CUNTROLL ZINE
Entrevista/Interview:
Julho/July 2017
OFFICIAL MEANING OF THE WORDS:
CONTROL :
HAVE POWER; to have power over a person, company, country.
LIMIT/MANAGER; to limit something or make it happen in a certain way.
STAY CLAM; to manage to make yourself remain calm, even though you are upset or angry.
CUNT:
(taboo; slang) – a woman’s VAGINA and other sexual organs.
A very offensive word used to insult and to show anger or dislike
ROLL:
LIST OF NAMES; an official list of names.
SOUND; a deep continuous sound
OUR MEANING:
Cunt;
ANYONE who identifies as a fucking badass genderless unicorn.
Someone who doesn’t take SHIT from anyone else and doesn’t stay neutral when it comes to controversial situations.
Anyone who fights on a daily basis, to not only survive but to LIVE their most authentic self and help/inspire others to do the same.
Fotos da c apa por/Cover photos by: Carol Silva
Special thanks to Kat V and all the beautiful people who helped us make this issue so perfect!
Carta da Editora:
É urgente refletirmos sobre a dicotomia entre o nosso corpo e a nossa mente. Como ambos se relacionam e se destroem, como a nossa aparência física desgasta a nossa saúde mental e vice-versa. Há muito tempo que queria abrir espaço aqui para falarmos sobre doenças do foro psicológico e como isso afecta o nosso bem estar, a nossa capacidade de socializar e a nossa autoestima. Os padrões de beleza irreais criados pelo Patriarcado muitas vezes são a raiz de muitos dos nossos problemas mentais, pois muitos de nós tivemos de aprender a desconstruir todos os papéis que nos foram incutidos desde criança. Desde a construção e questionamento do género binário que nos é atribuído à nascença, aos problemas que sofremos por sermos gordxs ou termos algum tipo de diversidade cognitiva ou física, passando pelo direito ao nosso espaço e liberdade em podermos simplesmente existir sem pedir desculpa ou licença nesta sociedade machista, racista, transfóbica, homofóbica, capacitista RS
Editors Letter:
It is urgent to reflect upon the dichotomy between our bodies and our minds. How they are direcltly related and have the capacity to destroy themselves, how our physical appearance wears away our mental health and vice versa. I've been wanting to open up a space to talk about psychological illnesses and how it affects our well-being, our ability to socialize and our self-esteem. The unrealistic beauty standards created by the Patriarchy are often the root cause of so many of our mental problems, since so many of us had to learn how to deconstruct all the roles we have been taught since childhood. From the construction and questioning of the gender binary that is attributed to us at birth, to the problems we suffer from being fat or having some type of physical or mental diversity and also the right to all the space we can take and the freedom to simply exist with no need to apologize or excuse ourselves in this misogynistic, racist , transphobic, homophobic, ableist society. RS
IN MEMORIAM
Simone V eil (1927 – 2017)
facebook.: @AndreiaCoutinhoIlustracao
And he stayed.
First they would think he was a little gay boy. Then they would see his boobs.
Then they would think he was a tomboy.
Then they would see him making out with girls.
Then they would think he was of course a lesbian. Then they would also see him dancing and making out with boys.
Then they would think he was such a HBB and that she was actually cute.
Then they would see him painting beards and moustaches with make up and they would think that she was wow such an artist. Then he would say he wasn’t she, but he wouldn’t say as well that he was actually he.
He thought he was sort of an abstract nothing.
Then he heard “La toilette des etóiles” and he found himself there.
He found himself in the grey space of the dichotomy. He found himself between his glory and his misery.
He found that he was half-something, maybe even half-human. Then he thought that he could actually be an angel, why not? It even made sense.
So he proceeded to convince himself and everyone he was an angel
And then even the lady at the canteen would ask him “what does this little angel want for tomorrow?”
He thought that maybe - maybe, maybe - he actually had the right to just be and he wanted to take off his dead skin.
He wanted to take off his dead name as well.
He wanted to be correct.
He wanted to make it clear and clearly
He thought “I am a poet, this should be easy”
He thought for two weeks
He told the people around him
He was ignored and shut.
Every time he tried to take his heavy mask off, they would accuse him of putting one on.
They would accuse him of being selfish. Then would accuse him of trying to fool them. They would accuse him of some depraved provocative exhibitionism.
They would throw him harsh words that hurt like stones. They would accuse him of asking for it.
They would accuse him of victimization
And they would keep throwing their stones.
Then he went for a real moustache
While he would still paint his old ones with make up sometimes
He would become his own drag
He would become his own fag
He would become his own flag
He would become his own twink himself
With his own blessed boobs
With his own blessed lashes
With his own blessed rawness
With his own blessed inconvenience
A little biting beast
A little walking angel
A little pocket book
A little spoon for napping
A little player champion
Playing a little awkward loser.
He actually liked
Being treated like a girl
As long as people knew
He fucking wasn’t one.
Still he performed his freak show
Both as an actor and a spectator
All who were watching
Were being watched.
He knew that he was good
Still he knew
That he was still bad as well
That was why she loved him so much
That’s why she would fight for him so hard
That’s why she would make him (love her) so hard
That’s why she owned his heart
That’s why he would never leave her.
She saw his flaws and faults
She saw his fears and doubts
She took his hunger
She took his anger
She made him some tea
She told him “come as you are”
She filled him up with love
And he stayed.
( Kayl Worska , 5/2017)
@badass-neon-unicorns-drink-tea.tumblr.com
A Mafalda Fonseca é uma blogger do Porto, com queda para a moda e as palavras de motivação certas. Se estavam há procura de portugueses a falarem sobre o movimento “Body Positive” na primeira pessoa e com um discurso cheio de amor, inspiração e força, a vossa procura acabou agora mesmo. Comecem a seguir as aventuras da Mafalda no facebook: @maffintop
1. Em primeiro lugar fala-nos um pouco sobre ti, quem é a Mafalda Fonseca aka MaffinTop?
Mafalda: Oh boy! Pode parecer que não, mas eu tenho sempre imensa dificuldade em apresentar-me. Eu sou uma Portuense de 25 anos, Gryffindor saída do armário (sempre insisti que era Hufflepuff), com demasiadas opiniões, extremamente teimosa, e com uma queda perigosa por roupa bonita, maquilhagem brilhante e pizza. Ainda estou a tentar perceber como é que a vida adulta funciona e desconto para o estado, já que trabalho na área de marketing.
2. Quando e porquê é que decidiste começar o teu blog MaffinTop?
M: O MaffinTop nasceu a pedido de muitas famílias, que é como quem diz, graças às chatas das minhas amigas que continuam a acreditar que eu consigo dizer coisas interessantes na Internet. Foi em Setembro de 2015 que criei a página e inicialmente queria dedicala a maquilhagem, mas percebi que as pessoas estavam mais interessadas em ver o que eu vestia e onde comprava a minha roupa. O ‘boom’ deu-se quando fiz o meu primeiro post sobre ‘brafitting’. Não é algo comum em Portugal, até porque fazer reviews de lingerie obriganos a mostrar um lado mais íntimo, mas a verdade é que muita gente portadora de apêndices mamários se mostrou interessada no que eu tinha a dizer sobre estas peças tão específicas e essenciais para muitxs. A partir daí quis focar-me nessa vertente mais intimista e pouco usual, bem como na promoção do movimento body positive. Já
fazia alguns posts relacionados com as temáticas no meu Instagram mas o Facebook tornou tudo ‘oficial’.
3. Um dos tópicos mais importantes que costumas abordar nos teus posts é o corpo e a relação da sociedade e de nós próprios quando fugimos às normas que nos são impostas. Neste caso a tua experiência como mulher gorda, com uma missão crucial de retirar a conotação negativa do adjectivo Gordo para passar a ser apenas mais uma caracteristica fisica como ser alto baixo ou magro. Algumas das tuas palavras e histórias reflectiram imenso as minhas próprias vivências como criança/adolescente/adulta gorda e isso ajuda sempre a amparar aquelas memórias que muitas vezes queríamos apagar e não conseguimos.
Dirias que houve um switch, um momento de iluminação em que percebeste que os outros é que estavam errados e não tu? Ou foi um percurso que ainda levou a algum tempo a colher os seus frutos?
M: Demorei 22 anos a aceitar o meu corpo. O primeiro comentário maldoso que teceram a esse respeito foi no infantário. Eu sei, é ridículo lembrar-me de coisas que aconteceram quando eu tinha 5 anos, mas por alguma razão, não podia ser a Bela Adormecida quando brincávamos ao ‘faz de conta’. ‘A Bela Adormecida não é gorda’ disse a Ana Luísa. Da primária ao 7º ano, a pior coisa que me podiam chamar era ‘gorda’. Ser ‘gorda’ era pior que ser insensível, cruel, rude e mal educado. Os miúdos batiam-me porque eu insistia em existir num corpo maior que o da maioria das meninas da escola. Se me concedessem um desejo nessa altura, não hesitaria em pedir para ser magra. É incrivelmente doloroso pensar no poder que isso tinha sobre mim, na quantidade de vezes que considerei forçar o vómito depois de cada refeição feita em casa.
Do 7º para o 8º peguei nos meus patins em linha e andei de um lado para o outro na garagem da minha avó o Verão inteiro, até estar magra o suficiente. Mudei de escola e nunca mais me chamaram gorda até chegar ao 12º. A toma da pílula contraceptiva fez com que implodisse de um dia para o outro. A comunidade de cosplay portuguesa transformou-me numa ‘lolcow’ durante uns tempos e tecia imensos comentários acerca do meu tamanho.
Comecei e larguei dietas sempre pressionada pela minha família. Não era por mal, mas sim porque acreditavam genuinamente que era o melhor para mim. No meu penúltimo ano da universidade comecei a ver resultados. Deixava 35€ todas as semanas na nutricionista, estava a emagrecer e desta vez também tinha a hipótese de fazer redução mamária encima da mesa. Depois o Erasmus aconteceu e o binge eating andava de mãos dadas com as saudades de casa. Enfim, voltei a engordar, desisti das consultas e da cirurgia.
Foi quando comecei a trabalhar que a minha maneira de pensar se alterou por completo.
Mal acabei os recursos do meu último semestre, enviei currículo para a Dama de Copas no Porto, onde fui contratada para trabalhar como ‘brafitter’. Trocado por miúdos, fui assistente de vendas personalizadas durante um ano. Vendas de lingerie, em provador, nas quais ajudava as clientes a experimentar todas as peças, recomendando o tamanho e modelos mais indicados para o seu tipo de peito. Isto implicava que olhasse todos os dias para corpos nus. Eram dezenas de mulheres todas as semanas..muitas, muitas, muitas mamas. E todas estas pessoas tinham algo a dizer sobre o seu corpo. Havia sempre algo a criticar mas eu não conseguia ver esses tais defeitos que elas tanto apontavam. Eram coisas naturais como celulite, estrias, ‘regueifinhas’, marcas, tudo e mais alguma coisa que não estamos acostumados a ver em revistas com imagens perfeitamente airbushed. Algumas pareciam enojadas de si mesmas. Não fazia sentido elas não verem o que eu via, ou neste caso, verem coisas a mais. Não havia nada de errado com elas, e ao fim de algum tempo a ver tantos corpos, cheguei à conclusão que sim, somos todos diferentes mas ao mesmo tempo somos todos exactamente iguais. Eu sei, super cliché mas é verdade. Não vale a pena cabermos num molde. O nosso corpo é um saco de pele, carne, ossos e gordura que nos permite desfrutar da vida, e era cansativo e frustrante ver tantas mulheres privarem-se de viver porque tinham vergonha de si mesmas. Claro que sendo uma adepta louca do tumblr e consumista de toda a teoria feminista que por lá passava (ahah!), estava consciente que os media nos vendem imagens completamente manipuladas, mas lidar diariamente com pessoas, fez-me aperceber ainda mais que a representatividade tem muito poder. O simples facto de eu ser uma ‘brafitter’ gordinha e ‘mamalhuda’ trazia conforto a algumas das nossas clientes, e não foram poucas as vezes que as minhas colegas me chamaram a provador para mostrar o meu modelo de soutien, só para que aquelas mulheres tivessem alguém com quem se identificar.
O passo seguinte foi aplicar esta nova atitude em relação ao meu corpo. Também eu não sou obrigada a caber num molde. Ver tantas mulheres semelhantes a mim e concluir que somos todas vítimas das ideias que nos são vendidas há décadas por indústrias que só querem lucrar com as nossas inseguranças, foi o suficiente para finalmente começar a gostar da Mafalda Gorda. Foi assim que aprendi a amar-me, quando nunca tinha estado tão pesada como naquela altura.
A partir daí bastou começar a ser mais vocal em relação a isso: na vida real com a minha família e amigos, nas redes sociais, em encontros feministas. É incrível ver o poder que a confiança e o amor próprio conseguem exercer.
Ainda há muito trabalho pela frente. O preconceito é pior que o piolho, demora a morrer e salta de cabeça em cabeça com grande facilidade. Até mesmo nos círculos feministas é complicado falar de gordofobia, pois é um problema que não é encarado com a seriedade necessária para vermos mudanças significativas a nível social, mas acredito que aos pouquinhos conseguimos mudar mentalidades.
4. Quais são algumas das tuas inspirações para o movimento de Body Positivity?
M: Sou inspirada por imensos seres maravilhosos! Sem dúvida que algumas bloggers e modelos são os meus main role models, sendo a minha main babe a Gabifresh.
Adoro a estética e os brains! Nada me deixa mais contente que uma bomba que sabe o que dizer mas também o que vestir.
A Georgina Horne do blog Fuller Figure Fuller Bust foi quem me inspirou para começar as reviews de lingerie e é uma das minhas maiores referências.
E cada vez mais olho para actrizes que vão ganhando destaque, como a Dascha Polanco, a Danielle Brooks e a Gabourey Sidibe, seja pela rebelião contra as grandes marcas que se recusam a vestir mulheres plus size, seja pela participação em campanhas como as da Lane Bryant. E confesso que sabe bem ver diversidade e corpos semelhantes ao meu nos media que consumo.
5. Também és modelo plus size para várias campanhas de moda, qual a tua opinião sobre a indústria da moda em Portugal quanto a corpos que realmente espelham a maioria de nós e não apenas uma porcetagem minima que usa 32?
M: Portugal é um país pequenino mas faz a sua parte. As poucas marcas portuguesas que têm tamanhos maiores, fazem questão em tirar o maior proveito disso, porque se as pessoas se identificam e gostam de ver a peça em alguém semelhante a elas, vão querer comprar e isso traz lucro, né. Há alguma hipocrisia, sobretudo lá fora, porque cada vez mais capitalizamos movimentos e lutas sociais, e muitas marcas que tentam diversificar as suas campanhas, fazem-no exclusivamente pelo dinheiro que isso traz e não pelo impacto que tem sobre os grupos sociais que compreende. De outra forma como explicamos que pessoas como a Khloe Kardashian têm linhas de jeans plus size mas programas de TV que se alimentam da perpetuação da gordofobia? Quanto a nós, é continuar a dar voz às marcas com maior diversidade e fazê-las chegar aos media mais tradicionais até conquistarmos as cabeças mais duras e bacocas!
6. Participaste no Nyx Face Awards há pouco tempo com alguns dos looks mais originais e sempre com aquele toque divertido e sweet de Mafalda (even when playing dead ahha) O que é que te fascina mais no mundo da maquilhagem e seria algo que gostava de seguir profissionalmente? Que planos tens para o futuro?
M: Awn! Obrigado! Fico feliz que tenham gostado da minha participação! Faz-me sentir menos arrependida por ter passado tantas
horas a maquilhar, editar e fritar os meus neurónios e os da minha melhor amiga, ahah! Não sou uma rapariga dedicada a looks super edgy e acabo por ficar sempre na minha zona de conforto, mas para mim, maquilhagem não deixa de ser uma forma de auto expressão. Um batom vermelho dá-me muita confiança e garra, um bom iluminador confere brilho aos dias mais aborrecidos e sem cor, e o meu cat-eye já faz parte de mim e da minha identidade. É uma forma de arte e adoro todas as possibilidades que temos para tirar o melhor proveito dos nossos traços. O que mais me deixou pumped no NYX Face Awards foi a possibilidade de contar histórias através da maquilhagem, daí ter adorado o Alien Challenge! Tento sempre não me levar demasiado a sério, até porque tenho noção que tenho que comer muita sopinha para me tornar melhor nesta área. Adorava tirar um curso profissional para poder trabalhar como maquilhadora sempre que a oportunidade surgir. Entretanto, ficou o bichinho pelo Youtube, que é um projecto que gostaria de levar para a frente, mas que acaba por ficar sempre de lado devido aos meus horários e falta de tempo.
7. Que conselhos darias às raparigas/pessoas que continuam numa luta constante e diária com os seus corpos, com a sociedade e a cultura em que nos integramos e como podem aprender a amar aquilo que veêm no espelho?
M: Não se deixem levar pelo que a sociedade dita, há beleza em tudo.
‘Surfem’ a internet, procurem corpo semelhantes aos vossos no Tumblr e Instagram. Elogiem alguém e deixem-se elogiar. Sejam gentis convosco mesmas. Tirem fotografias, olhem-se ao espelho e conheçam bem o vosso corpo.
Alimentem-se bem e façam exercício porque é saudável e não uma sentença para a mudança. Não se aflijam de cada vez que comerem algo mais calórico, apenas procurem viver equilibradamente.
Corrijam as pessoas que empregarem a palavra ‘gordx’ como insulto e ensinem-lhes que é suposto assumirmos várias formas. Nunca deixem de fazer/vestir/usar algo por causa do vosso tamanho. Andem de cabeça erguida. Às vezes é mesmo fake it ’til you make it. Não se deixem afectar pelas opiniões malvadas dos outros, vocês valem tão mais que isso, trust me! Espero que todos os meus clichés ajudem!
HAVE YOUR OWN CUNTROLE
Quais seriam as três pessoas (mortas ou vivas) que gostavas de convidar para um jantar?
Norma Jean/Marilyn Monroe: eu sei, básico, mas adoro todo o drama de Old Hollywood, ao estilo das canções da Lana del Rey. Sempre tive um pequeno fascínio pela Marilyn e cada vez que aprendo mais sobre a vida dela, cresce uma tristeza enorme em mim. No meio do glamour, era uma mulher perdida, que apenas desejou ser amada e ter carinho incondicional. Acho super interessante a maneira como estrelas tão icónicas acabaram de formas tão trágicas, e até hoje ainda insistem em mascarar todos os seus problemas para preservar essas imagens. Gostava que ela me contasse o que realmente se passou e quais eram as suas vontades.
Gerard Way, antigo vocalista dos My Chemical Romance e escritor. Cada vez mais me apercebo da influência que o Gerard teve na minha vida, não só pelos My Chemical Romance, mas pelos bons exemplos e lições que ele sempre transmitiu nas entrevistas. Todas as conversas sobre saúde mental, género e orientação sexual moldaram-me de alguma forma. Continua ser um homem com um coração de ouro e adorava beber um café com ele.
Frida Kahlo - Não há muito para explicar, não é?
Deixem-me só sentar à mesa com uma força da natureza com um legado incrível.
Completa a frase “Antes de morrer... quero contribuir para a mudança, deixar uma marca no mundo, por mais pequena que seja.
Ophelia Ophelia
doretornodesaturnoblog.wordpress.com
I started getting tonsillitis a week or two after I was assaulted. It always makes me uneasy to say that, assault, because it seemed like a series of self-destructive choices led me to a strangers home, to their basement/bedroom. The part of me that planned to go to someone’s house and sleep with them didn’t foresee the few minutes of light conversation and a glass of wine, his white alien body suddenly factual, the realization that no, no, no this was not the correct outcome.
It is a year and a half later, June 23rd. I have tonsillitis again. That one on the right, it always swells up the most. Pus forms along those worn grooves where pus sprung, bled, and scarred into welts. The first time I had it was in Milan, when I was sleeping on my uncle’s couch, calling ads about rooms for rent while sitting in cafes. I was negotiating the terms of my transfer from a public school to a private art college, which I never went to, because in the end I didn’t receive the scholarship to pay for it. I think it worked out for the best.
So when I got tonsillitis was the last time I went there, feverishly waiting for a train, wondering how the fuck did I get so sick.
Maybe 2 weeks earlier I was in a cab, devilishly, with that mixture of excitement and terror I feel when I know I will be considered sexually by a guy, balking a little under the ill-fitting gender contract of his gaze, flirtation, etc.
Who had money for a cab in Milan? He did. It was glamorous (I’m broke and from a small town), I was finally getting this right.
An hour later I was washing cum out of my mouth by a kitchen sink, very deliberately. Whenever I wash my hands I always wipe them on my shirt to dry, but there I used a paper towel, folded up several times.
At a birthday party at 17 I drank myself into a blackout but sobered up quickly by doing cocaine locked in a room, sitting next to a sweaty, hulking man who hugged me at one point. I think I added a symbolic handful of change to the money pool for it. I didn’t want any favors. By dawn I was conscious of words being said and images being seen, but their meaning dissipated on arrival like the thinnest mist. I had a big, empty swimming pool instead of a head, which is the only way I can describe how I felt by the sink, on the bed, holding the tip of his penis in my mouth.
I was the most still, he was writhing moving saying things doing things, and I was not.
When my tonsils swelled up and I shook with fever for days I thought a lot of things but not that.
A month later I moved to Venice. I spent the winter weeping comically around my room, on the bridges, on the way to school, always for my sister. Always thinking about her. I got tonsillitis every two weeks, the antibiotic regiment was always ending or starting.
I never thought about the non-consensual dick in my mouth or the single 50 euro note he put in my hand, I never thought about how my body went into autopilot when I realized I was far from home in a basement with a stranger. Or how he shut the door on my face and I still wanted him to like me.
Instead I met a boy and we had sex, or rather I watched me doing sex to him like a lizard on the wall. I hung off of him and wanted to be in his service, and I cried again and made videos about shedding my skin and debasing myself for love when he left. My professors love that shit.
Now I have tonsillitis again, and I can connect it to the/my/our assault. My mind and body were violently breached, the door was unlocked but someone chose to rob the house. Someone could have walked in this whole time.
And they did. Someone sticking their tongue in my mouth, that I didn’t want or request. A guy lifting my dress, my mother’s dress, from behind me on the street. A wall of men I walked into from the opposite of a crosswalk, all of them grabbing my ass like it was a passing dog to pet. My mind has been too lenient, too forgetful. My body said this is the last straw: tonsillitis, fever.
Drop everything, go to bed.
You’ve got tonsillitis and it’s the only STD strain of it in existence. It’s the middle of summer, I’m sick, and I cry and laugh but it’s not for a boy or my sister. I can cry because I was assaulted and I only remembered it a few months ago, but my body was waving bright red flags all along.
It loves me dearly enough to tell me that some things don’t fade away if you lock them in. You might cough them up with a tonsil.
Emalia Mattia
vimeo.com/user27921791
ricardopaiaooliveira.blogspot.pt
facebook: companhiateatrodacidade
Corpo (de)Mente por Esther Caulfield
Esta é a minha anormalidade normal. Sim, sou louca, doida, tenho um parafuso a menos e não fecho bem as gavetas, às vezes no sentido literal. Mente desarrumada em corpo que cede à sede de curas em nicotina e cafeína e álcool que não cura mas desinfecta as feridas internas deste inferno que é o meu corpo.
A (de)mente que ocupa o meu corpo cobre-o de chagas, mas acabo por acordar em duches de água fria e um par de chapadas metafóricas que a vida teima em sempre dar.
Se a (de)mente cede a sedes o corpo é que paga mas nas minhas sedes na minha demente praga paga o corpo paga a mente paga tudo o que sou eu até ao momento em que tudo se apaga.
Se esta certeza (o meu corpo pertence-me) é abalada, tudo (o mundo, o meu mundo) é abalado. Não estamos pois num processo mesquinho de contabilizar propriedades dispensáveis, pelo contrário, estamos no centro primeiro do humano. Antes ainda das necessidades primárias (alimentação, abrigo, etc) surge a necessidade do piso zero: ter um corpo que se reconhece; em volta, para o mundo e depois para si próprio, e dizer, calmamente: eu estou aqui, pelo menos tenho um corpo.
Gonçalo M. Tavares - Atlas do Corpo e da Imaginação
um acumulado de rótulos
Estava a ouvir uma música.
E a tentar escrever sobre isto que é ter um corpo não normativo. E uma mente pouco adaptativa. E, se calhar, o não entendimento de onde acaba um e começa outro. Ou a subjetividade da distinção que aqui se faz.O meu corpo, como antes da transição física, é percepcionado diariamente enquanto parte integrante de um padrão ciscêntrico que privilegia traços que tenho: o ser branco, magro, “ablebodied”, etc. E o meu corpo, como antes, é um corpo trans que foge ao padrão de género que idealizaram para mim.
Se antes me era impossível encontrar conforto nele – por motivos que não sei explicar e outros muito claramente criados pelas imposições, espectativas e obstáculos assentes na percepção de mim no mundo, e na experiência de alguém marcado pela designação de mulher à nascença, hoje consigo gostar do que vejo.
Ou consigo gostar do que veem. Porque o que veem é incompleto.
O que veem é seguro. Valorizado. E apesar de afeminado, se calhar, apaneleirado – característica que podia garantir uma boa dose de medo no interior alentejano – tudo isto me soa relativamente fácil quando comparado ao medo de ser visto, tocado, amado, tratado como mulher. (não só por tudo isto ser transversalmente mau em comparação com o tratamento dado a homens, mas porque experienciar um papel social como o de mulher sem sequer me identificar com ele, é uma merda disfórica traumatizante.)
O que condiciona o meu corpo é, não a minha mente, mas a “vossa”. O que condiciona a minha mente – sofrida com designações erradas e consequências para a vida – não é o meu corpo. Nunca foi. Foi o aglomerado de papéis, violências, objetificações e assunções. (isto para garantir que sabem que não sou apologista de discursos tolos do corpo trans enquanto um “nascer no corpo errado”. Como pode um corpo ser errado?)É aqui que fico confuso. Porque afinal, eu e qualquer pessoa, tenho na minha imagem somente uma idealização, um imaginário da materialização que esconderá o corpo. Só que no meu caso a estranheza é maior. Amplamente maior. Central. E molda o meu estar e ser. Mas não entendo o porquê deste fugir à regra ser tão mal visto. Entendo que o é mas não entendo porquê. Usando comparações parvas: há anos atrás usei um soutien com enchimento que me fazia o peito parecer maior. Senti-me mal por isso porque 1- detestei o meu decote 2- senti que se descobrissem que o meu peito era afinal mais pequeno isso seria desapontante. Hoje quando ando na rua assumem que tenho um pénis. E sinto-me mal por isso, porque sei que se descobrirem ficarão desapontadxs também.
A diferença entre ambos os exemplos é a tal centralidade de que falava. Porque no primeiro exemplo arrisco-me a desapontar alguém, no segundo arrisco-me a morrer. Todos os dias.
Esta é parte da história do meu corpinho e o seu peso na minha mente. Ou vice-versa.
But I'm holding on for dear life, Won't look down, won't open my eyes, Keep my glass full until morning light, Cause I'm just holding on for tonight, Help me, I'm holding on for dear life , I'm gonna live like tomorrow doesn't exist, I'm gonna fly like a bird through the night, Feel my tears as they dry, Cause I'm just holding on for tonight.
Sia: Chandelier
Eu não separo. Para mim o corpo é parte coração e vice versa. A alma é a casa dos dois. Um e outro abrem caminho para a porta dessa casa. Estando sempre em conjunto, de mão dada. A entrega é feita simultaneamente e não um ou outro ou primeiro vais tu para eu ver como é...que junto ninguém vai sozinho.
alienação, evasão, curiosidade
todo o amor do homem se consentra em si próprio, até ao dia em que o homem deixa de o ser e em amor se transforma
sê amor Luis ass. Diana Baptista
Pulso aberto (Maria Rezende)
Somos porta de entrada
E porta de saída
Somos deusas e escravas
Há mil gerações
Dentes afiados
No escuro de entre as pernas
Veneno na ponta da cauda
Bruxas, putas, loucas, santas
Somos as que sangram sem ferida
Donas do prazer
Donas da dor
As invisíveis
As perigosas
As pecadoras
As predadoras
Insaciáveis e geradoras
Os corpos secretas casas
Somos seres de unhas e tetas
Caminhando aos milhares as estradas
Somos a terra e a semente
Carne de aluguel em alma de rainha
As submissas
As bacantes
As que procriam e as que não
Somos as que evitam o desastre
As que inventam a vida
As que adiam o fim
Mulher: multidão
Queer
Punsexual
Unicorn
RAQUEL
punkrockblues
You remember too much, my mother said to me recently. Why hold onto all that?
And I said, Where do I put it down?
Anne Carson ‘The Glass Essay’ ///
corpo que te seja leve o peso das estrelas e de tua boca irrompa a inocência nua dum lírio cujo caule se estende e ramifica para lá dos alicerces da casa abre a janela debruça-te deixa que o mar inunde os órgãos do corpo espalha lume na ponta dos dedos e toca ao de leve aquilo que deve ser preservado
mas olho para as mãos e leio o que o vento norte escreveu sobre as dunas levanto-me do fundo de ti humilde lama e num soluço da respiração sei que estou vivo sou o centro sísmico do mundo
Al Berto, 'A Noite Progride Puxada à Sirga'
CUNTRULES
Never compromise
Never apologize
Never judge
Never be intimidated
Always be inspired
Always be aware
Always stay close
Always fight back
Q uestion everything