SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU

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SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU RAFAEL TARGINO FERREIRA




SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU

RAFAEL TARGINO FERREIRA Orientadora: Maria Lidia Guimarães Pantaleão

Centro Universitário Moura Lacerda


RAFAEL TARGINO FERREIRA

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU

Trabalho final de curso apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda para cumprimento das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Ribeirão Preto 2019


Catalogação na fonte elaborada pela biblioteca do Centro Universitário Moura Lacerda Bibliotecária Gina Botta Corrêa de Souza CRB 8/7006

Ferreira, Rafael Targino. Sistema construtivo modular para habitações de interesse social em bambu / Rafael Targino Ferreira. – Ribeirão Preto, 2019. 56f. Monografia (Graduação) -- Centro Universitário Moura Lacerda, 2019. Orientador: Profª. Maria Lidia Guimarães Pantaleão 1. Bambu. 2. Bambu laminado colado. 3. BLC. 4. Construção modular. 5. Módulos pré-fabricados em bambu. 6. Habitação social. 7. Habitação modular. I. Pantaleão, Maria Lidia Guimarães. II. Centro Universitário Moura Lacerda. III. Título.


FOLHA DE APROVAÇÃO Sistema Construivo Modular para Habitações de Interesse Social em Bambu Rafael Targino Ferreira Aprovado em ___/___/___.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Profa. Maria Lidia Guimarães Pantaleão Centro Universitário Moura Lacerda

________________________________________ Prof. André Luis Avezum Centro Universitário Moura Lacerda

________________________________________ Arquiteta Regiane Aparecida do Bem Berzuino Centro Universitário Moura Lacerda


DEDICATÓRIA

AGRADECIMENTOS

Dedico primeiramente aos meus pais, Laerte Ferreira e Esmeralda Targino Ferreira, por tudo que se possa imaginar. E mais.

Agradeço imensamente a minha familia por todo suporte e paciência, sem duvidas sem eles esta graduação seria impossivel, por isso agradeço pelo apoio tanto nesta graduação quanto na vida.

E também a minha noiva e filho, Roselaine dos Santos Tomé e Vicente Tomé Targino Ferreira, que de uma forma unica, sempre me deram força, me apoiando sempre e guiandome, nos momentos de maior dificuldade.

A minha companheira Roselaine dos Santos Tomé pela paciência e apoio. A minha orientadora Maria Lidia Guimarães Pantaleão, agradeço por sua dedicação ao me guiar por estas etapas do meu TFC. A todos os professores por todos ensinamentos durante a faculdade. Obrigado.


"Não existe trabalho de arquitetura sem considerar as questões ambientais" -João Filgueiras Lima


RESUMO

ABSTRACT

O consumo extrativista de matérias primas não renováeis, agrega a materiais da construção civil oque é chamado de pegada de carbono, a partir desta pesquisa será desenvolvido módulos que utilizam bambu como matéria prima um material altamente sustentável, e pouco utilizado no Brasil, este estudo demontra a viabilidade de construções utilizando este material e a aplicação deste sistema em tipologias de Habitaçao de Interesse Social.

The extractive consumption of non-renewable raw materials, adds to building materials what is called carbon footprint, from this research will be developed modules that use bamboo as a raw material a highly sustainable material, and little used in Brazil, this study demonstrates the feasibility of constructions using this material and the application of this system in typologies of housing of social interest.

Palavras Chave: bambu, bambu laminado colado, BLC, construção modular, módulos pré-fabricados em bambu, habitação social, habitação modular.

Keywords: bamboo, laminated bamboo glued, BLC, modular construction, prefabricated modules in bamboo, social housing, modular housing.


LISTA DE FIGURAS Figura 1: Demonstrativo da forma do crescimento do bambu . 15 Figura 2: Demonstrativo porte das touceiras de bambu guadua. 16 Figura 3: Great (Bamboo) Wall . 20 Figura 4: Conexões metálicas entre peças roliça de bambu e concreto. 22 Figura 5: Conexões metálicas entre peças roliça de bambu ligação com vigas de bambu laminado. 22 Figura 6 - Casa de Bambu desenvolvida pela Tonji University, Madri, Spain, 2010. 23 Figura 7: Sharma Springs, Sibang Gede, Bali, Indonesia, 2012. 24 Figura 9: Estoque de placas de bambu laminado colado. 25 Figura 9: Centro de Cultura Max Feffer em Pardinho, Brasil ( 2008) . 26 Figura 10: Ossatura estrutural wood frame. 30 Figura: 11: Sistema de trama/ossadura estrutural wood frame. 31 Figura 12: Sistema de cobertura e vedação e alicerce. 31 Figura 13: Unite d’ Habitation Habitação Modular. 32 Figura 14: Volume genérico: um prisma de base retangular com eixos iguais. Forma primitiva. 33 Figura 15: Investigações acerca da proporção áurea. 33 Figura 16: Posicionamento de três retângulos produto do estudo da razão áurea. 34 Figura 17 : Relações entre razão áurea, sequencia Fibonacci . 35 Figura 18: Sistema construtivo desenvolvido para a execução dos hospitais da Rede SARAH . 36 Figura. 19 - Parte superior do corredor central do Hospital SARAH Salvador . 36 Figura 21: Croquis Escola Transitória Rural Abadilância. 36 Figura 22: Croquis Escola Transitória Rural Abadilância. 37 Figura 23: Croquis Montagem dos Painéis. 38 Figura 24: Croquis Instalações Hidráulicas. 39


Figura 25: Casa dos Arcos . 39 Figura 26: Mapa de situação. 39 Figura 27: Vista Casa dos Arcos 40 Figura 28: Croquis de detalhamento construtivo dos arcos 40 Figura 29: Fachada casas germinadas, Tecverde. 41 Figura 30: Planta baixa e cobertura 42 Figura 31: Processo de Fabricação peças de BLC, bambu laminado colado. 43 Figura 32: Vista Isométrica Habição (casal sem filhos) e seus respectivos módulos 45 Figura 33: Vista Isométrica Habição (casal com filhos) e seus respectivos módulos 46 Figura 34: Perspectiva Habição (casal sem filhos) 47 Figura 35: Vista Isométrica Habição (casal sem filhos) 48 Figura 36: Vista Isométrica Habitação (casal com filhos) 49 Figura 37: Vista Isométrica Habitação (casal com filhos) 50

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LISTA DE TABELAS Tabela 1: Demonstrativo da pegada de CO2 embutida em materiais convencionais. 18 Tabela 2: Comparativo entre espÊcies comerciais e o bambu. 19 Tabela 3: Comparativo entre espÊcies comerciais e o bambu e sua caracteristica natural de absorver co2 ao longo de 1 ano. 19 Tabela 4: Demonstrativo das caracteristicas mecânicas do bambu frente a outros materiais. 29

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO  15 1 O BAMBU  19 1.1 PRINCIPAIS VANTAGENS  19 1.2 O BAMBU NA HABITAÇÃO  23 2 SISTEMAS DE PAINÉIS  29 2.1 O BAMBU LAMINADO COLADO -BLC  29 3 SISTEMA WOOD FRAME (WF)  33 4 RACIONALIZAÇÃO E MODULAÇÃO  35 4.1 A SEQUENCIA FIBONACCI NA ARQUITETURA   35 5 REFERÊNCIAS PROJETUAIS  39 5 REFERÊNCIAS PROJETUAIS  41 5 REFERÊNCIAS PROJETUAIS  43 6 DESENVOLVIMENTO DA MODULAÇÃO DOS PAINÉIS DE BLC  44 7 PROPOSTA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL BLC  46 7.1 MEMORIAL DESCRITIVO E PROPOSTA  46 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  55


APRESENTAÇÃO O direito à moradia aliado a utilização de materiais e sistemas construtivos que não causem impactos ao meio ambiente preconizam as metas fundamentais deste trabalho. Propor soluções alternativas que contribuam na redução do déficit habitacional, na melhora das condições de moradia e na minimização da pegada de carbono e do consumo energético da indústria da construção civil que é reconhecida como uma das atividades mais importantes, pois atualmente é um setor responsável por impactos ambientais consideráveis. A indústria da construção civil é responsável por consumir cerca de 75% das matérias-primas e emitir 1/3 dos gases de Efeito Estufa, é caracterizada a indústria mais poluente do Planeta e todas as etapas do processo produtivo geram impactos, principalmente no que se refere à extração de matérias primas e consumo energético ONU (2017). Portanto, buscar alternativas ao uso de materiais tradicionais como por exemplo o bambu, mediante o desenvolvimento de tecnologias e sistemas construtivos em BLC, o qual utiliza princípios da racionalização (Rosso, 1985; Barros, 2006), a fim de se obter um material, leve, funcional, com pegada de CO² e de baixa produção de resíduos sólidos. Este sistema é compreendido pela concepção de elementos arquitetônicos modulares, tais como o sistema wood frame, esquadrias, módulos de cobertura e sistema estrutural (pilares e vigas) a partir da fabricação de painéis

de bambu / BLC frame. Será apresentado sua aplicabilidade em um modelo construtivo racionalizado para habitações de interesse social que podem ser adquiridos por órgãos municipais ou até pelo consumidor final. O BLC (bambu laminado colado) é um material considerado leve, resistente e versátil, com adequadas características físicas e mecânicas. Ele pode substituir outros componentes em sistemas construtivos no setor da construção civil, na arquitetura e no design. Do bambu guadua conhecido popularmente como bambu gigante),(figura 1 e 2), possui um dos maiores índices de crescimento e dele e outras espécies são produzidos peças com dimensões comerciais como ripas, caibros, terças, tábuas, compensados, estas peças passam por um processo de transformação industrial, produzindo painéis BLC frame estes produzidos através de processos limpos e ecologicamente corretos, com impactos mínimos ao meio ambiente desde o cultivo do bambu e no processo de tratamento, corte e colagem realizados durante a fabricação do BLC (bambu laminado colado). O uso do bambu no Ocidente é restrito comparado com a China, Índia e Japão, principalmente por questões culturais, sendo que no Oriente o uso é milenar no seu cotidiano. Nesses países o uso do bambu não está restrito às formas naturais, mas na fabricação de BLC (bambu 15


laminado colado), pisos laminados, painéis laminados e derivados. No Brasil, o bambu é utilizado em estruturas das casas e em objetos em geral, aplicados na forma natural (colmos), vinculado às tradições indígenas e aos imigrantes orientais. Jansenn 1988. Os aspectos sociais, econômicos e ecológicos objetivado pelo desenvolvimento sustentável são necessidades atuais. Assim sendo, o IBAMA (2001), mediante suas políticas de orientação para o uso devido dos recursos naturais e de tecnologias ambientalmente saudáveis, propõe soluções práticas e acessíveis: - Processos mais eficientes e ambientalmente saudáveis; - Processos mais limpos na sua produção;

- Produz menor volume de efluentes e os tratam. Arquitetos e Designers possuem capacidades e talentos, que hoje especialmente deveriam ser prérequisitos nos produtos: o talento para combinar rigorosas considerações técnicas com fatores sociais e humanos, e da harmonia estética; a sabedoria para prever as consequências ambientais, ecológicas, econômicas e políticas provocadas pelo design; resolver problemas novos ou recém surgidos; e a capacidade de trabalhar com pessoas de diferentes culturas. GUIMARÃES 2006. Desta forma os requisitos para o “projetar” estão cada vez mais inseridos no conhecimento do uso de diferentes tecnologias, da satisfação do ser humano e de suas contribuições para o meio ambiente artificial e natural.

- Processos mais limpos na utilização de produtos; - Produtos mais limpos; - Produtos alternativos. A importância da tecnologia, como alternativa na conservação dos recursos naturais, é sempre fomentada nas discussões dos acordos multilaterais das Nações Unidas. Na conferência Mundial no Rio de Janeiro (ECO92), criou-se a Agenda 21 (IBAMA, 2006), onde definiram as tecnologias ambientais saudáveis como: - As que protegem o meio ambiente; - São menos poluentes; - Usam todos os recursos de forma sustentável; - Reciclam mais resíduos e produtos; 16


OBJETIVOS GERAIS Desenvolver um projeto residencial utilizando-se o bambu laminado colado como elemento construtivo demonstrando uma opção para questões do extrativismo de recusos minerais e matérias primas não renováveis

OBJETIVOS ESPECÍFICOS Desenvolver uma modulação para aplicação em habitações, analisar o uso do bambu laminado colado como material de vedação e propor a aplicação do BLC em forma de painéis pré-fabricados como elemento de vedação em residencias. Figura 1: Demonstrativo da forma do crescimento do bambu entouceirante (bambu guadua) e suas partes. Fonte: Partes do bambu (padovan, 2010).

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Figura 2: Demonstrativo porte das touceiras de bambu guadua. Fonte: bambuturismo.com


1 O BAMBU 1.1 PRINCIPAIS VANTAGENS No setor da construção civil as emissões de CO2 provenientes dos processos de extração de matéria prima agregados ao processo de industrialização são apresentados na tabela 1, a indústria da construção a nível mundial é o setor que mais consome matérias-primas (aproximadamente 3000Mt/ano, quase 50% a mais que qualquer outra atividade econômica. UNESCO (2018). Com o aumento da população mundial, (até ao ano 2030 espera-se que aumente mais de 2000 milhões de pessoas) as necessidades implícitas em termos de instalação de novas habitações, agrava ainda mais o consumo de matérias-primas não renováveis, e a produção de resíduos, é de suma importância a pesquisa de materiais que sejam e que ajudem a reduzir o consumo de materiais e a emissão de CO2. GASQUES (2015). DELGADO (2011), discorre que o bambu por ser uma planta de crescimento rápido, pode ser cortado ao terceiro ano de idade, enquanto que o eucalipto, uma madeira amplamente utilizada em reflorestamentos por seu rápido crescimento, demora de seis a dez anos para atingir seu ponto de colheita. Aos dez anos de idade, a touceira de bambu (Dendrocalamus giganteus) pode produzir mensalmente vinte varas de dezoito metros ou mais de comprimento, e por mais de 40 anos, enquanto espécies arbóreas demoram até 60 anos para atingir essa altura, e precisam ser replantadas após seu corte conforme apresentado na tabela 2.

É considerado por muitos especialistas, o material de construção mais sustentável que existe, podendo reduzir os gastos com materiais de construção em até 60%, além de ser renovável e seus resíduos não serem poluentes, de acordo com a organização das nações unidas, o setor da construção e edificações é responsável por 39% das emissões de CO² associadas ao consumo e a produção de energia. (ONU 2018). Na tabela 3 DELGADO (2011) faz, um comparativo entre madeira e sua função de sequestro de CO2 o bambu é um eficiente sequestrador de carbono atmosférico, sendo uma cultura predominantemente tropical, renovável, e perene, ou seja, sem a necessidade de replantio de produção anual, de rápido crescimento (colmos) o que o torna apto no desenvolvimento sustentável. Além da questão ambiental, para alcançar um desenvolvimento sustentável são necessárias mudanças: na forma de pensar, viver, produzir e consumir. O bambu além de ser renovável e seus resíduos não serem poluentes segundo o INBAR (International Network for Bamboo and Rattan), o mercado mundial de produtos feitos de bambu, avaliou em 2013 que a indústria do Bambu movimentou U$14 bilhões no ano, neste ano eles estimam que essa indústria irá movimentar aproximadamente U$60 bilhões em 2018. Este indicativo demonstra que em 5 anos a indústria de produtos de bambu cresceu 76,6%. INBAR (2018). 19


Tabela 1 - Média de emissão de CO2 de materiais em habitação unifamiliar de 33m². Material

Unid.

Quant.

Emissões(tCO2)

Alvenaria ½ vez de blocos de concreto 9x19x39cm

t

12,44

2,68

Argamassa de cimento cal e areia traço 1:1:8 para assentamento de alvenaria

t

1,33

0,41

Bloco de concreto tipo canaleta 9x19x19 (para vergas e contra-vergas)

t

0,28

0,06

Concreto 20MPa para enchimento das canaletas

0,12

0,04

Armação com 2 barras de ferro corridos diâmetro 5,0mm

t

0,04

0,02

Concreto para vigotas de laje pré-moldada p/ forro, vãos até 3,50m e espessura igual 8,0 cm

0,65

0,26

Capa de concreto fck=20 MPa 2 cm

0,84

0,31

Lajotas para Laje

t

0,87

0,11

Armadura para laje e vigotas

t

0,11

0,22

Blocos de concreto tipo calha 9x19x19cm para viga de travamento

t

0,77

0,17

Concreto 20MPa para enchimento das calhas

0,32

0,12

Armação com 2 barras de ferro corridos diâmetro 5,0mm

t

0,012

0,02

Cobertura com telhas cerâmicas tipo plana

t

2,60

0,34

Emadeiramento telhado (apoio em paredes, sem tesoura)

t

0,83

0,414

Argamassa da última fiada com cimento, cal e areia 1:2:9

t

0,04

0,01

Porta de Madeira almofadada 0,80x2,10cm, espessura 3,5 cm para pintura, incluindo marco tipo aduela e alisar 4,0x1,5 cm

0,059

0,029

Porta de madeira compensado liso 0,70x2,10 cm, espessura 3,50 cm para pintura, incluindo marco tipo aduela e alisar 4,0x1,5cm

0,051

0,026

Porta de madeira compensado liso 0,60x2,10 cm, espessura 3,50 cm para pintura, incluindo marco tipo aduela e alisar 4,0x1,5cm

m3

0,022

0,011

Paredes e painéis

Estrutura

Cobertura

Esquadrias

20


Continuação Tabela 1. Janela de abrir 2 folhas de madeira para pintura tipo veneziana/vidro, incluindo ferragens 1,00x1,20cm

0,030

0,015

Báscula de madeira para pintura, para vidro, incluindo ferragens, 0,80x0,80

m3

0,003

0,001

Báscula de madeira para pintura, para vidro, incluindo ferragens, 0,60x0,60

m3

0,002

0,001

TOTAL tCO2

5,267

Tabela 1: Demonstrativo da pegada de CO2 embutida em materiais convencionais utilizados em habitações populares, quantidades referem a uma contrução de 33M² fonte: costa (2012) Tabela 2 - Comparativo de produtividade Pinus x Eucalipto x Bambu Pinus Espécie de Árvore Ciclo Cultural - anos Produtividade - t/ha.ano 15-25 25-35 Pinus Eucalipto 7-10 30-50 Bambu 2-6 40-60 Tabela 2: Comparativo entre espécies comerciais e o bambu, o inicio de produção e o volume anual de produção. Fonte: BAMBUSC. Site da Associação Catarinense de Bambu. Disponível em : < bambusc.org.br/>. Acesso em: Setembro de 2018

Tabela 3 - Quantidade de Sequestro de tCO2.ano Espécie de Árvore

tCO2.ano

Pinus

47t

Eucalipto

63t

Bambu

80t

Tabela 3: Comparativo entre espécies comerciais e o bambu e sua caracteristica natural de absorver co2 ao longo de 1 ano. Fonte: delgado (2011)

21


Figura 3: Great (Bamboo) Wall Fonte: Jahr (2002)


1.2 O BAMBU NA HABITAÇÃO A indústria da construção vem utilizando materiais como tijolo de argila, aço e concreto, que até pouco tempo exibiam vantagens em relação a outros materiais. A preocupação em conservar o meio ambiente favoreceu, entretanto, o surgimento de novas políticas industriais que resultaram na substituição de alguns tipos de materiais. Em alguns países predominam construções préfabricadas, que vão desde o piso até à cobertura, proporcionando agilidade na execução e custo menor da obra, além do menor desgaste ambiental. Segundo relato dos autores Zhen e Xuhe (2005), há uma alta proporção de painéis de madeira sendo usada como elementos de vedação. No Japão essa proporção é 64%, nos EUA é de 47%, na Alemanha é de 41% e no Sudeste Asiático está acima de 30%. Com o aumento da demanda dos recursos naturais aumenta também a necessidade de conservarem-se as florestas e surgem opiniões favoráveis à substituição da madeira por materiais igualmente renováveis. Segundo Bansal e Prasadt (2004), os produtos à base de plásticos, metais e outros materiais que são altamente consumidores de energia e não são biodegradáveis também devem ser substituídos. Em 1988 a política nacional de floresta da índia forçou o desenvolvimento de matéria prima que substituísse a madeira, alertando que tal substituição deveria ser feita através de fibras renováveis, pois alternativas vindas de

recursos não renováveis, não seriam sustentáveis (ZHEN; XUHE, 2005). Dentro dos diversos recursos renováveis o bambu foi redescoberto pelo mundo como um material futurístico, a ser utilizado não somente na sua forma natural, mas também como produtos manufaturados. Um bom exemplo desses produtos são os painéis de bambu. Segundo Lopez (2003), todos os tipos de painéis produzidos com madeira podem ser manufaturados com bambu, utilizando os mesmos princípios e equipamentos, exceto para a produção de compensado de bambu, pois necessita maquinário específico. No desenvolvimento de projetos e na construção de habitações de interesse social, além da aplicação de diretrizes arquitetônicas para satisfazer as necessidades de conforto e salubridade de seus moradores, é essencial a redução de custos ainda visando a qualidade do produto final. Vários fatores interferem na diminuição do preço final de uma obra arquitetônica, entre eles estão o aproveitamento dos materiais sem gerar desperdícios e a facilidade de montagem que irá reduzir o tempo no canteiro de obras. Ambos podem resolver-se por meio da racionalização da construção auxiliada pela aplicação dos princípios de construção modular. A NBR 15873:2010 define coordenação modular como a “coordenação dimensional mediante o emprego 23


frame, a racionalização e tempo de construção seriam alcançados com o uso desse tipo de material. do módulo básico ou de um multimódulo”, vários estudos têm sido desenvolvidos na área de modulação de habitações projetadas com materiais convencionais como a alvenaria, o aço e a madeira, no entanto é preciso aplicar esse conhecimento a materiais e tipologias diversificadas.

A seguir projetos de referência para embasamento técnico e conceitual para a concepção do modelo proposto neste trabalho a partir da matéria prima o bambu. Figura 4: Conexões metálicas entre peças roliça de bambu e concreto, através de chumbadores parabolt, forma eficiente para montagem e desmontagem. Fonte: The German Chinese Pavilion, World Expo Shangai 2010.

O bambu roliço é um material abundante na natureza, que após de um processo de extração e tratamento pode ser aplicado na construção sem necessidade de passar por maiores transformações. Essa característica junto com as boas propriedades mecânicas de algumas espécies (como a Guadua angustifólia Kunth) tem feito que a população de alguns lugares esteja familiarizada com seu uso na construção de estruturas. E finalmente, o emprego da técnica de aplicação, é um material cujo ciclo de vida tem um menor impacto ambiental. Yebra (2014) desenvolveu uma caracterização do bambu, apontando que é um material que tem boas propriedades mecânicas, e alem disso possui características mais propicias para o ambiente, desde sua produção, até o produto final (comparando-o com o aço), mas que por causa da dificuldade que apresenta para a estandardização das peças, e a barreira cultural acaba por dificultar sua aceitação pela população brasileira.

Figura 5: Conexões metálicas entre peças roliça de bambu ligação com vigas de bambu laminado. Fonte: The German Chinese Pavilion, World Expo Shangai 2010.

Porém no caso da fabricação de peças em BLC(bambu laminado colado) com dimensões comerciais e a partir disto a construção de painéis similares ao wood 24


Figura 6 - Casa de Bambu desenvolvida pela Tonji University, Madri, Spain, 2010. Este pavilhĂŁo foi um dos finalistas no solar decathlon em 2010, sistema construtivo tem caracteristicas similares quanto ao uso do bambu nas casas de esteira e casas de pau a pique brasileiras Fonte: designboom.com

25


Figura 7: Sharma Springs, Sibang Gede, Bali, Indonesia, 2012. Tipologia de um hotel executado com peรงas dem bambu roliรงo em Bali, Indonesia Fonte: www.ibuku.com

26


Figura 8: Centro de Cultura Max Feffer em Pardinho, Brasil ( 2008) Uso misto entre bambu, aรงo e concreto, demonstrando leveza e qualidade espacial.

27


Figura 9: Estoque de placas de bambu laminado colado. Fonte: lamboo.us (2019)


2 SISTEMAS DE PAINÉIS 2.1 O BAMBU LAMINADO COLADO -BLC O bambu é um material renovável, de alta produtividade e fácil cultivo, com produção de resíduos reduzida e baixas emissões de CO2, apresentandose como uma boa alternativa para o setor construtivo, podendo inclusive, ser associado a outros materiais para ser empregado para diversos fins construtivos de decorativos.

Outro problema com o formato dos colmos do bambu está na conexão entre as peças, que quando feitas apenas com o bambu não suportam os esforços de compressão de momento presentes nestas ligações. Em bambus com diâmetros diferentes, as ligações não se ajustam, dificultando as uniões e tornando-as pouco eficientes.

Porém, o seu formato cilíndrico e as variações Compartilham da mesma opinião Barbosa e Ino (1996), dimensionais dificultam seu uso em algumas situações em que, para a utilização de peças basicamente encaixadas, que são exigidas estruturas mais homogêneas, ou peças que demandem maior precisam ou montagem, sendo a dificuldade relaciona-se com a compatibilização do necessário formatos que apresentem maior praticidade diâmetro entre as peças. de manuseio. Quando a peça é entalhada, diâmetro excessivamente Da mesma forma que por ser um material heterogêneo maior que a peça roliça, a ligação torna-se instável pela em relação a vários aspectos, como altura, conicidade, tendência de rotação entre elas, por outro lado, quando diâmetro, espessura de parede, cria certas limitações a peça entalhada possui um diâmetro consideravelmente em suas aplicações, devendo ser observadas várias menor que a roliça, a carga aplicada, na extremidade exigências para seu melhor desempenho. (BARBOSA; da peça entalhada, sofrerá fissuras, diante dessas considerações e das demais anteriormente citadas, é que INO, 1996) se justifica o uso das ripas de bambu aplainadas e coladas, Pode-se atribuir a pouca utilização do bambu, resultando no produto BLC (bambu laminado colado), a como material na indústria da construção civil, devido, constituição de seu colmo permite que ele seja de fácil entre outros, à impossibilidade da confecção de peças corte e fracionamento. estruturais com perfis comerciais, como vigas e pilares Dessa maneira, é possível um aproveitamento de seções transversais retangulares. mais racional do bambu que pode ser mais eficiente Por não apresentar uma linearidade em seus colmos, em forma de peças retangulares ou quadradas, sendo ou seja, com seções irregulares em toda estrutura, o seu estas apresentadas com formatos conhecidos como uso em soluções retilíneas torna-se difícil. ripas, caibros, tábuas, sarrafos, pranchas e dimensões 29


comerciais, possibilitando grande diversidade de usos, em estruturas, pisos, paredes, telhados, dentre outros. Dentre as várias referências pesquisadas, observouse a facilidade no seccionamento dos colmos do bambu, no sentido longitudinal, com o processo de laminação é possível esquadrejar e selecionar as lâminas que servirão a colagem e produção do BLC. A escassez dos recursos florestais tem aumentado o interesse por materiais renováveis e de baixo custo como o bambu, este que ainda possui alta taxa de produção, com diversas aplicações, produtos à base do laminado de bambu, tais como pisos, chapas, painéis, cabos de ferramentas, compensados, móveis, componentes da construção civil, entre outros, que são passíveis de exploração através do processamento do colmo, como pode ser observado nas peças estruturais na figuras 11 e 12 . A tecnologia do bambu laminado, basicamente, reduz os problemas de cisalhamento e geometria cilíndrica existente em sua forma natural, permitindo que esse material tenha utilização mais racional nos desenhos arquitetônicos e estruturais. Além disso, podem ser ponderadas outras vantagens quanto ao uso desse tipo de material composto, já que este sistema construtivo, permite a industrialização das peças de construção, tornando as praticas e com montagem ágil das estruturas, e ainda com o uso de modulo com sistema de encaixes não é necessário mão de obra especializada, apenas a elaboração do manual de montagem. Com os bambus laminados podem ser fabricados

todos os tipos de estruturas onde é feito o uso da madeira, podendo assim serem fabricados peças de diversos formatos, desde superfícies planas feita com resíduos do bambu e regulares até formas curvas com a ripas coladas. O processo depende da criação de indústria de BLC a partir do fornecimento adequado de matéria-prima, que consiste em: quantidade, qualidade do manejo, qualidade dos colmos selecionados (regularidade, diâmetro e espessura), desdobramento, pré-tratamento e secagem, colagem com colas não agressivas ao meio ambiente como o adesivo de mamona, prensagem e aplanamento em dimensões desejadas. (VASCONCELLOS, 2003). Carrasco (et. Al.,1995) aponta ainda outros fatores determinantes na produção dos laminados colados, tais como a espécie a ser utilizada a resistência do material utilizado, a quantidade de nós, a direção das fibras, a espessura e o número de lâminas, a quantidade e posição das lâminas, a dimensão e distribuição das forças na peça e principalmente as emendas longitudinais e laterais nas lâminas, que por representarem uma descontinuidade das mesmas, são um ponto de baixa resistência. Segundo Melo (2005), as emendas mais comuns são: em cunha simples (scarf joints), de topo (top joints) e dentadas (finger joints), demonstradas na figuras: 8, 9 e 10. Pereira (PEREIRA; BERALDO, 2007) realizou um estudo sobre bambus laminados colados (BLC) da espécie Dendrocalamus giganteus cultivados no campus da Unesp/Bauru. As ripas laminadas para confecção dos corpos de prova foram retiradas de colmos com três anos de idade e o mais próximo possível da casca, por ser esta a região 30


mais rica em fibras. Suas dimensões foram fixadas entre 5 e 6mm de espessura por 20mm de largura.

As ripas laminadas foram prensadas a frio com o adesivo polivinílico Cascorez 2590 durante 6 horas, com pressão de 1,5 MPa controlada por meio de um torquímetro (aparelho que confere a pressão aplicada ao material), após 24 horas de cura os corpos de prova foram submetidos a ensaios adaptados à NBR 7190:1997 para madeiras.

materiais convencionais, representando um grande avanço para indústria da construção civil, sem contar os ganhos a longo prazo com redução de impactos ambientais. O painel a ser desenvolvido nesta monografia é adaptado nos painéis de wood frame com substituição da matéria prima utilizada pelo BLC (bambu laminado colado), no próximo capítulo discorreremos sobre os painéis de wood frame.

Na Tabela 4 podemos verificar propriedades mecânicas diante de outros materiais utilizados na contrução civil, e através da razão entre massa específica e resistência a tração, flexão e tração, estes dados demonstram que de fato, o bambu apresenta grande fator resistência x leveza, e possui um grande potencial econômico, além de ser ecologicamente viável e de fácil manejo, sendo ainda, um recurso abundante em regiões tropicais e subtropicais, que permite a substituição de Tabela 4 - Características mecânicas do bambu laminado colado (BLC) Tração (MPa)

Flexão (MPa)

Compressão (MPa)

Aço CA 50 Ferro Fundido Fibras de PVC

500 250 70

550 350 41,1

434,8 700 33

Massa específica (g/ cm³) 7,86 7,70 1,45

Bambu Gigante (Dendracalamus Giganteous)

126

98,9

65,5

0,79

Material

Tabela 4: Demonstrativo das caracteristicas mecânicas do bambu frente a outros materiais. Fonte: Perry (1999);Titow (1984); PEREIRA; BERALDO (2007); Gonçalves (2000)

31


Figura 10: Ossatura estrutural wood frame. Fonte: atosarquitetura.com.br/noticias/dicas-para-quem-vai-construir-sua-casa-construcao-em-wood-frame.


3 SISTEMA WOOD FRAME (WF) Há muitos tipos de arranjos de frames que podem ser utilizados no sistema construtivo Wood Frame (WF), destacando-se o sistema de tramas horizontais (forro e piso) e placas de vedação que combatam esforços ou cargas laterais, segundo a norma americana (NDS 2012) descreve este sistema como “sistema de parede estrutural” (bearing walls system). O sistema de paredes estruturais em wood frame é constituído por peças em madeira associados (coníferas) formando um conjunto, e o mesmo pode também ser usado para constituir lajes e telhados. Esse método permite boa interação com outros materiais, como o concreto armado e/ou alvenaria em bloco de concreto (usualmente sendo a garagem ou pavimento térreo confeccionado com esses materiais, e os pavimentos posteriores são feitos em wood frame), um exemplo das estruturas utilizadas é visto na figura 12, e a forma que é aplicado as vedações é apresentado na figura 13.

Figura: 11: Sistema de trama/ossadura estrutural wood frame Fonte: www.wooduniversity.org/glossary

A dimensão minima dos montantes e travessas da trama do WF é de 38mmx89mm, estas peças fixadas com pregos ou parafusos, a distancia máxima entre montantes (verticais) é de 60cm (NDS 2012) com estes dados em mão podemos fazer uma releitura destas peças em madeira por peças fabricadas em BLC e ainda a partir da modulação estabelecida no próximo capítulo, a criação de painéis de vedação, estruturais e horizontais (piso e laje) pré-construídos para a construção de uma habitação de interesse social. Figura 12: Sistema de cobertura e vedação e alicerce Fonte: www.wooduniversity.org/glossary

33


Figura 13: Unite d’ Habitation Habitação Modular. Fonte: Le Corbusier (1952)


4 RACIONALIZAÇÃO E MODULAÇÃO 4.1 A SEQUENCIA FIBONACCI NA ARQUITETURA

0,8; 1,6; 2,4 ; 3, 5,4... Etc Utilizando esta modulação será possível obter uma construção com proporções que esboçam naturalidade, racionalidade e humanização (Figuras 14 e 15).

Um exemplo bem sucedido de utilização de sistemas modulados em edificações para a saúde são os hospitais da Rede SARAH, projetados pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Utilizando largamente a pré-fabricação em argamassa armada e estruturas em aço estas edificações possuem uma infraestrutura flexível e adaptável para soluções arquitetônicas, assim como a facilidade das instalações, que permitem uma manutenção fácil e econômica (Fig. 18). O arquiteto Lelé afirma que já utilizou os módulos de 1,10m e 1,20m, com problemas, notadamente na adoção de materiais de revestimento de piso, que são basicamente o prensado cimelamínico ou as cerâmicas tipo porcelanato. Atualmente na rede SARAH a modulação básica é de 1,25m, sendo utilizada, na Rede, peças précortadas de 62,5cm. Em relação às cerâmicas, o tamanho básico utilizado é o de 50cm, que também dificulta a adoção do módulo de 1,20m. R. Silva 2014 mostra que contudo também há uma modulação que já foi há muito estudada por matemáticos que é a sequência (Fibonacci) ou a proporção áurea que em retângulos é conhecida pela razão entre o comprimento e a largura, onde o resultado é aproximadamente o número Phi, ou seja, 1,618. Apesar do módulo não ser uma dimensão prática, assumirei a o número aproximado de 1,60m, assim uma sequência de dimensões como:

Figura 14: Volume genérico: um prisma de base retangular com eixos iguais. Forma primitiva. Fonte: VILELA 2011.

Figura 15: Investigações acerca da proporção áurea.

35


Figura 16: Posicionamento de três retângulos produto do estudo da razão áurea em forma de uma planta baixa hipotética. Fonte: VILELA (2011)

A proporção áurea em retângulos é conhecida pela razão entre o comprimento e a largura, onde o resultado é aproximadamente o número Phi (φ), ou seja, 1,618.

Le Corbusier é considerado um dos arquitetos mais importante do século XX. Le Corbusier, em uma de suas passagens pela Alemanha, encontrou com Peter Behrens, com quem discorreu sobre o número de ouro, logo após este encontro, Le Corbusier passou a estudar o Parthenon e outros edifícios da Grécia Antiga, em busca por uma padronização na proporção e uma unificação dos sistemas métricos, levou Le Corbusier a criar um novo sistema proporcional chamado de “Modulor” (figura 17), que é uma palavra composta a partir de module, ou seja, unidade de ouro: a divisão de uma reta tal que o segmento menor está para o maior assim como o segmento maior está para o todo. R.R. Silva, (2014).

Na casa dos Arcos (Lelé, 1978), apesar do módulo estrutural do projeto de Lelé (3,5 m), definido pelo vão da abóboda, não se encaixar dentro da razão áurea (o mais próximo disso seria 3,236), algumas combinações merecem destaque: A/C = 1,7 (42,50 / 25)A+B/A ≈ 1,6 (52,50/32,85)LA x 1,61 ( φ) = 52,88 ≈ A+B (52,50) Na figura 16, podemos ver a justaposição de três retângulos na configuração de uma planta baixa hipotética, sendo suas dimensões: A= 42,50x32,85m B=10x8,20m C= 25x17,60m Segundo VILELA (2011), as proporções são aproximadas aos valores obtidos através da sequência Fibonnacci ou proporção áurea.

Figura 17 : Relações entre razão áurea, sequencia Fibonacci e dimensões médias do corpo humano, deram origem ao modulor. Fonte: HUNTELEY (1985).

36


Figura 18: O desenho representa esquematicamente o sistema construtivo desenvolvido para a execução dos hospitais da Rede SARAH. O módulo (φ) utilizado mede 1,25 m, este que é repetidamente utilizado e do qual derivam as dimensões dos elementos construtivos. Observa-se a modulação do piso (peças de prensado melamínico) e das paredes (placas de argamassa armada em pares), cujos elementos tem como medida um submúltiplo do módulo (62,5 cm, metade de M). A modulação estrutural também obedece a essa medida, sendo que as distâncias entre os pilares (eixo A a eixo G e eixo 1 a eixo 4) são múltiplos do 1,25 m. Fonte: CARVALHO, A. P., & TAVARES, I. (2002).

Figura. 19 - Parte superior do corredor central do Hospital SARAH Salvador. Observa-se o encaminhamento de instalações elétricas através de calha embutida no perfil da viga metálica, onde inclusive, são fixadas luminárias e ventiladores. Dessa forma, o cabeamento tem suas dimensões atreladas à modulação estrutural, este apresentado na figura 15, o que permite maior controle dimensional em sua execução e manutenção. Fonte: CARVALHO, A. P., & TAVARES, I. (2002). módulo de 0,625

37


Figura 21: Croquis Escola Transitória Rural Abadilância, neste desenho é possivel notar que Lelé pensou inicialmente em utilizar madeira em seus módulos construtivos. Fonte: Lelé, 1982

38


5 REFERÊNCIAS PROJETUAIS Ficha técnica: Arquiteto: João Filgueiras Lima (Lelé) Ano: 1982 Área do terreno: 18475,03 m² Área Construida: 1880,37m² Tipo de projeto: Residencial Status:Construído Materialidade: Tijolo, Vidro e Concreto

Escola construida a partir de painéis, pilares vigas e pisos pré-fabricados em concreto, utilizando uma técnica conhecida como argamassa telada, a idéia inicial era deste sistema construtivo ser realizado em madeira, desta forma os módulos trariam leveza, sendo possível a instalação de novos módulos para expansão ou contrução de novas unidades com pouca mão de obra envolvida, mas pelo alto preço da matéria prima e a falta de mão de obra especializada, estes fatores agravaram para o não uso da madeira neste caso.

Figura 22: Croquis Escola Transitória Rural Abadilância Fonte: Lelé, 1982

39


Figura 23: Croquis Montagem dos Painéis Fonte: Lelé, 1982

Figura 24: Croquis Instalações Hidráulicas Fonte: Lelé, 1982

40


5 REFERÊNCIAS PROJETUAIS Ficha técnica: Arquiteto: João Filgueiras Lima (Lelé) Ano: 1978 Área do terreno: 18475,03 m² Área Construida: 1880,37m² Tipo de projeto: Residencial Status:Construído Materialidade: Tijolo, Vidro e Concreto

A residência principal situa-se em uma grande plataforma elevada, anexadas por uma cobertura abobadada do abrigo de carros. Baseada na técnica construtiva tradicional cerâmicos, a casa possui apenas pavimento térreo e modulação definida a partir dos vãos vencidos, em um sentido, pelas abóbodas de teto (3,50 m), este módulo não intencionamente remete a sequência fibonacci conforme a figura 16 , oque indica um alto conhecimento das relações entre proporções pelo arquiteto Lelé.

Figura 26: Mapa de situação Fonte: maps.google.com

Figura 25: Casa dos Arcos Fonte: Joana França, 2011

terreno área construida

41


Figura 27: Vista Casa dos Arcos Fonte: Joana França, 2011

Figura 28: Croquis de detalhamento construtivo dos arcos Fonte: JoĂŁo Filgueiras Lima, 1978.

42


5 REFERÊNCIAS PROJETUAIS Ficha técnica: Habitações Tecverde-PR Tipo de projeto: Residencial Status:Construído Materialidade: Madeira e Concreto.

Figura 29: Fachada casas germinadas, projeto é financiado pelo minha casa minha vida. Fonte: Tecverde, 2008.

Figura 30: Planta baixa e cobertura, demonstra o quão compacta pode ser uma habitação. Fonte: Tecverde, 2008.

43


6 DESENVOLVIMENTO DA MODULAÇÃO DOS PAINÉIS DE BLC

1

Figura 31: Processo de Fabricação peças de BLC, bambu laminado colado. Fonte: Próprio Autor, (2019).

44


3 2

5

6

7

1-Colheita, remoção de ramos; 2-Seccionamento dos colmos em forma de laminas; 3- Laminação para remoção da casca; 4-Tratameno por imersão; 5- Colagem através de adesivo a base de óleo de mamona e aplicação de pressão por meio de prensa; 6- Laminação para aparelhamento e conformação de acordo com as dimensões do produto final; 7- Produtos obtidos a partir do processo: Pranchas, panchões, sarrafos, caibros, pilares, ripas e vigas.

45


7 PROPOSTA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL BLC 7.1 MEMORIAL DESCRITIVO E PROPOSTA Memorial Descritivo - Tipologia Casal Sem Filhos 54,84m² e Tipologia Casal Com Filhos 94m2. Cobertura: Telhas Galvalume Onduladas e com dobras em forma de arco em uma de suas extremidades, instaladas sob treliças pratt em bambu roliço guadua charcoenses. Vedação: Realizado através da instalação de módulos pré-fabricados, através da assosiação de chapas de bambu laminado colado, caibros e vigas de BLC, estes módulos vem equipados com instalações de eletrodutos para tomadas de alimentação e iluminação e tubulação de esgoto e água fria, os módulos contam com esquadrias em aluminio e vidro, e venezianas no topo de cada módulo para melhor ventilação. Fundação: A fundação deve ser adequada para cada tipo de terreno neste terreno hipotético plano, é utilizado vigas baldrame no perimetro onde será instalado os módulos de vedação. Terreno: O local do recebimento dos módulos deve ser limpo e deve-se instalar as esperas de hidráulica, entrada de água e elétrica, após isto o terreno deve ser compactado e deve receber na área interna entre as vigas baldrame um lastro de brita.

46


Figura 32: Vista Isométrica Habitação (casal sem filhos) e seus respectivos módulos Fonte: Próprio Autor, (2019).

47


Figura 33: Vista Isométrica Habitação (casal com filhos) e seus respectivos módulos Fonte: Próprio Autor, (2019).

48


Figura 34: Perspectiva Habitação (casal sem filhos) Fonte: Próprio Autor, (2019).

49


Figura 35: Perspectiva Habitação (casal sem filhos) Fonte: Próprio Autor, (2019).

50


Figura 36: Vista Isométrica Habitação (casal com filhos) e seus respectivos módulos Fonte: Próprio Autor, (2019).

51


Figura 37: Vista Isométrica Habitação (casal com filhos) e seus respectivos módulos Fonte: Próprio Autor, (2019).

52


Modelo - CASAL S/FILHOS

A3

A2

1 : 50

2

ESCALA

_ 1

A1 3

1.645

1.000

divisa (terreno hipotético 8x20)

4

3

3

3

4.594

4.854

8.000

B1

B1 A3

A2

1.501

1.000

20.000 1.000

1.000

1

2.056

3

5.000

A1

Ramais de água fria pré-instalados nos módulos de hidráulica ( Banheiro, Cozinha e Lavandeira)

telha galvalume ondulada Furos de passagem dos tubos de espera de hidráulica

Módulo Brise Soleil (opcional) elétrodutos pré-instalados área técnica

forro trama de bambu

4

estrutura suporte reservatório

2.100

0.500

A1 ESCALA

_ 1 : 50

ESCALA

Coletores de esgoto

_ 1 : 50

Revestimento cerâmico junta minima 2mm Rejunte epoxi

Aplicação de pintura esmalte/epóxi ao longo de toda superficie externa dos painéis de BLC.

2

A3

3

A2 ESCALA

saidas de esgoto previamente instaladas no local das instalação dos módulos hidráulicos ( Banheiro, Cozinha, Lavandeira)

_ 1 : 50

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU

Prancha Técnica Planta e Cortes

FOLHA

1/ 7


B1 ESCALA

_ 1 : 50

4

3

ESCALA

Piso Superior

1 : 50

_ 1

0.809

3.036

3.036

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU FOLHA

2/ 7

1 : 50

ESCALA

Modelo - CASAL C/ FILHOS

4

4.594

1

Plantas e Cortes

3

3.25

3.25

3.25

Prancha Técnica

4.854

1.925 4.594

1.000

3.724 3.494

estrutura de suporte reservatórios de água

brise soleil de bambu (opcional)

_ 2

treliça pratt (pode ser executada com bambu roliço(não laminado)

3.63 m²

Lavanderia

13.73 m²

4

4.854 3.106

Circulação Vertical

3.94 m²

1

20.000

Room

9.32 m²

Cozinha

reservatório 500L

5

Sala Jantar/Estar

23.61 m²

telha galvalume ondulada

3

0.14

2

4

8.000 1.518

1%


1

2

V1.1

_

ESCALA

1 : 50

V1.4

_

ESCALA

1 : 50

3

V1.2

_

ESCALA

1 : 50

4

V1.3

_

ESCALA

1 : 50

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU

Prancha Técnica 5

V 2.1

_

ESCALA

1 : 50

Vistas

FOLHA

3/ 7


1

V 2.2

_

ESCALA

1 : 50

4

Perspectiva Interna 1

_

ESCALA

5

Perspectiva Interna 2

_

ESCALA

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU

Prancha Técnica 2

V 2.3

_

ESCALA

1 : 50

3

V 2.4

_

ESCALA

1 : 50

Vistas e Perspectivas

FOLHA

4/ 7


5 5 0.130

6 5

0.130

4 5 Núcleo de ar/Lã mineral

0.050

Caixa de Ar

0.809

0.200

0.040

Painel de Bambu Laminado Colado 4.594

Painel de Bambu Laminado Colado 4cm

4.854

3

Planta de Detalhe ESCALA

_

1 : 25

0.130 0.040 0.040 0.050

4

1

Corte de Detalhe A ESCALA

Detalhe 3 ESCALA

_

1 : 25

_

1 : 25

Ventilação veneziana Espuma Expansiva PU fixação de esquadrias

0.020

parafuso 8mm cabeça escariada fenda cruzada galvanizado (a cada 20cm)

0.020

Neoprene/ Silicone Cascola FT101 (aplicado previamente)

5

Detalhe 1 ESCALA

_

1:5

6

Detalhe 2 ESCALA

_

1:5

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU 2

Corte de Detalhe B ESCALA

1 : 25

_

Prancha Técnica Detalhes

FOLHA

5/ 7


+3.25 +4.06

+3.12 +3.93

+0.14

1

Módulo Vedação - H

4.5 94

4.5 94

4.8 54

_

3

ESCALA

Módulo Esquadria - H

_

2

ESCALA

Módulo Banheiro - H

_

ESCALA

4.5 94

09 0.8 1.6

4

Módulo Cozinha - H

18

_

ESCALA

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU

Prancha Técnica Módulos

FOLHA

6/ 7


+6.50

+7.18

+7.31

+6.37

+3.12

+3.25

1

Módulo Vedação ESCALA

_ +0.14

2

Módulo c/ esquadria

_

ESCALA

3

09 0.8

Módulo Circulação Vertical

_

ESCALA

18 1.6

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM BAMBU

Prancha Técnica Módulos

FOLHA

7/ 7


8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PADOVAN, R.B. O Bambu na Arquitetura: Design de Conexões Estruturais. UNESP, 2010.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) Setores da Industria <https://nacoesunidas.org/ acordodeparis. Acessado em Outubro de 2017

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ROSSO, T. Racionalização da construção. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo, 1985. 300 p. BARROS, B.R. Concepção de Elementos Arquitetônicos Modulares para Habitações de Interesse Social Abordando Aspectos Ambientais e Construtivos do Bambu. Maceió, 2006. 122 p. Monografia (Graduação) – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas. Janssen, J. J. (1988, November). The importance of bamboo as a building material. In Bamboos: Current Research, Proceedings of the Engineering and Utilization International Bamboo, Workshop, Cochin, India (pp. 1418). INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA) Tecnologias ambientalmente saudáveis. Disponível em: <http://www. ibama.gov.br/ ambtec >. Acesso em: 15 jun. 2018 GUIMARÃES, G. D. Análise energética na construção de habitações. Dissertação (Mestrado em Engenharia Nuclear e Planejamento Energético). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1985.

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54


55


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