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FACULDADES OSWALDO CRUZ CURSO DE ILUMINAÇÃO E DESIGN DE INTERIORES
RAFAEL MICHALAK
ILUMINAÇÃO PÚBLICA PLANEJADA
FLORIANÓPOLIS 2010
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RAFAEL MICHALAK
ILUMINAÇÃO PÚBLICA PLANEJADA
Monografia apresentada as Faculdades Oswaldo Cruz como parte dos requisitos exigidos para a Conclusão do Curso de Iluminação e Design de Interiores.
FLORIANÓPOLIS 2010
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DEDICATÓRIA
A toda minha família, minha noiva Bruna e seus pais.
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RESUMO
Este trabalho tem por objetivo apresentar os benefícios de uma iluminação pública planejada, com uma abordagem qualitativa estética e funcional da luz. No primeiro capítulo, apresentase o histórico da iluminação pública no Brasil e no mundo, com suas mudanças tecnológicas mais significativas. Inclui-se neste capítulo também a situação atual da iluminação pública no Brasil. No segundo capítulo, apresenta-se o conceito de Plano Diretor de iluminação Pública, seus parâmetros de implantação e as soluções luminotécnicas apontadas pelo plano e, onde deu-se início a este movimento. No terceiro capítulo, mostra-se as potencialidades da iluminação pública planejada sob os aspectos: técnicos e funcionais, estéticos e econômicos. No quarto capítulo, é apresentado os fatores importantes e mais relevantes para elaboração de iluminação pública para diferentes usos que são: ruas, pontes e viadutos, praças e parques, monumentos, edifícios públicos e, edifícios históricos. No quinto capítulo, apresenta-se a situação atual da iluminação pública de Jaraguá do Sul acompanhado de uma breve análise da iluminação de acordo com os usos apresentados no capítulo anterior, e embasado com a pesquisa realizada procurar apontar soluções que procurem qualificar a iluminação pública de Jaraguá do Sul. Palavras-chave: Iluminação pública, planejamento, plano diretor.
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ABSTRACT This paper aims to present the benefits of a planned public lighting, with a qualitative approach to aesthetic and functional lighting. On the first chapter, it's presented the history of public lighting in Brazil and the around the world, with its most significant technological changes. It is included in this chapter also the present situation of public lighting in Brazil. The second chapter presents the concept of a Public Lighting Master Plan, its parameters and solutions for the public illumination indicated by the plan, as well as the places that had this initiative at first. The third chapter shows the potential of a planned lighting program under the following aspects: technical and functional, aesthetic and economic. In the fourth chapter it is presented the most relevant and important factors for the development of public lighting on different uses, such as: streets, bridges and overpasses, plazas and parks, monuments, public buildings and historic buildings. In the fifth chapter it is presented the current situation of public lighting in Jaraguรก do Sul with a brief analysis of the current situation in accordance with the uses presented in the previous chapter, and compared by a theoretical search with the intent to point solutions that aims to qualify the public lighting in the city of Jaragua do Sul. Keywords: Lighting, planning, master plan.
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7 1 A ILUMINAÇÃO PÚBLICA ............................................................................................. 8 1.1 BREVE HISTÓRIA DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA ......................................................... 8 1.2 ILUMINAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL ......................................................................... 11 2 PLANO DIRETOR DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA ...................................................... 15 2.1 CONCEITO ....................................................................................................................... 15 2.2 PARÂMETROS DE IMPLANTAÇÃO DO PLANO DIRETOR .................................... 15 2.3 PÂRAMETROS DAS SOLUÇÕES LUMINOTÉCNICAS ............................................. 17 2.4 CIDADES PIONEIRAS .................................................................................................... 18 3 POTENCIALIDADES DA ILUMINAÇÃO URBANA PLANEJADA ........................ 21 3.1 ASPECTOS TÉCNICOS E FUNCIONAIS ...................................................................... 21 3.2 ASPECTOS ESTÉTICOS ................................................................................................. 22 3.3 ASPECTOS ENCONÔMICOS ......................................................................................... 23 4 ILUMINAÇÃO E HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS ............................ 24 4.1 VIAS DE TRÂNSITO ....................................................................................................... 24 4.2 PONTES E VIADUTOS ................................................................................................... 25 4.3 PRAÇAS E PARQUES ..................................................................................................... 26 4.4 MONUMENTOS OU ESCULTURAS ............................................................................. 27 4.5 EDIFÍCIOS PÚBLICOS ................................................................................................... 28 4.6 EDIFÍCIOS HISTÓRICOS ............................................................................................... 29 5 JARAGUÁ DO SUL E SUA ILUMINAÇÃO PÚBLICA .............................................. 31 5.1 PLANEJAMENTO E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA ATUAL ..................................... 31 5.2 ANÁLISE CRÍTICA ......................................................................................................... 32 5.2.1 Ruas ................................................................................................................................ 32 5.2.2 Pontes ............................................................................................................................. 33 5.2.3 Praças e Parques ........................................................................................................... 34 5.2.4 Monumentos .................................................................................................................. 36 5.2.5 Fachadas de Edifícios Públicos .................................................................................... 37 5.2.6 Edifícios Históricos........................................................................................................ 38 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 41
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INTRODUÇÃO Em constante evolução, a iluminação pública sempre foi tema de discussão para as cidades do mundo, onde durante grande período da história discutia-se apenas o aumento do rendimento das luminárias, sem muito se preocupar com a qualidade e consumo energético destas fontes. Agora estamos em uma nova fase, onde a economia no consumo está também integrada à qualidade funcional e estética da iluminação pública, que já não mais se limita a iluminação de vias, a iluminação pública agora faz parte da composição da imagem da cidade através da iluminação de praças, parques, edifícios e outros elementos urbanos.
Embora muito discutido, muitas cidades ainda não exploram o potencial da iluminação pública, muitas vezes por falta de conhecimento técnico ou por falta de planejamento.
Então, o principal objetivo deste trabalho é apresentar os benefícios da iluminação pública planejada, analisado pelos aspectos funcionais e estéticos da luz, sem se aprofundar nos índices lumínicos. Para contextualização e embasamento do trabalho, foi realizada a pesquisa sobre o histórico da iluminação pública no Brasil e no mundo e a atual situação da iluminação pública no Brasil.
Para maior compreensão sobre o tema, foi realizada pesquisa com finalidade de conceituar a função do Plano Diretor de Iluminação Pública, com as etapas para sua implantação e as soluções luminotécnicas apontadas pelo plano. Posteriormente então é apresentado as potencialidades da iluminação pública pelos aspectos técnicos, funcionais, estéticos e econômicos.
A fase seguinte do trabalho então tem por finalidade, apresentar os principais pontos abordados nos projetos de iluminação pública em diversas aplicações - vias, monumentos, pontes e viadutos, praças e parques, fachada de edifícios e edifícios históricos -, embasado nessas aplicações e seus critérios, será então apresentado uma análise crítica da situação atual da iluminação pública de Jaraguá do Sul.
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1 A ILUMINAÇÃO PÚBLICA
1.1 BREVE HISTÓRIA DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA
Entende-se que a história da iluminação pode ser dada como início desde a descoberta do fogo na pré-história, desde então, o homem procurou dominá-lo aprimorando suas tecnologias e buscando por outras fontes de combustível, que proporcionasse mais luz. Ainda na idade da pedra, “foram construídas as primeiras lâmpadas de pedra, que queimavam azeite animal ou vegetal com uma mecha trançada.” (MASCARÓ, 2006, P.26) Essa tecnologia foi utilizada e aprimorada durante séculos, as lâmpadas de azeite atravessaram os séculos e iluminou a história, a leitura e a escrita.
Fig. 01: Lâmpada grega a óleo, séc IV A.C. Fonte: A História da Iluminação Artificial
Durante o surgimento das primeiras cidades, o uso público da iluminação por um longo período foi limitado. A iluminação de ruas, praças e fachadas até meados do século XVII, foi praticamente inexistente, a prioridade era dada para os locais de concentração pública de caráter cívico, esportivo e religioso, onde a iluminação era feita por tochas e archotes.
No Brasil, a iluminação externa às casas no Rio de Janeiro, até o final do século XVIII era feita a custo dos vizinhos que dividiam as despesas, quando então os cofres públicos assumiram as despesas.
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Segundo Santos (2005, P.16): Ao longo da história, muitas tentativas, apesar de ineficientes, trouxeram alguma iluminação para as ruas, traduzindo o avanço tecnológico da época. Registros indicam que em Londres, em 1417, lanternas foram colocadas em pontos diferentes da cidade, o que parece ser, segundo cita Pereira (1954), o primeiro registro de iluminação pública. Em 1699, as ruas de Amsterdam receberam os primeiros faróis de azeite para uso específico na iluminação pública. Para a manutenção deste sistema (limpeza, abastecimento e acendimento) era necessário um faroleiro para cada vinte lâmpadas. Durante o século XVIII a lâmpada de azeite passou a ser a lâmpada de grande rendimento da época. Após cinco décadas, as principais cidades da Europa contavam com iluminação pública.
A partir de 1780, pela pressão econômica e social impulsionada pela revolução industrial, surgiram grandes quantidades de inventos destinados a melhorar as fontes de luz existentes ou aperfeiçoar os métodos de produção da luz. Desta forma, a partir de 1810, a iluminação de gás foi a nova tecnologia empregada para iluminação pública, por seu combustível e manutenção pouco custosos.
Fig. 02: Gazista fardado, acendendo luminária a gás. Fonte: A História da Iluminação Artificial
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Em Londres foi o início da produção centralizada de gás e sua distribuição encanada, desta forma a tecnologia se disseminou rapidamente ao uso preferencialmente industrial, em 1815 a rede de distribuição já havia chegado aos 40 km de rede de distribuição, foi quando então implantou-se a iluminação pública a gás em Londres. A tecnologia de gás como combustível para iluminação foi até então, considerada como o passo mais importante da história da iluminação pública.
Apenas em 1854 o Brasil inaugurou seu primeiro sistema de gás para iluminação pública, no Rio de Janeiro implantado por Visconde de Mauá. Até então a iluminação das cidades brasileiras era feita por faróis abastecidos por azeite.
Fig. 03: Iluminação Pública a gás no Rio de Janeiro em 1920. Fonte: A Iluminação do Espaço Urbano
A lâmpada de Thomas Edison já havia sido inventada em 1879, quando o ápice da iluminação a gás aconteceu. Na última parte do século, a partir de 1886, os lampiões a gás foram providos do “bico Auer”, permitindo ser regulada a saída de gás o “bico Auer” também tornava-se incandescente, proporcionando grande aumentando na luminosidade.
Segundo Santos (2005, P.21): “No entanto a busca por novas tecnologias não paravam. Tanto na Europa como nos Estados Unidos eram desenvolvidas pesquisas na busca de soluções novas para a iluminação das cidades. Nesse sentido, buscava-se desenvolver sistemas que utilizassem a eletricidade como fonte de energia, sendo esse um grande desafio. Uma das primeiras aplicações da eletricidade foram as
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chamadas Jablochkoff, lâmpadas de arco voltaico, introduzidas em Paris em 1878 e, em 1879 Londres e Rio de Janeiro.” No Brasil e no mundo em geral, a iluminação pública através de energia elétrica foi fortemente impulsionada, com a expansão das redes elétricas e a comercialização da lâmpada incandescente de Thomas Edison. Mas, mesmo assim os lampiões a gás ainda ofereceriam resistência, tanto que, em 1916 em São Paulo haviam 864 lâmpadas elétricas e 8605 lampiões a gás, e estes mantiveram-se em uso até a década de 30.
Da década de 30 a diante o uso da energia elétrica passaria então a ser a principal tecnologia utilizada para a iluminação, tanto para uso interior como para o exterior, na iluminação pública. Os desafios então passaram a ser o aperfeiçoamento desta tecnologia, com a criação de novas luminárias e novas fontes de luz (lâmpadas).
Na década de 70, com a crise do petróleo, pela primeira vez foi sentida a crise energética. Desta forma, o crescimento tecnológico foi necessário e quase que obrigatório, na iluminação pública resultou em lâmpadas de maior eficiência energética, exigindo melhor controle de ofuscamento e, conseqüentemente, no sistema ótico da luminária. “A partir daí a iluminação estava em pleno desenvolvimento, a arquitetura e o desenho urbano estavam à procura de seus paradigmas e emblemas” (MASCARÓ, 2006, P. 41).
1.2 ILUMINAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL
Sob o ponto de vista constitucional, no Brasil, a prestação dos serviços de iluminação pública é de competência dos municípios. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é o órgão regulador e fiscalizador dos serviços de energia elétrica no Brasil. As condições de fornecimento de energia destinada à iluminação pública, assim como o fornecimento geral de energia elétrica são regulamentados pela Resolução Aneel nº 456/2000.
Até 1996, antes das privatizações, grande parte dos sistemas de Iluminação Pública (IP) era mantida pelas concessionárias de distribuição. A partir daí, muitas distribuidoras transferiram para os municípios a responsabilidade de manutenção e ampliação que, por falta de experiência dos municípios gerou uma piora na prestação deste serviço.
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Assim, os municípios procuraram por alternativas para resolver os problemas da iluminação pública, contratando empresas para terceirizar os serviços de manutenção e ampliação ou, cedendo as instalações por meio de concessão tornando a empresa concessionária responsável pela sua manutenção.
De acordo com Silva (2006), atualmente os serviços de iluminação pública são oferecidos de duas formas:
As instalações de iluminação são de responsabilidade dos municípios e de sua propriedade: nesse caso o município pode prestar o serviço diretamente ou através de uma empresa contratada, que pode inclusive ser a concessionária. Neste caso, as despesas relativas a prestação do serviço deverão ser arcadas pelos municípios, ou seja, as despesas relativas a instalação, operação, manutenção e consumo de energia elétrica.
As instalações de iluminação pública são de responsabilidade da concessionária de energia elétrica, até a reversão no fim da concessão, se houver. Neste caso, tarifa de energia elétrica cobrada pela concessionária ao município é um pouco mais elevada, pois as despesas relativas a instalação, operação, manutenção e consumo de energia elétrica, deverão ser arcadas pela concessionária.
Sendo de responsabilidade do município ou cedido a uma empresa concessionária, as evoluções na iluminação pública brasileira nem sempre tiveram foco na qualidade da luz. A redução no consumo de energia elétrica sempre foi a principal meta. Por exemplo,” no caso das lâmpadas a vapor de sódio, amplamente utilizadas na iluminação pública atual, observa-se um elevado rendimento na produção da luz, mas com índice de reprodução de cores deficiente.” (SILVA, 2005, p.49).
No Brasil, segundo levantamento cadastral realizado pelo PROCEL/ELETROBRAS em 2008, há 15 milhões de pontos de iluminação pública instalados no país, representando 3,0% do consumo nacional de energia elétrica, cerca de 9,7 bilhões de kWh/ano.
Programas de conservação de energia estimularam a modernização do sistema de iluminação pública no Brasil, principalmente após o apagão de 2001, no entanto, a prioridade destes
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programas é a redução do consumo energético. Tanto que atualmente as lâmpadas de vapor de sódio já representam 63% dos pontos instalados, contra 32% das lâmpadas de vapor de mercúrio; reduzindo consideravelmente a demanda e o consumo de energia elétrica.
Em geral, o processo de modernização da iluminação pública no Brasil tem como objetivo a redução de consumo de energia e são embasados pelo antigo conceito de iluminação pública, que consiste na iluminação de vias públicas nos períodos em que se faz necessária a produção de luz para desenvolvimento de atividades humanas.
Com isso, são poucos os municípios brasileiros que avançam aos valores qualitativos da luz, as questões técnicas e lumínicas, definidos por normas, são os principais valores atendidos pelos projetos de iluminação pública. “O tratamento que se dá à iluminação das cidades ainda se limita a considerar prioritariamente os parâmetros luminotécnicos e elétricos, e raramente os aspectos urbanísticos, ambientais ou estéticos.” (MIGUEZ, In: CAVALLO, 2003. p.17).
Para os projetos de iluminação publica, além da norma brasileira, é comum as concessionárias e as prefeituras estabelecerem um manual de padronização para projetos de iluminação pública. Nestes, estão definidos os critérios de projeto e as condições específicas, levando em conta as características regionais, a padronização própria de materiais, entre outros aspectos.
Estes manuais ou cartilhas têm como principal objetivo simplificar as instalações, criando um modelo padrão para toda a cidade. Desta forma, determinadas vias da cidade ou locais de atividades específicas deixam de receber uma iluminação diferenciada, não sendo possível então valorizar as potencialidades de cada local.
Miguez, In: Cavallo (2003, P.18) também coloca que: “Para uma mudança significativa na maneira de se iluminar as cidades, é necessário instituir nas estruturas municipais os órgãos competentes para a gestão completa da iluminação urbana, assumindo efetivamente a sua responsabilidade constitucional. Mesmo contratando as concessionárias para a gestão do sistema, as prefeituras é que devem estabelecer as políticas de implantação e melhoria.”
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De maneira geral, a iluminação pública brasileira ainda é tratada como um serviço público básico, onde as preocupações com estética e instrumento formador da paisagem urbana são ainda deixadas de lado. Algumas cidades brasileiras já fazem parte de exceções, e vêem a iluminação pública como instrumento formador da cidade, transformando um simples serviço público em ferramenta qualificadora da cidade, seja para segurança, economia, estética ou outros valores possíveis.
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2 PLANO DIRETOR DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA
2.1 CONCEITO Segundo Godoy (2010, P.18) “as cidades brasileiras estão muito focadas na iluminação das ruas, mas entender o ambiente urbano em toda sua tridimensionalidade é fundamental pra estabelecer uma relação melhor com a cidade.”
Fig. 04: Ponte Benjamin Constant, em Manaus. Fonte: http://www.arcoweb.com.br/lightning/peter-gasper-luminotecnica-de-21-08-2009.html, 2010
O principal objetivo de um Plano Diretor de Iluminação Pública é apontar diretrizes para as novas intervenções na cidade, sendo elas de ampliação ou renovação, atendendo parâmetros de qualidade técnica e estética da luz, cumprindo com as necessidades básicas de iluminar de maneira eficiente e baixo consumo energético, e com qualidade estética para promover a cidade, revelando suas qualidades arquitetônicas e urbanísticas, simultaneamente promovendo um novo período de vivenciar a cidade.
2.2 PARÂMETROS DE IMPLANTAÇÃO DO PLANO DIRETOR
Os Planos Diretores de Iluminação Pública devem ter seus conceitos abrangentes e articulados de maneira que contemplem as diretrizes do Plano Diretor Urbanístico da cidade, sem deixar de atender vocações culturais, arquitetônicas e urbanísticas de cada cidade.
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Entre principais critérios a serem avaliados na elaboração do PDI, podem ser citados os seguintes itens:
Análise das Zonas Urbanas – nesta análise identificam-se as principais zonas urbanas da cidade com seus respectivos usos e ocupações predominantes, juntamente com suas características individuais. Desta forma, podem ser construídas as classificações e subclassificações, se necessário, para cada zoneamento;
Mobilidade Urbana Noturna – compreende a análise dos principais traçados urbanos utilizados para o deslocamento em seus diversos níveis: pedestres, ciclistas e veículos automotores;
Índices de Criminalidade – a obtenção destes dados determina quais vias ou regiões específicas necessitam de maiores cuidados ao dimensionar a quantidade de pontos de iluminação e seus respectivos níveis de iluminância;
Marcos Visuais – são os monumentos, edificações ou outras estruturas que compõe a memória coletiva da cidade. A identificação destes é importante, pois podem trazer as mesmas referências diurnas para o período noturno, estendendo o período de vivenciar a cidade;
Pontos Históricos e Turísticos – estas regiões devem ser diagnosticadas, pois se trata de regiões de uso especial capazes de gerar grande concentração de pessoas e, por isso, também trata-se de áreas de potencial econômico que devem ser evidenciadas.
Fig. 05: Coliseu de Roma. Fonte: http://historiadaarte.pbworks.com/f/1204567572/Coliseu.jpg, 2010
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Outras várias análises podem ainda ser feitas, cabe então ao município e/ou empresa responsável pela gestão da iluminação pública aprofundar as pesquisas e levantamentos de acordo com as características da cidade.
Após o completo levantamento de dados é possível identificar as necessidades lumínicas de cada região, via ou bairro da cidade. Então, se constrói as diretrizes do Plano Diretor de Iluminação Pública, apontado as prioridades do plano e suas soluções de iluminação.
2.3 PÂRAMETROS DAS SOLUÇÕES LUMINOTÉCNICAS
No Plano Diretor de Iluminação Pública os parâmetros de aplicação da luz vão além da simples funções correspondentes a sinalização, proteção e a circulação de pedestres e automóveis. Estes parâmetros das soluções luminotécnicos serão definidos a partir da interpretação dos resultados obtidos pelo levantamento de dados da cidade.
Fig. 06: Parque do Povo, São Paulo. Fonte: http://www.arcoweb.com.br/lightning/senzi-consultoria-luminotecnica-luminotecnica-de-07-082009.html, 2010
Entre principais valores propostos pelo PDI, podem ser citados os seguintes itens:
Iluminância – Onde podem ser definidos os valores mínimos do nível de iluminância (iguais ou maiores que determinados pela NBR) para cada região, via ou uso específico;
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Distribuição de Luminâncias – Neste define-se a distância entre as luminárias, o tipo e altura dos postes, onde o principal objetivo é garantir a uniformidade da iluminação e também garantir a compatibilidade entre as luminárias e a arborização.
Aspectos de cores – De acordo com a atividade ou área a ser iluminada (via, parques ou praças) a temperatura e índice de reprodução de cor, têm necessidades diferentes. Em praças e parques ou áreas com grande concentração de pessoas, é importante proporcionar bom conforto e aparência visual, desta forma a temperatura e o índice de reprodução de cor são pontos fundamentais nos projetos.
Modelagem – Importante para iluminação de monumentos e edifícios, onde o objetivo desta iluminação é reforçar as características artísticas e arquitetônicas, priorizando a tridimensionalidade destes.
Poluição luminosa – Este tem por fim criar limites para os principais problemas da iluminação; ofuscamento, emissão luminosa não controlada (luz evasiva), adotando como prioridade a adoção de equipamentos com maior controle do facho luminoso.
Efeitos nas atividades humanas – De acordo com a atividade existente em cada localidade podem ser estudados níveis de iluminação que, estimulem alguma atividade (econômica, turística ou recreativa) ou inibam as atividades criminosas (assaltos, prostituição, etc.).
Outros parâmetros de caráter ambiental e econômicos podem ser criados, como por exemplo, os planos de descarte, de manutenção preventiva, de consumo elétrico e outros. Então, entende-se que os parâmetros de soluções luminotécnicas têm por finalidade, criar uma padronização para os projetos de iluminação pública, para que a cidade possa ter uma identidade definida e que este plano integrado possa trazer retornos econômicos para as prefeituras, com diminuição de custos de operação, e para a população com a sensação de bem estar e segurança.
2.4 CIDADES PIONEIRAS
De acordo com Vanderlei et al (2008, P.4296, 4297), Lyon foi a primeira cidade no mundo a implantar um Plano Diretor de Iluminação Pública em 1989, seu planejamento trata-se de prioridade política para cidade, através de uma contínua revisão e atualização à dinâmica
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urbana e tecnológica, procura-se criar ambiências urbanas noturnas que contribuem com a ampla sustentabilidade da cidade, através de ações voltadas ao comércio, lazer e turismo.
Fig. 07: Ruas as margens do rio Le Rhône, em Lyon. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=762704, 2010
Vanderlei et al (2008, P.4296, 4297), também descreve que Paris e Londres são outras duas cidades com seu Plano Diretor de Iluminação Pública destacados. Em Paris o objetivo maior do seu planejamento é contemplar centro e periferia de maneira indistinta, procurando construir um patrimônio emocional e simbólico da cidade por meio da luz acesso a todos, com destaque também para as ações comprometidas com a sustentabilidade ambiental.
Fig. 08: Torre Eiffel, Paris. Fonte: http://imgpe.trivago.com/uploadimages/52/18/5218356_l.jpeg, 2010
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Vanderlei et al (2008, P.4296, 4297),
ainda coloca que, em Londres, o planejamento
contempla o uso da iluminação como elemento facilitador da mobilidade urbana noturna, potencializando as principais rotas caminháveis interligadas ao transporte público. Com um estudo de demanda e fluxo da caminhada, acompanhado de dados referentes aos índices de criminalidade, foi possível prever ações que priorizam também a segurança e não apenas questões como sentido e orientação.
Fig. 09: London Eye, Londres. Fonte: ttp://londontravelogue.files.wordpress.com/2009/06/london-eye-2.jpg, 2010
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3 POTENCIALIDADES DA ILUMINAÇÃO URBANA PLANEJADA
Um plano diretor de iluminação bem elaborado pode trazer vários benefícios para cidade, mas para isso é necessário primeiramente um bom levantamento de dados e uma equipe bem formada e instruída que interprete estes dados de forma que, atenda as necessidades da comunidade e, segundo Manzano, In: Mascaró (2006, p.111) “Em termos gerais as necessidades de luz dos usuários de espaços urbanos estão vinculadas a: Segurança viária, Segurança citadina, Orientação visual, Promoção turística ou comercial, Identidade, ambientação e recreação”. No entanto o Plano de Iluminação Pública pode ser responsável por vários aspectos da valorização urbana.
3.1 ASPECTOS TÉCNICOS E FUNCIONAIS
Para Vanderlei et al (2008, P.4296, 4297): “O controle da situação do ambiente urbano noturno depende do nível de visibilidade disponível, sendo função da iluminação pública, a criação de pontos focais, a eliminação de pontos escuros ou de ofuscamento, a desobstrução de visuais e a identificação à distância segura de obstáculos e faixas de pedestres.” Como destaque, os seguintes aspectos podem ser apontados:
Segurança na circulação (pedestres e automóveis) – níveis de iluminação adequados e com uniformidade adequada, possibilita maior visibilidade dos obstáculos existentes no meio urbano;
Segurança cidadã – uma boa iluminação, eliminando zonas escuras, em áreas consideradas de risco à segurança, tem o potencial de intimidar as atividades ilícitas como assaltos e prostituição;
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Orientação – com a criação de hierarquia para as vias é possível criar um meio de orientar e guiar os pedestres e motoristas, da mesma forma que edifícios públicos ou monumentos com iluminação destacada também podem servir de referenciais.
Integração com elementos urbanos (arborização) – a elaboração da padronização combinado com um bom levantamento técnico da área, possibilita uma maior integração entre os equipamentos de iluminação e arborização. Desta forma diminuem-se as chances de desperdício ou desconforto, pois, ao iluminar por cima das copas das árvores criam-se áreas de sombra nas vias ou calçadas.
3.2 ASPECTOS ESTÉTICOS Para Santos (2005, p.88) “a nova função da iluminação pública deve ser a mais abrangente possível. É no jogo de luz e sombra das áreas a serem atendidas que as referências e as referências e os espaços serão recriados e propiciarão aos usuários as sensações estéticas e psicológicas necessárias ao seu conforto.”
Como destaque, os seguintes aspectos podem ser apontados:
Promoção – a iluminação é um importante meio de promover a cidade, seja suas atividades comerciais ou seus pontos turísticos ou elementos arquitetônicos, criando então uma imagem positiva da cidade desta forma atraindo turistas.
Identidade – este aspecto é de grande importância e está intimamente ligado ao uso da iluminação como meio de orientação, pois identidade própria de cada local ou via é possibilidade distinguir a importância de cada via ou localidade.
Ambiental – os efeitos da luz sob os elementos urbanos são capazes de criar diferentes sensações às pessoas como, hospitalidade, aconchego, amplitude, dramaticidade entre outros que vão variar de acordo a cada local.
Recreativo – outra propriedade de uma boa iluminação urbana é a capacidade de proporcionar ambientes recreativos a partir da própria luz, a luz dinâmica vem sendo empregado por várias cidades do mundo como forma de entretenimento.
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3.3 ASPECTOS ENCONÔMICOS
No Brasil atualmente existem vários programas de conservação de energia elétrica, entre eles pode ser citado do Programa RELUZ da ELETROBRÁS, no entanto estes programas referem-se mais a substituição de tecnologia das lâmpadas e luminárias.
Em um Plano Diretor de Iluminação, as ações de conservação podem ir muito alem da simples conservação de energia, por isso podem ser citados os seguintes aspectos principais:
Consumo energético – Além das substituições de tecnologia das lâmpadas e luminárias, outro fator que contribui para o bom desempenho da rede é a integração como os elementos urbanos, onde busca-se diminuir a quantidade de luz “perdida” por obstáculos como vegetação e outros elementos;
Manutenção – a limpeza e manutenção dos conjuntos têm por finalidade prolongar a vida útil do sistema e também garantir o rendimento necessário durante esse período. Desta forma impede-se que as luminárias percam rendimento em função da sujeira depositada em seus refletores/difusores e também se previne que as luminárias permaneçam acessas durante o dia por mau funcionamento do relé.
Impacto Ambiental – dentro do plano de iluminação podem ser previstos manuais ou roteiros de descarte de material, onde lâmpadas e outros componentes do sistema podem ser previamente classificados e encaminhados para reciclagem, minimizando então os impactos ambientais causados pelas lâmpadas, que possuem em seu interiores gazes metálicos.
Desta forma, conclui-se que os benefícios da iluminação pública vão muito além da economia no consumo energético, os resultados benéficos podem refletir no bem estar da comunidade, na segurança pública, na qualidade visual do município e entre outros que somados, formarão uma nova maneira de ver e vivenciar a cidade e isso pode refletir em retorno econômico com incremento do turismo ou das atividades comerciais noturnas.
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4 ILUMINAÇÃO E HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS
4.1 VIAS DE TRÂNSITO Segundo Manzano, In: Mascaró (2006, p. 122), “as vias com trânsito veicular considerável devem ser iluminadas com um nível adequado para facilitar a visibilidade do motorista, dispor de boa uniformidade para revelar a presença de pedestres ou obstáculos e servir como orientação visual, tudo isso limitando o brilho nocivo ou deslumbramento e a emissão desnecessária de luz e planos superiores à luminária.”
As vias de trânsito de tráfego têm seus níveis de iluminamento definidos por norma NBR5101:92, e seus valores são definidos após uma correta avaliação dos seguintes critérios: largura da via, classificação da via (Arterial, Coletora, Local, e outras), intensidade de trânsito, traçado da pista, largura de passeio, trânsito de pedestres, entre outros.
Fig. 10: Pista da Ponte Octávio Frias de oliveira sobre Marginal Pinheiros, São Paulo. Fonte: http://www.flickr.com/photos/gutooo/2496454064/, 2010
Para a iluminação das vias atenta-se para o ofuscamento, pois este é responsável pelo desconforto visual para pedestres e motoristas, principalmente para os segundos. Desta forma, recomenda-se a utilização de luminárias com grande controle do facho luminoso para vias de alto tráfego e o uso de luminárias de médio controle para vias de médio tráfego, admite-se apenas o uso de luminária sem controle do facho luminoso apenas para vias com pouco trânsito.
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4.2 PONTES E VIADUTOS
De acordo com matéria da revista Lume Arquitetura (2004, p.34-44), existe duas formas distintas de iluminar pontes e viadutos, uma delas sendo a iluminação funcional e a segunda institucional, que podem ser descritas como:
A iluminação funcional é a que atende às necessidades do tráfego e é determinada pelos mesmos parâmetros fotométricos utilizados na iluminação pública de vias.
A iluminação institucional de sua estrutura é a que incorpora os valores do lighting design e confere qualidade estética.
Para a iluminação institucional, deve-se levar em consideração a iluminação funcional existente, pois ambas combinadas formarão um único conjunto, desta forma, a iluminação de destaque deve valorizar os detalhes construtivos da ponte, sem interferir na iluminação das pistas de rolamento. A iluminação de destaque das pontes, além de ser fator de embelezamento das cidades também pode ser associada na criação do marco referencial.
Fig. 11: Pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Salles, Florianópolis. Fonte:http://4.bp.blogspot.com/_OAjx04MtIxM/Sgqxbxy8CBI/AAAAAAAABI8/9MyiUkBK24A/s1600/ponte DiegoRendel.JPG, 2010
Na iluminação institucional, para o caso de pontes de concreto, podem ser valorizados os itens monumentais como, suas colunas e vãos. E para o caso de pontes do tipo pênsil ou metálicas, podem ser valorizados ou realçados os itens estruturais como cabos de aço, treliças e torres.
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Neste tipo de iluminação o uso de cores variadas é permitida, ficando a critério do resultado desejado.
4.3 PRAÇAS E PARQUES
Em parques ou grandes praças o número de elementos a destacar pode ser muito grande, árvores, esculturas, fontes, lagos, jardins etc., no entanto, por motivos econômicos e estéticos não é possível tudo iluminar. Portanto, pode ser utilizada como critério de seleção a escolha de elementos de impacto visual, que faça parte de um percurso de pedestres ou visíveis desde um percurso realizado em veículo. Após a escolha dos elementos a iluminar, o projeto deve contemplar o destaque e a integração destes para uma boa composição luminosa.
Fig. 12: Praça Vitor Civita, São Paulo. Fonte: Revista L+D Nº22, 2009
Segundo Manzano, In: Mascaró (2006, p.131), a composição luminosa dependerá do efeito desejado e das possíveis vistas, sendo necessário considerar:
Localização dos observadores: direção de visão e proximidade;
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Modelo da aparência: plana, natural ou dramática;
Cor da luz;
Seleção e localização do sistema de iluminação;
Manutenção, vandalismo etc.
4.4 MONUMENTOS OU ESCULTURAS
Para estes elementos da paisagem urbana recomenda-se o emprego do efeito de modelagem. “Usando a modelagem é possível destacar a aparência de uma escultura outorgando-lhe presença, naturalidade ou dramatismo. As esculturas de figuras humanas ou animais são favorecidas se iluminam produzindo uma aparência natural.” (MANZANO, In: MASCARÓ, 2006, p.134).
Quando localizadas em praças ou parques, os monumentos ou esculturas devem levar em consideração seu entorno, pois quanto mais escuro seja o entorno, mais destacado estará o monumento.
Fig. 13: Monumento aos Bandeirantes, São Paulo. Fonte: http://www.flickr.com/photos/arthurfonseca/4424188919/sizes/l/, 2010
Aconselha-se o uso de lâmpadas com alto índice de reprodução de cor, desta forma as características de cor do material iluminado não são alteradas; a temperatura de cor das lâmpadas é outro aspecto importante do projeto, o uso adequando deste permite reforçar a cor do material e também o destaque do monumento em relação ao entorno.
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4.5 EDIFÍCIOS PÚBLICOS
Com o objetivo principal de valorizar a arquitetura dos edifícios, a iluminação de fachadas também pode proporcionar a estes edifícios iluminados, o caráter de referência na paisagem noturna.
Segundo Manzano, In: Mascaró (2006, p.132), os fatores básicos a serem estudados para o projeto de iluminação de fachadas, segundo são:
Características arquitetônicas;
Pontos e distância de observação;
Claridade do entorno;
Atividade que se realizam.
Um edifício pode ser iluminado de várias formas, embora, o que vai determinar o resultado final, é a arquitetura do edifício e o custo previsto para instalação e operação do sistema de iluminação. Dependendo das características do edifício alguns elementos podem receber destaque, então a combinação de contrastes de luz, sombra e cor podem ser empregadas para modelar a edificação, resultando em um efeito mais dramático.
Fig. 14: Congresso Nacional, Brasília. Fonte: http://farm3.static.flickr.com/2080/2250547700_02ea536ede.jpg, 2010
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Soluções mais econômicas também podem ser utilizadas, por exemplo, um banho de luz uniforme com luminárias posicionadas distantes da edificação, esta solução possui a desvantagem de deixar a edificação com aparência plana e monótona.
Outro detalhe importante do projeto é prever os horários de funcionamento do sistema, prevendo sistemas de controle automáticos ou manuais, com preferência aos automáticos, para redução de custos com energia elétrica.
4.6 EDIFÍCIOS HISTÓRICOS “A iluminação de patrimônio histórico e cultural é uma poderosa ferramenta da iluminação urbana, pois é uma das soluções que mais demonstra o trabalho do poder público frente à população, muitas vezes ligadas à patrocínios privados, por serem ações muito bem vistas pelos cidadãos.” (GODOI, 2008, p.32)
Fig. 15: Estação Júlio Prestes, São Paulo. Fonte: http://www.flickr.com/photos/rafaelweb/3045674799/in/set-72157608507748736/, 2010
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O estudo para elaboração dos projetos envolve as mesmas premissas da iluminação de edifícios públicos. No entanto, é fundamental em edifícios históricos a escolha dos equipamentos, devem ser indicados os sistemas que causem menor interferência possível na arquitetura do edifício, para que suas características não sejam alteradas ou que adaptações grosseiras necessitem ser feitas para a sua instalação.
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5 JARAGUÁ DO SUL E SUA ILUMINAÇÃO PÚBLICA
5.1 PLANEJAMENTO E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA ATUAL
De acordo com informações levantadas junto a prefeitura municipal, através de uma entrevista, a iluminação pública de Jaraguá do Sul é atualmente de responsabilidade da própria prefeitura, e representada pela Secretaria de Planejamento, e esta não possui nenhum profissional qualificado em iluminação para avaliação do sistema. Empresas terceirizadas são responsáveis pelos serviços de manutenção e ampliação da rede onde, a CELESC fica aos cuidados de ampliação e manutenção e uma segunda empresa é responsável pelos projetos.
Atualmente a cidade de Jaraguá do Sul não possui qualquer tipo de planejamento específico na área de iluminação pública, único documento encontrado e disponível para visualização no site da prefeitura é um mapa iluminação pública destacada, onde ilustra as vias arteriais e estruturais, sem qualquer informação complementar a respeito dos índices luminotécnicos para esses tipos de vias e os demais não citados.
O que a prefeitura adota como padrão, é que em novos loteamentos ou áreas urbanizadas, o loteador é responsável pela instalação de infra-estrutura básica, que envolve os seguintes itens: pavimentação asfáltica, rede de água e esgoto, telefonia, rede elétrica e de iluminação, neste caso a iluminação segue a padronização dos equipamentos a serem utilizados de acordo com orientação da CELESC.
A maior parte do sistema atual utiliza equipamentos de baixo rendimento luminotécnico e controle do facho de luz, e são equipados com lâmpada de vapor de sódio com potências de 75W e 150W. Esses conjuntos além de oferecer baixo rendimento proporcionam outros desconfortos como, poluição luminosa e ofuscamento.
No caso de iluminação de fachadas dos edifícios públicos, a secretaria de planejamento, não é responsável, portanto, não existe qualquer padronização para esse fim. As secretarias responsáveis pelas edificações é que devem fazer a solicitação da instalação ad iluminação de destaque do edifício, e posteriormente, a secretaria solicitante é responsável pela manutenção e operação do sistema. Estes projetos de iluminação de fachada são elaborados por empresas terceirizadas, e cada secretaria usa seus próprios critérios de avaliação dos projetos.
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Para praças, parques e edificações históricas, a Secretaria de Planejamento é responsável, e estes projetos são elaborados também por empresas terceirizadas, no entanto a padronização continua inexistente, sendo assim, os critérios de avaliação para cada novo projeto se alteram.
Ainda de acordo com as informações levantadas, a prefeitura está dando um pequeno avanço na área da iluminação pública, pois está em fase de elaboração do processo licitatório para contratação de serviços na área de gestão da iluminação pública, desta forma, a prefeitura tem como objetivo aumentar o controle sobre a rede, e assim diminuir os desperdícios e consequentemente os custos.
5.2 ANÁLISE CRÍTICA
Devido a falta de planejamento e controle da iluminação pública por parte da prefeitura municipal, o sistema atual apresenta várias deficiências que são desde a qualidade da iluminação como a má manutenção.
5.2.1 Ruas
As vias apresentam vários problemas em sua iluminação, onde os principais são:
Incompatibilização com arborização – várias áreas de sombra, sobre a pista ou calçada, são encontradas pela cidade, esta deficiência compromete a uniformidade da iluminação destes espaços e também afeta no rendimento do sistema, uma vez que a iluminação foi projetada para iluminar as vias e calçadas;
Luminárias de baixo rendimento – as luminárias utilizadas não oferecem o controle do facho de luz tão importante para uma boa iluminação e alto rendimento do sistema. Como resultado, estas luminária acabam criando um elevado problema com a poluição visual, já que a luz é emitida para várias direções inclusive para cima, desta forma a luz invade as propriedades vizinhas e consequentemente ilumina a fachada dos edifícios e os ambientes em seu interior.
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Fig. 16: Rua Reinoldo Rau, Jaraguá do Sul. Fonte: Própria, 2010
Estas deficiências acabam gerando reflexos na forma de vivenciar a cidade, pois a sensação de segurança é diminuída, fazendo com que grande parte dos ambientes não utilizem dos espaços públicos disponíveis. As alternativas para uma boa iluminação das vias são muitas, mas Jaraguá do Sul teria sua iluminação melhor se as deficiências apontadas anteriormente fossem resolvidas, acompanhados de uma política administrativa que procurassem apresentar soluções definitivas para os problemas. Desta forma ações paliativas para “mascarar” as deficiências poderiam deixar de existir, diminuindo assim os gastos com obras que não resolvem definitivamente os problemas.
5.2.2 Pontes
Jaraguá do Sul é uma cidade que apresenta inúmeros rios, de pequeno e grande porte e, os dois maiores passam pelo perímetro urbano na cidade, consequentemente várias pontes foram construídas para atender a demanda do trânsito que constantemente aumenta.
Estas pontes não apresentam uma arquitetura ou solução estrutural diferenciada, mas o destaque para algumas delas está para suas dimensões, os grandes vãos e longa extensão poderiam ser justificativas para uma iluminação de destaque de sua estrutura, colocando em evidência estas características, como visto nos capítulos anteriores.
Também visto nos capítulos anteriores seria a criação de referências visuais para a cidade no ambiente noturno. Desta forma, outra característica que poderia ser explorada, seria ao
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destacar as pontes que se encontram nos limites do perímetro urbano ou “entradas” da cidade, desta forma estas pontes tornar-se-iam importantes marcos ou referências para a cidade.
Fig. 17: Ponte XXXXX, Jaraguá do Sul. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=541093, 2010
5.2.3 Praças e Parques
Foram analisadas duas praças do centro da cidade, de tamanhos e usos distintos. A primeira denominada Praça Angelo Piazera, de maiores dimensões compreende uma grande praça com vários equipamentos (quadra basquete, playground, palco para shows desativado e estacionamento). A segunda de pequeno porte denominada Paul Harris conta apenas com arborização e alguns bancos.
Fig. 18: Praça Angelo Piazera, Jaraguá do Sul. Fonte: Própria, 2010
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Na Praça Angelo Piazera, a iluminação foi projetada para que toda a área fosse iluminada de forma homogênea sem dar destaque para qualquer elemento, no entanto, não é isso que acontece na prática. As principais falhas apresentadas estão na área de estão na quadra e no estacionamento, estas duas áreas são mais escuras e a quadra a situação é ainda mais grave pois a área de jogo é rebaixada em relação a praça, desta forma facilita-se a prática de atos ilícitos, como venda de drogas.
Seria alternativa para esta praça a instalação de mais projetores voltados para a área de estacionamento, uma vez que os projetores estão apontados apenas para o centro da praça. E para a quadra, a instalação de outro conjunto especifico para esta área, proporcionaria maior sensação de segurança e também daria possibilidade da prática esportiva no período noturno também.
Na Praça Paul Harris, a iluminação é feita por apenas um poste alto com quatro luminárias, localizado mais ao centro da praça, desta forma, a iluminação encontra-se muito deficitária, pois não está homogênea, ficando as extremidades da praça escuras.
Fig. 19: Praça Paul Harris, Jaraguá do Sul. Fonte: Própria, 2010
A iluminação desta praça poderia ser melhorada se instalados postes mais baixos, e distribuídos de forma que iluminasse toda a área da praça de forma homogênea. Outro ponto a ser explorado seria a iluminação de destaque para as grandes árvores ali existentes, empregando luminárias em Moonlight, dando ênfase a estes elementos e tornando a iluminação deste espaço menos monótono.
Para estas áreas os equipamentos também devem ser de alto rendimento e controle de facho para que possa proporcionar uma boa iluminação com baixo consumo. Outro detalhe
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importante é a temperatura de cor e o Índice de Reprodução de Cor, pois trata-se de espaços de convívio, então quanto melhor a reprodução de cor menos se altera as características de cor destes espaços em relação ao dia, já a temperatura de cor o ideal seria trabalhar com altas temperaturas (luz branca) uma vez que esta aparência de cor da a sensação de maior luminosidade.
5.2.4 Monumentos
Foram analisados dois monumentos também no centro da cidade, mas os monumentos estudados apresentam características semelhantes em seu entorno, pois os dois estão localizados em praças históricas. A diferença entre os dois está em sua função, o primeiro trata-se de monumento em memória a Batalha de Suez, já o segundo trata-se de um monumento que serve como identificação visual do Museu Emílio Carlos Jourdan.
A iluminação dos dois monumentos é semelhantes, ambas contam apenas com a iluminação do entorno para poderem ser vistas, desta forma estes dois elementos não são destacadas em relação ao entorno através da iluminação.
Fig. 20 e 21: Monumento a Batalha de Suez e Identificação Visual do Museu, Jaraguá do Sul. Fonte: Própria, 2010
A visualização destes dois elementos durante a noite seria muito mais fácil, se contasse com uma iluminação independente de destaque, projetores em UpLight instalados à base destes e focados de forma que relevasse sua forma e textura, poderiam também dar uma nova releitura destes monumentos talvez até deixando-os mais dramáticos e cenográficos.
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5.2.5 Fachadas de Edifícios Públicos
Em Jaraguá do Sul não existem edifícios públicos iluminados, apenas os edifícios históricos recebem alguma iluminação de destaque. Para análise de iluminação de fachadas foi selecionado então o edifício da prefeitura municipal, pois trata-se do edifício de poder público de maior importância.
Fig. 22: Prefeitura Municipal, Jaraguá do Sul. Fonte: Própria, 2010
As fachadas da prefeitura municipal de Jaraguá do Sul não apresentam nenhum sistema de iluminação destaque, o que se tem atualmente são dois projetores em Floodlight que iluminam jardim e estacionamento, apenas com o objetivo de não deixar o entorno da edificação escura.
Devido à importância desta edificação, um maior cuidado na forma de iluminá-lo é importante. Desta forma a combinação de Wall Washing e UpLight para a iluminação da fachada proporcionaria ritmo e “movimento” na fachada, uma vez que as luminárias em UpLight próximas a edificação poderiam destacar as “estruturas” (paredes verdes) e o Wall Washing com luminárias de ângulo mais aberto e distantes da edificação, fossem empregados como complemento, iluminando de forma geral a edificação eliminando as áreas escuras. Outro ponto de destaque na edificação seria o brasão, posicionado no “frontão” logo acima da
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porta de entrada da prefeitura, este brasão poderia ser destacado utilizando luminárias direcionadas com efeito de Crosslight, mantendo assim as luminárias distantes da edificação.
Mesmo se tratando de iluminação de fachada, o entorno não deve ser desconsiderado, desta forma, as áreas externas que fazem parte da propriedade pública também devem ser iluminadas e devem estar de acordo com a iluminação da fachada, pois o resultado final da imagem construída será a soma entre fachada e entorno.
Então para os jardins, empregaria o uso de lâmpada em UpLight direcionada para a copa das árvores e seu entorno - área de passagem e estacionamento -, poderiam ser empregados postes de baixa altura distanciados de maneira uniforme, proporcionado uma luz suave e homogênea. Como resultado geral, buscaria então valorizar a construção da imagem de um local acessível, seguro e claro, assim como deve ser a administração pública para a população.
5.2.6 Edifícios Históricos
Para este item, foi escolhida para análise uma das edificações do centro histórico de Jaraguá do Sul, que é formado por quatro edificações e uma praça, interligadas por uma grande praça às margens da linha férrea, essas edificações são: duas estações ferroviárias, uma construída no ano de 1909 e outra em 1943, o mercado municipal, antiga rodoviária e praça do expedicionário.
Para análise, foi escolhida a estação ferroviária de 1943, pois se trata da edificação de arquitetura mais elaborada e apresenta soluções de iluminação diferenciadas.
Foram utilizados vários efeitos de iluminação para esta edificação, Wall Washing utilizando luminárias distantes da edificação proporcionando uma iluminação homogênea, funcionando como uma “base” para os demais efeitos utilizados; UpLight na base dos pilares para destacálos; Crosslight direcionado para o relógio na entrada da antiga estação; demais efeitos compreendem a iluminação do entorno – a praça. Para o entorno, destaca-se no projeto o emprego de luminárias balizadoras demarcando o encaminhamento para a entrada do museu; e de ponto de negativo o excesso de luminárias nos canteiros, que ao transitar próximo a estes, causam desconforto visual.
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Fig. 23: Estação Ferroviária de 1943, Jaraguá do Sul. Fonte: Própria, 2010
Em uma análise geral, a edificação e seu entorno estão bem iluminados no que se refere ao resultado estético, ficando então como único ponto falho levantado o excesso de luminária nos jardins devido o desconforto visual que proporciona. Já para a fachada, um efeito que poderia ter sido explorado é o Grazing, que poderiam ser direcionados para as duas gravuras em alto relevo existente na fachada, evidenciando assim estas representações.
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CONCLUSÃO O presente trabalho teve como objetivo maior, apresentar os benefícios de um Plano Diretor de Iluminação Pública, com uma abordagem voltada aos aspectos qualitativos da luz, apresentado como a iluminação pública pode influenciar na criação da imagem da cidade e na maneira da população vivenciar a cidade além do período diurno.
Então entende-se que um Plano Diretor de Iluminação Pública é extensão ou continuação do planejamento da cidade, onde sua implantação e o apontamento de suas diretrizes e posteriores soluções, dependem de uma boa equipe multidisciplinar, e que esta, interprete com exatidão os dados levantados sobre a cidade.
A iluminação pública vem passando por constantes transformações, principalmente no objetivo de reduzir o consumo energético, mas algumas cidades do Brasil e do mundo, já possuem políticas e planejamento específico para a iluminação, pois já reconhecem os benefícios de uma boa iluminação pública, que contribui para a formação da imagem da cidade, trazendo maior conforto e segurança para a população e estendendo o período de vivenciar a cidade. Desta forma, os resultados desta iluminação podem contribuir para a economia da cidade, uma vez que áreas comerciais podem ser valorizadas e também reforçar a vocação turística da cidade, pois uma nova forma de se ver a cidade é proporcionada pela iluminação.
Como já dito, o plano diretor de iluminação para ser bem elaborado depende de um bom levantamento e interpretação de dados, e na prática, no momento do projeto luminotécnico, as informações necessárias e os objetivos a serem atingidos também devem estar bem claros, pois cada uso tem suas particularidades de projeto e devem respeitar normas e índices lumínicos mínimos para boa visibilidade noturna.
Por fim, após análise feita em Jaraguá do Sul, pode ser tirado como conclusão que os municípios ainda não possuem conhecimento das virtudes da iluminação pública planejada, pois a tratam como um simples serviço público, deixando de aproveitar as vantagens econômicas, sociais e políticas geradas da luz.
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