Sensações sem fronteiras

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Correio da Feira 08.OUT.2012

Peru: o país dos enigmas

Jorge de Andrade

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Foi-me pedido que escrevesse sobre Nos dias de hoje esta cidade pode ser um destino para esta visitada com uma segurança que há nova ideia de uma poucos anos era impossível. página de viagens. A Como todas as capitais da pretensão é falar sobre as América latina os joexperiências e sensações vens dominam a “paiAmérica do Sul que um determinado destino sagem” humana. nos proporcionou. A sensação mais vivida Peru, país que, até há bem nesta minha última visita pouco tempo, infelizmente, não a Lima, foi de liberdade. era uma viagem que fizesse Senti pela primeira vez que parte do “cardápio” das viaos habitantes eram livres de gens dos portugueses. Na poderem sair à noite e usufruírem verdade o Peru tem um núda sua cidade e dos seus prazeres mero de entradas muito infecom a segurança que têm direito rior àquilo que era de esperar e que os seus governantes são para um país com as enormes obrigados a garantir. potencialidades turísticas como este destino da América Latina. Se Inexplicável quisermos esquecer a versão Fé- O inexplicável é, sem dúvida, a exrias/Praia, o Peru oferece-nos todas periência que podemos viver com a as restantes vertentes para o visi- visita as linhas de NAZCA. Atenção tarmos, não que não tenha praias, que a vista das linhas só é possível só que na verdade, ninguém vai ao do ar, por isso a visita ao deserto de Peru para perder tempo ao sol. NAZCA, onde se encontram estas O Peru é um país da América do Sul, enigmáticas formas geométricas limitado a norte pelo Equador e pela é feita de uma aeronave sendo a Colômbia, a leste pelo Brasil e pela maior de 16 passageiros. Bolívia ao sul pelo Chile e a oeste Há uns anos, o Peru teve a honra pelo Oceano Pacífico Sul. Está entre de um dos seus conjuntos arqueoo Chile e o Equador. A capital do país lógicos ser considerado uma das é a cidade de Lima e seguem-na, novas sete maravilhas do mundo como as mais importantes, Arequi- – Machupichu. É a minha opinião pa, Tujillo, Cuzco, Iquitos. que se havia no Peru algo que merecesse essa distinção, sem dúvida eram as linhas de NAZCA. Infelizmente uma grande parte dos turistas que visita o Peru passa sem esta experiência única. Este conjunto de desenhos rasos feitos no solo desértico, até hoje, não tem uma explicação sólida sobre quem o realizou, como e com que objectivo. É um dos mais interessantes enigmas do planeta e que por muitas explicações apresentadas, nenhuma pode ser encarada como verdade absoluta. É uma visita imperdível suficiente para dizer que a viagem ao Peru já valeu a pena. Linhas de Nazca (Colibri)

Natureza

O contacto com natureza através de

um passeio de barco até às ilhas Balestas para apreciarmos a fauna marinha é outra das muitas sensações, da qual saímos enriquecidos com uma viagem ao Peru. Aconselha-se sempre levar um chapéu e uma capa de chuva, não porque do céu caia água, mas outros elementos mais sólidos provenientes dos habitantes alados destas ilhas que aí procuram refúgio para nidificarem. Visionar os preguiçosos e corpulentos leões-marinhos e focas em posições divertidas e quase eróticas é outra das ofertas desta visita.

que nós conseguimos, durante estes séculos, transmitir às civilizações tão tragicamente ocupadas naquela zona do continente americano. Geralmente o ponto alto desta viagem é sempre o conjunto arqueológico da cidade de Machu Pichu, conhecida

criador e sobrevivente. Mas Machu Pichu é um magnífico conjunto arqueológico inserido numa maravilhosa paisagem natural, já vi muitos conjuntos arqueológicos por esse imenso mundo, confesso que poucos têm a particularidade da

Religião e tradições

Religião e tradições são as experiências que se vivem na cidade de Puno nas margens do lago TITICACA. Se a visita a esta cidade fosse possível coincidir com as festas da Candelária, de certo, que deixará uma experiência inolvidável. A festa da Virgem da Candelária é a mais importante no altiplano. Milhares de mestiços de origem Aymara dançam, rezam e brindam em honra da “Mãe” milagrosa que por quase quatro séculos dá bênçãos à cidade de Puno. A celebração é um rosário espectacular de danças folclóricas, especialmente, a Diablada que simboliza a vitória do bem sobre o mal. É também um misto das culturas indígenas com a religião católica.

União entre Homem e Natureza

O Vale Sagrado é de certo outras da magníficas experiências que se pode viver no Peru. Deixa-nos a certeza de que é possível os povos poderem viver em harmonia e respeito com a natureza. Durante a visita a este vale, que fica a poucos quilómetros da riquíssima cidade de Cuzco, Umbigo do mundo para os Incas, sempre que tive o prazer visitar os seus inúmeros conjuntos arqueológicos e pequenas povoações indígenas, fiquei certo que os Incas podiam ter ensinado muito mais aos colonizadores do que aquilo

Machu Picchu pela cidade perdida dos Incas ou a Cidade Eterna. Localizada a uma altitude de 2. 400 metros, este conjunto arqueológico tornou-se mais famoso após a sua classificação como uma das novas 7 maravilhas do Mundo. Muito haveria para escrever sobre esta cidadela, mas foi-me solicitado que revelasse experiências, sensações. Vou tentar revelar-vos o mais fiel possível. Uma das experiências mais deslumbrantes desta visita é a viagem que só é possível através de comboio numa paisagem que não nos deixa adormecer de tão bela que se vai apresentando a cada quilómetro. Ao entrar na cidadela o mais espectacular é, sem sombra de dúvida, a admiração que nos deixa a preservação do conjunto monumental, mas nunca esquecendo a componente tão importante que é a paisagem natural.É caso para dizer que no deslumbramento que é sempre a criação de Divina o homem elegeu um desses lugares para surpreender-nos com as suas qualidades de

beleza natural, mas o que mais me impressionou, e não posso deixar de referir essa minha experiência, foi a visita às portas do sol.

Na Terra próximo do Céu Paz e Tranquilidade

Acordar muito cedo, por volta das 4h00 da manhã, tomar um pequenoalmoço ligeiro e iniciar a caminhada até ao cume da montanha que nos leva às portas do sol, chegar aí a tempo de ver o nascer do sol foi a sensação de maior tranquilidade que senti na minha primeira viagem ao Peru, há quase 10 anos. Se houve momentos em que senti que Deus abraçava a terra com o iluminar a terra, com o calor do Astro Rei foi nos breves momentos em que permaneci com alguns turistas aventureiros no cume daquela montanha mágica. Se forem a Machu Pichu e tiverem forças suficientes para subirem durante mais de três horas uma montanha sagrada, pois não percam este momento mágico que vai ficar nas vossas recordações para toda a vida.


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Correio da Feira 22.OUT.2012

China - O país dos contrastes

Soldados de Terracota

Richard Oliveira* Neste 2º Capitulo das “Sensações ro. As bicicletas continuam a ser aos sem Fronteiras” do Correio da Feira, milhões, cuidadosamente arrumafiquei com a responsabilidade de d a s nos “parques de esdescrever as sensações tacionamento”, que tive aquando da mas pareminha viagem à cem estar China. Não a ser subsChina é uma tatituídas, em refa simlarga escala, ples, uma pelos motocivez que clos. Outra das imaas diferengens que qualquer viaças encontradas jante tem da china é para a civilização a ginástica efectuada ocidental, conforme ao amanhecer encontro no meu dia-adia, nas praças são tantas que certamente não e jardins. conseguirei descrever todas as difeEsta prática rentes sensações e percepções. continua a A china situa-se no continente asiáti- ser habitual e acontece por norma, co e é o segundo território mais vas- onde muitas vezes se encontram to de todo o mundo, sendo limitado instalados autênticos “parques inpela Mongólia, Rússia, Coreia Sul, fantis” para idosos, sendo um sinal Vietname, Laos, Myanmar, Índia, de um saber viver que surpreende Nepal, Butão, Paquistão, Cazaquis- agradavelmente quem vem das tão e Quirguistão. Os recentes de- grandes metrópoles. senvolvimentos a nível económico, Durante a minha visita passei por tal como politico, potencializaram o diversos lugares e cidades distintas Turismo e fizeram crescer o número entre elas, tais como, a capital Pede entradas no país. Como princi- quim, Xian, Xangai, Guilin, Macau e pais pontos de interesse, destacam- Hong Kong. se o património Histórico-Cultural, a religião e a gastronomia. Pequim De facto, a realidade física ultrapas- A primeira cidade onde estive foi a sa as expectativas mesmo quando capital Chinesa, Pequim. Nada mese parte com alguma bagagem de lhor para começar uma viagem pela leituras sobre o país. A China que China com o gigantismo institucional visitei é uma nação que abandonou e contrastes constantes entre uma há alguns anos o modelo falhado do história milenar e o modernismo Comunismo, na sua versão Maoista, nos edifícios e zonas residenciais/ e que caminha, embora lentamente, comerciais recentes. Aqui foi onde para a democracia. Hoje os chineses visitei um dos maiores, mais belos e mais ricos podem comprar carros e perfeitos complexos urbanísticos do andares de luxo, podem optar por mundo, a Cidade Proibida, estando universidades e por hospitais priva- hoje transformada num museu. A dos e podem deslocar-se livremente sensação que se tem quando se no país ou saírem para o estrangei- está dentro desta cidade é uma mis-

ia

Ás

tura de misticismo inerente ao seu passado, com o sentimento de pequenez perante o gigantismo do seu espaço e arquitectura. A segurança é apertadíssima e visível a cada instante e em todos os espaços. Percorri igualmente o imponente e monumental espaço da Praça Tiananmen, a maior praça do mundo. A visita à Grande Muralha da China era imperdível e não desfraldou as minhas expectativas. A visão que se tem sobre a infindável muralha quando se está próximo ou em cima dela é impressionante e proporciona uma viagem no tempo. Quando se visita Pequim não se deve perder também a visita ao Templo do Céu, ao Palácio de Verão e à Zona olímpica.

Xian

Xian é uma cidade pequena, tendo

Guilin

em conta o gigantismo de Pequim e Xangai, tendo “apenas” quatro milhões de habitantes. Embora exista igualmente uma actividade comercial desenfreada e as ruas repletas é ainda possível observar certos requintes orientais que a torna muito mais aprazível. Esta antiga capital chinesa e antigo ponto estratégico da famosa “Rota da Seda” ficou mundialmente famosa após a descoberta do túmulo do Primeiro Imperador Qin e dos guerreiros de Terracota. O imperador Qin (1º imperador que unificou a China), mandou esculpir todo o seu exército (com direito a cavalos e carruagens) para proteger o seu túmulo, com o objectivo de puder continuar a reinar na eternidade. O perfeccionismo foi tal, que nenhum dos guerreiros tem um rosto igual ao outro. São milhares de esculturas de guerreiros feitos

de terracota em tamanho real, com expressões, roupas, sapatos e até penteados diferentes. A sensação que tive quando fui visitando as figuras ao longo das 3 salas foi de profunda estupefacção perante a perfeição e diferença entre todas elas, imaginando ao mesmo tempo como teriam sido feitas a milhares de anos atrás. Na cidade é ainda imprescindível visitar a magnifica muralha que rodeia o centro da cidade e que possui cerca de 10 metros de largura, tal como a Pagoda do Ganso selvagem localizada no ponto mais central de Xian.

Guilin

Guilin é uma cidade pequena, com seiscentos mil habitantes, e que, além do contraste no tamanho, diverge das outras cidades que visitei pela sua organização, limpeza e pai-


Correio da Feira

22.OUT.2012

Sugestão de roteiro 1º Dia 2º Dia 3º Dia 4º Dia 5º Dia 6º Dia 7º Dia 8º Dia 9º Dia 10º Dia 11º Dia 12º Dia 13º Dia 14º Dia 15º Dia

Lisboa ou Porto / Pequim Pequim Pequim Pequim / Badaling / Pequim Pequim / Xian Xian Xian / Guilin Guilin Guilin / Xangai Xangai / Suzhou / Xangai Xangai Xangai / Macau Macau / Hong Kong Hong kong Hong Kong / Portugal

sagem vincadamente verdejante. Esta cidade é um paraíso para os ambientalistas e também para os turistas, pois o ambiente é tranquilo e as pessoas são muito amáveis. O cruzeiro no leito do rio Li é sem dúvida uma das principais atracções, não só pela beleza da paisagem, como também pelas típicas embarcações que, durante o dia inteiro, sobem e descem o rio com turistas a bordo. De pé no convés do ferryboat de dois andares, arregalei os olhos a cada curva, enquanto uma paisagem mais bonita que a outra se ia revelando, onde aqui e ali se viam pastores com os seus búfalos, pachorrentos a pastar, mulheres a lavar roupa e pescadores solitários nas suas jangadas, com os característicos chapéus de bambu na cabeça, tendo as montanhas como pano de fundo. Um ambiente mágico!!

Xangai

Xangai é a maior cidade chinesa (24 Milhões de habitantes) e aquela onde se vislumbra claramente o desenvolvimento e modernismo recente da China. A cidade é um destino turístico famoso pelos seus locais emblemáticos, como o Bund (marginal e área mais chique da cidade) e o moderno centro financeiro de Pudong, onde está localizada a famosa Torre Pé-

Macau

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rola Oriental. Actualmente é o maior centro comercial e financeiro na China continental e tem sido descrita como o grande exemplo da pujança económica chinesa. Xangai ficou igualmente famosa pela sua nova reputação como centro cosmopolita de cultura e design. Existem bairros temáticos, como por exemplo o bairro francês, onde se pode encontrar construções de estilo Europeu. O rio Yangtze divide a cidade do famoso centro financeiro Pudong. A vista do Bund para Pudong é fabulosa e digna de um postal. Na cidade é ainda possível visitar o Templo de Buda de Jade, onde se encontra uma escultura gigantesca do Buda deitado em jade, cujo valor é incalculável. Visitei ainda o Jardim Yuyuan, próximo do bairro Chinês, onde vemos uma antiga casa senhorial no centro da cidade, podendo ver diversos lagos, riachos, pontes, galerias e palácios.

Hong Kong

Hong Kong, Região Administrativa Especial, está em constante mudança, sem perder a sua origem e tradição. Contrastes por todos os lados, superstição e alta tecnologia, shoppings de luxo e mercados de pechincha, arranha-céus e casas históricas, tudo ao mesmo tempo, no mesmo lugar... Esta foi sem dúvida a principal sensação que captei da cidade. O agitado coração da cidade é formado por Kowloon, no continente e pela ilha de Hong Kong. O que separa o continente da ilha é a “Baía de Vitória” ou “Victoria Harbour”. Hong Kong foi a parte da China que ficou sob domínio Inglês depois da Guerra do Ópio. Em 1997 foi devolvida aos chineses, com a condição de permanecer por mais 50 anos como Região Administrativa Especial, com autonomia, moeda própria e leis diferentes do restante país.

Grande Muralha

Macau

Macau foi uma colónia Portuguesa até 1999, sendo hoje um importante marco de fusão de culturas, onde o extremo oriente se une com o ocidente. Apesar da língua oficial ser o Português e o Mandarim (expresso nitidamente no nome das ruas), efectivamente o mais falado é o cantonês. A região é constituída por uma península e as ilhas: Taipa e Coloane, estando todo o território ligado por pontes. A arquitectura com a cara de Portugal e o Pastel de Nata são as maiores heranças deixadas pelos portugueses em Macau. Esta particularidade torna qualquer visita deveras interessante, devido ao facto de se estar num

lugar com cara portuguesa, mas com alma completamente chinesa, transmitindo uma sensação estranha de se estar em “casa” mas com uma sociedade que nos rodeia completamente diferente. Nos últimos anos Macau desenvolveu-se rapidamente devido ao turismo, especialmente vindo da China. De facto, esta região, actu-

Templo do céu

almente simboliza para a China um local de diversão, já que é a única região deste país onde os casinos são permitidos. No entanto existem diversos locais de interesse para conhecer em Macau, nomeadamente as Ruínas de S. Paulo, o Largo do Senado, e o Templo de Á-Ma. *Técnico de turismo


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Correio da Feira 05.NOV.2012

À descoberta da Patagónia Argentina

Jorge de Andrade A Patagónia está localizada no sul da América do Sul, abrangendo quase um terço dos territórios da Argentina e do Chile. São quase 800 mil quilómetros quadrados de território virgem, pouco explorado e de escassos habitantes. Uma região riquíssima em recursos naturais, fazendo deste lugar um dos mais belos do planeta. Marcada por ventos que ocorrem em grande parte do ano é também ponto de partida para as famosas excursões na Antárctica. A fauna marítima é riquíssima, baleias, leões‐ marinhos e pinguins podem ser observados em grandes concentrações nas épocas de procriação. Estende‐se até à Terra do Fogo, cuja capital é Ushuaia ‐ conhecida como o fim do mundo, com suas paisagens contrastantes: para oeste está o mar do pacífico; de norte a sul corta a Cordilheira dos Andes; no centro da região, a Patagónia extra‐andina, desértica, formando pedregosas mesetas e grandes extensões de campo; para o leste encontra‐se a Costa Atlântica. Começamos esta nossa viagem pela cidade mais europeia de todo o continente americano.

Buenos Aires

Buenos Aires, cidade cheia de movimento - não fosse o berço do Tango, que nasce num bairro de emigrantes pobres, chamado La Boca – é o centro cultural da Argentina. Com muitos museus, teatros e bibliote-

El Calafate - Glaciar Perito Moreno cas, apresenta uma arquitectura moderna, tendo sempre presente o traço europeu, que deu a elegância à cidade com os estilos art déco, o art nouveau, o neogótico e a somar agora as belíssimas construções contemporâneas em altura, onde o vidro e o aço predominam. Com mais de 12 milhões de habitantes, a cidade mantém‐se surpreendentemente segura e limpa e é, sem dúvida, o orgulho de todos os argentinos, que a consideram a mais elegante cidade da América Latina. Não é difícil a sensação de dejá‐vu, parisiense ou madrileno. A Casa Rosada (palácio Presidencial) que ficou famoso no filme “Evita”, no qual Madona personifica esta figura tão controversa da história recente da Argentina, domina a Praça de Maio, centro das conhecidas concentrações da Mães da Praça de Maio, (mulheres que exigiam saber o paradeiro dos seus filhos ou maridos desaparecidos pela mão do regime militar que dominou o pais na década de 70). Difícil será fazermos a visita a esta metrópole sem a presença de duas palavras – Tango e Evita. A oferta de centros comerciais, restaurantes, bares e discotecas para brindarmos a nossa estadia nesta capital é imensa, mas convém não esquecer um bom espectáculo de dança ao som do tango e seremos transportados para momentos de sedução e erotismo, com um

estilo de requinte, que só o tango oferece. Curiosidade: o tango descenderá da habanera e interpretava‐se nos prostíbulos de Buenos Aires e Montevidéu, nas duas últimas décadas do século XIX, acompanhado de violino, flauta e guitarra (violão). Nessa época inicial, era dançado por dois homens, daí o facto dos rostos virados, sem se fitarem. Depois, já nos anos 1910 foi um sucesso em Paris tendo sido aceite pela aristocracia platina, mas aqui já interpretado por um homem e mulher.

Ushuaia

Ushuaia é a cidade mais austral do mundo, também conhecida como

o Fim do Mundo. Tem pouco mais de 100 anos. A sua fundação contemporânea está associada a um presídio que desaparece no início do século, dando lugar ao progresso e desenvolvimento moderno da cidade, sendo o turismo actualmente o maior pólo de desenvolvimento. Local agreste e inóspito, com temperaturas muito baixas, o que nos cativa neste canto perdido no fim do mundo são as suas características naturais, como a paisagem e a natureza, muito respeitosamente preservadas, quase intocadas pelo ser humano. Região montanhosa de lagos maravilhosos e florestas antigas, ao visitar esta zona da Patagónia não nos foge a sensação de uma pro-

S. Carlos de Bariloche - Vista desde o Cerro Campanário

ximidade com o que de mais puro ainda nos é dado a apreciar no nosso planeta

Experiências a não perder

O passeio de comboio, conhecido como o comboio do fim do mundo, é um passeio que nos leva por paisagens tão diferentes como únicas, passando por lagos, montanhas e florestas, que de tão antigas parecem saída de contos da nossa infância. A navegação no Canal de Beagle, até alcançar o farol mais austral, apreciando a fauna marítima, em especial, a diversidade de aves aquáticas que descansam nas dezenas de ilhotas rochosas. Tendo sempre o elemento natureza presente, o mais


Correio da Feira

05.NOV.2012

Sugestão de roteiro Lisboa ou Porto ‐ Buenos Aires Ushuaia El Calafate San Carlos de Bariloche Portugal belo neste breve cruzeiro é o cenário das montanhas que parecem engolir a cidade de Ushuaia. Os seus picos estão durante todo o ano cobertos de neve e, na altura mais quente, têm como contraste o verde das montanhas e o azul do céu, juntando assim todos os elementos que naturalmente deslumbram o ser humano e nos fazem sentir perdidos num quadro onde o artista só pode ser divino. Fechamos esta visita com um bom jantar para saborearmos as delícias que o mar nos oferece, santola, pescada negra… fazendo um intervalo do cordeiro e da famosa e suculenta carne argentina que nos acompanharam durante toda a viagem. O deslumbramento da nossa visita a Ushuaia não termina aqui. Ao sairmos, via aérea, desta terra bela e longínqua continuamos a ser brindados com uma paisagem aérea, única e formidável. São montanhas sempre pintadas de branco, vistas de um céu azul celeste, passando por glaciares que vão rompendo montanhas e abrindo vales. É um panorama que não tem paralelo e que cansa o botão da nossa máquina fotográfica até aterrarmos em Calafate, a nossa próxima paragem.

El Calafate

El Calafate é a porta de entrada do Parque Nacional dos Glaciares. É uma pequena cidade localizada na província de Santa Cruz, com aproximadamente 5.500 habitantes. O seu desenvolvimento deve‐se exclusivamente ao turismo que ali ocorre para fazer a visita aos glaciares. A visita dos glaciares, e muito em especial do Perito Moreno, o mais famoso da Argentina, é sem duvida o ponto alto, para quem visita pela

primeira vez este país. O Perito Moreno é o ex‐líbris, cartão‐ de‐visita da Argentina. Infelizmente, por essa razão muitos turistas cometem o erro de não fazerem a navegação, que os levaria a conhecer outros glaciares, perdendo assim uma visita e experiência sem paralelo.

Spegazzini e Upsala

Começando pela navegação naquele que é chamado o parque dos glaciares, não posso deixar de referir o frio que sentimos sempre que nos atrevemos a sair do interior do barco, porque a paisagem de tão bela a isso obriga para captarmos com a nossa objectiva recordações desta experiência. Como todas as águas que provêem do degelo dos glaciares, a sua tonalidade é de um azul claro e translúcido salpicada de pequenos, médios e grandes icebergues que são fragmentos dos gigantes que vamos visitar, Upsala e Spegazzini. Ambos são imponentes fazendo‐nos sentir na presença de enormes monumentos da natureza. No entanto, o Spegazzini é, de todos, o mais alto com os seus 135 metros de altura em comparação com os 40 metros do Upasala, sendo este o terceiro mais longo da América do sul. Recordo que estamos de frente a estes gigantes, observando‐os de uma embarcação e se nas imediações houver outro barco podemos sentir a nossa pequenez. É uma visão da grandiosidade da natureza que nos deixa estupefactos. Quando visitei, pela primeira vez, este parque tive a oportunidade de visitar mais um outro glaciar, o Onelli onde aproveitamos para almoçar. Agora esta baia encontra‐se fechada aos turistas.

Ushuaia - Comboio Fim do Mundo

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Perito Moreno

Este glaciar tem cinco quilómetros de largura e 60 metros de altura e é considerado uma das reservas de água doce mais importantes do planeta, tendo sido declarado Monumento Natural da Humanidade pela UNESCO em 1981. A visita a este glaciar completa o sentir de todas as nossas sensações ao parque dos glaciares. Podemos visionar o Perito Moreno por terra numa floresta verdejante, tendo sempre como quadro, este gentil gigante vestido de branco azulado. Convém pararmos por instantes e, em silêncio, para usufruirmos de uma experiência que mais nenhum outro glaciar nos brindou - escutarmos o Perito Moreno a mover‐se, tal como uma fera lançado breves e intercalados rugidos. Também podemos fazer um breve cruzeiro para observar o glaciar de frente e, com sorte, testemunharmos os desabamentos fruto da deslocação do glaciar e do degelo. É um espectáculo acompanhado de sons que jamais esqueceremos. Para os mais destemidos e preparados fisicamente, há ainda a possibilidade de caminharmos sobre o glaciar, sempre acompanhados por profissionais e experientes guias e somente numa determinada época do ano. Fisicamente gelados mas com o espírito quente e as sensações mais preenchidas e enriquecidas com esta visita, abandonamos Calafate, não sem antes de uma boa refeição, que não pode deixar de ser Cordeiro Patagónio.

São Carlos de Bariloche

Se o tempo permitir, aproveitamos para nos despedirmos dos Gigantes levando outra visão. Observaremos os Glaciares com uma vista, que só Deus tem da Sua criação. Visto do céu, os glaciares parecem‐nos enormes serpentes adormecidas na terra, mas não se enganem porque estão sempre em movimento. Chegados a Bariloche vamos encontrar uma cidade que nos faz lembrar as bonitas e sempre muito bem cuidadas vilas e peque-

Buenos Aires - Tango no bairro de La Boca nas cidades da Suíça ou Alemanha. Com apenas 130 mil habitantes, S. Carlos de Bariloche é um dos mais importantes centros de desportos de Inverno da América do Sul. A cidade em pleno Inverno fica repleta de turistas provenientes de vários países do continente sul-americano. Mas não é esta a nossa altura do ano, pois estamos em pleno Verão argentino e o que nos leva a visitar este nosso último ponto da Patagónia não é a neve, mas sim o verde das montanhas e o azul ou esverdeado dos lagos, o céu sempre limpo e de um azul celeste que contrasta com as montanhas que, nos seus cumes, mantém o branco das neves eternas tal sumo pontífice com o seu solidéu. Há imensas visitas que podemos fazer a partir de Bariloche: subir as montanhas e desfrutar das mais belas paisagens do mundo, assim foi considerada já há alguns

Ushuaia - Leões Marinhos

anos a vista do Monte Campanário pela National Geografic; pequenos cruzeiros de um dia que nos levam por lagos e passeios por florestas encantadas até à fronteira com o Chile. Outra opção é a visita a Vila Angostura. Situada nas imediações do lago Nahuel Huapi e dentro do parque com o mesmo nome, que apresenta três ambientes claramente distintos: o alto andino, o bosque húmido e a estepe patagónica. Aproveitar e marcar um almoço no mais elegante hotel de Bariloche, o “Llao Llao”. Situado na península que lhe dá o nome, este hotel é todo construído em madeira, é considerado um dos hotéis mais elegantes da América do Sul e brinda‐nos com uma paisagem que nos enche a alma e deixa o desejo de voltarmos um dia a este lugar tão belo e bem preservado do nosso planeta, tantas vezes, tão mal tratado pelo ser humano.


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Correio da Feira 19.NOV.2012

Uzbequistão: no coração da Ásia Texto de Marco C. Pereira Fotografia de Marco C. Pereira e Sara Wong

Um dos prodígios que qualquer guia local ou anfitrião usbeque parece ter orgulho em repetir é o facto de só no seu país e no Liechtenstein, qualquer que seja a direcção, se tem que cruzar duas fronteiras para chegar ao oceano. Além de curiosa, esta localização continental também se prova conveniente. Situado em plena Ásia Central mas à distância de um voo directo de Madrid, o clima do Uzbequistão divide-se por quatro estações bem marcadas mas pouco chuvosas que permitem aos visitantes escolher o tipo de experiência meteorológica que preferem. Maio e Setembro trazem temperaturas que qualquer português pode considerar amenas e de transição. Os fãs inveterados do Inverno e do frio podem viajar de meio de Novembro a Fevereiro e contar com os cenários do deserto e das cidades históricas nevados. Aos adeptos do calor, agradará sobretudo o período que vai de Junho a Outubro em que se repetem dias quentes e secos que contribuem para uma agradável descontração. Seja qual for a altura, na maior parte do ano, o céu permanece limpo e bem azul, algo que acentua a grandiosidade das paisagens. A sensação dos espaços hiperbólicos surpreende os visitantes com os primeiros passos em Tashkent, a capital arrojada, multicultural e ajardinada da nação. Ali, nas avenidas amplas de inspiração soviética, o passado e o futuro disputam as faixas sem fim sob a forma da frota irrequieta de Ladas rejuvenescidos ou dos Daewoos e Chevrolets que os vão substituindo, tudo a acontecer sobre a rede de metro elegante e funcional da cidade. Também os edifícios da capital contribuem para embelezar o contraste. Prédios de visual marcadamente comunista preenchem a maior parte da

urbe mas o novo centro erguido em redor da Independence Square e refrescado pelo verde do Parque Navoi e pelas inúmeras fontes e repuxos expõe uma orgulhosa ostentação nacionalista.

Khiva - Madraça e Minarete Kalta Minor Ali por perto, a cápsula algo extra- findável e agora seco, nas mesmas por estepes infestadas de tribos beterrestre do Chorsu Bazar devolve a margens que antes abasteciam, com licosas. Hoje, a fortaleza surge num capital à terra. Serve uma multidão toneladas de peixe, a povoação pis- cenário rural verdejante, hospitaleiro afável de vendedoras agrícolas com catória. e bucólico. dentes de ouro que trajam vestidos Segue-se Khiva, a primeira das três O coração da velha Khiva concencoloridos e cheira a quase todas as grandes cidades históricas do Uz- tra mesquitas e alguns dos minareespeciarias e frutos secos do mundo. bequistão, situada sobre a fronteira tes emblemáticos do país, palácios, Ao fim da tarde o mercado encerra. Algumas horas depois, Tashkent entrega-se ao plov e a outros pratos irresistíveis dos seus restaurantes e, logo, à animação dos clubes nocturnos, frequentados pela juventude elitista da cidade. Se não for o seu estilo, aproveite para assistir a espectáculos de ópera, ballet ou teatro com a qualidade da velha escola soviética e aos mesmos preços misericordiosos que vai encontrar em todos os produtos e serviços do país. Para que fique com uma ideia mais concreta, saiba que uma refeição completa lhe fica por quatro euros e uma garrafa de água de litro e meio custa apenas 50 cêntimos. A uma hora e meia de avião, no extremo oeste do país, Nukus é, por norma, a próxima paragem. Esta cidade da província do Karakalpaquistão serve de porta de entrada para Muinaq, uma das povoações que mais sofreu com as experiências agrícolas e ambientais soviéticas que provocaram o quase desapareTashkent - Arquitectura segundo inspiração soviética cimento do Mar de Aral, em tempos o quinto maior do mundo. com o vizinho Turquemenistão. mausoléus, ruas e ruelas pitorescas Mais que a paisagem do deserto do Em tempos, o nome de Khiva era e, pelo menos 16 madraças quase Quizilkum circundante, fascina, ali, a sinónimo de caravanas de escravos, todas adaptadas para fins seculares. visão estranha dos barcos ferrugen- de sede de conquista e de um refúgio Uma, em particular, surge na sombra tos encalhados na orla do leito in- nas viagens pelos desertos da Ásia e do minarete Kalta Minor. Foi transfor-

mada no Hotel Khiva e recompensa os hóspedes com o retiro históricoreligioso do seu pátio. Concentrada num espaço diminuto e plano, Khiva é ideal para visitar do nascer do dia ao anoitecer, para contemplar e fotografar as mudanças de

tons do casario a partir do alto das muralhas e minaretes, a imponência dos monumentos e a minúcia dos arabescos, azulejos, mosaicos e majólica empregues na sua decoração.


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19.NOV.2012

De Volta à Rota da Seda: Bukhara e Samarcanda: Bukhara foi, em tempos, uma rival à altura mas destacou-se, tornou-se na cidade mais sagrada da Ásia Central e no lugar ideal para viver o passado civilizacional do Turquestão, uma região mais abrangente que os Russos dominaram, integraram na União Soviética e acabaram por retalhar. O centro de Bukhara revela-se uma relíquia arquitectónica repleta de madraças e fortalezas – com destaque para a Arca - e os vestígios do que foi um vasto complexo mercantil. A sua área religiosa por excelência concentra-se em redor da praça Po-i-Kalan de que se destaca um dos minaretes mais imponentes da Ásia. Ao invés, a praça Lyabi Hauz reune o melhor da vida secular da cidade, os hotéis, restaurantes e esplanadas e espectáculos de música e dança contagiantes. A região de Nurata dista cerca de 250km e proporciona uma evasão recompensadora na natureza. Pelo caminho, descobrem-se as primeiras montanhas da cordilheira Nuratin cujo degelo alimenta o lago Aidarkul, um corpo de água imenso e extremamente fotogénico, perfeito para umas braçadas em pleno calor estival, ou para avistamento da sua fauna que inclui patos selvagens, gansos, garças-reais e até pelicanos. O Aidarkul é servido por um acampamento de iurtas que permite aos visitantes experimentarem,

Samarcanda - Necrópole Shohi Zinda por alguns dias, a vida nestas ha- Seda, Samarcanda evoca o crubitações nómadas do deserto e zamento comercial e multicultural da estepe usbeque. das caravanas provenientes ou a Para os mais interessados em caminho da China e do Ocidente história, a próxima paragem dis- mas também a glória medieval do pensa apresentações. Um dos império de Timur, o líder histórico entrepostos místicos da Rota da que, nos séculos XIV e XV, conquistou e regeu um dos maiores impérios de que há memória. A praça do Registão destaca-se da cidade, muito graças à disputa de protagonismo entre as madraças de Ulugbek, de Sher Dor e de Tilla Kari. Peregrinos curiosos e amigáveis de todo o país e viajantes do mundo encontram-se em frente às suas fachadas majestosas e convivem no jardim contíguo. Como noutros lugares, findos os salamaleques cordiais também aqui o estado civil dos casais estrangeiros e o seu número de herdeiros são temas incontornáveis

Bukhara - Danças tradicionais uzbecas

das conversas espontâneas, uma expressão calorosa da importância que a família e os filhos – quantos mais melhor – continuam a ter para os usbeques. Quando a noite se instala, formase, na praça, uma pequena multidão internacional preparada para assistir ao espectáculo de luz e som que retrata o passado glorioso da cidade. Mas a Samarcanda monumental não se fica pelo Registão. Outras mesquitas e mausoléus, parques, museus e mercados dotam a área circundante. Há ainda o Observatório de Ulugbek, um dos principais achados arqueológicos do século XX, usado pelo astrónomo uzbeque da antiguidade para perscrutar o Espaço. Shakhrisabz está apenas a duas horas de carro. É a terra de Timur

Samarcanda - Mausoléu Gur Emir

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e mais um Património Mundial da UNESCO. O vale de Fergana até lhe pode aparecer por último no seu itinerário mas não fica atrás em termos de interesse. Delimitado a sul pela cordilheira altiva de Pamir, a maior parte da fruta do Usbequistão provém desta zona também preenchida por mega-plantações de algodão, o ouro branco introduzido pelos Soviéticos. Fergana prova-se também uma região artesanal, por excelência. A olaria é, por estes lados, prodigiosa e as melhores fábricas de seda – casos da Yodgorlik - produzem tecidos e vestuário excepcionais que marcas de moda tão famosas como a Gucci e a Versace se habituaram a comprar. Como a sua seda, o Usbequistão merece toda a notoriedade.


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