Janete Araújo de Oliveira Kátia Calzavara de Araújo
Fevereiro-2001
REVISÃO: José João Correia de Oliveira Janine Araújo de Oliveira
DESIGN GRÁFICO: Giovanni Calzavara de Araújo
DIGITAÇÃO: Maria do Carmo Santos
Nossos Agradecimentos:
A Deus, por nos ter concedido a graça de fazer parte desta história. A Romero, Josefina, Geruza e Lourdes (in memorian) pelas valiosas informações. A Ariosto, pelo estímulo. Ao nosso tio Batista, memória viva e pesquisador incansável.
Aos nossos pais e filhos
Todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje Provérbio chinês Os homens bons não morrem, ficam encantados Guimarães Rosa A vida é a arte dos encontros, enquanto existem tantos desencontros pela vida Vinícius de Moraes
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO I.
ORIGENS 1.
Os Brasileiros A vida no Engenho Tibiri O encontro na Paraíba 2. Os Italianos
II.
AS FAMÍLIAS DESCENDENTES 1. 2. 3. 4.
Santiago Brandão Leite de Lima Barbosa Calzavara Calzavara de Araújo
III. ÁRVORES GENEALÓGICAS
APRESENTAÇÃO
Este livro relata os acontecimentos vividos a partir da metade do século XIX que contribuíram e determinaram à formação da nossa família. Os fatos registrados aqui foram levantados através da história conhecida principalmente pelos mais antigos, que falam muito bem dos momentos de lutas, conquistas, sofrimentos e alegrias de todos nós. A decisão de escrever este livro não foi fácil. A própria história do nome da família e as circunstâncias das vidas dos nossos antecedentes, nos fizeram relutar e refletir por diversas vezes. No entanto, por ocasião da comemoração dos 80 anos de Romero, quando grande parte da família se reuniu, a emoção, a alegria e o semblante de felicidade estampado no rosto de todos, serviram para impulsionar à disposição, até então latente, de relatar as vidas que passaram pelos caminhos de nossa existência. Outro aspecto determinante para esta resolução foi a chegada do novo milênio, quando as histórias acontecidas há mais de 100 anos, se não forem registradas, poderão facilmente cair no esquecimento. Enfim, pretende-se com este trabalho contribuir para que a memória dos antepassados permaneça em nossas mentes, e que sirva de alicerce para novos rumos que certamente haverão de surgir.
I.
ORIGENS
Para iniciar a formação da família, os nossos antepassados tiveram que cruzar oceanos, mares e rios, superar as diferenças de línguas e de costumes, desafiar tradições e preconceitos e conviver com as circunstâncias e conseqüências das guerras mundiais. O início da nossa história aconteceu a partir de meados do século XIX e início do século XX, quando nasceram: - Giuseppe, no dia 31 de outubro de 1891, descendente da família Calzavara, em Istrana, na Itália. - Domenica, no dia 08 de outubro de 1902, descendente da família Gemin, também em Istrana, na Itália. No outro lado do oceano, no estado do Amazonas, nasceu Judith, descendente de índios moradores das margens do rio Purus, cujo ramo familiar não se tem conhecimento. Também no Amazonas, nasceu Maria Honorina, que ao casar com o paraibano Sindulfo, veio formar a família Assunção Santiago. Quis o destino que estas pessoas, ao fixarem residência na Paraíba, criassem as oportunidades e condições determinantes para o início de nossa história.
OS BRASILEIROS
No auge do Ciclo da Borracha, o norte do Brasil, especialmente o estado do Amazonas, recebeu migrantes nordestinos para trabalharem nos vastos seringais. Um paraibano, com espírito aventureiro de nome Aureliano S. da Silva, carinhosamente apelidado pelos seus familiares de Pai Lelé, além da extração da borracha, lidava com o deslocamento de rebanho bovino naquela região. Em uma dessas viagens passou em frente a um sítio e viu na janela da casa uma moça. Apeou-se e pediu para falar com o dono da casa, revelando de imediato seu interesse em casar com a mesma. O pai a chamou perguntando se aceitava a proposta, dando portanto o seu consentimento. Pai Lelé ficou no sítio por alguns dias, e ao se despedir disse que vinha buscá-la. Meses depois volta e casa com a moça da janela, Sinhorinha Rosa de Queiroz, que futuramente passou a ser conhecida como Mãe Sinhara. O casal vai morar em Lábrea, a 850km de Manaus. A cidade de Lábrea tem sua história iniciada em 1854, quando o Frei Pedro Coriana fundou, no rio Purus, uma missão de índios, com o nome de São Luiz Gonzaga. Em 1869 chega à região um grupo de cearenses chefiado por João Gabriel de Carvalho Melo. Os integrantes deste grupo se dispersam pela floresta amazônica para coleta e extração de produtos como a borracha e especiarias nativas.
Em 1871 chega um segundo grupo, desta vez de origem maranhense sob o comando do Coronel Antonio Rodrigues Careira Labre, instalando-se às margens do rio Purus, na terra firme, não alagadiça de Lábrea. Sua atividade econômica era baseada no setor extrativista como borracha, castanha do pará, gomas não elástica (sorva), madeira e óleo de copaíba. Atualmente, é sede do município de mesmo nome, fazendo parte do estado do Amazonas, localizada na margem esquerda do rio Purus, um dos grandes afluentes do rio Amazonas. Do casamento de Pai Lelé com Mãe Sinhara, nasceram três meninas: Maria Honorina (Maroca), Anésia (Nena) e Zenóbia (Sinhá) e dois meninos a quem deram os nomes de Telêmaco e Arthur. De origem paraibana, natural da cidade de Ingá, Sindulfo de Assunção Santiago, bacharel em Direito, formado pela Faculdade de Direito do Recife, foi trabalhar no estado do Amazonas, sendo nomeado juiz da cidade de Lábrea. Lá conhece Maria Honorina (Maroca) com quem se casa, nascendo dessa união três filhos: Heitor, Telêmaco e Eitel. Aposentado como desembargador do estado do Amazonas, Sindulfo volta à terra natal com sua família, alguns familiares de sua esposa e Dudinha, ex-noiva de seu cunhado Telêmaco, que morrera de beribéri em um navio no rio Amazonas, de propriedade de um tal Major Sá, que era casado com uma portuguesa e amigo da família de Sindulfo. Era um homem abastado, possuindo embarcações que navegavam pelos rios da Amazônia, transportando mercadorias e passageiros. Na Paraíba, Sindulfo compra o Engenho Tibiri, na cidade de Santa Rita, onde se estabelece com toda a família. Enquanto isso, em Lábrea, a irmã do Major Sá, Dona Olindina, conhecida também como Lindoca ou Dedé, em viagem de trabalho com seu marido, que era comandante de um dos navios do Major, aportam num lugarejo onde foram informados da ocorrência de uma epidemia de malária que estava dizimando os moradores da região ribeirinha. Lindoca chegou a uma das cabanas e ficou estarrecida com o que presenciou, vendo uma família inerte contaminada pela doença. Alguns quase mortos mexiam apenas os olhos. Seu espanto maior foi observar, num recanto, uma menina de aproximadamente 8 anos, que ainda não havia sido contaminada, mas em estado de choque por vivenciar aquela situação. Era Judith. Lindoca havia perdido tragicamente dois filhos. O primeiro, ainda recém-nascido, levou uma pancada na cabeça com conseqüências graves, o que ocasionou o óbito; e o segundo, que aos nove meses sofrendo um engasgo comendo biscoito, veio a falecer de imediato. Desde então, Lindoca não mais engravidou e sentia-se muito só. E foi nestas condições que o casal resolveu
tomar para sua responsabilidade a pequena Judith. Com certeza, a vida do casal era dentro de uma embarcação viajando pelos rios da Floresta Amazônica. Tempos depois, o marido de Lindoca morre acometido de beribéri. Ela, que possuía parentes na Paraíba, resolve deixar o estado do Amazonas juntamente com Judith e vem ao encontro de seus familiares no Engenho Santo Amaro, localizado nas proximidades do Engenho Tibiri, onde vivia Maria Honorina. A partir daí, as duas passam a se visitar de vez em quando. Estas visitas se tornam cada vez mais freqüentes e Lindoca, com Judith, acabam indo morar definitivamente na propriedade de Sindulfo e Maria Honorina.
A VIDA NO ENGENHO TIBIRI
O Engenho Tibiri, como todos os engenhos da época, ao ser adquirido por Sindulfo, tinha na atividade agro-pastoril sua principal vocação. Durante o ano, os momentos festivos eram comemorados de acordo com os costumes regionais. Em dezembro, o Pastoril era notícia na redondeza. A animação e a beleza das apresentações festejando o Natal traziam pessoas de todos os lugares. As moças preparavam seus trajes e ensaiavam os passos para as noites de festa. Foi em um desses festejos de fim de ano que Dedé vestiu Judith “a rigor”. Não se sabe se ela dançou defendendo as cores do cordão azul ou do cordão encarnado, nem tão pouco qual personagem representou. Mas o que ficou como notícia foi a dança de Judith, que chamou a atenção de todos os presentes. Sua graça de índia, única no local, encantou os rapazes da época. Judith passou a receber uma atenção especial de Heitor, filho mais velho de Sindulfo e Maria Honorina, e deste relacionamento se torna mãe de uma menina que nasceu no dia 29 de fevereiro de 1916, recebendo o nome de Maria de Lourdes Santiago. Logo em seguida, casam Judith com um agricultor chamado Manoel Ferreira de Araújo, que para isso recebeu vantagens financeiras e uma casa para morar, próxima à estrada que ligava Santa Rita à capital do estado. Judith não se conformou com este casamento imposto e continuou freqüentando o Engenho Tibiri. No ano de 1918, Judith engravida pela segunda vez, e nasce um menino que recebe o nome de José. E no dia 12 de agosto de 1920 têm mais um filho, Romero, nascido de um envolvimento com Telêmaco Santiago. O casamento de Judith com Manoel torna-se insustentável e assim ela volta para o Engenho Tibiri com seus dois filhos, uma vez que Lourdes, desde pequena, tinha ficado aos cuidados de sua avó Maria Honorina. José, com a idade de 9 anos vai estudar no Patronato na cidade de Bananeiras, e Romero fica no Engenho Tibiri. Depois de algum tempo, Judith adoece, e durante o longo período que lutou contra a enfermidade recebeu todo o apoio e assistência de Maria Honorina. Faleceu ainda jovem, com apenas 35 anos.
“Vitória Regia” (Euryle Amazônica) – Planta aquática encontrada principalmente nas águas tranquilas dos rios, lagos e igarapés da floresta amazônica. Tem a folha de formato circular e mede até 1.80m de diâmetro. Semelhante a uma bandeja, e bastante resistente podendo aguentar um peso de até 45kg. De cor verde na parte virada para cima e interna, e purpúrea na sua borda externa e na sua parte inferior. Sua flor de cor branca com o centro rosado que alcança até 30 cm. Esta flor, retrata JUDITH, de quem nem sequer uma foto foi encontrada como registro, mas que no anonimato e contradições do seu viver conseguiu se transformar em muitos: filhos, netos, bisnetos e trinetos. Ah! Judith, como foi difícil compreender e justificar tua vida e os teus caminhos! Foi preciso passar 100 anos para que nos encontrássemos, como resposta a todas as dúvidas, o próprio Deus. Em Lucas capítulo 6, versículo 43 está escrito: “Uma arvore boa não dá frutos maus, uma arvore má não da bons frutos. Porquanto, cada arvore se conhece pelo seu fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos”. Ao ver boa árvore que você era, Deus permitiu que você escrevesse uma parte da história que poucos ousariam escrever.
A vida no Engenho continua, e Romero, sem demonstrar nenhum esforço de memória, vai contando alguns momentos de sua infância: “Ioiô (Sindulfo) comprou o Engenho Tibiri por um preço razoável. Eram 6000 hectares de terra que começava no rio Paraíba e ia até o rio Mumbaba. Eu, todos os dias me acordava às seis horas da manhã, e saía com Dindinha (Maria Honorina) para debaixo das mangueiras tirar manga. Lá, aparecia de 20 a 30 meninos da redondeza e a gente formava os montes de mangas ao redor da casa e, quando terminava, Dindinha distribuía com todos. Dindinha era formidável! Não fazia questão de nada. Os meninos saíam todos carregados de mangas e a gente ia tomar café. A hora da refeição era sagrada. Ioiô sentava na cabeceira da mesa, Dindinha ficava ao seu lado e toda a família se juntava para a refeição. A mesa tinha de tudo, menos pão porque a padaria era longe e difícil de buscar. Na mesa tinha jerimun, inhame, macaxeira, cuscuz, muito leite e coalhada, além de travessas de ovos fritos. A manteiga era regrada. Dedé, que controlava a despensa, botava um pouquinho de manteiga para cada um. A cozinha da casa era enorme. Cozinhava-se com lenha e carvão. No canto da mesma tinha o lugar da rede de Dindinha, de onde ela controlava tudo. O almoço não era como os de hoje, que só têm um tipo de carne. Preparava-se seis, sete qualidades diferentes de carne e ainda colocavam três travessas de ovos, uma no meio da mesa e as outras nas pontas, para alguém que quisesse fazer uma mistura... Depois do almoço o negócio ficava mais difícil para mim... Dindinha ia me ensinar! As festas? As mais importantes eram as dos meses de maio e dezembro. Dindinha era muito devota de Nossa Senhora, e no mês de maio promovia a novena. Tia Nena, que tocava piano muito bem, organizava a ladainha e os cantos. Naquele tempo, era muito comum as pessoas tocarem instrumentos musicais. Lá em casa, Dindinha aprendeu violino, tia Sinhá tocava bandolim e tia Nena, piano. Dindinha enfeitava a Igreja com arcos de flores, e como não tinha luz elétrica, mandava colocar nos arcos lugares para as velas
acesas. Assim, o altar da Igreja ficava bem iluminado. Cada noite tinha os seus noitários. Geralmente a primeira noite era a mais fraca porque era a dos meninos. A segunda, já melhorava um pouco. Era a noite das meninas! Depois, vinham as demais. Cada grupo assumia a responsabilidade de ser noitário, enfeitando a Igreja. Do lado de fora, tinham barracas de comida, bebida e muita animação”.
Maria Honorina teve uma influência determinante na formação de Lourdes e Romero. Tinha vários pseudônimos. Seu marido a chamava de Maroca, sua irmã Nena a chamava de Bioca e os netos de Dindinha. Mulher forte, muito religiosa e voltada para a doutrina espírita, era muito caridosa. Costumava cuidar pessoalmente dos doentes para os quais, em sua própria casa, havia reservado um quarto especial. Utilizava nos tratamentos os ensinamentos do Padre Sebastião, de quem possuía livros para terapia com água.
Romero começou seus estudos na escola pública da fábrica de tecidos de Tibiri, sendo Dona Maria sua primeira professora. Depois foi estudar em Santa Rita com Dona Maria das Neves, indo em seguida para o Colégio Pio X, em João Pessoa. Estudou até a idade de 17 anos, quando foi trabalhar com o tio Eitel no corte e transporte de lenha no Engenho. Aos 18 anos foi servir ao exército no Tiro de Guerra, em Santa Rita. Aos 22 anos, no dia 14 de julho de 1942, foi convocado para servir à Pátria na II Grande Guerra, conflito travado entre os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e os Aliados (Inglaterra, EUA, URSS e França). Neste momento, houve a necessidade de apresentar sua documentação. Descobriu então que seu sobrenome não era Santiago, mas sim Ferreira de Araújo, passando deste dia em diante a utilizar este nome. Neste período, antes de ir para Aldeia, no estado de Pernambuco, Romero teve um encontro com Telêmaco (seu pai), ocasião em que conversaram sobre sua paternidade e a possibilidade de reverem seu reconhecimento como Santiago. No entanto, Romero achou melhor deixar tudo como estava. Viviam-se momentos difíceis por causa da guerra, uma vez que o Brasil entrou no conflito ao lado dos Aliados, e como nesta época ele já
namorava Josefina, de nacionalidade italiana, as preocupações eram muitas e as incertezas eram inevitáveis. Romero serviu na IV Companhia do II Batalhão em Cruz das Armas, indo depois para o Centro de Treinamento da Região Nordeste. O Regimento teve atuação na cidade de Goiana e nas praias compreendidas entre o porto de Cabedelo e a praia de Tambaú. Atuou principalmente na vigilância e segurança do litoral, considerado zona de guerra. Com o fim do conflito deixou o exército, no dia 13 de novembro de 1944, voltando para o Engenho Tibiri.
OS ITALIANOS
A Itália, após a queda do Império Romano, era constituída por um agrupamento de cidades com autogoverno, ducados e monarquias que só foram unificados em 1870, tornando-se uma nação independente em 1871. Treviso, situada na região do Veneto, às margens do rio Sile, era conhecida pelas indústrias alimentícias, químicas e têxteis, dentre as quais destacava-se a seda. Pela quantidade de canais que cortam a cidade, é também chamada de “citá d’áqua”. Fala-se o “dialeto vêneto”, constituído por veneziano, veronês, paduano e trevisano. A Família Calzavara tem sua origem nesta região, de onde fazem parte as cidades de Istrana, Montebelluna e Ospedaletto.
No dia 09 de março de 1863 nasceu em Istrana, Giovanni Battista Calzavara, filho de Domenico Calzavara e Filomena Pasquatili. Era especialista em bacologia e exercia também a profissão de geometra (topógrafo). Tornou-se industrial, passando a administrar sua própria fábrica. Casou-se com Giuseppina Páqua Tochetti, com quem teve quatro filhos. Um fato marcante na vida dos dois foi o nascimento de seu filho primogênito, por ter acontecido de forma inesperada em cima de um fardo de seda, por ocasião de uma visita de Giuseppina à fábrica. Esta criança recebeu o nome de Giuseppe Domenico Pietro Hipólito Giovanni Batista Calzavara, em homenagem a parentes. Os outros filhos do casal foram: Zina, de prendas domésticas, Domenico, que era advogado e Mário, Tenente da Marinha. Giovanni, como industrial, tinha uma atuação de destaque na região. Participava de feiras e exposições, chegando a receber medalhas como prêmios pela sua atuação. Destacam-se as medalhas: Benemeriti - Giovanni Battista Calzavara Espozione Campionaria Nazionale – Perugia 1901 Mostra Regionale Campionaria de Prodotti Alimentari ed Affini –Scorse 1908 III Concorso Bacologico Promosso dela civida del Bachicultore – Campagna MCM VII – como “Cavaliere Giovanni Battista Calzavara” Gran Libro- D’oro Del Benemeriti del Lavoro. Unita D’Itália 1848-1870 Umberto I – RE D’Itália (Medalha comemorativa da Unificação da Itália)
Seu filho Giuseppe seguiu sua profissão, formando-se bacólogo e perito agrimensor, diplomado pela Real Escola Superior de Engenharia de Pádua, na Itália, registro no 194 do Conselho de Engenharia e Architectura da 2a Região, no ano de 1912.
Na I Guerra Mundial, de 1914 a 1918, Giuseppe serviu ao exército como tenente, atingindo o posto de Capitão da Artilharia, tendo sido condecorado com várias medalhas: Terza Armata A Ricordo e Riconescenza 1915 Guerra per Lunita d’Itália 1982 Contata Nel Bronzo Nemico Grande Guerra Per La Civita MCMXIV-MCMXVIII Al Combattenti Delle Nazione Aleate Ed Associate Merito di Guerra Et Pacere –Et-Patinforto Et Facere-Et- Pat Forta Romanum-Et
Nesta época, conheceu uma jovem de origem camponesa chamada Domenica Gemin, filha de Nicodemus Gemin e Teresa de Marchi, com quem constituiu uma família formada por dois filhos. O primeiro, nascido em Montebelluna no dia 26 de dezembro de 1922, recebeu o nome de Battista Benito Gabrielle Calzavara. Depois nasceu uma menina, no dia 14 de novembro de 1923, em Istrana, registrada com o nome de Giuseppina Alma Calzavara, em homenagem a sua avó paterna. No período de recessão econômica do pós-guerra, a situação da região era difícil. A fábrica de seda havia sido adaptada para hospital de sangue, em virtude dos combates contra as tropas austríacas terem sido realizados na região do Veneto. Considerando esta realidade e diante de uma solicitação de colaboração entre os governos da Itália e do Afeganistão para o desenvolvimento da sericultura naquele país, Giuseppe, que também falava francês, resolve aceitar a
oportunidade de oferecer seus serviços técnicos. Para isto, transferiu definitivamente todos os direitos que tinha na fábrica para o tio Afonso Calzavara, uma vez que seu pai já havia falecido. Giuseppe partiu com destino à Índia, de navio, via canal de Suez, até o porto de Bombaim, no ano de 1924, onde se apresentou ao consulado italiano para dar o visto no seu passaporte, e obter autorização de entrada naquele país. Em Bombaim, apanhou um táxi para se deslocar até o consulado, quando notou que o mesmo estava passando várias vezes pela mesma rua, sendo obrigado a chamar a atenção do motorista. Em seguida, viajou de trem com destino a Nova Delhi, capital da Índia, tendo que embarcar na 2a classe, já que a 1a era reservada exclusivamente aos ingleses. Esta discriminação era natural nas colônias inglesas, uma vez que todos os demais eram considerados nativos. De Nova Delhi, Giuseppe seguiu a cavalo para Cabul, capital do Afeganistão, onde assumiu o cargo de Diretor Geral de Sericultura, de 1923 a 1925, bem como o de Procurador da Empresa Gório Ltda de Bombaim, na Índia Inglesa. Neste período, instalou vários centros de produção de bicho da seda na região. Durante sua permanência no país, conheceu um engenheiro italiano que trabalhava no setor de construção de estradas, oriundo da mesma região de Giuseppe, na Itália, de quem se tornou muito amigo. O engenheiro namorava uma nativa cujo irmão não concordava com o relacionamento, devido às diferenças de religião e de raça. Quase no fim do contrato de Giuseppe, aconteceu que seu amigo, por ocasião de uma briga, matou o “futuro” cunhado, sendo preso e condenado à forca, conforme a lei local. Giuseppe, visando ajudar o companheiro, conseguiu organizar uma fuga e, como conhecedor da região, acompanhou-o pelo interior do país em direção à Cordilheira Hindu Kush, localizada na fronteira do Afeganistão com o então território soviético. Lá chegando se despediram, voltando Giuseppe por outro caminho, a fim de despistar qualquer perseguição que por ventura existisse. Porém, ao se sentir só e com medo das montanhas, seu amigo resolveu retornar pelo mesmo caminho, sendo assim preso e enforcado. A chegada de Giuseppe à Cabul coincidiu com o enterro do amigo. Foi imediatamente preso, visto que o mesmo, ao ser torturado, confessou que ele o tinha ajudado. Giuseppe escapou da prisão e a cavalo seguiu para a fronteira do Afeganistão com a Índia, chegando ao anoitecer ao acampamento de uma empresa inglesa responsável pela construção de uma nova estrada. Explicando seu problema para o engenheiro chefe do grupo, o mesmo ofereceu-lhe dormida, o que muito o tranqüilizou. Todavia, ao acordar foi preso pelos
policiais que receberam denúncia do engenheiro inglês, que queria mais fazer média com o governo local. Giuseppe sabia que seu destino era o mesmo de seu amigo. Porém, a esta altura dos acontecimentos o governo italiano, sabendo do ocorrido através do consulado, exigiu providências junto ao governo afegane, o qual determinou a soltura do preso. Após sua libertação, foi oferecida uma renovação de contrato, que ele recusou, retornando à Itália por terra. Viajou a cavalo até Teerã, capital do Irã (antiga Pérsia), quando teve a oportunidade de conhecer os cavalos de raça árabe do rei persa, considerados segundo a crença regional descendentes dos cavalos de Maomé, seguindo para o Egito e finalmente retornando à Itália.
Em 1926, com a idade de 35 anos, Giuseppe recebeu do Consulado da República Oriental do Uruguai, em Trieste, seu Certificado de Imigrante, apresentando-o como professor sericólogo, com boa reputação e expressando seu interesse em radicar-se na cidade de Montevidéu. Antes de deixar a Itália, leva Domenica, também chamada de Nina, e seus filhos para a cidade de Ospedaletto, onde morava seu sogro Nicodemus. Batista, filho de Giuseppe, relembra que ele, sua mãe e sua irmã foram morar na fazenda do seu avô Nicodemus, na qual se criavam vacas holandesas para a produção do leite destinado à fabricação de queijo e de manteiga. Também se cultivava o trigo para o pão, e a uva para o vinho. Lembra-se bem quando faziam o pão, o qual era colocado em um forno situado na sala de jantar, o que era comum nas fazendas da região. A produção do vinho começava com suas primas pisando as uvas. O estábulo, no inverno, ficava fechado por causa do frio, sendo também utilizado como um bom depósito para capim (feno). Todas as manhãs ele e sua irmã Giuseppina iam para a escola, onde as crianças brincavam numa área em que uma latada coberta de videiras as protegia do sol. Em determinada hora as crianças voltavam para a sala, quando todas as janelas eram fechadas e elas se debruçavam na mesa para dormir. Batista se recorda das suas visitas à casa da avó paterna em Veneza, com quem de vez em quando ia passar alguns dias. Em um desses passeios ele conta que viu o mar pela primeira vez, quando seu tio Dino (Domenico) o levou com sua avó Giuseppina à praia do Lido, para que ela, sentada à beira-mar, tivesse as pernas cobertas de areia, o que era considerado tratamento para dores nas articulações. Nesta ocasião, admirado com aquela imensidão d’água, recebeu do tio convite para um banho. Porém, ao sentir o gosto salgado da água do mar,
começou a chorar. Lembra-se ainda que, quando chegava o dia de sua mãe ir buscá-lo, sua avó o trancava num quarto, na tentativa de impedi-lo de viajar para o Brasil. Mas ele sempre dizia que queria ir com a sua mãe.
Um ano depois de ter chegado ao Brasil, Giuseppe escreve para Domenica mandando que ela deixe a Itália com seus dois filhos para encontrá-lo na cidade do Rio de Janeiro. Assim, no dia 21 de setembro de 1927, Domenica partiu do porto de Trieste, no navio Saturnia, via mar Adriático, rumo ao Brasil. Desembarcou no Rio de Janeiro no dia 08 de outubro, seguindo com seus filhos para a Hospedaria dos Imigrantes, na ilha das Flores, onde como todos os demais passaram quarenta dias em observação. De lá seguiram para Barbacena, já em companhia de Giuseppe, que havia assumido a função de técnico em sericultura a serviço do Ministério da Agricultura, lotado na Estação de Sericultura de Barbacena, em Minas Gerais.
Em Barbacena, a família foi morar em um sítio próximo à cidade. O sítio era administrado por Domenica, que organizou a criação de pombos, gansos, patos, além de manter a tradição de vacas para a produção de leite. Naquela cidade Batista e Josefina iniciaram seus estudos, sendo levados à escola por uma empregada acompanhada por Dolly, uma cadela de estimação inseparável em todas as suas caminhadas. Dolly chamava atenção por sua fidelidade e dedicação, pois ao chegar à escola não voltava com a empregada. Preferia ficar num canto de uma sala, até ouvir a sineta tocar avisando o término das aulas, quando levantava para acompanhá-los. A rotina na cidade de Barbacena acontecia entre a vida do campo, onde a família convivia com a natureza e os animais, e a Estação Sérica, onde Giuseppe aplicava seus conhecimentos técnicos na sistematização de mais uma atividade produtiva no Brasil. Nesta época, outras regiões revelavam interesse no bicho da seda, como foi o caso da Paraíba, quando o Presidente João Pessoa já havia evidenciado as primeiras ações de incentivo ao desenvolvimento da sericultura no Estado. Porém, tal anseio só se efetivou na administração do interventor federal Dr. Antenor Navarro, que solicitou ao Ministro da Agricultura Assis Brasil a vinda do Engenheiro Giuseppe Calzavara, tendo sido prontamente atendido. Assim, Giuseppe viaja para a Paraíba, deixando sua família em Barbacena. No entanto, sua chegada coincide com o trágico acidente de avião na Bahia, em que o Dr. Antenor Navarro perde a vida,
cabendo a Gratuliano de Brito dar continuidade ao desenvolvimento da indústria da seda na Paraíba. Ao final do primeiro trimestre de 1932, Giuseppe, ou José Calzavara, como passou a ser chamado, apresentou ao governo paraibano um relatório que identificava alguns pontos básicos para a implantação do Projeto, tais como: - organização de um Instituto destinado a produção de raças de bicho da seda adaptadas às condições da região; - criação de uma mentalidade “serícola nordestina”, através da divulgação dos ensinos técnicos e práticos entre os futuros sericultores; - estudos metódicos de vários fatores ambientais e climáticos, com eliminação das causas adversas ao seu desenvolvimento; - organização de vários serviços de apoio, a fim de não depender das demais instituições serícolas, demasiadamente distantes para uma útil cooperação. Giuseppe chegou à conclusão de que “somente com a implantação de uma organização exclusivamente local pode-se desenvolver a indústria da seda na Paraíba, em face da grande diferenciação de climas que influenciam no ciclo vital do bicho da seda”. Estas conclusões estavam em franco desacordo com as instruções recebidas diretamente da Estação Sérica de Barbacena, a qual Giuseppe estava ligado, embora como técnico, a serviço da Paraíba. Dentre outras recomendações feitas pelo Diretor daquela Estação, destacava-se a seguinte: “Deveis encaminhar para Barbacena todos os pedidos de ovos de bicho da seda, folhetos, livros de propaganda e mudas de amoreira que receberdes, e somente visitar a Estação Sérica em fundação no Estado, para orientar com relação à sua organização”. Tudo isso significava que a presença de Giuseppe na Paraíba contrariava a orientação advinda de Barbacena. Como atitude de lealdade e diante de seu comprometimento com o trabalho, Giuseppe apresentou ao governo paraibano um projeto de organização dos serviços séricos, de acordo com o que havia concluído, desistindo de continuar como técnico do Ministério da Agricultura subordinado à Barbacena. O projeto foi submetido a cuidadoso exame, do qual foi relator o Dr. Diógenes Caldas, Inspetor Agrícola Federal e profundo conhecedor do assunto. Como resultado foi criado o Instituto Sérico do Estado, em fins de 1932, localizado na Fazenda São Rafael, tendo sido contratado como diretor o engenheiro Giuseppe Calzavara.
Assim, no início de 1933, ele vai à Barbacena buscar sua família, quando vende a propriedade e se desvincula oficialmente do Ministério da Agricultura. A família segue de trem até o Rio de Janeiro, onde embarcam no navio Ararangua, rumo à Paraíba. As atividades desenvolvidas por Giuseppe, como diretor do Instituto Sérico, trouxeram os seguintes resultados: Aclimatação do bicho da seda no nordeste, conseguindo a fixação de um primeiro grupo de raças de casulos brancos, que deram os melhores resultados, os quais foram denominados de ALBA-C e ALBA-E, obtidos mediante seleção contínua, em 17 gerações de acordo com a Teoria Mendeliana, conjuntamente com o critério regenerativo da Escola Ascolana. Avaliação das amostras que foram remetidas para um laboratório de pesquisa científica de Seda na Itália, cujos resultados técnicos foram considerados ótimos. Realização de um teste de qualidade referente a um lote de 200 meados de seda remetido para a Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco, cuja resposta oficial foi o seguinte:
“Recife, 13 de dezembro de 1934”. Sr. Dr. Calzavara, Diretor do Instituto Sérico da Paraíba Prezado Senhor, Cumprimos o dever de vir à presença de Vossa Senhoria, a fim de agradecer a entrega que gentilmente nos fez dos fios de seda produzidos nesse estado, os quais submetemos à cuidadosa experiência em nossa fábrica, produziram os melhores e mais elogiosos resultados. Damos-lhe este atestado com a máxima satisfação, por vermos que se trata realmente de um produto de valor, capaz de concorrer para o progresso e a economia nacional. (Ass) Paulo Bastos Diretor Gerente
O projeto apresentado abrangia não somente a criação pura e simples do bicho da seda, mas também a criação de uma “Escola Prática de Sericultura, de Centros Séricos Estaduais e de uma Secção de Exportação”, tudo constante do regulamento baixado pelo Decreto no 309, de 24 de agosto de 1932. Perante os resultados obtidos, surgiram os centros das cidades de Areia, Serraria e da Capital, com formação de 22 técnicos pela Escola de Sericultura da Paraíba, inaugurada pelo então Secretário da Fazenda, Tenente Ernesto Geisel, bem como a criação da “Cooperativa Sérica de Serraria”. Em 1935 Giuseppe apresenta ao Sr. José de Borja Peregrino, Secretário da Produção do Governador Argemiro de Figueiredo, um relatório onde registrou as atividades alcançadas com a sericultura na Paraíba.
Quase assassinado e decepcionado com a propaganda derrotista de inimigos gratuitos que tentavam desestimular o interesse pelo bicho da seda, aliando-se à descontinuidade administrativa do serviço público, Giuseppe Calzavara afastou-se definitivamente das atividades que até então tinham sido a razão de sua vida.
O atentado ocorreu quando ele se encontrava acamado por causa de uma hepatite. Ao atender em sua casa uma visita inesperada, Dona Nina notou o visitante muito nervoso, e percebeu que o mesmo estava de posse de um revólver. Ao chamar Giuseppe, alertou-o, ao que este respondeu tratar-se de um costume da terra, não dando maior importância à questão. Todavia, Nina, desconfiada, voltou à sala e colocou-se estrategicamente ao lado do indivíduo. Abrindo a porta do quarto e perguntando qual a finalidade da visita, Giuseppe foi surpreendido com um disparo. No entanto, ao perceber que o sujeito havia sacado o revólver, Nina segurou-lhe a mão, alterando a trajetória da bala. Neste momento, o filho Batista viu sua mãe segurando a arma e seu pai quase sem forças para se defender. Armado com uma barra de ferro que estava junto à porta do quarto, desfechou uma tacada na cabeça do visitante, provocando assim seu sangramento e desfalecimento, o que permitiu a Nina apropriar-se da arma e entregá-la a Giuseppe. Apareceram então dois homens querendo saber a causa do disparo, ao que Giuseppe respondeu estar tudo sob controle. O fato fez parte do noticiário local, tendo sido publicado no jornal “A União” com o seguinte título: “Desarmado por uma mulher e espancado por um menino”. Giuseppe, que além de sericólogo era topógrafo, instala um escritório de serviços topográficos na ladeira do ponto de Cem Réis, em cima do “Querubim”, caldo de cana que funciona até os dias de hoje, iniciando assim, como autônomo, novas atividades profissionais, e contando com para isso com o apoio de sua mulher e seus dois filhos, Batista e Giuseppina (Josefina). Os trabalhos topográficos executados tinham uma metodologia inédita com relação à confecção das plantas de propriedades agrícolas, adotando legendas com desenhos, o que facilitava a identificação das atividades exercidas nas diversas áreas, como mostram os trabalhos a seguir:
Batista, nos períodos de férias do Colégio Pio X, onde estudava, viajava pelo interior como topógrafo auxiliar de seu pai. Realizaram trabalhos nos municípios de Misericórdia, Picuí e Cuité a serviço do IBGE, além de fazendas particulares nos municípios de Sapé, Araçá e Araçagi, e a região da cana-deaçúcar em Mamanguape, Espírito Santo e Santa Rita. Nos momentos de descanso e intervalo entre as tarefas, os dois costumavam conversar, rememorando a vida e histórias de seus antepassados. Numa dessas conversas abordou-se a origem do nome Calzavara, considerado por muitos como exótico e de difícil pronúncia. Segundo Giuseppe, seus avós e bisavós contavam que o referido nome era de origem espanhola, da Província de Ciudad Real, onde atualmente encontram-se as ruínas do Castelo-Convento de Calatrava, sítio histórico hoje conhecido pelo nome de Castilla La Nueva. O citado convento foi construído para abrigar uma ordem religiosa e militar com objetivo de defender a cidade contra os Mouros. A expansão territorial do Reino da Espanha pelo mundo originou na Itália o Reino das Duas Sicílias. As divergências políticas entre esses reinos resultaram na dispersão de uma parte da população que atingiu a região do Veneto. Nesta região, supõe-se ter acontecido a formação de famílias descendentes com o nome Calzavara.
Giuseppe e Domenila educaram seus filhos seguindo os padrões europeus, estimulando-os aos estudos, à religião e a ter mais de um ofício. Josefina, além das prendas domésticas fez o curso comercial. Batista, atendendo ao conselho de seu pai, mesmo estudando no Lyceu Paraibano, conseguiu na Alfaiataria Grisa exercer a função de aprendiz de alfaiate, na qual permaneceu por 5 anos, transferindo-se posteriormente para a Alfaiataria de Braz Cantisani, já como alfaiate. Com o término do curso científico no Lyceu, Batista não conseguiu receber o certificado de conclusão do ensino médio, que era outorgado pelo fiscal federal do Ministério da Educação, uma vez que por ser italiano, não tinha certificado de reservista. Diante deste fato, prestou exame de vestibular em regime condicional para a Escola de Agronomia do Nordeste, em Areia, conforme solicitação sua dirigida ao diretor daquela instituição universitária, professor Joaquim Moreira de Melo, sendo assim aprovado.
Um mês após o início das aulas, foi informado pelo professor Jaime Vasconcelos de que o Ministério da Educação tinha anulado seu vestibular, e que ele deveria realizar novas provas posteriormente. Na ocasião, estava tomando café em uma caneca de louça de sua estimação quando, com tamanha raiva e revolta, atirou-a na parede. Tal atitude repentina o levou a refletir que nada resolveria tal fato. Esta resolução do Ministério, no entanto, não foi aceita pelos professores da nova “banca oral”, que após sorteio deu-lhe a mesma nota atribuída ao vestibular anterior, por considerarem uma injustiça. Na Escola de Agronomia, foi presidente do Diretório Acadêmico por dois mandatos, concluindo seu curso no dia 04 de dezembro de 1949. Iniciou suas atividades profissionais no escritório de seu pai, como auxiliar de topografia. Neste período, recebeu um convite para exercer as funções de agrônomo na Divisão de Produção do Território Federal do Amapá, em Macapá. Embarcou em julho de 1950, chegando ao seu destino três dias depois, em virtude dos aviões naquela época não viajarem à noite, por falta de segurança. Em Belém, encontrou-se com um colega de turma que havia recebido igual convite. Ao desembarcar em Macapá, Batista foi confundido com um repórter, uma vez que usava capacete igual ao dos exploradores da África e carregava na mão uma máquina de escrever, presente que recebeu de seu pai por ocasião do embarque, na Paraíba. Lá, ficou alojado no hotel de propriedade do governo territorial, juntamente com os demais técnicos solteiros. Uma semana depois, foi convidado a comparecer à Divisão de Produção, recebendo a informação de que, por ser estrangeiro, não poderia ser nomeado como os seus colegas. Todavia, em virtude do governo estar preparando a realização da IV Exposição de Animais e a 1ª Exposição de Produtos Agrícolas, Batista poderia ficar para auxiliar nos trabalhos, e após receber uma gratificação também teria direito a passagem de retorno. Apesar da situação constrangedora de saber que ainda não poderia se estabelecer profissionalmente resolveu aproveitar a oportunidade para conhecer a região. Por ocasião de uma reunião dos técnicos encarregados das atividades de exposição, observou que o diretor do Departamento de Produção encontrava-se preocupado com a falta de produtos agrícolas para o preenchimento do galpão. Assim, Batista apresentou-se para ir ao interior procurar registrar e inscrever os produtos existentes. Juntamente com o colega, agrônomo Jorge Nova da Costa, viajaram ao Lago da Pedreira, onde efetuaram o programado nas localidades do Lago da Pedreira, Ambé, São Sebastião, Santo Antônio e São Pedro dos Bois. Ao retornar do campo, foi escolhido para proferir o discurso de encerramento da Exposição, quando resolveu abordar o tema “O que todo pecuarista deve saber”, baseado no que tinha observado em sua viagem ao
Lago da Pedreira. Concluiu seu discurso com a seguinte afirmativa: “No Amapá não existe pecuarista, mas sim proprietários de gado que vivem ao sabor da natureza, uma vez que nada fazem em seu benefício”. Tal fato ocasionou críticas, tendo ele alegado que a verdade deveria ser dita e não mascarada. Como resultado, foi chamado à residência do governador que, diante de Batista, dirigiu-se ao diretor Nady Bastos Genú dizendo: “Este homem não pode deixar o Amapá”. Batista respondeu evidenciando a impossibilidade de sua permanência por ainda não ter sido naturalizado, apesar de seu processo encontrar-se em andamento no Ministério da Justiça. De imediato o governador Janari Nunes respondeu: “Dá-se um jeito”. E, Batista foi contratado.
Desta maneira, Batista iniciou sua vida profissional como chefe do Projeto Arroz Irrigado do Ambé, no território do Amapá, indo depois para o Posto Agropecuário de Macapá – Fazendinha. Em junho de l951, volta a João Pessoa para se casar com Maria Barbosa, em 26 de julho de 1951, retornando em seguida ao território, onde permaneceu até maio de 1953, quando foi para a Escola de Agronomia da Amazônia – EAA,que funcionava no Instituto Agronômico do Norte, em Belém do Pará, como professor nas disciplinas de Horticultura e Silvicultura relacionadas com Hortaliças, Fruteiras e Florestal. Hoje, sua atuação em estudos e pesquisas na região norte é referencial comprovado. De sua autoria foram publicados 46 trabalhos, entre os quais foram solicitados: 1. Pelo Projeto do Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais sobre Cultivos Pioneiros da UFRJ/1982, monografias sobre: O Cupuaçuzeiro O Bacurizeiro O Açaizeiro O Sorveira 2. Pelo Departamento de Engenharia Florestal da FCAP e IPT/SP em 1982: O Miritizeiro 3. Por empresas privadas: Técnico Consultor sobre frutos da Amazônia da Nestlé SP, 1965. Elaboração do Projeto “Manejo e Reflorestamento do Açaizeiro Massolé & Cia Ltda.”, para o IBDF, Pará/1970. Projeto sobre “Manejo e Reflorestamento Comodato Santo Antônio de Campina, para o IBDF, Pará/1970. Técnico orientador na organização do cronograma de aquisição e seleção de frutas regionais para a Indústria Alimentícia GELAR SAI – Belém 1968/70.
Técnico orientador do cronograma do cajueiro e operações de campos
da
Agro-industrial
de
Salinópolis
–
AGRISAL.
Salinópolis – PA 1969/70.
4. Consultorias: Unidade Regional de Supervisão Norte/SUDAM Fruticultura Tropical pelo IICA, junto à EMBRAPA/CPATU 1984 à 1987
Giuseppe e Damenila assistiram os filhos constituírem suas famílias: Josefina com Romero, em Mulungu, e Batista com Maria, no Amapá. As visitas à Mulungu eram freqüentes, e Janete, a primeira neta, recebia atenções especiais, e aos poucos os avós foram tomando para si a responsabilidade de sua criação, já que Josefina tinha de se desdobrar nos cuidados com os outros filhos mais novos. Com a morte de Giuseppe, em 29 de setembro de 1954, a vida de Nina continuou muito ativa, assumindo aos poucos a responsabilidade na formação dos netos que iam estudar em João Pessoa. Nina faleceu em 2 de fevereiro de 1977 aos 73 anos.
Família Santiago Brandão
Com seu estilo praieiro, pele bronzeada pelo sol, olhos azuis e conversa mansa, Jocelyn traz para a família de tradições interioranas, o gosto pelo mar. Quem não se encantou com suas histórias de pescador, os passeios de jangada e as frases características que sempre começavam perguntando baixinho: - E o coração... como vai? Sentado na proa de Lara, jangada idealizada e construída por ele, Jocelyn comandava com voz autoritária e firme, a turma empolgada e ansiosa por fazer parte de sua tripulação, gritando: - Levanta a fateixa! - Molha a vela! - Olha o bordo!
Além de mais inúmeras recomendações, a jangada partia fogosa cortando o inconfundível mar verde da praia do Poço. O vento e os pingos de água salgada, naqueles saudosos dias de verão, traziam um gostinho de férias e aventura. Para Jocelyn, nunca lhe faltava tripulação. A dificuldade era conciliar as variações das marés com os passeios à Areia Vermelha. Enquanto Jocelyn conseguiu estabelecer a convivência e a amizade da família com o mar, Lourdes foi o porto seguro de todos. Doce e meiga, voz pausada e agradável, sempre tinha uma palavra de compreensão e incentivo. Aparentemente frágil, era uma pessoa determinada. Quando decidia realizar o que para muitos era apenas um sonho, para ela este sonho transformava-se numa verdade. Educou seus filhos com lutas e sacrifícios e a custa do seu trabalho conseguiu estabilidade financeira e conforto.
Do aprendizado no colégio Nossa Senhora das Neves, desenvolveu como ninguém suas habilidades artísticas. As mãos de Lourdes, bem torneadas e delicadas, passavam para as telas a beleza do seu interior. Viveu sempre cercada pelos filhos, netos, sobrinhos e amigos. Ninguém conseguia se aproximar dela sem amá-la e desejar sua convivência.
Jocelyn e Lourdes constituíram uma família formada por nove filhos: Liana, Jocelyn, Alberto, Sônia, Luís, Ricardo, Maria Honorina, Dinarte e Maria Beatriz.
Liana Nasceu no dia seis de abril de 1944, em João Pessoa. Estudou no Colégio Santa Rita (Internato das Irmãs Franciscanas de Dilligen), em Areia, PB. Formou-se em Pedagogia pela UFPB. De seu primeiro casamento, com Guipson, nasceram dois filhos: Francisco Lustosa e Patrícia. Em 1975 casou-se com José de Lima, nascendo desta união, Tiago, seu filho caçula. Atualmente trabalha na Superintendência do SENAC, em Salvador-BA, cidade onde mora desde 1975. Jocelyn Nasceu em 23 de fevereiro de 1945, em João Pessoa. Formou-se em Agronomia pela UFPB em 1968 e em 1977 concluiu seu mestrado em Nutrição Animal e Pastagens, na USP. De seu primeiro casamento, com Rosa, nasceram três filhos: Thaís, Tatiana e Eric. Em 1999 casou pela segunda vez, com Patrícia, e teve uma filha de nome Maria Carolina (in memorian). Foi extensionista rural na Ancar-PB, professor da UFPB, em Areia, no curso de Agronomia e trabalhou na Refinação de Milho do Brasil, em Campina Grande. Hoje é aposentado pela UFPB. Alberto
Nasceu em 20 de maio de 1946, em Santa Rita. Formou-se em Agronomia pela UFPB, em Areia-Pb. Casou-se com Maria de Lourdes Cavalcante, nascendo desta união Alberto, André e Renata.
Luiz Nasceu no dia 20 de abril de 1948 no Engenho Tibiri, em Santa Rita. Dedicou-se às atividades esportivas, sendo um excelente jogador de voleibol. Foi o 1º técnico do Instituto João XXIII, naquela modalidade por vários anos. Formou-se em Engenharia Civil pela UFPB. Casou-se com Verônica Jerônimo, com quem teve três filhos: Manuela, Luiz Filho e Maria Rafaela. Hoje administra sua própria empresa de Engenharia, e reside em João Pessoa. Sônia Maria Nasceu em Santa Rita, em 25 de junho de 1949. Como sua irmã Liana, estudou no Colégio Santa Rita, em Areia. Formou-se em Letras – Inglês/Português, pela UFPB. Em 1971 casou-se com Normando Melquíades de Araújo, e dessa união nasceram Fabiano, Rodrigo e Marina. Foi professora de inglês na UFPB e aposentou-se em 1994. Em fevereiro de 1999 nasceu Bruna, fruto da união de seu filho Rodrigo com Luciana e 1ª bisneta da família Santiago Brandão. Ricardo Nasceu no dia 17 de maio de 1951, em João Pessoa. Estudou no Colégio Pio X e formou-se em Geologia pela UFPE. Casou-se com Roseane Toscano, em 1980. Tiveram três filhas: Naiara, Indira e Maria de Lourdes (in memorian). Hoje administra sua empresa de perfuração de poços e mora em João Pessoa.
Maria Honorina Nasceu em 30 de março de 1955, em João Pessoa. Estudou no Instituto João XXIII, onde foi atleta de voleibol, chegando posteriormente a participar da seleção paraibana. Formada em Administração pela UFPB, trabalha no Tribunal de Contas da Paraíba. Casou-se com Zenildo Mendonça e teve três filhos: Janine, Zenildo e Renan. Reside em João Pessoa. Dinarte Nasceu no dia 11 de abril de 1956, em João Pessoa. Estudou no Colégio Pio X, onde se destacou como atleta, tanto em atletismo (salto com vara), como em pólo aquático. Nesta modalidade foi com a delegação brasileira, em treinamento, para a Europa. Formou-se em Agronomia e Zootecnia pela UFPB. Casou-se com Grace Moreira com quem teve três filhos: Ícaro, Arthur e Talita.
Maria Beatriz Nasceu no dia seis de novembro de 1957. Estudou no Instituto João XXIII e foi atleta nas modalidades de vôlei e ginástica rítmica, fazendo parte da 1ª seleção paraibana que participou dos JEB’s (Jogos Escolares Brasileiros), em Brasília, no ano de 1973. Formou-se em Administração pela UFPB. Casou-se com Alisson Torres e com ele teve três filhos: Adriana, Alisson e Tibério. Hoje é proprietária da Oficina do Tênis, em João Pessoa, onde reside.
Família Leite de Lima
José Ferreira de Lima, conhecido por todos como José de Judith, era filho de Judith Correia de Araújo e pai “não declarado”. Foi registrado como filho de Manoel Ferreira de Lima. Nasceu no ano de 1918 em Santa Rita. Estudou no Patronato de Bananeiras dos 9 aos 13 anos, onde obteve formação escolar básica.
Segundo relato de sua filha Geruza, o seu pai tinha um temperamento alegre, gostava de bailes, era “pé de valsa” e muito “boa pinta”. Tinha bom papo e era chegado ao desfrute do lado bom da vida. Chegava até mesmo a ser chamado de boêmio, pois além de ser bastante assediado pelas damas da época, vestia-se à rigor. Não dispensava um bom terno de casimira, sapatos de duas cores e chapéu de Panamá. Caprichava no lenço perfumado, cravo no peito, e fumava charutos, de preferência com piteira. José de Judith, sempre foi o mais otimista dos jovens da época, só enxergando o presente. O importante para ele sempre era o momento, aqui e agora. Sua frase preferida era: “O futuro a Deus pertence”. Nem o casamento conseguiu amadurecê-lo para a vida. Ele casou com a jovem Maria Emília Salustiano Leite, oriunda de Pirpirituba, na Paraíba. O enlace aconteceu na igrejinha do Engenho Tibiri, no dia 31 de maio de 1939. O jovem casal contou com o apoio de Dona Maroca, que com a colaboração de Lourdes e algumas pessoas amigas realizaram uma bonita festa.
Maria Emília contava que poucos meses depois do casamento, José se desfez de algumas cabeças de gado para gastar na farra, sendo este o motivo do primeiro grande desentendimento do casal. Segundo Geruza, seu pai passou fora aproximadamente seis dias, chegando “de leve” , como se nada tivesse acontecido, trazendo um buquê de rosas vermelhas e um perfume caro, chamando-a de “minha velha” e pedindo para ela falar baixinho, alegando fortes dores de ouvido. José de Judith era assim! A vida para ele se resumia no sucesso do bem vivê-la.
“Papai, durante toda a sua vida, dedicou-se à arte da cerâmica. Muito jovem, assumiu a responsabilidade de gerenciar a Cerâmica Tibiri de Eitel Santiago, onde também era mecânico. E entendia das máquinas tanto quanto os engenheiros que, de vez em quando, eram chamados para revisões de praxe. Dizia meu padrinho Eitel que José era tão inteligente que dava medo”. No entanto, não era ambicioso. Meu pai era mesmo um sujeito legal! Era leitor assíduo dos jornais locais e do Diário de Pernambuco. Devorava as revistas informativas da época – “O Cruzeiro” e “A Manchete”. Tinha uma caligrafia desenhada, seu papo ia longe, era bem informado e gostava de política. Foi candidato, por esporte, a vereador na cidade de Santa Rita no ano de 1960, e sem fazer nenhuma chapa ou panfleto ficou na 2ª suplência, tendo sido votado principalmente pelo Bairro dos Populares, na área do Cuzcuz, onde era situada a concentração das damas da noite. Papai gostava muito de assobiar, e chegou a participar de um concurso na rádio, ganhando o 1º lugar e o apelido de “Bico de Ouro”. Foi acidentado na Cerâmica Tibiri e teve o braço esquerdo esmagado. Sendo indenizado pelo IPASE recebeu, na ocasião, dinheiro que dava para comprar uma boa casa na cidade. Ao invés disso, foi para o Recife e, no “Buraco de Otília” e outros pontos de apoio da boemia, gastou “tostão por
tostão”, chegando ao Engenho dias depois, com presentes banais para todos e uma mercearia recheada de iguarias da época. Papai era carinhoso e sempre foi um bom pai! Para entendê-lo foi necessário que crescêssemos e dessemos uma volta ao passado, analisando suas origens e dramas vividos por sua família núcleo. Falava sempre com carinho dos irmãos Lourdes e Romero, no entanto, quando lhe perguntávamos sobre sua mãe e sua paternidade, ele era rude. Exigia que nos calássemos e mudava o tom da conversa. Dizia que estava vivo, com saúde, e isto era o que importava. Sabemos muito pouco sobre minha avó Judith. Nossas indagações e todos os assuntos que começavam com seu nome eram calados e encerrados de imediato. Nesta época, eu estudava no Grupo Escolar João Úrsulo, em frente à casa de Mãezinha, amiga íntima de minha avó Judith. Para lá fui muitas vezes e passava o resto da tarde ouvindo as histórias de Mãezinha. Segundo a mesma, Judith foi uma moça muito bonita. Contava-me sempre sobre vovó participando, aos 14 anos, de um Pastoril. A descrevia como a mais atraente das pastoras e contava como sua linda roupa e o perfume do seu corpo mexeram com os três mosqueteiros. Os três mosqueteiros sempre foram um mistério para o meu entendimento, eu não sabia de que nem de quem se tratava, e quando indagava a alguém sobre o fato ordenavam que eu me calasse. O fato é que o engenho Tibiri recebeu Dona Lindoca como hóspede e de lá ela não mais saiu. Minha avó Judith obviamente foi apenas mais uma das vítimas do destino. Das palafitas às margens do rio Purus aos canaviais do Engenho Tibiri, Judith, agora uma adolescente despreparada, foi o alvo certo para início de uma etapa fatídica. Foi mãe muito cedo. Teve sua primeira filha, do filho mais velho de Sindulfo e Maria Honorina. Desde então não teve mais tranqüilidade. Ao engravidar do segundo filho, foi alvo de calúnias e difamações. Assim, resolveram que Judith devia casar. E, segundo Mãezinha, foi a época em que vovó mais sofreu. Casaram-na com o jovem Manoel Ferreira, agricultor da região, que recebeu vantagens financeiras e uma casa para morar.
A jovem Judith nunca aceitou a união e tendo que conviver com um casamento de conveniência perdeu o gosto pela vida. Tornou-se uma pessoa amarga, uma mulher marcada pelo sofrimento. Ainda continuou se relacionando com os Santiago no Engenho Tibiri, engravidando do seu terceiro filho. Após tê-lo, tempos depois, separou-se, por entender que preferia ficar só e levar sua própria vida. Mãezinha contou que, com a separação, Manoel Ferreira passou a viver com Vina (Macina), uma costureira de Jacaraú. Nunca tiveram filhos e adotaram como filha uma menina de nome Vera Lúcia.”
José, quando deixou a Cerâmica em Santa Rita, foi trabalhar em São Luiz do Maranhão, na implantação e gerenciamento de uma Cerâmica pertencente a Valter Santiago, filho de Eitel, com quem José tinha uma grande aproximação e relacionamento. Neste período, conviveu com seu irmão Romero, quando os dois trabalharam na mesma Cerâmica em São Luiz, cidade onde ele fixou residência, levando para lá sua família.
José e Maria Emília tiveram oito filhos criados: Fernando, Judith Mércia, Geusa, Romero, Carlos, Gerusa, Josilene e José.
Família Barbosa Calzavara
Batista e Maria Todos os dezembros são iguais, mas para os Barbosa Calzavara o de 1992 precisava ser comemorado em grande estilo. Batista completava 70 anos! Maria mandou rezar uma missa, às 7 horas da manhã, no “Berço de Belém”, uma capelinha localizada perto da casa onde moravam, e onde costumavam assistir a missa aos domingos. Batista fez questão de ser o comentarista e seu filho Benito, com sua esposa Rosani, leram as primeiras leituras. Para a recepção, ficou Benito com a responsabilidade de procurar o local, sendo assim escolhido um lugar mais afastado da cidade, próximo à Baía do Guarajá. Benito seguiu a mesma profissão do pai, é agrônomo. Quando nasceu, poucas crianças trouxeram tanta alegria e vibração, pois além de vir completar uma família de quatro meninas, garantiu que o nome Calzavara passaria para as próximas gerações.
Maria organizou juntamente com as filhas o cardápio, e como todas são muito eficientes na arte culinária, resolveram elas mesmas fazer as iguarias da festa. Ninarosa preparou os Perus à Califórnia com todos os acompanhamentos e tudo belamente decorado. Nina, a filha mais velha, é médica pneumologista e se dedicou à profissão com a mesma garra e determinação do pai, dispondo de um excelente currículo. Estudiosa e pesquisadora, elaborou e passou a coordenar Programas de Controle para Portadores de Tuberculose Multirresistentes. Seu trabalho é referência para a Região Norte (Amazônia). Carla, a segunda filha do casal, é agrônoma, como o pai e o irmão. Atualmente trabalha na Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. Ficou encarregada de fornecer todos os salgadinhos e as frutas utilizadas na decoração. Gina foi a que mais herdou os dons culinários das mulheres da família Barbosa. Mais exigente e detalhista, fez um estágio com a Tia Dorinha em João Pessoa, ficando portanto com a maior responsabilidade. Gina é formada em Administração com especialização em Gestão Pública Federal e atualmente, na Universidade Federal do Pará, desenvolve estudos, pesquisas e projetos na área de produção, agricultura familiar e oficinas itinerantes. Na festa, preparou o Filé ao Vinho com acompanhamentos de cogumelos e molhos, decorado com melão, presunto, fio de ovos e cereja em calda, além de um gostoso prato de bacalhau com camarão, e canapés como entrada. Bruna, a filha mais nova, assumiu o bolo e os docinhos diversos. O bolo foi tipicamente paraense com recheios de Cupuaçu e Castanha do Pará. No entanto, como havia muitos docinhos, não foi preciso parti-lo, e resolveram doá-lo para um asilo, iniciativa esta que com certeza os velhinhos adoraram. Bruna tem o 2º Grau Completo e desenvolveu muito suas habilidades manuais e o bom gosto para decoração. Ela e Gina assumiram toda a decoração da festa. As mesas foram forradas com toalhas brancas, tendo ao centro um arranjo de flores naturais na cor vermelha, com folhagens. A mesa do buffet tinha um arranjo de flores e frutas com todos os tipos que se podia conseguir. O bolo e os docinhos foram colocados em lâminas de vidro e sobre taças.Maria
ficou encarregada de fazer uma salada especial e o arroz. Acompanhava a salada um molho numa taça de vidro grande, tendo ao pé um laço de fita dourada igual à usada no tender e no bolo. Finalmente, o parecer de Maria sobre a grande comemoração foi o seguinte: “Tudo saiu como manda o figurino: bonito e requintado. Se tivesse de dar nota, daria 10! Ele, apesar de não gostar de festa, ficou feliz. A festa deu muito trabalho, mas afinal ele mereceu, por todos os anos de dedicação e amor. Certamente faríamos tudo de novo”. Resta agora aguardar os 80 anos, se Deus quiser!” Batista e Maria se conheceram quando estudavam no Liceu Paraibano. Batista lecionava matemática à noite para um grupo de estudantes que sentiam dificuldades na matéria dada no turno da manhã. Maria fazia parte deste grupo. Na noite de 26 de novembro de 1944 começou oficialmente o namoro, que terminou em casamento realizado no dia 26 de julho de 1951. Segundo Batista, o dia 26 tornou-se um marco na vida do casal, visto que essa data é todos os meses comemorada a dois, quando saem para jantar. O casal foi morar no território do Amapá. Uma preocupação existente no pensamento de Batista era a adaptação da esposa às condições completamente diferentes das sentidas na região Nordeste. Para contornar este receio, no retorno, ele e Maria permaneceram por três dias em Fortaleza, seguindo depois para Belém do Pará, onde ficaram mais três dias, aguardando o avião da Cruzeiro do Sul para Macapá. O aeroporto geralmente ficava cheio de pessoas interessadas em saber de notícias dos parentes. Na ocasião, estava o Governador Janari Nunes e sua esposa, que convidaram o casal para jantar em sua residência, deixando os dois muito sensibilizados com o convite. Maria se adaptou muito bem ao Macapá, e ao mudar-se para Belém sentiu saudades. Em Belém foram morar o Instituto Agronômico do Norte, onde funcionava a Escola de Agronomia da Amazônia, permanecendo lá por 19 anos.
Batista e Maria
O casal constituiu uma família formada por cinco filhos: Ninarosa, Carla, Gina, Bruna e Benito; além de nove netos: Alexandre, Arthur, Augusto, Luís Euclides, Carime, Bruno, Breno, João Gabriel e Giovana.
Ninarosa Nasceu no dia 23 de junho de 1953, em Belém do Pará. Formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Pará, concluindo residência médica em Pneumologia, no Hospital Universitário João de Barros Medeiros Barreto – HUJBB, em dezembro de 1969. Ninarosa é casada com o engenheiro mecânico Adolfo Honorato Cardoso, com quem constituiu uma família formada por três filhos: Alexandre, Arthur e Augusto (in memorian).
Carla Nasceu no dia nove de março de 1955, em Belém do Pará. É formada em Engenharia Agronômica pela Faculdade de Ciências Agrárias – FCAP, onde trabalha. Casou-se com o engenheiro da Petrobrás Luís Euclides (in memorian), com quem teve um filho, Luís Euclides Coelho de Souza Filho, estudante de fisioterapia.
Gina Nasceu no dia nove de julho de 1958, em Belém do Pará. Estudou nos seguintes colégios: Suíço-Brasileiro, Gentil-Bittencourt e Adventista de Belém. Formou-se em Administração pela Faculdade Integrada do Colégio Moderno – FICM, e fez especialização em Gestão Pública Federal. Atualmente trabalha na UFPA.
Bruna Nasceu no dia 28 de agosto de 1959, em Belém do Pará. Concluiu o segundo grau e atualmente é dona de casa. Casou-se com Raimundo Cézio Flores Filho, funcionário do ministério da Fazenda-Delegacia da Receita Federal, em Belém. O casal constituiu a família Calzavara Flores, formada por três filhos: Carime, Bruno e Breno.
Benito Nasceu no dia 15 de outubro em 1963, em Belém do Pará. Formou-se em Engenharia Agronômica pela Faculdade de Ciências Agrárias do Pará – FCAP, em 1985, e atualmente é agrônomo do Banco da Amazônia. Casou-se com Rosane, também agrônoma e funcionária do Banco do Brasil. Tiveram dois filhos. João Gabriel e Giovana.
Família Calzavara de Araújo
Romero e Josefina casaram-se no dia 05 de julho de 1948 na residência da noiva, à Rua Desembargador Souto Maior, no 66, em João Pessoa. O casal foi morar em Mulungu, onde Romero trabalhava como administrador da Fazenda Nazaré, pertencente a Eitel Santiago. A Fazenda Nazaré, com 1.200 hectares, foi o cenário da infância da maioria dos filhos do casal. Localizada às margens da estrada de chegada à cidade, a casa sede era branca, com janelas e portas em tons de azul colonial. De um lado ficava o curral e do outro o terraço, e o armazém um pouco mais atrás. No quintal, as árvores tinham seu espaço, realçando a paisagem. O umbuzeiro tinha galhos que formavam os assentos da criançada que ficava no alto, comendo seus frutos e até mesmo suas folhas, com seu sabor azedo. Mais adiante, perto da porteira que dava passagem para o rio, erguia-se o pé de trapiá, e próximo à porta dos fundos do armazém, o juazeiro, que com sua copa verde soltava os juás amarelinhos no chão. O rio Mamanguape, corria no seu leito atrás das casas. Os meninos conheciam todas as suas curvas e os locais
onde a água era mais profunda ou mais forte por causa da correnteza. A pedra enorme chamada “Pedra de Seu Romero” localizada atrás da casa, era um excelente trampolim, servindo também de apoio para agrupar os cavalos que tomavam banho após as caminhadas. Os sons que se ouviam durante o dia tinham como compasso o barulho da Usina, situada em frente à casa da fazenda. O apito do trem e o pequeno vagão chamado de “Trole” apareciam de vez em quando. O mata-burro anunciava todos os carros que passavam pela estrada de barro, levantando poeira. O mugido do gado, o chiado da roda do carro-de-boi, o latir dos cachorros, o barulho dos gansos, o trote dos cavalos e o tinir das esporas de Romero integravam a grande orquestra. Também o cantar dos canários e dos galos de campina eram agradáveis de se ouvir! O mato verde do inverno exalava um cheiro inconfundível. O curral e o suor dos cavalos, com seus odores característicos, também eram bastante familiares.
À noite, a luz proveniente do motor da rua do Juá iluminava as residências até as dez horas. A partir de então, as estrelas do céu ficavam mais brilhantes e bonitas! Romero acendia o lampião a gás, cuja luz se refletia na parede da Usina. Ao amanhecer, a criançada era acordada com a chegada no quarto de uma bandeja com copos de leite tirado das vacas. Com os pés no chão, sentindo o friozinho do cimento, corriam para as brincadeiras. A ansiedade e a expectativa da vida lá fora se confundiam com o café da manhã. Uma mesa farta, com jerimum de leite, coalhada, pão com ovos e uma xícara de café com leite era geralmente engolida às pressas, para não se perder tempo. As brincadeiras eram muitas: andar em cima de tonéis como malabaristas, andar equilibrando-se nas linhas do trem, subir nas árvores, fazer “cozinhado”, caminhar sobre quengas de coco amarradas com barbante de agave, pular academia e corda, jogar ossinhos e bolas de gude. Tudo isso fazia parte da rotina diária das crianças. No curral, logo que o gado saía para as pastagens, o espaço era utilizado para as brincadeiras. Pular cerca, brincar de pega-pega, fazer botas de lama no período chuvoso, correr com cavalos de pau, eram atividades que aconteciam normalmente antes do banho de rio. Os cavalos da fazenda constituíam uma grande atração. Depois de montados, a decisão dos caminhos a seguir variava entre a Mumbuca, a Várzea de Baixo e o Açude dos Bimbins, podendo dar uma “esticadinha” até a Fazenda Primavera, tendo sempre como companheiro em todas as jornadas o inesquecível Danúbio, cachorro pastor alemão que com muita naturalidade e garra assumia a responsabilidade de acompanhar e proteger as crianças. A satisfação de cavalgar nos cavalos baixeiros deixava a turma pertinho de céu. Os cavalos sempre foram os melhores, e tinham nomes interessantes: Pássaro Preto, Veado, Cavalo Pampo e Cavalo Melado, Segredo, que era todo branco, Rei de Ouro, Cabrito, que não podia ver ninguém na sua frente, Gato Preto, Arreganhado, porque uma vez levou uma queda desastrosa, Abacaxi, entre outros.
As brincadeiras à noite eram: contar histórias, contar as estrelas, descobrir desenhos nas nuvens, brincar de circo, cantar as músicas da época ou ir ao cinema na rua do Juá. Ao mesmo tempo, convivia-se com o cotidiano da vida rural.
Mulungu, ou Camarazal, como era chamada pelos mais velhos, tinha todas as características de uma pequena cidade interiorana. Nos dias de sábado, a feira era o ponto de encontro das pessoas da redondeza. Para as crianças, o setor de cerâmica era uma verdadeira festa, com panelinhas e bichinhos de barro que faziam parte de suas brincadeiras. A raspadinha de coco e de maracujá, os alfinins em formato de bichinhos e o doce americano eram irresistíveis! As novidades da política saíam contadas de boca em boca. À noite, no cinema, sempre tinha um filme de Tarzan ou de faroeste. A difusora da cidade apresentava os famosos “postais sonoros”. Quem não se lembra da inconfundível voz de Angela Maria ao cantar “Meu lencinho branco”, “Quem
eu quero não me quer”, com Anísio Silva e Iracema com os Demônios da Garoa, entre outros sucessos que marcaram época.
Romero tinha uma atuação muito forte na vida da cidade, sempre procurando, juntamente com seus companheiros políticos, resolver os problemas e as necessidades da comunidade mulunguense. Foi eleito vereador representando o distrito de Mulungu na Câmara Municipal de Guarabira. Participou do processo que culminou com a emancipação política da cidade, contando para isto com o apoio do deputado estadual Joacil de Brito Pereira, entre outros. Mulungu tornou-se oficialmente município no dia 1º de setembro de 1959. A cidade localiza-se às margens do rio Mamanguape, sendo seu nome originário de uma planta muito comum na região. O suporte econômico do município, na época, era a lavoura, destacando-se as plantações de algodão, agave, milho e feijão. O algodão era beneficiado na Usina Soares de Oliveira. A pecuária, ainda hoje, apresenta-se como uma importante atividade econômica, tendo ainda uma cerâmica que aproveita a argila de boa qualidade presente na região. Além de administrar a Fazenda Nazaré, Romero tornou-se proprietário do único cinema da cidade, que tinha capacidade para aproximadamente 200 pessoas. As vaquejadas e cirandas eram freqüentes nos momentos importantes de festejos da cidade. A igreja, cujo padroeiro é Santo Antônio, teve sua construção iniciada em 1943 e concluída 30 anos mais tarde. Localizada no alto, chama atenção por sua imponência.
Josefina tinha uma grande atuação na área social. Criou o Clube de Mães de Mulungu, onde organizava eventos importantes para a comunidade, como o Natal das Crianças, com distribuição de presentes, o mês de maio, com a novena e coroação de Nossa Senhora, a primeira comunhão dos filhos das sócias, a realização de cursos de bordado, costura, artesanato e arte culinária e a distribuição de alimentos para os mais carentes e de enxovais para os recém nascidos. As mais importantes festas comemoradas na cidade eram as do período junino. Tinham dois bailes: uma era realizada no armazém da casa da fazenda e o outro na rua do Juá. A fogueira da casa da fazenda era imensa. Tinha também
“Pau de Sebo” com bandeira de São João Batista, muitos fogos e comidas regionais. As festas de fim de ano eram comemoradas na rua, onde era montado um grande pavilhão e um parque de diversão. Na Igreja realizava-se a Missa do Galo. Josefina sempre armava o presépio no Clube de Mães e realizava, com ajuda da sociedade local, o natal das crianças pobres. Para seus filhos, Josefina nunca deixava de colocar os presentes embaixo das camas ou redes, quando todos estivessem dormindo.
Romero chegou a se candidatar a Prefeito de Mulungu por três vezes, sem contudo alcançar o seu objetivo político. Em 1964, com a maioria dos filhos estudando em João Pessoa, resolve segui-los, mudando-se para a casa de Dona Nina, reunindo toda a família e iniciando uma nova etapa de sua vida. Primeiramente trabalha na Recebedoria de Renda do Estado, indo depois comercializar agave, entregando o produto na COSIBRA. Em seguida vai para a Cerâmica Cinsera, em Santa Rita, de propriedade de Sindulfo e Fernando Santiago. Também participou da implantação do Projeto CINPARGado Nelore, no município de Uruçuí, estado do Piauí. No Maranhão, trabalhou na Cerâmica de Valter Santiago, juntamente com seu irmão José. Voltando à Paraíba, aposenta-se, passando a ajudar sua filha Kátia nas atividades da Treviso Confecções.
Dona Nina retratava a verdadeira “mamma italiana”. Falava com gestos articulados, era ágil e sempre estava disposta para o trabalho.
A casa de Dona Nina traduzia um conforto peculiar. Ao cruzar a porta principal sentia-se de imediato um cheiro agradável de limpeza. O chão bem encerado e brilhante do corredor tinha adiante os pilares de tijolos aparentes e a cortina de renda. O rádio, o tic-tac do relógio e o tilintar dos pingentes do lustre da sala soavam como música aos nossos ouvidos. Organizava a casa de maneira que ela comandava harmoniosamente. Seus espaços eram definidos de acordo com as atividades e interesses de cada um. Antes de acomodar a família de Romero, na sua maior e mais clara sala funcionou o escritório de Giuseppe, com uma grande mesa cuja altura podia ser ajustada de acordo com as tarefas a serem desenvolvidas, e que vivia cheia de papéis, lápis, pincéis, tintas e todos os apetrechos utilizados nos desenhos das plantas topográficas de Giuseppe. No entanto, a ordem era única: não se podia mexer nem tampouco arrumar. O quarto antes pertencente a Batista guardava recordações de seu aprendizado na Escola de Agronomia. A coleção de borboletas coloridas de diversos tamanhos e formatos era uma atração para os olhos. Todas bem arranjadas sobre tecidos de cor escura e espetadas com alfinetes contrastavam com a coleção de besouros cujos formatos e tamanhos davam uma impressão exótica. Completava o acervo uma considerável quantidade de vidros com os mais diversos tipos de cobras que se podia imaginar. Todos tinham esquisitos nomes com suas respectivas identificações científicas. A sala de visitas e o quarto da frente eram exclusivos de Dona Nina. A arrumação e o conforto das camas seguiam as tradições européias, mesmo no calor tropical. As colchas eram confeccionadas em casa e os tecidos conhecidos como “damasco”, com franjas nas barras ou nos babados, davam
um charme especial ao quarto de dormir. A cozinha, com personalidade própria, tinha na parede maior, em cima da mesa, uma grade de madeira azul com pequenos ganchos simetricamente distribuídos, onde cada panela tinha o seu devido lugar, por ordem de tamanho. A alimentação tinha as suas peculiaridades. As saladas eram simples, regadas ao molho vinagrete. A que mais agradava era a de feijão escorrido, que também ao molho vinagrete era comida com pão. A carne guisada recebia dois ou três cravos e um pouquinho de extrato de tomate, podendo ser acompanhada por uma polenta, prato que nunca faltava. Os bolinhos, as sopas, as gemadas, os ovos “a la coque”, a macarronada e as papas de chocolate com cobertura de suspiro e doce de ameixa eram as verdadeiras delícias da vovó!
Como Dona Nina não dominava o idioma português, a maneira que ela encontrava para que todos estudassem, era a boa organização do ambiente de estudo. Separando os maiores no escritório e os menores na sala de jantar, com livros de pintura e desenho, cada um tinha a responsabilidade de cumprir suas tarefas. Nos dias chuvosos, a criançada sempre encontrava a vovó carregada com capas e guarda-chuvas na saída da escola. Em casa, esperava uma alimentação reforçada e os cuidados para que não se apanhasse resfriado. Dona Nina trabalhava com a força e a coragem de uma camponesa. Gostava de plantar hortaliças, flores, e criava pequenos animais, como coelhos, galinhas e pombos. Apreciava um bom café ou um bom vinho, principalmente se regado ao som de “Beniamino Gigli” e “Caruso”. Muito religiosa, freqüentava e levava os netos à igreja Mãe dos Homens. Todas as noites ensinava-os a rezar, sempre terminado com o seguinte pedido:
- Papai do céu, fazei que eu seja um menino bem, bem, bem... E a criança respondia: - Bonzinho! Nos momentos de tumulto, que era normal devido às brincadeiras barulhentas das crianças, costumava dizer em voz alta: - Jesus, Maria, José, eu vou daqui à Belém a pé! Como todo italiano, tinha sangue quente, e quando precisava não dispensava o “cabo da vassoura”. E todos lhe obedeciam...Tinha uma percepção avançada da vida, incentivando e apoiando a liberdade de cada um na busca de suas aspirações. Participou decisivamente da formação dos filhos de Romero e Josefina. Os mais velhos iniciaram os estudos na Escola Modelo do Estado, passando em seguida para o Lyceu Paraibano. Já os mais novos estudaram no Instituto Presidente Epitácio Pessoa – IPEP, de propriedade de Maria Bronzeado Machado. O envolvimento com as atividades esportivas foi comum a todos, em várias modalidades. Participavam dos jogos escolares, jogos da primavera e integravam as seleções da Paraíba. A participação como sócios e atletas nos principais clubes da cidade, Esporte Clube Cabo Branco e Astréa, movimentava a vida dos jovens, que sempre foram freqüentadores assíduos dos seus jogos, festas e carnavais.
Romero e Josefina formaram uma família constituída por dez filhos: Janete, Romero José, Maria de Fátima, Rejane, Kátia, Giuseppe, Cláudio, Gabriel, Guilherme e Nelson.Todos se dedicaram aos estudos chegando ao nível superior e iniciando, ainda jovens, suas atividades profissionais.
Janete Nasceu no dia oito de julho de 1949, em João Pessoa. Estudou no Grupo Escolar Epitácio Pessoa, Escola Modelo do Estado, Lyceu Paraibano e Escola de Formação de Professores. Formou-se em Economia pela UFPB e fez especialização em planejamento urbano e regional na UFRS. Casou-se com o geólogo José João Correia de Oliveira e teve quatro filhos: Ana Emília, de quem tem uma neta chamada Virgínia, Janine, Romero e José João Filho. Janete tem um temperamento calmo e conciliador. Costuma olhar a vida sempre pelo lado positivo, e consegue transformar as pequenas coisas em grandes momentos. Valoriza muito a convivência e as amizades. Com José João, costuma ter a casa sempre cheia de amigos. Atualmente mora em Campina Grande, onde trabalha na Prefeitura Municipal.
Romero José Nasceu no dia sete de novembro de 1950, na cidade de João Pessoa. Teve uma infância livre, vivendo solto pelos campos da Fazenda Nazaré em Mulungu. Estudou na Escola Modelo do Estado, indo depois para o IPEP, seguindo orientação de sua diretora, Dona Maria Lima, por ser aluno um tanto rebelde. No IPEP, aos cuidados de Dona Maria Bronzeado, conseguiu se entrosar e concluir o curso primário. Em seguida, foi para o colégio Pio X, começando a se dedicar às atividades esportivas. Ao se destacar como atleta, foi estudar no colégio Lins de Vasconcelos, tornando-se atleta nas modalidades de Judô, Basquete e Vôlei, participando de várias seleções e jogando basquete pelo Esporte Clube Cabo Branco. Teve uma filha chamada Rosemere, a primeira neta da família Calzavara de Araújo. Estudou no UNIPÊ, formando-se em Educação Física. Casou-se com Célida Rabello, com quem teve duas filhas: Domênica e Bianca. Hoje mora em João Pessoa, é aposentado pela Universidade Federal da Paraíba e assessor na Prefeitura Municipal de João Pessoa.
Maria de Fátima Nasceu no dia 12 de maio de 1952, em João Pessoa. Criança esperta e voluntariosa, sempre foi a que mais questionava e tentava impor seus pontos de vista. Gostava muito de andar à cavalo e participar de brincadeiras na Fazenda Nazaré. Cursou o primário na Escola Modelo do Estado e o científico no Lyceu Paraibano. Nesta época também era atleta, sendo carinhosamente chamada pelos colegas de “Puxinha”. Formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraíba, onde tinha uma turma muito animada que costumava freqüentar as noites de João Pessoa. Casou-se com Márcio Javan, também engenheiro, com quem teve três filhos: Marcel, Sílvio e Naara, de quem tem uma neta chamada Maria Eduarda. Atualmente mora em João Pessoa e trabalha como engenheira na EMLUR (Empresa Municipal de Limpeza Urbana).
Rejane Nasceu no dia cinco de agosto de 1954, na cidade de João Pessoa. Estudou na Escola Modelo, indo depois para o IPEP, começando nesta época a participar de várias atividades esportivas e da banda marcial. Em seguida fez o científico no Lyceu Paraibano. Integrou a Seleção Paraibana de Ginástica Rítmica Desportiva, que participou dos JEB’s (Jogos Escolares Brasileiros), em Brasília, no ano de 1973. Integrava ainda a equipe de basquete do Esporte Clube Cabo Branco. Formou-se em Educação Física no Ipê. Ainda estudante, começou a exercer a profissão tanto na Prefeitura como no Estado (Dede). Especializou-se em Dança no Rio de Janeiro, onde reencontrou Ariosto Ferraz da Nóbrega, seu ex-namorado, que por coincidência também fazia, naquela cidade, sua especialização. Com a conclusão dos cursos, os dois voltam para João Pessoa e se casam. Dessa união nasceram três filhos: César, Marina e Cláudia. Hoje é professora do Instituto João XXIII e do Orfanato D. Ulrico.
Kátia Nasceu no dia 10 de novembro de 1956, em Mulungu, na época distrito de Guarabira. Tinha cabelos cacheados, olhos verdes e um temperamento alegre e extrovertido. Estudou na Escola Modelo do Estado, indo em seguida para o IPEP, onde concluiu o curso médio. Participou de atividades esportivas e tocou na Banda Marcial. Fez parte da Seleção Paraibana de Handebol. Juntamente com suas irmãs Maria de Fátima e Rejane, integrou a equipe de basquete do Esporte Clube Cabo Branco. Kátia costumava acompanhar os irmãos Gabriel, Cláudio, Guilherme e Nelson nas noites de João Pessoa, principalmente no bar O Travessia, onde conheceu Airton Vicente Pinheiro de Oliveira, com quem teve um filho chamado Giovanni. Formou-se em Educação Física no Ipê e foi trabalhar no Dede, onde chegou a ser técnica da equipe de Ginástica Rítmica Desportiva da Paraíba. Hoje é professora do Instituto João XXIII e tem uma fábrica de fardamentos escolares, a Treviso.
Giuseppe Nasceu no dia 24 de novembro de 1957, em João Pessoa. Menino esperto e de fácil relacionamento, teve uma infância privilegiada na fazenda Nazaré em Mulungu. Andava a cavalo, subia nas carroças de boi, acompanhando os trabalhadores em suas tarefas. Ficou sendo chamado de Cuca, e querido por todos os moradores da fazenda. Sempre teve grande afinidade com seu primo Dinarte, formando uma dupla em todas as brincadeiras. Tinha grande admiração pelo tio Jocelyn, com quem aprendeu a lidar com as “coisas do mar”. Estudou no IPEP e participou da banda. Na modalidade de atletismo chegou a ser campeão brasileiro de salto com vara nos JEB’S (Jogos Escolares Brasileiros) e foi para a Alemanha junto à seleção brasileira de atletismo por dois anos consecutivos. Casou-se com Eneide Valones e teve dois filhos: Bruno e Aline. Hoje trabalha como professor do Estado e na Alfa Pesca, em Cabedelo.
Gabriel Nasceu no dia 14 de março de 1961, em João Pessoa. Estudou no IPEP, participando da equipe esportiva daquele educandário. Excelente jogador de basquete, integrou a seleção paraibana. Começou seu curso superior de economia em Campina Grande, onde conheceu Fernanda e teve sua primeira filha, Bárbara. Transferiu-se para João Pessoa e estagiou na SAELPA, onde conheceu Lúcia, com quem teve mais dois filhos, Victor e Bruna, formando sua família. Gabriel costumava freqüentar, juntamente com seus amigos e irmãos, as noites de João Pessoa. Temperamento envolvente, de fácil comunicação, gostava de recitar as poesias de Vinícius de Moraes, conquistando simpatias. Trabalhou no Projeto Nordeste, dedicando-se à elaboração e acompanhamento de projetos para pequenos produtores. Nesta época começou a se entrosar com as colônias de pescadores do estado. Foi para a CINEP e começou a participar da organização do pólo pesqueira do estado. Foi indicado para fazer um curso na área de pesca no Japão, passando lá três meses. De volta, começou a implantar atividades no setor pesqueiro. Hoje é diretor do Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura em Brasília.
Cláudio Nasceu no dia 17 de junho de 1963, em João Pessoa. Criança que chamou atenção por sua beleza, de olhos azuis, cabelos louros esbranquiçados, recebeu por isso o apelido de Caduco. Teve uma participação a mais na sua formação, por parte dos vizinhos Alcides e Lenira, que faziam todas as suas vontades, levando-o constantemente para o seu convívio. Esta amizade continua até hoje. Estudou no IPEP e, como os demais irmãos, jogava basquete. Muito estudioso e organizado, Cláudio fez o curso de Engenharia Civil na UFPB, estagiando na Superintendência de Transportes Coletivos. Neste período conheceu Gilda, com quem teve um filho, Felipe. Ao se formar foi trabalhar em São Luiz do Maranhão na UFMA como engenheiro. Casou-se com Ivana e teve dois filhos: Isabela e Lucas. Hoje administra sua própria construtora, a Treviso Engenharia. Cláudio é, entre todos os filhos, o que tem o temperamento mais parecido com o do pai. Seu modo e pilhérias lembram a postura de Romero.
Guilherme Nasceu no dia 29 de novembro de 1966, em João Pessoa. Criança agitada, costumava ter insônia, e pelas madrugadas chamava sua irmã Fátima para brincar no chão da sala. Recebeu o apelido de Guigo. Iniciou seus estudos no IPEP, indo posteriormente para o Maranhão, acompanhando os pais que foram trabalhar em uma cerâmica. Voltando à João Pessoa continuou seus estudos no IPEP, quando revelou seu interesse pela música, indo estudar violão na escola de música Antenor Navarro. Aos 18 anos serviu o exército no NPOR, sendo chamado de Araújo 14. Nesta época freqüentava a noite em companhia dos irmãos, já tocando seu violão. Isto criava certas dificuldades para ele no quartel. Conheceu Maria Rejane Cruz, com quem se casou após longo namoro. Dessa união nasceram Arthur, Amanda e Alice. Hoje, ensina no Conservatório Pernambucano de Música e na escola de música Antenor Navarro, em João Pessoa. Em Paris, fez seu curso de especialização em violão, onde passou três meses. É um excelente músico, tocando em recitais. A simplicidade e calma de seu temperamento predominam em sua personalidade.
Nelson Nasceu no dia 25 de setembro de 1967 em João Pessoa. Por ser o caçula, todos os demais interferiam e ajudavam na sua criação. Logo cedo Nelson acompanhava seus irmãos aos jogos realizados no Clube Astrea e Cabo Branco. Estudou no IPEP, e com seu irmão formava a famosa dupla “Guigo e Nelson”, que infernizavam, de vez em quando, a vida dos mais velhos. Foi para São Luiz do Maranhão acompanhando os pais que foram trabalhar em uma cerâmica. Voltando a João Pessoa continuou seus estudos no IPEP, onde foi atleta de basquete como os demais irmãos. Entrou na faculdade de ciências econômicas, onde conheceu Wilma por ocasião dos jogos universitários em Patos. Casaram-se e tiveram um filho: Giuseppe. Trabalhou muito tempo na Treviso Confecções, indo morar em Patos após seu casamento. Hoje ensina informática no Instituto Vera Cruz e possui a livraria Monteiro Lobato.
Rosemere Rosemere Maria de Melo nasceu no dia 30 de julho de 1970 no município de Mulungu. É filha de Romero José Calzavara de Araújo e Josefa Maria de Melo. Com a idade de 8 anos foi morar com Romero e Josefina, seus avós paternos. Logo depois foi para Campina Grande morar com o pai e sua família. Não se adaptando, voltou para a casa dos avós, indo depois para São Luís do Maranhão, onde passou um período na casa da tia Maria de Fátima. Em seguida retorna à casa dos avós em João Pessoa, mas posteriormente preferiu o convívio de sua mãe em Mulungu. Casou-se com André Rivaldo da Silva, com quem teve cinco filhos: Alisson, Anderson, Andressa, Anaara e Alejandro.