JORGE SOLEDAR Sala de Estar 2014
Nascer, crescer, reproduzir e morrer. Assim lemos nos livros, mas não aprendemos outro verbo importante: voltar. Mesmo cosmopolitas, nossos lugares de crescimento dificilmente são apagados da memória. Jorge Soledar se recordou, então, da oficina de carpintaria que rodeava sua adolescência em Porto Alegre. O cavalo, também envolvido por um cheiro de madeira, já ocupou lugar monumental na história da arte, mas aqui está mais próximo da claustrofobia dos estábulos. As patas para o galope conhecem bem os cubículos aos quais estão confinadas. O pampa aqui não é dada aos festejos populares, mas tem um tom próximo das derrubadas de Weingärtner. A lembrança do espaço domesticado é recodificada para esta arquitetura residencial e agora espaço expositivo. Fica a pergunta: o que distingue o estábulo da sala de estar? Raphael Fonseca
“Nucas” 2013
“Palanques” 2013
“Sem título” (Praia da Campilha, Lagoa Mirim/RS) 2014
“Volkswagen” 2014
“Ruína do modelo de um banco” 2009
“Sonâmbulos” 2014
FOTOOJRGE SOLEDAR
GARIMPO
Atravessamento, 2013-2014.
JORGE SOLEDAR POR ELISA MAIA
Atravessamento, do gaúcho radicado no Rio de Janeiro Jorge Soledar, foi uma das obras criadas para a sua individual Como me tornei insensível, que ocorreu na galeria Ibeu, em 2013. Neste trabalho, que o artista chama de uma “escultura viva” – uma referência à scultura vivente do italiano Piero Manzoni – um bloco comprido de gesso atravessa o espaço expositivo, imobilizando as pernas de uma pessoa que permanece inerte, deitada sobre o chão, por cerca de quatro horas. O resultado é uma obra que se situa nos intervalos entre instalação e performance, escultura e fotografia. Na proposta de Jorge, o corpo humano é tomado não por sua dimensão performática, mas por sua materialidade, enquanto um objeto ou uma peça que compõe a estrutura do trabalho. Fundido ao gesso, o corpo se torna escultura, e também imagem, pois as duas linhas perpendiculares traçam um desenho cruciforme no chão do espaço da galeria. Para o artista, a ação congelada produz uma “imagem dura”, uma espécie de “fotografia sem câmera”. Nesse sentido, ele afirma que lhe interessa
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“experimentar o próprio engessamento da ação diante de mim e de você, no espaço de vida. E, desse modo, fixando o ato como espécie de imagem dura, é possível questionarmos seu estatuto entre escultura e fotografia, entre performance e instalação.” Esse hibridismo constitui uma característica importante de sua obra, que parece movida justamente por esse impulso de cruzar as fronteiras que separam essas linguagens, explorando os interstícios entre diferentes categorias artísticas. Ao final da exposição, com o auxílio de martelo e formão, à moda da tradição clássica, Jorge “liberta” a pessoa presa ao bloco, o que constitui um alívio para ela, obviamente, mas também para o espectador, que não consegue ficar insensível à imobilidade imposta àquele corpo. Com esse gesto, a escultura se torna performance e o corpo humano abandona a condição de objeto para voltar a ser sujeito, não mais aprisionado, submetido à contenção física da estrutura de gesso, mas, agora livre, exceto pelo registro fotográfico que, tornando-o imagem, prolongará sua existência enquanto objeto.
TERÇA-FEIRA
, 2 2 d e j ulho de 2014
arte & agenda Confira aarte na sala de estar JO RGE SO LEDAR / D IVULGAÇÃO / C P
Exposição ‘Sala de Estar’, de Jorge Soledar, e s ua obra ‘Projeção de Equilíbrio’
Sessão Plataforma
Recital Coral do Guri
Hoje, às 20h30min, a S essão Plataforma exibe, na Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (João Goulart, 551, 3 ˚ andar), os filmes “Redemption”, de Miguel Gomes (Portugal, 2013); e “Mil Sóis”, de Mati Diop (França, 2013). A e xibição terá em torno de 70 minutos. Ambos os filmes foram selecionados para festivais de cinema internacionais. Haverá reprise no dia 26, às 19h30min.
Ho je , à s 1 9h15min, na Igreja Nossa Senhora das Dores (Riachuelo, 630), o Coral Juvenil do Guri se apresenta. Composto por adolescentes de 12 a 1 8 a nos, sob a r egência de Giuliana Frozoni, serão interpretadas músicas de diferentes gêneros, passando por composições de Camargo Guarnieri, Luiz Gonzaga, Chico Buarque de Hollanda, Catulo da Paixão Cearense. Gratuito.
D
iversas mostras estão com abertura programada. Na Ecarta (João Pessoa, 943), Jorge Soledar exibe “Sala de Estar”, com abertura hoje, às 19h. Com curadoria de Raphae l F onseca, a mostra propõe uma leitura das intimi dades e dos costumes ligados em geral às contenções do corpo, além de pensar tratados no campo da teoria da arte como “escultura viva” e “performances delegadas”, em uma reflexão através de ações que envolvem linguagens da escultura à fotografia. Na Pinacoteca Ruben Berta (Duque de Caxias, 973), a partir desta terça pode ser conferida “Ascendências/Descendências”, composta de obras de artistas consagrados como João Fahrion, Pedro Weingärtner, Oscar Crusius e J osé Lutzenberger. A linha curatorial é intencionalmente fragmentada, com a proposta de representar a etnia alemã com sua diversidade. No Museu de Arte de Santa
Maria, a S ala Iberê Camargo, às 19h, inaugura exposição do acervo fotográfico de 40 fotos em preto e branco de Alfonso Abraham e de seu pai, José Abraham. A coleção recupera a memória ferroviária da época das marias-fumaças, que levaram o desenvolvimento ao Estado até a chegada das primeiras máquinas eletrodiesel. No Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Rua dos Andradas, 1223), está em cartaz “Vidros Iluminados”, com peças em arte fusing de cinco artistas. Em agosto, a Galeria Arte & Fato (Protásio Alves, 1893) promoverá a exibição de telas de grandes dimensões de Bianca Santini, dia 2. Ela trabalha com foco na natureza. Em seguida, dia 9, Cassiano Sotomaior apresenta, no local, seus trabalhos. No dia 6, Fabrizio Rodrigues, às 19h, abre “Exposição/Ocupação”, na Galeria de Arte Schwambach, nas dependências da Fundarte em Montenegro. ANTONIETA
PINHEIRO
/ D IVULGAÇÃO / C P
OSPA ENTRE MAESTRO SUÍÇO E S OLISTA MINEIRO
NÃO VA MOS DA R SÓ UMA MÃOZIN HA PRA VO CÊ NO ENEM. VA MOS DAR MAIS DE 300.
Ospa interpreta composição de Radamés Gnatalli em homenagem ao sambista Noel Rosa
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O m aestro suíço Nicolas Rauss rege a O spa em seu décimo concerto oficial, nesta terça, às 20h30min, no Salão de Atos da Ufrgs (Paulo Gama, 110). Pela primeira vez, a o rquestra interpretará “Concerto para Noel Rosa”, de Radamés Gnatalli, tendo como solista o m ineiro André Carrara. Cada um dos tr ês m ovimentos é d edicado a u ma das canções de Rosa. A noite ainda terá peças de Heitor Villa-Lobos e R obert Schumann.
JORGE SOLEDAR Sala de Estar 2014