Estudo Cartier-Bresson

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A Estrutura da Composição Uma interpretação de Henri Cartier Bresson

Rafaella Arcuschin Machado

FAAP 2012





Rafaella Arcuschin Machado

A Estrutura da Composição Um estudo sobre Henri Cartier-Bresson

Orientador: Professor Marcelo Aflalo

Professor Paulo Sampaio Professor Mestre Miguel Frias

FAAP Fundação Armando Alvares Penteado São Paulo SP 2012



AGRADECIMENTOS

À paciência, compreensão, suporte e apoio da família, mãe, pai, irmã, papagaio dos professores do orientador dos colegas de trabalho


ABSTRACT

Interpretate the photographer Henri Cartier-Bresson and understand what I urged in his work was determinant for realizing this project. This way I was able to create an analogy between Bresson’s photography and visual communication design, implicit in the composition of his works, which is the study of provenance of the painting. Influencied by avant-gardes of the period when he started his practice on painting, Bresson merged aesthetic movements as cubism, surrealism and modernism, integrated with a classic reading. The characteristics of the photographer were interpreted in a photographic essay and then translated to compose a graphic piece that presents the test, materializing a book of photography.


RESUMO

Interpretar o fotógrafo Henri Cartier-Bresson e compreender o que me instigava em suas obras foi determinante para a realização deste projeto. Consegui assim criar uma analogia entre a fotografia de Bresson e design de comunicação visual, implícita na composição de suas obras, que tem como procedencia o estudo da pintura. Influenciado pelas vanguardas do período em que pratica a pintura, Bresson fundiu correntes estéticas como cubismo, surrealismo e modernismo, integrados a uma leitura clássica. As características do fotógrafo foram interpretadas em um ensaio fotográfico e então traduzidas para compor a peça gráfica que apresenta o ensaio, materializando um livro de fotografias.



ÍNDICE

Introdução

pg. 11

Bresson e a Fotografia

pg. 17

Pesquisa

pg. 37

Ensaio

pg. 67

Projeto Editorial

pg. 71

Produção Gráfica

pg. 85

Considerações Finais

pg. 89

Bibliografia, Referências Online e Índice de Imagens

pg. 93



Introdução



INTRODUÇÃO

Este projeto tem como objetivo apresentar o trabalho de conclusão do curso realizado na Fundação Armando Alvares Penteado, com formação em Design Gráfico. Teve início como projeto experimental, com o propósito de apresentar um ensaio fotográfico. Ganhou forma e evoluiu, tornando-se um projeto editorial. O fotógrafo Henri Cartier-Bresson é o tema de estudo desta obra acadêmica. Não tem como finalidade apresentar uma biografia do artista, mas foi possível perceber durante o processo de pesquisa que conhecer sua trajetória é de grande relevância para realmente conseguir analisar e compreender sua obra. O primeiro passo deste estudo foi reunir os diversos materiais disponíveis sobre Cartier-Bresson, com a intenção de extrair desta gama de informação

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as características técnicas do fotógrafo. A pretensão foi decupar sua obra, obtendo assim a gramática que a compõe. Com estas particularidades definidadas, planejei a possibilidade de interpretá-las, e, assim, realizar o ensaio fotográfico aproximando-me à postura de trabalho de Cartier-Bresson. O tema escolhido para o ensaio foi trabalho. Bresson também era conhecido por seus retratos, assim como em capturar o cotidiano. Somadas estas duas características, no ensaio procurei em meu percurso de deslocamento fazer retratos de pessoas trabalhando. Elaborada a parte inicial do projeto, foi decidido que seu suporte seria um projeto editorial, portanto um livro de fotografias com meu ensaio autoral. A oportunidade parece interessante, pois, nesta era digital, ainda existem preferências em ver fotografias impressas, em um corpo material. As características das fotografias de Bresson, anteriormente analisadas, foram então traduzidas para o universo gráfico, gerando uma linguagem própria que possibilitou a concepção desta peça.

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Bresson e a Fotografia


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Foto de aspecto cubista Matera, Itรกlia, 1973 fig. 1


Um dos mais influentes fotógrafos do século XX, Henri Cartier-Bresson nasceu em 1908, na cidade de Cantheloup-en-Brie, na França. No início de sua carreira, Henri não imaginava ou pretendia ter tamanha importância. Tampouco sabia que seria fotógrafo. Seus estudos tiveram início como pintor, para desagrado de seus parentes. De familia burguêsa, seus familiares gostariam que Henri seguisse o negócio da família na área têxtil. Porém este não era seu desejo, e em negação saiu à procura do que realmente lhe interessava. Mudou-se para Paris aos 19 anos, o grande centro de vanguarda artística do período, para estudar na academia privada de André Lhote. Este, fortemente reconhecido por sua marca cubista. Personalidade intelectual e do meio artístico parisiense, Lothe tem grande influência na característica fotográfica de Bresson: “Com ele [Lothe], aprende-se tanto a técnica do retrato quanto a da gravura, do esboço e principalmente da composição. Aos olhos de Cartier-Bresson e de vários de seus colegas e amigos (...), não é apenas um professor maravilhoso, mas a manifestação viva da lenda cubista.” Pierre Assouline “Cartier-Bresson - O Olhar do Século”

Seria incorreto não mencionar que este período em que Bresson ingressou no estudo das artes, o fim da década de 1920, o Cubismo era uma das

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Hyères, França, 1932 fig. 2


vanguardas em apogeu, junto com os então recentes Construtivismo e Surrealismo, mas que esteve fortemente presente nas duas décadas anteriores, tendo assim o mesmo tempo de vida que o futuro fotógrafo. É importante ressaltar o início da carreira de Bresson como estudante de artes, pois é assim que adquire duas de suas características mais marcantes: a composição e a geometria. A segunda, fica clara nas palavras do autor do livro Cartier-Bresson - O Olhar do Século, Pierre Assouline: “Cartier-Bresson contrai o vírus da geometria através de Lhote, visceralmente obcecado por ela. Apenas a estrutura atribuída ao mundo permitiria encontrar a ordem no caos.” 23

Fica clara a presença de Lothe e seus aspectos cubistas, que transformaram o olhar e as obras de Bresson para sempre. Na imagem ao lado, Bresson brincou com as formas geométricas, assemelhando a roda da bicicleta com o movimento da escada.s É em Paris que a vanguarda artística está efervescendo neste início de século. Seus cafés, bares e restaurantes transformam-se em sala de reunião, onde se discute e saboreia os acontecimentos de âmbito artistico. Henri está grande parte de seu tempo entre os artistas, e nesse ambiente de trocas e discussões acaba conhecendo diversos artistas influentes, muitos dos quais tornam-se grandes amigos seus. Neste clima, o Surrealismo continua ganhando força. Bresson ainda é novo


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O surrealismo em suas obras Epirus, Grecia, 1961 fig. 3


quando o primeiro Manifesto Surrealista é publicado, em 1924, mas adota seus reflexos conforme Pierre Assouline: “Poderíamos dizer que foi escrito sob medida para canalizar a sede de liberdade de toda uma geração com a imaginação freada pelo real. Para mudar a vida ele exalta o sonho, o sublime e o romance noir”

Mesmo sempre em busca da liberdade e de suas variadas formas de expressão, Bresson claramente segue seu aprendizado, como afirma Assouline: “A grande lição de Lhote? Que não há liberdade sem disciplina” ambos de Pierre Assouline “Cartier-Bresson - O Olhar do Século”

Foi com esta disciplina que Bresson tornou-se grandioso. Organizando-se, conseguiu viajar o mundo e estar presente em importantes acontecimentos, como a Guerra Civíl Espanhola e estar ao lado de Gandhi e registrá-lo momentos antes de sua morte. De expressiva importância, é devido colocar que a trajetória de Bresson foi facilitada, se não possível, pela companhia de sua inseparável Leica: “Tinha acabado de descobrir a Leica. Tornou-se uma extensão de meu olho e nunca mais me separei dela. Eu rondava pelas ruas o dia inteiro, muito tenso e pronto para atacar, decidido a “capturar” a vida e preservá-la no ato de viver.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

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Esta foto parece ter garotos saindo de uma tela rasgada Sevilla, Espanha, 1933 fig. 4


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Este menino parece ter levado um tiro nesta cena surrealista Valencia, Espanha, 1933 fig. 5


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Diversas fontes afimam que esta foi a primeira Leica de Bresson, disponível na Fundação HCB em Paris. fig. 6


Criada por volta de 1913, de genética alemã, a câmera fotográfica Leica revolucionou a história da fotografia. Eram mais leves, mais rápidas e menos perceptíveis. Novidade na época, as câmeras Leica eram portáteis, e podiam ser carregadas o tempo inteiro pelo fotógrafo, por serem muito pequenas se comparadas com as demais da época, e também mais leves. Eram mais fáceis de manusear, alguns de seus modelos foram criados propriamente para fotografar guerra, o que sugere que o objeto a ser fotografado estaria em constante variação, exigindo rapidez no clique. Eram menos perceptíveis por seu volume, mas também pela suavidade ao fotografar, sendo mais silenciosa no movimento do obturador. Assim Bresson encontrou o veículo perfeito para registrar suas obras, nunca mais abandonando a marca Leica. Esta inovação principalmente permitiu seu trajeto, característica marcante em seu trabalho, pois Bresson sempre encontrou na rua e no cotidiano seu tema de registro. O jornalista, pesquisador, curador e crítico de fotografia Rubens Fernandes Junior ao discursar em seu site Icônica sobre o então novo livro de fotografias “Henri Cartier-Bresson - O Século Moderno”, afirma que a grande temática de Bresson era a sociedade, a cultura e a civilização. Em relação ao “Momento Decisivo”, que não pode deixar de ser citado, esta nomenclatura para sua perspicácia foi definida devido a uma tradução incerta do título de um dos seus livros, Images à la Sauvette, de 1952, que mais relaciona-se com “imagens furtivas”. Furtivo, segundo o dicionário online dicio.com.br, significa “às ocultas; secreto; escondido; disfarçado”.

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“Images à la Sauvette” Primeiro livro de fotografias de Cartier-Bresson, publicado em 1952 fig. 7


O fotógrafo gostaria que a tradução fosse “The Given Instant”, ou “O Instante Dado”, pois “Momento Decisivo” sugeriria que existisse um instante único, o que não era o que Bresson acreditava, segundo Gisele Kato, em uma matéria para a revista Bravo, ao falar sobre este momento “(…) tão sublime quanto fugaz”: “Mas [Bresson] não acreditava que eles acontecessem uma vez só durante uma situação (…) Seu segredo era saber captá-los”

Mas além de enxergar a vida e suas peculiaridades no cotidiano fugídio, conforme Gisele Kato “Suas imagens aliam o caráter documental a um cuidado estético que começou a ganhar relevância com os surrealistas”. Bresson fundiu correntes estéticas de seu período, unindo uma leitura clássica a surrealismo e modernismo, buscando na rua os cenários surreais, “fantásticos, loucos e anárquicos”, estando sempre atento à composição geométrica em suas fotos. Portanto “Momento Decisivo” ou não, neste estudo sobre o fotógrafo Cartier-Bresson, a intenção não foi explicitar este instante, mas o alvo do estudo tornou-se a instigante composição sofisticada do artista, capaz de tornar “(...) uma cena banal em comovente”, segundo o fotógrafo Cristiano Mascaro, quem, nota-se em suas obras, foi muito influenciado pelo ícone. Ainda o fotógrafo Carlos Moreira, diz que Bresson “desenha com a máquina fotográfica” e explora linhas, planos, paralelas e perspectivas, “elementos comuns ao repertório das artes plásticas”, harmonizando as formas.

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Alberto Giacometti Montparnasse, Paris, 1961 fig. 8


Ao observar seus ensaios com outra percepção, compreendi o que me instigava em suas obras: uma forte relação com o design gráfico. Aprendi a enxergar sua composição, que semelhante a um projeto de comunicação visual, indiretamente trabalha a Gestalt. Um dos principios da Gestalt é considerar que a totalidade é percebida, e não que enxergamos elementos individualmente. Bresson empregava esta percepção da totalidade em suas obras, nunca apenas preocupado com o assunto em evidência. Entre os fundamentos da Gestalt, acredito que o fotógrafo intuitivamente trabalhava mais com dois deles, a similaridade e a simetria. Ester Liquori, em seu artigo online The Close Relationship Between Gestalt Principles and Design, afirma que “(…) objetos que compartilham algumas mesmas características criam coesão no projeto, porque nosso cérebro automaticamente busca por padrões”. Este é o caso da similaridade, muitas vezes percebida nas fotografias de Bresson. O fotógrafo assimila formas com sua percepção aguçada, como no caso do retrato do artista Alberto Giacometti, quando encontra-se em uma mesma “forma” que suas esculturas. A simetria também pode ser percebida em outras tantas obras suas, como no caso da cidade de Nova York, ou das duas mulheres nas janelas de um portão na Cidade do México, em 1934. Nestes dois casos a foto é dividida ao meio e rebatida quase simetricamente para os dois lados. “A composição deve ser uma das preocupação constantes, mas no momento de fotografar ela só pode sair da intuição do fotógrafo, pois o

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A simetria divide esta foto em dois lados quase indĂŞnticos Nova York, 1947 fig. 9


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A simetria que divide a obra MĂŠxico, 1934 fig. 10


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Jean Paul Sartre Paris, Franรงa, 1946 fig. 11


que queremos é capturar o momento fugidio, e todas as interrelações em jogo acham-se em movimento.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

Conforme refere-se Cartier-Bresson, no momento de fotografar, a composição criada de forma rápida é feita intuitivamente. Donis A. Dondis coloca em seu livro Sintaxe da Linguagem Visual que “A raiz latina do termo, intuitus, significa “olhar ou contemplar”, mas, em inglês, a palavra passou a referir-se a “conhecimento ou cognição sem pensamento racional”. Mas projeto ou intuição não são regras, e o contrário também pode acontecer. Como é o caso de um projeto de design idealizado intuitivamente, o que chamam de insight, ou na fotografia, por exemplo, em estúdio, em que há um planejamento prévio. A trajetória de Cartier-Bresson teve continuidade no fotojornalismo. Em 1947, criou junto com Robert Capa, George Rodger e David “Chim” Seymour a agência de fotografias Magnum. Continuou extendendo seu número de fotogramas nos mais diversos países em incessantes viagens, e através de revistas e publicações revelou o mundo aos olhos das pessoas, numa época anterior ao domínio da televisão. Bresson foi um dos propagadores na união de informação à arte. Munido de educação da pintura conseguiu tornar suas obras harmônicas. Esta semelhança ao design de comunicação visual foi o que indiretamente me instigou a estudar suas obras e trajetória, possibilitando reconhecer esta analogia entre fotografia e design.

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Pesquisa



Para desenvolver este Trabalho de Conclusão de Curso, a princípio foi feita uma pesquisa, para ter conhecimento do que já existe no mercado sobre Henri Cartier-Bresson. Foram analisados livros biográficos, livros de fotografia, exposições, sites, blogs e vídeos, enfim, tudo o que poderia ser encontrado sobre o universo do artista. Mesmo não sendo o objetivo realizar um estudo biográfico, percebi que conhecer sua trajetória é fundamental para compreender sua maneira de se portar por trás da câmera. No início, o projeto seria de carácter experimental, cujo produto final seria um ensaio fotográfico a partir da influência do fotógrafo Cartier-Bresson. O objetivo da pesquisa portanto seria compreender o que caracteriza Bresson ao fotografar e extrair deste material os componentes da gramática de suas obras. Decupei sua obra, acreditando que a conjunção dos seguintes fatores é o que aproximaria uma postura de trabalho com a do fotógrafo:

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Itรกlia, 1932 fig. 12


COMPOSIÇÃO

A composição de Bresson envolve um jogo de linhas e formas como em uma pintura. O fotógrafo levava consigo a composição como fator determinante em uma obra, acreditando ter o mesmo valor que o próprio conteúdo.

“Para mim, o conteúdo não pode ser separado da forma. Por forma quero dizer uma organização rigorosa da interrelação de linhas, superfícies e valores. É apenas nesta organização que nossas concepções e emoções se tornam concretas e comunicáveis.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

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Mississipi, EUA, 1947 fig. 13


GEOMETRIA

As obras de Bresson são fortemente marcadas pela geometria. Esta característica é uma influência dos estudos como pintor no início de sua carreira na academia de André Lothe, com quem adquiriu esta marca cubista. Bresson parece ter se importado tanto com as formas geométricas desta foto, assemelhando a cabeça da criança dividida pelos dedos da mãe com a roda da carroça, que deixou de lado o que parecia ser o assunto principal. O fotógrafo leva a geometria quase como uma crença: 45

“(…) tira uma cópia desta foto, traça sobre ela as figuras geométricas que surgem durante a análise, e vai observar que, se a câmara disparou no momento decisivo, o fotógrafo fixou instintivamente uma composição geométrica sem a qual a fotografia estaria desprovida tanto de forma como de vida.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952


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Revista Life “Red China”, 1959 fig. 14


PRETO E BRANCO

Bresson inicia sua trajetória fotografando em preto e branco, mas mesmo após a criação das películas em cor preferiu seguir o estilo, por acreditar que a cor era subjetiva a pintura, e o preto e branco à fotografia. Mesmo com declarada preferência por PB, Bresson realizou alguns ensaios com filme colorido, como a pauta “Red China”, encomendada pela revista Life, publicada no final da década de 1950.

“A fotografia é uma abstração em que a sobriedade do preto e branco faz concentrar a atenção sobre o conteúdo. A cor é mais própria para a pintura.” Henri Cartier-Bresson

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Salermo, Itรกlia, 1933 fig. 15


SOMBRAS

Cartier-Bresson brincava com a linha das sombras e as formas geradas por elas, as vezes como se a pr贸pria sombra fose o objeto. Enchergava seus contrastes e suas diferentes tonalidades, entre a gama de cinzas.

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Trieste, Itรกlia, 1933 fig. 16


NÚMERO DE OURO

“Ao aplicar a Regra de Ouro, o único compasso à disposição do fotógrafo são seus olhos.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

Ao falar sobre a Regra de Ouro, Bresson referia-se à proporção áurea. É reconhecida com diferentes nomes: proporção áurea, número áureo, número de ouro ou proporção de ouro. Bresson aplicava a “regra de ouro” sempre que possível em suas fotografias, sabendo que esta proporção é inconscientemente harmônica na visão humana. É empregada na arte desde a Antiguidade, também muito encontrada em obras renascentistas.

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Sunday on the banks of the River Marne Paris, Franรงa, 1938 fig. 17


AÇÕES COTIDIANAS

“Eu rondava pelas ruas o dia inteiro, muito tenso e pronto para atacar, decidido a “capturar” a vida - e preservá-la no ato de viver.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

Neste volume, no capítulo “Bresson e a Fotografia” discute-se este mesmo tema, apontando que a sociedade, a cultura e a civilização eram as grandes temáticas de Bresson.

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Bougival, Franรงa, 1956 fig. 18


INSTANTÂNEO

Também no capítulo “Bresson e a Fotografia”, discorre-se sobre o “Momento Decisivo” e o motivo de não discutir este tema neste projeto. Eis o que Bresson apreciava e gostava de pensar sobre fotografia:

“Só tento defini-la para mim mesmo: Para mim, a fotografia é o reconhecimento simultâneo, numa fração de segundo, da significância de um acontecimento, bem como de uma organização precisa de formas que dão a esse acontecimento sua expressão adequada.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

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Alicante, Espanha, 1933 fig. 19


APROXIMAÇÃO

Ao que tudo indica, Bresson não trabalhava com lentes teleobjetivas, ou seja, que aproximam os assunto mais distantes. Portanto, para melhor retratar o assunto, no caso de um retrato por exemplo, ou que tivesse uma área de interesse pequena, o fotógrafo devia aproximar-se ou distanciar-se do assunto a ser retratado.

“Não há sistemas, pois cada caso é individual e requer que sejamos discretos, embora devamos nos aproximar o mais possível.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

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St. Germain des Prés, França, 1969 fig. 20


INSIVIBILIDADE

Aproximar-se, porém com cautela, para não interferir na ação do momento.

“Qualquer que seja a nossa reportagem, estaremos chegando como intrusos. É essencial, portanto, que nos aproximemos do assunto na ponta dos pés - ainda que se trate de uma natureza morta.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

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Ezra Pound Veneza, Italia, 1971 fig. 21


LUZ NATURAL

“E nada de fotografias com ajuda do flash, quando não apenas por respeito à luz natural - ainda que não exista. Se não observar tais condições, o fotógrafo poderá tornar-se uma figura intolerantemente agressiva.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

O uso de luz ambiente é claramente presente nas obras de Bresson. Isto não significa que trabalhava apenas com luz solar, mas sim a luz presente, fosse lâmpada ou fogo.

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Brie, Franรงa, 1968 fig. 22


URBANO E NÃO URBANO

Independente de estar na cidade ou no campo, Bresson não perdia sua característica de retratar a condição humana.

“Uma visada por sua obra revela que, aparentemente, ele nunca fez uma foto da natureza intocada. ‘Suas muitas e belas paisagens invariavelmente descrevem locais moldados pelo homem, pois seu tema era a sociedade, a cultura, a civilização — ou seja, a história’, reconhece Peter Galassi.” Vitor Necchi em http://arquipelagoeditorial.com.br/norte

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Coco Chanel Paris, Franรงa, 1964 fig. 23


RETRATO

Bresson fez inúmeros retratos em sua vida como fotógrafo. Apreciava retratar as ações humanas, fazendo até mesmo retratos nas ruas. Mas também retratou personalidades como Pablo Picasso, Marilyn Monroe, Truman Capote, Coco Chanel, Jean-Paul Sartre, Carl Jung e Che Guevara. Conforme o que diz em sua citação abaixo, procurava retratar não apenas o aspecto físico da pessoa, mas um pouco do que contava sobre ela.

“Se o fotógrafo tiver a felicidade de obter um verdadeiro reflexo do mundo de uma pessoa - que existe tanto fora como dentro desta - é necessário que o retratado se encontre numa situação que lhe seja normal. Devemos respeitar a atmosfera que cerca o ser humano e integrar no retrato o habitat de cada indivíduo - pois o homem não menos do que os animais, possui o seu habitat. Acima de tudo o retratado deve esquecer-se por completo da câmara e do homem que a manipula: equipamento complicado, refletores de luz e vários outros itens de aparelhamento são suficientes, a meu ver para impedir o êxito de um retrato.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

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A intenção de decupar sua obra foi compreender e análisar seu método de trabalho. Remontado-o às possibilidades atuais, para poder vivenciá-las, permitiria meu ensaio fotográfico a aproximar-se, conforme o objetivo, das obras de Bresson, projetando assim a declarada influência do artista em minhas fotografias.

“De qualquer maneira, as pessoas pensam exageradamente em técnicas e não pensam suficientemente em ver.” Henri Cartier-Bresson “O Momento Decisivo”, 1952

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Ensaio

TRABALHO COTIDIANO





Projeto Editorial



DESENVOLVIMENTO DO PROJETO Este projeto editorial é embasado no estudo do assunto ou temática, cujas características mais expressivas foram extraídas e analisadas, para então compor a linguagem desta peça. Este conjunto de elementos é o que define suas características visuais e transmite sua linguagem, remetendo este produto ao conceito do objeto de estudo: o fotógrafo Henri Cartier-Bresson. Desta forma o produto consegue comunicar-se visualmente, para ser compreendido com mais facilidade pelo usuário que se trata de um livro inspirado no fotógrafo. No projeto editorial, suas características são reproduzidas a partir de elementos gráficos compositivos. Os fatores a serem considerados no projeto gráfico editorial, foram:

Formato Layout Tipografia Cor

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FORMATO Este livro apresenta um formato quadrado devido a duas considerações. A primeira, é que foi definido conjuntamente com o layout. Conforme explicase no próximo item “Layout”, as fotos apresentam o padrão retangular horizontal; sabendo que cinco das fotos do ensaio sangrariam, se o formato do livro fosse definido como retangular, em dimensão padrão de folha, as fotos ocupariam a página inteira. Porém, pelo desígnio de que apresentasse melhor aproveitamento de páginas, foi definido que sangrariam invadindo a página ao lado. Portanto a foto seria dividida em alguma secção pela dobra do livro. Observando as cinco fotos escolhidas para ver onde se econtra seu assunto principal, chegou-se à conclusão de que a melhor opcão seria produzir o livro em formato quadrado, assim, ao invadir a página vizinha, o assunto principal da imagem nunca estaria na divisa. A segunda consideração, foi um dos estilos que Bresson apresentou em suas obras, o movimento moderno, que é representado por formas geométricas, portanto nada mais coerente que o quadrado para simbolizar a geometria.

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LAYOUT O Grid serve como uma malha estrutural que determina proporções, tamanhos e disposição dos elementos gráficos. Ajuda a reduzir o número de decisões arbitrárias na diagramação, assegurando unidade e consistência para o todo. Este grid foi definido a partir da caixa de texto, mesmo sendo a imagem a prioridade neste projeto. Foi assim estipulado pela intenção de que as páginas fossem compostas com grandes respiros, pois, sendo um livro de imagem, não apresenta a necessidade de exprimir um ritmo de leitura acelerado. Este respiro somado com o formato quadrado da peça, ajudou a definir a caixa de texto. Centralizar a caixa de texto gerou a coerência de centralizar nas páginas à esquerda as imagens da primeira parte do volume, que são as fotografias de exemplo de Bresson, que apresentam o tamanho da caixa de texto. Na segunda parte do volume, onde é apresentado o ensaio fotográfico, as imagens também seguem o grid do bloco de texto, definindo sua posição. Nesta porção do trabalho encontram-se fotos de formato grande, que sangram nas páginas. São cinco fotos, selecionadas de acordo com escolha pessoal, acreditando serem as fotos que melhor refletem a proposta do ensaio. As demais fotos do ensaio apresentam ¼ do tamanho destas. Em relação a aproveitamento de página foi premeditado que estas cinco fotos sangrariam.

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Pรกgina com foto sangrada; cinco selecionadas do ensaio


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PĂĄgina com a foto de 1/4 do tamanho das grandes


Akzidenz Grotesk Regular ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYV abcdefghijklmnopqrstuvwxyv 1234567890

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Akzidenz Grotesk Light ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYV abcdefghijklmnopqrstuvwxyv 1234567890


TIPOGRAFIA Akzidenz Grotesk

A escolha da tipografia foi embasada na busca do desenho tipográfico que melhor apresentasse suas características como semelhantes ao tema deste estudo. Como o fotógrafo Henri Cartier-Bresson, a família Akzidenz Grotesk é clássica e moderna ao mesmo tempo. Traz uma forma geométrica enquanto é legível. É usada neste volume tanto no corpo de texto quanto nos tipos de display. A tipografia, criada pela companhia Berthold de fundição de tipos, em 1896, também foi influente, inspirando outras fontes sem serifa, como a Helvetica, uma das mais populares da história.

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C = 0 M = 0 Y = 0 K = 30

C = 0 M = 0 Y = 0 K = 50

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C = 0 M = 0 Y = 0 K = 60

C = 0 M = 0 Y = 0 K = 80

C = 0 M = 0 Y = 0 K = 100


COR

A peça foi inteiramente elaborada e impressa em branco, preto e tons de cinza, correspondendo assim à característica de Bresson de fotografar em preto e branco. Na página ao lado está a escala de tons de cinza encontrados neste projeto.

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Produção Gráfica



PRODUÇÃO GRÁFICA INDUSTRIAL DO LIVRO

Formato aberto: 210 x 427 mm Formato fechado: 210 x 21O mm Suporte miolo: Papel Couché Fosco, 170 g/m2 Quantidade de páginas: 88 páginas (84 páginas de miolo sendo três cadernos de 24 páginas e um caderno de 12 páginas + 4 páginas para capa) Impressão: Offset plana Cores: 4x4 (quadricromia) Acabamento: Miolo costurado e refile trilateral Capa em cartão Paraná revestido em Couché Fosco, 170 g/m2, impressão 4x0 com laminação fosca (bopp) Previsão de tiragem: 3.000 cópias

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Considerações Finais



Este projeto editorial tem como conteúdo um ensaio fotográfico, cujo tema de estudo é o fotógrafo Henri Cartier Bresson. Foi feita uma pesquisa para analisar e compreender o que compõe a obra do artista, extraindo caraterísticas próprias de Bresson, que foram usadas em dois momentos. No ensaio fotográfico foram interpretadas para aproximar-se à maneira de trabalhar do fotógrafo. Em sequência, no projeto editorial foram traduzidas para o universo gráfico, criando a linguagem da peça, relacionado-a à Cartier-Bresson. Os estudos de tipografia, cor, layout e formato foram elaborados conforme as particularidades e influências que suas obras expressam. O ensaio fotográfico unido com seu suporte editorial possibiltou a materialização de um livro de fotografias, que apresenta meu trabalho de conclusão do curso de design gráfico.

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Índice de Imagens, Bibliografia e Referências Online


Fig. 1, 2 , 8, 11, 23 moma.org último acesso em 29/05/2012

Fig. 3, 13, 17, 18 e 21 96

blog.ricecracker.net último acesso em 29/05/2012

Fig. 4, 5, 10, 12, 16 alafoto.com último acesso em 28/05/2012

Fig. 6 photo.net último acesso em 29/05/2012


ÍNDICE DE IMAGENS

Fig. 7 parisrarebooks.com último acesso em 29/05/2012

Fig. 9, 19, 20 theredlist.fr último acesso em 28/05/2012

Fig. 15, 22 adbrio.files.wordpress.com último acesso em 29/05/2012

Fig. 14 life.time.com/henri-cartier-bresson último acesso em 29/05/2012

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DELPIRE, Robert. Henri Cartier-Bresson: Fotógrafo. 1ª edição. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

ASSOULINE, Pierre. Henri Cartier-Bresson: O Olhar do Século. 1ª edição. Porto Alegre: L&PM, 2009. 98

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Titulo

local, data

fig.

FAAP 2012

A Estrutura da Composição

Rafaella A. Machado


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