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Yago Gadelha
Tenho 26 anos, nasci e me criei em Fortaleza. Negro, gordo, gay, ainda em dúvida de quem sou. Criado por uma mulher forte. Me construindo como cantor, dançarino, compositor, estudante de Direito e dono de casa. Gosto de pedalar, estar entre amigos e de chocolate. Um bom ouvinte.
Navegando
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Demorei muito com os pés na terra Só olhando o mar, Querendo navegar Mas não sabia bem como. Quando chegou o momento, Quis compensar todo o tempo Que fiquei parado. Chega de sonhar Agora vou realizar! Sentir a fúria do mar, Me deixando levar No seu suingue. Me deixar molhar Sentir o sal me temperar. Vou de barco em barco Seguindo minha estrada, Meu curso natural Que é viver essa imensidão. Algumas embarcações me permitem relaxar Sentir o mar correr devagar, sem tanta aventura. É bom também se respeitar, ter paz e contemplar, Mesmo em alto mar, a calmaria, o aninho, descansar.
Por melhor que seja, às vezes abandono tudo isso Por um barco furado, sem perspectiva de aconchego. Por vezes, uns até sem segurança nenhuma! Nem sei porque faço isso: Colocar minha vida em risco E tudo que conquistei Por um ímpeto besta. Talvez eu seja também o caos A desordem A perda O subir e descer O despencar da montanha russa. E é bom, Ao mesmo tempo que não é. Navegar por onde quer que for Eu me joguei nesse mar! Atraído por ele, Eu não posso parar... Não tenho como voltar. Não sei onde vou chegar, Mas com o tempo Eu tô entendendo onde devo pisar. Choro pelas minhas perdas, Mas se eu não tivesse perdido Não entenderia onde devo pisar. Respira. Logo vem a próxima embarcação Agora eu sei mais sobre o que fazer Pra sobreviver aqui.
QUARTA PARTE
Letras de músicas LGBTQIA+
Exemplares da cultura do Slam em Fortaleza, a nova força poética vinda das ruas juntam-se aqui a peças do Sarau da Montação e outras criações em letras de músicas que também revelam escritas LGBTQIA+ contemporâneas da cena cearense.