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O termo hip hop significa, numa tradução literal, movimentar os quadris e saltar (to hip e to hop, em inglês), e surgiu no final dos anos 60 em Nova York. Com o tempo, o hip hop passou a designar um conjunto de manifestações culturais: um estilo musical, o rap; uma maneira de apresentar essa música em shows e bailes que envolve um DJ (disc-jóquei) e um MC (mestre-de-cerimônias); uma dança, o break; e uma forma de expressão plástica, o grafite. Hoje, no Brasil, o hip hop é uma manifestação cultural das periferias das grandes cidades, que envolve distintas representações artísticas de cunho contestatório, ligadas pela idéia da autovalorização da juventude de ascendência negra, por meio da recusa consciente de certos estigmas (violência, marginalidade) associados à essa juventude, e que pretende agir sobre essa realidade e transformá-la. Em Hip Hop – A periferia grita, as autoras dão voz aos manos e às minas e mostram que, mais que um modismo ou que um estilo de música, o hip hop, com um alcance global e já massivo, é uma nação que busca congregar excluídos do mundo inteiro.
Rocha/Domenich/Casseano
eza a cartilha que hip hop é coisa de preto, pobre, macho, politizado, socialmente consciente, independente, raivoso. Mas nem tudo é verdade nesse mundo. Conforme lembra NelsonTriunfo, pioneiro do rap e do break, a cultura hip hop foi importada dos Estados Unidos, inicialmente, por gente que tinha a grana necessária para ir até lá e aprender a dançar. Depois é que se alastrou pela periferia. Ou seja: rap já foi coisa só de bacana. Também não é coisa só de macho – que o digam as meninas do Lady Rap, a garota chamada De Menor ou o grupo Apologia das Pretas Periféricas. Elas sabem que é um meio mais machista do que macho. Uma infinidade de mitos e clichês cerca o gênero. Que também não é coisa independente (já foi). Basta ver que MV Bill, um dos mais raivosos rappers da atualidade, foi um dos apresentadores daquele arremedo de Grammy chamado Video Music Brasil, em 1999. E lembrar que os Racionais venderam mais de 1 milhão insuflados pela força da indústria. Mas não foi só para pôr um pingo nos is da cultura hip hop que Janaina, Mirella e Patrícia saíram a campo, vasculhando dos presídios de São Paulo à Ceilândia (DF), da Praça Roosevelt ao metrô São Bento. Elas também amam o rap de Thaíde e DJ Hum. Reconhecem a legitimidade da linguagem do rap e seu discurso eficiente, seu poder de fogo na luta de garotos e garotas marginalizados. A diferença é que, além de gostar da coisa, elas também são curiosas: querem saber como, por que, quem, onde, pra quê. Essas meninas mostram aqui, em Hip Hop – A periferia grita, que não basta ter método e acesso à informação para fazer um bom levantamento historiográfico de uma coisa que ainda está no seu auge. É preciso ter vontade e capacidade de discernimento também. Duvida? Então mostre-me um b.boy que tenha iluminado assim com tanta clareza o seu próprio caminho! Yo! Jotabê Medeiros
O
Janaina Rocha
Mirella Domenich
Patrícia Casseano
hip hop é um fenômeno sóciocultural dos mais importantes surgidos nas últimas décadas. Ora classificado como um movimento social, ora como uma cultura de rua, o fato é que o hip hop hoje mobiliza milhares de jovens das periferias das grandes cidades brasileiras. Suas formas de expressão – a batida do rap, os movimentos do break e as cores fortes do grafite – são apenas os signos visíveis de uma enorme discussão que fervilha entre esses filhos das várias e imensas desigualdades da sociedade brasileira a respeito de identidade racial, de possibilidade de inserção social, de alternativas à violência e à marginalidade. Em menos palavras, o hip hop é a resposta política e cultural da juventude excluída. As três autoras deste livro partiram da suspeita de que aí havia alguma coisa muito importante a ser entendida, examinada, reportada. Hip Hop – A periferia grita captura o fenômeno na cidade de São Paulo na transição dos anos 90 para o novo milênio. Estudantes de jornalismo quando o trabalho começou, o livro traz a marca de quem fez bem sua lição de casa, pela seriedade e rigor com que procuraram tratar todos os aspectos do fenômeno. Entretanto, o trabalho amadureceu para além da obrigação escolar e tornou-se livro por conta de uma inventividade nas formas de fazer as várias reportagens e um frescor na maneira de contá-las que, vá lá, se não é privilégio dos muito jovens, digamos que eles os tenham mais acessíveis. Curioso que num país como o Brasil, que não cessa de inventar culturas jovens, com graus variados de relação com o mercado, em vários segmentos sociais e nas diversas regiões, exista tão pouca produção jornalística, crítica ou reflexiva a respeito. Janaina, Mirella e Patrícia começaram suas carreiras como jornalistas dando uma bela contribuição – e espero que não parem. Bia Abramo