, por que eles devem ser descartados de forma diferenciada: • Baterias - contêm metais pesados contaminantes como zinco, níquel e cádmio (causa problemas gastrointestinais e respiratórios). Há diversos postos que aceitam esse tipo de item; • Eletrônicos - eletroeletrônicos, como televisão, aparelhos de DVD, impressora, laptops, entre outros, não podem ser descartados também devido à presença de metais pesados, como mercúrio, cádmio e chumbo. Use seu aparelho até o fim da vida útil. Após isso, leve todos os que não funcionam a um posto de reciclagem de lixo eletrônico; • Lâmpadas fluorescentes - essas lâmpadas são mais eficientes energeticamente, mas contêm mercúrio – um metal pesado muito danoso à saúde humana. O melhor a fazer é procurar postos de coleta específicos; • Tintas - as baseadas em água não são nocivas, por isso podem ser descartadas no lixo comum. No entanto, as tintas à base de óleo, que constituem a maior parte dos produtos disponíveis no mercado, contêm uma série de produtos químicos que necessitam de cuidados na hora do descarte (veja mais em www.ecycle.com.br/component/content/ article/35-atitude/810-tintas-sao-reciclaveis.html). Fonte: ecycle.com.br

Agora que seu alerta já está ligado, encontre os melhores destinos para alguns desses itens em : www.ecycle. com.br/postos/reciclagem.php

Fonte: ecycle.com.br/ Stanford News Service fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


“Estamos correndo todo esse risco para quê? Precisamos urgentemente acabar com essas falsas garantias, com o adoçamento das amargas verdades. A população precisa decidir se deseja continuar no caminho atual, e só poderá fazê-lo quando estiver em plena posse dos fatos. Nas palavras de Jean Restand: a obrigação de suportar nos dá o direito de saber”

Marcelo Camargo, Agência Brasil

agrotóxicos

24

Sem saber, população brasileira é a que mais

consome agrotóxicos no mundo por fernando guida

P

ublicadas em 1962, no livro Primavera Silenciosa, as palavras da bióloga norteamericana Rachel Carson nunca estiveram tão atuais. No caminho oposto à Dinamarca (primeiro país do mundo que terá agricultura 100% orgânica por lei), no Brasil, a grande maioria da população ingere grandes quantidades de agrotóxicos. Sem saber. Uma reportagem do Jornal Folha de São Paulo revelou que é quase certo que a fruta, o legume e a verdura que chegam atualmente à mesa dos brasileiros não tenham passado por nenhum controle rígido dos níveis de agrotóxicos. Segundo a publicação, a fiscalização, quando é feita, atinge somente uma fração pequena dos produtos e reprova até um terço deles. O Brasil é uma potência na produção de alimentos ocupando a segunda posição entre os maiores produtores do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, mas é o primeiro no que diz respeito ao consumo de agrotóxicos. Desde 2008, o país é o maior consumidor mundial destes produtos. Aliado ao crescimento do plantio de culturas transgênicas

leia o estudo completo da abrasco: www.abrasco.org. br/dossieagrotoxicos/wp-content/uploads/2013/10/ DossieAbrasco_2015_web.pdf

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

no país, o mercado de agrotóxicos cresceu mais de 400% nos últimos dez anos. Na safra de 2013/2014, foram utilizados cerca de 1 bilhão de litros de agrotóxicos, o que gera uma média de 5 litros de veneno por habitante, de acordo com especialistas. Entre as substâncias usadas no país estão algumas potencialmente cancerígenas, parte delas banidas da União Europeia e de países como China e Índia. Um estudo publicado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pelo Instituto Nacional do Câncer (Ministério da Saúde) revelou uma situação assustadora sobre o uso de agrotóxicos no país. Segundo o documento, os impactos na saúde pública são amplos, atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais, como trabalhadores em diversos ramos de atividades, moradores do entorno de fábricas e fazendas, além de todos nós, que consumimos alimentos contaminados. Tais impactos estão associados ao atual modelo de desenvolvimento do país, voltado prioritariamente para a produção de bens primários para exportação. Mas esta estratégia não surte efeito, já que atualmente, a taxa de aumento de uso de agrotóxicos no país é maior que o crescimento de produtividade, um indicador de que o Brasil está a utilizar mais produtos químicos para produzir a mesma quantidade de alimentos. Fonte: https://blogdoguida.wordpress.com


25

Lista da ANVISA dos alimentos com

maior nível de contaminação

Consumo de alimentos contaminados pode causar câncer A Anvisa alerta os consumidores para os riscos de se ingerir agrotóxicos. Segundo o órgão, o consumo prolongado e em quantidades acima dos limites aceitáveis pode acarretar vários problemas de saúde. Uma menor exposição pode causar dores de cabeça, alergias e coceiras, enquanto uma exposição maior pode causar distúrbios do sistema nervoso central, mal formação fetal e câncer. A Academia Americana de Pediatria conduziu um estudo com mais de mil crianças, onde 119 apresentaram transtorno de déficit de atenção. Essas 119 crianças passaram por exames mais detalhados e constatou-se que seus organismos tinham organofosforado (molécula usada em agrotóxicos) acima da média.

Confira a lista de alimentos com maior nível de contaminação por agrotóxicos 1 - Pimentão......................91,8%

10 - Tomate........................ 16,3%

3 - Pepino...........................57,4%

12 - Maçã............................. 8,9%

5 - Cenoura.......................49,6%

14 - Feijão.............................6,5%

2 - Morango...................... 63,4%

4 - Alface............................54,2% 6 - Abacaxi........................32,8% 7 - Beterraba.................... 32,6%

8 - Couve............................ 31,9% 9 - Mamão........................ 30,4%

11 - Laranja......................... 12,2%

13 - Arroz..............................7,4% 15 - Repolho.........................6,3%

16 - Manga..............................4% 17 - Cebola.............................3,1%

18 - Batata...............................0%

Se você acha que frutas e legumes eram saudáveis, é melhor rever seus conceitos. Ao invés de nutrientes, você pode estar ingerindo produtos tóxicos que fazem muito mal para sua saúde.

Shutterstock

A

Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou uma lista com alimentos considerados saudáveis por todos, mas que em testes exibiram alto nível de contaminação por agrotóxicos. Para fazer o levantamento, a Anvisa levou em consideração dois pontos fundamentais: 1) Teores de resíduos de agrotóxicos acima do permitido; 2) Presença de agrotóxicos não autorizados para o tipo de alimento. O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos analisou quase 2.500 amostras de 18 tipos de alimentos nos estados brasileiros. O resultado das análises é preocupante: cerca de 1/3 dos vegetais que o brasileiro mais consome apresentaram resíduos de agrotóxicos acima dos níveis aceitáveis. Se você acha que frutas e legumes eram saudáveis, é melhor rever seus conceitos. Ao invés de nutrientes, você pode estar ingerindo produtos tóxicos que fazem muito mal para sua saúde. Os agrotóxicos são amplamente utilizados no campo para proteger as plantações de pragas. Um levantamento de 2010 indica que só naquele ano foram usadas 1 milhão de toneladas de agrotóxicos em plantações no país. Isso dá cerca de 5 kg para cada brasileiro. Na lista, quase todas as amostras coletadas de pimentão apresentavam contaminação acima do aceitável. Só a batata se salvou, não apresentando nenhum lote contaminado.

F0nte: guiadenutricao.com.br fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Cerveja: o transgênico que você bebe? Sem informar consumidores, Ambev, Itaipava, Kaiser e outras marcas trocam cevada pelo milho e podem levar à ingestão inconsciente de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs)

...somos o segundo maior produtor de transgênicos do mundo, mais da metade do território brasileiro destinado à agricultura é ocupada por essa controversa tecnologia. Na safra de 2013 do total de milho produzido no país, 89,9% era transgênico.

V

amos falar sobre cerveja. Vamos falar sobre o Brasil, que é o 3º maior produtor de cerveja do mundo, com 86,7 bilhões de litros vendidos ao ano e que transformou um simples ato de consumo num ritual presente nos corações e mentes de quem quer deixar os problemas de lado ou, simplesmente, socializar. Não se sabe muito bem onde a cerveja surgiu, mas sua cultura remete a povos antigos. Até mesmo Platão já criou uma máxima, enquanto degustava uma cerveja nos arredores do Partenon quando disse: “era um homem sábio aquele que inventou a cerveja”. E o que mudou de lá pra cá? Jesus Cristo, grandes navegações, revolução industrial, segunda guerra mundial, expansão do capitalismo… Muita coisa aconteceu e as mudanças foram vistas em todo lugar, inclusive dentro do copo. Hoje a cerveja é muito diferente daquela imaginada pelo duque Guilherme VI, que em 1516, antecipando uma calamidade pública, decretou na Baviera que cerveja era somente, e tão somente, água, malte e lúpulo. Acontece que em 2012, pesquisadores brasileiros ganharam o mundo com a publicação de um artigo científico no Journal of Food Composition and Analysis, indicando que as cervejas mais vendidas por aqui, ao invés de malte de cevada, são feitas de milho. Antarctica, Bohemia, Brahma, Itaipava, Kaiser, Skol e todas aquelas em que consta como ingrediente “cereais não maltados”, não são tão puras como as da Baviera, mas estão de acordo com a legislação brasileira, que permite a substituição de até 45% do malte de cevada por outra fonte de carboidratos mais barata. Agora pense na quantidade de cerveja que você já tomou e na quantidade de milho que ela continha, principalmente a partir de 16 de maio de 2007. Foi nessa data que a CNTBio inaugurou a liberação da comercialização do milho transgênico no Brasil. Hoje já temos 18 espécies desses milhos mutantes produzidos por Monsanto, Syngenta, Basf, Bayer, Dow Agrosciences e Dupont, cujo faturamento somado é maior que o PIB de países como Chile, Portugal e Irlanda.

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

Alan Levine / flickr cc 2.0

Revista Ecológica

26

Tudo bem, mas e daí? E daí que ainda não há estudos que assegurem que esse milho criado em laboratório seja saudável para o consumo humano e para o equilíbrio do meio ambiente. Aliás, no ano passado um grupo de cientistas independentes liderados pelo professor de biologia molecular da Universidade de Caen, Gilles-Éric Séralini, balançou os lobistas dessas multinacionais com o teste do milho transgênico NK603 em ratos: se fossem alimentados com esse milho em um período maior que três meses, tumores cancerígenos horrendos surgiam rapidamente nas pobres cobaias. O pior é que o poder dessas multinacionais é tão grande, que o estudo foi desclassificado pela editora da revista por pressões de um novo diretor editorial, que tinha a Monsanto como seu empregador anterior. Além disso, há um movimento mundial contra os transgênicos e o Brasil é um de seus maiores alvos. Não é para menos, nós somos o segundo maior produtor de transgênicos do mundo, mais da metade do território brasileiro destinado à agricultura é ocupada por essa controversa tecnologia. Na safra de 2013 do total de milho produzido no país, 89,9% era transgênico. (Todos esses dados são divulgados pelas próprias empresas para mostrar como o seu negócio está crescendo) Enquanto isso as cervejarias vão “adequando seu produto ao paladar do brasileiro” pedindo para bebermos a cerveja somente quando um desenho impresso na latinha estiver colorido, disfarçando a baixa qualidade que, segundo elas, nós exigimos. O que seria isso se não adaptar o nosso paladar à presença crescente do milho? Da próxima vez que você tomar uma cervejinha e passar o dia seguinte reinando no banheiro, já tem mais uma justificativa: “foi o milho”. Dá um frio na barriga, não? Pois então tente questionar a Ambev, quem sabe eles não estão usando os 10,1% de milho não transgênico? O atendimento do SAC pode ser mais atencioso do que a informação do rótulo, que se resume a dizer: “ingredientes: água, cereais não maltados, lúpulo e antioxidante INS 316.” Vai uma, bem gelada? Fonte: revistaecologica.com


27

Monsanto revela que milho transgênico pode

fazer mal à saúde

Um artigo publicado no International Journal of Biological Sciences mostrou que o consumo da semente modificada tem efeitos negativos principalmente sobre fígado e rim, órgãos ligados à eliminação de impurezas

Gordon / flickr cc 2.0

O

milho, um dos alimentos mais antigos da história da humanidade, atualmente tem a maior parte da sua produção destinada, no Brasil, ao consumo animal. Apenas cerca de 15% é para o consumo humano. O problema em torno deste alimento, defendido por conter vitaminas A e do complexo B, proteínas e minerais como o ferro, fósforo, potássio e cálcio, tem fundamento na utilização do grão transgênico. Um artigo publicado no International Journal of Biological Sciences mostrou que o consumo da semente modificada tem efeitos negativos principalmente sobre fígado e rim, órgãos ligados à eliminação de impurezas. Embora suas propriedades nutricionais sejam mantidas, o estudo francês revelou que os grãos do milho transgênico apontam claros sinais de toxidade. O biólogo molecular Gilles-Eric Séralini e sua equipe puderam divulgar a pesquisa depois que um decisão judicial obrigou a Monsanto revelar sua própria análise dos grãos que manteve em sigilo impedindo que a informação se tornasse pública. Os franceses então divulgaram a comparação dos efeitos das sementes MON 863, NK 603 e MON 810 sobre a saúde de mamíferos, sendo as duas últimas permitidas no Brasil, bem como sementes resultantes do seu cruzamento. No caso do NK 603, os dados apontam perda renal e alterações nos níveis de creatinina no sangue e na urina, que podem estar relacionados a problemas musculares. É por esse motivo que os pesquisadores destacam que o coração foi afetado nos ratos alimentados com esta variedade. O quadro para o MON 810 não muda muito. Embora os machos em geral demonstrem maior sensibilidade a tóxicos, foram as fêmeas que apresentaram ligeiro aumento do peso dos rins, que pode corresponder a uma hiperplasia branda, geralmente presente quando associada a processos imunoinflamatórios. Os autores do artigo publicado no International Journal of Biological Sciences concluíram que os dados sugerem fortemente que estas três variedades de milho transgênico induzem a um es-

tado de toxicidade, que pode resultar da exposição a pesticidas (glifosato e Bt) que nunca fizeram parte de nossa alimentação. A Comissão Técnica de Biossegurança, a CTNBio, informa que “o milho NK603 é tão seguro quanto às versões convencionais”, que a modificação genética “não modificou a composição nem o valor nutricional do milho”, que “há evidências cientificas sólidas de que o milho NK 603 não apresenta efeitos adversos à saúde humana e animal” e que “o valor nutricional do grão derivado do OGM referido tem potencial de ser, na realidade, superior ao do grão tradicional”. A CTNBio também avalia que no caso do MON 810 “os efeitos intencionais da modificação não comprometeram sua segurança nem resultaram em efeitos não-pretendidos” e que a “proteína é tóxica somente para lagartas”. Fonte: revistaecologica.com fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


Moringa, a planta que purifica a água e poderia acabar com a fome mundial

P

reocupados com as alterações climáticas, cientistas têm procurado alternativas alimentares que sejam resistentes a adversidades e ao mesmo tempo mega nutritivas. Esse é o caso da jaca e da moringa. Em nosso país, a moringa é mais comum no norte, mas mesmo assim poucos brasileiros conhecem a planta. O vegetal é originário da Ásia e da África e cresce em áreas semiáridas tropicais e subtropicais. A planta traz uma série de benefícios, tanto para saúde e nutrição, quanto para economia e meio ambiente. Se cada família que habita os trópicos tivesse uma árvore de moringa plantada no quintal de casa, haveria menos fome e desnutrição no mundo. No universo dos chamados “superalimentos”, a Moringa tem ganhado destaque. Existem 13 variedades da planta, que é da família Moringaceae – as mais comuns são a moringa oleífera e a moringa stenopetala. A árvore da moringa cresce muito rápido e pode chegar a até 12 metros de altura. Seus galhos são carregados de pequenas folhinhas verdes que são incrivelmente nutritivas. A planta se adapta bem em regiões de difícil proliferação de vegetais, em locais muito quentes e muito secos. Além disso, o alimento supre necessidades básicas, fornece energia e mantém os corpos nutridos. Na África e nas Filipinas, muitas famílias plantam uma árvore de moringa em seus quintais para garantir uso para consumo próprio. Todas as partes da planta são utilizáveis. Folhas, vagens verdes, flores e sementes têm rico valor alimentar, e todas as partes da planta, incluindo raízes, têm uso medicinal. Nutrientes O que mais surpreende os pesquisadores é a riqueza da moringa oleiferera ou acácia-branca em relação à quantidade de nutrientes. Ela não só possui uma grande variedade de antioxidantes, proteínas, vitaminas e sais minerais, mas também os possui em alta concentração. A planta possui sete vezes mais vitamina C que a laranja, quatro vezes mais vitamina A que a cenoura, duas vezes mais proteína do que o iogurte, quatro vezes mais cálcio que o leite de vaca, três vezes mais ferro que o espinafre e três vezes mais potássio que a banana. Além disso, o vegetal possui todos os aminoácidos essenciais que nosso corpo não produz. Por esse motivo, a moringa é considerada a “árvore milagrosa”. Na Etiópia, a espécie mais comum de moringa é a stenotepala, que é largamente plantada nas encostas das montanhas em Konso, e ao redor das casas e

fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br

Forest and Kim Starr / flickr cc 2.0

Biodiversidade

28

A planta possui sete vezes mais vitamina C que a laranja, quatro vezes mais vitamina A que a cenoura, duas vezes mais proteína do que o iogurte, quatro vezes mais cálcio que o leite de vaca, três vezes mais ferro que o espinafre e três vezes mais potássio que a banana

cabanas de palha dos habitantes. A planta garante um mínimo de elementos nutritivos para a população do local, especialmente para as crianças. Suas folhas têm um sabor levemente picante, semelhante ao agrião. Elas podem ser consumidas de diversos modos, como cruas em saladas, ou cozidas em sopas. Um prato muito apreciado na Indonésia e no Timor Leste é feito com suas flores fritas em óleo de coco e depois imersas em leite de coco. A iguaria se chama makansufa e é comida com arroz ou milho. Suas flores também dão um belo aspecto quando utilizadas em saladas e são amplamente utilizadas na preparação de chá. Suas vagens verdes têm sabor parecido ao grão de bico e podem ser consumidas cozidas. Quando a planta é jovem e tem em média 30 cm, suas raízes possuem uma reserva nutricional e podem ser ingeridas. De sabor picante, elas podem ser consumidas em saladas ou refogados. Contudo,


29

após esse período, a raiz seca e não pode mais ser ingerida. O óleo extraído de suas sementes é passível de ser utilizado em diversas receitas. A absorção dos nutrientes depende muito da forma com que o vegetal é preparado. Ao ferver por longos períodos e jogar o caldo do cozimento fora, muitas vitaminas fundamentais para a nutrição são desperdiçadas. Uma forma eficiente de consumir a planta é secando suas folhas e a transformando em um pó semelhante ao matcha, pois desse modo seus nutrientes são conservados. No sudoeste do Senegal, no período de 1997 a 1998, pesquisadores ensinaram a receita a clínicas locais, médicos e enfermeiras, para salvar crianças, mulheres grávidas ou amamentando da morte por desnutrição. As mães foram orientadas a ingerir esse pó nas refeições para produzir mais leite durante o período de amamentação. Seu uso como suplemento dietético está em expansão, e o pó de moringa tem sido comercializado para complementar uma possível falta de vitaminas e proteínas. Além do formato em pó, que pode ser adicionado a diversas receitas, existe também a versão em cápsulas. A moringa é uma das plantas utilizadas pela tradicional medicina ayurveda. Segundo a ayurveda, a planta auxilia no tratamento e prevenção de 300 doenças. Dentre as propriedades alardeadas, algumas foram recentemente verificadas pela comunidade científica. Estudos mostram que a planta é um potencial larvicida e repelente do mosquito Anopheles stephensi que é vetor da malária e do Aedes aegypit, que transmite a dengue. Além disso, pesquisas mostram que um composto da planta é inibidor da leishmaniose. Outro estudo demonstrou que infusões de água quente de flores, folhas, raízes, sementes e talos ou casca de moringa têm atividades antiespasmódica, anti-inflamatória e diurética. A planta ainda é apontada como antipirética, antiepiléptica, antiinflamatória, antiúlcera, anti-hipertensiva, antitumoral, redutora do colesterol, antioxidante, antidiabética, antibacteriana e antifúngica. Na medicina tradicional, o suco de flor moringa é utilizado para melhorar a lactação humana e o chá de suas folhas é indicado para resfriados e infecções. As flores frescas são recomendadas para combate a anemia, úlceras gástricas e diarreia. Já para picadas de insetos, feridas ou problemas de fungos na pele, os habitantes locais utilizam uma pasta feita com suas folhas. Diferentes usos Como visto acima, todas as partes dessa generosa plantinha são aproveitadas. Seja para a alimentação ou em remédios alternativos. Contudo a planta tem outras potencialidades que vêm sendo estudadas. O óleo de sua semente possui importância industrial e é aproveitado para lu-

Outro fator que ressalta a importância da planta é seu potencial de realizar um tratamento químico da água ao decantar bactérias e resíduos. Após macerar as sementes de moringa e adicionar a aguá, ela atrai argila, sedimentos e bactérias, que se acumulam no fundo do recipiente e deixam a água clara e potável. Ela melhora em 99% a qualidade da água com seu efeito purificador

brificar maquinarias delicadas, é também empregado em cosméticos como perfumes e utilizado para biocombustível. A planta também é usada como forrageira, para alimentar carneiros, cabritos, coelhos, galinhas caipiras, vacas leiteiras. E como a planta floresce o ano todo, suas flores são uma opção na alimentação de abelhas. Outro fator que ressalta a importância da planta é seu potencial de realizar um tratamento químico da água ao decantar bactérias e resíduos. Após macerar as sementes de moringa e adicionar a aguá, ela atrai argila, sedimentos e bactérias, que se acumulam no fundo do recipiente e deixam a água clara e potável. Ela melhora em 99% a qualidade da água com seu efeito purificador. Três sementes purificam cerca de um litro de água. O ideal é utilizar sementes colhidas recentemente para o tratamento de água. O tempo ideal de decantação da água é de 90 minutos. Quanto maior o tempo e repouso, maior a quantidade de partículas irão se acumular no fundo do recipiente. Após esse processo a água precisa ser filtrada, coar com um pano já faz esse trabalho. Coar é muito importante pois o material orgânico decantado inicia um processo de decomposição após o tratamento. Diversos estudos analisam um composto ativo à base da semente da planta, que poderia ser implantado como uma alternativa viável de agente coagulante em estações de tratamento da água convencionais. Atualmente são utilizados produtos químicos como sais de alumínio para realizar a coagulação e a floculação da água, resultando em um lodo com compostos químicos que não podem ser descartados de qualquer maneira. Contudo, com o uso da moringa, forma-se um lodo totalmente biodegradável que não oferece riscos ao meio ambiente. Pesquisas mostram que sementes de moringa oleífera não alteram significativamente o pH e a alcalinidade da água e não causam problemas de corrosão. Tanto sementes da stenopatala, como da oleífera possuem as mesmas propriedades purificadoras da água. De acordo com o Instituto Trata Brasil, seis milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada. Por isso, a expansão da moringa no território brasileiro é essencial. Atualmente a planta é conhecida no estado do Maranhão e vem sido difundida no sertão nordestino. O vegetal cresce onde mais se precisa dela. A região entre os trópicos é assombrada pelas mortes por desnutrição e ingestão de águas contaminadas. A resistência da moringa traz a esperança de uma água limpa e uma rica fonte alimentar para esses locais que sofrem tanto com o clima e com o solo. Com todos seus atributos, é difícil não reconhecer a moringa como uma das plantas mais generosas do planeta. Fonte: www.ecoguia.net fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br



31

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) COM ÁTILA NUNES E ÁTILA ALEXANDRE NUNES

Jaime Quitério, Átila Alexandre Nunes, Renata Maia e Átila Nunes

O programa Reclamar Adianta é transmitido durante a semana das 10 horas ao meio dia através da Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ), podendo também ser acessado pela internet: www.reclamaradianta.com.br Se desejar, envie a sugestão de um tema para ser abordado. Aqui os ouvintes participam de verdade. Abraços, Equipe do programa Reclamar Adianta

Ao lado do deputado está o filho dele, Átila Alexandre Nunes

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia. Com Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes Ouça também pela internet: www.reclamaradianta.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5588 twitter: @defesaconsumo www.emdefesadoconsumidor.com.br (serviço 100% gratuito) atilanunes@reclamaradianta.com.br atilanunes@emdefesadoconsumidor.com.br

PROGRAMA PAPO MADURO

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) De 2ª à 6ª feira, ao meio dia. Ouça pela internet: www.papomaduro.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5144 E-mail: ouvinte@papomaduro.com.br fevereiro2016 > revistadomeioambiente.org.br


ÃO

IMPRESSO

A TID

DR RJ

AN

A Revista do Meio Ambiente (revistadomeioambiente.org.br) é elaborada a partir das colaborações da Rede Rebia de Colaboradores e Jornalistas Ambientais Voluntários (RebiaJA – rebia.org.br/ rebiaja) e é distribuída de forma dirigida e gratuita, em âmbito nacional, em duas versões: 1) versão impressa – distribuída em locais estratégicos e durante eventos ambientais importantes que reúnam formadores e multiplicadores de opinião em meio ambiente e demais públicos interessados na área socioambiental (stakeholders) diretamente em stands, durante palestras, ou através de nossas organizações parceiras, empresas patrocinadoras, etc.; 2) versão digital – disponível para download gratuito no site da Revista bastando ao interessado: a) estar cadastrado na Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) – rebia.org.br (cadastro e associação gratuitas); b) estar logado no momento do download; c) preencher o campo do formulário com o comentário sobre o porque precisa da Revista do Meio Ambiente. Quem patrocina a gratuidade? A gratuidade deste trabalho só é possível graças às empresas patrocinadoras e anunciantes, às organizações parceiras e à equipe de voluntários que doam seu esforço, talento, recursos materiais e financeiros para contribuir com a formação e o fortalecimento da cidadania ambiental planetária, no rumo de uma sociedade sustentável.

R GA

ano X • ed 88 • fevereiro 2016

Aqui o seu anúncio é visto por quem se importa com o meio ambiente

DE VO LU Ç

Guia do Meio Ambiente

Revista do Meio Ambiente Redação: Trav. Gonçalo Ferreira, 777 Casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba, Niterói, RJ CEP 24370-290 Telefax: (21) 2610-2272


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.