Valores

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VALORES, PRINCÍPIOS E ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO



Padre José Antonio da Silva

VALORES, PRINCÍPIOS E ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO

São Paulo 2009


Copyright© 2009 por José Antônio da Silva Título Original: Valores, princípios e espiritualidade na educação Publisher Henrique Volpi Editora Executiva Mariana Volpi Coordenação Editorial Ana Carolina Fialho Preparação de Texto Regina Cavalcanti Capa e projeto gráfico Flavia Falcão Diagramação Rafael Mazzari Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP S578v

Silva, Padre José Antônio da Valores, Princípios e Espiritualidade na Educação / Padre José Antônio da Silva. – São Paulo: Editorama, 2009. 000 p.

ISBN: 978-857-8850-3430

1. Ensino religioso. 2. Educação religião. I. Título.

2009 Todos os direitos dessa edição reservados à Editorama Editora Ltda. Av. São Gabriel, 201, conjunto 1608. 01435-001 – São Paulo – SP Telefone: 11 3704 - 7314

CDD – 377


“Não nos afastemos muito Vamos de mãos dadas...” (Carlos Drummond de Andrade)


Sumário Discurso de posse do reitor josé antonio da silva

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Resumo

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Introdução

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1 O ensino religioso na formação básica do cidadão

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2 Ética e moral

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3 Ética e ciência

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3.1 Ética na educação 4 Ética na religião

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4.1 Ética no ensino religioso

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4.2 O ensino religioso na ldb

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4.3 A natureza do ensino religioso

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4.4 A dimensão pedagógica

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4.5 O ensino religioso e a ética

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Conclusão

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Referências bibliográficas

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Parte 2 Resumo

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Introdução

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1 A importância dos valores na educação

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1.1. A educação para a diversidade e a formação de valores 2 A importância da educação com espiritualidade 2.1 O desenvolvimento humano da fé espiritual 3 O desenvolvimento espiritual e de valores: a vida e a educação

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Considerações finais

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Referências bibliográficas

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DISCURSO DE POSSE DO REITOR JOSÉ ANTONIO DA SILVA Invocando a proteção de Deus e a favorável acolhida dos homens de boa vontade, assumo o cargo e os encargos de Reitor da Universidade Severino Sombra, revestindo o espírito com as indumentárias da humildade, da coragem e da ousadia, virtudes que, nos jardins de minha devoção mais íntima, passeiam de mãos dadas, como irmãs inseparáveis. Pela livre manifestação do Presidente da Fundação, sou investido Sumo Sacerdote do Templo sagrado em que a Verdade é a deusa suprema, e a Liberdade a toalha branca de seu altar, no qual se oficia o culto incessante do Saber a que todos aspiramos em grau máximo, em cumprimento ao mandado divino de completarmos a obra da Criação. A administração de ontem abre espaço hoje a novas perspectivas. Amplia-se com outros pontos de vista. Para uma instituição que tem por dever a criatividade permanente, eis o momento de consolidar ideias, rever práticas, insuflar de ares que lhe renovem a atmosfera. Não sei de honra maior nem de maior responsabilidade ou missão que caíram sobre meus ombros. Sou professor desta Casa. Aqui fiz opção preferencial pela docência. Aqui professei fé inabalável na Ciência e na Cultura como instrumentos de promoção do homem a patamares de vida plena e plenamente humana. Compreendam, pois, minhas senhoras e meus senhores, a alegria que habita e avassala o meu ser nesta culminância de minha humana caminhada. Serei humilde, porém, o bastante, para reconhecer-me devedor a uma legião de servidores da Causa Comum. Iniciei minha caminhada aqui na USS com participação como


representante da Sociedade, na Comissão Própria de Avaliação – CPA, Comitê de Ética em Pesquisa e em vários projetos, através da Pró-Reitoria de Extensão, desde o ano 2000. Implantei e coordenei o Curso de Teologia e assumi a Coordenação de Ensino de Graduação, Sequencial e Tecnológico. Dr. Américo, durante a caminhada na USS até o momento, primei pela lealdade e companheirismo. Espero, em contrapartida, contar com a luz de sua experiência, para que esta me permita assegurar-me do necessário apoio, para que eu possa cumprir bem a missão hoje assumida. Dr. Américo da Silva Carvalho, sei de sua visão da Universidade Severino Sombra. São décadas e décadas a serviço da USS. Grande companheiro Dr. Américo da Silva Carvalho com quem tenho o prazer de conviver e a quem agora sucedo, receba palavras de sincera e fraternal solidariedade, com votos de felicidade na fronteira de ação que ora procura em seu quarto mandato à frente da Presidência da Fundação Educacional Severino Sombra, em prosseguimento a seu chamado de educador, administrador, empreendedor e jurista, ousado e generoso, destemido e altruísta, atencioso e engajado na mais sensível percepção do dever de justiça social. Como Reitor Dr. Américo estendeu a USS até os mais distantes rincões desta terra, fazendo-a quase coincidir com todas as dobras do mapa da cidade de Vassouras, Maricá e agora com um projeto inovador para Porto Real. Senhoras e Senhores, a Universidade é a primeira alavanca do desenvolvimento, se, de fato, falamos em desenvolvimento em sentido integral, humanístico, capaz de incluir o ser humano todo e todos os seres humanos; se quisermos, aqui, em nosso próprio território, preparar uma elite que, logo mais, assuma as altas responsabilidades de governar, crescer, produzir, competir, liderar. Assumo, pois, com coragem e ousadia. Mas coragem-humildade, de quem sabe conjugar o verbo dividir, tão “poucamente” e tão “muitamente” cristão. Coragem que se traduz por liderar inteligências, coordenar vontades, somar forças criativas. Coragem que se detém a ouvir, a compartilhar, a praticar a arte de convencer e de convencer-se; de quem


é prudente sem ser temeroso; de quem é sábio sem meter-se a vaidoso; de quem é forte sem fazer-se arrogante; de quem é justo sem chamar a atenção. Que Deus me dê a graça dessas virtudes e que meus colaboradores não me neguem o penhor de sua compreensão. Assim seja. Minhas Senhoras, Meus Senhores: A Universidade haverá de ter sempre presente que o ser humano é a sua razão constitutiva, seu princípio explicativo, movente primeiro e último de suas ações e intenções. E para que esse humanismo integral não permaneça no plano das proclamações metafísicas, será preciso levá-lo à esfera das decisões, em todos os momentos da vida acadêmica, ficando explícito que a Universidade não só se posiciona como baluarte da plena cidadania, mas reunirá todas as suas energias criativas para ajudar a construir uma sociedade em que ninguém seja excluído da mesa comum da humanidade, incluído o direito universal ao pão e à palavra, à casa e ao conforto, à saúde e à sanidade, à terra e aos seus produtos, à instrução e à informação, à ciência e à arte – em síntese, à Felicidade. Os novos tempos, por outro lado, obrigam ao Redirecionamento Epistemológico do Saber: “De forma alguma, pode a instituição universitária permanecer alheia à Nova Ciência – sobretudo, à Nova Pedagogia daí decorrente – devendo, antes, dispor-se ao reexame, desde os fundamentos, de seu estatuto epistemológico, de suas metodologias de ensino e aprendizagem, e, com especial atenção, de sua política de utilização societária das ciências”. Por isso, é urgente – e para que a colaboração com a sociedade seja efetiva e produtiva – darmos real Prioridade ao Ensino, Extensão, Pós-Graduação e à Pesquisa, convencidos, como devemos estar, de que “na Universidade, valem mais os cérebros mais bem qualificados, e a melhor universidade é a universidade dos melhores”. Professo, neste ponto, minha fé e crença de que o desenvolvimento científico e tecnológico da sociedade, e DA USS, obrigam o surgimento e à expansão de nosso quadro de pesquisadores. A eles e aos professores mais experientes compete pensar, articular e


desenvolver ações que visem à melhoria do ensino de graduação e à criação de um verdadeiro ambiente acadêmico. Investir em ciência, tecnologia e inovação é um ato de antevisão e antecipação do futuro, com retorno evidente em melhor qualificação técnico-profissional, em empregos de melhor remuneração, em geração de divisas, em melhor qualidade de vida. “Será esta, entre outras, uma providência que muito valerá para conferir, à Instituição, a credibilidade e aceitação perante a sociedade, de que faz parte, e perante a Sociedade, a que deve servir com plena consciência e reta vontade”. Por dever de justiça e justo reconhecimento, faço agora a louvação de quantos me precederam a exercer, na Universidade Severino Sombra, a “mais alta magistratura dos espíritos”. A Universidade de hoje edifica-se com o trabalho dos que a construíram ontem, assim como a Universidade do futuro será, em boa parte, o que fizermos dela nos dias correntes. Mandatos de reitor são, na verdade, espaços de tempo. Cada um complementa e continua etapa antecedente. E ninguém, por mais convicto que esteja de seus acertos, haverá de abrir mão da experiência vivida por outros, em situações e contextos diversos ou assemelhados. Eu disse de saída, que sou antes, antes de tudo, professor. Peço que me tomem por irmão, todos os que, nesta Casa, se dedicam ao ensino, e, no ensino está a medida melhor e mais exata de sua qualidade. Eu quero – sempre haverei de querer – uma Universidade com alma. E a alma da Universidade são os seus professores. Aos servidores do nosso quadro técnico-administrativos, a todos os funcionários, independente do que fazem aqui, levo a certeza de que o seu trabalho será, em qualquer ocasião, objeto de real e sincero reconhecimento. Os alicerces se escondem, mas de sua firmeza e profundidade é que depende a elevação dos grandes edifícios. A quantos que se inscrevem como estudantes da USS, em qualquer das múltiplas modalidades que lhes oferecemos, quero repetir o que é evidente: que a Universidade existe só por sua causa e a Universidade será o que forem os seus alunos, seu entusiasmo, seu idealismo; a espalhafatosa galhardia de seus sonhos.

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Ninguém há de ignorar a complexidade da USS, como instituição universitária. Ninguém desconhece a multiplicidade de desafios e crises em que se realiza o seu calendário. E eu nem preciso elencar os desafios que nos esperam e que farão a nossa massa de trabalho de logo mais. Graças a Deus, teremos muito que fazer. Distintas autoridades, Senhoras e Senhores Membros da Comunidade Acadêmica: Não posso esconder que aqui me faço presente por inteiro, eu e minhas circunstâncias: Fecho os olhos, para expandir a visão de minha alma e contemplar com saudade a figura de meus pais, Eurípides José da Silva e Maria Aparecida Paula da Silva, ambos falecidos. Por último, mas não por menor importância, saúdo e homenageio os valorosos companheiros e companheiras, meus paroquianos, que, em peso, se fizeram presentes a esta celebração. Com vocês divido e faço aumentar minha alegria nesta noite inesquecível. Cada um de vocês confere brilho especial a esta investidura. Anísio Teixeira, o grande Educador dos brasileiros, deixou escrito que “A universidade não está cumprindo sua missão enquanto seus frutos não se distribuírem por todos aqueles que ela visa atingir”. Por outro lado, uma universidade não depende apenas daqueles a quem os estatutos conferem responsabilidades formais de dirigentes, por mais dedicados que sejam. Uma universidade se faz pela luz de suas inteligências. Nosso caminho longo será luminoso e pleno da esperança que me anima a captar o brilho das inteligências no circuito de nossa vida universitária e elevá-lo até à altura dos telhados, para que ilumine a todos. Sejamos, pois, um corpo verdadeiramente universitário, diversificado em suas funções e operações, mas uno e coeso no propósito e na vontade infatigável de alcançarmos a meta. A Universidade, por mais diminuto e circunspecto que seja o seu raio de atuação, é sempre uma instituição universalista voltada ao círculo em que sua, semeia e sofre o próprio ser humano. Esta vista

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de olhos para o grande horizonte do mundo é o que nos faz acertar o passo nas caminhadas dentro de nossa própria paróquia, ao domicílio modesto de nossa província. Não preciso descrever o panorama de nossa sociedade, hoje, desde a escala aberta da globalização, até o pequeno quintal em que reabastecemos nossas matulas para novas fadigas. Vivemos num cenário cinzento, de desacertos e descaminhos, de dúvidas e desencantos. Pois bem: “Numa sociedade desencantada, o reencantamento da universidade pode ser uma das vias para simbolizar o futuro” – escreveu o sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Ele disse simbolizar. Eu digo realizar. E nesse propósito, empenharei todas as forças de minha alma. Aceitem todos o meu convite – mais que isso: aceitem todos minha convocação – para o reencantamento da Universidade, o reencantamento com a Universidade, o reencantamento pela Universidade, para que possamos, juntos, de mãos dadas, realizar a Universidade Severino Sombra que Vassouras nos cobra, de que o Brasil precisa. É dever intrínseco de nossa cidadania deixar como legado aos vassourenses de hoje, de logo mais e de amanhã. Eu quero ser o Reitor de toda a Comunidade Acadêmica, sem exclusão de campus ou de curso, sem acepção de pessoa ou de ideologias, sem exceção de circunstâncias. É esta a minha maneira de fazer a Universidade. Espero e confio, com a mais esperançosa confiança, que assim procederão todos os novos gestores desta Casa, em reciprocidade que não resulte apenas de um gesto de gentileza ou cortesia, mas que diga eloquentemente quanto é ampla a visão que cada um de nós tem da missão da Universidade. Na Academia, o grande inimigo de um dirigente não é a leal divergência de alguns pares. É a tentação de inebriar-se com o poder e de não ouvir as ponderações que emanam do coletivo. Senhor Deus de Infinita bondade e misericórdia, livrai-me de todas as tentações. Concluímos, afirmando que “o futuro pertence aqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos”. Nós acreditamos, em nossos sonhos e no futuro da nossa universidade, sob a proteção divina.

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Comungando com o poeta Carlos Drummond de Andrade, “tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, mas peço a Deus que me dê forças para que assim seja. Que todos me deem as mãos para que assim se faça. Muito obrigado.

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RESUMO Esta monografia tem o objetivo de mostrar como o ensino religioso nas escolas pode contribuir para a formação de valores nos alunos. A questão central não é concordar ou discordar sobre a sua existência nas unidades escolares, mas como serão ministradas tais aulas. O ensino religioso e a educação da religiosidade, que é algo que se mostra, revela ou manifesta na experiência humana, é o resultado do processo do ser humano em busca de Deus. A religiosidade desenvolve e promove o ser humano em todas as suas dimensões, em relação a si mesmo e ao outro, conseguindo, assim, que ele se integre nos demais grupos sociais. E, ainda, essa nova disciplina em sala de aula pode oferecer a grupos discriminados de raças ou religiões e classes sociais o convívio respeitoso entre os alunos, a tolerância à diversidade, sem negar a própria crença que indica um modo possível e adequado para o tratamento dos temas transversais.

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INTRODUÇÃO A finalidade desta monografia é a de comprovar que o ensino religioso nas escolas pode contribuir para a formação de valores nos alunos. Muito se tem dito sobre esta questão, alguns até sem o conhecimento elementar da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação em seu artigo 33, Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com redação dada pela Lei n.° 9.475, de 22 de julho de 1997, que legisla sobre este assunto do seguinte modo: Art. 33.º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1.º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição do ensino religioso. Esta lei é bastante ampla e ambígua, deixando várias lacunas a serem preenchidas pelos Conselhos Estaduais de Ensino conforme realidade e vivências regionais, ficando a cargo das Secretarias Estaduais de Educação e dos Conselhos de Educação a sua regulamentação. Além disso, existe a possibilidade de o Projeto Político Pedagógico de cada unidade escolar adaptar tal legislação à sua realidade vivencial. O ponto-chave do ensino religioso nas escolas não é defender ou não a sua existência nas unidades escolares, mas como essas aulas serão conduzidas.

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O ensino religioso e a educação da religiosidade, que é algo que se mostra, revela ou manifesta na experiência humana, é o resultado do processo do ser humano em busca de Deus. A religiosidade desenvolve-se e promove a pessoa em todas as suas dimensões, em relação a si e ao outro, conseguindo, assim, integrá-la nos demais grupos sociais. E, ainda, essa nova disciplina em sala de aula ajudará grupos discriminados de raças ou religiões e classes sociais a vivenciar um convívio respeitoso entre os alunos, a tolerância para a diversidade, sem negar a própria crença, que indica um modo possível e adequado para o tratamento dos temas transversais.

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Capítulo 1

O ENSINO RELIGIOSO NA FORMAÇÃO BÁSICA DO CIDADÃO Em 1997, a promulgação da revisão do artigo 33 da LDB (22 de julho/Lei n.º 9.745) orienta o perfil do ensino religioso como parte integrante da formação básica do cidadão. Dessa forma, ficou assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, sem nenhuma espécie de proselitismo no ensino fundamental (da 1.ª à 8.ª série). Tal orientação explicita a possibilidade de as novas gerações compreenderem um dos aspectos que, mesmo diante de uma aparente negação, são responsáveis por fatos relevantes do cotidiano da sociedade brasileira, desde os nomes próprios que carregamos em nossas identidades, até preceitos ou tabus que desafiam as relações interpessoais. A partir de 2002, as escolas do Estado de Minas Gerais farão nada mais do que o previsto em uma lei federal. Outros Estados da Federação já cumprem tal normatização há algum tempo. Com certeza, este Estado da Federação, o Paraná, ainda não operacionalizou o preceito por problemas de interpretação desse pequeno artigo, pois o ensino religioso, como componente do currículo, ainda é percebido por alguns legisladores como instrumento de manipulação desta ou daquela tradição religiosa. Isso evidencia completa ignorância do processo de discussão sobre o ensino religioso existente no Brasil. Tanto legisladores como religiosos não perceberam que a proposta de Rui Barbosa em defender um Estado livre da pressão da Igreja, e vice-versa, foi para favorecer o desenvolvimento de ambos, propiciando a corresponsabilidade dos segmentos que formam esta nação, pois a todos, e a cada um, é permitido acreditar, ou mesmo negar, a relação com algo que nos transcende. Estado e Igreja se uti-

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lizaram dessas relações para manipular a população para interesses que nem sempre eram claros. A pedagogização do ensino religioso, que busca superar o uso desse mesmo ensino como um interventor de concepções religiosas para a formação de novos adeptos desta ou daquela tradição, é um desafio. Nada tão difícil, porém, que o diálogo com honestidade científica não permita estabelecer. Um sinal que pode comprovar esse percurso são os objetivos que se encontram no Parâmetro Curricular do Ensino Religioso: Proporcionar o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, a partir das experiências religiosas percebidas no contexto do educando; subsidiar o estudante na formulação do questionamento existencial, em profundidade, para dar sua resposta devidamente informada; analisar o papel das tradições religiosas na estruturação e manutenção das diferentes culturas e manifestações socioculturais; facilitar a compreensão do significado das afirmações e verdades de fé das tradições religiosas; refletir o sentido da atitude moral, como consequência do fenômeno religioso e expressão da consciência e da resposta pessoal e comunitária do ser humano; possibilitar esclarecimentos sobre o direito à diferença na construção de estruturas religiosas que têm na liberdade o seu valor inalienável. Com certeza, é desafiador pensar nos profissionais que serão capazes de articular e concretizar tais objetivos, mas vão aparecendo espaços formadores que, com seriedade, tornam viável esta concepção para o ensino religioso. Aos poucos, tornam-se explícitos os diferentes matizes religiosos, não para organizar um sincretismo, mas para contribuir para a formação de um cidadão que saiba mais que a história de sua comunidade. Deve conhecer a articulação conceitual e saber que entre os pilares está a dimensão religiosa do ser humano, que simboliza as suas conquistas e buscas por meio de expressões que manifestam a presença de algo que o transcenda. Mesmo quando alguns desejam fazer acreditar que o nosso adolescente, jovem ou mesmo os adultos negam essas experiências,

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