Cidade dos Espíritos

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CIDADE DOS ESPÍRITOS

UMA APROXIMAÇÃO ENTRE ESPIRITISMO E ARQUITETURA



UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO | CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA | CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO DESENVOLVIDO PELA ALUNA RAFAELA PAES DE ANDRADE ARCOVERDE SOB ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA ANA LUISA ROLIM E CO-ORIENTAÇÃO DE ROBSON CANUTO EM ATENDIMENTO AS EXIGÊNCIAS DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO.

RECIFE 2015



"NASCER, MORRER, RENASCER AINDA E PROGREDIR SEM CESSAR, TAL É A LEI" (ALLAN KARDEC)


AGRADECIMENTOS

A Deus – inteligência suprema, causa primaria de todas as coisas; e a todos os seus benfeitores, que trabalham pelo progresso da humanidade. A minha mãe Ana Paula Paes de Andrade e meu irmão Guilherme Paes de Andrade Arcoverde, pela compreensão, paciência, além do apoio durante toda a jornada, o que, em especial, também agradeço à minha tia Patrícia Roberta Paes de Andrade por todo o tempo e empenho dispensados ao meu projeto. Aos meus avós, Hermy de Carvalho Paes de Andrade e Maria da Penha Paes de Andrade por se preocuparem comigo e pelo apoio constante em toda a minha caminhada.


À minha irmã Renata Arcoverde Colier Perrussi e meus sobrinhos Luiz Felipe e Bruno por compreenderem minha ausência. Aos meus amigos de todos as horas que compartilharam os aperreios, as inseguranças, as brigas e as alegrias, em especial Maria Eduarda de Sá, Karen Larissa Santos e Thúlya Albuquerque A minha professora e orientadora Ana Luisa Rolim pela paciência, confiança, estímulo e dedicação dispensadas. Ao meu professor e co-orientador Robson Canuto pelo carinho, consideração, determinação, companheirismo e respeito.

Aos professores, que com sua assertividade e objetividade, contribuíram para a formação acadêmica e pessoal, especialmente Lourdinha Nóbrega. À família da URB, pelo carinho, amizade e compreensão, em especial à Alcilene Sousa, Aurelina Moura, Vera Freire, Fátima Caloete e Rúbia Campêlo. Aos amigos do dadão, pelo tratamento

Plano Centro Cie pela acolhida.

A Federação Espírita Pernambucana, especialmente representada por: José Carlos Gomes, Ednar Santos e Edson Caldeira.


DEDICATÓRIA


Dedico este trabalho a Patrícia Roberta Paes de Andrade, Ana Luisa Rolim e Robson Canuto, pela importância na realização do referido trabalho, devido a todo empenho, estímulo e dedicação.


SUMÁRIO

ARQUITETURA DO ESPIRITISMO – INTRODUÇÃO

1.1. O que é o Espiritismo?

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1.2. Espírito, períspirito e corpo

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1.3. O centro espírita e o caráter arquitetônico

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1.4. Objetivos

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ARQUITETURA DA FENOMENOLOGIA – CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA 2.1. Fenomenologia

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2.2. Atmosfera

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2.3. Tectônica

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2.4. Percepção

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ARQUITETURA DA CASA ESPÍRITA – JUSTIFICATIVA 3.1.Casa Espírita 3.2. A carência do espaço existencial 3.3. Leis de Conservação, Destruição e Progresso 3.4. A edificação como elemento de elevação espiritual

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS 4.1. Crematório de Baumschulenweg (Axel Schultes e Charlotte

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Frank- Berlim, Alemanha) 4.2. Museu do Holocausto (Daniel Libeskind - Berlim, Alemanha)

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4.3. Capela de São Benito (Peter Zumthor - Sumvitg, Suíça )

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CIDADE DOS ESPÍRITOS: UM CARÁTER PARA O CENTRO ESPÍRITA – PROPOSTA 5.1.Contexto histórico

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5.2. O bairro

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5.3. O terreno

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5.4. Usos

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5.5. Cheios e vazios

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5.6. Gabarito

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5.7. Ventilação e Iluminação

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5.8. Legislação

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5.9. Diretrizes

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5.10. Programa e Pré-dimensionamento

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5.11. A proposta

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ANEXOS

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ARQUITETURA DO ESPIRITISMO - INTRODUÇÃO


ARQUITETURA DO ESPIRITISMO

“Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os

1.1. O QUE É ESPIRITISMO?

O termo “espiritismo” tem sido vulgarmente aplicado para designar tudo o que diz respeito à comunicação com os espíritos. Entretanto, o termo “spiritisme”, de origem francesa, onde “spirit” significa espírito e “isme” doutrina, surgiu como um neologismo, mais precisamente uma amálgama, criada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, também conhecido por Allan Kardec¹, para nomear especificamente o corpo de ideias por ele sistematizadas em “O Livro dos Espíritos” (1857). “O verdadeiro Espírita não é aquele que crê nas manifestações, mas aquele que aproveita o ensinamento dado pelos Espíritos. De nada serve crer, se a crença não o faz dar um passo à frente no caminho do progresso, e não o torna melhor para o seu próximo”. (KARDEC apud. MARTINS e SOARES, 2015 )

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Por esta razão, o termo “espiritismo kardecista” é rejeitado por parte dos adeptos da doutrina que reservam a palavra “espiritismo” apenas para a doutrina tal qual codificada por Kardec, afirmando não haver diferentes vertentes dentro do espiritismo, e denominam as demais correntes de “espiritualistas”. (CARVALHO, 2015)

vocábulos; espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia.[...] Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria.” (KARDEC,2007: p.15)

O Espiritismo, ou seja, a doutrina dos espíritos, rege seus princípios considerando três vertentes: a religião, a filosofia e a ciência, como base teórica. “A ciência, a filosofia e a religião constituem o triângulo sublime sobre o qual a doutrina do espiritismo assenta as próprias bases, preparando a humanidade do presente para a vitória do amor.“ (CORREIO ESPÍRITA, 2015)

¹Allan Kardec, notabilizou-se como o codificador do Espiritismo. Foi discípulo do reformador educacional Johann Heinrich Pestalozzi e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre fenômenos paranormais.


A religião sublima - a doutrina visa a transformação moral do homem, retomando os ensinamentos de Jesus Cristo, para que sejam aplicados na vida diária de cada pessoa. Revive o Cristianismo na sua verdadeira expressão de amor e caridade. A filosofia indaga - compreendendo as consequências morais que derivam das relações que se estabelecem entre nós e os espíritos, proporciona uma coerente e exata interpretação da vida. A ciência explica - o sobrenatural não existe; todos os fenômenos, mesmo os mais estranhos, têm explicação científica. O Espiritismo é ciência porque estuda, à luz da razão e de pesquisas específicas, os fenômenos mediúnicos que são, de fato, naturais. Dentre os principais pontos da doutrina destaca- se que “Deus, inteligência suprema, causa primaria de todas as coisas, criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.” (KARDEC, 2007: p.65) Neste sentido, “os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos.”(KARDEC,2007:p.28 ) “O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo” (KARDEC, 2007: p.28); enquanto “o mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso alterasse a essência do mundo espírita”. (KARDEC, 2007: p.28 )

não morre, ao passo que o corpo é simples acessório sujeito a destruição. Sua existência, portanto, é tão natural depois como durante a encarnação; está submetido às leis que regem o princípio espiritual, como o corpo o está às que regem o princípio material; mas, como estes dois princípios têm necessária afinidade, como reagem incessantemente um sobre o outro, como da ação simultânea deles resultam o movimento e a harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a materialidade são duas partes de um mesmo todo, tão natural uma quanto a outra, não sendo, pois a primeira uma exceção, uma anomalia na ordem das coisas“. (KARDEC,2006 : p.283 )

Sendo assim, para que haja a evolução espiritual é necessário ao espírito a existência na Terra, onde assumirá o corpo humano e passará pelas provas e expiações aqui destinadas a ele. Desta forma, cabe ao próprio ser sua transformação moral e consequente evolução espiritual. Os espíritos não se acham no mesmo plano evolutivo, “pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado.” (KARDEC, 2013 : p.90 ) “Na primeira colocar-se-ão os que atingiram a perfeição máxima: os puros Espíritos. Forma a segunda os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos. A ignorância, o desejo do mal e todas as

“[...] o Espírito mais não é do que a alma so-

paixões más que lhes retardam o progresso, eis

brevivente ao corpo; é o ser principal, pois que

o que os caracteriza.” (KARDEC, 2007:

p.101 )

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Como a perfeição é a destinação de todos os Espíritos, cumpre a cada um trabalhar em sua própria evolução, seguindo os preceitos morais do Cristo que se resumem em fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizesse, isto é, fazer o bem e não o mal. Sendo assim, o homem encontra neste princípio, a regra universal de conduta para as suas menores ações: “Amor e Caridade”, termo máximo de entendimento da doutrina espírita, abordado por Kardec em todo o pentateuco espírita, estruturado a partir de O Livro dos Espíritos (1857), seguido pelo O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868). A partir das obras do pentateuco Kardequiano o indivíduo passa a compreender a razão da sua existência e a sua destinação universal – a perfeição, alcançada através das sucessivas encarnações do espírito na matéria.

1.2. ESPÍRITO, PERISPÍRITO E CORPO

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O Espiritismo tem por principio as relações do mundo material com os seres do mundo invisível, os Espíritos. Para atuarem no mundo material, “os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade” (KARDEC, 2007: p.28), quando retornam ao mundo dos Espíritos. Após incontáveis observações e fatos irrecusáveis, Kardec (2007, p.29) concluiu que há no homem três componentes: primeiro, a alma

ou o ser imaterial, espirito encarnado no corpo; segundo o corpo, envoltório material e grosseiro que reveste temporariamente a alma para o cumprimento de certos desígnios providenciais; terceiro, o perispírito, laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o espírito. Segundo a doutrina, o homem tem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos extintos lhe são comuns; e pela alma participa da natureza dos Espíritos. “O homem é um espírito encarnado em um corpo material. O perispírito é o corpo semimaterial que une o espírito ao corpo material“ (KARDEC, 2007)

O perispírito é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro – o corpo. O espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se provisoriamente visível e mesmo tangível, como ocorre no fenômeno das aparições. Para que o espírito possa atuar na matéria, é preciso a intermediação do perispírito, já que a matéria é muito densa e o espírito extremamente sutil. “O Espírito não é pois um ser abstrato, indefinido, e sim um ser real, circunscrito que algumas vezes se torna apreciável pela vista, pelo ouvido, pelo tato”. (KARDEC,2013 :p.24)

As diferentes existências corpóreas do espírito são sempre progressivas, ou seja, o espírito não


regride, no máximo, estaciona; mas a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faz para chegar a perfeição. Dentre as diversas propriedades do perispírito, destacamos sua enorme capacidade plástica ou de maleabilidade, pois trata-se de matéria extremamente sutil, que difere da rigidez da matéria compacta do corpo. A luminosidade também é observada, pois a medida que o espirito se eleva moralmente, alcançando graus de pureza, seu perispírito passa a irradiar profunda luz.

1.3. O CENTRO ESPÍRITA E O CARÁTER ARQUITETÔNICO As casas espíritas, sendo instituições religiosas legalmente reconhecidas dentro da sociedade brasileira, são juridicamente classificadas como entidades sem fins lucrativos, ou seja, são organizações “dotadas de personalidade jurídica e caracterizadas pelo agrupamento de pessoas para a realização e consecução de objetivos e ideais comuns, sem finalidade lucrativa” (LEFISC, 2008) Em virtude de sua natureza jurídica, a manutenção do seu funcionamento é regularmente obtida a partir de doações, espontâneas e aleatórias, de ordens diversas, e do trabalho voluntário de seus sócios e frequentadores; e ainda, excepcionalmente, de doações de filantropos. As edificações das unidades espíritas surgem, quase em sua totalidade, a partir destas

doações, entretanto estas casas adquiridas não possuem estrutura adequada, caráter arquitetônico e atmosfera interior para atender ao extenso programa evangélico e assistencial existente nos centros. Para se adaptar a esta realidade, são executadas reformas nestas casas, descaracterizando-as quase que completamente. Além do exposto, o número de frequentadores vem aumentando consideravelmente nos últimos anos, onde, apesar das adaptações realizadas, as casas continuam sem condições materiais para atender a demanda sempre crescente do público nos dias atuais. Na tentativa de se ajustar a esta realidade, as casas estão sempre adaptando as edificações, quase sempre de forma irregular, sem acessibilidade, criando edifícios “pavilhonados” e mal distribuídos. Sendo assim, cria-se um paradoxo: de um lado, os objetivos da doutrina, que propõe uma relação com o divino a partir do respeito ao próximo e a si mesmo, e do outro lado, as edificações, que não conseguem proporcionar um acolhimento adequado aos frequentadores que buscam auxilio. Neste contexto, é possível afirmar que a construção de uma nova estrutura física para a FEP poderá proporcionar um ambiente mais propício para o acolhimento e a orientação evangélica, estimulando a evolução moral dos seus frequentadores? De que forma seria possível abordar essa relação com o divino? Será possível então trazer essa atmosfera desejada a edificação através da luz?

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1.4. OBJETIVOS

1.4.1. Objetivo Geral: Propor um anteprojeto arquitetônico para a Federação Espírita Pernambucana, buscando explorar os aspectos tectônicos para a sua arquitetura.

1.4.2. Objetivos Específicos: Evitar o “pavilhonamento” dos espaços, proporcionando maior interação entre trabalhadores e frequentadores da FEP. Explorar, através da arquitetura, a luz natural por meio de elementos vazados, proporcionando espaços de elevação espiritual e acolhimento ideal aos frequentadores que buscam auxilio espiritual. Trabalhar a tectônica por meio de cheios e vazios de maneira a evidenciar a luz natural, acentuando a percepção dos sentidos.

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ARQUITETURA DA FENOMENOLOGIA - CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA


ARQUITETURA DA FENOMENOLOGIA

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2.1. FENOMENOLOGIA

A fenomenologia apresenta-se como uma teoria filosófica que se aproxima da arquitetura ao problematizar a interação do corpo com o ambiente. Para tanto, aduz que a apreensão da arquitetura é um meio que se distingue pela presença tridimensional, o que pode ser observado a partir das sensações táteis, visuais, olfativas e auditivas. No pós-modernismo, a relação corpo e inconsciente voltou a se relacionar com a arquitetura. De acordo com a fenomenologia husserliana, este período foi marcado por “uma investigação sistemática da consciência e de seus objetos”, onde o homem moderno havia se tornado incapaz de refletir sobre a existência e o ser (NESBIT, 2013) Para Nesbit (2013, p.32), foi a partir da frase de Mies Van Der Rohe “Deus está nos detalhes” que se reavivou o interesse pelas qualidades sensoriais da luz, dos materiais, do tato e da simbologia presente na arquitetura. Para tanto, um dos trabalhos fenomenológicos mais influentes na arquitetura foi o de Heidegger, onde ele classifica habitar como “um permanecer [ou estar] com as coisas” (HEIDEGGER apud. NORBERG-SCHULZ, 1976 ). Norberg-Schulz (1976) interpreta o habitar de Heidegger como estar em paz em um lugar protegido, considerando este o objetivo

primordial da arquitetura. Com isso, Norberg-Schulz (1976) identifica como potencial fenomenológico na arquitetura a capacidade de dar significado ao ambiente, mediante a criação de lugares específicos, revivendo a ideia do genius loci – o espírito do lugar – de maneira a reestabelecer um elo com o sagrado. Desta forma, a tectônica do ambiente se torna elemento primordial, pois ela “explica o ambiente e exprime o seu caráter” (NORBERG-SCHULZ, 1976, p.32), assim sendo, o edifício, por mais que seja um templo, não representa nada: “O edifício encerra a figura do deus e nesse abrigo oculto deixa que ele se projete em todo o recinto sagrado através do pórtico aberto. Graças ao templo, o deus está presente no templo. Essa presença do deus é em si mesma a extensão e a delimitação do recinto como santuário.” (NORBERG-SCHULZ, 1983, p.463)

A forma, a materialidade, a textura e a cor, quando dão ideia de totalidade, definem um caráter peculiar à edificação, exprimindo a essência do lugar, a qualidade ambiental, “o lustro e a luminosidade da pedra, cujo brilho parece ser apenas um efeito do sol, evidenciam a luz do dia, a amplitude do céu, a escuridão da noite” (NORBERG-SCHULZ, 1983, p.463). Assim sendo, espaço e caráter são elementos interdependentes. O caráter é que exprime, antes de mais nada, a relação da edificação com o homem – “todo caráter consiste em uma correspondência entre o mundo externo e o mundo interno, entre o corpo e a alma” (OTTO FRIEDRICH apud.


NORBERG-SCHULZ, 1976, p.457) – e a essência do lugar – “toda presença está intimamente ligada ao caráter”. Sendo assim “um habitat tem de ser ‘protetor’; um escritório tem de ser ‘prático’; um salão de baile ‘festivo’; e uma igreja ‘solene’ ” (NORBERG-SCHULZ, 1976, p.451). De acordo com Heidegger, assim como na obra de arte, o edifício preserva a verdade, que pode ser compreendida através de três elementos: “Primeiro, o templo faz o deus presente. Segundo, ele articula o que dá ao ser humano a forma de seu destino. Finalmente o templo torna visíveis todas as coisas do mundo: a rocha, o mar, o ar, as plantas, os animais e até a luz do dia e a escuridão da noite. Em geral, o templo ‘abre um mundo e ao mesmo tempo volta a situá-lo sobre a terra’. Fazendo-o, confere verdade a obra.” (NORBERG-SCHULZ, 1983, p.465)

“Nem a terra nem o céu produzem sozinhos uma obra de arte” (NORBERG-SCHULZ, 1983, p.467), estes dois elementos são interdependentes, eles interagem entre si a todo instante, “as construções colocam a terra, ou seja, a paisagem habitada, perto do homem e ao mesmo tempo colocam sob a vastidão do céu a dimensão de vizinhança” (NORBERG-SCHULZ, 1983, p.468). Assim sendo, é a extensão e delimitação do lugar, através do edifício, que faz transparecer o significado oculto, revelado pelo templo e, simultaneamente, representa a hospedagem do deus e o presente destino das pessoas. A edificação também é uma forma da identificação cultural e relação com a história,

para Perez-Gomes, diante de uma arquitetura autêntica, o homem pode lidar com a mortalidade pela transcendência da habitação, “os espaços recebem suas essências dos lugares e não ‘dos espaços’ ” (NORBERG-SCHULZ, 1976, p.450). Sobre a ideia de espaço e lugar, Heidegger define os lugares como “[...]encarnações por meio de configurações escultóricas” (NORBERG-SCHULZ, 1983, p. 469), desta forma, materialidade de uma construção pode ser determinada por seu “existir entre a terra e o céu como forma escultural”, afinal, “a construção trás o mundo de volta a terra” (NORBERG-SCHULZ, 1983, p. 469). Assim sendo, a corporificação escultórica é a “[...] encarnação da verdade do Ser numa obra que funda seu lugar” (HEIDEGGER apud. NORBERG-SCHULZ, 1983, p. 469), o templo, neste contexto surgiria então como “o corpo que se firma, repousa e se levanta” (NORBERG-SCHULZ, 1983, p. 469). Dentre os espaços, os concretos são definidos pela relação interior-exterior, onde os limites de suas fronteiras o definem. “A fronteira não é aquilo em que uma coisa termina, mas, como já sabiam os gregos, a fronteira é aquilo de onde algo começa a se fazer presente” (NORBERG-SCHULZ, 1976, p.450). Desta forma, o espaço é determinado pelas suas aberturas – o chão, a parede, o teto – e de sua relação entre o interno e o externo. Há fronteiras então entre o céu e a terra? Para Schulz: “ A distinção entre terra e céu pode parecer trivial. Mas sua importância se revela quando acrescen-

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tamos a definição de Heidegger do ‘habitar’: ‘O modo como você é, eu sou, o modo como os homens são na terra, é habitar [...] ’. Mas ‘na terra’ já traz em si o sentido de ‘sob o céu’. Heidegger também chama de mundo o que fica entre a terra e o céu e diz que ‘o mundo é a casa onde habitam os mortais’. Em outras palavras, quando o homem é capaz de habitar, o mundo se torna um ‘interior’.” (NORBERG-SCHULZ, 1976, p.448)

Para Schulz (1976) as fronteiras entre o céu e a terra estão relacionadas a uma articulação formal, ou seja, a maneira pelo qual ela foi construída. Desta forma, observando uma construção deste ponto de vista, é necessário examinar a forma como ela repousa sobre o solo e se ergue para o céu. Nessa perspectiva, “a forma somente age sobre nossos sentimentos por meio do que ela representa”, (PALLASMAA, 1986, p.484) afinal, “a obra de arte é um ato genuíno de introspecção da consciência a ela submetida” (PALLASMAA, 1986, p.485) , seria perceber a obra por “um puro olhar”, de forma a “contemplar a sua essência”. (HUSSERL apud. PALLASMAA, 1986, p.485) Neste sentido, “experimentar a arte consiste em um diálogo particular entre a obra e a pessoa que a sente e percebe e exclui todas as outras interações” (PALLASMAA, 1986, p.487).

(2005), o termo “atmosfera” pode ser representado como o “meio em que se vive, considerado como exercendo uma influencia”. Numa linguagem mais figurativa, “criar a atmosfera” seria proporcionar ao ambiente um espaço adequado ao contexto a ele inserido, de forma equilibrada. Peter Zumthor (2009) acredita que é inevitável à mente definir o conceito de atmosfera ao se observar a arquitetura. Para ele é “[...] uma disposição de ânimo, uma sensação em perfeita concordância com o espaço construído, comunicada diretamente a quem o comtempla, o habita, o visita e, inclusive, ao entorno imediato [...]”. (ZUMTHOR, 2009,p.7, tradução nossa)

Zumthor (1988) classificava a construção como “a arte de configurar um todo com sentido a partir de muitas particularidades” (ZUMTHOR, 1988, p.11, tradução nossa). Desta forma, a criação da atmosfera começa a surgir ao arquiteto no momento de idealização da obra, aquele primeiro momento de recordação de suas referências relacionadas ao objeto a ser construído. Este primeiro passo, trás a tona toda a vivência adquirida pelo idealizador, assim como suas recordações de infância e atuações profissionais (ZUMTHOR, 1988). “[...] Neste processo não deveríamos destacar, absolutamente, nenhuma forma especial, mas

2.2. ATMOSFERA

sim deixar sentir esse traço de plenitude, e também de riqueza, que lhe faz pensar: já o vi alguma vez, e, ao mesmo tempo, sei muito bem que

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No dicionário Aurélio da Língua Portuguesa

tudo é novo e distinto, e que nenhuma citação


direta de uma arquitetura antiga revela o segredo

údos confluírem em uma forte atmosfera capaz

deste estado de ânimo repleto de recordações”.

de comover-nos. [...] Trata sobre a visão interior,

(ZUMTHOR, p.10, 1988, tradução nossa)

a compreensão, e sobretudo, a verdade”. (Zumthor, 1988, p.19, tradução nossa)

Para tanto, a construção da atmosfera ideal apenas é concretizada ao se compreender o local a ser inserido o projeto, entender a estrutura, a história e suas características sensoriais proporcionam a visualização de outros lugares cotidianos, cuja forma havia sido gravada na memória como um sinal de determinados estados de ânimo e qualidades. Porém essa significância tem se perdido com o tempo, onde, no mundo atual, a grande quantidade de informações termina por ofuscar a ideia do todo. “Nas coisas correntes da vida cotidiana reside uma força especial [...]. Só temos que olha-las suficientemente, para vê-las.” (ZUMTHOR, 1988, p.17, tradução nossa) Existem edifícios que possuem algo secreto para Zumthor (1988): “Parecem simplesmente estar ali. Não lhes dis-

Em uma de suas obras, o Memorial da Queima das Bruxas, Zumthor pretende recordar 135 mulheres que, entre 1598 e 1962, haviam sido queimadas por acusação de bruxaria em Vardo, uma comunidade local da Noruega e, compreendendo a essência do lugar, ele se dispôs a trazer aos visitantes as mesmas cargas emotivas existentes ali. Em estrutura de madeira construiu um museu, onde observamos, externamente, o entrelaçar das amarrações que remete a uma grande fogueira. Já em seu interior, permite uma atmosfera calma e escura, o vento entra no edifício parecendo contar o que ali passou, em um corredor estreito de 115 metros de comprimento, onde cada uma de suas 92 janelas expõem 92 biografias destas mulheres.

pensamos nenhuma atenção especial, porém sem eles, é quase impossível imaginar-se o lugar de onde se ergueram. Estes edifícios parecem estar fortemente enraizados no solo”. (Zumthor, 1988, p.17, tradução nossa)

A percepção dos edifícios também é explicada a partir do processo de recordação, tendo em vista que o que sentimos e compreendemos está enraizado no nosso passado. “Uma obra arquitetônica pode dispor de qualidades artísticas se suas variadas formas e conte-

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Figura 1. Vista externa do Memorial da Queima das Bruxas, de Perter Zumthor. DisponĂ­vel em: www.archdaily.com.br. Acesso em: 05/05/2015


Figura 2. Vista interna do Memorial da Queima das Bruxas, de Perter Zumthor. Disponível em: www.archdaily.com.br. Acesso em: 05/05/2015 Figura 3. Prédio anexo do Memorial da Queima das Bruxas, de Perter Zumthor. Disponível em: www.archdaily.com.br. Acesso em: 05/05/2015

O prédio anexo, em painéis de vidro preto e telhado de aço, apresenta um trabalho de Louise Bourgeoseois: sete espelhos circundando uma cadeira em chamas de oxigênio, de tal forma que, por onde quer a pessoa esteja, seja possível ver seu reflexo em chamas, trazendo as mais remotas sensações do ocorrido. A construção então deve surgir de um processo de compreensão da tradição do local, confrontado com o mundo repleto de novas tecnologias. (ZUMTHOR ,1994, p.36) “A força de um bom projeto reside em nós mesmos e em nossa capacidade de perceber o mundo com sentimento e razão. Um bom projeto arquitetônico é sensorial. Um bom projeto arquitetônico é racional.” (ZUMTHOR, 1996, p.55, tradução nossa)

Para tanto, ele acreditava que a arquitetura partia da sua materialidade, da sensualidade corporal e objetual, “experimentar a arquitetura de uma forma concreta, é dizer, tocar seu corpo, ver, ouvir, cheirar”. ZUMTHOR (1996, p.56, tradução nossa).

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2.3. TECTÔNICA A tectônica surge como um elemento relevante na crítica pós-moderna por estar diante de um modernismo “estéril”, “degradado” e de um historicismo pós-moderno “superficial”, tendo no classicismo a referência apropriada de uso, devido a “sua capacidade de mitificar a construção vernacular” (NESBIT, 2013, p.53). Para que um projeto seja executado, é necessário que ele “enfrente a questão da tectônica”, ressaltando assim a distinção entre a construção e a arquitetura. Segundo Demetri Porphyrios, “a ‘mediação imitativa’ na manipulação de matérias primas é o que distingue a arquitetura, e a ausência dessa mediação explica porque o modernismo produziu apenas construção” (PORPHYRIOS apud. NESBIT ,2013, p.53) A narrativa as vezes é extravagante ao se utilizar de empréstimos ecléticos e pastiches; outras vezes é pragmática se utilizando do detalhe como meio de expressão tectônica. Neste sentido, “o objetivo da arquitetura deveria ser ‘construir um discurso tectônico, que apesar de voltado para a pragmática do abrigo, pudesse ao mesmo tempo representar a sua própria tectônica como mito” (FRAMPTON, 1990). A palavra “tectônica” surgiu em meados do século XIX, indicando não só a “probidade material e estrutural de uma obra, mas também uma poética do construir subjacente à prática da arquitetura e das artes afins” (FRAMPTON, 1990, p.560). Contudo, esta palavra que deriva do grego – tektonikós – já significou “carpinteiro ou

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construtor”, sendo aludida “[...] à arte da construção em geral”. Vindo a assumir mais tarde uma noção mais genérica de construção, onde o carpinteiro “toma o papel do poeta” (FRAMPTON, 1990, p.561). Atualmente, no dicionário, o vocábulo “tectônica” surge como algo “pertinente à edificação ou construção em geral; construtivo, construtor, usado especialmente para referir-se à arquitetura e ás artes da mesma família” (FRAMPTON, 1990, p.560). Contudo, esta palavra não pode ser desvinculada do sentido tecnológico, trazendo-lhe certa ambivalência, podendo ser identificado três condições distintas: “1) o objeto tecnológico, que surge diretamente em resposta a uma necessidade instrumental; 2) o objeto cenográfico, que pode ser usado indiferentemente para aludir a um elemento ausente ou escondido, 3) o objeto tectônico, que pode ser visto de dois modos: o objeto tectônico ontológico e o objeto tectônico representacional” (FRAMPTON, 1990, p.561).

No que diz respeito à forma construtiva, podem ser constituídas a partir de dois procedimentos materiais: a tectônica da estrutura ou “framework” onde o campo espacial é constituído pela combinação de elementos de comprimentos como a madeira e o bamboo; e a estereotômica – corte dos sólidos – da massa comprimida, constituída através do empilhamento de unidades idênticas, sendo estes os tijolos e a pedra, em seguida, o concreto armado (FRAMPTON, 1990, p.561). Peter Zumthor, no museu de arte em


Figura 4. Vista externa do museu de arte em bregenz, austria. Peter Zumthor. DisponĂ­vel em: www.swissinfo.ch. Acesso em: 05/05/2015

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Figura 5. vista interna do Museu de Arte em Bregenz, Austria. Peter Zumthor. Disponível em: dimitriganzelevitch.blogspot. com.br. Acesso em: 05/05/2015

Figura 6. vista interna do Museu de Arte em Bregenz, Austria. Peter Zumthor. Disponível em: finn-wilkie.tumblr.com. Acesso em: 05/05/2015

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Bregenz, na Austria, por meio de formas simples, conseguiu expressar esta relação de densidade e leveza a partir da materialidade. Externamente, é possível perceber uma caixa de vidro opaco, apoiada por uma estrutura metálica, que remete a uma leveza, deixando transparecer a luz, no período da noite, tornando-se em si próprio um objeto de contemplação. Internamente, o concreto surge de forma bruta, rude, de maneira que a arte ali exposta possa ser percebida e contemplada. Para tanto, mostra também que mesmo com materiais brutos é possível transmitir leveza, ao suspender do chão, por cabos de aço, paredes em concreto. Cada vez mais ele mostra ter propriedade de técnicas construtivas, principalmente quando projeta cada pavimento deste museu como uma caixa de concreto independente, com um forro do mesmo vidro da fachada, dando entre os pavimentos um leve afastamento entre a laje e o forro, de forma que a luz do dia, absorvida pelo vidro da fachada, possa, por entre estes vazios, penetrar nos grandes salões de vãos livres do museu, permitindo assim um belo efeito de luz e sombra no seu interior, de forma a envolver as obras de arte ali expostas.


Figura 7. maquete do Museu de Arte em Bregenz, Austria. Peter Zumthor. Disponível em: www.pinterest.com. Acesso em: 05/05/2015 Figura 8. Corte esquemático do Museu de Arte em Bregenz, Austria. Peter Zumthor. Disponível em: www.kunsthaus-bregenz.at. Acesso em: 05/05/2015

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Kenneth Frampton (1990, p.556) argumenta que “construir é, em primeiro lugar, um ato tectônico, e não uma atividade cenográfica” (FRAMPTON, 1990, p.556), sendo a unidade estrutural a essência irredutível da forma arquitetônica, merecendo esta mais atenção do que a invenção de espaços e a busca por novidades. Considerando que o lugar da humanidade encontra-se entre a terra e o céu, Frampton (1990) sugere reflexão por parte dos arquitetos mediante: “As consequências ontológicas de construir edificações com paredes pesadas e maciças ou com estruturas leves. Estes dois sistemas de edificação opostos do ponto de vista cosmológico, que evocam a oposição entre terra e céu, entre solidez e desmaterialização” (FRAMPTON, 1990, p.556).

Desta forma, no lugar de se fazer uma estrutura com um único tipo de material, propõe-se a realização de “uma fundação pesada, fincada no solo, com uma estrutura leve e tapumes por cima, e as conexões exigidas entre as duas partes”, (SEMPER apud. FRAMPTON, 1990, p.557) expressando assim a relação entre a terra e o céu. De acordo com Frampton, geralmente ignoramos “[...] o modo pelo qual a amarração tende para o aéreo e para a desmaterialização da massa, enquanto esta tende para o telúrico, encravando-se cada vez mais fundo na terra. Uma tende para a

cosmológicos aos quais eles aspiram: o céu e a terra”. (FRAMPTON, 1990, p.562).

Levando em consideração que “objetos inanimados também podem evocar o ‘ser’ e, por meio dessa analogia com nosso corpo, percebemos o corpo de um edifício como se fosse literalmente um ente físico” (FRAMPTON, 1990, p.562), trazendo a junção como elemento tectônico primordial, onde o edifício começa a existir. Bötticher acredita que a tectônica deve se apresentar de forma integrada e articulada simultaneamente, sendo por ele consideradas como forma-corpo garantindo acabamento do material e a sua função reconhecida como forma simbólica. Ele considera também a distinção entre o núcleo e o revestimento decorativo, que “simboliza a condição institucional da obra” (BÖTTICHER apud. FRAMPTON, 1990, p.562) , desta forma, esse involucro deveria “ser capaz de revelar a essência íntima do núcleo tectônico” (BÖTTICHER apud. FRAMPTON, 1990, p.563) . Interessado pela etimologia dos termos, Semper (apud. FRAMPTON, 1990, p.564) distingue Mauer como a solidez advinda de uma muralha fortificada feita em pedra e Wand como a leve estrutura da parede de taipa de construções medievais. Além de trazer às edificações o contraste entre densidade e leveza a partir dos materiais, a tectônica também atua no controle da intensidade de luz que vem a surgir no edifício.

luz e a outra para a escuridão. Estes opostos

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gravitacionais, imaterialidade da armação e mate-

“Apenas quando as formas se acalmam e as su-

rialidade da massa, simbolizam os dois opostos

perfícies se reduzem a um simples material ou a


tons perfeitamente combinados, o espírito fragmentado pode soldar-se e ser visto como um todo” (PLUMMER, 2009, p.180, tradução nossa).

A rudeza do material trabalhado em obras com grande força regional, ao se encontrarem com a luz, terminam por proporcionar um significado espiritual as mesmas. O contraste entre materiais rudes, como a pedra e a madeira, de tons ocre e isentos de ornamentação, com a luz, traduz um jogo de luz e sombra que termina por criar uma atmosfera perfeita à edificação, tornando-a propícia à atividade espiritual.

2.4. PERCEPÇÃO A percepção da luz na história começou a ser analisada por Aristóteles2 - 384 a 322 A.C., quando afirmou, entre outras palavras, que a luz é a atividade do que é transparente, sendo assim, o conceito sobre este assunto vem se modificando ao longo dos anos. Empédocles3, mais tarde, afirmou que a luz se tratava de uma substância fluida emitida pelo sol e que não podia ser vista devido a sua velocidade. Já Platão4 defendia que a luz era emitida pelos olhos como se fossem lanternas que, só depois de tocadas no objeto, poderiam ser percebidas, afirmação esta logo contradita pelo cientista Alhazen5, entre os anos de 965 e 1039, ao perceber que tínhamos de fechar as pálpebras ou desviar o olhar diante do sol, concluindo que a luz era algo que entrava, e não que saía.

É possível perceber diante destas afirmações que, independente da maneira em que era emitida, todos concordavam que apenas por meio da luz era possível enxergar o ambiente em que vivemos, afinal a ausência de luz é a escuridão. Sendo assim, podemos considerar a luz como elemento primordial para a visão. Entre os anos de 1642 e 1727, Newton6 definiu a luz visível como uma parte muito pequena do espectro eletromagnético, iluminação esta emitida pelo sol que sofre combustão ao chegar a Terra. Os seus argumentos podem ser comprovados a partir da experiência do prisma, executada por ele, onde um feixe de luz branca ao atravessar um prisma de vidro se refratava, ou seja, sofria desvios e a partir disto era possível observar sete cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Estas cores, separadas e visíveis ao olho humano, se unem novamente em um feixe de luz branca ao se inverter o prisma de ponta cabeça.

Aristóteles, discípulo de Platão, é considerado o filósofo grego criador do pensamento lógico. 3 Empédocles, filósofo e pensador pré-socrático grego é conhecido por ser o criador da teoria cosmogênica dos quatro elementos clássicos que influenciou o pensamento ocidental, até quase meados do século XVIII. 4 Platão, filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, foi o fundador da Academia em Atenas, primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental. 5 Alhazen, matemático e astrônomo árabe, foi o primeiro a dar uma contribuição efetiva à ótica depois de Ptolomeu (85-165). 6 Isaac Newton, cientista inglês mais reconhecido como físico e matemático. Criador da lei da gravitação universal e as três leis de Newton, que fundamentaram a mecânica clássica. 2

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Figura 9. Prisma refratando e absorvendo as ondas de luz. Disponível em: sereslivres.blogspot.com.br. Acesso em: 22/03/2015

Figura 10. Cores vistas a partir da luz branca refratada. Disponível em: nicollecherry.wordpress.com. Acesso em: 22/03/2015

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Sendo assim, foi a partir da experiência do prisma que se descobriu que a luz visível podia ser dividida em raios ainda mais finos, monocromáticos, definindo direções e cores variáveis e podendo ser percebida como no arco-íris. Para ele, a luz era composta por fótons e estes podiam distinguir-se pela sua frequência, dentre eles encontramos os mais conhecidos como: raios infravermelhos e ultravioletas. Desta forma, sendo a luz branca uma composição de todas as outras cores, quando iluminamos um objeto com ela e o enxergamos de uma única cor, é porque esse objeto refletiu difusamente esta cor e absorveu todas as outras. Assim, se observarmos o branco, significa que ele refletiu difusamente todas as cores, e se identificarmos o preto, ele absorveu todas elas. (PORTO; REGO,2009, p.165) James Clerk Maxwell7, entre os anos de 1831 e 1879 veio a perceber, a partir de experiências, que a eletricidade e o magnetismo, diferentemente do que se pensava, se propagavam por meio de ondas e não de partículas, onde ambos moviam-se à velocidade da luz. Assim sendo, a luz era igual a uma onda eletromagnética que viajava em ondas, mas ao atingir a matéria, comportava-se como uma partícula.

James Clerk Maxwell, físico e matemático britânico conhecido por ter dado forma final à teoria moderna do eletromagnetismo, que une a eletricidade, o magnetismo e a óptica. 7


A partir de experiências de radiação de calor, Max Planck8 descobriu que a luz chegava na matéria a partir de pequenas porções, chamadas de “quantum”. Einstein9, nos anos de 1879 a 1955, foi ainda mais fundo em teorias a respeito da percepção da luz, chegando a revolucionar a história com a teoria da relatividade, ao descobrir que a luz não precisava de um meio para se propagar, e que suas ondas chegavam quase que imediatamente a vista humana, concluindo que a luz, independente da sua fonte ou do seu receptor, era transmitida sempre em uma velocidade constante de 300.000.000m/s, sendo esta a velocidade mais rápida de um elemento já estudado. A teoria da relatividade, exposta por ele, afirma que espaço e tempo não são realidades absolutas, uma vez que a medida que o objeto se aproxima da velocidade da luz, o tempo passa mais devagar, podendo chegar a zero ao se igualar a mesma velocidade. Por esta razão, os fenômenos observados variam em função da velocidade em que se encontram, consequentemente, se a luz for monocromática ela possui a mesma frequência e viaja portanto a mesma velocidade. Contudo é possível afirmar que a luz só é visível quando interage com a matéria, sendo percebida pelo olho como se este fosse um filtro, sendo impossível falar de luz sem falar de matéria. Deste modo, elas podem se relacionar de quatro formas: transmissão, reflexão, absorção e refração. A transmissão ocorre quando a luz é emitida a partir de um meio – corpo luminoso –

é o caso do sol e das estrelas. A reflexão ocorre quando feixes de raios paralelos, ao entrar em contato com a matéria, se repelem, retornando ao meio que se faziam presentes. Esse fenômeno pode ser percebido em superfícies refletivas como o espelho. No tocante à absorção, verifica-se que ela ocorre quando a luz, penetra a matéria ao entrar em contato com a mesma, como é possível perceber no vidro translúcido. Por fim, a refração é a luz dispersa , resultante da mudança de velocidade e de direção sofrida pelos raios luminosos ao mudarem de meio, ocasionando o desvio dos mesmos; ação percebida quando um raio de luz que atravessa a atmosfera entra em contato com a água, mudando assim a direção de seu raio. (RAMALHO, 1999, p.212) Ao chegar aos olhos humanos, a luz passa por um processo que se inicia na córnea, passando pelo cristalino que é delgado e convergente, podendo se deformar por estar relacionado aos músculos ciliares que se contraem. A partir daí é formada a imagem invertida na retina, através do nervo óptico, a qual é encaminhada até o centro da visão, no cérebro, onde é interpretada. Para que isso ocorra é necessária a ação dos receptores visuais presentes nos olhos, são eles os cones e os bastonetes, onde o primeiro é responsável pela visão colorida (o olho possui cerca de 7 milhões de cones), e o segundo, pela

Max Planck, físico alemão considerado o pai da física quântica. Albert Einstein, físico teórico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos dois pilares da física moderna 8 9

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visão noturna, uma vez que não são sensibilizados pelas variações de cor e contribuem muito para a adaptação visual. Enxergar em três dimensões parece um procedimento muito simples para o ser humano, entretanto ele se torna muito mais complexo ao concluir-se que toda informação obtida do exterior pelo olho é bidimensional. Sendo a tridimensionalidade então um processo mental abstrato, que tem origem na própria imagem, sendo esta sim interpretada pela mente. “O principio básico de percepção em profundi-

Figura 11. Esfera indicando luz e sombra através da luz. Dis-

dade provem da lei da simplicidade e indica que

ponível em: auladedesenho.wordpress.com. Acesso em:

uma forma parecerá tridimensional quando puder

22/03/2015

ser vista como a projeção de uma forma tridimensional que é estruturalmente mais simples que uma bidimensional” (MANUAL DE ILUMINAÇÃO, 2007)

De onde viria então a percepção da tridimensionalidade observada pelo homem? Como já foi dito anteriormente, a percepção do ambiente só é possível devido a presença de luz. Esse caso de espacialidade só ocorre devido ao dégradé de cor observado ao inserir luz em um objeto, onde a parte que tiver mais luz fica mais clara e a que tiver menos luz, mais escura, trazendo assim a ideia de profundidade nos objetos. Considerando as expressões artísticas, foi no impressionismo do século XX que pôs-se em prática a ideia de movimento, profundidade. Essas tendências trouxeram mais tarde algumas técnicas, entre elas surge o pontilhismo.

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Figura 12. Esfera indicando luz e sombra através da luz. Disponível em: auladedesenho.wordpress.com. Acesso em: 22/03/2015


Esta técnica de pintura que consiste em utilizar pontos justapostos, sem espaços brancos surgiu como uma grande revolução no mundo da arte por trazer a ideia da realidade ao ocasionar aos olhos de quem vê uma mistura de imagens e cores. Sendo assim, as cores exercem um papel fundamental, além de realçar a obra, são elas as responsáveis por proporcionar a ideia de tridimensão da imagem, seguindo aquela mesma ideia da escala de cores, onde o mais claro está mais iluminado e o que se encontra mais escuro, está menos iluminado. Assim sendo, a ideia de luz e sombra, composta a partir da decomposição de cores, pode ser facilmente percebida como nas obras de Georges Seurat, Vincent Van Gogh e Monet. Essa mesma relação de luz e sombra pode ser percebida na arquitetura quando ela se aproveita dos estímulos sensoriais da luz para compor espaços, colori-los, criar volumes e até mesmo simular movimento. Desta forma, ambientes elaborados a partir de soluções privilegiando a luz natural terminam por ser mais agradáveis e confortáveis. Para tanto, podemos perceber a luz relacionada a arquitetura desde a Grécia antiga, apresentada no ritmo das suas colunas ou nas cúpulas de templos romanos, quando a luz parte de uma abertura zenital e reflete difusamente nas paredes laterais.

Figura 13. Noite Estrelada, de Vincent Van Gogh Disponível em: www.infoescola.com. Acesso em: 22/05/2015

Figura 14. Crepúsculo, de Claude Monet. Disponível em: en.wikipedia.org . Acesso em: 22/05/2015

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Figura 15. Rosácea gótica . Igreja de Kloster Ebrach, Alemanha. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki. Acesso em: 12/04/2015


Nas catedrais góticas a luz se apresenta por meio de seus vitrais, que se tornam agentes transformadores da luz ao colorir o ambiente. Na renascença, a luz branca se apresenta de maneira indireta, porém é no barroco que ela se torna ponto central do projeto. Contudo, é possível perceber que onde quer que a luz apareça, independente de estar definindo áreas, induzindo movimento ou revelando estruturas, ela estará sempre por criar experiências visuais e revelar formas jamais percebidas em sua ausência. A luz natural é essencial à vida humana, pois é ela quem nos dá energia, e é a partir dela que percebemos o que está ao nosso redor. (PLUMMER, 2009, p.6) Na arquitetura, a luz natural pode assegurar a iluminação de forma adequada e confortável às edificações, além disso, espera-se também que as mesmas possuam “um gozo emocional, que pareça algo vivo e não um objeto inerte” (PLUMMER, 2009, p.180, tradução nossa). Por isso, o domínio da luz tem sido uma preocupação constante ao longo da história da Arquitetura. Diversas são as possibilidades e combinações adequadas entre as fontes de luz, seja direta ou indiretamente. Por esta razão, é possível dizer que a partir da luz podemos modificar o modo como percebemos o elemento arquitetônico, criando novas perspectivas ou até mesmo produzindo novas ilusões, podendo considerar a luz como elemento transformador do espaço, sendo possível, a partir desta, alterar a qualidade do mesmo.

Figura 16. Abertura zenital. Catedral Santa Maria del Fiore. Disponível em: lillytran.wordpress.com. Acesso em: 10/05/2015

Figura 17. Iluminação Lateral. Palácio de San Telmo. Disponível em: alcanfordelasinfantas.wordpress.com . Acesso em: 10/05/2015

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“A arquitetura é essencialmente uma arte: uma arte plástica, uma arte especial. Porém deve-se perceber que a experiência da arquitetura é percebida por todos os nossos sentidos e não unicamente pela visão. Assim, a qualidade do espaço é medida pela sua temperatura, sua iluminação, seu ambiente, e o modo pelo qual

SHED

o espaço é servido de luz, ar, som deve ser incorporado ao conceito de espaço em si.” Louis

Figura 18. Shed, a luz entra inclinada porém

Kahn (VIANNA. 2001)

de forma direta no ambiente. Fonte: autoral

Neste contexto, o arquiteto F. Ching, em seu livro “Forma, espaço e ordem”, qualifica a luz quanto à sua qualidade, classificando-a de sólida, como sendo aquela que permite compreender o limite entre o que está na sombra e aquilo que não está, e de difusa aquela que torna mais difícil de apreender e distinguir na totalidade o que está na sombra e o que está em luz. Além disso, a luz também pode ser classificada quanto a sua intensidade e direção, sendo estes elementos abordados a partir da maneira como a luz penetra no ambiente, por meio de suas aberturas. Desta forma, seguem alguns exemplos de como a luz pode adentrar nos espaços, sendo as setas laranjas o percurso da luz no ambiente. (FRANÇA, 2013, p.9)

SUPERFÍCIE INCLINADA

ISOLAÇÃO TÉRMICA Figura 19. Superfície inclinada reflexiva e isolação térmica transparente, a luz será completamente refletida e não entrará no ambiente. Fonte: autoral

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CLARESTORY

ELEMENTO PRISMÁTICO

BRISES

Figura 20. Clarestory, a luz entra de forma in-

Figura 21. Elemento prismático e brises: apenas parte da luz entrará no

clinada e, ao mesmo tempo, indiretamente

edifício, a outra parte será refletida. Fonte: autoral

no ambiente. Fonte: autoral

PÁTIO INTERNO

ÁTRIO

BANDEJA DE LUZ

DUTO DE LUZ

PAREDE REFLETORA

REFLETOR INTERNO

Figura 22. Pátrio interno e átrio, permite que

Figura 23. Bandeja de luz, parede refletora, duto de luz e refletor interno:

a luz entre ao mesmo tempo,de maneira

a luz rebate várias vezes até entrar no ambiente de forma indireta Fonte:

direta e indireta no ambiente. Fonte: autoral

autoral

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Figura 24. Thermas de Vals, de Peter Zumthor. DisponĂ­vel em: abrancoalmeida.com. Acesso em: 16/05/2015


Em meio a tantas maneiras de se trabalhar a luz no

ambiente, é possível dizer que ela termina por criar diferentes efeitos luminosos, que podem ser classificados, segundo Henry Plummer (2009), por:

Procissão, como mostrado no projeto Thermas de

Vals, na Suiça, assinado por Peter Zumthor, onde a luz dá a ideia de direção, sentido, apresentando ao usuário o caminho a ser percorrido.

Evanescência, quando a luz natural, ao adentrar no

edifício, passeia por ele, durante as diferentes horas do dia, como percebido na casa Koshino de Tadao Ando .

Figura 25. Casa Koshino, de Tadao Ando . Disponível em: www.arca-lab.com. Acesso em: 20/05/2015

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Luminescência, quando a luz penetra na matéria de forma a produzir um brilho fugaz, capaz de resplandecê-la; conforme observamos na Capilla de San Benito, de Zumthor. Atomização, ocorre quando a luz se fragmenta ao entrar no edifício devido à presença de uma malha porosa. Este efeito pode ser observado no projeto Bodegas Dominus Herzog y De Meuron.

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Figura 26. Capilla de San Benito, de Zumthor. Disponível em: catalogo.artium.org. Acesso em: 16/05/2015

Figura 27. Bodegas Dominus, de Herzog y De Meuron. Disponível em: www.pinterest. com. Acesso em: 20/05/2015


Figura 28. Tanatorio municipal de Leon, de BAAS. Disponível em: ninikills.tumblr.com. Acesso em: 20/05/2015

Figura 29. Museu de Artes, de Steven Holl. Disponível em: www.archdaily.com. Acesso em: 20/05/2015

Canalização, ocorre a partir da abertura de vazios, por onde a luz viaja secretamente, perdendo intensidade e podendo mudar de direção, chegando de forma canalizada no ambiente. Este tipo de efeito fica bem caracterizado no Tanatorio municipal de Leon, de BAAS. Véus de cristal, quando o vidro translúcido recebe a luz que se refrata no momento do encontro. Desta forma, a luz apenas exalta a película que impede a passagem direta da mesma no interior do edifício. o Museu de Artes de Steven Holl, nos EUA, é um belo exemplo deste efeito. Finalmente, destacamos o silencio ambiental, quando a luz entra de forma sutil no ambiente, sendo capaz de criar uma atmosfera comovente, como observamos na obra Igreja da Luz, de Tadao Ando. Esta parece ser o efeito luminoso mais adequado de se proporcionar uma relação com o divino, onde a luz surge despertando sensações que nos induzem a uma autorreflexão, em busca da paz interior.

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Figura 30. Igreja da Luz. Tadao Ando. DisponĂ­vel em: www.swissinfo.ch. Acesso em: 05/05/2015


A luz natural, na arquitetura, não surge apenas como uma forma de deslumbre aos olhos, mas além de configurar um caráter ao edifício, ela proporciona uma atmosfera “[...] cujos episódios se encontram tão intimamente ligados que chegam a fundir-se em um só e vibram a unissonância com cada nova modulação luminosa” (PLUMMER, 2009, p.180, tradução nossa). Essa atmosfera luminosa é percebida apenas quando “as formas se acalmam e as superfícies se reduzem a um simples material ou a tons perfeitamente combinados, o espírito fragmentado pode soldar-se e ser visto como um todo” (PLUMMER, 2009, p.180, tradução nossa). Para Plumer (2009, p.180) a tectônica se apresenta então como um elemento complementar à luz que, quando combinados, trazem a ideia do todo, proporcionando uma atmosfera inigualável, que parece mais ser uma consequência do que um objetivo consciente. Neste sentido, é possível perceber, cada vez mais, a verdade inquestionável de que a atmosfera de um edifício se expressa com mais força em meios mais modestos, podendo ser interpretado pela “presença da ausência” (PLUMMER, 2009, p.180, tradução nossa). Atualmente, a arquitetura traz na simplicidade e na compreensão dos espaços o contexto ideal para se aplicar fontes luminosas, que se modelam sutilmente em uma paleta limitada de materiais livres de adorno, onde os elementos surgem, aos poucos, imbuídos de uma grande carga emocional.

Max Picard (apud. PLUMMER, 2009, p.181) foi ainda mais fundo no que diz respeito à atmosfera, ao dizer que o silêncio pertencia à estrutura básica do homem e que os edifícios eram depósitos de silêncio. Entretanto, na atualidade, os edifícios tem perdido a sua essência, onde a arquitetura tem se manifestado cada vez mais em “formas ruidosas e estridentes” (PLUMMER, 2009, p.181, tradução nossa) Assim sendo, Van der Laan (apud. PLUMMER,2009, p.181) considera que a busca pelo silencio é uma necessidade do homem, de forma a resgatar as aspirações do passado, onde esta atmosfera luminosa se faz presente, sem sacrificar nem a utilidade nem a riqueza do edifício. No Museu do Bosque das Tumbas, de Tadao Ando, é possível perceber essa sublime fusão existente no jogo de luz e sombra, onde a sombra realça o brilho da luz, ao se encontrarem em revestimentos de tons neutros e geometria rígida. Estes impulsos arquitetônicos possuem certa influência do movimento minimalista que se desenvolveu por todo o mundo, em meados da década de cinquenta. Constata-se que seu deslumbre estava na manobra necessária para se produzir essa essência imaterial, produzida por um brilho infinitamente sutil, que Lawrence Alloway classificava como “um véu, uma sombra, uma gaze” (ALLOWAY apud. PLUMMER, 2009, p.182). Estes efeitos, vagamente apreendidos pelos espectadores, necessitam de suas lembranças do passado para poder interpretá-los.

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Figura 31. Museu do Bosque das Tumbas, de

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Tadao Ando. Disponível em: es.wikiarquitectura.com. Acesso em: 20/05/2015

Para Plummer (2009, p.183) efeitos semelhantes a estes podem ser percebidos em arranjos cênicos, onde a luz de cor se faz presente em grande contraste com a escuridão da sombra, causando uma luminosidade quase delirante. Encontradas em projetos como o Convento das Irmãs Capuchinhas do arquiteto Luís Barragan. Por outro lado, o branco puro trás a calma etérea ao refletir todas as ondas de cores presentes na luz visível. Forma e textura produzem um novo toque de luz e de sombra, intimamente ligados a outros tons sutis, quase indefinidos. (PLUMMER, 2009, p.184) Entretanto, é quase impossível modelar a luz na cor branca, onde a sombra não consegue ser percebida, produzindo um grande objeto brilhante que guarda um certo ar de “hospital”, conforme afirmado por Henry Plummer (2009, p.184). O branco absoluto remete a uma penúria ambiental que tende a empobrecer os ambientes, dando a impressão de estarmos entrando em um lugar absolutamente vazio. (PLUMMER, 2009, p.185) Esta tendência tem sido minimizada por alguns arquitetos da atualidade que vêm interrompendo a frieza do branco a partir do uso de uma iluminação pálida ao redor de elementos de transição que podem ser uma porta, uma janela, uma parede ou uma escada, gerando uma iluminação difusa, ao contrapor luz e menos luz. (PLUMMER, 2009, p.185). Assim sendo, é possível entender o processo de criação arquitetônica como algo que “[...] oscila entre a negação e a conciliação: é um embate contínuo entre o ideal e a matéria, a ideia e a imagem, o intelectual e o fisiológico, o tecnológico e o espiritual” ( ABRAHAM,1982, p. 498).


Figura 32. Convento das Irmãs Capuchinhas, de Luís Barragan. Disponível em: umjeitomanso.blogspot.com Acesso em: 16/05/2015

Figura 33. Igreja de Santa Maria , de Álvaro Siza Disponível em: www.archdaily.com.br Acesso em: 24/05/2015

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ARQUITETURA DA FENOMENOLOGIA - CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA


ARQUITETURA DA CASA ESPÍRITA

e unirá os homens por um único sentimento : o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã.” (KARDEC,2006, p.443)

3.1. CASA ESPÍRITA

“Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providencia para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.” (KARDEC, 2007, p.61)

Com o objetivo de estudar, divulgar e praticar a Doutrina Espírita, o movimento espírita se coloca ao alcance de toda a humanidade por meio de atividades desenvolvidas por pessoas e instituições espíritas. As instituições espíritas se dividem em: a) grupos, centros ou sociedades espíritas, que desenvolvem atividades gerais de estudo, prática e difusão da Doutrina; b) entidades federativas que se diferem das demais por atuarem de maneira a unificar o movimento espírita; c) entidades especializadas que atuam apenas a desenvolver atividades específicas de um centro; e d) pequenos grupos de estudo do espiritismo que são voltados fundamentalmente para estudos da Doutrina. “Esses grupos, correspondendo- se entre si, visitando-se, permutando observações, podem desde já formar o núcleo da grande família es-

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pírita, que um dia consorciará todas as opiniões

A FEP, além de desenvolver suas atribuições enquanto unidade federativa, sendo a casa mater do Espiritismo no Estado de Pernambuco, também atua como um centro espírita. Estes centros se caracterizam por serem: a) núcleo de estudo; b) escolas de formação espiritual e moral; c) postos de atendimento que acolhem os que buscam orientação, esclarecimento, ajuda ou consolação; d) oficinas de trabalho que trazem temas cotidianos exercitando o aprimoramento íntimo; e) recantos de paz construtiva, oferecendo aos frequentadores oportunidade para o refazimento espiritual; f) núcleos que se caracterizam pela simplicidade própria das primeiras casas do Cristianismo nascente, pela prática da caridade e ausências de imagens, simbolismos, rituais ou outras quaisquer manifestações exteriores; g) unidades fundamentais do movimento espírita Desta forma, sempre agindo em função do próximo, como pregam os ensinamentos da doutrina, as casas espíritas, mantêm o seu fun-


cionamento a partir de doações, espontâneas e aleatórias, de ordens diversas, e do trabalho voluntário de seus sócios e frequentadores; e ainda, excepcionalmente, de doações de filantropos. As edificações das unidades espíritas surgem, quase em sua totalidade, a partir destas doações e com a FEP não foi diferente, quando no ano de 1961 recebeu a doação de um terreno no bairro do Espinheiro munido de um casarão. Entretanto, a casa adquirida não possuía estrutura adequada para atender ao extenso programa evangélico e assistencial existente na FEP, onde, para se adaptar a esta realidade, executou-se uma primeira reforma, descaracterizando a forma da edificação original, quase que completamente.

Figura 34. Casa advinda de doação onde hoje funciona a FEP. Fonte: Arquivos da FEP.

Figura 35. Reforma da casa onde hoje funciona a FEP. Fonte: Arquivos da FEP.

Figura 36. Atual sede da Federação Espírita Pernambucana. Fonte: Autoral.

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Além do exposto, devemos considerar o crescente aumento de adeptos do Espiritismo, nos últimos anos, como constatado na ultima pesquisa realizada pelo IBGE no ano de 2010. ESPÍRITAS (65%) CATÓLICOS (-9%) EVANGÉLICOS (6,8%) Gráfico 1. Crescimento do segmento religioso no Brasil nos últimos 10 anos segundo último levantamento do IBGE (realizado no ano de 2010 ).

Segundo PRATES (2013), 3,65% da população recifense é constituída por espíritas, o que equivale a aproximadamente 53.000 pessoas. Esta situação também vem sendo observada na FEP, onde o número de atendimentos realizados tem aumentado nos últimos cinco anos, conforme informações obtidas em sua Di-

Figura 37. Delimitação do bairro do Espinheiro de onde parte um raio de 3km. Fonte: Google Maps com edição autoral.

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retoria de Atendimento Espiritual calculados em torno de 500 atendimentos mensais. Diante do exposto, apesar das adaptações já realizadas anteriormente na casa, repete-se o mesmo quadro de insuficiência estrutural, que inviabiliza um atendimento mais eficiente dos seus frequentadores. Na tentativa de se ajustar a esta realidade, a FEP vem tentando adaptar suas instalações físicas, embora não possa realizar uma obra mais efetiva em virtude da limitação financeira que vivencia, uma vez que sua fonte de recursos provém de doações. A escassez financeira aliada à localização estratégica da FEP justificam a relevância da manutenção de sua sede no atual endereço, por estar próxima ao centro da cidade, facilitando o deslocamento dos frequentadores oriundos de todos os bairros.


Figura 38. Atual sede da Federação Espírita Pernambucana em horário de

Figura 39. Problema percebido na atual sede da Federação

funcionamento. Fonte: Autoral.

Espírita Pernambucana devido a falta de estrutura da casa. Fonte: Autoral.

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Figura 40. Problema percebido na atual sede da Federação Espírita Pernambucana devido a falta de estrutura da casa. Fonte: Autoral.


3.2. A CARÊNCIA DO ESPAÇO EXISTENCIAL As edificações espíritas, como já referenciado anteriormente, são normalmente oriundas de doações. Muitos centros espíritas se originaram dentro das próprias casas de seus fundadores, o que pode ser comprovado quando investigamos a história de algumas das Unidades Federativas nos estados brasileiros, como indicadas abaixo: a) Federação Espírita do Estado de Goiás (FEEGO10): fruto de doação do Dr. Alcenor Cupertino, devido às precárias condições do local vigente – um canteiro de obras; b) Federação Espírita Maranhense (FEMAR11): fruto de doação da firma Castro Gomes Maia, no ano de 1958, onde funciona sua sede até os dias atuais; c) Federação Brasileira no Rio de Janeiro (FEB12): começou a funcionar na residência de seu fundador, Augusto Elias da Silva. Na época funcionava ali a Federação Espírita Brasileira, que se mudou várias vezes, até se instalar em Brasília; d) União Espírita Mineira (UEM13): esta unidade funcionou na própria casa de Modestino D. Arnide, sendo transferida, mais tarde, para outras localidades; e) Federação Espírita Paraibana (FEPb14): funcionou por três anos na residência de Manoel Alves de Oliveira, como sede provisória. Quando

recebeu a doação de um terreno de Joani de Felibel, uma de suas fundadoras, sendo então construída a nova sede. Outro fator de grande relevância, refere-se à manutenção das casas espíritas, uma vez que os recursos financeiros e materiais angariados, advém de doações, fruto da caridade de seus sócios e frequentadores. Como estes recursos são quase sempre escassos, eles são prioritariamente aplicados nos programas de assistência social das casas, ou seja, na prática da caridade, objetivo maior da doutrina, que tem por lema a máxima: “fora da caridade, não há salvação”. Desta forma, a manutenção das edificações espíritas fica restrita ao saldo dos recursos obtidos, dificultando o estabelecimento de um caráter, considerado como um conjunto de características e traços peculiares a um ambiente. A ausência de caráter das edificações torna-se visível principalmente quando comparamos imagens dos edifícios das atuais sedes federativas do Brasil, que possuem variadas tipologias, não demonstrando a essência do elemento religioso.

Origem da unidade federativa de Goiás. Disponível em: www.feego.org.br 11 Origem da unidade federativa do Maranhão. Disponível em: www.femar.org.br 12 Origem da unidade federativa do Rio de Janeiro. Disponível em: www.febnet.org.br 13 Origem da unidade federativa de Minas Gerais. Disponível em: www.uemmg.org.br 14 Origem da unidade federativa da Paraíba. Disponível em: www.fepb.org.br 10

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Figura 41. Fachada da atual sede da Federação Espírita do Rio de Janeiro. Disponível em: www.panoramio.com

Figura 43. Fachada da atual sede da Federação Espírita de São Paulo. Disponível em: www.noticiasespiritas.com.br

Figura 42. Fachada da atual sede da Federação Espírita de Mato Grosso do Sul. Disponível em: www.febnet.org.br

Figura 44. Fachada da atual sede da Federação Espírita do Paraná . Disponível em: fotosdecuritiba.zip.net


Definir um caráter a uma edificação é mais do que um elemento estético ou tipológico, é ressaltar sua essência. Afinal, um edifício, por mais que seja um templo, não representa nada, se não permitir que o divino se projete na edificação. Por isso, o recinto só será reconhecido como santuário quando a presença divina for percebida.

3.3. LEIS DE CONSERVAÇÃO, DESTRUIÇÃO E PROGRESSO Segundo a codificação espírita, “a lei natural é a Lei de Deus” (KARDEC, 2007, p.329). Ela está escrita na consciência humana, sendo eterna e imutável, pois que vindas de Deus, são perfeitas; diferentemente das leis humanas, que se modificam constantemente, em função de sua evolução, caracterizando seu estado de imperfeição. O Livro dos Espíritos esclarece ainda que “o bem é tudo o que é conforme a Lei de Deus; o mal, tudo que lhe é contrário” (KARDEC, 2007, p.334); demonstrando que a felicidade ou o sofrimento que o homem experimenta em sua existência, advém das escolhas que ele mesmo faz entre o bem e o mal, fruto do seu livre arbítrio. A lei natural é a lei geral, bastante ampla para a compreensão humana, possibilitando interpretações diversas e, consequentemente, divergências de opinião, por isso foi subdividida

em dez partes, segundo a codificação: leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e por fim, a de justiça, amor e caridade. Dentre estas leis, destacam-se, para este estudo, as leis de conservação, destruição e progresso. O instinto de conservação da vida está intrínseco em todos os seres vivos, e Deus, faculta aos homens, os meios de manutenção da vida. Através do desenvolvimento da inteligência, o homem aprimora suas condições de vida, em todos os aspectos: social, econômico, científico, moral etc. Para a manutenção e satisfação da vida, o homem desenvolve constantemente bens materiais para atender suas necessidades reais, porém deve preserva-se dos excessos, que não passam de pseudonecessidades, provocando privações em outras pessoas. Para vivermos em harmonia, necessário se faz usar a razão para identificar e atender nossas reais necessidades, e eliminar tudo aquilo que é supérfluo e desnecessário. Ainda de acordo com o Livro dos Espíritos, “preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar” (KARDEC, 2007, p.370), entretanto devemos observar a distinção entre a destruição necessária e a abusiva. A destruição necessária é aquela que garante a subsistência dos seres vivos – as cadeias alimentares e as catástrofes naturais são exemplos recorrentes – e estimulam o progresso da humanidade. Já a destruição abusiva surge como fruto do egoísmo e da inferioridade moral do homem – a crueldade, os

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assassinatos, as guerras – embaraçando o progresso. A marcha do progresso humano é natural e constante, embora não seja simultânea e do mesmo modo para todos, já que cada um segue seu livre arbítrio. O desenvolvimento intelectual de cada indivíduo é compatível com seus esforços e méritos, contribuindo diretamente para o progresso moral, embora algumas pessoas ainda utilizem sua inteligência para o mal. Assim é que os mais adiantados auxiliam o progresso dos demais, através do convívio social, freando as más inclinações ainda existentes, por isso o progresso é lento e regular até alcançar seu objetivo completo – a evolução plena: material e espiritual. Neste sentido, vemos que a conservação das atuais edificações da FEP não podem ser mantidas, uma vez que não possuem mais condições de atender as novas necessidades advindas com o progresso ocorrido nas últimas décadas, justificando a necessidade de destruí-las para fazer renascer uma nova estrutura física que possa atender à nova realidade vivenciada pela casa. Cumpre destacar que a essência do Espiritismo, ou seja, a difusão do Evangelho de Jesus, cuja base se resume na prática do amor e da caridade, será plenamente mantida, por ser esta a grande missão dos espíritas, conduzindo à moralização da humanidade, objetivo maior do Espiritismo.

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3.4. A EDIFICAÇÃO COMO ELEMENTO DE ELEVAÇÃO ESPIRITUAL A doutrina espírita considera que há no homem três elementos essenciais para que ele possa atuar na vida material: o espírito que, quanto mais evoluído, mais luz emite; o corpo, que consiste no elemento bruto, passageiro, porém necessário para a evolução do espírito; e o perispírito, envoltório fluídico do espírito que o liga à matéria. Esta mesma relação entre a matéria e a luz também é observada na Arquitetura, onde é possível perceber que a luz se utiliza da matéria para se projetar no ambiente. Assim, a luz apenas se revela como elemento primordial quando se reflete sobre a matéria bruta, gerando uma atmosfera que propicia a aproximação com o divino. Nessa perspectiva, questiona-se se é possível trazer essa relação com o divino para a edificação a partir da combinação entre a luz e a sombra, sendo esta a grande questão que permeia todo este estudo. Como elementos norteadores que podem responder este argumento, podemos destacar o Instituto Salk, de Louis Kahn, que aborda a relação de luz e sombra, densidade e leveza, matéria e luz, a partir do silencio ambiental. Seus edifícios simétricos dão espaço a um grande pátio vazio e a tectônica surge como elemento complementar à luz, onde o concreto é executado conforme uma técnica romana, que, uma vez aplicado, não recebe mais retoque de acabamento, proporcionando seu brilho


Figura 45. Vista Externa do Instituto Salk, de Louis Kahn. DisponĂ­vel em: http://architectuul.com/architecture/salk-institute . Acesso em: 01/05/2015

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natural que, uma vez aplicado, não recebe mais retoque de acabamento, proporcionando seu brilho natural. O mármore travertino reveste o pátio vazio em que a vista, através de um fio de água, que corre por seu eixo, se direciona ao mar, a monumentalidade se faz presente, que para Kanh representa um “cuidadoso projeto do espaço”.

Figura 46. Instituto Salk, de Louis Kahn. Disponível em: www. archdaily.com.br Acesso em: 01/05/2015 Figura 47. Instituto Salk, de Louis Kahn. Disponível em: www.

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archdaily.com.br Acesso em: 01/05/2015


Figura 48. Vista Externa do Instituto Salk, de Louis Kahn. DisponĂ­vel em: www.pedrotorrijos.com . Acesso em: 01/05/2015

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Figura 49. Vista interna da Capela do Por do Sol, do escritĂłrio BNKR. DisponĂ­vel em: www.portobello.com.br Acesso em: 01/05/2015


A Capela do Por do Sol, do escritório BNKR, proporciona essa mesma atmosfera, onde a relação com o divino está presente. Externamente, o concreto mais parece uma pedra, ainda bruta, nas montanhas do Acapulco. Os cortes irregulares são desenhados pelos vazios deixados pelas pedras e grandes árvores encontradas no local. Internamente, as paredes vazadas permitem ventilação e iluminação natural, porém é da vista que se tem para o altar que a atmosfera se faz presente, um belo horizonte pode ser observado, recoberto pelo deslumbre do por do sol capaz de acalentar a alma dos aflitos.

Figura 50. Vista externa da Capela do Por do Sol, do escritório BNKR. Disponível em: archtendencias.com.br. Acesso em: 01/05/2015

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Figura 51. Vista interna da Iglesia de Enghoj do arquiteto Henning Larsen. DisponĂ­vel em: misasagi-blog.jugem.jp Acesso em: 01/05/2015


A Iglesia de Enghoj representa outro exemplo marcante, idealizado pelo arquiteto Henning Larsen, cuja edificação se ergue no ponto mais alto da paisagem, com textura clara, possuindo um ar dramático e um telhado de cabeça pra baixo. Constuída em betão, as paredes são perfuradas com agregados de mármore branco e o altar se apresenta com um nicho que traz a luz do dia, onde a simplicidade pode ser notada na ausência de adornos. O telhado aparente com espaçadas vigas de madeira se afasta levemente das desnudas paredes, parecendo flutuar ao permitir a entrada da luz natural, proporcionando assim um efeito mágico, capaz de comover. Bancos em madeira, assim como o altar e o púlpito, executados em pedra natural polida, ambos na cor preta, compõem este singelo ambiente, em que o conjunto é capaz de inspirar grandes emoções. Com base nestes projetos, é possível afirmar que a arquitetura silenciosa pode surgir como elemento de elevação espiritual, onde a matéria bruta, assim como no Espiritismo, é necessária para que a luz se exalte e proporcione a evolução do espírito, a paz interior tão almejada pelos que buscam a verdade.

Figura 52. Vista externa da Iglesia de Enghoj do arquiteto Henning Larsen. Disponível em: www.archello.com. Acesso em: 01/05/2015

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS


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REFERÊNCIAS PROJETUAIS

4.1. CREMATÓRIO DE BAUMSCHULENWEG (AXEL SCHULTES E CHARLOTTE FRANK- BERLIM, ALEMANHA)

O Crematório de Berlim, projeto executado no ano de 1988 por Axel Schultes Architekten e Frank Schultes Witt, expressa o silencio arquitetônico através de uma mesclagem entre o arcaico e o contemporâneo, que pode ser observado na monumentalidade do seu bosque de colunas em concreto. A solidez do concreto remete ás remotas lembranças das tumbas egípicias, onde as pirânides traziam uma firme crença do eterno. Por outro lado, como a arquitetura não pode mudar o destino das pessoas, os tons sóbios do concreto são capazes de proporcionar o silêncio ambiental, remetendo a um local de descanso, de reflexão por parte dos familiares. Os salões cerimoniais são simples caixas de pedra, onde, em um jogo com a fachada, trazem aberturas a partir de tiras direcionais de um envólucro de vidro, como se deixassem os corpos seguirem em direção a luz. Suas colunas trazem capitéis de luz estabelecendo a única referência que nos resta, um contraste cosmológico entre pilhas de barro e o sol com sua luz, conferindo uma força transcendental a obra. A relação céu e terra vai ainda mais fundo na interpretação dos arquitetos, ao conside-

Figura 53. Planta baixa do Crematório de Baumschulenweg , Axel Schultes e Charlotte Frank . Disponível em: www.archdaily.com.br. Acesso em: 14/05/2015

rarem a forma como ele se finca no solo e se ergue para o céu, distribuindo o edifício 10 metros acima e 10 metros abaixo do solo. Desta forma, é na consistência material de seus vários espaços que ele glorifica a quintessência da arquitetura, comemorando o espaço e o silêncio de paredes em luz. Este estudo de caso aplica-se a proposta do trabalho no que confere ao silêncio abordado no projeto, que necessita da relação da tectônica com a luz como forma de alcançar a atmosfera desejada.


Figura 54. Colunas do Crematório de Baumschulenweg , Axel Schultes e Charlotte Frank . Disponível em: www.archdaily. com.br. Acesso em: 14/05/2015 Figura 55. Salão do Crematório de Baumschulenweg , Axel Schultes e Charlotte Frank . Disponível em: www.archdaily. com.br. Acesso em: 14/05/2015

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4.2. MUSEU DO HOLOCAUSTO (DANIEL LIBESKIND - BERLIM, ALEMANHA)

Este projeto, localizado em Berlim, Alemanha , surgiu da necessidade de se implantar um ícone arquitetônico que identificasse todo o sentimento dos judeus, onde o vazio é ocupado pelas suas memórias e histórias. Filho de sobrevidentes do Holocausto, Libeskind procura retratar a maneira como ele lidou com o mito do Holocausto ao materializar uma arquitetura que explora as sensações do usuário a partir do edifício, retratando a História de forma simbólica, remetendo a vivência do espaço arquitetônico como elemento primordial do museu. A questão principal reside em identificar até onde a arquitetura pode realmente nos ajudar a perceber todas as angústias sofridas por uma cultura. Para a implantação, Libeskind, utilizou um signo da cultura judaica – a estrela de David – trazendo sua estrutura formal para o projeto. Entretanto, os triângulos presentes neste elemento – que significam concretização ou mate-

Figura 56. Museu do Holocausto, de Daniel Libeskind . Disponível em: www.vitruvius.com.br Acesso em: 24/05/2015 Figura 57. Museu do Holocausto, de Daniel Libeskind . Disponível em: www.vitruvius.com.br Acesso em: 24/05/2015 Figura 58. Diagrama feito a partir do signo judaico. Disponível em: www.vitruvius.com.br Acesso em: 24/05/2015

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Figura 59. Escultura externa do Museu do Holocausto, de Daniel Libeskind . Disponível em: www.vitruvius.com.br Acesso em: 24/05/2015 Figura 60. Museu do Holocausto, de Daniel Libeskind . Disponível em: www.vitruvius.com.br Acesso em: 24/05/2015

rialização – foram estilhaçados, representando um sentimento de revolta ao ocorrido. A implantação do museu se dá em zigue-zague, onde as altas paredes da fachada criam abismos trazendo uma sensação de ausência, que se remetem ao vazio deixado nas famílias dos judeus assassinados. Internamente, esta mesma sensação de repressão e opressão pode ser percebida a partir dos corredores estreitos, ao se unirem às paredes cegas, onde a luz escassa entra por poucos rasgos nas paredes, que vão desaparecendo no percorrer do projeto. As esculturas externas são dispostas simetricamente, lado a lado, como quem quisesse representar um grupo homogêneo fora de um contexto, remetendo a anulação participativa dos judeus na sociedade alemã nazista. Esta mesmo caráter será aplicado ao projeto em construção, no intuito de se criar uma harmoniosa sintonia de sensações entre o ambiente e seus frequentadores.

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4.3. CAPELA DE SÃO BENITO ( PETER ZUMTHOR)

Localizada na comunidade de Sumvitg, Suíça, este templo foi construído após a demolição da antiga capela da comunidade, em virtude de uma avalanche ocorrida no local. Desta forma, ela foi implantada de maneira estratégica, circundada por uma floresta, estando assim, protegida de futuras avalanches. Quando observada de fora, a estrutura remete a um material mais bruto, indestrutível, estereotômico; enquanto de dentro, é possível perceber a leveza da madeira, idealizada na forma de framework. Outro elemento que se distingue na capela se refere ao seu teto, feito a partir de fragmentos de um casco de barco, deixando claro o domínio tectônico do arquiteto. Na parte interna da capela, o espaço foi composto de forma singela, com colunas, vigas e bancos de madeira, diferindo apenas nas cores da textura, onde o teto era levemente mais escuro e os bancos, mais claros, criando o efeito de luz e sombra. Entre o telhado expressivo e a base

tradicional é possível perceber uma solução minimalista e elegante, onde um anel de colunas verticais de madeira e painéis de vidro coroam a capela, permitindo a penetração da luz natural. Esta luz natural, ao refletir na capela, traduz uma atmosfera inigualável, capaz de proporcionar uma relação com o divino, expressando o caráter da edificação. Em razão do exposto, essa obra também balizará este projeto, considerando os resultados advindos da tectônica, ou seja, a relação entre densidade e leveza, como abordado claramente no projeto de Zumthor, além de aspectos de penetração da luz. Finalmente chegamos na questão do caráter do edifício, onde, a partir da união de todos estes elementos abordados pelo arquiteto, entre eles, luz e sombra, densidade e leveza, matéria e luz, foi possível definir um caráter transcendental ao edifício, apesar de não conferir uma tipologia comum a igrejas da religião católica. Desta forma, esta afirmação do caráter será igualmente abordado no projeto a ser desenvolvido.


Figura 62. Vista Externa da Capela de SĂŁo Benito, de Peter Zumthor. DisponĂ­vel em: catalogo.artium.org. Acesso em: 16/05/2015

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Figura 63. Vista interna da Capilla de San Benito, de Zumthor. DisponĂ­vel em: catalogo.artium.org. Acesso em: 16/05/2015

Figura 64. Telhado da Capilla de San Benito, de Zumthor.

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DisponĂ­vel em: catalogo.artium.org. Acesso em: 16/05/2015


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CIDADE DOS ESPÍRITOS: UM CARÁTER PARA O CENTRO ESPÍIRITA - PROPOSTA


CIDADE DOS ESPÍRITOS 5.1. CONTEXTO HISTÓRICO

O Espiritismo enfrentou, desde o seu surgimento no século XIX, grande resistência imposta pelo segmento religioso dominante, sendo até hoje, no Brasil, confundido com outras denominações religiosas do movimento afro-brasileiro. Sendo a França o principal polo de difusão dos ideais iluministas, vários brasileiros que lá estudavam foram influenciados e trouxeram muitas ideias liberais, para sua terra natal, favorecendo a difusão das ideias espíritas no Brasil. Na segunda metade do século XIX, chegaram ao Recife notícias sobre os fenômenos espíritas, relatadas nas páginas do Diário de Pernambuco. Figura 65. Vista externa da antiga casa onde funcionava a FEP na Rua da Concórdia. Fonte: Arquivos da FEP

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O Espiritismo começou a ser praticado em grupos familiares reservados. Só a partir do final do século XIX é que começaram a surgir os centros espíritas. Foi no Bairro de São José – bairro histórico e central da cidade – na Rua da Concórdia, no ano de 1904, que um grupo de amigos fundou um dos primeiros centros espíritas do Recife, o Centro Espírita Regeneração, constituindo-se, em 1906, como uma sociedade civil, composta por uma diretoria e munida de estatuto. (FILHO, 2011) Este centro, no ano de 1915, veio a se tornar a Federação Espírita Pernambucana, passando a ser uma unidade federativa integrante da Federação Espírita Brasileira, no ano de 1923. (FILHO, 2011) Com o passar do tempo as casas espíritas foram se multiplicando na cidade, para atender o sempre crescente número de adeptos da doutrina. No ano de 1961, a Federação Pernambucana, que já não possuía mais estrutura para atender a demanda de público, recebe, por meio de doação, uma nova edificação – no bairro do espinheiro, constituída de um terreno maior, possibilitando a construção da nova sede para a FEP, na Avenida João de Barros, onde se encontra até os dias de hoje. (FILHO, 2011) Atualmente, constata-se que o Espiritismo, conseguiu conquistar um grande numero de adeptos e simpatizantes em todo o Brasil, e na cidade do Recife, não foi diferente, conforme verificamos na distribuição do número de casas espíritas existentes na região metropolitana.

Figura 66. Vista externa da antiga casa onde funcionava a FEP na Rua da Concórdia. Fonte: Arquivos da FEP

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Figura 67 e 68. Fachada do mesmo edifĂ­cio onde funciona a FEP logo quando adquirida e nos dias de hoje. Fonte respectivamente: Arquivos da FEP e autoral

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LEGENDA: Centros espíritas FEP

Cabe ressaltar que, nos registros da FEP, encontram-se filiadas 160 entidades espíritas, apenas na cidade do Recife. O movimento espirita vem crescendo e se fortalecendo, principalmente em virtude da consistência e da coerência do conteúdo dos postulados da doutrina, que não se abalam diante do crivo da razão e do bom senso. A FEP, sendo uma unidade federativa e referência da doutrina no Estado de Pernambuco, mantem todo o seu trabalho de propagação da doutrina orientado sob a égide de Jesus e Kardec. Por isso, tem recebido o reconhecimento de um número, cada vez maior, de cidadãos que buscam amparo, consolo, esclarecimento e orientação espiritual por manter todo seu trabalho.

Figura 69. Centros Espíritas no Recife. Fonte: Google Maps com edição autoral.

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5.2. O BAIRRO

De acordo com dados da Prefeitura do Recife, o bairro do Espinheiro possui as seguintes características: Área: 73 hectares Densidade demográfica: 142,56 População residente: 10.438 habitantes Região politico administrativo: RPA3 Zona: ZUP 1 Localizado na região Norte da cidade do Recife, o bairro do Espinheiro tem como vizinhança os bairros da Encruzilhada, Aflitos, Santo Amaro e Graças. Considerado um bairro nobre e central da cidade, ele agrega uma faixa etária madura, onde os idosos (mais de 60 anos) representam 19,64% e os adultos (entre 25 e 59 anos) 51,88% da população total do bairro. Além do mais, o percentual de mulheres (57,22%) predomina sobre o de homens (42,78%), tendo ainda um dos melhores índices de escolaridade (98,1%), sendo este também o mesmo perfil geral dominante dos sócios e frequentadores da FEP, segundo dados da Prefeitura do Recife.

Figura 70. Mapa indicando delimitação geográfica do bairro

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do Espinheiro na cidade do Recife. Fonte: Google Maps com edição autoral.


5.3. O TERRENO

N

Localizado no bairro do Espinheiro, o terreno escolhido para execução do projeto foi o mesmo da atual sede da Federação, considerando as características gerais do bairro, principalmente no que diz respeito a sua localização. Compreende uma área física de 2.222,50m², desenhando um formato irregular. Figuras 71 e 72. Mapa indicando o terreno na delimitação geográfica do bairro do Espinheiro. Fonte: Google Maps com edição autoral.

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5.4. USOS

Quanto aos usos das edificações existentes no bairro, percebemos a predominância do uso residencial, seguida pelos serviços.

Figura 73. Mapa de usos. Fonte: Autoral

COMÉRCIAL MISTO EDUCACIONAL ABANDONADO INSTITUCIONAL SERVIÇO RESIDENCIAL

N 86

0 10 20 30 50

100


5.5. CHEIOS E VAZIOS

No mapa ao lado é possível identificar que trata-se de um bairro recente, no que diz respeito a configuração das edificações, devido a presença de recuos encontrados entre as construções, principalmente o lateral e de fundo. Percebemos também, através deste mapa que o entorno imediato da FEP se configura levemente mais denso no seu lado direito, enquanto, em seu lado esquerdo é levemente menos denso. Isso pode ter ocorrido em função das edificações encontradas, já que o lado mais denso possui mais casas e o lado menos denso, dispõe de maior quantidade de edifícios.

Figura 74. Mapa de cheios e vazios. Fonte: Autoral

VAZIO CHEIO TERRENO

N

0 10 20 30 50

100

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5.6. GABARITO

Figura 74. Mapa de gabarito. Fonte: Autoral

No mapa x é possível perceber que, apesar de existirem edifícios mais altos no entorno imediato do terreno, ainda predominam muitas edificações de baixo gabarito, sendo esta horizontalidade justificada pelo grande número de casas na região. Entretanto, este bairro esta situado em uma área bastante visada pelas construtoras imobiliárias, onde já se identifica um quadro de crescente verticalização.

ACIMA DE 30M DE 12M À 30M DE 6M À 11M DE 3M À 5M TERRENO

N

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0 10 20 30 50

100


5.7. VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO

O terreno possui uma fachada de acesso, situada no nascente, e uma de fundos, no poente, fator considerado em todos os momentos, já que a relação da luz natural com o edifício consiste no elemento de estudo do trabalho. No que concerne à ventilação, as suas fachadas laterais e frontal são bastante privilegiadas, já que são favorecidas pelos ventos nordeste e sudeste. Figura 75. Mapa de ventilação e iluminação.

SENTIDO DO VENTO ENTORNO TERRENO

POENTE NASCENTE

N

0 10 20 30 50

100

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5.8. LEGISLAÇÃO

O terreno escolhido, localizado na zona norte do Recife, esta inserido, de acordo com a Lei de Usos e Ocupação do Solo (LUOS), na Zona de Urbanização Principal 1(ZUP1), contendo as diretrizes para a construção a seguir elencadas.

ZUP 1 ÁREA DO TERRENO

2.222M²

(COEFICIENTE DE UTILIZAÇÃO)

4,00

POTENCIAL CONSTRUTIVO

10.064M²

TSN (TAXA DE SOLO NATURAL)

25% (555,5M²)

ÁREA MÁXIMA DA LÂMINA

1.887M²

MÁXIMO DE PAVIMENTOS COM LÂMINA

5,3

MÁXIMA

5,00

AFASTAMENTO FRONTAL

NULO/1,5

AFASTAMENTO LATERAL

3,00

AFASTAMENTO DE FUNDO

1VAGA/30M²

Tabela 1. Legislação indicada na ZUP1 Fonte: Autoral

90


5.9. DIRETRIZES

A proposta para a Federação Espírita Pernambucana consiste, primeiramente, na demolição dos atuais edifícios da sede, já que eles não mais atendem à crescente demanda da casa. Desta maneira, uma nova edificação será implantada, aproveitando a irregularidade do terreno, sendo criado um bloco único e um pátio interno, introspectivo, que se tornará um refúgio dentro da agitada cidade do Recife. A definição da unidade do edifício como principal diretriz proporcionará a integração de todas as atividades da FEP, diferentemente do que ocorre atualmente, onde os blocos são segregados, dando a ideia de “pavilhonamento”. Outra questão a ser abordada na proposta diz respeito à visada (setas vermelhas na figura 86) obtida a partir da rua em frente à FEP, na qual sua fachada atuaria de maneira convidativa, principalmente no eixo da calçada, permitindo continuidade no percurso do pedestre. A tectônica atuaria de maneira a relacionar dois materiais antagônicos, fazendo alusão à entre densidade e à leveza, esteriotomia e framework, céu e terra. Ainda dento desta proposta, a luz surgiria como elemento primordial da edificação, que por meio dela, poderia incorporar uma atmosfera propícia à relação com o divino sugerida pela configuração do templo. A luz surgiria no decorrer do edifício, no qual, por meio de rasgos, materializaria a relação de luz e sombra.

Figura 76. Implantação existente a ser demolida Fonte: Autoral

Figura 77. Implantação do edifício proposto Fonte: Autoral

91


5.10. PROGRAMA E PRÉ-DIMENSIONAMENTO Os centros espíritas podem desenvolver uma variada gama de atividades, entretanto, iniciam seus trabalhos com um programa simples, onde desenvolvem pequenas atividades consideradas primordiais, tais como reuniões públicas doutrinárias e atendimento espiritual – atendimento fraterno e aplicação de passes. Com o passar do tempo, estes mesmos centros podem se desenvolver, passando a contar com um maior número de trabalhadores, permitindo intensificar seus programas de forma a atender uma maior demanda de público. Quanto às unidades federativas, possuem um programa mais extenso para desen-

1 6 5

2 4

volver, que inclui o trabalho federativo e de unificação do movimento espírita, bem como o de união dos espíritas e de suas instituições, baseando-se nos princípios de fraternidade, solidariedade, liberdade e responsabilidade que a doutrina espírita preconiza. Para dar cumprimento a este programa, a FEP realiza um permanente contato com as demais sociedades espíritas, promovendo a sua união e integração, disponibilizando sugestões, experiências, trabalhos e programas de apoio de que necessitem para suas atividades. Também realiza reuniões, cursos, confraternizações e outros eventos destinados a dirigentes e trabalhadores espíritas para a renovação e atualização de conhecimentos doutrinários e administrativo; como também realiza eventos destinados ao grande público para divulgação da doutrina espírita, para que o Espiritismo seja cada vez mais conhecido e melhor praticado. Em tese, todas estas atividades deveriam ser desenvolvidas nas dependências da FEP, entretanto, as seis edificações existentes não comportam esta carga de trabalho, gerando a urgente necessidade de adequação de suas instalações.

3 Figura 78. Planta baixa indicando cada um dos seis edifícios

92

encontrados atualmente na FEP. Fonte: Google Maps com edição autoral.


O edifício 1 composto de dois pavimentos, contêm: um auditório com capacidade para 800 pessoas, uma biblioteca, uma livraria, uma recepção, uma tesouraria, uma sala da diretoria, uma antessala da diretoria, uma diretoria financeira, dois sanitários (feminino com seis boxes e masculino com dois boxes e três mictórios), um corredor de permanência, uma sala de apoio ao palestrante e quatro cabines para auto passe. No edifício 2, composto apenas de um pavimento, encontra-se: um memorial, uma Diretoria de Comunicação e a Diretoria de Assistência e Promoção Social, contendo uma recepção, um depósito e uma sala para costura.

Figura 79.Vista da fachada do edifício 1. Fonte: Autoral Figura 80.Vista da fachada do edifício 2. Fonte: Autoral

93


O edifício 3, integrado por dois pavimentos, contém uma sala de espera e uma sala para aplicação de passes, além do Diretoria de Áreas Federativas. O edifício 4, também formado por dois pavimentos, possui uma sala de espera e uma sala para aplicação de passes, uma antessala de preparação, uma sala de reunião mediúnica e um banheiro. No edifício 5, constituído por três pavimentos, encontram-se: sete salas de aula, uma sala de reunião mediúnica, oito sanitários (quatro femininos e quatro masculinos), uma sala de leitura infantil, uma sala da Diretoria de Infância e Juventude (DIJ), uma sala da coordenação do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE), uma sala da coordenação do curso de Esperanto e uma secretaria do DIJ. O edifício 6, composto também por dois pavimentos, abriga: a Diretoria de Assistência Espiritual que conta com uma recepção, uma ante sala de espera e cinco cabines de atendimento;

Figura 81.Vista da fachada do edifício 3. Fonte: Autoral

94

Figura 82.Vista da fachada do edifício 4. Fonte: Autoral


além de duas salas de aula para o estudo da mediunidade (MEP 1 e 2), uma coordenação do CEDOC; uma lanchonete composta por uma cozinha e um espaço de permanência; uma sala para bazar; e demais dependências do LEMA (com três quartos, um banheiro, uma sala de estar, uma cozinha, uma copa, uma área de serviço e um terraço). Para tanto, todo o programa existente deverá ser mantido, apenas sofrendo ajustes em seu dimensionamento e distribuição, de forma a melhorar o atendimento ao público. Entretanto, outros espaços devem ser acrescidos ao programa, visando atender aos eventos da casa, uma vez que agregam um grande número de participantes, e que hoje induzem à necessidade de locação de outras dependências externas, envolvendo um grande dispêndio de recursos financeiros, sempre parcos dentro da realidade do movimento espírita, conforme dados obtidos em arquivos da FEP, apresentados a seguir.

Figura 83.Vista da fachada do edifício 5. Fonte: Autoral

Figura 84.Vista da fachada do edifício 6. Fonte: Autoral

95


Desta forma, além da necessidade da ampliação do auditório, onde poderá ser realizada a Mostra Espírita, também é possível justificar a necessidade da implantação de alojamentos para a realização de outros eventos, como o EJEPE do Departamento de Juventude, e a criação de espaços de estar, onde, eventualmente, abrigará o Chá Beneficente. Além disto, também será acrescida uma sala de música, onde o Grupo Alvorada – banda formada pela casa – e o Coral da FEP a utilizarão para

ensaios, armazenamento dos instrumentos e aulas de música. Os espaços foram devidamente zoneados em conveniência, funcional, de estudo, privado e público, onde foram encaixados todo o programa anteriormente descrito da casa, assim como os espaços acrescidos. A seguir, é possível conferir uma tabela indicando os espaços zoneados com seus respectivos pré-dimensionamentos, totalizando uma estrutura de 2.860m² a ser construída.

GASTOS DA FEP NO ALUGUEL DE ESPAÇOS MOSTRA ESPÍRITA: Evento realizado anualmente pela FEP para divulgação do espiritismo, onde são realizadas palestra com expositores nacionais, recebendo um público de, aproximadamente, 1000 pessoas. Nos últimos anos este evento foi realizado no centro de convenções, onde, foi investido, em média, 40.000,00 REAIS por evento.

EJEPE: Evento realizado pelo Departamento de juventude contando com integrantes de diversos estados do nordeste no período da Semana Santa, para isso, necessita-se de espaço para alojamento com banheiros munidos de chuveiros, sendo alugadas escolas, onde são investidos 10.000, 00 REAIS.

CHÁ BENEFICENTE: Evento realizado com objetivo de arrecadar recursos em favor as famílias assistidas pela FEP, para o evento é necessário aluguel de salões, normalmente provenientes de clubes devido ao tamanho, onde, mesmo com abatimentos no valor do aluguel, ainda são pagos, aproximadamente, 1.000,00 REAIS.

96

Tabela 2. Gastos da FEP no aluguel de espaços

Tabela 3. Zoneamento e Pré-dimensionamento

Fonte: Autoral

Fonte: Autoral


CONVENIÊNCIA:

PRIVADO: DIRETORIAS

|7X10M²

BAZAR

|1X30M²

COORDENAÇÕES

|3X10M²

CAFÉ

|1X100M²

CONSELHO

|1X30M²

LIVRARIA

|2X50M²

TESOURARIA

|1X10M²

APOSENTOS LEMA : QUARTOS

|2X20M²

SALA

|1X30M²

COZINHA

|1X20M²

BANHEIRO

|1X10M²

ÁREA SERVIÇO

|1X10M²

total: 180M²

FUNCIONAL:

total: 210M²

PÚBLICO:

SALA DE PASSES

|1X50M²

AUDITÓRIO

|1X1000M²

ATENDIMENTO FRATERNO

|1X50M²

ESTACIONAMENTO

103 VAGAS

SALA DE ESPERA

|2X50M²

RECEPÇÃO

|1X10M²

PROMOÇÃO SOCIAL (DAPSE)

|1X50M²

OBSERVATÓRIO

|1X50M²

SALA DE COSTURA

|1X30M²

MEMORIAL/

|1X50M²

DEPÓSITO DE DOAÇÕES

|1X50M²

BANHEIROS P/ PAV.

|2X5M²

PERMANÊNCIA

|1X100M²

total: 330M²

total: 1220M²

ESTUDOS: SALAS DE AULA: EVANGELIZAÇÃO INFANTOJUVENIL (DEPARTAMENTO DE INFANCIA E JUVENTUDE)

|6X50M²

ESDE (ESTUDO SISTEMATIZADO DA DOUTRINA ESPÍRITA)

|6X50M²

MEP (MEDIUNIDADE ESTUDO E PRÁTICA)

|2X50M²

EAD (ESTUDO AVANÇADO DA DOUTRINA ESPÍRITA)

|1X50M²

SALA DE REUNIÃO MEDIÚNICA

|2X50M²

SALA DE MÚSICA

|1X60M²

BIBLIOTECA

|1X60M² total: 920M²

97


Figura 85.Croqui terreno. Fonte: Autoral

Figura 86.Croqui volume horizontal. Fonte: Autoral

98

Figura 87.Croqui volume vertical. Fonte: Autoral

5.11. A PROPOSTA

Diante do extenso programa a ser implantado no terreno, de dimensões restritas e forma irregular faz-se necessária a verticalização da edificação proposta. Visando potencializar a irregularidade do terreno, são lançados dois volumes, um horizontal, mais longilíneo, compreendendo a extremidade triangular e estreita do terreno, destinado a abrigar o auditório; e outro vertical, que se propõe a acolher o restante do conteúdo programático, sendo implantado no centro do terreno. É justamente neste centro geométrico que esses volumes se encaixam gerando uma forma única e monolítica.

Figura 88.Croqui volume final. Fonte: Autoral


Sendo assim, os edifícios adotam essas duas direções principais, a horizontal e a vertical, as quais coincidem com as direções do céu e da terra, de acordo com Norberg- Schulz. Com base nesta perspectiva, o caráter religioso, inerente à natureza do edifício idealizado, é abordado a partir de uma dimensão predominantemente espacial. “A percepção do corpo e a imagem do mundo se tornam uma experiência existencial continua; não há corpo separado do seu domicílio do espaço, não há espaço desvinculado da imagem inconsciente de nossa identidade pessoal perceptiva. ” (Pallasmaa, 2011 p. 38)

A estruturação espacial é definida a partir da tomada da consciência do próprio sujeito, da relação do seu corpo com o ambiente. Quando falamos de arquitetura com dimensão espiritual logo nos vem à mente espaços como o Claustro de São Francisco, no bairro de Santo Antônio, no Recife.

Figura 89.Clausto de São Francisco. Fonte: Autoral

99


Figura 90.Clausto de SĂŁo Francisco. Fonte: Autoral

100


Figura 91.Clausto de SĂŁo Francisco. Fonte: Autoral

101


De acordo com Pallasmaa, no ser humano há uma certa preferência pelo sentido da visão, que acaba por ofuscar os demais sentidos, provocando uma quantidade de imagens ao invés de capturar a essência do lugar. “A hegemonia gradualmente obtida pelos olhos parece ter paralelo com o desenvolvimento da consciência do ego e o paulatino afastamento do indivíduo do mundo; a visão nos separa do mundo, enquanto os outros sentidos nos unem a ele.” (PALLASMAA, 2011 p. 38)

Quando eliminamos o foco das imagens gravadas em nossa mente, limpando-a, abrimos

espaço para a reflexão. Dessa forma, “para que possamos pensar com clareza, a precisão da visão tem de ser reprimida, pois as ideias viajam longe quando nosso olhar fica distraído e não focado” (PALLASMAA, 2011) Isso leva a uma incapacidade para perceber os espaços a partir de elementos materiais, provocando a percepção destes apenas a partir do claro e do escuro, definido pela presença de luz no ambiente, no qual o elemento material dá espaço para o imaterial. Nota-se, a partir do experimento exposto a seguir, a desmaterialização do ambiente, no qual a matéria dá lugar à luz.

Figura 92.Clausto de São Francisco editado pela autora. Fonte: Autoral

102


103


Figura 93.Clausto de SĂŁo Francisco editado pela autora.

104

Fonte: Autoral


Figura 94.Clausto de SĂŁo Francisco editado pela autora. Fonte: Autoral

105


SENSORIAL Figura 95.Croqui zoneamento Fonte: Autoral

PRIVADA MEDIÚNIC

A

ESTUDO

2

ESTUDO 1 FUNCIO

NAL

CONVEN

IÊNCIA

106

Seguindo essa perspectiva, propõem-se que o novo centro espírita materialize a transformação da densidade física (do corpo) em leveza espiritual, à medida que se eleva ao céu, remetendo à ideia de infinito, seguindo um processo evolutivo contínuo. Essa gradação ocorre primeiramente no zoneamento do edifício, segundo o qual os pisos mais baixos são destinados às atividades mais terrenas, voltadas para a manutenção da instituição. Nos planos subsequentes desenvolvem-se as atividades destinadas à educação espiritual. E, representando o estágio máximo de transcendência, temos o topo do edifício, que promove um encontro mais direto com o céu. Sendo assim, a edificação foi segmentada em sete zonas: Primeiramente, encontramos a zona de conveniência (pavimentos 2, 3 e 4) destinada ao bazar, livraria e café. Entre os pavimentos 5, 6 e 7, localiza-se a zona funcional, destinada ao atendimento fraterno, salas de passe, sala de doações e afins, tais como sala de costura e depósito. Acima desta encontram-se os espaços para estudo (pavimentos 8 ao 18), que se sub-


dividem em três zonas: biblioteca e salas para evangelização infanto-juvenil; sala de música e salas para evangelização de adultos, e, por último, os estudos mediúnicos. Na sequencia, dispõe-se a zona privada (pavimentos 19 ao 21), destinada à administração da instituição, além da residência de quatro moradoras, oriundas de um antigo abrigo existente na casa. No topo do edifício, (pavimentos 22 ao 24) encontra-se a zona sensorial, que abriga um memorial e um observatório. Em paralelo a esta orientação, a iluminação foi pensada para correr de modo gradual ao longo da edificação (no sentido vertical), corroborando com o entendimento espírita de que, à medida que se depura e evolui, o espírito se ilumina, e passa a emitir cada vez mais luz. É válido lembrar Zumthor (1994) que alude a luz natural como elemento fundamental no âmbito da criação de uma atmosfera, “a luz natural que cai de cima, confere ao espaço um clima que produz uma sensação suave e intensa”. No presente projeto, adota-se justamente esta ideia como elemento definidor do caráter do edifício

religioso em questão. Em relação às estratégias projetuais, foram acompanhadas algumas dinâmicas desenvolvidas na disciplina de Projeto Arquitetônico VII, da Universidade Católica de Pernambuco, que aborda temas como fenomenologia na arquitetura e a arquitetura atmosférica, objeto de análise deste trabalho. Dentre essas atividades desenvolvidas, foram realizados determinados estudos a cerca do domínio da luz, a partir do comportamento da mesma em determinados ambientes reproduzidos em cubos de 20x20x20cm. Nestes deveriam ser propostos de forma a considerar, além da captação da luz natural, a percepção dos cinco sentidos descritos por Pallasmaa (2011). Foram produzidos três cubos que deveriam ser documentados sob a forma de um ensaio fotográfico, captado durante cinco momentos, ao longo do dia: 08;00h, 10:00h, 12:00h, 14:00h e 16:00h. O primeiro deveria conter, além da luz natural, elementos apenas relacionados à visão; o segundo ensaio deveria relacionar-se ao tato e a audição, e o último, ao olfato.

107


Para o primeiro ensaio, trabalhando-se na escala de 1:50, foi desenvolvido um volume cuja abertura dá-se pelo teto, com o equivalente a três pavimentos ou dez metros de altura. A proposta apresentada é que, após percorrer-se o edifício todo fechado, o transeunte depara-se com um grande vazio aberto para o céu, através da qual adentra uma intensa luz, que percorre todo o edifício, remetendo a uma paz profunda.

Figura 96. Primeiro ensaio, fotografado às 08:00h, 10:00h, 12:00h, 14:00h e 16:00h Fonte: Autoral

108 8:00H


10:00H

12:00H

109 14:00H

16:00H


Para o segundo ensaio, também na escala de 1:50, a proposta foi de um ambiente interno onde as paredes se repartiram em fitas de larguras diferentes que sacavam de maneira alternada, remetendo a teclas de um piano, proporcionando desníveis e consequentemente aguçando o tato dos transeuntes. A luz, por outro lado, penetrava o teto, em pequenos rasgos que acompanhavam os desníveis projetados pelas parede. Desta forma, a medida que o dia passava, a luz percorria todo o edifício, dando vida ao ambiente; como uma canção suave, formada pelo toque da luz, a música torna-se presente.

110

Figura 97. Segundo ensaio, fotografado às 08:00h, 10:00h, 12:00h, 14:00h e 16:00h Fonte: Autoral

8:00H


10:00H

12:00H

14:00H

111 16:00H


No último ensaio, estabeleceu-se uma relação entre interno e externo, trabalhado na escala de 1:25, onde o transeunte percorre o edifício com 4 metros de altura, deparando-se com septos ao invés de paredes, rotacionados em seu próprio eixo, evitando assim a visibilidade do pátio existente, que é percebido apenas pelo cheiro de ar fresco e de terra molhada, ou pelo som dos pássaros. A luz, por outro lado, é percebida ao atravessar as brechas encontradas em seu percurso, desenhando o ambiente com a passagem do tempo.

112

Figura 98. Terceiro ensaio, fotografado às 08:00h, 10:00h, 12:00h, 14:00h e 16:00h Fonte: Autoral

8:00H


10:00H

12:00H

113 14:00H

16:00H


Figura 99. Perspectiva da estrutura em concreto

114

Fonte: Autoral

Visando explorar a espacialidade e a luz natural no projeto, a verticalização ocorre a partir de um jogo de volumes empilhados, porém afastados do solo, que estruturalmente funcionam a partir de quatro pilares de 1,5m x 0,3m, conformando uma caixa de 6,5m x 7m, destinada à circulação vertical. A formação dos volumes dá-se por meio de uma modulação criada a partir de um espaço de 17x17m, na qual a malha estrutural foi estabelecida da seguinte forma: comprimento de 3x6,5x7m e largura de 6x7x3,5, alocando-se 0,5m restante, de cada lado, para o afastamento das bordas laterais. A estrutura vertical, mais densa, destina-se ao volume central - de caráter estrutural. O restante do espaço foi mantido em balanço, gerando a planta livre, que dá suporte ao leiaute flexível. Vigas invertidas, medindo 0,3mx0,7m, compõem a estrutura horizontal, suportando o vão em balanço. A altura de 0,70m permite a passagem do sistema de encanamento. Para a formação dos volumes foram feitos recuos a cada 1,5metros. Levando-se em conta a desmaterialização percebida na relação entre densidade e leveza, os volumes, à medida que se elevam, sofrem recuos maiores, afastando-se cada vez mais das fachadas, parecendo mais leves. O fechamento desses volumes ocorre a partir da sobreposição de dois tipos de filtros de luz – o vidro e as telas metálicas, que controlam a entrada da mesma nos ambientes.


Essas telas dão o fechamento das densas lajes em concreto, conferindo-lhes forma, e, ao mesmo tempo, incitando leveza aos volumes, uma vez que permitem uma integração das faces da edificação. Externamente, há uma estrutura metálica em diagrid, para dar suporte à fachada de vidro translúcido, que diminui a intensidade de radiação solar no edifício, ao refletir parte da luz, conferindo, ao mesmo tempo, um efeito luminoso difuso radiante. Além disso, este tipo de vidro confere uma distorção da visão de quem observa, seja de dentro para fora, ou vice-versa, proporcionando um ambiente misterioso, uma vez que estimula a curiosidade de quem está fora e a introspecção de quem esta dentro. Essa atmosfera introspectiva cria um espaço para a reflexão, a concentração e a harmonização interior das pessoas. A estrutura em diagrid é aplicada definindo uma triangulação em sua malha estrutural, remetendo ao triplo aspecto da Doutrina Espírita ciência, religião e filosofia; da constituição do ser - espírito, períspirito e corpo, como também dos pilares que fundamentam o Espiritismo – Deus, Cristo e Caridade. Este mesmo formato macro triangular é valorizado no recorte existente na tela metálica que cobre os volumes internos, suavizando os contrastes entre os volumes. Mesmo sendo autoportante, essa estrutura é amarrada nas vigas internas, por meio de cabos de aço, dando maior segurança ao edifí-

ESTRUTURA METÁLICA EM DIAGRID

TELA METÁLICA

ESTRUTURA EM CONCRETO

Figura 100. Perspectiva das camadas filtrantes Fonte: Autoral

do edifício.

115


ESTRUTURA METÁLICA EM DIAGRID

VIDRO TRANSLÚCIDO

116

Figura 101. Perspectiva da estrutura em diagrid. Fonte: Autoral


Os volumes internos, assim como trabalhado nos cubos do ensaio analisado, ganham pés direito diferentes, além de sacarem e recuarem de maneira dinâmica, criando diferentes vazios e modificando a percepção da luz dentro da edificação. A partir dos estudos de PLUMMER (2009), os efeitos da luz foram classificados em: atomização, luminescência, véus de cristal, evanescência, silêncio ambiental, procissão e canalização, conforme citado anteriormente. Cada um destes efeitos desenvolveu-se a partir das diferentes relações entre matéria e luz. Com base nessa ideia, cada um dos volumes apresenta um efeito de luz que sugere a representação de estágios evolutivos. Primeiramente, encontramos o efeito véus de cristal, através do qual a matéria desvia a trajetória da luz, que penetra o ambiente de maneira difusa, ao atravessar os dois filtros de luz. Este bloco destina-se ao setor de conveniência, onde a matéria é mais significativa que a luz. Em seguida, temos a luminescência, onde luz e matéria confundem-se em um elemento único, surtindo um efeito luminoso radiante, tanto ao atravessar a tela quanto o vidro. Este bloco compõe a zona funcional, destinado ao atendimento ao público, ainda muito preso à matéria. Posteriormente, observamos a atomização, encontrada no primeiro volume dedicado ao estudo, onde a luz começa a atravessar,

levemente, a matéria porosa (tela metálica), por meio de partículas da luz. No quarto bloco, temos o efeito procissão, sugerindo o estudo como caminho para alcançar a iluminação, sendo percebido a partir de corredores escuros e salas de aula iluminadas. A canalização da luz, representada pela passagem luminosa na matéria oca, apresenta-se no quinto volume, uma vez que o estudo e a prática mediúnica propiciam iluminação às pessoas. Quanto ao sexto volume, destinado às diretorias e ao lar espírita Manoel de Azevedo – LEMA, verifica-se o efeito evanescência, que demonstra a passagem do tempo a partir da projeção da luz nas faces do ambiente. Este efeito comprova a máxima espírita de que tudo passa. Por fim, para abrigar o memorial e a exposição, encontra-se o silêncio ambiental, apresentado através da luz difusa que perpassa o vidro e a tela, proporcionando um ambiente etéreo. Deste modo, ao percorrer-se o volume em direção a luz plena, encontra-se, momentos antes, uma abertura zenital anunciando a presença de luminosidade intensa e direta no topo do edifício, aludindo ao estágio máximo de evolução espiritual. Este estágio encerra assim o processo de desmaterialização, tanto do homem como do edifício, simbolicamente representado pela destruição do homem/edifício velho, materialista, e pela construção do homem/edifício novo, espiritualizado.

117


118

Figura 102. Perspectiva da vista externa da FEP. Fonte: Autoral


119


Figura 103. Perspectiva do ambiente de estar do primeiro volume, representando o efeito vĂŠus de cristal. Fonte: Autoral

120


Figura 104. Perspectiva da sala de espera do segundo volume, representando o efeito luminescĂŞncia. Fonte: Autoral

121


Figura 105. Perspectiva do lounge de televisão do terceiro volume, representando o efeito atomização. Fonte: Autoral

122


Figura 106. Perspectiva do corredor em direção as salas de aula do quarto volume, representando o efeito procissão. Fonte: Autoral

123


Figura 107. Perspectiva da sala de reunião mediúnica do quinto volume, representando o efeito canalização. Fonte: Autoral

124


Figura 108. Perspectiva da sala de estar do LEMA no sexto volume, representando o efeito evanescĂŞncia. Fonte: Autoral

125


Figura 109. Perspectiva do ultimo lance de escada no sĂŠtimo volume, representando o efeito silĂŞncio ambiental. Fonte: Autoral

126


Figura 110. Perspectiva do observatรณrio. Fonte: Autoral

127


Figura 111. Perspectiva do auditรณrio. Fonte: Autoral

128


Figura 112. Perspectiva do acesso ao edifĂ­cio pela Avenida JoĂŁo de Barros. Fonte: Autoral

129


Figura 113. Perspectiva do pรกtio externo. Fonte: Autoral

130


Figura 114. Maquete. Fonte: Autoral

131


132

Como proposta complementar, destaca-se a necessidade da construção de um estacionamento externo à área objeto deste trabalho. Por ser uma unidade federativa, a FEP recebe uma grande concentração de frequentadores, provocando uma alta demanda de veículos no local. Considerando a reduzida e irregular área do terreno, a construção de um edifício garagem neste espaço geraria uma interface de pouca relação com a avenida João de Barros, como ocorre atualmente. Além do exposto, a Federativa encontra-se localizada em uma via arterial secundária, onde encontram-se diversos equipamentos geradores de alto fluxo de veículos, por se tratar de uma área residencial e comercial, marcadamente tumultuada. Sendo assim, este estacionamento fica sujeito a uma análise especial posterior, sugerindo-se, desde já, como alternativa, a aquisição de dois imóveis, sem valor histórico, localizados em frente ao terreno, que atende às necessidades de vagas, além de poder ser acessado pela Rua Alfredo de Castro, via local de menor fluxo.

Figura 115. Planta baixa indicando terreno da atual FEP e o terreno

sugerido para o estacionamento. Fonte: Google

Maps com edição autoral.


TERRENO FEP

TERRENO SUGERIDO AO ESTACIONAMENTO

133



ANEXOS








BLOCO 1

B

A

HALL ACESSO

BAZAR

LIVRARIA

A=19.52m²

A=35.73m²

A=47.63m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 sobe

VAZIO

SHAFT

WC

A=4.26m²

D.S.

DEPÓSITO A=9.02m²

ACESSO RESTRITO

PROVADOR A=3.43m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 2º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 1

B

A

PROJEÇÃO MEZANINO

CIRCULAÇÃO A=30.08m²

D.S. ELEVADOR

CAIXA

A=8.10m²

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09

ESTAR

sobe

A=47.60m²

VAZIO

COZINHA A=18.00m²

SHAFT

WC

A=4.26m²

D.S.

WC

A=4.26m²

CIRCULAÇÃO

ACESSO RESTRITO

A=8.43m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 3º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 1

B

A

VAZIO

CIRCULAÇÃO A=10.88m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 sobe

ESTAR MEZANINO

VAZIO

ESTAR MEZANINO

A=31.20m²

VAZIO

A=20.80m²

SHAFT

WC

A=4.26m²

D.S.

WC

A=4.26m²

CIRCULAÇÃO A=3.43m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 4º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 2

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A=10.88m²

ACESSO RESTRITO

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

RECEPÇÃO A=12.90m²

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 sobe

SHAFT

WC

D.S.

A=4.26m²

ASSISTENCIA SOCIAL

ARQUIVO A=4.26m²

DEPÓSITO DOAÇÕES

SALA COSTURA

A=27.30m²

A=93.80m²

A=28.80m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 5º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 2

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A=10.88m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 sobe

CABINES DE ATENDIMENTO A=40.20m²

SHAFT

WC

A=4.26m²

D.S.

WC

A=4.26m²

SALÃO ESPERA ATENDIMENTO FRATERNO A=122.60m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 6º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 2

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A=10.88m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 sobe

CABINES DE ATENDIMENTO A=40.20m²

SHAFT

WC

A=4.26m²

D.S.

WC

A=4.26m²

SALÃO ESPERA ATENDIMENTO FRATERNO A=122.60m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 7º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 2

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A=10.88m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 sobe

SHAFT

WC

A=4.26m²

SALA DE PASSE

WC

D.S.

A=4.26m²

SALÃO ESPERA PASSE A=122.60m²

A=40.20m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 8º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 3

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A= 10.88m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 sobe

LOUNGE TV

COPA

ESTAR TERRAÇO

A= 22.25m²

A= 26.70m²

A= 60.30m²

SHAFT

WC

A=4.26m²

LOUNGE

WC

D.S.

A=4.26m²

SALA LEITURA

A= 18.00m²

A= 53.40m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 9º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 3

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A= 10.88m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 sobe

ESTAR

COPA

A= 26.70m²

A= 22.25m²

VAZIO

SHAFT

WC

A=4.26m²

SALA INFANTIL

WC

D.S.

A=4.26m²

SALA INFANTIL

A= 35.70m²

A= 35.70m²

B

A

1

PLANTA BAIXA - 10º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 3

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A= 10.88m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 sobe

ESTAR

COPA

A= 26.70m²

A= 22.25m²

VAZIO

SHAFT

WC

A=4.26m²

SALA INFANTIL

WC

D.S.

A=4.26m²

SALA INFANTIL

A= 35.70m²

A= 35.70m²

B

A

1

PLANTA BAIXA - 11º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 3

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A= 10.88m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 sobe

ESTAR

COPA

A= 26.70m²

A= 22.25m²

VAZIO

SHAFT

WC

A=4.26m²

SALA INFANTIL

WC

D.S.

A=4.26m²

SALA INFANTIL

A= 35.70m²

A= 35.70m²

B

A

1

PLANTA BAIXA - 12º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 4

B

A

HALL ACESSO A=10.80m²

VISTIÁRIO FEM.

D.S.

A=27.24m²

ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA

CIRC.

A=10.80m²

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 sobe

VAZIO

SHAFT

ACESSO RESTRITO

SALA APOIO A=4.26m²

D.S.

DML

ACESSO RESTRITO

A=4.26m²

VISTIÁRIO MASC. A=27.24m²

SALA DE MÚSICA A=95.85m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 13º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 4

B

A

HALL ACESSO A=25.28m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 sobe

CIRC.

A=10.82m² VAZIO

VAZIO SHAFT

WC

A=4.26m²

D.S.

SALA APOIO A=4.26m²

SALA AULA A=53.26m²

ACESSO RESTRITO

ACESSO RESTRITO

SALA AULA A=60.10m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 14º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 4

B

A

HALL ACESSO A=25.28m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 sobe

CIRC.

A=10.82m² VAZIO

VAZIO SHAFT

WC

A=4.26m²

D.S.

SALA APOIO A=4.26m²

SALA AULA A=53.26m²

ACESSO RESTRITO

ACESSO RESTRITO

SALA AULA A=60.10m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 15º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 5

B

A

VAZIO

VAZIO

ESTAR/REFLEXÃO A=20.10m²

ACESSO RESTRITO

HALL ACESSO A=10.37m²

PROJEÇÃO FORRO

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 sobe

13

SHAFT

WC

D.S.

A=4.26m²

SALA APOIO A=4.26m²

ANTESSALA

SALA MEDIUNICA

A=32.76m²

A=74.36m²

CIRCULAÇÃO A=9.15m²

ACESSO RESTRITO

ESTAR/REFLEXÃO A=20.10m²

VAZIO

VAZIO

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 16º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 5

B

A

VAZIO

ACESSO RESTRITO

HALL ACESSO A=10.37m²

SALA MEP A=74.36m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 sobe

13

SHAFT

WC

D.S.

A=4.26m²

SALA APOIO A=4.26m²

ANTESSALA A=32.76m²

CIRCULAÇÃO A=9.15m²

ACESSO RESTRITO

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 17º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 5

B

A

VAZIO

ACESSO RESTRITO

HALL ACESSO A=10.37m²

SALA MEP A=74.36m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 sobe

13

SHAFT

WC

D.S.

A=4.26m²

SALA APOIO A=4.26m²

ANTESSALA A=32.76m²

CIRCULAÇÃO A=9.15m²

ACESSO RESTRITO

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 18º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 6

B

A

SALA ESTAR

D.S.

A=28.60m²

ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09

TERRAÇO ESTAR

sobe

VARANDA

A=31.20m²

A=15.60m²

SHAFT

WC

A=4.26m²

D.S.

SALA JANTAR

WC

A=20.35m²

A=4.26m²

CIRCULAÇÃO A=10.26m²

COZINHA A=11.63m²

QUARTO 1 A=12.60m²

QUARTO 2 A=12.60m²

LAVANDERIA A=4.52m²

B

A

1

PLANTA BAIXA - 19º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 6

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A=22.89m²

SALA 7 DIRETORIA

D.S. ELEVADOR

A=11.62m²

ELEVADOR

SALA 6 DIRETORIA

MR

ANTECÂMARA

A=10.49m²

01 02 03 04 05 06 07 08 09 sobe

VAZIO

SALA 5 DIRETORIA

SHAFT

WC ACESSIVEL A=4.26m²

D.S.

WC ACESSIVEL

VAZIO

A=10.29m²

A=4.26m²

SALA 1 DIRETORIA

SALA 4 DIRETORIA

A=10.15m²

A=13.72m²

RECEPÇÃO A=13.72m²

SALA 3 DIRETORIA A=11.62m²

SALA 2 DIRETORIA A=10.86m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 20º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 6

B

A

VAZIO

HALL ACESSO A=22.89m²

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 sobe

VAZIO

SALA REUNIÃO

SHAFT

WC ACESSIVEL A=4.26m²

D.S.

WC ACESSIVEL

VAZIO

A=32.61m²

A=4.26m²

SALA TESOURARIA

SALA 3 COORDENAÇÃO

A=10.10m²

A=10.29m²

RECEPÇÃO A=13.50m²

SALA 3 COORDENAÇÃO A=11.62m²

SALA 1 COORDENAÇÃO A=10.82m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 21º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 7

B

A

D.S. ELEVADOR

ELEVADOR

MR

ANTECÂMARA 12 11

desce

10 09 08

SHAFT PLATAFORMA ELEVATÓRIA

D.S.

07

WC ACESSIVEL

06 05 04 03 02 01

sobe

EXPOSIÇÃO/MEMORIAL ESPAÇO SENSORIAL A=131.23m²

B

A

1

PLANTA BAIXA - 22º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 7

B

A

VAZIO

CASA DE MÁQUINAS

11 10

CAIXA D'ÁGUA 09

VAZIO

VAZIO

08 07 06

WC ACESSIVEL

PLATAFORMA ELEVATÓRIA

05 04 03 02 sobe

01

EXPOSIÇÃO/MEMORIAL ESPAÇO SENSORIAL A=77.68m²

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 23º PAVIMENTO ESC. 1/100


BLOCO 7

B

A

VAZIO

desce

01 02 03 04 05 06

OBSERVATÓRIO A=123.76m²

CORRE

VAZIO

VAZIO

PLATAFORMA ELEVATÓRIA

VAZIO

B

A

1

PLANTA BAIXA - 24º PAVIMENTO ESC. 1/100




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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