Literatura

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LITERATURA

LINGUAGEM POÉTICA

ÍNDICE Linguagem poética ...................................... História da literatura ............................... Gêneros Literários ..................................... Estrutura da narrativa .............................. Trovadorismo .............................................. Humanismo ................................................... Barroco ......................................................... Arcadismo .................................................... Romantismo .................................................. Realismo / Naturalismo ............................. Parnasianismo .............................................. Simbolismo ................................................... Pré-modernismo .......................................... Vanguarda Europeias no Brasil................. Modernismo ................................................. Tendências contemporaneas ....................

VERSIFICAÇÃO

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Versificação: é a técnica de fazer versos ou de estudar-lhes os expedientes rítmicos e métricos de que se constituem. Prosa – é a forma de expressão continuada. Embora a prosa também possa ter ritmo, aqui ele é menos rigoroso que na poesia. Organiza-se em parágrafos. Poema – composição literária organizada em versos, que, por sua vez, se organizam em estrofes. Poema em prosa – composição literária que expressa um todo poético, não se configura em versos e apresenta estruturação livre, organizada em parágrafos. Aqui os parágrafos dão desobrigados da estruturação habitual, com tópico frasal e ideias secundárias. Exemplo: O poema Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco. Mas ele, aquela noite, não escreveu nada. Para quê? Se por ali já havia passado o frêmito e o mistério da vida... (Mário Quintana – sapato florido)

Verso – é o conjunto de palavras que formam, dentro de qualquer número de sílabas, uma unidade fônica sujeita a um determinado ritmo. Em outras palavras, verso é cada linha do poema. Estrofe – agrupamento de versos que formam um conjunto rítmico e significativo. MÉTRICA Metro é a medida do verso. O estudo do metro chama-se metrificação e escansão é a contagem dos sons dos versos. As sílabas métricas, ou poéticas, diferem das sílabas gramaticais em alguns aspectos. Contam-se as sílabas ou sons até a tônica da última palavra de um verso. Exemplo: A-mo-te,ó-cruz,no-vér-ti-ce-fir-ma/da = 10 sílabas De es-plên-di-das-i-gre/jas = 6 sílabas Mi-nha-mu-lher-ex-pi-rou = 7 sílabas E as-bre/ves = 2 sílabas Vir-gem-das-do/res = 4 sílabas

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Tipos de verso A um número de sílabas métricas em determinado verso podem ser atribuídos nomes:  Dodecassílabo: 12 sílabas

Um par formado por um hexâmetro e um pentâmetro designa-se dístico elegíaco. Métrica medieval Na Idade Média continuou a usar-se o pé como unidade métrica. Mas nessa época a noção de quantidade já não era aplicável às sílabas na generalidade das línguas. Assim, o pé passou a contar-se em função das sílabas tónicas. Tipos de pé:  Troqueu - Uma sílaba tônica e uma átona;  Iambo - Uma sílaba átona e uma tônica;  Dátilo - Uma sílaba tônica e duas átonas;  Anapesto - Duas sílabas átonas e uma tônica.

Ins | pi | ra | do^a | pen | sar | em | teu | per | fil | di | vi | (no) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

-Alexandrino - Dodecassílabo com tônica na sexta e na décima segunda sílaba, formando dois hemistíquios.  Decassílabo: 10 sílabas (muito comum em sonetos e presente em Os Lusíadas de Luís de Camões) Não | tens | que | ças | da | que | lea | mor | ar | den | (te) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

- Heroico - Decassílabo com sílabas tônicas nas posições 6 e 10 - Sáfico - Decassílabo com sílabas tônicas nas posições 4, 8 e 10 -Martelo - Decassílabo Heroico com tônicas nas posições 3, 6 e 10 - Gaita Galega ou Moinheira - Decassílabo com tônicas nas posições 4, 7 e 10

Versos Isométricos A poesia clássica elaborava preferencialmente poemas com versos isométricos, isto é, com a mesma medida. Por exemplo, a epopeia camoniana foi construída toda ela com versos decassílabos. "Cessem do sábio grego e do troiano as navegações grandes que fizeram. Cale-se de Alexandre e de Trajano a fama das vitórias que tiveram, Que eu canto o peito ilustre lusitano a quem Netuno e Marte obedeceram. Cesse tudo que a Musa antiga canta que outro valor mais alto se alevanta."

 Redondilha maior ou heptassílabo: 7 sílabas Se | nho | ra, | par | tem | tão | tris | (tes) 1 2 3 4 5 6 7

 Redondilha menor: 5 sílabas Tan | tos | gri | tos | rou | (cos) 1 2 3 4 5

Versos Heterométricos A poesia moderna por ser revolucionária, vanguardística, substituiu o verso metrificado pelo verso livre, isto é, livre de qualquer forma de fôrma préestabelecida, não tendo nem regularidade métrica nem rima. Alguns poemas de autores modernos podem valerse de versos metrificados e com rimas, mas sem preocupação com uma determinada regularidade. São os versos heterométricos, metrificados, mas com grande variação. Exemplo: ENCONTRO Almas gêmeas? Não sei... tanto faz. O que importa é que minh'alma quando encontra a tua a paz se faz. Minha alma fica nua, revela-se, desvela-se e nisso se compraz. Mas quando o meu penetra o teu corpo, tudo nele se contrai tudo nele se distrai e faz-se morto de prazer.

A lista geral de designações é a seguinte: 1. Monossílabo: 1 sílaba 2. Dissílabo: 2 sílabas 3. Trissílabo: 3 sílabas 4. Tetrassílabo: 4 sílabas 5. Pentassílabo ou Redondilha Menor: 5 sílabas 6. Hexassílabo ou Heroico Quebrado: 6 sílabas 7. Heptassílabo ou Redondilha Maior: 7 sílabas 8. Octossílabo: 8 sílabas 9. Eneassílabo: 9 sílabas 10. Decassílabo: 10 sílabas 11. Hendecassílabo: 11 sílabas 12. Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas. Métrica clássica Na poesia grega e latina, a métrica conta-se em função da quantidade das sílabas, consoante sejam breves ou longas. Ao conjunto de sílabas chama-se pé. Entre os mais divulgados contam-se o iambo, com uma sílaba breve seguida de uma longa (U—); o espondeu, com duas sílabas longas (— —); o dáctilo com uma sílaba longa e duas breves (—UU). Dos diversos tipos de versos usados, destacam-se o hexâmetro, com seis pés, e o pentâmetro, com cinco pés. O hexâmetro classifica-se segundo o tipo do penúltimo pé: hexâmetro dactílico com o quinto pé dáctilo, e hexâmetro espondaico com o quinto pé espondeu.

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SONETO

c) Emparelhadas: O primeiro verso rima com o segundo, e o terceiro com o quarto (aabb). “Aos que me dão lugar no bonde e que conheço não sei de onde, aos que me dizem terno adeus sem que lhes saiba os nomes seus[…]”

Soneto é um poema de forma fixa, composto por 14 versos. Pode ser apresentado em 3 formas de distribuição dos versos:  Soneto italiano ou petrarquiano: apresenta duas estrofes de 4 versos (quartetos) e duas de 3 (tercetos)  Soneto inglês ou "Shakespeareano: três quartetos e um dístico  Soneto monostrófico: Apresenta uma única estrofe de 14 versos.

(Obrigado, Carlos Drummond de Andrade)

d) Encadeadas ou Internas: Quando rimam palavras que estão no fim do verso e no interior do verso seguinte: “Salve Bandeira do Brasil querida Toda tecida de esperança e luz Pálio sagrado sobre o qual palpita A alma bendita do país da Cruz.”

Estrutura O soneto possui uma estrutura lógica com uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão, constituída pelo último terceto; esta última tomou o nome de "chave-de-ouro", porque se constitui como decodificadora do significado global do poema.

e) Misturadas: Não têm ordem determinada entre as rimas. “A chuva chove mansamente… como um sono Que tranquilize, pacifique, resserene… A chuva chove mansamente… Que abandono! A chuva é a música de um poema de Verlaine… E vem-me o sonho de uma véspera solene, Em certo paço, já sem data e já sem dono… Véspera triste como a noite, que envenene … Num velho paço, muito longe, em terra estranha, Com muita névoa pelos ombros da montanha… Paço de imensos corredores espectrais, Onde murmurem, velhos órgãos, árias mortas, Enquanto o vento, estrepitando pelas portas, Revira in-fólios, cancioneiros e missais…”

RIMA A rima é uma homofonia externa, constante da repetição da última vogal tônica do verso e dos fonemas que eventualmente a seguem. A rima pode ser classificada segundo sua Posição no Verso, sua Posição na Estrofe, a sua Sonoridade, a Tonicidade e ainda o seu Valor. Classificação das Rimas Posição no verso Externa - Quando a rima aparece ao final do verso. É o tipo mais comum de rima. Interna - Quando a semelhança fonética aparece no interior do verso. “Lembranças, que lembrais meu bem passado Para que sinta mais o mal presente Deixai-me se quereis viver contente Não me deixeis morrer neste estado”

(A Chuva Chove, Cecília Meireles)

f) Versos brancos ou soltos: São os que não têm rima. “A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.” (Rosa de Hiroshima, Vinicios de Moraes)

(Lembranças, que lembrais meu bem passado, Luís Vaz de Camões)

Tonicidade

Posição na estrofe a) Cruzadas ou alternadas: O primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo com o quarto (abab). “Minha desgraça não é ser poeta, Nem na terra de amor não ter um eco, E meu anjo de Deus, o meu planeta Tratar-me como se trata um boneco…”

a) Agudas: Quando a rima acontece entre palavras oxítonas ou monossilábicas. Exemplo: Valor/Amor, és/viés b) Graves: Quando a rima acontece entre palavras paroxítonas. Exemplo: Santa/planta, mala/sala, toque/choque.

(Minha Desgraça, Álvares de Azevedo)

b) Interpoladas ou intercaladas: O primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro (abba). “Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco.”

c) Esdrúxulas: Quando a rima acontece entre palavras proparoxítonas. Exemplo: Mágico/Trágico, Fábula/tábula.

(Psicologia de um Vencido, Augusto dos Anjos)

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Sonoridade

GÊNEROS LITERÁRIOS

a) Perfeitas (consoantes, soantes, totais): Há uma perfeita identidade dos sons finais, assim como uma semelhança entre as últimas vogais e consoantes. Exemplo: Fada/dourada, rosa/formosa, anil/Brasil.

Quanto à forma, o texto pode apresentar-se em prosa ou verso. Quanto ao conteúdo, estrutura, e segundo os clássicos, conforme a "maneira de imitação", podemos enquadrar as obras literárias em três gêneros:

b) Imperfeitas (assonantes, toantes, parciais): Quando, ou há identidade apenas entre as vogais finais, não havendo necessariamente identidade entre os sons finais, ou quando o sonoridade é semelhante, mas a grafia das palavras é diferente. Exemplo: Estrela/vela, vertigem/virgem, mais/faz, seis/fez.

GÊNERO LÍRICO Quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado; centra-se no mundo interior do Poeta apresentando forte carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do lírico. O Poeta posiciona-se em face dos "mistérios da vida". É na maioria das vezes expressa pela poesia. Entretanto é de grande importância realçar que nem toda poesia pertence ao gênero lírico. Esse gênero se preocupa principalmente com o mundo interior de quem escreve o poema, o eu lírico. Os acontecimentos exteriores funcionam como estímulo para o poeta escrever. O que é fundamental em um poema é o trabalho com as palavras, que dá margem à compreensão da emoção, dos pensamentos, sentimentos do eu lírico e, muitas vezes, levam à reflexão, portanto, sendo geralmente escrito na primeira pessoa do singular.

Valor a) Pobres: Quando a rima acontece entre palavras da mesma classe gramatical. Exemplo: Falar/amar, o calor/o sabor, bonito/bendito. b) Ricas: Quando a rima acontece entre palavras de classes gramaticais diferentes. Exemplo: Cantando/bando, mar/navegar. c) Raras: Quando a rima acontece entre palavras de difícil combinação melódica. Exemplo: Cisne/tisne.

Características: 1. Elementos gramaticais de primeira pessoa; 2. Predomínio da função emotiva da linguagem; 3. Recordação (ação de retornar ao coração); 4. Imagens poéticas de apelo emocional.

d) Preciosas: Rimas entre verbos na forma verbopronome com outras palavras. Exemplo: Estrela/Tê-la, Tranquilo/segui-lo.

Ode – é um texto de cunho entusiástico e melódico, em geral uma música. Hino – é um texto de cunho glorificador ou até santificador. Os hinos de países e as músicas religiosas são exemplos de hino. Soneto – é um texto em poesia com 14 versos, caracterizado em dois quartetos e dois tercetos, com rima geralmente em A-B-A-B A-B-B-A C-D-C D-C-D. Elegia – poesia marcada pela melancolia, cujo tema são acontecimentos tristes ou a morte de alguém. Idílio e écloga – poesias bucólicas, pastoris, que exaltam a vida campestre. A écloga difere do idílio por apresentar uma estrutura dialógica. Epitalâmio – poesia cuja temática básica são as núpcias de alguém.

HISTÓRIA DA LITERATURA A história da literatura estuda os movimentos literários, artistas e obras de uma determinada época com características gerais de estilo e temáticas comuns, e sua sucessão ao longo do tempo. As histórias da literatura são divididas em grandes movimentos denominados eras, que se dividem em movimentos denominados estilos de época ou escolas literárias. Cada escola literária representa as tendências estético-temáticas das obras literárias produzidas em uma determinada época.

GÊNERO DRAMÁTICO

Os Gêneros Literários na Antiguidade

Quando os "atores, num espaço especial, apresentam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento". Retrata, fundamentalmente, os conflitos humanos. Drama, em grego, significa "ação". Ao gênero dramático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental o elenco (in-

Na Grécia Clássica, os textos literários se dividiam em três gêneros, que representavam as manifestações literárias da época:

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cluindo diretor, cenógrafo e atores) que representará o texto. O gênero dramático compreende as seguintes modalidades: Tragédia - é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror". Comédia - é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem grega está ligada às festas populares, celebrando a fecundidade da natureza. Tragicomédia - modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário. Farsa - pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que critica a sociedade e seus costumes; é um texto onde os personagens principais podem ser duas ou mais pessoas diferentes e não serem reconhecidos pelos feitos dessa pessoa. Drama – representação que se caracteriza, principalmente, pela exploração dos sentimentos humanos. Pela natureza da sua abordagem apresenta um tom solene, sério. Auto – representação de caráter religioso, abordando a vida de Cristo ou de santos. Características: 1. Predomínio do discurso direto; 2. Marcado essencialmente pelo diálogo; 3. As ações levam o público às emoções; 4. Ações dramáticas apresentam-se como atualidades.

as principais manifestações narrativas são o romance, a novela e o conto. Em qualquer das três modalidades acima, temos representações da vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses. Características: 1. Elementos gramaticais de 3ª ou 1ª pessoa; 2. Predomínio da função referencial da linguagem; 3. Rememorização (ação de retornar à memória); 4. Linguagem poética objetiva, sem apelos emocionais. As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde o final do século XVIII, são também comumente chamadas de narrativas de ficção. Epopeia – narrativa em versos de um fato grandioso, heroico e maravilhoso de interesse de uma nação, realizada numa atmosfera de exaltação. Além da epopeia, existe o poemeto épico e o poema herói-cômico. Romance: narração de um fato imaginário, mas verossímil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com passagem mais lenta do tempo. Dependendo da importância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espaço, podemos ter romance de costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista, romance de cavalaria, romance histórico, etc. Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto, podemos perceber características qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior importância como contador de um fato passado. Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da vida. O crítico Alfredo Bosi, em seu livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto "já desnorteou mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu espaço todas as possibilidades da ficção". Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como personagens. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo. Crônica – relato de episódio do cotidiano, captados pela sensibilidade do escritor, que extrai deles momentos de humor, e reflexão sobre a vida e o mundo.

GÊNERO ÉPICO OU NARRATIVO Quando temos uma narrativa de fundo histórico; são os feitos heroicos e os grandes ideais de um povo o tema das epopeias. O narrador mantém um distanciamento em relação aos acontecimentos (esse distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: os fatos narrados situam-se no passado). Temos um Poeta-observador voltado, portanto, para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia da "terceira pessoa do tempo passado". A palavra "epopeia" vem do grego épos, ‘verso’+ poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja característica maior é a presença de um narrador falando do passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heroico da história de um povo. O Gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão,

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Tempo

ESTRUTURA DA NARRATIVA

Tempo cronológico ou tempo da história - determinado pela sucessão cronológica dos acontecimentos narrados. Tempo histórico - refere-se à época ou momento histórico em que a ação se desenrola. Tempo psicológico - é um tempo subjetivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonância com o seu estado de espírito. Tempo do discurso - resulta do tratamento ou elaboração do tempo da história pelo narrador. Este pode escolher narrar os acontecimentos:  por ordem linear  com alteração da ordem temporal (anacronia), recorrendo à analepse (recuo a acontecimentos passados) ou à prolepse (antecipação de acontecimentos futuros);  ao ritmo dos acontecimentos (isocronia), como, por exemplo, na cena dialogada;  a um ritmo diferente (anisocronia), recorrendo ao resumo ou sumário (condensação dos acontecimentos), à elipse (omissão de acontecimentos) e à pausa (interrupção da história para dar lugar a descrições ou divagações).

Narrativa – é uma obra literária caracterizada pela existência de um narrador que apresenta um enredo, com tempo e espaço determinados, no qual atuam personagens inseridas em situações imaginárias ou não. Narração – é a atividade literária que configura a narrativa propriamente dita. Assim, a narração pode ser vista como a ação, processo ou efeito de narrar. É uma exposição escrita ou oral de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos mais ou menos sequenciado. A ação da narrativa é constituída por três ações: Intriga, Ação principal e Ação secundária. Intriga: Ação considerada como um conjunto de acontecimentos que se sucedem, segundo um princípio de casualidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma ação fechada. Ação principal: Integra o conjunto de sequências narrativas que detêm maior importância ou relevo. Ação secundária: A sua importância define-se em relação à principal, de que depende, por vezes; relata acontecimentos de menor relevo.

Personagens

Sequência A ação é constituída por um número variável de sequências (segmentos narrativos com princípio, meio e fim), que podem aparecer articuladas dos seguintes modos: Encadeamento ou organização por ordem cronológica. Encaixe, em que uma ação é introduzida numa outra que estava a ser narrada e que depois se retoma. Alternância, em que várias histórias ou sequências vão sendo narradas alternadamente pela forma que foi escrita esse eu lírico deve ser mais abrangente de forma que o leitor se familiarize com a leitura.

A personagem poder ser pessoas, seres humanos, um animal (Revolução dos Bichos), a morte (As intermitências da morte), uma cidade decadente ou uma caneta caindo, desde que estejam num espaço e praticando uma ação, ainda que involuntária. Relevo das personagens Protagonista, personagem principal ou herói: desempenha um papel central, a sua atuação é fundamental para o desenvolvimento da ação. Personagem secundária: assume um papel de menor relevo que o protagonista, sendo ainda importante para o desenrolar da ação. Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da ação, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante.

A ação pode dividir-se em: Apresentação ― é o momento do texto em que o narrador apresenta os personagens, o cenário, o tempo, etc. Nesse momento ele situa o leitor nos acontecimentos (fatos). Desenvolvimento ― é nesse momento que se inicia o conflito (a oposição entre duas forças ou dois personagens). A paz inicial é quebrada através do conflito para que a ação, através dos fatos, se desenvolva. Clímax ― momento de maior intensidade dramática da narrativa. É nesse momento que o conflito fica insustentável, algo tem de ser feito para que a situação se resolva. Desfecho ― é como os fatos (situação) se resolvem no final da narrativa. Pode ou não apresentar a resolução do conflito.

Composição Personagem modelada ou redonda ou esférica: dinâmica, dotada de densidade psicológica, capaz de alterar o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao longo da narrativa. Personagem plana ou desenhada: estática, sem evolução, sem grande vida interior; por outras palavras: a personagem plana comporta-se da mesma forma previsível ao longo de toda a narrativa. Personagem-tipo: representa um grupo profissional ou social. Personagem coletiva: Representa um grupo de indivíduos que age como se os animasse uma só vontade.

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Espaço ou Ambiente • Espaço ou Ambiente físico: é o espaço real, que serve de cenário à ação, onde as personagens se movem. • Espaço ou Ambiente social: é constituído pelo ambiente social, representando, por excelência, pelas personagens figurantes. • Espaço ou Ambiente psicológico: espaço interior da personagem, abarcando as suas vivências, os seus pensamentos e sentimentos. O espaço ou ambiente pode ser desde uma praia a um lago congelado. De acordo com espaço ou ambiente é que os fatos da narração se desenrolam.

Com base no texto abaixo, responda às questões de números 2 e 3. "[...] Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las. Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. [...] Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não recusem as minhas: conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. [...]"

Narrador Participação  Heterodiegético: Não participante.  Autodiegético: Participa como personagem principal.  Homodiegético: Participa como personagem secundária. Focalização: É a perspectiva adoada pelo narrador em relação ao universo narrado. Diz respeito ao MODO como o narrador vê os fatos da história.  Onisciente: colocado numa posição de transcendência, o narrador mostra conhecer toda a história, manipula o tempo, devassa o interior das personagens.  Observador: o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do exterior.  Neutra: O narrador não expõe seu ponto de vista (este modo não existe na prática, apenas na teoria).  Restritiva: A visão dos fatos dá-se através da ótica de algum personagem.  Interventiva, intrusa: O autor faz observações sobre os personagens (típica dos romances modernos Machado de Assis)

Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record, 1984.

QUESTÃO 02 O fragmento transcrito expressa uma reflexão do autornarrador quanto à escrita de seu livro contando a experiência que viveu como preso político, durante o Estado Novo. No que diz respeito às relações entre escrita literária e realidade, é possível depreender, da leitura do texto, a seguinte característica da literatura: a) Revela ao leitor vivências humanas concretas e reais; b) Representa uma conscientização do artista sobre a realidade; c) Dispensa elementos da realidade social exterior à arte literária; d) Constitui uma interpretação de dados da realidade conhecida.

QUESTÃO 01 (Ufes) "Quem sabe se nesta terra não plantarei minha sina? Não tenho medo da terra cavei pedra toda a vida e para quem lutou a braço contra a piçarra da caatinga fácil será amansar esta aqui, tão feminina"

QUESTÃO 03 A relação entre autor e narrador pode assumir feições diversas na literatura. Pode-se dizer que tal relação tem papel fundamental na caracterização de textos que, a exemplo do livro de Graciliano Ramos, constituem uma autobiografia — gênero literário definido como relato da vida de um indivíduo feito por ele mesmo. A partir dessa definição, é possível afirmar que o caráter autobiográfico de uma obra é reconhecido pelo leitor em virtude de: a) Conteúdo verídico das experiências pessoais e coletivas relatadas; b) Identidade de nome entre autor, narrador e personagem principal;

João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina.

Quanto ao gênero literário, é correto afirmar sobre o fragmento do texto lido: a) Não há lirismo, pois é feito para ser representado: b) É narrativo, pelo cunho regionalista e social; c) É dramático, com uma linguagem fortemente poética; d) É uma peça teatral, sem qualquer lirismo, pela rudeza da linguagem; e) É mais épico que lírico ou dramático.

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c) Possibilidade de comprovação histórica de contextos e fatos narrados; d) Notoriedade do autor e de sua história junto ao público e à sociedade.

QUESTÃO 06 (Uerj) "Engenho de febre Sono e lembrança Que arma E desarma minha morte Em armadura de treva."

Com base no texto abaixo, responda às questões de números 4 a 6.

A ausência de pontuação nessa última estrofe do poema pode nos levar a diferentes leituras do texto. A única interpretação incoerente desse trecho é apresentada em: a) Engenho de febre e de sono, e lembrança que arma e desarma minha morte em armadura de treva. b) Engenho de febre, de sono e de lembrança, a qual arma e desarma minha morte em armadura de treva. c) Engenho de febre, de sono e de lembrança, o qual arma e desarma minha morte em armadura de treva. d) Engenho de febre, engenho que é sono e lembrança, e que arma e desarma minha morte em armadura de treva.

O Corpo "Acrobata enredado Em clausura de pele Sem nenhuma ruptura Para onde me leva Sua estrutura? Doce máquina Com engrenagem de músculos Suspiro e rangido O espaço devora Seu movimento (Braços e pernas sem explosão)

Leia o poema de Manuel Bandeira para responder às questões de números 7 a 10. Versos de Natal "Espelho, amigo verdadeiro, Tu refletes as minhas rugas, Os meus cabelos brancos, Os meus olhos míopes e cansados. Espelho, amigo verdadeiro, Mestre do realismo exato e minucioso, Obrigado, obrigado! Mas se fosses mágico, Penetrarias até ao fundo desse homem triste, Descobririas o menino que sustenta esse homem, O menino que não quer morrer, Que não morrerá senão comigo, O menino que todos os anos na véspera do Natal Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta."

Engenho de febre Sono e lembrança Que arma E desarma minha morte Em armadura de treva." Armando Freitas Filho QUESTÃO 04 (Uerj) No poema, o eu lírico desenvolve, empregando diferentes imagens, a ideia de corpo como clausura. Isso não ocorre no seguinte verso: a) “Acrobata enredado” (v. 1). b) “Sem nenhuma ruptura” (v. 3). c) “Com engrenagem de músculos” (v. 7). d) “Em armadura de treva.” (v. 17).

QUESTÃO 07 (Unifesp) Para o poeta, o espelho é um amigo verdadeiro porque: a) Não permite que ele sofra, atrelando-o à realidade em que vive. b) Aguça seus sentidos, incentivando-o aos devaneios, como uma criança. c) Perpetua a crença de que a imaginação nunca se acaba. d) Mostra a realidade, desnudando-lhe as faces da velhice. e) Denuncia o estado decrépito em que está, mas crialhe a fantasia da felicidade.

QUESTÃO 05 (Uerj) A concisão é uma das características que mais se destacam na estrutura do poema. Essa concisão pode ser atribuída a: a) Clara ausência de conectivos, explorando a sonoridade do poema. b) Pouco uso de metáforas, enfatizando a fragmentação dos versos. c) Abrupta mudança de versos, reforçando a lógica das ideias. d) Baixa frequência de verbos, exprimindo a inércia do eu lírico.

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QUESTÃO 08 (Unifesp) No poema, a metáfora do espelho é um caminho para a reflexão sobre: a) A velhice do poeta, revelada por seu mundo interior, triste e apático. b) A magia do Natal e as expectativas do presente, maiores ainda na velhice. c) O encanto do Natal, vivido pelo homem-menino que a tudo assiste sem emoção. d) A alegria que ronda o poeta, fruto dos sonhos e da esperança contidos no homem e ausentes no menino. e) As limitações impostas pelo mundo externo ao homem e os anseios e sonhos vivos no menino.

QUESTÃO 11 (PRISE/UEPA-2006) Assinale a alternativa que indica corretamente os gêneros literários dos textos abaixo relacionados, na sequência em que estão dispostos: I- “O Dr. Mamede, o mais ilustre e o mais eminente dos alienistas, havia pedido a três de seus colegas e a quatro sábios que se ocupavam de ciências naturais, que viessem passar uma hora na casa de saúde por ele dirigida para que lhes pudesse mostrar um de seus pacientes.” (Guy de Maupassant)

II- Todas as noites o sono nos atira da beira de um cais E ficamos repousando no fundo do mar. O mar onde tudo recomeça... Onde tudo se refaz... Até que, um dia, nós criaremos asas. E andaremos no ar como se anda na terra.

QUESTÃO 09 (Unifesp) O fato de o poeta reconhecer em si a existência do menino indica que: a) Há toda uma fragilidade envolvendo-o, já que se sente um homem triste, ao qual não cabe mais nada senão esperar a morte. b) Tem consciência de uma força para viver, pois o menino se define como sua base e lhe permite romper com a realidade que o circunda. c) Se ajusta placidamente à velhice presente, a qual o amigo espelho insiste em mostrar-lhe de forma degradante e revestida de tristeza. d) Vive como uma criança, sempre alegre e sonhador, totalmente alheio ao mundo real de que faz parte. e) Contesta o mundo em que vive, idealizado e opressor, que reflete os seus cabelos brancos e a tristeza que sente.

(Mário Quintana)

III- Oh! Que famintos beijos na floresta! E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves, que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta, Que Vênus com prazeres inflamava, Melhor é experimentá-lo que julgá-lo; Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo. (Luiz de Camões)

IV- Velha: E o lavrar, Isabel? Isabel: Faz a moça mui mal feita, corcovada, contrafeita, de feição de meio anel; e faz muito mau carão, e mau costume d’olhar. Velha: Hui! Pois jeita-te ao fiar Estopa ou linho ou algodão; Ou tecer, se vem à mão. Isabel: Isso é pior que lavrar.

QUESTÃO 10 (Unifesp) No poema, o poeta contesta o senso comum, isto é, a ideia de que: a) As pessoas, na velhice, esperam pelos presentes de Natal. Para ele, os presentes são direitos apenas das crianças. b) Os idosos sabem reconhecer a força exercida neles pelo tempo. Para ele, essas pessoas deixam a realidade e vivem num mundo distante e cheio de fantasias. c) O menino morre com a chegada da vida adulta. Para ele, o menino está atrelado ao homem até o fim, portanto, vivo por toda a vida. d) A chegada da velhice faz com que as pessoas voltem a ser crianças. Para ele, os idosos são perspicazes e enxergam a realidade de forma crítica e consciente. e) O Natal é uma época de alegria e de união entre as pessoas. Para ele, a ocasião vale pelos presentes e não pelos sonhos e sentimentos.

(Mário Quintana)

a) Narrativo – Épico – Lírico – Dramático. b) Dramático – Lírico – Épico – Narrativo c) Narrativo – Lírico – Épico – Dramático d) Dramático – Épico – Narrativo – Lírico e) Épico – Dramático – Narrativo – Lírico Instrução: As questões de números 12, 13 e 14 tomam por base um trecho de uma carta do Padre Antônio Vieira (1608-1697) e um soneto do poeta simbolista brasileiro Péthion de Villar (Egas Moniz Barreto de Aragão, 1870-1924). Carta XIII — Ao Rei D. João IV — 4 de abril de 1654 "(...) Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e

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os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V.M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem. Primeiramente nenhum destes índios vai senão violentado e por força, e o trabalho é excessivo, e em que todos os anos morrem muitos, por ser venenosíssimo o vapor do tabaco: o rigor com que são tratados é mais que de escravos; os nomes que lhes chamam e que eles muito sentem, feiíssimos; o comer é quase nenhum; a paga tão limitada que não satisfaz a menor parte do tempo nem do trabalho; e como os tabacos se lavram sempre em terras fortes e novas, e muito distante das aldeias, estão os índios ausentes de suas mulheres, e ordinariamente eles e elas em mau estado, e os filhos sem quem os sustente, porque não têm os pais tempo para fazer suas roças, com que as aldeias estão sempre em grandíssima fome e miséria. Também assim ausentes e divididos não podem os índios ser doutrinados, e vivem sem conhecimento da fé, nem ouvem missa nem a têm para a ouvir, nem se confessam pela Quaresma, nem recebem nenhum outro sacramento, ainda na morte; e assim morrem e se vão ao Inferno, sem haver quem tenha cuidado de seus corpos nem de suas almas, sendo juntamente causa estas crueldades de que muitos índios já cristãos se ausentam de suas povoações, e se vão para a gentilidade, e de que os gentios do sertão não queiram vir para nós, temendo-se do trabalho a que os obrigam, a que eles de nenhum modo são costumados, e assim se vêm a perder as conversões e os já convertidos; e os que governam são os primeiros que se perdem, e os segundos serão os que os consentem; e isto é o que cá se faz hoje e o que se fez até agora.”

a) Identifique a questão social abordada por ambos os textos; b) Explique em que medida o poema de Péthion de Villar, escrito em 1900, simboliza, com certa dramaticidade, um dos desfechos possíveis dos problemas apontados em 1654 por Vieira ao rei de Portugal. QUESTÃO 13 (Vunesp) Podemos estranhar, por vezes, o emprego de certas palavras nos textos, seja por não serem muito comumente usadas, seja por manobras estilísticoexpressivas do escritor. O contexto em que tais palavras se encontram, todavia, permite percebermos o sentido sem que precisemos socorrer-nos do dicionário. Com base neste comentário: a) Aponte o que pretende significar Vieira, no terceiro parágrafo, sob o ponto de vista religioso, com a expressão “gentios do sertão”; b) Estabeleça, com base na leitura de todo o poema, o sentido que a palavra “crucificado” apresenta no terceiro verso do soneto de Péthion. QUESTÃO 14 14. (Vunesp) Ao focalizar como tema a mesma questão histórico-social, Vieira e Péthion o fazem sob pontos de vista distintos. Lembrando que Vieira escreve uma carta ao rei e que Péthion escreve um poema, responda: a) O que quer enfatizar Vieira com a frase final “... e isto é o que cá se faz hoje e o que se fez até agora”? b) Por que, mesmo situando seu conteúdo num plano imaginário, idealizado, simbólico, o poema de Péthion não desfigura a realidade em que se baseia? Gabarito

Padre Antonio Vieira. Carta XIII. 1949.

1. C 6. A 11. C

O último pajé “Cheio de angústia e de rancor, calado, Solene e só, a fronte carrancuda, Morre o velho Pajé, crucificado Na sua dor, tragicamente muda. Vê-se-lhe aos pés, disperso e profanado, O troféu dos avós: a flecha aguda, O terrível tacape ensanguentado, Que outrora erguia aquela mão sanhuda. Vencida a sua raça tão valente, Errante, perseguida cruelmente, Ao estertor das matas derrubadas! 'Tupã mentiu!' e erguendo as mãos sagradas, Dobra o joelho e a calva sobranceira Para beijar a terra brasileira."

2. D 7. D

3. B 8. E

4. C 9. B

5. D 10.C

12. a) A questão social abordada pelos textos é a do extermínio indiscriminado dos índios pelos brancos — ou, em outros termos, a falta de uma política de inclusão social do indígena no processo de civilização das terras virgens da América Portuguesa. b) O poema de Péthion de Villar descreve a morte individual de um índio, particularizando o processo social de que fala a carta de Vieira. O texto poético encena o drama do ponto de vista psicológico, ao imaginar o extermínio de uma etnia por meio de um indivíduo. O de Vieira trata a questão como tema cultural, discorrendo sobre as condições gerais do povo oprimido.

Péthion de Villar. A morte do pajé. 1978.

13. a) A expressão “gentios do sertão” remete àqueles que “vivem sem conhecimento da fé”, isto é, aos que ainda não foram catequizados e conduzidos ao cristianismo. O substantivo “gentio” é, muitas vezes, empregado como sinônimo de pagão, enquanto a locução adjetiva “do sertão” designa quem vive distante das “povoações” a que refere Vieira. Assim, a expressão “gentios do ser-

QUESTÃO 12 (Vunesp) Embora separados por mais de dois séculos, os textos apresentados focalizam uma mesma questão social surgida no Brasil-Colônia, que tem repercussões até os dias atuais. Releia os dois textos com atenção e, a seguir:

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tão” indica todos aqueles que não são adeptos do cristianismo e que se mantêm distantes dos povoados que estavam sob a influência da Igreja. b) A palavra “crucificado” está sendo empregada para indicar o momento em que o pajé morre. Esse adjetivo, impregnado de traços semânticos cristãos (na medida em que a cruz é o principal símbolo religioso da Igreja), reforça a hipótese de que o pajé passou por um processo forçado de cristianização, que fez com que sua cultura fosse “profanada”. Tal situação justifica a conclusão final do pajé (“Tupã mentiu”), pois nem mesmo o deus dos índios impediu que o pajé fosse “crucificado na sua dor”. 14. a) Vieira descreve, na carta, o resultado da ação dos colonizadores em relação aos índios: submetidos ao trabalho desumano nas plantações de tabaco, na condição de escravos, sem poder cuidar de suas mulheres e filhos, que se viam reduzidos à miséria — o que tornava inviável o esforço missionário de conversão dos gentios à fé católica. Com a frase final, ele enfatiza o caráter danoso da ação dos colonizadores — tanto dos governantes, responsáveis pelos maus tratos, quanto daqueles que permitiam tal procedimento, uma vez que ambos não prejudicavam somente os índios e o trabalho missionário, mas a eles próprios, pois a ação dos primeiros (governantes) e a omissão dos segundos (colonizadores governados), igualmente, os levariam à perdição eterna. b) A realidade em que se baseia o soneto de Péthion de Villar é a do quase extermínio físico e cultural dos índios no Brasil, em decorrência da ação colonizadora. Tal realidade não é deturpada pelo poema na medida em que se trata de um fato histórico. No entanto, exatamente por ser uma obra literária, o soneto opera uma transfiguração ficcional da realidade.

As relações sociais estão baseadas também na submissão aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos. Há bastante distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a superioridade de uma sobre a outra. O marco inicial do Trovadorismo data da primeira cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente em 1198, intitulada Cantiga da Ribeirinha. CARACTERÍSTICAS A poesia desta época compõe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava essas poesias musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste estilo de época português. Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época são o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana. As cantigas eram cantadas no idioma galegoportuguês e dividem-se em dois tipos: líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer). Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam maior potencial, pois formam a base da poesia lírica portuguesa e até brasileira. Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas vezes obscena. Cantigas de amor Origem da Provença, região da França, trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as cortes. Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de posição social superior, inatingível. Refletindo a relação social de servidão, o trovador roga a dama que aceite sua dedicação e submissão. Eu-lírico - masculino

TROVADORISMO Designa-se por Trovadorismo o período que engloba a produção literária de Portugal durante seus primeiros séculos de existência (séc. XII ao XV). No âmbito da poesia, a tônica são mesmo as Cantigas em suas modalidades; enquanto a prosa apresenta as Novelas de Cavalaria.

Cantigas de amigo Neste tipo de texto, quem fala é a mulher e não o homem. O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso - o sofrimento da mulher à espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza estão sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo. Eu-lírico – feminino

CONTEXTO HISTÓRICO Momento final da Idade Média na Península Ibérica, onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento marcante. A vida do homem medieval é totalmente norteada pelos valores religiosos e para a salvação da alma. O maior temor humano era a ideia do inferno que torna o ser medieval submisso à Igreja e seus representantes. São comuns procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc. A arte reflete, então, esse sentimento religioso em que tudo gira em torno de Deus. Por isso, essa época é chamada de Teocêntrica.

Cantigas satíricas Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo todas as clas-

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CARACTERÍSTICAS Na Literatura, os autores italianos que maior influência exerceram foram: Dante Alighieri (Divina Comédia), Petrarca (Cancioneiro) e Bocaccio (Decameron). Os gêneros mais cultivados foram: o lírico, de temática amorosa ou bucólica, e o épico, seguindo os modelos consagrados por Homero (Ilíada e Odisseia) e Virgílio (Eneida). Podemos denominar Humanismo como ideia surgida no Renascimento que coloca o homem como o centro de interesse e, portanto, em torno do qual tudo acontece. Nesse período, destacam-se as prosas doutrinárias, dirigidas à nobreza. Já as poesias, que eram cultivadas por fidalgos, utilizavam o verso de sete e de cinco sílabas.

ses sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios. o Cantigas de escárnio - crítica indireta e irônica o Cantigas de maldizer - crítica direta e mais grosseira A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambiente histórico-social desta época. A temática das novelas medievais está ligada à vida dos cavaleiros medievais e também à religião. A Demanda do Santo Graal é a novela mais importante para a literatura portuguesa. Ela retrata as aventuras dos cavaleiros do Rei Artur em busca do cálice sagrado (Santo Graal). Este cálice conteria o sangue recolhido por José de Arimateia, quando Cristo estava crucificado. Esta busca (demanda) é repleta de simbolismo religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o cálice.

Algumas manifestações: - Teatro O teatro foi a manifestação literária onde ficavam mais claras as características desse período. Gil Vicente foi o nome que mais se destacou, ele escreveu mais de 40 peças. Sua obra pode ser dividida em 2 blocos: Autos: peças teatrais cujo assunto principal é a religião. “Auto da alma” e “Trilogia das barcas” são alguns exemplos. Farsas: peças cômicas curtas. Enredo baseado no cotidiano. “Farsa de Inês Pereira”, “Farsa do velho da horta”, “Quem tem farelos?” são alguns exemplos.

HUMANISMO O Humanismo é um termo relativo ao Renascimento, movimento surgido na Europa, mais precisamente na Itália, que colocava o homem como o centro de todas as coisas existentes no universo. Nesse período, compreendido entre a transitoriedade da Baixa Idade Média e início da Moderna (séculos XIV a XVI), os avanços científicos começavam a tomar espaço no meio cultural.

Poesia

CONTEXTO HISTÓRICO

Em 1516 foi publicada a obra “Cancioneiro Geral”, uma coletânea de poemas de época. O cancioneiro geral resume 2865 autores que tratam de diversos assuntos em poemas amorosos, satíricos, religiosos entre outros.

A tecnologia começava a se aflorar nos campos da matemática, física, medicina. Nomes como Galileu, Paracelso, Gutenberg, dentre outros, começavam a se despontar, em razão das descobertas feitas por eles. Galileu Galilei comprova a teoria heliocêntrica que dizia ser o Sol o centro do sistema planetário, defendida anteriormente por Nicolau Copérnico, além de ter construído um telescópio ainda melhor que os inventados anteriormente. Paracelso explora as drogas medicinais e seu uso, enquanto Gutenberg descobre um novo meio de reproduzir livros. Além disso, a filosofia se desponta como uma atividade intelectual renovada no interesse pelos autores da Antiguidade clássica: Aristótoles, Virgílio, Cícero e Horácio. Por este resgate da Idade Média, este período também é chamado de Classicismo. A burguesia e a nobreza, classes sociais que despontam no final da Idade Média, passam a dividir o poderio com a Igreja. É neste contexto cultural que a visão antropocêntrica se instala e influencia todo campo cultural: literatura, música, escultura, artes plásticas.

Prosa Crônicas: registravam a vida dos personagens e acontecimentos históricos. Fernão Lopes foi o mais importante cronista (historiador) da época, tendo sido considerado o “Pai da História de Portugal”. Foi também o 1º cronista que atribuiu ao povo um papel importante nas mudanças da história, essa importância era, anteriormente, atribuída somente à nobreza. No mundo: Quatro séculos depois do início do trovadorismo, surge em Portugal o classicismo, também chamado de Quinhentismo por ter se manifestado no século XVI, em 1527 (pela data), quando o poeta Sá de Miranda retorna da Itália trazendo as características desse novo estilo. CONTEXTO HISTÓRICO

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do classicismo: renascimento As grandes navegações fazem com que o homem do inicio do século XVI se sinta orgulhoso e confiante em sua capacidade criativa e em sua força: desafiar os mares, percorrer os oceanos, descobrir novos mundos, produzir saberes, desenvolver as ciências e transformálas em tecnologia, tudo isso resulta no surgimento de um Homem muito diferente daquele existente na idade media e esse homem volta a ser o centro da sua própria vida (antropocentrismo). O que esse homem faz de melhor é em prol de si mesmo e isso se reflete também na arte e na literatura que ele produz nessa época. Esse caráter humanista ou antropocêntrico estava esquecido nas “trevas” da idade média, mas já havia existido na antiguidade (na civilização grega, por exemplo) e é porque, no início do século XVI, ocorre o ressurgimento ou renascimento do Antropocentrismo, que esse período da historia é chamado de renascimento. O renascimento é o momento histórico em que o homem produz grande quantidade e qualidade de obras artísticas e literárias; elas perdem o primitivismo e a ingenuidade de obras medievais e ganham um aprimoramento técnico que supera ate as obras da antiguidade: as cores se multiplicam, surge à noção de perspectiva, as formas humanas são concebidas de maneira mais nítida, no caso da arte. O “berço” do renascimento é a Itália. O tema predominante nas obras artísticas e literárias do renascimento é sempre o homem e tudo que diz respeito a ele.

da razão, todos os dados fornecidos pela natureza e, desta forma, expressou verdades universais. 4- Uso de uma linguagem sóbria, simples, sem excesso de figuras literárias. 5- Idealismo: O classicismo aborda os homens ideais, libertos de suas necessidades diárias, comuns. Os personagens centrais das epopeias (grandes poemas sobre grandes feitos e heroicos) nos são apresentados como seres superiores, verdadeiros semideuses, sem defeitos. Ex.: Vasco da Gama em os Lusíadas: é um ser dotado de virtudes extraordinárias, incapaz de cometer qualquer erro. 6- Amor Platônico: Os poetas clássicos revivem a ideia de Platão de que o amor deve ser sublime, elevado, espiritual, puro, não-físico. 7- Busca da universalidade e impessoalidade: A obra clássica torna-se a expressão de verdades universais, eternas e despreza o particular, o individual, aquilo que é relativo. No Brasil: Século XVI, a Europa vive o Renascimento e provoca grandes transformações culturais. Inicia-se a exploração das Américas. O Quinhentismo, conhecido como literatura informativa, surge para descrever a nova terra, relatar as viagens dos novos exploradores, os estranhos hábitos dos povos indígenas e histórias dos degredados portugueses que são a grande parte da população. Os únicos intelectuais da nova terra, os jesuítas, encontram na literatura uma das formas de catequese e pregação da nova religião ao povo indígena.

Características do classicismo renascentista: 1. Antropocentrismo 2. Presença de elementos da mitologia 3. Presença de elementos do cristianismo 4. Preciosismo vocabular 5. Obediência à versificação 6. Figuras (em especial de personificação) 7. Racionalismo (=objetividade) 8. Universalismo (=generalização)

Brasil, 1500, Pedro Álvares Cabral e sua frota chegam ao litoral brasileiro. Missão: tomar posse da nova terra e colher as primeiras impressões. Pero Vaz de Caminha será o responsável por observar e transcrever suas impressões. Assim surge o primeiro documento escrito em língua portuguesa que traz relatos sobre a nova e estranha terra. No caminho para as Índias, a feitoria portuguesa de Calicute sofre poderoso ataque, supostamente dos Mouros, e boa parte dos marinheiros de Cabral morre, além do escrivão oficial de sua frota, Pero Vaz de Caminha, em dezembro de 1500. Morre tragicamente, mas nos deixa um importantíssimo relato da viagem e as primeiras impressões sobre os, até então, donos da terra. A adoção do sistema de capitanias hereditárias, a expedição de Martim Afonso e o estabelecimento do governo geral, em 1549, em Salvador, na Bahia, foram fatos marcantes no processo de colonização do Brasil. Com o primeiro governador geral, Tomé de Souza, chegaram os primeiros jesuítas, chefiados por Manuel da Nóbrega, com a missão de catequizar o indígena, marcando o início da organização da vida administrati-

Características do classicismo: 1- Imitação dos autores clássicos gregos e romanos da antiguidade: Homero, Virgílio, Ovídio, etc... 2- Uso da mitologia: Os deuses e as musas, inspiradoras dos clássicos gregos e latinos a parecem também nos clássicos renascentistas: Os Lusíadas: (Vênus) = a deusa do amor; Marte (o deus da guerra), protegem os portugueses em suas conquistas marítimas. 3- Predomínio da razão sobre os sentimentos: A linguagem clássica não é subjetiva nem impregnada de sentimentalismos e de figuras, porque procura coar, através

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va, econômica, política, militar, espiritual e social do Brasil-Colônia.

Quanto à valorização literária, José de Anchieta destaca-se como o único autor desta época cuja produção extrapola o caráter meramente histórico. Escreveu poemas líricos, épicos, autos, cartas, sermões e uma pequena gramática da língua tupi. Além do caráter informativo e educacional, algumas de suas criações literárias visavam, apenas, satisfazer sua vida espiritual.

CARACTERÍTICAS No cumprimento de suas tarefas, portugueses colonizadores, jesuítas, viajantes aventureiros dão origem às primeiras manifestações literárias do período, cujas primeiras obras são predominantemente informativas. Seus textos descrevem a fauna, a flora, os habitantes nativos e as condições de vida na terra recémdescoberta. Apesar de não ser considerada literária, essa crônica histórica tem seu valor, pois além da linguagem e da visão de mundo dos primeiros observadores do país, revelam as condições primitivas de uma cultura nascente. Nesse primeiro século da nossa formação, a literatura informativa do colonizador português é representada inicialmente pela Carta de Pero Vaz de Caminha, relatando o descobrimento do Brasil a D. Manuel. Historicamente, é uma verdadeira certidão de nascimento do país e dá início a um período de três séculos na nossa literatura: o Período Colonial, que inclui, além do Quinhentismo, o Barroco e o Arcadismo. Outro documento da época é O Diário da Navegação (1530) de Pero Lopes de Souza. Não é tão importante como a carta de Caminha, mas enquadra-se nas crônicas de viagens, prestando informações a futuros colonizadores e exploradores de Portugal. Sem muitos dados históricos, relata a expedição de Martim Afonso de Souza ao Brasil, em 1530, como também o comando de Pero Lopes no retorno da esquadra a Portugal. Apenas em uma ou outra passagem, faz alguma referência histórica, ressaltando a beleza da terra e de seus habitantes. Narra eventos e aponta observações náuticas e geográficas, o que o torna um documento de interesse para a história marítima de Portugal e para a da colonização do Brasil. Essencialmente informativas, as obras: História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil (1576) e Tratado da Terra do Brasil, publicado somente em 1826, de Pero de Magalhães de Gândavo, e Tratado Descritivo do Brasil em 1587 (1587), de Gabriel Soares de Souza, inauguram atitudes e lançam sugestões temáticas. Manifestações que serão retomadas por alguns escritores brasileiros pertencentes ao Modernismo, tais como Oswald de Andrade (Pau-Brasil) e Mário de Andrade (Macunaíma). O trabalho informativo, pedagógico e moral dos jesuítas tem como expoentes as obras dos padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e José de Anchieta. Nóbrega, com a carta noticiando sua chegada ao território brasileiro, inaugura, em 1549, a literatura informativa dos jesuítas. Além da vasta correspondência em que relata o andamento da catequese e da obra pedagógica a outros membros da Companhia de Jesus, escreve o Diálogo sobre a conversão do gentio (1557), única obra planejada e com valor literário reconhecível. Nela, sua intenção é convencer os próprios jesuítas do significado humano e cristão da catequese.

PERO VAZ DE CAMINHA Pero Vaz de Caminha, escrivão, comerciante e navegador português. Sabe-se muito pouco de sua vida, mas desde 1817, quando o padre Aires do Casal publica o livro Coreografia Brasileira, os brasileiros passam a conhecer a grande obra de Caminha, a Carta do Descobrimento, até então ignorada e guardada nos arquivos da Torre do Tombo por mais de três séculos. Pero Vaz de Caminha nasce supostamente na cidade do Porto, em 1450, filho do cavaleiro do Duque de Bragança, Vasco Fernandes de Caminha. Casa-se com Dona Catarina e com ela tem uma filha, Isabel. Em 1476, então com 26 anos, passa a ocupar o lugar de seu pai na Casa da Moeda portuguesa, como mestre de balança. Também se dedica ao comércio. É designado a ser o escrivão da feitoria de Calicute, na Índia. Parte com a grandiosa frota de Pedro Álvares Cabral, que tem a missão de conhecer as novas terras à oeste do caminho para as Índias. Entre 22 de abril e 1º de maio de 1500 elabora a famosa Carta do Descobrimento para o rei Dom Manuel. A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA O texto tem um notável valor histórico - por ser o primeiro registro escrito sobre a realidade local - mas vale ainda mais pela agudeza com que Caminha revela a paisagem física e humana daquilo que ele julga ser uma imensa ilha. Aspectos mais significativos do texto: - A atenção objetiva pelos detalhes. - A simplicidade no narrar os acontecimentos. - A disposição humanista de tentar entender os nativos. - A capacidade constante de maravilhar-se. Vejamos como ele descreve o primeiro contato com os índios: A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes. Em geral são bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão inocentes como quando mostram o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo furado e metido nele um osso branco, do comprimento de uma mão travessa* e da grossura de um fuso de algodão. (...) Os cabelos deles são corredios. E andam tosquiados, de tosquia alta (...) Quando eles vieram a bordo o Capi-

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tão (Cabral) estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar muito grande no pescoço e tendo aos pés, por estrado, um tapete. E eles entraram sem qualquer sinal de cortesia ou de desejo de dirigir-se ao Capitão ou a qualquer outra pessoa presente, em especial. Todavia, um deles fixou o olhar no colar do Capitão e começou a acenar para a terra, como querendo dizer que ali havia ouro. (...) Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo: pegaram-no logo com a mão e acenavam para a terra, como a dizer que ali os havia. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso dele; uma galinha: quase tiveram medo dela - não lhe queriam tocar, para logo depois pegá-la, com grande espanto nos olhos. Deram-lhe de comer: pão e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada de tudo aquilo. E se provaram alguma coisa, logo a cuspiam com nojo. Trouxeram-lhes vinho numa taça, mas apenas haviam provado o sabor, imediatamente demonstraram não gostar e não mais quiseram.

clássicas do teatro, que exigiam unidade de ação, tempo e espaço. Compõe-se de uma multiplicidade quase estática de quadros e cenas. Interessa-nos hoje, sobretudo, a obra teatral de Anchieta. Nela, o autor intenta conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com os aspectos da nova realidade americana. Os elementos sagrados do catolicismo europeu ligam-se aos mitos indígenas, sem que isso signifique uma contradição maior, pois as ideias que triunfam nos espetáculos são evidentemente as do padre. As crendices e superstições dos nativos acabam vinculadas ao pecado e seu poderoso agente, Satanás. Neste confronto perpétuo entre o bem e o mal, o primeiro é defendido por santos e anjos, os quais expressam o cristianismo e subjugam o segundo, constituído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os demônios da tradição católica. Desta forma, os índios (sobremodo os curumins) percebem que os seus valores são falsos e corruptos e aceitam de melhor grado os princípios cristãos. Do ponto de vista da encenação dos autos, - conforme depoimentos de época - a liberdade formal salta aos olhos: o teatro anchietano pressupõe o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som. É algo arrebatador, de enorme fascínio visual. Dirige-se mais aos sentidos do que à razão, apelando para a consciência mítica dos nativos. Santos e demônios duelam; desencadeiam-se milagres e apocalipses; alternam-se elementos históricos e fictícios, religiosos e profanos; pequenos sermões musicados irrompem no meio das cenas. Perante essa festa para as emoções e o coração, o indígena vacila em suas crenças.

PADRE JOSÉ DE ANCHIETA José de Anchieta, jesuíta e escritor, foi o fundador da cidade de São Paulo. Desembarca no Brasil com a comitiva de Duarte da Costa e torna-se o principal missionário da igreja junto aos indígenas e sua obra literária é essencialmente no sentido da catequização. Chegada ao Brasil e fundação de São Paulo e aprendizado tupi Chega ao Brasil com a comitiva de Duarte da Costa, segundo governador-geral, em 1553, com o objetivo de catequizar os índios. Em 25 de janeiro de 1554, funda um colégio às margens dos rios Tamanduateí e Anhangabaú. Ao redor do colégio uma vila começa a se formar que Anchieta a batiza de São Paulo. Sob as ordens do Padre Manoel da Nóbrega, segue para São Vicente e lá, aprende a língua tupi. Em 1563, é mantido sob cárcere pelos índios tamoios, quando escreve o poema em latim: De Beata Virgine Dei Matre Maria, além de outros autos religiosos, aos moldes de Camões. Anchieta vive para a catequização dos índios, política e criação literária: poemas, crônicas, sermões, cartas e teatro, nas línguas: latim, português, espanhol e tupi. Procura usar uma linguagem direta e simples, voltada a seu alvo principal, os indígenas. Suas principais obras teatrais são: Quando, no Espírito Santo, se Recebeu uma Relíquia das Onze Mil Virgens (1579) e Na Vila de Vitória (1586). Destaca-se também sua obra sobre a arte e língua dos tupis: Arte de Gramática da língua mais usada na costa brasileira, escrita em 1595. Já doente, muda-se para o Espírito Santo, onde vem a falecer, em 1597. Em 1980 é beatificado pelo papa João Paulo II.

Alegrem-se os nossos filhos Por Deus os ter libertado Guaixará vá para o inferno Guaixará, Aimbiré, Saravaia Vão para o inferno. Os autos anchietanos contribuem para desculturar os índios, que assim perdem a sua identidade. Desajustados ante a nova ordem social e psicológica, irão se ver, como disse José Guilherme Merquior, "dolorosamente arrancados à cultura materna e dolorosamente desarmados ante a bruta realidade da experiência colonial." O papel de Anchieta em nossa literatura O crítico Afrânio Coutinho sustenta que a literatura teria nascido, no Brasil, pelas mãos dos jesuítas. Assim, José de Anchieta seria o nosso primeiro escritor. Tal argumentação é refutada pela maioria dos estudiosos, pois o padre possui uma visão de mundo tipicamente europeia. Por isso, os elementos culturais indígenas presentes em seu teatro são destruídos - dentro da ação dramática - com pleno apoio do autor que se serve deles apenas para reafirmar um sistema de ideias alheio ao universo dos próprios índios. Além disso, a sua obra teatral não tem seguidores. Não inicia qualquer tradição no gênero dramático brasi-

Os autos - Auto: forma teatral oriunda da Idade Média e caracterizada por sua liberdade em relação às leis

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leiro. Não deixa nenhum rastro. A originalidade de Anchieta consiste na criação de objetos culturais com fins religiosos para um público que jamais teria acesso à produção estética dos homens brancos. Fora essa circunstância, sua importância no panorama da literatura nacional é insignificante.

assim o desejarmos" evidencia que havia problemas de comunicação entre os portugueses e tupiniquins. QUESTÃO 02 (Ufla-MG) Todas as alternativas são corretas sobre o Padre José de Anchieta, EXCETO: a) Foi o mais importante jesuíta em atividade no Brasil do século XVI. b) Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com seus sermões barrocos. c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma cartilha sobre a gramática da língua dos nativos. d) Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo como de caráter pedagógico. e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e diabos.

QUESTÃO 01 (UFSC) A carta de Pero Vaz de Caminha Num dos trechos de sua carta a D. Manuel, Pero Vaz de Caminha descreve como foi o contato entre os portugueses e os tupiniquins, que aconteceu em 24 de abril de 1500: "O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés de uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, muito grande, ao pescoço [...] Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro da terra. E também olhou para um castiçal de prata, e assim mesmo acenava para a terra, e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata! [...] Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço, e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que não lho havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhas dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de esconder suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam raspadas e feitas. O Capitão mandou pôr por de baixo de cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e, consentindo, aconchegaram-se e adormeceram."

QUESTÃO 03 (UEL-PR) "José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, trouxe em sua bagagem, vindo da Canárias onde nasceu, mais do que seu pendor poético. Vinha ele com mais meia dúzia de bravos com a espantosa missão de converter e educar os índios, que seus olhos e dos outros, a princípio, não reconheciam qualquer cultura." DELACY, M. Introdução ao teatro. Petrópolis: Vozes, 2003.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a prática de catequização de José de Anchieta, considere as afirmativas a seguir: I. Para catequizar, Anchieta valeu-se de sua criatividade, usando cocares coloridos, pintura corporal e outros adereços que os indígenas lhe mostravam. II. Com a missão de levar Jesus àqueles “bugres e incultos”, Anchieta se afastou de suas próprias crenças convertendo-se à religião daquele povo. III. Com a finalidade de catequizar, Anchieta começou a escrever autos, baseados nos autos medievais, nas obras de Gil Vicente e em encenações espanholas. IV. Para implantar a fé como lhe foi ordenado, Anchieta representava os autos na língua pátria de Portugal. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e III. b) I e IV. c) II e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV.

Coleção Brasil 500 anos, Fasc. I, Abril, São Paulo, 1999.

De acordo com o texto, assinale a(s) proposição(ões) VERDADEIRA(S): 01 ( ) Pero Vaz de Caminha, um dos escrivães da armada portuguesa, escreve para o Rei de Portugal, D. Manuel, relatando como foi o contato entre os portugueses e os tupiniquins. 02 ( ) Em "E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém", fica implícito que os tupiniquins desconheciam hierarquia ou categoria social lusitanas. 04 ( ) Nada, na embarcação portuguesa, pareceu despertar o interesse dos tupiniquins. 08 ( ) O trecho "[...] e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por

QUESTÃO 04 (Ufam) Leia as estrofes abaixo, que constituem o início de um famoso poema chamado A Santa Inês: “Cordeirinha linda, como folga o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo! Cordeirinha santa,

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de Iesu querida, vossa santa vinda o diabo espanta.”

terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa." III. "Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa." IV. "Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Doiro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá." V. " Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem." VI. "Porém o melhor fruito, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar." VII. "A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto." VIII. "Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e ele a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença." IX. "Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos." X. "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo." XI. "Beijo as mãos de Vossa Alteza." XII. "Deste Porto Seguro, da vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500."

Pela religiosidade e pelo didatismo do poema, seu autor só pode ser: a) Frei Vicente do Salvador b) Pero Lopes de Sousa c) José de Anchieta d) Manuel da Nóbrega e) Gabriel Soares de Sousa QUESTÃO 05 (Ufam) A respeito das primeiras manifestações literárias no Brasil, NÃO é correto afirmar: a) José de Anchieta escreveu um manual prático, intitulado Diálogo sobre a conversão do gentio, com evidentes intenções pedagógicas, nele expondo sobre a melhor forma de lidar com os indígenas. b) Em sua Carta, Pero Vaz de Caminha descreveu a paisagem do litoral brasileiro e o aspecto físico dos índios, admirando-se da ausência de preconceito que eles demonstravam em relação ao próprio corpo e à nudez. c) Pero de Magalhães Gandavo, demonstrando total incompreensão, julgou os índios de forma irônica, dizendo que, por não possuírem em sua língua as letras F, L e R, não podiam ter nem Fé, nem Lei, nem Rei. d) Os textos dos viajantes, no primeiro século de vida do Brasil, foram escritos com o objetivo de informar a Coroa Portuguesa sobre as potencialidades econômicas da nova terra. e) A Carta de Pero Vaz de Caminha é um documento fundado numa visão mercantilista (a conquista de bens materiais) e no espírito religioso (dilatação da fé cristã e a conquista de novas almas para a cristandade).

Pero Vaz de Caminha Cortesão, Jaime. A carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1943, p.199-241. Coleção Clássicos e Contemporâneos.

QUESTÃO 06 (UnB-DF) Senhor: I. "Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor que eu puder, ainda que - para o bem contar e falar -, o saiba fazer pior que todos." II. "Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a

Evidenciando a leitura compreensiva do texto, julgue os itens a seguir como verdadeiros ou falsos. I. ( ) Diferentemente de outros documentos do século XVI acerca da descoberta do Brasil, hoje esquecidos, a carta de Pero Vaz de Caminha continua a ser lida devido à sua importância histórica e, também, por conter elementos da função poética da linguagem. II. ( ) A carta de Pero Vaz de Caminha é considerada pela história brasileira o primeiro documento publicitário oficial do país. III. ( ) A carta de Caminha é um texto essencialmente descritivo.

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IV. ( ) Pero Vaz de Caminha foi o único português a enviar notícias da descoberta do Brasil ao rei de Portugal. V. ( ) Segundo Caminha, os habitantes da Ilha de Vera Cruz eram desavergonhados.

c) O texto tem como foco principal narrar os rituais praticados por uma sociedade que, embora de cultura diferente, adota os princípios religiosos do cristianismo. d) Ao escolher determinados aspectos do comportamento dos indígenas, como a hospitalidade, por exemplo, o jesuíta revela que a comunidade, embora não catequizada, lhe é simpática. e) No relatório sobre os índios brasileiros, o ritual funerário ao qual o jesuíta se refere reflete o tratamento igualitário que essa sociedade dispensa a seus membros.

QUESTÃO 07 (Ufam) Caracteriza a literatura dos viajantes, no primeiro século de existência do Brasil: a) A constatação de que a terra não possuía nem ouro nem prata em grande quantidade e que, por isso, não merecia ser explorada. b) O espanto do europeu diante do desconhecido, de um mundo estranho e fascinante, encarado como a própria representação do paraíso. c) A aceitação do índio como um indivíduo que, embora praticasse uma religião diferente, deveria ter sua cultura respeitada. d) O registro de que se fazia necessário estudar as diversas línguas existentes, como forma de manter um saudável intercâmbio com os povos nativos. e) O elogio dos índios pela sua falta de ambição quanto ao acúmulo de bens materiais, o que os fazia viver felizes.

QUESTÃO 10 (Mackenzie/SP-2007) O texto, escrito no Brasil colonial, a) pertence a um conjunto de documentos da tradição histórico-literária brasileira, cujo objetivo principal era apresentar à metrópole as características da colônia recém-descoberta. b) já antecipa, pelo tom grandiloquente de sua linguagem, a concepção idealizadora que os românticos brasileiros tiveram do indígena. c) é exemplo de produção tipicamente literária, em que o imaginário renascentista transfigura os dados de uma realidade objetiva. d) é exemplo característico do estilo árcade, na medida em que valoriza poeticamente o “bom selvagem”, motivo recorrente na literatura brasileira do século XVIII. e) insere-se num gênero literário específico, introduzido nas terras americanas por padres jesuítas com o objetivo de catequizar os indígenas brasileiros.

QUESTÃO 08 (UFMG) Com base na leitura da Carta, de Pero Vaz de Caminha, é INCORRETO afirmar que esse texto a) Se filia ao gênero da literatura de viagem. b) Aborda seu próprio contexto de produção. c) Usa registro coloquial em estilo cerimonioso. d) Se compõe de narração, descrição e dissertação.

Gabarito 1. C, C, E, C 4. C, E, C, E, E

Texto para as questões 9 e 10 Quando morre algum dos seus põem-lhe sobre a sepultura pratos, cheios de viandas, e uma rede (...) mui bem lavada. Isto, porque creem, segundo dizem, que depois que morrem tornam a comer e descansar sobre a sepultura. Deitam-nos em covas redondas, e, se são principais, fazem-lhes uma choça de palma. Não têm conhecimento de glória nem inferno, somente dizem que depois de morrer vão descansar a um bom lugar. (...) Qualquer cristão, que entre em suas casas, dá-lhe a comer do que têm, e uma rede lavada em que durma. São castas as mulheres a seus maridos.

2. B 7. B

3. A 8. C

4. C 9. D*

5. A 10. A*

Observações*: 9. Padre Manuel da Nóbrega elogia a cortesia dos indígenas com os hóspedes e a castidade das mulheres. 10. Este texto pertence ao período da Literatura Informativa ou de Viagens, aproximando-se da História.

BARROCO

Padre Manuel da Nóbrega

QUESTÃO 09 (Mackenzie/SP-2007) Assinale a alternativa correta a respeito do texto. a) A narração acerca das festividades de um grupo indígena é verossímil na medida em que nasce da observação direta do autor, isenta de outros testemunhos que poderiam pôr em dúvida a credibilidade do relato. b) O autor disserta sobre as superstições, a bondade e a harmoniosa relação dos cônjuges de um grupo de indígenas que vivenciam um processo de aculturação.

O Barroco é abrangente e alastra-se sobre todas as artes: Literatura, Arquitetura, Pintura e Escultura. Nas formas é grandioso e refinado. É complexo. É uma crítica a crises do período. É a resposta do povo às guerras e sofrimentos a que são expostos pelos governos absolutistas da época. CONTEXTO HISTÓRICO O Barroco ou Seiscentismo denomina todas as manifestações artísticas do século XVII e início do XVIII e,

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na literatura, é reflexo nítido de uma época profundamente angustiada. Nesse período, a Reforma de Lutero e Calvino dividiu os cristãos Europeus e, na tentativa de evitar a perda de fiéis, a Igreja Católica criou instituições florescentes na Península Ibérica, como o movimento da Contrarreforma, que fundou a Companhia de Jesus e fortalece a Inquisição. Assim, enquanto a Europa evoluiu cientificamente, Portugal e Espanha permaneceram defensores da cultura medieval. Além disso, de 1580 a 1640, Portugal, sob o jugo espanhol, enfrentou uma situação insuportável, o que propiciou um ambiente de pessimismo e desânimo, sobretudo, para a burguesia, que teve seu poder restringido pela submissão aos espanhóis e ao poder da Igreja Contrarreforma. A estética Barroca em Portugal resultou desse domínio, sofrendo, por consequência, grande influência espanhola, principal foco irradiador dessa estética. Depois do domínio Espanhol, nos séculos XVII e XVIII, a nação portuguesa decaiu no cenário Europeu e sua literatura girou em torno de outras culturas: do barroquismo espanhol, do arcadismo italiano e do iluminismo francês, afetando a iniciante literatura colonial brasileira que passou a receber tendências estrangeiras. A partir da segunda metade do século XVI, os ciclos de ocupação e exploração intensa e regular das possibilidades econômicas do Brasil-Colônia fizeram surgir núcleos urbanos de grande importância cultural e econômica na Bahia e Pernambuco. Mais tarde, século XVII, com a mudança da sede do governo para o Rio de Janeiro, esta se firmou também como centro social, político e cultural. As invasões estrangeiras, do Rio de Janeiro ao Maranhão, nos séculos XVI e XVII, foram responsáveis não só pelas transformações ocorridas no Nordeste, mas também pelo despertar de uma consciência colonial, que se manifestou na literatura aqui realizada, através do sentimento de amor e interesse pelas nossas coisas, fatos e realidades. Ainda nesse século, essa região presenciou o auge e a decadência da cana-de-açúcar. No século XVIII, outros centros surgiram. Além de São Paulo, Vila Rica de Ouro Preto, em Minas Gerais, também se desenvolveu econômica e culturalmente, devido ao descobrimento das jazidas de ouro. Durante esses séculos, o Brasil viveu sob forte pressão econômica, sobretudo pela intensa exploração de suas riquezas naturais que mantiveram a Corte. Famílias brasileiras e portuguesas aqui radicadas, favorecidas por esse desenvolvimento, passaram a enviar seus filhos para os cursos superiores em Portugal. Esses estudantes, formados pela Universidade de Coimbra, foram os principais responsáveis pelas manifestações literárias europeias que aqui surgiram. Ao retornarem contribuíram para o nosso desenvolvimento literário e reforçaram a mentalidade portuguesa entre nós.

Sem encontrar explicações racionais para o mundo e com o fortalecimento da igreja católica, o século XVII retomou a religiosidade do período medieval e o antropocentrismo do século XVI, levando o pensamento humano a oscilar entre dois polos opostos: Deus e o homem; espírito e matéria; céu e terra. Ao aproximar e relacionar ideias e sentimentos ou sensações contraditórias entre si, o Barroco reflete esse desequilíbrio e tensão. A ideologia do Barroco é fornecida pela Contrarreforma. Estamos diante de uma arte eclesiástica, como dito anteriormente, que deseja propagar a fé católica. Em nenhuma outra época se produz tamanha quantidade de igrejas e capelas, estátuas de santos e documentos sepulcrais. As obras de arte devem falar aos fiéis com a maior eficácia possível, mas em momento algum descer até eles. Daí o caráter solene da arte barroca. Arte que tem de convencer, conquistar, impor admiração. Paralelamente, em quase todas as partes, a Igreja se associa ao Estado, e a arquitetura barroca, antes somente religiosa, se impõe também na construção de palácios, com os mesmos objetivos: causar admiração e temor. Arquitetura e Poder identificam-se da mesma forma que a Igreja legitima o "direito divino dos reis", isto é, o absolutismo despótico nos impérios católicos. A estética, integrante do Período Colonial e sucessora do Quinhentismo, há um culto exagerado da forma. Na poesia, isso é feito através de malabarismos sintáticos e abuso de figuras, tais como metáforas, antíteses, paradoxos, metonímias, hipérboles, alegorias e simbolismos, resultando em um rebuscamento exagerado, a que os poetas do Arcadismo iriam se opor. O barroco literário marca-se por dois estilos: Cultismo:  Busca da perfeição formal através de um estilo rebuscado.  Utilização contínua de neologismos.  Metáforas arrojadas e hipérbatos (inversões sintáticas) frequentes. Conceptismo:  Tentativa de dizer o máximo com o mínimo de palavras.  Emprego de elipses, duplos sentidos, paradoxos e alegorias.  Requinte expressivo e sutileza das ideias.  Conflito entre Corpo e Alma A partir do Maneirismo instaura-se na arte um conflito fundamental que mesmo o Barroco não consegue equacionar de todo: o conflito entre os prazeres corpóreos e as exigências da alma. O Renascimento definirase pela valorização do profano, do secular, pondo em voga o gosto pelas satisfações mundanas. Frente a estas conquistas, a atitude dos intelectuais maneiristas e barrocas é extremamente complicada. Não podem renunciar ao "carpe diem" (Carpe diem: Frase

CARACTERÍSTICAS

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procedente das Odes do poeta latino Horácio, no sentido de usufruir as coisas concretas: "Enquanto falamos, foge o tempo inimigo / aproveita o dia sem acreditar o mínimo no amanhã.") renascentista, isto é, ao "aproveitar o dia", ao viver intensamente cada minuto. Mas não alcançam a tranquilidade para agir assim, pois a filosofia da Contrarreforma, antiterrena, teocêntrica, medieval, fustiga os seus cérebros, oprime os seus corações. O dilema centra-se, portanto, na oposição vida eterna versus vida terrena; espírito versus carne. Dentro do Maneirismo e dentro do Barroco não há possibilidade de conciliação para estas antíteses. Ou se vive sensualmente a vida, ou se foge dos gozos humanos e se alcança a eternidade. Esta tensão de elementos contrários causa uma profunda angústia, demonstrável por uma permanente dialética: o artista lança-se aos prazeres mais radicais; em seguida sente-se culpado e busca o perdão divino; mas o mundo é uma presença palpitante, levando o homem novamente aos pecados da carne. Assim, o criador barroco ora ajoelha-se diante de Deus, ora celebra as delícias da vida. Os dois exemplos pertencem a Gregório de Matos Guerra:

lascívia dos novos tempos e a tradição medieval. Traduz também o gosto pela agudeza do pensamento, pela artificialidade da linguagem e pelo desejo de causar assombro no leitor. A audácia verbal não tem limites: comparações inesperadas, antíteses, paradoxos, hipérboles, inversões nas frases, palavras raras, estabelecendo um estilo retorcido, contraditório, por vezes brilhante, por vezes incompreensível e de mau gosto. Vejamos alguns exemplos:  Metáfora: Purpúreas rosas sobre Galatea / A aurora entre lírios cândidos desfolha. (Góngora) (A luz rosada do amanhecer banha o corpo branco da jovem Galatea)  Antítese: A aurora ontem me deu berço, a noite ataúde me deu. (Góngora)  Paradoxo: Amor é fogo que arde sem se ver; / é ferida que dói e não se sente; / é um contentamento descontente; / é dor que desatina sem doer. (Camões)  Jogo verbal: O todo sem a parte não é todo; / a parte sem o todo não é parte; / mas se a parte o faz todo, sendo parte, / não se diga que é parte sendo todo. (Gregório de Matos) Por fim, assinale-se o gosto dos poetas barrocos pelo soneto, seguindo a tradição renascentista.

(A) A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos, Que, para receber-me, estais abertos E, por não castigar-me, estais cravados.

Caracterização geral do barroco Conflito: antropocêntrica e teocêntrica Oposição: material e espiritual Fugacidade do tempo – o tempo que passa representa a fragilidade da vida humana, que caminha em direção à morte. Transitoriedade da vida – a existência é efêmera, curta, não passa de uma ilusão fantasiosa. A morte é o fim. Carpe diem – o homem barroco tem consciência de que a vida terrena é passageira; logo sente necessidade de viver intensamente, aproveitar a vida no seu dia-adia. Misticismo e religiosidade – em oposição à onda de materialismo do Renascimento, o homem barroco é afetado pela ação religiosa da Contrarreforma. Fusionismo – sendo o Barroco a arte dos contrastes, é comum a fusão de elementos de naturezas opostas, realçando o conflito existencial do homem da época. Pessimismo – sabendo que a morte é inexorável, o homem barroco mostra-se pessimista diante de sua existência. Niilismo temático – as coisas da vida se resumem a nada, com a chegada inevitável da morte. Ausência de lógica – em suas contradições, a arte barroca comumente se perde em suas argumentações e conclusões. Idealização amorosa, sensualismo e sentimento de culpa. Cultismo – rebuscamento formal, caracterizado pelo jogo de palavras e pelo excessivo emprego de figuras de linguagem, inversões sintáticas, enfim, o hermetismo e

(B) Com vossos três amantes me confundo, Mas vendo-vos com todos cuidados, Entendo que de amante e amorosa Podeis vender amor a todo o mundo. Para o artista barroco, efêmero e contingente, que deseja conciliar céu e terra, a duplicidade é a única atitude compatível, daí o uso de temas opostos: amor e dor, o erótico e o místico, o refinado e o grosseiro, o belo e o feio que se misturam, ressaltando o bizarro, e lembrando que a morte é o denominador comum de todas as aspirações humanas. Além das características portuguesas, o barroquismo brasileiro apresenta peculiaridades próprias. A visão nativista na poesia, por exemplo, pode ser considerada pitoresca pelo tipo de louvor que faz ao país. Na lírica amorosa, a mulher é retratada pela sua beleza e perigo, sendo ao mesmo tempo enaltecida e exorcizada. As manifestações literárias barrocas do BrasilColônia, de 1601 a 1768, têm como marco inicial a publicação do poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira. Na poesia, destaca-se também Gregório de Matos e, na prosa, sobressai-se a oratória sagrada dos jesuítas, cujo nome central é o do Padre Antônio Vieira. Se a harmonia formal dos clássicos correspondia ao equilíbrio interior e à sensação de segurança históricosocial, a forma conflituosa e exagerada dos barrocos traduz um estado de mal-estar causada pela oposição entre os princípios renascentistas e a ética cristã, entre a

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LITERATURA

o preciosismo estilístico. O cultismo explora efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonoridade, imagens violentas, fantasiosas. Conceptismo – jogo de conceitos, de ideias, constituído pelas sutilezas do pensamento lógico, por analogias.

siderado o maior poeta barroco em língua portuguesa, mas há dúvidas tanto sobre sua vida quanto sobre a real autoria de muitos poemas que lhe foram atribuídos. Sua obra vai do sublime ao grotesco e seu estilo combina gongorismo e conceptismo. Muitos de seus poemas falam da terra brasileira de forma original, em descrições bem humoradas e com toques de deboche à política baiana, além de usar também vocabulário indígena. Supostamente Gregório de Matos tenha nascido de família rica. Em 1651 segue para Portugal e ingressa no ano seguinte na Universidade de Coimbra. Forma-se em 1661 e casa-se com Micaela de Andrade. Ocupa vários cargos na magistratura portuguesa. Fica viúvo em 1678 e regressa ao Brasil em 1681. Passa a viver de forma desregrada e a satirizar os poderosos com seus poemas, sempre acompanhado de uma viola. Casa-se novamente com Maria dos Povos, mas é banido pela igreja, e parte para Angola, em 1694. Regressa ao Brasil um ano depois e é impedido de ficar em Salvador. Muda-se para Recife onde viverá até o final de sua vida, em 1696.

BENTO TEIXEIRA Teixeira, poeta luso-brasileiro, autor do poemeto heroico Prosopopeia, embora considerado de pouco valor literário pela crítica, é a obra inicial do Barroco na literatura brasileira. Durante muito tempo pensou-se que Bento Teixeira teria nascido na cidade do Recife, mas hoje se admite que teria nascido em Portugal. Sabe-se muito pouco sobre o primeiro autor do Barroco brasileiro. Por sua origem judaica, Bento Teixeira foi denunciado à Inquisição, detido em 1595 e enviado a Lisboa. Reapareceu em um auto-de-fé em 1599. Poemeto heroico Prosopopeia O poemeto, além de traçar elogios aos primeiros donatários da capitania de Pernambuco, narra o naufrágio sofrido por Jorge Albuquerque Coelho, um desses donatários. Foi publicado em Portugal, em 1601. Apesar dos críticos o considerarem de pouco valor literário, ele tem seu valor histórico, pois foi a primeira obra do Barroco brasileiro e o marco inicial do primeiro estilo de época a surgir no Brasil.

Poesia Religiosa Na maior parte de seus poemas religiosos, o poeta se ajoelha diante de Deus, com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Trata-se de uma imagem constante: o homem ajoelhado, implorando perdão por seus erros, conforme podemos verificar no primeiro quarteto do soneto Buscando a Cristo: A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos, Que, para receber-me, estais abertos, E, por não castigar-me, estais cravados.

Trechos da Obra Prosopopeia Bento Teixeira Cantem Poetas o Poder Romano, Sobmetendo Nações ao jugo duro; O Mantuano pinte o Rei Troiano, Descendo à confusão do Reino escuro; Que eu canto um Albuquerque soberano, Da Fé, da cara Pátria firme muro, Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira, Pode estancar a Lácia e Grega lira.

O exemplo mais conhecido de sua literatura sacra é o soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor. Numa curiosa dialética, o poeta apela para a infinita capacidade de Cristo em redimir os piores pecadores, alegando que a ausência de perdão representaria o fim da glória divina. Trata-se, pois, de um poema simultaneamente contrito e desafiador, humilde e presunçoso. Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado.

II As Délficas irmãs chamar não quero, que tal invocação é vão estudo; Aquele chamo só, de quem espero A vida que se espera em fim de tudo. Ele fará meu Verso tão sincero, Quanto fora sem ele tosco e rudo, Que per rezão negar não deve o menos Quem deu o mais a míseros terrenos.

Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.

GREGÓRIO DE MATOS

Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história,

Gregório de Matos Guerra, poeta satírico e irreverente, ficou conhecido como Boca do Inferno. É con-

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.

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LITERATURA Sobeja: basta.

O amor é finalmente um embaraço de pernas, uma união de barrigas, um breve tremor de artérias.

Poesia Amorosa Seguindo o modelo dos barrocos espanhóis, Gregório apresenta uma visão cindida das relações amorosas. Ora seus poemas tendem a uma concepção "petrarquista", isto é, à idealização dos afetos em linguagem elevada; ora a uma abordagem crua e agressiva da sexualidade em linguagem vulgar. Petrarquista: referente ao poeta italiano Petrarca, (1304-74), cuja obra difunde por toda a Europa o gosto pela poesia amorosa e pelo soneto.

Uma confusão de bocas, uma batalha de veias, um reboliço de ancas, quem diz outra coisa, é besta.

Poesia Satírica Contra a ordem de coisas, contra o novo mundo, que revirou todos os princípios e hierarquias, que pôs tudo de cabeça para baixo, que está afundando a sua classe, ele vai protestar. O protesto dá-se através da linguagem poética, transformada quase sempre em caricatura, ofensa, praguejar, explosões de um cinismo cru e sem piedade. O gosto do poeta pelo insulto leva-o a acentuar os aspectos grotescos dos indivíduos e do contexto baiano como neste soneto em que descreve a cidade da Bahia:

A) O amor elevado Exemplo dessa perspectiva é um dos sonetos dedicados a D. Ângela, provável objeto da paixão do poeta e que o teria rejeitado por outro pretendente. Observe-se o jogo de aproximações entre as palavras anjo e flor para designar a amada. Observe-se também que, ao mesmo tempo tais vocábulos possuem um caráter contraditório (anjo = eternidade; flor = brevidade). Como sugere um crítico, esta duplicidade de Angélica lança o poeta em tensão e quase desespero ("Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.")

A cada canto um grande conselheiro, Quer nos governar cabana e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro.

Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Ser Angélica flor, e Anjo florente Em quem, senão em vós, se uniformara?

Em cada porta um frequente olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para a levar à Praça e ao Terreiro.

Quem vira uma tal flor, que a não cortara, De verde pé, da rama florescente? A quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus o não idolatrara?

Muitos mulatos desavergonhados Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia.

Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares.

Estupendas usuras nos mercados, Todos os que não furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia.

Mas vejo que tão bela, e tão galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

Cabana e vinha: no sentido de negócios particulares. Picardia: esperteza ou desconsideração. Usuras: juros ou lucros exagerados.

Florente: florido. Custódio: defesa

PADRE ANTÔNIO VIEIRA

B) O amor obsceno-satírico Se o erotismo é a exaltação da sensualidade e da beleza dos corpos, independentemente da linguagem, que pode ser aberta ou velada; se a pornografia é a busca do sexo proibido e culpado através de imagens grosseiras e chocantes e valendo-se quase sempre de uma forma vulgar; a obscenidade situa-se noutra esfera. Na poesia obscena-satírica, Gregório de Matos não apresenta qualquer requinte voluptuoso. Sua visão do amor físico é agressiva e galhofeira. Quer despertar o riso ou o comentário maldoso da plateia. Por isso, manifesta desprezo pela concepção cristã do amor que envolve a camada espiritual, conforme podemos verificar no texto abaixo:

Orador sacro e escritor português. Veio para o Brasil com cerca de sete anos onde tornou-se jesuíta. Retorna a Lisboa, sendo nomeado pregador da corte e encarregado por Dom João IV de importantes missões diplomáticas no exterior. Considerado a maior expressão da eloquência sacra em Portugal e um dos mais ricos escritores do idioma. Em 1614, com sete anos, muda-se com a família para o Brasil, estuda num Colégio Jesuíta da Bahia e, aos 15 anos, foge de casa para ingressar na companhia de Jesus. Aos 18 anos, já ensina Retórica. Desde muito cedo se têm notícias de seus triunfos como pregador e destaca-se em 1640, quando os holandeses cercam a

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LITERATURA

cidade de Salvador e Vieira exorta os portugueses à luta com o Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as da Holanda. Com a vitória portuguesa, retorna a Lisboa, em 1641, com a missão de levar Dom João IV, a adesão da colônia à Restauração. Conquista a admiração do rei, que o nomeia pregador da corte e o encarrega a importantes missões diplomáticas no exterior, mas provoca a ira do Santo Ofício ao recomendar a reabilitação dos cristãos-novos e por sua luta para que o comércio com as colônias fique fora dos confiscos inquisitoriais. Após alguns fracassos diplomáticos, retorna ao Brasil para chefiar as missões jesuíticas, escapando dos inimigos da Inquisição. Como Missionário no Maranhão (1653 a 1661), vive intensa luta política, além de seu trabalho de catequese. Combate à escravidão dos índios e critica muito os colonos. Consegue do rei, em 1655, em mais uma viagem a Portugal, a Lei da Liberdade dos Índios, mas quando regressa de Portugal é expulso pelos colonos, junto a outros jesuítas, em 1661. Novamente em Portugal, fragilizado e sem a proteção de D. João IV, morto em 1656, é acusado de heresia, exilado para a cidade do Porto e condenado e preso pela Inquisição em 1665. Condenado a oito anos de prisão é anistiado em 1667 quando então segue para Roma, para fugir de mais perseguições. Parte para Roma, onde conquista grande sucesso como orador sacro quando então é convidado pela rainha Cristina, da Suécia, que abdicara ao seu trono e convertera-se ao catolicismo, para ser seu confessor e pregador. O Papa Clemente X livra-o da perseguição do Santo Oficio, mas não lhe dá apoio para a criação de sua tão desejada companhia ultramarina portuguesa. Em 1681, desiludido, resolve mudar-se definitivamente para o Brasil, e passa a viver em Salvador até sua morte, em 1697.

de levar da pátria, também nos deu a terra que nos havia de cobrir fora dela. Nascer pequeno e morrer grande é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer, toda a terra; para nascer, Portugal; para morrer, o mundo. Se o grande orador não foge de muitos dos artifícios estilísticos da época barroca, sua utilização visa sempre a realçar a mensagem, torná-la mais convincente. Vieira quer ser entendido e chega a atacar os excessos formais que obscurecem o significado: Se gostas de afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam culto, não me leias. No conhecido Sermão da Sexagésima, fulmina a linguagem rebuscada e defende a argumentação clara e harmoniosa. O principal alvo de sua crítica são os pregadores cultistas, com seu artificialismo e seu gosto exagerado pela antítese. O pregar há de ser como quem semeia e não como quem ladrilha ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas como os pregadores fazem o sermão em xadrez de estrelas. Se de uma parte está branco, da outra há de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário. Aprendamos do céu o estilo da disposição e também o das palavras. Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e claras. Assim há de ser o estilo do pregador, muito distinto e muito claro. Temas religiosos O interesse pela existência cotidiana da Colônia e pelo futuro histórico de Portugal não impedem Vieira de desenvolver uma oratória estritamente religiosa, onde as questões da morte e da eternidade avultam a todo momento. O fragmento abaixo pertence ao Sermão de Quarta-feira de Cinzas, pregado em Roma, no ano de 1672. Acompanhe o engenho e o brilho desse texto:

Obra principal: Os sermões (1679-1748); História do Futuro (1854). Apesar de pertencer à tradição do pensamento português, e portanto mais próximo da literatura lusa que da brasileira, o padre Antônio Vieira é um caso singular da época barroca com sua curiosa mistura de ideias avançadíssimas, religiosidade medieval e messianismo. Os sermões, notável conjunto de obras-primas da oratória ocidental, constituem um mundo rico e contraditório, a revelar uma inteligência voltada para as coisas sacras e, simultaneamente, para a vida social portuguesa e brasileira de então.

Ora senhores, já que somos cristãos, já que sabemos que havemos de morrer e que somos imortais, saibamos usar da morte e da imortalidade. Tratemos desta vida como mortais, e da outra como imortais. Pode haver loucura mais rematada, pode haver cegueira mais cega do que empregar-me todo na vida que há de acabar, e não tratar da vida que há de durar para sempre? Cansar-me, afligir-me, matar-me pelo que forçosamente hei de deixar, e do que hei de lograr ou perder para sempre, não fazer nenhum caso? Tantas diligências para esta vida, nenhuma diligência para a outra vida? Tanto medo, tanto receio da morte temporal, e da eterna nenhum temor? Mortos, mortos, desenganai estes vivos. Dizei-nos que pensamentos e que sentimentos foram os vossos, quando entrastes e saístes pelas portas da morte. A morte tem

O Vigor da Oratória Quis Cristo que o preço da sepultura dos peregrinos fosse o esmalte das armas dos portugueses, para que entendêssemos que o brasão de nascer portugueses era a obrigação de morrer peregrinos: com as armas nos obrigou Cristo a peregrinar, e com a sepultura nos empenhou a morrer. Mas se nos deu o brasão que nos havia

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LITERATURA

REVISÃO

duas portas. Uma porta de vidro por onde se sai da vida; outra porta de diamante, por onde se entra à eternidade

GREGÓRIO DE MATOS

Inúmeros outros sermões desse padre jesuíta partem de alusões religiosas para comentar criticamente aspectos da sociedade brasileira ou portuguesa, mostrando sua profunda relação com a vida pública. Implacável inimigo dos corruptos, fulminou-os no Sermão do bom ladrão, apresentado diante de D. João IV, em 1655 e do qual esta passagem é bastante conhecida:

 Autor de sátiras de extrema irreverência o que fez com que fosse degregado para Angola.  Escreveu poesias líricas, satíricas e religiosas.  Vocabulário forte, não poupava qualquer camada social em suas sátiras.  Seu palavreado chulo intitulou-o de Boca do Inferno.  Desenvolveu o cultismo sem deixar de lado o conceptismo.  Falou do homem brasileiro, do português poderoso, do clero, do rei de Portugal, da sociedade baiana (sátira).  Contraste entre o pecado e o perdão, o antagonismo que vive o homem barroco (religioso).  Fala também do amor, filosofia, natureza das coisas.

Não são só ladrões - diz o Santo - os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhe colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os pobres. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas (juízes) e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões e começou a bradar: "Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos." Ditosa Grécia que tinha tal pregador! Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul ou ditador por ter roubado uma província.

PADRE ANTÔNIO VIEIRA  Defendeu os cristãos - novos e o capitalismo judaico.  Lutou em benefício dos índios e dos negros.  O tribunal da Inquisição chegou a condená-lo por ser um herege.  Grande orador sacro de sua época.  Criou sua obra nos dois países: Portugal e Brasil.  Defendia os direitos humanos através de seus Sermões.  Características Conceptistas: sem exageros e rebuscamentos desnecessários.  Um sermão importante: Sermão da Sexagésima: expõe sua polêmica frente a arte Cultista, analisa o papel do pregador e do ouvinte que não sabendo pregar adequadamente (os padres) faziam perecer à palavra de Deus.

Trechos da Obra Sermão da Quinta Dominga da Quaresma Na Igreja Maior da Cidade de São Luís no Maranhão. Ano de 1654. §I A verdade e a mentira: a verdade do pregador e a mentira dos ouvintes. As três espécies de mentiras com que os escribas e fariseus hoje contradisseram, caluniaram e quiseram afrontar e desonrar o Filho de Deus. Temos juntamente hoje no Evangelho duas coisas que nunca podem andar juntas: a verdade e a mentira. E por que não podem andar juntas, por isso as temos divididas; a verdade no pregador, a mentira nos ouvintes; o pregador muito verdadeiro, o auditório muito mentiroso. Uma e outra coisa disse Cristo aos escribas e fariseus, com quem falava. O pregador muito verdadeiro: Si veritatem dico vobis; o auditório muito mentiroso: Ero similis vobis, mendax. De três modos - que há muitos modos de mentir - mentiram hoje estes maus ouvintes. Mentiram, porque não creram a verdade; mentiram, porque impugnaram a verdade; mentiram, porque afirmaram a mentira.

QUESTÃO 01 (Ufscar-SP) "Ora, suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o disse, perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído, os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet. Estão essas praças no verão cobertas de pó: dá um pé-de-vento, levantase o pó no ar e que faz? O que fazem os vivos, e muito vivos. NÃO AQUIETA O PÓ, NEM PODE ESTAR QUEDO: ANDA, CORRE, VOA; ENTRA POR ESTA RUA, SAI POR AQUELA; JÁ VAI ADIANTE, JÁ TORNA ATRÁS; TUDO ENCHE, TUDO COBRE, TUDO

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LITERATURA

ENVOLVE, TUDO PERTURBA, TUDO TOMA, TUDO CEGA, TUDO PENETRA, EM TUDO E POR TUDO SE METE, SEM AQUIETAR NEM SOSSEGAR UM MOMENTO, ENQUANTO O VENTO DURA. Acalmou o vento: cai o pó, e onde o vento parou, ali fica; ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é."

b) Gregório de Matos. c) Tomás Antônio Gonzaga. d) José de Anchieta. e) Antônio Vieira. QUESTÃO 04 (UEL-PR) O Barroco manifesta-se entre os séculos XVI e XVII, momento em que os ideais da Reforma entram em confronto com a Contrarreforma católica, ocasionando no plano das artes uma difícil conciliação entre o teocentrismo e o antropocentrismo. A alternativa que contém os versos que melhor expressam esse conflito é:

Antônio Vieira. Trecho do Cap. V do Sermão da Quarta-Feira de Cinza. Apud: Sermões de Padre Antônio Vieira. São Paulo: Núcleo, 1994, p.123-124.

Em Padre Vieira fundem-se a formação jesuítica e a estética barroca, que se materializam em sermões considerados a expressão máxima do Barroco em prosa religiosa em língua portuguesa, e uma das mais importantes expressões ideológicas e literárias da Contrarreforma. a) Comente os recursos de linguagem que conferem ao texto características do Barroco. b) Antes de iniciar sua pregação, Vieira fundamenta-se num argumento que, do ponto de vista religioso, mostrase incontestável. Transcreva esse argumento.

a) "Um paiá de Monal, bonzo bramá, Primaz da Cafraria do Pegu, Que sem ser do Pequim, por ser do Açu, Quer ser filho do sol, nascendo cá." Gregório de Matos Guerra

b) "Temerária, soberba, confiada, Por altiva, por densa, por lustrosa, A exaltação, a névoa, a mariposa, Sobe ao sol, cobre o dia, a luz lhe enfada."

QUESTÃO 02 (ITA-SP) Leia o texto abaixo e as afirmações que se seguem. "Que falta nesta cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.

Botelho de Oliveira

c) "Fábio, que pouco entendes de finezas! Quem faz só o que pode a pouco obriga: Quem contra os impossíveis se afadiga, A esse cede amor em mil ternezas." Gregório de Matos Guerra

O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, Numa cidade onde falta Verdade, honra, vergonha."

d) "Luzes qual sol entre astros brilhadores, Se bem rei mais propício, e mais amado; Que ele estrelas desterra em régio estado, Em régio estado não desterras flores."

Gregório de Matos Guerra. Os melhores poemas de Gregório de Matos Guerra. Rio de Janeiro: Record, 1990.

Botelho de Oliveira

I - Mantém uma estrutura formal e rítmica regular. II - Enfatiza as ideias opostas. III - Emprega a ordem direta. IV - Refere-se à cidade de São Paulo. V - Emprega a gradação. Então, pode-se dizer que são verdadeiras: a) Apenas I, II, IV. b) Apenas I, II, V. c) Apenas I, III, V. d) Apenas I, IV, V. e) Todas.

e) "Pequei Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. " Gregório de Matos Guerra

QUESTÃO 05 (UFRGS-RS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo sobre os dois grandes nomes do Barroco brasileiro. ( ) A obra poética de Gregório de Matos oscila entre os valores transcendentais e os valores mundanos, exemplificando as tensões do seu tempo. ( ) Os sermões do Padre Vieira caracterizam-se por uma construção de imagens desdobradas em numerosos exemplos que visam enfatizar o conteúdo da pregação. ( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em seus poemas e sermões, mostram exacerbados sentimentos patrióticos expressos em linguagem barroca. ( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom dos sermões do Padre Vieira representam duas faces da alma barroca no Brasil.

QUESTÃO 03 (UEL-PR) Ao lado dos versos críticos e contundentes, em geral dirigidos contra os poderosos e os oportunistas, há os versos líricos, tocados pelo sentimento amoroso ou pela devoção cristã. Num e noutro casos, apuravam-se o engenho verbal, as construções paralelísticas, o emprego de antíteses e hipérboles, por vezes inspirando-se diretamente em versos ou fórmulas dos espanhóis Gôngora e Quevedo — mestres desse estilo. O trecho anterior está-se referindo à obra poética de: a) Cláudio Manuel da Costa.

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LITERATURA

( ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos para o desvio operado pela retórica retumbante e vazia. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V - F - F - F - F b) V - V - V - V - F c) V - V - F - V - F d) F - F - V - V - V e) F - F - F - V – V

No Brasil, o movimento deu-se, principalmente, em Minas Gerais com: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Basílio da Gama. CARACTERÍSTICAS Busca da simplicidade A fórmula básica do Arcadismo pode ser representada assim: Verdade = Razão = Simplicidade Mas se a simplicidade é a essência do movimento ao avesso da confusão e do retorcimento barroco - como pode o artista ter certeza de que sua obra é integralmente simples? A saída está na imitação (que significa seguir modelos e não copiar), tanto da natureza quanto dos velhos clássicos.

Gabarito 1. a) O Barroco é o movimento marcado pela oposição de ideias. Assim, no poema, encontram-se antíteses (“pó levantado”/“pó caído”); paradoxos (“Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do pó”); anáforas (pronome indefinido “tudo”), polissíndeto (ou) e outros. b) O argumento é: “Ora, pressuposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o disse”... 2. B 3. B 4. E 6. C

Mimetismo: Imitação da natureza O pintor francês Watteau é o grande intérprete do refinamento das elites francesas do século XVIII, antes da Revolução. Festas galantes, cenas campestres e referências pastoris constituem o seu universo temático, a exemplo dos textos do Arcadismo

ARCADISMO

Ao contrário do Barroco, que é urbano, há no Arcadismo um retorno à ordem natural. Como na literatura clássica, a natureza adquire um sentido de simplicidade, harmonia e verdade. Cultua-se o "homem natural", isto é, o homem que "imita" a natureza em sua ordenação, em sua serenidade, em seu equilíbrio, e condena-se toda ousadia, extravagância, exacerbação das emoções. O bucolismo (integração serena entre o indivíduo e a paisagem física) torna-se um imperativo social, e os neoclássicos franceses retornam às fontes da antiguidade que definiam a poesia como cópia da natureza.

"Lede que é tempo os clássicos honrados, Herdei seus bens, herdei essas conquistas." (Filinto Elásio - Árcade português) CONTEXTO HISTÓRICO Minas Gerais vive a febre do ouro e no final do século XVII, o centro econômico e administrativo do Brasil transfere-se para Vila Rica, atual Ouro Preto. Para lá seguem muitos artistas e artesões europeus que terão a missão de transformar Vila Rica, com a construção de igrejas e monumentos. Os novos ricos levam seus descendentes a estudar na Europa e voltam de lá com novas visões sócio, política e cultural. Desse intercâmbio nascem os poetas árcades de Minas Gerais, que pretendem combater, com suas obras, o Barroco literário, no mesmo momento em que obrasprimas (esculturas) como as de Aleijadinho (1730-1814) estão em alta na colônia. Com a redução drástica da produção de ouro, na segunda metade do século XVIII, o governo português tenta impor pesados impostos para compensar as perdas com o precioso metal. Influenciados pelos movimentos de independência americanos, a elite mineira representada por: juristas, intelectuais, poetas, sacerdotes e militares tramam contra a coroa, no processo conhecido por Inconfidência Mineira, fazendo com que o movimento árcade brasileiro perdesse força, pois poetas importantes como Cláudio Manuel da Costa, além de outros, foram presos e alguns morreram.

A literatura pastoril A literatura pastoril não surge da vivência direta da natureza, ao contrário do que aconteceria com os artistas românticos, no século seguinte. Pode-se dizer que uma distância infinita separa os pastores reais dos "pastores" árcades. E que sua poesia campestre é meramente uma convenção, ou seja, uma espécie de modismo de época a que todo escritor deve se submeter. Sendo assim, estes campos, estes pastores e estes rebanhos são artificiais como aqueles cenários de papelão pintado que a gente vê no teatrinho infantil. Não devemos, pois, cobrar dos árcades realismo do cenário e sim atentar para os sentimentos e ideias que eles, porventura, expressem. No exemplo abaixo, de Tomás Antônio Gonzaga, percebemos que o mundo pastoril é apenas um quadro convencional para o poeta refletir sobre o sentido da natureza: Enquanto pasta alegre o manso gado, minha bela Marília, nos sentemos à sombra deste cedro levantado.

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LITERATURA Um pouco meditemos na regular beleza, Que em tudo quanto vive nos descobre A sábia natureza.

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA Cláudio Manuel da Costa foi o introdutor do Arcadismo no Brasil. Estudou em Coimbra e percorreu a Itália onde estudou literatura. Participou da Inconfidência Mineira e morreu supostamente por suicídio, quando esteve preso acusado por participar do movimento revolucionário mineiro.

Imitação dos clássicos Processa-se um retorno ao universo de referências clássicas, que é proporcional à reação antibarroca do movimento. O escritor árcade está preocupado em ser simples, racional, inteligível. E para atingir esses requisitos exige-se a imitação dos autores consagrados da Antiguidade, preferencialmente os pastoris.

Estuda advocacia em Coimbra, Portugal, onde presencia o surgimento da Arcádia Lusitana, quando é fortemente influenciado pelo movimento. Firma-se como rico e próspero advogado em Mariana, sua cidade natal. Ingressa na literatura e adota o pseudônimo de Glauceste Satúrnio. De forte autocrítica, revela-se frustrado com seus poemas, mas sua obra acaba sendo fundamental na divulgação das ideias neoclássicas e atrai admiradores. Seus poemas atraem admiradores como os poetas Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Torna-se adepto das ideias revolucionárias da elite de Vila Rica e participa ativamente da Inconfidência Mineira. É preso em 1789, sob a acusação de reunir os conjurados. Logo depois é encontrado morto em sua cela, supostamente por suicídio, um fato não comprovado até hoje.

Ausência de subjetividade A constante e obrigatória utilização de imagens clássicas tradicionais acaba sedimentando uma poesia despersonalizada. Quando o poeta declara seu amor à pastora, o faz de uma maneira elegante e discreta, exatamente porque as regras desse jogo exigem o respeito à etiqueta afetiva. Assim, o seu "amor" pode ser apenas um fingimento, um artifício de imagens repetitivas e banalizadas. Caracterização geral do Arcadismo Delegação poética – um pastor fictício assume a condição do eu lírico do texto. Fugere urbem – fugir da cidade para o campo, em busca dos ideais de vida simples, em contato com a natureza. Inutilia truncat – cortar o que é inútil em oposição aos excessos do cultismo barroco. Simplicidade estilística. Lócus amoenus – a natureza em suas manifestações mais aprazíveis, como refúgio contra as angústias. Ausência de conflito – ideal de vida serena. Bucolismo – culto à natureza, como elemento capaz de dar ao homem a vida utópica. Pastoralismo – a vida do pastor como modelo de simplicidade existência a ser alcançada. Despersonalização lírica – o uso de pseudônimo pastoril, que traduz a anulação do eu lírico extraído da realidade. Objetividade Simplicidade clássica Correção da linguagem – em obediência às normas da poética clássica, a linguagem árcade é construída segundo os padrões gramaticais de correção e clareza. Racionalismo – segue os princípios da razão, da lógica e da contenção emocional. Convencionalismo amoroso – convenciona o sentimento delicado do pastor em relação à mulher revelado em imagens poéticas galantes e graciosas, leves e mimosas, aproximando-se do refinamento da arte Rococó. Poesia descritiva Carpe diem – sem os conflitos e opressões do Barroco, a poesia árcade, frequentemente, revela que a vida deve ser aproveitada, que o homem não deve se privar dos prazeres que a vida material oferece.

Características Poesia lírica e narrativa Obediência aos padrões formais clássicos Lirismo amoroso e existencial Natureza como pano de fundo e confidente Influência do maneirismo de Luís de Camões Bucolismo com tendências nativas – a cor local Recorrência à imagística negativista do barroco SONETOS Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento; Ouvi pois o meu fúnebre lamento; Se é, que de compaixão sois animados: Já vós vistes, que aos ecos magoados Do trácio Orfeu parava o mesmo vento; Da lira de Anfião ao doce acento Se viram os rochedos abalados. Bem sei, que de outros gênios o Destino, Para cingir de Apolo a verde rama, Lhes influiu na lira estro divino: O canto, pois, que a minha voz derrama, Porque ao menos o entoa um peregrino, Se faz digno entre vós também de fama. Trecho da Obra Lhes influiu na lira estro divino: O canto, pois, que a minha voz derrama, Porque ao menos o entoa um pere-

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grino, Se faz digno entre vós também de fama. II Leia a posteridade, ó pátrio Rio, Em meus versos teu nome celebrado; Por que vejas uma hora despertado O sono vil do esquecimento frio: Não vês nas tuas margens o sombrio, Fresco assento de um álamo copado; Não vês ninfa cantar, pastar o gado Na tarde clara do calmoso estio. Nas porções do riquíssimo tesouro.

De tosco trato, d? expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!

TOMÁS ANTONIO GONZAGA

Eu vi o meu semblante numa fonte, Dos anos inda não está cortado: Os pastores, que habitam este monte, Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja minha, Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!

Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico é Dirceu, escreveu poesias líricas, típicas do arcadismo, com temas pastoris e de galanteio, dirigidas à sua amada, a pastora Marília. Nasce em Portugal, filho de um magistrado brasileiro. Passa a infância na Bahia e estuda em colégio jesuíta. Segue para Coimbra e forma-se em Direito. Em sua volta à Vila Rica inicia sua carreira Jurídica. Em 1782 é designado para o cargo de Ouvidor. Participa da Inconfidência Mineira e é preso em 1789. Passa três anos na cadeia, pena cumprida na cidade do Rio de Janeiro. Gonzaga é apaixonado pela jovem Maria Joaquina Dorotéia de Seixas e durante seu período de reclusão, escreve vários poemas líricos, todos dedicados a sua amada, que é retratada por Marília e o amante de Dirceu, que resultam posteriormente no livro Marília de Dirceu. Em 1792 é forçado a se exilar e segue para Moçambique. Morre em 1809, sem mais retornar ao Brasil. Também se destaca em sua produção literária: Cartas Chilenas, um conjunto de poemas satíricos, que circularam por Vila Rica, através de manuscritos anônimos e que foram escritos por motivo de sua disputa política com o então governador de Vila Rica Luís da Cunha Menezes, que é citado nos poemas como o Fanfarrão Minésio.

Dos anos inda não está cortado: Os pastores, que habitam este monte, Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja minha, Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Mas tendo tantos dotes da ventura, Só apreço lhes dou, gentil Pastora, Depois que teu afeto me segura, Que queres do que tenho ser senhora. É bom, minha Marília, é bom ser dono De um rebanho, que cubra monte, e prado; Porém, gentil Pastora, o teu agrado Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Os teus olhos espalham luz divina.

Características Poesia lírica e satírica Espontaneidade lírica Despotismo esclarecido Sátira jocosa Imagens poéticas de influência do Rococó Linguagem simples e equilibrada, com traços de coloquialidade em alguns momentos.

Trecho da Obra CARTAS CHILENAS Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um governador despótico. Eu mudei algumas coisas menos interessantes, para as acomodar melhor ao nosso gosto. Peço-te que me desculpes algumas faltas, pois, se és douto, hás-de conhecer a suma dificuldade, que há na tradução em verso. Lê, diverte-te e não queiras fazer juízos temerários sobre a pessoa de anfarrão. Há muitos fanfarrões no mundo, e talvez que tu sejas também um deles, etc. ... Quid rides ? mutato nomine, de te Fabula narratur... Horat. Sat lª, versos 69 e 70. DEDICATÓRIA AOS GRAN-

Marília de Dirceu PARTE I Lira I Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado;

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DES DE PORTUGAL Ilmos. e exmos. senhores, dar ao prelo as Cartas Chilenas,logo assentei comigo que Vv.

todo em torno dos eventos expedicionários e de um caso de amor e morte no reduto missioneiro: No primeiro canto, Gomes Freire fala a respeito dos motivos da expedição. No segundo, trava-se a batalha entre conquistadores e índios, com a derrota dos últimos, apesar da valentia de seus principais chefes, Cacambo e Sepé. No terceiro canto, por motivos que o autor não aponta, Cacambo é preso e envenenado pelo jesuíta Balda. No quarto canto, tudo se esclarece: Balda queria casar o índio Baldeta, seu protegido e, provavelmente, seu filho, com Lindóia, esposa de Cacambo, mas ela prefere se deixar picar por uma serpente e morre. No último canto, temos a vitória final da expedição lusoespanhola e a descrição do templo central das Missões.

BASÍLIO DA GAMA Basílio da Gama, natural de São João Del Rey, participou da Arcádia Romana e adotou o pseudônimo de Termindo Siplilío. Sua grande obra é o poema épico O Uraguai que narra o massacre dos índios no episódio de Sete Povos das Missões. Basílio da Gama nasceu em Minas Gerais e, órfão, foi para o Rio de Janeiro estudar em colégio de jesuítas. Estava para professar na Companhia quando ela foi dissolvida por ordem de Pombal. Abandonou-a e, após um tempo em Roma, foi para Portugal, a fim de frequentar a Universidade de Coimbra. Preso por suspeita de "atividades jesuíticas", salvou-se do desterro dirigindo um poema de louvor à filha do Marquês de Pombal. Este se tornaria seu protetor, especialmente depois da publicação de O Uraguai, em 1769, que colocava o autor dentro dos padrões ideológicos do Iluminismo. O esforço neoclássico do século XVIII leva alguns autores a sonhar com a possibilidade de um retorno ao sentido épico do mundo antigo. No entanto, numa era onde as concepções burguesas, o racionalismo e a Ilustração triunfam, o heroísmo guerreiro ou aventureiro parecem irremediavelmente fora de moda. A epopeia ressurge, é verdade, mas quase como farsa. Compare-se, por exemplo, a grandeza do assunto de Os Lusíadas - os notáveis descobrimentos de Vasco da Gama - com o mesquinho tema de O Uraguai - a tomada das Missões jesuíticas do Rio Grande do Sul pela expedição punitiva de Gomes Freire de Andrade, em 1756 para se ter uma ideia das diferenças que separam as duas obras.

O Uraguai CANTO PRIMEIRO Fumam ainda nas desertas praias Lagos de sangue tépidos e impuros Em que ondeiam cadáveres despidos, Pasto de corvos. Dura inda nos vales O rouco som da irada artilheria. MUSA, honremos o Herói que o povo rude Subjugou do Uraguai, e no seu sangue Dos decretos reais lavou a afronta. Ai tanto custas, ambição de império! E Vós, por quem o Maranhão pendura REVISÃO PAINEL DE ÉPOCA: Revolução Industrial Iluminismo: século das luzes Revolução Francesa PRODUÇÃO LITERÁRIA TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA Sua obra de destaque: Marília de Dirceu - fala do grande amor nutrido pela noiva. Antes da prisão: otimismo, confiança. Pseudônimo: Dirceu Publicou Obras Poéticas, dando início ao arcadismo brasileiro. Pseudônimo: Glauceste Satúrnio Paisagem de Minas.

Características Poesia épica Epopeia de um fato recente e não mítico-lendário Poesia antijesuítica Indianismo que prenuncia o Romantismo Uso de mitologia indígena em lugar de greco-latina Quebra de modelo clássico da epopeia Introdução de aspectos lírico-narrativos Versos brancos e estrofação nacional Tendência para o paisagismo romântico Imagens poéticas ágeis e expressivas, densas e rápidas Versos ricos de efeitos sonoros Uso do enjambement como recurso expressivo

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA Publicou Obras Poéticas, dando início ao arcadismo brasileiro. Minucioso na métrica apresentando linguagem muito correta. Pseudônimo: Glauceste Satúrnio A natureza é um consolo para sua aflições. Paisagem de Minas Especializou-se na forma fixa: o soneto.

A Estrutura do Poema A pobreza temática impele Basílio da Gama a substituir o modelo camoniano de dez cantos por um poema épico de apenas cinco cantos, constituídos por versos brancos, ou seja, versos sem rimas. O enredo situa-se

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c) Utilização de linguagem elegante, rebuscada e artificial. d) Intenções didáticas, expressas no tom de denúncia e sátira. e) Caracterização do poeta como um pintor de situações e não de emoções.

QUESTÃO 01 (UFRRJ) Lira XI "Não toques, minha musa, não, não toques Na sonorosa lira, Que às almas, como a minha, namoradas Doces canções inspira: Assopra no clarim que apenas soa, Enche de assombro a terra! Naquele, a cujo som cantou Homero, Cantou Virgílio a guerra."

QUESTÃO 03 (UFSM-RS) "Tu não verás, Marília, cem cativos tirarem o cascalho e a rica terra, ou dos cercos dos rios caudalosos, ou da minada serra. Não verás separar ao hábil negro do pesado esmeril a grossa areia, e já brilharem os granetes de oiro no fundo da bateia."

Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro: Anuário do Brasil, s/d. p. 30.

Marília de Dirceu apresenta um dos principais traços do Arcadismo. A opção que aponta essa característica temática, presente no texto, é a) O bucolismo. b) A presença de valores ou elementos clássicos. c) O pessimismo e negatividade. d) A fixação do momento presente. e) A descrição sensual da mulher amada.

No trecho de Marília de Dirceu, expressões como "cem cativos", "rios caudalosos" e "granetes de oiro" remetem para: a) A profissão de minerador exercida por Dirceu. b) Uma atividade econômica exercida na época. c) O desagrado de Dirceu em relação à atividade do pai de Marília. d) Preocupações de Dirceu relativas à poluição dos rios. e) A prosperidade em que vivia o povo brasileiro.

QUESTÃO 02 (UFV-MG) Os árcades, no Brasil, assimilaram as ideias neoclássicas europeias, muitas vezes, reinterpretando, cada um ao seu estilo, a realidade sociopolítica e cultural do país, como se observa no seguinte fragmento das

QUESTÃO 04 (Ufla-MG) Apresentam-se em seguida três proposições: I, II e III. I. O momento ideológico, na literatura do Setecentos, traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero. II. O momento poético, na literatura do Arcadismo, nasce de um encontro, embora ainda amaneirado, com a natureza e os afetos comuns do homem. III. Façamos, sim, façamos, doce amada, Os nossos breves dias mais ditosos. A característica que está presente nesses versos de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, é o "carpe diem" ("gozar a vida").

Cartas chilenas: "Pretende, Doroteu, o nosso chefe erguer uma cadeia majestosa, que possa escurecer a velha fama da torre de Babel e mais dos grandes, custosos edifícios que fizeram, para sepulcros seus, os reis do Egito. Talvez, prezado amigo, que imagine que neste monumento se conserve, eterna a sua glória, bem que os povos, ingratos, não consagrem ricos bustos nem montadas estátuas ao seu nome. Desiste, louco chefe, dessa empresa: um soberbo edifício levantado sobre ossos de inocentes, construído com lágrimas dos pobres, nunca serve de glória ao seu autor, mas sim de opróbrio."

Marque: a) Se só a proposição I é correta. b) Se só a proposição II é correta. c) Se só a proposição III é correta. d) se só são corretas as proposições I e II. e) Se todas as proposições são corretas.

Tomás Antônio Gonzaga. Cartas chilenas. In: Alvarenga Peixoto, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 814.

QUESTÃO 05 (UFV-MG) Sobre o Arcadismo, anotamos: I. Desenvolvimento do gênero lírico, em que os poetas assumem postura de pastores e transformam a realidade num quadro idealizado. II. Composição do poema Vila Rica por Cláudio Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio. III. Predomínio da tendência mística e religiosa, expressiva da busca do transcendente.

Todas as alternativas abaixo apresentam características desse estilo literário, presente nos versos acima citados, EXCETO: a) Valorização do ideal da vida simples e tranquila. b) Tendência ao discurso em forma de diálogo do eu poético com um interlocutor.

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IV. Propagação de manuscritos anônimos de teor satírico e conteúdo político, atribuídos a Tomás Antônio Gonzaga. V. Presença de metáforas da mitologia grega na poesia lírica, divulgando as ideias dos inconfidentes.

nais, pelo enquadramento temático em paisagem bucólica pintada como lugar aprazível, pela delegação da fala poética a um pastor culto e artista, pelo gosto das circunstâncias comuns, pelo vocabulário de fácil entendimento e por vários outros elementos que buscam adequar a sensibilidade, a razão, a natureza e a beleza. Dadas estas informações: a) Indique qual a forma convencional clássica em que se enquadra o poema. b) Transcreva a estrofe do poema em que a expressão da natureza aprazível, situada no passado, domina sobre a expressão do sentimento da personagem poemática.

Considerando as anotações anteriores, assinale a alternativa CORRETA: a) Apenas I e III são verdadeiras. b) Apenas II e IV são falsas. c) Apenas II e V são verdadeiras. d) Apenas III e V são falsas. e) Todas são verdadeiras.

Gabarito QUESTÃO 06 (Ufla-MG) Leia os seguintes fragmentos de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga.

1. B

2. C

3. B

4. E

5. D

6. a) No texto 2. b) O sujeito lírico apresenta características da convenção arcádica. Há a referência a pastores e à vida campestre (“monte”). 7. a) Trata-se de um soneto, cuja forma poética é constituída de dois quartetos e dois tercetos. b) É na terceira estrofe do poema em que o poeta descreve de modo objetivo a expressão de natureza aprazível. “Árvores aqui vi tão florescentes,/Que faziam perpétua a primavera:/Nem troncos vejo agora decadentes”

Texto I "Verás em cima de espaçosa mesa Altos volumes de enredados feitos; Ver-me-ás folhear os grandes livros, E decidir os pleitos." Texto II "Os Pastores, que habitam este monte, Respeitam o poder do meu cajado; Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja me tem o próprio Alceste." Responda: a) Em qual dos fragmentos o sujeito lírico é caracterizado de acordo com a convenção arcádica? b) Explique.

ROMANTISMO O novo movimento literário valoriza o nacionalismo e a liberdade, refletindo os anseios de um país recém-libertado, que precisa criar sua própria história, sua própria literatura.

QUESTÃO 07 (Ufscar-SP) "Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo tímido esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado. Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera!"

CONTEXTO HISTÓRICO No início do século XIX, o país assistiu a um fato decisivo para sua independência política e social: a chegada da corte de D. João VI. Assim que desembarcou no Rio de Janeiro, a família real adotou medidas para possibilitar a administração à distância. Entre elas, destacam-se a abertura dos portos, a fundação do Banco do Brasil, a criação dos tribunais de Finanças e de Justiça, a permissão para o livre funcionamento de indústrias, a implantação da imprensa. Ocorreram ainda as fundações da Academia Militar e da Biblioteca Real, com 60 mil volumes, que está na origem da Biblioteca Nacional. Paralelamente a isso, o florescimento do cultivo de café deslocava o eixo econômico de Minas Gerais para São Paulo, onde se concentravam as planta-

Cláudio Manuel da Costa. Sonetos (VlI). In: Péricles Eugênio da Silva Ramos (Intr., sel. e notas). Poesia do outro - Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1964, p. 47.

O estilo neoclássico, fundamento do Arcadismo brasileiro, de que fez parte Cláudio Manuel da Costa, caracteriza-se pela utilização das formas clássicas convencio-

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ções. O Rio de Janeiro, porto de escoamento do produto, torna-se também capital literária e cultural do país. A ascensão da burguesia, a emergência das profissões liberais e o desenvolvimento da instrução pública possibilitam a ampliação dos grupos letrados, que aos poucos quebram o monopólio de poder, até então concentrado nas mãos da aristocracia rural. Com a ampliação da classe média, o lazer torna-se parte importante do cotidiano da burguesia, a instrução feminina passa a ser valorizada, a educação melhora, fundam-se bibliotecas e a imprensa se torna mais atuante nos principais centros urbanos. As tipografias e casas impressoras proliferam, e o livro começa a ser publicado com maior regularidade, circulando com mais facilidade pelo país. A qualificação do público e a ampliação do leitorado dão mais popularidade aos escritores que, pela primeira vez, conhecem o sucesso em vida. Imbuídos de missão civilizatória, eles atuam na imprensa, na política, na literatura e assumem a dimensão de figura pública engajada no debate das questões candentes do país. Política e letras caminham de mãos dadas. O período regencial e as revoltas que o marcaram, a prosperidade do Segundo Império, a Guerra do Paraguai e a campanha abolicionista são temas discutidos publicamente, com grande repercussão sobre a produção literária. O Romantismo brasileiro deve ser compreendido em conjunto com o processo de emancipação política. A intenção de criar uma literatura independente e diferente da portuguesa deveria equivaler, no plano cultural, ao que a proclamação da independência representou no plano político. Assim, Portugal deixa de ser a principal referência literária, função que passa a ser exercida por França e Inglaterra. Embora identificado com o período de 1836 a 1881, as origens do movimento romântico brasileiro remontam ao contexto europeu e aos anos de transição entre os séculos XVIII e XIX, quando panfletos e sermões ganham destaque como veículos de ideias novas e a atividade jornalística começa a se adensar. Rica de contatos com a cultura europeia do tempo, essa atividade teve papel crucial para a articulação do que alguns críticos chamam de "pré-Romantismo" e para a definição das linhas ideológicas do Primeiro Reinado e da Regência. Frei Caneca (1779-1825), Visconde de Cayru (1756-1835), Monte Alverne (1774-1823), José Bonifácio (1763-1838), além de Hipólito da Costa e Evaristo da Veiga, são alguns dos nomes mais influentes nesse momento de transição. Convém ainda ressaltar que o Romantismo, com letra maiúscula, deve ser diferenciado do romantismo, com minúscula. O primeiro termo designa o movimento literário. O segundo, um comportamento social e afetivo sem época determinada. E o formato romance, embora tenha se desenvolvido no período, origina-se na Europa no século XVII. É, pois, anterior ao Romantismo.

reitos do Homem e do Cidadão: "A livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão pode, portanto falar, escrever, imprimir livremente." Como afirma um historiador, "cada francês é agora um escritor em potencial, todas as Bastilhas acadêmicas caem por terra e uma aventura da palavra escrita está acontecendo." A consciência da liberdade propicia ao artista um duplo sentimento:  O de euforia, por não ter mais de se sujeitar à vontade individual de protetores da nobreza.  O de medo, por ser agora um produtor para o mercado que, muitas vezes, desconhece. CARACTERÍSTICA O Romantismo é a atitude ou orientação intelectual que caracterizou diversos trabalhos de literatura, pintura, música, arquitetura, crítica e historiografia da civilização ocidental durante o período que vai do fim do século XVIII até meados do século XIX. O Romantismo pode ser visto como uma rejeição aos preceitos de ordem, calma, harmonia, equilíbrio, idealização e racionalidade que eram próprios do Classicismo em geral e do Neoclassicismo do século XVIII em particular. Até certo ponto, foi também uma reação contra o Iluminismo e o racionalismo que dele deriva. A ênfase no individual, subjetivo, irracional, imaginativo, pessoal, espontâneo, emocional, visionário e transcendental é comum a grande parte das produções artísticas do Romantismo. Entre as atitudes características do período, é possível listar as seguintes: o aprofundamento da apreciação da natureza; a exaltação da emoção em detrimento da razão e dos sentidos em detrimento do intelecto; o exame meticuloso da personalidade humana e de suas potencialidades mentais; a preocupação com o gênio, o herói e a figura excepcional de modo geral, e o foco em seus conflitos interiores; uma nova visão do artista como criador individual supremo, cujo espírito criativo é mais importante que a adesão a regras formais e procedimentos tradicionais; a ênfase na imaginação como ponto de partida para experiências transcendentes e para a verdade espiritual; o interesse obsessivo pelo folclore e pelas origens históricas e culturais da nação; a predileção pelo exótico, remoto, misterioso, estranho, oculto, monstruoso, doentio e até satânico. Caracterização geral do Romantismo Individualismo e subjetivismo – o mundo é visto sob uma ótica que reflete a personalidade do artista. O artista revela os estados de alma provocados pela realidade exterior. Ilogismo - sua regra é a oscilação entre polos opostos de alegria e melancolia, entusiasmo, tristeza.

A liberdade de expressão O primeiro efeito favorável da vitória burguesa para a literatura reside no artigo onze da Declaração de Di-

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Senso de mistério – o espírito romântico é atraído pelo mistério da existência, que lhe parece envolvida no terror e no sobrenatural. São comuns os ambientes melancólicos e tenebrosos, as regiões desérticas, inóspitas e exóticas, que afastam do senso comum e imediato. Noturnismo – o romântico prefere a noite ao dia, pois à luz clara do sol o real impõe-se. Escapismo – o romântico deseja fugir da realidade social imediata, pois esta o atormenta, evadindo-se no tempo e no espaço ou procurando a morte como salvação da própria vida. O suicídio – a evasão das evasões. Sonho – o ser romântico é, por excelência, um sonhador, pois cria fantasias que possam satisfazer o seu espírito, idealizando situações e um universo pleno de felicidade, de símbolos e mitos situados fora da realidade. Fé – idealista, o romântico acredita no espírito e na sua capacidade de reformar o mundo. Valoriza a faculdade mística, a intuição. Culto da natureza – a natureza é um local de refúgio que ainda não foi contaminado pelas mãos do homem. Se no Arcadismo a natureza é um cenário ambiental, decorativa, no Romantismo ela é expressiva, com representação panteísta. É também elemento de projeção e reflexo dos sentimentos do eu-poético. Exotismo – paisagem e ambientes exóticos, excêntricos são do interesse do Romantismo. Retorno ao passado – no seu processo de escapismo, o romântico se refugia no passado, buscando reviver a infância ou idealizando uma civilização diferente da sua. Reformismo – a busca de uma sociedade mais justa e igualitária leva o Romantismo ao ímpeto revolucionário, ligado aos ideais libertários, democráticos. Os românticos acreditam na sua capacidade de reformar o mundo. Idealização – Na impossibilidade de transformar os fatos, o Romantismo imagina situações e personagens à luz da idealização, tornando-se uma verdadeira usina de utopia. Criação de herói – na idealização dos personagens, surge a figura do herói capaz de grandes feitos, inspirado na figura do cavaleiro medieval, puro, belo, forte e bravo. Nacionalismo – a pátria é símbolo das tradições da grandeza heróica. É o elemento gerador da saudade. Situações trágicas e dramáticas – na intensidade das suas emoções, o romântico apela para o trágico, para o dramático, para o violento. Religiosidade – descrente do mundo que o cerca, o homem romântico deposita em Deus sua fé e sua crença. Mal-do-século – o tédio, a morbidez, a melancolia, o desencanto, o desejo de morte, fruto da tuberculose contaminam a literatura romântica. Poesia byroniana. Negativismo boêmio – o mundo decadente, povoado de viciados, bêbados e prostitutas, de andarilhos solitários, sem vínculo e sem destino. Satanismo – afrontamento à hipocrisia burguesa, cria-se uma literatura gótica, identificada com um universo de satanismo, mistério, sobrenatural, loucura e degradação.

Amor de vassalagem – o amor cortês da Idade Média, em que o homem se submete aos caprichos da mulher. A mulher como elemento de adoração. Liberdade de expressão – desobediência às regras e aos modelos poéticos do Classicismo. A norma é a inspiração. Narrativa acelerada – predomínio da narração sobre a descrição e análise, em busca da fluência da narrativa, que satisfaz a ansiedade e a curiosidade do leitor. Linguagem nobre e declamatória – o discurso poético romântico é farto de adjetivações, com imagens poéticas e metáforas idealizantes, pleno de figuras de linguagem que traduzem o subjetivismo, o individualismo e a emoção. Final feliz ou desfecho trágico – provocando a emoção do leitor, o romance romântico é permeado de lances melodramáticos que terminam com um final feliz. Outra forma de emocionar o leitor é a opção pela dramaticidade que chega a provocar o desfecho trágico da obra. Esse fim trágico às vezes dribla os obstáculos às realizações amorosas. Um amor que não encontra na terra a possibilidade de sua realização se realiza na esfera espiritual. Em boa medida, é possível dizer que o Romantismo brasileiro repete as mesmas características do Romantismo europeu. Ao serem adaptadas à realidade do país, no entanto, possibilitam o surgimento de traços peculiares. Os três processos se fazem presentes nas diferentes fases do Romantismo brasileiro, tradicionalmente subdividido em três gerações. A primeira seria compreendida entre os anos de 1836, quando se publica o livro Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. O segundo momento teria início a partir da publicação da obra poética desse poeta, Álvares de Azevedo, em 1853. O ponto de transição para a terceira fase seria o ano de 1870, quando Castro Alves publica Espumas Flutuantes. Como se vê, a divisão comumente adotada tem a poesia como parâmetro. Estes momentos coincidem com a formação de três gerações. Cada geração assume uma perspectiva própria, embora todas sejam marcadas pelo caráter romântico. Contudo, os elementos que definem cada uma delas não são exclusivos. Interpenetrando-se de forma bastante acentuada. Normalmente atribuía-se a duração média de 15 anos para cada geração. A partir de meados do século XX, em função da rapidez da mudança de costumes e valores, reduziu-se este tempo para 10 anos.

QUESTÃO 01 (Cesgranrio-RJ)

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"A minha pátria é como se não fosse, é íntima Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo É minha pátria. Por isso, no exílio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha pátria. Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: Não sei. De fato, não sei [...] Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias, pátria minha Tão pobrinha! Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho Pátria, eu semente que nasci do vento Eu que não vou e não venho, eu que permaneço Em contato com a dor do tempo (...) Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa Que brinca em teus cabelos e te alisa Pátria minha, e perfuma o teu chão... Que vontade me vem de adormecer-me Entre teus doces montes, pátria minha Atento à fome em tuas entranhas E ao batuque em teu coração. Teu nome é pátria amada, é patriazinha Não rima com mãe gentil Vives em mim como uma filha, que és Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez."

Amá-la, sem ousar dizer que amamos, E, temendo roçar os seus vestidos, Arder por afogá-la em mil abraços: Isso é amor, e desse amor se morre! [...]" DIAS, Gonçalves. Poemas de Gonçalves Dias. São Paulo: Cultrix, [s.d.].

A característica que situa o fragmento dentro da poética romântica é a) Evasão no espaço, transportando o eu-lírico para um lugar ideal, junto à natureza. b) Forte subjetivismo, revelando uma visão pessimista da vida. c) Idealização do amor, transcendendo os limites da vida física. d) Realização de poemas lírico-amorosos, valorizando o idioma nacional. e) Idealização da mulher, conduzindo o eu-lírico à depressão. QUESTÃO 03 (UNIFESP/SP) Tema bastante recorrente nas literaturas românticas portuguesa e brasileira, o amor impossível aparece em personagens que encarnam o modelo romântico, cujas características são a) O sentimentalismo e a idealização do amor. b) Os jogos de interesses e a racionalidade. c) O subjetivismo e o nacionalismo. d) O egocentrismo e o amor subordinado a interesses sociais. e) A introspecção psicológica e a idealização da mulher. Gabarito

Vinicius de Moraes (trechos)

1. D

Apesar de modernista, Vinicius apresenta, no texto, características da estética romântica. Assinale a única característica romântica NÃO presente nesse texto: a) Preocupação com o eu-lírico, através da expressão de emoções pessoais. b) Valoração de elementos da natureza, como forma de exaltação da terra brasileira. c) Sentimentos de saudade e nostalgia, causados pela dor do exílio. d) Preocupação social, através da menção a problemas brasileiros. e) Abandono do ideal purista dos neoclássicos na prevalência do conteúdo sobre a forma.

2. C

3. A

A PRIMEIRA GERAÇÃO Nacionalismo, amor, natureza e religião A primeira fase do Romantismo brasileiro, compreendida entre os anos de 1836 e 1853, caracterizou-se pela busca de definição de uma identidade nacional. Reunidos em torno de Gonçalves de Magalhães, cuja obra Suspiros Poéticos e Saudades, de 1836, é tida como marco fundador do movimento no Brasil, um grupo de homens públicos e letrados articulou a formação de um clima de opinião favorável à autonomia cultural do país. O processo de emancipação desencadeado daí em diante deve ser entendido, no plano cultural, como o equivalente da independência política, conquistada em 1822.

QUESTÃO 02 (UFRJ) O sofrimento amoroso é frequente nas obras dos poetas românticos, como se pode observar abaixo Se Se Morre de Amor! "[...] Sentir, sem que se veja, a quem se adora, Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos, Segui-la, sem poder fitar seus olhos,

CARACTERÍSTICAS Nacionalismo, ufanismo

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Exaltação à natureza e à pátria O Índio como grande herói nacional Sentimentalismo Religiosidade

português Alexandre Herculano e por Dom Pedro II, que lhe concedeu a Ordem Rosa e cargos públicos. Filho de um comerciante português e de uma mulata que viviam em concubinato, Antônio de Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão. Quando o menino tinha seis anos, o pai casou-se com uma moça branca e proibiu o filho de visitar a mãe, que se reencontraria com o filho apenas quinze anos depois. Antônio cresceu trabalhando como caixeiro na loja do pai e teve uma boa educação, sendo enviado com quatorze anos para Portugal. A morte do pai, no mesmo ano, trouxe o rapaz de volta ao Maranhão, porém a madrasta cumpriu a vontade do marido quanto ao filho e mais uma vez o futuro poeta foi mandado para Coimbra. No início de 1845, retornou à sua província natal, já formado em Direito. Era um rapaz baixinho, musculoso e de olhar inteligente. Sua origem mestiça não era evidente à primeira vista. A sociedade de São Luís o recebeu bem e ele conheceu então aquela que - algum tempo depois - seria o grande amor de sua vida, a jovem Ana Amélia. Antes da eclosão desse amor extremado, viajou para o Rio de Janeiro, onde se radicaria. Virou professor de Latim no Colégio Pedro II e lançou, com notável repercussão, os Primeiros cantos e os Segundos cantos. De imediato, obteve a proteção imperial, ocupando diversos cargos de importância nas áreas de pesquisa escolar e de busca de documentos históricos. Em visita ao Maranhão reencontrou Ana Amélia e a pediu em casamento. A família da moça recusou o poeta, alegando a sua origem bastarda e mulata. Exasperado, casou-se com Olímpia Coriolana, provavelmente a primeira mulher que encontrou depois da recusa e com a qual viveu um casamento infeliz. Viajou muito pelas províncias do Norte e pela Europa, sempre a serviço. Afetado pela tuberculose, tentou a cura na França. Desenganado pelos médicos, retornou num cargueiro que naufragaria, já nas costas do Maranhão. A única vítima do naufrágio foi o poeta, que contava então quarenta e um anos de idade. Obras: Primeiros cantos (1846); Segundos cantos (1848); Sextilhas de frei Antão (1848); Últimos cantos (1851); Os timbiras (1857).

Principais poetas Gonçalves de Magalhães Gonçalves Dias GONÇALVES DE MAGALHÃES A Gonçalves de Magalhães coube a precedência cronológica na elaboração de versos românticos. Domingos José Gonçalves de Magalhães (Rio de Janeiro RJ 1811 - Roma Itália 1882). Formou-se médico em 1832, no Rio de Janeiro, mesmo ano em que publicou Poesias. Ainda em 1832 estudou Filosofia com Monte Alverne, no Seminário Episcopal de São José, Rio de Janeiro RJ. No ano seguinte viajou para a Europa, onde fez o curso de Filosofia de Jouffroy, em Paris, França. Ingressou, em 1834, como sócio correspondente do Instituto Histórico de França. Em 1936 fundou, em Paris, Niterói - Revista Brasiliense, com TorresHomem e Porto Alegre, e publicou Suspiros Poéticos e Saudades, marco inicial do Romantismo no Brasil. Nas décadas seguintes publicou ensaios filosóficos, históricos e literários e dedicou-se ao teatro, traduzindo e produzindo peças. De volta ao Brasil, foi professor de Filosofia no Colégio Pedro II, entre 1838 e 1841, no Rio de Janeiro RJ. Em 1838 tornou-se membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Fundou, em 1843, a Revista Minerva Brasiliense. Ligado a D. Pedro II, ocupou vários cargos políticos, entre os quais o de deputado geral pelo Rio Grande do Sul, em 1846. Nos anos seguintes foi cônsul na Itália, ministro-residente na Áustria e enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Brasil nos Estados Unidos e na Argentina. Autor de A Confederação dos Tamoios, poema épico editado por D. Pedro II. Obras: Suspiros poéticos e saudades (1836); A confederação dos tamoios (1857)

Gonçalves Dias consolidou o Romantismo no Brasil com uma produção poética de boa qualidade. Entre os autores do período é o que melhor consegue equilibrar os temas sentimentais, patrióticos e saudosistas com uma linguagem harmoniosa e de relativa simplicidade, fugindo tanto da ênfase declamatória como da vulgaridade. Pode-se dizer que o seu estilo romântico é temperado por uma certa formação clássica, o que evita os excessos verbais tão comuns aos poetas que lhe foram contemporâneos. No prefácio do livro de estreia, Primeiros cantos, ele define a liberdade métrica e a variedade temática que dominam a sua lírica:

Suspiros poéticos e saudades é a materialização lírica de algumas ideias do autor sobre o Romantismo, encarado como possibilidade de afirmação de uma literatura nacional, na medida em que destruía os artifícios neoclássicos e propunha a valorização da natureza, do índio e de uma religiosidade panteísta.

GONÇALVES DIAS (1823-1864) Antônio Gonçalves Dias, primeiro poeta de real valor da primeira geração do romantismo. Professor, jornalista, teatrólogo e poeta. Admirado pelo escritor

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Muitas delas (as poesias) não têm uniformidade nas estrofes, porque menosprezam regras de mera convenção; adotei todos os ritmos de metrificação portuguesa, e usei deles como me pareceram melhor com o que eu pretendia exprimir.

III. "Não têm unidade de pensamento entre si, porque foram compostas em épocas diversas – debaixo de céu diverso – e sob a influência de impressões momentâneas." (...) IV. "Com a vida isolada que vivo, gosto de afastar os olhos de sobre a nossa arena política para ler em minha alma, reduzindo à linguagem harmoniosa e cadente o pensamento que me vem de improviso, e as ideias que em mim desperta a vista de uma paisagem ou do oceano – o aspecto enfim da natureza. Casar assim o pensamento com o sentimento – o coração com o entendimento – a ideia com a paixão – colorir tudo isto com a imaginação, fundir tudo isto com a vida e com a natureza, purificar tudo com o sentimento da religião e da divindade, eis a Poesia – a Poesia grande e santa – a Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem a poder traduzir."

Não têm unidade de pensamento entre si, porque foram compostas em épocas diversas - debaixo de céu diverso - e sob influência de impressões momentâneas. Sua obra se articula em torno de três assuntos principais: o índio a natureza o amor impossível Trecho da obra Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

Gonçalves Dias, em seu Prólogo aos primeiros cantos, expõe sua concepção de Poesia, que reflete as características da estética romântica.

Assinale o que contraria as ideias contidas nos três primeiros parágrafos, em relação a Gonçalves Dias. a) A poesia reflete os mais variados estados de espírito do poeta, sendo fruto da emoção momentânea. b) As suas poesias não apresentam apego à rigidez métrica, apresentando ritmos variados. c) Apesar de terem sido escritas em épocas diversas, constata-se a unidade de pensamento em suas poesias. d) Por serem fruto de criações sob influências locais distintas, suas poesias apresentam-se diferenciadas. e) A força poética de seus versos realiza-se na perfeita harmonia entre forma e conteúdo.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

QUESTÃO 02 (UEL/PR) A questão refere-se ao poema a seguir. Leito de folhas verdes “Por que tardas, Jatir, que tanto a custo À voz do meu amor moves teus passos? Da noite a viração, movendo as folhas Já nos cimos do bosque rumoreja. Eu sob a copa da mangueira altiva Nosso leito gentil cobri zelosa Com mimoso Tapiz de folhas brandas, Onde o frouxo luar brinca entre flores. Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco, Já solta o bogari mais doce aroma! Como prece de amor, como estas preces, No silêncio da noite o bosque exala. Brilha a lua no céu, brilham estrelas, Correm perfumes no correr da brisa, A cujo influxo mágico respira-se Um quebranto de amor, melhor que a vida! A flor que desabrocha ao romper d'alva Um só giro do sol, não mais, vegeta: Eu sou aquela flor que espera ainda Doce raio do sol que me dê vida. Sejam vales ou montes, lagos ou terra, Onde quer que tu vás, ou dia ou noite, Vai seguindo após ti meu pensamento;

Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.

QUESTÃO 01 (Cesgranrio-RJ) I. "Dei o nome de PRIMEIROS CANTOS às poesias que agora publico, porque espero que não serão as últimas." II. "Muitas delas não têm uniformidade nas estrofes, porque menosprezo regras de mera convenção; adotei todos os ritmos da metrificação portuguesa, e usei deles como me pareceram quadrar melhor com o que eu pretendia exprimir."

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Outro amor nunca tive: és meu, sou tua! Meus olhos outros olhos nunca viram, Não sentiram meus lábios outros lábios, Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas A Arazoia na cinta me apertaram. Do tamarindo a flor jaz entreaberta, Já solta o bogari mais doce aroma; Também meu coração, como estas flores, Melhor perfume ao pé da noite exala! Não me escutas, Jatir! Nem tardo acodes À voz do meu amor, que em vão te chama! Tupã! Lá rompe o sol! Do leito inútil A brisa da manhã sacuda as folhas!”

03 A quem Tupã tamanha dor, tal fado 04 Já nos confins da vida reservara, 05 Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias 06 Da sua noite escura as densas trevas 07 Palpando. — Alarma! Alarma! — O velho para. 08 O grito que escutou é voz do filho, 09 Voz de guerra que ouviu já tantas vezes 10 Noutra quadra melhor. Nos versos transcritos, a) A fala do pai renegando o filho antecede a descrição da figura do ancião, cuja fraqueza moral (caracterizada nos versos 03 e 04) é atribuída à súplica indigna do filho. b) A caracterização dos indígenas é feita não só pela voz que está narrando os fatos, como também pelo discurso direto das próprias personagens. c) O segmento Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias/Da sua noite escura as densas trevas/Palpando constitui uma metáfora da morte do ancião. d) Ocorrem duas distintas formas de se citarem palavras, mas as aspas denotam também que a fala é autoritária e agressiva. e) Tem-se um exemplo de poema lírico, no qual o eu que se expressa, falando sempre de si mesmo, comunica a intensa dor.

DIAS, Antônio G. Poesias completas. Rio de Janeiro: Saraiva, 1957. p. 505-506.

Sobre o poema anterior, considere as afirmativas a seguir. I. As marcas românticas do poema ficam evidentes na exaltação da atitude heroica do índio, sempre disposto a partir para as batalhas grandiosas, ainda que tenha que ficar longe da amada. II. Apresenta traços em comum com as cantigas de amigo trovadorescas, a saber: o sujeito lírico é feminino e canta a ausência do amado, que está distante. III. Em todo o poema a transformação da natureza revela a passagem das horas, marcando com isso a angústia do sujeito lírico pela espera de seu amado, a exemplo do que ocorre com os versos “Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco” e “Do tamarindo a flor jaz entreaberta”. IV. É possível observar, no poema, a ocorrência de momentos marcados pela ilusão da chegada do amado, como em “Eu sob a copa da mangueira altiva/Nosso leito gentil cobri zelosa”; e, por fim, um momento de clara desilusão: “Tupã! Lá rompe o sol! Do leito inútil/A brisa da manhã sacuda as folhas!” Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e IV.

QUESTÃO 04 (Mackenzie/SP) Assinale o comentário que está corretamente associado a Gonçalves Dias. a) Com assunto quase contemporâneo à publicação — luta da tropa aliada, espanhola e portuguesa, contra os índios aldeados nas Missões jesuíticas do atual Rio Grande do Sul — o poema Uraguai o distingue do academicismo de contemporâneos como Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. b) Cultivando, como os da sua geração, o pessimismo — e por isso atraído pela morte, o “humor negro”, a perversidade —, ao tratar do “homem selvagem”, o glorifica para, por oposição, recusar valores medievais. c) Envolvido intensamente com as injustiças sociais, é o símbolo da literatura participante; o poeta-orador faz sua poesia aproximar-se da oratória, meio enfático de lutar por igualdade social, como se vê no tratamento do tema do índio escravizado. d) Herdeiro de preocupações neoclássicas, repudiou exageros na expressão; no tratamento da temática, inventou recursos, como, em famoso poema indianista, romper a expectativa de valentia inquebrantável do herói e usar sua fragilidade para mais enaltecer sua bravura. e) Sua defesa do nativo contra os colonos que o escravizavam era realizada por retórica complexa e sutil, mais conceptista do que cultista, em busca de desenvolver e provar qualquer das assertivas feitas em sua tribuna.

QUESTÃO 03 (Mackenzie/SP) No poema I-Juca-Pirama, um velho timbira conta a história de um índio tupi, prisioneiro de sua tribo, que, na iminência de ser sacrificado, pede clemência pelo fato de seu pai, cego, o estar aguardando na floresta. Assim, consegue a liberdade. Ao saber que seu filho chorara diante da morte, o pai o amaldiçoa e volta com ele à tribo inimiga, onde, repentinamente, é ouvido o grito de guerra do jovem que se põe a lutar contra todos. Demonstrada sua bravura, é reconhecido como guerreiro ilustre e acolhido novamente pelo pai, que chora lágrimas “que não desonram”. Leia alguns versos desse poema de Gonçalves Dias. 01 “Tu, cobarde, meu filho não és.” 02 Isto dizendo, o miserando velho

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“Vou voltar ainda vou voltar para meu lugar E é ainda lá que eu hei de ouvir cantar uma sabiá... Vou deitar á sombra de uma palmeira que já não há Colher a flor que já não dá...”

QUESTÃO 05 (UFRS) Sobre a poesia de Gonçalves Dias é correto afirmar que a) Cantou a natureza brasileira como cenário das correrias e aventuras do indígena bravo e leal. b) Denunciou a iniquidade da escravidão em poemas altissonantes e repletos de metáforas aladas. c) Elogiou os esforços do colonizador português em suas campanhas militares. d) Cantou a bondade da mãe e da irmã, esteios femininos do núcleo familiar patriarcal. e) Elogiou a dissipação e os excessos do vinho em orgias noturnas marcadas pela devassidão e crueldade.

Considerando as semelhanças e diferenças entre os dois poemas, assinale a alternativa incorreta. a) O primeiro poema, representando o Romantismo, apresenta uma visão otimista da pujança da natureza brasileira, enquanto o segundo, representando o Modernismo, atualiza criticamente o dito e expressa a consciência pessimista das carências e da destruição da natureza na terra natal. b) Gonçalves Dias descreve a sua terra com formas verbais no tempo presente; Chico Buarque o faz numa tensão entre o futuro e o presente, que se mostra negativo. c) Em ambos os poemas, o advérbio lá refere-se a um lugar de que estão distantes as vozes eu poético. d) A musicalidade dos versos, a rima, a métrica o sentimento de perda que compõem a poesia saudosista do Romantismo são retomados nos versos de Chico Buarque. e) Assim como o texto atual, os versos do poeta maranhense fazem apologia da infância, dos amores vividos e das belezas naturais de seu país, preservadas pela ação dos nativos.

QUESTÃO 07 (Mackenzie/SP) “Eu amo a noite Taciturna e queda! Então parece que da vida as fontes Mais fáceis correm, mais sonoras soam, Mais fundas se abrem; Então parece que mais pura a brisa Corre, — que então mais funda e leve a fonte Mana, — e que os sons então mais doce e triste Da música se espargem.” Gonçalves Dias

Assinale a alternativa incorreta. a) O ritmo regular dos versos decassílabos ajuda a construir a ideia da serena grandiosidade da noite. b) O quarto e o oitavo versos encerram cada sequência gloriosa que a noite abarca: aquele, os dons das fontes; este, a ação da brisa, da fonte e da música. c) A descrição das ações das fontes de vida, na primeira estrofe, faz-se com o auxílio sintático de um polissíndeto. d) doce e triste, no sétimo verso, podem ser lidos como docemente e tristemente, devido ao fato de permanecerem no singular. e) A repetição de então é fator de coesão textual, recuperando sempre o termo noite.

Gabarito 1. C 6. E

2. E 7. E

3. B

4. D

5. A

A SEGUNDA GERAÇÃO Individualista, ultrarromântica ou geração do maldo-século A publicação do livro Poesias, de Álvares de Azevedo, em 1853, é considerada por parte da crítica como marco inicial da segunda geração do Romantismo no Brasil. Essa geração, cujos maiores expoentes são Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire, tem a marca do ultrarromantismo. A angústia, o sofrimento, a dor existencial, o amor que oscila entre a sensualidade e a idealização são alguns dos temas de grande carga subjetiva que tomam o lugar do índio, da natureza e da pátria, dominantes na geração anterior. Essa exacerbação da sentimentalidade e das fantasias da imaginação mórbida exige uma versificação mais livre, menos apegada a esquemas formais preestabelecidos, e define as obras poéticas de maior impacto do período, como Um Cadáver de Poeta, de Álvares de Azevedo. Inspirados pelo inglês Byron, pelo italiano Giacomo Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e Alfred de Musset, os poetas da segunda geração escre-

QUESTÃO 07 (UFPE) “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá” Do poema Canção do Exílio, do romântico Gonçalves Dias, resultou uma série de paráfrases e paródias de poemas que cantam as saudades da terra. Uma delas foi a de Chico Buarque, da qual se apresenta um fragmento a seguir: Sabiá

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vem poemas que sugerem uma entrega total aos caprichos da sensibilidade e da fantasia, abordando temas que vão do vulgar ao sublime, do poético ao sarcástico e ao prosaico. A morte precoce ajudou a compor a mística em torno desses poetas de inspiração byroniana, que não raro fazem apologia da misantropia e do narcisismo, cultivam paixões incestuosas, macabras, demoníacas e mórbidas.

Olinda, onde o clima seria mais propício à tuberculose mas uma queda de cavalo afetou-lhe a região ilíaca. Os médicos resolveram operá-lo, obviamente sem anestesia. Ele suportou as dores, porém tudo foi inútil: a tuberculose havia destruído as imunidades de seu organismo. Poucos dias depois morreu. Era abril de 1852 e faltavam cinco meses para que completasse vinte e um anos de idade. Nenhum de seus livros tinha sido publicado. E a "glória que pressinto em meu futuro", como ele diz em um de seus poemas, viria após o falecimento.

ÁLVARES DE AZEVEDO (1831-1852)

Obras: Lira dos vinte anos (poemas - 1853), Noite na taverna (contos - 1855), O conde Lopo (poema 1886), Macário (poema dramático - 1855).

Manuel Antônio Álvares Azevedo, maior representante do ultrarromantismo, de alma sensível e mórbida, morreu precocemente e deixou importante obra. Todos seus livros foram publicados após sua morte. Considerado o "Byron brasileiro", não criou só poemas sentimentais, mas também uma poesia irônica, onde criticava o exagerado sentimentalismo de sua geração.

A obra de Álvares de Azevedo, fortemente autobiográfica, traz a marca da adolescência, mas de uma adolescência tão dilacerada e conflituosa que acaba por representar a experiência mais pungente do Romantismo brasileiro, tanto do ponto de vista pessoal quanto do ponto de vista poético. Incansável leitor, surpreendentemente culto, o jovem paulista viveu a contradição entre o saber livresco e os seus limites existenciais. Sua alternativa é o fingimento: "Finge um formidável conhecimento da vida", diz dele Mário de Andrade. Em muitos poemas expressa essa "pose de cinismo" que nasce, simultaneamente, da imitação dos ultrarromânticos europeus e da fantasia delirante. Por sorte, no seu universo lírico, os temas se ampliam, superando o artificialismo byroniano, o que lhe assegura um lugar privilegiado na história literária do período.

Nasceu na cidade de São Paulo e era descendente de duas ilustres famílias. O pai ocupara importantes cargos públicos (juiz de direito; chefe de polícia, deputado geral), tanto na capital paulista quanto no Rio de Janeiro, para onde se transferira com a família, passando a residir em Niterói. Toda a formação básica e secundária de Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi feita na capital do Império. Em 1848, ele voltou a São Paulo para cursar a Faculdade de Direito, participando ativamente da vida acadêmica e literária de seu tempo. Revelou-se um aluno brilhante e um colega estimado, mas o caráter provinciano da Paulicéia, a mediocridade de sua vida social e a incapacidade do poeta de estabelecer um relacionamento amoroso concreto o tornaram bastante infeliz. Sentia saudades de casa, especialmente da mãe e da irmã, e a exemplo de seus companheiros de curso consumia-se na leitura dos autores malditos do Romantismo europeu. Este desnível entre as vidas intensas dos europeus e a pobreza de experiências dos universitários de São Paulo certamente o atormentava. Ele, porém, não se tornou um alienado das coisas locais. Numa sociedade acadêmica, que reunia os colegas, proferiu duro discurso contra a educação pública no Brasil, dizendo que ela era "um escárneo", em particular "a instrução primária para as classes baixas". Nas férias longas, entre o ano letivo de 1849 e 1850, os familiares repararam no caráter acabrunhado e melancólico do "Maneco". A leitura desenfreada dos ultrarromânticos, a solidão e o desejo insatisfeito pareciam deprimi-lo, aproximando-o de inclinações mórbidas. No início de 1852, a tuberculose se manifestou. Como disse um de seus biógrafos: "O infeliz byroniano que durante anos declamara versos macabros por mero esnobismo via com horror chegar a sua morte." Neste momento dramático, escreveu alguns de seus poemas mais desesperados. Em seguida, após curta passagem pelo campo, na fazenda de um tio, pareceu se recuperar, chegando a pedir transferência de Faculdade - de São Paulo para

Quatro são os seus temas preferidos: o amor

a morte o tédio o humor prosaico

Trecho da obra Noite na Taverna MACÁRIO Onde me levas? SATAN A uma orgia. Vais ler uma página da vida, cheia de sangue e de vinho-que importa? MACÁRIO Eu vejo-os. É uma sala fumacenta. A roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-

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se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras vermelhas Que noite!

infância não significa o paraíso, sucumbiu à doçura dessas lembranças. À parte isso, o poeta atrai o leitor com o ritmo fácil, a singeleza do pensamento, a ausência de abstrações, o caráter recitativo e o tratamento sentimental que empresta ao tema, garantindo a eternidade de pelo menos um poema, Meus oito anos:

CASIMIRO DE ABREU (1839-1860) Casimiro José Marques de Abreu, considerado o poeta da infância. Poeta e dramaturgo, sua poesia era muito popular, porém pouco inovadora. Em seus poemas, mostra lamentos exacerbados e dramas adolescentes.

Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!

Filho do negociante José Joaquim Marques de Abreu e de Luísa Joaquina das Neves, aos 9 anos ingressa no Colégio Freese, em Nova Friburgo. Seu pai direciona a educação do jovem Casimiro para o comércio, mas ainda muito precocemente já revela seus dons literários e compõe seu primeiro poema: Ave Maria. Sua família muda-se para o Rio de Janeiro em 1852 e lá, Casimiro encontra o ambiente ideal para desenvolver seu talento para a poesia. Boêmio, passa a criar mais intensamente e torna-se grande admirador do poeta Gonçalves Dias. Apesar de seu pai continuar o influenciando para que se torne comerciante, desiste e no ano seguinte, 1853, parte para Portugal. Lá vive grande paixão e publica vários poemas em jornais locais. Vive 4 anos em Portugal, de 1853 à 1857. Seu pai, enfermo e cansado pede sua volta e Casimiro de Abreu então retorna para o Brasil, aos 20 anos, e tenta assumir os negócios do pai. Não se adapta ao trabalho no comércio e volta a vida boêmia, passa a frequentar o meio artístico e salões. Seus poemas tornam-se famosos tanto em Portugal quanto no Brasil e em 1859, consegue publicar Primaveras, com auxílio financeiro do pai, e o livro esgota-se rapidamente, fazendo Casimiro muito popular ainda jovem. Seu pai, muito doente morre no início de 1860. Casimiro de Abreu, que pouco cuida de sua saúde, também sente a doença piorar e, após tentar tratamento em Nova Friburgo, regressa para sua terra natal, Indaiaçu, e morre em 18 de outubro de 1860, vítima da tuberculose.

Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! Como são belos os dias Do despontar da existência! - Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é - lago sereno, O céu - um manto azulado, O mundo - um sonho dourado, A vida - um hino d'amor! Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d'estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã. Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!

Obras principais: As Primaveras (1859), Teatro Camões e o Jaú Vivendo alguns anos em Portugal, onde elaborou boa parte de Primaveras, Casimiro de Abreu desenvolveu o sentimento de exílio, que tanto perseguia os românticos. Inspirado em Gonçalves Dias, escreveu uma série de poemas impregnados de nostalgia da terra natal, denominados Canções do exílio. Neles, contudo, não chega a alcançar o nível de seu modelo. No entanto, não é apenas a saudade do Brasil e a correspondente sensação de estar exilado que anima a sua lírica. O que o consagrou foi a nostalgia (tipicamente romântica) daquelas realidades pessoais que ficam para trás: a mãe, a irmã, o lar, a infância. Tornou-se, por excelência, o poeta da "aurora da vida", do tempo perdido, das emoções da meninice. Mesmo sabendo que a

Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, De camisa aberto ao peito, - Pés descalços, braços nus Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis! Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar;

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LITERATURA

Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo E despertava a cantar!

No seu livro de estreia, Noturnas, é possível identificar-se o lirismo byroniano, à moda de Álvares de Azevedo, ou o lirismo meigo, à moda de Casimiro de Abreu. Até o tema do índio, à la Gonçalves Dias, - que já caíra em desuso - é retomado em Anchieta ou o Evangelho nas selvas. Chega, inclusive, a antecipar o condoreirismo, apresentando uma visão abolicionista em poemas como Mauro, o escravo, de 1864. Na maior parte de seus escritos, porém, falta originalidade.

Oh! Que saudades que tenho Da aurora de minha vida (...) FAGUNDES VARELA (1841-1875)

JUNQUEIRA FREIRE (1832-1855)

Luís Nicolau Fagundes Varela viveu a infância em viagens e junto à natureza. Boêmio, volúvel e fortemente atraído pela vida no campo, não consegue manter uma vida estável no convívio social e amoroso. É considerado o maior nome da poesia brasileira no período 1860-1870. É o poeta da infinidade de temas e de formas.

Luís José Junqueira Freire, monge beneditino, sacerdote e poeta, sem vocação para o sacerdócio, vive sua amargura e revolta no Mosteiro de São Bento de Salvador. Mas lá, porém, dedica-se intensamente a leituras e a poesia. Sua obra se enquadra na segunda fase do Romantismo, o ultrarromantismo.

Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu em Rio Claro, Rio de Janeiro. Era filho de fazendeiros e viveu um período no ambiente rural que mais tarde descreveria em seus versos. O pai era magistrado e político da província e a família teve de mudar-se muitas vezes. A infância de Fagundes Varela foi marcada por essas alterações contínuas de domicílio. Bastante jovem, matriculou-se na Faculdade de Direito, em São Paulo. Lá entrou na vida boêmia, "como um Byron exasperado", sempre envolvido em bebedeiras, pequenos escândalos e muitas dificuldades financeiras. Acabou se casando com uma artista de circo e com ele teve um filho, que logo morreria e que constituiria a inspiração de Cântico do Calvário. Fracassando o seu casamento, transferiu-se para o Recife a fim de continuar seus estudos jurídicos. A morte de sua mulher - que ficara no Sul - o trouxe de volta para a Faculdade de Direito de São Paulo. No entanto, nunca acabou o curso. Atormentado pelo álcool e por problemas emocionais, retornou para a fazenda dos pais. Era visto nas fazendas próximas, caminhando sem destino, quase sempre bêbado. Em 1869, casou-se outra vez e passou a morar em Niterói, sem que tivesse se curado do alcoolismo. Em 1875, foi vitimado por um derrame. O surpreendente é que nessas condições de vida (no dizer de um crítico, Varela teve a biografia mais "romântica" de todo o nosso Romantismo) ele ainda tenha deixado uma obra literária relativamente significativa.

Nasceu em Salvador. Seus estudos primários foram irregulares, por motivos de saúde, e aos dezenove anos (provavelmente desgostoso com a conduta desregrada do pai) ingressou no mosteiro de São Bento, na capital baiana. Um ano depois - e sem verdadeira vocação religiosa - tornou-se noviço, com o nome de Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire. Permaneceu no mosteiro até 1854, não escondendo o amargor e o ressentimento que a vida religiosa lhe despertava. Conseguindo deixar o seminário, voltou para casa materna. Problemas cardíacos que vinham desde a infância provocam a sua morte no ano seguinte. Não completara ainda vinte e três anos de idade. Obra: Inspirações do claustro (1855) A poesia de Junqueira Freire é totalmente autobiográfica e talvez seja isso o que mantenha o interesse pela mesma. Procurando num mosteiro a saída para os seus problemas pessoais (sobretudo uma espécie de atração pela morte que o angustiava), o poeta viu malograrem as suas ilusões. A vida clerical lhe pareceu terrível. A partir dessa experiência, ele escreveu Inspirações do claustro, cujo valor reside mais no aspecto documental de uma situação humana do que, propriamente, no seu significado literário. Os versos abaixo indicam o seu desengano: Mas eu não tive os dias de ventura Dos sonhos que sonhei: Mas eu não tive o plácido sossego Que tanto procurei.(...) Tive as paixões que a solidão formava Crescendo-me no peito Tive, em lugar de rosas que esperava, Espinhos no meu leito.

Obras principais: Noturnas (1861); Vozes da América (1864); Cantos e fantasias (1865); Cantos meridionais (1869); Anchieta ou o Evangelho nas selvas (1875). O crítico Alfredo Bosi afirma que Fagundes Varela é o epígono por excelência da poesia romântica. Isto é, um poeta que segue outros, sem alcançar uma temática e uma expressão próprias. Outro crítico, José Veríssimo, resumiu a obra do escritor numa frase implacável: "Deixa-nos a impressão do já lido."

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LITERATURA Álvares de Azevedo, "Luar de verão", Lira dos vinte anos.

QUESTÃO 01 (UEL-PR) Considere as seguintes afirmações sobre a poesia de Álvares de Azevedo: I. Seu lirismo deixou-se empolgar pelas lutas políticas travadas durante a consolidação da nossa Independência. II. Influenciado por Gonçalves Dias, seus versos espelham a força primitiva da natureza e a admiração pelo índio. III. A solidão extrema e a timidez amorosa marcaram os versos ora sentimentais, ora irônicos de sua lírica. Está correto apenas o que se afirma em a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III.

Nesse excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade aos temas de que fala, mas revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa atitude do eu-lírico manifesta a: a) ironia romântica. b) tendência romântica ao misticismo. c) melancolia romântica. d) aversão dos românticos à natureza. e) fuga romântica para o sonho. QUESTÃO 04 (ITA/SP) O texto a seguir é a estrofe inicial do poema Meus oito anos, de Casimiro de Abreu: Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!

QUESTÃO 02 (UEPG-PR) Se eu morresse amanhã, com certeza, é um dos poemas mais lembrados de Álvares de Azevedo.

CANDIDO, A.; CASTELLO, J.A. Presença da literatura brasileira, v. 2. São Paulo: Difel, 1979.

"Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã! Quanta glória pressinto em meu futuro! Que aurora de porvir e que manhã! Eu perdera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã! Que sol! Que céu azul! Que doce n'alva Acorda a natureza mais louçã! Não me batera tanto amor no peito Se eu morresse amanhã! Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã… A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã!"

Sobre o poema, não se pode afirmar que a) Se trata de um dos poemas mais populares da Literatura Brasileira. b) O poeta se vale do texto para manifestar a sua saudade da infância. c) A linguagem não é erudita, pois se aproxima da simplicidade da fala popular, o que é uma marca da poesia romântica. d) A memória da infância do poeta está intimamente ligada à natureza brasileira. e) O poeta é racional e contido ao mostrar a sua emoção no poema. QUESTÃO 05 (Ufam) Assinale a opção cujo enunciado pode ser aplicado aos poetas da segunda geração romântica brasileira: a) Comprometeram-se com a busca do que julgavam ser as verdadeiras qualidades da poesia: equilíbrio, contenção de sentimentos, linguagem culta, valorização da forma. b) Assumiram posturas engajadas, de combate às injustiças, à escravidão e à opressão do povo, temas esses que foram ignorados pelos poetas da primeira geração. c) Influenciados pela poesia de Lord Byron e Alfred de Musset, cultivaram um comportamento boêmio e uma visão negativista da existência. d) Sintonizados com a riqueza e as possibilidades temáticas proporcionadas pelo avanço da ciência, pela civilização das máquinas, romperam com os temas clássicos e universais. e) Cultivaram uma linguagem rebuscada, simbólica, de onde derivaram dois traços estilísticos importantes: o cultismo e o conceptismo.

Nele estão contemplados temas recorrentes em sua poesia e na estética romântica, como: 01) A exaltação de sentimentos pessoais, com desespero e pessimismo. 02) A análise crítica e científica dos fenômenos sociais brasileiros. 04) O desajustamento do indivíduo ao meio social, que conduz à dor, à aflição e à busca da solidão. 08) A valorização de elementos ligados à natureza, em poesia simples, pastoril, bucolicamente ingênua e inocente. 16) A morte como alívio para o "mal-do-século". QUESTÃO 03 (Fuvest-SP) "Teu romantismo bebo, ó minha lua, A teus raios divinos me abandono, Torno-me vaporoso... e só de ver-te Eu sinto os lábios meus se abrir de sono."

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correspondência de sentimento por parte da mulher, indiferente aos apelos de quem a ama. Estão corretas tão-somente as afirmativas a) I e II. b) I e IV. c) I, II e IV. d) II e III. e) III e IV.

QUESTÃO 06 (UFPEL-RS) Leia os poemas abaixo: "Pálida, à luz da lâmpada sombria, sobre o leito de flores reclinada, como a lua por noite embalsamada, entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar, na escuma fria Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d'alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia!

7. (UERJ/RJ) O tema da infância está muito presente na trajetória lírica brasileira desde o século XIX. O poeta Casimiro de Abreu a retratou pela ótica do Romantismo em um texto famoso e representativo:

Era a mais bela! O seio palpitando... Negros olhos as pálpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando...

Meus Oito Anos "Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!"

Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti – as noites eu velei chorando, Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!"

ABREU, Casimiro. Obras de Casimiro de Abreu. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1955.

Álvares de Azevedo

Os últimos românticos "Deixas, enquanto o luar branqueia o espaço, pela escada de seda, o parapeito... e vens, leve e ainda quente do teu leito, como um sono de tule, por meu braço...

No texto II, porém, apresenta-se outra imagem da infância. Transcreva os versos do poema de Affonso Romano de Sant'Anna que remontam à infância e explique a diferença na abordagem do tema pelos dois poetas.

Somos o par mais poético e perfeito dos últimos românticos... Teu passo, cantando no jardim, marca o compasso do coração que bate no meu peito.

Gabarito 1. C

2. C, E, C, E, C

3. A

4. E

5. C

6. D

7. “mal sabendo que era na casa de Tia Antonieta / que nasciam as violetas africanas.” Em Meus Oito Anos, a infância é uma fase da vida idealizada como uma felicidade irremediavelmente perdida; em Jardim de Infância, trata-se de um tempo em que temos contato com situações que podemos vir a conhecer melhor, ou de outro modo, mais tarde.

Depois partes e eu fico. E às escondidas, sobre a volúpia das alfombras, minha sombra confunde-se na tua... Ah! Pudessem fundir-se nossas vidas como se fundem nossas duas sombras, sob o mistério pálido da lua!" Guilherme de Almeida

A TERCEIRA GERAÇÃO

Analise as seguintes afirmativas quanto aos poemas. I. O amor é retratado de forma antagônica em ambos. Enquanto, no primeiro poema, esse sentimento é apresentado em sua forma idealizada – visto ser a mulher amada uma donzela –, no segundo, há a consumação desse desejo traduzida na descrição da dança dos amantes no jardim. II. Apresenta-se, apenas no primeiro, a evasão na morte, característica romântica que atribui a ela a solução definitiva de todos os desencontros ou problemas amorosos. III. Enquanto a forma verbal “pudessem” do texto de Almeida instaura o plano do desejo (irrealizado), expressões como “virgem do mar”, no poema de Azevedo, conotam um distanciamento maior entre a mulher amada e o eu lírico. IV. Em ambos, o campo semântico formado pelas palavras e expressões que remetem à noite e à morte prenunciam o inconformismo do eu lírico diante da não

Liberais, abolicionistas e republicanas As ideias liberais, abolicionistas e republicanas formam a base do pensamento da inteligência brasileira a partir da década de 1870, que concentra a produção da chamada Terceira Geração do Romantismo e marca o início da transição para o Realismo. Influenciados pela filosofia positivista e pelo evolucionismo professado por Auguste Comte, Charles Darwin. É possível identificar a fermentação de ideias em favor da abolição e da República, com o aparecimento dos primeiros panfletos e jornais que defendiam o fim da escravidão e o estabelecimento de um regime republicano, o que resulta na fundação do Partido Republicano, em 1870. Nessa mesma década, quase duzentos mil imigrantes chegam ao Brasil para trabalhar nas lavouras

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de café do Sudeste, num processo que anuncia a substituição do trabalho escravo pela mão-de-obra livre. No prefácio aos Vários Escritos, de Tobias Barreto, Silvio Romero sintetiza a efervescência do período: "O decênio que vai de 1868 a 1878 é o mais notável de quantos no século XIX constituíram nossa vida espiritual. De repente, por um movimento subterrâneo que vinha de longe, a instabilidade de todas as coisas se mostrou e o sofisma do império apareceu em toda a sua nudez. A guerra do Paraguai estava ainda a mostrar a todas as vistas os imensos defeitos de nossa organização militar e o acanhado de nossos progressos sociais, desvendando repugnantemente a chaga da escravidão".

esquecer a ruptura, o poeta começou a se dedicar à caça, ferindo-se casualmente no pé, que infeccionou. Levado para o Rio, foi submetido a uma amputação sem anestesia. Depois disso, debilitado, retornou à Bahia, onde viveu por pouco mais de um ano, até que sobreveio a tuberculose fatal. Morreu em fevereiro de 1871, antes de completar vinte e quatro anos. Obras: Espumas Flutuantes (1870); A cachoeira de Paulo Afonso (1876); Os escravos (1883); Gonzaga ou A Revolução de Minas (drama - 1875). Sua obra se abre em duas direções: Poesia social - causas liberais e humanitárias. Poesia lírica - natureza e amor sensual.

CASTRO ALVES (1847-1871) Trechos da obra O Navio Negreiro I 'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço Brinca o luar - dourada borboleta; E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta. 'Stamos em pleno mar... Do firmamento Os astros saltam como espumas de ouro... O mar em troca acende as ardentias, - Constelações do líquido tesouro... 'Stamos em pleno mar... Dois infinitos Ali se estreitam num abraço insano, Azuis, dourados, plácidos, sublimes... Qual dos dous é o céu? qual o oceano?... 'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas Ao quente arfar das virações marinhas, Veleiro brigue corre à flor dos mares, Como roçam na vaga as andorinhas... Donde vem? onde vai? Das naus errantes Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço? Neste saara os corcéis o pó levantam, Galopam, voam, mas não deixam traço. Bem feliz quem ali pode nest'hora Sentir deste painel a majestade! Embaixo - o mar em cima - o firmamento... E no mar e no céu - a imensidade! Oh! que doce harmonia traz-me a brisa! Que música suave ao longe soa! Meu Deus! como é sublime um canto ardente Pelas vagas sem fim boiando à toa! Homens do mar! ó rudes marinheiros, Tostados pelo sol dos quatro mundos! Crianças que a procela acalentara No berço destes pélagos profundos! Esperai! esperai! deixai que eu beba Esta selvagem, livre poesia Orquestra - é o mar, que ruge pela proa, E o vento, que nas cordas assobia...

Antônio Frederico de Castro Alves, considerado o poeta dos escravos. Poeta, dramaturgo e orador. Dedica-se a temas sociais, em especial a Abolição da Escravatura. Autor de obras importantes como Espumas Flutuantes e poemas como Navio Negreiro e Vozes d'África, foi o mais popular poeta do Romantismo e representante principal do Condoreirismo, que se caracterizava pela retórica e temas sociais. Descendente de uma família tradicional e poderosa do interior baiano - seu pai era médico, formado na Europa - Antônio de Castro Alves nasceu na Fazenda das Cabeceiras, perto da cidade de Curralinho. Quando tinha sete anos, a família mudou-se para Salvador. Lá estudou no Colégio Abílio, que revolucionara o ensino brasileiro pela eliminação dos castigos físicos aplicados aos alunos. Em 1858, morreu-lhe a mãe. Seu irmão mais velho, José Antônio, ficou muito abalado, suicidando-se alguns anos depois. Mas já no início de 1862, Castro Alves estava no Recife, fazendo os preparatórios para a Faculdade de Direito, ainda em companhia do irmão. Conheceu então a famosa atriz portuguesa Eugênia Câmara, de quem se tornou amante aos dezenove anos. Na Faculdade, parecia mais interessado em agitar ideias abolicionistas e republicanas e produzir versos (que obtinham grande repercussão entre os colegas) do que propriamente estudar leis. Após concluir um drama em prosa, Gonzaga, especialmente composto para Eugênia Câmara, seguiu com a atriz rumo a Salvador. Ali os dois receberam espetacular consagração com a estreia da peça no Teatro São João. Estando ele disposto a retornar ao curso de Direito, viajaram para São Paulo, antes parando dois meses no Rio de Janeiro, onde foram celebrados por José de Alencar e Machado de Assis. A temporada paulista durou apenas um ano. O nome de Castro Alves tornarase uma legenda: ótimo declamador de seus próprios poemas, recitou O navio negreiro e Vozes d'África sob a aclamação dos estudantes. Um colega escreveu que Castro Alves "era grande e belo como um deus de Homero". Sua vida afetiva, no entanto, entrou em crise pelas constantes traições à orgulhosa Eugênia Câmara. Ela terminou por abandoná-lo definitivamente. Para

SOUSÂNDRADE (1833-1902) Joaquim de Souza Andrade, maranhense e republicano convicto, formou-se em Letras na Sorbonne de

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as formas de opressão dos colonialistas e defendendo uma república utópica. Cosmopolita, o escritor deixou quadros curiosos como a descrição do Inferno de Wall Street, onde vê o capitalismo como doença. Observe-se, por outro lado, que os seus achados poéticos mais felizes coexistem com trechos ininteligíveis, retóricos e pretensiosos.

Paris e morou muitos anos nos EUA. Em sua volta ao Maranhão, foi professor de língua grega. Sua obra, esquecida por décadas, foi resgatada no início da década de 60 pelos poetas Augusto e Haroldo de Campos, quando nos foi revelado um dos mais instigantes e originais poetas do Romantismo. Joaquim de Sousa Andrade nasceu em Alcântara, Maranhão. De família abonada, viajou muito desde jovem, percorrendo inúmeros países europeus. Formouse em Letras pela Sorbonne. Depois faz o curso de Engenharia. Em 1870, conheceu várias repúblicas latinoamericanas. A partir de 1871, fixou residência em Nova Iorque, onde mandou imprimir suas Obras poéticas. Em 1884, lançou a versão definitiva de seu O Guesa, obra radical e renovadora. Morreu abandonado e com fama de louco.

QUESTÃO 01 (UFRJ) As estrofes apresentadas a seguir foram retiradas do poema Vozes d'África, de Castro Alves. Vozes d'África é um dos textos em que o poeta expressa sua indignação diante da escravidão.

Obras: Obras poéticas e O Guesa

QUESTÃO 01 Leia, com atenção, o fragmento selecionado para responder às questões propostas em a) e b):

Considerado em sua época um escritor extravagante, Sousândrade acaba reabilitado pela vanguarda paulistana (os concretistas) como um caso de "antecipação genial" da livre expressão modernista. Criador de uma linguagem dominada pela elipse, por orações reduzidas e fusões vocabulares, foge do discurso derramado dos românticos. Seu aspecto inovador inclui também o uso de latinismos (palavras latinas), helenismos (palavras gregas), arcaísmos (palavras fora de uso) e outras invenções pessoais: metáforas complexas e aliterações, onomatopeias e criações gráficas, etc. Trata-se de um poeta experimental, que surge como um corpo estranho dentro de sua época literária.

Vozes d'África "Deus! ó Deus, onde estás que não respondes!? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes, Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde, desde então, corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... (...) Mas eu, Senhor!... Eu triste, abandonada, Em meio dos desertos esgarrada, Perdida marcho em vão! Se choro... bebe o pranto a areia ardente! Talvez... pra que meu pranto, ó Deus clemente, Não descubras no chão!..."

O sol ao pôr-do-sol (triste soslaio!)...o arroio Em pedras estendido, em seus soluços Desmaia o céu d'estrelas arenoso E o lago anila seus lençóis d'espelho... Era a Ilha do Sol, sempre florida Ferrete-azul, o céu, brando o ar pureza E as vias-lácteas sendas odorantes Alvas, tão alvas!... Sonoros mares, a onda d'esmeralda Pelo areal rolando luminosa... As velas todas-chamas aclaram todo o ar.

a) Cite e explique a figura de linguagem através da qual o poeta estrutura todo o poema.

b) Identifique os elementos que representam, figuradamente, o abandono e o desespero advindos da escravidão. QUESTÃO 02 (Ufam) Só uma das afirmativas abaixo se refere de modo correto a Sousândrade. Assinale-a: a) Sua lírica apresenta a tentativa de reconstruir, dez anos depois, a atmosfera de anticonvencionalidade que os byronianos haviam instaurado durante o segundo momento da poesia romântica. b) Incompreendido por seus contemporâneos, esquecido pela crítica por mais de sessenta anos depois da morte, foi recuperada pelas vanguardas do século XX, principalmente pelos concretistas. c) A sensualidade direta, embora ligada a uma psicologia infantil, afastou sua obra das visões mórbidas dos

O GUESA Sua obra mais perturbadora é O Guesa, poema em treze cantos, dos quais quatro ficaram inacabados. A base do poema é a lenda indígena do Guesa Errante. O personagem Guesa é uma criança roubada aos pais pelo deus do Sol e educado no templo da divindade até os 10 anos, sendo sacrificado aos 15 anos, após longa peregrinação pela "estrada do Suna". Na condição de poeta maldito, Sousândrade identifica seu destino pessoal com o do jovem índio. Porém, no plano histórico-social, o poeta vê no drama de Guesa o mesmo dos povos aborígenes da América, condenando

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byronianos, em que pese o fato de a mulher amada continuar a ser a bela adormecida, a donzela pálida. d) Mais que um nome literário, permanece nas letras brasileiras como uma personagem paradigmática, carreador para a cultura nacional das ideias que levaram ao realismo naturalismo e, na política, à Primeira República. e) Tendo entrado aos dezenove anos para um convento beneditino, dali fugiu três anos depois, o que o levou a identificar o cárcere metafórico com o anseio de liberdade que perpassa sua poesia.

d) Emprego de paradoxos, com a intenção de satirizar a ambição de genialidade cultivada pelos ultrarromânticos. e) Contraste entre as fortes marcas retóricas do discurso e o sentimento da melancolia, que atenua o tom declamatório. QUESTÃO 05 (UFSM-RS) Leia os versos de Navio negreiro, de Castro Alves: "São os filhos do deserto Onde a terra esposa a luz. Onde voa em campo aberto A tribo dos homens nus... São os guerreiros ousados, Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão... Homens simples, fortes, bravos... Hoje míseros escravos Sem ar, sem luz, sem razão..."

QUESTÃO 03 (Fuvest-SP) "Oh! eu quero viver, beber perfumes Na flor silvestre, que embalsama os ares; Ver minh'alma adejar pelo infinito, Qual branca vela n'amplidão dos mares. No seio da mulher há tanto aroma... Nos seus beijos de fogo há tanta vida... – Árabe errante, vou dormir à tarde À sombra fresca da palmeira erguida."

Assinale a alternativa correta com relação ao sentido expresso pelos versos transcritos. a) Descreve a vida dos escravos nas fazendas. b) Saúda a liberdade decorrente da abolição da escravatura. c) Salienta a integração dos negros com os índios. d) Compara o negro livre, na África, com o negro escravizado no Brasil. e) Propõe que os homens se tornem escravos por quererem fugir do deserto.

Nessa estrofe de Mocidade e morte, de Castro Alves, reúnem-se, como numa espécie de súmula, vários dos temas e aspectos mais característicos de sua poesia. São eles: a) Identificação com a natureza, condoreirismo, erotismo franco, exotismo. b) Aspiração de amor e morte, titanismo, sensualismo, exotismo. c) Sensualismo, aspiração de absoluto, nacionalismo, orientalismo. d) Personificação da natureza, hipérboles, sensualismo velado, exotismo. e) Aspiração de amor e morte, condoreirismo, hipérboles, orientalismo.

QUESTÃO 06 (Fuvest-SP) Tomadas em conjunto, as obras de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves demonstram que, no Brasil, a poesia romântica: a) Pouco deveu às literaturas estrangeiras, consolidando de forma homogênea a inclinação sentimental e o anseio nacionalista dos escritores da época. b) Repercutiu, com efeitos locais, diferentes valores e tonalidades da literatura europeia: a dignidade do homem natural, a exacerbação das paixões e a crença em lutas libertárias. c) Constituiu um painel de estilos diversificados, cada um dos poetas criando livremente sua linguagem, mas preocupados todos com a afirmação dos ideais abolicionistas e republicanos. d) Refletiu as tendências ao intimismo e à morbidez de alguns poetas europeus, evitando ocupar-se com temas sociais e históricos, tidos como prosaicos. e) Cultuou sobretudo o satanismo, inspirado no poeta inglês Byron, e a memória nostálgica das civilizações da Antiguidade clássica, representadas por suas ruínas.

QUESTÃO 04 (PUC-Campinas-SP) "E fui... e fui... ergui-me no infinito, Lá onde o voo d'águia não se eleva... Abaixo – via a terra – abismo em treva! Acima – o firmamento – abismo em luz!" Os versos anteriores pertencem aos poemas "O voo do gênio", do livro Espumas flutuantes. Esses versos ilustram a seguinte característica da poética de Castro Alves: a) Ênfase emocional, apoiada nos recursos retóricos das antíteses, das hipérboles e do paralelismo rítmicosintático. b) Intimismo lírico, marcado pela hesitação das reticências e pelo temor do enfrentamento das adversidades. c) Sacrifício do tom pessoal em nome de ideais históricos, representados por símbolos épicos herdados do Classicismo.

Gabarito 1.

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a) Em “Deus! ó Deus, onde estás” ou em “Onde estás, Senhor Deus?” verifica-se o uso da apóstrofe, figura que torna enérgico o chamamento do interlocutor a que o eu lírico se dirige por meio do vocativo. b) O abandono pode ser lido em “Há dois mil anos te mandei meu grito” ou ainda em “Em meio dos desertos es-garrada”. Já o desespero está mais nítido nos últimos versos: “Perdida marcho em vão!/Se choro ... bebe o pranto a areia ardente!/Talvez... pra que meu pranto, ó Deus clemente,/Não descubras no chão! 2. B

3. A

4. A

5. D

Com o tempo, os ficcionistas passaram a utilizar uma série de truques narrativos, repetidos até a exaustão. Exemplo disso são os conflitos mais óbvios e recorrentes, vividos pelos protagonistas, e suas soluções quase sempre idênticas: a falta de dinheiro - o pobre casa com a rica e viceversa, movido apenas pelo amor; ou um deles recebe grande herança de parente desconhecido, etc. a ausência de identidade - aparecem amuletos, retratos, objetos ou sinais corporais que provam o que se deseja provar, geralmente a origem nobre ou burguesa de um plebeu. a inexistência de testemunhos - surgem personagens, muitas vezes vindos das sombras, que ouvem conversações secretas ou recebem confissões proibidas, e que então confirmam uma identidade perdida ou inculpam alguém por um crime cometido.

6. B

O ROMANCE ROMÂNTICO I - ORIGENS Os romances dos autores românticos europeus como Victor Hugo, Alexandre Dumas, Walter Scott e outros tornaram-se populares no Brasil através de sua publicação em jornais, depois de 1830, criando no público o gosto por um gênero ainda desconhecido entre nós. Tais romances receberam o nome de folhetins. Ao escrever um folhetim, o artista submetia-se às exigências do público leitor e dos diretores de jornais. O francês Eugène Sue chegou a ressuscitar um personagem porque os leitores não haviam se conformado com sua morte. Ou seja, o que determinava o desenvolvimento e o desfecho de uma narrativa era o gosto popular. Desta forma, ao criar um folhetim o escritor se sujeitava aos valores culturais e ideológicos do público, que desejava histórias melodramáticas e alienadas da realidade. Por razões econômicas, quase todos os ficcionistas do período passaram a produzir primeiro para a imprensa. Mesmo alguns dos maiores novelistas do século XIX, como Dostoievski e Machado de Assis, se viram compelidos a lançar suas obras em fascículos. Todavia, eles não aceitavam a concepção folhetinesca da narrativa, mantendo sua independência estética. Outros, mais interessados na venda e na popularidade, subordinavam seus textos à estrutura típica do folhetim, que é a seguinte:

Como regra geral, no último capítulo, após intensos tormentos, maldade e desolação, os obstáculos são removidos e o amor vence. Em vários romances, contudo, a ordem social é mais forte que a paixão e os amantes acabam destruídos pelas conveniências e pelos preconceitos. De qualquer maneira, o final de um folhetim tem sempre um caráter apoteótico e desmedido, seja na felicidade, seja na dor.

II - O SURGIMENTO NO BRASIL O sucesso do folhetim europeu, em jornais brasileiros, foi resultado da emergência de um novo público leitor, composto basicamente por estudantes e mulheres. Era um público urbano, mas não raro procedente do campo: em geral, filhos e esposas de senhores rurais que haviam se estabelecido na Corte, depois da Independência. As mensagens sentimentais libertadoras dos folhetins serviram como uma luva às necessidades daquela gente asfixiada pelas regras intolerantes de uma sociedade economicamente agrária e culturalmente arcaica. E isso estimulou o aparecimento de vulgares adaptações dos relatos românticos, feitas por escritores de segunda categoria. Teixeira e Sousa, em 1843, publicou O filho do pescador, tornando-se o pioneiro desse subgênero. No entanto, em 1844, veio à luz A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Pelo enredo melhor articulado, pelo registro do ambiente carioca e pela sutil harmonização entre amor juvenil e preceitos conservadores, esta narrativa ultrapassava a dimensão de simples cópia de folhetins europeus. Sob certos aspectos, estava nascendo o romance brasileiro.

Harmonia Felicidade Ordem social burguesa Desarmonia Conflito Desordem Crise da sociedade burguesa

III - OS ROMANCISTAS ROMÂNTICOS

Harmonia final Reestabelecimento da felicidade reordenação definitiva da sociedade burguesa, com o triunfo de seus valores

JOAQUIM MANUEL DE MACEDO (1820-1882)

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LITERATURA

Augusto, em ceroulas, com as fraldas à mostra, estirado em um canapé em tão bom uso, que ainda agora mesmo fez com que Leopoldo se lembrasse de Bocage. Oh! VV. SS. tomam café!... Ali o senhor descansa a xícara azul em um pires de porcelana... aquele tem uma chávena com belos lavores dourados, mas o pires é cor-derosa... aquele outro nem porcelana, nem lavores, nem cor azul ou de rosa, nem xícara... nem pires... aquilo é uma tigela num prato...

Joaquim Manuel de Macedo, médico que não chegou a exercer a profissão e autor do primeiro romance brasileiro: A Moreninha. Foi professor de geografia e história no tradicional Colégio Pedro II e amigo da família Imperial. Na política chegou várias vezes ao cargo de deputado pelo Partido Liberal. Nasceu em Itaboraí (RJ), filho de uma família de posses. Seduzido pela carreira literária, pelo magistério (foi preceptor dos filhos da princesa Isabel e professor de História no colégio Pedro II) e pela política (tornouse deputado pelo Partido Liberal em várias legislaturas), além de fazer constantes incursões pelo jornalismo. Foi o primeiro escritor brasileiro a conhecer grande popularidade, deixando uma obra bastante vasta de mais de quarenta títulos. Morreu no Rio de Janeiro. Obras principais: A moreninha (1844); O moço loiro (1845); Memórias do sobrinho de meu tio(1867); A luneta mágica (1869)

JOSÉ DE ALENCAR (1829-1877) José Martiniano de Alencar, o Pai do romance brasileiro. Poeta, romancista, dramaturgo, crítico, jornalista, político, ensaísta, orador parlamentar e consultor do Ministério da Justiça. A partir de um projeto de Descrição Global do Brasil, divide seus romances em quatro tipos: Urbanos, Regionalistas, Indianistas e Históricos.

A importância de Joaquim Manuel de Macedo resulta de uma percepção do próprio escritor: o público leitor nacional, centralizado na capital federal e devorador de folhetins europeus, estava disposto a aceitar um romance adaptado a cenários brasileiros, desde que a conservado o modelo de enredo das narrativas inglesas e francesas.

Filho de tradicional família da elite cearense, José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, no interior do Ceará. Seu pai, homem culto, liberal extremado, participou de várias revoluções, como a chefiada por Frei Caneca, em 1817, e a Confederação do Equador, em 1824, exercendo também cargos políticos importantes, como o de senador do Império. O menino viveu, portanto, em um ambiente familiar intelectualizado e favorável à formação cultural. Tinha nove anos quando se mudou com os pais para a Corte (Rio de Janeiro), onde fez seus estudos primários, seguindo depois para São Paulo com o objetivo de concluir o secundário e matricular-se em Direito, curso no qual se formou em 1851, com vinte e dois anos de idade. De volta à Corte, trabalhou como advogado e jornalista. Em 1856 teceu duras críticas ao poema Confederação dos tamoios, de Gonçalves de Magalhães, que, por seu turno, foi defendido pelo próprio Imperador, também sob pseudônimo. No mesmo ano, Alencar publicou seu romance de estreia, Cinco minutos. Em 1857, lançou no jornal O Diário do Rio de Janeiro, sob a forma de capítulos, o folhetim O guarani, que teve uma repercussão jamais conhecida por qualquer outro escritor até então no país. Com trinta e cinco anos, casou-se com a sobrinha do Almirante Cochrane, herói da Independência. O casal teve quatro filhos. Obras principais: Romances urbanos: Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d'ouro (1872); Senhora (1875); Encarnação (1877). Romances regionalistas ou sertanistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1872); O sertanejo (1875); Romances históricos: As minas de prata (1862); Alfarrábios (1873); A guerra dos mascates (1873) Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); Ubirajara (1874)

Trecho da obra A Moreninha 1 Aposta Imprudente Bravo! exclamou Filipe, entrando e despindo a casaca, que pendurou em um cabide velho. Bravo!... interessante cena! mas certo que desonrosa fora para casa de um estudante de Medicina e já no sexto ano, a não valer-lhe o adágio antigo: - o hábito não faz o monge. - Temos discurso!... atenção!... ordem!... gritaram a um tempo três vozes. - Coisa célebre! acrescentou Leopoldo. Filipe sempre se torna orador depois do jantar... - E dá-lhe para fazer epigramas, disse Fabrício. - Naturalmente, acudiu Leopoldo, que, por dono da casa, maior quinhão houvera no cumprimento do recémchegado; naturalmente. Bocage, quando tomava carraspana, descompunha os médicos. - C?est trop fort! bocejou Augusto, espreguiçando-se no canapé em que se achava deitado. - Como quiserem, continuou Filipe, pondo-se em hábitos menores; mas, por minha vida, que a carraspana de hoje ainda me concede apreciar devidamente aqui o meu amigo Fabrício, que talvez acaba de chegar de alguma visita diplomática, vestido com esmero e alinho, porém, tendo a cabeça encapuzada com a vermelha e velha carapuça do Leopoldo; este, ali escondido dentro do seu robe-de- chambre cor de burro quando foge, e sentado em uma cadeira tão desconjuntada que, para não cair com ela, põe em ação todas as leis de equilíbrio, que estudou em Pouillet; acolá, enfim, o meu romântico

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Estas categorias comprovam a amplitude geográfica, histórica e social do projeto literário de José de Alencar. Sua ambição era desmedida: cogitou fazer aqui o que Balzac fizera na França, ou seja, um painel gigantesco dos múltiplos aspectos da realidade nacional. Quis construir o romance brasileiro, a partir de um projeto que abrangesse a totalidade da nação, tanto na sua diversidade física-geográfica quanto em seus aspectos socioculturais; tanto em suas origens históricas gloriosas quanto nos mitos dos heróis fundadores da nacionalidade. Regiões, história, costumes e mitos: eis a sua fórmula.

verdadeiros cavaleiros medievais, perdidos em bravias florestas, com um destino épico a cumprir. Acima de tudo, os índios são os heróis da nascente nacionalidade pós-colonial. Através desses guerreiros audaciosos e sem mácula (Peri, Jaguarê, Poti) e dessa mulher disposta a qualquer sacrifício (Iracema), os leitores do século XIX podiam se orgulhar de suas supostas origens americanas e de sua ancestral nobreza. Tanto O guarani quanto Iracema podem ser designados como romances fundadores, ou seja, obras ficcionais que representam metaforicamente o início de um mundo e/ou de uma raça. No primeiro esta intenção é mais ou menos velada, embora a hipotética sobrevivência do casal Peri-Ceci, no final do romance, expresse (como mito) a fusão étnica que alicerçaria o novo país. Já em Iracema (anagrama de América) esta junção simbólica entre conquistadores e conquistados é explícita. Desta forma, Moacir, o filho da índia com o português Martim Soares expressa, simbolicamente, o início da raça cearense. No seu conjunto, os romances de temática indígena de José de Alencar apresentam méritos inegáveis. Iracema resiste à passagem do tempo pela espetacular força de seu estilo poético. Ubirajara - o único relato em que não ocorre o encontro do branco com o índio apresenta uma trama envolvente, repleta de aventuras e de observações curiosas sobre os costumes nativos. Mesmo O guarani - em que pese sua falsidade social e psicológica - tem um enredo trepidante que deixa o leitor quase sem fôlego.

A DIVISÃO DOS ROMANCES ROMANCES URBANOS O Rio de Janeiro - na metade do século XIX - era uma capital limitada e pouco cosmopolita e, portanto, insuficiente para um romancista seduzido pela ideia de grandeza. O autor cearense viu-se, pois, obrigado a inventar histórias complicadas, conversões mirabolantes, renúncias sublimes, amores violentos, etc., para sobrepô-los à pobreza humana e intelectual da sociedade brasileira de então. Alencar tenta retratar este conflito entre a vulgaridade nativa e o sublime universo romântico. Contudo, suas narrativas acabam não se definindo entre a estrutura do folhetim e a percepção pré-realista do universo urbano brasileiro. São tão contraditórias quanto à realidade que procuram refletir. Assim, em muitas de suas ficções, o aspecto folhetinesco supera completamente o registro da existência comum, do que resulta o aspecto quase inverossímil de personagens e acontecimentos. No entanto, duas narrativas permaneceram como modelares e ainda hoje merecem ser lidas, seja por sua relativa complexidade psicológica, seja pela novidade de incorporarem a questão econômica aos relacionamentos afetivos. Nestes relatos, Alencar - além de traçar alguns de seus melhores "perfis femininos" - relaciona o drama dos indivíduos com o organismo social. Em Lucíola a impossibilidade de união entre dois grupos sociais distintos, o popular e o senhorial. Em Senhora o casamento por interesse, um dos poucos instrumentos de ascensão na sociedade brasileira da época. ROMANCES INDIANISTAS Os romances de temática indianista são três: O guarani (que Alencar preferia classificar como romance histórico), Iracema e Ubirajara. A ação narrativa transcorre no passado remoto: O guarani e Iracema, no século XVII, e Ubirajara no período anterior ao descobrimento. A apresentação de heróis inteiriços e modelares. Se o romancista chegou de fato a estudar certas particularidades da cultura indígena, a exemplo da língua, dos valores religiosos e de alguns costumes, os personagens destas obras, em sua psicologia e em suas ações, são

ROMANCES HISTÓRICOS A exemplo dos romances indianistas, dos quais são muito próximos, os romances históricos apresentam como características: - A ação localizada no passado colonial. - Uma intenção simbólica, pois devem, no plano literário, representar poeticamente (isto é, miticamente), as nossas origens e a nossa formação como povo. Porém, em geral, o relato histórico romântico tende a sublinhar apenas um conjunto de peripécias escassamente verossímeis, deixando os fatos sociais e concretos do passado em segundo plano. Alencar não foge à regra - Assim, os episódios "históricos" que sustentam vagamente os romances alencarianos (a descoberta de minas, a guerra dos Mascates, etc.) não passam de pretexto para as mais frenéticas e improváveis aventuras. ROMANCES REGIONALISTAS (OU SERTANISTAS OU DE TEMÁTICA RURAL) Os chamados romances regionalistas ou sertanistas (na verdade, romances de temática rural) parecem, à primeira vista, nascer da nostalgia do autor em relação ao rústico mundo interiorano, onde passara a infância, conforme se pode observar nesta passagem de O sertanejo: Quando te tornarei a ver, sertão da minha terra, que atravessei há muitos anos, na aurora serena e feliz da minha infância? Quando tornarei a respirar tuas auras

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impregnadas de perfumes agrestes, nas quais o homem comunga a seiva dessa natureza possante?

Foi o primeiro ficcionista a perceber a vastidão e a diversidade do país, intuindo algumas especificidades regionais e abrindo um filão que continua presente na ficção contemporânea. Nos momentos mais felizes (Iracema, Senhora e Lucíola), alcançou a análise psicológica, quase à maneira realista, além de mostrar o peso da sociedade nas relações pessoais. Problematizou a questão da língua brasileira e ele próprio criou uma linguagem literária original, muitas vezes de grande densidade poética. Em muitos de seus romances demonstrou um esforço estético, uma "vontade de forma", uma capacidade de elaboração artística que não encontramos em nenhum outro prosador do período.

Contudo, são razões de ordem ideológica que predominam na elaboração destas narrativas. No prefácio de um romance urbano, Sonhos d'ouro, Alencar explica o que pretendia ao revelar o interior do País: Onde não se propaga com rapidez a luz da civilização que de repente cambia a cor local, encontra-se ainda em sua pureza original, sem mescla, esse viver singelo de nosso país, tradições, costumes e linguagem, com um sainete todo brasileiro. Desta afirmativa e da leitura dos quatro romances sertanistas (O sertanejo, O gaúcho, O tronco do ipê e Til) pode-se chegar a duas conclusões: a) A condição brasileira (isto é, o cerne da nação), na sua forma mais pura e singela, localiza-se no mundo rural. b) A extensão geográfica dos romances (do sertão ao sul do país, passando por fazendas fluminenses) indica que a ânsia de Alencar em abranger o núcleo básico do território nacional corresponde ao desejo das elites imperiais (das quais o autor é o principal intérprete) em integrar todas as regiões ao corpo de uma nação centralizada e unificada. Significativo sob este ângulo é o elogio, em O gaúcho, da pretensa dimensão monarquista e antiseparatista dos chefes da Revolução Farroupilha. Ora, como o autor está interessado em mostrar, acima de tudo, a unidade do país, os aspectos originais da vida regional reduzem-se a algumas descrições poéticas da natureza, a alguns costumes típicos e à capacidade heroica /aventureira dos protagonistas, os quais parecem representar, de maneira mais ou menos primitiva, à bravura e a generosidade do homem rural brasileiro. Ao se tornar o porta-voz artístico da unificação nacional, Alencar acaba tendendo a uma literatura que apenas celebra os encantos rurais, sem analisá-los, enquanto no plano do enredo a estrutura convencional de folhetim impõe-se completamente. Observe-se ainda que a linguagem mantém o padrão culto urbano, pouco valorizando as particularidades linguísticas de cada região enfocada.

Por todos estes motivos, José de Alencar pode ser considerado o fundador do romance brasileiro. BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884) Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, escritor sertanista, foi jornalista, contista e poeta. De espírito boêmio, ganhou fama por seus ditos humorísticos e por suas artimanhas com que ludibriava os amigos. Nasceu em Ouro Preto, onde passou a infância e os primórdios da adolescência, indo depois para São Paulo estudar Direito. Foi colega de Álvares de Azevedo e na faculdade tinha fama de boêmio e satírico, tendo inclusive produzido uma lírica (Cantos da solidão) identificada com o satanismo byroniano e com humorismo. Também escreveu poemas pornográficos que obtiveram muito sucesso na época Foi nomeado juiz no interior de Goiás, onde mostrou seu lado boêmio até ser exonerado da função. Passou rapidamente pelo Rio de Janeiro, voltou a Ouro Preto, casou-se e se tornou professor secundário. A publicação de A escrava Isaura, em 1875, garantiu-lhe prestígio nacional, a ponto do próprio Imperador visitá-lo na antiga capital mineira. Morreu aos cinquenta e nove anos. Obras principais O ermitão do Muquém (1864); O garimpeiro (1872); O seminarista (1872); A escrava Isaura (1875). Nenhum autor expressou tão amplamente a tendência sertanista como Bernardo Guimarães. Vivendo, alguns anos, no interior (oeste de Minas e sul de Goiás), conheceu-o bem, descrevendo-o com certa minúcia e com um estilo mais ou menos trivial, pontilhado por algumas falas pitorescas da região.

A IMPORTÂNCIA DE JOSÉ DE ALENCAR O autor cearense tem uma importância histórica extraordinária: Consolidou o romance brasileiro ao escrever movido por um sentimento de missão patriótica. Discutiu incessantemente a questão da autonomia de nossa literatura, procurando eliminar as influências portuguesas sobre a mesma. Preocupou-se em construir um painel, o mais abrangente possível, da realidade brasileira.

A exemplo dos demais ficcionistas de temática rural, suas narrativas variam entre um modesto realismo e o melodrama romântico mais inverossímil. Quando a primeira tendência domina, ele escreve um romance aceitável, O seminarista; quando o folhetim impera,

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seus relatos tornam-se risíveis, caso de O garimpeiro e A escrava Isaura.

rador, abandonou a política após a proclamação da República. Diabético, morreu na capital federal com cinquenta e seis anos incompletos.

Trecho da obra A Escrava Isaura Capítulo 1

Obras principais A retirada da Laguna (1871); Inocência (1872).

Era nos primeiros anos do reinado do Sr. D. Pedro II. No fértil e opulento município de Campos de Goitacases, à margem do Paraíba, a pouca distância da vila de Campos, havia uma linda e magnífica fazenda. Era um edifício de harmoniosas proporções, vasto e luxuoso, situado em aprazível vargedo ao sopé de elevadas colinas cobertas de mata em parte devastada pelo machado do lavrador. Longe em derredor a natureza ostentava-se ainda em toda a sua primitiva e selvática rudeza; mas por perto, em torno da deliciosa vivenda, a mão do homem tinha convertido a bronca selva, que cobria o solo, em jardins e pomares deleitosos, em gramais e pingues pastagens, sombreadas aqui e acolá por gameleiras gigantescas, perobas, cedros e copaíbas, que atestavam o vigor da antiga floresta. Quase não se via aí muro, cerca, nem valado; jardim, horta, pomar, pastagens, e plantios circunvizinhos eram divididos por viçosas e verdejantes sebes de bambus, piteiras, espinheiros e gravatás, que davam ao todo o aspecto do mais aprazível e delicioso vergel...

Visconde de Taunay é o mais interessante dos ficcionistas do sertanismo romântico, embora tenha publicado apenas um romance dentro da referida linhagem. Trecho da obra A Retirada da Laguna Episódio da Guerra do Paraguai CAPÍTULO I Formação de um corpo de exército destinado a atuar, pelo norte, sobre o alto Paraguai. Distâncias e dificuldades de organização. Para dar uma ideia, algum tanto exata, dos lugares onde, em 1867, ocorreram os acontecimentos cuja narrativa se vai ler, convém lembrar que, ao finalizar de 1864, havendo o Paraguai atacado e invadido, simultaneamente, o Império do Brasil e a República Argentina, achava-se, decorridos dois anos, após tal investida, reduzido a defender o próprio território, invadido do lado do sul, pelas forças conjuntas das duas potências aliadas, a quem coadjuvava pequeno contingente de tropas da República do Uruguai. Ao sul oferecia o caudaloso Paraguai mais vantagens à expugnação da fortaleza de Humaitá, que, pela posição especial, se convertera na chave estratégica do país, assumindo, nesta porfia encarniçada, a importância de Sebastopol, na Campanha da Criméia. Ao norte, do lado de Mato Grosso, eram as operações infinitamente mais difíceis, não só porque ocorriam a milhares de quilômetros do litoral atlântico, onde se concentram todos os recursos do Brasil, como ainda por causa das inundações do rio Paraguai, que cortando na parte superior do curso terras baixas e planas, transborda anualmente, a submergir então regiões extensíssimas. Consistia o plano de ataque mais natural em subir as águas do Paraguai, do lado da Argentina, até o coração da república inimiga e, do Brasil, descê-las a partir de Cuiabá, a capital mato-grossense que os paraguaios não haviam ocupado. Teria impedido à guerra arrastar-se durante cinco anos consecutivos esta conjugação de esforços simultâneos. Mas era-lhe a realização extraordinariamente difícil, devido às enormes distâncias a transpor. Basta lançar os olhos sobre um mapa da América do Sul e examinar o interior do Brasil, em grande parte desabitado, para que qualquer observador de tal se convença logo.

VISCONDE DE TAUNAY (1843-1899) Alfredo d' Escragnolle Taunay, nasceu de uma culta e refinada família francesa, de forte tradição artística. Engenheiro, militar e depois político, teve na literatura obra variada, porém irregular. Inocência, seu mais conhecido e publicado romance, traz aspectos de simplicidade e bom gosto, fato que o fizeram muito popular desde seu lançamento, em 1872. Alfredo d'Escragnolle-Taunay nasceu no Rio de Janeiro, no seio de uma família aristocrática e dada às artes. Seu avô paterno, Nicolau Antônio, viera da França para fundar a Academia de Belas Artes do Rio de janeiro. Seu pai, o também pintor Félix Taunay, tornarase preceptor de d. Pedro II. Induzido pelos familiares a abraçar a carreira das armas, Alfredo cursou engenharia na Escola Militar e como segundo tenente participou da expedição que tentou repelir os paraguaios que dominavam o sul da província de Mato Grosso. A derrota militar que se seguiu, ocasionada pela falta de víveres e pelo cólera, seria retratado de forma pungente em A retirada de Laguna, relato escrito em francês, já que o futuro visconde era bilíngue. Finda a Guerra do Paraguai tornou-se professor de geologia da Escola Militar. Em 1872, publicou Inocência, espécie de Romeu e Julieta sertanejo, certamente a sua principal obra. Foi nomeado presidente da província de Santa Catarina e depois presidente do Paraná. Em 1886, alcançou o Senado, mas por fidelidade ao Impe-

FRANKLIN TÁVORA (1842-1888) Nasceu em Baturité, no interior do Ceará. Formou-se em Direito, na célebre Faculdade do Recife. Em 1874

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mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou na vida burocrática onde desempenhou funções mais ou menos modestas. O gosto pela história acabou levando-o ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Morreu na pobreza aos quarenta e seis anos.

ROMANTISMO (1.836 Suspiros Poéticos e Saudades, Gonçalves de Magalhães) 1ª. GERAÇÃO Nacionalista ou Indianista - Gonçalves de Magalhães: poesia religiosa; poema épico - Suspiros Poéticos e Saudades. Gonçalves Dias: indianismo, natureza pátria, religiosidade, sentimentalismo e brasilidade - Canção do Exílio.

Obras principais: O Cabeleira (1876); O matuto (1878); Lourenço (1881). Em Franklin Távora, o regionalismo mais do que o assunto é polêmica, conforme se vê no prefácio de O Cabeleira: As letras têm, como a política, um certo caráter geográfico; mais no Norte, porém, do que no Sul, abundam os elementos para a formação de uma literatura propriamente brasileira, filha da terra. A razão é óbvia: o Norte ainda não foi invadido como está sendo o Sul de dia em dia pelo estrangeiro. (...) Temos o dever de levantar ainda com luta e esforço os nobres foros dessa região, exumar seus tipos legendários, fazer conhecidos seus nomes, suas lendas, sua poesias máscula, nova, vívida e louçã... Os desígnios do romancista não se realizaram, no entanto. No caso de seu relato mais conhecido, O Cabeleira, a intenção de realismo esgota-se na reconstituição do ambiente e na escolha de uma história de cangaço, ocorrida objetivamente no século XVIII. Nem o assunto nem a distância histórica garantiram verossimilhança à narrativa, perturbada pela contradição permanente dos sertanistas românticos: observações realistas dentro de um arcabouço exagerado e melodramático de folhetim.

2ª GERAÇÃO Geração Byroniana - Álvares de Azevedo: mal-doséculo; amor, morte, mulheres idealizadas; influência de Byron. Casimiro de Abreu: repetição do estilo dos outros autores. Junqueira Freire: tema do celibato, análise da religião, morte (fuga). Fagundes Varela: sintetizou todos os temas do romantismo.

3ª GERAÇÃO Condoreira Castro Alves: egocentrismo; subjetivismo; observação da realidade; poesia social; luta abolicionista: Navio Negreiro Sousândrade: causas abolicionistas e republicanas; experiências de viagens; padrões diferentes do Romantismo.

PROSA CARACTERÍSTICAS GERAIS: A conquista de um novo público leitor. Popularização da literatura. Surgiram quatro tipos de Romances: a) Romance urbano: vida social das grandes cidades com intrigas amorosas. b) Regionalista: características de cada região; as pessoas que vivem longe das cidades. c) Indianista: idealização do índio que vira um herói convivendo com o homem branco. d) Histórico: construção do passado colonial brasileiro.

REVISÃO INÍCIO:  Brasil - publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães (1836)

PRODUÇÃO LITERÁRIA PRINCIPAL TÉRMINO:  Brasil - Abolicionismo

Joaquim Manuel de Macedo Boa estruturação nos enredos. Linguagem coloquial. Costumes da sociedade carioca (descrição). Tramas suaves. Final feliz. Poder incontestável do amor. O casamento como tema. Tipos do universo burguês. Obras principais: A Moreninha; O Moço Loiro; Os Dois Amores; etc.

PAINEL DE ÉPOCA:  Processo crescente de industrialização  Importância da Revolução Francesa  Ascensão da burguesia  Oposição ao clássico  A literatura torna-se mais popular  Desenvolvimento de temas nacionais  Exaltação da natureza pátria  Criação do herói nacional (no Brasil? o índio)  Exaltação do passado histórico: culto a Idade Média  Supervalorização das emoções pessoais  Egocentrismo  Fuga da realidade: álcool, doenças, suicídios, mortes.

José de Alencar Romances urbanos, regionalistas, indianistas e históricos. Destacou-se como um dos maiores romancistas do Romantismo brasileiro. Faz um grande painel do Brasil mostrando todos os seus cantos.

POESIA Síntese do Romantismo no Brasil

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“Linguagem brasileira” . Idealização extrema de seus personagens. Valorização do índio. Aprovação da união entre colonizador e colonizado em suas obras indianistas. Apresenta caráter medieval em algumas obras. Nos romances urbanos faz uma representação crítica da sociedade da época. É descritivo e detalhista. Romances urbanos: romance de costume; sentimento como enredo; retrato da vida urbana da burguesia.(Lucíola, A Pata da Gazela, Senhora, etc.) Romances regionalistas: relacionamento do ser humano e a região que habita. Idealização do personagem. (O Gaúcho, O Sertanejo, O tronco do Ipê). Romances indianistas: exaltação do herói romântico brasileiro; nacionalismo; a exaltação da natureza (O Guarani; Iracema, etc.).

a) Que personagens protagonizam as duas cenas e qual a relação entre essas personagens no romance? b) O que ocorreu na primeira vez em que essas personagens se encontraram na câmara nupcial? c) Como a cena descrita no trecho citado relaciona-se com a outra, referida pelo narrador, no interior do romance? QUESTÃO 03 (UFJF-MG) Leia, com atenção, o fragmento a seguir para responder à questão. "Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla, até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; [...] É uma festa filosófica essa festa da Glória! Aprendi mais naquela meia hora de observação do que nos cinco anos que acabava de esperdiçar em Olinda com uma prodigalidade verdadeiramente brasileira. A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras; descobri nessa ocasião, a alguns passos de mim, uma linda moça, que parara um instante para contemplar no horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o céu azul e estrelado. Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. [...] Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia, e não sei que laivos de tão ingênua castidade, que o meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição."

QUESTÃO 01 (Unicamp-SP) O crítico Alfredo Bosi, em sua História concisa da literatura brasileira, tece algumas considerações sobre o romance Senhora, de José de Alencar: "Se admitimos que [a mola do enredo] é o fato de o jovem Seixas casar-se pelo dote, em virtude da educação que recebera, damos a Alencar o crédito de narrador realista, capaz de pôr no centro do romance não mais heróis [...] mas um ser venal, inferior. O que seria falso, pois o fato não passa de um recurso." a) Cite uma passagem de Senhora que permita considerar Seixas como um "herói" e não como um "ser inferior". b) "O fato não passa de um recurso". Considerando essa afirmação de A. Bosi, explicite as características do romance Senhora que permitem considerá-lo uma obra romântica.

José de Alencar. Lucíola.

A partir do fragmento, e considerando o romance como um todo, pode-se afirmar que: a) A cena amorosa, em Alencar, é sempre emoldurada pela matéria sociocultural brasileira. b) Pode-se observar, nessa cena, a superioridade da província sobre a metrópole. c) Desde o primeiro momento Paulo percebe a condição social de Lúcia. d) A referência à questão racial comprova o naturalismo dessa obra. e) O romance urbano, como é o caso de Lucíola, é o único cultivado no romantismo brasileiro.

QUESTÃO 02 (Unicamp-SP) "A moça trazia nessa ocasião um roupão de cetim verde cerrado à cintura por um cordão de fios de ouro. Era o mesmo da noite do casamento, e que desde então ela nunca mais usara. Por uma espécie de superstição lembrara-se de vesti-lo de novo, nessa hora na qual, a crer em seus pressentimentos, iam decidir-se afinal o seu destino e a sua vida. [...] Ergueu-se então, e tirou da gaveta uma chave; atravessou a câmara nupcial [...] e abriu afoitamente aquela porta que havia fechado onze meses antes, num ímpeto de indignação e horror."

QUESTÃO 04 (Fuvest-SP) Indique a alternativa que se refere corretamente ao protagonista de Memória de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. a) Ele é uma espécie de barro vital, ainda amorfo, a que o prazer e o medo vão mostrando os caminhos a seguir, até sua transformação final em símbolo sublimado. b) Enquanto cínico, calcula friamente o carreirismo matrimonial; mas o sujeito moral sempre emerge, condenando o próprio cinismo ao inferno da culpa, do remorso e da expiação.

No trecho citado, extraído do capítulo final do romance Senhora, de José de Alencar, o narrador faz referência a uma outra cena, passada no mesmo lugar, muito importante para o desenrolar do enredo. Pergunta-se:

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LITERATURA

“Onde vais à tardezinha, Mucama tão bonitinha, Morena flor do sertão? A grama um beijo te furta Por baixo da saia curta, Que a perna te esconde em vão... Mimosa flor das escravas! O bando das rolas bravas Voou com medo de ti!... Levas hoje algum segredo... Pois te voltaste com medo Ao grito do bem-te-vi! Serão amores deveras? Ah! Quem dessas primaveras Pudesse a flor apanhar! E contigo ao tom d'aragem, Sonhar na rede selvagem... À sombra do azul palmar! Bem feliz quem na viola Te ouvisse a moda espanhola Da lua ao frouxo clarão... Com a luz dos astros — por círios, Por leito — um leito de lírios... E por tenda — a solidão!”

c) A personalidade assumida de sátiro é a máscara de seu fundo lírico, genuinamente puro, a ilustrar a tese da "bondade natural", adotada pelo autor. d) Este herói de folhetim se dá a conhecer sobretudo nos diálogos, nos quais revela ao mesmo tempo a malícia aprendida nas ruas e o idealismo romântico que busca ocultar. e) Nele, como também em personagens menores, há o contínuo e divertido esforço de driblar o acaso das condições adversas e a avidez de gozar os intervalos da boa sorte. QUESTÃO 05 (UFMS/MS) Joaquim Manuel de Macedo não só escreveu romances, mas também algumas peças de teatro, entre elas Romance de uma velha. Nessa peça, uma personagem chamada D. Violante afirma: "Minha sobrinha, agora não há mais amor, há cálculo; não há mais amantes, há calculistas; não há mais amadas, há calculadas". Percebe-se que D. Violante considera o amor equivalente a negócios. Essa relação amor/negócios pode ser identificada em Senhora, de José de Alencar, se for(em) observado(s): I. Os títulos das quatro partes do romance: O preço, Quitação, Posse e Resgate. II. Que Aurélia utiliza-se de dinheiro para comprar um marido e que o dinheiro é a causa da separação entre Aurélia e Seixas. III. Que Aurélia propõe-se a casar com Seixas mediante recebimento de dote, mas ele não consegue levantar o dinheiro e fica preso a essa dívida até o fim do romance. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas II. c) apenas I e II. d) apenas I e III. e) apenas II e III.

Castro Alves

Texto B “Iracema, sentindo que lhe rompia o seio, buscou a margem do rio, onde crescia o coqueiro. Estreitou-se com a haste da palmeira. A dor lacerousuas entranhas; porém logo o choro infantil inundou sua alma de júbilo. A jovem mãe, orgulhosa de tanta ventura, tomou otenro filho nos braços e com ele arrojou-se às águas límpidas do rio. Depois suspendeu-o à teta mimosa; seus olhos então o envolviam de tristeza e amor. — Tu és Moacir, o nascido de meu sofrimento. A ará, pousada no olho do coqueiro, repetiu Moacir, e desde então a ave amiga unia em seu canto ao nome da mãe, o nome do filho. O inocente dormia; Iracema suspirava: — A jati fabrica o mel no tronco cheiroso do sassafrás; toda a lua das flores voa de ramo em ramo, colhendo o suco para encher os favos; mas ela não prova sua doçura, porque a irara devora em uma noite toda a colméia. Tua mãe também, filho de minha angústia, não beberá em teus lábios o mel de teu sorriso.”

QUESTÃO 06 (UFMS/MS) Assinale a alternativa incorreta a respeito da ficção urbana de José de Alencar. a) Os relatos oscilam entre a armação folhetinesca e a percepção da realidade brasileira. b) No enredo de Senhora o sentimento amoroso sempre é mais forte que o interesse financeiro. c) Romances como Senhora relacionam drama individual e organismo social. d) As personagens frequentemente são donzelas e mancebos que participam das rodas da Corte. e) Os romances fixam costumes e ações que definem uma forma de representar a cidade.

Para responder à questão 7, analisar as afirmativas que seguem, sobre os textos A e B. I. A imagem delicada, graciosa e harmoniosa da escrava, presente no texto A, exemplifica a tendência predominante do poeta no que se refere ao tratamento da temática da escravidão. II. A visão melancólica da natureza presente em ambos os textos associa-se ao Romantismo exacerbado. III. O texto B, numa profusão de imagens ligadas a elementos da natureza, relata o nascimento de Moacir,

Para responder às questões 7 e 8, ler os textos que seguem. Texto A Maria

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LITERATURA

que representa a fusão entre o branco e o índio, dando origem ao povo brasileiro. IV. Ambos os textos expressam o subjetivismo.

Quando parou o estrondo da festa e cessou o canto dos guerreiros, avançou Camacã, o grande chefe dos araguaias. [...] Assim falou o ancião: — Ubirajara, senhor da lança, é tempo de empunhares o grande arco da nação Araguaia, que deve estar na mão do mais possante. CAMACÃ O CONQUISTOU NO DIA EM QUE ESCOLHEU POR ESPOSA JAÇANÃ, A VIRGEM DOS OLHOS DE FOGO, EM CUJO SEIO TE GEROU SEU PRIMEIRO SANGUE. AINDA HOJE, APESAR DA VELHICE QUE LHE MIRROU O CORPO, NENHUM GUERREIRO OUSARIA DISPUTAR O GRANDE ARCO AO VELHO CHEFE, que não sofresse logo o castigo de sua audácia. Mas Tupã ordena que o ancião se curve para a terra, até desabar como o tronco carcomido, e que o mancebo se eleve para o céu como a árvore altaneira. Camacã revive em ti, a glória de ser o maior guerreiro cresce com a glória de ter gerado um guerreiro ainda maior do que ele.”

QUESTÃO 07 (PUC-RS) Pela análise das afirmativas, conclui-se que está correta a alternativa a) I e II b) I e III c) I, II, III e IV d) II e IV e) III e IV QUESTÃO 08 (PUC-RS) O texto B, da obra de José de Alencar homônima à personagem central, anuncia as ações subsequentes que relatam a) A viagem de Iracema. b) A doença de Martim, pai de Moacir. c) O destino exitoso de Moacir. d) A morte iminente do menino. e) O fim trágico de Iracema.

ALENCAR, José de. Ubirajara. 8. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 312.

Apresenta-se, em Ubirajara, um cenário de exaltação ao herói. Logo, trata-se de um ritual grandiloquente para aquele que simboliza o poder na tribo, em valores que expressam o ideário romântico do qual participou Alencar. a) Por que se pode dizer que a oração "Tu és Ubirajara" sintetiza o discurso de exaltação ao herói? b) Comente a visão romântica do índio brasileiro, expressa em Alencar, comparando-a com a visão do índio no Modernismo, valendo-se da figura de Macunaíma, de Mário de Andrade:

QUESTÃO 09 (PUC-RS) No Romantismo brasileiro, destaca-se a representação de muitos e diferentes tipos de mulher. Assim, em A Escrava Isaura, uma escrava é criada como moça branca, em A moreninha, Lucíola e Senhora, aparecem, respectivamente, a) Uma jovem suburbana, uma prostituta e um adama da sociedade paulista. b) Uma negra, uma rica dama da sociedade e uma mulher madura. c) Uma jovem típica da elite carioca, uma rica dama da sociedade e uma prostituta. d) Uma jovem típica da elite carioca, uma prostituta e uma rica dama da sociedade. e) Uma suburbana, uma prostituta e uma balzaquiana casadoira.

"No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo de Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma." ANDRADE, Mário. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. 31. ed. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Garnier, 2000. p. 13

QUESTÃO 12 (PUC-RS) Para responder à questão, ler o texto que segue. Texto “Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

QUESTÃO 10 (Fuvest-SP) Iracema faz parte da tríade indianista de José de Alencar, juntamente com outros dois romances: a) Quais? b) Cada um desses romances teria uma finalidade histórica. Qual teria sido a intenção do autor com Iracema? QUESTÃO 11 (UFSCar/SP) “Os tacapes, vibrados pela mão pujante dos guerreiros, bateram nos largos escudos retinindo. Mas a voz possante da multidão dos guerreiros cobriu o imenso rumor, clamando: — Tu és Ubirajara, o senhor da lança, o vencedor de Pojucã, o maior guerreiro da nação tocantim. [...]

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LITERATURA

Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto. Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto do agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.”

isto, foi a preocupação com a vertente brasileira do português, pois Alencar procurava moldar a língua nacional aos personagens indígenas que a falavam. QUESTÃO 14 (UFAC/AC) A poesia Romântica desenvolveu-se em três gerações: Nacionalista ou Indianista, do Mal do século e Condoreira. O Indianismo de nossos poetas românticos é: a) Um meio de reconstruir o grave perigo que o índio representava durante a instalação da Capitania de São Vicente. b) Um meio de eternizar liricamente a aceitação, pelo índio, da nova civilização que se instalava. c) Uma forma de apresentar o índio como motivo estético; idealização com simpatia e piedade; exaltação de bravura, heroísmo e de todas as qualidades morais superiores. d) Uma forma de apresentar o índio em toda a usa realidade objetiva; o índio como elemento étnico da futura raça do Brasil. e) Um modelo francês seguido no Brasil; uma necessidade de exotismo que em nada difere do modelo europeu.

Para responder à questão, analisar as afirmativas que seguem, sobre o texto. I. O trecho em questão pertence à antológica obra de José de Alencar, homônima da personagem. II. A personagem é descrita fisicamente, assim como são referidos alguns de seus hábitos e a sua origem. III. Iracema e os elementos da natureza brasileira aparecem em harmoniosa conjunção. IV. A exaltação à imagem da mulher nativa brasileira constitui-se em importante característica romântica. Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas a) A I e a II, apenas. b) A I, a II, a III e a IV. c) A I e a III, apenas. d) A II e a IV, apenas. e) A III e a IV, apenas

QUESTÃO 15 (UFRN) O romance Inocência (1872), de Visconde de Taunay, é reconhecido pela crítica como uma das mais populares narrativas da Literatura Brasileira. Nessa obra, o leitor pode identificar valores do Romantismo regionalista por meio da a) Caracterização do modo de vida urbano como sendo perverso. b) Assimilação dos costumes do homem branco pelo caboclo. c) Reprodução do linguajar típico do interior brasileiro. d) Intervenção reflexiva do narrador protagonista.

QUESTÃO 13 (UFPE/PE) O indianismo foi uma corrente literária que envolveu prosa e poesia e fortificou-se após a Independência do Brasil. Sobre esse tema, analise as afirmações a seguir. 0 0 - A literatura indianista cumpriu um claro projeto de fornecer aos leitores um passado histórico, quando possível, verdadeiro, se não, inventado. 1 1 - Os dois autores que mais se empenharam no projeto de criação de um passado heroico foram José de Alencar, na prosa, e Gonçalves Dias, na poesia. 2 2 - Gonçalves Dias, da primeira geração de românticos, escreveu Y-Juca-Pirama, Os Timbiras, Canto do Piaga. Com eles, construiu a imagem heróica e idealizada do índio brasileiro. 3 3 - Indianismo não significava simplesmente tomar como tema o índio; significava a construção de um novo conceito que, embora idealizado, expressava menos que uma realidade racial; expressava uma realidade ética e cultural, distinta da europeia. 4 4 - José de Alencar, em seus romances, sobretudo em Iracema e em O Guarani , se encarregou de construir o mito do herói indianista. De grande importância para

QUESTÃO 16 (UFRGS/RS) Considere as seguintes afirmações sobre a obra de Bernardo Guimarães. I. Em O Garimpeiro, o autor utiliza o episódio da cavalhada para defender os costumes interioranos. II. Em O Seminarista, o autor critica o celibato sacerdotal e o autoritarismo patriarcal, que impedem a realização amorosa de Eugênio. III. Em A Escrava Isaura, através do drama de Isaura/Elvira, o autor se alinha à luta abolicionista da época. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III. Gabarito 1.

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LITERATURA

a) A redenção da personagem, de “ser inferior” a “herói”, se dá já no fim da trama quando Seixas devolve o dote a Aurélia. Simbolicamente, é nessa cena que recupera suas qualidades de herói: honradez, dignidade, humildade, coragem e liberdade. b) Quando Alfredo Bosi afirma que o fato de Seixas se casar com Aurélia em função do dote é apenas um recurso da narrativa, o crítico resguarda a condição de herói romântico da personagem, o que se confirma com a recuperação, ao fim da narrativa, da honradez. Aurélia compreende a “luta” de Seixas para alcançar o seu amor e ser feliz ao seu lado. Esse processo de redenção é típico dos romances românticos. Em Senhora, Alencar resvala na crítica às hipocrisias, mas no final os sentimentos superam as condições sociais.

José de Alencar, além de construir um mito nacional, quis criar também uma língua brasileira. 14. C - As demais alternativas estão incorretas, pois o índio, idealizado pelos românticos, não é visto de modo objetivo, enquanto nativo que poderia representar perigo aos colonizadores, como elemento étnico formador da raça brasileira ou como elemento passivo que deveria aceitar a nova civilização. Além disso, o romantismo europeu buscava seu herói nos cavaleiros medievais, enquanto os brasileiros elegeram o índio, não por uma questão de exotismo, mas na busca de uma identidade nacional. 15. C 16. E

2. a) Os protagonistas das duas cenas são Seixas e Aurélia, marido e mulher. b) Ao contrário do que esperava Seixas, Aurélia demonstrará desprezo pelo marido, que teria casado por interesse financeiro. c) Depois de onze meses, acontece a redenção do “herói”. Ao “devolver” o dote a Aurélia, Seixas recupera a condição amorosa do casamento.

REALISMO/NATURALISMO

3. A

4. E

5. C

6. B

7. E

8. E

O Realismo é uma reação contra o Romantismo: O Romantismo era a apoteose do sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houve de mau na nossa sociedade. (Eça de Queirós)

9. D

CONTEXTO HISTÓRICO

10. a) A tríade indianista de José de Alencar se completa com O guarani e Ubirajara. b) A intenção de Alencar era romancear e tartar como lenda, ao modo indígena, a origem do Ceará.

A segunda metade do século XIX, na Europa, define-se por uma série de transformações econômicas, científicas e ideológicas que possibilitam o surgimento de uma estética antirromântica. Uma nova revolução industrial, caracterizada pelo avanço tecnológico e progresso científico, modifica não apenas os processos de produção, mas a própria estrutura econômica. Os negócios familiares em pequena escala são substituídos por grandes empresas, muitas vezes agrupadas em cartéis, e a população se concentra em vastos aglomerados urbanos, impelida pela industrialização. As nações tornam-se representantes de seus grupos econômicos privados, ampliam o mercado internacional e terminam por se fazer imperialistas, partindo para a conquista direta ou indireta de considerável número de países africanos e asiáticos. É o grande momento da Europa: a burguesia urbana, enriquecida pelo espólio colonial, vive o luxo, goza o poder sobre o mundo. Um mundo que agora se explica a partir de si mesmo: Comte cria o Positivismo e a sociedade passa a ser entendida em sua existência concreta; Darwin elabora a teoria sobre a evolução das espécies; Lamarck estabelece bases reais para a Biologia; a Psicologia é associada à Fisiologia; a Medicina se torna experimental; Pasteur penetra nos segredos de micro-organismos; Taine organiza padrões objetivos para a crítica literária. Eis um mundo claro, sem abismos, que já não encerra mistérios, como afirmam os cientistas da época.

11. a) Ubirajara ou "senhor da lança" é típico herói romântico nascido no nacionalismo. É aclamado herói por ser descendente de grande guerreiro e por estar ligado à terra de seus ancestrais. b) O índio romântico terá o perfil do grande herói e será caracterizado como forte e próximo aos heróis medievais e também da Antiguidade. Trata-se de uma idealização do índio com base no modelo europeu. Já em Macunaíma, Mário de Andrade parece anunciar um índio bem diferente do herói romântico. Ser "preto retinto" e "feio" distancia Macunaíma das idealizações românticas e o aproxima da comicidade, da sátira e da paródia que não se leem no Indianismo. 12. B 13. VVVVV Justificativa: Todas as respostas sobre o indianismo estão corretas. O passado que os indianistas abordaram foi, na maioria das vezes, inventado. Os autores mais importantes nessa corrente foram Alencar e Gonçalves Dias. As obras citadas desse segundo autor estão corretas. O indianismo é uma nova concepção sobre a origem racial do brasileiro.

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LITERATURA

As contradições, no entanto, continuam explodindo: as cidades crescem sem planejamento e não oferecem as mínimas condições de conforto e higiene; acentua-se a divisão do trabalho entre a burguesia e o proletariado; o Socialismo de Marx e o Anarquismo de Bakunin e de outros líderes ganham adeptos; irrompem revoltas de trabalhadores, como a Comuna de Paris (1871), que durante setenta dias promoverá um radical governo proletário, até a sua violenta dissolução por forças conservadoras. Nesse universo, ao mesmo tempo da euforia burguesa e do capitalismo desumano, os valores românticos entram em crise. Já não é possível a fantasia, nem o mito da natureza, nem o fechar-se na própria interioridade. Os acontecimentos exigem a participação do artista. Agora ele é um participante do mundo, ou ao menos, um observador do mundo. É verdade que o sentimento desagradável da realidade persistirá em sua alma, herança do Romantismo. Mas em vez de transformar esse sentimento em desabafo ou grito, como o romântico, o artista procurará examiná-lo à luz de teorias sociológicas, psicológicas ou biológicas.

ceira pessoa. A terceira pessoa favorece a impressão de que os personagens realizam seus destinos sem a interferência do sujeito que as criou. Racionalismo/retrato fiel das personagens – reflexo do racionalismo ideológico e científico da época, significa a possibilidade de uma investigação objetiva dos indivíduos, como tais, e como agentes de grupos da sociedade. Os resultados são:  análise psicológica  tipificação social A análise psicológica é o estudo dos caracteres, motivações e tendências da vida psíquica, considerada em suas relações com o momento histórico, o meio ambiente e com os instintos mais subterrâneos dos homens. Verossimilhança – a ideia de que o escritor deve reproduzir fielmente o real é um dos princípios centrais do movimento. Essa semelhança com aquilo que seria a verdade da vida objetiva e da vida interior leva-o a renunciar a tudo que pareça improvável ou fantástico. Nada dos velhos truques narrativos dos românticos que davam a impressão de artificialidade ou de invenção ficcional. O leitor precisa acreditar na veracidade do texto, o qual lhe passará um sentido de totalização e abrangência, como se a própria realidade estivesse ali, naquelas páginas.

BRASIL O fim da Guerra do Paraguai (1865-1870) determina o fim da legitimidade da monarquia brasileira junto a parcelas consideráveis da população. 1888 – abolição da escravatura 1889 – República (a República contará com significativo apoio popular e trará progresso para o país, sobremodo a partir da virada do século.)

Contemporaneidade – se os românticos tinham o fascínio do passado, tanto o histórico como o individual, os realistas, pela necessidade da verossimilhança, escrevem sempre sobre fatos, situações e personagens relacionados com a vida presente, com a vida que lhes é contemporânea. As grandes cidades com sua abundância de ofertas, suas infinitas chances de realização pessoal, amorosa e intelectual e, ao mesmo tempo, com seus inúmeros horrores e perigos, envolvem os artistas, fazendo-os descobrir as contradições da modernidade.

CARACTERÍSTICAS Os realistas fogem às exibições subjetivas dos românticos. O escritor deve manter a neutralidade diante daquilo que está narrando, e, dentro de alguns limites, jamais confunde sua visão particular com a visão e os motivos dos personagens. Por isso mesmo, há um domínio das narrativas em terceira pessoa ("Raskolnikov puxou o ferrolho, entreabriu a porta...") sobre as narrativas em primeira pessoa ("Eu puxei o ferrolho..."). A terceira pessoa favorece a impressão de que os personagens realizam seus destinos sem a interferência do sujeito que as criou. Flaubert comparava o escritor a um "deus ex machina", isto é, a um deus fora do mundo que tudo sabe e ninguém vê: O autor, em sua obra, deve ser como um Deus no universo: onipresente e invisível.

Pessimismo – descrentes das possibilidades da burguesia dominante em estabelecer um sentido justo para a existência, os artistas do período assumem posições de crítica e indignação frente a classe da qual quase todos procedem. Alguns enxergam no socialismo - um socialismo em geral utópico - a saída, tornando-se ardorosos propagadores de um novo sistema histórico. Outros, como os russos Tolstói e Dostoievski, voltam-se para um cristianismo primitivo, que pintam como única alternativa de uma autêntica comunidade humana. A maioria, contudo, expressa seu desprezo pelos valores burgueses sem se afeiçoar a alguma ideologia reformista ou revolucionária. Muitos caem na amargura e no niilismo*. * Niilismo: descrença absoluta.

Caracterização geral do Realismo Objetividade e impessoalidade – os realistas fogem às exibições subjetivas dos românticos. O escritor deve manter a neutralidade diante daquilo que está narrando, e, dentro de alguns limites, jamais confunde sua visão particular com a visão e os motivos dos personagens. Por isso mesmo, há um domínio das narrativas em ter-

Perfeição formal – estabelece-se uma nova linguagem, entendida agora como fruto do trabalho e não da inspiração. Decorre de um longo processo de síntese, de

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LITERATURA

cortes, de eliminação do supérfluo, de despojamento do acessório, de busca da palavra exata. O realista luta com as palavras, é um torturado pela forma, um obcecado pela adequação entre o pensamento, a ideia, o assunto e a linguagem que os reveste.

Leis Biológicas a) determinismo da herança, dos temperamentos e dos caracteres b) determinismo da raça

Lentidão narrativa – em decorrência da minuciosidade descritiva, da cuidadosa observação da natureza psicológica das personagens, a narrativa realista é lenta.

Determinismo do Meio O homem como produto do meio é a tese central do movimento. O indivíduo não passa de uma projeção do seu cenário, com o qual se confunde e do qual não consegue escapar. Daí a insistência na descrição do meio, que sempre traga e tritura o homem. Zola, em Germinal, mostra a vida dos operários nas minas francesas. O ambiente como que suprime os indivíduos:

Materialização do amor – volta-se para o aspecto físico. Denúncia das injustiças sociais – mostra o preconceito, a hipocrisia, ambição dos homens e a exploração das classes menos favorecidas.

No veio, o trabalho dos britadores tinha recomeçado. Muitas vezes eles apressavam o almoço para não perderem o calor do corpo; e seus sanduíches, comidos numa voracidade muda e naquela profundidade, transformavase em chumbo no estômago. Deitados de lado, golpeavam mais forte, com a ideia fixa de completar um número elevado de vagonetes. Tudo desaparecia nessa fúria de ganho tão duramente disputado, nem mesmo assim sentiam mais a água que escorria e lhes inchava os membros, as cãibras resultantes das posições forçadas, as trevas sufocantes onde eles descoravam como plantas encerradas em adega.

Determinismo e relação entre causa e efeito – o realista procura uma explicação lógica para as atitudes das personagens, considerando a soma de fatores que justificam suas ações. NATURALISMO O Naturalismo é uma espécie de prolongamento do Realismo. Os dois movimentos são quase paralelos e muitos historiadores veem no primeiro uma manifestação do segundo. Assim, o Naturalismo assume quase todos os princípios do Realismo, tais como o predomínio da objetividade, da observação, da busca da verossimilhança, etc., acrescentando a isso - e eis o seu traço particular - uma visão cientificista da existência. Consequência das novas ideias científicas e sociológicas que varriam a Europa, a visão naturalista ergue-se sobre os preceitos do evolucionismo, da hereditariedade biológica, do positivismo e da medicina experimental. Hippolyte Taine - muito lido na época - afirma que "três fontes diversas contribuem para produzir o estado moral elementar do homem: a raça, o meio e o momento." O maior dos naturalistas, Émile Zola, delimita o caráter dessa junção entre literatura e atividade científica, e a subordinação da primeira diante da segunda: Meu desejo é pintar a vida, e para este fim devo pedir à Ciência que me explique o que é a vida, para que eu a fique conhecendo.

Exemplo semelhante encontraremos em O cortiço, a obra mais importante da estética naturalista brasileira: o ambiente degradado gera seres degradados, a imundície do cenário se transfere para as almas humanas. O SURGIMENTO NO BRASIL O Romantismo termina antes do Império. Na década de 1881 ele já está superado nos meios artísticos, exceto na música. Neste momento histórico, a intelectualidade rebela-se contra a pieguice, o exagero, o nacionalismo ufanista, e exige uma postura crítica diante da vida. 1881 é o ano decisivo: Machado de Assis lança Memórias póstumas de Brás Cubas, e Aluísio Azevedo publica O mulato, inaugurando respectivamente o Realismo e o Naturalismo entre nós.

Características do naturalismo As características específicas do Naturalismo resultam da sua aproximação com as diversas ciências experimentais e positivas. Poderíamos esquematizá-las assim: Naturalismo: todas as características do Realismo + cientificismo e zoomorfismo (Cientificismo: adoção de leis científicas que regeriam a vida dos personagens)

MACHADO DE ASSIS (1839 – 1908) Joaquim Maria Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro, colocou a Literatura Brasileira em patamares nunca antes atingidos. Escreveu romances românticos (1ª fase) e realistas (2ª fase), foi poeta, contista, autor teatral e crítico literário. Fundou a Academia Brasileira de Letras e quando morreu recebeu honras fúnebres de chefe de Estado e seu cortejo foi seguido por milhares de admiradores.

Leis Sociológicas a) determinismo do meio b) determinismo do momento histórico

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o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco. Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sextafeira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: - "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."

Joaquim Maria Machado de Assis é considerado um dos mais importantes escritores da literatura brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro em 21/6/1839, filho de uma família muito pobre. Mulato e vítima de preconceito, perdeu na infância sua mãe e foi criado pela madrasta. Superou todas as dificuldades da época e tornou-se um grande escritor. Na infância, estudou numa escola pública durante o primário e aprendeu francês e latim. Trabalhou como aprendiz de tipógrafo, foi revisor e funcionário público. Publicou seu primeiro poema intitulado Ela, na revista Marmota Fluminense. Trabalhou como colaborador de algumas revistas e jornais do Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de letras e seu primeiro presidente. Podemos dividir as obras de Machado de Assis em duas fases: Na primeira fase (fase romântica) os personagens de suas obras possuem características românticas, sendo o amor e os relacionamentos amorosos os principais temas de seus livros. Desta fase podemos destacar as seguintes obras: Ressurreição (1872), seu primeiro livro, A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Na Segunda Fase (fase realista), Machado de Assis abre espaços para as questões psicológicas dos personagens. É a fase em que o autor retrata muito bem as características do realismo literário. Machado de Assis faz uma análise profunda e realista do ser humano, destacando suas vontades, necessidades, defeitos e qualidades. Nesta fase, destacam-se as seguintes obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900) e Memorial de Aires (1908).

RAUL POMPEIA (1863-1895) Raul Pompeia, um dos grandes escritores brasileiros, jovem sensível e atormentado. Jornalista, político, polemista e professor. Ganhou notoriedade com seu mais conhecido romance O Ateneu (1888), de forte teor autobiográfico. Sua hipersensibilidade e dramas pessoais o levaram ao trágico suicídio no natal de 1895.

Machado de Assis também escreveu contos, tais como: Missa do Galo, O Espelho e O Alienista. Escreveu diversos poemas, crônicas sobre o cotidiano, peças de teatro, críticas literárias e teatrais. Morreu de câncer em sua cidade natal no ano de 1908.

Nasceu em Angra do Reis, filho de uma família de grandes proprietários. Teve uma infância bastante reclusa, devido ao isolamento social de seus pais. No começo da década de 1870, a família se mudou para a Corte e o menino vai estudar no mais famoso e caro colégio da época, o Colégio Abílio, onde permaneceu por cinco anos e do qual se vingaria dez anos depois. Concluiu seus estudos no Colégio D. Pedro II e, mais tarde, bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Abolicionista e republicano exaltado é uma espécie de intelectual de esquerda da época. Ocupou vários cargos públicos, inclusive a direção da Biblioteca Nacional. Seu temperamento exaltado despertou ódios e inimizades. Chegou a marcar um duelo com Olavo Bilac, que acabou não se realizando. Esta sensibilidade doentia e não resolvida impeliu-o ao suicídio, num dia de Natal. Contava então trinta e dois anos de idade.

Trecho da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES DO MEU CADÁVER DEDICO COMO SAUDOSA LEMBRANÇA ESTAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS CAPÍTULO 1

Óbito do Autor Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar

Obras principais: Uma Tragédia no Amazonas (1878), As Joias da Coroa (1882), O Ateneu (1888)

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Trecho da obra O Ateneu I "Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta." Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam. Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo - a paisagem é a mesma de cada lado beirando a estrada da vida. Eu tinha onze anos.

Viveu intensamente a carreira de escritor e tentou viver dela, mas abandona as letras em 1895, quando ingressa na carreira diplomática, para dela não mais sair, abandonando em definitivo sua carreira literária. Nasceu em São Luís do Maranhão, filho de uma mulher cheia de ousadia que abandonara o marido, grosseiro comerciante português, para ir viver em regime de concubinato com o vice-cônsul de Portugal, com quem teve cinco filhos. Estimulado pela atmosfera intelectual e artística que imperava em sua casa, Aluísio revelou precocemente pendor pelo desenho e pela pintura. Fez os primeiros estudos na capital maranhense, mas aos dezenove anos, sonhando com um curso de Belas-Artes, na Europa, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde seu irmão mais velho, o comediógrafo e jornalista Artur de Azevedo fazia grande sucesso. Lá trabalhou como caricaturista em vários periódicos. A morte do pai, dois anos depois, obrigou-o a retornar para São Luís, onde cuidaria dos negócios paternos. Em 1879, estreou na literatura com um medíocre folhetim, Uma lágrima de mulher. Dedicou-se também ao jornalismo, editando O pensador, um jornal de combate ao clero e ao atraso mental de cidade. A culminância de sua rebeldia ocorreu em 1881, quando publicou o romance O mulato. A denúncia da corrupção do clero e do preconceito racial existentes na burguesia maranhense irritou os leitores da província, impelindo Aluísio Azevedo, então com vinte e quatro anos, a retornar ao Rio. Passou a viver exclusivamente da literatura, lançando folhetins românticos de baixa categoria, entremeados por duas narrativas naturalistas. Em 1895, com quase quarenta anos, ingressou na carreira diplomática. Como cônsul, percorreu uma série de países estrangeiros. A partir de então, surpreendentemente, abandonou a produção literária. Os motivos de sua renúncia ficaram ignorados. Morreu em Buenos Aires, onde servia e vivia conjugalmente com uma senhora argentina e dois filhos desta.

OUTROS REALISTAS O cearense Manuel de Oliveira Paiva (l861-l892) é um desses escritores que só a posteridade reconhece, até porque sua obra principal, Dona Guidinha do Poço vem à luz apenas em 1952, apresentando um tipo de realismo rural que antecipa os grandes textos sobre o mundo sertanejo produzidos pelos romancistas de 1930. Outro cearense de obra injustamente relegada a um segundo plano é Domingos Olímpio (1850-1906). Em seu único romance publicado, Luzia-Homem (1903), também se vincula a este realismo sertanejo, - que alguns chamam de regionalismo - apresentando com tintas carregadas o flagelo da seca em sua região, ao mesmo tempo que enfoca a força física e moral da sertaneja Luzia, criatura intermediária entre dois sexos, o corpo quase másculo numa alma feminina e que termina assassinada por um soldado quando se dispunha a amar ternamente outro homem.

Obras Principais Naturalistas - O mulato (1881); Casa de pensão (1884); O cortiço (1890) Folhetins - Girândola de amores (1882); O homem (1894); O livro de uma sogra (1895). Aluísio Azevedo é o primeiro caso de escritor no país a decidir-se pela literatura como forma de sobrevivência. Para tanto, precisará capitular as exigências do mercado que pede melodramas baratos e de fácil digestão. Sem vergonha aparente, satisfaz o gosto do público e lhe fornece o esperado. Simultaneamente, acaba encontrando na estética naturalista, - seja através da obra de Zola, seja através dos romances de Eça de Queirós - os princípios que lhe permitirão o desenvolvimento de uma obra adulta. O trabalho como caricaturista e a vocação para a pintura

AUTORES NATURALISTAS ALUÍSIO AZEVEDO (1857-1913) Aluísio Azevedo, considerado o principal representante do Naturalismo no Brasil, dedicou-se a pintura quando jovem, foi cartunista, escritor e diplomata.

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tinham intensificado o sentido plástico de seu texto. "Primeiro desenho os meus romances. Depois, redijoos." - confessará ele mais tarde. O gosto naturalista pela descrição minuciosa, pelos painéis abrangentes e pelos costumes coletivos adequava-se às tintas carregadas de sua linguagem. Assim como a ênfase na denúncia social e na patologia correspondiam à sua visão contestadora e também pessimista da realidade. Nas suas três obras básicas, ele revolverá temas proibidos (ou escondidos), a exemplo do racismo, da opressão dos trabalhadores livres, da sexualidade tropical, das aberrações morais e biológicas de ricos e pobres, etc.

Sentimento anti-clerical e antimonárquico. Positivismo, evolucionismo e socialismo. Preocupação com o presente. Tendência Naturalista da literatura: o artista nivela a sua posição com a do cientista; personagens sem idealizações; interferência dos fatores naturais no comportamento do homem. PRODUÇÃO LITERÁRIA: BRASIL Aluísio Azevedo Personagens - tipos. Influência de Eça de Queirós e Émile Zola.

OUTROS NATURALISTAS O segundo nome do Naturalismo brasileiro é o de Adolfo Caminha (1867-1897). Este oficial da Marinha, cuja vida já é por si um original e dramático romance, faz parte de um numeroso e importante grupo de intelectuais, reunidos em Fortaleza, em torno da Padaria Espiritual. Ele escreve, em sua breve existência ceifada pela tuberculose, três narrativas: A normalista (1893), Bom-Crioulo (1895), e Tentação (1896). A melhor delas, Bom-Crioulo, guarda uma surpreendente força, que vem tanto da concepção naturalista de seres humanos dominados pela força lúbrica dos instintos, quanto do caráter sombrio do personagem principal. Amaro, o Bom-Crioulo, é um jovem escravo fugido que se alista como marujo e impressiona a todos por sua extraordinária massa muscular, além de sua simpatia e disposição para o trabalho. Fracasso sexuais com mulheres, - e sobretudo impulsos fisiológicos incontroláveis - levam-no a apaixonar-se por Aleixo, um jovem grumete loiro de apenas quinze anos. Este aceita o assédio de Amaro e quando estão em terra vivem juntos num quartinho sórdido de uma casa de cômodos. Enlouquecido de paixão, o Bom-Crioulo torna-se péssimo marinheiro, mete-se em confusões e é transferido para outro navio. Seu amante adolescente, então, aceita a proposta amorosa da dona da casa de pensão que, apesar de quarentona, também o deseja ardentemente. Ao descobrir a traição, Bom-Crioulo foge do hospital, onde convalescia de um castigo físico, ordenado pelo oficial de sua embarcação, e assassina Aleixo em plena rua, sendo preso de imediato. REVISÃO

Tipos rudes, grosseiros. Visão racional, científica de mundo. Denúncia da estrutura social falha. Personagens: estado da alma mais ação. O falar do indivíduo regional, mas alcançando o homem universal; isso é contemporâneo no autor. Antes de Memórias Póstumas de Brás Cubas: concessões ao Romantismo; amor; orgulho; ambição; centralização na personagem (Helena; Iaiá Garcia). Machado de Assis Personagens: estado da alma mais ação. Mostra a sociedade urbana hipócrita. O falar do indivíduo regional mas alcançando o homem universal; isso é contemporâneo no autor. Antes de Memórias Póstumas de Brás Cubas: concessões ao Romantismo; amor; orgulho; ambição; centralização na personagem (Helena; Iaiá Garcia) O personagem é a porta para o autor falar do mundo. Após Memórias Póstumas de Brás Cubas: maior originalidade na construção da personagem; o interior, o eu é explorado; o personagem mais importante que a trama; o pensar sobre a vida mostrando a sociedade da época e seus temas. (Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú e Jacó; Memorial de Aires - Romances psicológicos)

PAINEL DE ÉPOCA: Desenvolvimento do pensamento científico e das doutrinas filosóficas e sociais (Comte, Marx e Engels, Darwin).

REALISMO QUESTÃO 01 (Unicamp-SP) No romance Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador fornece ao leitor uma visão nada lisonjeira das personagens, especialmente quando se trata das personagens femininas. a) Sabendo que essa visão do narrador é acentuada no processo de construção daquela que foi a sua primeira e grande paixão de juventude, identifique essa personagem e cite ao menos um dos traços que a caracterizam.

Questão Coimbrã: conflito das transformações políticas, sociais e econômicas. Objetivismo com negação ao Romantismo. Determinismo: meio, momento e raça. 2ª metade da Revolução Industrial.

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b) Referindo-se a D. Plácida, afirma o narrador: “Foi assim que lhe acabou o nojo”. Qual a função exercida por essa personagem na trama do citado romance? De que nojo se trata e de que modo ele teria acabado?

despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o triplo para não tornar a vê-lo. Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, e achei que era exato, mas tinha ainda um complemento: 'Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação'. Parei e perguntei calado: 'Quando seria o dia da criação de Ezequiel?' Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro."

QUESTÃO 02 (Unicamp-SP) Leia a seguir o capítulo CX de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e que significativamente tem o título de “31”. "Uma semana depois, Lobo Neves foi nomeado presidente de província. Agarrei-me à esperança da recusa, se o decreto viesse outra vez datado de 13; trouxe, porém, a data de 31, e esta simples transposição de algarismos eliminou deles a substância diabólica. Que profundas que são as molas da vida!" a) O narrador refere-se aí a um episódio de bastante importância para o prosseguimento de sua vida amorosa. Quais as relações entre o narrador e a personagem Lobo Neves aí citada? b) Que episódio anterior deve ser levado em conta para se entender o trecho “Agarrei-me à esperança da recusa, se o decreto viesse outra vez datado de 13”? c) A frase “Que profundas que são as molas da vida!” pode ser interpretada como irônica no contexto do romance. Por quê?

Machado de Assis. Dom Casmurro. Cap. CXLVI.

Este capítulo de Dom Casmurro permite classificar a narrativa de Machado de Assis como realista. Desenvolva essa ideia, comprovando-a com dois elementos do texto. QUESTÃO 05 (Unirio-RJ) Sobre o Realismo, assinale a afirmativa correta. a) O romance é visto como distração e não como meio de crítica às instituições sociais decadentes. b) Os escritores realistas procuram ser pessoais e objetivos. c) O romance sertanejo ou regionalista originou-se no Realismo. d) O Realismo constitui uma oposição ao idealismo romântico. e) O Realismo vê o Homem somente como um produto biológico.

QUESTÃO 03 (UFV-MG) Observe como o narrador inicia o primeiro capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas: "Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que escrito ficaria assim mais galante e mais novo."

QUESTÃO 06 (PUC-RS) Para responder à questão, ler o texto que segue. "Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais: não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

ASSIS, Machado de. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. v. I, p. 513.

Escreva, de forma concisa, sobre o narradorpersonagem, Brás Cubas, apontando elementos que justifiquem a postura revolucionária de Machado de Assis, como iniciador do movimento literário realista. QUESTÃO 04 (UFU-MG) Não houve lepra "Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas ou novas. Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém, onde os dois amigos da universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, em grego: 'Tu eras perfeito nos teus caminhos'. Mandaram-me ambos os textos, grego e latino, o desenho da sepultura, a conta das

É dessa forma que Machado de Assis, ao encerrar a sua antológica obra Memórias póstumas de Brás Cubas, a) Imprime um tom determinista à narrativa, ao rejeitar qualquer possibilidade de redenção à personagem. b) Esclarece, finalmente, o “processo extraordinário” que o narrador utilizou para fazer o relato após a morte. c) Racionaliza a experiência vivida, o que evidencia o grande paradoxo da obra, já que se trata de um “defunto-autor”.

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b) “Capitu deu-me as costas, voltando-se para o espelhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe desciam à cintura.” (Capítulo XXXIII – “O penteado”). c) “Capitu ia agora entrando na alma de minha mãe. Viviam o mais do tempo juntas, falando de mim, a propósito do sol e da chuva, ou de nada; Capitu ia lá coser, às manhãs; alguma vez ficava para jantar.” (Capítulo LXVI – “Intimidade”). d) “Capitu gostava de rir e divertir-se, e, nos primeiros tempos [de casados], quando íamos a passeios ou espetáculos, era como uma pássaro que saísse da gaiola. Arranjava-se com graça e modéstia.” (Capítulo CV – “Os braços”). e) “Capitu e eu, involuntariamente, olhamos para a fotografia de Escobar, e depois um para o outro. Desta vez a confusão dela fez-se confissão pura. Este era aquele [...].” (Capítulo CXXXIX – “A fotografia”)

d) Revela a existência de Brás Cubas como exitosa, apesar de não ter filhos, nem transmitir a ninguém o legado de sua miserável existência. e) Neutraliza o fluxo de consciência da personagem, que teve uma vida atormentada pelo ódio e pela ganância. QUESTÃO 07 (PUC-RS) Para responder à questão, analisar as afirmativas que seguem, sobre Machado de Assis. I. Escritor associado principalmente ao Realismo brasileiro. II. Seus princípios de rigor métrico foram adotados por seus contemporâneos. III. Sua poesia segue a temática que o notabilizou como prosador. IV. Como contista, ateve-se à análise psicológica das personagens. Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas. a) a I e a II, apenas. b) a I, a II, a III e a IV. c) a I e a III, apenas. d) a II e a IV, apenas. e) a III e a IV, apenas.

Gabarito 1. a) A primeira paixão de Brás Cubas foi Marcela, descrita como bela e ambiciosa, enquanto lemos o período do namoro. Quando o enredo avança, descobrimos que ela é uma cortesã, que ficou com Brás Cubas por seu dinheiro. b) Trata-se de uma antiga empregada de Virgília que é contratada por Brás Cubas para cuidar da casa da Gamboa e assim “acobertar” o caso adúltero dos amantes protagonistas do romance. O “nojo” será atenuado com o pagamento que lhe é oferecido.

QUESTÃO 08 (PUC-PR) Sobre o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, o ensaísta português Helder Macedo afirmou: “Na destruição de Capitu, na neutralização do desafio ao modo de ser alternativo que ela representa, reside o propósito fundamental da restauração procurada por Bento Santiago através da escrita do seu memorial. [...] Ela era uma estranha, uma intrusa, uma ameaça ao status quo, um indesejável traço de união com uma classe social mais baixa, representando assim também, implicitamente, a emergência potencial de uma nova ordem política que ameaçasse o poder estabelecido. Acresce que algumas das outras características da sua rebelde personalidade – curiosidade intelectual, gosto pela aritmética, talento financeiro, capacidade de abstração e de previsão – eram qualidades convencionalmente associadas à mente masculina, não qualidades aquiescentemente femininas”. O narrador deixa entrever de forma sistemática quanto poderia haver de suspeito e de perigoso, social e sexualmente, nas suas motivações. Classe e sexo são assim fundidos na mesma ameaça representada pela moralidade supostamente dúbia de Capitu”.

2. a) Lobo Neves é o marido de Virgília, que, por sua vez, é amante de Brás Cubas. Além disso, durante a narrativa, Brás Cubas insinua a concorrência entre os dois também na política, de onde sai derrotado. b) Lobo Neves já havia recusado uma nomeação — para o governo do Estado — por ter ocorrido em um dia 13, já que era supersticioso. c) A ironia é evidente quando o narrador atribui profundidade às decisões impulsionadas por algumas superstições.

MACEDO, Helder. Machado de Assis: entre o lusco e o fusco.

Qual dos trechos de Dom Casmurro exemplifica as ideias críticas de Helder Macedo? a) “Capitu não achava bonito o perfil de César, mas as ações citadas por José Dias davam-lhe gestos de admiração. Ficou muito tempo com a cara virada para ele. Um homem que podia tudo! Que fazia tudo!” (Capítulo XXXI – “As curiosidades de Capitu”)

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5. Machado de Assis se vale de um narrador que expõe o processo de criação literária e, dessa forma, rompe a barreira entre a ficção e a realidade. Não o faz de forma direta e cria um ambiente propício tanto às ilusões quanto às digressões mais críticas, já que está morto e afastado de qualquer compromisso mundano. 6. Apesar de se tratar da morte do filho do narrador, Machado de Assis aproveita a oportunidade para denunciar as hipocrisias das relações humanas ao listar juntamente inscrição do túmulo, desenho e despesas do enterro. Além disso, a frieza como quer tratar do assunto se exibe no desfecho irônico: "Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro". 7. A

QUESTÃO 03 (UniFEI-SP) Leia atentamente: I. "A segunda Revolução Industrial, o cientificismo, o progresso tecnológico, o socialismo utópico, a filosofia positivista de Augusto Comte, o evolucionismo formam o contexto sócio-político-econômico-filosóficocientífico em que se desenvolveu a estética realista". II. "O escritor realista acerca-se dos objetos e das pessoas de um modo pessoal, apoiando-se na intuição e nos sentimentos". III. "Os maiores representantes da estética realistanaturalista no Brasil foram: Machado de Assis, Aluísio de Azevedo e Raul Pompéia".

8. A

NATURALISMO

IV. "Podemos citar como características da estética realista: o individualismo, a linguagem erudita e a visão fantasiosa da sociedade".

QUESTÃO 01 (UFV-MG) Considere as seguintes afirmativas: a) "Esforço-me por entrar no espartilho e seguir uma linha reta geométrica: nenhum lirismo, nada de reflexões, ausente a personalidade do autor."

Verificamos que em relação ao Realismo-Naturalismo está(estão) correta(s): a) Apenas a I e II. b) Apenas a I e III. c) Apenas a II e IV. d) Apenas a II e III. e) Apenas a III e IV.

Gustav Flaubert Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 169.

b) "Em Thérèse Raquin, eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Aí está o livro todo. Escolhi personagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de sua vida pelas fatalidades da própria carne [...]."

QUESTÃO 04 (Mackenzie-SP) Vários autores afirmam que a diferença entre Realismo e Naturalismo é muito sutil. Um dos trechos a seguir é claramente naturalista. Assinale a alternativa em que ele aparece. a) "Desesperado, deixou o cravo, pegou do papel escrito e rasgou-o. Nesse momento, a moça, embebida no olhar do marido, começou a cantarolar à toa, inconscientemente, uma cousa nunca antes cantada nem sabida..." b) "Enfim chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos." c) "Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro do café aquecia, suplantando todos os outros [...]" d) "Foi por esse tempo que eu me reconciliei outra vez com o Cotrim, sem chegar a saber a causa do dissentimento. Reconciliação oportuna, porque a solidão pesava-me, e a vida era para mim a pior das fadigas, que é a fadiga sem trabalho." e) "E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida."

Émile Zola Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 169.

Os princípios estéticos introduzidos por Flaubert e Zola, respectivamente, os mentores do Realismo e do Naturalismo, servem como parâmetro para que se possam estabelecer as diferenças básicas entre essas duas escolas literárias. Reflita sobre as afirmações dos referidos escritores franceses e destaque os pontos convergentes e divergentes entre as manifestações da prosa de ficção realistanaturalista no Brasil. QUESTÃO 02 (Ufal) "O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, davalhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno." O fragmento anterior pertence ao romance O cortiço, de Aluísio Azevedo. a) A descrição da personagem exemplifica um típico recurso do movimento literário a que se filiou o autor. Que movimento foi esse e qual o recurso aqui adotado? b) Exemplifique, com duas expressões retiradas do texto, a resposta que você deu ao item anterior.

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d) Faz com que as personagens triunfantes sejam aquelas cujas virtudes morais se imponham sobre o poder econômico. e) É um autor pessimista, pois está convicto de que os bons instintos naturais são abafados na vida aristocrática.

QUESTÃO 05 (ITA-SP) Assinale a opção cuja característica, pertencente ao Realismo-Naturalismo, não aparece no excerto. "O tísico do número 7 há dias esperava o seu momento de morrer, estendido na cama, os olhos cravados no ar, a boca muito aberta, porque já lhe ia faltando o fôlego. Não tossia; apenas, de quando em quando, o esforço convulsivo para atravessar os pulmões desfeitos sacudia- lhe todo o corpo e arrancava-lhe da garganta uma ronqueira lúgubre, que lembrava o arrular ominoso dos pombos."

Gabarito 1. As duas manifestações são contrárias às idealizações românticas e procuram se aproximar do cotidiano das pessoas, exatamente como apontam o Positivismo e o Determinismo em voga na época. Contudo, enquanto o Realismo busca retratar as variadas realidades sociais por meio de metáforas que expõem, preferencialmente, a psicologia das personagens, o Naturalismo prefere a observação externa e o registro direto das reações humanas.

Das características a seguir, pertencentes ao RealismoNaturalismo, apenas uma não aparece no excerto anterior. Assinale-a. a) Animalização do homem. b) Visão determinista e mecanicista do homem. c) Patologismo. d) Veracidade. e) Retrato da realidade cotidiana.

2. a) Trata-se da animalização (ou zoomorfização) da espécie humana. Típico recurso do Naturalismo. b) “crina (cabelo) preta”, “como éguas selvagens”.

QUESTÃO 06 (UEL-PR) Na obra-prima que é o romance O cortiço: a) Podemos surpreender as características básicas da prosa romântica: narrativa passional, tipos humanos idealizados, disputa entre o interesse material e os sentimentos mais nobres. b) As personagens são apresentadas sob o ponto de vista psicológico, desnudando-se ante os olhos do leitor graças à delicada sutileza com que o autor as analisa e expressa. c) O leitor é transportado ao doloroso universo dos miseráveis e oprimidos migrantes que, tangidos pela seca, abrigam-se em acomodações coletivas, à espera de uma oportunidade. d) Vemos renascer, na década de 30 do nosso século, uma prosa viril, de cunho regionalista, atenta às nossas mazelas sociais e capaz de objetivar em estilo seco parte de nossa dura realidade. e) Consagra-se entre nós a prosa naturalista, marcada pela associação direta entre meio e personagens e pelo estilo agressivo que está a serviço das teses deterministas da época.

3. B

4. C

5. B

6. E

7. A

PARNASIANISMO Mais que esse vulto extraordinário, Que assombra a vista, Seduz-me um leve relicário De fino artista. (Profissão de Fé - Olavo Bilac) - Surge na França como reação à poesia romântica - Procura corresponder, em poesia, ao Realismo na prosa Movimento literário de origem francesa, que representou na poesia o espírito positivista e científico da época, surgindo no século XIX em oposição ao romantismo. Nasceu com a publicação de uma série de poesias, precedendo de algumas décadas o simbolismo. O seu nome vem do Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega era consagrada a Apolo e às musas, uma vez que os seus autores procuravam recuperar os valores estéticos da Antiguidade clássica. Caracteriza-se pela sacralidade da forma, pelo respeito às regras de versificação, pelo preciosismo rítmico e vocabular, pela rima rica e pela preferência por estruturas fixas, como os sonetos. O emprego da linguagem figurada é reduzido, com a valorização do exotismo e da mitologia. Os temas preferidos são os fatos históricos, objetos e paisagens. A descrição visual é o forte da poesia parnasiana, assim como para os românticos são a sonoridade das palavras e dos versos. Os autores parnasianos faziam uma "arte pela arte", pois acreditavam que

QUESTÃO 07 (UEL-PR) Por força das teses deterministas que abraça em sua ficção, Aluísio Azevedo: a) Subordina as marcas subjetivas de suas personagens às influências diretas do meio e da raça a que pertencem. b) Revela-se um autor otimista quanto à possibilidade de os miseráveis reverterem historicamente sua situação. c) Acredita que a cultura popular, por ser mais espontânea e criativa, superará os modelos da cultura letrada.

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Caracterização geral do Parnasianismo

a arte devia existir por si só, e não por subterfúgios, como o amor, por exemplo.

Objetividade e impessoalidade – O poeta apresenta o fato, a personagem, as coisas como são e acontecem na realidade, sem deformá-los pela sua maneira pessoal de ver, sentir e pensar. Esta posição combate o exagerado subjetivismo romântico. Arte Pela Arte – A poesia vale por si mesma, não tem nenhum tipo de compromisso, e justifica por sua beleza. Faz referencias ao prosáico, e o texto mostra interesse a coisas pertinentes a todos. Estética/Culto à forma – Como os poemas não assumem nenhum tipo de compromisso, a estética é muito valorizada. O poeta parnasiano busca a perfeição formal a todo custo, e por vezes, se mostra incapaz para tal. Aspectos importantes para essa estética perfeita são: o Rimas Ricas: São evitadas palavras da mesma classe gramatical. Há uma ênfase das rimas do tipo ABAB para estrofes de quatro versos, porém também muito usada as rimas ABBA. o Valorização dos Sonetos: É dada preferência para os sonetos, composição dividida em duas estrofes de quatro versos, e duas estrofes de três versos. Revelando, no entanto, a "chave" do texto no último verso. o Metrificação Rigorosa: O número de sílabas poéticas deve ser o mesmo em cada verso, preferencialmente com dez (decassílabos) ou doze sílabas (versos alexandrinos), os mais utilizados no período. Ou apresentar uma simetria constante, exemplo: primeiro verso de dez sílabas, segundo de seis sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis sílabas, etc. o Descritivismo: Grande parte da poesia parnasiana é baseada em objetos inertes, sempre optando pelos que exigem uma descrição bem detalhada como "A Estátua", "Vaso Chinês" e "Vaso Grego" de Alberto de Oliveira. Temática Greco-Romana – A estética é muito valorizada no Parnasianismo, mas mesmo assim, o texto precisa de um conteúdo. A temática abordada pelos parnasianos recupera temas da Antiguidade Clássica, características de sua história e sua mitologia. É bem comum os textos descreverem deuses, heróis, fatos lendários, personagens marcados na história e até mesmo objetos. Cavalgamento ou encadeamento sintático – Ocorre quando o verso termina quanto à métrica (pois chegou na décima sílaba), mas não terminou quanto à ideia, quanto ao conteúdo, que se encerra no verso de baixo. O verso depende do contexto para ser entendido. Tática para priorizar a métrica e o conjunto de rimas.

CARACTERÍSTICAS No Brasil, a adoção do Parnasianismo tem um múltiplo significado: - Representa um desligamento da realidade local no que essa tinha de pobre, feia e suja. Na adoção de valores europeus, os poetas fecham suas obras para um mundo grosseiro, feito de horrores, pestes e exploração, trocando o país concreto pela antiguidade, pelo sonho com a cidade-luz, Paris, e pelo nacionalismo ufanista. Nem todos os parnasianos são conservadores do ponto de vista político, mas sua arte o é. - Assinala o triunfo de uma estética rígida que corresponde a uma sociedade imobilizada. Os princípios da escola tornam-se cânones e quem os desobedece, não ingressa no reino da poesia. Surgem vários tratados, ensinando os leitores os preceitos e os truques da nova poética que acaba caindo no gosto do público. Um público pequeno: a elite leitora de fins do século XIX chega no máximo a cinco por cento da população. - Apresenta uma arte centrada em obviedades escritas com ênfase retórica. Além das fórmulas fixas de agrado popular, como o soneto, do refinamento verbal que distinguia o letrado do semianalfabeto - e das regras autoritárias de poesia, os parnasianos produzem mensagens convencionais, insípidas e, até mesmo, certas reflexões filosóficas muito próximas da banalidade. Esta tendência ao convencional e ao lugar-comum consolidase socialmente porque não ameaça, não questiona, não põe em xeque as concepções que as classes dirigentes tinham de si mesmas e do Brasil. - Domina intelectualmente o país por quarenta anos. De maneira inesperada, os poetas do período acabam ganhando adeptos não somente nas elites, mas também nos círculos intelectuais das nascentes classes médias urbanas. Assim, o Parnasianismo espalha-se por todo o país, alcançando um número monumental de seguidores. Seu domínio foi de tal ordem que os organizadores da Semana de Arte Moderna tiveram como um dos objetivos básicos a destruição desses modelos parnasianos de poesia e de cultura. - Coloca a criação literária como resultante do esforço e não da inspiração. Os românticos haviam expresso uma crença tão apaixonada na espontaneidade, no "borbulhar do gênio", no instinto criativo, que todo o trabalho de pesquisa e cuidado formal do artista parecia supérfluo. Já os parnasianos consideram a poesia como um processo artesanal de luta com as palavras, de busca do rigor, de suor e dedicação. Rompem com o amadorismo e a facilidade. Mostram que a arte, normalmente, não aceita os preguiçosos e aproximam-se da visão contemporânea sobre a construção do texto literário e o papel profissional do escritor.

OLAVO BILAC (1865-1918) Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac, jornalista, poeta e inspetor de ensino, formou a famosa tríade parnasiana. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Autor da letra do Hino à Bandeira, foi o mais popular dos autores parnasianos.

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Entre as estrelas trêmulas subia Uma infinita e cintilante escada.

Nasceu no Rio de Janeiro, numa família de classe média. Estudou Medicina e depois Direito, sem se formar em nenhum dos cursos. Jornalista, funcionário público, inspetor escolar, secretário do prefeito do Distrito Federal, exerceu constante atividade republicana e nacionalista, realizando pregações cívicas em todo o país, inclusive pelo serviço militar obrigatório. Era um exímio conferencista e representou o país em vários encontros diplomáticos internacionais. Foi coroado como "príncipe dos poetas brasileiros", encarnando a liderança do grupo parnasiano. Por isso, ingressou na Academia de Letras, na condição de fundador. Paralelamente, teve certas veleidades boêmias e estas inclinações noturnas não deixaram de escandalizar e, ao mesmo tempo, fascinar a época.

E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada Degrau, que o ouro mais límpido vestia, Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada, Ressoante de súplicas, feria... Tu, mãe sagrada! vós também, formosas Ilusões! sonhos meus! íeis por ela Como um bando de sombras vaporosas. E, ó meu amor! eu te buscava, quando Vi que no alto surgias, calma e bela, O olhar celeste para o meu baixando... XIII "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversarmos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com ela? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas."

OBRAS: Poesias (Reunião dos livros Panóplias, Vialáctea e Sarças de fogo -1888); Tarde (1918) A melhor definição de Olavo Bilac é feita por Antônio Candido: "admirável poeta superficial". Poucos escritores no país merecem um conceito tão surpreendente. Admirável ele é porque soube valorizar a profissão de homem de letras, transformando-a, conforme suas próprias palavras em "um culto e um sacerdócio". Admirável é também a sua habilidade técnica que o leva a versificar com meticulosa precisão: parece que jamais erra métrica ou rima. "Todas as suas emoções eram já metrificadas com exatidão e rimadas com abundância", diz Mário de Andrade. Admirável, por fim, são os inúmeros sonetos que rompem com os mitos da impassibilidade e da objetividade absoluta - indicando uma herança romântica da qual o poeta não pode ou não quer se livrar. Superficial nele são os quadros históricos e mitológicos, o erotismo de salão, as miniaturas descritivas e o nacionalismo ufanista. Os temas, em geral, não estão à altura do domínio técnico e dos recursos de linguagem. Como acentua o próprio Antônio Candido, o poeta transforma tudo, o drama humano e a natureza, em "espetáculo", em coisa, em matéria-prima dos recursos esculturais do verso. Com algumas exceções, seus poemas nada aprofundam e ainda passam uma sensação de frieza. Podemos indicar os seguintes assuntos como dominantes em sua poética: a Antiguidade greco-romana (ver Características do Parnasianismo) a temática da perfeição (ver Atividade) o lirismo amoroso a reflexão existencial. o nacionalismo ufanista

ALBERTO DE OLIVEIRA (1857-1937) Antônio Mariano Alberto de Oliveira, farmacêutico e professor, colaborou com diversos jornais cariocas e é considerado o mais parnasiano dos poetas. É dono de uma poesia descritiva e objetiva. Nasceu no interior do Rio de Janeiro e formou-se em Farmácia. Exerceu várias funções públicas, entre as quais o magistério e tornou-se um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Sua lírica descritivista e convencional lhe garantiu um lugar no gosto médio da época, substituindo Olavo Bilac na condição de "príncipe dos poetas brasileiros", em 1924, quando o Parnasianismo já fora destruído pelas novas elites artísticas do país. Morreu em Niterói, aos oitenta anos. Obras principais: Meridionais (1884); Versos e rimas (1895); O livro de Ema (1900) Entre todos os parnasianos é o que mais permanece atado aos rigorosos padrões do movimento. Manipula os procedimentos técnicos de sua escola com precisão, mas essa técnica ressalta ainda mais a pobreza temática, a frieza e a insipidez de uma poesia hoje ilegível. Pouco encontramos em Alberto de Oliveira além de poemas que reproduzem mecanicamente a natureza e objetos decorativos. Enfim, uma poesia de rimas exatas e métrica correta. Uma poesia sobre coisas inanimadas.

Trecho da obra VIA LÁCTEA (fragmentos) I Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via Que, aos raios do luar iluminada,

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Uma poesia tão morta como os objetos descritos. Vaso grego é a tradução desta mediocridade:

Esbraseia o Ocidente na agonia O sol...Aves bandos destacadas Por céus de oiro e de púrpura raiados Fogem...Fecha-se a pálpebra do dia...

Esta de áureos* relevos, trabalhada De divas* mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Delineiam-se, além da serraria, Os vértices da chama aureolados. E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia...

Era o poeta de Teos* que a suspendia Então, e, ora repleta ora esvazada, A taça amiga aos dedos seus tinia, Toda de roxas pétalas colmada*.

SIMBOLISMO

Depois... Mas o lavor da taça admira, Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Brancuras imortais da Lua Nova, frios de nostalgia e sonolência... Sonhos brancos da Lua e viva essência dos fantasmas noctívagos da Cova. (Flores da Lua - Cruz e Sousa)

Ignota* voz, qual se da antiga lira Fosse a encantada música das cordas Qual se essa voz de Anacreonte

CONTEXTO CULTURAL

* fosse. * Áureos: de ouro * Diva: deusa, mulher formosa * Teos: * Colmada: coberta * Ignota: desconhecida * Anacreonte: poeta grego

O Simbolismo - que também foi chamado de Decadentismo, Impressionismo, Nefelibatismo - surgiu na França, por volta de 1880, e de lá se difundiu internacionalmente, abrangendo vários ramos artísticos, principalmente a poesia. O período era de profundas modificações sociais e políticas, provocadas fundamentalmente pela expansão do capitalismo, na esteira da industrialização crescente, e que convergiram para, dentre outras consequências, a I Guerra Mundial. Na Europa haviam germinado ideias científico-filosóficas e materialistas que procuravam analisar racionalmente a realidade e assim apreender as novas transformações; essas ideias, principalmente as do positivismo, influenciaram movimentos literários como o Realismo e o Naturalismo, na prosa, e o Parnasianismo, na poesia. No entanto, os triunfos materialistas e científicos não eram compartilhados ou aceitos por muitos estratos sociais, que haviam ficado ao largo da prosperidade burguesa característica da chamada "belle époque"; pelo contrário, esses grupos alertavam para o mal-estar espiritual trazido pelo capitalismo. Do âmago da inteligência europeia surge uma oposição vigorosa ao triunfo da coisa e do fato sobre o sujeito - aquele a quem o otimismo do século prometera o paraíso mas não dera senão um purgatório de contrastes e frustrações. A partir dessa oposição, no campo da poesia, formou-se o Simbolismo. O movimento simbolista tomou corpo no Brasil na década de 1890, quando o país passava também por intensas e radicais transformações, ainda que diversas daquelas vivenciadas na Europa. O advento da República e a abolição da escravatura modificaram as estruturas políticas e econômicas que haviam sustentado a agrária e aristocrática sociedade brasileira do Império. Os primeiros anos do regime republicano, de grande instabilidade política, foram marcados pela entrada em massa de

RAIMUNDO CORREIA (1859-1911) Raimundo da Mota de Azevedo Correia, magistrado, professor, diplomata e poeta, foi autor dos sonetos mais admirados da literatura brasileira. De tendência à amargura e ao negativismo, muitos de seus poemas são sombrios e se aproximam do Simbolismo. Nasceu no Maranhão e formou-se advogado, em São Paulo. Trabalha no interior do Rio de Janeiro como magistrado e, em Ouro Preto, como secretário de Finanças. Passa em seguida para a diplomacia, trabalhando em Lisboa. Volta mais tarde à antiga capital federal, onde mais uma vez exerce a magistratura. Morre, com cinquenta e dois anos, em Paris, onde fazia um tratamento de saúde. Obras principais: Sinfonias (1883); Aleluias (1891) A exemplo dos demais componentes da tríade parnasiana, Raimundo Correia foi um consumado artesão do verso, dominando com perfeição as técnicas de montagem e construção do poema. Alguns críticos valorizam nele o sentido plástico de suas descrições da natureza. O gelo descritivista da escola seria quebrado por uma emoção genuína - fina melancolia - que humanizava a paisagem, como se pode visualizar no excerto abaixo:

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imigrantes no país, pela urbanização dos grandes centros - principalmente de São Paulo, que começou a crescer em ritmo acelerado -, e pelo incremento da indústria nacional. Nas cidades, a classe média se expandiu, enquanto a operária começou a tornar-se numerosa. No campo, aumentaram as pequenas propriedades produtivas. A jovem república federativa, que ainda definia os limites de seu território, conheceu a riqueza efêmera da borracha na Amazônia e a prosperidade trazida pela diversificação da produção agrícola no Rio Grande do Sul. Mas era o café produzido no Centro-Sul a força motriz da economia brasileira, e de seus lucros alimentou-se a poderosa burguesia que determinava o destino de grande parte dos projetos políticos, financeiros e culturais do país. No Brasil ainda sustentado pela agricultura e dependente de importações de produtos manufaturados, máquinas e equipamentos, a indústria editorial engatinhava. O público leitor era reduzido, já que a maior parte da população era analfabeta. As poucas editoras existentes concentravam-se no Rio de Janeiro e lançavam autores de preferência já conhecidos do público, em tiragens pequenas, impressas em Portugal ou na França, e mal distribuídas. Era principalmente nas páginas de periódicos que circulavam as obras literárias, e onde se debatiam os novos movimentos estéticos que agitavam os meios artísticos. Foi por meio do jornal carioca Folha Popular que formou-se o grupo simbolista liderado por Cruz e Souza, provavelmente o mais importante a divulgar a nova estética no país. Também por força dessas circunstâncias, muitos autores do período colaboraram como cronistas para jornais e revistas, atividade que contribuiu para a profissionalização do escritor brasileiro.

Transcendentalismo - Um dos princípios básicos dos simbolistas era sugerir através das palavras sem nomear objetivamente os elementos da realidade. Ênfase no imaginário e na fantasia. Para interpretar a realidade, os simbolistas se valem da intuição e não da razão ou da lógica. Preferem o vago, o indefinido ou impreciso. Por isso, gostam tanto de palavras como: névoa, neblina, bruma, vaporosa. Religiosidade e misticismo - O desejo de um mundo ideal, do qual o mundo real é apenas uma representação imperfeita, conduz o simbolista a procurar alcançá-lo através da poesia, vendo na arte uma forma de religião. No plano sintático vocabular observa-se  Místico: alma, infinito, desconhecido, essência, missal, breviário, hinos, salmos, ângelus etc.  Uso do conectivo e, que tem essa denominação por ser bastante usado nos textos bíblicos.  Emprego de iniciais maiúsculas no interior do verso enfatizando o aspecto simbólico dos vocábulos. Preferência pela cor branca e pela palavra água : amplitude, vazio Sonho – subconsciente CRUZ E SOUSA (1861 - 1898) João da Cruz e Souza, o primeiro grande poeta negro do Brasil. Foi responsável pela introdução do Simbolismo na literatura brasileira e renovou a expressão poética na língua da portuguesa. Broquéis, sua mais conhecida obra, mostra força e originalidade. Sofreu muito de perto o racismo e a incompreensão e morreu no esquecimento. João da Cruz e Souza nasceu em Desterro (hoje Florianópolis), filho de escravos libertos pelo marechal Guilherme de Souza, que adotou o menino negro e ofereceu-lhe a chance de estudar com os melhores professores de Santa Catarina. Foi seu mestre, inclusive, o sábio alemão Fritz Muller, correspondente de Darwin. Apesar da morte de seu protetor, conseguiu terminar o nível intermediário e, com pouco mais de dezesseis anos, tornou-se professor particular e militante da imprensa local. Aos vinte anos, seguiu com uma companhia teatral por todo o Brasil, na condição de "ponto". Durante estas viagens entregou-se à conferências abolicionistas. Em 1883, foi nomeado promotor público em Laguna, no sul da província, mas uma rebelião racista na pequena cidade impediu-o de assumir o cargo, embora esta história seja contestada por algumas fontes. Voltou a viajar e a cada regresso sentia a ampliação do preconceito de cor. Mudou-se então, definitivamente para o Rio de Janeiro. Lá se casaria com uma moça negra e conseguiria modesto emprego de arquivista na Central do Brasil, já no ano de 1893. Às inúmeras dificuldades financeiras somavam-se o desprezo dos intelectuais da época, que viam nele apenas um "negro pernóstico", o período de loucura mansa vivido pela

Caracterização geral do Simbolismo Subjetivismo - Os simbolistas terão maior interesse pelo particular e individual do que pela visão mais geral. A visão objetiva da realidade não desperta mais interesse, e sim a realidade focalizada sob o ponto de vista de um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia que se opõe à poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém mais do que voltar-se para o coração, os simbolistas procuram o mais profundo do "eu", buscam o inconsciente, o sonho. Busca a essência do ser humano, o inconsciente, estado da alma. Musicalidade - A musicalidade é uma das características mais destacadas da estética simbolista. Para conseguir aproximação da poesia com a música, os simbolistas lançaram mão de alguns recursos, como por exemplo:  Aliteração, que consiste na repetição sistemática de um mesmo fonema: : "Na messe que estremece"  Sinestesia, mistura dos sentidos, isto é, sensação produzida pela interpenetração de órgãos sensoriais: "cheiro doce" ou "grito vermelho"

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esposa, durante seis meses, e a tuberculose que atacou toda a sua família: ele, a mulher e os quatro filhos. Numa carta ao amigo e protetor, Nestor Vítor, deixou registrado seu infortúnio: "Há quinze dias tenho uma febre doida... Mas o pior, meu velho, é que estou numa indigência horrível, sem vintém para remédios, para leite, para nada! Minha mulher diz que sou um fantasma que anda pela casa!" Este mesmo amigo providenciou uma viagem do poeta à região serrana de Minas Gerais, em busca de paliativo para a doença. Mal chegando lá, Cruz e Sousa piorou e faleceu na mais absoluta solidão. Três anos após já tendo enterrado dois filhos - Gavina também desapareceria por causa da tuberculose. O terceiro filho morreria em seguida. O último, vitimado pela mesma moléstia, desapareceria em 1915. A família estava extinta numa terrível tragédia humana.

Pois ela se morreu silente* e fria..." E pondo os olhos nela como pomos, Hão de chorar a irmã que lhes sorria. A lua que lhe foi mãe carinhosa Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la Entre lírios e pétalas de rosa. Os meus sonhos de amor serão defuntos... E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?" * Silente: silencioso, secreto.

A lembrança do sofrimento nunca o abandona, como se percebe em Ismália, espécie de balada, onde a loucura, a solidão e a morte se interpenetram: Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar.

OBRAS PRINCIPAIS: Broquéis (1893) - Missal (1893) - Evocações (1899) - Faróis (1900) Últimos sonetos (1905)

No sonho em que se perdeu Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar...

A obra de Cruz e Sousa é a mais brasileira de um movimento que foi, entre nós, essencialmente europeu. Nela opera-se uma tentativa de síntese entre formas de expressão prestigiadas na Europa e o drama espiritual de um homem atormentado social e filosoficamente. O resultado passa, às vezes, por poemas obscuros e verborrágicos mas, na maioria dos casos, a densidade lírica e dramática do "Cisne Negro" atinge um nível só comparável ao dos grandes simbolistas franceses. O primeiro aspecto que percebemos em sua poética é a linguagem renovadora.

E, no desvario seu Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar...

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar

A morte da amada é um tema dominante em sua poesia: a morte da noiva amada, a doce Constança, desaparecida na flor da mocidade. De certa forma, não conseguirá mais esquecê-la e, assim, os seus poemas de amor sempre se vincularão à ideias fúnebres. Amor e morte é uma velha fórmula romântica, mas Alphonsus a tratará de maneira diferente, fugindo do patético e alcançando um tom elegíaco*, onde predominam a melancolia e a musicalidade. Nem o casamento, nem o passar do tempo ajudarão o poeta a atenuar esta tristeza. Em vários momentos, a dor parece mais uma convenção poética do que propriamente um sentimento real. No entanto, um soneto como Hão de chorar por ela os cinamomos guarda forte carga de emoção:

REVISÃO PARNASIANISMO  Poesia antirromântica criada pelo materialismo científico.  A poesia deixa de ser sentimento exacerbado e denuncia as injustiças.  Paisagens emotivas, exóticas, objetos raros.  A impassividade como norma.  Forma perfeita: rimas raras; vocábulos sonoros.  Princípio da arte pela arte; o objeto da poesia é ela mesma.  É a representação da poesia do realismo no Brasil.  A Tríade Parnasiana: Albertto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.  Beleza material da palavra.  Versos longos, decassílabos ou Alexandrinos.  Rigor na forma.

Hão de chorar por ela os cinamomos Murchando as flores ao tombar do dia Dos laranjais hão de cair os pomos Lembrando-se daquela que os colhia. As estrelas dirão: - "Ai, nada somos,

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PRODUÇÃO LITERÁRIA OLAVO BILAC  É o representante mais perfeito dessa poesia.  Culto pela beleza inigualável.  Empolgado com a epopeia bandeirante, cantou o herói nacional da época, os Bandeirantes.  Elegante na elaboração de seus textos.  Também conhecido como poeta do amor - expressões delicadas e grande emotividade.  Ficou afastado dos ideais da época.

(Unesp-SP) Os textos a seguir referem-se à próxima questão e à de número 2. Tercetos "Noite ainda, quando ela me pedia Entre dois beijos que me fosse embora, Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: 'Espera ao menos que desponte a aurora! tua alcova é cheirosa como um ninho... e olha que escuridão há lá fora! Como queres que eu vá, triste e sozinho, Casando a treva e o frio de meu peito! Ao frio e à treva que há pelo caminho?! Ouves? é o vento! é um temporal desfeito! Não me arrojes à chuva e à tempestade! Não me exiles do vale do teu leito! Morrerei de aflição e de saudade... Espera! até que o dia resplandeça, Aquece-me com a tua mocidade! Sobre o teu colo deixa-me a cabeça Repousar, como há pouco repousava... Espera um pouco! deixa que amanheça!' — E ela abria-me os braços. E eu ficava."

SIMBOLISMO QUADRO GERAL: INÍCIO:  No Brasil - obra Missal e Broquéis, Cruz e Souza. TÉRMINO: Início do século XX com o início do prémodernismo. PAINEL DE ÉPOCA  O cansaço causado pelo culto da forma (Parnasianismo), facilita o nascimento de uma forma estética mais solta, mais humana e subjetiva.  Antiparnasianismo: solta a intimidade do ser.  Na França: Baudelaire, Mallarmé e Verlaine.  A busca pelo espiritual, o místico, o estado da alma.  É o fim da literatura com visão científica e determinista do mundo.  Retorno de alguns temas Românticos mas com uma estrutura poética mais liberada, solta.  A busca da musicalidade das palavras.  Nefelibatas: os habitantes das nuvens.  Presença de sinestesia: apelo para os sentidos do homem.

Em Bilac, Olavo. Alma inquieta: poesias. 13. ed. São Paulo: Francisco Alvez, 1928, p. 171-172.

Ela disse-me assim "Ela disse-me assim Tenha pena de mim, vá embora! Vais me prejudicar Ele pode chegar, está na hora! E eu não tinha motivo nenhum Para me recusar, Mas aos beijos caí em seus braços E pedi pra ficar. Sabe o que se passou Ele nos encontrou, e agora? Ela sofre somente porque foi fazer o que eu quis. E o remorso está me torturando Por ter feito a loucura que fiz. Por um simples prazer, fui fazer Meu amor infeliz."

PRODUÇÃO LITERÁRIA Alphonsus de Guimaraens  Exploração do tema da morte.  Literatura gótica próxima aos escritores românticos.  Atmosfera mística e litúrgica.  Poesia uniforme e equilibrada.  Ambiente místico da cidade de Mariana e as chama sentimental vivido na adolescência.  Influências Árcades e Renascentistas sem cair no formalismo parnasiano.

Lupicínio Rodrigues Samba-canção gravado por José Bispo dos Santos, o Jamelão. Continental, 1959.

QUESTÃO 01 Separados pela distância do tempo, o texto do compositor Lupicínio Rodrigues (1914-1974) mantém relações de semelhança e de dessemelhança com o poema de Olvao Bilac (1865-1918). Releia-os com atenção e, a seguir: a) Responda em que sentido o samba-canção de Lupicínio poderia representar uma continuidade ou mobilização do tema enfocado pelo poeta parnasiano. b) Do ponto de vista formal da versificação, aponte pelo menos um procedimento de Lupicínio que o distancia do poema de Bilac.

Cruz e Souza  Apresenta diversidade e riqueza em sua poética.  Aspectos noturnos do Simbolismo, herdado do Romantismo: culto da noite, o pessimismo, a morte, etc.  Preocupação formal; o gosto pelo soneto; o verbalismo requintado; a força das imagens.  Inclinação para uma poesia meditativa e filosófica que o aproxima de Antero de Quental.  Poesia metafísica e dor de existir.

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(II) "Música brasileira" é um exemplo de poema de forma fixa. (III) Em "o fogo soberano/Do amor" (v. 1-2), tem-se um exemplo de metáfora. (IV) O ritmo do verso 3 é binário, em uma alusão ao movimento dos quadris femininos. (V) A rima entre "cujos" (v. 9) e "marujos" (v. 11) classifica-se como rica.

QUESTÃO 02 (Unesp) Embora seja considerado um dos mais típicos representantes do Parnasianismo brasileiro, cuja estética defendeu explicitamente no célebre poema Profissão de Fé, Olavo Bilac revela em boa parcela de seus poemas alguns ingredientes que o afastam da rigidez característica da escola parnasiana e o aproximam da romântica. Partindo desta consideração: a) Identifique duas características formais do poema de Bilac que sejam tipicamente parnasianas. b) Aponte um aspecto do mesmo poema que o aproxima da estética romântica.

QUESTÃO 05 (Ufal) As afirmações seguintes referem-se ao Parnasianismo no Brasil: I. Para bem definir como entendia o trabalho de um poeta, Olavo Bilac comparou-o ao de um joalheiro, ou seja: escrever poesia assemelha-se à perfeita lapidação de uma matéria preciosa. II. Pelas convicções que lhe são próprias, esse movimento se distancia da espontaneidade e do sentimentalismo que muitos românticos valorizavam. III. Por se identificarem com os ideais da antiguidade clássica, é comum que os poetas mais representativos desse estilo aludam aos mitos daquela época. Está correto o que se afirma em: a) II, apenas. d) II e III, apenas. b) I e II, apenas. e) I, II e III. c) I e III, apenas.

QUESTÃO 03 (UEL-PR) Olavo Bilac e Alberto de Oliveira representam um estilo de época de acordo com o qual: a) O valor estético deve resultar da linguagem subjetiva e espontânea que brota diretamente das emoções. b) A forma literária não pode afastar-se das tradições e das crenças populares, sem as quais não se enraíza culturalmente. c) A poesia deve sustentar-se enquanto forma bem lapidada, cuja matéria-prima é um vocabulário raro, numa sintaxe elaborada. d) Devem ser rejeitados os valores do antigo classicismo, em nome da busca de formas renovadas de expressão. e) Os versos devem fluir segundo o ritmo irregular das impressões, para melhor atender ao ímpeto da inspiração.

QUESTÃO 06 (Unesp) As questões a seguir tomam por base um texto do poeta simbolista brasileiro Alphonsus de Guimaraens (1870-1921).

QUESTÃO 04 (UnB-DF) Música brasileira "Tens, às vezes, o fogo soberano Do amor: encerras na cadência, acesa Em requebros e encantos de impureza, Todo o feitiço do pecado humano. Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza Dos desertos, das matas e do oceano: Bárbara poracé, banzo africano, E soluços de trova portuguesa. És samba e jongo, xiba e fado, cujos Acordes são desejos e orfandades De selvagens, cativos e marujos: E em nostalgias e paixões consistes, Lasciva dor, beijo de três saudades, Flor amorosa de três raças tristes."

Eras a sombra do poente "Eras a sombra do poente Em calmarias bem calmas; E no ermo agreste, silente, Palmeira cheia de palmas. Eras a canção de outrora, Por entre nuvens de prece; Palidez que ao longe cora E beijo que aos lábios desce. Eras a harmonia esparsa Em violas e violoncelos: E como um vôo de garça Em solitários castelos. Eras tudo, tudo quanto De suave esperança existe; Manto dos pobres e manto Com que as chagas me cobriste. Eras o Cordeiro, a Pomba, A crença que o amor renova... És agora a cruz que tomba À beira da tua cova.”

BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

Com base na leitura do poema e sabendo que Olavo Bilac é um dos maiores expoentes da poesia parnasiana no Brasil, julgue os itens que se seguem. (I) São características do Parnasianismo, presentes no poema: a arte pela arte, a impassibilidade, a economia vocabular, a poesia descritiva, a revalorização da mitologia.

Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, 1923. Em: GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesias. Rio de Janeiro: Org. Simões, 1955. v. 1, p. 284.

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O texto em pauta, de Alphonsus de Guimaraens, apresenta nítidas características do simbolismo literário brasileiro. Releia-o com atenção e, a seguir: a) aponte duas características tipicamente simbolistas do poema; b) com base em elementos do texto, comprove sua resposta.

QUESTÃO 10 (UFMA) Sobre o Parnasianismo e o Simbolismo, na Literatura Brasileira, é correto afirmar que: a) Os estilos são absolutamente distintos quanto à técnica da versificação. b) Os dois estilos se aproximam pelas preferências temáticas. c) À metafísica do primeiro, juntou-se o realismo do segundo. d) Os dois estilos se aproximam quanto à técnica da versificação. e) Não há proximidade entre os dois.

QUESTÃO 07 (Unesp) A reiteração é um procedimento que, aplicado a diferentes níveis do discurso, permite ao poeta obter efeitos de musicalidade e ênfase semântica. Para tanto, o escritor pode reiterar fonemas (aliterações, assonâncias, rimas), vocábulos, versos, estrofes, ou, pelo processo denominado “paralelismo”, retomar as mesmas estruturas sintáticas de frases, repetindo alguns elementos e fazendo variar outros. Tendo em vista estas observações: a) Identifique no poema de Alphonsus um desses procedimentos. b) Servindo-se de uma passagem do texto, demonstre o processo de reiteração que você identificou no item a.

QUESTÃO 11 (UniFEI-SP) Escolha a alternativa que preencha corretamente, na ordem apresentada, as lacunas da frase seguinte. O Simbolismo se opõe ao ____________, aproximandose do _____________, no que diz respeito à presença do subjetivismo e da emoção, segundo observa, por exemplo, em ___________, célebre autor de Broquéis. a) (1) Realismo / (2) Romantismo / (3) Cruz e Sousa b) (1) Naturalismo / (2) Modernismo / (3) Gonçalves Dias c) (1) Arcadismo / (2) Romantismo / (3) Castro Alves d) (1) Romantismo / (2) Barroco / (3) Manuel Bandeira e) (1) Naturalismo / (2) Modernismo / (3) Olavo Bilac

QUESTÃO 08 (Unirio-RJ) Cantiga outonal "Outono. As árvores pensando... Tristezas mórbidas no mar... O vento passa, brando, brando... E sinto medo, susto, quando Escuto o vento assim passar..."

QUESTÃO 12 (UCP-PR) Assinale a afirmativa correta: a) O Romantismo é consequência do surto de cientificismo e da fadiga da repetição das fórmulas subjetivas. b) O poeta parnasiano deixa-se arrebatar pelo conflito entre o mundo real e o imaginário, expresso num sentimentalismo acentuado. c) O Realismo é consequência do surto de cientificismo e da fadiga da repetição das fórmulas subjetivas. d) No Romantismo, o escritor mergulha no interior das personagens, mostrando ao leitor seus dramas e sua agonia. e) No Simbolismo, predominou a prosa.

Cecília Meireles

a) Apesar de modernista, a autora apresenta tendências de outro movimento literário, evidentes no texto. Que movimento é esse? b) Retire do texto uma passagem que justifique a sua resposta anterior e, a seguir, cite a característica que ela apresenta. QUESTÃO 09 (Unesp) Assinale a alternativa em que se caracteriza a estética simbolista. a) Culto do contraste, que opõe elementos como amor e sofrimento, vida e morte, razão e fé, numa tentativa de conciliar polos antagônicos. b) Busca do equilíbrio e da simplicidade dos modelos greco-romanos, através, sobretudo, de uma linguagem simples, porém nobre. c) Culto do sentimento nativista, que faz do homem primitivo e sua civilização um símbolo de independência espiritual, política, social e literária. d) Exploração de ecos, assonâncias, aliterações, numa tentativa de valorizar a sonoridade da linguagem, aproximando-a da música. e) Preocupação com a perfeição formal, sobretudo com o vocabulário carregado de termos científicos, o que revela a objetividade do poeta.

QUESTÃO 13 (Ufscar-SP) A ênfase na seleção de vocabulário poético, com o objetivo de transferir ao poema o máximo de correspondência sensorial, é uma característica do: a) Romantismo, sobretudo na obra de Castro Alves. b) Barroco, principalmente em Gregório de Matos. c) Simbolismo, representado pelas obras de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. d) Parnasianismo, representado pela obra de Alberto de Oliveira. e) Pré-Modernismo, principalmente em Jorge de Lima.

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QUESTÃO 14 14. (PUC-SP) Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens são poetas identificados com um movimento artístico cujas características são: a) O jogo de contrastes, o tema da fugacidade da vida e fortes inversões sintáticas. b) A busca da transcendência, a preponderância do símbolo entre as figuras e o cultivo de um vocabulário ligado às sensações. c) A espontaneidade coloquial, os temas do cotidiano e o verso livre. d) O perfeccionismo formalista, a recuperação dos ideais clássicos e o vocabulário precioso. e) O jogo dos sentimentos exacerbados, o alargamento da subjetividade e a ênfase na adjetivação.

PRÉ-MODERNISMO As duas primeiras décadas do século XX não registram, no Brasil, convulsões semelhantes às ocorridas na Europa. A abolição da escravatura e o golpe republicano pouco haviam alterado as estruturas básicas do país. A economia - ainda voltada para as necessidades dos países europeus - assentava-se na dependência externa e no domínio interno dos cafeicultores. CONTEXTO HISTÓRICO Enquanto a Europa se prepara para a Primeira Guerra Mundial, o Brasil começa a viver, a partir de 1894, um novo período de sua história republicana: com a posse do paulista Prudente de Morais, primeiro presidente civil, inicia-se a "República do café-com-leite", dos grandes proprietários rurais, em substituição a "República da Espada" (governos do marechal Deodoro e do marechal Floriano). É a áurea da economia cafeeira no Sudeste; é o movimento de entrada de grandes levas de imigrantes, notadamente os italianos; é o esplendor da Amazônia com o ciclo da borracha; é o surto de urbanização de São Paulo. Mas toda esta prosperidade vem deixar cada vez mais claros os fortes contrastes da realidade brasileira. É, também, o tempo de agitações sociais. Do abandono do Nordeste partem os primeiros gritos da revolta. Em fins do século XIX, na Bahia, ocorre a Revolta de Canudos, tema de Os sertões, de Euclides da Cunha; nos primeiros anos do século XX, o Ceará é o palco de conflitos, tendo como figura central o padre Cícero, o famoso "Padim Ciço"; em todo o sertão vive-se o tempo do cangaço, com a figura lendária de Lampião. O Rio de Janeiro assiste, em 1904, a uma rápida mais intensa revolta popular, sob o pretexto aparente de lutar contra a vacinação obrigatória idealizada por Oswaldo Cruz; na realidade, tratava-se de uma revolta contra o alto custo de vida, o desemprego e os rumos da República. Em 1910, há outra importante rebelião, desta vez dos marinheiros liderados por João Cândido, o "almirante negro", contra o castigo corporal, conhecida como a "Revolta de Chibata". Ao mesmo tempo, em São Paulo, as classes trabalhadoras sob a orientação anarquista, iniciam os movimentos grevistas por melhores condições de trabalho. Essas agitações são sintomas de crise na "República do café-com-leite", que se tornaria mais evidente na década de 1920, servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana da Arte Moderna. O pré-modernismo deve ser situado nas duas décadas iniciais deste século, até 1922, quando foi realizada a Semana da Arte Moderna. Serviu de ponte para unir

Gabarito 1. a) O sambista, assim como o poeta parnasiano, apresenta um eu lírico que quer manter-se ao lado da amada quando ela pede para ele ir embora. A canção indica a continuidade do poema: ela permite que ele fique e o marido da amada os descobre. b) A diferença está na metrificação. Enquanto Lupicínio utiliza versos livres, Bilac usa versos decassílabos. 2. a) Uso de métrica rigorosa e de rimas ricas. b) Excesso de sentimentalismo: “Morrerei de aflição e de saudade”. 3. C

4. E, C, C, E, C

5. E

6. a) Duas características simbolistas no poema são: o misticismo religioso e a musicalidade. b) A musicalidade podemos ler no uso das figuras de linguagem conhecidas por aliteração: “Em violas e violoncelos”. Já o misticismo religioso pode ser lido no vocabulário metafórico bíblico: “pomba”, “cordeiro”, “cruz”. 7. a) Paralelismo. b) O início de cada estrofe revela estrutura sintática semelhante: “Eras a canção de outrora/Eras a harmonia esparsa/Eras tudo, tudo quanto”. 8. a) Simbolismo. b) Em “O vento passa, brando, brando...” nota-se a sonoridade típica dos simbolistas ou ainda em “Escuto o vento assim passar...” além da sonoridade, nota-se a presença de elemento sensorial. 9. D

10. D

11. A

12. C

13. C

14. B

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 uma ligação com fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos, diminuindo a distância entre a realidade e a ficção.

os conceitos prevalecentes do Parnasianismo, Simbolismo, Realismo e Naturalismo. O pré-modernismo não foi uma ação organizada nem um movimento e por isso deve ser encarado como fase. Não possui um grande número de representantes, mas conta com nomes de imenso valor para a literatura brasileira que formaram a base dessa fase. O pré-modernismo, também conhecido como período sincrético. Os autores embora tivessem cultivado formalismos e estilismos, não deixaram de mostrar inconformismo perante suas próprias consciências dos aspectos políticos e sociais, incorporando seus próprios conceitos que abriram o caminho para o Modernismo. Essa foi uma fase de uma grande transição que nos deixou grandes joias como Canaã de Graça Aranha; Os Sertões de Euclides da Cunha; e Urupês de Monteiro Lobato. O que se convencionou em chamar de PréModernismo, no Brasil, não constitui uma escola literária, ou seja, não temos um grupo de autores afinados em torno de um mesmo ideário, seguindo determinadas características. Na realidade, Pré-Modernismo é um termo genérico que designa toda uma vasta produção literária que caracterizaria os primeiros vinte anos deste século. Aí vamos encontrar as mais variadas tendências e estilos literários, desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um novo regionalismo, outros preocupados com uma literatura política e outros, ainda, com propostas realmente inovadoras. Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma escola literária, apresentando individualidades muito fortes, com estilos às vezes antagônicos (como é o caso, por exemplo, de Euclides da Cunha e Lima Barreto), podemos perceber alguns pontos em comum entre as principais obras pré-modernistas. Apesar de alguns conservadorismos, são obras inovadoras, apresentando uma ruptura com o passado, com o academismo; a linguagem de Augusto dos Anjos, ponteadas de palavras "não poéticas" como cuspe, vômito, escarro, vermes, era uma afronta à poesia parnasiana ainda em vigor; a denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil literário herdado de Romantismo e Parnasianismo; o Brasil não oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios, é o grande tema do Pré-Modernismo;  o regionalismo, montando-se um vasto painel brasileiro: o Norte e Nordeste com Euclides da Cunha; o Vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito do Santo com Graça Aranha; o subúrbio carioca com Lima Barreto;  os tipos humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos;

Pré-Modernismo no Brasil Nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, o Brasil também viveu sua bélle époque. Nesse período nossa literatura caracterizou-se pela ausência de uma única diretriz. Houve, isso sim, um sincretismo estético, um entrecruzar de várias correntes artístico-literárias. O país vivia na época uma constante tensão. Nesse contexto, alguns autores refletiam o inconformismo diante de uma realidade sócio-cultural injusta e já apontavam para a irrupção iminente do movimento modernista. Por outro lado, muitas obras ainda mostravam a influência das escolas passadas: realista/naturalista/parnasiana e simbolista. Essa dicotomia de tendências, uma renovadora e outra conservadora, gerou não só tensão, mas sobretudo um clima rico e fecundo, que Alceu Amoroso Lima chamou de Pré-Modernismo. Quanto à prosa, podemos distinguir três tipos de obras: 1- Obras de ambiência rural e regional - que tem por temática a paisagem e o homem do interior. 2- Obras de ambiência urbana e social - retratando a realidade das nossas cidades. 3- Obras de ambiência indefinida - cujos autores produzem uma literatura desligada da realidade socioeconômica brasileira. CARACTERÍSTICAS ruptura com o passado - por meio de linguagem chocante, com vocabulário que exprime a “frialdade inorgânica da terra”. inconformismo diante da realidade brasileira mediante um temário diferente daquele usado pelo romantismo e pelo parnasianismo : caboclo, subúrbio, miséria, etc.. interesse pelos usos e costumes do interior - regionalismo, com registro da fala rural. destaque à psicologia do brasileiro - retratando sua preguiça, por exemplo nas mais diferentes regiões do Brasil. acentuado nacionalismo – exemplo Policarpo Quaresma. preferência por assuntos históricos. descrição e caracterização de personagens típicos - com o intuito de retratar a realidade política, e econômica e social de nossa terra. preferência pelo contraste físico, social e moral. sincretismo estético - Neorrealismo, Neoparnasianismo, Neossimbolismo. emprego de uma linguagem mais simples e coloquial - com o objetivo de combater o rebuscamento e o pedantismo de alguns literatos.

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Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: ‘- Meu pai foi à guerra - Não foi! - Foi! - Não foi!’ O sapo-tanoeiro Parnasiano aguado Diz: - Meu cancioneiro É bem martelado.

PRINCIPAIS AUTORES: Na poesia: Augusto dos Anjos, Rodrigues de Abreu, Juó Bananére, etc.. Na prosa: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato, Afonso Arinos, Simões Lopes, Afrânio Peixoto, Alcides Maia, Valdomiro Silveira, etc... MODERNISMO

A importância estética da Semana A Semana significou também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo musical e o parnasianismo literário esboroaram-se por inteiro. Os autores modernistas colocaram a renovação estética acima de outras preocupações. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado. Caberia a Mário de Andrade - verdadeiro líder e principal teórico do movimento - sintetizar a herança de 1922: A estabilização de uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira. A atualização intelectual com as vanguardas europeias. O direito permanente de pesquisa e criação estética. A Semana e a realidade brasileira A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários historiadores já a relacionaram com a revolta tenentista e com a criação do Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as aproximações não sejam imediatas, é flagrante o desejo de mudanças que varria o país, fosse no campo artístico, fosse no campo político.

A SEMANA DE ARTE MODERNA

Antecedentes europeus: AS VANGUARDAS Futurismo, Cubismo, Dadaísmo (o Surrealismo não influenciou diretamente a Semana, mas apenas o movimento da Antropofagia, de Oswald de Andrade.) Futurismo: Fundado pelo italiano Marinetti, foi o movimento de vanguarda que mais influenciou os nossos modernistas. Propunha uma ruptura total com o passado. Ao mesmo tempo, exaltava o "esplendor geométrico e mecânico do mundo moderno". Isso significava cantar a máquina, o aeroplano, o asfalto, o cinematógrafo. No plano formal, os futuristas suprimiram o eu poético, a pontuação, os adjetivos e usavam apenas o verbo no infinitivo, etc. Antecedentes brasileiros: A publicação, em 1917, de diversos livros de poemas em que jovens autores buscavam uma nova linguagem, ainda não bem realizada. (Nós, de Guilherme de Almeida; Juca Mulato, de Menotti del Picchia; Cinza das horas, de Manuel Bandeira; e Há uma gota de sangue em cada poema, de Mário de Andrade). A célebre exposição de Anita Malfatti, em 1917, e que foi duramente criticada por Monteiro Lobato em seu célebre artigo Paranóia ou mistificação. Jovens artistas paulistanos saíram, então, em defesa da pintora, criando uma polêmica que os ajudou a formar um grupo desejoso de mudar a arte e a cultura brasileira.

O Modernismo de 22 a 30 (Fase de destruição e experimentação) O projeto dos modernistas pode ser dividido em três linhas básicas que se conjugam: A) Desintegração da linguagem tradicional Questiona-se a arte acadêmica e suas fórmulas envelhecidas. O estilo parnasiano e o bacharelismo são os alvos prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal destruição, usa-se a paródia, o poema-piada, o sarcasmo.

A SEMANA DE ARTE MODERNA Realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana representou a ruptura barulhenta com os princípios estéticos do passado. A proposição de uma "semana" (na verdade, foram só três noites) implicava uma amostragem geral da prática modernista. Programaram-se conferências, recitais, exposições, leituras, etc. O momento mais sensacional deu-se na segunda noite, quando Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira: Os sapos, uma ironia corrosiva aos parnasianos que ainda dominavam o gosto do público.

B) Adoção das conquistas das vanguardas A liberdade de expressão, a visão do cotidiano, a linguagem coloquial e outras inovações desenvolvidas pelas vanguardas europeias são assimiladas, ainda que desordenadamente, pela geração de 22. A revista Klaxon, de 1922, e os primeiros textos publicados no ano da Semana mostram essa preocupação com a contemporaneidade. Não tem fundamento, portanto, a afirmativa de que os modernistas seriam antieuropeus. A identificação com as velhas matrizes culturais ainda é evidente.

Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra.

C) Busca da expressão nacional Em 1924, em Paris, Oswald de Andrade assiste a uma exposição de máscaras africanas. Elas parecem expressar a identidade dos povos negros da África.

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Nesse momento, o escritor se interroga: "E nós, os brasileiros, quem somos? Atrás dessa pergunta, começa a se delinear a luta por um abrasileiramento temático. Antes, as questões fundamentais eram estéticas. A partir de agora passam a ser também ideológicas: sonha-se com a delimitação de uma cultura brasileira, de uma alma verde-amarela.

prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama." A postura antropofágica como alternativa entre o nacionalismo conservador, antieuropeu e a pura cópia dos valores ocidentais: "Nunca fomos catequizados.(...) Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará." Caberia a Mário de Andrade, com o romance Macunaíma, e a Raul Bopp, com o poema Cobra Norato, a tentativa de levar para a criação literária as ideias do Manifesto. Não esqueça: Nos anos de 1967, Caetano Veloso e outros compositores populares – através do Tropicalismo – voltam a acenar com os princípios antropofágicos para combater a estreiteza da chamada M.P.B., que rejeitava a incorporação de elementos da música pop internacional à música brasileira.

A saída primitivista O novo nacionalismo irá assumir uma perspectiva crítica, um tom anárquico e desabusado. Celebra-se o primitivismo, isto é, as nossas origens indígenas e extraeuropeias. as civilizações aborígenes e também no folclore, nos aspectos míticos e lendários da cultura popular, quer se descobrir a essência do Brasil. Esta pesquisa de uma subjacente alma nacional só poderia ser realizada, no entanto, com o instrumental artístico da modernidade. Assim, o Brasil seria uma síntese entre o primitivo e o inovador.

Verde-Amarelo (1924) e Anta (1928): Com a participação de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado, estas tendências opõem-se ao primitivismo destruidor e debochado dos "antropófagos" através do reforço do "sentido de brasilidade" e de uma tendência conservadora e direitista no plano social.

Os movimentos primitivistas Pau-Brasil Lançado em março de 1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil trazia como ideias-chave: A junção do moderno e do arcaico brasileiros: "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos astéticos (...) A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de avaliação militar. Pau-Brasil." A ironia contra o bacharelismo: "O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. (...) A riqueza dos bailes e das frases feitas.(...) Falar difícil." A luta por uma nova linguagem: "A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (...) Contra a cópia, pela invenção e pela surpresa." A descoberta do popular: O Pau-Brasil descortina para os modernistas o universo mítico e ingênuo das camadas populares: "O Carnaval é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. A formação étnica rica. Riqueza vegetal."

CARACTERÍSTICAS A) Liberdade de expressão A importância maior das vanguardas residiu no triunfo de uma concepção inteiramente libertária da criação artística. Poética, de Manuel Bandeira, é um manifesto dessa nova postura, com seu célebre verso final: Não quero mais saber de lirismo que não é libertação. B) Incorporação do cotidiano O prosaico, o diário, o grosseiro, o vulgar, o resíduo e o lixo tornam-se os motivos centrais da nova estética. À grandiosidade da paisagem, Manuel Bandeira sobrepõe a humildade do beco: Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco. C) Linguagem coloquial A linguagem torna-se coloquial, espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, o estilo elevado com o estilo vulgar. O artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que, inclusive, admite erros gramaticais, conforme se vê neste poema de Oswald de Andrade:

Antropofagia: O manifesto antropofágico, lançado em 1928, amplia as ideias do Pau-Brasil, através dos seguintes elementos: A insistência radical no caráter indígena de nossas raízes: "Tupy or not tupy that is the question". O humor como forma crítica e traço distintivo do caráter brasileiro: "A alegria é a prova dos nove". A criação de uma utopia brasileira, centrada numa sociedade matriarcal, anárquica e sem repressões: "Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem

Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados.

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sendo meu livro moderno, elas têm nele sua razão de ser."

D) Inovações técnicas Verso livre Destruição dos nexos Paronomásia (junção de palavras de sonoridade muito parecida, mas de significado diferente). Enumeração caótica Colagem e montagem cinematográfica Liberdade no uso dos sinais de pontuação

Ficção: Amar, verbo intransitivo (1927); Macunaíma (1928); Contos novos (1946). Macunaíma: o herói sem nenhum caráter Macunaíma representa a adesão de Mário ao nacionalismo primitivista. Desde o início, o romance (ou a rapsódia, como queria o autor) apela para o suporte mitológico: a lenda indígena de Macunaíma é a base do texto. Há também no texto lendas sertanejas e caboclas, misturadas com os aspectos mágicos da cultura afrobrasileira, etc. O esforço de síntese percorre toda a rapsódia: síntese cultural, linguística, geográfica, psicológica. As andanças de Macunaíma da selva à cidade, em busca da pedra mágica (o muiraquitã), roubada pelo gigante Wenceslau, seus amores e aventuras servem para levantar os traços definidores daquilo que seria o caráter do homem brasileiro. O "herói de nossa gente" tem como características a preguiça, a irreverência, o deboche e uma sensualidade intensa. Em resumo, estamos frente á malandragem. Mas, de certa forma, é uma malandragem derrotada, pois Macunaíma retorna à selva, só lhe restando um destino mítico: subir aos céus e virar constelação. Não esqueça: Em sua linguagem tão múltipla, o relato satiriza os padrões da escrita acadêmica. A carta que Macunaíma envia às icamiabas (índias amazonas), por exemplo, é uma paródia da retórica bacharelesca que sempre caracterizou os letrados brasileiros.

MODERNISMO 1ª FASE (1922-1930) OS AUTORES DE 1922 OSWALD DE ANDRADE (1890-1954) Obras principais: Poesia: Poesia do pau-brasil (192 ); Teatro: O rei da vela (1937) Romances: Memórias sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1937) Os romances da destruição Os dois romances acima (ou anti-romances) desobedecem aos padrões tradicionais da narrativa, diluindo a separação entre prosa e poesia. Apresentam metáforas ousadas, neologismos e são totalmente fragmentários. Há uma grande quantidade de "capítulos-relâmpagos". No conjunto, os romances de Oswald de Andrade são descontínuos e antidiscursivos, predominando neles a ideia de montagem cinematográfica, isto é, da técnica do corte e da colagem dos múltiplos fragmentos. Como registrou uma estudiosa, eles "apresentam várias modalidades de linguagem: a cotidiana, a caipira, a bacharelesca, a de composições infantis, a dos diários íntimos. Inclui ainda os clichês, as frases feitas, piadas, neologismos, palavrões, etc..."

MANUEL BANDEIRA (1886-1968) Obras principais: Cinza das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da manhã (1936); Lira dos cinquent'anos (1948); Estrela da tarde (1963)

MÁRIO DE ANDRADE (1893-1945) Características gerais da poesia: Fusão entre a confissão pessoal e a vida cotidiana. Um clima de desejo insatisfeito e amargurado percorre a sua obra. A tuberculose impediu-o de viver profundamente. Desta forma, a poesia representou para ele "toda a vida que podia ter sido e que não foi." Os poemas Vou-me embora pra Pasárgada ("Voume embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei"), Balada das três mulheres do sabonete Araxá e Estrela da manhã se inserem nesta linha do desejo insatisfeito. Outro tema dominante em sua poesia é o da morte. Bandeira é também um grande poeta do cotidiano: descobre o lirismo perdido nos becos, nos arrabaldes, em pobres quartos de hotel e em tudo que é irrisório e banal.

Obras principais: Poesia: Pauliceia desvairada (1922); Clã do jabuti (1927); Lira paulistana (1946) A obra mais importante é Pauliceia desvairada até por causa de seu prefácio, denominado pelo autor Prefácio interessantíssimo. Nele, Mário teorizara sobre sua própria poesia e sobre as tendências modernistas do novo lirismo: "Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contato com o futurismo. Oswald de Andrade chamando-me de futurista errou.(...). Escrever arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual no que tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto. 'Si' estas palavras frequentam-me o livro não é porque pense com elas escrever moderno, mas porque

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LITERATURA

Sua expressão poética é de absoluta simplicidade. Uma simplicidade que o levou a desconsiderar (equivocadamente) a importância de sua própria poesia:

Composto por oitenta e cinco romances, O romanceiro da Inconfidência oferece uma visão dramática e lírica da sociedade mineira do século XVIII, de suas principais figuras humanas e do levante republicano abortado pela denúncia de Joaquim Silvério:

Criou-me, desde eu menino Para arquiteto meu pai Foi-se-me um dia a saúde... Fiz-me arquiteto? Não pude! Sou poeta menor, perdoai!

Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério: que ele traiu Jesus Cristo tu trais um simples Alferes...

Não esqueça: Manuel Bandeira é o poeta que melhor realiza a síntese entre a grande tradição da lírica ocidental e a radicalidade da poesia moderna. Da tradição, herda os temas universais (morte, infãncia, desejo amoroso, questionamento da vida). Do modernismo, o coloquial, o cotidiano e o verso livre. Outros autores de 1922 Raul Bopp - Cobra Norato (poesia) Vinculação à antropofagia Poema baseado numa lenda amazônica Antônio de Alcântara Machado - Brás, Bexiga e Barra Funda (contos) Realismo irônico e sentimental Valorização do imigrante italiano Estilo coloquial

Não esqueça: O romanceiro da Inconfidência é um texto que parte de uma reflexão sobre a história concreta do levante mineiro e alcança uma dimensão lírica superior, tornando-se uma interrogação sobre o sentido das ações humanas. MÁRIO QUINTANA (1906- 199) Obras principais: Rua dos cataventos (1940); Sapato florido (1948); Espelho mágico (1951); O aprendiz de feiticeiro (1950); Do caderno H (1973); Apontamentos de história sobrenatural (1976); Velório sem defunto (1990) Características principais: Herança simbolista Temática da morte e da tristeza das coisas. Linguagem de absoluta simplicidade.

MODERNISMO 2ª FASE (1930-1945) A POESIA MODERNA CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)

A melancolia dos versos está determinada por um clima de derrocada pessoal. O indivíduo percebe o fim de tudo e sente-se perdido numa realidade imprecisa, cheia de noites silenciosas e de cenas surreais, indicando a herança simbolista. A ideia da morte perpassa todo o discurso poético:

Obras principais: Viagem (1939); Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); O romanceiro da Inconfidência (1953) Características gerais: Uma poesia presa à tradição lírica do passado. Há nela forte herança simbolista: a maioria das obras expressa estados de ânimo, vagos e quase incorpóreos. Além disso, certas imagens naturais como o mar, a areia, a espuma, a lua, o vento etc., por sua repetição obsessiva, acabam também ganhando uma dimensão simbólica. Predominam os sentimentos de perda amorosa e solidão. A atmosfera de dor existencial é ampliada pela insistência no tema da passagem do tempo. Sua linguagem é elevada, sublime, com pouca presença do coloquial. O romanceiro da Inconfidência: É a sua experiência poética mais significativa. Para escrevê-lo, pesquisou todos os elementos históricos que compuseram o evento. Ao mesmo tempo, encontrou uma forma poética específica do passado ibérico: o romanceiro. Trata-se de um conjunto de poemas narrativos, unidos por um tema central. Cada poema é um romance.

Da vez primeira em que me assassinaram Perdi um jeito de sorrir que eu tinha... Depois, de cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha... Os poemas em prosa Aparecem em Sapato florido e em Do caderno H. São poemas curtos em prosa. Lembram epigramas, pois são curtos e geralmente irônicos. Uma ironia estabelecida sobre o cotidiano. O poeta mergulha na vida prosaica, surpreendendo-lhe os aspectos risíveis, insólitos ou até mesmo trágicos. Manuel Bandeira denominou "quintanares" a esses poemas curtos. Cartaz para uma Feira do Livro Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem. Indecência Na verdade, a coisa mais pornográfica é a palavra 'pornografia'.

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I - A primeira fase insere-se na linha de um neossimbolismo, de conotações místicas, em que há um debate entre as solicitações da alma e as do corpo. I II - A segunda fase, iniciada com Cinco elegias, assinala a explosão de uma poesia mais viril. "Nela - segundo o próprio Vinícius - estão nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil, mas consciente repulsa ao idealismo dos primeiros anos."

JORGE LIMA (1893-1953) Obras principais: A túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Invensão de Orfeu (1952) Sua carreira poética iniciou-se sob o signo parnasiano. Apresenta uma fase nordestina caracterizada pela registro poético da realidade existencial, cultural e histórica da região. O popular aparece identificado com o mundo dos engenhos decadentes. Captação (com uma linguagem cheia de expressões populares) do saber, das crenças e dos aspectos pitorescos desse universo rural nordestino. Valorização da religiosidade de substrato católico. Teve ainda uma fase de celebração da cultura negra, seus ritmos e costumes. Usou um linguajar afrobrasileiro para conferir maior verdade antropológica e linguística aos textos. Essa negra Fulô louva o sensualismo das escravas e virou peça antológica:

Características principais: Sua tendência ao verbalismo é contida pelo uso frequente do soneto. Seu grande tema é o amor. O amor em suas múltiplas manifestações: saudade, carência, desejo, paixão, espanto. Registra uma nova concepção sentimental, mais concreta, mais livre de preconceitos, mais atenta às mulheres. Em seus poemas, destrói noções como a da eternidade do amor - dogma do Brasil patriarcal – em versos célebres como aquele "que seja eterno enquanto dure", extraído do Soneto da fidelidade. A partir dos anos de 1940 e 1950, o poeta se inclina por uma lírica comprometida com o cotidiano, buscando inclusive os grandes dramas sociais do nosso tempo. (O operário em construção e Rosa de Hiroshima, cujos versos iniciais transcrevemos, são os exemplos mais conhecidos):

Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no banguê dum meu avô uma negra bonitinha chamada Fulô (...) Sinhô foi ver a negra levar couro do feitor A negra tirou a roupa. O Sinhô disse: Fulô! (A vista se escureceu que nem a negra Fulô.)

Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas

MURILO MENDES (1901-1976)

Não esqueça: Além de poeta, Vinícius de Moraes trilhou com êxito a carreira de compositor de música popular, tornando-se o grande letrista da Bossa Nova, com clássicos como Garota de Ipanema e Chega de saudade. A exemplo do soneto, a canção obrigou-o a restringir seus excessos verbais.

Obras principais: Tempo e eternidade (com Jorge de Lima, 1935); As Metamorfoses (1944); Contemplação de Ouro Preto (1954) Começa com uma poesia de inspiração modernista, em que predominava o humor. Depois, sua poesia assume uma dimensão religiosa, requintada e quase hermética. Apresenta uma linguagem próxima do surrealismo, definida por alucinações, uso de símbolos e alegorias e acentuada abstração da vida cotidiana.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1989) Obras principais: Alguma poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do mundo (1940); A rosa do povo (1945); Claro enigma (1951); Fazendeiro do ar (1954); Lição de coisas (1962); Boitempo (1968); As impurezas do branco (1974); O corpo (1984); Amar se aprende amando (1985) Obras em prosa: Fala, amendoeira e Cadeira de balanço (crônicas); Contos de aprendiz

VINÍCIUS DE MORAES (1913-1980) Obras principais: Novos poemas (1938); Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946)

Características principais: A multiplicidade quase infinita de assuntos. A rigor, podemos dizer que a sua obra estrutura-se sobre sete

A obra de Vinícius de Moraes divide-se em duas fases:

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temas básicos: a poesia social; a de reflexão existencial (o eu e o mundo); a poesia sobre a própria poesia; a do passado; a do amor; a do cotidiano; a da celebração dos amigos. A linguagem de impressionante invenção e capacidade sugestiva, herdeira tanto da tradição lírica ocidental (o tom sublime e elevado) quanto das experiências radicais dos vanguardistas do século XX (a dicção coloquial e prosaica). Uma linguagem capaz de explorar as infinitas faces das palavras, gerando uma expressão de notável riqueza polissêmica e, portanto, de não menos notável possibilidade interpretativa. A presença do gauche, visível no Poema de sete faces, que abre o primeiro livro, Alguma poesia, e que prosseguiria como um dos elementos mais inusitados da personalidade poética do escritor: "Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida." O gauche (esquerdo, em francês) é o anti-herói, o torto, o desajeitado, o errado, o sujeito em desacerto com o mundo, para quem as coisas não dão certas. Um intenso "humour" – um dos elementos-chave para a compreensão de sua obra – que é o humor sutil, quase sempre corrosivo, uma espécie de olhar enviesado sobre a realidade e que esconde, sob o seu manto, uma complexa reflexão a respeito do sentido das coisas, conforme podemos observar em poemas célebres como Quadrilha e No meio do caminho. O aspecto nuclear da obra de Drummond é o da reflexão existencial. Sua poesia exprime, como nenhuma outra no país, a angústia da alma humana frente às correntezas convulsas do destino. A solidão, a incomunicabilidade, a lógica misteriosa da existência, o fluir do tempo, a relação de perdas e ganhos na trajetória do homem, a luta do ser contra a morte e a procura uma saída redentora para o indivíduo constituem os principais motivos desta lírica filosófica. Um dos exemplos mais conhecidos é José:

Características Ênfase nas questões ideológicas e sociais. E não mais no projeto estético da geração de 1922 Rejeição ao experimentalismo técnico e ao gosto pela paródia, substituídos por um realismo mais ou menos trivial: retrato direto da realidade, busca da verossimilhança, linearidade narrativa, etc. Tipificação social explícita (indivíduos que representam as várias classes sociais) Construção de um mundo ficcional que deve dar a ideia de abrangência e totalidade. Tomada de consciência do subdesenvolvimento (atraso e miséria do país) ·Denúncia contínua da situação opressiva vivida por camponeses e operários Tentativa de comunicação com as massas através de uma linguagem coloquial Valorização da realidade rural que levou os críticos a designarem o período como regionalista. OS MUNDOS NARRADOS 1) Romances de temática agrária A) A ascensão e queda dos coronéis: Banguê e Fogo morto, de José Lins do Rego; Terras do sem fim e São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado; e O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Estes relatos oscilam entre a saga (exaltação com traços épicos) e a crítica mais contundente, seja a ideológica (Jorge Amado), seja a ética (Erico Verissimo). No caso específico de José Lins do Rego, predomina um tom nostálgico e melancólico diante das ruínas dos engenhos. B) Os dramas dos trabalhadores rurais: Seara vermelha, de Jorge Amado; e Vidas secas, de Graciliano Ramos. Ambos correspondem a uma impugnação da realidade latifundiária nordestina. C) O confronto entre o Brasil rural e o Brasil urbano, visível no choque entre Paulo Honório e Madalena em São Bernardo, de Graciliano Ramos. A obra sintetiza o descompasso entre a mentalidade patriarcal-latifundiária e a urbana modernizada. Também de Graciliano Ramos, Angústia revela a solidão e a destruição de Luís da Silva, descendente da oligarquia, na teia complexa das relações citadinas.

E agora, José? A festa acabou a luz apagou o povo sumiu a noite esfriou e agora José? e agora, você? você que é sem nome que zomba dos outros, você que faz versos que ama, protesta? e agora, José?

Por outro lado, tanto em A bagaceira, de José Américo de Almeida, romance inaugural do ciclo de 1930, quanto em O quinze, de Rachel de Queiroz, os personagens principais, Lúcio e Conceição – embora filhos das velhas elites agrárias – foram modernizados pela escolarização na cidade. Por isso, acabam questionando o horror da seca, da miséria e o atraso do latifúndio.

O ROMANCE DE 1930 (A vitória do neorrealismo) (Conjunto de narrativas, escritas entre os anos de 1930 e 1960, oriunda de famílias oligárquicas decadentes, com uma visão de mundo crítica, um sentido missionário da literatura e padrões cartísticos bastante próximos do realismo do século XIX).

2) Romances de temática urbana A urbanização ininterrupta do país levou os narradores a olhar para a nova realidade que se constituía, fosse sob o prisma da denúncia (Jorge Amado, Amando Fontes),

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da adesão crítica (Erico Verissimo) ou de uma tristeza impotente (Cyro dos Anjos). Os núcleos temáticos abordados foram:

no. Aqui a técnica despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migração apenas a morte. Severino continua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notícia do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai visitá-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência de todos os "severinos" do Nordeste.

A) As camadas populares, trabalhadores e marginais: Jubiabá, Capitães de Areia e Mar morto, de Jorge Amado; Os Corumbas e Rua do Siriri, de Amando Fontes. B) Os setores médios (pequena burguesia): A tragédia burguesa, de Otávio de Faria, Os ratos, de Dyonélio Machado e toda a primeira fase de Erico Verissimo, o chamado ciclo de Clarissa.

E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida (...) vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida severina.

A GERAÇÃO DE 1945 Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do texto torna-se o objetivo básico desta geração, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.

A POESIA CONCRETA A partir de 1952, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres. Reação contra a lírica discursiva e frequentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta procura se filiar às experiências mais ousadas das vanguardas do século XX. Ela poderia ser sintetizada assim: a) linguagem sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial; b) valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões na página; c) o poema ganha o espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto: d) utilização de recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.

POESIA JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998) Obras principais: Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975). Sua obra se articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida como esforço em busca da síntese, do despojamento total. Poesia é lenta e sofrida pesquisa de expressão: "Não a forma encontrada / como uma concha perdida (...) / mas a forma atingida / como a ponta do novelo / que a atenção, lenta, / desenrola (...) Os primeiros textos de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição) iniciam a aventura da expressão mínima e contida. Em O cão sem pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe, com sua sujeira, seus detritos e com a população miserável que lhe habita as margens, trágico espelho do subdesenvolvimento: "Na paisagem do rio / difícil é saber / onde começa o rio; / onde a lama / começa no rio / onde a terra começa da lama; / onde o homem, / onde a pele / começa da lama; / onde começa o homem / naquele homem."

ovo novelo novo no velho o filho em folhos na jaula dos joelhos infante em fonte feto feito dentro do centro

FERREIRA GULLAR Obras principais: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976) Iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta.

MORTE E VIDA SEVERINA A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal pernambuca-

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Após romper com os concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da época, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes, excessivamente politizada e prosaica. A publicação de Poema sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e formais. Poema sujo é uma espécie de síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experiências vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas angústias e esperanças, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia "suja" com os resíduos da realidade. Em Poema sujo, as ideias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se, tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em meio às primeiras crises da ditadura militar.

da que a modernidade urbana /capitalista avança, o mítico tende a ser dissolvido. A presença do demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na categoria do realismo mágico. Alguns contos de Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira margem do rio, de Primeiras estórias. Grande sertão veredas A temática da "jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste romance, que se estrutura no jogo dialético do presente e do passado. Assim: Plano presente: O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências, Riobaldo formula uma série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a presença real ou fictícia do demônio, etc. Plano passado: Focaliza as experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo sertão mineiro. Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e historicamente falando. Numa espécie de "banalidade do mal", os bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no narrador o processo amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio, o sangue e a perfídia.

TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS PROSA DE FICÇÃO A FICÇÃO DE TEMÁTICA RURAL JOÃO GUIMARÃES ROSA Obras principais: Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites do sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutameia (contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969). Caraterísticas básicas: A primeira grande inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopeias, inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser resumida assim:

Não esqueça: A obra de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro –ultrapassa pela linguagem revolucionária e pela indagação a respeito da questões fundamentais do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.

Linguajar sertanejo + Recriação estilística = Linguagem revolucionária Observe o início de Grande sertão: veredas: Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara de cachorro.

A FICÇÃO URBANA CLARICE LISPECTOR (1926-1977) Obras principais: Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); Laços de família (contos, 1960); A legião estrangeira (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A hora da estrela (romance, 1977).

O mundo retratado em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem vínculos com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a consciência mítica dos protagonistas. Esta consciência mágica explica o mundo pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam sinais de potências misteriosas e inexplicáveis. À medi-

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co na parede (contos –1993), Do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto (novela - 1997) Sua carreira iniciou-se pelo conto, gênero onde atinge o seu apogeu. Normalmente, suas histórias (em especial, os romances) são apresentadas sob a estrutura da narrativa policial. Há um crime ou um mistério a ser desvendado e vários dos personagens principais ou são da polícia ou detetives particulares ou advogados criminalistas. Um dos temas dominantes de seus contos e romances é a violência que percorre as ruas brasileiras, numa espécie de guerra civil não declarada. O outro alvo de sua literatura é a solidão dos indivíduos nas grandes metrópoles. Quase todos os protagonistas são opressos pela sensação de isolamento. O contato amoroso com outros seres parece dar-se apenas no campo sexual. O que confere maior verossimilhança ainda a seus relatos são a técnica e a linguagem. O escritor sente-se à vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo tempo o protagonista. Mas para cada tipo social existe uma linguagem distinta. O assaltante tem seu código, o seu estilo, e assim o industrial, numa multiplicidade linguística verdadeiramente assombrosa.

Características básicas: É a intérprete mais sofisticada da chamada ficção introspectiva. Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas e estados interiores das personagens. No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo interior. Sua linguagem é excepcionalmente densa e inovadora. A hora da estrela Relativa exceção a esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo) acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabeia) que vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado, pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela", conforme lhe profetiza uma cartomante, quando no fim do relato é atropelada e morta por um automóvel. DALTON TREVISAN (1925) Obras principais: Novelas nada exemplares (1965); A guerra conjugal (1969); Cemitério de elefantes (1970); Os desastres do amor (1968); O vampiro de Curitiba (1970); Faca no coração (1972); A polaquinha (novela, 1992). Sua obra é basicamente composta por contos. Coloca Curitiba como o cenário simultaneamente mágico e vulgar de seus relatos. Seus personagens vivem em torno dos desastres do amor. Uma sucessão de desejos alucinados, taras, compulsões, traições cruéis, crimes do coração, paixões proibidas e infelizes compõem o seu mundo ficcional. Um personagem símbolo desse mundo de paixões terríveis e solidão não menos assustadora é Nelsinho, rapaz que vaga pela cidade em busca de sexo e afeto. Ele é o célebre vampiro de Curitiba:

A CRÔNICA Gênero literário marcado por certa efemeridade, na medida em que registra a vida diária, os acontecimentos que são marcantes no dia-a-dia. Fernando Sabino definiu-a como a "busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um". Apresenta um caráter jornalístico, desenvolvendo-se já no século XIX, com José de Alencar e Machado de Assis, sob o nome de folhetim (o mesmo do romance romântico em capítulos). Nas décadas de 1950 e 1960, a crônica atingiu sua culminância. Estes pequenos comentários a respeito das coisas banais ora assumem uma tendência mais terna e lírica, aproximando-se da poesia; ora centralizam-se na crítica humorística dos acontecimentos e dos costumes.

Ai, me dá vontade até de morrer. Veja só a boquinha dela como está pedindo beijo – beijo de virgem é mordida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É das que molham os lábios com a ponta da língua para ficar mais excitante (...). Se eu fosse me chegando perto, como quem não quer nada – ah, querida é apenas uma folha seca ao vento – e me encostasse bem devagar na safadinha...

CRÔNICA LÍRICA RUBEM BRAGA (1913-1990) Obras principais: O conde e o passarinho(1936); Um pé de milho (1948); O homem rouco (1949); A borboleta amarela (1956); A cidade e a roça(1957); Ai de ti, Copacabana(1960). Registro da poesia oculta nos momentos mais triviais da vida diária Evocação de amores perdidos e do tempo que flui Celebração da beleza geográfica, humana e artística do Rio de Janeiro, ainda que com certa dimensão melancólica.

RUBEM FONSECA (1925) Obras principais: Os prisioneiros (contos - 1963); A coleira do cão (contos - 1965); Lúcia McCartney (contos - 1970); Feliz ano novo (contos -1975); O cobrador (contos -1980); A grande arte (romance - 1983); Buffo e Spalanzanni (romace -1985); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (romance -1988); Agosto (romance- 1990), Bura-

CRÔNICA DE HUMOR Tradicional dentro do jornalismo brasileiro, a crônica de humor sempre teve larga aceitação. Poderia ser dividida (um pouco arbitrariamente) em crônica de humor leve -

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visando sobremodo o riso - e a crônica satírica, na qual o deboche atinge instituições ou figuras públicas. No primeiro grupo poderíamos destacar o nome de Fernando Sabino. No segundo, Lima Barreto foi um precursor genial e sarcástico, fulminando as elites intelectuais e burocráticas do Rio, na República Velha, através dos ferinos comentários de Bruzundangas (o Brasil).

carioca. Já a tragédia carioca assimilou o mundo psicológico e mítico da obra rodrigueana." Vestido de noiva Em 1943, a encenação de Vestido de noiva renovou por completo as bases formais e ideológicas do teatro brasileiro. Nesta obra, a linguagem de Nelson Rodrigues revelava uma dimensão coloquial sem precedentes. - O aspecto renovador reside conjuntamente no fato do autor tornar-se o cronista dos traumas morais e sexuais da família tradicional. Seus personagens mantém uma conduta de aparente normalidade, mas, nos desvãos da sociedade, cometem uma série de crimes, quase todos vinculados ao comportamento sexual.

FERNANDO SABINO (1923) Obras principais: O homem nu (1960); A mulher do vizinho (1975). O humor jovial e divertido é a marca do cronista. Muitas de suas crônicas são pequenas histórias de final surpreendente, os que as aproxima do conto.

A história se passa em três níveis: a) (realidade) Atropelada, uma jovem senhora, Alaíde, é operada num hospital. b) (alucinação) A moribunda divaga, encontrando, em seu delírio, Madame Clessi, famosa prostituta do início do século, assassinada pelo amante adolescente, e de quem Alaíde, no plano real, tinha um diário de confidências. Nesta atração, condensam-se todos os desejos reprimidos de Alaíde, entediada de seu marido, Pedro. c) (memória) Revela-se, pouco a pouco, que Alaíde roubara Pedro de sua própria irmã, Lúcia. A consciência culpada leva-a imaginar cenas de traição entre Pedro e Lúcia. No final, Alaíde morre e Lúcia, após período de hesitação, resolve casar-se com Pedro.

Não esqueça: Fernando Sabino tornou-se o romancista de toda uma geração ao escrever O encontro marcado (1956). Acompanhando a crise existencial, sexual e ideológica de três jovens em Belo Horizonte do pósguerra, construiu um quadro simultaneamente inocente e dramático das esperanças, frustrações e vida cotidiana dos jovens de classe média. LUÍS FERNANDO VERISSIMO (1936) Obras principais: O popular; Ed Mort; O analista de Bagé; O gigolô das palavras (1986); Comédias da vida privada; Comédias para se ler na escola (2001) Criador de tipos risíveis que entram no anedotário brasileiro: o analista de Bagé, o fracassado detetive Ed Mort e a Velhinha de Taubaté. A consolidação do sucesso de público veio com a publicação das Comédias da vida privada. São crônicas de humor retratando as contradições amorosas, sexuais, espirituais, geracionais e econômicas das classes médias urbanas, com seus pequenos dramas existenciais que se prestam mais ao humor do que à tragédia humana.

BIBLIOGRAFIA - NICOLA, José de. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. 16ª edição. São Paulo: Scipione, 2004; - INFANTE, Ulisses. Curso de Literatura de Língua Portuguesa. 1ª edição. São Paulo: Scipione, 2001. - www.biblio.com.br - www.portasdasletras.com.br - www.folhetim.com.br - www.educaterra.terra.com.br - www.itaucultural.org.br - www.literatura.pro.br -

O TEATRO CONTEMPORÂNEO NELSON RODRIGUES (1912-1981) Principais peças: O crítico Sábato Magaldi estabeleceu uma divisão temática das peças: - Peças psicológicas (Vestido de noiva - Viúva, porém honesta, etc.) - Peças míticas (Álbum de família - Senhora dos afogados) - Tragédias cariocas (A falecida - Beijo no asfalto - Os sete gatinhos - - Boca de ouro - Toda a nudez será castigada, etc.) Segundo Magaldi: "As peças psicológicas abordam elementos míticos e da tragédia carioca. As peças míticas não esquecem o psicológico e nelas aflora a tragédia

196 TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br


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