Fator Tattoo Rio Ink
A galera da Banzai conta como foi a experiência
Como montar seu próprio estúdio História da Tatuagem
Uma viagem aos primórdios da arte até suas novidades tecnológicas
Ano 0 Edição 0
Editorial Rafael Ballona Carioca de 23 anos, é aficionado por quadrinhos e tudo que se refere à arte. Um leitor assíduo, não perde as novidades dos mundos dos HQs e tenta expressar sua paixão pelo desenho nas tatuagens. Estudante de Jornalismo já escreveu matérias para o site O Estado RJ e trabalhou como assessor de imprensa.
Carolina Pamplona Estudante de jornalismo tem como objetivo de vida trabalhar com esportes. Desde que iniciou a graduação de comunicação social fez estágios relacionados à área esportiva. A tatuagem entrou em sua vida quando tinha 16 anos e não saiu mais. A estudante já trabalhou com assessoria de imprensa e conteúdo on-line.
Tatuagem é um tema intrigante e cheio de polemicas. A proposta de Fator Tattoo é justamente ir na contramão dos clichês e julgamentos que existem a respeito do tema. Nesta edição numero zero a gente procurou mostrar a infinidade de assuntos que podem ser abordados a partir do simples significado de uma tatuagem. Este editorial é dedicado à apresentação dos profissionais que trabalharam para que o projeto fosse real.
Editor Chefe de reportagem Editor de Arte Editor de Fotografia Diagramação Revisor
Cynthia Torres Versátil. Essa é a palavra que melhor define a jornalista. A estudante está no 7° período e se dedicou integralmente ao projeto. Para quem não sabe além de jornalista ela tem uma veia artística. Cynthia foi a modelo de capa da revista porque reflete o que a tatuagem representa para a sociedade atual. Já trabalhou na faculdade onde estuda e gosta mesmo é de TV.
4 | Ano 0 Edição 0
Yana Kaufmann Carioca por nascimento, a estudante do sexto período de jornalismo não se esquece dos tempos que morou em Goiânia. A jornalista tem como base de vida “não ao preconceito” e a luta pelos direitos de todo cidadão. Yana tem oito tatuagens e é uma das mais apaixonadas pelo tema. Lorena Lacerda Muito centrada a estudante que nasceu em Nova Iguaçu, aprendeu a gostar de tatuagem durante a execução desse projeto. Muito dedicada fez umas das maiores matérias da edição zero da revista e pretende marcar o novo gosto na pele. Fará a primeira tatuagem.
Fotografias
Rafael Ballona Carolina Pamplona Lorena Lacerda Cynthia Torres e Yana Kaufmann Rafael Ballona Carolina Pamplona Bia Velloso e Karen Ferreira
Tatuadores entrevistados
Ana Idza, Tavo Machado, Lúcio, Chico, Scrau, Tuninho, Michael Mackenzie, Jorge Santana e Pink
Colaboradores
Célio Júnior, Estúdio Banzai, Fernando Medin, Michel Stolnicki, Felipe Fusa, Anna Beatriz, Marco Antonio da Silva Mello, Vandré Vidal,
Modelo de Capa
Cynthia Torres
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|Legislação
Carolina Pamplona
Com um pouco de boa vontade e uma quantia razoável de dinheiro, o sonho do estúdio próprio fica mais próximo. Nesta matéria apresentaremos em cinco passos como dar início ao negócio. O processo de abertura de uma empresa é um pouco demorado, mas tendo a virtude da paciência, a recompensa de trabalhar por conta própria pode servir de estimulo. A primeira etapa do processo é a burocrática. Antes de tudo: escolha o ponto. A definição do local do estúdio não pode ser baseada em “achismos”. Todo empreendedor tem que fazer uma boa pesquisa de mercado antes de iniciar um negócio. Procure saber se existem outros estúdios no local. O fato de não ter não significa que a abertura de um vá fazer sucesso. Procure saber o tipo de público que freqüenta aquela região, os gostos, as atividades, e o potencial financeiro. Com o local definido em mente, ache um contador! É nessa etapa que começam os gastos. Não são poucos, mas quem se planejou previamente consegue bancar o sonho sem maiores problemas. Em média um contador cobra no mínimo R$1.000 pelos serviços prestados, fora os custos da papelada. Esse profissional é importante porque é ele quem dará entrada em toda a documentação necessária para a concessão do alvará do estabelecimento e a legalização da empresa. De acordo com o advogado Célio Júnior, por mais que seja dispendiosa a contratação desse profissional, alguns dos tramites burocráticos só ele tem condições de fazer “Os gastos com o contador não são baratos. Porem, é esse profissional 8 | Ano 0 Edição 0
Tatuador empreendedor em cinco passos Saiba como abrir seu próprio estúdio! que conhece os caminhos para a abertura do estabelecimento. Em certas fazes do andamento do processo só ele tem acesso a aquisição de documentos” explica o advogado. O contador primeiramente vai averiguar junto a Secretaria Municipal da Fazenda a possibilidade da abertura desse tipo de estabelecimento no lugar escolhido. Essa informação é importante para a continuidade do processo, pois com ela é que poderão saber se o alvará de funcionamento será ou não concedido. Outro trabalho do contador é o de pesquisa de nomes. Muitos dos
nomes pretendidos já são registrados impossibilitando a abertura de outra empresa com o mesmo nome. Chegamos ao quarto passo. Com o estabelecimento e o nome, é hora do contrato social. Este deve ser registrado no órgão competente. “No caso de estúdio de tatuagem o contrato social deve ser registrado em cartório civil de pessoa jurídica e isso também é trabalho do contador” diz o advogado Célio, reafirmando a importância do profissional. Quinta e última etapa: o alvará. De posse do contrato social e do Deco Tattoo: ambiente amplo e limpo
contrato de locação, outros documentos podem ser exigidos pela prefeitura para a liberação do alvará. A autorização do Corpo de Bombeiros é o principal deles. Quando estiver com tudo em mãos leve até a prefeitura e dê entrada no pedido do alvará de localização do estabelecimento comercial. Por fim, mãos e agulhas ao trabalho. O sucesso
do estúdio virá da qualidade do serviço prestado. Para quem quer ter dicas adicionais a respeito da abertura de um estúdio, o Sebrae disponibiliza um acervo de informações a respeito. Montada numa apostila ou em vídeos, essas informações esclarecem os aspectos peculiares a respeito da legalização
do estabelecimento, do investimento inicial, de aspectos operacionais e também dicas de cursos, feiras e eventos. Esse material está disponível na biblioteca Sebrae que fica Av. Calógeras n° 23, loja, Centro do Rio, mas também pode ser baixado pela internet. Outras informações no site da empresa www.sebraesat.com.br. junho 2009 | 9
|Estilos
Guia de estilos
Yana Kaufmann
A tatuagem antes de qualquer coisa é arte. Isso é consenso entre todos os profissionais e deve estar claro para todos os seus admiradores e “usuários”. Como toda arte a tattoo ao longo da história foi desenvolvendo e destacando diferentes formatos e ca racterísticas: Foram assim divididas ou classificadas em vários estilos, várias vertentes que evoluem com muito estudo, prática e tempo, trazendo seguidores cada vez mais apaixonados. Dentro dos estilos da tatuagem as pessoas vão se descobrindo e escolhendo aqueles que mais inte ressam; tanto os tatuadores quanto os tatuados. Ana Idza tatua há cinco anos e vem se destacado nas últimas convenções. Ela é do estúdio Super Tattoo e é muito procurada pelas tattoo´s coloridas. “Sobre os estilos, o que mais me identifico é o colorido! Por gostar e admirar as combinações possíveis e poder testar nuances. Sempre descubro uma nova combinação”. Cada tatuador têm em suas mãos um tipo de traço específico e bem particular. Cada um sabe o que faz com mais talento. Por isso sabem escolher seus estilos de tatuagem preferidos. Assim tatuam com mais prazer e obtêm os melhores trabalhos. “Colocar na pele cores que acho difíceis de encontrar nos dias cinzas da cidade grande, poder levar para as pessoas uma alegria a mais, uma oportunidade de colorir o mundo mais um pouco”, completa Ana. Bem colorido também é o New School. Esse estilo começou a crescer muito rápido a partir dos 10 | Ano 0 Edição 0
anos 90. É o estilo preferido de Tavo Machado que tatua no Muito Além de Tatuagem.“O New School é um estilo recente que teve influências da arte de rua e do cartoon” conta Tavo. Nas convenções os prêmios são entregues por estilo. É importante saber que cada categoria dessas, apresenta dificuldades que variam de um estilo para o outro, e pede diferentes técnicas para ficarem bem demarcados. No caso do New “a perspectiva é sempre em destaque, muito marcada e às vezes exagerada, porque isso confere mais drama ao desenho. As cores também são muito presentes e vibrantes e rola o uso de muitos degradês e tons misturados”, Tavo ainda lembra que no New “a luz e a sombra são geralmente contrastantes e o traço é logo notado, pois possui diferentes espessuras.” Cada estilo de tattoo carrega enfim um universo inteiro para ser descoberto. Vamos definir melhor as categorias mais disputadas nas convenções:
Tatuagem de desenhos animados, tirinhas ou quadrinhos. Imitando o traço original do artista ou não. Os desenhos mais populares são os super-heroís.
New School (nova escola)
Old School (antiga escola)
Desenhos fantasiosos, bem malucos e extremamente coloridos. Cores fortes e vivas, gritantes. Personagens caricaturados e sombras marcantes. Podese encontrar uma influência do grafite. Outra caracteristica desse estilo é a ligação com o Old School, mas modificando-os para esse estilo.
Desenhos tradicionais. Tattoo´s mais antigas, feitas principalmente por marinheiros, motociclistas dos Estados Unidos. Aparecem muito neste estilo corações, âncoras, caravelas, mulheres, ciganas, rosas de vento, flores, flâmulas, facas, navalhas, pin-ups e qualquer objeto que represente esse grupo.
Comics
Preto & Cinza
Portrait
Colorida
Essa tattoo é realizada a partir da tinta preta e suas nuances, do escuro ao claro, todas as variações do preto. Muitas são religiosas ou macabras.
Uma ramificação do realismo que tenta recriar um retrato ou cena. Aqui vale a capacidade do tatuador de criar algo identico a realidade.
Combinação de cores e suas nuances. Os desenhos variam muito, mas o que interessa ao tatuador é variedade e equilibrio das cores.
Realismo
Tribal e Maori
Oriental
A categoria chama muita atenção, pois normalmente obtêm resultados impactantes. É preciso muito estudo e técnica. Essas tattoo´s se aproximam ao máximo do mundo real. No geral possuem traços bem finos ou até a ausência de traços. Muitas vezes confundida com Portrair.
Tattoo com temas tribais; proveniente de diversas tribos espalhadas pelo mundo como os Celtas, Astecas e Maori. Em sua maioria preta. O Maori é um povoado da antiga Nova Zelândia com registro de chegada no continente entre 1300 e 800 a.C feita com paus e agulhas banhadas em tinta.
Como já diz o nome essas tattoo´s vêm da cultura do Oriente. Geralmente encontramos carpas, dragões e flor de lótus; cada um possui um significado; até mesmo a posição dos animais interfere nessa significância. Os orientais na maioria das vezes têm fundo preto e branco e fecham partes do corpo. Junho 2009 | 11
|Destaque
Cynthia Torres Baseado no formato do reality show Miami Ink, que é produzido desde 2005, o Rio Ink mostrou o dia a dia de um estúdio de tatuagem, demonstrando os processos de criação de desenhos e histórias que levam pessoas a se tatuar, como por exemplo, o drama de uma menina que conseguiu terminar sua tatuagem que fez junto com seu namorado – morto em um acidente aéreo -, até histórias mais engraçadas, como a de outra jovem que se interessa em conhecer tudo o que o tatuador faz, até mesmo fora de seu horário de trabalho! A versão brasileira foi ao ar pelo canal pago People and Arts no final do ano passado, em formato de um programa piloto, que infelizmente não teve continuação. Fernando Medin,
gerente geral no Brasil da Discovery Networks, declara que “Dependendo da audiência, iremos continuar”, fato esse previsto para o segundo semestre de 2009. “Escolhemos a cidade do Rio de Janeiro como cenário porque é a marca brasileira no mundo, e é um lugar onde os corpos das pessoas estão sempre muito expostos, de modo que é possível estar sempre vendo a tatuagem”, justificou Medin. Segundo Michel Stolnicki, produtor executivo de episódio, o formato do programa, que é conhecido desde 2005, foi mantido. As características do elenco estão bem representadas pelos melhores tatuadores do estúdio Banzai Tattoo – escolhido em função de sua adaptação rápida ao estilo do programa. O perfil do programa exige a criação de personagens que são os próprios tatuadores do estúdio, há o tatuador mais experiente e dono do espaço, um mais jovem e aparentemente não muito responsável, uma menina, única tatuadora do grupo, um mais maduro e outro que faz um enorme
sucesso com as mulheres. Os “clientes” do episódio foram escolhidos por meio de seleção aberta ao público, e foram mais de 20 mil inscritos. As histórias mais interessantes e reais foram escolhidas e dramatizadas. Tico Santa Cruz, que é vocalista da banda Detonautas, foi convidado a participar do programa. No episódio o músico, já acostumado a tatuagens, pediu que fosse feita uma figura de Iemanjá na perna, a imagem somou-se a várias que o cantor já possui pelo corpo. O dono da Banzai, Lúcio Tattoo, destacou a orientação que foi dada no programa para quem quer se tatuar e declarou que “é bom para o espectador diferenciar um trabalho bem feito de outro mal feito”. O episódio, que teve a direção geral de Ique Gazzola, teve uma boa audiência, foi exibido em todo Estados Unidos e América Latina, o que leva a acreditar que realmente será interessante uma versão latina do programa americano. Vamos torcer para mais um episódio! Junho 2009 | 13
|Destaque
Entrevista Chico
Francisco de Oliveira, mais conhecido como CH2, ou simplesmente Chico tem 29 anos mora no bairro da Abolição. O tatuador ganhou maior notoriedade após participar com sua equipe do episódio piloto do Rio Ink. Além do trabalhar no Banzai Tattoo, o tatuador tem como robby a arte do grafite. Com sete anos de carreira é considerado o melhor profissional do Rio de Janeiro do estilo New School. Em entrevista a Fator, o craque das tintas conta como começou sua carreira e a importância da tatuagem em sua vida. •Como a tatuagem surgiu em sua vida?
Desde pequeno sempre gostei de desenhar.
•Quais os profissionais mais admira no mercado?
Chico - Um amigo meu já tatuava e fiquei fascinado com isso. Fiz alguns trabalhos de graffiti para ele e o cara sempre gostou muito do meu estilo. Com essa ajuda, foi fácil entrar no mercado!
•Como é trabalhar com tatuagem no Rio de Janeiro?
Na realidade gosto em especial de 3 caras. O Mauro Nunes, o Gunnar e o Tony Ciavarro. São caras bons que eu curto o trabalho.
•Além de tatuador você também grafita. Como iniciou essa segunda paixão e qual a importância do grafite atualmente? Sempre gostei muito de desenhar. Mexer com spray foi só uma conseqüência, evolução do gosto por desenho. Para mim a importância do grafite consiste na mudança de conceito: passou de pixação para uma relação entre arte e rua. •Antes de ser tatuador, qual era sua relação com o desenho?
É muito bom, mas ainda tem que melhorar muito. •O convite para trabalhar na Banzai partiu de alguém do estúdio ou teve que correr atrás? Você faz parte da equipe há quanto tempo? Foi indicação de amigos que já trabalhavam aqui, e deu certo, pois já estou nesse projeto há 4 anos. •Como foi a posição da sua família quando decidiu começar a carreira de tatuador? A família ficou um pouco desconfiada por medo de não dar certo.
•Como foi participar da adaptação de um reality show mundialmente conhecido? Foi muito estranho e ao mesmo tempo muito desafiador, não só para mim, mas para todo o grupo. Uma experiência única! •A tatuagem está em constante evolução. O que um tatuador deve fazer para se manter atualizado? Estudar bastante, essa é minha dica. O estudo constante do desenho deve ser o principal. Lembrando sempre que o principal trabalho é trabalhar direito. junho 2009 | 15
|SAÚDE Scrau Tattoo não deixa de usar os equipamentos de segurança
Carolina Pamplona
Um estúdio passa a ser reconhecido pela boa administração, por seus profissionais, pela qualidade do material utilizado, mas principalmente pela satisfação de seus clientes. A propaganda “boca-a-boca” pode elevar um estúdio ao nível de cinco estrelas, só por indicações dos frequentadores mais fieis. Para isso é preciso que os integrantes e profissionais estejam conscientes quanto aos cuidados referentes a pele. Muitas informações desencontradas podem ser acessadas na internet, e, é importante que o tatuador saiba como se posicionar para esclarecer qualquer dúvida do cliente para que todo o processo de cicatrização e manutenção da qualidade da tatuagem seja seguido. “Costumamos observar a pele das pessoas antes de tatuar, até porque fazemos a assepsia do local e conversamos com o futuro tatuado para que saiba que a dor é suportável” diz Jairo Torres, conhecido como “Scrau”, tatuador da Real Tattoo, em Realengo. Para a dermatologista, Ana Beatriz, a atitude do profissional é correta, pois uma olhada com atenção pode ajudar a evitar um problema futuro. “O câncer de pele não é causado por tatuagens, mas pode mascarar uma lesão. Então qualquer sinal próximo observado, ou na área a ser tatuada, deve ser avaliado antes pelo dermatologista.” Algumas doenças de pele podem danificar a tattoo e/ou se agravar, logo, se o cliente alertar sobre elas tome cuidado! Psoríase, Vitiligo e Liquen (veja quadro abaixo) são doenças que têm o quadro agravado com a tatuagem. Isso acontece porque áreas sãs são atingidas após qualquer trauma 16 | Ano 0 Edição 0
Cuide do seu cliente na pele. “Estes quadros podem manifestar uma reação inflamatória conhecida como fenômeno de Koebner, que é o desenvolvimento das doenças citadas em locais ainda não atingidos”, explica Dra.. Ana Beatriz, que alerta também: “Verrugas e molusco contagioso são lesões virais, que por serem contagiosas são contra indicadas, podendo desenvolver da mesma forma que a psoríase dentre outras”. No geral, as inflamações na pele são comuns, principalmente se a
pessoa não tiver bons hábitos alimentares. “Considero normal algum tipo de inflamação se a pessoa não segue as recomendações que damos. Eu mesmo, por ingerir alimentos muito gordurosos já inflamei algumas” comenta o tatuador Scrau. O produtor musical, Felipe Fusa, 25 anos, também acredita que uma dieta com alimentos leves nos dias seguintes a tattoo é o ideal para uma boa cicatrização. “Quando fiz 18 anos ganhei minha primeira tatuagem
de um amigo tatuador. Ele recomendou uma alimentação sem gordura como carne de porco e chocolate e evitar o álcool”. Felipe nunca teve problemas com suas tatuagens e diz que não perderam o vivo das cores “Minhas tatuagens ainda estão impecáveis e não uso protetor solar.” Mas Dra. Beatriz alerta que o uso do protetor contra raios solares é imprescindível para uma pele saudável e para a manutenção das cores vivas da tatuagem. “Além dos cuidados normais com a pele, uma fotoproteção eficaz, hidratação e higiene são essenciais.” Informação aliada a atenção garantem um bom trabalho durante o processo de tatuagem e a satisfação após a arte pronta. Portanto, em caso de dúvida, a averiguação e a prevenção são aliadas do bom profissional e do cliente consciente.
Liquen Sintomas: Muitas aftas na boca podem ser indícios de Liquen. São manchas de cor violeta e que causam comichão. Aparecem com mais freqüência em pulsos, boca e pernas.
Vitiligo Sintomas: Manchas brancas (sem pigmentação) na pele são sinais da doença. As manchas são mais comuns nas mãos, pés, lábios e virilha. Fellipe Fusa (a direita) não deixa de cuidar de sua tatuagem
Psoríase Sintomas: Manchas de pele vermelha grossa com escamas prateadas. As manchas coçam e doem. São mais freqüentes em ombros, joelhos e pernas, podendo aparecer em outros lugares.
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|História
Historia da Tattoo nascimento, morte, puberdade; como também para relatar acontecimentos da vida social: virar guerreiro, sacerdote ou rei, casar-se, celebrar a vida etc.
Lorena Lacerda
O ato de marcar o corpo através de simbologias representadas por desenhos acompanha há milênios as fases da espécie humana. Embora a tatuagem represente uma prática comum em vários lugares do mundo, poucas pessoas param para pensar a respeito de sua origem, desenvolvimento e expansão na sociedade. Assim, nada mais interessante traçar aspectos históricos na sua trajetória, pois, ao abordar tais características, estaremos automaticamente explorando as peculiaridades da própria evolução do homem.
REGISTROS HISToRICOS A história tem seus primeiros registros de pigmentação com tintas sobre a pele, o que caracteriza aspectos de uma tatuagem, remetidos a uma descoberta feita em 1991 entre a Itália e a Áustria. Trata-se de um Ötzi, “o homem do gelo”, encontrado em um glaciar e, devido ao seu estado de conservação propiciado pela baixa temperatura, foi possível contabilizar 57 desenhos em seu corpo. Calcula-se que a idade dessa múmia congelada seja de 5 mil anos. Outras, igualmente antigas, foram encontradas no Egito em período supostamente datado ente 4.000 e 2.000 anos A.C. O estudo da Antropologia revela que vários eram os povos e tribos que utilizavam desenhos para marcar fatos da vida biológica, como 18 | Ano 0 Edição 0
TATUAGEM NO BRASIL Ao abordar a história da tatuagem no Brasil é imprescindível abrir as portas para um dinamarquês chamado Knud Harald Lucky Gegersen, conhecido popularmente como Lucky, ou simplesmente: Mr. Tattoo. A participação deste ícone da história da tatuagem brasileira começa a se desenhar em 1959, época de sua chegada a Santos-SP, onde se estabeleceu e popularizou novas técnicas. Ele alcançou grande sucesso através do talento como desenhista e pintor profissional. Em 1975 atingiu o ponto mais alto da carreira. Neste mesmo ano, o jornal O Globo o considerou único tatuador profissional de toda América do Sul, entrando, enfim, no cenário internacional da tatuagem moderna de onde nunca mais saiu, nem mesmo depois de sua morte em 17 de dezembro de 1983, com apenas 55 anos de idade. Portanto, a tatuagem elétrica no Brasil é uma técnica muito recente, sendo difundida e desenvolvida aqui somente a partir dos anos 60. Nessa época a tatuagem era extremamente associada à marginalidade. Geralmente marinheiros, prostitutas e os fora da lei eram estigmatizados como os seus únicos adeptos. O preconceito só veio perder força a partir do estabelecimento da modernização que ajudou a quebrar rótulos e a propagar através dos adventos tecnológicos essa prática cada vez mais valorizada e desmistificada. Além de tudo, novas técnicas e instrumentos que permitem desenhos mais bonitos, e feitos de forma mais higiênica, garantem aos seus usuários a satisfação de estampar obras valorizadas pelo trabalho do bom profissional.
O nome Tattoo O nome Tattoo surgiu em 1769 durante a viagem de um célebre inglês ao Taiti. James Cook e sua tripulação, fascinados pela natureza exuberante e o povo local, anotaram no diário de bordo fatos marcantes daquela cultura. A população, ao invés de roupas, exibia desenhos pelo corpo. Cook então batizou tal prática de marcar a pele com o nome de Tatoo. A palavra tatoo, portanto, deriva do taitiano tatau que significa marcar. Tatau seria a onomatopéia (palavra cuja pronúncia imita o som natural da coisa significada) do ato de tatuar, pois o barulho do instrumento que perfura a pele “tatatata” reproduz tão fielmente o som quanto o da pessoa que está sendo tatuada “au”. Assim, “tat” + “au” = tatau, em português, tatuagem.
Antigamente as cabeças dos guerreiros mortos eram vendidas como artefatos de
•De acordo com a antropologia, o corpo tem uma grande representação. De onde parte esta observação? Um sociólogo e antropólogo francês chamado Marcel Mauss escreveu um artigo, muito antigo por sinal, sobre as técnicas do corpo. Neste trabalho ele chama atenção para o fato de que o corpo é uma matéria prima sobre a qual a sociedade exerce suas marcas, tornando-o objeto. Então, assim como há diferentes modos de andar, dormir, vestir, que variam culturalmente, o ato de marcar o corpo pode evidenciar um determinado estilo, identificando o indivíduo pertencente a um determinado grupo, bando, turma... Esse tipo de inscrição produz a idéia de categorias sobre os que se debruçam sobre seus próprios corpos, o que ocorria muito entre determinadas categorias de trabalhadores, a exemplo dos marinheiros que desenhavam âncoras. Bem como em tribos indígenas e africanas onde as tatuagens e as cicatrizes estavam associadas a identidades étnicas. Muitas marcas revelam significados através dos quais os grupos se inscrevem.
arte
CONTEXtO SoCIO CULTURAL Entrevista com antropólogo e professor Marco Antonio da Silva Mello, do Laboratório de Etnografia Metropolitana da UFRJ •Como as tendências culturais influenciam a prática da tatuagem? As sociedades representam diferentes modos de se inscrever sobre os corpos dos indivíduos, dentre os quais, a tatuagem. Através de rituais e diferentes dispositivos sociológicos, a cultura atua sobre os corpos que são “pró-duzidos”. Essas ações fazem do corpo enquanto tal, a primeira matéria prima sobre a qual a cultura se inscreve. Toda cul-
tura de algum modo elabora, constrói e esculpe os corpos e produz através deles uma imagem ideal através de formas distintas, em diferentes momentos históricos e expõe esse tipo de representação. •Essa inscrição encontra barreiras para ser pensada como obra de arte. Por quê? Nós tendemos a naturalizar o corpo, assim como fazemos em relação aos sentimentos. Isso demonstra a maneira através da qual a cultura estabelece sua força. Por todos esses motivos, essa prática se transforma em uma questão de grande dificuldade. O problema começou quando esse trabalho se tornou mais difundido e inserido em várias classes sociais, com vários objetivos e com todos os derivados da escolha. Em termos de custos, toda identidade tem um custo social.
•Esta prática sofreu mudanças como todo elemento cultural. Qual a visão da sua transformação na sociedade? O Brasil, a partir do final dos anos 50, começa a atingir setores muito mais amplos daqueles que tradicionalmente a utilizam. A tatuagem é certamente um elemento de cultura que tem uma grande distribuição geográfica, muitas sociedades usam-na no sentido amplo, desde desenhos a marcas que podem variar de acordo com o contexto social em que se estabelecem. Há uma riqueza de uso das cores, traços que corres pondem a diferentes estilos e que são reconhecidos pelos tatuadores. Esses estilos são objetos de avaliações de estética também, diferenciando os trabalhos artísticos. Há ainda os pigmentos vegetais, minerais e animais para se chegar à tatuagem. Este é um objeto de contemplação estética, não só do que está sobre o corpo, mas do significado inserido na linguagem que está inscrita nele. junho 2009 | 19
|História Curiosidades
A tatuagem foi banida na Idade Média (em 787) pela igreja católica quando o papa considerou sua prática “coisa do demônio”, procedendo com a implícita intenção de ocultar costumes e culturas a fim de introduzir a doutrina católica. Assim, qualquer deformação, cicatriz ou marca na pele não era vista com bons olhos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a tatuagem foi muito utilizada por soldados e marinheiros, que costumavam gravar, além dos desenhos peculiares como âncoras, o nome da pessoa amada em seus corpos.
Lucky Tattoo
TATUAGEM NO BRASIL Ao abordar a história da tatuagem no Brasil é imprescindível abrir as portas para um dinamarquês chamado Knud Harald Lucky Gegersen, conhecido popularmente como Lucky, ou simplesmente: Mr. Tattoo. A participação deste ícone da história da tatuagem brasileira começa a se desenhar em 1959, época de sua chegada a Santos-SP, onde se estabeleceu e popularizou novas técnicas. Ele alcançou grande sucesso através do talento como desenhista e pintor profissional. Em 1975 atingiu o ponto mais alto da carreira. Neste mesmo ano, o jornal O Globo o considerou único tatuador profissional de toda América do Sul, entrando, enfim, no cenário internacional da tatuagem moderna de onde nunca mais saiu, nem mesmo depois de sua morte em 17 de dezembro de 1983, com apenas 55 anos de idade. Portanto, a tatuagem elétrica no Brasil é uma técnica muito recente, sendo difundida e desenvolvida aqui somente a partir dos anos 60. Nessa época a tatuagem era extremamente associada à marginalidade. Geralmente marinheiros, prostitutas e os fora da lei eram estigmatizados como os seus únicos adeptos. O preconceito só veio perder força a partir do estabelecimento da modernização que ajudou a quebrar rótulos e a propagar através dos adventos tecnológicos essa prática cada vez mais valorizada e desmistificada. Além de tudo, novas técnicas e instrumentos que permitem desenhos mais bonitos, e feitos de forma mais higiênica, garantem aos seus usuários a satisfação de estampar obras valorizadas pelo trabalho do bom profissional. 20 | Ano 0 Edição 0
Museu da Tatuagem Graças ao empenho dos amantes desta arte milenar, temos na cidade de São Paulo um museu que conta a história da tatuagem. Este acervo contém materiais em sua maioria doados por colecionadores e artistas, o que inclui: instrumentos, fotos, relatos e até uma múmia conservada com os desenhos feitos sobre a pele. Este trabalho
está reunido de forma a proporcionar, além do conhecimento sobre a história da tatuagem, um aspecto pertinente aos nossos ditames sociais, portanto, atingindo ao interesse do público que se interessa por arte e cultura em geral. BOX- Endereço do museu: Museu da Tatuagem Rua 24 de Maio, 225 - 1º andar - São Paulo Tel: (011) 222 8049 ou (011) 3362 2962 De segunda a sexta das 10h às 19h. Sábados das 08h às 13h Entrada franca
Museu da Tatuagem
Novidades Este processo atravessa barreiras das transformações culturais e alcança o aperfeiçoamento dos instrumentos e técnicas, tudo em conjunto com a realização de convenções que valorizam o mercado. A especialização dos profissionais e a preocupação com os cuidados pertinentes à saúde também são elementos que desenvolveram esta arte e permitiram sua evolução.
Instrumentos Pode-se contemplar a criação da máquina elétrica como o grande “bum” dos instrumentos hoje utilizados. Tudo começou há mais de um século, quando em 1891 Samuel F. O’Reilly desenvolveu e aperfeiçoou uma engenhoca conhecida como “impressora autográfica” ou “pena elétrica”, criada então recentemente por Thomas Edison em 1876. Esta máquina permitia gravações em superfícies duras e, motivado pelo universo da tatuagem, elaborou um método mais rápido e moderno ao dispositivo, criando, assim, a primeira de todas as máquinas elétricas capaz de tatuar o corpo. A partir daí, O’Reilly foi adicionando ao sistema outras novidades, como um reservatório de tinta e ainda incrementou a ele os tubos que fariam a máquina oscilar eletromagneticamente, permitindo a movimentação das agulhas também adaptadas. No dia 8 de dezembro de 1891, Samuel F. O’Reilly, americano de New York, patenteou nos Estados Unidos o primeiro modelo elétrico voltado para tatuagem. Este salto na modernização dos instrumentos abriu caminho para novas mudanças e evoluções, chegando aos modelos atuais. Na década de 50 Frank Eliscu Etal patenteou o projeto de um instrumento cirúrgico para a injeção intradermal da tinta, que lembra muito o formato de uma caneta. Chegando aos anos 70, a canadense Carol Nightingale finalmente lança o equipamento que mais se aproxima aos modelos atuais. Atualmente há uma grande demanda
A tatuagem não para de evoluir
de inovações no mercado, instrumentos de vários formatos e modelos que correspondem aos estilos variados de profissionais.
Modernidade Nos estúdios a nova técnica já é conhecida, mas surpreendentemente ainda foi pouco difundida na sociedade, já que esta novidade, para muitos, ainda é desconhecida. Trata-se da “tatuagem invisível” (As Black Light Tattoos) que só aparecem quando estão em contato com luzes fluorescentes. Esta pode ser uma opção para quem deseja disfarçar a tatuagem no corpo por algum motivo. Mas este tipo de tatuagem é feito sob luz negra, com nanquim invisível, produto que encontra resistência por
parte de alguns especialistas que alertam quanto ao risco cancerígeno em sua composição.
Tecnicas Das marcas de cicatrizes a desenhos coloridos e fluorescentes. Da técnica oriental (sumi) que utiliza bambu, a instrumentos sofisticados que marcam precisamente através de agulhas. Das representações étnicas ao simples modismo. As técnicas antigas evoluíram, mas não morreram e, certamente, essa é a expressão mais perene da nossa civilização. Atravessamos milênios marcando nossas experiências culturais através do corpo, que é a obra-prima pela qual a cultura se inscreve e o talento do artista se manifesta. junho 2009 | 21
|Comportamento
Musica e tatuagem Quando as artes se encontram e viram uma só
Tuninho mostra seu amor pela música e tatuagem de uma vez só A principio, os traços na pele e as linhas da tablatura podem parecer distantes uma das outras, mas se focar o olhar é notória sua proximidade. A música e a tatuagem frequentam os mesmos ambientes, prova disso são as inúmeras bandas que possuem integrantes tatuadores ou tatuagens nos mesmos braços onde seus instrumentos repousam. Entretanto essa ligação não é nova, a dupla se uniu há muitos anos nos rituais tribais e em seus ritos de passagem, como explica Vandré Vidal, musicoterapeuta do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB). Suas celebrações são marcadas pelas canções, danças, tatuagens e modificações corporais. Essas inscrições na pele mostram à sua tribo e às outras por o que esse membro já passou e quais foram seus feitos. A tatuagem representa a encarnação de seus mitos e crenças. Mesmo hoje a tatuagem ainda 22 | Ano 0 Edição 0
não se desvencilhou desse ritual. Enquanto os tatuadores desenham sobre a pele a música ainda rola no fundo dando ao processo a cara do modelo tribal. O estilo não importa muito, o que interessa é ouvir o ritmo e as notas, como descreve Tuninho, tatuador da Image of Tattoo e guitarrista da banda carioca Crew of Honor, que afirma ouvir desde Dave Mathews Band à Canibal Corpse dependendo do seu humor e do dia. Para ele “trabalhar com o som que gosta de ouvir te deixa bem mais relaxado, e o trabalho flui bem melhor”. A sonoridade não influencia somente o tatuador, quem está sendo tatuado pode também ser afetado por ela. A música tem capacidade anestésica, comenta o musicoterapeuta, mas depende de cada um. Cada pessoa se sente relaxada com um estilo diferente, o que pode tornar a tatuagem algo menos doloroso. “Uma vez um parceiro que trabalhava comigo estava tatuando um cliente na costela. É um lugar
Rafael Ballona muito chato para os dois, então o cliente pediu para colocar no seu celular pra tocar Mc Marcinho e Claudinho e Bochecha. Ele se distraiu bastante e às vezes até esquecia que estava fazendo tatuagem” conta Tuninho, que ainda completa com “a música é um anestésico pra vida”. Música da matéria: Novos Baianos – Mistério do Planeta
|Dicas
Tattoo Bar: uma pedida para quem gosta de beber e tatuar
Para quem gosta de unir o bom ao melhor ainda
Carol Pamplona Idéias não faltaram para Michael Mackenzie e Jorge Santana depois da viagem que fizeram a Miame. Resultado dessa mistura é o Tattoo Bar. Unindo um estúdio de tatuagem a uma espécie de lounge deu-se o novo 24 | Ano 0 Edição 0
“point” de tatuadores e motociclistas da Barra. Logo na entrada já da pra sentir o visual e o clima do lugar. Algumas mesinhas do lado de fora e uma iluminação aconchegante são o cartão de visitas do ambiente. Passando da porta a sensação de aconchego aumenta. Luzes amarelas, banquinhos, várias guitarras e temas orientais pregados a parede complementam o ar descolado do bar-estúdio. De acordo com Michael o movimento aumenta nos finais de semana e nos dias de música ao vivo, mas o publico é bem variado. “Vem uma galera que não tem tatuagem.
Gente que quer fazer e gente que não quer fazer. É bem eclético” diz o micro-empresário, como ele mesmo se define. O bar que fica na parte de baixo do estúdio vende bebidas de todos os tipos, mas não para quem vai se tatuar. Além das bebidas, da tatuagem, o bar-estúdio ainda conta com um som de qualidade que varia de blues a rock, dando uma passadinha pelo country. Para quem quiser conferir, o estúdio e o bar ficam abertos de segunda a sexta-feira. Os dias de show ao vivo, apenas voz e violão, são as terças e sextas. O estudio fica na Av. Olegario Maciel nº 175 Loja B.
| Materiais
Yana Kaufmann No século XIV os japoneses inventaram a tinta preta Sumi, feita a partir da fuligem de pinheiros ou de óleos vegetais. E essa mesma tinta continua sendo muito utilizada por profissionais da tattoo para pigmentar o preto... De lá pra cá a tatuagem na maioria das vezes foi vista com maus olhos pelas sociedades. Os amantes da tattoo eram logo associados a coisas ruins. Esse preconceito existe desde a criação e popularização. Era uma “tribo” muitas vezes não aceita e não compreendida. Ok! O preconceito não tem fim: estamos no século XXI e ainda existem pessoas que condenam os negros, os homossexuais e atravessam as ruas quando do mesmo lado da calçada caminha alguém com tatuagens espalhadas pelo corpo. Mas... Alguma coisa já mudou, e muito. O mercado da tattoo cresce 20% a cada ano (Jornal O Globo dia 24/5) e se essas pessoas “atrasadas” andarem pelas ruas de qualquer cidade grande do Brasil terão dificuldade para achar alguém SEM tatuagem. O crescimento é visível e está escancarado, e tattoo (agora) é coisa séria. Vem conquistando o merecido respeito e atenção, além de movimentar indústrias interessadas em produzir e comercializar materiais envolvidos na arte de rabiscar a pele ou “aplicação subcutânea obtida através de introdução de pigmentos por agulhas”. Além do seu talento, o tatuador depende e muito dos materiais usados no processo. As boas tintas garantem uma pigmentação adequada e
Materiais
um resultado positivo: não dão alergia, cicatrizam bem, além das cores ficarem vivas e durarem muito. “A maioria dos estúdios prefere tintas e agulhas importadas, mas isso depende da cor. Tem cores que as nacionais têm mais qualidade. Isso a gente vai testando com o tempo, até definir as marcas e cores preferidas” conta Jorge Santana, do estúdio Cia da Tattoo. Essa gigante procura pela tatugem acabou enfatizando um comércio informal desordenado. Usavam-se tintas e agulhas inadequadas,
Piercing do Brasil começou a crescer. O SETAP-BR é comandado por Carlinhos, natural de São Paulo. Esse movimento visa uma “organização e união dos estúdios em prol da arte, e luta em defesa da categoria como profissional” diz o presidente do sindicato. Em 2008 a Anvisa divulgou que além da regulamentação dos estúdios, os materiais usados por tatuadores também terão que ser registrados: agulhas, tintas, máquinas e recipiente descartável para as tintas. O decreto vira lei em Fevereiro de 2010, e os fiscais, a partir des-
Kit básico: não saiade sua casa sem um
aumentando o número de pessoas com alergia, e o de brasileiros contaminados por Hepatite B e C. Houve várias apreensões da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de grandes lotes de tinta sem procedência. Sinal de que a coisa precisava ser mais organizada. A partir de 2005 o Sindicato das Empresas de Tatuagem e Body
sa data, poderão recolher dos estúdios os equipamentos sem o devido registro. Conforme a Anvisa a norma vai possibilitar conhecer a forma de apresentação, quantidade e composição das tintas. O que permite um controle mais efetivo sobre a matéria prima de agulhas e pigmentos, e disciplinar a utilização, distribuição e armazenamento dos produtos. junho 2009 | 25
|Começando
Mulheres na luta Scrau Tattoo não deixa de usar os equipamentos de segurança
Cynthia Torres
As mulheres estão dominando cada vez mais o mercado da tatuagem e dos piercings.Elas já conquistaram seu espaço em escritórios, indústrias, empresas de todos tamanhos.Não seria diferente no mundo da Body Art. Se você acha que elas são poucas, está enganado! Há muitas tatuadoras e body piercers e a maioria delas com um talento incrível, são muito competentes! Muitas dessas artistas são destaques em convenções e levam prêmios importantes para casa. Barbara Alt, mais conhecida como Pink, nasceu na Argentina. É carioca de coração, moradora do Rio de Janeiro e tem 23 anos. Começou cedo a carreira. Ela fez a primeira tatuagem aos quinze anos de idade. Gostou tanto que um ano depois colocou o primeiro piercing e não parou mais. Até decidir transformar a arte em profissão. Sua delicadeza inspira confiança e faz com que, principalmente as meninas, só queiram ser perfuradas por ela. Bárbara Alt conta como é a sua vida.
Pink:
Barbara Alt. A direita ela fura o sépto da cliente
• Quando começou sua carreira de profissional de bodypiercing?
estava, acabei trabalhando á domicilio mesmo. Mas só porque eu sempre tive acesso á autoclave e a material descartável. Sem autoclave e material descartável não dá!
Tive meu primeiro piercing aos 16 anos. Foi autorizado pelos meus pais. Na época eu namorava um rapaz que era bodypiercer e por isso foi mais fácil!
Barbara - Comecei implantando piercings, há mais ou menos seis anos, quando eu tinha 17 anos.
• Você coleciona inúmeras tatuagens. Com quantos anos fez a primeira tattoo e o que seus pais disseram?
• Já sofreu algum preconceito por ser uma mulher e trabalhar nesse ramo?
Bom, eu fiz a minha primeira tatuagem com 15 anos. Convenci meus pais dizendo que faria de qualquer jeito, com ou sem eles. Então era melhor eles irem comigo pra aprovar o lugar. Apesar de ter feito tão nova, não recomendo ninguém a fazer tão cedo. É melhor esperar ter a maturidade suficiente pra saber o que se quer da vida.
• Você fez curso para ser bodypiercer em algum outro estúdio ou você simplesmente descobriu que tem jeito pra coisa?
Não por parte da galera que também trabalha no área, mas sim por gente de fora, por não levarem a profissão de bodypiercer á serio. • Você só trabalha em estúdio ou vai na casa das pessoas também? Desde o começo sempre trabalhei em estúdio, mas algumas vezes que não 26 | Ano 0 Edição 0
• E o seu primeiro piercing? Como foi a reação dos seus pais? Eles autorizaram?
Eu sempre convivi com pessoas do ramo, por isso foi mais fácil. Com isso, descobri que levava jeito pra coisa mesmo. Procurei saber onde tinha cursos, só que na época os cursos só existiam em São Paulo, e era muito caro, e eu ao tinha condições de bancar. Comecei a ir aos estúdios dos meus amigos e ficava assistindo enquanto eles me explicavam.Quando comecei a por em prática me aperfeiçoei com apostilas sobre anatomia e assepsias.
• Você “fura” mais meninos ou meninas? Furo muitas meninas. • Elas se sentem mais a vontade com você? Com certeza! Ainda mais se a perfuração for num lugar mais intimo. • Financeiramente, compensa ser bodypiercer? Os bodypiercers mais experientes ganham mais do que os novatos? Antigamente era mais compensador. Com certeza, hoje em dia não dão mais valor a um VERDADEIRO profissional, até porque tem um monte de gente que se diz profissional e cobra qualquer merreca por uma aplicação, quando em um estúdio de verdade não
é possível cobrar um preço tão absurdo porque se tem inúmeros gastos com assepsia e material descartável. • E no começo os novatos geralmente não ganham nada até estarem qualificados para começar a trabalhar por conta própria. Além de trabalhar como bodypiercer, o que faz? Hoje em dia estou quase me formando na faculdade de moda, trabalho com eventos, produções de moda para catálogos e vira e mexe faço figurinos para curtas. • Quais são seus projetos para o futuro?
dando, mas sempre que rolar farei um “furinho” aqui e outro ali! • O que você diria para as pessoas que gostariam de trabalhar com bodypiercing? Se é isso mesmo que elas querem então estudem MUITO a parte teórica, pode não parecer importante, mas com certeza sem isso não dá pra trabalhar! Estar sempre se atualizando em relação a higiene, doenças, assepsia, material descartável e jóias adequadas para aplicação, estudar muito a parte de anatomia porque qualquer erro bobo pode dar uma tremenda dor de cabeça pro cliente e pro profissional.
Eu AMO trabalhar com piercing, mas infelizmente como citei não esta compensando tanto, então provavelmente ficarei no meio para o qual estou estuJunho 2009 | 27
|Convenções
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|Dia-a-dia
Hoje me apareceu um rapaz aqui na loja querendo fazer uma tattoo de coração. Perguntei: - Qual o tamanho que pensa em fazer? - Ah, não muito grande por que será escondida. - Bem, qual o local? O rapaz altamente bem vestido de terno num calor de 40º do Rio de Janeiro, com uma aliança na mão esquerda: - Na bunda Em tom altamente normal, como se estivesse falando um bom dia. - Desculpa, não entendi bem. Mais a noite, já no fim de um expediente daqueles aqui no estúdio, me chega uma cliente querendo fazer a tal da maquiagem definitiva no olho. Ela aparentemente não estava nervosa, mas assim que pedi para deitar na maca, ela quase derreteu de medo e se tremia toda. Eu disse a ela que aquilo era normal, mas nunca tinha visto. Já não estava com os antigos pirulitos calmantes, os que enchiam um pote nomeado de “clientes bonzinhos”. Eles eram infalíveis. Naquela hora, em que tentava acalmá-la, eles não estavam lá. O que eu teria de fazer? Mesmo cansada depois de um dia cheio? Respirei fundo e lancei mão num cd de musicas para acalmar ambientes que usava nas sessões de shiatsu. Lembrei da tão estudada parapsicologia, ela serviria de algo. Foi quando então resolvi dizer:
- Querida, se acalma. Você veio aqui para sair linda. Pense nisso, imagina o seu namorado correndo em sua direção dizendo “Amor! Você está linda! O que fez de diferente?”. Mesmo sabendo que homem algum diria isso, afinal são homens e não tem essa capacidade perceptiva referente ao nosso belo sexo feminino. Ela foi se animando e relaxando. Então disse: - Olha, você pode estar nervosa por não saber como é. Faz uma coisa, eu vou fazer só um pontinho, ok? só pra você ver como é. A partir disso, até conseguir fazer o tal ponto foram uns 10 minutos. Já tinham se passado quase quarenta minutos e nada do olho ficar pronto. Então me lembrei. A hipnose! Quer dizer, o relaxamento, afinal se disser hipnose assusta qualquer um. Fiz o tal do relaxamento com a música ambiente, o ar condicionado desligado numa sala fechada. O que para uma claustrofóbica como eu é um martírio completo, e um calor devastador. Enfim, quase uma hora e meia depois ela estava linda e sorridente dizendo: - Anna você é um amor, muito paciente! Ficou ótimo! Engraçado, não doeu tanto não! Eu acho que fiquei nervosa e te atrapalhei um pouco, né? Sorri lembrando da fome, calor, cansaço de matar e a tensão de tatuar a parte de baixo do olho com ela puxando a cabeça o tempo todo. - Imagina, fofa. Já estou acostumada, você é um amor.
Andre Dahmer
Sexta Feira :
Allan Sieber
Anna Idza
junho 2009 | 29