A Evolução Tecnológica e a Necessidade da Acreditação dos Laboratórios

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The Technological Evolution and the Need for Laboratory Accreditation A Evolução Tecnológica e a Necessidade da Acreditação dos Laboratórios Agnaldo Roberto Okura Ricardo Andrade Ranal MWM International Motores Copyright © 2010 SAE International

ABSTRACT The automotive industry plays an important role in the setting of new technologies, and laboratories gain importance as technological change promotes new forms of management. Products and processes are corrected or improved, based on information collected by reliable measurement systems. This paper discusses the importance in laboratories with expertise is to provide technically valid results to form the base of the credibility of information throughout the production chain, from design to finished product. Added to this the influence of trade agreements on the conformity and the interests of a society that seeks the credibility of certified institutions attesting to the quality of the manufacturing process.

RESUMO A indústria automotiva exerceu e exerce um papel de destaque no cenário de novas tecnologias, e os laboratórios ganham importância à medida que a evolução tecnológica promove novas formas de gestão. Produtos e processos são corrigidos, ou melhorados, fundamentados em informações coletadas por sistemas de medição confiáveis. Este trabalho discorre sobre importância que os laboratórios com competência técnica tem em fornecer resultados tecnicamente válidos para compor a base da credibilidade da informação em toda cadeia produtiva, desde o projeto até o produto final. Soma-se a isso a influência dos acordos comerciais sobre a conformidade do produto e o interesse de uma sociedade que busca a credibilidade de produtos certificados por instituições que atestem a qualidade do processo de fabricação.

INTRODUÇÃO A tecnologia surgiu com a humanidade e acompanha o homem a cada etapa da evolução. Mas ao mesmo tempo em que auxilia, gera novas necessidades e surgem novos problemas. Neste ciclo “solução – necessidade – solução”, a sociedade progride e a tecnologia permeia toda a atividade humana impactando no conhecimento humano e no seu comportamento. No dicionário Aurélio, “tecnologia é o conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade”. A tecnologia é de uma forma geral, o encontro entre ciência e engenharia. São técnicas, conhecimentos, métodos, materiais, Page 1 of 11


ferramentas e processos usados para resolver problemas ou aao o menos facilitar a solução dos mesmos. É nesse contexto que, as normas sobre sistemas de gestão da qualidade, do meio ambiente, entre outras se fazem necessárias. E a norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, que tem como foco a competência dos laboratórios de ensaioss e de calibrações, é fruto de outras coisas, da evolução tecnológica do seu tempo.

A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE ADE E A TECNOLOGIA HISTÓRIA DA TECNOLOGIA A história da tecnologia é quase tão antiga quanto a história da humanidade, e se segue desde quando os seres humanos começaram a usar ferramentas de caça e de proteção. A história da tecnologia tem, consequentemente embutida, a cronologia do uso dos recursos sos naturais, já que para serem criadas, todas as as ferramentas necessitaram do uso de um recurso natural adequado. [1] Com a descoberta do fogo o ser humano dispôs de uma fonte de energia que lhe viria proporcionar o domínio de novas tecnologias que, além de melhorar aproveitamento dos alimentos, ajudaria na transformação transforma dos recursos naturais em ferramentas úteis. [2] Das mais simples até as mais complexass, podemos pontuar, no tempo, as descobertas e invenções que transformaram o mundo, observando que aass ferramentas e máquinas aumentam em complexidade na mesma proporção em que o conhecimento científico se expande.

Figura 1 - Linha do tempo das descobertas e invenções que tr transformaram ansformaram o mundo. [2]

Ao longo dos tempos, os acontecimentos históricos e a evolução contínua das técnicas alteraram os modos de trabalhar e criaram novas profissões. [2] O sistema de produção, isto é, o método de realização de bens através do trabalho, tendo em vista a satisfação de necessidades, sofreu contínuas evoluções passando pela fase Artesanal, Manufatureira, ufatureira, Mecanizada e, atualmente, Automatizada. [2] A indústria automotiva aparece na história como "berço" de tais evoluções, servindo de base para outras indústrias de diferentes ramos de atividade.

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EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA SOCIEDADE Início/Onda Atividade Principal Distribuição Geográfica

PRIMITIVA

AGRÍCOLA

INDUSTRIAL

CONHECIMENTO

fogo e armas primitivas coletar alimentos

fixação à terra, agricultura produção agrícola, comércio população rural, dispersa descobrimentos, posses, terras armas, extensão territorial

revolução industrial

tecnologia da informação

produção em série

gerar conhecimento

espaço virtual (anywhere) informações e Fonte de Riquezas domínio físico tecnologias força bruta, know how, softwares e Centro do Poder maior tribo hardwares curandeiros, parcerias, Poder Subjacente igreja, religiões mercado, política pajés relacionamentos imprensa, livros, internet, realidade Cultura/Informação oral, figurativa oral, manuscritos rádio virtual informação, Fator Predominante mão-de-obra recursos naturais capital conhecimento Tabela 1 - A evolução da sociedade humana rumo à sociedade do conhecimento e tecnologia. [3] tribos nômades

concentração em cidades processos industriais armas, capital, máquina

CIÊNCIA E TECNOLOGIA A ciência e a tecnologia sempre estiveram muito próximas uma da outra. Geralmente, a ciência é o estudo da natureza rigorosamente de acordo com o método científico. A tecnologia, por sua vez, é a aplicação de tal conhecimento científico para conseguir um resultado prático. Como exemplo, a ciência pôde estudar o fluxo dos elétrons em uma corrente elétrica. Este conhecimento foi e continua sendo usado para a fabricação de produtos eletrônicos, tais como semicondutores, computadores e outros produtos de alta tecnologia. [1] Esta relação próxima entre ciência e tecnologia contribui decisivamente para a crescente especialização dos ramos científicos. Por exemplo, a física se dividiu em diversos outros ramos menores como a acústica e a mecânica, e estes ramos por sua vez sofreram sucessivas divisões. O resultado é o surgimento de ramos científicos bem específicos e especialmente destinados ao aperfeiçoamento da tecnologia que, de acordo com este quesito, podemos citar a aerodinâmica, a hidrodinâmica, a eletricidade e a eletrônica, a termodinâmica entre outras que possuem relação direta com a indústria automotiva no desenvolvimento de veículos. [1]

ECONOMIA E TECNOLOGIA Existe um equilíbrio muito tênue entre as vantagens e as desvantagens que o avanço da tecnologia traz para a sociedade. A principal vantagem é refletida na produção industrial: a tecnologia torna a produção mais rápida e maior e, sendo assim, o resultado final é um produto mais barato e com maior qualidade. [1] Algumas desvantagens que a tecnologia traz são de certa forma preocupantes. Uma delas é a poluição, onde os veículos possuem grande parcela de culpa. Outra desvantagem é quanto ao desemprego gerado pelo uso intensivo das máquinas na indústria, na agricultura e no comércio. A este tipo de desemprego, no qual o trabalho do homem é substituído pelo trabalho das máquinas, denominamos desemprego estrutural. Um dos Page 3 of 11


países que mais sofrem com este problema é o Japão, sendo que um dos principais motivos para o crescimento da economia deste país ter freado a partir da década de 90 foi, justamente, o desemprego estrutural. [1]

OS MODELOS DE GESTÃO E A TECNOLOGIA O crescimento da demanda por produtos e serviços com elevado padrão de qualidade, inevitavelmente, acarretou a entrada de novas tecnologias na produção de muitas organizações, fazendo com que grandes alterações na forma de gestão fossem necessárias. Tal evolução ocorreu de acordo com os respectivos “níveis de complexidade” de cada época. [4]

PRIMEIRO NÍVEL DE COMPLEXIDADE: FOCO NO PRODUTO As empresas estavam com seus esforços direcionados ao produto, não se preocupando com a questão da qualidade. Nota-se que existiam pessoas qualificadas, porém não se encontravam nos locais apropriados para a realização das tarefas de inspeção. Foi então que o executivo e engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor designou profissionais para ficarem na responsabilidade do controle de qualidade. Com isto o aumento de produção foi significativo e muitas organizações seguiram o mesmo modelo. Vale ressaltar que ainda se perdia muito em questão de informações que poderiam ser utilizadas para melhorar o processo, pois as peças defeituosas eram simplesmente descartadas, sendo que os motivos das falhas eram ignorados, evitando-se assim a possibilidade de um estudo com a finalidade de se reduzir tais problemas. [4]

SEGUNDO NÍVEL DE COMPLEXIDADE: FOCO NO PROCESSO O crescimento da produção fez com que o método de controle da qualidade adotado por Taylor se tornasse obsoleto e caro. Walter Shewhart utilizou, como ferramenta, a estatística para detectar as falhas na produção e chegar assim às possíveis causas, visando reduzi-las e até mesmo eliminá-las. Este método buscou nos fornecedores e matérias-primas as causas da perda de qualidade dos produtos, obtendo-se uma boa visão do que realmente estava acontecendo na cadeia produtiva, de forma a buscar a melhoria dos processos considerados falhos. Este tipo de controle mostrou-se mais eficiente do que a proposta por Taylor. [4]

TERCEIRO NÍVEL DE COMPLEXIDADE: FOCO NO SISTEMA Analisou-se que durante a Segunda Grande Guerra a prioridade de produção era de materiais bélicos. Os trabalhadores estavam realizando constantemente horas extras e, com isto, muitos produtos não utilizados nos combates deixaram de ser produzidos. A população teve sua capacidade de compra aumentada já que ganhava produzindo para a guerra e não tinham o que comprar. Com o fim dos combates, as empresas precisavam suprir as necessidades e começaram uma fabricação acelerada de produtos que, na maioria das vezes, apresentavam-se com má qualidade. Com a entrada de empresas de pequeno porte no mercado, que buscavam competir com grandes fornecedores, a fabricação se tornou ainda mais carente de qualidade, gerando assim uma grande “onda de insatisfação” por parte do cliente, além do retrabalho de muitas empresas para solucionar problemas de seus produtos. Isto fez surgir os primeiros processos de controle da qualidade, visando minimizar os custos com retrabalho e o índice de insatisfação. O produto deveria ser inspecionado desde o início de sua fabricação até o pós venda. [4]

QUARTO NÍVEL DE COMPLEXIDADE: FOCO NO NEGÓCIO A busca pela constante melhoria na qualidade, não somente dos produtos e dos processos, mas também do relacionamento entre clientes, fornecedores, funcionários, sociedade e meio ambiente é o foco das empresas que Page 4 of 11


buscam competitividade no mercado atual. É necessário que a qualidade seja tratada como algo totalmente integrado às diversas áreas do negócio, tornando-se parte da filosofia da empresa.

PROPOSTA DE UM MODELO DE GESTÃO DA FUNÇÃO TECNOLOGIA De forma semelhante à construção do modelo de gestão das empresas, a Função Tecnologia (FT) precisa estar atenta ao mercado que propõe atender, possuindo como desafio adicional a construção de uma estratégia que permita gerar um retorno de investimentos no longo prazo. Ou seja, os investimentos possuem um tempo de retorno de médio a longo prazo, o que se traduz em uma necessidade permanente de se investir no presente para que a organização tenha chance de sobreviver no futuro. [5] Como elementos do Modelo de Gestão da FT podemos listar: Princípios: definidos pela missão, visão, valores e políticas de gestão que está diretamente relacionada à forma de como a gestão da FT irá ocorrer, ou seja, dentro de um amplo conjunto de possibilidades na forma de gestão, estas políticas irão servir de balizadores para a operacionalização dos processos e suas interfaces com outros organismos ou empresas. [5] Gestão: é definido como o conjunto de processos que geram os produtos e serviços aos clientes, fortemente influenciados pelo comportamento das pessoas e pelo poder e responsabilidade outorgado às mesmas. As necessidades dos clientes e insumos suprem os processos da organização que geram resultados relacionados à qualidade, custo e atendimento para cada uma das dimensões definidas nos objetivos. [5] Avaliação do negócio e das pessoas: a avaliação do negócio deverá estar vinculada aos objetivos a serem atingidos. Já a avaliação das pessoas estará diretamente ligada à sua efetividade no cumprimento das metas acordadas. Ou seja, poderá haver o caso em que o resultado do negócio seja ruim, até por uma estratégia da organização e a avaliação das pessoas seja ótima, pois conseguiram atingir as metas acordadas. [5] Uma vez definidos os elementos básicos para a construção do modelo de gestão, é necessária a definição de sua estrutura que, tem como plano de fundo, o ambiente externo representado pelos acionistas, clientes, fornecedores, concorrentes, sociedade, governo e parceiros. [5]

ESTRUTURA DO MODELO DE GESTÃO DA FUNÇÃO TECNOLOGIA Para efeito da construção de um Modelo de Gestão da FT devem ser consideradas algumas das tendências: •

Gestão orientada a resultados: com a globalização da economia e a criação de um ambiente de maior competitividade, as empresas, conscientes da necessidade de inovação e renovação do conhecimento, começam a utilizar a FT como um diferencial competitivo dos seus negócios. [5] • Gestão do conhecimento: com a automatização dos processos rotineiros, ou seja, das rotinas físicas e intelectuais, caberá cada vez mais ao homem as tarefas de inovar e criar, além de planejar e analisar. Nesse contexto, a gestão de valores intangíveis e relacionados à inovação e ao conhecimento será um ponto de grande importância. [5] • Maior alinhamento com as áreas de negócio: com a redução das Organizações através dos processos de downsizing e reengenharia, a área de P&D deverá atuar mais fortemente através de parcerias, com os clientes, fornecedores e concorrentes. [5] • Maior flexibilidade e agilidade: através da atuação em redes que possam garantir o foco nas competências essenciais dos seus clientes, proporcionando um atendimento dentro dos prazos, qualidade, atendimento, custo e segurança exigidos pelo cliente. [5] Page 5 of 11


Compartilhamento de riscos e tecnologia: com a redução da vida útil das novas tecnologias, a redução do tempo de P&D será viável através do compartilhamento dos riscos e da tecnologia, inclusive porque alguns consideram que o diferencial não está somente na tecnologia, mas na capacidade e habilidade das pessoas a utilizarem. [5]

A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA E A TECNOLOGIA Sessenta anos atrás, Peter Drucker denominou-a "a indústria das indústrias". Atualmente, a indústria automobilística continua sendo a maior atividade industrial, com milhões de novos veículos produzidos a cada ano. [6] Muitos de nós possuímos um, alguns possuem mais de um e, ainda que não estejamos conscientes disso, tais automóveis, ônibus e caminhões desempenham importante papel em nossas vidas diárias. [6] No entanto, a indústria automobilística é ainda mais importante para nós do que parece. Duas vezes neste século, ela alterou nossas noções mais fundamentais de como produzir bens. E a maneira como os produzimos determina, não somente como trabalhamos, mas ainda como pensamos, o que compramos e como vivemos. [6] Após a Primeira Guerra Mundial, Alfred Sloan, da General Motors, e Henry Ford conduziram a fabricação mundial de séculos de produção artesanal - liderada pelas firmas européias - para a era da produção em massa. Resultou daí, em grande parte, terem os Estados Unidos logo dominado a economia do globo. [6] Após a Segunda Guerra, Eiji Toyoda e Taiichi Ohno, da Toyota japonesa, foram pioneiros no conceito da produção enxuta. O salto japonês para a sua atual proeminência econômica logo se seguiu, na medida em que outras companhias e indústrias japonesas copiaram este notável sistema. [6] Nas últimas três décadas a indústria automobilística tem passando por várias e importantes mudanças. Ainda nos anos 70, o oligopólio automobilístico foi abalado pela emergência das montadoras japonesas no cenário internacional e subseqüentemente pela introdução dos inovadores métodos de organização e de gestão da produção criados e desenvolvidos pela Toyota. [7] Os anos 80 foram marcados, por um lado, pelo início do processo de difusão do sistema toytista de produção e, por outro, pela introdução e difusão das técnicas de produção flexível. Viabilizadas pelos avanços da microeletrônica, as tecnologias de produção flexível criaram, juntamente com as inovadoras formas de organização da produção, grandes oportunidades para a introdução de inovações no setor automobilístico, tanto no processo produtivo quanto nos próprios produtos. [7] Já a década de 90 foi marcada sucessivamente pelo deslocamento do foco competitivo para o desenvolvimento de produtos e para o avanço do processo de globalização e, também, para as conseqüências deste último processo em termos dos fatores que definem a competitividade neste setor. Estas últimas décadas, especialmente a partir de meados dos anos 80, têm sido caracterizadas também por uma intensificação do processo competitivo, crescentemente global. Ainda que a concorrência na indústria automotiva não possa ser qualificada de dramática, ela tem sido, sem dúvida, severa. [7] Mais recentemente, a partir de meados dos anos 90, tem se observado também um crescente empenho das empresas automobilísticas (não só das montadoras) no desenvolvimento das chamadas tecnologias automotivas avançadas. [7]

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CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS BÁSICAS DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA Muito embora seja verdade que a indústria automotiva e os automóveis se utilizem de várias tecnologias difundidas e de muitos sistemas e componentes familiares, é igualmente verdade que ambos também fazem amplo uso de um grande número de produtos e tecnologias avançadas, desenvolvidos através de intensas atividades de P&D. [7] O automóvel pode ser descrito como uma plataforma hospedeira de tecnologias de ponta e a indústria automotiva como uma produtora destas tecnologias. De fato, a indústria automobilística utiliza (ou desenvolve internamente) tecnologias de ponta e componentes de quatro áreas consideradas avançadas: computadores e telecomunicações, eletrônica, manufatura integrada por computadores e design de materiais. [7] No que se refere à utilização das novas tecnologias na indústria automobilística, excetuando-se, é claro, as formas alternativas de propulsão (motores elétricos, híbridos e células de combustível), a eletrônica, a tecnologia de informação e os novos materiais são indiscutivelmente variáveis chave. Por exemplo, segundo estimativas, a parcela da eletrônica embarcada no custo corrente dos veículos automotores era de cerca de 10% em 2000. Atualmente, avalia-se que tal parcela já seja de 20% e estima-se que ela salte para aproximadamente 40% em 2015. Como muitos outros setores, a indústria automobilística está expandindo rapidamente a utilização de sistemas e de componentes eletrônicos. [7]

A EXIGÊNCIA DA CONFIABILIDADE NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA Laboratório, segundo o dicionário Aurélio, é o “lugar destinado ao estudo experimental de qualquer ramo da ciência, ou à aplicação dos conhecimentos científicos com objetivo prático.” Podemos descrever que o laboratório é um espaço físico equipado com diversos instrumentos de medição, onde se realizam testes, cálculos, análises de desempenho, durabilidade, através de modelos físicos chamados protótipos. Tratando exclusivamente de ensaios, desde os primórdios da indústria automotiva são executados testes para verificar o funcionamento do produto final, mas estabelecer um lugar e um corpo técnico exclusivamente dedicado a realizar ensaios como meio de avaliação ou classificação de características da qualidade do produto parcial ou final com o objetivo de confirmar o atendimento às necessidades dos clientes ou da sociedade, vem somente com a evolução tecnológica e do modo de gestão da cadeia produtiva. Para um mercado consumidor muito restrito, cliente e sociedade exigiam do produto requisitos básicos de desempenho, conforto e segurança. A tecnologia existente atendia adequadamente. Com o crescimento do mercado, a tecnologia desenvolveu novos materiais, máquinas, ferramentas, técnicas, fazendo com que toda a cadeia produtiva aprimorasse seus sistemas de medição. O aumento da produção e a preocupação com o desempenho do produto, acarretaram o estabelecimento de especificações e procedimentos de controle e medição no processo produtivo. Evidentemente, que a tecnologia era uma das ferramentas que suportaram as decisões técnicas e gerenciais que impulsionaram a evolução tanto dos produtos como dos processos. Grupos de profissionais foram se dedicando a questões do atendimento a especificações dos produtos, ou dos materiais, ou dos componentes que compunham o produto final. Após a segunda guerra a questão do modo de fabricação ganha espaço, e a busca do processo de fabricação mais rentável e com qualidade impulsionam os sistemas de medição, que passam a ser uma ferramenta importante nesta etapa da cadeia produtiva. Os laboratórios metrológicos e metalúrgicos desempenham papel fundamental, e os laboratórios de ensaios de motores participam decisivamente no desenvolvimento de novas tecnologias e da análise e avaliação do desempenho dos produtos correntes. Page 7 of 11


Da década de 90 em diante, sistemas da qualidade atendem a necessidade tecnológica de envolver todas as áreas da empresa na qualidade do produto ou serviço, para responder não só ao cliente final, mas aos requisitos da sociedade com relação ao meio ambiente e segurança ocupacional. E neste contexto a correção e confialibilidade dos ensaios e calibrações da indústria automobilística tornam-se essenciais para o dinamismo de uma empresa dentro de uma economia que busca o crescimento sustentável.

INDÚSTRIA AUTOMOTIVA INSERIDA NO CONTEXTO GLOBAL As atuais condições produtivas, tecnológicas, mercadológicas e gerenciais das indústrias foram e são afetadas pelo processo de globalização. Depois da globalização das finanças, resultado da desregulamentação dos mercados financeiros e dirigida pelo avanço das tecnologias de computação e de telecomunicação, surgiu a globalização do comércio. Esse segundo estágio do processo de globalização foi intensificado com a redução das barreiras para comércio internacional e suportado pelo desenvolvimento de tecnologias de transporte. Com os anos 90, os sistemas produtivos e operacionais começaram a ser organizados de forma global, gerando uma lógica de produção completamente integrada. É nesse novo cenário que surge o terceiro e atual estágio do processo de globalização: a globalização da produção. [8] A cadeia produtiva automotiva compõe-se de processos específicos e particulares de intenso capital e tecnologia. Esta interligação de processos caracteriza-se por forte subcontratação internacional de peças e componentes. Dois grandes complexos são responsáveis pela produção de veículos automotivos: as montadoras e os fornecedores de autopeças. As pequenas e médias empresas possuem um baixo grau de sofisticação e capacitação tecnológicas em contraposição aos grandes investimentos em P&D realizados pelas grandes empresas, que com maior sofisticação tecnológica possuem padrões de qualidade relativamente elevados. [9] Objetivando, por exemplo, aumentar o desempenho dos motores, diminuir o peso dos veículos e disseminar o uso de equipamentos eletrônico, houveram avanços tecnológicos nos produtos e nos processos de fabricação na cadeia automotiva global. Um reflexo desse avanço tecnológico são as transformações ocorridas no relacionamento entre montadoras e fabricantes de autopeças e componentes, em questões ligadas a sistemas produtivos de fornecedores e sistemas da qualidade. [10] A necessidade de evidenciar a preocupação com a qualidade levou as empresas à certificação ISO 9000. Mas a visão que as montadoras tinham era de que o sistema da qualidade com base na ISO 9000, apenas padronizava conceitos e documentação. Contudo, os requisitos relacionados ao produto e ao processo não eram de todo garantidos. Na realidade o que as montadoras buscavam era a adequação ao uso, conforme pregava Juran, e a melhoria contínua, com ênfase na prevenção do defeito e na redução de variações e desperdícios em toda a cadeia de fornecimento. Buscando esse objetivo, veio a normalização QS-9000, em 1998, dedicado ao setor automotivo. Diante de tantas normas que regem o setor automotivo, em meados de 1996 as grandes montadoras mundiais começaram a “costurar” um acordo para tentar harmonizar as normas de sistema da qualidade do setor. A tarefa deste grupo era desenvolver a especificação técnica ISO/TS 16949, ou simplesmente TS 16949. A publicação da TS 16949 deu-se em março de 1999, porém somente em janeiro de 2000, com a criação da IAOB (International Automotive Oversight Bureau), que é o departamento de gerenciamento da documentação e das certificações TS 16949, ela foi oficialmente reconhecida como uma norma auditável por um organismo certificador, ou seja, passível de uma auditoria de terceira parte. A TS16949 mostra sua preocupação com os laboratórios, no requisito “7.6.3 Requisitos do Laboratório”, onde recomendava a acreditação da norma ISO/IEC 17025. [11]

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OS LABORATÓRIOS E A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA A forte concorrência para o setor automotivo, associada ao aumento dos recursos tecnológicos tem feito as montadoras reduzirem cada vez mais o tempo de execução de projetos. Com isto, aumenta-se a simultaneidade de atividades, o que faz com as pessoas de diferentes áreas trabalhem em equipe com o objetivo comum de desenvolver produtos de qualidade com menores custos. [12] A necessidade tecnológica de se obter aumento no desempenho do veículo, redução do consumo de combustível, redução de ruído, redução do custo do produto e redução do custo de manutenção tem revelado que, somente ferramentas e tecnologias não tem sido suficientes para a competitividade no setor, sendo necessário também o desenvolvimento e aplicação de técnicas de projeto e processos e métodos de gerenciamento desses projetos que melhorem o desempenho dos projetos como um todo. [12] Os laboratórios de ensaio e calibração, inseridos neste contexto, exercem papel fundamental já que a confiabilidade das informações geradas por estes setores impactam profundamente no processo de fabricação, na solução de problemas de campo e no desenvolvimento de novos produtos, podendo até ter reflexos em toda cadeia produtiva global. Daí o inevitável processo de acreditação dos laboratórios, como forma de evidenciar não somente um gerenciamento focado num sistema de qualidade, como a demonstração da sua competência técnica na geração de informações confiáveis tanto em ensaios quanto em calibrações. Os laboratórios tem importante participação na verificação da robustez dos projetos. O termo robustez ou projeto robusto aqui colocado, compreende uma visão um pouco mais ampla do que simplesmente um projeto “forte”. É sim a intenção de um projeto que não apresente falhas, ou que apresente nível de falhas dentro de limites pré-estabelecidos, porém compreendendo mais que simplesmente o aspecto de durabilidade associado à confiabilidade, mas o significado mais completo, que envolve não somente a parada de funcionamento, mas sim à manutenção de todas as características de saída que não sejam necessariamente sua parada, como por exemplo, sua potência, ruído, consumo de combustível, emissão de poluentes, dentre tantos outros, sendo entregues pelo motor dentro de faixas pré estabelecidas. [13] Outro ponto fundamental na obtenção da acreditação do laboratório, sob a ótica tecnológica, é a evidência da capacidade tecnológica da empresa, que está armazenada em pelo menos quatro componentes: •

Sistemas Técnico-Físicos: refere-se aos equipamentos, sistemas baseados em tecnologias da informação, softwares em geral, plantas de manufatura. [14]

Este componente é tratado na norma NBR 17025, basicamente no requisito “5.5: Equipamentos”. •

Conhecimento e Qualificação das Pessoas: refere-se ao conhecimento tácito, às experiências, habilidades de gerentes, engenheiros, técnicos e operadores que são adquiridos ao longo do tempo, mas também abrangem a sua qualificação formal. Esta dimensão tem sido geralmente denominada de “capital humano” da empresa. [14]

Este componente é tratado na norma NBR 17025, basicamente no requisito “5.2 Pessoal”. •

Sistema Organizacional: refere-se ao conhecimento acumulado nas rotinas organizacionais e gerenciais da empresa, nos procedimentos, nas instruções, na documentação, na implementação de técnicas de gestão, como por exemplo, total quality management (TQM), material requirement planning (MRP) entre outras, nos processos e fluxos de produção de produtos e serviços e nos modos de fazer certas atividades nas organizações. [14]

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Este componente é tratado na norma NBR 17025, basicamente no requisito “4: Requisito da direção” e também no requisito “5.3: Acomodações e condições ambientais”. •

Produtos e Serviços: referem-se à parte mais visível da capacidade tecnológica, refletindo conhecimento tácito das pessoas e da organização e os seus sistemas físicos e organizacionais. Por exemplo, atividades de desenho, desenvolvimento, prototipagem, teste, produção e parte da comercialização dos produtos e serviços, estão refletidos os outros três componentes da capacitação tecnológica. [14]

CONCLUSÃO Em uma sociedade informatizada, o primeiro passo para reforçar parcerias e desenvolver o pensamento estratégico, inclusive gerando transparência no processo decisório, é a disseminação da informação. Para isso, os sistemas de informação passaram a ser vitais e parte integrante do ambiente de inovação, sendo usados como elementos de apoio na condução dos negócios, na integração de áreas produtivas e na relação com fornecedores e clientes. [8] A acreditação dos laboratórios, dentre outros motivos, é uma conseqüência do desenvolvimento tecnológico.

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INFORMAÇÕES PARA CONTATO

Autor: Agnaldo Roberto Okura Laboratório de Eletrônica & Instrumentação do Centro Tecnológico MWM International E-mail: agnaldo.okura@navistar.com.br Telefone: 55 11 3882-3317

Co-Autor: Ricardo Andrade Ranal Laboratório de Eletrônica & Instrumentação do Centro Tecnológico MWM International E-mail: ricardo.ranal@navistar.com.br Telefone: 55 11 3882-3696

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