Perigos na internet

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RAFAEL MOREIRA NEVES

POESIA

PERIGOS NA INTERNET


Rafael Moreira Neves

Perigos na Internet

1ª edição Ribeirão das Neves – MG Edição online


2014

Perigos na Internet por

Rafael Moreira Neves

Edição online

rafaelmoreiraneves@gmail.com

Livre distribuição e impressão desde que de forma gratuita, sem alteração dos textos e citando as fontes e nome do autor na utilização de partes ou na totalidade do conteúdo.

Nº Registro: 613.330 – Livro: 1.176 – Folha: 140

Mais obras do autor: http://rafaelmoreiraneves.blogspot.com.br/ http://issuu.com/rafaelmoreiraneves


"Você pode encarar o erro como uma besteira a ser esquecida, ou como um resultado que aponta uma nova direção" – Steve Jobs



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Prólogo

Cada vez mais as pessoas do mundo estão aderindo ao uso da internet. A tecnologia trouxe diversas facilidades para o homem moderno como avanço na comunicação, no uso comercial, no uso empresarial, compras on-line, pesquisas, redes sociais entre outras vantagens. Porém apesar destas, a internet tem um potencial nocivo enorme. É possível conhecer lugares, ver fotos, vídeos, rever

amigos,

comunicar-se,

mas

também

conhecer a corrupção humana. As armadilhas podem estar em cada link acessado, as pessoas vão navegando, e algumas acabam naufragando. Algumas amizades virtuais se tornam reais, e às vezes a realidade nos mostra algo diferente do que conhecemos ou sabemos das pessoas. A informação está disponível a todos, a qualquer momento, de qualquer idade.

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Os pais sempre fizeram recomendações a seus

filhos

do

tipo:

“não

conversar

com

estranhos”, “não aceitar doces ou balas de desconhecidos”,

“nunca

pegar

carona

com

alguém desconhecido”, entre outras. Muito mais do que vigiar e fiscalizar, os pais orientam e zelam pelos seus filhos, mas seus conselhos muitas vezes são seguidos na vida real, mesmo sendo tachadas como ultrapassadas e caretas. Porém pais e filhos esquecem ou ignoram a vigília e as recomendações no mundo virtual. A internet é um acesso público normal como uma rua, um parque ou um clube, alguns pais acham que pelos filhos estarem dentro de casa estarão seguros. Porém ao invés de doces e balas, as crianças e pais devem estar atentos a e-mails, redes sociais, conversas indevidas e fornecimento de dados pessoais a pessoas que poderiam fazer mal uso delas. Não só crianças, mas jovens, adultos e idosos devem precaver-se quanto ao uso da internet. Uma

grande

porcentagem

de

Rafael Moreira Neves

usuários


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encontrou seus amigos virtuais pessoalmente, estando expostos a alguns perigos, pois a pessoa pelo computador pode informar ser de uma personalidade que te faça acha-lo ou acha-la interessante, mas na verdade ter intenções e atitudes bem contrárias colocando em risco a pessoa e seus familiares. Além dos encontros presenciais as pessoas divulgam fotos, endereços e telefones a qualquer pessoa que esteja conectado a internet. E se expõem a risco de crimes como pedofilia, racismo, golpes financeiros, entre outros.

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Capítulo 1

Mirian Cruz estava aos prantos e desesperada com o sumiço de sua filha Bianca, de apenas 14 anos. Eram 22:15h do domingo e a casa estava cheia de policias e amigos próximos da família. A menina tinha saído de manhã e não tinha voltado até o momento. Ela e Danilo, seu marido, já tinham ligado para amigos e conhecidos deles e da filha para tentar descobrir o paradeiro da menina, porém em vão. Os policiais faziam diversas perguntas, Miriam as

respondia,

ainda

um

pouco

atordoada.

Estavam sendo orientados pelo investigador Vilela. Investigador Vilela é um homem alto, gordo, moreno, com início de calvície, tendo em média uns 47 anos, dos quais grande parte dedicada à polícia. Rafael Moreira Neves


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___ A filha de vocês disse para onde ia? ___ perguntou Vilela aos pais. ___ Não senhor. ___ Respondeu Mirian. ___ Eu e meu marido estávamos na igreja com nossa caçula, e como ela tinha deitado tarde, deixamos que dormisse mais um pouco. ___ Sua filha teve problemas com vocês nesses últimos dias? ___ Não. Ela parecia tranqüila, normal como sempre foi ___ respondeu Danilo. ___ O senhor está insinuando que nossa filha fugiu de casa? ___ perguntou Mirian assustada. ___

Não

sei senhora,

mas

temos

que

averiguar e trabalhar com todas as possibilidades até

descobrirmos

o

que

verdadeiramente

aconteceu ___ respondeu o policial. Os policiais ficaram até por volta de meia noite. Alguns amigos ainda ficaram consolando a família que morava no bairro Caiçara da capital mineira, Belo Horizonte. Perigos na Internet


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A polícia ainda não tinha pistas, mas estava mobilizando a corporação no intuito de localizar a menina desaparecida.

Capítulo 2

O investigador Vilela estava na delegacia terminando de fazer seu relatório para enviar para seu superior, o delegado Mattos, responsável pelas investigações na região. Quando eram 06:30h da segunda-feira, o dia nascia com o céu bastante nublado e com uma pequena garoa, Vilela foi notificado pelo rádio que haviam recebido uma denúncia anônima através do disque denúncia da polícia militar sobre um corpo, cuja características pareciam muito com a menina que ele estava terminando de fazer o relatório. Mesmo prestes a largar seu plantão – plantão este que teve de ser dobrado pelo reduzido número de policiais na corporação – Rafael Moreira Neves


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decidiu pegar uma viatura para averiguar a denúncia. Quando chegou ao local, nas proximidades do bairro Nacional, já haviam viaturas da polícia militar cercando o local - um lote vago com muito mato. Além das viaturas e curiosos, alguns carros de reportagens também estavam por ali. No quarteirão da rua onde estavam os lotes não tinha casas, somente dobrando a esquina, e na rua perpendicular também avistavam algumas casas. O local era movimentado durante o dia, pois servia de acesso aos moradores dessa rua, não só andando, mas de carro ou ônibus. O investigador passou pelo corredor de repórteres indo em direção ao corpo sem se pronunciar, apesar das muitas perguntas que lhe eram realizadas. Ao chegar ao corpo ficou perplexo com cena que invadiu seus olhos, uma menina nua, com sinais de violência, marcas de mordida por todo o corpo. Os olhos dela pareciam que agora estava descansado e dormindo, apesar Perigos na Internet


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do corpo marcado, sinal de que sofrerá muito antes do descanso. Vilela conversou com o cabo que já estava no local e foi informado que o perito criminal já estava a caminho, juntamente com o carro do IML (Instituto Médico legal) para levar o corpo ao médico

legista.

As

pessoas

que

moravam

próximas do local já tinham sido interrogadas, mas nenhuma delas viu ou ouviu nada de relevante

que

pudesse

ajudar

a

polícia

a

identificar o assassino. Vilela solicitou ao cabo que entrasse em contato com o delegado Mattos.

Capítulo 3

Quando o delegado Mattos chegou ao local, os peritos ainda estavam examinando a cena do crime

à

procura

de

algo

relevante

Rafael Moreira Neves

para


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investigação. Já tinham tirado fotos e marcado a posição do corpo, que já tinha sido encaminhado ao IML. Delegado Valdir Mattos tem estatura mediana, corpo robusto, braços fortes e pele morena. Com seus

40

anos

trazia

no

olhar

inquieto

a

experiência anexada em tantas investigações, em tantos homicídios que tinha acompanhado ao longo de sua carreira na polícia. Mattos se aproximou de Vilela que estava no telefone. Mesmo no telefone Vilela ao avistar Mattos pegou as fotos que estavam em seu carro e entregou-as juntamente com o relatório sobre informações obtidas até o momento para o delegado. Vilela estava solicitando que entrassem em contato com a família Cruz para o reconhecimento do corpo no IML. Apesar de que, em seu coração de pai, queria que ela não fosse à filha daquele casal

da

noite

anterior,

mas

as

fotos

e

semelhanças não deixavam dúvidas sobre a Perigos na Internet


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identificação. Mattos foi folheando os documentos até que Vilela terminasse a ligação. Após

desligar

o

telefone

e

se

cumprimentarem, Vilela foi resumindo o caso ao delegado: ___ A provável vítima desapareceu ontem, provavelmente foi violentada e assassinada. Não tinha avisado para onde ia, ninguém sabia seu paradeiro. Os vizinhos aqui dessa região já foram interrogados, e ninguém viu nada. Chegamos aqui através de uma denúncia anônima. Os peritos estão terminando a investigação do local do crime, mas até agora nada que nos leve ao agressor. Mattos estava com um olhar profundo quase que hipnotizado pela barbaridade vista nas fotos do corpo. ___ Alguma coisa errada, delegado? ___ perguntou Vilela.

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___ Ah, desculpe! ___ respondeu o delegado como que saindo de um transe ___ é porque as características são parecidas com outro crime ocorrido mordidas,

na o

semana jeito

passada.

como

foi

As

marcas,

encontrado,

a

semelhança de idade entre as vítimas, então fiquei pensando sobre isso. Mas vou ler com calma seus relatórios. Mas correndo o olho pude notar que acharam o corpo através de uma ligação anônima, e que está originou-se de uma região muito distante daqui, pode não ser nada, mas acho estranho esse fato, porque a pessoa ia esperar chegar tão longe para avisar a polícia. Tente verificar se a ligação, apesar de anônima, se pode ser identificada ou rastreada. Vou aguardar o término dos relatórios dos peritos e depois vou ao IML obter mais informações. ___ Sim delegado. Mas a pessoa poderia estar de ônibus, ou sem condições de ligar no momento, e quando teve chance entrou em contato! ___ Exclamou Vilela.

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___ É uma hipótese, mas hoje em dia todos têm celulares e meios rápidos de comunicação. Mas talvez a pessoa tivesse ficado com medo de denunciar. Não estou afirmando que possa nos ajudar, só quero ampliar meu raio de investigação e não deixar de verificar pequenas pistas, mesmo que remotas ___ respondeu o delegado. Os dois ainda andaram pelo redor do local do crime, e conversaram sobre algumas outras hipóteses, porém o delegado não falava muito sobre a possível causa. Após o término do trabalho dos peritos pouca coisa pode ser averiguada, mas a principal que o crime não foi cometido ali, mas em outro local, o corpo tinha somente sido jogado naquele lote vago.

Capítulo 4

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O delegado dirigiu-se para o IML para obter mais informações com o médico legista. Ao passar pelos portões e dirigir-se para entrada do prédio, sentia uma ar frio, ventava, mas talvez o frio que subia em sua espinha estava mais ligado ao ar fúnebre que cobria o local. Apesar dos canteiros de plantas que tentavam enfeitar o ambiente, sua mente não deixava enganar-se pela paisagem, pois sabia o que encontraria lá dentro. Ao entrar e passar pelo extenso corredor onde dava a sala do Dr. Paulo Costa viu do seu lado esquerdo duas pessoas sentadas e outras três em pé, aos prantos. Os três que estavam em pé tentavam consolar os que estavam sentados. Comoveu-se com a cena, imaginou que seria a família da menina encontrada aquela manhã. Bateu na porta do médico e escutou uma voz convidando para entrar. ___ Licença Dr. Costa, sou o delegado Mattos.

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___ Bom dia Sr. Mattos, queira entrar e sentarse, por favor. Dr. Costa tinha o corpo franzino, mas com a cabeça bem grande, que destoava do restante do corpo, porém com semblante bem jovial. Após

acomodar-se,

Mattos

continuou

a

conversar com o médico: ___ Dr. Costa, vim conversar sobre a menina encontrada no bairro Nacional essa manhã. Acho que já foi examinado o corpo e estou atrás de mais informações. ___ Sim claro! Já foi examinado e a família já reconheceu o corpo. ___ Tive a impressão que eram aquelas pessoas que estavam ali fora ___ disse o delegado. ___ São sim, pois acabaram de sair do necrotério. Devem estar lá fora aguardando que

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leve esses papéis necessários para liberação do corpo. ___ Depois vou conversar com família. Mas que diga o resultado de suas análises? ___ Acredito que hora da morte tenha sido entre 19:00 e 20:00 de ontem. Ela foi abusada sexualmente, e depois estrangulada, seu braço direto estava quebrado. Tinha marca nos pulsos, aparentando ser ocasionado por algum tipo de corda, suponho que ela tenha sido amarrada. ___ Essa informação confirma que o local onde foi achado o corpo serviu somente para o assassino livrar-se dele. ___ afirma o delegado. ___ Pude notar pelas pupilas da vítima, que ela foi dopada por benzoilmetilecgonia uma substância que é usada na cocaína ___ disse o médico ao delegado. ___ Teve um crime parecido semana passada, os detalhes, uma menina da mesma faixa de idade, assassinada nas mesmas circunstâncias, Perigos na Internet


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chego a acreditar que possam ter sido cometidos pela

mesma

pessoa.

Inclusive

com

essa

informação de ter sido encontrada vestígios de cocaína nas vítimas. ___ É difícil qualquer prova concreta que leve a pessoa, delegado. O corpo estava bastante sujo e molhado, provavelmente por causa da chuva dessa madrugada. ___ Entendo, mas ainda preciso de mais alguns detalhes para poder ligar um crime a outro, apesar de estar bastante convencido que não é coincidência existirem fatos comuns nos dois casos. Os papéis que a família tem que assinar estão prontos? Pois posso levar e aproveitar para conversar um pouco com eles. ___ Sim, estava aguardando um pouco, pois pareciam estar muito abalados com a morte da filha. ___ Bem, a realidade é dura e difícil para todos,

em

algum

momento

Rafael Moreira Neves

tem

que

ser


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enfrentada. Vou levar os documentos para assinarem e aproveitar para conversar um pouco com eles. O delegado pegou o documento realizado pelo médico, despediu-se e foi em direção ao corredor folheando-o.

Deixou

os

papéis

com

uma

recepcionista e foi em direção ao grupo que estava no mesmo lugar de quando ele passou. Ao se aproximar do grupo que ainda chorava desconsoladamente, Mattos perguntou: ___ Com licença, vocês são da família de... Bianca cruz? ___ perguntou enquanto confirmava em suas anotações o nome da menina. ___ Sim somos nós ___ respondeu o homem que estava sentado, tentando conter o choro. Mattos estendeu-lhe a mão. ___ Meus sentimentos meu senhor. Sou o delegado Mattos e estarei investigando o ocorrido com sua filha.

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___ Obrigado delegado. Sou Danilo e essa é minha esposa Mirian ___ falou apontando para a mulher sentada, que estava inconsolável do lado do marido. ___ Sei que é momento delicado, mas o pessoal do IML precisa que alguém da família assine alguns papéis para liberação do corpo. Danilo se levantou e foi em direção à recepção que

tinha

antes

da

sala

de

Dr.

Costa

acompanhado de um homem que estava em pé junto com a família. Mattos cumprimentou as duas outras mulheres que ficaram junto com Mirian. ___ Senhora Mirian, sei que outros policiais já te fizeram muitas perguntas, mas vou precisar refazê-las além de algumas outras para que possa investigar o que aconteceu com sua filha. ___

Tudo

bem

Senhor

delegado

___

respondeu a mulher numa aparência bastante Rafael Moreira Neves


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fraca, demonstrando o quanto estava abalada pela morte da filha. ___ Eu não pretendo incomodá-la muito agora, vou marcar um dia para fazer-lhes uma visita, com mais calma, porém o mais breve possível para que possamos conversar, mas quero fazer uma pergunta, para que eu possa conectar algumas

ideias

e

alguns

fatos.

Sua

filha

costumava usar computador e a internet? ___ Claro, não me incomodo ___ respondeu a mulher. ___ Sim, ela usava muito. Quase não dormia, ficava a madrugada inteira grudada naquele computador. Mas porque da pergunta? ___ Muito obrigado senhora. No momento é só, preciso refletir antes de chegar a qualquer conclusão,

mas

entrarei

em

contato

para

conversarmos melhor. Mattos despediu-se das mulheres e caminhouse para fora do local. Ao chegar ao carro ligou para a delegacia para verificar se o investigador

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Vilela tinha verificado sobre a denúncia anônima. O investigador já tinha saído do plantão, mas tinha deixado à informação de que a ligação ocorreu no centro da cidade, de um orelhão, e que não tinha como identificar quem fez a ligação, por ter sido uma denúncia anônima a pessoa não tinha registrado os dados pessoais. O delegado anotou o endereço de onde a ligação tinha sido realizada e a hora. Já era tarde, eram por volta das 14:00h e o delegado ainda não tinha almoçado e tinha que resolver outras pendências na delegacia, mas antes iria ao local identificado ser a origem da ligação.

Capítulo 5

De

trás

do

monitor

de

tubo,

bastante

amarelado pelo tempo, os olhos do rapaz vigiavam quem passava pela sua mesa, olhos assustados, com cliques rápidos em seu mouse. Rafael Moreira Neves


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Quase não via sua face, seu rosto redondo se escondia, e sempre de cabeça baixa, com seus óculos redondos apontados para o monitor numa hipnose perfeita. Às vezes dava um pequeno sorriso de satisfação, mas que era suficiente para mostrar seus dentes amarelados e envolvidos pelo seu aparelho ortodôntico. Seu rosto ficava bem próximo do monitor, talvez pela dificuldade de enxergar o que estava na tela. Estatura baixa, obeso, seus dedos gordos não saiam de cima do mouse e do teclado. Tinha pele branca, cabelo encaracolado e curto, além de barba por fazer. Sua mesa era antiga, com o compensado se abrindo devido à umidade e o tempo. Era lascada na parte de baixo perto dos pés. Estava bagunçada, com muitos papéis, apostilas e uma caneca de café sobre ela. Trabalhava em um escritório de contabilidade fazia alguns anos. Todos ali o conheciam, apesar de ser pouco comunicativo, pois se comunicava melhor com seu computador. Seu rendimento

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tambĂŠm nĂŁo era dos melhores, alguns colegas diziam que era porque dedicava pouco tempo ao trabalho e mais com coisas pessoais. Quando algum colega aproxima-se de sua mesa, ela minimiza suas janelas, fingia pegar algum documento na gaveta para ser analisado, mas assim que a pessoa passava por sua mesa, ele novamente abre a janela que tinha minimizado e continua compenetrado: GatoSarado22 para Florzinha: Oi minha Flor vamos tc? Florzinha para GatoSarado22: Oi gatinho... claro. GatoSarado22 para Florzinha: Vc tc de onde? Florzinha para GatoSarado22: de bh. GatoSarado22 para Florzinha: eu tb. Qual bairro? Florzinha para GatoSarado22: Cidade Nova e vc? GatoSarado22 para Florzinha: Centro. Qtos anos? Florzinha para GatoSarado22: 15.

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Uns passos são ouvidos perto da porta, a janela do bate papo é minimizada rapidamente, ele pega uma folha e fingi estar lendo o documento. A pessoa passa e a janela é aberta novamente: GatoSarado22 para Florzinha: como vc é? Florzinha para GatoSarado22: sou morena, pele branca, olhos castanhos, cabelo comprido.. ah sei lá, normal rsrs GatoSarado22 para Florzinha: hum... que delícia vc deve ser. Qual seu nome real? Florzinha para GatoSarado22: Paola. GatoSarado22 para Florzinha: Que nome lindo! Então, me passa seu skype...

Capítulo 6

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Chegando à Avenida do Contorno esquina com Cristóvão Colombo, o delegado avistou um orelhão, de frente ao número que fora-lhe passado. Chegou perto da cabine, olhou-a em seu interior, olhou ao seu redor e sorriu. Um sorriso contente por ter encontrado o que procurava, no alto, abaixo de uma marquise, uma câmera

de

segurança

do

prédio

ao

lado,

monitorava toda movimentação na rua. Mattos não tinha certeza se iria encontrar a situação desejada quando foi até o local da ligação anônima, ou seja, as câmeras de segurança, pois com o aumento da violência, determinados artigos de segurança tinham se tornado imprescindível e objetos de consumo de muitos estabelecimentos e condôminos. Apesar de opiniões sobre invasão de privacidade, tinha uma intuição de que deveria seguir e verificar aquela pista. Entrou no prédio e encaminhou-se a portaria. Apresentou-se ao porteiro, e solicitou que fosse Rafael Moreira Neves


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apresentado ao responsável pelas câmeras de segurança. A pessoa não estava no local, mas foi encontrado pelo celular, não estava longe, estava na região e logo chegou devido à solicitação do delegado. O delegado solicitou cópia da gravação de câmera externa entre 06:00 e 07:00 da manhã, horário em que a denúncia havia sido feita.

O

homem curioso tentou descobrir do que se tratava, mas foi logo sendo coibido pelo olhar de Mattos. O homem copiou a imagem solicitada para um DVD. O delegado pegou a mídia e saiu rumo à delegacia.

Capítulo 7

A delegacia estava tumultuada, repórteres, detetives e curiosos enfestavam o lugar. Mattos entrou com a cara fechada, e nada disse, apenas empurrou alguns repórteres para que saíssem de Perigos na Internet


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sua frente, e rapidamente entrou na delegacia e foi para sua sala. Sentado olhando para o nada, passou a mão sobre seu rosto e em seguida abaixou a cabeça. Desde o último caso semelhante de uma menina assassinada ele estava assim, era casado e tinha duas filhas. Imaginava a todo o momento se algo desse tipo acontecesse a uma de suas princesas. Seu sangue borbulhava e com um soco na mesa prometeu para si mesmo achar o culpado por essas mortes. Não tinha prova consistente que as duas mortes das meninas tinham ligação, mas algo assoprava no seu ouvido, talvez sua experiência falando mais alto, que não era coincidência os dois acontecidos tão parecidos em tão pouco tempo. Sabia que tinha que desvendar o que havia acontecido o quanto antes para evitar novas vítimas. Mas quem tinha matado essas meninas? Para prosseguir esbarrava em algumas áreas que Rafael Moreira Neves


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não conhecia, mas tinha que vencer esses obstáculos de algum jeito, ou conseguir alguém que o ajudasse a vencê-los. Procurou sua agenda, pegou o telefone e discou os números: ___ Alô Palhares. Aqui é o Mattos tudo bem? Dr. Palhares era amigo de Mattos já fazia alguns anos. Chegaram a ser colegas de trabalho, mas hoje em dia ele trabalhava como delegado federal. ___ Mattos, há quanto tempo? Como você está? Como vai a família? ___ Eu estou bem, minha família também está bem. ___ Que ótimo, a que devo e honra de sua ligação? ___ Preciso de sua ajuda, tenho dois crimes de menores de idade que acredito terem ligação, aliás, vou lhe explicar melhor. Nessas duas Perigos na Internet


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semanas ocorreu o assassinato de duas meninas de

quatorze

e

quinze

anos,

encontradas

aparentemente da mesma forma. A primeira tinha saído para encontrar alguém que tinha conhecido na internet, a segunda saiu de casa sem dizer para onde ia. Não tenho pistas para localizar esse criminoso, mas tenho certeza que se elas existem estão no computador das vítimas. Preciso de alguém que me ajude nessa área, preciso desvendar as pistas existentes, entende? ___ Sim, entendo. Vou te confessar que apesar de usá-lo diariamente, não tenho muita intimidade com o computador. Terrível esses crimes, e o que me deixa mais triste é que não ocorrem somente em nossa querida cidade, esses criminosos estão espalhados por todo mundo. Infelizmente minha equipe não tem como te ajudar, mas conheço alguém que talvez te ajude. Dê-me alguns minutos que tentarei entrar em contato com uma pessoa que conheci num congresso de segurança no ano passado. Você está na delegacia? Rafael Moreira Neves


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___ Sim estou. Muito obrigado, aguardo seu retorno. Palhares tinha se lembrado de um especialista em segurança da informação que conhecera num Congresso. Dentre os diversos temas sobre segurança, um que estava na pauta era da segurança na internet. Não era seu tema favorito, mas como tinha que esperar a palestra principal do dia, com um técnico de segurança formado na SWAT, assistiu e acabou gostando muito do que foi passado. Tanto que foi atrás em seguida do palestrante para apresentar-se. E desde então já tinha solicitado por duas vezes alguma dica do especialista que coordenava uma equipe que trabalhava com segurança da informação para a polícia federal. Passados cerca de dez minutos, Palhares retorna a ligação para Mattos: ___ Mattos aqui é o Palhares.

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___ Diga meu caro amigo, conseguiu entrar em contato com a pessoa que poderá me ajudar? ___ perguntou o delegado. ___ Sim, entrei em contato com esse meu conhecido. A equipe deles está com um analista em Belo Horizonte trabalhando numa investigação e vão acioná-lo para lhe ajudar. Ele deve te procurar amanhã de manhã, passei seus contatos para eles. ___ Que ótimo. Muito obrigado! Fico te devendo essa. ___ Por nada. No que puder ajudar estou à disposição.

Capítulo 8

À noite Paola voltou a encontrar seu novo amigo pelo skype. Ficaram horas, e foram madrugada adentro com a conversa. O papo era Rafael Moreira Neves


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bom, e Paola sentia-se cada vez mais envolvida e cada vez mais revelava detalhes de sua vida para seu amigo. Mesmo que ela não tivesse informado nada, pelo seu site de relacionamentos continham diversas informações sobre o que ela gostava, não gostava, locais que frequentava e seus amigos. Quando passavam

ela

desligou

das

três

da

o

computador

madrugada,

estava

impressionada com seu novo amigo e seduzida por ele. A pessoa sabendo dizer as palavras certas em momentos oportunos consegue adquirir confiança e influência sobre qualquer pessoa, principalmente experiências

nas na

vida

que para

possuem

menos

discernimento

e

julgamento das atitudes. Com alguns elogios, atenção e carinho, Paola já tinha informado onde estudava, qual série estava cursando, seu horário de aula, onde costumava ir com amigos, entre outras informações.

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Capítulo 9

Enquanto isso num quarto de hotel, outros olhos vidrados na tela do notebook acompanhava a execução dos programas do computador. Renan minimizou as aplicações e abriu o gerenciador de e-mails. Um e-mail criptografado de seu supervisor havia chegado, explicando superficialmente o motivo e solicitando sua presença na delegacia, onde deveria procurar pelo delegado Valdir Mattos. Não fez uma cara muito agradável, pois era mais uma tarefa a fazer, iria gastar mais do seu tempo para cumprir seus objetivos em estar ali. Renan Miranda é natural de Belo Horizonte, mas há alguns anos, desde que passará no concurso para a Polícia Federal, mudou-se para Brasília. Tinha estatura média, cabelos curtos, olhos castanhos e usava óculos. Era formado em

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análise de sistemas e tinha especialização em banco de dados, em redes e em segurança. Dois motivos fizeram com que ele fosse escolhido para ir à Belo Horizonte. O primeiro pelo trabalho que ele estava executando naquele momento.

Estava

participando

de

uma

investigação em conjunto com a Polícia Federal de

um

estelionatário

que

aplicava

golpes,

principalmente em idosos pela internet. Através de rastreamento IP (Internet Protocol, Protocolo de internet), interceptação de mensagens e invasão do computador do falsário, descobriu que ele estava aplicando mais um golpe em Minas Gerais, e que estava na capital mineira. Renan estava vigiando seus passos e informando aos agentes da Polícia Federal para prendê-lo em flagrante. O segundo era pessoal. Desde que teve que ir trabalhar fora da cidade, seu relacionamento com sua namorada não andava bem. Se viam todo mês, alguns meses todos os fins de semana,

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mas de um tempo para cá Renan sentia que o relacionamento havia esfriado, só não conseguia entender porque. Estava aproveitando seu tempo na cidade para estar mais próximo da namorada e tentar reacender o namoro. Uma mensagem invadiu a tela do seu notebook, seu escaneamento tinha terminado. As informações

desejadas

sobre

seu

suspeito

estavam disponíveis. O falsário fazia-se passar por funcionário de um banco, marcava uma visita com suas vítimas, e convencia-lhes e lhe informarem a senha e entregar o cartão bancário. A visita estava marcada, o que o estelionatário não sabia, era que Polícia Federal também iria comparecer. Imediatamente

providenciou

o

envio

das

informações para seu supervisor, para serem informadas aos agentes de campo, informando a ação do criminoso. Procurou o e-mail desejado, selecionou a chave de criptografia e enviou as informações. Em seguida verificou se o keylogger Rafael Moreira Neves


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que havia instalado no computador de sua namorada retornará alguma informação. O keylogger capturava os dados digitados no computador e enviava para um local programado, que ele tinha definido como sendo seu e-mail. Sempre hesitou em fazer tal atitude fora do âmbito

do

trabalho,

somente

em

alguma

investigação autorizada, mas sua curiosidade estava aguçada, após alguns anos de namoro sentiu uma vontade enorme de verificar a conduta da namorada, mesmo esperando que não fosse encontrar nada de diferente. Pode-se dizer que foi seu instinto, ou talvez sua insegurança, mas o fato é que estava monitorando as ações do computador da sua namorada.

Capítulo 10

Renan chegou por volta das 09:00 horas na delegacia, daquela terça-feira. Mattos já estava Perigos na Internet


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em sua sala, tinha chegado cedo para aguardá-lo. Apresentaram-se e logo Mattos tratou de explicarlhe em que necessitava de sua ajuda: ___ Renan, fico muito grato por ter vindo nos ajudar. ___ Disponha delegado Valdir Mattos. Apesar de ter outras coisas pendentes ainda para resolver, acredito que posso conseguir um tempo para ajudar-lhe. ___ Pode me chamar de Mattos, é como todos me chamam por aqui. Vou tentar fazer um resumo e qualquer dúvida você me pergunta. Estou até pensando em te convidar para realizarmos as visitas às famílias das vítimas para que você possa acompanhar e entender melhor a situação. Houve dois assassinatos nessa semana, provável que tenham ocorridos outros, de duas meninas de idade aproximada de 15 anos. Os corpos foram achados de forma semelhante, nus, jogados em terrenos baldios da cidade, com marcas de violência sexual e agressões físicas. Rafael Moreira Neves


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___ Que barbaridade! ___ exclamou Renan. ___ É nesse ponto que queremos que nos ajude. A primeira que começamos a investigar, descobrimos relação entre um encontro da vítima com um amigo da internet, e já tenho alguns indícios de que o mesmo ocorreu com a segunda vítima. Quero que examine os computadores das vítimas e tente descobrir algo que possa nos levar ao autor desses crimes. ___ Entendi. Uma análise profunda mesmo pode levar alguns dias. Mas talvez por se tratar de adolescentes que não conhecem os meios de esconder ou apagar os rastros do que usaram no computador,

as

informações

estejam

mais

explícitas e isso agilize o processo. Onde estão os discos rígidos? ___ Desculpe, mas eu não entendo nada de informática ___ respondeu o delegado com um riso sem graça por não saber o que era um disco rígido ___ os computadores das vítimas estão em suas residências, vamos visitar a casa de Perigos na Internet


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segunda vítima e depois na primeira, pois lá eu fui na semana passada, mas até então não tinha passado a ideia de investigar os computadores. ___ Tudo bem, mas quando pretende realizar as visitas? Pois logo tenho que retornar a Brasília, e não me passaram nada sobre esticar o prazo aqui. ___ Pensei em começarmos agora, vamos realizar uma visita pela manhã e a outra à tarde depois do almoço. ___ Ótimo, assim tenho como trabalhar nos discos à noite. Em seguida os dois homens saíram para diligências na casa das vítimas.

Capítulo 11

Rafael Moreira Neves


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Os olhos por cima do monitor certificaram-se que não havia ninguém vindo. Abaixou a cabeça e voltou-se a concentração para o monitor. Estava respondendo um e-mail: “Oi Paola, vi suas fotos, você é realmente linda, muito gatinha mesmo. Estou no skype te esperando. Beijos!”. Clicou no botão para enviar o e-mail, e voltou a abrir as fotos da menina. Tinham quatro fotos onde a menina fazia caras, bocas e poses utilizando o reflexo do espelho e com cara de anjo, mas com muita malícia. Na primeira foto a menina ela usava uma blusa

branca

transparente

e

decotada

que

mostrava grande parte dos seios, apesar da pouca idade, já bastante desenvolvidos. Na segunda estava vestindo uma camiseta de micareta, mostrando toda barriga bem definida, inclusive o piercing no umbigo, de saia curta. Estava encostada num móvel parecia molhada e fazia biquinho para câmera. Na terceira foto Perigos na Internet


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estava junto com amiga, ambas de top e shortinho curto,

que

mostrava

metade

das

nádegas,

compunha o figurino com colares e pulseiras. Na quarta foto estava novamente sozinha, com roupa vermelha, que tampava somente na frente e deixava às costas a mostra, o shortinho também cobria somente metade das nádegas, destacando bem essa parte do corpo. Ele olhava para as fotos com fixação e com muita excitação.

Capítulo 12

O carro do delegado parou à porta da casa da família Cruz. ___ Renan, nós vamos conversar com o Danilo e a Mirian, que são pais da Bianca, que foi encontrada ontem de manhã. Ela tinha saído no domingo cedo e não tinha voltado. Os pais chamaram a polícia, mas na segunda de manhã acharam o corpo da garota. Tive notícias que Rafael Moreira Neves


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devido ao estado do corpo teve que ser sepultada ontem no fim da tarde. ___ Certo, entendi. Os dois saíram do carro, foram para porta e tocaram a campainha. Logo o homem veio atender a porta, cumprimentou lhes e convidoulhes a entrar. Pediu para que eles ficassem a vontade enquanto ia chamar sua esposa. Poucos minutos os dois vieram e sentaram no sofá junto aos dois homens. Em seguida veio uma menina, que aparentava ter uns dez anos e sentou–se no colo do homem. ___ Senhor Danilo, ela é sua outra filha? ___ perguntou o delegado. ___ Sim delegado ___ nesse momento seus encheram-se

de

lágrimas,

provavelmente

lembrando-se de sua filha assassinada. ___ Quantos filhos vocês tiveram? ___ Somente as duas ___ respondeu Miriam. Perigos na Internet


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___ Ok. E moravam vocês quatro nessa casa? ___ Sim, agora só nos três ___ respondeu Miriam começando a chorar e sendo consolada com afagos do marido e da filha, que nesse instante pulou para o colo da mãe. ___ Sem querer ser repetitivo, pois tenho certeza

que

outros

colegas

fizeram

essas

perguntas, mas é praxe do procedimento. Bianca não comentou ou disse a alguém aonde iria na manhã de domingo? ___ perguntou Mattos lançando um olhar para a filha mais nova. ___Não ___ respondeu o pai ___ ela não falou nada a ninguém, quando ela saiu tínhamos ido à igreja. Não a chamamos, pois vimos que tinha ido se deitar tarde e deixamos que dormisse mais um pouco. Renan estava atento as respostas, mas nesse momento interveio: ___ Porque ela tinha ido se deitar tarde? ___ perguntou Renan, prevendo talvez que tivesse ido Rafael Moreira Neves


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a alguma festa, e que está pudesse servir de pista nas investigações. ___ Ela estava na internet, ficava sempre até tarde, muitas vezes nem dormia, ou se dormia acordava por volta das 13:00h ___respondeu a mãe. Nesse momento Renan lançou um olhar para Mattos

entendendo

com

mais

clareza

sua

suspeita e do motivo que fazia com que ele estivesse ali para ajudar nas investigações. ___ Tivemos um problema muito parecido com esse na semana passada ___ continuou o delegado ___ no caso a menina que tinha sido vítima, havia saído para se encontrar com amigo que tinha feito pela internet. Vocês sabem de algo parecido ou semelhante desses hábitos de sua filha? ___ Sei que ela tem muitos amigos da escola que ela conversa pelo computador ___ respondeu

Perigos na Internet


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a mãe ___ e outros ela foi conhecendo, mas ela nunca me disse nada de especial sobre isso. ___ Esse é um dos problemas senhora ___ interrompeu Renan novamente ___ os jovens e adolescentes acontecem

nem nas

sempre suas

contam

vidas

aos

o

que pais,

principalmente com uma ferramenta poderosa como a internet para encobrir os seus atos. Na internet há a possibilidade de você ser quem quiser e do jeito que quiser. De certa forma alimenta a ilusão das pessoas, e permite que outras pessoas usem esse meio para também enganar. A culpa não é do meio, ou seja, do computador ou internet, mas das pessoas que as utilizam. Aposto que vocês nunca se preocuparam em acompanhar e controlar o que suas filhas vêem e compartilham na internet? Mas não culpo vocês, não entendam assim, pois sei que na maioria das casas os pais não tem conhecimento para essas novas tarefas, e muitas vezes os filhos entendem mais do meio virtual que eles próprios. Mas queria que soubessem que internet é um Rafael Moreira Neves


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local público como qualquer outro, um parque, um clube, porém com um bombardeio de informações de todos os tipos, que podem ser usados para o bem ou para o mal. Acredito que se suas filhas fossem a um parque, você as encheriam de recomendações e precauções sobre os perigos e sobre

estranhos,

na

internet

o

controle

e

recomendações devem ser os mesmos, talvez até mais firmes. Os pais se entreolharam, envergonhados, sem saber o que dizer. Até Mattos sentiu-se com o coração apertado, pois nunca tinha observado ou conversado com suas filhas sobre o uso da internet. Entendendo o sentimento dos pais, Mattos quebrou o silêncio instalado e perguntou a filha mais nova: ___ Você sabe de algo de sua irmã que queira nos contar? Que possa nos ajudar a achar quem fez mal para ela?

Perigos na Internet


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___ Não senhor, ela nunca me deixava sair com ela, ou me contava suas coisas ___ respondeu a menina. ___ Tudo bem, não se preocupe, vamos achar alguma forma de descobrir quem machucou sua irmã ___ após tratar com bastante delicadeza a menina virou-se para os pais ___ eu creio que se há alguma pista que possa nos ajudar está no computador que a Bianca usava. Preciso dele para averiguar qualquer informação relevante. ___ Claro, podem olhá-lo, levá-lo, e o que mais precisarem para descobrirem quem fez essa crueldade com minha família ___ interpelou o pai ___ o computador está no quarto das meninas, venham vou levá-los lá para pegarem. Subiram para o quarto o pai, Mattos e Renan, a mãe tinha ido a cozinha preparar um café com a filha. No caminho Renan explicou que não seria necessário levar o equipamento, pois ele tinha um Rafael Moreira Neves


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disco rígido com ele e iria fazer a clonagem do disco original para o dele, e assim ter acesso às informações. Mattos e Danilo não entenderam uma palavra do que Renan tinha dito, mas fizeram cara de entendidos e deixaram o rapaz fazer seu trabalho. A clonagem foi rápida, e logo que desceram Miriam já estava com o café pronto esperando por eles. A mesa estava caprichada com biscoitos e um bolo, mas somente tomaram uma pequena xícara de café para não atrapalhar o almoço.

Capítulo 13

Assim que saíram da casa da família Cruz, foram para um restaurante almoçar, pois em seguida ainda iriam visitar outra família, a família Santos. Mattos já tinha conversado com eles, mas na ocasião não tinha pensado em investigar os dados contidos no computador. Perigos na Internet


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Após

o

almoço

encaminharam-se

para

como a

previsto

casa

da

eles

suposta

primeira vítima encontrada pela polícia. A família Santos tinha perdido sua única filha, da mesma forma cruel e triste. Ela chamava-se Cristina, que foi descrita pelos parentes e amigos como uma menina doce, meiga, até de certo ponto tímida. Seus pais, Josias e Raquel a criavam como em uma redoma de vidro, cheio de cuidados e mimos, talvez isso tivesse sido causa de sua inocência e tenha influenciado no que tinha acontecido. Mattos e Renan foram bem recebidos pelo casal. A mãe de Raquel estava na casa deles, quanto mais unida a família estivesse, mais fortes seriam para enfrentar o momento. Ele apresentou Renan, em seguida sentaram para conversar sobre a nova visita do delegado. Josias e Raquel não deixavam de ter esperanças de que tivessem prendido a pessoa que tinha tirado a vida de sua filha. Porém a notícia que o delegado trazia era outra, mas não apagava as esperanças de justiça Rafael Moreira Neves


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da família, apenas prolongava o sentimento de que a justiça ainda estava por vir. Ao contrário de Bianca, Cristina tinha dito aos pais que iria encontrar um amigo que conhecera na internet. Os pais não moldaram maldade, pois apesar

das

recomendações

costumeiras,

a

menina tinha tranquilizado, pois conhecia bem seu amigo, preferiram acreditar na filha, como sempre faziam, pois após tantos anos, muitos de privações por medo e proteção dos pais, estes resolveram dar espaço e liberdade às intimidades da filha, que estava crescendo e tornando-se uma moça, uma linda moça. Assim que souberam o que queriam os visitantes logo se colocaram a disposição e levaram Renan ao computador para que ele fizesse seu trabalho. Como na casa anterior Renan clonou o disco rígido para que pudesse analisar posteriormente os dados. Ainda demoraram um pouco na casa, pois os pais ainda contaram novamente a rotina da filha, Perigos na Internet


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além de mostrar muitas fotos que tinham. Estavam carentes e precisando conversar, parece que não se cansavam de falar da filha. Renan achou válido, pois entre alguns detalhes, pode anotar alguns sites que Cristina costumava acessar. Já passava das cinco quando eles deixaram à casa da família Santos.

Capítulo 14

O expediente estava quase no fim, e nada de e-mail ou de Paola online no skype. O nervosismo e

a

ansiedade

tomava

conta

de

seus

pensamentos e atitudes. Tão logo o horário do final do serviço chegou, o computador foi desligado, alguns papéis soltos foram unidos na pilha ao lado, e ele saiu apressadamente.

Rafael Moreira Neves


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Logo que chegou ao seu quarto, onde morava de aluguel, na casa de uma senhora nas redondezas do bairro Prado, ligou seu notebook, conectou a internet e verificou seus e-mails. Já tinha morado em vários lugares diferentes, mas ultimamente pelo preço e localização achou que ali estava adequado as suas necessidades. Seu quarto era simples com uma cama no centro, no lado direito um guarda-roupa, no lado esquerdo a porta para o banheiro, e na parede do lado esquerdo um escrivaninha, onde ficava horas com seu computador ligado, até altas horas da madrugada. A cozinha era comunitária. Apesar da casa ter sido adaptada para receber hóspedes era muito aconchegante e atraente, além de ter um ótimo preço do aluguel. Ele era cordial e bem educado com todos os outros inquilinos da casa. Além dele mais três pessoas moravam no local, quatro com a da dona da casa. Nada! Nem notícia de Paola. Enviou outro email e foi para o banho. Na volta conferiu

Perigos na Internet


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novamente o e-mail sem nenhum retorno da menina, desligou o notebook e saiu para comer.

Capítulo 15

Depois de deixar Renan no hotel Mattos voltou à delegacia, pois tinha recebido uma ligação do técnico que estava analisando o vídeo gravado pela câmera de segurança do prédio, próximo ao telefone público utilizado para a denúncia de onde estava o corpo de Bianca. Chegando na delegacia foi direto a sala onde estava o técnico de imagens. Ao entrar na sala deu de frente com um televisor ligado a um notebook e o técnico terminando de instalar seu equipamento. Cumprimentaram-se e o técnico mostrou o exato momento em que uma pessoa se aproxima do telefone e realiza a ligação anônima. Uma Rafael Moreira Neves


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pessoa baixa e gorda. Foram as únicas coisas que puderam identificar, pois além da imagem ruim, a pessoa estava de casaco e boné, o que dificultou a tarefa. A única conclusão que Mattos chegou pela aparência e trejeitos foi que era um homem. Além de não terem identificado nada plausível para identificação, Mattos ainda tinha infringido o anonimato garantido às denúncias anônimas. Caso viesse a público, mesmo com a suspeita de que a pessoa que fizera a ligação é uma possível testemunha,

suspeita

ou

cumplice,

traria

problemas para toda a sociedade, além do descrédito na polícia e no serviço de denúncia anônima. O fato da ligação ter sido originada do centro da cidade e não de um local próximo do crime, fizeram o delegado suspeitar que alguém que sabia que o corpo estava lá que fez a ligação, pois o corpo não estava tão visível para alguém que passasse de ônibus, de carro ou a pé pudesse ter visto.

Perigos na Internet


57

Capítulo 16

Renan chegou ao hotel e foi direto para seu quarto. As andanças que tinha feito durante o dia com o delegado deixaram-no cansado. Passou na recepção e pediu para servir-lhe o jantar no quarto, e subiu para o mesmo. Abriu a porta, passou pela entrada do banheiro e por uma pequena cozinha com uma pia do lado esquerdo e

chegou

a

uma

sala.

Colocou

seus

equipamentos sobre a mesa e ligou a televisão que estava logo à frente. Mais a frente, separado por

portas

de

compensado

móveis,

que

movimentavam livres no sentido lateral, estava à cama e do lado direito o guarda-roupa. Pegou a toalha e foi tomar um banho tentando relaxar o corpo da movimentação do dia. Assim que saiu do banho foi para a mesa, ligou seu notebook e em paralelo dava uma espiada na televisão. Verificou seu rastreamento ao

estelionatário,

monitorando

Rafael Moreira Neves

seus

últimos


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passos desde a última análise. Tudo ainda encaminhava-se bem, o estelionatário não tinha descoberto os grampos, o monitoramento de seus pacotes de dados pela internet e o encontro com uma possível vítima ainda estava de pé. Retirou da sua bolsa os discos rígidos dos computadores das vítimas de assassinato investigadas pelo delegado Mattos e começou a analisar. Procurou alguns programas que seriam úteis e começou a executá-los. Muita coisa ia sendo encontrada para seu acesso, inclusive arquivos apagados mesmo após alguma formatação. Sua

concentração

foi

interrompida

pela

campainha da porta, era o serviço de quarto, como o rastreamento completo demoraria um pouco, deixou a análise de lado para jantar e ver um pouco de televisão, depois voltava para a tarefa. Sentado no sofá em que ficava em frente à televisão de vez em quando ele se contorcia para

Perigos na Internet


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trás, onde conseguia ver a tela do notebook e verificava se o processo tinha terminado. Algumas horas passaram-se antes que a execução terminasse e assim que terminou Renan iniciou algumas pesquisas. Primeiro pelos últimos arquivos, incluindo e-mails acessados, depois pelos que mais foram acessados. Ele abriu e verificou muitos arquivos, seus olhos pareciam querer fechar tamanho o cansaço, quando estava prestes a deixar de lado e continuar no dia seguinte, achou um e-mail que se repetia em muitas mensagens nos dois discos rígidos. Poderia ser coincidência, mas ele filtrou somente as mensagens enviadas por aquele endereço de e-mail e pode constatar que parecia ser de algum namorado pela internet, mensagens de amor, algumas mais picantes, conversas normais e fotos. Ele encontrou tanto fotos que as meninas haviam enviado como foto do suposto namorado. O que mais chamou a atenção é que a Rafael Moreira Neves


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última troca de e-mails com o namorado virtual de cada uma foi na véspera do assassinato, e o conteúdo era marcando um encontro entre eles. Depois não há e-mails enviados pelo namorado, nem sequer querendo saber o porquê do sumiço e falta de envio de mensagens. Renan sabia que esse fato apontava para o e-mail do suspeito de ter cometido os crimes. Copiou as fotos e o e-mail do suspeito numa pasta a parte em seu notebook. Pegou sua lista dos sites mais visitados por uma das meninas e descobriu algumas salas de bate-papo que o suspeito também acessava. Criou um e-mail e um perfil falso na rede social que foi detectada como utilizada para contato com as meninas, se passando por uma adolescente. Enviou um e-mail para o suspeito dizendo que tinha encontrado seu perfil em alguns sites de relacionamento e propondo uma amizade. Junto colocou um link para acesso do seu perfil na rede social contendo um código malicioso que instalava um espião na máquina de quem executasse o link. Perigos na Internet


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Ainda com as poucas forças para lutar contra o sono que restava ele tentou pesquisar a imagem da foto nos arquivos da Polícia Federal, porém devido a demora e ao cansaço resolveu enviar para que um colega de trabalho, para que ele prosseguisse na busca assim que chegasse pela manhã. Mesmo sem saber se as fotos seriam úteis já estava satisfeito por ter conseguido o perfil do usuário na rede social e e-mail, que seriam fundamentais para rastreamento e localização do suspeito. Mas depois de tudo preferiu dormir um pouco e descansar, continuaria a investigação por essa vertente no dia seguinte.

Capítulo 17

A porta do quarto abre vagarosamente, a pessoa estava com dificuldades em abri-la, apresentando sinais de embriagues. Joga a chave Rafael Moreira Neves


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do quarto com a do carro na mesa. Sai e vai à cozinha que fica na parte externa da casa para que os inquilinos sintam-se mais a vontade para utilizá-la, pega um copo de água de volta para o quarto trancando a porta. Vai para escrivaninha e olha seus e-mails, um sentimento de raiva toma seu rosto quando percebe que Paola não tinha respondido. Rola a página para cima e vê uma nova mensagem. Era de uma menina chamada Renata, dizendo que o tinha visto em algumas páginas da rede social e junto o link para seu perfil, ele clicou e surpreendeu com a beleza da menina, apesar de ter uma só foto, e poucos amigos, uns três no máximo, ele ficou encantado com sua beleza, e mais

que depressa respondeu

com muitos

elogios. O que ele não sabia é que assim que clicou no link um programa malicioso instalou-se no seu computador, que faria que o seu dono, pudesse

não

receber

informações

computador bem como acessá-lo remotamente.

Perigos na Internet

do


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Em seguida resolveu dormir um pouco antes de ir trabalhar para não ficar tão desgastado devido à falta de sono. Apesar de constantemente ir dormir altas horas ou até virar a noite, o corpo sempre

cobrava

em

alguns

momentos

de

descanso dessa vida que era levada. Em consequência dessa vida de noites sem dormir, vivia num estado de extrema lentidão, era lento principalmente

durante

o

trabalho,

quase

confundido com um retardo mental pelos colegas, e apresentava fortes dores de cabeça.

Capítulo 18

O

despertador

do

celular

logo

tocou

anunciando o momento de levantar e seguir a rotina de trabalho. Seus hábitos ao despertar eram como rituais, com sonolência acariciava as partes íntimas e se masturbava. Levantava-se e tomava banho, apesar de não gostar muito e Rafael Moreira Neves


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apresentar características vezes

penteava

emaranhado

o

na

desleixadas. Raras

cabelo

cabeça,

deixando algumas

um vezes

amassada pelo boné. Pegava a primeira roupa que lhe aparecia pela frente, mesmo que fosse suja, pois às vezes esquecia-se de jogá-las no cesto apropriado, e estando a mão, não fazia distinção, mas acredito que pouco importava-se se estavam limpas ou sujas. Nas rodinhas do serviço, ambiente que era mais frequentado por ele, diversas vezes ele foi o comentário pelo aspecto de sujo que aparentava. Após sua básica e mínima higienização, saia e passava na padaria da esquina. Alguns vizinhos que moravam na mesma casa preparavam o café na própria cozinha, mas ele não gostava, além do trabalho de ter que preparar, sempre saia atrasado e não dava tempo. Outra situação que evitava era que as pessoas ficavam conversando sobre suas vidas e outros assuntos durante esses

Perigos na Internet


65

momentos, tipos de interação que ele não era muito fã. Tomava diariamente iogurte e variava entre biscoitos de polvilho, pão, bolos e pão de queijo. Variava conforme a vontade, e sempre levava um pouco para comer mais tarde no serviço. Sem esquecer que sempre comprava energético. A união da taurina, cafeína e guaraná sempre o mantinha acordado durante o trabalho. O corpo já sentia os efeitos do excesso diário de energéticos, seu sono escasso pouco recuperava o corpo para mais um dia. Após comprar o lanche entrava no seu carro, um modelo corsa vermelho escuro, ano 1997, com os vidros todos escurecidos pelo insufilm, em seguida se dirigia ao escritório de contabilidade.

Capítulo 19

Rafael Moreira Neves


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Quando Renan acordou após tomar um banho para despertar e comer algumas frutas que estavam no cesto da cozinha, verificou no seu notebook as atividades que estavam sendo monitoradas. Notou pelas mensagens enviadas pelo seu root kit que o suspeito tinha mordido a isca, clicando

no

link

enviado

e

instalando

um

programa que daria e ele possibilidades de controlar

o

computador

e

visualizar

as

informações armazenadas nele. Viu também retorno no seu e-mail da agência da Polícia Federal sobre a pesquisa da foto que ele havia enviado na noite anterior, tinham identificado o homem da foto como Rubens Maia, e pela localização residia em Belo Horizonte. Mais que prontamente enviou as informações obtidas para o e-mail da delegacia aos cuidados do delegado Mattos. Com essas informações seria possível procurar o suspeito e investigar. Mas o que realmente ele estava mais interessado no

Perigos na Internet


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momento era nas atividades do computador da namorada. Acessou os e-mails e lia lentamente tudo que era feito por ela. De repente algo inesperado fez seu coração acelerar, seu corpo suava, suas mãos ficaram trêmulas e mal conseguiam guiar o mouse. Ele não podia acreditar no que estava vendo. Diante dos seus olhos a prova da infidelidade da namorada, vários e-mails com declarações dela para outra pessoa. Apesar da distância que havia entre eles recentemente, o mundo estava desabando diante de seus olhos. As promessas de amor eterno e lealdade

tinham

desaparecido,

ou

melhor,

existiram, mas foram mentiras. Mentiras baratas capaz de machucar quem está perto e quem se ama. Por mais que tivesse fazendo algo muito errado, espionar o computador de alguém sabia que agora era um caminho sem volta, não havia como negar a descoberta, mesmo que de maneira Rafael Moreira Neves


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ilícita.

Nesse

momento

poderia

tomar uma

advertência do trabalho, ou até quem sabe ser preso por invasão de privacidade ou crime cibernético. Mas para ele pouco importava isso tudo, estava dilacerado, seu corpo tremia, estava sem chão, sem rumo. Ainda sem recobrar a consciência, num ímpeto de raiva ligou para namorada, que a essa altura logo seria ex. Esbravejou, xingou, descontou toda sua ira e frustação, a pessoa ainda alegava não saber de nada. Claro que ele não deu explicações como tinha descoberto, mas tudo que ela falasse seria mais uma de suas mentiras, de milhares que deveria ter dito todo tempo que estavam juntos. Não havia alternativa e após dizer tudo que estava engasgado em sua garganta a última frase dita foi: “nunca mais me procure”. A ex-namorada ainda tentou por diversas vezes ligar para tentar entender, ou se justificar, ou fazer uma tentativa desesperada de conseguir perdão. Mas Renan inicialmente cancelou as

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chamadas

e

em

seguida

desligou

celular,

desconectou o telefone do quarto na parede e desligou o notebook.

Capítulo 20

Assim que o e-mail de Renan foi visto na delegacia de polícia, foi encaminhado para o delegado Mattos. Vilela que estava de plantão nesse dia fez questão de entregar as fotos impressas e as informações pessoalmente. Tinham agora foto, nome e endereço de um suspeito, eram as melhores notícias que tiveram desde que começaram a investigar esse caso. Mattos tentou entrar em contato com Renan, mas o telefone estava desligado ou sem sinal. Não poderia esperar o rapaz, tinha que agir depressa, e tão logo o mandato chegou a sua

Rafael Moreira Neves


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mão saiu em diligência com Vilela e outros policiais para prender o suspeito. Encaminharam-se para o bairro Ouro Preto, localidade onde estava a casa do suspeito, duas viaturas fechavam a rua Erico de Moura, as demais subiram o morro em alta velocidade parando em frente ao número da casa que estava detalhado no relatório e entraram logo em seguida. * * * Rubens

Maia

estava

no

banheiro

se

arrumando para ir trabalhar quando escuta um forte barulho, como de uma porta caindo. Quando sai para ver o que estava acontecendo encontra com vários policiais empunhando suas armas e dando-lhe voz de prisão. Assustado e sem entender o que estava acontecendo obedeceu as ordens de colocar as mãos na cabeça e ajoelharse. Após a revista em sua casa e recolhimento do seu computador foi levado por Mattos e os demais policiais para a delegacia. Perigos na Internet


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Mattos não parecia feliz com a prisão do suspeito,

algo

estava

incomodando-o.

Seu

semblante estava fechado, preocupado, Vilela quis perguntar o que estava acontecendo, mas preferiu deixar retornar para a delegacia onde teriam mais privacidade para conversarem. * * * Na delegacia Mattos tentou entrar em contato com Renan novamente, mas em vão, nem pelo telefone

do

hotel

estava

obtendo

sucesso.

Preocupado solicitou que uma viatura fosse verificar se algo tinha acontecido ao rapaz. Assim que terminou de dar às ordens, Vilela entrou em sua sala perguntando: ___ Delegado está tudo bem? Notei que estava preocupado durante a operação? ___ Sabe Vilela, queria muito que esse caso chegasse ao fim, e que Bianca fosse a última vítima, mas algo me diz que ele não é o nosso homem, claro que vou poder me certificar melhor Rafael Moreira Neves


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depois que interrogá-lo e que o Renan aparecer para vistoriar o computador do suspeito. Mas não só pelo fato de não se parecer com a imagem obtida da pessoa que fizera a ligação anônima, porque poderia realmente ser alguém que viu e resolveu denunciar ou talvez ele tenha pedido a alguém para ligar, mas sinto que não é ele. Rubens Maia era alto, pele clara, cabelos curtos e encaracolados, rosto largo, com orelhas salientes, corpo troncudo e atlético. ___ Acalme-se delegado ___ pronunciou Vilela ___ desde a última vítima o departamento intensificou as investigações e tenho certeza que chegaremos ao culpado, seja ele esse homem detido ou não. Mesmo sem sabermos quantas vítimas são, tenho certeza que vamos chegar a conclusão de todas nossas dúvidas, é só termos calma e paciência. ___ Exatamente inspetor! ___ respondeu o delegado ___ Exatamente!

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Após

todos

os

exames

necessários

e

qualificação do suspeito, este foi levado para uma sala onde seria realizado o interrogatório. Este foi conduzido pelo delegado Mattos, acompanhado por Vilela e um escrivão. ___ Então Sr. Rubens Maia ___ começou Mattos jogando uma pasta suspensa bege na mesa e puxando uma cadeira para sentar-se. Abriu a pasta tirou uma foto de Bianca e mostrou ao suspeito ___ Você conhece essa menina? ___ Não senhor, nunca vi. ___

Ela

foi

assassinada

e

estuprada.

Aconteceu também com essa menina desta outra foto. Como o senhor me explica que enviou suas fotos e esses e-mails para ela? ___ Disse o delegado empostando mais voz e mostrando ao suspeito os e-mails e fotos dele enviadas. ___ Nunca mandei e-mail com fotos minhas para essa menina, as fotos são realmente minhas, Rafael Moreira Neves


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são de uma viagem que fiz a Diamantina. Porém esse e-mail nem é meu. Juro que não há conheço, estou sendo acusado injustamente. Exijo um advogado! Quero sair daqui! ___ retrucou Rubens começando a exaltar-se. ___ Calma Sr. Rubens, isso vamos dizer após a investigação. Terá direito a um advogado. Mas ficará

preso

até

investigarmos

melhor

___

respondeu o delegado. Rubens estava realmente muito abalado e deprimido, negava a todos que se aproximassem dele que conhecia às vítimas e tampouco havia feito algum mal a elas. Mattos foi chamado ao telefone para atender aos policiais que tinham ido atrás de Renan. Porém antes de sair da sala deu instruções a Vilela para pegar informações sobre onde o suspeito esteve e o que fez nas últimas semanas, período dos dois últimos crimes em investigação. Ele iria solicitar a verificação do computador para Renan, mesmo com as negativas de Rubens, pois Perigos na Internet


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ele sabia que os criminosos sempre negam a autoria dos seus crimes. Porém ainda tinha o sentimento de que ele não tinha nada haver com o caso, mas precisava de fatos concretos. A hora do almoço daquela quarta-feira estava chegando e ele não podia perder tempo, tinha que ter provas antes que a imprensa descobrisse o acontecido e soasse o alarme, antes dele próprio se convencer que estava na pista certa.

Capítulo 21

Quando os policiais designados para procurar por Renan chegaram ao hotel foram informados pelo atendente de que o hóspede em questão não havia deixado o quarto naquele dia ainda. Várias tentativas foram realizadas de contato a pedido dos policiais, mas todas em vão. O gerente foi chamado após o pedido para abrirem a porta do quarto. Dois policiais e o gerente dirigiram-se para Rafael Moreira Neves


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o quarto a fim de averiguar o que estava acontecendo. Após várias batidas na porta sem retorno, o gerente se viu pressionado a abrir a porta. Ao entrarem no quarto, com os dois policias na frente empunhando seus revolveres, notaram a bagunça que estava ali. Na cozinha havia comida aberta e pela metade, roupas de cama, camisas, papéis espalhados por toda sala. Ao chegarem na sala avistaram o telefone desligado da parede, e viraram-se para o quarto onde Renan estava jogado na cama como alguém que tinha levado a um tiro. Correram para seu socorro, mas ele não estava ferido, pelo menos por fora. Mal estava aguentando falar e explicar o porquê não atendeu a porta. Tinha um ar de dopado por alguma substância

alucinógena,

as

mãos

estavam

trêmulas e as palavras emboladas. Enquanto tentavam entender o rapaz um dos policias vistoriou o quarto a procura de algum vestígio de

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remédios, drogas ou bebidas, mas nada foi encontrado. Renan estava fisicamente bem, só um pouco incompreensível. Então um dos policiais resolveu ligar para delegacia para informar ao delegado a situação. ___

Senhor

delegado?

___

pergunta

o

detetive. ___ Sim é ele. ___ É o detetive Bruno. Encontramos o rapaz que solicitou que procurássemos. Ele está no hotel, um pouco estranho e confuso. Suspeitamos até que estivesse dopado, mas não encontramos nada que justifique até o momento. ___ Mas fisicamente ele está bem? ___ pergunta o delegado. ___ Aparentemente sim. Alguma orientação de como proceder?

Rafael Moreira Neves


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Mattos ficou mudo por instantes escutando somente seus pensamentos. Sabia que dependia de Renan para prosseguir com a investigação e que a agilidade era fundamental, mas não sabia dizer com certeza como rapaz estava após os detalhes passados pelo detetive. Tinha receio que a notícia da prisão chegasse aos jornais e que milhares de repórteres famintos por notícia invadissem a delegacia. Talvez levar Renan poderia ser uma movimentação que levantasse suspeita e até perigosa dependendo do estado do rapaz. Resolveu então ir até o hotel a averiguar pessoalmente

o

que

estava

acontecendo.

Enquanto Vilela terminava o depoimento do suspeito ele teria tempo de ir até lá. Solicitou

a

um

policial

que

pegasse

o

computador pessoal de Rubens e encaminhou-se com ele para hotel em que Renan estava hospedado.

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Capítulo 22

Quando o delegado chegou ao hotel, Renan estava mais tranquilo e menos confuso: ___ Renan meu rapaz, o que aconteceu com você, sumido toda manhã em plena investigação! ___ disse o delegado quebrando o silêncio. Renan continuou calado, seu gesto resumiu-se a olhar em volta para os policiais que ali estavam e para o gerente do hotel. Mattos entendendo o que rapaz queria com esse olhar solicitou que todos saíssem do quarto. Assim que todos saíram, Renan abriu o notebook, separou alguns arquivos e virou-o para que o delegado lê-se o conteúdo. Mesmo sem terminar de ler os arquivos Mattos já tinha noção do tinha acontecido ao jovem, sua expressão estava mais séria do que quando entrou no quarto, e constantemente coçava a Rafael Moreira Neves


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cabeça

próximo

da

nuca

mostrando-se

apreensivo e encabulado com a situação. ___ Renan, sei que é difícil descobrir uma coisa dessas da namorada... ___ Ex! ___ interrompeu Renan cortando o silêncio e a fala do delegado. ___ Claro, ex. Mas o que quero te dizer é que a vida continua. É algo muito ruim, deixaria qualquer um para baixo, mas levanta essa cabeça, bola pra frente garoto. Infelizmente queria poder te deixar sozinho, pensar na vida, refletir sobre seu futuro, mas estamos no meio de um caso que tem gerado muita polêmica nos últimos dias. Prendi o suspeito que você me mandou os dados hoje de manhã e antes que os jornalistas descubram essa prisão, preciso ter certeza de que é ele mesmo. Estou constrangido em te pedir isso nesse momento, pode acreditar, mas não tenho alternativa ___ completou o delegado.

Perigos na Internet


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Renan ainda cabisbaixo sabia que o que tinha dito o delegado era a mais pura verdade, mas na prática é difícil, muito difícil. Como esquecer e deixar para trás toda frustação, a perda do sentimento, a humilhação, a traição que ele tinha sofrido. Seu mundo tinha desabado e não via como reconstruí-lo. ___ Mas delegado, o que você quer que eu faça? ___ perguntou Renan. ___ Como te disse preciso certificar que prendemos

a

pessoa

certa.

Estou

com

o

computador dele aqui. Teria como obter alguma prova por ele? ___ Claro! Além das mensagens, arquivos, há o programa que instalei que está com vários dados armazenados. Isso vai ser tranquilo. Vou tentar ajuda-lo no que conseguir, mas minha vontade era de não fazer nada, mas sei que seria errado e muito ruim não ajudar nesse momento.

Rafael Moreira Neves


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___ Tenho certeza que você vai reerguer a cabeça e nos ajudar nesse momento ___ disse Mattos dirigindo-se para a porta. Mattos saiu e foi pedir a um dos policias que buscasse o computador que estava na viatura. Sendo atendido prontamente. Assim chegou, Renan ligou o computador e começou a analisalo. A feição do seu rosto torna-se cada vez mais séria e preocupada, Mattos estava na dúvida se era algo errado ou se ainda estava pensando nos seus problemas pessoais. Mattos não era um ser humano insensível, sabia de como internamente Renan estava destruído, mas a situação exigia que ele cobrasse e até implorasse a sua ajuda.

Capítulo 23

Cerca de duas horas haviam passado, Renan continuava

analisando

respondia

a

o

nenhuma

computador, pergunta,

Perigos na Internet

não

estava


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compenetrado na tarefa, limitava-se a dizer que precisava de mais uns minutos, na verdade, uns minutos estavam se transformando em horas. Enquanto Renan estava na quarto, Mattos e os policias esperavam na sala. Mattos estava apreensivo, ansioso e cansado de esperar. Por vezes levanta-se e andava de um lado para outro, cansava-se e sentava-se novamente, mas logo em seguida repetia o ritual. Renan sai do quarto olhando fixamente para o delegado. ___ Ele não é o nosso suspeito! ___ Como você pode afirmar com tanta certeza? ___ pergunta o delegado. ___

Além

de

não

haver

vestígios

de

comunicação, fotos de meninas, pornografia, acesso as contas ou e-mails investigados ou qualquer coisa ligada ao caso, hoje pela manhã eu instalei um software que me envia todas as Rafael Moreira Neves


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atividades realizadas no computador. E ele não está instalado. ___ responde Renan. ___ Instalou o que? ___ diz o delegado com cara de quem não entendeu muito do que disse Renan. ___

Um

software.

Um

programa

de

computador que programei para salvar todas as atividades que quem estiver usando fizer e me enviar. ___ Mas ele ou alguém poderia ter tirado esse programa? ___ Bem, acho meio complicado, porque esse software, ou melhor, o programa fica escondido. Não aparece nos softwares instalados e nos processos em execução. Esse homem tinha que ter algum conhecimento avançado em informática para conseguir detectá-lo. Além do que enquanto estava vasculhando o computador a procura de algum pista, eu chequei a comunicação desse meu software espião e ele está ativo e me

Perigos na Internet


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enviando as informações. Muito provavelmente o suspeito usou as fotos dessa pessoa, eu acredito pela fisionomia desse Rubens Maia. ___ Acredito que sim. ___ responde o delegado não entendendo o que Renan disse no início, mas se convencendo de que realmente o homem que estava detido na delegacia não era o suspeito ___ ou ele usou de outras fotos para ser difícil sua identificação, ou porque sua aparência real não iria atrair as meninas. Levando em conta a

segunda

opção

iria

precisar

de

alguém

apresentável para ser isca para suas vítimas. ___ Acredito mais na segunda hipótese. ___ responde Renan. ___ Mas não teremos como saber agora. Vou imediatamente ligar para delegacia e solicitar a Vilela que libere o suspeito. O computador dele eu vou solicitar que seja anexado ao processo, pode ser que precisemos dele, nunca se sabe. ___ após dizer o que ia fazer Mattos saiu para o corredor com o telefone na mão. Rafael Moreira Neves


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Capítulo 24

Mattos entrou em contato com Vilela para explicar-lhe o resultado da conversa com Renan e solicitar a liberação do suspeito. Vilela informoulhe que o suspeito continuava negando as acusações. Porém tinha conseguido levantar que ele é engenheiro e trabalhava numa empresa que estava localizada num prédio no centro da cidade. Nesse prédio havia vários outros escritórios como de advocacia, odontologia, contabilidade, entre outros. Ainda informou que mostrou a foto do homem que fizera a ligação anônima, sem referirse que se tratava de uma pessoa realizando uma ligação anônima, mas que o suspeito nunca tinha visto o sujeito da foto, além de reclamar que a foto estava muito ruim. Mas o fato do local de trabalho ser perto do local de onde foi realizada a ligação anônima chamou a atenção dos dois homens.

Perigos na Internet


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Mattos ordenou a liberação do suspeito, recomendou

o

máximo

de

cautela

com

a

imprensa e voltou para dentro do apartamento. Renan estava com olhos fixos na tela do notebook, quando notou a presença do delegado disse: ___ Ele está online, conversando comigo! ___ Como assim Renan. ___ espanta-se o delegado ___ quem está online e aonde? ___ O suspeito do assassinato das meninas. Não me lembro se comentei com você, mas criei um perfil falso me fazendo passar por uma menina nas características das vítimas e entrei em contato com ele. Foi dessa forma que consegui instalar meu software no computador dele. ___ Perfil? Mas você consegue localizar onde ele está? ___ Estou tentando, mas parece que ele direciona seu IP pra outro local fora do país de Rafael Moreira Neves


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propósito

para

confundir

qualquer

possível

rastreamento, talvez prevendo algum tipo de ataque. ___ Renan, vou interpretar como que você não consegue, porque não entendi nada do que disse. ___ afirma o delegado. Sentindo o sangue borbulhar por dentro do seu corpo, Mattos aproximou-se da janela, sua excitação explica-se pelo fato de ser o mais perto do assassino nessas últimas semanas. Seu instinto estava aguçado, sabia que tinham de agir rápido, antes que o assassino suspeite de algo e suma, ou pior, faça outra vítima. Ficou alguns segundos contemplando o nada pela janela quando de repente teve uma ideia e virou-se bruscamente em direção a Renan: ___ Já sei o que faremos para chegar até ele!

Perigos na Internet


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Capítulo 25

O expediente já estava quase terminando naquela quarta-feira. O ser gorducho escorregava pela sua cadeira, enquanto seus dedos digitavam muitas letras no seu teclado. Apesar de seu computador do trabalho estar ligado, ele tinha colocado seu notebook na frente do seu monitor para tampa-lo, como era de costume, e assim desenvolver

outras

atividades

fora

das

relacionadas com seu trabalho. Estava hipnotizado no bate-papo conversando com uma menina chamada Renata. Loira, olhos claros, e apesar da foto não estar de corpo inteiro, parecia ser muito linda, toda certinha. Ele até que havia insistido que ela mandasse mais fotos, mas ela tinha prometido que mandaria depois. Volta e meia erguia sua cabeça olhando ao redor por cima do monitor que encobria seu notebook verificando se ninguém o observava. Rafael Moreira Neves


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Após a verificação voltava a concentrar-se na tela. Renata estava conversando bastante com ele, mas evitava falar coisas muito pessoais como endereço, telefone, onde estudava, etc. Talvez por precaução por nunca ter o visto, mas a conversa foi fluindo e ele sentiu-a mais aberta conforme o papo ia rolando. Ela continuava não querendo passar muitos detalhes, mas falava algumas coisas mais íntimas e sensuais, que o deixavam louco e muito excitado, mesmo estando num local inapropriado para isso. Devido a pressão que ele fazia em algumas

perguntas,

a

menina

propôs

um

encontro, em um local público para que eles se conheçam melhor e assim passarem a ser mais confidentes. Ele claro aceitou na hora. A menina propôs num shopping, no sábado, no início da tarde. E assim os dois combinaram em se encontrar.

Perigos na Internet


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Capitulo 26

___ Mattos, ele aceitou o encontro. ___ Disse Renan. ___ Ótimo trabalho Renan. Como faremos para identificá-lo? ___ Ele não quis me passar o número do seu celular, mas passei um número grampeado que tenho aqui comigo e pedi pra que não ligasse antes por que tinha namorado, porque se caso ele ligasse e eu atendesse ele pensaria que era o namorado da menina. Mas na hora e local marcado ele poderia me ligar. Assim que ele fizer, rastreio o número. Preciso que entre em contato com a segurança do shopping para me permitirem acesso as câmeras de vigilância, pois tendo acesso as câmeras, consigo dar a localização exata do suspeito para vocês. ___ Combinado, verificarei isso agora mesmo. Vou

selecionar

alguns

policias

Rafael Moreira Neves

para

essa


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diligência também. ___ Disse o delegado. ___ Já vou indo para a delegacia, espero que fique bem, e mais uma vez muito obrigado. Entro em contato com você amanhã ou depois para marcarmos de ir ao shopping e conhecer os locais para montarmos a operação. ___ Combinado, prefiro na sexta porque amanhã tenho um trabalho a desenvolver e não sei que horas vou ficar liberado. Após terem acordado o dia do encontro para montarem toda a operação, Mattos saiu com seus policias do quarto de Renan em direção à delegacia. Ele estava um pouco aliviado sabendo que logo teria oportunidade de encerrar o caso. Não deixava também de preocupar-se com Renan, tinha medo dele ter uma recaída e deprimir-se de novo, pois o fato de tê-lo ocupado um pouco tinha feito com ele esquece o problema enfrentado e ficado até mais tranquilo. Mas quando bater a solidão de novo poderia voltar a lembrar-se de todo ocorrido. Mattos até chegou a

Perigos na Internet


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convidá-lo para jantar, para conversarem, mas ele recusou, dizendo que queria ficar sozinho um pouco. Mattos

lembrou-se

também

que

no

dia

seguinte Renan iria trabalhar no caso que ele estava verificando antes de ir ajudá-lo, e que mesmo não sabendo do que se tratava, pelo sigilo que era imposto no caso, sabia que isso ia mantêlo ocupado por um tempo.

Capítulo 27

A noite estava fria na capital mineira devido a chuva fina que caia desde a parte da tarde. Renan estava inquieto, ora mexia no notebook, ora ligava a televisão, ora andava pelo quarto. Sua dor ainda o consumia, precisava focar nos seus trabalhos, depois de sábado poderia voltar para Brasília e ficar um bom tempo sem voltar ali. O tempo é o melhor remédio para esquecer Rafael Moreira Neves


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qualquer mágoa ou pessoa. Teve sorte em logo seu sono chegar e ele adormecer, descansando e deixando de pensar na traição da ex-namorada. Do outro lado da cidade, aquela figura rechonchuda e com aspecto avacalhado estava no seu quarto. Desde que tinha saído do escritório de contabilidade, comprou algumas besteiras numa lanchonete que ficava na porta como chips, balas, chocolates, biscoitos, pois não sairia nessa noite fria e chuvosa. Ao contrário de Renan, ele ficou até bem tarde na internet, em sites de batepapo e redes sociais. Pela manhã realizou o mesmo ritual matinal e em seguida foi para o trabalho.

Capitulo 28

Renan acordou cedo, tomou café e foi para a sede da Polícia Federal na cidade. Lá os

Perigos na Internet


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preparativos para a prisão do estelionatário já estavam sendo realizados. O estelionatário que se identifica com o nome de Artur da Silva, tinha alugado uma sala em um prédio localizado na rua Olegário Maciel, onde atenderia a possível vítima. Para esse golpe em questão, ele teria prometido garantir à vítima a liberação facilitada do benefício do INSS, devido a sua influência dentro da instituição e da Caixa Econômica Federal. Ele tinha um poder de persuasão muito peculiar, seu leque de golpes era bem vasto como seguros, empréstimos bancários, prêmios, entre outros. Antes do dia marcado uma câmera havia sido instalada na sala, permitindo à polícia monitorar e ouvir toda conversa que fosse realizada da sala. A entrada foi permitida após conversa com o proprietário que garantiu manter o sigilo sobre ação da polícia. E apesar de ter pagado o aluguel adiantado, Artur só ia ao falso escritório quando fosse receber alguma “vítima”. A gravação seria Rafael Moreira Neves


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parte importante da prova para acusação do estelionatário, além dos e-mails e conversas obtidas por Renan através da internet. Tinham cogitado conversarem com a vítima para que ela gravasse e com isso pudessem ter mais provas, mas ficaram com medo dele não aceitar participar da ação, mesmo com o acompanhamento deles, e perderem a chance de pegar Artur que há seis meses estavam investigando.

Capítulo 29

No escritório de Contabilidade o brilho da tela iluminava um sorriso largo, de beiços grandes e dentes amarelados. Uma mensagem inesperada excita-o deixando com um sorriso malicioso e um brilho diferente no olhar. Paola havia respondido o e-mail e estava online conversando com ele pelo bate-papo. Estavam

marcando

de

se

Perigos na Internet

encontrar,

se


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conhecerem pessoalmente. Esse era o melhor fato que tinha chamado sua atenção naquela manhã. Nunca tinha tido a oportunidade de ter duas meninas na mesma semana, era um fato inédito, não poderia perder essa oportunidade. A ansiedade era tanto, das duas partes, apesar de motivações diferentes marcaram para o dia seguinte, inclusive foi escolhido o mesmo local que se encontraria com Renata no dia seguinte. Tudo marcado para um pouco antes do horário do almoço, só faltava arrumar uma forma de justificar sua ausência no serviço nesse período. Coçou seu queixo com sua barba pequena, levantou-se a foi até a sala do seu chefe. ___ Sr. Márcio, licença. ___ E foi entrando e sentando-se em frente o chefe. ___ Já que entrou diga o que quer Maurício. ___ responde o chefe não aprovando muito a intromissão do funcionário. ___ É que amanhã um pouco antes do almoço tenho dentista, manutenção do aparelho, e... vou Rafael Moreira Neves


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precisar sair um pouco antes do horário do almoço e devo voltar um pouco depois. ___ Mas não tinha outro horário para agendar essa consulta, sábado ou final de expediente? ___ pergunta o chefe num tom de voz mais alta. ___ Eu tentei Sr. Márcio, mas não atendem no sábado e era o único horário disponível. ___ Tudo bem. Olhando pelo seu rendimento que está muito a desejar você não está merecendo essas coisas. Mas pode ir, depois vemos uma forma de você pagar essas horas. ___ Obrigado! ___ Respondeu Maurício com cara de agradecido, mas xingava o chefe em seu pensamento. Foi para sua mesa, e apesar de ainda xingar o chefe

em

pensamento,

teve

de

dividir

a

imaginação com a imagem das duas meninas que teria a chance de encontrar no final de semana.

Perigos na Internet


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Capítulo 30

Por volta das 11h da manhã, um senhor idoso entrava no prédio situado na Rua Olegário Maciel, monitorado por agentes de Polícia Federal disfarçados. Renan juntamente com o delegado que comandava a operação estavam numa Sprinter a paisana parada nas intermediações do local. Sabiam que Artur já estava no falso escritório, inclusive pelas imagens e fotos ele estava usando uma peruca. O idoso subia com dificuldade, carregava ali o peso da idade, mas logo alcançou a porta com o número passado pelo despachante que iria ajudálo na aposentadoria. Bateu na porta e foi atendido por Artur que estava muito bem vestido com um terno cinza claro, camisa branca e gravata prateada. Cabelos castanhos bem penteados, senão fosse a polícia que conhecia sua verdadeira imagem, diriam que Rafael Moreira Neves


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seus

cabelos

eram

naturais.

Muito

bem

aparentado com barba feita e um perfume que exalava por todo ambiente, convidou o senhor para entrar e sentar-se em sua mesa. A negociação foi fácil, na verdade já estava feita, o senhor tinha ido levar o dinheiro e assinar os

documentos,

falsos

por

sinal.

Após

o

recebimento do dinheiro, cerca de dois mil reais e assinatura dos contratos, o senhor saiu, e assim que fechou a porta, os agentes que já estavam aguardando do lado fora entraram e deram voz de prisão a Artur. Após

todo

procedimento

de

busca

a

apreensão, inclusive iam com Artur no hotel em que estava hospedado para revistar o quarto, foram todos para a sede da Polícia Federal. O senhor idoso também foi intimado para prestar queixa e depoimento. Somente Renan não foi a sede da Polícia Federal após a conclusão da prisão, visto que antes já havia terminado e entregue seu relatório Perigos na Internet


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ao delegado federal. Despediu-se de todos e voltou para o hotel. Pelo menos um de seus trabalhos havia terminado e logo poderia voltar à Brasília. Domingo se Deus quisesse já estaria lá. Longe

da

turbulência

que

afligia

seus

pensamentos, longe do aperto que sentia no coração, longe de Belo Horizonte que trazia tantas lembranças de uma pessoa que ele queria tanto esquecer.

Capítulo 31

Assim que Renan chegou ao hotel foi direto para o restaurante almoçar, só depois de uma hora subiu para o quarto. Ligou a televisão e o notebook. Estava checando os e-mails quando um em especial chamou-lhe a atenção. Tinha sido enviado pelo keylloger instalado no computador do suspeito de matar as meninas.

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O software havia registrado e copiado as conversas realizadas pela manhã, e disparado seu conteúdo para o e-mail de Renan, conforme foi programado anteriormente. Nas mensagens, apesar de serem apenas os textos e imagens da tela, percebia-se que ele tinha marcado outro encontro, com uma menina chamada Paola, coincidentemente no mesmo local marcado com ele, ou melhor, com Renata, mas para amanhã, sexta, antes do almoço. Tentou acessar o computador remotamente para tentar obter mais informações, e até dados da menina que tinha aceitado marcar o encontro, mas ele estava desligado no momento. Pegou o telefone e ligou para o celular de Mattos. ___ Mattos, é o Renan. Temos que antecipar a operação, o assassino das meninas tem um encontro marcado amanhã! ___ Nossa assim em cima da hora. Que horas e onde vai ser? ___ Pergunta o delegado que no seu consciente pensava uma forma e antecipar a Perigos na Internet


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operação uma vez que quase tudo já estava programado para o sábado. ___ Por coincidência vai ser no mesmo local que marcamos, por volta das 11h. ___ Copiado, vou tentar antecipar a operação aqui e entro em contato com você mais tarde. A operação tinha que ser antecipada ou mais uma vítima poderia ser feita, não podiam arriscar. Logo que desligou com Renan, Mattos começou a realizar ligações e convocações de reunião a fim de antecipar e organizar o esquema para a diligência que deverá ser realizada na manhã seguinte. Renan ficou andando pelo quarto por um bom tempo, aguardando contato do delegado, mas como já passava um pouco das 15h resolveu ir até a delegacia ver como andava os preparativos da operação pessoalmente.

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Capítulo 32

___ Delegado, está aqui Renan Miranda querendo

falar

com

você.

___Anuncia

a

assistente. ___ Ótimo, ótimo. Mande-o entrar, por favor. Assim que é informado da autorização para entrar, Renan encaminha-se para sala de Mattos. ___ Boa tarde Mattos. ___ Boa tarde Renan, tudo bem com você? ___ Dentro do possível vou indo. Estava no hotel aflito, então decidi vir até aqui para ajudar em algo que necessite. ___ Fez bem.___ Disse o delegado. ___ Assim você se mantém ocupado e não fica pensando em besteiras. Mas sente-se. ___ Verdade! ___ Exclamou Renan.

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___ Vou te explicar como planejamos proceder amanhã. Devido a antecipação da operação terei problemas em quantidade de policiais disponíveis, mas consegui dezoito pessoas, vinte contando com nós dois. Como não há um local exato do encontro, o suspeito vai telefonar para vítima quando estiver no local falando onde está para encontra-la.

Pensei

em

distribuí-los

para

evitarmos alguma surpresa. Enquanto Mattos explicava detalhes da ação Renan só ouvia. ___ Assim que o shopping abrir já estaremos a postos. O shopping tem quatro acessos, dois em cada andar. Possui uma praça de alimentação que dá acesso a uma das entradas. ___ Continuou o delegado. ___ Pensamos em colocar dois policiais a paisana em cada entrada do shopping, seis lá dentro circulando e quatro nos carros do lado de fora. Nós dois ficaremos na central de segurança monitorando os passos de

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todos, inclusive do assassino e vítima, espero que você consiga identifica-los a tempo. ___ É possível, acredito que a vítima seja mais fácil, pois tenho fotos dela, vamos monitorar todos que entram, assim poderemos reconhecê-la. Já o assassino, temos que estar atentos a quando ela atender ao telefone ou falar com alguém. ___ Disse Renan. ___ Exato! Isso mesmo que pensei em você fazer, mas claro que te ajudarei, além do técnico de segurança do shopping que estará de plantão. Assim que identificarmos o suspeito vamos seguilo para ver aonde ele vai. Assim que parar em algum lugar vamos abordá-lo e enquadrá-lo. A partir daí é investigar sua casa, seu carro, seu trabalho, seus equipamentos eletrônicos, etc. ___ Explicou o delegado. ___ Entendi. Parece que tudo já está sob controle. Já pensou na hipótese de ter uma segunda pessoa?

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___ Sim. ___ Respondeu o delegado. ___ Descartei logo no início, mas se tiver e for ao encontro, pegamos os dois, ou mais se tiver. Por isso estou deixando para abordá-lo quando ele for para o seu destino, pois duvido que ele tente algo dentro do shopping. Mas pelas características ao que tudo indica o assassino age sozinho. ___ Ok Mattos. Já que tudo está planejado acho que vou indo embora e te deixar trabalhar. Amanhã te encontro aqui e vamos juntos. ___ Combinado Renan, estarei te aguardando. ___ Sorri o delegado e estende a mão para despedir-se.

Capítulo 33

Renan antes de voltar ao hotel passou na praça da liberdade. Andou por entre as enormes palmeiras imperiais e foi admirando durante a Rafael Moreira Neves


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caminhada a já tão conhecida paisagem e jardins, inspirados

no

Palácio

de

Versalhes.

Ele

costumava passear com sua ex-namorada por esse complexo paisagístico e arquitetônico que foi construído na inauguração da capital mineira. Desde

então

vem

recebendo

diversas

contribuições no seu estilo eclético com toques neoclássicos,

de

diversos

movimentos

percussores, entre eles o art decó, moderno e o pós moderno. Nomes como o de Oscar Niemeyer foram responsáveis pelo modo como há vemos hoje. Renan passou pelo chafariz que estava todo iluminado e jogando suas águas de um lado para o outro, formando um arco. Contornou-o e parou no coreto. Sentou em suas escadas e ficou olhando para o horizonte, perdido. Lembrava-se dos sonhos e planos que tinha na vida, até então juntos com a ex. Mas sabia que era o momento de reprogramar a vida. Não desistir dos sonhos e dos planos, mas vivê-los com outra pessoa.

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Ficou mais um tempo sentado por lá e decidiu passar num restaurante que tinha ali por perto, também bem conhecido dele, que servia uma ótima picanha argentina grelhada, com arroz, batata cozida e farofa, ou acompanhada de muçarela, cebola e alho que ele adorava. Aproveitou a oportunidade para degustar um vinho tinto seco, carbenet sauvignon, que tanto apreciava. Já eram quase 22h quando ele retornou para o hotel, descansaria para a operação na manhã seguinte. Talvez pelo efeito do vinho, ou pela excitação dos preparativos para o dia seguinte, sua dor estava menor, quase não pensava mais no que tinha acontecido com ele ou em como horas antes estava totalmente abalado.

Capítulo 34

Rafael Moreira Neves


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A manhã de sexta-feira estava nublada, mas ainda não havia chovido. O assassino estava em sua mesa já se arrumando para seu encontro quando seu chefe entregou-lhe uma pilha de documentos para serem realizados até o fim do expediente. Levantou-se e disse: ___ Mas senhor Márcio, tenho que sair daqui a pouco para o dentista! ___ Exclamou em tom desesperado. ___ Um bom motivo para terminar rápido e não atrapalhar seu compromisso. ___ respondeu secamente o chefe. Ele voltou a sentar-se, pegou os papéis e começou a folheá-los, assim que o chefe saiu da sua vista jogou os papéis de lado e começou a resmungar e xingar baixinho, onde só ele mesmo ouvia. Pouco tempo depois pegou sua mochila e saiu apressado com a cara mais fechada que o de costume, sem despedir-se de ninguém, porém isso era um costume.

Perigos na Internet


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*** Logo

cedo

os

policias

reuniram-se

na

delegacia, estavam presentes o delegado Valdir Mattos e Renan. Todos chegaram cedo para acompanhar e preparar toda operação, buscando ter sucesso no planejamento e prisão do suspeito. Naquela manhã fria de sexta-feira Renan já estava

com

tudo

pronto,

com

todos

os

equipamentos necessários, com a foto da menina, ou seja, da suposta vítima, número de celular dela para

possível

rastreamento

e

escuta

de

conversas. Não só ele, mas todos os demais policiais envolvidos estavam prontos e tão logo deu o horário de abertura do shopping partiram em carros sem identificação para tomar os postos de vigília. Com quinze minutos estavam no shopping. Mattos e Renan subiram para administração onde já

estavam

sendo

aguardados

pelos

administradores do local, e foram direcionados a sala de segurança, de onde iriam monitorar o Rafael Moreira Neves


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suspeito, a vítima e seus policias. Os demais policiais cada um assumiu seu lugar pré-definido. Na portaria de acesso próxima a grande avenida que dava acesso ao shopping, um policial ficou do lado de fora fingindo falar ao celular e fumando, o outro ficou sentado num bar lendo um jornal e degustando um cappuccino com creme. Na portaria que dá acesso ao 2º andar, como eram um casal, fingiam que estavam conversando e namorando do lado de fora. O mesmo aconteceu nas duas outras portarias, estavam vigiando o lado de dentro e de fora. Outros

seis

policiais

circulavam

olhando

vitrines e para tudo ao seu redor, outros quatro estavam em duplas dentro de dois carros no estacionamento. Quatro viaturas da polícia militar estavam estacionadas em separado nas ruas adjacentes.

Todos

estavam

a

postos

e

aguardando contato de Mattos e Renan que monitoravam tudo de central de segurança.

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Os minutos foram passando a tensão de todos aumentando, a proximidade do momento da ação deixava até o mais experiente dos policiais aflito. Renan de central de segurança estava atento a todos que entravam, fazia copia das imagens e enviava para um software que compara essas imagens e monitorava os movimentos daquele rosto pelas câmeras de segurança. Por volta de 11h30min Renan vê uma menina muito bonita entrando pela portaria de acesso de quem entra pela grande avenida e reconhece Paola. Imediatamente avisa os policiais dentro do shopping que a vítima havia chegado. Mattos só acompanhava o monitoramento calado e o técnico de imagens do shopping ajudava Renan. Paola entrou olhou para os lados, talvez tentando avistar a pessoa que tinha ido encontrar, mas inútil, olhou para o celular, também sem nenhuma ligação, foi andando até uma loja de sapatos que tinha logo na entrada e ficou vendo a vitrine. Logo já estava sendo acompanhada pelos Rafael Moreira Neves


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seis policias disfarçados que estavam dentro do shopping. Ela continuou andando, vendo as vitrines das lojas e olhando constantemente seu celular para ver se havia alguma ligação da pessoa que estava esperando. Os policiais ficavam de longe, atentos, mas sem dar bandeira de estarem seguindo a garota, os demais continuaram a postos na portaria por orientação de Renan.

Capítulo 35

O assassino chegou ao shopping trajando uma jaqueta preta, com uma mochila e na mão um jornal. Abriu o jornal e sentou em uns dos bancos que ficavam no meio do corredor. Mas seus olhos poucos centravam-se no jornal, olhava ao seu redor

as

pessoas

que

passavam.

Antes

estrategicamente tinha parado o carro próximo à saída do segundo andar. Perigos na Internet


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Quase vinte minutos depois de sua chegada avistou Paola que andava olhando as vitrines. Admirou escondido, de longe a beleza da menina. E acompanhou-a com o olhar até que ela subiu para o 2º andar pela escada rolante que saia bem perto da praça de alimentação do shopping e da única saída existente no 2º andar. Assim que ela estava terminando de chegar ao final da escada ele ligou no seu telefone. *** Renan recebeu a mensagem de uma ligação no celular de Paola, tratou de rastrear a ligação, enquanto o técnico olhava com Mattos outras câmeras

procurando

alguém

que

também

estivesse no telefone naquele momento. Mattos tinha

certeza

de

que

ele

estaria

observando. *** ___ Alô! ___ Oi Paola, sou eu! Rafael Moreira Neves

perto

e


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___ Eiiii. Cadê você? Onde você está? ___ Estou aqui no shopping já. Tem como você encontrar na entrada perto da praça de alimentação? ___ Pergunta o assassino. ___ Claro que tem. Estou aqui pertinho, estou indo. Beijos. ___ Beijos.

Enquanto conversavam, Mattos e o técnico, guiados pela conversa e pelos direcionamentos de Renan, identificaram a uma pessoa que estava ao telefone, que subia agora por fora do shopping. Baixinho, gorducho, de óculos. Mattos tinha aberto um sorriso, esse sim se parecia mais com a imagem da pessoa que realizou a ligação anônima. Poderiam estar na pista certa. Os policiais foram informados e orientados a não reagirem, a continuarem só monitorando.

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*** Paola chegou à portaria, saiu, olhou para todos os lados e não viu a pessoa esperada, viu um casal que conversava do lado esquerdo a uns dez metros dela e ainda um sujeito baixo e gordinho que acabava de subir a rua e ia em direção a portaria. ___ Oi Paola! ___ Disse o sujeito. ___ Oi! ___ Disse a menina com cara de espanto, não entendendo quem era a pessoa. ___ Não se assuste, sou eu! Agora sim a garota fez uma cara de muito espanto. ___ Como assim sou eu? O que você está dizendo? ___Perguntou Paola sem entender nada. ___ Marcamos hoje aqui. Acabei de te ligar.

Rafael Moreira Neves


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___ Deve haver algum engano. ___ A garota fez uma pausa como tentando entender o que estava acontecendo ___ Você não se parece em nada com as fotos que me enviou. É algum tipo de brincadeira? ___ Não de forma alguma, não é brincadeira. Desculpe, mas realmente não sou eu nas fotos. Foi só uma forma de chamar sua atenção e ter o que enviar para você. Você gostou de mim primeiro pela nossa conversa lembra. Só depois trocamos fotos. A única diferença é que não sou fisicamente

como

te

mandei,

mas

emocionalmente sou eu mesmo. ___ Respondeu abrindo um sorriso e os braços para um abraço. Paola esquivando-se do abraço e ainda confusa disse: ___ Um momento. Você não é a pessoa com quem eu achei que estava conversando, que coisa louca. Não acredito que perdi meu tempo vindo aqui para isso.

Perigos na Internet


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O assassino fez uma cara muito fechada, mudando

completamente

sua

fisionomia,

certamente ativada pelo sentimento de rejeição que veio da garota. ___ Desculpe, mas, nem sei se seu nome é mesmo que me falou. Isso tudo é muito estranho e você não era quem eu esperava encontrar aqui. Vou embora. Prazer e até nunca mais. ___ Você não vai a lugar nenhum. ___ Disse o assassino segurando seu braço com muita força, tirando da sua cintura uma arma, tentando escondê-la na jaqueta e encostando-se às costas da menina. *** Renan havia capturado a imagem do homem que conversava com a menina e através da identificação facial tinha puxado todo o histórico do suspeito. Seu nome era Maurício Silva, tinha 30 anos, trabalhava com técnico de contabilidade numa empresa no centro da cidade, dentre outras Rafael Moreira Neves


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informações confidenciais. Mal havia mostrado a Mattos, quando esse saiu apressado vendo Maurício levar à menina a força para dentro do carro. Tentaram entrar em contato para que os policiais não reagissem, mas havia sido tarde demais. *** Enquanto puxava a menina para o lado do motorista a fim de joga-la dentro do carro e sair dali, ouviu o casal que estava atrás dele gritando, não entendia o que estavam falando, mas quando se virou, viu que estavam com armas em punho. Num reflexo fora do comum para alguém do seu porte físico, disparou contra eles. Os policiais esconderam-se atrás da pilastra e o outro se jogou dentro do shopping. Ele abriu a porta e empurrou a menina para dentro, viu mais dois homens subindo a rua com as armas apontadas para ele e outros vinham de dentro do shopping. Maurício

disparou

para

todos

os

lados

tentando acertar os que subiam e os que saiam Perigos na Internet


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do shopping, mas de repente sentiu uma dor invadir seu peito, em seguida a sensação de algo perfurando sua pele. Essa sensação deixou-o sem equilíbrio, como num empurrão foi jogado contra o seu carro e escorregou até o chão. Quando passou a mão em seu peito viu sua mão cheia de sangue, teve a certeza de que estava tudo acabado. Começou a soluçar junto com um início de engasgamento. Sua última imagem foi de várias pessoas em cima dele com armas apontadas para seus olhos. Alguns policiais foram prestar socorro a Paola que

estava

em

estado

de

choque,

uma

ambulância foi chamada e estavam aguardando-a no local. Mattos passou correndo pela portaria indo direto para o corpo estendido ao lado do carro. Apesar de repudiar o crime cometido pelo rapaz, não sentiu-se melhor por vê-lo ali morto, mas tentava convencer-se de que tinham tomado a atitude certa e evitado talvez mais uma possível vítima. Rafael Moreira Neves


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Capítulo 36

Após o recolhimento do corpo, atendimento à vítima,

comparecimento

dos

responsáveis

e

reestabelecido o fluxo no shopping, todos foram para delegacia fazer os relatórios e dar fim à investigação. Renan de posse do computador e pertences do assassino, pode pesquisar nos arquivos e mensagens em comunidades virtuais e entender o que tinha levado aquele homem ao surto psicótico que o tinha feito virar um pedófilo, um assassino cruel e frio de vidas jovens e inocentes. Incapaz de controlar seus impulsos sexuais e de atacar crianças. Quando criança Maurício havia presenciado o assassinato da mãe pelo padrasto, indo morar com o pai biológico. Seu pai biológico era casado, seu nascimento tinha ocorrido depois de um relacionamento extraconjugal. Mesmo com o pai

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perdoado pelo erro, pela traição, a esposa descontava toda raiva e mágoa nele. Mesmo ele não tendo culpa dos atos cometidos pelos pais. Era tratado como um bastardo pelo restante da família. O pai ao contrário lhe tratava muito bem, mas era incapaz de impedir todo descaso dos outros membros, talvez por medo de indispor-se ou por sentir-se culpado pelo erro da traição. Além de toda essa rejeição e pressão que sentia, tinha uma irmã que maltratava-o muito, fazendo-o grandes humilhações, num dos relatos, vestindo-o de mulher e levando-o para passear na rua. E ainda sofreu abusos sexuais do irmão mais velho até por volta dos seus dezesseis anos. Idade que ele havia fugido de casa e largado toda a família. Uma criança muito nova não está preparada psicologicamente para o estímulo sexual, e mesmo não sabendo sobre o que é relação sexual, acaba desenvolvendo problemas emocionais depois desse tipo de violência, exatamente por não ter habilidade diante desse tipo de estimulação. Rafael Moreira Neves


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Mesmo Maurício conhecendo o abusador, preferiu calar-se até acabar com tudo fugindo de casa, encontrou-se num conflito entre a lealdade para com essa pessoa e a percepção de que essas

atividades

sexuais

estavam

sendo

terrivelmente más para ele. Para aumentar ainda mais esse conflito, pode experimentar profunda sensação de solidão e abandono. Ainda mais sendo o abusador do convívio diário, ele pode ter ficado com medo de vingança ou da vergonha dos outros membros da família ou, pior ainda, pode temer que acabassem descobrindo os atos, principalmente depois do seu nascimento ter quase acabado com aquela família. O abuso sexual prolongado desenvolveu nele a baixaestima, a sensação de que não valia nada. Adquiriu

uma

representação

anormal

da

sexualidade, tornando-se muito retraído, sem confiança nos adultos. Além das dificuldades de estabelecer relações harmônicas com outras pessoas, transformando-o num adulto abusador de outras crianças. Perigos na Internet


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Não conseguiram achar relatos de como ele tinha feito para chegar em Belo Horizonte, essa parte da história muito provavelmente ficou perdida. Mas sabem que aqui chegando morou nas ruas, logo fez amizades, passava fome, frio, medo, entre outras necessidades. Foi salvo por uma ONG que o ajudou a sair das ruas, ajudou-o a estudar e a mudar de vida, trazendo esperança para uma vida tão sofrida, mas com marcas tão profundas que ninguém conseguiu reparar e nem o tempo conseguiu apagar. *** Renan pegou o avião no dia seguinte, bem cedo, querendo deixar para trás não só as lembranças da ex-namorada, mas tudo que tinha visto durante os trabalhos que tinha desenvolvido. Apesar de ter sido bem sucedido nas duas, enquanto olhava pela janela do avião, sabia que ainda existiam muitos pedófilos, assassinos, enganadores, estelionatários, infiéis e gente má, Rafael Moreira Neves


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capaz de machucar e matar seu semelhante no mundo por puro prazer. Sentia-se pequeno por não conseguir resolver e acabar com esse problema no mundo, exterminar as pessoas que machucam, por dentro ou por fora, as outras. Mas após conseguir afastar essas ideias de sua mente, lembrou-se das palavras que ouvira nas missas ao domingo, lembrou-se de quem pode ajudar as pessoas nesses momentos de aflição, tanto os agressores, quanto as vítimas. E passou o restante da viagem orando a Deus e pedindo proteção para todos.

Nota Essa é uma obra de ficção, as histórias e personagens narrados são ficcionais, qualquer semelhança não passa de fortuita coincidência.

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BIOGRAFIA DO AUTOR

Rafael Moreira Neves é natural de Ribeirão das Neves – MG. É Tecnólogo em Informática pelo Centro Universitário Newton Paiva (MG), Pós Graduado em Engenharia de Software pela AVM Faculdade Integrada, em Gestão Microrregional em Saúde pelo Senac (MG) e em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público pela Faculdade Integrada Grande Fortaleza – FGF (CE). Poeta, escritor e integrante da Academia Nevense de Letras, Ciências e Artes (ANELCA) ocupando a cadeira de n.º 47. Em “Perigos na Internet” o autor narra uma história que circunda o problema social da exposição da vida íntima na internet e os perigos que rondam as famílias. Escreveu o livro online de poesias “Minhas primeiras obras”, “Depois do despertar da manhã” e participou da VI e VII Coletânea ANELCA em prosa e verso.

Rafael Moreira Neves



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