Uma Luta Pela Vida

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UMA LUTA PELA VIDA In memoriam a Cleide Micheletti


Cleide Micheletti – Uma Luta Pela Vida

Prefácio Miastenia Gravis não é uma doença rara, mas simplesmente pouco conhecida. Em espaço pequeno de tempo, paralisa os músculos do corpo. Normalmente começa de baixo para cima, atingindo os pés e subindo em direção a cabeça. Às vezes percorre caminho inverso, de cima para baixo, atingindo primeiro a cabeça, o globo ocular deixando a pessoa de olhos vesgos, depois atinge a boca (laringe) fazendo com que a pessoa tenha dificuldade de engolir. Continua descendo em direção aos pés até atingir o pulmão podendo até causar uma parada respiratória agravando o quadro clínico e levando a pessoa à morte. Esse foi o caso da minha querida mãe, a quem eu, carinhosamente, gosto de chamar de Dona Cleide. A doença tem tratamento e não é motivo de preocupação quando diagnosticada prévia e corretamente. Portanto deve ser, insisto, diagnosticada de forma prévia e de forma correta, esses são os fatores que merecem atenção especial. Os médicos demoraram para atenderem a Dona Cleide, demoraram para dar-lhe a devida atenção, demoraram para prescrever os medicamentos corretos e quando o fizeram, prescreveram erroneamente. Falharam também na urgência, pois não reconheceram os sintomas da doença e quando reconheceram o quadro clínico já era bastante complicado. Tardaram em encaminhá-la para a internação e quando o fizeram, os aparelhos apresentavam informações imprecisas. Todo esse descaso, todo esse despreparo, toda essa falta de profissionalismo culminou na parada respiratória que por uma forte intuição de meu pai não se transformou no principal motivo do óbito. Meu pai Edson e minha irmã mais velha Elaine (os dois anjos da guarda de minha mãe na sua viagem de volta ao plano espiritual) se preparavam para revesar o leito do hospital quando ele (meu pai), embaixo de uma forte chuva, teve a intuição (a mão de Deus) de retornar ao quarto. No instante seguinte, a Dona Cleide teve a parada respiratória, foi meu pai quem alertou os enfermeiros. Esse último evento agravou o estado de saúde da Dona Cleide que após três cirurgias delicadas não resistiu e faleceu. O presente documento não é e nem deve ser entendido como um grito de revolta, mas sim como um alerta para a vida. Seu objetivo é elucidar as pessoas quanto aos problemas inerentes à doença. O caso da Dona Cleide também nôs faz refletir em como estamos, todos, desprovidos e desamparados perante a ingênua medicina dos homens. Sem ironia alguma, é muito reconfortante saber que estamos apenas nas mão de Deus. As palavras que se seguem foram escritas pelo meu pai, em primeira pessoa como se fosse minha mãe narrando os acontecimentos. Esse arranjo deixou a palavra um tanto mais doce, meus olhos brandam quando percorrem e fica difícil segurar as lágrimas.

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Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nós amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as cousas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nós do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Rm 8:36-3

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I "Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei à Deus. Vêló-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; ..." Jo 19 25-27 Meus olhos não se moviam e eu não estava enxergando bem. Minha face estava caída, pois não tinha força muscular para mantê-la orientada. Engasgava com minha própria saliva e já não me alimentava bem pois, não conseguia mais engolir. Com esse quadro clínico e enxergando com dificuldade procurei um oftalmologista aqui em Tanabi, cidade que eu moro já alguns anos. Paguei a consulta e ele me disse que não era nada, apenas deveria usar tampões nos olhos alternadamente e descansar e que dentro de quarenta dias e não mais que sessenta eu estaria boa novamente. Comprei os tampões para os olhos. Num dia tapava o olho direito no outro dia tapava o olho esquerdo e se passaram trinta e poucos dias. Mas meu quadro clínico piorou e estava enxergando menos.

II Dia 31 de Outubro, feriado em Tanabi. Fui até a Sta. Casa pois não tinha outra clínica ou posto de saúde aberta. A médica disse que não era nada e receitou apenas anti-inflamatório e analgésico. Retornei para a minha casa. E meu quadro clínico piorava a cada dia. Por ser feriado prolongado em Tanabi (31 de Outubro a 2 de Novembro), os postos estavam fechados e não tínhamos médicos. Dia 3 de Novembro. Fui ao Posto de Saúde e aguardei o médico desde às seis e trinta da manhã até às quatro da tarde quando o médico chegou. E novamente ouvi a frase (ou sentença) de que não era nada e que apenas trocaria meus medicamentos para controlar à pressão alta. Insisti dizendo ao médico que não conseguia comer ou engolir e engasgava com a minha própria saliva. Então o médico emitiu uma guia de encaminhamento para um exame de endoscopia à agente de saúde e esta, por motivos que nunca irei entender, simplesmente resolveu arquivar a guia e não deu sequência ao procedimento. Com isto se passaram mais alguns dias que se tomada alguma providência poderia ter salvo a minha vida.

"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor serei como o bronze que soa ou o sino que retine... mesmo que tivesse toda a fé a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada serei." ICo 13:1-2

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III Dia 11 de Novembro. Já quase sem expectativa e em desespero procurei outro médico. Também era início de outro feriado prolongado e tinha apenas um médico em Tanabi. O médico disse que não poderia fazer nada e me mandou de volta para a Santa Casa de Tanabi. A mesma que no dia 31 de Outubro (onze dias atrás) eu procurei e disse que eu não tinha absolutamente nada. E lá fiquei internada. Dia 12 de Novembro. Meu estado clínico piorou. Em desespero, a minha filha teve que brigar, ameaçar chamar à polícia para que eu fosse transferida para o Hospital de Base em São José do Rio Preto.

IV Dia 12 de Novembro. Às onze e meia da noite chego no Hospital de Base. Estou deitada na maca e me encontro no corredor do hospital. Lá mesma fui atendida por um pequeno grupo de médicos que vieram até mim. Fizeram um teste visual, perguntaram quais eram os sintomas que eu vinha apresentando nos últimos dias e em menos de meia hora deram o diagnóstico: Miastenia Gravis, doença neuromuscular que causa fraqueza e fadiga normalmente rápida dos músculos voluntários. Explicaram que normalmente essa doença se desenvolve de baixo para cima ou seja começa pelos pés, pernas e vai subindo. No meu caso começou de cima para baixo.

V Começa então a minha Via Crucis. Agora eu sei das terríveis dores de cabeça que tinha. A sensível perda e enfraquecimento dos globos oculares. A dificuldade para respirar e a perda total de deglutir. E no momento, sabíamos que poderia atingir os músculos peitorais. Do corredor do hospital para a internação no quarto me pareceu a chance que poderia ter para a minha vida. Dia 13 de Novembro. Já corretamente medicada tive uma sensível melhora. Dia 14 de Novembro. No decorrer do dia já não sentia mais tão confortável. Parece que alguma coisa estava errada. Dia 15 de Novembro. De madrugada eu já respirava com certa dificuldade. Pedimos ajuda aos enfermeiros e estes responderam que era falha do aparelho que me fornecia oxigênio e que logo eles providenciariam à troca do mesmo. Começamos pedindo socorro à partir das duas ou três da manhã. Tinha dificuldade para respirar. Os enfermeiros e enfermeiras dizendo que era o aparelho que apresentava defeito.

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Cleide Micheletti – Uma Luta Pela Vida As sete horas e trinta minutos daquela manhã chegou minha médica para visita habitual de rotina. (nova esperança surgiu em meu coração) Argumentamos com ela que eu respirava com dificuldades. Ela apenas disse que me trocaria de quarto para poder usar um aparelho melhor que me auxiliasse no ato de respirar. Assim que a doutora deixou o quarto tive uma parada respiratória e em seguida uma parada cardíaca.

VI Parada Cardíaca Chega a primeira equipe à tentar me reanimar. Mas meu coração não responde. Vem a segunda equipe e meu coração não responde. Chega a terceira equipe e depois de algumas tentativas e passados treze minutos meu coração recomeça à bater. Estou de volta para a vida e pela luta para sobreviver.

"Em verdade, em verdade vós digo quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida." João 5:24

VII Direto para UTI. Estou sedada mas tenho noção de alguns acontecimentos. Sei que machucaram minha traquéia na tentativa de me reanimar. Sei que vai ser difícil mas estou com esperanças.

VIII Dia 24 de Novembro, à nove dias na UTI. Meu quadro clínico se tornou estável e os médicos optaram corrigir minhas traquéias com uma cirurgia. A operação foi bem sucedida. Os dias passam e continuo na UTI, mas já foram removidos os dois drenos que tinha nos lados esquerdo e direito dos pulmões. Já mantenho sozinha (sem auxílio de medicamento) a minha pressão arterial. Meu coração bate regularmente. Continuo necessitando apenas auxílio para respirar. Ouvi dizer que logo sairei da UTI indo para o quarto para tratamento neurológico. Notícia essa que me deixou muito contente.

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IX Dia 30 de Novembro, à quinze dias na UTI. Com a melhora do meu quadro clínico os médicos optaram para uma segunda operação: Traqueotomia. Disseram que fazia parte do procedimento para em breve eu respirar por mim mesma.

"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-ló teria dito. Pois vou preparar-vós lugar. E, quando eu for e vós preparar lugar, voltarei e vós receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também." João 14:1-3

X Pós operação Algo saiu errada na segunda operação. Está sangrando muito e com secreções. Já não me sinto tão bem. E já colocaram os drenos nos pulmões novamente.

XI Terceira cirurgia. Com o objetivo de reparar a traqueotomia, deu-se inicio a terceira operação. Removeram a operação de traqueotomia e recolocaram o respirador pela boca como estava antes. Já não tenho mais forças, meu quadro clínico passou à ser gravíssimo. Ouvi dizer que contraí um infeção hospitalar muito forte para a qual não se tem cura. Meus dias estão contados e serão poucos. Dia 7 de Dezembro. Fazem vinte e dois dias que luto pelo minha vida nesta UTI. Meu marido está aqui e minha filha Elaine me abraçou e me beijou. Sei que será a última vez que a vejo no plano material. Dia 8 de Dezembro de 2011, à23 dias na UTI É madrugada, minhas forças estão se esgotando, tive altos picos de febre mas, vou resistir até a hora de visita do dia de hoje, pois sei que será a última vez que vou ver alguém que eu amo.

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Cleide Micheletti – Uma Luta Pela Vida

Salve uma vida Se você sente uma fraqueza inexplicável, tem dificuldade de subir degraus ou pentear os cabelos... Se suas pálpebras estão pesadas e você tem dificuldade até para manter um sorriso... Se já pediu ajuda e ninguém te entendeu, se já foi de médico em médico procurando uma resposta e a única coisa que conseguiu foram diagnósticos como estresse, depressão e cansaço.. você está no lugar certo!!! Sua preguiça poder ter nome! Miastenia Gravis

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Cleide Micheletti – Uma Luta Pela Vida

Lembranças da família Cleide Micheletti * 31 / 08 /1952 † 08 / 12/ 2011 (12:00 horas)

Uma pessoa que sempre trabalhou e cuidou de toda a família. E que sempre apoiou todos para não desistir de seus sonhos. E que transmitiu muita força e otimismo mesmo nas piores dificuldades. E assim, deixou saudades para toda a família e todos os grandes amigos (as) dela. Todos sempre lembrarão dela pela pessoa especial que foi, pela vida inteira lutando pela vida dela até o último minuto. Paula Regina, filha. Mulher forte, de alma e corpo, viveu cada minuto intensamente. Detentora de um coração imenso e uma bondade sem igual, dedicou sua vida à família e conquistou um lugar no coração de cada pessoa que passou em sua vida. Me lembro dela como uma pessoa alegre, viva, personalidade forte, comunicativa, improvisadora ímpar e de garra muito forte. Cumpriu aqui sua missão. Flávio Alexandre, filho.

Cedo aprendi que Deveria procurar alguém que eu pudesse amar Então procurei e achei Com o passar do tempo aprendi que A pessoa que eu amava tinha alma, uma parte espiritual que eu deveria compreender e amar. Então busquei conhecer e passei a amar o ser interior de minha amada Anos se passaram e aprendi que O amor não se limita a laços físicos Então aprendi que Hoje amo a Cleide mais do que ontem mas não mais do que eu a amarei amanhã Até um dia nas estrelas Cleide com amor Edson, esposo

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