Belíssima sequência Por M. Salamanca
“Uma vez meu Pai me disse que eu era feito de manias. Acho que isso fez toda diferença.”
Antônio sempre foi um cara introspectivo e de poucas palavras. Não fazia piadas e nem questão de ser notado. Em 28 anos teve apenas três namoradas: Clarissa, Sheyla e Ruth. Ele dizia que seu relacionamento não era promissor por conta da quantidade de consoantes que suas amadas tinham no nome. “É fato! Uma garota que possui mais consoantes do que vogais no próprio nome é sinônimo de fracasso! Prova disso é a Alice (A L I C E) que está casada há sete anos...”. Desde então, o simples fato de conhecer uma garota, tinha se tornado uma busca frenética por nomes impares, como ele gostava de chamar. Antônio tinha convicção no que dizia: ele vivia suas teorias e regras. Com o passar dos anos, isso piorou. Deixou de comer em fast-foods, self-services e qualquer outra coisa que tivesse um rótulo muito colorido. Dois anos depois, retirou todos os crucifixos de seu apartamento, pois acreditava em uma grande conspiração envolvendo igreja e espionagem. Limitou a sair, e até mesmo restringiu a entrada de pessoas em seu lar. Não demorou muito para que a insônia fosse constante. -Uma belíssima sequência! – Gritava entusiasmado o engravatado da loteria. Esse era o bordão mais famoso da TV. Todos estavam ligados em suas dicas, resultados e próximos sorteios. Antônio se sentia bem com a presença da familiar voz eletrônica, mesmo com bordão irritante, ela, além dos ansiolíticos, é claro, o acalmava. Assim, a TV nunca era desligada. Aproveitava as noites para limpar, lustrar, polir, lavar, tudo que era possível. Uma disciplina inviável a um homem comum. Ele tinha a sorte de uma herança gorda, diferente de seu físico, que beirava a um fantasma descabelado e, de certa forma, burguês. Foi então que no dia 24 de maio de dois mil e dezessete, algo inesperado aconteceu.
<TOC, TOC, TOC>. O som que vinha da porta parecia estremecer o cômodo. Era lógico que Antônio havia se esquecido daquele som, há meses não recebia uma visita. Não que gostaria. Segue até a porta e pelo olho mágico constata: - Ronnie!? Ronnie e Antônio eram inseparáveis na época da escola. Depois da formatura, Ronnie começou a trabalhar num Pub meio barra pesada na Zona Norte e acabou fazendo muitos contatos por lá. Assim, os amigos se viam regularmente. Antônio desconfiava que Ronnie sustentasse certo interesse por sua herança, por outro lado pensava: “RO-N-N-I-E- Três consoantes e três vogais... Empate!”. -Antônio, sou eu... Ronnie! Sei que está ai, estou vendo sua sombra por baixo da porta. - O que quer? – disse por uma pequena fresta da porta -Queria saber se gostaria de ir ate a lotérica comigo fazer uma aposta? Antônio fica sem respostas. A única coisa que veio a sua mente é o Dia do mau agouro. O próprio havia criado esse termo depois de uma serie de acontecimentos com resultados negativos. Bastava um convite negado por Antônio para que o azar tomasse conta do dia da outra pessoa. Um dos fatos que consolidou o tal dia, foi na época do ginásio, na escola Santa Lourdes, quando, após recusar um convite para assistir a final do campeonato interbairros de futsal, soube que sua escola havia perdido de goleada, com direito a frango do goleiro Ronnie. Outros fatos vieram depois. Mas o fato era: e se algo acontecesse a Ronnie no caminho a lotérica? Provavelmente, Antônio morreria em um surto de culpa, já que bater as botas é bem diferente do que um gol por entre as pernas.
-Só um minuto. -resmunga Antônio. Ao abrir a porta, é surpreendido por um ataque de carinho: recebeu um forte abraço com direito a estalo e tudo. - Como vai, Tonho? Tô feliz por conseguir tirar você desse cubículo... Respirar ar puro! - Quem disse que o ar é puro? -Retruca Antônio. -Tem que ser rápido, Ronnie. Quero voltar logo. Ronnie sorri. Ele sabia do Dia do mau agouro e sabia também que já era um grande passo fazer Antônio acompanhá-lo. Mesmo sem ter contato frequente, sempre foram amigos. Ronnie conhecia suas manias. - Fica sussa, Tonho! Na lotérica, Ronnie aposta seus números, enquanto Antônio olha fixo pra o outro lado da rua. Era como se houvesse algo magnífico ali, e havia de fato. Um homem com sua escada colava pedaços de papel no que viria a se transformar em um outdoor. A primeira lâmina de papel parecia ter o número “um”. O homem pega a próxima lâmina que tem o numero “três”. -Droga!- Antônio percebe o sinal numérico de mais ou menos um metro e meio de altura dizendo “TREZE”. -Ronnie, vamos embora! – Antônio olha mais uma vez para o outdoor e percebe o robusto “B” em sua frente. Com uma expressão de decepção, percebe que não eram números que estavam ali, e sim uma grande letra “B” dividida em duas folhas. -O que houve? – diz Ronnie. -Nada!
-Por que não faz uma fezinha? -Joguei meus crucifixos fora! –sussurra ironicamente. -O que disse?-insiste Ronnie. -Ok! Vou jogar. Antônio preenche o volante com números aleatórios. -Dois Reais, Senhor! – Diz a garota do guichê. Antônio entrega seu volante, retira o recibo e ruma à saída da lotérica. Olha uma ultima vez para o outdoor e lê o nome de uma serie de tv: “BLOOD” -Mais consoantes!-lamenta. -Vamos embora, cara. –diz Ronnie. *** É quase dez da noite. Antônio desperta num solavanco. O apartamento permanece apagado, clareado apenas pela luz da TV. Antônio cochilou após a saída de Ronnie. “Uma belíssima sequência o aguarda! Não percam, amanhã mais um incrível sorteio da Loteria”. Antônio olha em volta. Gostava de manter todas as luzes apagadas, acreditava que seria mais difícil achá-lo caso houvesse uma invasão. Levanta-se do sofá e vai até a cozinha em busca de um café. Encostado na pia, soprando a xícara no escuro, Antônio tem uma visão: Viu sua foto nos jornais, manchetes que diziam “Jovem milionário”, repórteres, entrevistas, luzes e holofotes, flash e gritaria fanática, pessoas tentando tocá-lo,
querendo ajuda, milhões de vozes “me ajude!”, “por favor ,me ajude!”, “me ajude!”, “dinheiro”, “instituições”, “dinheiro”, “dinheiro”, “dinheiro”... < CRASH > A xícara não suporta a pressão e espatifa no chão. -Meu Deus! O que eu fiz? – se desespera ao pensar nos dígitos da desgraça. Ele sabia que não haveria sorte em ganhar uma bolada como essa. Sabia também que não precisava do dinheiro, mas usaria mesmo assim, construiria um abrigo subterrâneo
e
estocaria
alimentos
para
garantir
salvação
a
um
suposto
“arrebatamento” Chinês. -Acalme-se, acalme- se! – disse a si mesmo. Suas mãos tremiam. Andou de um lado para o outro com as mãos na cabeça e olhos ao chão, esperando uma resposta salvadora para tudo aquilo. Antônio acende a luz da sala. Percebe um papel caído próximo ao sofá, era um bilhete. “Não quis acordá-lo... Vô tá na EULÁLIA. Aparece lá mais tarde. Ass: Ronnie”. Ronnie era o tipo do cara que costumava deixar recados e convites para Antônio. No colegial, mandava bilhetes do tipo “vai se fude... kkkkkkkkkk, ass: Ronnie”. Isso era algo comum para ambos, bastava ter um papel que Ronnie rascunhava ideias, mensagens ou pura sacanagem mesmo. Antônio corre até a porta e passa todos os trincos na porta. Ele abre a gaveta do criado mudo e coloca o recado de Ronnie junto com outras dezenas deles. Bate a gaveta e vai até o banheiro. “Alguém pode ter entrado enquanto dormia... Afinal, a porta não estava trancada!” Vasculha o cômodo procurando algo entre o vaso sanitário, a pia e o box do banheiro. Segue para o quarto a fim de se certificar que o apartamento está seguro. Passa pela
cozinha e estaciona na sala. Verifica as horas. O relógio na parede marca 23h07. Ele volta para o sofá. “Uma belíssima sequência... Porque amanhã sua vida pode ser outra!”. -Droga, eu não quero outra vida... Droga... Droga... -afirma olhando pra TV. A sequência numérica surge na mente de Antônio, crescendo e o cercando como canibais. Ele salta do sofá. Sua respiração está ofegante. Ele se lembra do bromazepam na gaveta da cozinha. Abre a gaveta. Pega a caixa. O blister está vazio. “Não, não, não, não, não...”. Agora Antônio está realmente sozinho. Ele começa uma sequência frenética de excessos: desliga a TV, ascenda à luz, vai ate a janela, espia a rua pelo vão da cortina, vai até a porta, gira a maçaneta “trancada”, apaga as luzes e espia novamente a rua. Altera as ordens, mas as “neuras” eram as mesmas. O relógio marcava 1h57. O assovio de um freio gasto adentra a casa. Olhando pela janela é possível ver a Van parada em frente seu apartamento, estampada com um grande “TV” na lateral, Antônio soluça. Poderia existir palavra mais consoantesca do que TV? – Antônio agacha para não ser visto. Corre ate o criado mudo e pega o bilhete de Ronnie. Apesar da hora e de todos os seus medos, Antônio sabia que estaria melhor na companhia de Ronnie. A possibilidade dos homens da TV a cabo começarem a atravessar a parede* o deixava em prantos. (* Intruders 1992). Antônio deixa a TV ligada e sai. ***
Na rua, dá passos largos para chegar logo ao local citado por Ronnie. Eulália é um bar deprimente da vila Campos. Lugar de prostitutas, travestis e alcoólatras. Ronnie gostava de estar lá, dizia que aquilo era a realidade. Antônio passa por vielas e travessas. Para ele, tudo parecia mais sujo durante a noite. O bafo quente continuava a subir dos bueiros. Em meio ao lixo, os mendigos continuavam a divulgar em voz alta suas desgraças. Lembrou-se de Ruth, não por conta do lixo, mas sim pelas noites que saiam juntos. Ela fazia o tipo “alternativo”, ouvia bandas independentes e usava roupas do brechó. Mas isso foi antes de Antônio se casar com as manias. Na quadra seguinte, avista o luminoso “Eulália” em neon. Ele se aproxima. -Boa noite! Comanda simples ou especial?- diz o segurança. Antônio não fazia a menor ideia sobre a diferença entre as comandas. Suspeitava que fosse algo relacionado à consumação ou coisa do tipo, sem contar que o objetivo era encontrar Ronnie, sendo assim, optou pelo que lhe proporcionava maior segurança. - Especial! No interior, os telões mostravam vídeos de bandas dos anos oitenta, encobertos pela fumaça doce e a perfume vagabundo. A pouca iluminação dificultava a busca por Ronnie. Gargalhadas vulgares se misturavam a musica. O balcão estava quase vazio. - Oi meu amor, o que vai querer?- Solta a mulher de rosto quadrado atrás do balcão. -Você conhece o Ronnie?-pergunta Antônio. -Ei, ei, ei, tá me achando com cara de X9? Não damos informações aqui honney! E ENTÃO, O QUE VAI QUERER? – ressalta a garota. -Hum... Você tem tônica? - Claro, meu bem!
O pânico tinha tirado Antônio de casa. A loteria e a falta de ansiolíticos funcionaram como faísca em pólvora, levando-o a se “arriscar” pelas ruas em plena madruga. A busca por Ronnie era apenas um impulso fisiológico gritando “VAMOS, CARA, ACALME-SE... MENOS! MENOS!” Antônio sabia que Ronnie não teria remédios em sua jaqueta, muito menos o resultado da loteria, mas acreditava que poderia se controlar junto a Ronnie. A moça coloca no balcão a tônica e a comanda. -Sabia que hoje é dia do barista, honney? – fala a garota como se quisesse cantarolar. -Na verdade foi ontem, já passamos da meia noite. - responde Antônio. -Eu não dormi ainda. Então pra mim ainda é hoje! -O que isso tem a ver? -Isso o quê? Às horas? -Não. O que o dia do barista tem a ver? -Tem tudo a ver, baby. Eu sou barista, entendeu? -Não, você não é! – afirma rispidamente Antônio. - Sou sim! - Não, não é. Você teria que ser expert em cafés. É isso que é um barista: um expert em cafés! - Mas, baby, quem bebe café em um lugar como esse?- indaga esboçando um sorriso. Ele percebe que de certa forma ela tinha razão. - Eu procuro um amigo! – diz Antônio. -Ah meu bem, aqui todos procuram por algum amigo.
Antônio, ainda com a tônica na mão, percebe que a conversa seria perda de tempo. Em meio a fumaça tutti-frutti e a luz opaca, ele percebe uma silhueta torneada se aproximar. - Oi, sou a Léia. Me paga uma bebida? - L É I A?... Esse nome é real? – diz Antônio descrente. - O que disse?- insiste a garota. - Deixa pra lá. A garota se aproxima cada vez mais de Antônio, como um gato interesseiro. - Eu nunca te vi por aqui!- ronrona Léia. - Ele é amigo do Ronnie! – diz a barista de rosto quadrado. Todos conversam ao mesmo tempo, com musica e muito barulho, e, subitamente, tudo silencia, sobrando apenas o som da voz acompanhada de uma frase infeliz. Foi exatamente assim que soou “amigo do Ronnie”. Todos no bar olharam para Antônio, inclusive Morrisey de dentro da TV 42’’. A porta do banheiro ao lado se abre, surge um homem gordo de mais ou menos 1,80m de altura, cabelo grisalho e bem vestido. Ele não parece pertencer aquele ambiente. - Então você sabe do Ronnie?- diz o homem. -Na verdade eu esperava encontrá-lo aqui! – justifica Antônio. -Ah, pelo visto vocês se vêem diariamente! – fala com um sorriso que divide seu rosto em dois. -Não mesmo!- afirma Antônio.
Léia, que antes era puro afeto, some de cena. A música também se vai. Pela segunda vez naquele dia, ou melhor, desde que estava acordado, Antônio se sentia sozinho e se lembrava do Bromazepam. - Acho melhor eu ir... – Antônio se levanta do balcão com a tônica ainda fechada. -PARE AÍ MESMO, SEU SACANA! Você só vai embora quando Ronnie aparecer, tá entendendo?- diz o gordo. A ideia de ficar lá e ser um item de troca para o gordo não lhe preocupava tanto. O que causava mais espanto era pensar naquela gente viciada em prazer e cheios de odores. - Olha, acho que está havendo um desvio de ação correlativa aqui. Conheço o Ronnie desde o colégio, mas não sei o que ele andou fazendo. – Antônio costumava usar esse tipo de termo, não acreditava em maus entendidos. Três homens se levantam da mesa e foram até o gordo. Sem dúvida eram capangas. Riffs de guitarra começam a soar. O CD the Best of 80/90’s reinicia. Antônio conhece a musica, é “Welcome to the jungle”, de 1987. Há uma troca de olhares constante entre eles: O gordo, os capangas e Antônio. < CLACK – SHHHHHHH > O lacre da tônica da inicio a uma reação improvável. Antônio é lançado contra as mesas. Um dos capangas vem em sua direção. Antônio arremessa tudo que vê pela frente: copos, talheres e garrafas. Ele tem péssima mira. Garotas correm aos gritos, bêbados se escoram e se esquivam. A barista (que não fazia cafés) salta nas costas do Gordo: - Saia do meu bar, desgraçado!
A sua volta todos estão brigando ou fugindo. Percebe que alguém está grudado com o capanga que tentava alcançar sua perna, era o segurança da portaria. Do seu lado, a lata de tônica permanecia em pé. Ele se levanta e depois prova a tônica. Antônio sente um misto de coceira e ardor na altura do abdômen. -Não... –sussurra. Antônio tinha parte de uma garrafa em seu abdômen. O caco era parte do gargalo e havia penetrado a um palmo do umbigo. “Devia ter pedido a comanda simples!” Ele atravessa o salão olhando apenas para sua camiseta encharcada de sangue. Parece que toda aquela movimentação a sua volta esta em slow-motion. Parece não existir. Com a mão sob o ferimento, Antônio segue apressado rumo à saída. Nunca havia pensado naquela possibilidade, briga de bar parecia coisa de filme barato. Ele passa pela porta e avista um táxi estacionado em frente ao bar. -Ei, táxi! – chama Antônio. A poucos metros da porta do carro, dois tiros ecoam de dentro do Bar. < POU POU >. O táxi sai em disparada deixando Antônio para trás. “Porra, isso não ta acontecendo”. Enquanto caminha pairando as paredes, a mente de Antônio procura uma lógica provável pra tudo aquilo. Pensa nos atos e nos fatos que justificassem todo aquele azar. Pensa no erro que cometeu ao sair de casa, até mesmo, o dia em que conheceu
Ronnie. Seus pensamentos o torturam massivamente, transformando Antônio em puro arrependimento. Naquele momento, só deseja deitar nos braços de um Dormonid. *** “Não parecia ter tantos degraus assim” As escadas ficavam cada vez maiores. Havia muito sangue em sua roupa. O apartamento 202 estava perto. Ele só precisava abrir a porta e descansar. Acreditava que o Sistema de Saúde era nocivo e participante no controle populacional e, caso ganhasse o prêmio da loteria, seria alvo fácil em um hospital. O apartamento estava intacto, exatamente como tinha deixado: na sala a TV ligada, na cozinha a xícara quebrada. O relógio marcava 5h57. O dia parecia não querer aparecer. Ele deita no sofá de maneira lenta e confortável. Ali, Antônio estava sereno. Era o tipo de expressão rara para quem o conhecia. Ele parecia ter deixado toda ansiedade e angústia se esvair pelo ferimento. Entre uma piscada e outra o céu ficava mais claro. Antônio não distinguia a sonolência, da irregularidade de sua pressão arterial. “Mas que belíssima sequência temos aqui... Atenção para os números:” Eram 8h07. Antônio olha pra TV num misto de expectativa e descaso. “... e são: 01 25 29 36 56 60” Antônio fica inerte por alguns segundos. Então, começam a surgir pequenos espasmos de risada em forma de soluço, uma após a outra, e outra, e outra, até que aquilo se transformasse em uma grande gargalhada ritmada. Com a mão coberta por sangue, ele retira o bilhete do bolso. Seus números eram: um, vinte e cinco, vinte e nove, trinta e seis, cinquenta e seis e sessenta. Antônio era o mais novo ganhador.
Sua gargalhada foi dando lugar à calmaria, sem tirar o sorriso de seu rosto. Alegria que não tinha nenhuma relação com o valor adquirido. Aquilo era simplesmente a consciência de que nunca sairia daquele sofá, não haveria depois, não haveria preocupações, muito menos dinheiro. Ele sabe que aquele adorável estado de leveza, estava relacionado ao fim de uma vida ansiosa cercada de teorias. Ele entende que a sorte estava o tempo todo com ele, protegendo-o de coisas piores. Antônio fecha os olhos pela última vez. Sem dúvida, um cara de sorte. FIM