[ 2018 ] HABITAR: EXISTIR - Os desafios da existência comunitária

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os desafios da existência comunitária no projeto progressista da cidade

professoras orientadoras: _raquel carvalho _pamela franco alunos responsáveis: _vinícius figueirôa _allana luz _wender bacelar _maria luiza martins alunos colaboradores: _osmir borges _marcello hícaro _maria clara carcará _mayara lucheyssy _morgana mota _edi palheta

projeto fotográfico _vida no olarias prematurizado.com/olarias


habitar:existir os desafios da existência comunitária no projeto progressista da cidade

PIAUÍ

localização de Teresina

TERESINA

localização da área de intervenção

O bairro Olarias, localizado na Zona Norte da cidade de Teresina, Piauí, configura-se como assentamento precário de ocupação espontânea desordenada. Possui população aproximada de 1445 pessoas (segundo Contagem de Domicílios de 2018 realizada por este trabalho), frente aos 814 mil habitantes da cidade (IBGE, 2010). Seu surgimento está diretamente ligado à origem da cidade (1852), que tem conformação territorial mesopotâmica, limitada pela confluência dos rios Parnaíba e Poty. Por ser uma área de fácil acesso para navegação e comunicação com outras províncias e rica ambientalmente, o encontro dos rios logo tornou-se a primeira área a ser habitada na cidade pois, além de facilitar a expansão comercial da região àquela época, mantinha tradições ribeirinhas herdadas da população indígena que um dia ali habitara: a sabedoria para usufruir os produtos da terra e a pesca. O bairro recebeu este nome devido à abundância de argila na região, que naturalmente desenvolveu o ofício da olaria para produção de tijolos e telhas cerâmicas para construção de Teresina. Entre as décadas de 1950 e 1970, com o aumento da extração do material devido à forte demanda da construção civil na cidade, houve uma acelerada ocupação da área sem definição prévia de lotes ou arruamento, e sem as consequentes redes de saneamento básico condicionadas ao sistema viário. Desta forma, o assentamento é caracterizado desde o início por moradias autoconstruídas e por elevado nível de precariedade de redes de serviços urbanos, além da suscetibilidade dos moradores ao lixo, aos esgotos a céu aberto e aos alagamentos no período das fortes chuvas.

O histórico do bairro detém a riqueza da simplicidade e possui estilo de vida complacente ao natural. Considerado berço da cidade, seu surgimento foi alheio ao olhar dos primeiros planos urbanísticos em meados do século XX que, ao contrário dos ideais do século XIX, assumiram propósitos progressistas e higienizadores, e passaram a considerar a região inabitável devido à peculiaridade alagável da geografia do lugar. Diferente das regiões urbanizadas da cidade, que consideram o bairro como área de risco, a forte identidade enraizada no ritmo singelo de seus moradores, que cresceram lidando com a dinâmica de uma vida rural e comunitária dentro da cidade, faz com que os moradores resistam no local frente à pressão crescente pela remoção da comunidade. A partir deste panorama, o presente trabalho propõe um projeto de urbanização para o bairro Olarias, em 23 hectares de intervenção, a fim de mostrar que é possível estudar estratégias de engenharia urbana que respeitem as necessidades ambientais e a vocação da área enquanto zona permeável de amortecimento das chuvas na cidade. Ao passo que as moradias podem ser mantidas, desde que apoiadas por um programa sistêmico de mitigação de riscos, potencialização da mobilidade, saneamento ambiental e manejo de resíduos sólidos. Além disso, que a permanência seja também ancorada por uma requalificação urbana dos espaços residuais que respeite os valores imateriais inerentes ao bairro, sua arquitetura vernacular, as religiões de matriz africana e os ofícios sustentáveis de subsistência, a fim de legitimar uma vida coletiva e comunitária com qualidade.

quintal dos erês

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diagnostico fisico

um dois tres quatro

“nós somos vivos, nós somos a segunda e a terceira geração dessa ocupação.”

equipamentos do entorno

Mesmo com a presença de equipamentos urbanos relativamente próximos ao bairro, a ausência de vias que se conectem às demais do entorno dificulta o deslocamento e, por conseguinte, o acesso a estes. Percebe-se a necessidade de um sistema viário transversal que atravesse as área alagadiças e alcance o bairro Mafrense, que é bem servido de equipamentos.

URBA

NO

Y

As transformações da topografia acompanham a dinâmica dos rios e áreas alagadiças nos períodos de forte precipitação e ausência de chuvas. Sendo assim, seu relevo possui ápice na Avenida Boa Esperança (cota 59m) e cota mais baixa à medida que se aproxima do rio Parnaíba (cota 53m). Uma das particularidades da região está na sua função como zona de amortecimento de águas pluviais, já que com o aumento de estruturas cinzas e impermeáveis na cidade, esta área contribui como estratégia natural de drenagem urbana, o que propicia para o desafogamento de áreas próximas mais urbanizadas com a absorção do excedente de água.

V A Z IO

um pav. dois pav.

RIO PAR NA ÍBA

500m 900m TIMON - MA

1.300m

alvenaria taipa

1.700m

KM

Conforme levantamento físico realizado, a comunidade possui 375 edificações, o que equivale a um total de 413 domicílios. Constatou-se a presença de edificações cujo uso majoritário é residencial, além de pequenos comércios, edificações institucionais, de lazer e uso misto. Nestas, o gabarito predominante é de construções térreas, com poucas com mais de um pavimento – comumente as de uso misto. As mais antigas localizam-se adjacentes à Av. Boa Esperança e as mais recentes com expansão perpendicular à esta, junto com pequenas vias de acesso não regularizadas. As tipologias das construções dividem-se quase que igualmente entre casas de alvenaria e casas de taipa, com as últimas normalmente presentes em cotas abaixo da avenida principal. O sistema viário é estritamente condicionado pelos sistemas naturais, sendo a Av. Boa Esperança do tipo carroçável com pavimentação asfáltica, e os demais acessos são vias de tráfego não motorizado, perpendiculares à avenida, sem saída e sem pavimentação.

POT

sistemas naturais

sistema antropicos

R IO

Desde seu surgimento o bairro Olarias sempre teve ocupação condicionada à geografia física do lugar, como: o rio Poty ao norte da avenida principal, Boa Esperança; o rio Parnaíba a oeste e as áreas alagadiças a leste. Inicialmente situadas apenas ao longo da avenida, suas residências priorizavam cotas elevadas, próximas à via, buscando evitar maiores danos em épocas de cheias dos rios. Contudo, recentemente, quantidades consideráveis de famílias têm se apropriado de espaços mais contíguos às áreas alagadiças, em orientação transversal à Av. Boa Esperança, o que agrava riscos relacionados a situação ocupacional dos moradores. Apesar deste crescimento perpendicular, o assentamento ainda possui uma conformação fortemente linear, paralela à avenida.

2

morfologia urbana

residencial abandonado comercial institucional serviço misto lazer construção

equipamentos urbanos no entorno

carroçável pedonal

educação lazer saúde assistência social terminal de ônibus

sistemas naturais

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as vocacoes e as necessidades

associação de moradores o quintal social

“no deserto também se ama, a gente não tem praia mas tem coração” O processo de espoliação urbana que marca a história da conformação física do bairro delineia também seus signos e marcos sociais. Primeiramente ocupado por indígenas, em seguida apossado por grandes fazendas no século XIX e, posteriormente, tomado pelo processo de autoconstrução em taipa no século XX, com a vinda de migrantes do interior do estado em busca de emprego nas jazidas de argila. Desse cenário emergem as vocações locais: a agricultura familiar, a pesca e a criação de animais como modo de subsistência, o respeito e zelo pelos recursos

naturais de onde tiram o sustento, a solidez das relações que se legitimam no compartilhamento do pouco que se tem, a calçada e o quintal como extensão do espaço reduzido da casa, a apropriação da rua que valida não somente a vida coletiva dos adultos como também a infância. Desses potenciais foram reconhecidas oportunidades que traçam o programa de necessidades do projeto: (1) a ampliação do parque localizado no encontro dos rios; (2) a implantação de um espaço para comercialização do artesanato; (3) pontos de apoio para os pescadores na margem do rio

Parnaíba; (4) a regulamentação da vazante; (5) a implantação de um mercado; (6) a reforma da associação de moradores; (7) a reabilitação de edificações abandonadas para abrigar um espaço de educação infantil; (8) as unidades habitacionais de reassentamento; (9) a reforma da quadra; (10) o quintal social como eixo de interlocução de todas as propostas e enquanto espaço onde o público e o privado se fundem; e, por fim, (11) o museu da luta, como fio condutor dos signos e da memória do bairro trazidos para o trabalho.

o mercado da engancha*

o espaço dos erês* a morada do sereno*

o canto da pipa

parque do pontal* o canto da maria-mole* o canto da tarrafa* a vazante do tardão*

pescadores

espaco infantil

artesanato

quintal

A proximidade dos rios Parnaíba e Poty, o isolamento inicial da área em relação ao crescimento urbano da cidade e a herança dos povos nativos de um modo vida de subsistência manteve a tradição da pesca.

Hoje a comunidade não dispõe de serviços educacionais infantis que contemplem a faixa etária de zero a dois anos. Muitas mães precisam trabalhar para complementar a renda da família, mas não dispõem de um serviço social que aporte esta necessidade.

Atualmente o espaço utilizado para produção do artesanato local são os quintais das residências, em ambientes pequenos e sem conforto. A comercialização, por sua vez, ocorre ao longo dos passeios limitados da Av. Boa Esperança.

Ao fundo das moradias conformam-se os quintais das casas, onde há livre comunicação entre vizinhos, animais e compartilhamento de chuveirões, áreas de serviço e varais de roupa. Além de um caminho pedonal espontâneo, o espaço configura-se como uma área de intensa sociabilidade na vida comunitária.

Os vazanteiros do bairro são pessoas que vivem nas áreas ribeirinhas às margens do Rio Parnaíba e praticam a agricultura familiar, manejando as terras de vazantes com diferentes tipos de plantações: temporárias e permanentes.

A crescente ocupação das habitações estende-se hoje até as margens das áreas alagadiças, algumas abaixo da cota de inundação, aumentando a vulnerabilidade aos alagamentos e à situação de insalubridade, o que põe em risco a qualidade de vida urbana local.

A maior parte da colheita das vazantes são conduzidas até o Centro de Abastecimento – CEAPI, que fica a 11km da Olarias. A venda ocorre a preços reduzidos por estarem na ponta da cadeia de abastecimento. Uma venda mais próxima do consumidor final poderia incrementar a renda dos trabalhadores.

Os moradores expressam um forte sentido de comunidade e possuem representantes das diversas atividades desenvolvidas no bairro: Oleiros, Vazanteiros, Pescadores e Artesãos. Porém, o espaço existente para as reuniões encontra-se desativado por problemas de manutenção e por conflitos políticos.

vazantes

habitacao

mercado

associacao

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o ir e vir

do isolamento geográfico à articulação de um padrão variado de deslocamentos alagamento insalubridade urbanização sistema viário

diretrizes primárias

0

10m

0

10m

área alagadiça

edificações removidas limite natural das áreas alagadiças novo limite das áreas alagadiças

2

sistema viário 1

rotas novas rotas existentes requalificadas

transporte

principal secundário não-motorizado

diretrizes primarias A partida do projeto foi identificar a necessidade de remoção de moradias, que totaliza 56 domicílios. Em seguida, buscou-se uma solução de engenharia urbana que pudesse proteger melhor as casas mais próximas das áreas alagadiças. Apesar de conhecidas como Lagoa dos Oleiros, essas áreas não possuem afloramento natural de lençol freático, são apenas topograficamente favoráveis ao acúmulo de água, além de receberem um extravasor que conduz as águas provenientes de outras lagoas da Zona Norte, a fim de que essas áreas alagadiças possam verter o excedente no Rio Parnaíba. Para tanto, propõe-se que haja um movimento de terra na vasta área desocupada, no intuito de aumentar a capacidade de armazenamento de água na localidade.

rota coleta motorizada rota coleta à pé delimitação bacia de coleta

estruturação passeios suspensos

sistema viario e transporte O projeto propõe vascularizar as limitadas possibilidades de deslocamento. Primeiramente com a abertura de duas vias carroçáveis (01 e 02), perpendiculares à avenida principal, de modo a possibilitar a criação de um binário entre a Av. Boa Esperança e a Rua Manoel Aguiar Filho para o transporte público. A via principal passaria a circular apenas no sentido Sul >> Norte. A partir da Boa Esperança seriam criados acessos carroçáveis complementares, alguns deles do tipo “cul-de-sac”. Entre a área alagadiça e o fundo das casas surge o quintal social como eixo paralelo à via principal, a fim de criar uma possibilidade mais segura e agradável de mobilidade para pedestres e ciclistas. A partir do quintal ramificam-se outros acessos para deslocamento não motorizado, através de pisos elevados sobre a lagoa, conectando a área de intervenção ao bairro Mafrense por um trajeto paisagístico.

manejo de residuos solidos

manejo de resíduos sólidos

corte esquemático sistema viário

O sistema viário proposto possibilita a potencialização do serviço de coleta de resíduos e limpeza da comunidade. As vias “cul-de-sac” criadas permitem que o caminhão compactador de lixo acesse áreas mais baixas, a fim de regulamentar pontos de coleta mais próximos das casas locadas em cota abaixo da Av. Boa Esperança, e estimular os moradores a vazarem seus lixos domiciliares em local adequado e não mais no fundo de suas casas. A rota de coleta à pé atende pontos onde o caminhão não pode chegar, e é viabilizada por rampas acessíveis por onde o contêiner pode ser levado até o ponto carroçável mais próximo. Foram projetadas bacias de contribuição do lixo domiciliar, considerando a quantidade de domicílios e o sistema viário de cada porção, a fim de identificar a quantidade de contêineres necessários para atender a demanda do lixo produzido.

fundação piso de grelha metálica perfil metálico de sustentação

barra portante barra secundária

parâmetros adotados: a grelha Para os novos caminhos não motorizados propõe-se a instalação de pisos elevados tipo grelha, sustentados por perfis metálicos (pilares e mãos francesas) e fundação em concreto. Pretende-se criar uma grande articulação viária para pedestres e ciclistas neste parâmetro, com alcance efetivo de deslocamentos e baixo impacto ambiental. Sendo essencialmente uma instalação a seco e considerando a capacidade drenante da malha vazada, a grelha funciona como uma passagem molhada, que não impermeabiliza o solo e permite que a água no período de cheias não encontre obstáculos, podendo inclusive ficar submerso durante as horas de retardo da drenagem das águas pluviais.

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o quintal social

o trajeto da vida, as relações de vizinhança e o pertencimento com o lugar

quintal do sereno*

quintal dos eres* quintal do rabo da cobra*

quintal do artesao

quintal dos oleiros

quintal do pontal* habitação

associação de moradores

mar

gem

a morada do sereno*

espaço dos erês*

o canto da pipa

da á rea ala g adiça

mercado da engancha*

0

100m

parque do pontal*

quintal do pontal

quintal do rabo da cobra

O Quintal Social desponta como eixo estruturador do projeto, que legitima a vida social ao fundo das casas com usos coletivos variados, possibilita a circulação segura de pedestres e ciclistas, estabelece um marco limítrofe de expansão da comunidade nas áreas mais vulneráveis ao risco de alagamento, e propõe que a área comum da vida privada, que hoje sofre com o problema do lixo jogado no fundo das moradias, seja despoluída para

Localizado na parte mais a Norte, onde estão assentadas as casas mais precárias, esta parte do quintal traz áreas de descanso e contemplação, churrasqueiras e horta comunitária.

Este largo conecta-se com o “Rabo da Cobra”, caminho elevado que atravessa a área alagadiça em direção ao bairro Mafrense. O espaço propõe uma Academia da Terceira Idade.

Nas imediações do Mercado e da Associação, este quinta,l além de convívio, oferece também mobiliário para o plantio de hortaliças, realização de churrasco e dois fornos para queima das peças cerâmicas produzidas pelos artesãos.

Ao fundo da Associação de Moradores propõe-se um anfiteatro construído a partir do reaproveitamento de pallets, que atenda às grandes reuniões comunitárias, festividades e oficinas promovidas pelas lideranças.

As atividades trazidas neste quintal estimulam o lazer infantil a partir de um mobiliário lúdico ao fundo do Espaço dos Erês. Além de criar uma área aprazível para as duas unidades de reassentamento que serão implantadas na área.

implementação de espaços de lazer, convívio e atividades diversas. Associado ao seu percurso surgem as implantações dos equipamentos sociais e unidades habitacionais de reassentamento, além das intervenções urbanas para aproveitamento dos espaços residuais da comunidade. Ao longo do quintal social foram criados largos que trazem mobiliários e práticas de diferentes âmbitos que suplementam as funções das edificações propostas.

À altura da Morada do Sereno surge o último largo do quintal, com Academia da Terceira Idade, área de descanso, horta comunitária e churrasqueiras.

quintal do artesão 5/10


o pontal, a maria-mole, a tarrafa e o tardao a margem que beira o rio: o parque, o artesanato, o pescador e a vazante

o canto da maria-mole*

O espaço de 316m² propõe uma área para comercialização do artesanato produzido no bairro. A atividade hoje acontece nos passeios da Av. Boa Esperança, com pouca visibilidade comercial e sem um espaço adequado para receber o consumidor. Dividido em três níveis diferentes de piso, que acompanham a declividade no sentido do rio, o espaço irá propiciar uma área aprazível e atraente, que valorize a arte popular produzida da trivial mistura de argila e água. A partir do piso mais baixo parte um deck que leva ao mirante no Rio Parnaíba.

o canto da tarrafa* telhado em bambu

estrutura do telhado em bambu amarração em fibra natural cobogós* de bambu

vedação em bambu

banheiro vedado em tijolo de barro

cobogós* de bambu

jardim

estrutura metálica

piso em grelha metálica

Este canto consiste em um ponto modular de apoio ao pescador. Com 30m², cada módulo dispõe de uma oficina de reparo de canoas e um depósito para armazenagem dos materiais utilizados na pesca. Sugere-se que a cada 500m da margem do rio seja implantado um módulo. Dentro da área de intervenção do projeto propõe-se três pontos, mas que podem ser facilmente replicados pois são de rápida execução.

o parque do pontal*

Localizado na confluência dos rios Parnaíba e Poty, atualmente é um lugar bastante frequentado por conta do tradicional Restaurante Flutuante. A proposta é que o parque seja requalificado e ampliado, com a finalidade de práticas esportivas e caminhada ao ar livre margeando o rio. Sugere-se que todo o piso cimentado existente seja substituído por grelhas metálicas, a fim de permeabilizar a beira rio.

a vazante do tardao*

As vazantes estão divididas em plantações temporárias e permanentes. Nas temporárias há o cultivo de leguminosas, mais próximas do rio, e nas permanentes das frutas tropicais. Propõe-se regulamentar a plantação temporária através de uma faixa de 50m de largura da margem do rio. Os principais alimentos cultivados são: cana, milho, macaxeira, batata, abóbora, feijão, quiabo, maxixe e amendoim. A intenção do projeto é incentivar a permanência da cultura vazanteira nas margens do Rio Parnaíba, uma vez que a atividade revela um alto dinamismo e, também, uma capacidade de resiliência urbana a partir da agricultura de subsistência frente às transformações impostas pela modernidade.

parametros adotados: a bioconstrucao

O sistema construtivo adotado para os Cantos da Maria-Mole e da Tarrafa foi a bioconstrução, a partir da utilização de bambu, fibra natural de fácil acesso na vazante do Rio Parnaíba. Material ecológico de baixo impacto no solo, se adapta facilmente a diversas condições climáticas e ambientais. A técnica construtiva visa o mínimo impacto na margem do rio, com aplicação do bambu tanto na vedação quanto na estrutura de cobertura das duas edificações, com amarrações em cordas de fibra natural, fixação no piso com chapas metálicas e piso em grelha metálica (conforme quintal social).

fundação em bambu e concreto canto da maria-mole monumento do cabeça-de-cuia

atendimento ao turista

requalificado

rio poty

restaurante flutuante

campo de futebol

estação elevatória

novo

rio parnaíba

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as liderancas, o emprego e a renda o sentido de comunidade e os ofícios locais provenientes do rio e da terra

associacao dos moradores A requalificação da Associação de Moradores consiste em uma intervenção simples, que mantém o espaço de 82m² destinado a um grande salão multifuncional, propondo a instalação de dois banheiros acessíveis. Tendo em vista o problema gerado recentemente pela construção de casas geminadas às laterais da edificação, que selaram algumas janelas do equipamento, propõe-se uma nova cobertura em telha cerâmica do tipo lanternim, que viabilize a saída do ar quente que sobe e a entrada de iluminação natural.

Adjacente à nova fachada, foi possível reestruturar a acessibilidade à associação, com instalação de rampas desde o passeio da Av. Boa Esperança. Na composição das fachadas de todos os equipamentos sociais edificados, buscou-se trabalhar o tijolo maciço de olaria, a fim de criar uma linguagem vernacular de permeabilidade das fachadas, através do espaçamento entre tijolos, que permite a entrada de ventilação e iluminação naturais a partir dos panos porosos de terracota.

mercado da engancha A proposta do mercado está relacionada à carência de oportunidades de trabalho e obtenção de renda para os moradores. Com 502m² de área distribuída em dois pavimentos, buscou-se oferecer um local onde as atividades de comercialização – da pesca, do plantio das vazantes e das hortaliças das hortas comunitárias – fossem centralizadas. Sendo assim, facilitaria o acesso aos produtos para o bairro em si e para os adjacentes. O mercado inclui 12 quiosques, destinados à venda

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de peixes e carnes, e áreas de apoio e serviço. No piso superior encontra-se a área destinada à venda de hortaliças, legumes e frutas, lanchonete e praça de alimentação. Possui acesso pelas escadas internas e pelas rampas externas independentes, que também se conectam ao mirante com vista para o rio Parnaíba. A sustentação da edificação proposta foi feita através de estrutura metálica, com ventilação e iluminação naturais exploradas através de fachadas com tijolos vazados.

3

PROPOSTA

8

LEVANTAMENTO

VOLUMETRIA

VOLUMETRIA

2 2

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

PLANTA BAIXA 1 4

3 2

2

2

2

1 - Salão | 70,30 m² 2 - Bwc pcd | 2,80 m² 3 - Casa geminada A 4 - Casa geminada B

9 10

3 11 4

PROPOSTA

3

1

14

5

12 13

15 6 7

16

PROPOSTA 0

10m

PLANTA BAIXA

1 - Boxe | peixe e carnes | 4,15 m²; 3,90 m² 2 - Bwc pcd | 2,55 m² 3 - Bwc | 9,80 m² 4 - Armazenamento de frios | 12,55 m2 5 - Higienização | 10 m² 6 - Dml | 2,50 m² 7 - Lixo | 5,75 m² 8 - Hortifruti | 109,25 m²

9 - Higienização | 9,80 m² 10 - Armazenamento de frios | 4,00 m² 11 - Administração | 5,30 m² 12 - Bwc | 1,45 m² 13 - Dml | 1,45 m² 14 - Cantina | 6,30 m² 15 - Área de convivência | 80,80 m² 16 - Mirante | 33,60 m²

0

10m

PROPOSTA VOLUMETRIA

7/10 quintal dos oleiros


o espaco dos eres e o canto da pipa a infância na rua e a rua na infância O espaço de apoio à educação infantil consta de 383m² distribuídos em um programa de necessidades que visa estimular o aprendizado lúdico e cultural, e a socialização da criança. Alguns ambientes são dedicados ao atendimento de crianças de zero a dois anos. Os espaços multifuncionais, por sua vez, atendem às demais faixas etárias, e a um serviço de

apoio às mães e à toda comunidade, através de acompanhamentos psicológicos e treinamentos profissionais, como palestras, minicursos e oficinas. Integrada ao quintal social, a área urbanizada ao redor do equipamento amplia as possibilidades de exploração de atividades em uma área de lazer externa. O programa de necessidades é subdividido

entre os setores administrativo, de serviços, infantil e social. O setor infantil contempla duas salas adaptadas, banheiros infantis, fraldário e chuveródromo. E o setor social é composto pela sala multiuso, sala de treinamento e sala de escuta. A fachada principal segue a linguagem porosa do assentamento dos tijolos trazida para os equipamentos sociais.

PROPOSTA PLANTA BAIXA

3

3 3

1

14

4

5

13

3

2

17 15

6 9

10

11 12

LEVANTAMENTO VOLUMETRIA

PROPOSTA VOLUMETRIA

1 - Sala 01 | 23,70 m² 2 - Recepção | 22,40 m² 3 - Bwc infantil | 7,90 m² 4 - Coordenação | 9,20 m² 5 - Pátio / Refeitório | 52,00 m² 6 - Fraldário | 7,50 m²

8

6 16

7

7 - Chuveródromo | 4,90 m² 8 - Bwc Pne | 2,80 m² 9 - Cozinha |13,70 m² 10 - Depósito | 3,60 m² 11 - Almoxarifado | 3,60 m² 12 - Área de Serviço | 3,75 m²

13 - Área Externa | 109,30 m² 14 - Sala 02 | 30,00m² 15 - Sala multiuso | 30,00m² 16 - Sala de Treinamento | 25,50m² 17 - Sala de Esculta | 9,20 m² 18 - Circulação | 35,30 m²

7

0

10m

canto da pipa O projeto da quadra aproveita o desnível topográfico do talude existente para criação de uma arquibancada, permeada por árvores, proporcionando sombreamento e reduzindo a sensação térmica das elevadas temperaturas da cidade. Para fechamento e proteção lateral propõe-se um alambrado desconstrutivista voltado para a

VOLUMETRIA

8

8

8

espaco dos eres*

PROPOSTA

18

arquibancada, a fim de manter a prática das crianças da comunidade de empinar pipas na área. O alambrado, além de proteger a bola, servirá também como caramanchão sendo suporte para plantas trepadeiras. As cores alegres trazidas na paginação do piso da quadra remetem ao peculiar pôr do sol de Teresina: alaranjado cor de rosa.

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a morada do sereno “a gente vive onde é bonito pra chover”

A proposta traz 14 blocos de habitação, com um total de 56 unidades de reassentamento. Conforme indicado no diagrama do motivo das remoções, temos: 32 por risco de alagamentos, 5 por insalubridade, 16 por sistema viário, e 3 por urbanização. A fim de implantar todas as habitações dentro da área de intervenção, verificou-se a necessidade de trabalhar com um gabarito de 2 pavimentos. Cada bloco traz 4 habitações, 2 no térreo e 2 no pavimento superior, interligadas por uma escada metálica no centro. Cada habitação, por sua vez, recebe um módulo mínimo de 48m², distribuídos entre sala de estar/jantar integrada à cozinha, banheiro social, dois quartos e lavanderia externa. Para este módulo básico sugere-se de que forma a habitação poderá ser ampliada futuramente pelos moradores, com adição de 1 quarto e 1 suíte, totalizando 72m².

IMPLANTAÇÃO

A edificação possui tipologia construtiva de tijolo maciço, instalações hidrosanitárias aparentes, esquadrias de metalon e cobertura em telhas cerâmicas. A partir da cisterna instalada no subsolo para armazenamento das águas pluviais, cada habitação é servida pelo reaproveitamento de águas cinzas para uso na descarga das bacias sanitárias. Por fim, na implantação de cada bloco são propostos muros vazados (panos porosos de terracota) que exercem o tradicional papel das cercas entre casas, que organizam o espaço de cada moradia, mas não as isola. Além disso, o jogo do côncavo e convexo criado pelos muros permite a conformação de quintais laterais: espaços residuais de lazer e convívio para os moradores.

quintal do sereno

água de reuso

2 4 5

água da rede pública

3

2 1

1 - Sala - 14,20 m² 2- Dormitório - 8,90 m² ; 8,35 m² 3- Bwc - 2,50 m² 4- Cozinha - 7,80 m² 5 - Hall - 1,35 m²

0

10m

CORTE ESQUEMÁTICO sistema de reaproveitamento

banco 0

10m

mesa

horta

bicicletário

churrasqueira

PLANTA BAIXA

mobiliario urbano O mobiliário foi projetado conceitualmente tendo a trama da rede do pescador como inspiração e a forma triangular como um módulo básico de fácil reprodução e montagem. A ideia era reproduzir o mesmo conceito em mais de um modelo de mobiliário, adaptando-se cada um à sua necessidade. Como é o caso do expositor da horta comunitária que terá a base triangular escalonada para facilitar o acesso e visualização; os bancos e as mesas que terão sua estrutura de sustentação com a junção da forma básica; e o suporte do bicicletário que pela sua geometria triangular, permite o perfeito encaixe das rodas à base. A churrasqueira se diferencia do padrão convencional retangular, e assume a forma mais aberta conseguida pela união de vários triângulos. 9/10

volumetria


o museu da luta

no percurso dos signos e da memória na cidade, os urbanismos são as pessoas

piauies

tante nas margens dos rios e nas estradas interior a dentro do Piauí. Em seguida, na Av. Boa Esperança, desponta o Espaço dos Erês, que anuncia a territorialidade alegre do infantil e do lúdico. No trajeto que desce até o Quintal dos Erês aparece o cercado, que evoca o tempo em que a área era ocupada por grandes vacarias. Ao final, onde concentram-se os blocos da Morada do Sereno, sobressaem no concâvo e convexo dos muros que conformam os quintais laterias das novas habitações: a capivara, o jacaré e a cobra, animais silvestres comuns na beira do Parnaíba; o gato e a galinha, animais de estimação presentes em todas as casas; o “boi do riso da domadora”, figura folclórica das festividades locais; e encerra o percurso com a emblemática cena habitual do dia a dia comunitário, onde as ruas e as calçadas são a extensão das casas, são suas salas de estar. De um modo geral, o projeto defende que arquitetura e urbanismo são excesso de vida em tempo real, e sonha alcançar a miudeza do homem que ainda se distrai com os pássaros. A proposta “não anseia se diferir, mas se camuflar; nem pretende se sobressair ao bairro, mas sim se incorporar ao processo”¹.

expressões locais bonito pra chover – quando o tempo está propício para a chuva. cobogós – elemento vazado. engancha – também conhecido como engancho, é uma rede de pesca retangular de aproximadamente 300m de comprimento, utilizada para pesca em locais rasos da margem do rio. erês – são guias caracterizados pela umbanda como seres de luz que representam a pureza infantil. termo adotado pela comunidade para fazer alusão às crianças.

maria-mole – planta que indica aonde tem a melhor argila. “onde tem maria-mole tem argila” (raimundo novinho - morador). pontal – como é chamado o encon tro dos rios parnaíba e poty, pelos moradores do bairro olarias. rabo da cobra – caminho de ligação entre o bairro olarias e o bairro mafrense (adjacente) com formato sinuoso semelhante a uma cobra. sereno – denominação local para chuvisco. tardão – plantações que levam 60

a vazante dona francisca

a artesã

lívia emanuelle

o cercado

a estimação

ram es

espaço dos erês

pec

ro este p

quintal dos oleiros

fo tadas presen aqui re s a r u rav s xilog odas a

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jeto.

morada do sereno

parque do pontal

nota: t 100m

o boi e a galinha

o oleiro

o pescador

0

morada do sereno

a extensão da casa morada do sereno

cássia

quintal dos erês

seu cidinha

mercado da enganhca

nota: todas as ilustrações deste trabalho retratam moradores do bairro olarias que contríbuiram com informações ao longo do desenvolvimento dos projetos.

o índio

dias ou mais para a colheita. tarrafa – é uma rede feita artesanalmente com fios de nylon para a pesca. “no deserto também se ama, a gente não tem praia mas tem coração” - (seu cidinha – antigo morador do bairro). “nós somos vivos, nós somos a segunda e terceira gerações dessa ocupação” – (lúcia souza – líder comunitária).

¹adaptado de josé tomás franco, arquiteto chileno.

associação dos moradores

O Museu da Luta é o fio condutor da história e da identidade deste trabalho e, portanto, a proposta apresentada foi baseada nesse propósito. Buscou-se através da xilogravura, dos signos e das cenas cotidianas que contam a vida da comunidade, criar um percurso de paineis artísticos a céu aberto, tornando-se um convite para as pessoas conhecerem verdadeiramente o bairro. Ora são murais associados ao paisagismo das áreas urbanas requalificadas, ora escapam pelos poros e assinalam as fachadas em terracota que permeiam as edificações propostas. Do Parque do Pontal parte a figura do índio, que crava a ancestralidade da relação mesopotâmica com os rios Parnaíba e Poty e com as terras que os margeiam. À altura do Mercado da Engancha surge o pescador, que protagoniza as fachadas ventiladas junto ao feijão, o quiabo e o milho. Logo em frente se insinuam as paredes anguladas da Associação de Moradores, que estampam a mulher artesã com o pote de barro na cabeça, e o homem oleiro na produção do tijolo maciço. Ao fundo da associação chega-se no quintal do anfiteatro, que em seu palco esboça a carnaúba, o mandacaru e a taboca, ícones importantes da vegetação do cerrado local, cons-

animais silvestres o cerrado

os erês

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