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Wish School

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Builders

Builders

Natureza

Apesar de a escola estar localizada em um bairro denso da cidade de São Paulo, e por isso o contato com a natureza ser em uma escala muito pequena, a escola não ignora a importância desta, e sim a reconhece e a preza. Para aproximar a criança da natureza, a escola fez uma horta na cobertura da construção, pois por estar em um terreno pequeno precisava otimizar seu espaço. A horta, além de tra-

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Planta de cobertura

zer a presença da natureza para o cotidiano das crianças, traz muitos benefícios para o seu desenvolvimento. Segundo a pesquisa realizada pela Royal Horticultural Society em parceria com a National Foundation for Education Resarch (NFER), os benefícios são: acadêmico, mental e físico11 .

11 Informação retirada do site Novos Alunos: <https://novosalunos.com.br/por-que-ter-uma-horta-na-escola-infantil/>

Horta

Fonte: Desenho escritório Nitsche com inserção da autora

A escola também tem uma política de combater o desperdicio. Para isto, coleta-se água de chuva para reuso na limpeza e na rega das plantas. Com os alimentos que sobram das refeições fornecidas pela escola, que são lanche e almoço, é feita uma compostagem. Quando o adubo está pronto este é distribuído pela comunidade. Além disso a escola pratica a coleta de lixo seletiva. O edifício da escola se encontra imbricado na quadra, dificultando a entrada de iluminação natural e vento. Na

Planta de cobertura

reforma, o escritório Nitsche, para contornar esta questão, abre claraboias no edifício estreito, que se encontra entre dois terrenos que não pertencem à escola, e na parte mais larga do terreno constrói um pátio central para abrir grandes portas e janelas nos edifícios que se voltam para ele. Através destas aberturas é possível se ter uma boa iluminação natural e assim reduzir o uso da iluminação artificial, e também se permite circular o ar e reduzir o uso do ar-condicionado e dos ventiladores, tendo um menor gasto de energia.

Planta 1o pavimento

Iluminação e ventilação natural

Fonte: Desenho escritório Nitsche com inserção da autora Iluminação e ventilação natural

Fonte: Desenho escritório Nitsche com inserção da autora

Planta térreo

Liberdade

A Builders é uma escola que valoriza o autoconhecimento e as características de cada aluno, por isso a liberdade é algo muito importante para que cada aluno seja quem realmente é e se valorize por isso. Essa liberdade também acontece no espaço físico da escola, com as grandes portas de piso a teto que se tem no pavimento térreo, possibilitando a integração da sala de aula com o espaço externo, e nas salas com divisórias de cortina que também possibilitam dimensionar a sala conforme a necessidade, criando um ambiente de ensino flexível para se adequar às atividades.

Iluminação e ventilação natural

Fonte: Desenho escritório Nitsche com inserção da autora Porta de correr: desenho da autora a partir do projeto do Nitsche para a Builders Divisória de cortinas entre as salas 16,17 e 18: desenho da autora a partir do projeto do Nitsche para a Builders

Além desta questão espacial, o mobiliário também contribui para a liberdade dos alunos. As salas de aula não têm exclusivamente carteiras como nas escolas tradicionais, têm também móveis que permitem diversas configurações, como os caixotes de madeira, que podem funcionar como bancos soltos ou podem criar uma pequena arquibancada, dependendo de como forem configurados. Além deste mobiliário, algumas classes têm também pufs e colchões que deixam o aluno em uma condição mais descontraída do que em uma carteira enfileirada, onde todos olham diretamente o professor e não se vêem uns aos outros.

Caixotes de madeira: desenho da autora a partir do projeto do Nitsche para a Builders

Equidade

A Builders se mostra muito aberta para a inclusão de todos os tipos de alunos. Michella Renan, coordenadora de marketing e comunicação da escola disse “Temos elevadores e rampas de acesso e estamos abertos a fazer as adaptações necessárias para receber pessoas com necessidades diversas, sempre alinhando com a família para que seja viável para todos.” Isso demonstra uma abertura muito importante que as escolas precisam ter com seus alunos e famíliares. Infelizmente não pude ir à escola por causa da pandemia, e por conta da mesma, a comunicação foi comprometida porque as escolas tiveram que se reinventar para conseguir passar por este momento de exceção. Por isso algumas questões ficaram em aberto. Por exemplo, ao estudar a planta se percebe que o edifico onde fica o ginásio, a sala de artes e outras salas, estas têm como único modo de acesso a escada. Não sei como ocorre para os alunos que não possuem esta mobilidade de subir as escadas. É possível imaginar que uma forma de solucionar esta questão de acesso à sala de aula seria colocar a turma deste aluno sempre no outro edifício que tem elevador e rampa de acesso, mas para o acesso à única sala de artes que se encontra no prédio com acessibilidade exclusiva por escadas, desconheço as soluções adotadas pela escola.

Planta subsolo Planta térreo

Escada, rampa e elevador

Fonte: Desenho escritório Nitsche com inserção da autora Escada, rampa e elevador

Fonte: Desenho escritório Nitsche com inserção da autora

Planta 1o pavimento Planta cobertura

Escada, rampa e elevador

Fonte: Desenho escritório Nitsche com inserção da autora Escada, rampa e elevador

Fonte: Desenho escritório Nitsche com inserção da autora

É uma pena que a sala de artes e a horta, que se encontram no mesmo edifício, tenham o acesso reduzido pela questão da mobilidade, pois ambas as atividades são benéficas para todos, e para o grupo que apresenta uma restrição ou uma dificuldade motora especialmente geram grandes benefícios.

“O principal objetivo do ensino da arte para o portador de necessidades educativas especiais é oferecer-lhes oportunidade de desenvolver suas potencialidades através da criatividade, raciocínio, percepção e domínio motor, tendo o acompanhamento de pessoas e profissionais esclarecidos de sua importância, compreendendo os resultados e efeitos provenientes das práticas sugeridas.” WEBER, Maria Luiza Ternes A Horta, como vimos no subcapítulo natureza, é muito benéfica para o desenvolvimento físico, além de trazer outros benefícios para as crianças. A Builders, assim como as demais escolas deste estudo, possibilita a autonomia das crianças por proporcionar o mobiliário na altura adequada para cada faixa etária que ali estuda (1 a 10 anos)

“Atitude mais justa e caridosa seria criar um ambiente adequado no qual a criança estivesse livre da opressão dos adultos onde ela pudesse realmente se preparar para a vida. Ela deveria sentir na escola uma espécie de abrigo na tempestade ou oásis no deserto, um refúgio seguro para seu espírito.” (Maria Montessori) Além do argumento da Maria Montessori, como já mencionado esta opção dá mais conforto e evita as lesões por inadequação de mobiliário.

Foto por: Ana Mello disponível em: http://www.nitsche.com.br/escolabuilders-ed

Cor

As cores na Builders são utilizadas para toda comunicação na escola, desde a localização dos espaços até transmissão dos valores da mesma, e também estão presentes no pergolado localizado no pátio interno. As salas na sua maioria têm paredes brancas, criando um ambiente neutro. Usar o branco na sala não dá margem a erro, pois esta é uma cor neutra que reflete bem a luz, contribuindo para deixar o ambiente bem iluminado, e também cria uma sensação de um espaço maior do que se fosse empregada uma cor escura no mesmo espaço. As cores usadas na comunicação são verde, azul e amarelo, as cores da escola. Como a sinalização foi usada de forma inusitada na própria construção, esta já colore o edifício, como podemos ver nas imagens. O azul é utilizado muito nas pinturas para representar o ar e criar a sensação de distância dos elementos pintados, por isso é a cor mais imaterial das cores. Isto contribui para deixar esta intervenção no prédio de forma mais esfumaçada e gradual. O azul também está ligado ao imaginário, capacidade muito importante de se desenvolver em uma escola.

Uma superfície pintada de azul dilui-se na atmosfera, causando a impressão de desmaterializar-se como algo que se transforma de real em imaginário. A lenda do pássaro azul, símbolo da felicidade inatingível, nasceu, sem dúvida, dessa analogia secreta do azul com o inacessível. Diante do azul a lógica do pensamento consciente cede lugar à fantasia e aos sonhos que emergem dos abismos mais profundos de nosso mundo interior, abrindo as portas do inconsciente. Por sua indiferença, impotência e passividade aguda que fere, ele atinge o clima do inumano e do suprarreal. Segundo Kandinsky (1954, p.66), seu movimento é, ao mesmo tempo, “um movimento de afastamento do homem e um movimento dirigido unicamente para seu próprio centro, que, no entanto, atira o homem para o infinito e desperta nele o desejo de pureza e de sede do sobrenatural. (PEDROSA, 2009, p. 126)

Foto tirada pela autora por meio do tour 360 no site https://builders.com.br/ 79

A cor mais utilizada na escola é o verde. Esta cor é considerada como um matiz que relaxa. Pela infinita gama de seus componentes (azul e amarelo) e pela ampla escala de saturação e claridade que possui, o verde reúne as melhores condições para a decoração de interiores. Seu poder tranquilizante e até sedativo, quando claro, facilmente se conjuga com a estimulante e até inquietante estridência dos tons fortemente saturados, possibilitando o seu emprego tanto nos ambientes de repouso ( sala de estar, quartos de dormir, sanatórios etc), como nos de estudo (gabinetes de pesquisa, salas de aula etc) e de trabalho ( escritórios, lojas, fabricas etc). (PEDROSA, 2009, p. 126) Além disso, o verde no ocidente também é associado a consciência ecológica, o que faz esta cor ter muita ligação com um dos pilares da escola, que é a sustentabilidade. Na foto abaixo podemos ver que o espaço, onde estão escritos os princípios da escola, está pintado predominantemente de verde, reforçando este ponto que constitui uma das bases da escola.

Foto tirada pela autora por meio do tour 360 no site https://builders.com.br/ Na área de brincar interna da Builders School o escritório Nitsche coloca, além do verde, o amarelo na composição. O amarelo é uma cor expansiva e quente deixando assim o ambiente mais acolhedor para as crianças.

Foto tirada pela autora por meio do tour 360 no site https://builders.com.br/

Além da cor pigmento a escola utiliza-se da cor luz no pergolado localizado no pátio interno. A cor luz altera o ambiente ao modificar as cores que estão ao redor e por isso permite criar uma atmosfera no local. Como é possível ver nesta foto de um pátio interno para os menores no qual o pergolado é coberto com uma película azul. Cor muito bem escolhida para um ambiente de brincar pois, como vimos acima, este matiz desperta a imaginação.

Green School

Criadores: John Hardy, canadense, e Cynthia Hardy, americana. Local: Jalan Raya Sibang Kaja, Banjar Saren Abiansemal, Badung Bali 80352, Indonesia Ano de idealização: 2006 Início das atividades: 2008 Pedagogia: Holística Alunos: 500 Comunidade: 700 Nacionalidades: 41

A Green School é uma escola localizada em Bali na Indonésia. Ela atende crianças de 3 anos a 18 anos. A escola foi criada pelo casal John Hardy, canadense e Cynthia Hardy, americana. O casal queria que a filha deixasse de estudar em casa e passasse a estudar em uma escola. Então resolveram abrir uma escola que tivesse os princípios nos quais acreditavam, sendo um dos maiores focos a questão da sustentabilidade. Um dos grandes diferenciais desta escola é que John Hardy é disléxico e por conta desta condição sua forma de aprender é diferenciada da maioria dos estudantes, o que fez com que sua passagem pela escola não fosse algo tranquilo. Isto lhe deu motivação para criar algo diferenciado para que os alunos fossem felizes e que não tivessem medo do processo da aprendizagem. Com este intuito, as crianças aprendem como aprender. O objetivo é incentivar o amor pela aprendizagem, “we are all innately passionate and curious, life-long learners.”12 (https://bnmag.greenschool. org/green-lead/2018/11/02/what-is-the-green-school-curriculum/ ) A visão utilizada pela escola para alcançar este objetivo é a de John Holt o qual diz:

“What makes people smart, curious, alert, observant, competent, confident, resourceful, persistent - in the broadest and best sense, intelligent- is not having access to more and more learning places, resources, and specialists, but being able in their lives to do a wide variety of interesting things that matter, things that challenge their ingenuity, skill, and judgement, and that make an obvious difference in their lives and the lives of people around them.”13 (Three Springs)

12 Livre tradução “Todos somos inatamente apaixonados e curiosos aprendizes a vida toda.” 13 Livre tradução“O que faz as pessoas inteligentes, curio-

Outra característica que diferencia esta escola das outras é a grande abrangência de culturas. Esta diversidade é muito enriquecedora para a vida das crianças que aprendem a conviver com o diferente e a respeitá-lo. Apesar desta grande valorização da diversidade cultural também é considerado de extrema importância que se tenha na escola muitos estudantes locais, o que faz com que a escola seja local, um outro ponto importante para a escola. Para isso eles estabeleceram uma porcentagem necessária de locais que precisam atender: 20% da população da escola precisa ser balinês. O casal teve como uma de suas inspirações a pedagogia Waldorf em que se acredita no ensino interdisciplinar integrando prática, arte e conceito. Nela a imaginação tem um papel muito importante na aprendizagem e tem como

sas, alertas, observadoras, competentes, confidentes, cheias de recursos, persistentes – no mais amplo e melhor sentido, inteligência – não é ter acesso a uma grande quantidade de lugares de aprendizado, recursos e especialistas, mas ser capaz de em suas vidas fazer uma ampla variedade de coisas interessantes e que importam, coisas que desafiam sua ingenuidade, habilidade e julgamento, e que faça uma óbvia diferença em suas vidas e na vida das pessoas que estão à sua volta.” objetivo desenvolver indivíduos livres e moralmente responsáveis. Outra base da escola é o conceito vilarejo escola chamado Three Springs, de Alan Wagstaff14 . Ele é formado pela parte educacional, comercial e social. Na parte educacional estabelece que a escola deve ter uma educação holística15 . Ou seja, uma educação preocupada com o todo do indivíduo e não só com a parte do intelecto como as escolas tradicionais. E por trabalhar o todo permite que os alunos desenvolvam melhor seu potencial, pois esta forma de educar valoriza todos os tipos de inteligência. Todas as atividades que acontecerem no local devem ter uma ligação com a educação da escola. Os tipos de aula são divididos em três grupos. Os estudos integrativos nos quais o aprendizado foca nas principais capacidades: inteligência espiritual, inteligência racio-

14 Este conceito veio da teoria, WAGSTAFF, Alan, Three Springs’ - A Design Concept For A Learning Neighbourhood. Disponível em: < https://www.yumpu.com/en/document/view/4432517/ three-springs-a-design-concept-for-a-learning-green-school > 15 Holística vem do termo da Grécia antiga Holos que significa todo ou inteiro Apesar de o termo educação holística ser um conceito novo a Waldorf que data de 1919 não usava este termo mas já trabalhava o conceito na sua pedagogia. nal, inteligência emocional e inteligência cinestésica, com um único contexto de aprendizagem. O outro grupo seriam as aulas de proficiência com o conteúdo tradicional. Matérias que necessitam da repetição, 15 aulas semanais, 45 min cada. Cada assunto será visitado 3 vezes na semana. E por último o bloco de aulas com o propósito de facilitar o empreendedorismo e a educação tecnológica, promover educação física e saudável e prover educação artística e artesanal. Para este são dedicados os últimos 90 minutos do dia. Em cada grupo o aluno pode optar quais matérias deseja fazer e as aulas são construídas junto com os alunos. Dessa forma o aluno é ativo na sua formação. Na implantação da escola permaneceram 3 divisões, mas agora estas eram: Creative Arts (Arte Criativa), Academics (Acadêmicas) e Green Studies (Estudos Verdes). A primeira é onde se tem as aulas de teatro, artes visuais, música, trabalhos manuais e narrativa. Estas aulas servem para as crianças poderem conhecer outras culturas. Além disso este bloco de matérias se integra com as outras e tem como função aprofundar os temas vistos em outras aulas. O segundo bloco são as aulas acadêmicas e segue o mesmo que o conjunto proficiência proposto por Alan Wagstaff; são as aulas tradicionais, inglês matemática, história entre outras. E o último, os estudos verdes, é um estudo prático no qual há uma linha de desenvolvimento dos menores aos mais velhos na seguinte sequência: estudo da natureza, estudo da ecologia, estudo do meio ambiente e por último o estudo de sustentabilidade. Essa matéria é a responsável por fazer a ligação das outras matérias. Neste conceito de vilarejo escola chamado Three Springs, Alan Wagstaff propõe a seguinte infraestrutura: Uma casa de entrada que servirá de recepção, administração e área de exibição. Esta casa abriga atividades de mediação entre interior e exterior. Terá também caminhos que ligarão os locais de estudo, jardins orgânicos e áreas de brincar. Cada vila terá seus jardins e estábulos, casa de pombas, lugar dos patos. Cada classe terá sua própria vila que terá um chalé. Todas as construções devem ser sustentáveis. As energias provirão da luz solar ou por meio da movimentação da água ou do vento. Os dejetos do banheiro e a comida serão utilizados para a realização de compostagem.

Entrada Casa de entrada Caminho Vila Chalé

Compilação da autora a partir do documento Three Springs de Alan Wagstaff.

A parte comercial composta por empresas, terá uma troca com a escola. Por um lado ela receberá da instituição de ensino um fluxo de clientes e visitantes, terá um entorno bonito, um meio sustentável. Em troca a empresa terá que fornecer oportunidades de aprendizado como workshops para os alunos e terá que produzir itens artesanais para o vilarejo e para a escola. E a última parte, a social, engloba estas mútuas relações entre empresas e escola, mas também entre residentes e escola, em que os residentes receberão da escola, assim como as empresas, um ambiente agradável e sustentável, e também oportunidades de emprego. Em troca os residentes darão um retorno em capital para a escola e oportunidades de aprendizado para os estudantes. Também existem pessoas que bancam bolsas de estudos para estudantes locais que não têm os recursos para estar na escola. Como forma de reconhecimento destes doadores seus nomes são inscritos nos bambus dos edifícios da escola. Esta forma de ver a educação exigiu um espaço completamente diferente do tradicional para que a construção também tivesse alinhada com o discurso da escola. A seguir será mostrada esta arquitetura diferenciada que a forma da escola exigiu.

Espaço arquitetônico

Escritório: IBUKU Área do terreno: +/- 80.000m2 Área construída: 7.452m2 Material: Bambu

Coração/ Adiministração Ginastica

Salas de aula

Ponte

Cozinha

Fábrica de bamboo

Foto tirada do google earth com intervenção da autora

Natureza

A Green School tem como uma de suas bases principais a questão da sustentabilidade. No currículo da escola um dos grandes grupos que forma a grade curricular dos alunos são os estudos verdes. Como já foi dito anteriormente, é uma parte dos estudos dedicada à natureza, ecologia e sustentabilidade de forma prática. Além da presença da natureza nos estudos e em suas preocupações, podemos ver esta mesma atenção nos espaços da escola. Para conscientizar e deixar o aluno mais próximo da natureza os ambientes não possuem paredes e muitos tem uma parte do teto em plástico. Dessa forma os alunos estão em contato direto tanto visualmente como fisicamente com a natureza, compreendendo sua relevância e assim podem cuidar dela. Como a escola está cercada de mata não há barulho externo que atrapalhe e distraia as crianças; o que há é o barulho da natureza que é relaxante, contribuindo para a concentração do aluno. A inexistência de paredes permite que o ar circule constantemente pelas construções e junto com o teto transparente permite uma maior entrada de luz natural fazendo com que os ambientes raramente precisem usar iluminação artificial, usando pouca energia. Abaixo comentário de um estudante do 10º ano Balinês da Green School).

“ Before (I came to Green School) I didn’t know anything about this school. I went to this school and I thought I was going to get sick because of the wind (Later) I went back to my public school for my national exam and it was like, “I can’t do these exams because of these walls! I can’t see the trees!” I want to have inspiration when I stare at trees, when I’m thinking. The wind helped me more. I don’t know why. Maybe it’s just me. In math I was always frustrated (like), “Oh my god, this calculation is really hard.” I was staring at the trees and then (suddenly), “Oh! I got this!” Like breeze. Maybe it’s just me… I don’t know (Grade 10)”16

16 Livre tradução: Antes (de eu vir para a Green School) eu não sabia nada sobre esta escola. Eu vim para esta escola e eu pensei que eu ficaria doente por causa do vento. (Depois) Eu voltei para a minha escola publica para os exames nacionais e era como “Eu não posso fazer estes exames por causa destas paredes! Eu não posso ver as arvores!” Eu quero ter inspiração, quando eu encaro as arvores, quando eu estou pensando. O vento me ajudou mais. Eu não sei por quê. Talvez seja só eu. Em matemática eu era sempre frustrado (tipo), “Oh meu deus, esta conta é muito difícil.” Eu estava olhando as àrvores e então (de repente) Oh! Eu entendi isso!” Como brisa. Talvez seja só eu...Eu não sei. (10o ano, aluno Balinês.)

Corte

Ventilação natural Iluminação natural

Fonte: Desenho escritório IBUKU com inserção da autora Toda energia utilizada na Green School é sustentável. Devido à escola estar em um país tropical com muitos dias e horas de sol se optou por fazer uso da energia solar. Por haver um rio na região foi feita uma micro-hidrelétrica e, por último, se utilizam de biodiesel como fonte de energia. Como foi dito anteriormente no subcapítulo Liberdade, a Green School tem uma grande diversidade de natureza. Há espaços em que se tem um amplo gramado verde, outros que tem horta e outros ainda com mata fechada. Na escola também passa um rio e muitos animais ficam soltos além de inúmeros insetos. Todo este grande ecossistema é preservado pela escola. Abaixo temos uma foto onde é possível ver o rio no primeiro plano, depois uma plantação e por último uma mata fechada mostrando a diversidade local.

Foto do site da Green school: https://www.greenschool.org/bali/?t=gs.org

Para gerar o menor impacto possível no ambiente, eles projetram banheiros secos que permitem a compostagem dos dejetos. Este banheiro funciona da seguinte maneira: embaixo da privada há um caixote com inclinação para permitir aos dejetos descerem e se aglomerarem no final

Corte esquemático

do compartimento. A cada vez que uma pessoa utiliza o banheiro, no final, ao invés de dar uma descarga, joga-se uma serragem para que se possa formar o adubo. E para não ficar o cheiro se coloca uma “chaminé” que liga este compartimento com a área externa para que os gases possam ser liberados.

Banheiro

Sistema de compostagem: desenho da autora a partir da imagem do site printerest: https://br.pinterest.com/ pin/420101471475455961/

Liberdade

A Green School é uma escola que possibilita uma grande liberdade para os alunos ao permitir que eles escolham suas matérias e nas relações que se têm na escola, entre professores e alunos, nas quais o diálogo acontece de igual para igual sem hierarquia. Essa grande liberdade foi amplificada ao trazer este conceito também para a arquitetura pois quando não se tem paredes17 , pode-se entrar

17 Algumas construções que precisam de mais privacidade têm e sair nas edificações por onde quiser, deixando o percurso fluido e enriquecendo as diversas experiências que se pode ter ao entrar por diferentes pontos em um mesmo local. E o fato de não ter paredes também dá a liberdade de o aluno estar ou não no lugar. “Não ter paredes nas salas é basicamente a metáfora da liberdade que você tem. Você pode ir o quão longe quiser. Pode fazer qualquer projeto que quiser, qualquer coisa pela qual esteja interessado. Sempre haverá apoio. E há quase sempre relação com a parte ambiental e a sustentabilidade, pois é disso que o mundo precisa agora. E aqui você acha que, quando está rodeado de natureza, mais pessoas se importam com ela. Porque fora desta bolha de bambu a realidade não é assim. Estamos basicamente em um

paredes, como enfermaria, escritório do diretor, banheiro de compostagem, o centro de apoio de aprendizagem ao aluno entre outros.

1 Usuário 2 Usuário Fonte: Desenho escritório IBUKU com inserção da autora

ambiente que nos incentiva a tornar todos os outros lugares parecidos com a Green School” Ruby Bouke, aluna. (Educação, natureza e sustentabilidade / Destino Educação – Escolas inovadoras (Bali), canal Futura https://www.youtube.com/watch?v=ixeF84BLRj4 acesso em 25/09/2020 as 16:07)

O fato de não ter paredes mostra não só a liberdade que os alunos podem ter, mas a força que eles têm para alcançar seus sonhos. Outro ponto também importante para a escola que se reforça ao não ter paredes é a sustentabilidade, pois a sua ausência permite uma maior conexão com a natureza e assim os alunos estão com ela sempre por perto lembrando de sua importância. Além de não ter paredes, outro aspecto da escola que aumenta a liberdade dos alunos é o grande terreno no qual a escola se encontra que proporciona uma riqueza de situações, como a de um grande campo aberto ou a de uma mata fechada ou a de um rio. Isso permite que diversas atividades possam acontecer no espaço.

Fonte: IBUKU https://ibuku.com/

Foto: Teline Vicenzi / Green School Foto: Carol Da Rival / Divulgação http://g1.globo.com/educacao/noticia/2016/04/brasileira-da-aulas-na-escola-mais-verde-do-planeta-na-indonesia.html

Equidade

A Green School tem um currículo no qual muitas das atividades têm como modo de aprendizagem a ação. Essa forma de ensinar juntamente com o amplo espaço da escola, que permite um grande gasto de energia por possibilitar correr em grandes gramados, subir em árvores entre outras atividades, apresenta uma boa adaptação para os alunos com TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade). Segundo o Instituto Neuro Saber, o exercício ajuda a todas as crianças, e principalmente àquelas com TDAH, no desempenho na escola, tendo uma melhora da memória, da concentração dentre outros. A escola tem uma equidade cultural, pois ela não apresenta exclusividade em uma única cultura, mas valoriza as diversas culturas. Por a escola ter espaços amplos nas suas construções, já que estas não são subdivididas por paredes, e uma diversidade de espaço natural, como foi apresentado no subcapitulo natureza, possibilita uma ampla gama de atividades como a luta marcial local chamada Mepantigan18 , que precisa de um poço de lama para ser

18 “Arte Marcial Mistica. Focada não só na luta e na vitória, mas também na autodefesa, na autodisciplina e na autoconfianrealizada. Na escola há uma grande troca entre as culturas, criando um respeito pela diversidade cultural, e ao mesmo tempo há uma valorização da cultura local. Sendo uma escola fundada por uma americana e um canadense e por ter muitos alunos de fora poderia acabar se desconectando do local que ela foi implantada. Portanto esta valorização não é de forma impositiva, mas para que conectem com o lugar que estão e conheçam uma nova cultura.

ça. E também se conecta com a natureza através da lama.” ((Educação, natureza e sustentabilidade / Destino Educação – Escolas inovadoras (Bali), canal Futura https://www.youtube.com/watch?v=ixeF84BLRj4 acesso em 25 set. 2020)

Fonte: print do vídeo ((Educação, natureza e sustentabilidade / Destino Educação – Escolas inovadoras (Bali), canal Futura https://www.youtube.com/watch?v=ixeF84BLRj4 acesso em 25 set. 2020)

Para os pequenos, assim como nas demais escolas mostradas neste trabalho, apresenta um mobiliário adequado à sua altura proporcionando independência aos alunos e que eles possam usufruir do mobiliário sem causar lesões por estarem apropriados às suas medidas. Nesta imagem é possível ver a preocupação de não usar móveis com quinas nos ambientes para as crianças menores para não se machucarem.

Fonte: Ibuku https://Ibuku.com/

Cor

A cor utilizada no ambiente da escola está diretamente ligada ao princípio de sustentabilidade. Os matizes são todos provenientes do próprio material utilizado, o bambu, sem nenhuma adição de pigmento artificial. Os mobiliários que possuem tecido têm seu pigmento em tons terrosos e os que saem um pouco destes tons estão em conversa com este grupo de cores. Assim o ambiente reforça e deixa mais próxima esta filosofia de sustentabilidade aos usuários, ajudando-os a se conscientizarem das questões do meio ambiente. “If we want children to flourish... we need to give them time to connect with nature and love the Earth before we ask them to save it”19 (SOBEL, David) Abaixo temos uma paleta dos ambientes internos da escola e depois uma paleta de um ambiente externo ao redor da escola para mostrar esta proximidade dos tons de matizes.

19 Livre tradução: Se queremos que as crianças floresçam... nós precisamos dar a elas tempo para se conectarem com a natureza e amarem a Terra antes de pedirmos a elas que a salvem. Retirado de HAZZARD, Marian, HAZZARD, Ed, ERICKSON, Sheryl. The Green School Effect: An Exploration of the Influence of Place, Space and Environment on Teaching and Learning at Green School, Bali, Indonesia

Fonte: Green school, disponível em: : https://www.greenschool.org/insights/ how-we-do-numbers-in-the-jungle/ com intervenção da autora

As cores têm diversos significados em cada cultura, pois sua associação é distinta para cada povo. Assim esta neutralidade das cores também contribui para a multiculturalidade que a escola tem.

Fonte: Green school, disponível em: : https://www.greenschool.org/insights/ how-we-do-numbers-in-the-jungle/ com intervenção da autora

Diretrizes

“É importante verificar as condições do ambiente construído após determinado tempo de uso para analisar os aspectos positivos e negativos e estas funcionam como retro alimentação para futuros projetos semelhantes.” (Ministério da Educação Secretaria da Educação Infantil e Fundamental, Padrões de infraestrutura para as instituições de educação infantil e Parâmetro de qualidade para a educação infantil).

A partir desta ideia da importância de se conhecer o que já existe para se criar um novo foi feita a análise destas quatro escolas para compreender aspectos importantes que devem ser pensados ao se realizar o projeto de uma escola. Após este levantamento foram organizado e enfatizados aspectos relevantes de serem considerados em um projeto escolar e listadas formas de resolver e criadas soluções em mobilíario e comunicação. Seguindo a mesma estrutura do estudo das escolas (liberdade, cores, acessibilidade/ equidade e natureza) serão mostradas as conclusões e ideias que surgiram a partir deste estudo.

Natureza

Na escola, por ser um espaço de aprendizado, é muito importante que se fale sobre as questões ambientais, pois se estas não forem cuidadas teremos um desastre incorrigível. Mas é muito importante que além de ensinar verbalmente a escola realize ações. Ao colocar o ensino em prática não apenas facilita ao estudante compreender a matéria como estará também fazendo a sua parte na questão ambiental. O Brasil está fazendo parte da Agenda 2030 para a qual vários países se reuniram e colocaram 17 metas para serem cumpridas até 2030, para que não haja danos ambientais catastróficos. Nesta agenda colocaram metas para a questão da água, da energia e da agricultura sustentável. É importante que as escolas realizem ações nesta direção para que estes objetivos possam ser alcançados. A partir dos exemplos das escolas estudas temos algumas diretrizes do que a escola pode fazer para contribuir para um planeta mais sustentável. A água, apesar de ser algo que se renova com as chuvas, seu ciclo de renovação leva um tempo. Se não tomar cuidado com o consumo pode se gastar de uma forma mais acelerada do que ela pode se renovar. Para que isso não aconteça é muito importante que não haja o desperdício da água. Uma forma que a escola tem de ajudar a não ter este desperdiço é fazer o reuso da água da chuva a partir da captação por meio de cisternas. Algumas cisternas são de simples instalação e podem ser aplicadas mesmo em escolas já existentes. Por estas cisternas terem um processo de limpeza da água é possível utilizar a água para limpeza da escola, e rega das plantas. Escolas que possuem uma boa iluminação natural e ventilação natural estão contribuindo para que haja um menor consumo energético, pois estas escolas não precisarão, ou se precisarem será em uma escala menor, utilizar da luz artificial, do ar-condicionado e ventilador. Além disso, segundo o artigo da Franciely Antunes Grou e Virgínia Celia Costa Marcelo publicado na revista de iniciação cientifica da UNESC a iluminação natural traz muitos benefícios para o estudante, como aumentar a produção de vitamina D, diminuir a formação anormal de ossos, melhorar a qualidade do sono, diminuir o stress, aumentar a atividade cerebral entre ou-

tros. Para prover uma boa iluminação e ventilação natural é preciso ter grandes aberturas como janelas e portas. Para que haja uma melhor ventilação é necessário que haja duas aberturas, sendo elas opostas seu efeito é mais eficiente. Para escolas, como é o caso da Wish School e da Builders, em que uma das faces ou mais estejam no limite do terreno, uma solução que vimos nos capítulos anteriores é fazer aberturas zenitais. Mas é importante que estas aberturas tenham um tratamento e/ ou uma dimensão que não faça o ambiente se tornar uma estufa. Por estarmos em um país tropical precisamos tomar cuidado com a quantidade de vidros fixos principalmente em ambientes que precisem ficar fechados para certas atividades na escola pois, apesar de contribuir para a questão da iluminação artificial, acabará prejudicando na questão climática aumentando o consumo do ar-condicionado e ventilador. A realização de compostagem é uma forma de reutilizar algo que seria descartado e trazê-lo para o seu meio de origem fechando assim um ciclo. Há vários tipos de compostagem. Como vimos, tem o que é utilizado na Green School no qual se faz a compostagem dos dejetos humanos, e tem a compostagem utilizada na Builder de mais fácil aplicação imediata, que é a compostagem de restos de alimentos. Esta compostagem não exige grandes espaços nem reformas no espaço. Basta ter recipientes proporcionais ao consumo da escola em que se possa colocar terra, os restos de alimentos e minhoca para acelerar a compostagem. Com a compostagem realizada, o resíduo se torna adubo e pode ser utilizado pela escola para fertilizar o solo e, caso se produza mais do que o necessário para a escola, este pode ser distribuído para a comunidade como ocorre na Builders.

Além da compostagem é importante que as escolas adiram à reciclagem separando os lixos e levando para um lugar de coleta, ou que haja uma coleta na própria escola, para que os materiais inorgânicos não virem lixo, mas possam ser transformados e reusados de outra forma. Uma reciclagem que é viável fazer na própria escola pelos alunos é a reciclagem do papel. Para isso é preciso ter os equipamentos necessários como uma peneira no formato do papel desejado. Quanto ao espaço, não se exige grandes transformações. A única área que seria mais específica seria um local para secar o conteúdo que está na peneira para que vire papel, pois o resto da atividade pode ser facilmente executado em uma sala comum.

A presença da horta é importante para o aprendizado da criança, pois, como falado anteriormente, ela, de forma prática, ajuda no aprendizado das crianças nas questões ambientais, de sustentabilidade e na compreensão do ciclo do alimento e seu desenvolvimento. Ela também tira os alunos da sala de aula e permite este contato físico com a natureza, o que é muito benéfico para a saúde mental dos alunos. Escolas que estão no meio da cidade e possuem pouca área livre podem procurar soluções como hortas nas lajes de cobertura, como visto na escola Builders. Se por algum motivo não for possível nem na cobertura a presença de uma horta, uma solução possível seria plantar uma árvore ou arbusto frutífero para que os alunos possam entender melhor de onde vem os alimentos e também, como a horta, pode servir para falar de questões ecológicas com os alunos. Sempre que possível é importante que exista na escola uma área verde para que a criança possa correr, subir em cima de uma árvore, gastar sua energia. Assim, quando voltar para os estudos estará mais concentrada. Além disso, estudos feitos pela Universidade de Chiba e pela Escola Médica Nippon, em Tóquio, mostram que o contato com a natureza pode diminuir a pressão arterial e a frequência cardíaca, fortalecer o sistema imunológico, e diminuir os sintomas do estresse. (essa informação foi retirada do site da Medlley, https://www.medley.com.br/blog/saude-mental/beneficios-contato-com-natureza). Para escolas que não possuem este espaço uma alternativa, se possível, é fazer uma área verde na cobertura como também foi sugerido para a horta.

Liberdade

A liberdade das crianças e sua autonomia, conforme é possível em cada idade, são muito importantes para seu desenvolvimento e para que o processo da aprendizagem seja mais gostoso e mais efetivo. Olhando este conceito de liberdade e como a arquitetura pode contribuir para isso foram pensados alguns aspectos que poderiam ser levados em consideração e algumas formas que poderiam ser implementadas em uma escola. Um deles é relativo aos ambientes que não precisam de um acesso mais controlado como laboratórios, cozinha entre outros, terem pelo menos dois acessos e, preferencialmente, não no mesmo lado. isto permite que as pessoas possam circular de uma forma fluida e criar caminhos distintos para se chegar a um mesmo lugar, exercitando assim o cérebro por não entrar no automático da mesmice. Além disso, permite à pessoa ver um mesmo ambiente de outro aspecto, ampliando sua visão e sua compreensão espacial. É interessante que um destes acessos tenha porta camarão ou de correr com grande abertura, pois permite integrar dois espaços e realizar novas configurações que sejam mais adequadas às atividades propostas. A ausência de corredores também possibilita liberdade aos alunos, pois estes elementos estreitos controlam, como bem diz a Regina Steure, e também conduzem a uma forma de percorrer, retirando a escolha do usuário. Thornburg (2004) criou uma teoria para um novo sistema educacional em que divide os espaços de aprendizagem em três metáforas:

“1. Campfires (fogueiras): metáfora da fogueira que designa lugares de reunião em torno de um contador de histórias. Sobressai a figura do professor que compartilha seu conhecimento com os alunos.

2. Watering hole (poço d ́água): metáfora de uma fonte onde todos vão em algum momento para tomar água, lugar, portanto, da troca de informação, do compartilhamento de conhecimento.

3. Cave (caverna): metáfora que relaciona o espaço de uma caverna com o ambiente onde entramos em contato com nós mesmos, ou seja, o espaço individual, para refletir e estudar (THORNBURG, 2004).” (Trecho retirado do texto O design em estratégias de aprendizagem escolar)

A partir destes espaços foram pensados ambientes e mobiliários que criassem o ambiente propício para estas

atmosferas acontecerem. Um dos ambientes pensados foi o nicho em uma parede que pode gerar um espaço de maior introspecção para uma atividade como leitura ou tarefa individual ou qualquer outra que exija esta mesma atmosfera de introspecção. Estes nichos, em momentos que não sejam necessários, podem virar um espaço de guardar materiais. Caso o projeto seja realizado em uma escola ja existente, é possivel criar-se caixotes de tres lados, que fixados à parede, criam estes nichos. Dessa forma, é possivel criar-se este espaço de recolhimento sem grandes obras.

Fonte: Proposta da autora Como mobiliário, foi criado um banco que pode mudar sua altura transformando-se em um apoio, como uma mesa baixa para as atividades realizadas no chão. Acompanhando este móvel, pode haver um colchão que pode ser usado tanto para as crianças se deitarem como para colocar na parede e servir de apoio às costas ao sentar-se no chão. Estas são algumas formas que estes elementos podem ser usados, mas também não são as únicas.

Fonte: Proposta da autora

Outro mobiliário criado foi a mesa. Ela foi pensada em dois tamanhos e de uma forma irregular para gerar condições diferentes para os usuários, assim eles têm a possibilidade de escolher a melhor forma que querem para cada situação. A mesa menor pode ser usada para uma atividade mais individual ou até em dupla. E a mesa maior comporta grupos de até cinco pessoas. Além de serem irregulares, as mesas foram pensadas para terem mútiplas formas de serem agrupadas para poder permitir a união de número diverso de pessoas. Esta irregularidade gera momentos de maior proximidade com a pessoa ao lado que podem ser necessários ao compartilhar uma leitura em conjunto, ou quando forem mexer em um mesmo material. Mas também gera, em outros momentos, afastamento, para quando, mesmo em um trabalho em grupo, precise fazer uma tarefa mais individual; ou mesmo se o trabalho tem grandes dimensões e é necessária uma superfície maior para apoiá-lo. Essas são algumas possibilidades e condições que a mesa pode permitir, mas com a criatividade do usuário, estas não são as únicas. Pensando na liberdade, um outro conceito que anda muito próximo a este, que também foi levado em consideração para que a liberdade oferecida através deste mobiliário fosse total, foi o conceito de equidade. Para isto foi pensado em uma mesa que pode se acoplar a esta e de fácil encaixe para pessoas que usam cadeira de rodas e para que professores possam se sentar em uma altura adequada e confortável para eles (importante lembrar que como o foco deste trabalho são as crianças do ensino fundamental I, as alturas dos mobiliários formam adequadas à altura desta faixa etária dos 7 aos 9 anos que, segundo a Unimed tem de 1,14 a 1,24m). Esta mesa é composta de um tampo, dois perfis "C" que se encaixam na lateral da mesa e, por meio de um pino de pressão em cada um destes perfis, o faz se fixar à mesa. A mesa foi pensada com pontas arredondadas para evitar acidentes gerando um maior conforto para os usuários e que acaba resultando em uma maior autonomia e liberdade.

Fonte: Proposta da autora

Fonte: Proposta da autora Fonte: Proposta da autora

Fonte: Proposta da autora

Equidade

Segundo Hutmacher (2001), equidade está relacionada com a distribuição/ aquisição justa de recursos. Isso é, cada pessoa tem suas características próprias que farão com que se desenvolva de uma maneira distintas às outras. Cabe à escola olhar estas características e fazer com que a criança se desenvolva da melhor maneira possível. Isso seria feito disponibilizando-se os recursos adequados às suas características para que haja um crescimento coerente com as suas potencialidades. Em 2015 foi sancionada a lei número 13.146 que diz

“Art.10- É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Art.28- Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: I - Sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida”. Portanto toda escola deveria aceitar todos os tipos de criança gerando a inclusão. A educação inclusiva é muito importante tanto para o educando com deficiência como o sem. Uma pessoa com deficiência,20 ao conviver com as outras crianças, começa a ser enxergada na sociedade e entendida, com isso a criança pode ter um melhor desenvolvimento. E as crianças sem a deficiência, quando convivem com uma criança com deficiência elas aprendem a ver o outro e aceitá-lo e assim como qualquer criança, as com deficiências tem seus pontos fortes e com eles as outras crianças também vão poder aprender. No ano de 2020 saiu o decreto Federal No 10.50221 em que a família pode escolher colocar a criança em uma escola inclusiva ou especial. Dessa forma retira a obrigação, do Estado de prover uma educação de equidade para as crianças com deficiência as incluindo na sociedade. Segundo Eucia Beatriz Lopes Petean, professora da Faculdade

20 “O texto aprovado pela Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidades das Pessoas com Deficiência, em 2006, estabeleceu a terminologia mais apropriada: pessoas com deficiência.”(ROCHA, Fabiana Esperança, portal educação Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/ conteudo/artigos/psicologia/qual-o-termo-certo/54811> ) 21 Em 12/2020 Toffoli suspende este decreto temporariamente, o qual será submetido a referendo nos próximos dias.

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