Internacional - julho 2014

Page 1

internacional julho 2014

Federação Nacional da Educação PORTUGAL

TALIS 2013 Em Portugal os professores trabalham mais Foram publicados no passado dia 25 de junho os resultados do estudo TALIS – Teaching and Learning Internacional Survey da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). O estudo apresenta o resultado de um inquérito a docentes do 3º ciclo do Ensino Básico e a diretores de escolas e, no caso português, revela que Portugal é o quarto país em que os professores trabalham mais. Só o Japão, Malásia e Singapura têm mais horas de trabalho. O estudo revela ainda que os professores passam 15% das aulas a sossegar os alunos. Das 44,7 horas semanais que os professores portugueses passam a trabalhar, apenas 20,8 são a dar aulas e quase dez horas são passadas a corrigir e a preparar trabalhos de casa.

Na componente do tempo de trabalho Portugal está sempre acima da média da OCDE, mas é no tempo despendido a corrigir trabalhos que os professores portugueses mais se afastam da média dos 30 países, que se fixa nas 5 horas semanais para este tipo de trabalho. Quanto à utilização do tempo de duração das aulas os professores portugueses afirmam que 25% se perde em tarefas administrativas, como contabilização do registo de presenças, e a manter a ordem dentro da sala. Sobra 75% do tempo de aula para efetivamente lecionar, o que no entanto não representa uma realidade muito distante dos restantes países envolvidos no estudo, uma vez que a média é de 78,7% do tempo de aula dedicado ao ensino.

cerca de 10 horas a corrigir e a preparar trabalhos de casa

Países com mais horas de trabalho:

44,7 4º

Portugal

Total de horas semanais

20,8 horas a dar aulas

Outros

Utilização do tempo das aulas:

15%

Tempo de uma aula que os professores passam a sossegar os alunos

75%

a lecionar

25%

em tarefas administrativas

A média de tempo de aula dedicado ao ensino é de 78,7% nos restantes países envolvidos no estudo

1


Professores sentem-se pouco reconhecidos mas amam a profissão A maioria dos professores portugueses acredita na qualidade do seu trabalho, mas apenas 10,5% dos inquiridos entende que a profissão é valorizada pela sociedade. Os números apontam para um sentimento de desvalorização profissional entre a classe docente, quando comparada com a média dos mais de 30 países envolvidos no estudo, que indica que 30,9% dos inquiridos acredita que a profissão docente é valorizada pela sociedade. A boa notícia é que apesar da perceção relativamente ao reconhecimento social do seu

trabalho, os professores portugueses (94,1%) declaram-se satisfeitos com o seu trabalho, ficando mesmo acima da média de 91,1% da OCDE. Os professores portugueses não aparentam também ter dúvidas quanto à qualidade do trabalho que desenvolvem: 99% acredita que está a ajudar os seus alunos a valorizar a aprendizagem (contra a média de 80,7% da OCDE), e 97,5% acredita que está a ajudar a desenvolver o pensamento crítico dos alunos (80,3% da média da OCDE).

Opinião docente sobre valorização da profissão pela sociedade: Portugal Média dos restantes países

10,5% 30,9%

Satisfação com o trabalho:

94,1%

Portugal

91,1%

Média da OCDE

Opinião docente sobre qualidade do trabalho:

99%

Portugal

80,7%

Média da OCDE

Pensam ajudar a desenvolver o pensamento crítico dos alunos:

97,5%

Portugal Média da OCDE

2

80,3%


Uma profissão no feminino à exceção dos cargos de direção Os professores portugueses são maioritariamente mulheres, com uma média de 20 anos de experiência e com formação em educação, mas a cadeira do diretor continua a ser ocupada maioritariamente por homens. Os dados do inquérito TALIS 2013 indicam que 73,2% dos professores em Portugal são mulheres, acima dos 68,1% de média dos mais de 30 países envolvidos neste estudo. Os docentes portugueses são em média dois anos mais velhos que os colegas da OCDE. No que diz respeito aos diretores escolares a tendência média é para uma divisão quase

Média de anos de experiência do professor português

igualitária entre géneros na atribuição da cadeira de diretor, com 49,4% de diretoras. Portugal fica dez pontos percentuais abaixo, nos 39,45. Entre os diretores portugueses há um sentimento relativo ao reconhecimento social da profissão docente semelhante ao dos professores, com apenas 30,4% a acreditar que são valorizados pela sociedade (44% da média da OCDE). No entanto, a quase totalidade dos diretores portugueses (98,15) revela-se satisfeita com o seu trabalho, ficando acima da média de 95,6% da OCDE.

Docentes portugueses são em média 2 anos mais velhos que os da OCDE

20

+2

Docentes do sexo feminino:

73,2%

Portugal

68,1%

Média dos restantes países

Diretores escolares do sexo feminino:

39,45% 49,4%

Portugal Média da OCDE

Perceção dos diretores sobre o seu reconhecimento social:

30,4% 44%

Portugal Média da OCDE

Satisfação dos diretores com o seu trabalho:

98,15% 95,6%

Portugal Média da OCDE

3


Professores querem mais formação em educação especial A educação especial é a área de ensino na qual os professores portugueses mais sentem falta de formação, com 26,5% dos inquiridos a revelar um “elevado nível” de necessidade de desenvolver competências nesta matéria. Recorde-se que recentemente, uma recomendação do Conselho Nacional de Educação relativa a políticas públicas de educação especial denunciou a falta de qualidade da formação de professores de educação especial, um ponto de vista partilhado pela FNE, que tem vindo, desde sempre, a alertar para este problema.

26,5% Querem mais formação em educação especial

Áreas em que os professores gostariam de adquirir mais competências:

14,15% Gestão e administração escolar

16,8%

O inquérito da OCDE vem agora sublinhar que mais de um quarto dos professores portugueses admite ter fragilidades de formação nesta área. Gestão e administração escolar (14,15%) e ensinar em contextos multiculturais e multilingues (16,8%) são as outras duas áreas mais referidas pelos professores como aquelas em que gostariam de adquirir mais competências, e também nestes casos Portugal fica acima da média do conjunto de países inquiridos.

Ensinar em contextos multiculturais e multilingues

35,5% (média da OCDE: 48,6%) Apenas esta percentagem de professores nacionais tiveram acesso a um programa de formação inicial formal no seu primeiro ano a lecionar

O TALIS 2013 revela ainda que apenas 35,5% dos professores portugueses afirmou ter tido acesso a um programa de formação inicial formal no seu primeiro ano a lecionar, abaixo da média de 48,6% da OCDE. Quanto à formação contínua, 88,5% dos docentes portugueses indicou ter desenvolvido atividades nesse sentido nos últimos 12 meses.

88,5% Desenvolveu atividades na formação contínua nos últimos 12 meses

ETUCE faz recomendação à Comissão Europeia Em jeito de recomendação face aos resultados do TALIS 2013, o Comité Sindical Europeu para a Educação (ETUCE) sugere que a Comissão Europeia assuma um papel mais ativo através da criação de

4

objetivos estratégicos em educação e formação para 2015-2020. O ETUCE afirma que os vários governos deviam ser encorajados a:

>

Aumentar a qualidade da Educação através de um financiamento sustentável;

>

Diminuir a falta de professores qualificados na Europa;

>

Garantir o respeito pelo tempo de trabalho dos docentes e um salário justo;

>

Aumentar a qualidade no período de indução;

>

Reforçar o diálogo social na Educação;

>

Atribuir pelo menos 10% do tempo de trabalho dos professores para a formação contínua.


O que é o TALIS e para que serve? O TALIS 2013 (Teaching and Learning International Survey) é o segundo inquérito da OCDE sobre ensino e aprendizagem, refletindo principalmente, sobre os ambientes de aprendizagem nas escolas e as condições de trabalho dos docentes. O primeiro

decorreu em 2008 em 24 países e, devido ao seu sucesso e relevante contribuição para as políticas de desenvolvimento educativo nos países participantes, foi decidido implementar uma segunda edição do estudo - TALIS 2013.

Entre outros aspetos, a análise cruzada dos dados vai permitir:

>

Comparar políticas públicas adotadas nos 30 países de cinco continentes onde o inquérito está a ser realizado;

>

Contribuir para diminuir as falhas de informação sobre os sistemas educativos dos diversos países;

>

Dar a oportunidade aos professores e diretores das escolas de contribuírem para a análise da educação e do desenvolvimento de políticas em áreas chave;

>

Possibilitar aos países a identificação de outros países com desafios semelhantes e aprenderem com outras abordagens políticas.

A edição de 2013 debruçou-se sobre o contexto profissional do docente, as suas condições de trabalho e o impacto da escola na sua eficiência. O TALIS 2013 pesquisou:

>

A formação do docente e o seu desenvolvimento profissional;

>

A apreciação do trabalho do docente e o feedback recebido;

>

O clima de escola;

Os últimos resultados do estudo TALIS revelam a perspetiva dos professores sobre o seu trabalho. É o estudo mais abrangente realizado a professores através de entrevista contactou mais de 100.000 professores e diretores de escolas do ensino básico de 34 países e pretendeu descobrir as suas opiniões sobre a profissão docente. A comunidade docente e as organizações nacionais e internacionais receberam os resultados TALIS 2013 com a perfeita noção de que estes resultados contribuem para uma análise aprofundada da situação dos professores dos países da OCDE. Essa foi uma das razões pelas quais participaram ativamente com feedback e recomendações, incluindo uma resposta detalhada aos resultados da pesquisa.

> > >

A liderança nas escolas; Os princípios pedagógicos dos docentes; As práticas pedagógicas dos docentes.

Como Presidente do Comité Consultivo da Internacional da Educação na OCDE, Randi Weingarten, presidente da Federação Americana de Professores (AFT), disse que o TALIS dá aos professores uma voz para determinar o que precisa de ser feito para melhorar a educação. "Este, e tantos outros inquéritos internacionais, apresentam um roteiro claro para o que os professores e seus alunos precisam - intervenções baseadas em evidências para os estudantes desfavorecidos, preparação de professores de alta qualidade, tempo para o trabalho colaborativo, recursos suficientes e respeito pela profissão", disse Weingarten.

5


Unite for Quality Education - Europa Encerra a 22 de setembro em Bruxelas

Da esquerda para a direita: Bastian Jeppesen (CSEE), Joaquim Santos (FNE), Anton Calderon (Realizador), Maria Royo (Realizadora), Paola Cammilli (Diretora do Projeto - CSEE) e João Dias da Silva (Secretário-Geral da FNE)

O visionamento de sete excertos de vídeo ainda não editados, dois deles referentes a Portugal, foi o ponto alto da terceira reunião do Advisory Group do projeto do ETUCE/CSEE, denominado Development of teacher unions' expertise in exiting the crisis through quality education, que decorreu em Bruxelas, em 23 de junho passado. O projeto, que visa a produção de um documentário de uma hora, sobre a crise na Educação em cinco países da Europa, vai ter a sua conferência final no International Auditorium da International Trade Union House - ITUH, na manhã do próximo dia 22 de setembro, perante uma audiência de cerca de cem representantes de sindicatos membros da Internacional da Educação - Europa. O posicionamento dos sindicatos, através das suas boas práticas perante a crise, é outra das vertentes

6

mais importantes do filme, que tem a FNE a representar o nosso país. Aproveitando a apresentação pública do documentário, realiza-se na parte da tarde, do mesmo dia, em forma de audiência pública, o encerramento europeu da campanha mundial da IE Unite For Quality Education, com a presença de Christine Blower, presidente do ETUCE, Fred Van Leeuven, Secretário Geral da IE, além de vários representantes de parceiros sociais europeus e da Comissão Europeia. O encontro conta com duas mesas redondas sobre os desafios de uma Educação de Qualidade e terá a intervenção de Martin Romer, diretor europeu do ETUCE, na sessão de encerramento.


Publicado relatório sobre a proteção social no mundo entre 2014-15 Com o objetivo de contribuir para a recuperação económica, o desenvolvimento inclusivo e a justiça social, a OIT publicou um relatório sobre as tendências do diálogo social no mundo. Este relatório da OIT apresenta as últimas tendências para a segurança social e fornece informações sobre os sistemas de proteção social, cobertura, benefícios e despesas em mais de 190 países. Mais de 70 por cento da população mundial não está devidamente coberta pela proteção social. Numa situação tão dramática em termos económicos e sociais, a falta de proteção social revela as ameaças e os abusos a que estão sujeitos a maior parte dos trabalhadores a nível mundial.

Relatório Eurydice mostra diferentes modelos de financiamento em Educação Um relatório da rede europeia de informação Eurydice, divulgado no passado dia 30 de junho, analisa a multiplicidade de modelos de financiamento na Europa. O relatório divulga que em 27 países as autoridades regionais ou locais usam as suas receitas para financiar as escolas. Contudo, em apenas metade desses países, as autoridades regionais ou locais financiam salários de professores. Nos restantes casos, como em Portugal, os municípios (ou equivalentes) só pagam despesas com pessoal não docente e despesas de f u n c i o n a m e nto e o u t ra s ( m a n u te n çã o, transportes, etc...). Relatório publicado no final do mês de junho sobre o financiamento das escolas públicas na Europa mostra diferentes modelos e sublinha a importância de se fazer mais com menos. Num terço dos Estados (onde Portugal está incluído) a verba para os salários é mesmo

transferida diretamente do Governo para as e s c o l a s o u p a r a o s p r o fe s s o r e s , s e m intermediários. O Eurydice acrescenta ainda que diferentes modelos têm vantagens e desvantagens. Por exemplo: financiar as escolas usando critérios universais muito objetivos, como o número de alunos (financiamento per capita) “pode ser a forma mais transparente de alocar recursos”. Mas, por outro lado, introduzir variáveis, como as características sócio-económicas dos alunos, pode fazer com que os recursos “sejam dirigidos para onde são mais necessários — e em zonas mais carentes do ponto de vista social, recursos adicionais podem fazer a diferença na hora de garantir a equidade”. A rede europeia Eurydice publica periodicamente informação sobre os sistemas educativos europeus.

7


Ensino vocacional tem efeito positivo sobre o abandono escolar precoce

O Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (CEDEFOP) divulgou os resultados de um estudo à escala europeia sobre o impacto da educação e formação profissional sobre a taxa de abandono escolar e as primeiras conclusões apontam para um efeito muito positivo. De acordo com o documento, e nos países em que

as vias profissionais estão mais implementadas, as taxas de abandono escolar precoce estão abaixo da meta da União Europeia para 2020 (10%). Por outro lado, em países onde a formação vocacional não é tão valorizada, a taxa de abandono ultrapassa os 10% e, em alguns casos, de modo muito significativo.

CSEE manifesta forte preocupação com negociações do TISA O Comité Sindical Europeu para a Educação (CSEE) manifestou profunda preocupação face à intenção da União Europeia de incluir o setor da Educação nas negociações do Acordo de Comércio e Serviços (TISA). Martins Romer, diretor do CSEE alertou para o efeito de bloqueio que as regras previstas neste acordo exerçam sobre o setor da Educação, intensificando as pressões de comercialização e privatização do ensino. O TISA é um Acordo de Comércio de Serviços que está a ser negociado entre os Estados Unidos, os

8

países da União Europeia e mais uma vintena de outros estados. Para Martin Romer as regras previstas no TISA podem tornar mais difícil aos diversos governos a adequada regulação do setor da Educação. As negociações têm sido rodeadas do maior secretismo, recentemente as preocupações aumentaram após o site Wikileaks ter divulgado o conteúdo de alguns documentos.


CPLP-SE reforça posicionamento sindical A CPLP-SE foi admitida como membro da CSPLP, Confederação Sindical dos Países de Língua Portuguesa, criada em 1998 e integrando as principais Centrais Sindicais do mundo Lusófono. Esperamos que, no âmbito da CSPLP, o setor da Educação possa ter uma intervenção ativa, que passará, nomeadamente, por uma presença reconhecida nas reuniões dos Ministros da Educação dos países que constituem a CPLP. A CPLP-SE, enquanto representante do setor da educação, tem entre as suas diversificadas missões, fazer chegar aos diferentes países que fazem parte da CPLP, tudo o que vai acontecendo no complicado mundo da educação. A luta por mais e melhor educação passa, necessaria-mente, por uma capacidade reivindicativa de sindicatos organizados e fortes que privilegiem a negociação e a concertação. No entanto a luta pode ter de recorrer a estratégias que ultrapassem a mesa das negociações. Manifestações e greves são direitos legais de todos os trabalhadores, desde que cumpridos todos os procedimentos, que a lei exige e os governos têm de os respeitar. Ao reprimi-los estão a pôr em perigo a democracia e alguns dos seus valores mais intocáveis: o direito de manifestação e de associação. A CPLP-SE tomou posição pública contra uma atitude de repressão sobre os professores da Província do Huíla, em Angola, que se manifestavam pacificamente e, que a intervenção inexplicável das forças policiais levou à detenção de cerca de 20 professores. Este tipo de reação por parte dos governos não favorece a convivência democrática entre sindicatos e poder, tão necessária à consolidação das democracias.

9



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.