Bahia agricola v9 n2 completa

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Editorial Além de ser um problema climático, a seca é uma situação que gera dificuldades sociais para as pessoas que habitam a região semiárida, com reflexos em toda sociedade. Com a falta de água, torna-se difícil o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais. Desta forma, além de atingir gravemente os recursos econômicos, a seca gera fome e miséria. Considerada a mais intensa dos últimos 47 anos, a seca que atinge a Bahia vem acarretando sérios prejuízos para produção agrícola e pecuária do Estado. Compreender o fenômeno das secas é necessário para o uso responsável dos limitados recursos hídricos do Semiárido. Além disso, estudos para a melhoria da previsão de secas, com base nos dados meteorológicos disponíveis, e em tempo hábil, podem contribuir para a formulação de políticas públicas de convivência com a seca, de forma sustentável e includente.

lizadas sobre o desempenho dos principais produtos agrícolas do Estado já no primeiro trimestre de 2013. Voltada ao tema, a Seção Comunicação abriga as interessantes e dinâmicas contribuições sobre a experiência do Território do Sisal com cabras leiteiras e as orientações para o caprinovinocultor enfrentar a longa estiagem com menos prejuízos. Além desse importante e atual tema, os artigos desta Seção tratam de outras matérias com o mesmo empenho e registra uma descrição sobre o papel da vigilância ativa da defesa agropecuária e a detecção de uma nova ocorrência fitossanitária na citricultura, discorre sobre um patógeno ocasional de plantas estressadas que pode vir a se constituir num problema para agricultura baiana, entre outros assuntos fundamentais para o cenário agropecuário do Estado.

Nesta edição, com a temática especial “A seca e os desafios do Semiárido: oportunidades e perspectivas”, a revista Bahia Agrícola oferece ao leitor artigos técnicos de grande relevância, com destaque para a matéria de capa, ricamente ilustrada, onde é analisada a SECA do ponto de vista conceitual e sua variabilidade espacial e temporal, discorrendo sobre os vários momentos vivenciados pelo Semiárido brasileiro. A seca atual é o mote principal, e suas consequências são destacadas e complementadas com as ações emergenciais e estruturantes para atenuar os seus efeitos, promovidas pelo Estado e capitaneadas pela Secretaria da Agricultura e demais organismos governamentais.

Em Socioeconomia, além dos principais artigos relacionados ao tema, são tratados outros itens de grande relevância, a exemplo do ensaio sobre instrumentos de gestão ambiental para sustentabilidade dos fundos de pasto no Semiárido baiano e as ações de ATER, um artigo que trata dos novos caminhos para o desenvolvimento rural sustentável, visando um atendimento mais qualificado aos agricultores familiares. Em Pesquisa Agrícola, outras informações importantes, onde a matéria sobre características dos frutos de palma forrageira corrobora com a temática desta edição. E ainda tem mais: a Seção Informações e Serviços para finalizar esse elenco de informações agropecuárias de primeira linha.

Para maior compreensão da economia agrícola do Estado, a Seção Agrossíntese traz informações atua-

Boa leitura!


AGROSSÍNTESE

Produção de grãos na Bahia cresce 14,64%, apesar dos severos efeitos da seca no Estado

Governador Jaques Wagner Secretário da Agricultura, Pecuária, Irrigação Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura Eduardo Salles

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Chefe de Gabinete Jairo Carneiro Diretora Geral Jucimara Rodrigues Superintendente de Desenvolvimento Agropecuário Raimundo Sampaio Superintendente de Irrigação Marcello Nunes Superintendente de Política do Agronegócio Jairo Vaz Superintendente de Agricultura Familiar Wilson Dias CDA – Coordenador Executivo Luis Anselmo de Souza EBDA – Diretor-Presidente Elionaldo Teles BAHIA PESCA – Diretor-Presidente Cássio Peixoto ADAB – Diretor Geral Paulo Emílio Torres

BAHIA AGRÍCOLA é uma publicação quadrimestral da

Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura – SEAGRI – com o objetivo de divulgar estudos de interesse da agricultura baiana, produzidos pelo seu corpo técnico e colaboradores externos. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.

Conselho Editorial

José Mário Carvalhal de Oliveira (Presidente) – ADAB; Aldo Vilar Trindade – Embrapa Mandioca e Fruticultura; Antônio Vicente da Silva Dias – EBDA; Augusto Sávio Mesquita – MAPA/SFA; Carlos Armando Barreto de Santana – SEAGRI; Jucimara Rodrigues dos Santos – SEAGRI; Maria Auxiliadora Lobo Alvim – SEAGRI/SUAF; Mário Luiz Albuquerque Tavares – CEPLAC; Paulo Emílio Torres - ADAB

COMUNICAÇÃO

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Nove medidas para o caprino-ovinocultor enfrentar o período de seca com menos prejuízos

BAHIA AGRÍCOLA – Editoria/Revisão: Rosangela Bar-

bosa Machado; Colaboração revisão: Diogo Cardoso de Oliveira, Fernanda Sousa Conceição e Lissandra Pedreira; Colaboração editorial: Assessoria de Imprensa SEAGRI; Capa, projeto gráfico e diagramação: Editora Dendê; Capa - Foto: Heckel Júnior; Fotografias: Acervo Biblioteca SEAGRI, Heckel Júnior e Sílvio Ávila (imagens gentilmente cedidas pela Editora Gazeta Santa Cruz – RS); Supervisão gráfica: Rosangela Barbosa Machado; Distribuição: Biblioteca SEAGRI. Apoio para esta edição: Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA. ISSN 1414-2368 A reprodução total ou parcial dos artigos é permitida desde que citada a fonte. Tiragem: 5.000 exemplares Esta publicação também está disponível na Internet, no endereço http://www.seagri.ba.gov.br/bahiagricola.asp Endereço: 4ª Avenida, 405 – Térreo Centro Administrativo da Bahia CEP 41745-002 – Salvador – Bahia – Brasil Tel.: (71) 3115-2783 e-mail: agronews@seagri.ba.gov.br

SOCIOECONOMIA

38

A Seca na Bahia


SOCIOECONOMIA

Ações emergenciais e estruturantes para mitigar os efeitos da seca na agropecuária baiana

50

SOCIOECONOMIA

Assistência técnica e extensão rural: novos caminhos para o desenvolvimento rural sustentável

68

PESQUISA AGRÍCOLA

Características físicas e físico-químicas de frutos de palma forrageira

86

COMUNICAÇÃO

SOCIOECONOMIA

PESQUISA AGRÍCOLA

Cabra leiteira: fonte de renda para o sertanejo; a experiência do Território do Sisal

12

Fungo Lasiodiplodia theobromae, um problema para a agricultura baiana

24

Serviço de vigilância ativa da defesa agropecuária detectou nova ocorrência fitossanitária na citricultura baiana

30

Gestão ambiental para a sustentabilidade dos Fundos de Pastos no Semiárido baiano

60

“Plantio direto” dos citros: mito ou realidade?

72

Flutuação populacional de D. citri em pomares de citros no município de Rio Real, Bahia 90 Forrageiras halófitas na alimentação de ruminantes

INFORMAÇÕES E SERVIÇOS

98

Notas Especiais

104

Divulgação SEAGRI

108

Cartas 110


AGROSSÍNTESE

A

Bahia está colhendo 7,52 milhões de toneladas de grãos em 2013, contra 5,56 milhões de toneladas no ano passado, ou seja, um incremento de 14,64%. A área colhida terá um aumento de 13,31%, saindo de 2,26 mil hectares para 2,56 mil hectares. O rendimento médio cresceu 1,27%, passando de 2.901 kg/ha para 2.938 kg/ha (Tabela 1).

Edilson de Oliveira Santos1

SOJA

1 – Mestre em Economia, Gestor Governamental da SEAGRI; e-mail: edilsonsantos@seagri.ba.gov.br

A produção de soja da Bahia, em 2013, é de 3,83 milhões de toneladas, ante 3,21 milhões do ano passado, ou seja, 19,07% maior no ano corrente. O preço elevado do produto motivou o aumento do plantio, onde a área plantada teve uma elevação de 9,10% em relação a 2012, quando saiu de 1,11 milhões de hectares para 1,21 milhões de hectares. A produtividade, por sua vez, elevou-se em

9,14%, passando de 2.888 kg/ha para 3.151 kg/ha.

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O Brasil está colhendo uma safra recorde de soja em 2013, fato que está contribuindo para uma redução da cotação do produto no mercado interno, desde que iniciou a colheita. Entretanto, isso não significa que o preço esteja baixo, uma vez que a cotação da lavoura atingiu índices muito elevados no ano passado, sendo que

Foto: Sílvio Ávila/EditoraGazeta

Produção de grãos na Bahia cresce 14,64%, apesar dos severos efeitos da seca no Estado


Tabela 1

PRODUTOS

ÁREA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO DE GRÃOS Produção (t)

Área (hectare) Variação(%) (2012/2013)

2012(1)

Variação(%) (2013/2012)

Variação(%) (2013/2012)

2013(2)

-22,76

3.172

3.501

10,40

6.154

76,64

1.101

1.023

-7,12

14.418

14.690

1,89

1.696

1.819

7,22

42,15

221.974

271.689

22,40

559

649

16,14

230,73

50.931

88.142

73,06

399

763

91,11

18,74

406.677

533.629

31,22

4.638

4.197

-9,51

2013(2)

1.257.864

1.072.621

-14,73

396.600

306.335

Amendoim (em casca)

3.837

6.295

64,06

3.484

Arroz (em casca)

24.455

26.715

9,24

Feijão (em grãos)

124.116

176.432

20.332

67.244

Milho (em grãos)

1.886.182

2.239.715

Soja (em grão)

Mamona (em baga)

Rendimento(kg/ha) 2012(1)

2012(1)

Algodão Herbáceo (em caroço)

BAHIA, 2012/13

2013(2)

3.212.789

3.825.454

19,07

1.112.627

1.213.855

9,10

2.888

3.151

9,14

Sorgo (em grãos)

32.163

108.569

237,56

54.575

124.745

128,58

589

870

47,68

TOTAL DE GRÃOS

6.561.738

7.523.045

14,65

2.261.286

2.559.239

13,18

2.902

2.940

1,30

Fonte: IBGE Elaboração: Superintendência de Política do Agronegócio - SEAGRI-BA (1) Dados Gcea-IBGE/dez/12 (2) Dados Gcea-IBGE/fev /13

mesmo reduzindo, mantém-se num patamar elevado. A tendência é que a cotação se mantenha firme, devido ao baixo estoque dos Estados Unidos e a demanda elevada da China. O preço da soja no mercado interno recebe grande influência dos preços internacionais, sobretudo de Chicago, que é o grande referencial para a formação de Gráfico 1

preços no mercado doméstico. A importância do complexo soja na pauta das importações brasileiras acaba colocando as cotações internas dependentes das flutuações dos preços internacionais do produto. Além da conjuntura internacional, o preço da soja no mercado interno recebe influência da variação cambial. Quando a moeda nacio-

COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DA SOJA EM BARREIRAS

nal está desvalorizada em relação ao dólar, implica em efeitos positivos nas cotações internas, visto ser um produto de importância relevante na formação do superávit da balança comercial. Em fevereiro, a cotação média da saca de soja com 60 kg em Barreiras foi de R$ 52,00, ao passo que no mesmo período do ano passado, estava cotada a R$ 42,00 (Gráfico 1).

fev de 2012 a fev de 2013 R$ por saca de 60 kg

80 70 60 50 40 FEV/2012 MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AGO

Fonte: SEAGRI/SPA

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SET

OUT

NOV

DEZ

JAN/13

FEV


MILHO A área de milho na Bahia não tem crescido nos últimos anos, ao contrário da produção que tem experimentado crescimento geométrico. Em 2013, a área colhida total no Estado foi de 533,63 mil hectares, enquanto que em 2004 foi de 753,35 mil hectares, ou seja, houve uma redução de 31,00%. Neste mesmo período, no entanto, a colheita total experimentou um crescimento de 39,01%, passando de 1,61 milhões de toneladas para 2,24 milhões de toneladas. O ganho de produtividade do milho baiano no intervalo de tempo analisado foi de 96,31%, quando saiu de 2.138 kg/ha para 4.197 kg/ha (Tabela 1). A elevação do rendimento médio por hectare na Bahia é fruto de inovações tecnológicas, desenvolvimento de variedades adaptadas às condições edafoclimáticas das regiões produtoras, além do melhoramento das técnicas de manejo.

Gráfico 2

Atualmente, a produção de milho está definida geograficamente em duas regiões: o Oeste, que desde a década de noventa já está consolidada como a zona de excelência para o cereal no Estado; e, nos últimos anos, o nordeste do Estado vem alcançando índices de produtividades muito expressivos, apresentando-se como área importante neste segmento. A produção estadual do cereal, em 2013, deve elevar-se em 18,74% em relação ao ano anterior, passando de 1,89 milhões de toneladas para os atuais 2,24 milhões de toneladas.

COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DO MILHO EM BARREIRAS

A safra nacional de milho deve ganhar uma ligeira elevação em relação à produção do ano passado, fato que deveria reduzir o preço do produto no mercado interno. Todavia, isso não deve ocorrer, visto que os estoques dos Estados Unidos estão muito baixo, além de que a China está enfrentando problemas climáticos, devendo demandar mais milho do mercado internacional. Em Barreiras a saca do produto teve uma cotação média de R$ 38,00 enquanto que nesse mesmo período de 2012, era comercializada em torno de R$ 23,00 (Gráfico 2).

fev de 2012 a fev de 2013 R$ por saca de 60kg

40 35 30 25 20 FEV/2012 MAR

ABR

MAI

JUN

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Fonte: SEAGRI/SPA

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FEV


ALGODÃO Ano após ano, a cotonicultura vem ocupando mais espaço na matriz produtiva da Bahia, constituindo-se num símbolo do desenvolvimento da agricultura do Estado, fazendo da Bahia o segundo maior produtor nacional de algodão. Entretanto, nos últimos dois anos a produção vem sofrendo reduções, motivadas por fatores climáticos, preços baixos e pragas. Em 2013, a produção baiana de algodão será 1,07 milhão de to-

neladas, 14,73% a menos que a safra do ano passado. A área colhida sofreu uma redução de 22,78%, passando de 396,60 mil ha para 306,34 mil ha (Tabela 1). No ano passado os estoques estavam elevados enquanto a demanda pela indústria estava baixa, o que pressionou o preço para baixo. Por conta disso, os agricultores reduziram o plantio de algodão para investirem em outras culturas como soja e feijão, além de eucalipto e pastagem para pecuária.

Outro fator que prejudicou o desempenho da lavoura este ano foi o ataque da lagarta Hellicoverpa zea, conhecida também como lagarta de espiga do milho. Essa lagarta tem se mostrado resistente aos defensivos existentes no mercado nacional, causando sérios prejuízos aos cotonicultores baianos. No primeiro trimestre deste ano as indústrias voltaram a comprar o produto, elevando ligeiramente o preço no mercado interno. A arroba de pluma em Barreiras está cotada a R$ 57,00, enquanto que neste mesmo período de 2012 era vendida a R$ 53,00 (Gráfico 3).

MAMONA A Bahia responde por cerca de 80% da produção nacional de mamona, tendo a região de Irecê como a principal produtora do Estado. Desde o ano passado, a região vem passando por problemas climáticos, que prejudicaram sensivelmente a produção agrícola. A safra da Bahia é de 67,24 mil Gráfico 3

COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DO ALGODÃO EM PLUMA EM BARREIRAS

fev de 2012 a fev de 2013 R$ por arroba

80 70 60 50 40

FEV/2012 MAR

ABR

MAI

JUN

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AGO

Fonte: SEAGRI/SPA

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FEV


toneladas, quase o triplo da safra de 2012, porém está muito abaixo da produção de 2011, que foi de 90,03 mil toneladas (Tabela 1). A produtividade da mamona na Bahia é de 763 kg/ha, ante 693 kg/ha do rendimento médio do Brasil. A produtividade da ricinocultura baiana, a despeito de ser maior do que a produtividade nacional, ainda é baixa se comparada com outros estados da Federação.

FEIJÃO O feijão na Bahia é colhido em duas safras no ano, sendo a primeira no primeiro trimestre, e a segunda no segundo semestre, durante os meses de agosto e setembro. Em 2012, a safra de feijão foi bastante prejudicada, visto a estiagem que afetou as regiões de Irecê, Sudoeste e Bom Jesus da Lapa e o nordeste do Estado. Neste ano, as chuvas não caíram em grandes volumes nas três primeiras regiões, porém houve uma Gráfico 4

expansão de 78,86% na colheita da primeira safra ou safra de verão como também é conhecida, saindo de 58,45 mil toneladas para 104,54 mil toneladas. A safra de inverno é plantada em maio e junho, tendo o nordeste do estado como a principal região produtora. De acordo com o IBGE, a expectativa é que a Bahia colha 71,90 mil toneladas na segunda safra deste ano. Confirmando essa expectativa, a produção total de feijão do Estado será de 176,43 mil toneladas, 42,15% maior que a safra de 2012 (Tabela 1). O preço do feijão é determinado pela relação de oferta e demanda no mercado interno, não estando, portanto, influenciado pelas flutuações no mercado internacional. Houve problemas climáticos em estados importantes produtores como Paraná e Minas Gerais, além da seca no Nordeste, o que está mantendo elevado o preço do produto nesse ano. A saca do produto em fevereiro foi cotada em média, a R$ 180,00 em Adustina, enquan-

COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DO FEIJÃO EM ADUSTINA

to que neste mesmo período no ano passado custava, em média, R$ 156,00 (Gráfico 4).

ARROZ A safra de arroz em 2013 na Bahia cresceu 9,24% em relação ao ano passado, saindo de 24,46 mil toneladas para 26,72 mil toneladas (Tabela 1). A produção de arroz no Estado é decrescente nos últimos dez anos, desde que os sojicultores do Oeste da Bahia passaram a plantar soja em áreas novas. Antes, plantava-se arroz nas áreas recém-abertas, cultivando-se soja nos anos seguintes, porém já existem tecnologias que permitem entrar diretamente com soja. Além disso, o Oeste já está consolidado como região produtora de grãos, e a abertura de novas áreas é reduzida atualmente. Portanto, apesar do crescimento neste ano, esta atividade não é expressiva no Estado. Houve uma pequena elevação na safra nacional, mas como os estoques estão baixos, tem

fev de 2012 a fev de 2013 R$ por saca de 60 Kg

250

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150

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Fonte: SEAGRI/SPA 10

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SORGO A produção de sorgo tem crescido significativamente na Bahia nos últimos anos, saindo de 33,78 mil toneladas em 2002 para 171,10 toneladas em 2011, ou seja, um incremento de 400%. A elevação do preço do milho nos mercados interno e externo tem colocado o sorgo como uma alternativa para as indústrias de ração animal, valorizando o preço do produto. Além disso, trata-se de um produto menos vulnerável às irregularidades das chuvas, levando-o a substituir outras culturas como o feijão, por exemplo.

mantido o preço do arroz firme no mercado interno. A saca com 60 kg foi cotada em média, a R$ 50,00, em fevereiro Gráfico 5

no município em Luís Eduardo Magalhães, enquanto que no ano passado situava na casa dos R$ 26,00 (Gráfico 5).

COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DO ARROZ EM LUÍS EDUARDO MAGALHÃES

A produção estadual neste ano foi de 108,57 mil toneladas, mais que o triplo do volume produzido em 2012 (Tabela 1). A região de Irecê sempre lidera a colheita da lavoura no estado, porém, neste ano, foi superada pela microrregião de Guanambi, que está respondendo por mais de 30% do volume colhido na Bahia.

fev de 2012 a fev de 2013 R$ por saca de 60 kg

60 50 40 30 20 FEV/2012 MAR

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Fonte: SEAGRI/SPA

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Foto: Acervo ACCOSSF

COMUNICAÇÃO

Cabra leiteira:

• fonte de renda para o sertanejo • a experiência do Território do Sisal

S

ímbolo da pecuária nordestina, o caprino é encontrado em grande parte das unidades de produção familiar em todo Semiárido. Segundo o IBGE (2011), o Brasil possui 9,39 milhões de cabeças e a Bahia responde por 29,21% desse efetivo.

Robson Andrade1 Ildes Ferreira2

1 – Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão da Inovação Tecnológica; e-mail: robsonandrad@yahoo.com.br 2 – Sociólogo, Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS; e-mail: ildesferreira@gmail.com

O sistema de criação na Bahia ainda é bastante rudimentar, com pouco incremento tecnológico, baixa qualidade genética dos rebanhos, baixos índices zootécnicos, dentre outros aspectos. Contudo, apresenta-se como uma cadeia produtiva com elevada potencialidade em virtude das boas condições de aceitação da carne, leite e seus derivados pelo mercado. Atualmente, na Bahia, a implantação de frigoríficos especializados para o abate de caprinos tem per12

mitido expandir este consumo para novos nichos da população, assim como a produção de derivados de leite pelos laticínios que processam/industrializam o leite caprino. No que tange a produção de leite de cabra, o Território do Sisal, localizado no Semiárido baiano, possui larga experiência em virtude de ter iniciado a produção nos anos 90. O presente comunicado técnico pretende, em linhas gerais, relatar essa experiência do Território do


Sisal e abordar a questão da potencialidade da cadeia produtiva da caprinocultura de leite.

UM POUCO SOBRE O TERRITÓRIO DO SISAL O Território do Sisal é constituído por 20 municípios (Figura 1), habitado por 582.329 pessoas (IBGE, 2011) e uma extensão territorial de 20.154 km², o correspondente a 3,5% do Estado da Bahia. Inserido no Semiárido baiano, é caracterizado pela predominância de uma economia agrícola de base familiar.

Em 2001, o laticínio DACABRA passou a produzir iogurtes, queijos e doces sob a orientação de pesquisadores da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a atual Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A experiência em Valente fomentou a expansão da cadeia produtiva e, em 2009, a Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares do Território do Sisal – COOPSISAL implantou outro laticínio no Território, localizado no município de Figura 1

São Domingos, conhecido como Laticínio Ouro verde. Hoje, a caprinocultura é um componente fundamental da agricultura familiar e da própria economia do Território do Sisal, com destaque para os municípios de Valente, São Domingos, Santaluz e Retirolândia. De acordo com o IBGE (2011), o efetivo caprino do conjunto dos municípios que compõem o Território é de 253.105 cabeças, o que corresponde 9,23% do rebanho do Estado da Bahia.

MAPA DO TERRITÓRIO DO SISAL NO ESTADO DA BAHIA

A CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE LEITE NO TERRITÓRIO DO SISAL No início da década de 1990, no município de Valente, a Associação de Desenvolvimento Sustentável Solidária – APAEB, com o intuito de diversificar a renda dos agricultores familiares da região sisaleira, resolveu fomentar, através de um “fundo rotativo”, a compra dos primeiros caprinos leiteiros na região. Em paralelo, com recursos oriundos de organizações internacionais, a APAEB, em 1996, iniciou a construção de um laticínio específico para processamento e industrialização do leite de cabra, consolidando a visão inovadora e empreendedora da organização.

Ichu Barrocas

Nordestina

Biritinga

Queimadas

Serrinha

Monte Santo

Santaluz

Lamarão

Itiúba

Araci

Candeal

Cansanção

Valente

Teofilândia

Quijingue

São Domingos

Conceição do Coité

Tucano

Retirolândia

Fonte: MDA. Relatório Analítico, 2011

13


Os laticínios DACABRA e OURO VERDE, juntos, processam cerca de 36.000 litros de leite de cabra por mês, beneficiando 140 famílias da agricultura familiar, com a geração de renda fruto da cadeia produtiva na ordem de R$ 43.200,00 mil/mês, ou seja, um incremento na renda familiar médio de aproximadamente R$ 300 reais.

SISTEMA DE CRIAÇÃO Os animais são criados no sistema semiconfinado onde parte do dia alimentam-se de forrageiras existentes na caatinga ou pastagem formadas por forrageiras como buffel ou urochloa. Ao retornar para as instalações, as cabras que estão em ordenha, recebem como suplemento alimentar farelo de milho e soja, como fonte de energia e proteína, respectivamente, e silagem ou feno de resíduo de sisal (abundante na região). O resíduo do sisal é um volumoso importante na região, com ele os agricultores conseguem manter a produção de leite, mesmo nos longos períodos de estiagem.

nio que prestam assistência técnica para todos os cooperados de cada laticínio.

MERCADO Entre os principais produtos produzidos estão o leite de cabra pasteurizado, iogurte, doce de leite e queijo. O principal mercado consumidor localiza-se nas regiões metropolitanas de Feira de Santana e Salvador. Além desse mercado, os laticínios fornecem o leite pasteurizado, conhecido como “barriga mole”, para programas governamentais como o Programa de Aquisição de Alimento – PAA.

PARCERIAS Os dois laticínios, DACABRA e OURO VERDE, contam com o apoio de organizações da sociedade civil como MOC, APAEB, Fundação APAEB, FATRES, UNICAFES e do poder público a exemplo da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura – SEAGRI, Secretaria

de Desenvolvimento Social e Combate a pobreza – SEDES, Embrapa Semiárido e da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, Serviço de Apoio a Pequena e Micro Empresa – SEBRAE, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB e Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. Apesar de ainda existirem muitas limitações, são notórios os avanços na qualificação dos agricultores, através dos processos de pesquisa, assistência técnica e capacitações, como também na gestão e finanças dos empreendimentos, frutos das parcerias firmadas, assim como a dedicação dos dirigentes de cada laticínio.

OPORTUNIDADES DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA

Condições edafoclimáticas favoráveis a criação dos caprinos;

Histórico de criação do caprino de corte por parte dos agricultores familiares do Território;

Nas propriedades familiares as instalações foram adequadas para a produção de leite, obedecendo a critérios técnicos e sanitários. Foto: SECOM–BA

O manejo sanitário, assim como o manejo reprodutivo e nutricional é orientado por técnicos de organizações parceiras do laticí14


Mercado em expansão, tanto do setor público quanto do setor privado; Incremento adicional na renda familiar da unidade de produção; Fonte de proteína para a família, principalmente as crianças; Elevada capacidade de organização dos agricultores;

Melhorar a produtividade do rebanho leiteiro;

estabelecidas para a produção de leite;

Adotar as medidas profiláticas necessárias para a redução da incidência de zoonoses;

Buscar certificações de qualidade e de origem.

Introduzir planejamento da unidade familiar de produção, incorporando-se os princípios da economicidade e da preservação ambiental;

Produção em consórcio com a cultura do sisal;

Otimizar recursos naturais, aproveitando as potencialidades da caatinga;

Aproveitamento do resíduo de sisal como fonte de alimento para os caprinos.

Incorporar tecnologias apropriadas para o sistema de produção;

PRINCIPAIS DESAFIOS DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA Apesar da posição destacada que ocupa a caprinocultura no Território, do empenho dos agricultores e parceiros, há a necessidade de se superar algumas dificuldades de natureza estrutural. São elas:

Melhorar geneticamente rebanho;

o

Adotar medidas de convivência com a seca para assegurar a manutenção da produção nos períodos de estiagens (captação e armazenamento de água, bancos de alimentos etc.);

Ampliar a oferta de crédito (PRONAF); Adequar as Leis e Normativas

CONSIDERAÇÕES FINAIS A cadeia produtiva da caprinocultura no Território do Sisal é um elemento crucial para a manutenção e melhoria das condições de vida das famílias, pela sua capacidade de gerar renda numa região de condições adversas para muitas atividades econômicas. Há potenciais para aumento da produtividade e da produção, há mercado para os produtos e há um valioso aprendizado por parte dos agricultores e de suas organizações. É relevante, também, para o fortalecimento e consolidação de iniciativas de economia solidária no Território, mas requer o efetivo e decisivo apoio dos governos federal e estadual, seja para ampliar as práticas exitosas já verificadas, seja para suscitar o surgimento de novas o que muito poderá contribuir para a economia local no contexto da agricultura familiar do Território do Sisal.

REFERÊNCIAS APAEB. Laticínio Dacabra. Disponível em: <http://www.apaeb.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=51&Itemid=41> Acesso em 28 set. 2012. BNB. Ações do Banco do Nordeste do Brasil em P&D na arte da pecuária de caprinos e ovinos no Nordeste Brasileiro. Fortaleza, 2009. FERREIRA, I. et al. Relatório Analítico do Território do Sisal. Disponível em <http://sge.mda.gov.br/bibli/bibli_re/ra_sisal_ba_043.pdf>. Acesso em 03 out. 2011. IBGE. Censo Agropecuário. Disponível em <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 03 out. 2012. IBGE. Censo Demográfico. Disponível em <http://www.ibge.gov.br.> Acesso em out. 2012. LIMA F. A. Q. Plano de negócio e marketing do Laticínio Dacabra. Salvador: SEBRAE/BA, 2009. 15


Nove

medidas Foto: Heckel Junior

para o caprino-ovinocultor enfrentar o período de seca com menos prejuízos

E

ste artigo, um pouco diferente no seu formato, tem como objetivo principal ajudar os criadores de caprinos e ovinos do Semiárido que não fizeram reservas de forragem no enfrentamento de uma longa estiagem, a encontrar, dentre as poucas alternativas, o caminho mais apropriado para atravessar este período difícil com um mínimo de perdas em seus rebanhos, assegurando assim, após o retorno das chuvas, a possibilidade de um processo de recuperação da atividade.

Clovis Guimarães Filho1 Cândido Roberto de Araújo2 José Hugo Félix Borges3

1– Médico Veterináro, M.Sc. em Animal Science, ex-pesquisador da Embrapa Semiárido, coordenador de ATER da Projetec – Projetos Técnicos Ltda no Projeto Pontal Sequeiro, Petrolina-PE; e-mail: clovisgf@uol.com.br 2– Engenheiro Agrônomo da Projetec – Projetos Técnicos Ltda no Projeto Pontal Sequeiro e caprino-ovinocultor no Semiárido piauiense. 3–Engenheiro Agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. – EBDA e caprino-ovinocultor no Semiárido baiano; e-mail: josehugo.borges@ebda.ba.gov.br

 DICAS IMPORTANTES:

O mais importante numa seca não é tentar manter todo o rebanho, mas, sim, garantir a sobrevivência do maior número possível de cabras ou ovelhas, que sejam jovens, boas parideiras e prontas a entrarem em cio e a emprenharem rapidamente, com a volta das chuvas.

Avalie cuidadosamente cada alternativa apresentada a seguir e procure utilizar aquelas que melhor se ajustam às condições de sua exploração e aos recursos disponíveis na sua propriedade. 16


MEDIDAS PARA O ENFRENTAMENTO DA SECA  MEDIDA 1 Diminua o tamanho de seu rebanho É a primeira coisa que o produtor deve fazer.

Vendendo alguns animais você pode, com o dinheiro e até certo limite, comprar forragem ou ração para alimentar melhor os animais que ficarem na roça;

Selecione

os animais para venda à medida que for precisando, seguindo essa ordem:

Assim:

to disponível que você tem e de forragem que você armazenou e compare com a quantidade de animais para alimentar – faça então uma estimativa de quantos animais será possível manter e de quantos terá que se desfazer; Outra opção é transferir parte do rebanho para outra propriedade, própria ou de terceiros (aluguel de pasto ou parceria para sobrevivência), onde haja pasto disponível;

1º) venda os machos jovens, já prontos, aqueles que já estejam com idade e peso bom para o abate e as fêmeas, nessas mesmas condições, que não apresentem boa qualidade para serem aproveitadas como matrizes; 2º) venda as cabras e ovelhas mais velhas, começando por aquelas que demoram muito a parir ou que tenham algum problema e, também, os bodes e carneiros que podem ser descartados por idade avançada ou por baixa qualidade do serviço; 3º) depois, venda os machos restantes desmamados, destinados a acaba-

Ao decidir sobre a venda dos animais tenha em mente que, de uma maneira geral, os caprinos resistem mais que os ovinos aos efeitos de uma estiagem severa – isto significa que, em condições extensivas ou semi-extensivas, os custos de manter uma cabra serão menores que os de manter uma OVELHA.

Foto: Heckel Junior

Avalie a quantidade de pas-

mento e abate; 4º) se a situação piorar, você então deve pensar em vender as fêmeas mais novas apartadas, procurando manter as melhores marrãs que já estejam em condições de entrar em cio e de emprenhar pela primeira vez; 5º) se ainda precisar vender mais, tente vender as crias mais velhas, de ambos os sexos, que ainda estejam mamando. Faça tudo para não vender as melhores marrãs desmamadas e as melhores e mais jovens matrizes parideiras.

17


 MEDIDA 2 Procure apartar as crias das mães

 MEDIDA 3 Separe os animais “mais fracos” para ração suplementar Divida o rebanho em três grupos, separando, com base na condição corporal, (“não magros”, “magros” e “muito magros”), para permitir tratamento diferenciado e uso mais racional da alimentação suplementar. Utilizar ração ou forragem suplementar somente para aqueles mais fracos, poupar ração e dinheiro para mais adiante, se a situação piorar.

 MEDIDA 4 Use todos os pastos de uma maneira igual Divida os pastos, mesmo com cercas bem precárias. Somente mude os animais de pasto depois que tiverem comi-

Foto: Sílvio Ávila/Editora Gazeta

Sem ter que produzir leite e dar de mamar à cria, a cabra ou a ovelha parida pode aguentar melhor a seca e emprenhar mais cedo, depois da volta das chuvas. Para os cabritos ou borregos mais novos, faça uma “meia apartação” – deixe-os separados das mães, de modo que mamem apenas uma ou duas vezes ao dia. do todo o tipo de planta de uma maneira igual, por toda a área de cada pasto. Dessa forma, o pasto rende muito mais.

 MEDIDA 6

Coloque os pontos de sal (ou de ração) longe da água. O posicionamento estratégico do sal, dos pontos d’água e da ração, pode propiciar uma máxima e uniforme utilização da forragem disponível nos pastos.

Normalmente, nas épocas de seca mais intensa, aumentam os ataques de animais selvagens contra cabritos e borregos, principalmente de carcarás, raposas e gatos-do-mato, alguns cachorros e até onças, no entorno de serras; procure reforçar os chiqueiros e manter os animais presos durante a noite – tente outras medidas de vigilância como o uso de cachorros ou de armadilhas tipo alçapão. É importante evitar que as cabras e ovelhas dêem cria no mato – mantenha uma área cercada, perto da casa, para servir como “pasto-maternidade”.

 MEDIDA 5 Previna as doenças no seu rebanho nesse período crítico Vermifugue seus caprinos e ovinos antes e, outra vez, durante o período; banhe ou pulverize os animais com produtos contra parasitas externos como os carrapatos e os piolhos; uma boa limpeza nos chiqueiros é fundamental. Assim, os animais não adoecerão facilmente e estarão mais fortes para resistir a uma alimentação escassa. 18

Proteja os animais contra ataques de predadores

 MEDIDA 7 Controle a reprodução do rebanho É conveniente evitar que as cabras ou ovelhas fiquem prenhes


– se ficarem prenhes vão precisar de mais comida e de melhor qualidade antes e, principalmente, depois do parto, para poder dar leite. Assim, evitar parições em pleno período de seca braba, pode ser muito útil!

 MEDIDA 8 Dedique atenção especial ao suprimento d’água para o rebanho A água é o principal alimento para os rebanhos, por isso proteja bem as suas fontes d’água. Faça uma cerca ao redor – não deixe desperdiçar nem sujar a água – evite a entrada dos animais. Uma cabra (ou ovelha) precisa beber diariamente de 1 a 2 litros de água, se estiver se alimentando de forragens verdes e tenras – na época seca, com temperatura mais alta e se alimentando de forragens secas, o consumo de água pode chegar até 6 litros por dia; o consumo de água salobra diminui a quantidade total de comida ingerida pelos ovinos e caprinos fazendo com que eles produzam menos. Se você tiver um poço de água muito salobra, que nem os animais consigam beber, procure co-

locar no bebedouro um pouco de água boa – com a mistura, a salinidade diminui e os animais passam a beber bem a água do poço. Outras medidas simples que ajudam a reduzir a necessidade de os animais beberem água: a) alimentar os animais com silagem no lugar de feno (a silagem tem em torno de 70% de água e o feno, apenas 10%); b) colocar os animais para pastar cedo pela manhã ou à tardinha, quando o sol está mais fraco; c) apartar as crias mais cedo – a cabra ou ovelha que está dando leite precisa de 50% a mais de água; d) quando a situação estiver mais grave, passe a fornecer a água em dias alternados. Os caprinos e ovinos resistirão bem, especialmente aqueles que têm mais sangue “pé-duro”.

 MEDIDA 9 Complemente a alimentação do rebanho no período seco Essa é a parte mais importante! Na situação atual, sem nenhuma forragem produzida ou armazenada, você está em situação difícil e tem que agir rápido para garantir a sobrevivência do seu rebanho!

Veja as indicações a seguir:

Reserve alguma forragem cultivada que ainda reste na propriedade para ser cortada, colhida ou apanhada do chão e fornecida aos animais. As forragens mais indicadas para cortar são: capim elefante e palma forrageira;

Não

deixe o capim amadurecer demais (“envarar”) para cortar, pois seu valor nutritivo fica muito baixo; a palma deve ser cortada e picada na máquina-forrageira, ou “pinicada” à mão, antes de dar aos animais; não faça farelo da palma se sua propriedade tiver problemas sérios de escassez de água para os animais, pois ela ajudará muito a atenuar esse problema pela grande quantidade de água que contém;

Para colher ou apanhar as melhores espécies são: melancia-de-cavalo e algarobeira. Mas, cuidado com as vagens da algaroba – elas não podem ser usadas por muito tempo como alimento único pois podem causar uma doença chamada “cara-torta”;

Tente

cercar alguma área de pasto cultivado como reserva para uso mais adiante pelos ani-

 DICAS IMPORTANTÍSSIMAS:  Plantas suculentas, como a palma forrageira e a melancia-de-cavalo, matam a sede dos animais nos períodos mais secos – seu uso deve ser reservado para quando a água for mais escassa (01 hectare de palma adensada pode armazenar tanta água quanto 10 ou mais cisternas de placas);  Raízes e tubérculos frescos (as “batatas” das plantas nativas, como o mamãozinho-de-veado) também têm mais água e podem ser utilizadas para esse fim. 19


Foto: Alberto Coutinho/SECOM – BA

mais; o melhor pasto para ser reservado para uso no pior da seca é o capim buffel.

Atenção!

Muito importante! Não deixe, de forma alguma, os animais “rasparem” ou “pelarem” os pastos reservados – os custos de tempo e dinheiro com o seu replantio ou recuperação serão muito piores.

Faça

feno – a fenação é a secagem da planta forrageira verde, com o fim de diminuir a quantidade de água que ela contém – a planta perde só água, mantendo praticamente o seu valor nutritivo; a secagem é feita ao sol, espalhando-se a forragem, triturada ou não, por um ou dois dias; as plantas mais recomendadas para fenação são: capins buffel e corrente, leucena, maniçoba, gliricídia, guandu, pornunça, cunhã.

Como

você, muito provavelmente, não tem nenhuma dessas forragens cultivadas que esteja ainda verde e no ponto de fazer feno, você terá de trabalhar com algumas ervas, arbustos ou árvores nativas da caatinga que ainda contenham quantidades razoáveis de folhagem. É nessa hora que se conhece o verdadeiro valor da caatinga! Nesse momento, as principais plantas que ainda podem ser encontradas com alguma folhagem para fenar são: jurema, juazeiro, canafístula, faveleira, lã-de-seda, baraúna, feijão bravo, icó, espinheiro (jiquirizeiro) e algaroba. Os animais comumente não apreciam algumas dessas espécies quando lhes são fornecidas na forma de folhagem verde, mas, após a secagem, as folhas são avidamente ingeridas; Embora não se trate de uma espécie nativa, você também pode fazer um bom feno da folhagem 20

da algaroba, abundante em várias áreas do Semiárido. O feno das folhas de algaroba é feito da mesma forma que o de jurema, cortando as ramas e colocando para secar para depois fazer o desprendimento das folhas sobre uma lona plástica estendida no solo. Faça feno apenas da folhagem de alguns galhos de cada planta, para não prejudicar a produção de vagens que devem surgir ao final do ano.

Havendo

alguma disponibilidade de água e mão-de-obra na propriedade, veja a possibilidade de produzir milho em canteiros de hidroponia; esta prática permite a produção de 25 kg de folhas verdes de milho por m² de canteiro a cada 15 dias;

Aproveite

palhadas e outros resíduos de cultivos da propriedade. Os mais comuns são: – ras-


tratado está mais rico em proteína e muito mais digestível.

Aproveite plantas nativas existentes na propriedade; observe os recursos naturais existentes, o que é que pode ser aproveitado para alimentar seus animais. Veja se encontra: mandacaru, facheiro, xique-xique, palmatória, macambira, coroa-de-frade. Essas espécies, e outras do mesmo tipo, são normalmente arrancadas ou cortadas, algumas delas “sapecadas” (para queimar os espinhos), “pinicadas” e fornecidas aos animais em épocas de seca braba, quando a forragem tradicional já se esgotou. Embora o trabalho seja grande, os resultados compensam, porque com certeza vão garantir a sobrevivência dos animais.

Outra alternativa que pode ser usada é o corte e derruba das ramas de diversas árvores e arbustos da caatinga que mantêm suas folhas mesmo em grandes estiagens, entre elas: juazeiro, baraúna, espinheiro, icó, feijão bravo, “enxertos de passarinho” de jurema e de outras espécies, ramas da algaroba (embora esta não seja uma planta nativa da caatinga, também podem ser derrubadas para consumo direto pelos animais). As alternativas apresentadas terão um resultado mais eficiente se forem utilizadas combinadas ou misturadas com outras, umas procurando melhorar o sabor de outras menos palatáveis, ou procurando balancear a ração, de modo a que cada animal tenha a seu dispor não apenas volumoso

Foto: Acervo ACCOSSF

pas de mandioca, grãos de milho, sorgo, milheto; – palhada e sabugos de milho; – palhada e cascas de feijão, de arroz; – casca, folhagem e manivas de mandioca; – resíduos de sisal; os grãos e a raspa devem ser armazenados em sacos, galpões ou silos metálicos. Os grãos e as raspas são alimentos ricos em energia e devem ser fornecidos de preferência quebrados, ou triturados, puros ou misturados a outros ingredientes. Palhadas, sabugos e cascas e resíduos são melhor aproveitados quando amonizados, que consiste em tratar várias camadas do material triturado com uma solução de uréia – o material triturado é coberto totalmente com plástico e deixado por cerca de 20 dias de temperatura alta – depois de aberto o material

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fibroso, mas também outros ingredientes que forneçam energia e proteína. Cada espécie utilizada para salvar rebanhos precisa ser preservada. Assim, produtor, para cada mandacaru que cortar ou mamãozinho que arrancar, procure plantar outros dois!

Adquira forragens e rações de terceiros, quando possível; uma boa dica é comprar volumosos das áreas irrigadas; o bagaço de cana hidrolisado é um volumoso de baixa aceitação pelos ani-

mais, precisando ser misturado com uma solução de melaço (7 a 9 litros de água por kg de melaço) para obter um bom consumo – alguns produtores ainda adicionam outros produtos, como torta de algodão ou milho, à mistura – um bom resultado pode ser obtido também com o mandacaru triturado misturado ao bagaço; como o melaço é muito caro, uma outra alternativa para o produtor é usar na mistura um tipo de melaço feito de vagem de algaroba, preparado na propriedade; o sal proteínado é uma mistura composta geralmente de uréia, sal comum, farelo (de

soja ou algodão), milho moído (ou raspa de mandioca ou melaço) e sais minerais. Pode ficar a disposição dos animais, pois sua ingestão é regulada pela proporção de sal comum na mistura. O sal proteínado já é encontrado pronto, em sacos, no comércio, mas você mesmo pode preparar uma mistura na propriedade, a um custo mais baixo do que aquele da mistura pronta.

Atenção!

O uso incorreto da uréia pode causar a morte dos animais, por isso não a use de forma alguma sem uma orientação técnica.

Converse com o extensionista de seu município para obter orientação mais detalhada de como utilizar cada uma das alternativas mostradas neste artigo Observação: os leitores interessados em adquirir informações mais detalhadas sobre as alternativas apresentadas neste artigo devem solicitar gratuitamente o “Manual da Seca”, via e-mail: clovisgf@uol.com.br

Resumo das principais alternativas emergenciais para alimentação dos rebanhos no período de estiagem ALTERNATIVA A AVALIAR

Reservar áreas de forragens cercadas para cortar, colher ou apanhar

PROCESSO

PRINCIPAIS MATERIAIS

cortar e picar

capim elefante, sorgo, cana, palma forrageira

colher ou apanhar e dar quebrada, cortada ou triturada

melancia forrageira, vagens de algaroba

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ALTERNATIVA A AVALIAR

PROCESSO

PRINCIPAIS MATERIAIS

Reservar áreas de forragens cercadas para pastejo

pastejo animal

capim buffel

Produzir forragem verde

cultivar forragem irrigada em canteiros e cortar a cada 15 dias

milho folhagem de capim buffel, leucena, maniçoba, guandu, pornunça e outras plantas cultivadas

Fazer feno

colher a forragem cultivada ou nativa ainda disponível e fenar

Aproveitar palhadas e outros resíduos de cultivos

fornecer in natura ou tratados com uréia (amonizados)

grãos de milho ou sorgo, cascas, folhas, manivas e raspas de mandioca, palhadas e sabugo de milho, cascas e palhadas de feijão e de arroz, mucilagem de sisal, etc.

derrubar ramas de árvores e dar in natura

jurema, faveleira, juazeiro, baraúna, canafístula, feijão bravo, icó, espinheiro, “enxertos de passarinho”, algaroba, etc.

cortar e queimar cactáceas e outras plantas espinhentas

mandacaru, facheiro, xique-xique, coroa-de-frade, macambira

arrancar raízes, “batatas”

mamãozinho-de-veado

complementar alimentação volumosa

capins e outras forrageiras, especialmente de áreas irrigadas (ex: pastos dos pomares, sorgo/milheto com ciclo de 30 dias produzidos sob contrato, fardos de feno, ponta de cana das usinas etc.), palma forrageira, palhadas e outros restolhos (troncos e folhas de bananeira, bagaços e refugos de uva, melão, melancia, tomate e de outras frutas e hortaliças, bagaço hidrolisado de cana, resíduos do sisal, bagaço seco de caju, manivas de mandioca, palhadas, sabugos e cascas de milho e feijão etc.

complementar alimentação concentrada

grãos/caroços/farelos (milho, sorgo, algodão, soja, trigo), raspas de mandioca, farelo/vagens de algaroba, sal proteinado, sucedâneos do leite, melaço, uréia.

Aproveitar plantas nativas e naturalizadas da propriedade

Adquirir forragens e rações de terceiros

folhagem de jurema, juazeiro, baraúna, faveleira, lã-de-seda, canafístula, feijão bravo, icó, espinheiro, algaroba e outras plantas nativas ou naturalizadas

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theobromae um problema para a agricultura baiana

Maria Zélia Alencar de Oliveira1 Paulo Prates Júnior2 Cristiane de Jesus Barbosa3 Cezar Chamusca Assmar4

1–Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitopatologia, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: zeliaao@gmail.com 2–Biólogo, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: junior_prates2005@yahoo.com.br 3–Engenheira Agrônoma, Doutora em Ecossistemas Agroflorestais, Pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura – BA; e-mail: barbosa@cnpmf.embrapa.br 4–Engenheiro Agrônomo, Mestre em Zoologia, Consultor Técnico em Agronomia; e-mail: cezarassmar@hotmail.com

A

nteriormente considerado um fungo oportunista, Lasiodiplodia theobromae (Patouillard) Griffon & Maublanc (sinônimo: Botryodiplodia theobromae Pat.) (SUTTON, 1980), vem se constituindo em um sério problema para os produtores em diversos agroecossistemas (FREIRE et al., 2004).

insetos, pássaros e pelo próprio homem, por meio de práticas culturais. Tavares (2002) descreve que temperaturas altas, com média em torno de 28°C, umidade relativa próxima de 60% e precipitação pluviométrica de, aproximadamente, 15 mm favorecem o seu desenvolvimento.

Esse fungo é característico das regiões tropicais e subtropicais, onde ocorre em cerca de 500 espécies de plantas (PUNITHALINGAM, 1980). Sobrevive na atmosfera, nos tecidos vegetais vivos ou mortos, sendo disseminado pelo vento, insetos e instrumentos de poda. Penetra na planta por meio de aberturas naturais, principalmente ferimentos motivados por

Freire et al. (2004) mencionam que há um aumento no número de hospedeiros e na severidade do ataque de L. theobromae. Dentre as espécies que relatam estão: o abacateiro, citros, coqueiro, eucalipto argentino, jaqueira, mandioca, ficus ornamental, meloeiro, figueira, mangueira oiticica, goiabeira, mamoeiro, roseira, sapotizeiro e videira.

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Foto: Acervo ASCOOB

Fungo Lasiodiplodia


Esse patógeno pode acarretar diferentes sintomas nas plantas infectadas, incluindo seca-descendente (die back); cancro em ramos, caules e raízes; lesões em estacas, folhas, frutos e sementes; além de incitar a morte de mudas e enxertos. Sua capacidade de infectar frutos coloca-o dentre os mais eficientes patógenos disseminados por meio de sementes e causadores de doenças pós-colheita (FREIRE et al., 2004).

que este patógeno sobrevive endofiticamente em sementes de gravioleira (Annona muricata L.). Segundo Cardoso et al. (2009b), essa característica é de grande importância epidemiológica, prognosticando medidas de exclusão no manejo de doença. Na Bahia, L. theobromae (Figura 1) vem ocasionando a morte de

mangueiras (Figura 2A), cajaraneiras – (Figura 2B) e cajueiros – (Figura 3); tendo sido, ainda, detectado, no período de 2009 a 2012, por meio de exames realizados no Laboratório de Fitopatologia da Central de Laboratórios da Agropecuária da EBDA (FITO/CLA/EBDA), em outras frutíferas, como abacateiro; coqueiro (Figura 2C); citros; frutos Figura 2

Figura 1

Cysne et al. (2006) asseguram que L. theobromae é um problema limitante para a fruticultura tropical. Tal declaração é confirmada por Cardoso et al. (1998) ao revelarem que, provavelmente, nenhum outro microrganismo representa uma maior ameaça à fruticultura no Nordeste do que esse fungo, pelo caráter destrutivo dos sintomas por ele determinados, somado à sua dispersão assintomática pelas sementes, propágulos vegetativos e porta-enxertos. A sua ocorrência de forma endofítica (colonizando os tecidos internos do vegetal, sem produzir danos) tem sido relatada em uma gama de hospedeiros, sendo o processo de infecção induzido por estresses ambientais que provocam o enfraquecimento do vegetal (CARDOSO et al., 2009a; BAIRD e CARLING, 1998; CILLIERS, 1993; MOHALI et al., 2005; MULLEN et al., 1991; RUBINI et al., 2005). Igualmente, Cardoso et al. (2006) abordaram acerca desta forma de associação de L. theobromae, ao concluírem

Lasiodiplodia theobromae: (A) Isolamento do fungo em batata-dextrose-ágar a partir de fragmentos de tronco de mangueira; (B e C) esporos jovens (hialinos e unicelulares) e (C) maduros (bicelulares, de coloração marrom escura). 25

Lasiodiplodia theobromae associada à morte descendente ou podridão seca de (A) mangueira e de (B) cajaraneira e à (C) queima-das-folhas de coqueiro.


de graviola (Figura 4A); jambeiro; pinha; e jenipapo; em ornamentais: flamboyant; barba-de-barata; faveiro; cássia-amarela; fícus benjamina; palmeira imperial; e sombreiro. Este fitopatógeno foi, também, observado em palma forrageira – (Figura 5) e em sementes de mamona – (Figura 4B); e de milho – (OLIVEIRA et al., 2012a e 2012b). Figura 3

Morte descendente de (A) cajueiro, com (B) exsudação de coloração amarronzada com aspecto gelatinoso no caule necrosado provocada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae, na região de Itaberaba-BA (Fotos de Gilvã Santos).

Conforme Cardoso et al. (1998), em geral, L. theobromae vem associado a processos patogênicos em plantas estressadas. Convém aludir que este fungo foi constatado em plantas com ataque de coleópteros (Figura 6) e recuperado em isolamentos, realizados no laboratório de FITO/CLA/EBDA, em associação com outros agentes de doenças: Colletotrichum Figura 4

gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc e Thielaviopsis paradoxa (De Seynes) Höhn. Em se tratando da queima-das-folhas de coqueiro, 80% dos isolamentos apresentaram uma associação de L. theobromae com Pestalotiopsis sp. Por outro lado, Tavares (2002) levanta a hipótese que o fungo tem evoluído em patogenicidade Figura 5

Lasiodiplodia theobromae: (A) desenvolvimento do fungo em fruto de graviola colocado em câmara úmida (micélio de coloração escura recobrindo o fruto); (B) Crescimento do fungo, em meio BDA, em sementes de mamona da região de Irecê, BA.

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Sintomas de resinose em raquetes de palma ocasionado por Lasiodiplodia theobromae. Abundante exsudação de goma de coloração amarela (A) que se torna, em estágio mais avançado da doença, enegrecida (B).


Figura 6

comprometido por atividades antrópicas, dentre as quais, os desmatamentos. Não obstante, várias outras questões podem estar relacionadas à mudança de ação desse fitopatógeno, entre elas a simplificação da estrutura do ambiente sobre áreas extensas, substituindo a diversidade natural (ALTIERI et al., 2003) e restringindo as interações biológicas, como a atividade de micorrizas; os sistemas de monocultivos que conseguem exaurir os recursos do solo, com grandes riscos de erosão e redução de serviços ecológicos essenciais, tais como a ciclagem de nutrientes e o controle biológico natural; o uso indiscriminado de agrotóxicos levando à ocor-

rência de resistência; e as mudanças climáticas. O reflexo do ambiente em relação às doenças de plantas é um fato irrefutável. O ambiente pode ter efeitos sobre o vegetal, assim como, apresenta uma atuação preponderante sobre o patógeno e a interação entre eles. Na concepção de Ghini (2007), o processo de evolução da patogenicidade de microrganismos está ligado às mudanças climáticas que podem operar impactos em todos os estádios de desenvolvimento, tanto do patógeno quanto da planta hospedeira, como da doença, nas diversas etapas do ciclo das relações patógeno-hospedeiro.

(A) Tronco de cajueiro com perfurações indicadas pelas setas e (B) tecido interno do coqueiro apresentando uma coloração marrom escura. (A e B) Presença de larva de inseto coleóptero (no interior dos círculos vermelhos). (C) Larva observada no tecido do coqueiro. Nas análises efetuadas, no laboratório de FITO/CLA/EBDA, foi detectado o fungo Lasiodiplodia theobromae. (A- Foto de Gilvã Santos).

em decorrência das pressões ambientais, notadamente, nas regiões semiáridas, onde as condições climáticas lhes são muito favoráveis. Foto: SEAGRI

Tal afirmativa condiz com o cenário que se descortina na atualidade no Estado da Bahia, seriamente 27


Foto: Silvio Ávila\Editora Gazeta

Nessa mesma linha de pensamento, Scherm et al. (2000) afirmam que os fitopatógenos estão entre os primeiros organismos a demonstrar os efeitos das mudanças climáticas devido às numerosas populações, facilidade de multiplicação e dispersão, e ao curto tempo entre gerações. Para Nobre et al. (apud GHINI e HAMADA, 2008) o Brasil se mostra vulnerável ao aquecimento global quando são analisados os impactos sobre seus ecossistemas e sua agricultura. Destaca-se que no controle de L. theobromae, normalmente, verifica-se o uso abusivo de agrotó-

xicos e a agressividade crescente do patógeno. O controle químico por si só não oferece proteção nem controle curativo quando os danos são provenientes do ataque desse organismo, sendo, então, indicada a adoção de uma série de medidas adicionais como o manejo cultural e o controle biológico (TAVARES, 1995). Ghini et al. (2011) chamam atenção para o fato de que todas as modalidades de controle de doenças de plantas são, de alguma forma, afetadas pelas condições climáticas. Preveem que as mudanças climáticas causarão alterações na distribuição geográfica e época de 28

ocorrência de doenças e, como consequência, os métodos de controle deverão acompanhar esta nova realidade. As medidas adotadas são necessariamente preventivas, empregando-se, sobretudo, o controle cultural pela prática de podas de limpeza, retirando os ramos secos e protegendo as partes das plantas comprometidas e podadas com uma pasta cúprica; desinfestação das ferramentas de poda com uma solução de hipoclorito de sódio (água sanitária) diluída em água corrente na proporção de 1:3; eliminação dos restos de cultura; erradicação de todas as plantas mortas ou que


apresentem a doença em estádio avançado; controle dos insetos que possam causar ferimentos às plantas; evitar o estresse hídrico (falta ou excesso de água) e nutricional do vegetal, especialmente, no tocante ao cálcio (Ca), visto que Oliveira et al. (2001) advertem que a deficiência deste elemento

torna o patógeno mais agressivo. Estudos básicos sobre o fungo L. theobromae e ecologia de agroecossistemas são imprescindíveis, visando uma melhor compreensão da interação hospedeiro-patógeno-ambiente, da relação com outros patógenos habitantes do sistema e anta-

gonistas para traçar estratégias viáveis de controle. Cada um destes fatores exerce um papel fundamental no desenvolvimento de epidemias e deve ser avaliado para o entendimento dos mecanismos envolvidos na patogênese, a fim de definir métodos de controle eficientes.

Referências ALTIERI, A. M.; SILVA, E. N.; NICHOLLS, C. I. O papel da biodiversidade no manejo de pragas. Ribeirão Preto: Holos, 2003. 226p. BAIRD, R.; CARLING, D. Survival of parasitic and saprophytic fungi on intact senescent cotton roots. Journal of Cotton Science, Cordova, v. 2, p. 27-34, 1998. CARDOSO, J. E. et al. Detecção e controle de Lasiodiplodia theobromae em sementes de graviola (Annona muricata L.). Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2006. 22p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 27). CARDOSO, J. E. et al. Transmissão de Lasiodiplodia theobromae, agente da resinose, em propágulos de cajueiro. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2009a. 21p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 34). CARDOSO, J. E.; FREIRE, F. C. O.; SÁ, F. T. Disseminação e controle da resinose em troncos de cajueiro decepados para substituição de copa. Fitopatologia Brasileira, v.23, n.1, p.48-50. 1998. CARDOSO, J. E. et al. Ocorrência endofítica de Lasiodiplodia theobromae em tecidos de cajueiro e sua transmissão por propágulos. Summa Phytopathologica, v.35, n.4, p.262-6, 2009b. CILLIERS, A. A review of Lasiodiplodia theobromae with particular reference to its occurrence on coniferous seeds. South African Forest Journal, Pretoria, v.166, p.47-52, 1993. CYSNE, A. Q. et al. Avaliação de meios de cultura para crescimento e esporulação de Lasiodiplodia theobromae. In: ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA AGROINDÚSTRIA TROPICAL. 4., 2006, Fortaleza. Resumos... Fortaleza: Embrapa Agricultura Tropical, 2006. p. 104. FREIRE, F. das C. O. et al. Novos hospedeiros do fungo Lasiodiplodia theobromae no Estado do Ceará. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2004. 6p. (Comunicado Técnico, 91). GHINI, R.; HAMADA, E.; BETTIOL, W. (Ed.). Impactos das mudanças climáticas sobre doenças de importantes culturas no Brasil. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2011. 356p. GHINI, R.; HAMADA, E. Mudanças climáticas: impactos sobre doenças de plantas no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2008. 331p. GHINI, R. Impactos das mudanças climáticas globais sobre doenças de plantas. Biológico, São Paulo, v.69, suplemento 1, p.21, 2007. MOHALI, S.; BURGESS, T. I.; WINGFIELD, M. J. Diversity and host association of the tropical tree endophyte Lasiodiplodia theobromae revealed using simple sequence repeat markers. Forest Pathology, Blackwell Verlag, v.35, p.385-396, 2005. MULLEN, J. M. et al. Canker of dogwood caused by Lasiodiplodia theobromae, a disease influenced stress or cultivar selection. Plant Disease, St. Paul, v.75, p. 886-889, 1991. OLIVEIRA, M. Z. A. de. et al. Ocorrência e sintomas de Lasiodiplodia theobromae na Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA, 45., 2012, Manaus – AM. Tropical Plant Pathology. Brasília: Sociedade Brasileira de Fitopatologia, 2012a. v.37.1 CD-ROM. OLIVEIRA, M. Z. A. de; PRATES JÚNIOR, P.; BARBOSA, C. J. Fungos associados à palma forrageira (Opuntia ficus-indica) na Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA, 45., 2012, Manaus – AM. Tropical Plant Pathology. Brasília: Sociedade Brasileira de Fitopatologia, 2012b. v.37.1 CD-ROM. OLIVEIRA, S. M. A. de; TANAKA, S. C. C. de H.; DANTAS, S. A. F. Diagnose e manejo de doenças das fruteiras tropicais no Nordeste brasileiro. In: MICHEREFF, S. J.; BARROS, R. (Ed.). Proteção de Plantas na Agricultura Sustentável. Recife: UFRPE, 2001. cap.8, p.183-223. PUNITHALINGAM, E. Plant diseases attributed to Botryodiplodia theobromae. Vaduz: Pat. J. Cramer, 1980. 123p. RUBINI, M. R. et al. Diversity of endophytic fungal community of cacao (Theobroma cacao L.) and biological control of Crinipellis perniciosa, causal agent of Witches’ Broom Disease. International Journal of Biological Sciences, New South Wales, v.1, p.24-33, 2005. SCHERM, H. et al. Global networking for assessment of impacts of global change on plant pests. Environmental Pollution, v.108, p.333-341, 2000. SUTTON, B. C. Coelomycetes: fungi imperfecti with pycnidia, acervuli and stromata. Kew: Surrey, England, C.M.I., 1980. p. 696. TAVARES, S. C. C. de H. Epidemiologia e manejo integrado de Botryodiplodia theobromae – situação atual no Brasil e no mundo. Fitopatologia Brasileira, v.27, p.46-52. 2002. TAVARES, S. C. C. de H. Principais doenças da mangueira e alternativas de controle. In: EMBRAPA. CPATSA. Informações técnicas sobre a cultura da manga no Semiárido brasileiro. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1995.

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Foto: Heckel Júnior

Serviço de vigilância ativa da defesa agropecuária detectou nova ocorrência fitossanitária na citricultura baiana Suely Xavier de Brito Silva1 Crispiniano Carlos da Silva Nunes2 Orliz Santos Santana3 Rubens Ferreira Guimarães4 Hermes Peixoto Santos Filho e Carlos Ivan Aguilar Vildoso5

toneladas produzidas em área correspondente a 3,4 milhões de hectares, gerando divisas da ordem de US$ 3,2 bilhões, relativas à exportação de 3,2 milhões de toneladas de diversificados produtos (ABECITRUS, 2010).

A

Considerando o volume de produção e divisas geradas, a citricultura brasileira destaca-se como relevante atividade socioeconômica. Segundo ABECITRUS (2010), a cadeia produtiva dos cítricos atende a cerca de 50% da demanda agroindustrial e responde a 75% das transações internacionais, promovendo um faturamento anual da ordem de US$1 bilhão com a exportação de suco concentrado congelado. Por sua vez, a Bahia participa com uma produção de 846.711 toneladas, o que lhe confere a segunda colocação no ranking nacional dos estados produtores de citros.

fruticultura confere ao Brasil o terceiro lugar no ranking mundial da produção de frutas frescas do mundo (FAO, 2008), ultrapassando 41 milhões de 1–Engenheira Agrônoma, Fiscal Estadual Agropecuário (ADAB), Doutora em Ciências Agrárias (UFRB); e-mail: suely.xavier@adab.ba.gov.br 2–Engenheiro Agrônomo, Fiscal Estadual Agropecuário (ADAB), Mestre em Recursos Genéticos Vegetais (UFRB); e-mail: crispiniano.nunes@adab.ba.gov.br 3–Engenheiro Agrônomo, Fiscal Estadual Agropecuário (ADAB), Especialista em Epidemiologia com ênfase em Defesa Sanitária Vegetal/SMVBA. UNIME; e-mail: orliz.santana@adab.ba.gov.br 4–Engenheiro Agrônomo (ADAB), Especialista em Epidemiologia com ênfase em Defesa Sanitária Vegetal/SMVBA. UNIME; e-mail: rubens.ferreira@adab.ba.gov.br 5–Engenheiros Agrônomos, Pesquisadores (EMBRAPA/CNPMF); e-mail: hermes@cnpmf.embrapa.br; vildoso@hotmail.com

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Além da exportação de suco concentrado, outro viés importante de escoamento da produção de cítricos é o mercado interno que absorve praticamente toda a laranja comercializada na forma in natura (EMBRAPA.CNPMF, 2005), modalidade na qual a Bahia se insere como responsável pelo abastecimento do mercado de frutas frescas do Nordeste, mantendo relações comerciais com Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí e, eventualmente, com as regiões Sul e Sudeste do país. A citricultura baiana ocupa, aproximadamente, 67 mil hectares (IBGE, 2012b) da faixa litorânea do Estado, implantada principalmente no Litoral Norte/Agreste Baiano e Recôncavo, territórios responsáveis por mais de 80% de sua produção (PASSOS; SANTANA, 2004). Nesses territórios há predominância de minifúndios, menores


do que 10 ha e é uma atividade que exerce forte papel social ao gerar renda para 260 mil pessoas, via empregos diretos e indiretos (EMBRAPA.CNPMF, 2005). Frequentemente este patrimônio agrícola sofre com ameaças fitossanitárias, haja vista o risco de introdução e estabelecimento de novas pragas, até então ausentes ao parque citrícola baiano, o que resultaria em queda de produção e dispêndio econômico para o manejo das mesmas. E com o intuito de preservar a saúde dos vegetais, insere-se a Agência de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (ADAB).

Foto: Autores

A ADAB é a instituição governamental responsável por disciplinar o trânsito intra e interestadual

de vegetais, legislar sobre as medidas preventivas e de controle de pragas, monitorar a invasão de pragas, realizar levantamentos de pragas presentes no território baiano, emitir documentos de trânsito fitossanitário, promover campanhas de promoção da saúde dos vegetais, fiscalizar o uso e comércio de agrotóxicos, capacitar responsáveis técnicos pela emissão de certificados fitossanitários, habilitar colheitas para a exportação e realizar pesquisas de interesse para a defesa agropecuária. A mais recente ocorrência fitossanitária da citricultura baiana diz respeito à detecção de um fungo, o Guignardia citricarpa Kiely, o agente causal da Mancha Preta dos Citros (MPC), popularmente

conhecida como pinta preta dos citros, e considerada a mais importante doença fúngica dos citros, face aos danos econômicos relacionados com a depreciação cosmética sofrida pelos frutos e pelas restrições internacionais ao trânsito destes quando destinados ao comércio in natura, eis o caso dos Estados Unidos e Comunidade Europeia que relaciona a MPC como praga quarentenária (AGUILAR-VILDOSO et al., 2002). A MPC ataca folhas, ramos verdes e, principalmente, frutos. No gênero Citrus, os limoeiros verdadeiros, laranjeiras doces e tangerineiras são bastante afetadas (Figura 1). Porém, a limeira ácida Tahiti é a única variedade cítrica sem registro de ocorrência da praga.

B

A

Figura 1 – Sintomas de mancha preta dos citros em frutos de tangerina “Mexerica Rio” (A) e laranja pera (B), em pomares de Santo Antônio de Jesus/BA, junho de 2012. 31


Dentre os danos econômicos, podemos relacionar prejuízos diretos como perda do valor comercial dos frutos afetados, queda prematura; e os indiretos, associados às restrições de trânsito impostas pelos mer-

cados consumidores aos frutos e material propagativo (borbulhas e mudas) procedentes de áreas contaminadas e ao aumento do custo de produção, haja vista a necessidade de adoção de medidas de manejo, tais como aplicação de fungicidas, controle do mato, antecipação da colheita. Mas, em que momento é que a mancha preta dos citros invadiu a paisagem citrícola da Bahia? A princípio podemos afirmar que o primeiro relato oficial dessa praga nos pomares baianos data de maio de 2012, quando o serviço de vigilância ativa e de fiscalização do trânsito de vegetais, atividades realizadas pela ADAB, interceptou frutos sintomáticos sendo comercializados em supermercados e no centro de abastecimento de frutas de Feira de Santana, e adotando-se o princípio da rastreabilidade, os fiscais chegaram aos pomares do Recôncavo Baiano.

Bem, estávamos diante de uma nova ocorrência fitossanitária, Mancha Preta dos Citros (MPC), a qual quebrou o status da Bahia como área livre dessa praga. Mas, uma nova indagação veio à tona: qual seria a dimensão geofitossanitária da MPC na Bahia? Assim, o presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados do levantamento fitossanitário realizado pela ADAB para delimitação geofitossanitária da mancha preta dos citros em pomares do Recôncavo, no período de junho e julho de 2012. No período de 25 de junho a 26 de julho de 2012, foram inspecionados e georreferenciados pomares cítricos e viveiros, de 20 municípios do Recôncavo Baiano (RB), a partir do foco índice, na localidade de Tabocal (Santo Antônio de Jesus), aquele em se obteve o primeiro relato de ocorrência da praga. Daí então se verificou toda a vizinhan-

Foto: Silvio Ávila\Editora Gazeta

Seis tipos de sintomas podem ocorrer nos frutos cítricos: mancha de falsa melanose, mancha dura, mancha sardenta, mancha virulenta, mancha trincada e mancha rendilhada. Entretanto, a mais típica e mais fácil para identificar a praga é a mancha dura, ocorre nos frutos em processo de maturação (AGUILAR-VILDOSO et al., 2002). Caracteriza-se por ser uma lesão circular, medindo de 2 a 6 mm (Ø), com centro claro e deprimido, circundada por borda escura. No centro da lesão é possível a visualização de pontuações pretas, as quais correspondem aos pcinídios (estruturas do fungo).

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ça no entorno do foco e seguiu afastando-se dele, nas quatro direções: Leste/Oeste e Norte/Sul. As inspeções fitossanitárias avaliaram a presença/ausência de MPC nas unidades de produção (UP) de Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo, São Miguel das Matas, Valença, Muniz Ferreira, Mutuípe, Amargosa, Dom Macedo Costa, Elísio Medrado, Castro Alves, Sapeaçu, Conceição do Almeida, São Felipe, Cruz das Almas, Muritiba, Ca-

baceiras do Paraguaçu, Governador Mangabeira e Maragogipe. Em cada unidade de produção foi aplicado o Inquérito Fitossanitário, uma entrevista estruturada em que é possível a obtenção de informações que identificam a propriedade, idade e variedades que compõe o pomar, tratos culturais implementados, nível tecnológico da atividade, métodos de controle das pragas e comercialização da produção. Ademais, utilizou-se de um Termo de Notificação, instrumento legal

utilizado para registrar os compromissos que o produtor rural deveria adotar para com seu pomar, ou viveiro, no sentido realizar as medidas de manejo da praga. Para confirmação laboratorial da MPC foram coletados frutos de cinco localidades dos municípios de Santo Antônio de Jesus e Varzedo, os quais compuseram amostras, devidamente identificadas e acondicionadas em sacos plásticos, e encaminhadas à Clínica Fitopatológica da EMBRAPA/CNPMF. No sentido de mobilizar maior número de colaboradores envolvidos com as inspeções fitossanitárias, estabeleceu-se estreita parceria com os técnicos das Secretarias Municipais de Agricultura de Santo Antônio de Jesus, de Castro Alves e Cruz das Almas e com os respectivos escritórios locais da EBDA.

Foto:Autores

Para a finalização dos trabalhos, realizou-se um Seminário Técnico na sede da Associação dos Pequenos Agricultores Rurais de Amargosa – APARA (Figura 2), oportunidade em que foram apresentados ao setor produtivo os resultados do levantamento geofitossanitário e a proposta de manejo da praga, por técnicos da ADAB e da EMBRAPA, respectivamente.

Figura 2 – Seminário Técnico realizado na sede da APARA, em Santo Antônio de Jesus/BA, 31 de julho de 2012: Palestra de Dr. Carlos Ivan Aguilar-Vildoso (EMBRAPA/CNPMF) (A); Equipe da ADAB que realizou o levantamento geofitossanitário da MPC no Recôncavo Baiano (B). 33

O levantamento fitossanitário percorreu 490 pomares (Tabela 1) e 34 viveiros de produção de mudas cítricas compreendidos nos 20 municípios do RB, oportunidade em que se constatou a presença


da MPC em apenas cinco municípios (Tabela 2): Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo e São Miguel das Matas. Tabela 1 – Levantamento Fitossanitário da Mancha Preta dos Citros em 20 municípios do Recôncavo Baiano: nota 1 atribuída à presença da praga (coluna da direita), nota zero indica ausência da praga, julho de 2012. Tabela 2 – Número de pomares inspecionados em cada um dos 20 municípios do Recôncavo Baiano, para fins de detecção da Mancha Preta dos Citros, no período de junho a julho de 2012. Os produtores rurais, além de citros, também tinham plantados em seus pomares cultivos de subsistência como amendoim, milho, feijão e mandioca e quando indagados sobre a MCP, todos desconheciam tratar-se de uma nova ocorrência fitossanitária. Quando indagados sobre a data em que eles começaram a perceber os primeiros sintomas, afirmaram que tinha aproximadamente três anos. Essa informação coincide com a severidade (área com lesões) observada em alguns frutos de tangerineiras, pois, a área foco coincidia com pomares compostos da variedade “Mexerica Rio”, e esta é uma das mais susceptíveis ao ataque do fungo (Guignardia citricarpa Kiely). Mediante as informações dos inquéritos fitossanitários, observou-se que na área foco os pomares tinham mais de vinte anos de idade, raramente recebiam algum tipo

LEVANTAMENTO FITOSSANITÁRIO DA MANCHA PRETA DOS CITROS EM 20 MUNICÍPIOS DO RECÔNCAVO BAIANO

TABELA 1

Município Santo Antonio de Jesus Jaguaribe Laje Varzedo São M. das Matas Valença Muniz Ferreira Mutuípe Amargosa Dom M. Costa Elísio Medrado Castro Alves Sapeaçu Conceição do Almeida São Felipe Cruz das Almas Muritiba Cabaceiras do Paraguaçu Governador Mangabeira Maragogipe

Ocorrência de MPC 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Fonte: Autores

NÚMERO DE POMARES INSPECIONADOS EM CADA UM DOS 20 MUNICÍPIOS DO RECÔNCAVO BAIANO

TABELA 2

Município Santo Antonio de Jesus Jaguaribe Laje Varzedo São M. das Matas Valença Muniz Ferreira Mutuípe Amargosa Dom M. Costa Elísio Medrado Castro Alves Sapeaçu Conceição do Almeida São Felipe Cruz das Almas Muritiba Cabaceiras do Paraguaçu Governador Mangabeira Maragogipe

Número de ocorrência de MPC 16 15 16 2 2 3 5 7 3 4 2 22 67 106 30 55 47 24 55 9 Fonte: Autores

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Como precisávamos compreender o processo de estabelecimento da praga na região, indagamos os produtores acerca dos danos econômicos. Eles afirmaram que apesar da praga estar presente há três anos na região, somente em 2012 é que eles perceberam os prejuízos decorrentes da MPC: queda de frutos e depreciação cosmética

dos frutos, o que se refletiu na baixa remuneração oferecida pelos comerciantes de frutas in natura. O relato dos produtores tem amparo científico, pois, se considerarmos que a região atravessou longo período de estiagem e que os pomares encontravam-se com déficit nutricional, a safra que foi colhida em 2012 foi resultante de um cenário de favorabilidade ao aparecimento de sintomas mais severos em frutos (FUNDECITRUS, 2003). Então, se na presença de hospedeiros suscetíveis, a exemplo de

tangerineiras e laranjeiras cultivadas no RB, o progresso da mancha preta dos citros ficou condicionada às condições climáticas e à presença do inóculo (BALDASSARI et al., 2006), ou seja, necessitou de dois a três anos para expressar sintomas capazes de promover danos econômicos. Compreendido o aspecto cronológico de estabelecimento da praga, outros questionamentos persistiam: como teria a MPC invadido o território baiano? Qual seria o futuro da citricultura dessa região, cuja citricultura é tipicamente familiar?

Foto: Silvio Ávila\Editora Gazeta

de adubação; calagem e irrigação não eram práticas adotadas. Quando questionados sobre assistência técnica rural, 90% dos agricultores familiares informaram não contar com esse tipo de serviço.

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Considerando que o RB é uma região que além de frutos, também produz mudas cítricas, e que o fungo pode infectar o material propagativo sem expressar sin-

tomas, e que borbulhas e mudas são extremamente importantes no processo de disseminação da praga, cabe ao Estado disciplinar o trânsito fitossanitário, evitando que mudas saiam dessa região e leve a MPC para regiões indenes. Entretanto, será que medidas legislativas e de intensificação da fiscalização do trânsito fitossanitário seriam suficientes para conter o avanço da praga no Estado da Bahia? Certamente que não! A defesa agropecuária precisa ser compreendida como política pública, multidisciplinar, interinstitucional, de consequências sociais, econômicas e ambientais, e que envolve responsabilidades compartilhadas entre os diversos segmentos das cadeias produtivas.

Por isso, faz-se necessário uma ampla campanha de educação sanitária capaz de orientar os citricultores de todo o Estado acerca do patossistema Mancha Preta dos Citros, compartilhando conhecimentos que iriam desde o reconhecimento dos sintomas, passando pelo risco de disseminação, até o manejo da praga. O marco inicial do processo de orientação ao setor produtivo foi estabelecido com a realização do seminário temático, o qual contou com a participação de 47 pessoas.

CONCLUSÕES a) O serviço de vigilância ativa da ADAB foi eficiente e imprescindível para a detecção de

Foto: Silvio Ávila\Editora Gazeta

Existem duas hipóteses para responder ao primeiro questionamento: uma delas está relacionada com a possibilidade do fungo ter ingressado e se estabelecido no RB a partir do trânsito clandestino de material propagativo; a outra pode estar associada ao comércio de frutos de tangerina contendo talo e folhas, procedentes de regiões com ocorrência da praga. Ambas amparam-se nos aspectos epidemiológicos, haja vista a disseminação da praga a longas distâncias e seu estabelecimento relacionar-se com o trânsito material vegetativo infectado.

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uma ocorrência fitossanitária da citricultura: a Mancha Preta dos Citros (MPC); b) A detecção de MPC feita pela ADAB alterou o status fitossanitário da praga no Estado da Bahia: praga presente;

c) A MPC está restrita a cinco municípios do Recôncavo Baiano: Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo e São Miguel das Matas;

e) Os citricultores do Recôncavo Baiano desconheciam os sintomas de MPC e que se tratava de uma praga relevante para a citricultura baiana.

d) A severidade de MPC nos frutos denota que a praga está presente, pelo menos, há três anos na região;

AGRADECIMENTOS Às Secretarias Municipais de Agricultura de Santo Antônio de Jesus, Castro Alves e Cruz das Almas pelo apoio de técnicos e pela mobilização dos citricultores para participar do seminário; aos colegas da EBDA por indicar as principais localidades citrícolas de cada município que seriam inspecionadas; aos bolsistas da EBDA e EMBRAPA que integraram a equipe de levantamento de campo; aos pesquisadores da EMBRAPA/CNPMF que emitiram o diagnóstico laboratorial; às Gerências da ADAB (Cruz das Almas e S. Antônio de Jesus), e à COREG de Feira de Santana, pelo apoio incondicional à realização do levantamento fitossanitário; à equipe técnica da ADAB que acreditou na realização do levantamento em tempo recorde: um mês.

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SOCIOECONOMIA

A seca na

Foto: Acervo SEAGRI

Bahia Luiz Miranda1

1 – Engenheiro Agrônomo, Diretor de Pecuária da Superintendência de Desenvolvimento Agropecuário – SDA/ SEAGRI, Salvador – BA; e-mail: lmluizmiranda@gmail.com

ais uma vez a Bahia enfrenta uma seca. Compreender o fenômeno das secas é necessário para o uso sustentável dos limitados recursos hídricos da região semiárida do Estado. Nesse contexto, estudos para a melhoria da previsão de secas, com base nos dados meteorológicos disponíveis e, em tempo hábil, de forma que medidas possam ser tomadas, no sentido de minorar seus efeitos, torna-se crucial.

M

pre foi abordado sob viés técnico. Em alguns casos, são estudados os aspectos relativos aos seus impactos econômicos e sociais. Neste estudo, contudo, analisamos do ponto de vista conceitual, bem como sua variabilidade espacial e temporal. Além desses aspectos, buscamos descobrir, com os erros e acertos do passado, um caminho seguro para nortear as ações que permitam produzir com segurança no Semiárido nordestino.

Na Região Nordeste do Brasil, o fenômeno das secas nem sem-

Grande parte de nosso planeta pertence à denominada área de

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Foto: Heckel Júnior

risco à seca. São regiões onde a precipitação aproxima-se do limite permitido à prática agrícola. Exemplos são o Sahel na África, o Nordeste do Brasil, grande área da China, o platô Dekkan, na Índia, e parte da África do Sul. Tratam-se, portanto, de áreas de enorme vulnerabilidade para a agricultura (BARROSO, 2012). Consideráveis áreas das Américas do Norte e do Sul, Austrália, Europa e Ásia foram atingidas por secas severas, acarretando prejuízos econômicos, sociais e ecológicos. A gravidade das secas está ligada com a duração, que pode atingir um ou até cinco anos consecutivos.

CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO NORDESTE Além dos estados que compõem a Região Nordeste, essa região ainda é subdividida em quatro sub-regiões de acordo com características climáticas e de urbanização (IBGE, 2012):

Zona da Mata É a sub-região mais populosa e urbanizada. Compreende a faixa litorânea (aproximadamente 200 km de largura) que vai do Estado do Rio Grande do Norte à Bahia (litoral leste da região Nordeste) e é caracterizada pelo clima tropical úmido, presença de mata atlântica, pluviosidade bastante regular, principalmente na região sul da Bahia, e solo bastante fértil.

Agreste É a sub-região de transição entre a Zona da Mata, bastante úmida, e o Semiárido, região bastante seca, acompanhando a faixa da Zona da Mata do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia. No Agreste, predominam os minifúndios dedicados à produção de subsistência e a pecuária leiteira, sendo o excedente comercializado na região da Zona da Mata.

Sertão

vai desde o litoral do Ceará e Rio Grande do Norte (neste último, até próximo a cidade de Natal), até a região sudoeste da Bahia. As chuvas são escassas e, por isso, a pecuária e agricultura são atividades bastante difíceis na região. O único rio perene do sertão é o São Francisco do qual é desviada água para irrigação em alguns locais e que também é fonte de energia através de hidrelétricas como a de Sobradinho (BA). A vegetação típica dessa sub-região é a caatinga.

Meio-Norte

Sub-região de clima semiárido que compreende o centro da região Nordeste, em uma extensão que 39

Esta sub-região já apresenta uma pluviosidade maior conforme se


afasta para oeste, em direção aos Estados do Norte e compreende o Estado do Maranhão e grande parte do Piauí. Nesta região é comum a presença das “matas de cocais”. As principais atividades praticadas são a criação de gado, o cultivo de algodão e arroz. Em 10 de março de 2005, o Ministério da Integração Nacional publicou Portaria que instituiu a nova delimitação do Semiárido brasileiro, resultante do trabalho que atualizou os critérios de seleção e os municípios que passam a fazer parte dessa região. A nova delimitação tomou por base três critérios técnicos, a saber: 1) precipitaMapa 1

ção pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros; 2) índice de aridez de até 0,5, calculado pelo balanço hídrico que relaciona as precipitações e a evaporação potencial entre 1961 e 1990; 3) risco de seca maior que 60%, tomando por base o período entre 1970 e 1990. Baseado nesses novos critérios, a área classificada como Semiárido brasileiro aumentou de 892.309,4 km2 para 969.589,4 km2 (BRASIL, 2005). Esta área integra parte de oito estados nordestinos (Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) e parte do norte de Minas Gerais (Mapa 1).

NOVA DELIMITAÇÃO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Nova delimitação do Semiárido Estados da Região Nordeste

Minas Gerais

Fonte: Ministério da Integração

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Todos esses Estados compreendem uma área de 1.108.434,82 km², o que equivale a 10,5% do território nacional e 53,9% do território nordestino englobando 1.348 municípios, distribuídos pelos Estados do Piauí (214), Ceará (180), Rio Grande do Norte (161), Paraíba (223), Pernambuco (145), Alagoas (51), Sergipe (32), Bahia (256) e Minas Gerais (86), cujas populações totalizam 20.858.264 pessoas, sendo 40% residindo na área rural. A Insolação média é de 2.800 h/ano, com evaporação média de 2.000 mm/ano e umidade relativa do ar média em torno de 50% (BRASIL, 2005).

O FENÔMENO DA SECA O conceito de seca varia segundo o ponto de vista. Para um Hidrogeólogo pode ser entendida como a insuficiência de recursos hídricos. Esta seca pode ser causada por uma sequência de anos e tem como consequência o colapso nos sistemas de abastecimento de água. Para o Engenheiro Agrônomo assim como para o agricultor e o pecuarista, a seca altera a produção agrícola de sequeiro e a pecuária provocando grandes transtornos sociais a exemplo da fome, migração e desagregação familiar. Para o Meteorologista é enxergar o futuro para subsidiar tomadas de decisões fundamentais para todas as áreas que dependem das chuvas, até mesmo o turismo. Finalmente, para o nordestino


significa risco de vida (WILHITE; GLANTZ, 1987 apud VALADÃO et al., 2010).

CLASSIFICAÇÃO DAS SECAS As secas podem ser classificadas em (BRASIL, 2005a): Hidrológicas – Caraterizam-se por uma pequena, mas bem distribuída, precipitação. As chuvas são suficientes apenas para dar suporte à agricultura de subsistência e às pastagens; Agrícolas – Também conhecida como seca verde, acontecem quando há chuvas abundantes, contudo mal distribuídas em termos de tempo e espaço;

se estabeleceram provavelmente há 20.000 anos, no fim da última grande era glacial. O primeiro e mais importante é composto pelas áreas de baixa e alta pressão atmosférica no Pacífico equatorial (MARENGO, 2006). Na década de 1920, o inglês Gilbert Walker descobriu que o padrão meteorológico do Oceano Pacífico equatorial contém uma área de baixa pressão atmosférica sobre a Indonésia e o norte da Austrália e uma área de alta pressão no oceano, próximo à costa da América do Sul, resultado da lei física de que o ar quente tende a subir e o ar frio tende a descer (MARENGO, 2006). De maio a setembro, as águas quentes do Oceano Índico e do

Mar da China provocam a ascensão de um vento quente e úmido, criando o que os meteorologistas chamam de área de baixa pressão. A ascensão desse vento úmido, também chamada de convecção, leva à formação de nuvens e chuvas, no fenômeno conhecido no Sudeste asiático como monções. Livre da água, o vento viaja sobre o Pacífico a uma altura de 15 quilômetros em direção ao leste. Nesse trajeto, o vento se resfria e tende a descer sobre o oceano, próximo à costa oeste da América do Sul, criando uma área de alta pressão atmosférica (MARENGO, 2006). Em ciclos de três e sete anos, nos meses de setembro, outubro e novembro, por motivos que ainda não se consegue determinar com cer-

Efetivas – Ocorrem quando há baixa precipitação e má distribuição de chuvas, tornando difícil a alimentação das populações e dos rebanhos e impossibilitando a manutenção dos reservatórios de água para consumo humano e animal.

CAUSAS DA SECA

Foto: Heckel Júnior

O fenômeno das secas do Nordeste tem origem em lugares tão distantes quanto o Sudeste asiático e o círculo polar ártico. É provocado por dois mecanismos de circulação de ventos no planeta. São fenômenos que 41


Ainda assim, as chuvas da terceira semana de março, no Nordeste, dependem muito mais de fatores físicos, que da esperança em São José, cuja data comemorada pelos devotos é dia 19 de março. Elas são consequência de outro fenômeno meteorológico conhecido desde o século XVIII e chamado pelos climatologistas de Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), um anel de ar úmido

que envolve a Terra próximo à linha do Equador. A ZCIT oscila entre as latitudes de 10° ao Norte e 5° ao Sul, a região onde os ventos alísios dos hemisférios norte e sul se encontram. Esse fenômeno também é chamado de “célula de Hadley”, devido ao meteorologista inglês George Hadley (1685-1768) que, em 1735, descreveu seu funcionamento. Dependendo da localização, a zona de convergência intertropical pode amenizar ou agravar as secas provocadas pelo El Niño (MARENGO, 2006). As nuvens de chuva da zona de convergência intertropical são alimentadas, em boa parte, pelo sistema de baixa pressão atmosférica da região da Terra Nova, no Canadá, próximo ao círculo polar ártico. Quando a baixa pressão é mais forte na Terra Nova, o ar úmido engrossa a ZCIT que se desloca em direção às águas Foto: Heckel Júnior

teza, uma grande massa de água quente vinda da Austrália avança pelo Pacífico equatorial em direção ao leste além da Ilha de Taiti, no fenômeno conhecido como El Niño. A água quente cria nova zona de convecção, deslocando as chuvas do meio do Oceano Pacífico para a costa oeste da América do Sul, na altura do Peru, e levando a corrente de ar vinda do Sudeste asiático a cair diretamente sobre o Nordeste brasileiro, impedindo a formação de nuvens de chuva (MARENGO, 2006).

mais quentes próximas ao Equador, acompanhando com um pequeno atraso o movimento do Sol. Assim, quando o Sol atravessa a linha do Equador no equinócio de outono do hemisfério sul, entre os dias 20 e 21 de março, a zona de convergência intertropical atinge sua posição mais ao sul, provocando as chuvas do dia de São José (MARENGO, 2006). Às vezes, a chuva não chega. O movimento da zona de convergência intertropical depende da temperatura das águas no oceano, que na região equatorial varia entre 26° e 29°. E uma variação de um a meio grau entre as águas do Atlântico Norte e do Sul é a diferença entre um “inverno” chuvoso ou seco. Com as águas do Atlântico Norte mais frias, a ZCIT desloca-se para o sul, trazendo suas nuvens carregadas. Se as águas do Atlântico estiverem mais frias no sul, entretanto, as chuvas serão despejadas na Amazônia. Para o nordestino será a seca (MARENGO, 2006). O Mapa 2 representa o regime de chuvas na Bahia.

A HISTÓRIA DAS SECAS A história das secas no Nordeste relata a saga de um povo em busca de sobreviver no mais inóspito dos climas deste país. A ausência de regularidade de chuvas e de políticas públicas voltadas para resolver a situação agrava um quadro assustador: 42


Mapa 2

REGIME DE CHUVAS DA BAHIA

ITCZ

A

Frentes frias+umidade da Amazônia (nov/dez/jan/fev) Zona de convergência intertropical (dez/jan/fev/mar) Frentes frias Alta Subtropical do Atlântico (abr/mai/jun/jul) Fonte: SOMAR Meteorologia

fome, sede, migração desenfreada, epidemias e miséria (MEDEIROS FILHO; SOUZA, 1988). O registro da primeira seca é anterior à colonização portuguesa, e é relatada por Fernão Cardin: “houve uma grande seca e esterilidade na província (Pernambuco) e desceram do sertão, ocorrendo-se aos brancos cerca de quatro ou cinco mil índios” (MEDEIROS FILHO; SOUZA, 1988).

A SECA DE 1700 Até a primeira metade do século XVII as áreas secas do interior do Nordeste de Pernambuco ao

Ceará eram ocupadas exclusivamente pelos índios. A seca foi o motivo pela ocupação tardia do interior do Nordeste. A colonização do interior foi intensificada após uma Carta Régia que proibia a criação de gado em uma faixa de dez léguas desde o litoral em direção ao interior. Esta ação provocou a ocupação do que hoje é Bahia, Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e também Norte de Minas Gerais. Esta medida acelerou o crescimento dos rebanhos e, consequentemente, o populacional. Assim, sem uma seca mais severa, a população e os rebanhos cresceram rapidamente (CAMPOS; STUDART, 1997). 43

Apesar desse crescimento, não houve investimento em infraestruturas de água, meios de transportes e sanidade. Por trás de todo o crescimento estava o esquecimento dos efeitos da seca. As fazendas não tinham infraestrutura para a quantidade de escravos. Há quem diga que ocorreu a morte de aproximadamente oito mil escravos (CAMPOS; STUDART, 1997). A seca mais severa desse século atingiu em cheio o frágil modelo de exploração e a sociedade despreparada. Foi a seca de 1777-1779. Há quem estime que “morreram mais de 500.000 pessoas no Ceará e cercanias”. Mesmo considerando o exagero da estimativa, esse foi realmente um grande desastre. Talvez o maior desastre que já atingiu uma região brasileira. Há quem garanta que o Ceará perdeu 80% do rebanho (CAMPOS; STUDART, 1997).

A GRANDE SECA A “Grande Seca”, como ficou conhecida, teve início em 1877 e durou pouco mais de dois anos. Os efeitos foram catastróficos. Há quem estime que doenças, fome e sede dizimaram, somente, no Ceará, mais de 500 mil habitantes. Antônio Conselheiro percorreu as regiões afetadas pela seca para socorrer os flagelados. Passou a ser considerado um santo, aumentando o número de pes-soas que o acompanhavam.


surgiram os estudos para encontrar uma solução para o problema. Surgiram basicamente três linhas: armazenamento de água e irrigação, transposição do rio São Francisco e irrigação e mudanças no perfil econômico da Região.

A SECA DE 1897 Neste ano, os habitantes do Arraial de Canudos foram massacrados. Crianças, mulheres e idosos foram mortos sem piedade. Antônio Conselheiro foi assassinado em 22 de setembro de 1897. Há quem atribua a seca deste ano ao castigo dos céus pela morte do beato (SECA..., 2012).

Foto: Heckel Júnior

A SECA DE 1915

A PRIMEIRA PROVIDÊNCIA Após a catástrofe de 1877, pela primeira vez, as autoridades do Império começaram a ter uma maior preocupação com o assunto. O imperador D. Pedro II cunhou a célebre frase: “Não restará uma única jóia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome”. Criou-se então a comissão imperial para desenvolver medidas que pudessem atenuar futuras secas. Da adaptação de

camelos, construção de ferrovias e açudes e a abertura de um canal para levar água do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe, no Ceará. Contudo muito pouco foi feito (SECA..., 2012).

A SECA DE 1888 Uma década depois, outra severa e duradoura seca atingiu o Nordeste brasileiro. Foi a seca de 1888, conhecida como a seca dos três oitos. A partir de então, 44

Esta seca foi marcada pelo movimento de fuga para as regiões litorâneas, em especial as cidades, – o início do êxodo. Este período foi imortalizado por Rachel de Queiroz, em seu livro “O quinze” escrito durante a seca de 1932, quando a escritora tinha apenas 20 anos (SECA..., 2012). A seca de 1915 provocou fortes rotas migratórias. Os retirantes invadiam as cidades, provocando bolsões de miséria. O governo do Ceará criou uma espécie de campo de concentração, nas margens das grandes cidades para impedir a entrada dos retirantes. A fome, aliada a total ausência de esgotamento sanitário provocou um quadro trágico de doença e morte (SECA..., 2012).


“Eram locais para onde grande parte dos retirantes foi recolhida a fim de receber comida e assistência médica. Não podiam sair sem autorização dos inspetores do campo. Ali ficavam retidos milhares de retirantes a morrer de fome e doenças”, relata a professora Kênia Rios, doutora em História pela Pontifícia Universidade (PUC) de São Paulo (BARRETO, 2007).

A SECA DE 1931–1932 A seca de 31 trouxe o maior prejuízo para a Bahia. Foi nessa época que se tornou conhecida a expressão “indústria da seca”. Os poderes econômicos e políticos da região usavam recursos do governo em benefício próprio, com o pretexto de combater as mazelas, transformando o fenômeno climático em fenômeno político (BARRETO, 2007).

SECA DE 1951–1953 A expressão “pau-de-arara” surgiu nessa época motivada pelo transporte de nordestinos sertanejos no desconfortável caminhão, quando milhares de flagelados do Nordeste foram transportados de forma desumana para outras regiões do país, especialmente São Paulo e estados circunvizinhos. Ainda em 1951, Luiz Gonzaga e Zé Dantas eternizaram a seca em Vozes da Seca: “Mas doutô uma esmola a um homem qui é são. Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

A SECA DE 1992–1995 A seca de 1992 a 1995 trouxe o maior prejuízo para a pecuária do

A falta de água no Nordeste coincidiu com a crise de energia elétrica que colocou em risco todo o País. A estiagem tornou-se ainda mais preocupante, pois Estados vizinhos também estavam assolados pela seca. As obras de combate às secas, iniciadas e abandonadas pelo governo federal antes da conclusão, já haviam provocado, entre 1978/1993, prejuízos de CR$ 6,7 trilhões. O escândalo das obras inacabadas deu origem até mesmo a uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, no Congresso Nacional, para apurar responsabilidades (SECA..., 2012).

Foto: Heckel Júnior

A agropecuária crescia e a Bahia se estabelecia como maior polo do Nordeste. A dicotomia entre a agricultura e a pecuária promovia a sustentação do binômio. Assim, a cultura do cacau garantia o sucesso da pecuária do Sul da Bahia. O café e o algodão eram a mola propulsora do Sudoeste. A cana e a mandioca no Recôncavo e esse clima de crescimento esbarrou em mais uma seca. A ausência de estradas e sobretudo meios de transportes impediam as rotas migratórias e a morte do rebanho foi significativa (BARRETO, 2007).

Estado da Bahia, para o rebanho bovino houve a redução do efetivo de 14 para 8 milhões de cabeças (IBGE, 2012).

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A SECA DE 2012 É considerada a seca mais severa dos últimos 50 anos. Segundo dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil, 1.171 municípios estão em situação de emergência por conta da prolongada estiagem na Região Nordeste.

 Queima de petróleo no oceano atlântico para aumentar o índice pluviométrico;

 Construção de açudes nas nascentes das bacias hidrográficas.

SOLUÇÕES NÃO CONVENCIONAIS:

SOLUÇÕES CONVENCIONAIS:

 A solução proposta foi trazer camelos do deserto e adaptá-los ao Nordeste Semiárido. A idéia foi proposta pelo Governo Federal em 1859, para ser testado no Estado do Ceará e teria como finalidade suprir a necessidade de um meio de transporte, para enviar alimentos e água, além de transportar as pessoas do interior para as cidades do litoral, para atendimento médico;

 Construção de açudes e adutoras;  Transposição de bacias;  Construção de poços tubulares.

 Promover fratura de rochas no cristalino, através de explosão, para armazenamento de águas subterrâneas;

Foto: Heckel Júnior

Muitos municípios nordestinos estão enfrentando colapso no abastecimento de água, e cresce o número de comunidades nas zonas rurais que recebem carros-pipa. Por conta da falta de alimentos e água, muitos animais estão morrendo nos pastos, assim como produções inteiras foram perdidas nos últimos meses. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), a queda da produção chega a 100% em algumas lavouras e a 60% nos rebanhos.

ESTRATÉGIAS HISTÓRICAS DE COMBATE ÀS SECAS

AÇUDAGEM: A implantação de açudes teve início no período do Império no ano de 1877, ano em que a região foi assolada por uma grande seca. Daquela data até a metade do atual século, a política de combate às secas contemplava, principalmente, a formação de uma infraestrutura hidráulica e a implantação de postos agrícolas como indutores da irrigação na Região. O período em que predominou essa política foi posteriormente denominado de período da solução hidráulica (SECA..., 2012). Na segunda metade de século teve início a política do aproveitamento intensivo do potencial hidráulico por meio dos grandes projetos de irrigação. Tratava-se de uma Política delineada pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE (SECA..., 2012). O regime de construção de açudes em cooperação, desativado em 1967, pretendia melhor distribuir, sob o ponto de vista espa-

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cial, a oferta d’água e subsidiava a construção de açudes particulares de capacidade máxima de três milhões de metros cúbicos. Não havia desapropriação de terras. O projeto e o orçamento eram fornecidos gratuitamente pela Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS)/Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e um prêmio, equivalente à metade do orçamento, era concedido no fim da construção ou, a título de adiantamento, quando metade da obra estivesse pronta. Os proprietários, em contrapartida, comprometiam-se a fornecer água para as necessidades domésticas das populações circunvizinhas. Nem sempre a construção atendia a interesse da população. O século XX foi o século da açudagem no Semiárido, por todo um período de 100 anos. Quando da “grande seca” de 1877/79, o Semiárido não possuía mais que seis açudes. O Governo Imperial autorizou o início do grande açude do Cedro, em Quixadá, Ceará, que só foi concluído no ano de 1906, já no Governo Republicano. Cem anos de construído, este açude, armazenando 126 milhões de m³, continua prestando seus serviços a milhares de nordestinos (SECA..., 2012). Foi o início do programa de construção da grande rede de açudes espalhados pelo Semiárido. Chegando ao final do século XX com a construção, de cerca, de 70.000 açudes, públicos e particulares. Mais de 10% são açudes construídos para suportar os grandes períodos de estiagem, projeta-

dos, alguns, com capacidade para geração de energia hidrelétrica e muitos outros com projetos de irrigação. São açudes que não secam, apesar da fortíssima e drástica evaporação promovida pela radiação solar nesta região. Reduzem em até 60% do seu volume, mas renovam, quase sempre nos anos subsequentes. No Vale do Jaguaribe, Ceará, o açude Orós, construído, em 1960, acumula 2,5 bilhões de m³ de água. O Açude Armando Ribeiro Gonçalves, construído no Rio Grande do Norte, em 1983, com um volume de 2,4 bilhões de m³ de água. O Banabuíu e o Araras, ambos no Ceará, que juntos somam 2,7 bilhões. O Castanhão, no Vale do Jaguaribe CE, concluído no ano de 2003, é o maior do mundo, construído pelo homem. Com capacidade de 6,7 bilhões de m³. Os pequenos e médios açudes, com volumes compreendidos entre 10.000 e 200.000 m³, representam 80% das coleções de água nos Estados do Nordeste e são objetos de preocupação. Esses açudes, por apresentarem formas geométricas variadas devido à falta de planejamento inicial no momento da sua construção, em que o principal fator levado em consideração sempre foi a vontade de se fechar uma pequena bacia, trazem inevitáveis problemas de dimensionamento, não sendo raro açudes que nunca vieram a sangrar. Esse aspecto, ao contrário do que muitos imaginam, traz problemas muito sérios de salinização, pois as águas ficam su47

jeitas à concentração salina devido ao fenômeno da evaporação intensa. Com esse fenômeno, a água se evapora, mas o sal permanece no açude e a sua concentração é progressiva. Assim o fato de não sangrar constitui-se em um grande mal para os açudes (GASPAR, 2012).

INDÚSTRIA DA SECA A região Nordeste sofre com dois fenômenos: um político chamado “indústria da seca” e outro natural chamado “seca” propriamente dita. A tragédia que atinge grande parte da região Nordeste brasileira e parte da região norte de Minas Gerais costuma ser utilizada (e supervalorizada) para justificar a fome e o subdesenvolvimento econômico e social da região em nome de erros cometidos no passado e que faz fracassar qualquer tentativa de reverter este quadro (GASPAR, 2012). Em 1909, foi criado o primeiro órgão de combate à seca, com o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS). Em 1919 passou a ser Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFCOS). Em 1945, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) (GASPAR, 2012). A ideia central era definir metas e solucionar o problema com obras para armazenar e transportar a água para a população e assim atender a agricultura, a pecuária e a utilização humana. Pode se notar, pelo aumento da área atingida pela seca,


que as ações foram insuficientes. A seca do Nordeste está ligada à falta de políticas que realmente funcionem em benefício da população. Durante as longas estiagens, o governo federal socorre os Estados atingidos, com ações emergenciais, como: envio de recursos para ser aplicado nessas áreas; cestas básicas para a população; perdão total ou parcial das dívidas de empréstimos tomados por agropecuaristas. A “indústria da seca” se utiliza da situação de emergência para conseguir mais verbas, incentivos fiscais, concessões de crédito e perdão de dívidas valendo-se da fome e da miséria pela qual passa o nordestino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Seca de 2012, um drama que atinge milhões de baianos e produz efeitos devastadores na economia da atividade de maior geração de emprego no país: a agropecuária. O Nordeste brasileiro vive mais uma daquelas secas históricas e a Bahia é um dos Estados mais

atingidos. Mais da metade dos municípios decretou situação de emergência. O regime pluviométrico do inverno (junho e julho) de 2011 abaixo do normal provocou uma diminuição das reservas hídricas na Bahia. Os reservatórios estavam secos, as pastagens abaixo de suas reservas e o produtor descapitalizado. A esperança eram as trovoadas (chuvas de novembro de 2011 a março 2012). Com a ausência de chuva a natureza entra em colapso, é a seca de 2012. Essa é tida por muitos como a pior seca dos últimos anos. Podemos medir os efeitos da estiagem prolongada através de índices pluviométricos, da mortalidade do rebanho, do êxodo rural e da mortalidade do homem, entre outros. Neste ano, enfrentamos índices de 50 mm, onde o normal é de 500 mm e 100 mm em regiões que chovem 1.000 mm. Com a evolução das práticas agronômicas de irrigação, produção de feno, silo, os recursos de meios de transporte e pelas medidas empreendidas pelo governo do Estado para amenizar os efeitos da seca, a mortalidade animal não causou o mesmo prejuízo que em secas anteriores. 48

“Quando a seca chega no sertão” o pecuarista procura, no município as propriedades que ainda dispõem de forragem para alugar pasto. Quando esta alternativa não dá mais certo, a saída é “recursar” o gado para municípios vizinhos. A terceira opção é mudar de bioma, a quarta é mudar de Estado, a quinta é vender. Assim surgem as rotas migratórias. Contudo, “a esperança é a última que morre”. Os melhores animais e as vacas produtoras de leite são mantidos na propriedade a fim de promover o sustento da família. Surge a inexorável “Lei de mercado” muita oferta e os preços despencam, O preço da arroba despencou de R$ 100,00 para R$ 70,00. Em alguns lugares os animais eram comercializados como peça. Uma peça variava de R$ 350,00 a R$ 500,00. Essa agonia dura de dois a três anos, a expectativa da chuva que não vem gera um clima de sofrimento e dor. Os poucos recursos são investidos até o fim. É necessário desfazer de animais para alimentar os que ficam. Diante deste quadro o baiano enfrenta outras dificuldades. O preço do milho e da soja duplicou por conta da seca nos Estados Unidos. O produtor do Sul prefere exportar a vender para o Nordeste. A Barragem do Sobradinho recebe hoje 800 m³ por segundo e libera 1.200 m³ por segundo, com esse déficit o nível chegou a 25% de sua capacidade.


Afirma-se, com frequência, que o problema do Semiárido não é a falta de água durante as secas, mas a falta de gerenciamento das águas, o que dá a falsa impressão de que a seca é uma simples questão de gestão das águas (CAMPOS, 1999). Gerir num contexto de incerteza elevada é proporcionar esperança sem base sólida, especialmente porque a gestão implica em guardar água para o futuro, com alta probabilidade de perdê-la. Não se trata apenas de armazenar água em reservatórios, é necessário distribuir essa água. O Semiárido exige um conjunto de mecanismos para melhor aproveitar as oportunidades hídricas. Inclui desde construção de açudes, integração de bacias, construção de poços e cisternas. Observa-se que cerca de 60% das águas públicas armazenadas

Tem se cobrado dos especialistas um modelo semelhante ao do Ceará, que em 1925 tinha a mesma quantidade de água armazenada que a Bahia tem em 2012. Pelo estudo das secas é nítida a confirmação que o Estado do Nordeste que mais foi assolado pela seca foi o Ceará. Pelo número de mortos da população, pelas incontáveis perdas agrícolas e pela própria produção pecuária do Estado, podemos entender o porquê dessas ações.

Bahia tem 13 Bacias Hidrográficas, sendo a maior delas a Bacia do Rio São Francisco, com uma área de 304.421,4 km². Nessa bacia, encontram-se usinas de grande importância como as de Sobradinho, Paulo Afonso e Itaparica. As bacias dos rios Itapicuru, Contas e Paraguaçu destacam-se por serem exclusivamente baianas. Na última, localiza-se a Barragem de Pedra do Cavalo, responsável pelo abastecimento de água de 60% da população de Salvador e Região Metropolitana, além de Feira de Santana e outras cidades próximas à barragem.

Ora, a Bahia vive uma realidade edafoclimática significativamente diferente do Ceará. A Bahia tem 6% do seu território com 143 municípios inseridos no bioma Mata Atlântica; 27,3% com 17 municípios no Cerrado e 68,7%, sendo 257 municípios na Caatinga. A

Mesmo com essa situação privilegiada, este ano, na Bahia, a estiagem secou barragens, açudes e rios, devastou pastos e lavouras e provocou escassez de alimento para os rebanhos, que morrem de inanição e sede. O clima na Bahia é de apreensão.

em reservatórios construídos pelo DNOCS, no Nordeste, estão localizadas no Ceará.

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1 – Informações reunidas e sistematizadas por Carlos Armando Barreto de Santana, Engenheiro Agrônomo, Assessor Especial/Gabinete SEAGRI, com a participação e colaboração técnica de Ana Paula Alcântara, Economista, Coordenadora Técnica da SPA/SEAGRI; Salvador-BA, contatos: carlosarmando@seagri.ba.gov.br; paula.alcantara@seagri.ba.gov.br

O

ano de 2012 vai ficar marcado pelos efeitos do grande período de estiagem que alcançou toda a região Nordeste do Brasil. Para a Bahia, que detém a maior área do Semiárido brasileiro, é um dos mais severos períodos de seca da sua história, com prejuízos para toda a sua socioeconomia. Dentre os setores, o mais dura e diretamente atingido é o da agropecuária, com perdas de lavouras e de rebanhos, provocando a descapitalização dos produtores.

Até o presente momento são 259 municípios em estado de emergência decretado pelo Governo Estadual e reconhecido pelo Governo Federal, o que representa 62% do total dos municípios baianos. Esta situação coloca as administrações municipais em condições especiais para receber ajuda

de recursos humanos, materiais, institucionais e financeiros. Face à gravidade da situação, o Governo do Estado instituiu através do Decreto nº 13.796, em 21/03/2012, o Comitê Estadual para Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos da Seca, com a finalidade 50

de coordenar as atividades a serem desenvolvidas no enfrentamento aos efeitos da seca e de amparo às populações atingidas. Coordenado pela Casa Civil, o comitê é composto por diversas Secretarias de Estado, dentre elas: a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura, Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Secretaria do Meio Ambiente, Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional, e a Secretaria de Relações Institucionais. O comitê tem como incumbência: indicar obras e serviços voltados à redução dos danos causados pela seca; acompanhar, fiscalizar e avaliar a prestação da assistên-

Foto: Manuela Cavadas

Ações emergenciais e estruturantes para mitigar os efeitos da seca na agropecuária baiana1


cia oferecida às populações atingidas pela seca; e articular-se com os órgãos municipais e federais envolvidos nas ações de combate aos efeitos da seca. Assim, um extenso conjunto de ações, algumas emergenciais e outras estruturantes, vem sendo desenvolvido, sobretudo em parceria com o Governo Federal, a exemplo da implantação ou melhoria da infraestrutura hídrica (perfuração de poços, construção de sistemas simplificados e integrados de abastecimento de água, limpeza de aguadas, construção de barragens, cisternas, sistemas de dessalinização para consumo humano, fornecimento de água com carros-pipa etc.); de medidas de combate à insegurança alimentar das famílias (distribuição de alimentos, Vale Cesta/EBAL e doações da iniciativa privada); e do apoio creditício e tecnológico, dentre outros, ao produtor rural. A seguir, serão destacadas algumas das ações governamentais

para a agropecuária baiana, voltadas a diminuir e/ou atenuar os prejuízos causados pela seca:

PRORROGAÇÃO DAS PARCELAS DE CRÉDITO RURAL Em articulação com o Governo Federal e seus ministérios foram negociados novos prazos prorrogando as parcelas das operações de crédito rural. As Resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), publicadas pelo Banco Central do Brasil, de números 4.082 e 4.083, de 24 de maio de 2012, e as de números 4.188 e 4.189, de 28 de fevereiro de 2013, autorizaram as instituições financeiras a prorrogar as parcelas das operações de crédito rural, de custeio e investimento, vencidas e vincendas entre 1º de janeiro de 2012 e 30 de junho de 2013, para os agricultores familiares vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF e demais pro-

dutores rurais que tiveram perdas na renda em decorrência da estiagem, nos municípios da área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) que decretaram situação de emergência, após 1° de dezembro de 2011, reconhecidos pelo Governo Federal. Os produtores rurais que tiveram redução na renda superior a 30% e que comprovem a incapacidade de pagamento, junto às instituições financeiras, poderão renegociar o pagamento do saldo devedor das operações de custeio das safras 2011/2012 e 2012/2013, para reembolso em até cinco parcelas anuais, com o vencimento da primeira parcela fixado para até um ano após a data da formalização da renegociação. Quando se tratar de operações de custeio de safras anteriores à safra 2011/2012 ou de operações de investimento, o pagamento das parcelas vencidas e vincendas, entre 1º de janeiro de 2012 e 30 de junho de 2013, poderá ser prorrogado para até um ano após o vencimento da última parcela prevista no contrato.

CRÉDITO RURAL

Foto: ASCOM SEMA

Outra medida de grande importância e complementar a prorrogação dos prazos, foi a instituição de linhas especiais de Crédito de Emergência para os agricultores familiares enquadrados no PRONAF e demais produtores 51


QUADRO 1

CONDIÇÕES PARA O CRÉDITO DE EMERGÊNCIA. CONTRATAÇÕES ATÉ 31/05/2012 PARA OS PRONAFIANOS E ATÉ 31/12/2012 PARA OS DEMAIS PRODUTORES

ENQUADRAMENTO PRONAF B (FNE no BNB)

LIMITE DE FINANCIAMENTO

JUROS

até R$ 2.500,00

1% a.a

PRONAF Mais Alimentos (BB e BNB)*

até R$ 10.000,00

1% a.a

Demais PRONAF (FNE no BNB)

até R$ 12.000,00

1% a.a

Não Pronafianos (FNE no BNB)

até R$ 100.000,00

3,5% a.a

Cooperativas, Empresas e Empreendedores individuais

até R$ 100.000,00

3,5% a.a

PRAZO até 10 anos com 3 anos de carência, rebate de 40% para pagamento das parcelas em dia até 10 anos, com até 3 anos de carência até 10 anos, rebate de 40% para pagamento das parcelas em dia até 8 anos, com até 3 anos de carência até 5 anos, com 1 ano de carência

Fonte: Resoluções BACEN N°4.076, N°4.077, N°4.081, N°4.092 e 4.190. *Regras gerais da Linha Mais Alimentos: Juros Zero na Bahia.

afetados pela seca ou estiagem na área de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE (Quadro 1). Já foram contratadas, através do Banco do Nordeste, 58.247 operações no valor de R$ 337,18 milhões.

CAPTAÇÃO DE RECURSOS PARA IMPLANTAÇÃO DE BARRAGENS SUBTERRÂNEAS Com recursos não reembolsáveis captados junto ao Fundo Social do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES e ao Ministério da Integração, da ordem de R$ 21,2 milhões, serão construídas 1.435 barragens subterrâneas em 53 municípios em Situação de Emergência, localizados nos Territórios de Identidade: Bacia do Paramirim; Chapada Diamantina; Irecê; Itaparica; Oeste Baiano; Piemonte da Diamantina; Piemonte Norte do Itapicuru; Semiárido Nordeste II; Sertão do São

Francisco; Velho Chico e Vitória da Conquista. A barragem subterrânea é uma tecnologia de captação e armazenamento de água de chuva no interior do solo, simples e de baixo custo, construída transversalmente ao fluxo das águas, que possibilita maior infiltração no solo e a redução do escoamento superficial, contribuindo também para a diminuição da erosão. Apesar de não exigir grandes cálculos estruturais e mão-de-obra especializada como ocorre nas barragens convencionais, faz-se necessária a presença de um técnico na implantação de uma barragem subterrânea para a escolha do local adequado e orientações durante o processo de construção. A barragem subterrânea se presta para diversos usos, podendo ser utilizada para cultivo de lavouras temporárias ou permanentes, produção de forrageiras para alimentação animal, e até para dessedentação animal e ou abastecimento humano quando associada a um poço amazonas. 52

RECURSO DE PASTO EMERGENCIAL Em decorrência da falta de alimentos para os animais nas áreas atingidas pelo fenômeno, ocorre uma intensa movimentação de rebanhos para áreas de pasto de aluguel para regiões mais úmidas. Mesmo nessas regiões as pastagens já começam a escassear o que tem motivado a busca por pastagens em outros Estados. Com o intuito de desonerar esses criadores, a SEAGRI realizou gestões junto à Secretaria Estadual da Fazenda – SEFAZ para suspensão do ICMS nas saídas de gado para “recurso de pasto”. A celebração do PROTOCOLO ICMS 54, de 05 de junho de 2012, aprovado no Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ – e publicado no Diário Oficial da União, de 06 de junho de 2012, com os Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Sergipe e Tocantins, “suspende o ICMS devido pelas saídas de gado entre os Estados signatários, bem como o seu retorno ao Estado de origem,


desde que se destinem exclusivamente a recurso de pasto”.

EMISSÃO DE GTA OFF LINE E MANUAL Buscando facilitar o transporte dos animais que estão sendo socorridos para locais de melhor condições de pastejo, a SEAGRI, através da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, flexibilizou a exigência da emissão da Guia de Trânsito Animal – GTA on line, implantando a GTA off line e manual, evitando, desse modo, eventuais dificuldades ocasionadas por quedas no sistema de emissão das guias ou por interrupção na conexão da Internet, que poderiam acarretar indesejáveis atrasos nas transferências dos rebanhos que estão sendo socorridos para locais de melhor pastejo.

USO DE CRÉDITO DE ICMS PARA COMPRA DE LEITE

do negativamente nas indústrias, chegando ao ponto de algumas delas operarem com apenas 30% da sua capacidade instalada, pondo em risco não só a continuidade dessas plantas, como também a própria sustentabilidade da cadeia produtiva. Para reduzir o impacto dessa situação, torna-se necessária a aquisição de leite nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Sergipe, Pernambuco, e Espírito Santo, para industrialização no Estado da Bahia. Diante desse quadro e em atendimento à demanda do segmento de laticínios e produtos derivados do leite, e buscando assegurar o mínimo de competitividade ao setor, neste grave período de seca, o Governo do Estado, mediante Decreto n° 14.033, concedeu crédito presumido do ICMS em 100%, equivalente ao imposto incidente nas saídas dos seus produtos, em opção ao aproveitamento de quaisquer outros créditos, vedada a acumulação desta sistemática de crédito com o benefício do Programa DESENVOLVE. Em

PROGRAMA DE SEGURANÇA ALIMENTAR DO REBANHO DA AGRICULTURA FAMILIAR Programa que tem por objetivo contribuir para a sustentabilidade da bovinocultura de leite e da ovino-caprinocultura da agricultura familiar, através do fomento à implantação de reserva estratégica de alimentos que garanta a segurança alimentar do rebanho. Foram disponibilizados pelo Governo do Estado, através do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza – FUNCEP, recursos da ordem de R$ 2,7 milhões

Foto: Acervo EBDA

A seca prolongada tem provocado de maneira drástica a queda da produção de leite em praticamente todas as bacias leiteiras do Estado, em consequência de redução da produtividade, do atraso no calendário de parições do rebanho e até mesmo das perdas de cabeças de gado.

síntese, dispensou o pagamento do ICMS para as indústrias do setor de laticínios, até 31 de dezembro de 2012, que em função da seca estão adquirindo leite in natura em outros estados.

Esses fatores comprometem decisivamente a safra de leite impactan53


para apoiar o Programa em suas ações a exemplo da implantação de unidades técnicas didáticas de palma adensada, com diversos cultivares, nas Estações Experimentais da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA e em áreas pertencentes a agricultores familiares, para posterior distribuição das mudas produzidas ao público do programa. Até o final de 2013, serão instaladas 367 Unidades Técnicas Didáticas (UTDs) de palma adensada, com 1.350 metros quadrados, e mais 100 unidades, com cinco mil metros quadrados, em parceria com agricultores familiares. Está prevista, também, a implantação de três biofábricas, a serem localizadas em Feira de Santana, Irecê, e Juazeiro; e a implantação de experimentos em 10 estações para avaliar três cultivares de palma, resistentes à cochonilha do carmim.

tidade suficiente para alimentar 44 vacas por um período de 180 dias, contribuindo assim para a formação de reserva alimentar no período de estiagem.

VENDA DE MILHO EM GRÃO PARA SOCORRO AOS REBANHOS A Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB - promove por

meio do Programa Vendas em Balcão, em parceria com o Governo do Estado, a venda de milho em grão, dos estoques públicos, para alimentação dos rebanhos, com concessão de subvenção econômica para os criadores dos municípios atingidos pela seca (Quadro 2). O enquadramento do beneficiário para definição do limite de aquisição e do preço é feito com base na informação prestada no Sistema de Cadastro Técnico/Programa de Vendas em Balcão da CONAB.

LIMITE DE AQUISIÇÃO POR BENEFICIÁRIO/MÊS/ PREÇO DE VENDA:

QUADRO 2

Limite de aquisição Até 3.000 kg De 3.001 kg a 7.000 kg De 7.001 kg a R$ 14.000 kg

Valor R$/saca de 60kg R$ 18,12 R$ 21,00 R$ 24,60

Fonte: CONAB

Mapa 1

A VENDA DO MILHO ATRAVÉS DOS ARMAZÉNS DA CONAB

Juazeiro

Para a instalação das UTDs, agricultores familiares, entidades comunitárias ou o poder público cederão áreas com solo adequado para o cultivo da palma por um prazo de cinco anos. As comunidades também participarão das atividades de preparo do solo, plantio, cuidados com a plantação, controle de pragas e colheita. A EBDA disponibilizará material para construção de cercas, kit de ferramentas, fosfato natural reativo e mudas de palma. Com o plantio adensado, que consiste em diminuir o espaço entre as mudas, a média obtida é de 400 toneladas por hectare, quan-

Ribeira do Pombal Irecê Feira de Santana Itaberaba Santa Maria da Vitória

Guanambi

Vitória da Conquista Armazéns da CONAB

Existente Novos Credenciados

Fonte: Conab

54

Entre Rios


A venda do milho está sendo efetuada através dos armazéns da CONAB, localizados nos municípios de: Irecê, Itaberaba, Entre Rios, Ribeira do Pombal e Santa Maria da Vitória, e dos armazéns credenciados nos municípios de Guanambi, Feira de Santana, Juazeiro e Vitória da Conquista (Mapa 1), e, em alguns municípios, através do sistema delivery (entrega direta) para produtores organizados em associações e cooperativas, com o Governo do Estado assumindo as despesas com transporte. Até 28 de fevereiro de 2013 haviam sido comercializadas cerca de 30.000 toneladas de milho, das quais aproximadamente 3.200 foram entregues aos produtores através do sistema delivery.

criadores do semiárido baiano que têm tido dificuldades em comercializar seus rebanhos, devido à oferta demasiada, a SEAGRI, em parceria com a CONAB, EBDA e o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Articulada – IRPAA, articularam a comercialização de forma emergencial de mais de R$ 1 milhão de reais de carne de caprino e ovino da agricultura familiar pelo Programa de Aquisição de Alimentos – PAA. Apenas no Território Sertão do São Francisco, serão beneficiados mais de 20 empreendimentos da agricultura familiar. Os animais são comprados pelo valor de R$ 9,50 por quilo de carne processada, ao todo serão abatidas 105.000 cabeças de caprino e ovino da agricultura familiar. A carne resfriada e congelada, em frigoríficos inspecionados de Juazeiro, será destinada a instituições de amparo, escolas, creches e hospitais das

cidades do Território Sertão do São Francisco. Como prevê a modalidade de Doação Simultânea do PAA, cada agricultor familiar poderá vender até R$ 4.800,00 ao Programa.

DESTRAVAMENTO DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA PRIORIZANDO O SEMIÁRIDO Com o objetivo de destravar os processos de regularização fundiária priorizando o Semiárido, o Governo do Estado publicou o Decreto n° 13.914 de 13/04/2012, simplificando a tramitação dos processos de regularização fundiária dos imóveis rurais, possibilitando a agilização da conclusão de cerca de 18.000 processos na Coordenação de Desenvolvimento Agrário – CDA/SEAGRI, em especial, aproximadamente, 10.000 provenientes dos muniFoto: Heckel Junior

Para se habilitar ao programa, o interessado deve efetuar o cadastro, de posse da Ficha Sanitária do Rebanho, fornecida pela ADAB, diretamente em uma das unidades operacionais da Conab, ou nos Escritórios da EBDA, neste caso para posterior entrega à CONAB.

COMPRA EMERGENCIAL DE CAPRINOS E OVINOS DA AGRICULTURA FAMILIAR Para amenizar os efeitos da estiagem sobre a renda dos pequenos 55


fra visa garantir condições mínimas de sobrevivência aos agricultores familiares de municípios sistematicamente sujeitos a perdas devido às estiagens ou excesso hídrico.

cípios que declararam situação de emergência reconhecida pelo Governo do Estado. Com o título da terra o agricultor passa a ter acesso ao PRONAF estimado em até R$ 20 mil por beneficiário, que poderá representar uma injeção de recursos em torno de R$ 140 milhões nos municípios atingidos pela seca.

O Programa Garantia Safra assegura uma renda de R$ 760,00 em cinco parcelas mensais e sucessivas de R$ 152,00 para os Agricultores Familiares que efetivarem a adesão ao Programa antes dos períodos de plantio, quando for verificada perda da safra das culturas do feijão, milho, algodão, mandioca e arroz maior que 50%. A adesão é para os agricultores com renda média bruta mensal de até 1,5 salário mínimo, nos últimos 12 meses em que antecede sua inscrição e que plantam entre 0,6 a 05 hectares e que não são beneficiários de outros seguros de safra.

Até o momento, foram efetivamente entregues aproximadamente 12.000 títulos pelo governo baiano.

PROGRAMA GARANTIA SAFRA Fundo de natureza financeira criado pelo Governo Federal, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, o Programa Garantia Sa-

O Fundo que garante as indenizações é constituído de recursos da União, dos Estados, dos Municípios e dos próprios Agricultores, na proporção de 25%, 7,5%, 3,75% e 1,25%, respectivamente. Na Bahia, para estimular a adesão, desde 2009, o governo decidiu assumir o pagamento da metade do valor dos aportes das Prefeituras e das contribuições dos Agricultores. O estímulo governamental, aliado a outras ações de divulgação, visitas às Prefeituras e a ampliação da emissão da Declaração de Aptidão ao Pronaf – DAP, intensificadas pela SEAGRI, por meio da sua Superintendência de Agricultura Familiar – SUAF e da EBDA, elevaram substancialmente a adesão dos municípios e dos agricultores (Gráficos 1 e 2).

FUNDOS PARA INDENIZAÇÕES COM RECURSOS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DOS PRÓPRIOS AGRICULTORES Aportes sobre R$ 760,00

Governo Federal

Valor definido pelo MDA Valor com subsídio (50%)

Gráfico 1

Governo Estado

Município

Agricultor

R$ 90,00

R$ 57,00

R$ 28,70

R$ 9,50

R$ 190,00

R$ 76,10

R$ 14,35

R$ 4,75

ADESÃO DE AGRICULTORES AO GARANTIA SAFRA

250 210.995

x 1.000

200 149.697

150 114.756 100 64.879 50 0

6.067

15.173

22.604

2006/07

2007/08

2008/09

Fonte: SEAGRI/SUAF

2009/10

( * ) Em andamento 56

2010/11

2011/12

2012/13*


Gráfico 2

ADESÃO DOS MUNICÍPIOS AO GARANTIA SAFRA Número de Municípios

250 203

209

2010/11

2011/12

200 152

150 92

100 54

50 0

225

22 2006/07

Fonte: SEAGRI/SUAF

2007/08

2009/10

2012/13*

( * ) Em andamento

O investimento do Governo do Estado com o programa também vem evoluindo significativamente. Em 2006, foram gastos pouco mais de R$ 200 mil para adesão do Estado ao Fundo. Na safra 2011/2012 foi aportado, pelo Governo do Estado, o valor de R$ 8,14 milhões para a adesão de 149.697 agricultores em 209 municípios. Com os efeitos da seca foram indenizados 149.124 agricultores, em 203 municípios, totalizando recursos da ordem de R$ 101,3 milhões. Adicionalmente ao Benefício Garantia Safra, através do Decreto Presidencial de nº 7.837 de 09 de novembro de 2012, posteQUADRO 3

2008/09

riormente alterado pelo Decreto nº 7.890 de 09 de janeiro de 2013 foi autorizado o aporte financeiro de R$ 560,00 (quinhentos e sessenta reais) por família, totalizando R$ 185,6 milhões. Com a ampliação das cotas, ao final da safra 2012/2013, os custos alcançarão R$ 11,2 milhões. Para esta safra, no plantio de verão, já aderiram ao Programa 111.543 agricultores em 129 municípios e na safra de inverno já foram efetivadas 99.452 inscrições pelos agricultores em 96 municípios. A meta do Governo baiano é atender a todos os agricultores familiares do Semiárido que possuem os

EXPANSÃO DO GARANTIA SAFRA, NA BAHIA, 2012

85.036 Agricultores de 125 municípios aderiram na safra verão 84.686 Agricultores indenizados da safra verão 121 Municípios beneficiados R$ 57,5 milhões de benefícios sendo pagos 64.661 Agricultores de 84 municípios aderiram na safra inverno 64.438 Agricultores indenizados da safra inverno 82 Municípios beneficiados R$ 43,8 milhões de benefícios sendo pagos Fonte: SEAGRI/SUAF

57

critérios para pertencer ao Garantia Safra, em torno de 300 mil. Nos próximos anos, a tendência é que o número de adesão ao programa aumente gradativamente, para a safra 2013/2014, a previsão é chegar a 250 mil e para a safra 2014/2015, a meta é alcançar 300 mil agricultores. A expansão do Garantia Safra é um fator que tem impulsionado a economia dos municípios. O programa tem efeito parecido com o do Bolsa Família. Em muitos casos, o dinheiro que circula na economia local supera a arrecadação do Fundo de Participação de Municípios (FPM) das prefeituras (Quadro 3).

SOS SECA - TODOS OS PRODUTORES UNIDOS Objetivando evitar que diversos rebanhos de pequenos produtores baianos sejam dizimados pela falta de alimentação, a SEAGRI, no bojo da Campanha S.O.S Seca,


Foto: Carol Garcia/SECOM

te e Recursos Hídricos – INEMA, da Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, uma empresa paulista com experiência acumulada na produção de chuvas artificiais sem uso de produtos poluentes, para a execução de um projeto piloto na região da Chapada Diamantina, com foco no município de Itaberaba e entorno. promovida pelo Governo do Estado, desenvolveu um intenso trabalho de articulação e sensibilização junto aos produtores do Agronegócio Baiano mobilizando-os para a doação de milho, caroço de algodão, farelo de soja, feno, bagaço hidrolisado e melaço de cana, além do frete para o transporte das cargas. A resposta foi de imediato e tem sido altamente positiva demonstrando a solidariedade dos grandes produtores para com os pequenos criadores que sofrem e até adoecem por verem seus rebanhos sendo dizimados, de forma lenta e agônica, pela fome. A escolha dos municípios a serem beneficiados levou em consideração, dentre outros fatores, a gravidade da situação e o número de agricultores familiares envolvidos. Os alimentos arrecadados são repassados às associações de pequenos produtores que fazem a distribuição para os associados. Foram parceiros nesse projeto, a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA, a Associação Baiana dos Produtores de

Algodão – ABAPA, as empresas Agrovale e a UNIAL, entre outros. Os empresários doadores receberam da SEAGRI uma placa de reconhecimento pela responsabilidade social demonstrada nessa ação solidária. Até o momento, cerca de 1.000 toneladas de alimentos para os rebanhos foram doados e distribuídos aos pequenos criadores.

BOMBARDEAMENTO DE NUVENS O agravamento do longo período de seca que se abate sobre o Estado da Bahia fez com que o Governo do Estado lançasse mão de uma alternativa não muito usual no Brasil que é o bombardeamento de nuvens, também conhecido como pulverização ou semeadura de nuvens, tecnologia utilizada para provocar chuvas artificialmente. Neste sentido, foi contratada pela SEAGRI com articulação da sua Superintendência de Irrigação e pelo Instituto do Meio Ambien58

A produção de chuvas através da técnica adotada ocorre com a entrada de um avião bimotor, nas nuvens cúmulus que concentram alta umidade, equipado com 300 litros de água, e as pulveriza com gotículas de água provocando a precipitação minutos após a operação. Embora a época do ano em que a experiência aconteceu não tenha sido a mais favorável, pela pouca formação de nuvens específicas no período, com probabilidade de acerto entre 0% e 40%, foram realizados 17 vôos e provocadas 14 pancadas de chuvas que se precipitaram sobre áreas de concentração da produção de abacaxi no município de Itaberaba contribuindo para a redução dos prejuízos causados a lavoura pela seca.

CAPTAÇÃO DE RECURSOS JUNTO À CHESF O Conselho Nacional de Secretários de Agricultura – CONSEAGRI, atualmente presidido pelo Secretário de Agricultura da Bahia, foi buscar recursos da ordem de R$ 10


milhões para oito estados nordestinos junto à Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF. Os recursos serão aplicados em ações estruturantes de convivência com a seca, visando aumentar a oferta permanente de água e assegurar o desenvolvimento socioeconômico dos estados do Semiárido do Nordeste. A CHESF celebrará convênios com os governos estaduais, e cada um dos oito estados receberá R$ 1,25 milhão.

A Bahia deverá aplicar esse valor na qualificação dos rebanhos de caprinos e ovinos; em kits de irrigação de dois hectares para comunidades de agricultores familiares visando à produção de hortaliças, grãos e frutas; e em tanques-rede para apoiar a piscicultura.

BOLSA ESTIAGEM

Para utilizar este benefício a família tem que preencher os seguintes requisitos: 1. Residir em município em situação de emergência ou estado de calamidade pública, reconhecido pelo Poder Executivo Federal entre janeiro e outubro de 2012; 2. Ser agricultor familiar com Declaração de Aptidão ao PRONAF; 3. Possuir renda mensal média de até 2 (dois) salários mínimos; 4. Estar cadastrado no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal; 5. Não ter aderido ao Garantia Safra 2011/2012.

Esse benefício consiste na transferência de R$ 400,00 por família, transferidos em até cinco parcelas de R$ 80,00. Com o agravamento da seca, o Governo Federal autorizou, excepcionalmente, a ampliação do benefício em mais quatro parcelas, totalizando, desse modo, R$720,00 por família Esses esforços demonstram o empenho da Secretaria da Agricultura – SEAGRI, no enfrentamento dessa longa estiagem que vem trazendo tantos prejuízos para a nossa economia agropecuária, e que atinge de forma dramática a população do Semiárido baiano, refletindo em todo corpo social do Estado. Essas e outras ações foram medidas tomadas emergencialmente e estrategicamente pelo Governo do Estado da Bahia para amenizar as dificuldades e os prejuízos causados pela Seca que atingiu mais de 60% dos seus municípios e seus agropecuaristas. As articulações feitas com o Governo Federal, por meio dos seus ministérios afins e envolvidos diretamente nas ações foram imprescindíveis para a ação imediata em socorro aos que sofreram e sofrem com os efeitos da mais dura estiagem dos últimos 50 anos, acreditam alguns pesquisadores. Outras medidas de longo prazo estão sendo tomadas para que a pressão dos efeitos do fenômeno seja menor para que o sertanejo possa conviver com a seca e se preparar para a sua ocorrência de forma sustentável e estratégica.

Foto: Acervo EBDA

O Bolsa Estiagem ou Auxílio Emergencial é um benefício federal que tem por objetivo assistir

famílias de agricultores familiares com renda mensal média de até dois salários mínimos, atingidas por desastres nos municípios em estado de calamidade pública ou em situação de emergência reconhecidos pelo Governo Federal.

59


Foto: Manuela Cavadas

Gestão ambiental para a sustentabilidade dos Fundos de Pastos no Semiárido baiano Antonio Lemos Maia Neto1

O

Semiárido corresponde a aproximadamente 57% do território nordestino (DUARTE, 1999), caracterizando-se por uma precipitação pluviométrica de 300 a 800 mm anuais, com balanço hídrico negativo na maioria dos meses. Apresenta ainda, sérias limitações quanto aos solos, sobretudo com relação à profundidade e capacidade de armazenamento de água (LANGUIDEY;

1–Médico Veterinário, MSc. Desenvolvimento Sustentável, Fiscal Estadual Agropecuário – Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Coordenador Estadual do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa na Bahia (PNEFA), Salvador-BA; e-mail: lemos.maia@adab.ba.gov.br

CARVALHO FILHO, 1994). Segundo esses autores, essas características apontam para uma vocação econômica prioritariamente agropecuária, onde os caprinos e ovinos despontam como as espécies mais bem adaptadas às áreas mais hostis do Semiárido. Isso fica demonstrado quando se observa que o Nordeste detém os maiores rebanhos de caprinos e ovinos do País, o que representa 56,72% do rebanho ovino, com 9,85 milhões de cabeças, e 90,83% do caprino, com 8,45 milhões de cabeças, com base em dados do IBGE (RODRIGUES, 2012). A criação de caprinos e ovinos apresenta um papel socioeconômico de importância estratégica, 60

uma vez que se encontra amplamente difundida junto à agricultura familiar nas áreas de sequeiro do Semiárido nordestino. Trata-se de uma atividade na qual o ecossistema local representa um componente básico dos sistemas de produção tradicional em Fundo de Pasto, largamente utilizado para o forrageamento dos rebanhos (HOLANDA JÚNIOR et al., 2003). Apesar de incentivar a manutenção das áreas de vegetação natural do Semiárido, a criação de caprinos e ovinos nesses sistemas tem sido apontada por diversos autores como fonte de degradação da vegetação, uma vez que, existem


SEMIÁRIDO BAIANO

evidências de que o pastejo de caprinos pode afetar a estrutura, a capacidade de regeneração e a distribuição de várias espécies herbáceas e arbustivas da vegetação da Caatinga (LEAL et al., 2003). Dessa forma, faz-se necessário encontrar instrumentos de gestão que favoreçam a manutenção dos sistemas tradicionais de produção baseada na agricultura familiar e que, ao mesmo tempo, contribuam para o uso racional dos recursos naturais da vegetação nativa. Uma alternativa para suprir essas lacunas, se daria mediante a integração dos dados do Serviço Veterinário Oficial e dos órgãos de Gestão Ambiental, tal como se propõe no presente estudo.

Áreas Semiáridas Áreas Subúmidas Áreas do Entorno Municípios no Novo Semiárido

A PRODUÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS EM FUNDOS DE PASTO NA BAHIA

Foto: Acervo Autor

Fonte: Ministério da Integração

Fundo de Pasto em Rodelas – Bahia 61

De acordo com Ávila e Calderón (2004), os sistemas tradicionais de agricultura familiar se caracterizam por um elevado grau de sustentabilidade, por utilizarem, em sua maioria, práticas adaptadas ao meio biofísico, com uma maior diversidade de culturas agrícolas e menor dependência de insumos externos. Nas áreas de sequeiro de grande parte do Semiárido baiano, a agricultura familiar é baseada na criação de caprinos e ovinos em sistema de Fundo de Pasto (HOLANDA


JÚNIOR, 2003). Trata-se de um sistema extensivo, no qual rebanhos de vários produtores são criados soltos em áreas de vegetação nativa sem divisões demarcatórias de propriedades, constituindo-se em áreas de uso coletivo. Mesmo com os efeitos nocivos advindos da herbivoria da Caatinga pelos pequenos ruminantes, muitas das pastagens nativas do Semiárido conservam boa cobertura de sua vegetação. “São áreas que não são queimadas e nem roçadas, e onde a ação antrópica limita-se à exploração da pecuária e à eventual coleta de produtos vegetais” (GIULIETTI et al., 2004a, p.65). De acordo com aqueles autores, boa parte das áreas de pasto nativo no Semiárido corresponde, na verdade, a áreas abandonadas pela agricultura ou pela exploração madeireira para lenha e carvão, esta sim, tida como a principal causa da degradação da Caatinga. O sistema de produção de caprinos e ovinos em Fundo de Pasto desponta assim com grande potencial para conciliar o uso e a preservação da biodiversidade, já que as pastagens nativas são bem mais diversificadas do que as cultivadas (GIULIETTI et al., 2004a), e os produtores dependem de sua manutenção para garantirem seu sustento ou complementação da renda. Essa atividade, contudo, está voltada em sua essência à subsistência, com baixo nível de tecnologia, pouca ou nenhuma assistência técnica, baixos níveis de produtividade e remuneração ao produtor

(LIMA; BAIARDI, 2002). Em estudo sobre a cadeia produtiva da caprino-ovinocultura no Estado da Bahia realizado por Holanda Júnior et al. (2003), 59% dos 656 criadores entrevistados foram classificados como exploradores de pecuária de subsistência pauperizada. Na região de Juazeiro-BA, Souza (2004) verificou que esse tipo de criador, sem meios para acompanhar a evolução tecnológica e se inserir na nova dinâmica da agricultura irrigada, acabaram por viver de mercados marginais. A participação no mercado de forma competitiva é apontada por Guimarães Filho et al. (1999), como condição indispensável para estabilidade e perenidade da produção de base familiar. Contudo, “se no passado a economia condicionou a utilização do meio ambiente, sem se preocupar com a degradação e exaustão de seus recursos, atualmente parece ser o meio ambiente que deve condicionar a economia” (COMUNE, 1994, p.46).

POTENCIAL FORRAGEIRO DA CAATINGA A vegetação da Caatinga apresenta grande diversidade de espécies com elevado grau de endemismo e características altamente adaptadas ao Semiárido (CASTELLETTI et al., 2003). De acordo com Giulietti et al. (2004a), estima-se existir cerca de 932 espécies já registradas, sendo 318 62

endêmicas. Segundo Giulietti et al. (2004b), esta diversidade estaria relacionada às 12 tipologias de caatingas reconhecidas e aos inúmeros ambientes associados. O que, por sua vez, está relacionado às variações de solo, clima e relevo desse espaço geográfico (SILVA et al., 2003). Além do elevado grau de endemismo, Leal et al. (2005) destacam a Caatinga como o único domínio cujos limites estão restritos exclusivamente ao território nacional e o segundo ecossistema mais degradado do país, o que torna mais relevante ainda a necessidade de preservá-lo. De acordo com Araújo-Filho et al. (1996), cerca de 70% das espécies lenhosas e herbáceas da Caatinga são utilizadas pelos caprinos como forrageira. Trata-se, portanto, de uma vegetação com alto valor forrageiro (DRUMMOND et al., 2000). Giulietti et al. (2004a), entretanto, afirmam que os levantamentos realizados até o momento, são insuficientes para determinação desse potencial. Segundo esses autores, diversas famílias de plantas contribuem com espécies que participam da dieta dos animais, merecendo destaque à família das leguminosas. A grande maioria dos sistemas de produção pecuária extensiva que predominam no Semiárido é altamente dependente do suporte forrageiro desse tipo de vegetação, especialmente no período seco (FRANCELINO et al., 2003; PINTO et al., 2006).


CAPACIDADE DE SUPORTE SUSTENTÁVEL A capacidade de suporte sustentável expressa o nível máximo de uma população em número de habitantes, em uso de um conjunto de tecnologias e hábitos de consumo, numa determinada área, por tempo indefinido, sem causar degradação ambiental (BARRADAS, 1999; MOTA, 2001). Assim, a determinação e análise deste conceito são fundamentais para o planejamento das políticas de desenvolvimento sustentável voltadas à região do Semiárido baiano, tornando claro suas potencialidades, limitações e ameaças à preservação de seus recursos naturais (DALY, 1994).

De acordo com Araújo Filho e Crispim (2002), a capacidade de suporte média das áreas de Caatinga, gira em torno de 12,5 ha/Unidade Animal(UA)/ano, contudo a carga animal média verificada está em torno de 4,4 ha/UA/ano. Essa sobrecarga animal tem proporcionado um superpastoreio da caatinga, modificando a composição florística de seu estrato herbáceo (DRU-

Foto: Acervo Autor

Em média, a Caatinga apresenta uma produtividade de fitomassa

em torno de quatro toneladas de matéria seca por ano, a qual sofre relevantes variações conforme a área de ocorrência e ao longo do tempo (ARAÚJO FILHO; CRISPIM, 2002). Entretanto, menos do que 10%, é realmente aproveitado, uma vez que depende do estado fenológico da vegetação, de sua acessibilidade aos animais, e da proporção de espécies não palatáveis de determinada área (ARAÚJO FILHO et al., 1998).

MOND et al., 2000 e GIULIETTI et al., 2004a), e a vegetação menos densa (SILVA et al, 2003).

IMPACTO DA CAPRINO-OVINOCULTURA SOBRE A VEGETAÇÃO NATIVA Segundo Leal et al. (2003), os caprinos em especial, podem ser considerados generalistas, por consumirem plântulas e todas as partes de plantas adultas, como folhas (verdes ou secas), flores, frutos, sementes. Por essas características, em condições de superpastejo, “os caprinos e ovinos podem induzir mudanças substanciais na florística da caatinga, quer pelo anelamento dos troncos das árvores e arbustos, causando-lhes a morte, quer pelo consumo de plântulas impedindo a renovação do estoque das espécies lenhosas”. Já a vegetação herbácea, sofre principalmente com a elevada pressão de pastejo por ovinos, que pelo hábito de pastejo rasteiro (ARAÚJO FILHO; CRISPIM, 2002). O consumo animal é direcionado para aquelas espécies mais palatáveis que tendem a sofrer redução em suas populações. Por outro lado as espécies não consumidas, podem ter sua população aumentada (GIULIETTI et al. 2004a). Em estudo sobre a herbivoria por caprinos na Caatinga da região do Xingó, Leal et al.

Fundo de Pasto em Jaguarari – BA 63


Por outro lado, diversos autores relatam que este impacto sobre a vegetação natural, estaria ligada a situações de altas taxas de lotação animal nas áreas de Caatinga, o que é agravado quando concomitante a outras atividades, como a retirada de lenha para produção de carvão ou o sobre-pastejo por bovinos (LEAL et al., 2003). Assim, passa a ser fundamental o controle da pressão de pastejo sobre áreas de exploração coletiva.

Tendo como base a observação direta e entrevistas não estruturadas com informantes-chave realizadas durante visita técnica da ADAB à Comunidade da Massaroca, Juazeiro-BA, no ano de 2010, verificou-se que algumas comunidades já manejam a pressão de pastejo sobre suas áreas, mesmo que empiricamente. No período de chuvas, quando é maior a oferta de alimentos nas pastagens naturais, a maior parte dos produtores mantém seus rebanhos no chamado Fundo de Pasto. Na época em que a pastagem da Caatinga começa a escassear, parte dos rebanhos é conduzida para propriedades individuais situadas no alto da Serra da Bela Vista, onde são arraçoados com palma forrageira, feno, silagem, melancia de cavalo, leucena e restos de culturas agrícolas.

Existe uma visão externa de que as áreas de Fundo de Pasto estão submetidas a pastejo e lotação contínua ao longo do ano, e por consequência, esse sistema tradicional de produção seria um dos principais responsáveis pela degradação da Caatinga. O caso de Massaroca, acima abordado, no entanto, parece caracterizar como um sistema de produção de lotação variável ao longo do ano, o qual, teoricamente, estaria oferecendo condições para recuperação e manutenção da vegetação natural. Todavia, essa prática não é uniforme em todo o Semiárido baiano. E mesmo onde é utilizada, carece de instrumentos de gestão para uma melhor segurança e sustentabilidade do sistema. Principalmente se for considerado a existência de áreas com elevada diversidade de espécies e grau de endemismo da flora da caatinga (SILVA et al., 2003).

Foto: Acervo Autor

(2003), propõem que esta atividade representa um fator de seleção natural, capaz de interferir na abundância e distribuição das principais espécies consumidas. Conforme esses autores, isto estaria relacionado à retirada das partes da vegetação lenhosa de acordo com o avançar do período seco, bem como, ao consumo de frutos que acabam sofrendo uma interferência em sua distribuição. Moolman e Cowling citados por Leal et al. (2003), informam que “os caprinos são responsáveis por uma redução de 47% das espécies endêmicas de suculentas e geófitas, quando comparadas áreas com e sem esses animais”. Além disso, é apontada também, uma interferência na ciclagem de nutrientes, seja em função da transferência de nutrientes para os locais de malhadouros ou dormitórios, ou pela redução da população de leguminosas arbustivas fixadoras de nitrogênio atmosférico, em face da simbiose com bactérias do gênero Rhizobium, presentes no solo.

Fundo e pasto em Juazeiro – BA 64


INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS Os Sistemas de Informações Geográficas são ferramentas de georreferenciamento que possibilitam armazenar, manipular e integrar uma grande quantidade de dados espaciais, não espaciais e temporais, através de programas de informática especializados. Com a visualização espacial destes dados de forma integrada, é possível formular hipóteses de interdependência e causalidade (TEIXEIRA et al., 1992). No momento em que as diversas variáveis sobre um determinado espaço geográfico são consideradas de forma conjunta, cria-se uma condição para que novas perspectivas e conhecimentos sejam gerados (XAVIER-DA-SILVA, 1992). Dessa forma, informações como a localização das comunidades e estabelecimentos de criação; efetivo do rebanho, sua distribuição espacial e densidade populacional; tipo de manejo e perfil do criador;

podem ser de grande valia para gestão ambiental, quando correlacionadas, com informações sobre a cobertura vegetal, grau de preservação da Caatinga, utilização do solo, entre outras.

BASE DE DADOS DA DEFESA SANITÁRIA ANIMAL Dentre outras funções, o Serviço de Defesa Sanitária Animal tem como missão garantir a segurança sanitária exigida pelo crescente mercado nacional de carnes de caprinos e ovinos. Ademais, protege os mercados dos prejuízos advindos de ocorrências sanitárias como a Febre Aftosa, e assegura a segurança alimentar para o grande mercado consumidor local e regional. Para isso, são utilizados mecanismos legais com o objetivo de manter uma base cadastral dos estabelecimentos de criação; controlar o fluxo de trânsito dos animais, registrando a origem, destino e motivo das movimentações; o estoque, evolução e distribuição espacial dos rebanhos; além de realizar a vigilância sanitária e epi-

demiológica (BAHIA, 1999; BAHIA, 1999b). Dentre as principais ferramentas deste serviço está o cadastramento e georreferenciamento dos estabelecimentos de criação (BRASIL, 2005). As informações produzidas a partir dessa base cadastral, além de imprescindíveis ao processo de planejamento de intervenções estatais na agropecuária, poderiam ser utilizadas para construção de planos de gestão ambiental rural, mediante a integração com as informações das Agências Ambientais. Nesse contexto, são de fundamental importância variáveis como: o quantitativo e a distribuição espacial das comunidades, dos estabelecimentos de criação e dos rebanhos caprinos e ovinos; a densidade demográfica desses rebanhos; o tipo de ocupação humana; e o inventário e estado de conservação da vegetação. Com isso, poder-se-ia relacionar a capacidade de suporte sustentável de determinada área de Caatinga, ao grau de utilização dos sistemas de Fundo de Pasto. Essas informações refletiriam o grau de equilíbrio daquele agroecossistema, indicando a possibilidade de intensificação do uso da Caatinga, ou a necessidade de racionalização através da redução do rebanho ou da adoção de práticas de manejo sustentável da caatinga.

Foto: Acervo Autor

MONITORAMENTO AMBIENTAL Esta seria a etapa mais onerosa do modelo de gestão proposto, pois envolve o sensoriamento remoto

Fundo de Pasto em Juazeiro – BA 65


para caracterização da cobertura e uso do solo, além do inventário florístico. Este último consiste da coleta de dados bióticos nas áreas de Fundo de Pasto delimitadas e classificadas por meio do sensoriamento remoto e cadastramento dos estabelecimentos de criação e dos criadores.

PROSPECÇÕES AMBIENTAIS Corresponde à fase dos “procedimentos diagnósticos que possibilitam caracterizar, classificar e modelar o espaço em estudo” (LORINI et al., 1996, p.153). A correlação entre os planos de informação sobre a densidade de caprinos e ovinos e o grau de degradação da Caatinga nas áreas de Fundo de Pasto, proporcionaria a elaboração de um mapa apontando as áreas em que a taxa de lotação atual de pequenos ruminantes oferece risco à sustentabilidade da Caatinga. Ao inserir outros planos de informações na presente análise, tais como, outras atividades consideradas impactantes à Caatinga, como a bovinocultura e a retirada de lenha para comercialização ou produção de carvão, o monitoramento passará a ser ainda mais criterioso. De posse dos dados de rebanho é possível monitorar o nível de densidade populacional de caprinos e ovinos em cada área demarcada pelo zoneamento anterior. Ao se

identificar uma densidade próxima ou acima da capacidade de suporte sustentável daquela área, o Serviço de Defesa Agropecuária acionaria o órgão de Gestão Ambiental responsável, visando à adoção de ações mitigadoras, ou os órgãos de assistência técnica para agirem na orientação das comunidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS É importante dispensar esforços para avaliar e monitorar o real impacto causado pela criação de pequenos ruminantes nas áreas de vegetação de Caatinga, assim como na racionalização desses sistemas de produção tradicionais, através de mecanismos de manejo que venham a atender à sua capacidade de suporte sustentável. Esses esforços assumem uma dimensão estratégica, uma vez que a caprino-ovinocultura representa uma das poucas opções de atividade econômica para as áreas mais hostis do Semiárido, cuja base de produção sustenta-se na pastagem nativa da Caatinga, agroecossistema que necessita ser preservado para as gerações futuras. O plano de procedimentos diagnósticos, proposto neste trabalho, ao focar em uma área com grande carência de informações, pode contribuir para o aperfeiçoamento de metodologias de georreferenciamento, auxiliando no planejamento de ações esta66

tais voltadas ao desenvolvimento agrícola sustentável, contexto em que a gestão ambiental fornece o pano de fundo. As informações emergentes desse trabalho poderão instrumentalizar tanto as organizações dos produtores, quanto os órgãos competentes com ferramentas de gestão capazes de assegurar a sustentabilidade desse importante meio de produção em sequeiro, característico do Semiárido baiano. Acredita-se ainda, que é possível se evoluir para um zoneamento da capacidade de suporte sustentável das áreas de Caatinga usadas para produção animal no Estado, a partir do monitoramento dos dados resultantes de estudos para caracterização das diferentes áreas de Caatinga do Semiárido baiano. Nesse contexto, será importante instalar experimentos, que avaliem a recuperação da vegetação submetida a diferentes pressões de pastejo, cujos resultados deverão ser contrapostos a dados históricos de lotação animal. Dessa forma estar-se-ia contribuindo para o alcance dos desafios propostos por Leal et al. (2005), corroborados por este autor, que consiste em evitar maiores perdas para aquele habitat, melhorar a qualidade de vida das populações e promover o uso sustentável dos recursos naturais, respeitando o conhecimento e práticas das comunidades tradicionais, e a utilização sustentável da diversidade biológica.


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Foto: Acervo EBDA

Assistência técnica e extensão rural: novos caminhos para o desenvolvimento rural sustentável Jazon Ferreira Primo Junior1 Wilson José Vasconcelos Dias2 Ivan Leite Fontes3 Robson Andrade Santos4

1 – Engenheiro Agrônomo, Coordenador Técnico de ATER – SUAF/SEAGRI; e-mail: jazon.suaf@gmail.com 2 – Engenheiro Agrônomo, Superintendente da Agricultura Familiar – SUAF/SEAGRI; e-mail: wilson.dias@seagri.ba.gov.br 3 – Economista, Diretor de Desenvolvimento Territorial – SUAF/SEAGRI; e-mail: ivan.fontes@seagri.ba.gov.br 4 – Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão da Inovação Tecnológica, Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS; e-mail: robsonandrad@yahoo.com.br

A

pesar de ser um direito constitucional – a Constituição Federal de 1988 e a Lei Agrícola de 1991 determinam que a União mantenha os serviços de ATER pública e gratuita para os pequenos agricultores – , na década de 90, assistimos o sucateamento dos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), com a extinção da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER). Esse período coincide com a intensificação das reflexões e questionamentos acerca do modelo de desenvolvimento rural, 68

amplamente difundido pela extensão rural brasileira desde a década de 60, baseado, dentre outros fatores, na ampla utilização de agrotóxicos, na concentração da terra e na compreensão de que o meio rural se constituía num espaço exclusivamente dedicado à produção agropecuária, desconsiderando os aspectos socioambientais e culturais do campo brasileiro. Movimentos do campo, organizações sociais e outros setores progressistas da sociedade vêm refletindo e propondo novas estra-


tégias para estimular o desenvolvimento no meio rural brasileiro, em bases mais sustentáveis. Isto inclui uma agricultura sustentável baseada nos princípios agroecológicos. Este modo de produção pautado pela sustentabilidade econômica, social e ambiental, leva em consideração, dentre outros aspectos, a inclusão social das famílias rurais envolvidas no processo de produção e a produção de alimentos visando a segurança e a soberania alimentar. A partir do Governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) amplia substancialmente seu orçamento e ações. Prova maior disso é o crescimento estrondoso dos recursos do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Além das ações diretas, voltadas ao desenvolvimento do campo brasileiro, era importante, também, instituir um marco legal, necessário para consolidar estas políticas públicas. Com esse objetivo, a Lei Federal nº 12.188/2010 institui a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária – PNATER. Seguindo esta trajetória, o Governo do Estado da Bahia também instituiu a Política Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar – PEATER, através da Lei Estadual nº 12.372/2011. Os princípios contidos nestes dois importantes marcos jurídicos, dentre outras coisas, estabelecem, a adoção da agroecologia,

da promoção do desenvolvimento sustentável e da garantia de universalização da assistência técnica e extensão rural para a agricultura familiar e reforma agrária.

ATER PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL Um novo Brasil rural emerge. Fortalecido, diversificado e sustentável, capaz de contribuir decisivamente para a construção de um País mais justo e com a tão desejada equidade social. Esse novo Brasil rural surge impulsionado pela inesgotável capacidade produtiva de 4,3 milhões de famílias que vivem na terra e dela produzem 70% dos alimentos consumidos diariamente pelos brasileiros (BRASIL, 2010a). Estes agricultores e agricultoras familiares dispõem, hoje, de um conjunto de políticas públicas de apoio a sua atividade produtiva tendo a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) como instrumento catalisador desse processo de desenvolvimento que visa à sustentabilidade. O grande desafio de ampliar o acesso dos agricultores/as familiares às políticas públicas; de qualificar o acesso e a aplicação das políticas públicas, com controle social; de estimular ampliação da qualidade de vida no campo; e de produzir com qualidade e com respeito aos princí69

pios agroecológicos dependem da oferta, com qualidade, dos serviços de ATER. A história nos sugere que esta assistência técnica, disponibilizada aos/as agricultores/as familiares não pode manter o foco apenas na produção e na produtividade, nem ser pautada pelos interesses exclusivos do capital e das grandes empresas, ou mesmo, desconsiderar o conhecimento endógeno das comunidades rurais, suas particularidades e história. A nova assistência técnica, conforme prevê as Leis Nacional e Estadual de ATER, tem que ter um caráter educativo e transformador, que estimula um modelo justo, solidário e sustentável. O bem-estar das famílias deve figurar no centro das ações, além de considerar as condições específicas de cada sistema cultural e agroecossistema. Acredita-se que à medida que a ATER for incorporada na vida cotidiana do/a agricultor/a familiar, naturalmente, haverá o desenvolvimento de uma agricultura mais saudável e responsável com a qualidade sanitária do alimento que será consumido pelo povo do campo e da cidade. Contudo, é evidente a necessidade de aumento dos índices de produtividade da agricultura familiar conciliando com a qualidade do alimento que chegará a mesa da sociedade brasileira e mundial. Certamente que este estágio apenas será alcançado com ações e ou investimentos de médio e lon-


Foto: Acervo EBDA

alguns desses números referente ao Estado da Bahia, em comparativo com o Brasil.

AGRICULTURA FAMILIAR BAIANA E O ACESSO A ASSISTÊNCIA TÉCNICA

pação da agricultura familiar na geração de empregos e renda no País. Os resultados divulgados demonstram e comprovam a importância econômica e social da agricultura familiar para o Brasil. O Censo identificou que o Estado da Bahia, com 665.831 famílias rurais (IBGE, 2006), que vivem no campo sob o regime de economia familiar, destaca-se no cenário nacional como o Estado com maior número de estabelecimentos rurais geridos por agricultores/as familiares.

Em 2006, pela primeira vez o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quantificou a partici-

Outros números apresentados reforçam o entendimento sobre a importância e dimensão desta agricultura familiar. A Tabela 1 traz

O setor destaca-se também na geração de emprego com 81% do pessoal ocupado na agricultura, sendo 18,9 trabalhadores a cada

go prazo, como desenvolvimento da pesquisa, das novas tecnologias e inovação, formação profissional dos técnicos e técnicas, a integração das políticas públicas e o acesso a terra.

TABELA 1

A justificativa para escolha da agricultura familiar como público beneficiário dos projetos de desenvolvimento rural, dentre eles a ATER, é amparada pela notada importância do setor para segurança e soberania alimentar. A Tabela 1 mostra que, embora ocupe apenas 34% da área total, a agricultura familiar responde por 77% do alimento produzido no Estado da Bahia.

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL DA AGRICULTURA FAMILIAR PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR

BRASIL

Nº Propriedades de Agricultores/as Familiares % da Produção Agropecuária da Agricultura Familiar (Total) % Área Ocupada da Agricultura Familiar (Total) % Produção de Alimentos pela Agricultura Familiar (Total) Nº Empregos a cada 100 ha na Agricultura Familiar Nº Municípios tipicamente rurais Pessoal Ocupado Fonte: IBGE (2009) Elaboração: Autores 70

4.500.000 54% 31% 70% 16,1 3.255 74%

BAHIA

665.000 44% 34% 77% 18,9 378 81%


100 hectares contra apenas 2,3 da agricultura patronal. Apesar de ocupar uma área menor de plantio e pastagens, a agricultura familiar é a principal fornecedora de alimentos básicos para população baiana, como feijão 83%, leite 52%, mandioca 91%, milho 44%, aves 60% e suínos 76%. A instituição da Política Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural (PEATER) e do Programa Estadual (PROATER) são as bases para garantir o financiamento e a garantia da manutenção da prestação dos serviços de ATER na Bahia. Essa ação permitiu, já em 2012, o lançamento de duas chamadas públicas para contratação de entidades/instituições prestadoras de serviços de ATER, com metas definidas para o atendimento de 38 mil famílias. A garantia de amplo atendimento da oferta dos serviços de ATER exige a organização de um “sistema” interinstitucional, composto pelas entidades civis prestadoras de serviços de assistência técnica, pela Empresa Baiana de Desenvol-

vimento Agrícola (EBDA), pela Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Prefeituras Municipais, dentre outras instituições. O financiamento deste sistema também é diverso, contando, para isso, com recursos de organismos internacionais, do Governo Federal, através do MDA, CODEVASF, dentre outros, além do Governo do Estado da Bahia que, por meio do Programa Vida Melhor, tem como meta atender 280 mil famílias com os serviços de ATER. Outros elementos são, também, necessários para o bom funcionamento deste complexo sistema de ATER na Bahia: ampliação das Chamadas Públicas; fortalecimento da rede de entidades prestadoras de serviços de ATER; e o ordenamento dos serviços através da elaboração dos Planos Municipais/Territoriais de ATER. Estes elementos são peças de planejamento e constituem importantes instrumentos, construídos participativamente, para permitir o controle social sobre metas, qualidade e distribuição dos serviços. Um aspecto inovador da nova ATER deve ser, também, a bus-

ca pela ampliação do acesso dos/as agricultores/as familiares a outras políticas públicas fundamentais para a emancipação social destes. O crédito, a infraestrutura, o apoio a comercialização, além dos serviços de saúde, educação, dentre outros, que são fundamentais para a transformação da vida no campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados dessa nova fase da ATER serão, assim, sentidos no curto e médio prazo na Bahia. Mais agricultores familiares sendo atendidos de forma mais qualificada e permanente implicará em melhor manejo dos sistemas produtivos em todos os elos das cadeias produtivas, que, por sua vez, proporcionará mais renda, mais emprego e melhor sustentabilidade ambiental. Implicará, também, na ampliação e qualificação das políticas públicas complementares, que rapidamente multiplicarão seus efeitos na vida das pessoas e da economia dos municípios baianos.

Referências BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Fundamentos teóricos, orientações e procedimentos metodológicos para construção de uma pedagogia de ATER. Brasília: MDA/SAF, 2010. 45p. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Um novo Brasil rural. Brasília: MDA, 2010a. 124p. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria de Agricultura Familiar. Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural: versão final 25/05/2004. Brasília: MDA/SAF, 2004. (Grupo de Trabalho de Ater). CAPORAL F. R.; COSTABEBER J. A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2007. 24p. CAPORAL F. R.; COSTABEBER J. A. Agroecologia: enfoque científico e estratégico para apoiar o desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre: EMATER/ RS-ASCAR, 2002. FRANÇA, C. G. et al. O Censo Agropecuário 2006 e a agricultura familiar no Brasil. Brasília: MDA, 2009. IBGE. Censo Demográfico. Rio de janeiro. 2006. 71


1

.......................................................................................................................................................................................................................................................................... 1 – Pesquisa resultante de parceria entre a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Fazenda Lagoa do Coco, Universidade de Valência (Espanha), Embrapa Mandioca e Fruticultura e Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. (EBDA), com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Este artigo foi revisado por Luciano da Silva Souza e Walter dos Santos Soares Filho, membros da equipe técnica.

O SISTEMA DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA SOLO-CITROS-CLIMA Joelito de Oliveira Rezende2

O solo

.....................................................

2 – Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Professor Titular do Centro de Ciências Agrárias Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-UFRB, dedicado a estudos nas áreas de Física e Manejo dos solos agrícolas; e-mail: joelitorezende@gmail.com

Os principais solos (Latossolos Amarelos Coesos e Argissolos Amarelos Coesos) da Grande Unidade de Paisagem Tabuleiros Costeiros – principal berço da citricultura baiana – caracterizam-se como profundos, ácidos, álicos, com baixa capacidade de 72

troca catiônica e presença frequente de camadas densas/coesas/duras. Espécies vegetais, temporárias e perenes, cultivadas nesses solos, algumas vezes com irrigação suplementar, geralmente apresentam baixo vigor vegetativo, reduzida longevidade e baixas produções, comparativamente aos mesmos

Foto: Sílvio Ávila/Editora Gazeta

“Plantio direto” dos citros: mito ou realidade?


cultivos em outras unidades de paisagem, devido a uma relação solo-planta fortemente influenciada pela baixa disponibilidade de nutrientes, acidez elevada e pela estrutura peculiar dos horizontes coesos (REZENDE et al., 2000). Historicamente, esses problemas foram subestimados em virtude da paisagem aparentemente favorável ao uso agrícola, representada pelo relevo plano a suave ondulado, solos profundos e clima (CINTRA, 1997). O preparo do solo visa à melhoria das condições físicas do leito de sementes e/ou raízes, proporcionando-lhe benefícios na aeração, infiltração de água e disponibilidade de nutrientes, além da redução da resistência do solo à penetração. De uma maneira geral, o preparo dos solos coesos dos Tabuleiros Costeiros é feito com arados de disco e/ou grade pesada. Esses implementos trabalham o solo a pouca profundidade, incorporando os resíduos orgânicos e plantas infestantes superficialmente. Uma prática recomendada para solos com horizontes densos situados a uma profundidade igual ou maior do que 0,35 m é a subsolagem. Tem como princípio o rompimento do solo por propagação de trincas, mantendo a ordem natural de seus horizontes, isto é, sem inverter a leiva. Para isso, os subsoladores dispõem de hastes que são cravadas no solo e provocam o seu rompimento para frente, para cima e para os lados, ou seja, o solo não é cortado como na aração e/ou gradagem

e sim rompido nas suas linhas de fratura ou através das interfácies de seus agregados (LANÇAS, 2002). Isso melhora a porosidade das camadas densas, facilitando a aeração, o armazenamento de água, a disponibilidade de nutrientes e a penetração radicular ao longo do perfil do solo, proporcionando, por consequência, maiores produtividades do sistema de produção agrícola. Oliveira (1967) e Haynes (1970) já recomendavam essa prática para romper camadas coesas de solos dos Tabuleiros Costeiros.

Os citros A muda cítrica é uma unidade de produção formada por duas partes: enxerto (ou cavaleiro) e porta-enxerto (ou cavalo). Resulta de uma operação que consiste em fixar (enxertar) a gema de uma variedade de planta na base de outra (caule e raiz). A gema desenvolver-se-á para formar a copa, onde são produzidos os frutos. A nova planta, assim fabricada, apresentará características distintas daquelas de seus doadores, tais como: volume da copa, transpiração e composição química das folhas, época de maturação, capacidade de absorção de nutrientes, tolerância à salinidade, à seca e ao frio, resistência/tolerância às moléstias e pragas, fertilidade do pólen, precocidade de produção, produção, peso dos frutos, coloração da casca e do suco, teor de açúcares e de ácidos dos frutos, tempo de permanência dos fru73

tos na planta e conservação do fruto após a colheita (POMPEU JUNIOR, 1991). As duas partes unidas (copa e porta-enxerto), geneticamente diferentes, devem apresentar relacionamento harmonioso – mutuamente benéfico – para que as plantas resultantes sejam mais longevas e os pomares mais produtivos. Em algumas combinações copa/porta-enxerto, entretanto, pode ocorrer certos distúrbios devido à falta de afinidade entre os dois simbiontes, desde anomalias que não comprometem a produtividade e rentabilidade dos pomares até graves distúrbios que provocam a morte das plantas já no início da vida (NOGUEIRA, 1983). Estudos sobre o crescimento do sistema radicular de plantas cítricas em condição de sequeiro, a exemplo dos que foram divulgados por Cintra (1997) e Carvalho et al. (1999), mostram que as raízes dos citros tendem a se concentrar nos primeiros 0,4 m de profundidade do solo. Tais estudos, entretanto, foram e geralmente têm sido realizados em pomares com plantas originárias de mudas, cujo sistema radicular foi podado/prejudicado.

O clima Como condicionante dos cultivos, o clima interfere em todas as fases de desenvolvimento das plantas, ou seja, na adaptação da variedade, no comportamento fenológico, na abertura floral, na curva de maturação, na taxa


que ocorre no município de Itapicuru, com pluviosidade média anual em torno de 750 mm. Não obstante as limitações agrícolas citadas, os Tabuleiros Costeiros têm revelado capacidade atual e potencial para a produção de alimentos, principalmente fruticultura (laranja, limão, mamão, graviola, banana, abacaxi, maracujá, acerola, goiaba, coco etc.), de matéria-prima para a indústria e de biocombustíveis (SOUZA et al., 2000). São notáveis os exemplos de êxitos de empreendimentos agrícolas localizados nessa Grande Unidade de Paisagem devido, entre outras causas, ao consciente e adequado manejo que os produtores dispensam às suas terras (REZENDE et al., 2002). Por isso, procura-se disponibilizar um sistema de manejo que possibilite, com menor relação custo/benefício, maior

longevidade, sustentabilidade e produtividade de pomares cítricos em condições ambientais dos Tabuleiros Costeiros. Face às limitações impostas pelo solo e pelo clima, considera-se (hipótese) que isso será mais viável fazendo-se o plantio do porta-enxerto e enxertia no local definitivo do pomar, independentemente do preparo do solo e da combinação genética copa x porta-enxerto. Para testar tal hipótese, o primeiro passo – objetivo do presente trabalho – foi avaliar as influências do preparo do solo, porta-enxerto e sistema de plantio no crescimento, produtividade e peso médio do fruto de pomares de laranjeira ‘Pera’, limeira ácida ‘Tahiti’ e tangor ‘Murcott’, em um solo representativo dos Tabuleiros Costeiros. Os dados ora apresentados referem-se exclusivamente à laranjeira ‘Pera’. Tais dados são muito parecidos com os que foram obtidos para os outros dois cultivares.

Foto: Sílvio Ávila/Editora Gazeta

de crescimento, nas características físicas e químicas do fruto e no potencial de produção (SILVA et al., 2004). Para os citros, a faixa de temperatura adequada é a seguinte: mínima, 10ºC; ótima, 20 a 30ºC; máxima, 30ºC. A pluviosidade adequada situa-se entre 1900 mm e 2400 mm, com um mínimo tolerável em torno de 1300 mm de chuvas bem distribuídas ao longo do ano. Ocorre que o balanço hídrico climatológico de várias localidades dos Tabuleiros Costeiros, calculado para 100 mm de capacidade de armazenamento de água no solo, apresenta déficit hídrico durante os meses de setembro a março (SOUZA et al., 2000). Atualmente, face à limitação de área disponível e ao elevado preço das terras na faixa dos Tabuleiros Costeiros da Bahia, o cultivo dos citros tem-se expandido para a Região do Agreste, mais seca, a exemplo do

74


O EXPERIMENTO Em 22 de maio de 2008, o experimento foi instalado em um Argissolo Amarelo Coeso da Fazenda Lagoa do Coco, localizada no Município de Rio Real, Litoral Norte do Estado da Bahia, 182 m acima do nível do mar, pluviosidade média anual de 960 mm. Tal solo apresenta, ao longo do perfil, por horizonte e respectiva profundidade, os seguintes teores de areia, silte e argila (g kg-1) : A1, 0-0,7m, 780-70150 (franco-arenoso); A2, 0,7-0,12 cm, 740-20-240 (franco argiloarenoso); AB, 0,12-0,21 m, 720-90-190 (franco-arenoso); BA, 0,21-0,82 m, 660-30-310 (franco-argiloarenoso); Bt1, 0,82-1,24 m, 610-30-360 (argila arenosa); Bt2, 1,24-1,70+ m, 60030-370 (argila arenosa). O delineamento experimental é inteiramente aleatorizado no esquema de parcelas sub-subdivididas no espaço, com seis repetições. Nas parcelas constam dois sistemas de preparo do solo: aração a 0,25 m de profundidade e aração seguida de subsolagem nas linhas de plantio a 0-0,50 m de profundidade. Nas subparcelas constam dois sistemas de plantio: mudas e plantio e enxertia no local definitivo do pomar (nos dois casos, a semeadura foi feita no mesmo dia; ao completar um ano de idade, as mudas foram transplantadas do viveiro para o local definitivo). Nas sub-subparcelas constam cinco porta-enxertos: limoeiros ‘Cravo’ e ‘Volkameriano’, tangerineiras ‘Sunki Tropical’ e ‘Cleópatra’ e citrandarin ‘Índio’(ex

TSK x TRENG 256) enxertados com laranjeira ‘Pera’. A enxertia foi feita por enxertador experiente, habitual na Fazenda. A adubação e os tratos culturais foram realizados de acordo com as recomendações técnicas pertinentes. Em 23/08/2012, três anos e nove meses após a semeadura dos porta-enxertos no campo e nas bolsas plásticas, fez-se a avaliação do crescimento das plantas de acordo com Mota (2010): a altura foi medida do solo até o plano mediano entre o topo da planta e o meio da copa; o diâmetro da copa foi medido em duas posições: perpendicular às linhas de plantio e no sentido da linha de plantio, para o cálculo do diâmetro médio; a afinidade copa/porta-enxerto foi avaliada considerando-se a relação diâmetro do tronco do enxerto/ diâmetro do tronco do porta-enxerto (Dte/Dtpe), medidos com um paquímetro, a 10 centímetros acima e abaixo do ponto de enxertia (quanto mais próximo de um, maior a afinidade); o volume da copa foi calculado pela fórmula: V=2/3πr² h, onde r= raio médio da copa e h=altura da planta. O número e o peso dos frutos por hectare correspondem, respectivamente, ao número e peso total de frutos obtidos em cinco colheitas sucessivas a partir do surgimento dos primeiros frutos (25/08/2011, 30/11/2011, 01/03/2012, 14/06/2012 e 08/08/2012). No solo, foram feitas as seguintes avaliações físicas: umidade gravimétrica atual (EMBRAPA,1997) e resistência mecânica à penetração (STOLF et. al., 1983). Para os resultados de crescimento das plantas e de produtividade realizou-se a análise de variância. As médias referentes ao 75

preparo do solo e sistemas de plantio foram comparadas pelo teste de Tukey (P≤5%); para as médias dos porta-enxertos utilizou-se o teste de Scott-Knott (P≤5%). Nas análises estatísticas, utilizou-se o programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2009).

RESULTADOS A – AVALIAÇÃO FÍSICA DO SOLO Resistência mecânica do solo à penetração e umidade gravimétrica atual – Assumindo-se que para a maioria das culturas econômicas 2,0 MPa é o limite crítico de resistência mecânica do solo à penetração acima do qual o crescimento radicular é prejudicado (ARSHAD et al., 1996), percebe-se, na Figura 1A, que nas parcelas não subsoladas isso ocorreu a partir dos 0,18 metros de profundidade e nas parcelas subsoladas a partir de 0,38 metros, nas condições de umidade do solo mostradas na Figura 1 B. Significa dizer que a subsolagem melhorou a estrutura do solo no volume atingido pelas hastes subsoladoras, com prováveis benefícios nos fluxos de ar, água e nutrientes ao longo do perfil e, consequentemente, no crescimento das plantas e na produtividade do pomar.

B – CRESCIMENTO DAS PLANTAS Influência do porta-enxerto – Na Tabela 1 encontram-se os resultados do desdobramento porta-en-


A) RESISTÊNCIA MECÂNICA DO SOLO À PENETRAÇÃO (RP = MPa) AO LONGO DO PERFIL; B) UMIDADE GRAVIMÉTRICA ATUAL (Ug = kg kg -1) AO LONGO DO PERFIL DO SOLO (choveu no dia da amostragem do solo).

FIGURA 1

0

2

RP (MPa) 4

-1

6

8

0

0

0

0,08

0,08

0,16

0,16

0,24

0,24

0,32

0,32

0,40

0,40

0,48

0,48

0,56

0,56

0,64

xerto dentro de sistema de plantio e preparo do solo, relacionado com o crescimento das plantas. O teste de Scott-Knott (P≤5%) revelou que alguns indicadores de crescimento pertencem a grupos distintos: superior (a), intermediário (b) e inferior (c), a depender do sistema de plantio e do preparo do solo. Centrar-se-á a discussão no volume da copa (calculado a partir da altura da planta e diâmetro da copa) e na afinidade copa x porta-enxerto (quociente da divisão: diâmetro do tronco do enxerto/diâmetro do tronco do porta-enxerto). Analisando-se a influência do porta-enxerto no volume médio das copas, nota-se que não houve diferenças significavas entre os valores obtidos para as plantas originárias de mudas (M), nas áreas com e sem subsolagem. Entretanto, nas plantas originárias da semeadura do porta-enxerto

A

0,05

Ug (Kg Kg ) 0,10 0,15 0,20

0,25

LEGENDA

sem subsolagem

com subsolagem

0,64

B

no local definitivo (SLD) o volume médio da copa da laranjeira ‘Pera’ enxertada no citrandarin ‘Indio’ foi significativamente inferior ao das demais combinações genéticas, na área subsolada; na área não subsolada, o volume médio da copa da laranjeira ‘Pera’ enxertada nas tangerineiras ‘Sunki Tropical’ e ‘Cleópatra’ foi significativamente superior ao volume médio das copas das demais combinações genéticas. No caso da afinidade copa x porta-enxerto (última coluna da Tabela 1), houve influência do porta-enxerto apenas na combinação genética laranjeira ‘Pera’ x tangerineira ‘Sunki Tropical’, cujo valor é significativamente inferior ao das demais combinações genéticas, no sistema de “plantio direto” (SLD), com subsolagem. A menor afinidade copa x porta-enxerto foi a da laranjeira ‘Pera’ 76

Altura vertical Profundidade do solo em metros

enxertada em tangerineira ‘Sunki Tropical’, no sistema de “plantio direto” (SLD), com subsolagem; a maior afinidade foi a da laranjeira ‘Pera’ enxertada em tangerineira ‘Cleópatra’, no sistema de “plantio direto” (SLD), sem subsolagem. Influência do preparo do solo – A Tabela 2 mostra os resultados do desdobramento preparo do solo dentro de porta-enxerto e de sistema de plantio, relacionado com o crescimento das plantas. O teste de Tukey (P≤5%) revelou que o preparo do solo influenciou alguns indicadores de crescimento da laranjeira ‘Pera’, a depender da combinação copa x porta-enxerto, preparo do solo e sistema de plantio. No plantio de mudas (M), por exemplo, a subsolagem contribuiu para aumentar significativamente o volume da copa da laranjeira ‘Pera’ enxertada nos limoeiros ‘Cravo’ e ‘Volkameriano‘, na


RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE PORTA-ENXERTO DENTRO DE SISTEMA DE PLANTIO E DE PREPARO DO SOLO, RELACIONADO COM O CRESCIMENTO DAS PLANTAS1.

TABELA 1 Preparo do solo

Sistema de Plantio

M

COM SUB

SLD

M

Porta-enxerto

Altura da Diâmetro da Volume da planta (m) copa (m) copa (m3)

Diâmetro do tronco do enxerto (m)

Diâmetro do tronco p-enxerto (m)

Afinidade copa/p-enxerto (Dte/Dtpe)

L. Cravo

1,21 b

2,37 a

3,55 a

0,064 a

0,078 b

0,82 a

L. Volkameriano

1,18 b

2,39 a

3,56 a

0,074 a

0,093 a

0,79 a

T. Sunki Tropical

1,32 a

2,48 a

4,29 a

0,071 a

0,088 a

0,80 a

T. Cleópatra

1,12 c

2,36 a

3,32 a

0,060 a

0,080 b

0,74 a

C. ‘Índio’

1,07 c

2,50 a

3,56 a

0,062 a

0,089 a

0,70 a

L. Cravo

1,28 b

2,82 b

5,34 a

0,088 a

0,085 a

0,90 a

L. Volkameriano

1,43 a

2,81 b

5,95 a

0,087 a

0,102 a

0,84 a

T. Sunki Tropical

1,23 b

2,92 a

5,57 a

0,077 a

0,097 a

0,64 b

T. Cleópatra

1,32 b

3,01 a

6,28 a

0,086 a

0,095 a

0,91 a

C. ‘Índio’

1,22 b

2,64 b

4,52 b

0,081 a

0,092 a

0,87 a

L. Cravo

1,01 b

2,21 a

2,64 a

0,060 a

0,073 a

0,83 a

L. Volkameriano

1,00 b

2,22 a

2,58 a

0,061 a

0,077 a

0,78 a

T. Sunki Tropical

1,23 a

2,23 a

3,29 a

0,064 a

0,078 a

0,82 a

T. Cleópatra

1,15 a

2,32 a

3,29 a

0,059 a

0,074 a

0,79 a

C. ‘Índio’

1,00 b

2,20 a

2,55 a

0,060 a

0,083 a

0,72 a

SEM SUB

SLD

L. Cravo

1,15 c

2,43 a

3,67 b

0,072 a

0,082 a

0,88 a

L. Volkameriano

1,10 c

2,49 a

3,74 b

0,079 a

0,087 a

0,90 a

T. Sunki Tropical

1,21 b

2,60 a

4,35 a

0,077 a

0,093 a

0,82 a

T. Cleópatra

1,35 a

2,61 a

4,83 a

0,084 a

0,090 a

0,92 a

C. ‘Índio’

1,21 b

2,45 a

3,90 b

0,075 a

0,092 a

0,80 a

Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott (P≤5%). Fonte: Autor

Foto: Divulgação

1

77


TABELA 2 Sistema de Plantio

RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE PREPARO DO SOLO DENTRO DE PORTA-ENXERTO E DE SISTEMA DE PLANTIO, RELACIONADO COM O CRESCIMENTO DAS PLANTAS1

Porta-enxerto

L. Cravo L. Volkameriano M

T. Sunki Tropical T. Cleópatra C. ‘Índio’

L. Cravo L. Volkameriano SLD

T. Sunki Tropical T. Cleópatra C. ‘Índio’

Preparo do solo

Volume da copa (m3)

Diâmetro do tronco do enxerto (m)

Diâmetro do tronco p-enxerto (m)

Afinidade copa/ p-enxerto (Dte/Dtpe)

2,37 a

3,55 a

0,064 a

0,078 a

0,82 a

2,21 a

2,64 b

0,060 a

0,072 a

0,83 a

2,39 a

3,56 a

0,073 a

0,092 a

0,79 a

2,22 a

2,58 b

0,060 a

0,077 b

0,78 a 0,80 a

Altura da planta (m)

Diâmetro da copa (m)

Com sub

1,21 a

Sem sub

1,01 b

Com sub

1,18 a

Sem sub

1,00 b

Com sub

1,31 a

2,48 a

4,29 a

0,070 a

0,088 a

Sem sub

1,23 b

2,23 b

3,29 b

0,064 a

0,078 a

0,82 a

Com sub

1,11 a

2,36 a

3,32 a

0,060 a

0,080 a

0,74 a

Sem sub

1,15 a

2,32 a

3,29 a

0,059 a

0,074 a

0,79 a

Com sub

1,06 a

2,50 a

3,56 a

0,062 a

0,089 a

0,70 a

Sem sub

1,00 a

2,20 b

2,55 b

0,060 a

0,083 a

0,72 a

Com sub

1,28 a

2,82 a

5,34 a

0,088 a

0,085 a

0,90 a

Sem sub

1,15 b

2,43 b

3,67 b

0,072 a

0,082 a

0,88 a

Com sub

1,43 a

2,81 a

5,95 a

0,086 a

0,102 a

0,84 a

Sem sub

1,10 b

2,49 b

3,74 b

0,078 a

0,086 b

0,90 a

Com sub

1,23 a

2,92 a

5,57 a

0,077 a

0,096 a

0,64 a

Sem sub

1,21 a

2,60 b

4,35 b

0,076 a

0,093 a

0,82 a

Com sub

1,31 a

3,01 a

6,28 a

0,086 a

0,095 a

0,91 a

Sem sub

1,35 a

2,61 b

4,83 b

0,083 a

0,090 a

0,92 a

Com sub

1,21 a

2,65 a

4,52 a

0,081 a

0,092 a

0,87 a

Sem sub

1,21 a

2,45 b

3,90 a

0,074 a

0,092 a

0,80 a

Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P≤5%). Fonte: Autor 1

tangerineira ‘Sunki Tropical’ e no híbrido citrandarin ‘Índio’ – o que parece indicar maior sensibilidade dessas combinações genéticas ao adensamento do solo. Não houve influência do preparo do solo na afinidade copa x porta-enxerto, pois não há diferenças significativas entre os valores encontrados. Influência do sistema de plantio – A Tabela 3 mostra os resultados do desdobramento sistema de plantio dentro de porta-enxerto e preparo do solo, relacionado com o crescimento das plantas. Nota-se que, independentemente da combinação genética copa x porta-enxerto e do preparo do solo, o volume da copa (onde se

abrigam os frutos) das plantas originárias do “plantio direto” (SLD) é significativamente superior ao das plantas originárias de mudas (M). Quanto à afinidade copa x porta-enxerto, não houve diferenças significativas entre os resultados encontrados; entretanto, em valores absolutos, tal afinidade é maior nas plantas originárias do “plantio direto” (SLD). A Figura 2 ilustra o crescimento da laranjeira ‘Pera’ relacionado com porta-enxerto, preparo do solo e sistema de plantio. Percebe-se que as plantas (da mesma idade) originárias do “plantio direto” (PD, nas fotos) cresceram mais do que aquelas originárias de mudas (M), 78

independentemente do porta-enxerto e do preparo do solo. Na parte inferior direita da figura há um detalhe da subsolagem e da enxertia no local definitivo.

C – PRODUTIVIDADE Influência do porta-enxerto – Na Tabela 4 encontram-se os resultados do desdobramento porta-enxerto dentro de sistema de plantio e de preparo do solo, relacionado com a produtividade e com o peso médio dos frutos. O teste de Scott-Knott (P≤5%) revelou que algumas das combinações genéticas copa x porta-enxerto pertencem a grupos distintos: superior


FIGURA 2

PDSS

MSS

PDCS

PDSS

MCS

MSS

L. ‘Pera’ em L. ‘Cravo’

PDSS

MSS

MSS

MCS L. ‘Pera’ em L. ‘Volkameriano’

PDCS

PDSS

MCS

MSS

L. ‘Pera’ em T. ‘Sunki Tropical’

PDSS

PDCS

PDCS

MCS L. ‘Pera’ em T. ‘Cleópatra’

PDCS

MCS L. ‘Pera’ em citrandarin ‘Índio’

Subsolagem e enxertia in loco

Crescimento da laranjeira ‘Pera’ relacionado com: porta-enxerto, sistema de plantio e preparo do solo. Para cada combinação copa x porta-enxerto tem-se: plantas da parte superior, “plantio direto”; plantas da parte inferior, plantio de mudas; as da esquerda, sem subsolagem; as da direita, com subsolagem. Idade das plantas: três anos e nove meses. No canto inferior direito, detalhe da subsolagem e enxertia no local definitivo. 79


TABELA 3 Preparo do solo

RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE SISTEMA DE PLANTIO DENTRO DE PORTA-ENXERTO E DE PREPARO DO SOLO, RELACIONADO COM O CRESCIMENTO DAS PLANTAS1

Porta-enxerto

L. Cravo L. Volkameriano COM SUB

T. Sunki Tropical T. Cleópatra C. ‘Índio’

L. Cravo L. Volkameriano SEM SUB

T. Sunki Tropical T. Cleópatra C. ‘Índio’

Sistema de Plantio

Altura da planta (m)

Diâmetro da copa (m)

Volume da copa (m3)

Diâmetro do tronco do enxerto (m)

Diâmetro do tronco p-enxerto (m)

Afinidade copa/ p-enxerto (Dte/Dtpe)

M

1,21 a

2,37 b

3,55 b

0,064 b

0,078 a

0,82 a

SLD

1,28 a

2,82 a

5,34 a

0,088 a

0,085 a

0,90 a

M

1,18 b

2,39 b

3,56 b

0,073 a

0,092 a

0,79 a

SLD

1,43 a

2,81 a

5,95 a

0,086 a

0,102 a

0,84 a

M

1,31 a

2,48 b

4,29 b

0,070 a

0,088 a

0,64 a

SLD

1,23 b

2,92 a

5,57 a

0,077 a

0,096 a

0,80 a

M

1,11 b

2,36 b

3,32 b

0,060 b

0,080 b

0,74 a

SLD

1,31 a

3,01 a

6,28 a

0,086 a

0,095 a

0,91 a

M

1,06 b

2,50 a

3,56 b

0,062 b

0,089 a

0,70 a

SLD

1,21 a

2,64 a

4,52 a

0,081 a

0,092 a

0,87 a

M

1,01 b

2,21 b

2,64 b

0,060 a

0,072 a

0,83 a

SLD

1,15 a

2,43 a

3,67 a

0,072 a

0,082 a

0,88 a

M

1,00 b

2,22 b

1,72 b

0,060 b

0,077 a

0,78 a

SLD

1,10 a

2,49 a

3,36 a

0,078 a

0,086 a

0,90 a

M

1,23 a

1,55 b

3,29 b

0,064 a

0,078 b

0,82 a

SLD

1,21 a

2,16 a

4,35 a

0,076 a

0,093 a

0,82 a

M

1,15 b

2,23 b

3,29 b

0,059 b

0,074 b

0,79 a

SLD

1,35 a

2,60 a

4,83 a

0,083 a

0,090 a

0,92 a

M

1,00 b

2,20 b

2,55 b

0,060 a

0,083 a

0,72 a

SLD

1,21 a

2,45 a

3,90 a

0,074 a

0,092 a

0,80 a

Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P≤5%). Fonte: Autor 1

(a), intermediário (b) e inferior (c), a depender do sistema de plantio e do preparo do solo. Nos pomares originários do plantio de mudas (M), independentemente do preparo do solo, o número e o peso dos frutos por hectare foram significativamente superiores na laranjeira ‘Pera’ enxertada nos limoeiros ‘Cravo’ e ‘Volkameriano’ e no híbrido citrandarin ‘Indio’, comparado com as demais combinações genéticas. Independentemente do preparo do solo, nos pomares originários do “plantio direto” (SLD), o número e o peso dos frutos por hectare foram significativamente superiores na combinação genética laranjeira ‘Pera’ enxertada no

limoeiro ‘Volkameriano’ e significativamente inferiores na combinação genética laranjeira ‘Pera’ enxertada na tangerineira ‘Cleópatra – respectivamente, as combinações mais precoce e mais tardia. Não houve influência do porta-enxerto no peso médio dos frutos, pois não há diferenças significativas entre os valores obtidos. Influência do preparo do solo – Na Tabela 5 encontram-se os resultados do desdobramento preparo do solo dentro de porta-enxerto e de sistema de plantio relacionado com a produtividade e com o peso médio dos frutos. O teste de Tukey (P≤5%) revelou 80

que a influência do preparo do solo na produtividade depende da combinação copa x porta-enxerto e do sistema de plantio. Nas plantas originárias de mudas (M), independentemente da combinação genética copa x porta-enxerto, não houve influência do preparo do solo no número e no peso de frutos por hectare, nem no peso médio dos frutos, pois não há diferenças significativas entre os valores obtidos. Entretanto, nas plantas originárias do “plantio direto” (SLD), a subsolagem contribuiu para aumentar significativamente o número e o peso de frutos por hectare da laranjeira ‘Pera’ enxertada nos limo-


RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE PORTA-ENXERTO DENTRO DE SISTEMA DE PLANTIO E DE PREPARO DO SOLO, RELACIONADO COM A PRODUTIVIDADE E COM O PESO MÉDIO DOS FRUTOS1

TABELA 4 Preparo do solo

Sistema de Plantio

M

Porta-enxerto

Nº de frutos por hectare

Peso de frutos (kg ha-1)

Peso médio dos frutos (kg)

L. Cravo

60.833 a

11.747 a

0,19 a

L. Volkameriano

55.486 a

10.926 a

0,20 a

T. Sunki Tropical

15.486 b

2.852 b

0,18 a

T. Cleópatra

9.097 b

1.751 b

0,19 a

C. ‘Índio’

62.847 a

11.290 a

0,18 a

COM SUB

SLD

M

L. Cravo

104.722 b

22.288 b

0,21 a

L. Volkameriano

140.069 a

27.616 a

0,20 a

T. Sunki Tropical

85.972 b

17.298 c

0,21 a

T. Cleópatra

63.125 c

11.570 c

0,18 a

C. ‘Índio’

83.750 b

16.092 c

0,19 a

L. Cravo

57.847 a

11.851 a

0,20 a

L. Volkameriano

54.166 a

11.328 a

0,21 a

T. Sunki Tropical

22.986 b

4.649 b

0,20 a

T. Cleópatra

2.500 b

410 b

0,16 a

C. ‘Índio’

43.263 a

7.932 a

0,18 a

L. Cravo

78.541 b

15.981 a

0,20 a

SEM SUB

SLD

L. Volkameriano

105.277 a

20.019 a

0,19 a

T. Sunki Tropical

67.500 b

13.714 b

0,20 a

T. Cleópatra

42.361 c

7.446 c

0,18 a

C. ‘Índio’

64.930 b

11.722 b

0,18 a

1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas pertencem ao mesmo grupo, pelo teste de Scott-Knott (P≤5%); Fonte: Autor

eiros ‘Cravo’ e ‘Volkameriano’, indicando que essas combinações genéticas são mais sensíveis ao adensamento do solo. Independentemente do sistema de plantio e da combinação genética copa x porta-enxerto, a subsolagem não contribuiu para aumentar significativamente o peso médio dos frutos Influência do sistema de plantio – A Tabela 6 mostra os resultados do desdobramento sistema de plantio dentro de porta-enxerto e de preparo do solo, relacionado com a produtividade e com o peso médio dos frutos. Independentemente da combinação copa x porta-

-enxerto e do preparo do solo, em valores absolutos a produtividade dos pomares resultantes do “plantio direto” é inquestionavelmente maior do que a dos pomares resultantes do plantio de mudas – isso indica que tais pomares são mais vigorosos, precoces, produtivos e, possivelmente, mais longevos e sustentáveis do que os pomares resultantes do plantio de mudas. Independentemente do preparo do solo, o número e o peso de frutos por hectare foi significativamente maior nos pomares de laranjeira ’Pera’ enxertada no limoeiro ‘Volkameriano’ e nas tangerineiras ‘Sunki Tropi81

cal’ e ‘Cleópatra’. Independentemente da combinação genética copa x porta-enxerto e do preparo do solo, o sistema de plantio não influenciou o peso médio dos frutos, pois não há diferenças significativas entre os valores obtidos. Tais resultados mostram que o “plantio direto” dos citros (semeadura ou plantio do porta-enxerto no local definitivo) é uma realidade! Estima-se que cerca de mil hectares de citros já foram implantados na Bahia utilizando-se esse sistema de plantio. Comparado com o plantio de mudas, o “plantio direto” do citros resultou


TABELA 5

RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE PREPARO DO SOLO DENTRO DE PORTA-ENXERTO E DE SISTEMA DE PLANTIO, RELACIONADO COM A PRODUTIVIDADE E COM O PESO MÉDIO DOS FRUTOS1

Sistema de Plantio

Porta-enxerto L. Cravo L. Volkameriano

M

T. Sunki Tropical T. Cleópatra C. ‘Índio’

L. Cravo L. Volkameriano SLD

T. Sunki Tropical T. Cleópatra C. ‘Índio’

Preparo do solo

Nºde frutos/ha

Peso de frutos (kg ha-1)

Peso médio do fruto (kg)

Com sub

60.833 a 57.847 a 55.486 a 54.166 a 15.486 a 22.986 a 9.097 a 2.500 a 62.847 a 43.263 a

11.747 a 11.851 a 10.926 a 11.328 a 2.852 a 4.649 a 1.751 a 410 a 11.290 a 7.932 a

0,20 a 0,19 a 0,20 a 0,21 a 0,18 a 0,20 a 0,19 a 0,16 a 0,18 a 0,26 a

104.722 a 7 8.541 b 140.069 a 105.277 b 85.972 a 67.500 a 63.125 a 42.361 a 83.750 a 64.930 a

22.288 a 15.981 b 27.616 a 20.019 b 17.298 a 13.714 a 11.570 a 7.446 a 16.092 a 11.722 a

0,21 a 0,20 a 0,20 a 0,19 a 0,20 a 0,20 a 0,18 a 0,18 a 0,19 a 0,18 a

Sem sub Com sub Sem sub Com sub Sem sub Com sub Sem sub Com sub Sem sub Com sub Sem sub Com sub Sem sub Com sub Sem sub Com sub Sem sub Com sub Sem sub

1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P≤5%). Fonte: Autor

vantajosamente nos seguintes benefícios fitotécnicos, econômicos e ambientais: a) maior vigor, precocidade, produtividade e, possivelmente, maior longevidade e sustentabilidade do pomar, devido à melhor e mais rápida adaptação das plantas às condições ambientais. Em ordem decrescente de produtividade (peso de frutos por hectare) relacionada com o sistema de plantio, preparo do solo e porta-enxerto, tem-se: Plantio de mudas, sem subsolagem: L. ‘Pera’ x L. ‘Cravo’ (11.851 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x L.

‘Volkameriano’ (11.328 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x C. ‘Índio’ (7.932 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x T.’Sunki Tropical (4.649 kg ha-1) ‘Pera’ x T. ‘Cleópatra’ (410 kg ha-1); “Plantio direto”, sem subsolagem: L. ‘Pera’ x L. ‘Volkameriano’ (20.019 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x L. ‘Cravo’ (15.981 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x T. ‘Sunki Tropical’ (13.714 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x C. ‘Índio’ (11.722 kg ha-1) > L.‘Pera’ x T. ‘Cleópatra’ (7.446 kg ha-1); Plantio de mudas, com subsolagem: L. ‘Pera’ x L. ‘Cravo’ (11.747 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x C. ‘Índio’ (11.290 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x L. ‘Volkameriano’ (10.926 kg ha-1) > 82

L. ‘Pera’ x T.’Sunki Tropical (2.852 kg ha-1) > L. Pera’ x L. ‘Cleópatra’ (1.751 kg ha-1); “Plantio direto”, com subsolagem: L. ‘Pera’ x L. ‘Volkameriano’ (27.616 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x L. ‘Cravo’ (22.288 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x T. ‘Sunki Tropical’ (17.298 kg ha1 ) > L. ‘Pera’ x C. ‘Índio’ (16.092 kg ha-1) > L.‘Pera’ x T. ‘Cleópatra’ (11.570 kg ha-1). b) algumas combinações genéticas copa x porta-enxerto mostraram-se intolerantes e outras tolerantes ao adensamento do solo – para as tolerantes é dispensável a prática da subsolagem para di-


minuir a resistência do solo à penetração radicular, o que implica menor custo de produção e, consequentemente, em maior benefício para o citricultor.

c) é um sistema de produção agrícola mais econômico do que o plantio convencional, principalmente porque dispensa a compra de mudas. Os itens diferenciais dos custos de im-

plantação de um hectare de citros (espaçamento das plantas, 6,0 m x 4,0 m) para os dois sistemas de plantio são os seguintes (valores em novembro de 2012): R$

R$ Total

Mudas (+ 10%)

Un.

Plantio de mudas 459

2,50

1.147,50

Abertura de covas

H/D

3

35,00

105,00

Plantio

H/D

2

35,00

70,00

Transporte mudas

H/tr

1

45,00

Total

45,00 1.367,50

“Plantio direto”

R$

R$ Total

Sementes

kg

0,6

100,00

60,00

Marcação de covas

H/D

1,5

35,00

52,50

Semeadura

H/D

0,4

35,00

14,00

Enxertia

H/D

2,0

40,00

80,00

Repasse enxertia

H/D

0,4

40,00

16,00

Total

222,50

TABELA 6 Preparo do solo

RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE SISTEMA DE PLANTIO DENTRO DE PORTA-ENXERTO E DE PREPARO DO SOLO, RELACIONADO COM O CRESCIMENTO DAS PLANTAS1 Porta-enxerto L. Cravo L. Volkameriano

COM SUB

T. Sunki Tropical T. Cleópatra C. ‘Índio’

L. Cravo L. Volkameriano SEM SUB

T. Sunki Tropical T. Cleópatra C. ‘Índio’

Sistema de Plantio

Nº de frutos/ha

Peso de frutos (kg ha-1)

Peso médio dos frutos (kg)

M

60.833 b

11.747 b

SLD

104.722 a

22.288 a

0,21 a

M

55.486 b

10.926 b

0,20 a

SLD

140.069 a

27.616 a

0,20 a

M

15.486 b

2.852 b

0,18 a

SLD

85.972 a

17.298 a

0,20 a

0,19 a

M

9.097 b

1.751 b

0,19 a

SLD

63.125 a

11.570 a

0,18 a

M

62.847 a

11.290 a

0,18 a

SLD

83.750 a

16.092 a

0,19 a

M

57.847 a

11.851 a

0,20 a

SLD

78.541 a

15.981 a

0,20 a

M

54.166 b

11.328 b

0,21 a

SLD

105.277 a

20.019 a

0,19 a

M

22.986 b

4.649 b

0,20 a

SLD

67.500 a

13.714 a

0,20 a 0,16 a

M

2.500 b

410 b

SLD

42.361 a

7.446 a

0,18 a

M

43.263 a

7.932 a

0,18 a

SLD

64.930 a

11.722 a

0,18 a

Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P≤5%). Fonte: Autor

1

83


CONSIDERAÇÕES FINAIS A comprovada superioridade do “plantio direto” dos citros, comparado com o plantio de mudas, deve-se ao seguinte fato: a formação e o manejo das mudas em viveiros, particularmente em viveiros telados, é uma simplificação grosseira do sistema natural de produção agrícola solo-planta-clima. Nesses viveiros, substitui-se o solo natural por uma bolsa plástica impermeável e intransponível contendo um volume de substrato artificial, fofo, na qual as raízes ficam confinadas, enoveladas e impedidas de expandirem-se. Além disso, o clima natural é substituído pelo clima artificial do viveiro no qual as plantas são submetidas a fertirrigações diárias e, por isso, não sofrem estresses hídricos nem de nutrição como sói acontecer no ambiente natural. Ao deixarem essa hospedaria, limpas, porém não imunes às pragas,

as plantas passarão a enfrentar os rigores do meio natural – inclusive ataque de pragas, pois agora estão fora do viveiro – geralmente sem a devida aclimatação, resultando em pomares menos vigorosos, com desenvolvimento prejudicado – fato que tem sido relatado por citricultores baianos e sergipanos. Para evitar estresses das plantas decorrentes do confinamento, enovelamento e corte das raízes a solução economicamente viável é o plantio do porta-enxerto no local definitivo e posterior enxertia in loco. A semeadura do porta-enxerto poderá ser feita de duas maneiras: diretamente na cova de plantio ou em bolsas plásticas, nos viveiros. Neste caso, o tempo de permanência do porta-enxerto na bolsa não deverá ultrapassar o momento em que sua raiz pivotante atingir o fundo do recipiente, sem enovelar. Em ambos os casos, torna-se obrigatório a utilização de sementes e borbulhas certificadas, assim como

o controle de pragas do plantio.

a partir

O Ministério da Agricultura estabeleceu, por meio de regulamentação, que as mudas produzidas para fins comerciais têm que ser formadas obrigatoriamente em ambientes protegidos (viveiros telados) a fim de se garantir ao usuário plantas livres de pragas; entretanto, segundo essa mesma regulamentação, o produtor rural que desejar poderá instalar em sua propriedade pomares originários de plantas formadas no próprio local (plantio direto). Trata-se aqui de plantas para uso próprio e não para venda. Com essa enfática defesa do “plantio direto” dos citros não se pretende negar a importância econômica e social da produção de mudas como parte do agronegócio citros. O “plantio direto” dos citros surge como mais uma opção técnica disponível, viável e compensatória para o citricultor.

EQUIPE TÉCNICA, INSTITUIÇÕES E ÁREAS DE CONHECIMENTO zz UFRB – Pesquisadores: Carlos Humberto Calfa (solos, colaborador), João Albany Costa (Estatística), Joelito de Oliveira Rezende (Solos), Luciano da Silva Souza (Solos), Manoel Teixeira de Castro Neto (Fisiologia Vegetal), Oldair Vinhas Costa (Solos) zz UFRB – Alunos estagiários: Ana Paula Soares Rodrigues, Carine Andrade Teixeira, Erivaldo de Jesus da Silva, Fábio Farias Amorim, Geocássia de Oliveira Santana, Gleidson Oliveira dos Santos, Itamar de Souza Oliveira, Jefferson de Souza Santos, Lívia Fernanda Lavrador Toniasso, Maiara Dresselin Coelho, Patrícia Lima de Souza Santos, Pedro Henrique Falcão de Oliveira, Phylipe Veiga de Macedo, Plácido Ulisses Souza, Reizandra Pereira Barbosa, Rivani Oliveira Ferreira, Rodrigo C. de Carvalho, Sandielle Araujo Vilas Boas, Sara de Jesus Duarte, Zuleide Silva de Carvalho. zz Fazenda Lagoa do Coco: Roberto Toyohiro Shibata (Fitotecnia, fruticultura) zz Universidade de Valência, Espanha: Juan Sánchez Díaz (Edafologia) zz Embrapa Mandioca e Fruticultura: Carlos Alberto da Silva Ledo (Estatística), Hermes Peixoto Santos Filho (Fitopatologia), Walter dos Santos Soares Filho (Melhoramento Genético) zz EBDA – Transferência de tecnologia: Antônio Carlos Oliveira, Antônio César Barreto Borges, Antônio José de Almeida, Geraldo Almeida Souza, José Leoni Santos, Manoel Soares dos Reis Filho, Nereu Pereira Dumonte, Nilton Antônio Caldas Pereira. 84


AGRADECIMENTO À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pelo inestimável apoio financeiro; ao Engenheiro Agrônomo Roberto Toyohiro Shibata e familiares – proprietários da Fazenda Lagoa do Coco, parceiros na pesquisa e pioneiro exitoso no uso do “plantio direto” dos citros – pelo carinho com que tratam estudantes e pesquisadores e por fazerem dessa Fazenda uma extensão das demais instituições parceiras.

Referências ARSHAD, M. A.; LOWERY, B.; GROSSMAN, B. Physical tests for monitoring soil quality. In: DORAN, J.W.; JONES, A.J. (Ed.). Methods for assessing soil quality. Madison: Soil Science Society of America, 1996. p.123-41. (SSSA Special Publication 49). BALDASSARI, R. B.; GOES, A.; TANNURI, F. Declínio dos citros: algo a ver com o sistema de produção de mudas? Rev. Bras. Frut., Jaboticabal-SP, v. 25, n. 2, p.357-60, ago. 2003. CASTLE, W. S. et al. Rootstock selection: the first step to success. Gainsville: Institute Food and Agriculture Sciences/University of Florida, 1989. 47p. CINTRA, F. L. D. Disponibilidade de água no solo para porta-enxertos de citros em ecossistema de Tabuleiro Costeiro. Piracicaba, 1997, 89p. Tese de Doutorado em Física do Solo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1997. COELHO, Y. da S. Tangerina para exportação: aspectos técnicos da produção. Brasília: Embrapa-SPI, 1996. 42p. (Série Publicações Técnicas FRUPEX, 24). CUTTER, E. G. Anatomia vegetal. Tradução de Gabriela Vera Maria Caruso Catena. 2. ed. São Paulo: Rocca, 1986. 304 p. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solo. Manual de métodos de análise de solo. 2.ed. Rio de Janeiro: 1997. 212p. FERREIRA, D.F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0. In: REUNIÃO ANUAL DA REGIÃO BRASILEIRA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE BIOMETRIA, 45., São Carlos, 2000. Anais… São Carlos: UFSCar, 2000. p.255-8. HAYNES, J. L. Uso agrícola dos tabuleiros costeiros do Nordeste do Brasil: um exame das pesquisas. Recife: SUDENE, 1970. 739p. JONES,W. W. ; EMBLETON, T. W. Soils, soil management, and cover crop. In: REUTHER, W. The citrus industry. Berkeley: University of California. 1973. v. 3, p.98-121. LANÇAS, P. K. Subsolagem ou escarificação. Cultivar Máquinas, ano II, n.14, p.38-42, 2002. MOREIRA, S. Cavalos para citros em são Paulo. Laranja, Cordeirópolis, v. 16, n.2, p. 213-33, 1995. MOTA, T. B. N. Avaliação de porta-enxertos para limeira ácida ‘Tahiti’ CNPMF 2001. Cruz das Almas-BA: UFRB, 2010. 33 p. NOGUEIRA, D. J. P. Os porta-enxertos na fruticultura. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.9, n.101, p.23-41, 1983. OLIVEIRA, L. B. O estudo físico do solo e a aplicação racional de técnicas conservacionistas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Rio de Janeiro, v.2, p 281-285, 1967. OLIVEIRA, J. B. de Solos para citros. In: RODRIGUEZ, O. et al (Ed.). Citricultura Brasileira, Campinas, SP: Fundação Cargil, 1991. v.1, p. 196-207. POMPEU JUNIOR, J.; AMARO, A. A. Citricultura brasileira. 2. ed. Campinas: Fundação Cargill, 1991. v.1, p.265-280. PACE, C. A. M.; ARAUJO, C. M. Estudo da distribuição do sistema radicular de porta-enxertos cítricos em solos podzólicos e sua relação com a formação das copas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 8, Brasília, DF, 1986. Anais... Brasília, DF: Embrapa – DDT/CNPq, 1986. p.199–205. REZENDE, J. de O. Solos coesos dos tabuleiros costeiros: limitações agrícolas e manejo. Salvador: SEAGRI/SPA, 2000. 117 p. (Série Estudos Agrícolas, 1) REZENDE, J. de O. et al. Citricultura nos solos coesos dos tabuleiros costeiros: análise e sugestões. Salvador, SEAGRI/SPA, 2002. 97p SOUZA, L. da S. et al. Perspectiva do uso dos solos dos Tabuleiros Costeiros. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA, 13.,Ilhéus. 2000. Anais... Ilhéus: SBCS, 2000. 57 p. STOLF, R.; FERNANDES, J.; FURLANI NETO V. L. Penetrômetro de impacto IAA/PLANALSUCAR/STOLF: recomendações para seu uso. Piracicaba, STABB, 1983. p. 18-23.

85


Características físicas e físico-químicas de frutos de palma forrageira Jorge de Almeida1

1 – Engenheiro Agronomo D.Sc. EBDA; e-mail: jorge.almeida1@ebda.ba.gov.br

A

palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) Mill.) é uma cactácea cultivada em zonas áridas e semiáridas para a produção de forragem para o gado, frutos e verdura para o consumo humano, preservação do solo, biomassa para fins energéticos, cochonilha para a produção de carmim e inúmeros subprodutos como queijo vegetariano, remédios, cosméticos e bebidas. No Brasil, e mais particularmente a Região Nordeste, concentra uma área de palma estimada em 500 mil hectares, sendo a mesma cultivada exclusivamente como forragem para alimentação do gado durante o período de estiagem (LOPES, 2007), onde os 86

frutos produzidos nesta área, conhecidos como Fruto de Palma e Figo da Índia, são muito apreciados pela população, encontrados nas feiras e mercados na época da colheita. Apesar da apreciação e valorização restritas predominantemente a determinados grupos populacionais e de determinadas regiões, pela adaptação da planta às condições climáticas das regiões semiáridas do Nordeste do Brasil, o Figo da Índia tem potencialidades e possibilidades de vir a ser uma alternativa para a diversificação agrícola desta região, gerando uma fonte adicional de renda

Foto: Manuela Cavadas

PESQUISA AGRÍCOLA


MATERIAL E MÉTODOS Os frutos utilizados neste trabalho foram coletados em palmais de Opuntia ficus-indica (L.) Mill. cv. Gigante e cv. Redonda com mais de dois anos de idade, em

imóveis de pequenos produtores rurais no município de Uauá, Bahia, com tipo climático semiárido. Os frutos foram colhidos ao acaso, no estágio de maturação da casca passando da cor verde para verde amarelada. Posteriormente foram separados em cinco lotes de 15 frutos, totalizando 75 por cultivar, os quais foram acondicionados em caixa de isopor e conduzidos ao Laboratório de Tecnologia de Alimentos da UFRB em Cruz das Almas, Bahia, para a realização das análises físicas e físico-químicas. Foram avaliadas as seguintes característica físicas: peso, comprimento, diâmetro, percentagens de casca, sementes e polpa. A polpa foi analisada quanto às seguintes características físico-

-químicas: pH, acidez total titulável em ácido cítrico (ATT), sólidos solúveis totais (oBrix), vitamina C, açúcar total e rendimento industrial (calculado pelo produto da percentagem de polpa e o valor dos sólidos solúveis totais medidos em ºBrix). O pH foi determinado pelo método potenciométrico e o teor de sólidos solúveis totais (SST) com uso de refratômetro manual. Os métodos analíticos empregados foram os preconizados pela AOAC (Association of Official Analytical Chemists). O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com dois tratamentos (duas cultivares), cinco repetição (cinco lotes de 15 frutos) e os dados obtidos submetidos à análise de variância pelo teste F.

Fotos: Acervo Autor

para os agricultores (LEDERMAN, 2005). Dessa forma, a realização e divulgação de estudos poderão servir para pesquisas futuras e estímulo à produção e consumo, ainda incipiente em nosso país. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo a avaliação das características físicas e físico-químicas do Figo da Índia oriundos de município da região semiárida do Estado da Bahia.

87


RESULTADOS E DISCUSSÃO Valores dos componentes físicos são apresentados na Tabela 1. Não houve diferença estatística (P>0,05) para as características dos frutos das cultivares avaliadas. O valor médio obtido quanto ao peso dos frutos (147,33 g) é superior ao encontrado por Silva Júnior et al. (2007) de 113,29 g. O comprimento e o diâmetro são índices físicos de grande utilidade para produtos destinados ao consumo in natura e para o processamento, como por exemplo padronização do tamanho, regulagem de máquinas e confecção de embalagem. A média do comprimento (9,02 cm) está próxima da encontrada por Oliveira et al. (1992) de 8,46 cm e o diâmetro (5,99 cm) encontra-se dentro dos valores obtidos por Canuto et al. (2006) de 4

TABELA 1 Cultivar

a 6 cm. O percentual da casca em relação ao fruto (42,61%) é inferior ao obtido por Oliveira et al. (1992) de 45,40%. A percentagem de semente relaciona-se ao rendimento e também com a qualidade do produto. O percentual em relação ao fruto (15,62%) é superior ao encontrado por Oliveira et al. (1992) de 4,46%. O rendimento da polpa (41,77%) é inferior ao encontrado por Oliveira et al. (1992) de 61,50%. Este se constitui em um parâmetro muito importante para avaliação de frutos destinados ao processamento industrial (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Na Tabela 2 são apresentados os valores dos componentes físico-químicos e o rendimento industrial. Da mesma forma que os componentes físicos, não houve diferença estatística entre as características dos frutos das cultivares avaliadas. O pH médio encontrado de 6,21 indica um fruto pouco ácido

(pH acima de 4,5), segundo a classificação de Baruffaldi e Oliveira (1998). A acidez total titulável (ATT) é um dos critérios utilizados para a classificação da fruta através do sabor, onde o percentual encontrado (0,08%) é superior a encontrada por Silva Júnior et al. (2007) de 0,056%. Quanto aos sólidos solúveis totais (SST), a média obtida de 12,46% é superior à encontrada por Silva Júnior et al. (2007) de 11%. Altos teores são importantes tanto para o consumo da fruta ao natural quanto para a indústria, pois proporcionam melhor sabor e maior rendimento na elaboração dos produtos (SACRAMENTO et al., 2007). Para a variável vitamina C, a média obtida (15,46 mg 100g-1) está dentro dos valores citados por Lederman (2005) de 4,6 – 41mg 100g-1. Assim, considerando os teores obtidos, os frutos de palma forrageira se constituem em uma fonte razoável desta vitamina. Para açúcar total a média encontra-

PESO, COMPRIMENTO, DIÂMETRO, PERCENTAGEM DE CASCA, SEMENTE E POLPA DE FRUTOS DE PALMA FORRAGEIRA CV. GIGANTE E REDONDA ORIUNDOS DO MUNICÍPIO DE UAUÁ, BAHIA Peso (g)

Comprimento (cm)

Diâmetro (cm)

Casca (%)

Semente (%)

Polpa (%)

Gigante

156,11

9,36

5,98

43,28

14,32

42,40

Redonda Média CV (%)

138,55 147,33 12,30

8,68 9,02 14,63

6,00 5,99 6,72

41,94 42,61 13,10

16,93 15,62 14,25

41,13 41,77 10,45

Fonte: Autor/Pesquisa

TABELA 2 Cultivar

Gigante Redonda Média CV (%)

PH, ACIDEZ TOTAL TITULÁVEL, SÓLIDOS SOLÚVEIS TOTAIS, VITAMINA C, AÇÚCAR TOTAL E RENDIMENTO INDUSTRIAL DE FRUTOS DE PALMA FORRAGEIRA CV. GIGANTE E REDONDA ORIUNDOS DO MUNICÍPIO DE UAUÁ, BAHIA PH

6,20 6,22 6,21 0,46

Acidez Titulável (%)

0,080 0,081 0,080 9,44

Sólidos solúveis totais (oBrix)

Vitamina C (mg/100g)

Açúcar total (%)

Rendimento industrial

12,60 12,31 12,46 1,65

16,91 14,02 15,46 8,40

10,16 9,24 9,70 2,26

5,33 5,01 5,17 7,18

Fonte: Autor/Pesquisa 88


Fotos: Acervo Autor

da (9,7%) está dentro dos valores citados por Lederman (2005) de 10-17%. O rendimento industrial ou índice tecnológico é um indicador de qualidade utilizado. A média encontrada (5,17%) está próxima da obtida por Silva Júnior et al. (2007) de 5,07% e inferior à de Oliveira et al. (1992) com 7,38%. Segundo Sacramento et al. (2007), na agroindústria os frutos que apresentam os maiores índices de rendimento industrial são os mais desejáveis, por proporcionarem maior possibilidade de concentração de sólidos solúveis.

CONCLUSÕES Os frutos de palma forrageira Opuntia ficus-indica (L.) Mill. cv. Gigante e cv. Redonda apresentam semelhanças quanto às características físicas e químicas, sendo adequados para o consumo in natura e para o processamento industrial.

AGRADECIMENTOS Aos produtores rurais José Antônio Gomes da Silva, José Carlos Gomes da Silva e Pedro Celso Gonçalves Ribeiro pela contribuição na obtenção dos frutos para realização do presente trabalho.

Referências BARUFFALDI, R.; OLIVEIRA, M. N. Fundamentos de tecnologia de alimentos. São Paulo: Ateneu, 1998. 316p. CANUTO, T. M. A. P. et al. Caracterização do fruto da palma (Opuntia ficus-indica Mill.) In. CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, 46., 2006, Salvador. Anais...Salvador: 2006. CD-ROM . CHITARRA, M. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2.ed. Lavras: UFLA, 2005. 785p. LEDERMAN, I. Produção de frutos de palma. In. MENEZES, R. S. C.; SIMÕES, D. A.; SAMPAIO, E. V. S. B. (Eds.). A palma no Nordeste do Brasil: conhecimento atual e novas perspectivas de uso. 2.ed. Recife: UFPE, 2005. p.177-197. LOPES, E. B.; SANTOS, D. C.; VASCONCELOS, M. F. Cultivo da palma forrageira In: LOPES, E. B. (Ed.). Palma forrageira: cultivo, uso atual e perspectivas de utilização no semiárido nordestino. Paraíba: EMEPA/FAEPA, 2007. p.11-33. OLIVEIRA, M. R. T. et al. Caracterização física e físico-química de frutos de palma (Opuntia monacatha, HOW.) e mandacaru (Cereus peruvianus, MILL). Agropecuária Técnica, v.13, n.1/2, p.49-53, 1992. SACRAMENTO, C. K. et al. Características físicas, físico-químicas e químicas de cajás oriundos de diversos municípios da região sul da Bahia. Rev. Magistra, Cruz das Almas – BA, v.19, n.4, p.283-9, out./dez. 2007. SILVA JÚNIOR, J. J. et al. Caracterização física e físico-química de figo-da-índia (Opuntia ficus-indica Mill) oriundos do município de Ourolândia-BA. In. SIMPÓSIO BAIANO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 1, 2007, Cruz das Almas – BA. Anais... Cruz das Almas-BA, 2007. CD-ROM.

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Foto: Heckel Junior

Flutuação populacional de D. citri em pomares de citros no município de Rio Real, Bahia1 Este artigo faz parte da dissertação apresentada no curso de Mestrado Profissional em Defesa Agropecuária da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

1

A cultura dos citros é uma das que apresenta maior número de pragas. Entretanto, poucas são as que podem ser classificadas, de fato, como importantes para a cultura (GRAVENA, 1984). Dentre estas pragas, Diaphorina citri Kuwayama, 1908, se destaca por ser vetor da bactéria causadora da doença denominada huanglongbing (HLB), possuindo ampla distribuição geográfica, podendo causar prejuízos às plantas cítricas (YAMAMOTO et al., 2001). José Mário Carvalhal de Oliveira2 Antonio Souza do Nascimento3 Sílvia Helena Galvão de Miranda4 Cristiane de Jesus Barbosa5 Francisco Ferraz Laranjeira6 2 – Mestre em Defesa Agropecuária/UFRB. Cruz das Almas/BA. Fiscal Estadual Agropecuário (ADAB); e-mail: jose.carvalhal@adab.ba.gov.br 3 – Doutor, Pesquisador da EMBRAPA/CNPMF. Prof. do Programa de Pós-Graduação da UFRB. Orientador; e-mail: antnasc@cnpmf.embrapa.br 4 – Doutora, Professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ-USP e pesquisadora do CEPEA. Co-orientadora; e-mail: smiranda@esalq.usp.br 5 – Doutora, Pesquisadora da EMBRAPA/CNPMF. Co-orientadora; e-mail: barbosa@cnpmf.embrapa.br 6 – Doutor, Pesquisador da Embrapa/CNPMF; e-mail: francisco.laranjeira@rothamsted.ac.uk

T

rata-se de um pequeno inseto, com cerca de 2 a 3 mm de comprimento, de coloração marrom-clara quando jovem a mais escuro à medida que envelhecem (AUBERT, 1987; GALLO et al., 2002). Sua cabeça é marrom claro, ligeiramente mais estreita que o tórax, antenas com dois segmentos basais, de coloração castanho claro e pontas pretas e olhos castanhos escuro. Seu corpo é mosqueado de marrom, coberto com uma secreção serosa sob a forma de pó esbranquiçado, com abdômen dorsalmen90

te preto e branco, esverdeado ventralmente. São ativos, saltam e voam facilmente a pequenas distâncias quando molestados. Geralmente são encontrados na face dorsal das folhas, e quando parados, formam um ângulo de 45° em relação à superfície em que se encontram (BLACKWELL, 2005; HALL, 2008). Existem diversas observações sobre os hospedeiros preferenciais do D. citri. Porém, somente um estudo comparativo realizado em laboratório, onde as espécies


Segundo GALLO et al. (1988), D. citri se alimenta sugando a seiva de brotações, causando elevado dano, devido às picadas sucessivas, acarretando o enrolamento das folhas, que ficam retorcidas, engruvinhando os brotos, promovendo a morte da gema apical, impedindo o crescimento normal das plantas. De acordo com CATLING (1970), a flutuação populacional do D. citri está intimamente relacionada ao ritmo de brotações em plantas criticas, tendo em vista que a postura dos ovos ocorre

em ramos novos e que as ninfas precisam das brotações novas para se desenvolver. Relatado no Brasil na década de 40 (COSTA-LIMA, 1942), D. citri era considerado uma praga de importância secundária para a citricultura do país (GALLO et al., 2002), até o relato da presença das bactérias causadoras da doença denominada huanglongbing (HLB) em pomares próximo do município de Araraquara, estado de São Paulo, em 2004 (COLLETA-FILHO et al., 2004; TEIXEIRA et al., 2005). De acordo com YAMAMOTO et al. (2001), no estado de São Paulo, o pico populacional de D. citri ocorre no final da primavera ou início do verão, caindo posteriormente e permanecendo em baixas populações no outono e inverno. PARRA et al. (2010) observou que no estado de São Paulo não existe um padrão na dinâmica temporal de populações do vetor e que tal dinâmica é alterada em função

da disponibilidade e abundância de brotações, modulada por fatores climáticos. Destarte, o conhecimento da dinâmica populacional do vetor da D. citri é de grande importância para o estabelecimento de estratégias de manejo, caso a bactéria do huanglongbing seja introduzida no Estado da Bahia. O presente trabalho teve por objetivo estudar a flutuação populacional de D. citri em pomares de citros no município de Rio Real, no período de novembro de 2010 a outubro de 2011.

MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido no município de Rio Real, principal produtor de laranja do estado da Bahia. Foram selecionados três pomares de laranja (Citrus sinensis)

Foto: Acervo Autor

Murraya paniculata L. (murta-de-cheiro), Citrus jambhiri Luch (limão rugoso), Citrus aurantium L. (laranja azeda) e Citrus paradisi MacFad (toranja) foram testados. De todos os hospedeiros estudados, C. paradisi se revelou como o melhor, enquanto que entre as outras espécies avaliadas não foram encontradas diferenças significativas (BANÕS; RAVELO, 2007).

91


Foto: Acervo Autor

da variedade Pera em porta-enxerto de limão cravo (Citrus limonia), com idade de quatro anos, conforme Tabela 1. As plantas foram escolhidas de forma aleatória, por sorteio, sendo marcadas com uma fita vermelha para facilitar sua identificação no campo. Após a seleção das plantas, as mesmas receberam uma numeração e foram plotadas em croqui. Em cada pomar, foram monitoradas 20 plantas em frequência quinzenal, registrando-se o número total de brotações novas e o número de psilídeos observados em 20 ramos de cada planta, cinco por quadrante, nas formas de ovos, ninfas (sem distinção de ínstares) e adultos. Cada árvore foi dividida em quatro quadrantes iguais, dividida por dois eixos imaginários, perpendiculares ao tronco. Os levantamentos

foram realizados durante o período compreendido entre novembro de 2010 a outubro de 2011. Após cada avaliação os dados eram registrados numa planilha eletrônica e, posteriormente, efetuado o cálculo da média das brotações, insetos adultos, ninfas e ovos. Realizou-se também, o monitoramento de adultos de D. citri utilizando-se armadilhas adesivas amarelas para insetos, nas dimensões de 30 cm x 10 cm, instaladas em dois pomares cítricos com idade variando de quatro a oito anos e em plantas de murta escolhidas aleatoriamente no município de Rio Real – Bahia. Inicialmente, foram instaladas 10 armadilhas na propriedade denominada Fazenda Lagoa do Coco, em laranja (Citrus sinensis) da variedade Pera em porta enxerto de limão 92

cravo (Citrus limonia), com idade de oito anos. Tendo em vista que o índice de captura do D. citri se apresentou muito baixo, optou-se em instalar três armadilhas na propriedade denominada Fazenda Esperança, em laranja (Citrus sinensis) da variedade Pera em porta enxerto de limão cravo (Citrus limonia), com idade de quatro anos. Também, foram instaladas armadilhas adesivas em quatro plantas de murta (Murraya paniculata) distribuídas pelo município. O objetivo de se instalar armadilhas em murta foi o de verificar se existe preferência do D. citri pela planta ornamental M. paniculata em relação às plantas cítricas. Utilizou-se o índice PAM (psilídeo/armadilha/mês) para medir a densidade populacional do inseto adulto. A Tabela 2 apresenta as coordenadas geográficas das plantas onde foram instaladas as armadilhas.


TABELA 1 Propriedade

CARACTERÍSTICAS DAS PROPRIEDADES SELECIONADAS NO ESTUDO Área do imóvel (ha)

Área com laranja (ha)

Localização

Coordenadas (SAD 69)

Variedade/ porta enxerto

Idade (anos)

Pera/Limão Cravo

4

Pera/Limão Cravo

4

Pera/Limão Cravo

4

S 11º 26’ 09,3” WO 38º 00” 29,8” Sítio Sr. do Bomfim

7,5

5,45

Comunidade Tanque do Marques

S 11º 26’ 10,7” WO 38º 00” 30,7” S 11º 26’ 05,2” WO 38º 00” 33,2” S 11º 26’ 06,6” WO 38º 00” 34,9” S 11º 30’ 48,0” WO 37º 59” 01,0”

Fazenda Junco

240

140

Comunidade Mata Verde

S 11º 30’ 47,4” WO 37º 59” 02,0” S 11º 30’ 57,0” WO 37º 59” 04,5” S 11º 30’ 56,3” WO 37º 05” 05,9” S 11º 34’ 32,2” WO 37º 53” 47,2”

Sítio Lagoa de Baixo

6,8

1,2

Comunidade Lagoa de Baixo

S 11º 34’ 31,2” WO 37º 53” 48,2” S 11º 34’ 29,5” WO 37º 53” 44,7” S 11º 34’ 28,6” WO 37º 53” 45,7”

As armadilhas foram recolhidas quinzenalmente e encaminhadas ao laboratório de Fitopatologia da EBDA/SLC. Para tanto, utilizou-se um equipamento desenvolvido pela EMBRAPA/ CNPMF (Figura 1), composto por uma caixa de isopor e um caixilho confeccionado em madeira leve com a finalidade de acondicionar as armadilhas contendo os insetos capturados. As análises foram realizadas por bolsistas treinados pela EMBRAPA/ CNPMF, com auxílio de lupa de aumento (10X). Os dados eram registrados em uma ficha e posteriormente digitalizados em planilha eletrônica.

Foto: Acervo/Autor

Fonte: Dados dos Autores

Figura 1 – Aspecto geral do equipamento para acondicionamento e transporte das armadilhas adesivas, mostrando o caixilho em madeira, no interior de uma caixa de isopor. Salvador, BA. 2012. 93


TABELA 2

LOCALIZAÇÃO DAS ARMADILHAS ADESIVAS AMARELAS Coordenadas geográficas Longitude (S) Latitude (WO)

Localização das armadilhas

Plantas

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 18,5”

37º 52’ 18,3”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 16,6”

37º 52’ 17,9”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 14,5”

37º 52’ 17,5”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 12,5”

37º 52’ 16,7”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 10,7”

37º 52’ 16,7”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 08,5”

37º 52’ 15,7”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 06,3”

37º 52’ 15,2”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 04,3”

37º 52’ 14,8”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 02,2”

37º 52’ 14,1”

Faz. Lagoa do Coco

Laranja Pera

11º 34’ 00,2”

37º 52’ 13,5”

Lagoa de Baixo I

Murta

11º 34’ 32,1”

37º 53’ 49,9”

Lagoa de Baixo II

Murta

11º 34’ 10,9”

37º 54’ 01,8”

Rua da Embasa

Murta

11º 29’ 05,7”

37º 56’ 41,4”

Mansa/Estrada Lima

Murta

11º 29’ 46,4”

37º 55’ 06,6”

Faz. Esperança

Laranja Pera

11º 33’ 21,7”

37º 51’ 34,8”

Faz. Esperança

Laranja Pera

11º 33’ 20,6”

37º 51’ 36,7”

Faz. Esperança

Laranja Pera

11º 33’ 19,6”

37º 51’ 39,0”

Fonte: Dados dos Autores

RESULTADOS E DISCUSSÃO A média das brotações por planta encontra-se no Gráfico 1. O pico de brotação ocorreu Gráfico 1 Média de brotação por planta

entre os meses de novembro de 2010 e março de 2011, atingindo o máximo em 28/01/2011, quando foi contabilizada no Sítio Senhor do Bomfim uma média de 96 brotações e 45,5 no Sítio Lagoa de Baixo. Na Fazenda Junco, o pico ocorreu

em 25/02/2011 com uma média de 51,25 brotações. Os resultados da flutuação populacional de adultos e formas jovens de D. citri e a quantidade de ovos encontrados durante o período do monitoramento são mostrados nos Gráficos 2, 3 e 4.

MÉDIA DAS BROTAÇÕES NAS PLANTAS DE LARANJAS NAS TRÊS PROPRIEDADES LOCALIZADAS NO MUNICÍPIO DE RIO REAL - BA

Primavera

Verão

Outono

Inverno

100

Primavera Senhor do Bomfim Lagoa de Baixo Junco

80 60 40 20 Dia Mês Ano

0

18 11 2010

03 12 2010

17 31 12 12 2010 2010

14 01 2011

28 01 2011

11 02 2011

25 02 2011

11 03 2011

25 03 2011

08 04 2011

20 04 2011

06 20 05 05 2011 2011

Fonte: Dados dos Autores

94

03 06 2011

17 01 06 07 2011 2011

15 07 2011

29 07 2011

12 26 08 08 2011 2011

09 09 2011

23 07 21 09 10 10 2011 2011 2011


Gráfico 2

0,045

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE ADULTOS DE D. CITRI, EM TRÊS POMARES DE CITROS DO MUNICÍPIO DE RIO REAL, BA

Primavera

Verão

Outono

Inverno

0,040

Primavera Senhor do Bomfim Lagoa de Baixo Junco

0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0

Dia Mês Ano

18 11 2010

03 12 2010

17 31 12 12 2010 2010

14 01 2011

28 01 2011

11 02 2011

25 02 2011

11 03 2011

25 03 2011

08 04 2011

20 04 2011

06 20 05 05 2011 2011

03 06 2011

17 01 06 07 2011 2011

15 07 2011

29 07 2011

12 26 08 08 2011 2011

09 09 2011

23 07 21 09 10 10 2011 2011 2011

Fonte: Dados dos Autores

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE NINFAS DE D. CITRI, EM TRÊS POMARES DE CITROS DO MUNICÍPIO DE RIO REAL, BA

Gráfico 3

0,25

Primavera

Verão

Outono

Inverno

Primavera Senhor do Bomfim Lagoa de Baixo Junco

0,20 0,15 0,10 0,05

Dia Mês Ano

0,0

18 11 2010

03 12 2010

17 31 12 12 2010 2010

14 01 2011

28 01 2011

11 02 2011

25 02 2011

11 03 2011

25 03 2011

08 04 2011

20 04 2011

06 20 05 05 2011 2011

03 06 2011

17 01 06 07 2011 2011

15 07 2011

29 07 2011

12 26 08 08 2011 2011

09 09 2011

23 07 21 09 10 10 2011 2011 2011

Fonte: Dados dos Autores

QUANTIDADE MÉDIA DE OVOS DE D. CITRI, ENCONTRADOS EM TRÊS POMARES DE CITROS DO MUNICÍPIO DE RIO REAL, BA

Gráfico 4

0,014

Primavera

Verão

Outono

Inverno

0,012

Primavera Senhor do Bomfim Lagoa de Baixo Junco

0,010 0,008 0,006 0,004 0,002 Dia Mês Ano

0,0

18 11 2010

03 12 2010

17 31 12 12 2010 2010

14 01 2011

28 01 2011

11 02 2011

25 02 2011

11 03 2011

25 03 2011

08 04 2011

20 04 2011

06 20 05 05 2011 2011

Fonte: Dados dos Autores

95

03 06 2011

17 01 06 07 2011 2011

15 07 2011

29 07 2011

12 26 08 08 2011 2011

09 09 2011

23 07 21 09 10 10 2011 2011 2011


Foto: Acervo Autor

Nas propriedades monitoradas no município de Rio Real, o pico populacional de adultos de D. citri ocorreu entre os meses de novembro e dezembro de 2010, final da primavera e início do verão, atingindo o máximo em 03/12/2010, na Fazenda Lagoa de Baixo. Após o pico, a população do psilídeo decresceu gradativamente, permanecendo baixo no outono e inverno, provavelmente pela ausência de brotações. Exceção foi verificada na Fazenda Junco onde só foi verificado o inseto-praga no outono, no período compreendido entre 08/04/2011 a 06/05/2011. Trabalho realizado por YAMAMOTO et al. (2001), em 16 pomares de citros no norte do estado de São Paulo, constatou que o pico populacional do D. citri ocorreu no final da primavera e começo do verão. A presença de ninfas também predominou no final da primavera e início do verão, com destaque para o Sítio Senhor do Bomfim que apresentou a maior população na amostragem de 18/11/2010. Após esse pico, a população de ninfas de D. citri decresceu nas propriedades, apresentando alguns picos no outono e inverno, provavelmente, pela emissão de novos fluxos vegetativos, permanecendo baixo no restante do período estudado. Na Fazenda Junco, em que pese à existência de brotações nas

laranjeiras monitoradas não foi registrado a presença de ninfas. Em relação ao número de ovos, as maiores quantidades foram verificadas no final da primavera e início do verão no Sítio Senhor do Bomfim e no final do verão e no outono no Sítio Lagoa de Baixo, períodos em que também foram verificadas as maiores quantidades de adultos de D. citri na propriedade, favorecendo provavelmente o acasalamento e postura de ovos. O percentual de plantas com psilídeo também foi avaliado no presente estudo. Conforme demonstra o Gráfico 5, os maiores percentuais de plantas com psilídeos foram verificados no final da primavera e inicio de verão no Sítio Lagoa de Baixo, e final do outono e início do inverno no Sítio Senhor do Bomfim, possivelmente porque nestas épocas do ano a ocorrência de chuvas, e aumento da umidade relativa do ar favorece as brotações, criando um clima propício para a reprodução do inseto, permanecendo baixo no restante do período estudado. Na fazenda Junco, o maior percentual de plantas com psilídeo foi verificado em 20/04/2011. O Gráfico 6 mostra que a densidade populacional do inseto é relativamente baixa se comparada com os dados obtidos nos pomares do Recôncavo 96

da Bahia (dados não publicados). O gráfico mostra uma maior densidade populacional do inseto na espécie ornamental M. paniculata em comparação com as plantas cítricas, sugerindo que existe uma preferência do psilídeo pela espécie ornamental M. paniculata em comparação com as plantas cítricas. Constatou-se, também, que o pico populacional de D. citri ocorreu na primavera, possivelmente pela maior emissão de fluxos vegetativos, regredindo gradativamente na medida em que o número de brotações diminuem.

CONCLUSÕES 1 – A densidade populacional de Diaphorina citri, vetor do HLB, é relativamente baixa se comparada com os dados obtidos nos pomares do Recôncavo da Bahia (dados não publicados), embora o inseto estivesse presente em todos os pomares monitorados; 2 – Adultos e/ou ninfas de D. citri ocorreu durante todo o ano e seu pico populacional coincidiu com o final da primavera e inicio do verão; 3.– A densidade populacional de D. citri em murta, Murraya paniculata, é extremamente elevada quando comparada com a do hospedeiro citros; 4. – A população de D. citri, tanto na forma de inseto adulto quanto na de ninfas foram diretamente influenciadas pela emissão do fluxo vegetativo, das plantas de laranja.


PERCENTUAL DE PLANTAS COM DIAPHORINA CITRI, EM TRÊS POMARES NO MUNICÍPIO DE RIO REAL, BA

Gráfico 5 0,90

Primavera

Verão

Outono

Inverno

0,80

Primavera Senhor do Bomfim Lagoa de Baixo Junco

0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 Dia Mês Ano

0,0

18 11 2010

03 12 2010

17 31 12 12 2010 2010

14 01 2011

28 01 2011

11 02 2011

25 03 2011

11 03 2011

25 03 2011

08 04 2011

20 04 2011

06 20 05 05 2011 2011

03 06 2011

17 01 06 07 2011 2011

15 07 2011

29 07 2011

12 26 08 08 2011 2011

09 09 2011

23 07 21 09 10 10 2011 2011 2011

Fonte: Dados dos Autores

NÚMERO DE PSILÍDEO COLETADOS EM ARMADILHAS ADESIVAS EM LARANJEIRA E MURTA MURRAYA PANICULATA. RIO REAL, BA

Gráfico 6

Primavera

Verão

Outono

Inverno

Primavera

2,00 1,80 1,60 1,40 1,20 1,00

Murta Citrus

0,80 0,60 0,40 0,20 Dia Mês Ano

0,0

18 11 2010

03 12 2010

17 31 12 12 2010 2010

14 01 2011

28 01 2011

11 02 2011

25 02 2011

11 03 2011

25 02 2011

08 04 2011

20 04 2011

06 20 05 05 2011 2011

03 06 2011

17 01 06 07 2011 2011

15 07 2011

29 07 2011

12 26 08 08 2011 2011

09 09 2011

23 07 21 09 10 10 2011 2011 2011

Fonte: Dados dos Autores

Referências AUBERT, B. Trioza erytreae Del Guercio and Diaphorina citri Kuwayama (Homóptera: Psylloidae), the two vectors of citrus greening disease: biological aspects and possible control strategies. Fruits, Paris, v. 42, p. 149-162, 1987. BANÕS J. A. H.; RAVELO, J. Diaphorina citri y la enfermidade Huanglongbing: Uma combinación destructiva para la produccion citrícola. Proteccion Vegetal, v. 3, p.154-165, 2007. BLACKWELL, P. Diaphorina citri. EPPO. Bulletin, v.35, n.2, p.331-3, 2005. CATLING, H. D. Distribution of the psyllid vectors of citrus greening disease, with notes on the biology and bionomics of Diaphorina citri. FAO Plant Protection Bulletin, n.18, p.8-15, 1970. COLETTA-FILHO, H. D. et al. First report of the causal agent of huanglongbing (“Candidatus Liberibacter asiaticus”) in Brazil. Plant Disease, n.88, p.1382, 2004. COSTA-LIMA, A. M. Insetos do Brasil. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, 1942. 327p. GALLO, D. et al. Manual de entomologia agrícola. 2.ed. São Paulo: Ceres, 1988. 649p. GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p. GRAVENA, S. Manejo integrado de pragas dos citros. Laranja, n.5, p.323-62, 1984. HALL, D. G. Biology, History and Word Status of Diaphorina citri. México, 2008. 11p. (I Taller Internacional sobre Huanglongbing de los cítricos (Candidatus Liberibacter spp) y el psílido asiático de los cítricos (Diaphorina citri)). TEIXEIRA, D. C. et al. ‘Candidatus Liberibacter americanus’, associated with citrus Huanglongbing (greening disease) in São Paulo state, Brazil. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, Reading, v. 55, p.1857-62, 2005. YAMAMOTO, P. T.; PAIVA, P. E. B.; GRAVENA, S. Flutuação populacional de Diaphorina citri Kuwayama (Homoptera:Psyllidae) em pomares de citros da Região Norte do estado de São Paulo. Neotropical Entomology, Londrina, v.30, n. 1, p.165-170, 2001. 97


Foto: Acervo Autor

Forrageiras A halófitas na alimentação de ruminantes Foto acima: Atriplex

Rafael Dantas dos Santos1 Lúcio Carlos Gonçalves2 André Luis Alves Neves3 Luiz Gustavo Ribeiro Pereira4

1–Médico Veterinário, D.Sc., Pesquisador da Embrapa Semiárido; e-mail: rafael.dantas@embrapa.br 2–Engenheiro Agrônomo, D.Sc.,Professor Adjunto da UFMG; e-mail: luciocg@vet.ufmg.br 3–Médico Veterinário, M.Sc., Analista da Embrapa Gado de Leite; e-mail: andre.neves@embrapa.br 4–Médico Veterinário, D.Sc., Pesquisador da Embrapa Gado de Leite; e-mail: luiz.gustavo@cnpgl.embrapa.br

salinização é um fenômeno crescente em todo o mundo, principalmente em regiões áridas e semiáridas, decorrente de condições climáticas e da antropização, sendo que no Nordeste brasileiro os solos afetados por sais ocupam uma área de aproximadamente 9,1 milhões de hectares (BRASILEIRO, 2009).

Solos salinizados são aqueles que contêm sais solúveis em quantidade suficiente para prejudicar o crescimento das plantas (RENGASAMY, 2006). Desse modo, tem se buscado estudar a capacidade de utilização de plantas adaptadas à ambientes salinos, plantas halófitas como alternativa de convivência com este problema. A inserção destas plantas nos sistemas produtivos visa incorporar os solos salinizados ao processo de produção agrícola e gerar novas possibilidades para compor dietas para ruminantes. 98

ASPECTOS GERAIS DA SALINIDADE As principais fontes naturais de sais no solo são o intemperismo mineral, a precipitação atmosférica e os sais fósseis (aqueles remanescentes dos ambientes marinhos e lacustres). Os sais também podem ser adicionados aos solos por meio de atividades humanas, incluindo o uso de águas de irrigação, processos de potabilização e resí-


duos de atividades industriais e aquícolas (FERNANDES et al., 2010). Convencionou-se utilizar o valor de condutividade elétrica (CE) de quatro deciSiemens por metro (dS/m), para extratos de pasta saturada do solo, como a linha divisória entre solos salinos e solos não salinos. Entretanto, pode-se observar reduções no rendimento de culturas em solos cujo extrato de saturação apresenta CE entre dois e quatro dS/m (FERNANDES et al., 2010). Os sais solúveis mais encontrados em solos salinizados consistem, normalmente, de várias proporções de cátions Ca2+, Mg2+, Na+, dos ânions Cl-, SO42-, HCO3- e, às vezes, de K+, CO32- e NO3- (FERNANDES et al., 2010). Embora os sais destes íons ocorram em proporções QUADRO 1

variáveis, os pesquisadores são unânimes em afirmar que o cloreto de sódio–NaClpredominana maioria das vezes (SULTANA et al., 2009). As plantas halófitas desenvolvem-se naturalmente em ambientes com elevadas concentrações salinas (tipicamente Na+ e Cl-), que podem variar de 4,5 a 14,0 dS/m (WILLADINO; CAMARA, 2005).

POTENCIAL FORRAGEIRO E VALOR NUTRICIONAL Na última década diversos programas de melhoramento genético, em todo o mundo, incorporaram forrageiras halófitas (arbustivas e gramíneas) em

suas pesquisas e obtiveram êxito em selecionar espécies com características interessantes como: moderada a alta biomassa, teores de proteína bruta moderados e a capacidade de sobreviver a uma vasta gama de condições ambientais, incluindo alta salinidade (GLENN et al., 2009). Para melhor acompanhamento, é possível conferir os nomes pelos quais as halófitas citadas no decorrer do texto são mais comumente conhecidas (Quadro 1). El Shaer (2004) afirmou que espécies halófitas arbustivas apresentam alto potencial forrageiro, dada as suas observações com as espécies Atriplex lentiformis, Atriplex nummularia e Atriplex halimus que apresentaram rendimento de matéria seca de 12,4; 9,9 e 8,6 t/ha/ano, respectivamente, quando submetidas a CE de 20,0 dS/m.

FORRAGEIRAS HALÓFITAS – NOMES COMUNS Forrageiras Halófitas Citadas no Artigo

Nomes Comuns

Plantas do gênero Atriplex (Atriplex lentiformis, Atriplex nummularia, Atriplex halimus, Atriplex canescens e Atriplex barclayana)

todas são conhecidas apenas como “erva-sal”

Sporobolus virginicus

“grama costeira” ou “grama de areia”

Leptochloa fusca

“kallar grass” ou “grama sal”

Arthrocnemon glaucum

“salicornia” ou “erva cali”

Haloxylon salicornicum

“salicornia”

Kochia indica

“bassia”

Suaeda fruticosa

“seablite” ou “suaeda”

Tamarix aphylla

“athel” ou “tamargueira athel”

Thymelaea hirsuta

“mithnane”

Aeluropus lagopoides

“mamoncillo”

Paspalum paspalodes

“grama nó”

Paspalidium geminatum

“panic grass egipcio”

Zygophyllum album

“alcaparra branca”

Distichlis spicata

“grama do litoral” ou “grama do deserto”

Fonte: Autores 99


Dentre as gramíneas halófitas destacam-se com maior produção de biomassa as espécies Sporobolus virginicus (11,2 tMS/ha/ano) e Leptochloa fusca (8,4 tMS/ha/ano) (AHMAD, 2010). No México, O’Leary e Glenn (1994) avaliaram a produtividade de algumas forrageiras halófitas em condições extremas, utilizando água de irrigação altamente salina (52,0 dS/m – água do mar) e observaram produtividades de matéria seca (MS) de 17,9; 17,3; 17,2; 10,3 e 8,6 t/ ha/ano para Atriplex lentiformis, Batis maritima, Atriplex canescens, Atriplex nummularia e Atriplex barclayana, respectivamente. No Brasil, a forrageira halófita mais estudada e utilizada na alimentação de ruminantes é a erva-sal (Atriplex nummularia), devido a sua fácil propagação, capacidade fitoextratora de sais, produtividade e valor nutricional (PORTO et al., 2006). Barroso et al. (2006) avaliaram a produtividade da erva-sal cultivada sob irrigação de quatro volumes (75, 150, 225 e 300 litros/

semana/planta) de efluentes de criação de tilápia, com salinidade de 8,3 dS/m e observaram produtividades que variaram de 7,5 a 11,4 tMS/ha/ano. Ressalta-se que nesse estudo a participação percentual de material forrageiro foi de 82,7% (folhas 51,0% e caules 31,7%) e material lenhoso (não forrageiro) de 17,3%. Variações na palatabilidade, produtividade, composição química, e valor nutritivo das diversas halófitas foram relatados na literatura. Estas variações dependem de fatores climáticos, como temperatura, umidade, precipitação e intensidade luminosa, assim como da espécie forrageira e também de práticas de manejo (EL SHAER, 2010). El Shaer e Zahran (2002) avaliaram diversas espécies de forrageiras halófitas (Arthrocnemon glaucum, Atriplex sp., Haloxylon salicornicum, Kochia indica, Leptochloa fusca, Suaeda fruticosa, Sporobolus virginicus, Tamarix aphylla e Thymelaea hirsuta) e obtiveram valo-

Foto: Acervo Autor

Leptochloa

100

res de 21,7 até 42,6 para as porcentagens de MS. Esses mesmos autores observaram que estas plantas apresentaram uma ampla variação quanto ao teor de proteína bruta, variando de 3,4% (Arthrocnemon glaucum) a 15,1% da MS (Atriplex leucoclada), mas em geral, a maioria, destas espécies de plantas, atingiu teores de proteína bruta satisfatórios para uma adequada fermentação ruminal. Ressalta-se que aproximadamente 50% do nitrogênio da erva-sal é não protéico (NNP) e está associado a nitratos, betaína e prolina, não sendo aproveitado em sua totalidade pelos micro-organismos ruminais (PEARCE et al., 2010). O teor de extrato etéreo das forrageiras halófitas pode apresentar ampla variação (1,3 a 6,1% da MS) em decorrência da espécie e do manejo utilizado (GIHAD et al., 2003). Benjamin et al. (2002) observaram que as forrageiras halófitas são pobres em energia, apresentando valores de energia líquida entre 2,5 e 4,0 MJ/kg de MS e energia metabolizável entre 5,0 e 8,0 MJ/kg de MS, o que corresponde a 0,25 – 0,40 kg NDT/kg de MS. A maioria das forrageiras halófitas apresenta elevados teores de matéria mineral (MM), variando de 10 a 35% da MS, principalmente Na, Cl, K, Ca e sílica (ABD EL-RAHMAN, 2008). Norman et al. (2008) encontraram valores de 7,0; 6,7; 52,5; 24,1 e


Foto: Acervo Autor

FORRAGEIRAS HALÓFITAS NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

Atriplex 73,3 g/kg de Ca, Mg, Na, K e Cl, respectivamente, na massa seca de folhas e caule de Atriplex nummularia. No entanto, Souza et al. (2011) avaliaram a capacidade fitoextratora da Atriplex nummularia e observaram, nas folhas, valores de 5,2; 6,1; 124,7; 19,3 e 149,4 g/kg de Ca, Mg, Na, K e Cl, respectivamente. De uma maneira geral as halófitas possuem alta concentração de fibra, o que reduz a digestibilidade da maioria dos nutrientes (ABD EL-RAHMAN, 2008). Moinuddin et al. (2012) avaliaram quatro forrageiras halófitas (Aeluropus lagopoides, Sporobolus tremulus, Paspalum paspalodes e Paspalidium geminatum) e observaram variação nos teores de FDN (55,3 a 69,0%), FDA (24,3 a 34,6%) e lignina (1,6 a 10,7%). Esses autores concluíram que

o aumento dos teores de FDA e lignina tem efeito direto na redução da digestibilidade da matéria seca destas halófitas. A digestibilidade da matéria seca de forrageiras halófitas pode variar bastante em decorrência da espécie da planta, estádio fenológico e fatores edafoclimáticos, podendo variar de 70% nas melhores condições até 40% em circunstâncias desfavoráveis (FAHMY; IBRAHIM, 2005). A correlação entre a redução da digestibilidade da MS com o aumento da maturidade foi observado por Khan et al. (2007) que apresentaram os valores de 59,2; 54,2 e 46,6% de digestibilidade da MS para as idades de 180, 210 e 240 dias, em plantas adultas de Atriplex canescens. 101

Plantas halófitas têm sido utilizadas, em várias regiões áridas e semiáridas do mundo, como um recurso forrageiro importante, na complementação de dietas para ruminantes. O pastejo de áreas estrategicamente reservadas para serem utilizadas no período mais crítico do ano, tem sido a sua principal forma de utilização. Nesse sentido Youssef et al. (2003) avaliaram o desempenho de cabritos em área naturalmente ocupada por halófitas (Tamarix mannifera, Halocnemum strobilacum e Zygophyllum album) e relataram ganhos de peso que variaram de 80 a 90 g/dia, valores considerados aceitáveis pelos autores, uma vez que as halófitas eram volumosos exclusivos. As forrageiras halófitas podem, ainda, ser utilizadas na forma de feno ou silagem, sempre em consórcio com outro tipo de volumoso, de forma que se possa neutralizar o efeito do excesso de sal da mesma e não comprometer o consumo. Al-Shorepy e Alhadrami (2008) avaliaram teores de inclusão (0,0; 33,3; 66,7 e 100%) de feno de Distichlis spicata em substituição ao feno de capim-rhodes, em dietas para cabritos, com relação volumoso: concentrado de 40:60, e observaram maior consumo de MS (610 g de MS/dia) para o tratamento com 100% de Distichlis spicata. No entanto, esses autores


Foto: Acervo Autor

(83,7%) indicando que seu elevado teor de sódio pode limitar o consumo pelos animais e que a associação se faz necessária.

Atriplex não verificaram diferença entre os tratamentos para ganho de peso diário, que teve valor médio de 81,3 g/dia. No Egito, carneiros com peso vivo médio de 40,0 kg, alimentados com dietas contendo 30% de Atriplex halimus consumiram em torno de 1,44 kgMS/dia, ou seja, 432 g de Atriplex/animal e não apresentaram diminuição no consumo ou ruminação (SHEHATA; MOKHTAR, 2005). No Brasil, a erva-sal (Atriplex nummularia) normalmente é associada a volumosos como palma ou forragens conservadas. Alves et al. (2007) avaliaram o consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes em dietas, para caprinos e ovinos, contendo 50% de feno de erva-sal e 50% de palma forrageira. Em caprinos verificou-se o consumo de MS, MM e coeficientes

de digestibilidade da MS de 49,8 g/kgPV0,75, 9,0 g/kgPV0,75 e 78,3%, respectivamente. No entanto, para os ovinos os valores observados foram de 77,4 g/kgPV0,75, 15,4 g/ kgPV0,75 e 59,4% para os consumos de MS, MM e coeficientes de digestibilidade da MS, respectivamente. Esses autores concluíram que a dieta composta por feno de erva-sal e palma forrageira apresentou baixos teores protéicos e energéticos, evidenciando a necessidade de combinação com outros ingredientes. A necessidade de associação da erva-sal com outros volumosos também foi evidenciada por Souto et al. (2005), que estudaram teores crescentes de feno de erva-sal na dieta de cordeiros em crescimento e relataram que o consumo de MS foi menor (992 g/animal/dia) no maior teor de feno de erva-sal 102

Moreno et al. (2011) avaliaram teores crescentes de feno de erva-sal (30, 40, 50 e 60%), na dieta de ovinos e observaram redução do consumo de sal mineral (6,7; 5,5; 3,7 e 3,2 g/dia) à medida que houve inclusão de feno de erva-sal na dieta, demonstrando redução da necessidade de ingestão diária de sal mineral comercial em ovinos. Embora este fato possa contribuir com a redução de gastos com compra de suplemento mineral, é importante ressaltar que o fornecimento do suplemento deve ser mantido para que não haja deficiência de outros elementos, especialmente os microminerais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS As plantas halófitas constituem-se em recurso forrageiro estratégico para utilização em áreas salinizadas. Torna-se importante fortalecer o seu papel como recurso alimentar em sistemas de produção de agricultura biosalina. A sua potencialidade como alternativa alimentar para ruminantes deve ser estudada e explorada, principalmente para pequenos ruminantes criados em terras salinas e/ou em regiões áridas e semiáridas.


Referências ABD EL-RAHMAN, H.H. Improvement of the nutritive value of some unpalatable desert plants by ensiling treatment with palatable plants and molasses additives. J. Agric. Sci., v.33, n.4, p.8001-8010, 2008. AHMAD, F. Leptochloa Fusca cultivation for utilization of salt – affected soil and water resources in Cholistan Desert. Rev. Soc. Nat., v.22, n.1, p.141-149, 2010. AL-SHOREPY, S.A.; ALHADRAMI, G.A. The effect of dietary inclusion of halophyte Distichlis grass hay Distichlis spicata (L.) on growth performance and body composition of Emirati goats. Emir. J. Food Agr., v.20, n.2, p.18-27, 2008. ALVES, J.N.; ARAÚJO, G.G.L.; PORTO, E.R. et al. Feno de erva-sal (Atriplex nummularia) e palma forrageira (Opuntia fícus Mill.) em dietas para caprinos e ovinos. Rev. Cient. Prod. Anim., v.9, n.1, p.43-52, 2007. BARROSO, D.D.; ARAÚJO, G.G.L.; PORTO, E.R. et al. 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NOTAS ESPECIAIS

INFORMAÇÕES E SERVIÇOS

CONSEAGRI consegue prorrogação do crédito emergencial para agropecuaristas nordestinos Os produtores rurais que enfrentam a estiagem no Nordeste e que tiveram redução em sua renda superior a 30%, que comprovem a incapacidade de pagamento junto às instituições financeiras, poderão renegociar o pagamento do saldo devedor das operações de custeio das safras 2011/2012 e 2012/2013, para reembolso em até cinco parcelas anuais, com o vencimento da primeira parcela fixado para até um ano após a

data da formalização da renegociação. A medida foi divulgada pelo Conselho Monetário Nacional, através da Resolução nº 4.190/2013 do Banco Central, e atende produtores rurais situados em municípios da área de atuação da SUDENE. A Resolução prorroga até 31 de maio de 2013 o prazo para contratação das linhas especiais de crédito de investimento e de custeio para agricultores familiares da região semiárida. Porém, o

Conselho Nacional de Secretários de Estado de Agricultura (CONSEAGRI) reiterou, junto ao governo federal, solicitação no sentido de prorrogar as linhas de crédito até 31 de dezembro de 2013 e que a medida não contemple apenas agricultores familiares e sim outros produtores rurais limitados, como previsto anteriormente, até R$ 100 mil reais por produtor. Além disso, o Conselho pede o incremento de mais R$ 1 bilhão para esta linha de crédito.

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Três novas barragens na região central da Bahia O Comitê Estadual para Ações de Convivência com a Seca anunciou três novos projetos de barragens – de Baraúnas, Campinhos e do Rio Cachoeirinha, que beneficiarão a população dos Territórios de Identidade Chapada Diamantina e Piemonte do Paraguaçu, na região centro norte da Bahia. O investimento na barragem de Baraúnas soma R$ 45 milhões e vai

atender a cerca de 60 mil pessoas no município de Seabra. A barragem de Campinhos beneficiará 10 mil pessoas em Abaíra e Mucugê. A barragem do Rio Cachoeirinha beneficiará cerca de 10 mil pessoas na cidade de Wagner. São obras fundamentais para o abastecimento de água em longo prazo. O número de poços já perfurados na Chapada Diamantina atinge 315 104

e mais 72 ainda serão executados. No Piemonte do Paraguaçu, são 69 poços perfurados e 51 a perfurar.

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jetivos do Programa de Desenvolvimento do Setor da Borracha Natural do Estado da Bahia (PRODEBON), lançado em Valença, março de 2013.

Sair da produção de 17,2 toneladas/ano para 146 mil toneladas; de 32.314 hectares plantados para mais 100 mil hectares com variedades melhoradas de seringueira nos próximos 20 anos; ampliar de 6,5 mil empregos para 34 mil; aumentar a produtividade de 800 kg/hectare para 1.460 kg/hectare; eliminar a importação de borracha seca, que hoje representa 70% do consumo interno; aumentar a renda oriunda da produção dos atuais R$ 102 milhões/ano, para R$ 865 milhões/ ano; ampliar a arrecadação de ICMS de R$ 18 milhões/ano, para R$ 163 milhões/ano, e chegar ao ano 2040 com a Bahia autossuficiente na produção de borracha natural. Esses são os principais ob-

O PRODEBON foi elaborado pela Câmara Setorial da Borracha Natural e, ao governo, cabe garantir a assistência técnica e todo apoio necessário à efetivação do programa. Durante a solenidade de lançamento, a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) foi autorizada, via ordem de serviço, a realizar licitação para compra de 80 mil mudas de seringueira, as primeiras que serão entregues a agricultores familiares. A Bahia é o segundo maior produtor nacional de borracha natural do Brasil, atrás apenas de São Paulo, mas sua produção responde hoje por apenas 30% do consumo interno. Uma realidade que começa a mudar com a chegada do programa. Parte da implantação proposta, cerca de 75% dos 100 mil hectares de seringueira, será feita no Sistema Agroflorestal (SAF), 105

Foto: Heckel Júnior

Plano Estadual da Borracha dá sustentabilidade a diversas regiões da Bahia

consorciado com o cacau e a banana, dando sustentabilidade ao produtor. Outra parte, 25%, será em substituição de eritrina por seringueira em plantios de cacau. O PRODEBON vai atender a 18.133 produtores, em sua maioria da agricultura familiar. Os pequenos produtores alvo do programa estão distribuídos nos Territórios de Identidade Agreste Alagoinhas/ Litoral Norte, Baixo Sul, Extremo Sul, Litoral Sul, Médio Rio das Contas, Recôncavo e Vale do Jiquiriçá, compreendendo a superfície de 95 mil km2. Esse programa, além de colocar a Bahia no caminho da autossuficiência da borracha natural, representa grande avanço também para a cultura do cacau que, consorciada com a seringueira, terá mais sustentabilidade e rentabilidade.

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Ministério da Agricultura declara emergência fitossanitária para conter praga no Oeste da Bahia Resultado de articulação feita entre os produtores do Oeste baiano, SEAGRI e MAPA, através da Secretaria de Defesa Agropecuária, o Governo Federal publicou portaria declarando como emergência fitossanitária a situação do intensivo ataque da praga Helicoverpa zea em lavouras de algodão e soja na safra 2012/2013. A medida visa a implementação do plano de supressão da praga, e adoção de medidas emergenciais para as safras seguintes, até 2015, e consequentemente permitirá o registro de produtos agroquímicos específicos para as culturas do algodão e da soja. A declaração de emergência permite a aceleração dos processos de registros de produtos agroquímicos, já em largo uso e eficiência comprovada em outros países, reduzindo o trâmite burocrático, que normalmente pode demorar até três anos. A portaria institui ainda o Grupo de Gerenciamento Situacional da Emergência Fitossanitária, com o objetivo de identificar, propor e articular a implementação de ações emergenciais, ágeis e eficazes para contenção da praga, a fim de assegurar o completo restabelecimento da normalidade produtiva.

Serão implantados em Brasília e na Bahia. Por sua vez, a SEAGRI também publicou portaria, fundamentada no documento do MAPA, instituindo o Grupo Operacional de Emergência Fitossanitária com o objetivo de identificar, propor e executar a implantação de ações para o controle da praga. Os cálculos dos prejuízos sofridos até o momento registram enormes perdas na produção de algodão e soja, além dos gastos com defensivos agrícolas para combater a lagarta. Mobilizados, os produtores da região Oeste já tomaram algumas medidas. A ABAPA promoveu a viagem de alguns pesquisadores, especialistas e consultores da região para Austrália, país que desde a década de 90 aprendeu a conviver com esta praga, no intuito de conhecer as técnicas usadas no controle da mesma e dissemi106

Foto: Sílvio Ávila/EditoraGazeta

nar estas tecnologias para os produtores. A Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA) assegura que a Helicoverpa zea surpreendeu a todos os produtores da região pela sua ação destrutiva e rápida, mas que a tempo, estão respondendo da mesma forma, reunindo ações para traçar um plano de combate integrado a esta lagarta, nos moldes do que foi feito com o plano da ferrugem asiática e o com o plano do bicudo. A maior preocupação dos produtores é que esta praga ataca aquilo que os interessa, a vagem e o grão, no caso da soja, e no algodão ela ataca as maçãs que são as estruturas reprodutivas.

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disponibiliza 13 laboratórios para pesquisas direcionadas à agropecuária baiana Capacitada para realizar diversos tipos de análises e pesquisas voltadas para o desenvolvimento da agropecuária baiana, a Central de Laboratórios da Agropecuária (CLA), da EBDA, possui 13 laboratórios que prestam serviços especializados e atendem à demanda de agricultores familiares, produtores, cooperativas, associações, sindicatos e pessoas interessadas, além de auxiliar no processo de geração e transferência de tecnologias para este setor.

de Produtos de Origem Vegetal, que já estão no caminho para a creditação, para o ISO IEC 17.025, que é uma norma de padrão de qualidade para laboratórios de análises químicas.

ada à Avenida Ademar de Barros, nº 967, em Ondina/Salvador, das 7h30 às 18h, de segunda a sexta-feira. Vejam o quadro abaixo.

A Central de Laboratórios da Agropecuária recebe amostras para análise. Os interessados nos serviços devem dirigir-se à Recepção de Amostras da unidade, situ-

....................................................... Assessoria de Imprensa Assimp EBDA ebda.imprensa@ebda.ba.gov.br (71) 3116-1907

LABORATÓRIOS

CONTATOS – Salvador (71)

Laboratório de Abelhas

3103-6912

Os diversos laboratórios da EBDA trabalham em rede, em parceria com instituições renomadas como a Embrapa, universidades federais e estaduais, CNPQ, Fapesp e órgãos do Governo do Estado. A Central, que é pensada para dar suporte a estudos e pesquisas de demandas e especificidades do agricultor familiar da Bahia, está ampliando a sua área de atuação com quatro novos laboratórios: Biologia Molecular, Análise de Resíduos de Agrotóxicos, Microbiologia de Alimentos e Ecologia Química.

Laboratório de Botânica

3103-6920

Laboratório de Parasitologia

3116-8432

A EBDA possui dois laboratórios, de Abelhas e o de Classificação

Laboratório de bacteriologia

3103-6911

Central

3235-2517

Laboratório de Classificação Vegetal

3103-6909/6910

Laboratório de Entomologia

3103-6926

Laboratório de Fitopatologia

3103-6923/6924

Laboratório de Nutrição Animal

3103-6914

Laboratório de Solos

3103-6916/6917

Laboratório de Toxicologia

3103-6915/6913

Laboratório de Cultura de Tecidos

3103-6921

Laboratório de Virologia

3116-8452

Laboratório de Sementes

107

3103-6907/6908


DIVULGAÇÃO SEAGRI

Publicações produzidas pela SEAGRI, no período 2010-2012, disponíveis na Biblioteca para distribuição. Mais informações: (71) 3115-2783; agronews@seagri.ba.gov.br

Saiba Mais sobre a SEAGRI Informações sobre a SEAGRI e os orgãos vinculados, descrevendo as ações pertinentes e os contatos de quem planeja e quem executa as diversas atividades da Secretaria

Plano Safra da Agricultura e Pecuária da Bahia 2012/2013 O Governo do Estado, através da SEAGRI, lançou, em 2012, o Plano Safra da Agricultura e Pecuária da Bahia 2012/2013, cujo objetivo é apoiar os produtores rurais com prioridade para os agricultores familiares. O Plano articula, reúne e integra importantes instrumentos da política agrícola, a exemplo do Crédito Rural, Garantia Safra, Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, entre outros. Este ano, em que a Bahia atravessa um dos mais severos períodos de estiagem da sua história, o Plano contempla, também, um elenco de ações, algumas emergenciais e outras estruturantes, que objetivam atenuar os efeitos da seca nos municípios que já decretaram situação de emergência. 108


SEAGRI Projetos 2012/2013 A SEAGRI divulga esse portfólio de projetos, reunindo propostas relacionadas a investimentos que visam elevar a geração de emprego e renda e a melhoria da qualidade de vida da população do Estado. Este leque de projetos possibilitará o incremento de parcerias, principalmente por atração de investimentos de emendas parlamentares e contribuirá na

alocação dos recursos públicos em consonância com as reais necessidades dos municípios: centros de comercialização de animais, matadouros frigoríficos, unidades de beneficiamento de carne, leite, mel e pescados, viveiros telados, kits de irrigação, piscicultura em tanques de rede, regularização fundiária, quintais agroflorestais, dentre outros.

Plano Safra da Agricultura Familiar da Bahia 2012/2013

BAHIA,Terra das Oportunidades

Guia para acesso às linhas de crédito do PRONAF e renegociação de dívidas. Um instrumento de orientação para os agricultores familiares da Bahia.

AGRONEWS Boletim eletrônico produzido pela equipe do Site Seagri, que divulga informações sobre as ações da Secretaria e seus órgãos vinculados, registrando as políticas geradas e as oportunidades oferecidas pelo Estado para a agropecuária baiana. Distribuído quinzenalmente para um banco de clientes (390.000 e-mails), o informativo tem permitido que vários segmentos conheçam de perto o que a SEAGRI faz. Os interessados podem se cadastrar para recebimento no Site Seagri (www.seagri.ba.gov.br) ou solicitar inclusão via e-mail (agronews@seagri.ba.gov.br). 109

Folder que divulga indicações de negócios e investimentos na área agrícola, apresentando uma combinação de vantagens e oportunidades para diversos produtos agropecuários da Bahia. Esse especificamente trata da cadeia produtiva da caprino-ovinocultura no Estado, com alternativas agroindustriais para carne e leite, e das vantagens para implantação de parque industrial para produção de vinhos finos, espumantes e sucos.


CARTAS

À equipe responsável pela valorosa revista “Bahia Agrícola”, de conteúdo técnico-agronômico dos melhores que se publicam no Brasil, meus cumprimentos e o agradecimento pelo privilégio de continuar recebendo tão importante mensageiro das ciências agronômicas. Hildegardo R. Nogueira, Engenheiro Agrônomo, Salvador-BA. .....................................................x Desejamos aos colaboradores, editores da Bahia Agrícola, que as dificuldades sejam superadas, e que em 2013, possamos encampar novos projetos de promoção do agronegócio baiano. Suely Brito, Engenheira Agrônoma, Salvador-BA. .....................................................x A ANDAV, como representante dos distribuidores de insumos agrícolas, está em festa juntamente com a Revista Bahia Agrícola, pelos seus 15 anos. Este é o reconhecimento por proporcionar a nós leitores artigos de grande relevância. Parabéns a toda equipe, por esses 15 anos de sucesso. Henrique Mazotini e Equipe ANDAV, Campinas-SP.

A Seção CARTAS destaca alguns registros e depoimentos recebidos pela Editoria da Revista Bahia Agrícola no período 2011-2012.

Realmente, além de muito bonita a publicação, os artigos têm um cunho de ciência aliado a uma grande praticidade. Parabéns! Maria Zélia Alencar de Oliveira, Engenheira Agrônoma, EBDA, Salvador – BA. .....................................................x Fico feliz em saber que essa utílissima Revista voltou a circular. Orlando Sampaio Passos Pesquisador Sênior Citros Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Cruz das Almas – BA. .....................................................x Tomando conhecimento da publicação dessa revista, e tendo oportunidade de ler artigos de excelente nível técnico e impressão de ótima qualidade, venho solicitar dessa coordenação incluir-me no cadastro de recebedores desta publicação. Havendo possibilidade, gostaria de receber a publicação de novembro 2011, e se possível números anteriores. Carlos Augusto de Castro, Salvador – BA. .....................................................x Prosperidade e sucesso, sempre! Parabéns pelo trabalho e 110

por compartilhar. Sheila Viegas, SECTI, Salvador – BA. .....................................................x Parabéns por mais este passo para a consolidação da Bahia Agrícola. José Fernandes de Melo Filho, UFRB, Cruz das Almas – BA. .....................................................x Sou Professor da UFRB e sempre publico neste veículo. Gostaria de continuar recebendo exemplares. Clóvis Pereira Peixoto, UFRB, Cruz das Almas – BA. .....................................................x Parabéns e parabéns. Sei que a chama dessa Revista não vai se apagar! João Aurélio Soares Viana, Engenheiro Agrônomo, EBDA, Salvador – BA. .....................................................x

Cartas para Redação Revista Bahia Agrícola SEAGRI – 4ª Av. 405, Térreo – CAB Salvador – BA – CEP 41.745-002 (71) 3115-2783 / 2862 agronews@seagri.ba.gov.br


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