BRASIL Nº69 R$25
NOV/DEZ 2013
art iT
entrevista
ANDRE ARRUDA
o carioca nos conta como começou sua carreira de fotógrafo e quando entrou para o meio editorial.
LUCIEN FREUD
conheça a incrível arte deste alemão que fugiu de seu país para escapar do nazismo
FEFE TALAVERA monstros, animais, arte de rua e tipografia. não deixe de ver e se encantar com as pinturas unicas de Fernanda Talavera, paulistana com sangue mexicano. www.artit.com • acesse o site e vire assinante!
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Como foi o seu primeiro contato com a fotografia e como foi a decisão de se profissionalizar? AA. Meu pai tinha uma TLR BeautyFlex, imitação japonesa da Rolley, e fiz algumas fotos com ela quando criança. Cheguei inclusive a tentar fazer uma estória em quadrinhos com avioes da II guerra, modelos de montar Revell, que é claro, não ficaram técnicamente boas. Me lembro até hoje da imensa sensação de dificuldade daquela tarefa. Um dia a câmera pifou e não tinha conserto. Como a família não tinha recursos, ficou-se sem equipamento mesmo. Depois, somente na faculdade tive contato com fotografia, numa aula de fotojornalismo. Nos foi mostrada uma série de fotos de HCB e aquela imagética foi como se eu tivesse aprendido uma língua nova instantaneamente. No curso de jornalismo comecei a me interar da fotografia e pouco tempo depois resolvi ser fotógrafo. Mal sabia da fria em que estava me metendo.
Como surgiu a oportunidade no meio editorial? AA. Antes tive um experiência amarguíssima. Fui em um determinado jornal levando meu humilde portifolio, basicamente um ensaio sobre Copacabana. Depois de dias tentando, consigo uma hora para conversar com o editor. Chego lá, quem me atende é um coordenador, que abre a pasta, folheia as fotos com o desdém de um delegado de polícia, e ainda vira pro lado, falando com outra pessoa: “O teu vascão ontem, hein?” Joga a pasta na mesa e diz secamente: “Serve não”. Volto pra casa com a pasta “pesando uns 100 kg” e com uma decepção knock down. Uns dois anos depois, já na lida do jornalismo, encontrei o sujeito do “serve não” numa cobertura qualquer e o pessoal foi almoçar e ele não tinha grana: acabei pagando o almoço dele. O ensaio que não serviu ganhou um prêmio na Funarte, outro da UFF e foi publicado em quatro páginas na Revista de Domingo, do JB, o principal encarte do Rio naquele tempo. Mas voltando: Um amigo trabalhava no extinto Jornal do Brasil e disse que tinha vaga lá. Marquei uma hora com o editor, o caladíssimo Rogério Reis, que viu o portfolio “inútil” e me admitiu. Depois de um ano tentando entrar lá, consegui. Ainda tive a sorte de estar no fim da era de ouro
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do fotojornalismo, que no JB era capitaneado pelos editores Rogério Reis e Flavio Rodrigues, um período intenso e de muita cobrança, de salários baixos mas de muita criatividade, onde a editoria de fotografia era composta por um time de feras. Impossível não ter saudade daquela época, onde nem se sonhava com a internet. Fiquei lá de 92 a 98 e em outro jornal de 98 a 2000, mas nunca me senti o repórter per se, sempre gostei de features, de fotografia mais “pensada”. ua nova instantaneamente. No curso de jornalismo comecei a me interar da fotografia e pouco tempo depois resolvi ser fotógrafo. Mal sabia da fria em que estava me metendo.
Qual a importância de um trabalho autoral para quem trabalha apenas comercialmente? AA. É fundamental, absolutamente. Eu creio – na maioria dos casos - o trabalho comercial deve financiar o trabalho autoral, pois este irá nortear a carreira do fotógrafo. O fotógrafo deve estar atento para não se tornar mais uma peça dentro do mercado.
Como é a concepção do trabalho autoral e como funciona o seu processo de criação? AA. No momento tenho dois trabalhos de minha inteira concepção, “Fortia Femina” e um livro chamado “100 Coisas que cem pessoas não vivem sem”. O “Fortia” é um ensaio sobre mulheres adeptas da musculação, em preto e branco, de viés livre de publicação ou lucro. São imagens que não residem num limbo preferencial: ou se ama ou se odeia. Até agora não vendi uma única cópia para coleção. O “100” nasceu da idéia de fazer um livro de retratos, mas não queria um tomo que fosse um compilação de fotos de gente, isso o medium visual está repleto e sinceramente acho repetitivo e um tanto tedioso. Como toquei baixo muitos anos, tive bandas e escrevi muitas letras, creio que títulos/ temas são tão importantes quanto a obra. Nome é destino. Comecei a brincar com a idéia de número, de rima, de ritmo, de pessoas e que o conceito de uma pergunta instigaria o leitor. Depois de muita elocubração, veio o título, cujo paradoxal conceito é “arqueologia instantânea”, conhecer um pouco as pessoas pelos seus objetos. E desde agosto de 2005 venho fazendo o “100”, um desafio logístico
Carioca, formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo Audiovisual, o fotógrafo Andre Arruda já trabalhou em jornais importantes, como o Jornal do Brasil e O Globo. Atualmente trabalha na área publicitária e editorial, mas sem deixar de lado o trabalho autoral, onde tem liberdade de expressar sua criatividade em ensaios como o Fortia Femina e no livro 100 coisas que cem pessoas não vivem sem. Suas fontes de inspiração são as mais váriadas.
Fotografia Carioca Expressivo Publicitario Criativo 5
muito pesado. E bancado integralmente por mim. “Fortia Femina” nasceu antes, em 2003, 2004. Zapeando, paro em uma transmissão de um campeonato Mr. Olimpia, creio, e vi mulheres na competição. Até então não sabia que uma mulher poderia ter um corpo com aquelas proporções e me encantou como o relevo e o volume dos corpos “respondiam” à luz, e como a feminilidade poderia chegar a um extremo tão intenso. Então comecei a pensar numa série de fotos de nu, sem grandes compromissos, mas que fosse distinta do que havia visto até então. Um ensaio, um trabalho, deve ser adequado às condições de quem o elabora. Adotei o fundo branco para o “Fortia” pela facilidade do suporte (papel branco, pano branco, parede branca existe em qualquer lugar) e pela leveza que o branco fornece ao conteúdo, que talvez seja uma herança do meu tempo de garoto, quando pensava em ser desenhista, cartunista. Sou fanático pelas ilustrações a bico de pena e gravuras de Da Vinci, Vesalius e Henry Gray sobre a anatomia do corpo humano; descobri que me influenciaram bom tempo depois de estar fazendo o Fortia Femina. O “100” também é em fundo branco, retrato e objeto, mas em conjunto com outra inspiração agregada, que são os catálogos de produtos, tão comuns em jornais. Como vivemos em uma época “catalogal”, onde somos reduzidos perfis e frases definidoras, o “100 Coisas que cem pessoas não vivem sem” é um comentário – pretenso – sobre este nosso tempo. Zeitgeist.
Você busca inspiração em outras mídias, como quadrinhos, música e cinema. Porque considera isso tão importante? AA. Não apenas nas citadas, mas pintura e escultura me são vitais. Todo o tipo de manifestação me atrai. Na literatura ‘O Estrangeiro’, de Camus, teve um profundo impacto quando li. Outro fantástico observador é William Gibson, autor do termo cyberspace em “Neuromancer” e de “Reconhecimento de padrões” um livro importante para qualquer pessoa que trabalhe com imagens; que aliás tem uma tradução eficiente em português brasileiro. Toquei baixo por uns oito anos e até hoje tenho o instrumento, embora quase não toque. A música desempenha um papel fundamental na minha vida, tanto ou mais quanto o cinema; meus mais antigos amigos vêm da música. Não vejo, por exemplo, chance de ter uma namorada que tenha um gosto musical muito diferente do meu. Música é alma. Ouço de Slayer à Cole Porter, passando por bossa nova, industrial, alguns eletrônicos, rock, heavy metal e muita black music dos 50, 60 e 70. Refuto qualquer discurso que relativise a cultura e a educação e que enalteça o mero empirismo de processos na formação. Aproveito da máxima socrática: “quanto mais sei, mais sei que nada sei.” Quando vou editar um trabalho meu, sempre procuro se há algo bom. Inicialmente, acho tudo medíocre, apressado e raso. Sempre pode ser melhor...
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Existe um projeto para publicar o Fortia Femina? AA. O livro em tese está pronto, como fotos já tratadas e prontas para edição, mas falta uma editora com coragem para abraçar o projeto.
Durante o Nu Photo Conference você realizou um ensaio ao vivo para uma platéia de 300 pessoas. Como foi essa experiência? Já tinha feito algo parecido? AA. Com uma platéia tão grande foi a primeira vez. Gostei muito da experiência, embora tenha achado, com o benefício da distância, que a apresentação foi um tanto exagerada em alguns aspectos. Foi um desafio redobrado porque aconteceu diferente do planejado. A minha proposta inicial seria verdadeira sessão do Fortia Femina mas a modelo, uma atleta, desistiu. Então propus que fossem duas modelos e parti do zero. Gostei muito de uma imagem resultante daquela sessão.
Durante a sua palestra você citou a importância de usar o fotômetro de mão. Com o digital, muitos fotógrafos da nova geração dispensam o seu uso. Porque você acha que isso acontece? AA. O fotômetro é um símbolo. Quis ressaltar a importância da técnica, da pesquisa e do estudo constante. Não existe fotografia “fácil” e quem está começando não deve crer em soluções simplórias, como se a fotografia fosse uma série de “macetes” que resolvem qualquer situação. Todos os fotógrafos de cinema, cuja fotografia é exponencialmente mais complexa que a still, usam fotômetro, mesmo os fotógrafos com 30, 40 anos de experiência. É saber interpretar, usar a luz e não ser refém dela. Não creio que o fotografo deva se ater a fórmulas e resoluções fixas; quanto mais conhecimento, melhor; é quase pueril falar isso, mas há quem acredite que a fotografia é simples, quase intuitiva e o Photoshop resolverá tudo depois. O que interessa mesmo é a luz (saber iluminar) e a direção. A câmera, desde que seja manual, minimamente boa e gere arquivos RAW, resolve a maioria dos casos. A grande diferença entre uma câmera Pro e a amadora é que a Pro tem resistência e robustez. Tenho uma objetiva 70-200 2.8 que deve ter uns 10 anos e funciona muito bem, apesar de algumas “cicatrizes”, arranhões na lente e marcas de uso.
Quais fotógrafos cujo trabalho você admira e qual a relevância deles na sua produção? AA. Vários me influenciaram e influenciam. Seria injusto nomear alguns, então fico com o meu trio sagrado, Cartier-Bresson, Avedon e Helmut Newton. E Sebastião Salgado, claro, por ser o maior fotógrafo vivo e por sua visão e sobretudo planejamento. Até o momento acredito que nenhum fotógrafo tem ou terá uma obra como a dele.
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É mais complicado ou mais fácil fotografar celebridades? AA. Eu fotografo famosos como se fossem anônimos e anônimos como celebridades. Em geral a fotografia, para a maioria das “celebridades”, é uma atividade aborrecida e que elas querem se livrar o mais rápido possível. Mulheres respondem muito bem a locação, com homens creio que uma certa tensão desenvolve melhor. A mulher tem que ser seduzida o tempo inteiro.
Quem você gostaria de fotografar e ainda não teve oportunidade? AA. Scarlett Johansson, atriz; Yelena Isinbayeva, atleta e Angela Gossow, cantora da banda de heavy metal Arch Enemy. Aqui, Roberto Carlos, o cantor.
O que você diz para quem quer seguir a carreira de fotógrafo ou está começando? AA. Persista. Mais do que nunca fotografia está difícil como negócio rentável. Somente quem tiver talento, senso de oportunidade e principalmente um manifesto sincero de idéias perante o mundo poderá ter sucesso. E procure fazer vídeo também. O futuro caminha inexorável para a imagem em movimento.
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ANDRE ARRUDA
GALERIA
Ana carolina - cantora 2011
fabio porchat - comediante 2010
ana maria braga - apresentadora 2009
Washington Olivetto - publicitรกrio 2007
ney matogrosso- cantor 2008
serguei - lenda viva do rock 2007
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LUCIEN FREUD
Lucian Freud is considered one of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits and nudes in drab rooms, with peculiar focus on the texture of their flesh. Freud was the grandson of Sigmund Freud. He moved to Britain from Germany with his family in 1933 to escape persecution as a Jew. He spent most of his working life in London’s Paddington, saying that its sleaziness appealed to him.
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Freud’s early works, like Girl With A White Dog, were very controlled and formal. Over time his style changed and his later painting were mainly nudes, using coarse, layered dabs of paint to create skin texture. The figures in Freud’s paintings often look distant and depressed. However he had a close relationship with his subjects and claimed his pictures are “to do with hope and memory and sensuality”. One of his best known paintings, Benefits Supervisor Sleeping, was reportedly bought by Russian billionaire Roman Abramovich for $33m at auction. This was a record at the time for a living British artist. Freud provoked public outcry with a portrait of Her Majesty Queen Elizabeth II. Many people said the painting made her look old and unhappy. The Queen refused to comment. Freud was born in Berlin in December 1922, and came to England with his family in 1933. He studied briefly at the Central School of Art in London and, to more effect, at Cedric Morris’s East Anglian School of Painting and Drawing in Dedham. Following this, he served as a merchant seaman in an Atlantic convoy in 1941. His first solo exhibition, in 1944 at the Lefevre Gallery, featured the now celebrated The Painter’s Room 1944. In the summer of 1946, he went to Paris before going on to Greece for several months. Since then he has lived and worked in London. Freud’s subjects are often the people in his life; friends, family, fellow painters, lovers, children. As he has said ‘The subject matter is autobiographical, it’s all to do with hope and memory and sensuality and involvement really’. Paintings in the exhibition will range from Girl with Roses 1948 to Garden, Notting Hill Gate 1997, and highlights include the marvellous series of portraits of his mother, portraits of fellow painters John Minton, Michael Andrews and Frank Auerbach, and other major works including Large Interior W11 (after Watteau) 1981-3. Sharp pictures of his youth will contrast with the works of his maturity, paintings filled with life and liveliness, each in its way a celebration. ‘I paint people’, Freud has said, ‘not because of what they are like, not exactly in spite of what they are like, but how they happen to be’.
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O presente artigo aborda parte da produção artística de Fernanda Talavera, mais especificamente seus “Bichos Tipográficos”. Parte-se da hipótese de que o trabalho desta artista traz uma série de elementos conceituais e formais que o alinham de maneira inequívoca à agenda de temas debatidos pela arte contemporânea, dentre eles a colagem, a desconstrução e o hibridismo. Para a fundamentação desta pesquisa, foram consultados autores que, em suas obras, descrevem e discutem conceitos artísticos da modernidade, da pós-modernidade e da contemporaneidade, bem como depoimentos da própria Fernanda Talavera.
é outra história, não existem regras. Se você quiser expor seu trabalho, você vai lá, faz e pronto, está lá, à disposição de quem quiser ver. A quantidade de gente que vê o seu trabalho é enorme, e o mais legal é que não é só a galera que frequenta galerias de arte, mas o jornaleiro, a senhorinha que lava os banheiros do hospital, o porteiro, e até mesmo o curador da Bienal. Na rua, a gente tem mais possibilidades de aproveitar o espaço, de fazer cada vez maior e de experimentar diferentes tipos de superfícies (TALAVERA, apud MORAES, 2009).
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Fernanda Salinas Talavera nasceu em São Paulo, em 1979. Filha de pais mexicanos, recebeu, em sua formação artística, fortes influências tanto da cultura brasileira quanto da cultura mexicana, dois focos privilegiados de mestiçagens e hibridismos culturais (GRUZINSKI, 2001). Talavera expôs, pela primeira vez, em São Paulo, na Galeria Choque Cultural, em 2005. Em 2006, viajou pela Europa e participou de mostras coletivas e individuais na Alemanha, Áustria, Espanha, Bélgica e Rússia. Rapidamente, consolidou sua reputação no campo artístico e hoje tem a qualidade de seu trabalho reconhecida por pares, críticos e tipógrafos, expondo nas ruas, em galerias, em mostras em espaços públicos e também na internet. Apesar de haver recebido uma formação tradicional, ao cursar Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Fefê, como a artista também é conhecida, reconhece um processo de desgaste e de “bloqueio” nesse período, provocado pelas restrições e pelo enraizamento excessivo das propostas artísticas acadêmicas em conceitos muitas vezes advindos de uma tradição que já não reflete mais os anseios do artista contemporâneo. Em entrevista a Moraes (2009) a artista afirma faculdade. Ela me limitou muito, eu entrei lá livre e saí completamente bloqueada [...]. Já na rua
Fernanda apresenta alguns temas recorrentes ao longo de sua produção criativa, entre os quais destaca-se a figura do monstro, o animal limítrofe, a criatura que não pode ser nomeada e que, segundo autores como BELLEI (2000), serve, nas artes, como representação do desconhecido e dos processos inconscientes que desorganizam as certezas e os limites estabelecidos pela cultura. Dentre suas produções, destacamos os Bichos Tipográficos, tema deste artigo, que consistem em construções realizadas com recortes de lambelambe – cartazes de divulgação de baixo custo, veiculados ao serem colados nos muros das cidades. Talavera constrói painéis em tamanhos diversos com partes desses cartazes em diferentes suportes, tais como muros e telas.
Aprendi que, para ser artista, você precisa ser livre, não precisa de uma faculdade. Ela me limitou muito, eu entrei lá livre e saí completamente bloqueada [...]. Já na rua é outra história, não existem regras. Se você quiser expor seu trabalho, você vai lá, faz e pronto, está lá, à disposição de quem quiser ver. A quantidade de gente que vê o seu trabalho é enorme, e o mais legal é que não é só a galera que frequenta galerias de arte, mas o jornaleiro, a senhorinha que lava os banheiros do hospital, o porteiro, e até mesmo o curador da Bienal. Na rua, a gente tem mais possibilidades de aproveitar o espaço, de fazer cada vez maior e de experimentar diferentes tipos de superfícies (TALAVERA, apud MORAES, 2009).
Fernanda apresenta alguns temas recorrentes ao longo de sua produção criativa, entre os quais destaca-se a figura do monstro, o animal limítrofe, a criatura que não pode ser nomeada e que, segundo autores como BELLEI (2000), serve, nas artes, como representação do desconhecido e dos processos inconscientes que desorganizam as certezas e os limites estabelecidos pela cultura. Dentre suas produções, destacamos os Bichos Tipográficos, tema deste artigo, que consistem em construções realizadas com recortes de lambe-lambe – cartazes de divulgação de baixo custo, veiculados ao serem colados nos muros das cidades. Talavera constrói painéis em tamanhos diversos com partes desses cartazes em diferentes suportes, tais como muros e telas.
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Por pintar nas ruas, seu trabalho costuma ser relacionado ao grafite; do mesmo modo, em virtude de sua ascendência mexicana, muitas vezes sua obra é chamada de mural. Fernanda, porém, afirma, na mesma entrevista, preferir ser chamada de “artista” ao invés de “grafiteira” ou “muralista”, e diz não pintar apenas sobre muros, mas sobre quaisquer suportes que encontre. A respeito dos Bichos Tipográficos, a artista afirma, ainda, na mesma entrevista
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Fazer os bichos tipográficos para mim foi um grande passo na minha carreira de artista. Comecei pintando em pôsteres velhos e colando na rua, daí percebi que esses pôsteres por si só já eram uma obra de arte. Aquelas letras tinham vida para mim, eram tão bonitas que eu comecei a recortá-las em grande quantidade e, como eu já fazia os monstros, resolvi tentar com a colagem, e deu certo (TALAVERA, apud MORAES, 2009).
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Com a produção de monstros – “criaturas”, “bichos tipográficos”, “seres sem nome” –, a artista reconhece a importância de experimentar, na arte, novas possibilidades de significação, abordando o objeto (tema) que não permite ser completamente compreendido e que, justamente por esse caráter fugidio, representa muito bem as rupturas formais, espaciais, técnicas, e temáticas que devem se processar no interior do campo artístico – e, por que não, em outros produtos culturais, como o design – para que esse não perca a sua capacidade de provocar identificação e deslumbramento no indivíduo.
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Diante dessas diversas considerações sobre a imagem, seus usos e suas interpretações, diante dessas imagens remexidas, transmutadas, interpretadas e reinterpretadas, pelas artes em suas diversas manifestações, não apenas as artes plásticas, mas todas as artes que trabalham com imagens, entre elas o design e as artes gráficas, enfim, de todos os usos da imagem nestes últimos 120 anos, podemos afirmar que, hoje, em pleno século XXI, um produção artística como os Bichos Tipográficos ajuda-nos a pensar na possibilidade de uma não-categorização tão enfática, em uma zona fronteiriça entre o que chamamos de design gráfico, arte gráfica e arte plástica.
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fefe monsta
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www.pierrecardin.com.br
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