Juventude levada em conta

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Demografia BrasĂ­lia, 2013


Governo Federal Presidência da República Secretaria de Assuntos Estratégicos Esplanada dos Ministérios Bloco O, 7º, 8º e 9º andares Brasília – DF / CEP 70052-900 http://www.sae.gov.br

Ministro Marcelo Neri Secretário Ricardo Paes de Barros Diretora Diana Grosner Direção Geral Diana Grosner Coordenação e Produção Adriana Mascarenhas Redação Marcelo Neri Ricardo Paes de Barros Diana Grosner Rosane Mendonça Adriana Mascarenhas Andrezza Rosalém Samuel Franco

Produção Estatística Samuel Franco Andrezza Rosalém Pedro Borges Griese Bárbara de Lima Moraes Revisão e Edição Rosane Mendonça Adriana Mascarenhas Adriano Brasil Projeto Gráfico/Diagramação Rafael W. Braga Gabriella Malta Fotografia Saulo Cruz Apoio Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Assessoria de Comunicação (SAE/PR) Assessoria de Comunicação (IPEA)


sumário

Apresentação

5

7. Evolução da coorte de entrada

28

1. Introdução

11

2. Crescimento acelerado e queda

13

8. Determinantes do duplo pico na entrada

30

3. Quantos são os jovens?

16

9. Sobre o duplo pico nos nascimentos

33 37 47

4. Onda jovem: A evolução do tamanho da juventude 19 5. A dinâmica da juventude

21

10. Por que o tamanho da juventude importa?

6. Os determinantes imediatos do platô

26

11. Considerações finais


4|

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Apresentação Juventude que Conta Marcelo Neri*

N

a visão da Secretaria de Assuntos Estraté-

Pororoca Jovem – A pesquisa revela que o ta-

gicos da Presidência da República (SAE/

manho da população jovem brasileira nunca foi, e

PR), não há melhor preditor disponível do

nunca será, tão grande quanto o de hoje, corres-

futuro do país que o universo das crianças e dos

pondendo a cerca de 50 milhões de pessoas na

jovens de hoje, aí incluindo as suas respectivas

faixa entre 15 e 29 anos de idade, cerca de 26%

tendências demográficas tratadas em detalhe na

de nossa população, proporção muito próxima à

presente pesquisa. A SAE/PR acaba de assumir a

média mundial. Na verdade, esses 50 milhões de

presidência da Comissão Nacional de População

jovens brasileiros em ação correspondem a um

e Desenvolvimento (CNPD), indicando Ricardo

“platô populacional” que começou em 2003 e, por

Paes de Barros para liderar os trabalhos. A pes-

força de mudanças demográficas diversas atuando

quisa aqui apresentada é a primeira realizada pela

em direções opostas, prolongará a onda até 2022,

SAE/PR após a criação da CNPD, tratando, não por

em formato de pororoca jovem. Depois de cele-

coincidência, de demografia e escolhendo o que

brarmos o bicentenário de nossa independência,

talvez seja o tema populacional mais intrigante de

o processo refluirá e a população jovem no Brasil

nosso tempo: a chamada onda jovem.

cairá a uma velocidade mais alta que a dos demais

* Ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR), presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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países, com exceção da China. O Brasil precisa

tre 16 temas, quais são suas seis – e apenas seis

aproveitar ao máximo a longa duração da pororoca

– maiores prioridades. O modelo de perguntas uti-

jovem para impulsionar suas transformações so-

lizado vem da pesquisa Meu Mundo (My World),

ciais e econômicas nas direções desejadas. Mas

levada a cabo por agência da Organização das

quais são as direções desejadas?

Nações Unidas (ONU) em diversas partes do globo, o que permite comparabilidade internacional

Não basta contar os mais jovens. Temos de fazer

dos nossos resultados. O objetivo é subsidiar a

com que os jovens contem mais. É necessário que

definição das novas Metas do Milênio (Post-2015

a juventude nos conte o que pensa e o que quer.

Development Goals).

A fim de empoderar na prática a juventude, ouvir é preciso. Não só para atender os anseios da juven-

A mais alta prioridade dos jovens brasileiros é a

tude de hoje, mas a fim de decifrar os principais

educação de qualidade: 85,2% dos brasileiros de

desafios ainda por vir do país. Os jovens são a prin-

15 a 29 anos elencaram esta opção entre as seis

cipal porta de entrada de inovações nos valores e

mais importantes dos 16 temas apresentados. Ser-

nas aspirações de cada sociedade, permitindo an-

viços de saúde (82,7%) foram a segunda opção

tecipar no tempo a formação do pensamento geral

mais apontada. Na população adulta não jovem,

da nação. Exploro aqui um pouco as mensagens

isto é, aqueles com 30 ou mais anos de idade, as

dos jovens brasileiros através de trailer da pesqui-

duas maiores prioridades são as mesmas, mas em

sa sobre aspirações e valores da juventude.

ordem invertida: saúde (86,6%), seguida de educação (80,5%). Na pesquisa mundial feita na inter-

Prioridades – Deciframos as principais priorida-

net pelas Nações Unidas, a ordem de prioridades

des em pesquisa domiciliar do Instituto de Pesqui-

se conforma com a dos jovens brasileiros.

sa Econômica Aplicada (Ipea) que foi a campo em maio de 2013, consultou mais de 10 mil pessoas,

Na sequência dos jovens, temos alimentação de

numa amostra representativa do país como um

qualidade (70,1%) como terceira menção mais

todo, e pediu para cada entrevistado escolher, en-

frequente, fechando o pódio das prioridades da

6|

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


juventude brasileira. Incidentalmente, esses três

gerações e, portanto, possíveis razões para protes-

elementos representam, no campo das políticas

tos juvenis.

públicas, os três componentes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. Governo

Vamos à análise dos números: a maior diferença

honesto e atuante aparece como a quarta priorida-

está na importância dada à educação de qualida-

de dos jovens no Brasil, com 63,5%. Na população

de (4,7% mais naqueles entre 15 e 29 anos vis-à-vis

global consultada pela internet, essa é a terceira

aqueles com 30 anos ou mais), eliminação do precon-

prioridade, seguida de oportunidades de trabalho,

ceito e da discriminação (3,6 p.p. mais), melhoria nos

que, num certo sentido, desempenha a função de

transportes e estradas (3 p.p. mais), melhores oportu-

renda do IDH – no sentido de geração de renda, ao

nidades de trabalho (3 p.p. mais), liberdades políticas

passo que alimentação de qualidade representa a

(2,4 p.p. mais), acesso a telefone e internet (1,8 p.p.

prioridade de gasto da mesma renda.

mais) e proteção a florestas, rios e oceanos (0,9 p.p. mais). A maior importância atribuída pelos jovens à

Agenda Jovem – No fundo, as agendas jovem e

educação e às oportunidades de trabalho é natural

não jovem do país não estão tão desconectadas na

nessa fase do ciclo de vida. Estudo, desemprego e

escolha de prioridades. Utilizamos a pesquisa para

busca de liberdade política são elementos marcantes

contrastar quais são as prioridades dos jovens bra-

dos jovens de muitas gerações. Elementos da nova

sileiros vis-à-vis os adultos não jovens da sociedade.

geração – isto é, dos jovens de hoje, mas não neces-

A chamada agenda jovem se refere àqueles elemen-

sariamente dos jovens de décadas passadas – são o

tos que são relativamente mais importantes para os

combate à discriminação, a defesa do meio ambiente

jovens do que para aqueles com 30 anos ou mais.

e o acesso à internet. A ênfase dada a este último ele-

Note-se que não falamos do que é prioridade para

mento, de conectividade digital, e à mobilidade urba-

os jovens, o que será tratado mais adiante, mas da

na coincide com o meio e o fim a partir dos quais os

dissonância da agenda elencada pelos jovens em

protestos de junho no Brasil inicialmente eclodiram.

relação à agenda dos adultos não jovens. Esse contraste nos permite identificar possíveis conflitos de

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 7


Agenda Jovem: Excesso de preocupação da juventude vis-à-vis demais adultos com temas específicos (em pontos de porcentagem) 6 4,75

4

3,55 3,02

3,00 2,37 1,77

principais pontos da agenda não jovem, isto é, elementos que pesam relativamente mais nas prioridades daqueles com 30 anos ou mais. Nesse caso, a agenda é acesso a alimentos de qualidade (6 p.p. menos para os jovens), melhoria dos serviços de saúde (4,7 p.p. menos), proteção contra o crime e a violência (3,4 p.p. menos), apoio às pessoas que não

8|

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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Agenda Antiga – Similarmente, podemos elencar os

-1,17

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Fonte: SAE/PR a partir de pesquisa de campo do Ipea (maio de 2013).

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Prioridades dos Jovens vis-à-vis Não Jovens

Jovens

Não Jovens

Educação de qualidade

85,2%.

80,5%

Melhoria dos serviços de saúde

82,7%

86,6%

Acesso a alimentos de qualidade

70,1%

76,1%

Governo honesto e atuante

63,5%

65,7%

Proteção contra o crime e a violência

49,0%

52,3%

Melhores oportunidades de trabalho

46,9%

43,9%

Melhoria nos transportes e estradas

40,9%

37,9%

Apoio às pessoas que não podem trabalhar

35,1%

38,0%

Acesso à água potável e ao saneamento

27,4%

28,6%

Proteção a florestas, rios e oceanos

20,1%

19,2%

Acesso à energia em sua casa

19,9%

19,1%

Eliminação do preconceito e da discriminação

19,5%

15,9%

Igualdade entre homens e mulheres

11,7%

12,5%

Liberdades políticas

10,5%

8,2%

Acesso ao telefone e à internet

10,0%

8,3%

Combater as mudanças climáticas

7,3%

7,1%

Fonte: SAE/PR a partir de pesquisa de campo do Ipea (maio de 2013).

podem trabalhar (2,8 p.p. menos), governo honesto e atuante (2,2 p.p. menos), acesso à água potável e ao saneamento (1,2 p.p. menos) e igualdade entre homens e mulheres (0.8 p.p. menos).

Como diz a música dos Titãs, jovens não querem só comida, ao passo que saúde e aposentadoria são questões que afligem mais os mais velhos. Igualdade de gênero se destaca especialmente nas faixas etárias mais avançadas, em que a população feminina, mais longeva, supera a masculina. Outros integrantes da agenda não jovem, talvez pela incapacidade de sucessivos governos endereçá-los, são violência, corrupção e saneamento básico.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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10 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


1. Introdução A juventude brasileira tem se revelado de maneira intensa nas ruas e nas redes sociais. Provou grande capacidade de articulação, criando verdadeira onda de mobilização e transformações. Deixou clara a sua vontade de participar não apenas como espectadora, mas como protagonista ou até mesmo produtora das decisões do seu país.

E

sta força jovem expõe suas demandas e

está iniciando uma série de estudos que busca

traz à tona o desafio de assegurar a oferta

saber quem é o jovem brasileiro e quais são suas

de condições e oportunidades para que es-

expectativas. Pela análise das principais questões

sas mais de 50 milhões de pessoas possam viven-

que atingem seu bem-estar presente e futuro, será

ciar plenamente a sua juventude e tomar, de forma

feita uma reflexão sobre o que estamos oferecendo

consciente, decisões que irão impactar a sua vida

e o que ainda falta oferecer para a nossa juventude.

adulta. Após longo período de indefinições e de

Serão abordados, em fascículos temáticos, aspec-

tramitação, o Estatuto da Juventude, que pretende

tos como renda, educação e trabalho.

reunir e fazer valer os direitos dessa população, foi aprovado. A legislação busca, dessa forma, indicar

O ponto de partida será conhecer a demografia da

qual deve ser o norte das políticas públicas especí-

população jovem hoje e a tendência para os próxi-

ficas para os brasileiros dos 15 aos 29 anos. E qual

mos anos, assim como compreender os fatores que

deve ser, de fato, o papel do Estado e da socie-

interferem na formação do tamanho das juventudes.

dade na satisfação das necessidades dos jovens? Conhecer quem são, ouvi-los e entender quais são

A discussão sobre o que representa o bônus demo-

as suas prioridades, o que querem e como o que-

gráfico envolve, sobretudo, a relação entre os grupos

rem, é fundamental.

etários da população. Fazer parte de um determinado grupo pode variar drasticamente ao se analisar

Com essa motivação, a Secretaria de Assuntos Es-

os números sob o ponto de vista absoluto ou relati-

tratégicos da Presidência da República (SAE/PR)

vo. Ao se olhar a curva ascendente do tamanho da

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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Gráfico 1 – Evolução da População Jovem de 15 a 29 anos: Mundo, 1950 a 2100 120 115

mundo

110

i do s

105

paíse s desen menos volv idos

pa de íse se s nv ol v

95 90

am

éric

ina

85 80

ch

População jovem (2015 = 100%)

100

75

ad

os

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70 65

BRAS

IL

60 55 50 45 40 35 30 25 1950

1960

1970

1980

1990

2000

2010

2020

2030

2040

2050

2060

2070

2080

2090

2100

ANO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nos dados populacionais e projeções da ONU.

juventude no Brasil, por exemplo, constata-se algo

O que representa, afinal, termos um grupo etário jo-

surpreendente: apesar de a sua evolução ser muito

vem tão numeroso quanto o que nós temos hoje?

parecida com a subida observada no tamanho da

Fundamentalmente, não há como pensar em cres-

juventude da América do Sul, a população jovem

cimento econômico e social e em transformação do

brasileira declinará a uma velocidade muito maior

país sem levar em consideração os nossos maiores

do que todas as outras. Como pode ser observa-

ativos, reconhecer seu potencial e particularidades.

do no Gráfico 1, mesmo nos países desenvolvidos

Investir nas novas gerações tem reflexos positivos

as demais juventudes do mundo se estabilizam

não apenas no presente dos próprios jovens, mas

em números proporcionalmente muito mais altos.

também no futuro do Brasil. Sem dúvida, a impor-

O Brasil vai enfrentar, ao que tudo indica, a maior

tância da juventude, para além dos números, é da

queda comparativa no tamanho da sua juventude.

conta de todo o país.

12 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


2. Crescimento acelerado e queda

A

o se observar a evolução da população brasileira no último século, a variação demográfica é impressionante. De 17 milhões,

em 1900, o número de habitantes passou para 170 milhões, em 2000. Esse mesmo país que em apenas cem anos multiplicou por dez a sua população, inicia o século XXI com uma taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição1, indicando que certamente iniciaremos um processo de declínio populacional antes de alcançar a metade deste novo século (Gráfico 2). 1 A taxa de fecundidade é o número médio de filhos que uma mulher teria ao final de seu período reprodutivo (entre os 15 e 49 anos de idade).

como as

transformaCões

demográficas influenciam e irão

influenciar as necessidades da juventude e sua

contribuiCão

para O País?

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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Iniciaremos um processo de declínio populacional antes de alcançar a metade deste novo século

Gráfico 2 – Evolução populacional brasileira: 1900 a 2050 250

170 Milhões

População no Brasil (em milhões)

200

150

100

50

0

17 Milhões 1900

1920

1940

1950

1960

1970

1980

ANO

1990

2000

2010

2020

2030

2040

2050

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nos dados da Directoria Geral de Estatística, 1872–1930; IBGE, Censo Demográfico 1940/2010; e IBGE, Projeção 2010–2050.

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JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Até lá, ao longo das quatro primeiras décadas do

Quais as consequências dessas mudanças demo-

novo milênio, continuaremos a crescer, ultrapassan-

gráficas para o segmento jovem da população bra-

do os 200 milhões e chegando provavelmente a 220

sileira? Em particular, quais as repercussões que

milhões de habitantes. Essa inércia demográfica re-

essas transformações tiveram, vêm tendo e terão

sulta da estrutura etária jovem do país (consequência

sobre o tamanho da juventude brasileira? Como

de altas taxas de fecundidade no passado recente).

essas transformações influenciam e irão influenciar

Graças à elevada porcentagem de mulheres em ida-

as necessidades da juventude e sua contribuição

de fértil, será possível manter a natalidade superior à

para o país? Essas são as questões centrais que

mortalidade por mais algumas décadas, a despeito

procuramos responder neste primeiro fascículo da

de uma taxa atual de fecundidade já abaixo do nível

série Juventude Levada em Conta.

de reposição.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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3. Quantos são os jovens? A definição de jovem, por trazer em sua essência conceitos que não são universais e estáticos, permite diferentes entendimentos, variáveis no tempo e de acordo com o que é estabelecido como sendo o papel da juventude em uma dada sociedade. De maneira geral, delimita-se a juventude pela saída da infância e a entrada na fase adulta.

N

o Brasil, com a aprovação em 2010 da

Entende-se por coorte de nascimento todas as

Proposta de Emenda Constitucional nº 65,

pessoas nascidas em determinado ano. A coor-

conhecida como PEC da Juventude, o ter-

te de 1977, por exemplo, é formada por todas as

mo “jovem” passa a ser incorporado ao texto da

pessoas que nasceram nesse ano3. A juventude,

Constituição Federal e a representar os brasileiros

portanto, é composta por 15 coortes. Em 2013, o

com idade entre 15 e 29 anos completos .

tamanho de cada uma dessas 15 coortes de jovens

2

variava entre 3,2 e 3,6 milhões, o que resulta em Além desse recorte amplo, a juventude também é

uma média pouco inferior a 3,4 milhões de pesso-

comumente dividida em três subgrupos: i) jovem-

as por coorte. Daí o total de 51 milhões de jovens

-adolescente, com idade entre 15 e 17 anos; ii) jo-

existentes hoje, o que representa pouco mais de ¼

vem-jovem, entre 18 e 24 anos; e iii) jovem-adulto,

(ou 26%) dos quase 200 milhões de habitantes do

entre 25 e 29 anos.

país. Esse tamanho relativo da juventude no Brasil

2 Por essa definição, o número de jovens se modifica diariamente. Assim, convencionou-se que são jovens, em dado ano, todos aqueles que tenham entre 15 e 29 anos em 1º de julho. 3 Dado que se adotou a prática de contar a população no meio do ano, torna-se mais adequado definir coorte de nascimento como sendo o grupo de pessoas que nasceram entre 1º de julho de um ano e 31 de junho do ano calendário seguinte. Ou seja, aqueles que em 1º de julho têm a mesma idade, independentemente de terem, na verdade, nascido em anos diferentes.

16 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


nos coloca muito próximos tanto da média como

Com relação aos subgrupos que compõem a juventu-

da mediana mundial (Gráfico 3). Em 2010, 26%

de, temos que o grupo dos jovens-adolescentes (15

da população mundial era jovem; em metade

a 17 anos), por ser formado por três coortes, totaliza

dos países a porcentagem de jovens era infe-

aproximadamente 10 milhões ou 20% (3/15 = ⅕) dos jovens; os jovens-adultos (25 a 29 anos), com cinco

rior a 27% e, na outra metade, mais de 27% da

coortes, totalizam 17,5 milhões ou 33% (5/15 = ⅓);

população total era jovem. Em 70% dos países,

o grupo dos jovens-jovens (18 a 24 anos) perfaz um

a juventude representa de 20% a 30% da popu-

total de 23,1 milhões ou 47% (7/15 ≅ ½).

lação total.

Gráfico 3 – Distribuição dos países do mundo segundo a porcentagem de jovens: 2010 34 33 32

30%

Jovens (porcentagem da população)

31 30 29 28 27

MEDIANA = 26,9% BRASIL

MéDIA= 25,8%

26 25 24 23 22 21

70% dos países

20%

20 19 18 17 16

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

PERCENTUAL DE PAÍSES Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nos dados populacionais e projeções da ONU.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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Hoje, temos 51 milhões de jovens de 15 a 29 anos de idade, que representam 26% da população brasileira

18 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


4. Onda jovem: a evolução do tamanho da juventude

A

evolução do tamanho da juventude brasi-

seu ápice, para declinar a partir de então (Gráfico

leira ao longo das últimas décadas, e de

4). Já não temos mais a maior juventude de tod­os

acordo com as perspectivas futuras, não se

os tempos. O número de jovens é, hoje, cerca de

apresenta de forma monotonicamente ascenden­t­e.

600 mil a menos do que o máximo alcançado em

Ao contrário, em sua trajetória recente, a juventu-

2008, quando havia 51,3 milhões de pessoas de 15

de apresenta crescimento até 2008, quando atinge

a 29 anos no país.

Gráfico 4 – Evolução do número de jovens de 15 a 29 anos: Brasil, 1980 a 2050 55

51,3 milhoes de jovens em 2008

50 2013

Jovens (em milhões)

45

40

35

30

25

20

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

2020

2025

2030

2035

2040

2045

2050

ANO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE. JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 19


No entanto, essa evolução não pode ser represen-

ritmo com que se expandiu (o tamanho da juven-

tada por um triângulo, com um pico quantita­tivo

tude se contrai em 12,5 milhões entre 2023–2042).

aguçado. De fato, o perfil da evolução da juventude se assemelha muito mais à forma de um trapézio,

Em outras palavras, a juventude, que vinha cres-

com um amplo platô ladeado por rampas (Gráfico

cendo a uma velocidade média de 600 mil por ano

5). A juventude se expandiu de maneira acentuada

até 2003, permanece essencialmente estagnada

por 20 anos (somam-se 12,5 milhões de pessoas à

entre 2003 e 2022, para voltar a declinar a partir de

juventude entre 1983 e 2002), permaneceu quase

2023 à mesma taxa – aproximadamente 600 mil ao

estagnada por outros 20 anos (2003–2022), com

ano. No intervalo entre 2003 e 2022, o tamanho da

pouco mais de 50 milhões de pessoas, para então

juventude se manterá relativamente estável, com

nos 20 anos subsequentes se contrair no mesmo

pouco mais de 50 milhões de pessoas.

Gráfico 5 – Evolução do número de jovens de 15 a 29 anos: Brasil, 1980 a 2050 55

plato 50

Milhões de jovens

12,

5m

s oe

45

s

m 12,5

40

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oe

ilh

35

30

25

20

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

ANO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

20 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

2020

2025

2030

2035

2040

2045

2050


5. A dinâmica da Juventude

P

ara investigar mudanças no tamanho da

milhões de novos adultos, e também da morte de

juventude é importante analisar seus três

0,077 milhão de jovens no ano. Como resultado lí-

determinantes imediatos. O crescimento

quido desses fluxos, a juventude declinou em 0,060

no tamanho da juventude é determinado pela dife-

milhão entre 2009 e 2010.

rença entre: i) a entrada de novos jovens, formada pela coorte que acaba de completar 15 anos; ii)

Pode-se mostrar que a mudança no tamanho da ju-

a saída de pessoas da juventude, que ocorre por

ventude num dado ano é aproximadamente igual

morte (alguns jovens morrem durante essa fase);

à diferença entre o tamanho da coorte que está

ou iii) porque uma coorte inteira completa seus 30

entrando nesse ano e o tamanho da que entrou 15

anos e transita à vida adulta.

anos antes4. Por exemplo, em 2010 entraram na juventude 3,305 milhões de pessoas; 15 anos antes

Tomemos como exemplo a juventude em 2010. Em

haviam entrado 3,375 milhões. A queda no tamanho

relação a 2009, o tamanho da juventude em 2010

da juventude de 2009 para 2010, por essa aproxi-

aumentou com a entrada de 3,305 milhões de no-

mação, seria, portanto, de 3,305 - 3,375 = -0,070

vos jovens (pessoas que acabaram de completar

milhão. O que efetivamente ocorreu foi uma queda

15 anos) e declinou em razão da saída de 3,288

de 0,060, ilustrando a validade da aproximação.

4 Ver Encarte 1, na página seguinte, para maiores detalhes sobre por que essa é uma aproximação válida.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 21


Encarte 1: Aproximando variações no tamanho da juventude Quando a mortalidade para cada uma das idades que compõem a juventude (15 a 29) não varia muito por coorte, mudanças no tamanho da juventude num dado ano podem ser muito bem aproximadas pela diferença entre o tamanho da coorte que está entrando nesse ano e o tamanho da que entrou 15 anos antes. Uma vez que a validade dessa aproximação está relacionada a certa estabilidade da mortalidade, vamos iniciar a argumentação considerando o caso em que não há mortalidade na juventude.

Ignorando a mortalidade Ignorando a mortalidade, a evolução do tamanho da

orte que está entrando e a que entrou 15 anos antes.

juventude é dada pela diferença entre o número de

Exemplificando, temos que, em 2010, entraram na

pessoas que a cada ano passam a ser jovens (com-

juventude 3,305 milhões de pessoas; 15 anos antes

pletam 15 anos) e aquelas que passam à vida adulta

haviam entrado 3,375 milhões, indicando uma queda

(completam 30 anos) nesse mesmo ano. Em segui-

de 0,070 milhão na entrada. Na ausência de mortali-

da, note que a coorte que deixa de ser jovem num

dade, essa teria sido a queda no tamanho da juven-

dado ano (completa 30 anos) é precisamente aquela

tude de 2009 para 2010. O que efetivamente ocor-

que 15 anos antes entrava na juventude (completava

reu foi uma queda de 0,060, ilustrando a validade da

15 anos). Assim, segue que, na ausência de mor-

aproximação. Cumpre ressaltar, no entanto, que essa

talidade, a variação no tamanho da juventude num

aproximação é válida mesmo quando a mortalidade

dado ano é igual à diferença de tamanho entre a co-

na juventude é considerada.

22 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Considerando a mortalidade Como já visto, quando a contabilidade completa

ao longo de seus 15 anos de percurso pela juventu-

dos fluxos é levada em consideração, o crescimen-

de (D), é igual à mortalidade no último ano das 15

to no tamanho da juventude (V) é igual à diferença

coortes que formavam a juventude no ano passado

entre a entrada de novos jovens (A), formada pela

(C). Em outras palavras, para que a aproximação

coorte que acaba de completar 15 anos, e a saída

seja exata, não é necessário que a mortalidade na

de pessoas da juventude, que ocorre ou por transi-

juventude seja nula – basta apenas que a mortali-

ção à fase adulta – aqueles que completam 30 anos

dade em um ano (último ano) das 15 coortes que

(B) – ou por morte (C). Logo, V = A - (B + C) = (A

formam a juventude (C) seja igual à mortalidade

- B) - C. Hoje, aqueles que entraram na juventude

de uma única coorte, aquela que acaba de transi-

15 anos antes (E), ou já saíram devido à mortali-

tar da juventude à vida adulta, durante os 15 anos

dade (D) ou saem nesse ano ao transitarem à vida

de seu percurso pela juventude (D). Exemplifican-

adulta (B). Portanto, o tamanho da coorte de entra-

do, em 2009 a mortalidade referente às 15 coortes

da há 15 anos é dado por: E = B + D. Assim, em

que formavam a juventude naquele ano foi de 0,077

cada ano, a diferença entre o tamanho da coorte

milhão, enquanto que a mortalidade da coorte que

que entra na juventude (A) e a que entrou 15 anos

completava 30 anos em 2010, após seus 15 anos

antes (E), nossa aproximação (V*) para o aumento

de juventude, foi de 0,087 milhão. Essa diferença

no tamanho da juventude, é dada por: V* = A - E

de mortalidade em 0,010 milhão é o que faz com

= A - (B + D) = (A - B) - D. Logo, a aproximação

que a aproximação proposta, quando utilizada, leve

proposta de V por V* é exata quando a mortalidade

a uma estimativa para a redução no tamanho da

da coorte que entrou na juventude 15 anos atrás,

juventude 0,010 maior que a realmente ocorrida.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 23


Entendendo as diferenças em mortalidade

Mas, afinal, por que essas mortalidades diferem?

em 2009 tinha 15 anos. Assim, o cálculo exato en-

Em ambos os casos estamos somando a mor-

volve computar a mortalidade ao longo de um ano

talidade em um ano de 15 coortes, cada uma no

(2009) de cada uma das 15 coortes (aquelas nasci-

momento em que tinha uma das idades entre 15

das entre 1980 e 1994) que formavam a juventude

a 29 anos. Isto é, em ambos os casos, somamos

nesse ano e que teriam de 15 a 29 anos. Quando

a mortalidade de uma coorte aos 15 anos com a

a aproximação é considerada, o que se contabiliza

de outra aos 16 anos, e assim por diante, até so-

é a mortalidade de uma única coorte – a que com-

marmos a mortalidade de uma coorte aos 29 anos.

pleta 30 anos e entra na fase adulta – durante os 15

A diferença está na escolha das coortes às quais

anos anteriores, quando realizou seu percurso pela

a mortalidade se refere. Para se obter a real varia-

juventude. Nesse caso, para se aproximar a varia-

ção no tamanho da juventude num dado ano, o que

ção no tamanho da juventude de 2009 para 2010,

se deve computar são as mortalidades específicas

obtém-se também a soma de 15 mortalidades es-

das 15 coortes distintas que formavam a juventude

pecíficas (uma para cada idade), a mortalidade da

naquele momento. Por exemplo, a variação no ta-

coorte nascida em 1980 e que em 2009 tinha 29

manho da juventude de 2009 para 2010 depende

anos: i) em 2009; ii) em 2008, quando tinha 28 anos;

da soma das mortalidades específicas (uma para

e assim por diante até xv) em 1995, quando tinha 15

cada idade) em 2009 de 15 coortes: i) a mortalidade

anos. Quando a aproximação é considerada, o que

da coorte nascida em 1980, que em 2009 tinha 29

se contabiliza é a mortalidade de uma única coor-

anos; ii) a mortalidade da coorte nascida em 1981,

te – a nascida em 1980 e que sai da juventude em

que em 2009 tinha 28 anos; e assim por diante até

2010 – durante os 15 anos anteriores a 2010 (1995

xv) a mortalidade da coorte nascida em 1995, que

a 2009), quando ela percorreu as 15 idades que for-

24 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


mam a juventude (a mortalidade dos seus 15 aos 29 anos). Em ambos os casos somamos mortalidades específicas das 15 idades que formam a juventude. A diferença está na coorte que se utiliza para calcular a mortalidade específica a cada idade. Por exemplo, os nascidos em 1989 tinham 20 anos em 2009. 5,4 mil pessoas dessa coorte morreram em 2009 (e, portanto, aos 20 anos). Essa é a contribuição da idade de 20 anos para a mortalidade total da juventude em 2009. Quando a aproximação proposta é utilizada para o cálculo da mortalidade, fixa-se a coorte que irá transitar à vida adulta em 2010, isto é, aqueles nascidos em 1980. A mortalidade aos 20 anos é, então, medida pelo número de mortes dessa coorte quando tinha 20 anos (em 2000), que foi de 6,7 mil. Como a mortalidade de jovens com 20 anos foi maior em 2000 (6,7 mil) do que em 2009 (5,4 mil), a aproximação proposta irá superestimar a mortalidade e, portanto, superestimar a magnitude da queda no tamanho da juventude.

6. Identificando os JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 25


6. determinantes imediatos do platô A grande vantagem da aproximação proposta é a

Dessa forma, se em todos os anos entrassem na ju-

disponibilidade de uma regra prática, que em mui-

ventude coortes com o mesmo tamanho, mantida a

to ajuda a interpretar a evolução da juventude. Se-

mortalidade constante, nada iria alterar o tamanho

gundo ela, o crescimento na juventude é dado pela

da juventude. A evolução do tamanho das coortes

diferença entre o tamanho da coorte que entra hoje

de entrada, contudo, não apresenta qualquer pla-

e a que entrou há 15 anos.

tô. A justificativa para o platô que observamos na evolução do tamanho da juventude deve, necessa-

Dessa forma, a juventude cresce quando a coorte

riamente, ser outra.

que entra hoje é maior do que a coorte que entrou 15 anos antes, e declina quando o inverso ocorre.

De fato, estabilidade no número de jovens que en-

A juventude permanece estável quando a coorte

tram na juventude, embora seja uma condição su-

que entra hoje é igual à que entrou 15 anos an-

ficiente, não é necessária para a ocorrência de um

tes. Assim, a juventude aumenta sistematicamen-

platô na evolução do tamanho da juventude. Basta-

te quando o tamanho das coortes na entrada está

ria que houvesse uma oscilação com período de 15

crescendo (ao menos há 15 anos), e declina quan-

anos, uma vez que o tamanho da coorte num dado

do o tamanho das coortes na entrada está decres-

momento seja igual a seu valor de 15 anos antes.

cendo (ao menos há 15 anos).

Consequentemente, caso a mortalidade permanecesse estável, não haveria nenhuma força levando

Para que o tamanho da juventude permanecesse

às mudanças no tamanho da juventude. Um exem-

estável, portanto, bastaria um correspondente platô

plo é apresentado a seguir (Figura 1).

na evolução do tamanho das coortes que entram.

26 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Figura 1 – Evolução hipotética do tamanho das coortes de entrada na juventude: evolução cíclica com duplo pico e período de 15 anos 3,8

15 anos

3,7 3,6 3,5 3,4

15 anos

3,3

15 anos

3,2 3,1 3,0

período cíclico

2,9 2,8

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

2020

2025

2030

Fonte: Simulação produzida pela SAE/PR.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 27


7. Evolução da coorte de entrada

D

as 15 coortes que a compõem, a dinâmica da juventude deriva apenas da evolução da coorte de entrada (aqueles que a cada ano completam 15 anos). Conforme o Gráfico 6 bem ilustra, a evolução da coorte de entrada apresenta um comportamen-

to cíclico com dois picos expressivos.

Gráfico 6 – Evolução da entrada da população na juventude: Brasil, 1980 a 2050 3,8

1999

3,6

2016 entrada na juventude

População (em milhões)

3,4 3,2

3,0 2,8 2,6

2,4 2,2 2,0

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

ANO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

28 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

2020

2025

2030

2035

2040

2045

2050


Conforme já ressaltado, para responder pela es-

Segundo, é indispensável que a distância entre os

tabilidade no tamanho da juventude, não basta

picos (período da oscilação) seja muito próxima a

que a coorte de entrada exiba um movimento cí-

15 anos. Também nesse aspecto a oscilação ocor-

clico com um duplo pico. Duas outras condições

rida casa com essa condição necessária. O primei-

são também indispensáveis. Primeiro, é necessá-

ro pico ocorre em 1999, e o segundo deverá ocor-

rio que os picos sejam de magnitude similar, e os

rer em 2016, portanto, 17 anos depois.

ocorridos em boa medida o são. No primeiro pico, somamos 3,7 milhões de novos jovens; no segun-

É esse movimento das coortes de entrada na ju-

do, 3,5 milhões.

ventude (cíclico com período próximo a 15 anos) que induz o platô observado na evolução do tamanho da juventude.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 29


8. Determinantes do duplo pico na entrada Quais as forças responsáveis por esse movimento cíclico com dois expressivos picos no tamanho das coortes de entrada na juventude?

A

população aos 15 anos é a diferença entre

Como é possível observar no Gráfico 7, a redu-

o número de nascimentos 15 anos antes e

ção na taxa de mortalidade na pré-juventude é

a mortalidade na pré-juventude. Os novos

contínua, declinando em 2,5 por mil por ano entre

jovens, que entraram na juventude em 2013 (3,4

1980 e 2000. A partir de 2000, essa taxa de re-

milhões), são os nascidos em 1998 (3,6 milhões),

dução declina para 1,0 por mil por ano, pelo me-

exceto aqueles que morreram antes de completar

nos até 2020. Uma simulação em que a taxa de

15 anos (0,2 milhão).

mortalidade na pré-juventude permanece inalterada mostra que, ainda assim, o mesmo com-

Assim, a formação do duplo pico pode ocorrer em

portamento cíclico da entrada na juventude seria

duas situações polares: i) a evolução do número

observado. Portanto, a ciclicidade da entrada na

de nascimentos tem um comportamento cíclico e a

juventude decorre diretamente da evolução dos

mortalidade tem uma evolução monotônica neutra,

nascimentos – que, de fato, tem um comporta-

ou ii) os nascimentos apresentam uma tendência

mento cíclico com um duplo pico.

monotônica, mas a taxa de mortalidade na pré-juventude apresenta uma evolução cíclica.

30 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Gráfico 7 – Evolução da taxa de mortalidade na pré-juventude: Brasil, 1980 a 2035 100

Número de mortos por mil nascidos vivos

90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

2020

2025

2030

2035

ANO DE NASCIMENTO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

O número de nascimentos no país cresce até 1984,

A evolução dos nascimentos é, portanto, marca-

quando atinge seu maior valor histórico, muito pró-

da por um duplo pico. Como seria necessário, os

ximo a 4 milhões5 (ver Gráfico 8). Uma década após

picos são de magnitude similar e encontram-se a

o pico em 1984, o número de nascimentos para de

cerca de 15 anos de distância um do outro (17

decrescer, voltando a crescer até atingir um novo

anos, para ser exato). É essa oscilação no número

pico (agora local) em 2001, com 3,6 milhões. A par-

de nascimentos que determina a correspondente

tir desse momento, o número de nascimentos pas-

oscilação no número de entrantes na juventude

sa a declinar de forma acentuada (2,5% ao ano).

(15 anos mais tarde), sem a qual não haveria um platô na evolução do tamanho da juventude.

5 Nunca no Brasil chegamos, e nunca deveremos chegar, à marca de 4 milhões de nascimentos num mesmo ano.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 31


Gráfico 8 – Evolução do número de nascimentos: Brasil, 1980 a 2050 4,5

1 pico

4

2 pico

População (em milhões)

3,5

3

NA

SC

2,5

IME

NTO

2

S

1,5

1

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

ANO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

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JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

2020

2025

2030

2035

2040

2045

2050


9. Sobre o duplo pico nos nascimentos

O

número de nascimentos em cada ano re-

No que diz respeito à evolução do número de

sulta do produto entre i) o número de mu-

mulheres em idade fértil (15 a 49 anos), observa-

lheres em idade fértil (15 a 49 anos) na-

-se uma tendência contínua de aumento, ao me-

quele ano e ii) o número de filhos que se espera

nos até 20257 (ver Gráfico 9). É verdade que a

que essas mulheres tenham nesse ano (taxa de

taxa de crescimento é nitidamente decrescente,

fecundidade) . Dessa forma, ciclos e picos no nú-

mas a queda nessa taxa é também claramente

mero de nascimentos decorrem da interação das

monotônica.

6

trajetórias dessas duas variáveis.

6 Como o número esperado de filhos ao longo do período fértil da mulher varia de forma sistemática e significativa, são utilizadas taxas específicas de fecundidade para cada idade. 7 Espera-se que o número de mulheres em idade fértil no Brasil atinja um pico (de 57,1 milhões) em 2024, permanecendo próximo a 57 milhões ao longo de toda a década de 2020 a 2030.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 33


Gráfico 9 – Evolução do número de mulheres em idade reprodutiva (de 15 a 49 anos): Brasil, 1980 a 2050 70,0

60,0

População (em milhões)

50,0

Número de mulheres em idade reprodutiva (15 a 49 anos)

40,0

30,0

20,0

10,0

0,0

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

2020

2025

2030

2035

2040

2045

2050

ANO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

A evolução da taxa de fecundidade mostra uma

volta a acelerar a partir de 2000. Portanto, ao con-

queda contínua. Entretanto, um olhar mais cuida-

trário da taxa de crescimento do número de mulhe-

doso sobre a sua trajetória (ver Gráfico 10) reve-

res em idade fértil, que declina de forma monotô-

la que, apesar de estar em processo contínuo de

nica, a taxa de declínio na fecundidade oscila de

redução, essa queda desacelera nos anos 1990 e

forma acentuada.

34 |

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Gráfico 10 – Evolução da taxa de fecundidade total: Brasil, 1980 a 2050 5,0 4,5

Número de filhos por mulher

4,0 3,5 3,0

Número médio de filhos por mulher durante o período reprodutivo (15 a 49 anos)

2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

2020

2025

2030

2035

2040

2045

2050

ANO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

O número de nascimentos é, portanto, o produto

taxa de variação. Quando o crescimento no núme-

de um fator que cresce (mulheres em idade fértil)

ro de mulheres em idade fértil é mais intenso que a

e outro que declina (taxa de fecundidade), confor-

queda na taxa de fecundidade, a natalidade cres-

me pode ser observado no Gráfico 11. O resultado

ce; quando a queda na taxa de fecundidade é mais

final irá, portanto, acompanhar o fator com maior

intensa, a natalidade decresce.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 35


De 1985 a 1995, o número de mulheres em idade

to nos nascimentos. A partir de 2000, a taxa de fe-

fértil cresceu 2,5% ao ano, enquanto a fecundida-

cundidade volta a declinar a taxas elevadas (3%),

de declinava 3,0% ao ano, resultando numa queda

muito acima da taxa de crescimento no número de

nos nascimentos. Já na segunda metade dos anos

mulheres em idade fértil, levando a um novo de-

1990, a taxa de fecundidade passou a declinar

clínio no número de nascimentos. Agora, pelo que

apenas 1% ao ano, com o número de mulheres em

tudo indica, o declínio será definitivo, uma vez que

idade fértil continuando a crescer a taxas acima de

o número de mulheres em idade fértil já cresce mui-

2% ao ano. O resultado foi que essa desaceleração

to lentamente e, em pouco mais de uma década,

na queda da fecundidade causou um novo aumen-

irá começar, também, a declinar.

Gráfico 11 – Evolução da taxa de crescimento anual do número de mulheres em idade fértil e da taxa de decrescimento da fecundidade total: Brasil, 1980 a 2050 4,5 4,0

fecundidade total

3,5

Taxa de variação anual (%)

3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5

mulheres de 15 a 49 anos

0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

ANO Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

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JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

2020

2025

2030

2035

2040

2045

2050


10. Por que o tamanho da juventude importa?

10.1. O que significa ser “grande”? Por vinte anos (2003–2023) o Brasil contará com

Em que medida fazer parte de um grupo matema-

uma população jovem de mais de 50 milhões. Nun-

ticamente maior é preferível ou não? Esta é uma

ca o país contou com uma população jovem tão

questão que se encontra na raiz do debate sobre

expressiva e, mantidas as tendências demográfi-

população e desenvolvimento, e uma resposta ma-

cas, tampouco irá contar no futuro. Mas, afinal, o

niqueísta não satisfaz. Ser a maior juventude de to-

tamanho da população jovem tem alguma impor-

dos os tempos tem suas vantagens, mas também

tância para o país e para os próprios jovens, em

traz consigo algumas desvantagens.

particular? Antes de analisarmos as vantagens e desvantaCertamente o tamanho de uma coorte importa para

gens de ser “grande”, é importante ressaltar que

o seu desenvolvimento e bem-estar. Na verdade,

existem diversas formas de definir “grande”. Duas

como diferentes coortes convivem juntas em famí-

merecem particular atenção. Conforme já ressalta-

lias e comunidades, trabalham juntas e se apoiam

do, em 2008 o Brasil tinha o maior número de jovens

mutuamente por amplas redes de solidariedade

de toda a sua história. Nunca tivemos nem nunca

(governamentais e não governamentais), o tama-

teremos tantos jovens como nesse ano. Essa é uma

nho de cada uma acaba por influenciar o desenvol-

noção absoluta de grandeza.

vimento e o bem-estar de todas elas.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 37


Em 2008, no entanto, a porcentagem de jovens não era a maior da história. De fato, enquanto em 2008 os jovens representavam 26% da população brasileira, 25 anos antes a população jovem representava mais de 29% da população. Em termos relativos, a população jovem brasileira alcançou seu pico em 1983.

10.2. Disponibilidade de fatores

Ser a maior juventude tem suas vantagens, mas também traz consigo algumas desvantagens

No trecho que se segue, argumentamos que as

tre países com a mesma população, dependem da

vantagens e desvantagens da magnitude da juven-

disponibilidade de recursos naturais, nível tecno-

tude estão sempre relacionadas ao seu tamanho

lógico e capital humano dado, por exemplo, pelo

em relação à disponibilidade de outros fatores, sen-

nível de educação da população adulta.

do a população em outras faixas etárias apenas um destes fatores. Se, por um lado, não se pode com-

Na sequência, buscamos identificar as vantagens

parar o tamanho absoluto da juventude em dois pa-

e desvantagens da magnitude da juventude, levan-

íses com populações muito distintas, também não

do em consideração seu tamanho relativo a uma

se pode ignorar que as vantagens e desvantagens

série de outros fatores, inclusive (mas não exclusi-

de juventudes de diferentes tamanhos, mesmo en-

vamente) o tamanho da população nacional.


10.3. Ganhos crescentes e decrescentes com o tamanho Em termos gerais, a resposta é muito simples: tudo depende de termos ganhos crescentes ou decrescentes com o tamanho. Quando os ganhos são crescentes, a contribuição de um aumento na população será superior à contribuição média da população preexistente. Nesse caso, um aumento na população irá elevar a contribuição média. Quando os retornos são decrescentes, a contribuição de um aumento na população será inferior à contribuição média da população preexistente, levando a uma queda na contribuição média. Contudo, as pessoas agem e interagem em diversas áreas, e nada garante que os ganhos crescentes ou os retornos decrescentes dominam o cenário de forma uniforme em todas essas áreas. Daí decorre que tamanho, em alguns casos, traz vantagens, e em outros, traz desvantagens. O que ocorre é que em algumas áreas sobressaem os ganhos crescentes, enquanto que em outras dominam os retornos decrescentes. A questão, então, é o que determina a presença de ganhos crescentes ou decrescentes. Em que situações os ganhos são crescentes e em quais são decrescentes?

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 39


10.4. Disponibilidade de fatores Também nesse caso a resposta geral é simples.

des de especialização, com consequentes ganhos

A população, e a população jovem em particular,

de produtividade, entre outros.

é apenas um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento. Portanto, ganhos crescentes ou

Da mesma forma, num país com uma ampla popu-

decrescentes de um aumento populacional (na ju-

lação economicamente ativa, mas com uma juven-

ventude) irão depender da disponibilidade desses

tude diminuta, pode haver retornos crescentes as-

outros fatores. Numa área rica em recursos natu-

sociados a aumentos no número de jovens. Nessa

rais, muito pouco povoada, deve-se esperar que

sociedade existirá maior espaço fiscal para investi-

aumentos populacionais acarretem ganhos de es-

mentos na juventude, mas também maior escassez

cala vinculados à maior aglomeração e possibilida-

de mão de obra jovem.

10.5. Aglomeracão, especializacão e vantagens do tamanho Em sociedades com poucos jovens existem os

serviços públicos e privados. Pode permitir a ex-

mais diversos ganhos de escala decorrentes das

pansão da oferta de serviços específicos para a

possibilidades de maior aglomeração e especiali-

juventude (por exemplo, dar escala e permitir a

zação. Por exemplo, numa comunidade com pou-

instalação de uma instituição de ensino técnico e

cos jovens e ampla oferta de educação superior,

tecnológico na comunidade, ou a oferta de even-

um aumento no número de jovens permite ampliar o leque de cursos oferecidos (ganhos de aglomeração que permitem a especialização) e aumentar a interação e a troca de ideias entre alunos, aumentando o aprendizado. Em termos mais gerais, um maior contingente de jovens pode viabilizar uma oferta mais variada de

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JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

Um maior contingente de jovens pode viabilizar a expansão da oferta de serviços específicos


tos culturais de interesse específico da juventu-

às necessidades específicas desse grupo. Uma

de) e também ampliar o leque de oportunidades

maior juventude permite, pela maior aglomera-

de interesse de todos, e da juventude em parti-

ção, um melhor casamento de interesses, tornan-

cular (maior variedade nas oportunidades de en-

do possível a formação de grupos de interesse

tretenimento e cultura, por exemplo). Uma maior

mais específicos. Esses são alguns exemplos de

juventude também pode fortalecer sua capacida-

como o tamanho pode permitir que ganhos de

de de reivindicação, e, com isso, os gastos pú-

aglomeração e especialização possam ser apro-

blicos e programas sociais darem maior atenção

veitados.

10.6. Congestionamento e desvantagens do tamanho Da mesma forma como a abundância de outros fa-

namento são os mais variados. Essas perdas são

tores pode trazer vantagens a uma expansão da

evidentes no mercado de trabalho. Em uma eco-

juventude, a escassez pode ter exatamente o efeito

nomia com oferta limitada de postos de trabalho,

contrário, precisamente pelos mesmos canais. Um

quanto maior a juventude, maior a concorrência pe-

crescimento populacional acentuado numa área

los limitados postos existentes e, por isso, maior a

com escassos recursos naturais pode dificultar

taxa de desemprego e menores as remunerações.

melhorias nas condições de vida, da mesma forma que expansões no tamanho da juventude, na presença de escassez de serviços e oportunidades, podem ter impactos deletérios, em particular sobre

A expansão da juventude pode, por outro lado,

os jovens. Nesse caso, a expansão da juventude

acirrar a concorrência

irá acirrar a concorrência por recursos escassos e

por recursos escassos

trazer perdas devido ao congestionamento. Os canais para essas perdas ocorridas em função

e trazer perdas devido ao congestionamento

da exacerbação da concorrência e do congestio-

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 41


Num ambiente de limitada oferta de serviços públi-

alunos ao restrito número de professores. O tama-

cos, um maior número de jovens significa a com-

nho da juventude pode ser particularmente crítico

petição de muitos por poucas vagas. Num país

em momentos em que o orçamento público mos-

ou comunidade com limitada oferta de educação

tra-se restrito. Nesse caso, com vistas a acomodar

superior, quanto maior a juventude, maior a dificul-

um orçamento limitado a uma maior juventude, a

dade do processo de entrada na universidade, ou

quantidade ou a qualidade dos serviços terá que

maiores as salas de aula e menor o acesso dos

ser devidamente ajustada.

10.7. Transferências intergeracionais Embora a escassez de todo tipo de fatores possa

O seguinte exemplo nos permite ilustrar essa afir-

dificultar a acomodação de uma juventude maior,

mação. Considere uma sociedade com 150 mi-

um dos mais importantes é a população em outras

lhões de pessoas, formada por pessoas economi-

idades. Parte da juventude não é economicamente

camente ativas e inativas (dependentes), em que a

ativa, e a parte que se encontra ativa ainda não

regra de solidariedade é definida por meio de uma

atingiu seu período de maior produtividade. Assim,

transferência de recursos da população ativa para

os serviços e as oportunidades a que a juventu-

os seus dependentes, via mecanismos públicos e

de tem e precisa ter acesso ainda são em gran-

privados, da seguinte forma: a arrecadação (im-

de medida subvencionados pelas coortes adultas.

postos e transferências privadas) deve levar a um

No mundo moderno, o desenvolvimento e bem-es-

montante fixo de R$ 300 bilhões mais uma parcela

tar da juventude ainda depende de transferências

variável de R$ 2.000 por pessoa economicamente

intergeracionais. Nesse contexto, ser parte de uma

ativa contribuindo. Os recursos arrecadados serão

juventude numerosa (beneficiários das transferên-

divididos igualmente entre os inativos. Uma carac-

cias) num país com poucos adultos (doadores)

terística dessa regra merece destaque: devido ao

deve ser pior do que pertencer a uma juventude

componente fixo da arrecadação (R$ 300 bilhões),

pequena num país com muitos adultos.

o grau de solidariedade da população ativa, dado

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JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

| 43


pela contribuição média, é tão maior quanto menor

te irá receber o mesmo montante com que deve-

for a população economicamente ativa. De fato, se-

rá contribuir na sua fase economicamente ativa.

gundo essa regra, a contribuição por pessoa ativa

As transferências intergeracionais são, portanto,

é dada por R$ 2.000 + R$ 300 bilhões/pessoa ativa.

balanceadas.

Assim, quanto maior o tamanho da população ativa, menor a contribuição per capita.

Coortes de tamanho variável

Nosso objetivo é ilustrar que coortes maiores ten-

Consideremos agora o caso em que o tamanho da

dem a contribuir mais e se beneficiar menos da

coorte flutua. Uma coorte grande, com 100 milhões

solidariedade intergeracional, com o oposto ocor-

de pessoas, é antecedida e seguida por coortes

rendo com coortes menores.

menores, de 50 milhões. Com vistas a simplificar a argumentação, suponhamos que essa alternância

Coortes de tamanho constante

prossegue indefinidamente.

Iniciamos analisando o impacto distributivo dessa

Iniciemos analisando as transferências intergera-

regra em uma sociedade onde, coorte após coorte,

cionais no momento em que o grupo economica-

o número de pessoas ativas é igual ao de depen-

mente ativo é o menor (i.e., formado por 50 milhões

dentes. Nesse caso, como a população total é de

de pessoas) e o dependente composto por 100 mi-

150 milhões, cada grupo terá um total de 75 milhões

lhões de pessoas. Nesse momento, em decorrên-

de pessoas. Seguindo a regra proposta, a arreca-

cia de uma menor população ativa, a arrecadação

dação geral será de R$ 300 + R$ 2 x 75 = R$ 450

geral será um pouco menor, R$ 300 + R$ 2 x 50

bilhões. Dessa forma, como existem 75 milhões de

= R$ 400 bilhões (no caso de coortes de mesmo

pessoas ativas, caberá a cada uma contribuir com

tamanho, a arrecadação era de R$ 450 bilhões).

R$ 6.000. Como o número de pessoas inativas é

Mesmo assim, como a população ativa é de ape-

igual ao das ativas, cada inativo irá também receber

nas 50 milhões, a generosidade de cada pessoa

serviços e benefícios no valor de R$ 6.000. Se esse

deverá ser maior, R$ 8.000 (no caso de coortes de

sistema continuar a se reproduzir, cada dependen-

mesmo tamanho, a contribuição era de R$ 6.000).

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JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Como o número de pessoas inativas é agora muito

irá transferir para a coorte pequena R$ 500 bilhões

maior (100 milhões), cada uma irá receber serviços

e receber da pequena apenas R$ 400 bilhões. As-

e benefícios num valor bem menor, R$ 4.000 (no

sim, dada essa regra, ocorrerá uma transferência

caso de coortes de mesmo tamanho, cada uma re-

líquida de R$ 100 bilhões da coorte grande para a

cebia R$ 6.000).

pequena.

Consideremos agora o momento em que a maior

Do ponto de vista da coorte pequena, a visão des-

coorte é economicamente ativa. Nessa situação,

sa contabilidade intergeracional é oposta. Cada

o grupo ativo passa a contar com 100 milhões de

membro da coorte pequena irá contribuir com R$

pessoas e o grupo inativo passa a ter apenas 50

8.000 quando ativo e receber R$ 10.000 quando

milhões de pessoas. A arrecadação é a maior dos

inativo. No agregado, a coorte pequena irá transfe-

casos analisados, passando para R$ 300 + R$ 2

rir para a grande R$ 400 bilhões e receber R$ 500

x 100 = R$ 500 bilhões. Graças ao maior tamanho

bilhões. Portanto, como já visto na contabilidade

da população ativa, a generosidade da contribui-

anterior, dada a regra adotada, deverá ocorrer uma

ção de cada um declina para R$ 5.000. No entanto,

transferência líquida de R$ 100 bilhões da coorte

como o número de dependentes é agora bem me-

grande para a pequena.

nor, cada um irá receber serviços e benefícios num valor bem maior, R$ 10.000.

Balanço

Conclusão Esse exemplo ilustra como, num ambiente de solidariedade intergeracional, ser uma coorte grande

Podemos agora, então, analisar se as transferên-

seguida e antecedida por coortes menores pode

cias intergeracionais permaneceram neutras num

ser desvantajoso do ponto de vista distributivo.

ambiente em que o tamanho das coortes flutua.

Mesmo um sistema que seria distributivamente

Iniciamos com a contabilidade vista pela maior

neutro, com ausência de flutuações no tamanho

coorte. Cada membro dessa coorte irá contribuir

das coortes, torna-se distributivamente desfavorá-

com R$ 5.000 quando ativo e, quando inativo, irá

vel para as coortes grandes quando o tamanho das

receber R$ 4.000. No agregado, a coorte grande

que a sucedem é variável.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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Nesse caso, o sustento de cada um dos dependentes acontece no momento em que muitos outros também precisam. A atenção despendida, portanto, precisa ser compartilhada entre muitos. É esperado nessa situação que a carga sobre a população economicamente ativa seja mais pesada, e menor a atenção recebida por cada dependente. Já na situação contrária, quando uma coorte grande encontra-se em sua fase mais produtiva, existirão poucos que demandarão atenção, de tal forma que será mais fácil para cada pessoa ativa oferecer o que for necessário.

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JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


11. Considerações finais

T

emos a maior juventude de todos os tempos,

formavam a pré-juventude brasileira – a maior da

estabilizada no patamar de 50 milhões de

história, com pouco mais de 52 milhões de pes-

pessoas há uma década. Mantidas as ten-

soas. Em termos relativos, no entanto, esse grupo

dências demográficas históricas, a juventude deverá

de coortes não representa o maior peso na pré-

permanecer nesse patamar por praticamente mais

-juventude nem na juventude. De fato, em relação

uma década. Ao final dessa década, no entanto, terá

ao tamanho da população brasileira, a maior pré-

início um processo de queda acentuada. Assim, de-

-juventude e a maior juventude são formadas pelos

pois de quase 20 anos estabilizada em 50 milhões

pais e mães desses jovens, que nasceram cerca

de pessoas, a juventude deverá perder mais de 15

de 25 anos antes.

milhões de pessoas até 2050. Mantidas as tendências demográficas, as perspecEmbora o tamanho da juventude tenha variado

tivas para o percurso dessas coortes ao longo da

muito pouco ao longo da última década e não deva

vida adulta serão ainda mais notáveis. Quando tive-

variar muito ao longo da próxima, seu pico ocorreu

rem de 30 a 45 anos, assim como quando tiverem de

próximo a 2005, quando existiam no país 51 mi-

45 a 60 anos, elas irão representar simultaneamen-

lhões de jovens. A juventude em 2005 era aquela

te o maior contingente absoluto de trabalhadores

formada pelas coortes nascidas entre 1976 e 1990.

de todos os tempos e o maior contingente de traba-

Essas não são apenas as coortes brasileiras que

lhadores relativo à população brasileira. Portanto, o

irão conter a maior juventude de todos os tempos;

país terá o maior número de trabalhadores de sua

elas são também aquelas responsáveis pelo maior

história, tanto em termos absolutos como relativos,

número de nascimentos. Antes de serem jovens,

durante a fase adulta mais produtiva dessas coortes.

isto é, 15 anos antes (em 1995), essas coortes

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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Surpreendentemente, no entanto, devido a uma taxa de mortalidade superior à das coortes que a sucedem, esses que serão a maior coorte de trabalhadores não sobreviverão para ser o maior grupo de idosos do país. Nem em termos absolutos, nem em termos relativos: não formarão o maior grupo de 65 a 80 anos. Na verdade, o maior grupo de idosos de todos os tempos será formado pelos filhos e filhas dessa coorte, aqueles nascidos 20 a 25 anos mais tarde. Assim, os nascidos entre 1976 e 1990 magnificamente representam o percurso e os dilemas

Depois de quase 20 anos estabilizada em 50 milhões, a juventude deverá perder mais de 15 milhões de pessoas até 2050

da atual juventude brasileira em sua sucessão de máximos (ver Gráficos 12 e 13): i) Respondem pelo maior volume absoluto

iv) Irão formar o maior grupo de trabalhadores

de nascimentos que o país já teve ou terá;

adultos que o país jamais terá, tanto em nível

ii) Formam, em termos absolutos, tanto a maior pré-juventude (0 a 14 anos) como

v) A despeito de todos esses seus máximos,

também a maior juventude (15 a 29 anos)

essas coortes, ao final da vida, deixarão de

de todos os tempos;

representar o maior número de idosos, seja

iii) Em termos relativos, não formam as maio-

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absoluto como relativo;

em termos absolutos ou relativos; e

res pré-juventude e juventude. No entanto,

vi) Devido à queda na mortalidade, o maior nú-

são filhos e filhas das coortes que alcan-

mero de idosos, seja em termos absolutos ou

çaram essas marcas;

relativos, será alcançado por seus filhos.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Gráfico 12 – População em cada faixa etária por grupo de coortes de nascimento 56 54 52 50 48

30-44

População em milhões

46 44 42

0-14

40 38 36

15-29

45-59

coortes jovens em 2025

34 32 30 28 26 24 22 20

coortes jovens em 2005 65-79

1951-65 1956-70 1961-75 1966-80 1971-85 1976-90 1981-95 1986-00 1991-05 1996-10 2001-15 2006-20 2011-25 2016-30 2021-35 Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA

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Gráfico 13 – Porcentagem da população total em cada faixa etária por grupo de coortes de nascimento 56 54 52

Porcentagem da população total

50 48

0-14 coortes jovens em 1980

46 44 42 40 38

15-29 30-44

36 34

45-59

32 30 28 26 24

65-79

coortes jovens em 2005

coortes jovens em 2025

22 20

1946-60 1951-65 1956-70 1961-75 1966-80 1971-85 1976-90 1981-95 1986-00 1991-05 1996-10 2001-15 2006-20 2011-25 2016-30 2021-35 Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas projeções do IBGE.

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JUVENTUDE LEVADA EM CONTA – DEMOGRAFIA


Que desafios essas coortes colocam para si, para

de realizar na vida adulta tanto por si e pelo país

a sociedade brasileira e para as políticas públicas!

quanto as que hoje são jovens. Permanecem em

Que empreendimento têm pela frente! Como se so-

aberto questões importantes, como: em que medi-

lidarizar e efetivamente apoiá-las nesse difícil em-

da as políticas públicas atuais garantem as condi-

preendimento?

ções e as oportunidades que essas coortes tanto necessitam para enfrentar o histórico desafio que

Esse que será o maior grupo de trabalhadores bra-

têm pela frente? O desenho dessas políticas públi-

sileiros não mereceria na infância e na juventude

cas encontra-se efetivamente adequado às neces-

a melhor educação que se poderia oferecer? Em

sidades da população jovem? Em que medida a

preparação para o seu trabalho na vida adulta, não

política atual encontra-se à altura?

seria vital realizar os maiores investimentos possíveis em máquinas, equipamentos e infraestrutura,

Garantir que essas coortes (e as que irão sucedê-

e a maior incorporação possível de novas tecnolo-

-las) tenham – no momento e com o desenho ade-

gias? Afinal, não seria fundamental garantir que o

quado, em quantidade e qualidade – o apoio, as

maior contingente de trabalhadores tivesse acesso

condições e as oportunidades de que tanto neces-

aos melhores postos de trabalho que se poderia

sitam e merecem irá requerer substancial esforço

oferecer? Qual o sistema de aposentadoria que se

do governo (local, estadual e federal) e ampla co-

pretende oferecer à maior coorte de trabalhadores

laboração do setor privado. A efetividade do dese-

que não irá sobreviver para ser a maior coorte de

nho e operação das ações voltadas para a juventu-

idosos? Como preparar e focalizar o sistema de

de depende da mais plena utilização da evidência

saúde para atender às necessidades específicas

empírica e do conhecimento científico disponíveis.

dessas coortes?

O objetivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República com a série Juventu-

Neste caderno constatamos que o Brasil tem hoje a

de Levada em Conta é facilitar a todos (gestores e

maior juventude de sua história e que irá constituir,

jovens, em particular) o acesso a informações vi-

em menos de 25 anos, a maior força de trabalho de

tais para o desenho e operação de ações eficazes

todos os tempos. Poucas coortes terão a missão

voltadas para a juventude.

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