Thoughts on Pamphlet Architecture War and Architecture
1940 2012
Lebbeus Woods
MANIFESTO Sarajevo, November 26th of 1993
Architecture and war are not incompatible.
Sarajevo, 26 de novembro de 1993
Arquitetura é guerra.
Architecture is war.
War is architecture.
I am at war with my time, with history, with all authority that resides in fixed and frightened forms.
I am one of millions who do not fit in, who have no home, no family, no doctrine, no firm place to call my own, no known beginning or end, no “sacred and primordial site. I declare war on all icons and finalities, on all histories that would chain me with my own falseness, my own pitiful fears. I know only moments, and lifetimes that are as moments, and forms that appear with infinite strength, then “melt into air.” I am an architect, a constructor of worlds, a sensualist who worships the flesh, the melody, a silhouette against the darkening sky. I cannot know your name. Nor you can know mine. Tomorrow, we begin together the construction of a city.
Arquitetura e guerra não são imcompativeis.
Guerra é arquitetura.
Eu estou em guerra com meu tempo, com a história, contra toda autoridade que reside em formas fixas e amedrontadas.
Sou um entre milhões que não se encaixam, que não tem casa, família, doutrina, nenhum lugar para chamar de meu, sem início ou final conhecido, sem um “local sagrado e primordial”. Eu declaro guerra a todos os ícones e finalidades, a todas as histórias que me acorrentariam à minha própria falsidade, às minhas lágrimas deploráveis. Eu apenas conheço momentos, e tempos de vida que são como momentos, e formas que aparecem com uma força infinita, e então “somem no ar”. Eu sou um arquiteto, um construtor de mundos, um sensualista que venera a carne, a melodia, a silhueta contra um céu escurecendo. Eu não posso saber seu nome.
Nem você pode saber o meu. Amanhã, começamos a construção de uma cidade.
Houses are proposed as part of the reconstruction of Sarajevo after the siege of the city that lasted from 1992 though late 1995. Their site is the badly damaged “old tobacco factory” in the Marijn dvor section near the city center.
Fig. 1 As casas altas
são propostas como parte da reconstrução de Sarajevo depois da ocupação da vidade que durou de 1992 até o final de 1995. Sua implantação seria o terreno severamente danificado da “velha fábrica de abaco na seção Marijn dvor perto do centro da cidade.
BOSN
Pic. 1 The High
This manifesto was read aloud on the steps of the burned-out Olympic Museum in Sarajevo on November 26, 1993, in full view of Serbian snipers and artillery gunners. Happily, no fire rained down on the assembled audience, of which I among many others was included. Coming to the last line, one of the two gifted actor-readers objected “Why wait until tomorrow?” Typical Sarajevan humor, candor, and bravado in the face of overwhelming odds.
O manifesto foi lido em voz alta nos degraus do Museu Olímpico em Sarajevo em 26 de novembro de 1993, à vista de franco atiradores servos e ao alcance das baterias de artilharia. Felizmente, não abriram fogo na audiência reunida, entre tantos espectadores, eu incluso. Chegando na última frase, um dos talentosos atoresleitores contestou: “Por que esperar até amanhã?” Um humor típico de Sarajevo, candura e coragem frente às esmagadoras probabilidades.
W A R a r c h i Over the two decades since this manifesto was written, I have had much time to consider the words I wrote and what I meant by them. At that time, I was responding to an urgent situation in Sarajevo, Bosnia—a city under a sustained terrorist attack that, in the West, was considered a siege, as though it were part of a normal war, which it was not. Snipers had turned streets into lethal shooting galleries and artillery gunners had turned ordinary buildings where people worked and lived into incendiary death traps. It was clear that architecture was part of the problem—the killing of thousands of innocent men, woman, and children—and I felt strongly that as long as the attacks continued (it turned out to be for more than three years) architecture also had to be part of the solution.
Passadas as duas décadas desde que este manifesto foi escrito, eu tive muito tempo para considerar as palavras que escrevi e o que eu quis dizer com elas. Naquela época, eu estava respondendo a uma situação urgente em Sarajevo, Bosnia - uma cidade sob ataque terrorista constante que, para o Ocidente, era considerado uma ocupação, como se fizesse parte de uma guerra normal, o que não era. Franco atiradores transformaram a cidade em mortais galerias de tiro e baterias de artilharia transformaram edifícios comuns onde pessoas trabalhavam e viviam em armadilhas incendiárias mortais. Era claro que a arquitetura era parte do problema - a matança de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes - senti-me comovido imaginando que enquanto os ataques ocorriam (aconteceu de ser por mais de 3 anos) a arquitetura também deveria ser parte da solução.
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Pic. 2-7 Prototypical
wall and window repair for Sarajevo, Bosnia, c. 1994, view from inside. Concept by LW, design and construction by architect Paul Anvar.
Fig. 2-7 Protótipo de
parede e janela reconstruída para Sarajevo, Bosnia, c. 1994, visão interior. Conceito por LW, projeto e construção pelo arquiteto Paul Anvar.
Without the help of architects, people had built temporary walls as shields against snipers and thrown up all sorts of improvised repairs to their homes and workplaces. I reasoned that these makeshift structures, though more or less effective for their purposes, created a degraded environment, which was exactly the goal of the terrorists. To survive, and to frustrate the enemies of their refined culture, people need a sense of order in their world, one that is consciously created, or designed. Sarajevans nobly showed this need by the way they dressed, in spite of the lack of water, heat, or lighting, somehow always in clean, pressed clothing, the women elegantly coifed and made up, incongruously strolling in the parts of the city center that were screened from snipers if not from mortars and cannons in the hills above, like players from an Alain Resnais film. Inspired by this and a dash of Michelangelo’s designs for the fortifications of Florence, I set out to consider how to repair damaged houses and offices in ways that embodied the elan of their inhabitants, as well as kept out the rain, snow, and cold. These were extremely modest designs, made from scavenged metal, wood, and even cardboard.
Sem a ajuda de arquitetos, as pessoas tinham de construir paredes temporárias de papelão como escudos contra franco atiradores e criavam todo tipo de reparo improvisado para suas casas e locais de trabalho. Estabeleci que essas estruturas temporárias, apesar de servirem mais ou menos seu propósito, criavam um ambiente degradado, que era o objetivo principal dos terroristas. Para sobreviver, e para frustrar os inimigos de sua cultura, as pessoas necessitam de ordem no mundo, uma ordem conscientemente criada, ou projetada. Saravejanos nobremente mostraram essa necessidade através do seu modo de se vestir, apesar da falta de água, aquecimento, ou eletricidade, de algum modo sempre limpos, de roupa passada, as mulheres arrumadas, incongruentemente passem nas partes do centro da cidade que foram obstruídas da vista dos atiradores, senão por morteiros e canhões nos morros acima, como personagens num filme de Alain Resnais. Inspirado por isso e pelos desenhos de Michelangelo para as fortificações de Florença, eu estabeleci como consertar habitações e escritórios danificados de modo que incorporassem o desejo de seus habitantes, e também como proteger das intempéries. Era desenhos muito modestos, criados a partir de ferro-velho, madeira, e até mesmo papelão.
R R T
Pic. 8-9 A typical
residential block, badly damaged in places, reconstructed with new types of spaces for residents’ use. The principle here is that reconstruction integrates people’s experiences of the destruction into needed social changes, as well as architectural ones.
Fig. 8-9 Um típico bloco residencial, severamente danificado em partes, reconstruído com novos tipos de espaços o uso de seus residentes. O princípio aqui é que a reconstrução integre a experiência da destruição com a da necessidade de mudança social, bem como a de mudança arquitetônica.
A E R
D C U
I O C
C R N R T
A L A D I S E C O R U C
One principle I adopted in the beginning was that such found materials would be reshaped, piece by piece. More than anything, I wanted this small-scale architeture to avoid becoming ‘junk sculpture,’ or a collage of detritus. Intention is important, even at the smallest scale, and the intention in Sarajevo was to consciously reshape its world, turning ruins and battered remnants into a new kind of architecture, a uniquely Sarajevan architecture, and something of which the city’s people could be proud. The goal was also to establish some basic rules of reconstruction, keeping in mind the enormous task of rebuilding the damaged city that would begin when the terrorists were defeated and people could turn their energy to building the new city I had forecast in my manifesto, and a new way of civic life.
Um princípio que adotei no início era que os materiais achados seriam remodelados, peça por peça. Acima de tudo, eu queria que esta arquitetura de escalabaixa evitasse virar “esculturas de lixo”, ou uma colagem de detritos. A intenção é importante, até na menor escala, e a intenção em Sarajevo era conscientemente remodelar seu mundo, transformando ruínas e resquícios maltratados em um novo tipo de arquitetura, uma arquitetura unicamente de Sarajevo, e algo que as pessoas poderiam se orgulhar. O objetivo era também estabelecer uma regra básica de reconstrução, mantendo em mente a tarefa enorme de reconstruir a cidade danificada que iniciaria quando os terroristas fossem derrotados e os habitantes pudessem concentrar suas energias em construir a nova cidade que tive a visão em meu manifesto, uma nova forma de civilidade.
f i s r t p r i n c i p l e I am revisiting the work I did some fifteen years ago for an unhappy reason. Originally intended to address the destruction of buildings in Sarajevo, Bosnia—which I and many others hoped would prove to be an isolated catastrophe—it has instead turned out to be only the beginning of a new trend resulting from globalization, a proliferation of regional, often insurgent-driven wars that have resulted in the pieceby-piece destruction of cities and the killing of their inhabitants that characterized the torturous three-year attack on Sarajevo. In going over what I wrote about this work at the time—in 1993—I find it inadequate in its explanation of what inspired the designs, drawings, and models and what I hoped to achieve by making them. No wonder, I say in hindsight, that they were accused of “aestheticizing violence,” and merely being exploitative of a tragic human condition. I failed to put the work in the broader human context that it needed to be understood as proposals for architecture serving rational and needed purposes. I hope to correct—to the extent I can here—this failure.
Eu estou revisitando o trabalho que fiz a mais ou menos 15 anos por uma razão triste. Originalmente a intenção era adereçar a destruição dos edifícios em Sarajevo, Bosnia - onde eu e muitos outros esperávamos ser uma catástrofe isolada - na verdade acabou se tornando apenas o começo de uma nova tendência da globalização, uma proliferação regional de guerras insurgentes que resultaram na destruição de cidades e na morte de seus habitantes e que caracterizaram o torturante ataque de 3 anos em Sarajevo. Revisando o que escrevi sobre este trabalho - em 1993 - Eu acredito ser inadequada a explicação que o que inspirou meus projetos, desenhos e maquetes e o que eu esperava conseguir ao criá-los. Não me espanta, eu digo em retrospectiva, que eles foram acusados de “esteticizar a violência”, e de meramente explorar a trágica condição humana. Eu falhei em colocar o trabalho num contexto humano maior que era preciso ser entendido como propostas arquitetônicas servindo a fins racionais e necessários. Eu espero consertar - para o que eu puder aqui - esta falha.
c i p l e Pic. 11 Like the “Sarajevo window,” the scavenged construction materials are carefully reshaped and reconfigured, then fitted together with a high level of craft - a technique appropriate to the New Parliament’s methods and goals.
Fig. 11 Como em a
“Janela de Sarajevo” os materiais de construção sucateados são cuidadosamente remodelados e reconfigurados, então encaixados juntos com um alto nível de habilidade uma técnica apropriada para os nóvos métodos e objetivos do Novo Parlemento
f i s r t
Pic. 10 The purpose of
the New Parliament is not simply to replace the old, Socialist parliament, but - in the first place - to study and debate what a post-war Bosniannparliament should be and do. New types of spaces woven into the survivingmCartesian structural frame, create a dialectic between timeless and timebound, a network of the unknown that inspires both dialogue and innovation.
Fig. 10 O proprósito do
Novo Parlamento não é simplesmente substituir o velho Parlamento Socialista, mas - num primeiro momento - estudar e debater o que este parlamento Bósnio do pósguerra deveria ser e fazer. Novos tipos de espaços entrelaçados na estrutura cartesiana sobrevivente, criam uma dialética entre eterno e temporal, uma rede do desconhecido que inspira diálogo e inovação.
Pic. 12 The UNIS twin office towers, attacked in
1992, and burned. The buildings’ structural and floor systems survived and were suitable for ‘radical reconstruction.’ The new types of office space will be used in ways that will be unique to the post war conditions.
Fig. 12 Os edifícios gêmeos da UNIS, atacados e
incendiados em 1992. Os sistemas estruturais e pisos do edifícios sobreviveram e eram adequados para a “reconstrução radical”. Os novos tipos de espaços de escritório seriam usados de modo que seriam únicos às condições do pós guerra.
Pic. 13 The burning Electrical Management Building, and (right) the badly damaged, but salvageable Parliament of Bosnia and Herzegovina:
Fig. 13x O edifício da Gerência de eletricidade em
chamas, e (à direita) o severamente danificado, porém sucateável Parlamento da Bosnia e Herzegovina.
Because of my work concerned with the Sarajevo crisis long ago, people have often asked what I was working on for Baghdad, or Kabul, or Tripoli, or a growing list of cities that have shared its fate. My answer is always the same: nothing. While each is different, the destruction they have suffered is so similar to that suffered by Sarajevo that the principles I established there apply as well to the more recent catastrophes. This is a crucial point. My “war and architecture” work was not aimed at proposing the reconstruction of particular buildings—that should be the work of local architects—but at deriving guiding principles. The specific buildings I addressed with my designs were meant more as demonstrations of how these principles might work in particular cases, rather than as actual building proposals. Again, I strongly believe that reconstructions should be designed by local architects, who understand the local conditions far, far better than I ever could. I did and still do feel, equally strongly, that I and other ‘conceptualists’ can make a contribution to reconstruction on the level of principle, because we can more readily have a broader view, not having directly suffered the trauma of our city’s destruction and its lingering emotional and intellectual effects.
Por causa de meu trabalho relacionado a crise de Sarajevo a muito tempo atrás, as pessoas muitas vezes me perguntam sobre o que eu estaria trabalhando para Baghdad, ou Kabul, ou Tripoli, ou uma lista crescente de cidades que compartilharam este destino. Minha resposta é sempre a mesma: nada. Enquanto cada uma delas é diferente, a destruição que elas sofreram é tão similar àquelas sofridas em Sarajevo que estes princípios que estabeleci aplicam-se da mesma maneira para estas catástrofes mais recentes. Este é um ponto crucial. Meu trabalho “Guerra e Arquitetura” não era destinado a reconstrução de edifícios em particular - este deve ser o trabalho de arquitetos locais - mas derivar princípios guias. Os edifícios específicos que aderecei com meus projetos era muito mais demonstrações de como estes princípios podem funcionar em casos particulares, ao invés de serem mesmo propostas para estes edifícios.De novo, eu acredito fortemente que reconstruções devem ser feitas por arquitetos locais, que entendem as condições locais muito melhor que eu jamais poderia entender. Eu acreditava, e ainda acredito que eu e outros “conceitualistas” podem fazer uma contribuição para a reconstrução nos níveis dos princípios, porque podemos mais prontamente ter uma visão mais abrangente, não tendo nós sofrido os traumas da destruição de nossas cidades e seus efeitos emocionais e intelectuais decorrentes.
r a d i c r e c o n t r u c t So, to the principles. Before attempting to address the reconstruction prospects forced upon us by the destruction of Sarajevo, I studied the history of modern cities attacked in the Second World War. There is a massive literature on this heart-wrenching but crucial moment in human history. However, there is a small literature on the rebuilding of the damaged cities—many of which were severely damaged— and even less about the actual concepts that guided their reconstruction. From my studies, I can see only two guiding principles shared by the majority of post-war reconstruction projects. The First Principle: Restore what has been lost to its pre-war condition. The idea is to restore ‘normalcy,’ where the normal is the way of living lost as a result of the war. The idea considers the war as only an interruption of an ongoing flow of the normal. Então, para os princípios. Antes de tentar adereçar os projetos de reconstrução que foram colocados diante de nós com a destruição de Sarajevo, eu estudei a história moderna das cidades destruídas pela Segunda Guerra Mundial. Existe uma literatura massiva sobre este momento avassalador e crucial da história humana. Entretanto, existe uma literatura pequena sobre a reconstrução de cidades destruídas - muitas das quais foram severamente danificadas - e ainda menos sobre os conceitos que guiaram estas reconstruções. Dos meus estudos, eu consigo ver apenas dois princípios guias compartilhados pela maioria dos projetos de reconstrução do pós-guerra. O primeiro princípio: Restaurar o que foi perdido para sua condição do pré-guerra. A ideia é restaurar a “normalidade”, onde o modo normal de vida foi perdido como resultado da guerra. A ideia considera a guerra apenas como uma interrupção do que é o normal.
i c o n c t i
c a l n s i o n The Second Principle: Demolish the damaged and destroyed buildings and build something entirely new. This ‘new’ could be something radically different from what existed before, or only an updated version of the lost pre-war normal. Its application is very expensive financially, at the least.
O segundo princípio: Demolir os prédios danificados e destruídos e construir algo inteiramente novo. Este “novo” poderia ser algo radicalmente diferente do que existia antes, ou apenas uma versão atualizada do que era normal no pré-guerra. A aplicação disto seria financeiramente muito caro, para dizer no mínimo.
Pic. 14 The High Houses are proposed as part of the reconstruction of Sarajevo after the siege of the city that lasted from 1992 though late 1995. Their site is the badly damaged “old tobacco factory” in the Marijn dvor section near the city center.
Fig. 14 As “High Houses” são propostas como parte
da reconstrução de Sarajevo depois da ocupação da cidade que durou de 1992 até o final de 1995. Seu terreno é a “antiga fábrica de tabaco” na seção de Marijn dvor perto do centro da cidade.
e n c
v i o
Both of these concepts reflect the desires of most city inhabitants to ‘get back to normal,’ and forget the trauma they suffered as a result of the violence and destruction. Yet, both concepts ignore the effects of the war and destruction on the people who suffered through them, not only the personal psychological effects, but also those forcing changes to people’s social, political, and economic relationships. Before the war, Sarajevo was the capital of Bosnia and Herzegovina, one of the states in the Socialist Federal Republic of Yugoslavia. After the war, it was the capital of an independent country and no longer Socialist. The impact of this change alone on people’s everyday lives has been enormous, and particularly so in the ways they perceive each other and themselves. In this sense, it is not possible to get back to normal. The prewar normal no longer exists, having been irrevocably destroyed, Still, this does not mean that many—even most—people will not desire to do so. In such a society, wise leaders are needed to persuade people that something new must be created—a new normal that modifies or in some ways replaces the lost one, and further, that it can only be created with their consent and creative participation. In effect, a new principle of reconstruction needs to be established.
Estes dois conceitos refletem o desejo desta maioria de cidadãos que querem “voltar ao normal”, e esquecer o trauma que sofreram como resultado da violência e destruição. Ainda assim, os dois conceitos ignoram os efeitos da destruição e da guerra nas pessoas que sofreram através dela, não apenas seus efeitos psicológicos, mas também aqueles efeitos que forçaram mudanças sociais, políticas e relações econômicas. Antes da guerra, Sarajevo era a capital da Bósnia Herzegovina, um dos estados da República Federativa Socialista da Yugoslavia. Depois da guerra, transformou-se na capital de um país independente e não mais socialista. O impacto desta mudança na vida cotidiana de seus cidadãos foi enorme, e particularmente no modo como eles mesmo se percebem. Neste sentido, não era possível voltar ao normal. O normal do pré-guerra não existe mais, tendo ele sido irrevogavelmente extinto, ainda assim, isso não significa que muitos - até a maioria - das pessoas não desejem isso. Neste tipo de sociedade, líderes sábios são necessários para persuadir as pessoas de que algo novo deve ser criado - um novo normal que modifica ou de algum modo substitua o que foi perdido, e portanto, que ele só pode ser criado com o consenso e participação criativa. Em efeito, um novo princípio de reconstrução deve ser estabelecido.
p o s t - w a r c i t y Pic. 16 Design for the
recostruction of the building by Lebbeus Woods, 1994.
Fig. 16 Projeto para
reconstrução do Edifício por Lebbeus Woods, 1994.
Pic. 15 The Electrical Management
(Elektroprivreda) Building in Sarajevo during the siege, Bosnia, 1993.
Fig. 15 O Edifício de Gerenciamento de Eletricidade (Elektroprivreda) de Sarajevo durante o ataque, Bosnia, 1993.
We’ll call it the Third Principle: The post-war city must create the new from the damaged old. Many of the buildings in the war-damaged city are relatively salvageable, and because the finances of individuals and remaining institutions have been depleted by war and its privations, that salvageable building stock must be used to build the ‘new’ city. And because the new ways of living will not be the same as the old, the reconstruction of old buildings must enable new ways and ideas of living. The familiar old must be transformed, by conscious intention and design, into the unfamiliar new.
Chamaremos este de terceiro princípio: A cidade do pós-guerra deve criar uma nova forma para o velho que foi danificado. Muitos dos edifícios danificados pela guerra são relativamente sucateados, e por motivos financeiros de seus indivíduos e como suas instituições estão escassas pelas privações do conflito, aquele estoque de prédios sucateados deve ser usado para construir a “nova” cidade. E porque novos modos de vida não serão os mesmo que os antigos, a reconstrução de edifícios antigos deve permitir novos modos e ideias de vivência. O velho e familiar deve ser transformado, com uma intenção e projeto consciente, no novo não familiar.
Pic. 17 A typical residential block, badly damaged in places, reconstructed with
new types of spaces for residents’ use. The principle here is that reconstruction integrates people’s experiences of the destruction into needed social changes, as well as architectural ones.
Fig. 17 Um típico bloco residencial, severamente danificado em
partes, reconstruído com novos tipos de espaços o uso de seus residentes. O princípio aqui é que a reconstrução integre a experiência da destruição com a da necessidade de mudança social, bem como a de mudança arquitetônica.
It is worth mentioning that the most needed buildings are the so-called ordinary ones—apartments and office buildings, primarily. Symbolic structures, such as churches, synagogues, mosques and those buildings of historical significance that are key to the cultural memory of the city and its people, must also be salvaged and repaired. With these latter buildings, the First Principle—restoration to the pre-war state—is almost always justified, whatever the cost, which is always high. However, the application of this principle to ordinary buildings makes no sense, because there is nothing especially memorable to restore. To the contrary, the apartment and office blocks that survive destruction must provide the day-to-day spaces for the new ways of living to be enabled by their ‘radical reconstruction.’
Vale a pena mencionar que os edifícios mais necessários são os assim chamados de “ordinários” apartamentos e prédios de escritório primariamente. Estruturas simbólicas, como igrejas, sinagogas, mesquitas e edifícios com significado histórico que são a chave para a memória e cultura da cidade e das pessoas, devem ser sucateados e consertados. Com estes edifícios, o Primeiro Princípio - restauração ao estado pré-guerra - é quase sempre justificado, qualquer que seja o custo, que quase sempre é alto. No entanto, a aplicação deste princípio para edifícios ordinários não faz o menor sentido, porque não há nada de especialmente memorável para restaurar. Ao contrário, os quarteirões de apartamento e escritórios que sobreviveram a destruição devem prover espaços do dia-a-dia para que novas formas de vivência possam ser habilitadas através da “reconstrução radical”.
Pic. 17 Lebbeus Woods Exhibition in the
destroyed Olympic Museum, Sarajevo under siege, November 1993.
Fig. 17 Exibição de Lebbeus Woods no
Museu Olímpico destruído, Sarajevo, Novembro 1993.