Uma História Original

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Rosane Pamplona





Uma hist贸ria original


Escola Superior de Propaganda e Marketing Curso de Graduação em Design com Habilitação em Comunicação Visual e Ênfase em Marketing Projeto Integrado do 3º semestre Projeto III - Cultura e Informação - Prof. Dr. Marcello Montore e Prof. Luciano Cardinali Língua Portuguesa III - Profª. Regina Ferreira da Silva Produção Gráfica - Prof. Antônio Celso Collaro

L 36p

PAMPLONA, Rosane Uma história original, Rosane Pamplona, Ilustrado por Flora Tortorelli Canal São Paulo, SP, ESPM, 2011 Orientador: Prof. Dr. Marcello Montore Projeto integrado do curso de graduação em Design Escola Superior de Propaganda e Marketing ISBN: 000.00.0000.00-00-00

São Paulo, 2011/2 Projeto Gráfico: Ana Carolina Martini, Flora Tortorelli, Marcela Bonsenso e Ralph Mayer

1. Literatura infantil


Uma hist贸ria original

Rosane Pamplona



Para meus alunos, que sempre me ensinam.



Prefácio “Era uma vez um sultão que gostava muito de ouvir historias. E tantas ouvira, desde pequeno, que chegou uma hora em que já não havia praticamente nenhuma que não conhecesse. Ele começou, então a desejar ouvir uma história diferente, nova, original.” Na busca por histórias novas e desconhecidas, o sultão irá se deparar com uma história original e inusitada. Ao ouvi-la, este é estimulado a examinar a sua vida de um outro ponto de vista. Dessa forma, esse conto provoca o imaginário do leitor e o surpreende ao mostrar que as maiores verdades podem ser encontradas onde menos se espera.


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ra uma vez um sultão que gostava muito de ouvir histórias. E tantas ouvira, desde pequeno, que chegou uma hora em que já não havia praticamente nenhuma que não conhecesse. Ele começou, então, a desejar ouvir uma história diferente, nova, original.

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O contador de histórias oficial de seu reino não conseguia contar-lhe nada que ele já não conhecesse, e outros contadores de outros reinos, que ele convidava a seu palácio, não tinham melhor sorte. No meio, ou mesmo no começo da narração, o sultão já os interrompia: — Essa aí não é aquela do pássaro que rouba as maçãs do rei? E era mesmo. — Espere um pouco... essa vai terminar com a rãzinha se transformando em princesa, não é? Era. — Pode parar, pode parar, que eu continuo: no fim o anão volta e a rainha tem que descobrir o nome dele, acertei? Realmente, ele parecia conhecer todas as histórias.

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Mas o sult達o n達o desistia: queria ouvir algo diferente e mandou apregoar aos quatro ventos que daria uma arca cheia de moedas de ouro e ainda a m達o de sua filha, a princesa, em casamento, ao primeiro que lhe contasse uma hist坦ria realmente original.

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Atraídos por aquela atraente promessa, contadores de história vindos de todas as partes se apresentaram ao palácio e se esmeraram em apresentar narrativas exóticas, raras, antigas. Infelizmente, acabavam ouvindo do sultão as mesmas frases: “Nem precisa continuar, essa eu já conheço.” ou “Essa eu já ouvi mil vezes...” E todos voltavam desiludidos para casa, sem levar o prêmio.

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Um dia, o eco desses fatos chegou aos ouvidos de um velho mendigo. Ele era pobre, pouco instru铆do, mas muito sabido. Sem fazer cerim么nias, vestido mesmo nos seus andrajos, apresentouse ao sult茫o e asseguroulhe que sabia uma hist贸ria verdadeiramente original.

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O sultão ficou curioso. Pelo menos era a primeira vez que ouviria uma história de um mendigo. Reuniu, então, os seus doze vizires numa sala confortável e ordenou ao velho que começasse.

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— Há muitos e muitos anos – principiou ele –, no reino vizinho a este, morava um paxá muito rico. Suas terras eram tão extensas, que um falcão não conseguiria atravessá-las voando durante um dia inteiro. Seus cavalos eram os mais bem tratados do reino e seus celeiros estavam sempre cheios de grãos. Além disso, o paxá era generoso, tratava muito bem os empregados... 16


E assim o mendigo continuou, louvando as riquezas e as qualidades do paxá por cerca de uma hora. Depois, interrompeu-se e disse que estava cansado e com fome. O sultão consentiu que ele se repousasse e se alimentasse e aproveitou a pausa para perguntar aos vizires se algum deles conhecia aquela história. Nenhum conhecia. O sultão, apesar de estar se interessando pela narrativa, começou a se inquietar com a perspectiva de ter como genro um mendigo. 17


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De volta, já satisfeito, o mendigo continuou: — Como ia dizendo, Senhor, esse paxá era tão rico e virtuoso, que a sua fama chegou aos ouvidos do sultão do reino vizinho. Um dia, esse sultão veio fazer-lhe uma visita e, confiando na capacidade de compreensão do paxá, confessou-lhe francamente ter perdido toda a sua fortuna, gastando-a imprudentemente. Com vergonha de admitir aos súditos que estava arruinado, vinha suplicar ao paxá que lhe emprestasse algum ouro para recomeçar um governo dessa vez mais comedido e bem planejado. — Acho que já conheço essa história... – interrompeu o sultão, fingindo – ­ mas continue, até eu ter certeza de que é a mesma.

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— Bem, como eu ia dizendo, o paxá, sem nem pensar duas vezes, emprestou uma arca repleta de moedas de ouro ao sultão, que saiu dali abraçando seu benfeitor e jurandolhe solenemente que, assim que dispusesse daquela quantia, saldaria a dívida.

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E assim o mendigo prosseguiu, descrevendo toda a viagem de volta, atĂŠ que se mostrou cansado e pediu novamente para repousar e comer alguma coisa. O sultĂŁo concordou. Mas apenas se viu a sĂłs com os vizires, confessou-lhes:


— Realmente, essa história eu não conheço e nem consigo imaginar até aonde ela vai chegar. Todavia não posso permitir que minha filha se case com um velho maltrapilho. Vamos combinar um estratagema: assim que me for possível, eu direi que já conheço a história. E vocês, em seguida, confirmem o que eu disse, testemunhando que a conhecem também. Assim combinados, eles esperaram o retorno do velho, que continuou: — Como ia dizendo, o paxá, meu pai, era muito generoso; aliás, não sei se havia dito que esse paxá era meu pai, mas talvez os senhores já desconfiassem disso...

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— Sim, sim – disfarçou o sultão – eu estou achando que conheço mesmo essa história. Mas continue mais um pouco, ainda é cedo para dizer. Na verdade, o sultão estava se mordendo de curiosidade. O mendigo não se fez de rogado:

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— Pois o que aconteceu foi o seguinte: depois que o paxá meu pai emprestou ao sultão aquela fortuna, as coisas começaram a andar mal. Uma seca terrível e prolongada assolou suas terras. Os celeiros começaram a esvaziar-se, os cavalos foram acometidos por uma peste e finalmente os empregados deixaram o paxá, que, tendo emprestado a sua reserva em ouro para o sultão, nada pôde fazer. Aquela fortuna, que parecia inesgotável, foi se acabando, enquanto o infeliz esperava que o sultão, pai de Vossa Majestade, viesse quitar sua dívida. Sim, o sultão de quem falo era o seu pai, Majestade, mas isso não é segredo, é claro, já que parece conhecer esta história...

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— Claro que a conheço, exclamou o sultão. Eu a conheço muito bem! Imediatamente, sem nem mesmo refletir, os doze vizires afirmaram em coro: — Essa história todos nós a conhecemos! Então, retomou o mendigo: — Vós sabeis que meu pai morreu na miséria, e é por isso que hoje nada me resta a não ser pedir esmolas. Infelizmente, já que todos conheceis minha história, não poderei levar o prêmio prometido; entretanto penso que chegou a hora de Vossa Majestade saldar a sua dívida.

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— Que dívida? – espantou-se o sultão. — Oras, a arca de moedas de ouro, que o seu pai ficou devendo ao meu. Ele deu, como todos aqui afirmaram saber, sua palavra de honra que a pagaria quando pudesse. Como Vossa Majestade pode se dar ao luxo de pagar a mesma quantia por apenas uma história, não vejo por que não saldar sua dívida imediatamente. A não ser, é claro, que queira passar vergonha diante de doze testemunhas tão fidedignas.

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O sultão engasgou. Mas achou melhor dar ao mendigo o que ele queria. De qualquer modo, evitava dar-lhe a filha em casamento. O velho mendigo saiu de lá vitorioso. E aproveitou o melhor que pôde o seu ouro, durante os muitos anos que ainda lhe restaram, sem se lamentar de não ter se casado com uma princesa que, afinal, ele nem conhecia.

Essa história espalhou-se pelo reino e foi contada ano após ano, de geração em geração. Todos ali a conhecem de cor, mas eu espero que, para meus leitores, ela tenha sido realmente original.

Fim

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Livro impresso na grĂĄfica Power Graphics Composto pelas fontes Calluna para o miolo com corpo 14 e entrelinha 17; e para o tĂ­tulo AquilineTwo Miolo impresso em papel Color Plus creme, 180g/m2 Capa impressa no papel Couche fosco 170g/m2



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