ISSN 1807-5509 e-ISSN 1881-4690
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Brazilian Journal of Physical Education and Sport São Paulo
v.31
Suplemento n.10
outubro 2017
20 e 21 de outubro de 2017 Centro de Educação Física e Desportos Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Vitória, ES - Brasil
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Coordenação Geral Prof. Dr. Mauricio Santos Oliveira (CEFD-UFES) Prof. Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE-USP) Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon (FEF-Unicamp) Profa. Dra. Eliana de Toledo (FCA-Unicamp) Prof. Dr. Marco Antonio Coelho Bortoleto (FEF-Unicamp) Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP-USP)
Comissão Organizadora Yan Tavares Galdino da Silva - Graduação (CEFD-UFES) Prof. Dnda. Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima (FEF-Unicamp) Profa. Dnda. Kizzy Antualpa (EEFE-/USP)
Comissão de Apoio Matheus Agnez de Oliveira (CEFD-UFES) Lucas Fraga Pereira (CEFD-UFES) Carlos Eduardo Santos de Castro (CEFD-UFES) Franciny dos Santos Dias (CEFD-UFES) Kamau Osei Fregonesi Ferreira Monteiro (EEFERP-USP) Vitor Ricci Costa (EEFERP-USP) Caroline Inácio Molinari (EEFERP-USP) Ari Damaceno (EEFERP-USP) Lucas Lordello (FCA-Unicamp) Mateus Henrique de Olveira (FCA-Unicamp) Vanessa Pizzol (FCA-Unicamp) Gabriel Ventura (FCA-Unicamp) Kassia Mitally Carvalho (FEF-Unicamp) Bruna Locci (FEF-Unicamp) Camila Milani (FEF-Unicamp) Fernanda Raffi Menegaldo (FEF-Unicamp)
Comissão Científica Prof. Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE-USP) Profa. Dnda. Kizzy Antualpa (EEFE-USP) Prof. Dnda. Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima (FEF-Unicamp)
Apoio Comissão Científica Solange Alves Santana (EEFE-USP) Profa. Msda. Pâmela Pires da Silva (EEFE-USP) Profa. William Ferraz de Santana (EEFE-USP)
Pareceristas Dra. Andrize Ramires Costa (UFPEL) Dr. Carlos Manoel dos Reis Araújo (Universidade do Porto) Dr. César José Duarte Peixoto (Universidade de Lisboa) Dra. Eliana de Toledo (FCA/UNICAMP) Dra. Elizabeth Paoliello (UNICAMP) Dra. Ieda Parra Barbosa Rinaldi (UEM) Dr. Ivan Cuk (Universidade de Liubliana) Dra. Ivana Montandon Soares Aleixo (UFMG) Dr. João Carlos Oliva (UFRGS) Dra. Juliana Pizani (UFSC) Dra. Laurita Marconi Schiavon (UNICAMP) Dra. Ligia Andrea Pereira Gonçalves (UEL) Doutoranda Lorena Nabanete dos Reis (UFC) Dr. Luiz Mochizuki (EACH/USP) Dra. Marcia Regina Aversani Lorenço (UNOPAR) Dr. Marco Antonio Coelho Bortoleto (UNICAMP) Dra. Maria de Lurdes Ávila Carvalho (Universidade do Porto) Dra. Maria Luisa Belloto Bortoleto (FISEX-UNICAMP) Dra. Mariana Harumi Cruz Tsukamoto (EACH/USP) Dr. Mateus Finco (UFPB) Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP) Dr. Paulo Carrara (FMU) Doutoranda Priscila Regina Lopes (UFVJM) Dra. Regina Maria Rovigati Simões (UFTM) Dra. Roberta Cortez Gaio (UNINOVE/UNISAL) Dra. Rossana Travassos Benck (UNB) Dra. Silvia Deutsch (UNESP) Doutoranda Thais Cevada D’Almeida (UERJ) Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE/USP)
Apoio Acadêmico-Científico Laboratório de Ginástica - LABGIN/UFES Grupo de Estudos e Pesquisa em Ginástica da USP - GYMNUSP Grupo de Pesquisa em Ginástica do Laboratório de Experiências e Pesquisas em Ginástica LAPEGI/FCA/ UNICAMP Grupo de Pesquisa em Ginástica FEF/UNICAMP
Apoio Técnico Setores e Funcionários do CEFD/UFES
Apoio Científico Science of Gymnastics Journal Revista Brasileira de Educação Física e Esporte - EEFE-USP
Programação
20/10 (sexta-feira) 12h
Credenciamento e retirada de materiais
14h às 17h30
Atividades Simultâneas
MiniCurso GA I Técnicas para desenvolvimento de giros longitudinais Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente na Universidade de Friburgo, na Alemanha e presidente do Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica) Mediação: Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (FEF/UNICAMP) Local: Sala de ginástica CEFD/UFES MiniCurso GR I A utilização dos elementos pré-acrobáticos nos exercícios de Ginástica Rítmica individual e de conjuntos Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente na Universidade de Friburgo, na Alemanha e presidente do Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica) Mediação: Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (FEF/UNICAMP) Local: Sala de ginástica CEFD/UFES Observação: Intervalo entre 15h30 e 16h00 19h00
Solenidade de Abertura Local: Auditório CEFD/UFES
19h30
Conferência de Abertura Mediação: Prof. Dr. Mauricio Santos de Oliveira (Presidente do V SIGARC e docente do CEFD/UFES) Local: Auditório CEFD/UFES
21/10 (sábado) 9h
Sessão de Pôsteres Local: Ginásio poliesportivo do CEFD/UFES
10h00 - 10h30 Intervalo
10h30
Mesa-Redonda I (Atividades Simultâneas)
Ginástica Artística I Da formação ao alto rendimento na Ginástica Artística Profa. Mestranda Caroline Molinari (Seleção Olímpica de 2004 e corpo técnico da seleção brasileira nos ciclos olímpicos de 2005-2008, 2009-2012 e 2013-2016) Prof. Esp. Hugo Lopes Oliveira (Formado em Educação Física na Unimesp - Fig em Guarulhos - SP e pós graduado na Universidade Gama Filho em Treinamento Desportivo. Técnico de Ginástica Artística Masculina no clube Serc Santa Maria, em São Caetano do Sul). Mediação: Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP) Local: Mini-auditório CEFD/UFES
Ginástica Rítmica I Capacitação, mudança de normas e desafios da arbitragem em Ginástica Rítmica Profa. Ms. Marcia Regina Aversani Lourenço (Coordenadora do curso de Especialização em Ginástica Rítmica da UNOPAR e árbitra Internacional da Confederação Brasileira de Ginástica) Profa. Dra. Catarina Paula Leandro Sousa Silva (Docente na Universidade Lusófona do Porto, árbitra Internacional e formadora na Escola Nacional de Ginástica da Federação de Ginástica de Portugal) Mediação: Doutoranda Bruna Locci (FEF/Unicamp) Local: Auditório CEFD/UFES
12h00 - 14h00 Almoço 14h00 - 15h30 Mesa-Redonda II (Atividades Simultâneas) Ginástica Artística II Treinamento em Ginástica Artística: pedagogia e tecnologia Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente da Universidade de Friburgo na Alemanha, presidente do Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica) Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (docente da Universidade Estadual de Campinas e membro da comissão de educação da Federação Internacional de Ginástica) Mediação: Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon (FEF/UNICAMP) Local: Auditório do CEFD/UFES
Ginástica Rítmica II Aspectos da periodização e desenvolvimento do alto rendimento da Ginástica Rítmica Profa. Dra. Kizzy Fernandes Antualpa (Ex-ginasta da seleção brasileira, treinadora e árbitra de Ginástica Rítmica e doutorado em Ciências na EEFE/USP) Profa. Patrícia Luiza Bremer Boaventura (Docente na Universidade Federal de Santa Catarina, ex-ginasta e treinadora de Ginástica Rítmica) Mediação: Profa. Dra. Eliana de Toledo (FCA/UNICAMP) Local: Mini-auditório CEFD/UFES
15h30 - 16h00 Intervalo 16h00 - 18h00 Atividades Simultâneas
Minicurso GA II Aspectos do treinamento de alto rendimento na Ginástica Artística Profa. Mestranda Caroline Molinari (seleção olímpica de 2004 e corpo técnico da seleção brasileira nos ciclos olímpicos de 2005-2008, 2009-2012 e 2013-2016) Mediação: Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP) Local: Sala de ginástica CEFD/UFES
Minicurso GR II O trinômio “corpo, música e aparelho” na Ginástica Rítmica de alto rendimento Profa. Ms. Monika Queiroz (Graduada em Educação Física e mestre em História na Universidade Federal do Espírito Santo, treinadora da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de 2008 e 2016) e treinadora no mundial de 2017, em Pesaro, Itália) Mediação: Profa. Dra. Kizzy Fernandes Antualpa (EEFE/USP) Local: Sala de dança CEFD/UFES
19h00 - 20h30 Conferência de Encerramento Ginástica Artística, mudanças socioculturais e prolongamento da carreira esportiva Profa. Dra. Myrian Nunomura (ex atleta, árbitra e treinadora de Ginástica Artística, professora titular da Universidade de São Paulo e autora de livros e artigos no âmbito da Ginástica) Mediação: Profa. Dra. Michele Carbinatto (EEFE/USP) Local: Auditório CEFD/UFES
ISSN 1807-5509 e-ISSN 1981-4690
Sumário
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 31, outubro 2017. Suplemento n. 10 V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
i
Apresentação Artigos
1
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo: influências políticas no desenvolvimento da ginástica artística. LIMA, Letícia Bartholomeu de Queiroz; SILVA, Pâmela Pires da; SCHIAVON, Laurita Marconi; SANTANA, William Ferraz de; CARBINATTO, Michele Viviene
15
A parceria público-privada no contexto esportivo: o caso de uma equipe de ginástica rítmica da cidade de Campinas-SP. MENEGALDO, Fernanda Raffi; TOLEDO, Eliana de; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho
29
A ginástica no terceiro setor: um estudo de caso da REMS (rede esporte pela mudança social). ASSUMPÇÃO, Bianca; TOLEDO, Eliana de
41
A compreensão e a avaliação do componente artístico da ginástica artística. OLIVEIRA, Mauricio Santos; PIRES, Fernanda Regina; ROBLE, Odilon; MOLINARI, Caroline Inácio; NUNOMURA, Myrian
51
Ginástica de trampolim: estudo do processo de institucionalização e suas consequências no Brasil. ROVERI, Murilo Guarniei; CARRARA, Paulo; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho
63
Motivação para o início da prática de ginástica rítmica. OLIVEIRA, Laura de; OLIVEIRA, Maurício Santos; COSTA, Vítor Ricci da; Myrian NUNOMURA
R.73
Resumos
R.153
Índice de Autores dos Resumos
Os artigos apresentados são de responsabilidade dos autores. Os resumos foram aprovados pelos revisores do Seminário.
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Apresentação
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Prezados colegas, acadêmicos, pesquisadores, treinadores, ginastas, árbitros, pós-graduandos, graduandos e todos aqueles envolvidos com a Ginástica, temos o prazer de convidá-los a participar do Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 2017, que graças às experiências anteriores, acrescido ao apoio das Universidades e Instituições parceiras, está em sua 5ª edição. O presente evento visa, por meio de conferências, mesas-redondas, oficinas e exposição de trabalhos científicos no formato pôster, propor um espaço de reflexão e de compartilhamento de conhecimento, inovação, tecnologia e experiências que viabilizem a continuidade do processo de desenvolvimento da Ginástica no Brasil. O SIGARC 2017 será realizado nas dependências do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo, na cidade de Vitória. Terra natal das ginastas capixabas Natalia Gaudio, Francielly Machado e Emmanuele Lima representantes do Brasil na Ginástica Rítmica nos Jogos Olímpicos de 2016. E, também, da treinadora Monika Queiroz que atuou em duas edições das Olimpíadas (2008 e 2016). Os proponentes do evento, assim como os demais organizadores, ocupam posições de destaque no estudo em Ginástica no cenário regional, nacional e internacional atuando, principalmente, por meio de seus grupos de pesquisa, os quais: Laboratório de Ginástica (LABGIN/CEFD/UFES); Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG/FEF/ UNICAMP); Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica (LAPEGI/ FCA/UNICAMP); e Grupo de Estudos e Pesquisas em Ginástica da USP (GYMNUSP). As universidades públicas voltam a reunir seus esforços para concretizar mais uma edição do SIGARC, assumindo o compromisso de contribuir
na produção do conhecimento científico da área. Em suma, estamos diante de mais uma oportunidade para prestigiar os trabalhos em Ginástica no país e do exterior. A missão do SIGARC é criar aproximações entre estudantes, árbitros, treinadores, ginastas, pesquisadores e outros profissionais que atuam com a Ginástica, para que compartilhem e se beneficiem mutuamente. Este é um dos caminhos para o crescimento e desenvolvimento da nossa Ginástica, beneficiando a todos. Objetivos
O o b j e t i vo d o S I G A RC 2 0 1 7 é d i s c u t i r, compartilhar e difundir os saberes entre treinadores, acadêmicos e demais pessoas envolvidas com a Ginástica competitiva. Com esse intuito, especialistas nacionais e internacionais expressivos debaterão diversos temas relacionados à Ginástica Artística e Ginástica Rítmica com os participantes. O encontro é oportunidade de intercâmbio de conhecimentos e que será concretizada na forma de comunicações orais, apresentações de pôsteres, workshops e conferências. Acreditamos que o público participante poderá se atualizar sobre temas relacionados à Ginástica Artística e Ginástica Rítmica com profissionais que atuam no âmbito nacional e internacional; criar network para futuras colaborações e parcerias; e compartilhar experiências práticas com seus pares. Destacamos que os conferencistas internacionais também ministrarão palestras nas instituições promotoras do evento e, assim, ampliarão o impacto de sua passagem pelo Brasil. Por fim, outro objetivo de destaque do evento é aproximar treinadores e pesquisadores, situação ainda incipiente e que dificulta o crescimento do esporte no Brasil.
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Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo: influências políticas no desenvolvimento da ginástica artística http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10001
Letícia Bartholomeu de Queiroz LIMA* Pâmela Pires da SILVA** Laurita Marconi SCHIAVON* William Ferraz de SANTANA** Michele Viviene CARBINATTO**
*Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. **Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Resumo O presente artigo discute aspectos políticos que interferem no desenvolvimento competitivo de ginastas do estado de São Paulo. Para tal, utilizou-se como exploração dois eventos esportivos tradicionais do estado: os Jogos Regionais (JR) e Jogos Abertos (JA). A pesquisa foi dividida em duas fases: em um primeiro momento, uma pesquisa documental, com análise dos documentos oficiais dos JA nos anos de 2011 à 2014, com o objetivo de descrever as principais características deste campeonato na Ginástica Artística (GA); e no segundo momento, uma pesquisa de campo, a qual foram entrevistados 17 treinadores que atuaram nos JA do ano de 2014. As entrevistas foram gravadas na íntegra, transcritas, e posteriormente analisadas pela Análise de Conteúdo. Como resultados, notamos que: a. os eventos têm grande importância para as prefeituras, pois representam a supremacia das cidades; b. a contratação de atletas não gera benefícios permanentes para os municípios e pode encobrir realidades de algumas cidades em relação ao fomento da modalidade, além de ir contra os objetivos dos JR e JA; c. as questões financeiras foram consideradas primordiais para um adequado trabalho na formação de ginastas e, também, para a obtenção de resultados; d. estes eventos apresentam um forte caráter massificador, pois auxiliam no desenvolvimento de treinadores, árbitros e ginastas, aumentando a possibilidade de experiência para os árbitros e de competição para os atletas. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Competição; Formação Esportiva; Política; Contratação de Atletas.
Introdução No mundo contemporâneo, o Esporte pode ser considerado um maiores fenômenos culturais do mundo contemporâneo1-2 e se estabelece como uma massiva e importante manifestação da cultura e das sociedades. Sua consolidação é exemplificada pela quantidade de modalidades sistematizadas e institucionalizadas que passaram a ser praticadas no mundo todo3. Inclusive, mesmo que não praticantes de uma modalidade esportiva, somos cerceados e influenciados diariamente pelo Esporte, quer seja na programação de lazer dos aparelhos públicos, nos programas televisivos, na moda, dentre outros4-5. Não obstante, o esporte carrega, desde a Antiguidade, uma relação com interesses políticos e estratégias de diversas instituições e órgãos governamentais, pelos seus valores, influências e sua fácil
utilização6, bem como passou a ser considerado como um produto/bem de consumo7. Neste sentido, o crescente número de patrocinadores e de capital envolvido em transmissões e eventos esportivos superaram as necessidades do Esporte e dos atletas e se voltaram para os interesses políticos e da própria mídia6. Dessa forma, há “[...] uma valorização excessiva do espetáculo e do show em detrimento das características da modalidade esportiva”6, ou seja, o Esporte e o atleta foram deixados em um segundo plano. Influenciada pela Pedagogia Geral e a Ciência do Desporto, a Pedagogia do Esporte passa a questionar “o que, como e o por que” esportivo em diferentes contextos 8 , dentre os quais, a relação entre a competição e a política vigente. É sabido que estudos de caráter político e com Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 1
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interfaces com a competição passaram, neste século, a ser incitados nas pesquisas científicas9. A interrelação entre esporte e política se configura em uma vasta possibilidade de análise: a utilização ideológica de apoio ao sistema político, propaganda de governo, avaliação da atuação institucional de órgãos dedicados, regulamentação do mercado esportivo, a utilização de recursos aplicados nos diferentes níveis governamentais, dentre outros. Quando analisamos questões políticas em uma modalidade esportiva específica, como a Ginástica Artística (GA), são incipientes e praticamente nulos os estudos que abordem o assunto10-11. Por este motivo, o presente artigo discute aspectos políticos que interferem no desenvolvimento competitivo de ginastas do estado de São Paulo e, para tal, utilizou como exploração dois eventos esportivos tradicionais do Estado, os Jogos Regionais (JR) e os Jogos Abertos (JA). Ambas as competições são representativas no interior paulista para diversas modalidades esportivas (incluindo a Ginástica Artística), pois abrangem um elevado número de participantes, auxiliam na divulgação da modalidade, e, por vezes, são responsáveis pela manutenção dessa prática em diversos municípios do interior do estado de São Paulo, que aparenta não se desenvolver tecnicamente da mesma forma que a Região Metropolitana de São Paulo12. Os JR acontecem desde 1950 e são organizados pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do estado de São Paulo (SELJ-SP) em conjunto com os municípios sede de cada ano, sendo realizado em oito regiões esportivas distintas: Grande São Paulo, São José dos Campos, Bauru, Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e
Sorocaba, as quais englobam 644 municípios13. Disputados em 22 modalidades esportivas, entre elas a GA, esses dois campeonatos têm entre seus objetivos favorecer o desenvolvimento das práticas esportivas nos diversos municípios do estado e contribuir para o melhor aprimoramento técnico das modalidades esportivas presentes14. Ademais, os JR são disputados em primeira e segunda divisões de acordo com critérios preestabelecidos. No que se refere especificamente à competição de GA, nota-se a presença de disputa na Ginástica Artística Feminina (GAF) e na Ginástica Artística Masculina (GAM) - e, cada qual, em duas categorias: 1. GAF até 14 anos e GAM até 16 anos; 2. GAF e GAM - categoria livrea. Na GA é realizada uma única competição por região, que engloba as duas divisões, nas quais classificam-se os campeões de cada prova por categoria e por divisão, com idade mínima de participação de nove anos a completar no ano do evento, podendo cada município participar com um máximo de oito atletas no feminino e oito no masculino14. Os JA, também denominados de Jogos Abertos “Horácio Baby Barioni”, são realizados desde 1936 e contam anualmente com a organização da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude juntamente com a cidade sede, com o objetivo de propiciar um melhor desenvolvimento das diversas modalidades disputadas15. Nesse, são disputadas 25 modalidades esportivas em duas divisões do campeonato. As formas de competição, categorias, quantidade de atletas, idade mínima e premiação no evento de GA nos JA, são similares ao dos JR. Além disso, em ambos os campeonatos, cada município pode participar com apenas uma equipe para cada modalidade (GAF e GAM), tendo que optar por apenas uma categoria na GA15.
Método A presente pesquisa foi dividida em duas fases:
pesquisa documental e pesquisa de campo.
Pesquisa Documental
quatro anos dos JA (2011, 2012, 2013 e 2014) nas modalidades GAF e GAM. O acesso a estes documentos ocorreu via e-mail por comunicação com o supervisor da GA da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude de 1985 a 2013. Não se teve acesso aos resultados do ano de 2011 da categoria até 16 anos da GAM da segunda divisão mesmo após consulta ao site do evento e contato com o supervisor da modalidade da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude. Enfatizamos a dificuldade de
Nesta fase foi utilizada a análise documental em que foram consultados documentos oficiais referentes aos JA, com o objetivo de descrever as principais características deste campeonato na GA. Foram analisados documentos referentes apenas aos JA pelo fato de nos JR todos os municípios poderem participar, sem classificação prévia. Assim, foram analisados resultados de 2 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
ter acesso aos resultados deste evento, vinculada à falta de registro formal/sistemático. Pesquisa de Campo
Para esta fase foi utilizada a entrevista semiestruturada em que participaram treinadores de GA participantes de JR e JA do ano de 2014. As entrevistas foram gravadas na íntegra e posteriormente transcritas. As questões transitaram entre as percepções gerais dos sujeitos em relação aos eventos citados, bem como o processo de treinamento e experiência naquelas competições. Os critérios de inclusão dos participantes na pesquisa foram: treinadores(as) de equipes participantes dos JA do ano de 2014, medalhistas em ambas as modalidades (GAF e GAM). Esses critérios foram definidos com base apenas nos JA, pois para participar desse evento, estas equipes necessariamente participaram dos JR para classificarem-se como mencionado previamente. Assim, participaram deste estudo 17 treinadores (9 GAF e 10 GAM), três mulheres e 14 homens,
sendo dois treinadores de ambas as modalidades. Treze dos treinadores participantes atuam desde a iniciação esportiva até os níveis competitivos e quatro atuam apenas com a GA em nível competitivo. Análise dos Dados
Para a análise dos dados qualitativos foi utilizada a análise de conteúdo proposta por Bardin16 que compreende três distintas etapas: pré-análise (fase de transcrição das entrevistas realizadas com os técnicos, com surgimento de possíveis hipóteses); exploração do material (fase de codificação dos dados, com inicial seleção de informações e dados mais relevantes); e categorização (organização das informações em Unidade de Registro, tratando-se dos temas recorrentes dentre os dados coletados, e Unidade de Contexto, que corresponde a uma seleção de discursos coletados, que confirmam as unidades de registro). Para os dados quantitativos foi utilizada a estatística descritiva, ramo da estatística destinado a descrever, resumir, totalizar e apresentar dados de pesquisa17.
Resultados e Discussão Diferentemente dos JR, nos JA a participação é restrita a certas regiões do estado de São Paulo, devido a classificações prévias dos JR do mesmo ano, como apontado anteriormente. Ademais, cada município participante só pode competir em uma categoria e divisão (primeira ou segunda), não dependendo apenas do desempenho na modalidade propriamente dita, mas também da classificação geral das cidades em todas as modalidades. Dessa forma, optou-se por analisar a participação dos municípios na GA de forma geral, sem distinção por divisão. Observou-se, a partir da Figura 1 que a participação de todas as cidades durante os quatro anos analisados dos JA (2011 a 2014) não se mostrou regular. Houve uma diminuição do número total de cidades participantes no ano de 2012 na GAF e um aumento progressivo desse número a partir de então e um aumento progressivo na GAM desde 2011 (FIGURA 1). Além disso, aponta-se maior
participação na categoria livre em comparação com a categoria até 14 anos e até 16 anos. Nas quatro edições analisadas da GA, ocorreu a participação, nas duas categorias e nas duas modalidades, de 32, 32, 31 e 36 municípios (2011, 2012, 2013 e 2014). Pode-se observar um aumento de municípios participantes com a GAM e uma diminuição de municípios participantes apenas com a GAF (FIGURA 2). Tal aumento pode estar relacionado ao crescimento e desenvolvimento da GAM paulista, reflexo dos resultados em nível nacional e internacional e à quantidade de ginastas paulistas na seleção nacional da modalidade. No entanto, se observarmos o número de ginastas participantes, temos uma predominância da GAF, ou seja, apesar de mais municípios “incentivarem” a prática masculina, eles não participam com muitos ginastas ou equipes completas, o que não aparenta acontecer no feminino (FIGURA 3).
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Lima LBQ, et al.
FIGURA 1 - Municípios participantes por categoria e modalidade dos JA de 2011 a 2014.
FIGURA 2 - Quantidade de municípios participantes dos JA por modalidade e por ano.
FIGURA 3 - Número de ginastas participantes dos JA por modalidade e ano.
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Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
Ademais, referente às medalhas conquistadas nestes quatro anos do campeonato, observa-se, primeiramente, que 33 municípios participantes conquistaram pelo menos uma medalha (70,2%), sendo 24 na GAF e 26 na GAM (TABELA 1). Ressaltamos que dos 24 municípios que participaram em pelo menos uma edição dos JA na GAF todos conquistaram pelo menos uma medalha, enquanto que dos 45 que participaram da GAM apenas 57,7% conquistaram ao menos uma
medalha. Dos 47 municípios participantes nas edições analisadas, apenas seis (destacados na TABELA 1), participaram em todos os anos analisados e com ambas as modalidades. Em um segundo momento, a partir das falas dos treinadores entrevistados acerca desses eventos, da temática “Aspectos Políticos”, emergiram quatro categorias expostas na TABELA 2 e que serão apresentadas detalhadamente em seguida.
TABELA 1 - Número de medalhas conquistadas por edição, modalidade (GAF/GAM) e total nas quatro edições dos JA (2011-2014).
2011 Município
GA
2012 GA
GA
2013 GA
GA
2014 GA
GA
GA
Total
F
M
F
M
F
M
F
M
São Caetano do Sul
14
14
6
21
9
13
8
21
Osasco
13
-
13
-
8
8
6
8
56
Santos
3
9
-
21
2
8
3
8
54
São Bernardo do Campo
0
9
1
7
5
3
16
10
51
Barueri
8
-
15
-
16
-
11
-
50
106
São José dos Campos
1
9
2
8
0
2
12
9
43
Piracicaba
1
10
1
8
1
9
1
5
36
Praia Grande
0
-
-
12
2
3
-
14
31
Hortolândia
3
3
1
1
8
3
4
2
25
Santo André
4
-
2
-
12
0
6
-
24
Ribeirão Preto
0
0
1
-
1
14
1
6
23
Americana
0
0
1
7
1
12
-
-
21
Guarulhos
9
-
11
1
-
-
-
-
21
Jacareí
0
-
0
-
3
9
6
-
18
Jundiaí
2
5
3
5
0
0
0
2
17
Jaú
-
10
-
-
-
-
-
-
10
Santana de Parnaíba
4
6
-
0
-
-
-
-
10
São Carlos
1
-
5
-
1
-
1
0
8
Sorocaba
0
-
0
1
0
6
1
0
8
Mogi das Cruzes
-
0
-
-
-
-
-
7
7
Pindamonhangaba
3
0
3
0
0
-
-
0
6
Rio Claro
-
3
3
-
0
0
-
-
6
Vinhedo
-
-
-
6
-
0
-
0
6
Boituva
-
-
-
0
-
5
-
0
5
Campinas
3
-
-
-
1
-
0
-
4
Franca
0
-
0
-
0
1
1
0
2
Paulínia
-
-
-
1
-
-
-
1
2
Araraquara
0
0
0
-
1
-
0
-
1
Bauru
-
0
-
1
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1
Cafelândia
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1
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0
1
Itu
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-
-
-
1
-
-
1
Continua Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 5
Lima LBQ, et al.
Continuação 2011 Município
Lins
2012
2013
2014
GA
GA
GA
GA
GA
GA
GA
GA
F
M
F
M
F
M
F
M
-
0
-
1
-
0
-
0
1
Total
Marília
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-
-
-
-
-
-
1
1
São Jose Do Rio Preto
0
0
1
0
0
0
0
-
1
Américo Brasiliense
-
0
-
-
-
-
-
-
0
Araçatuba
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0
-
0
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-
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0
Catanduva
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0
-
0
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0
0
Descalvado
-
-
-
-
-
-
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0
0
Indaiatuba
-
-
-
0
-
-
-
0
0
Itupeva
-
-
-
-
-
-
-
0
0
Jales
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-
-
0
-
-
-
0
0
Louveira
-
-
-
-
-
-
-
0
0
São Joao Da Boa Vista
-
0
-
-
-
-
-
-
0
São Jose Do Rio Pardo
-
-
-
-
-
0
-
0
0
Suzano
-
-
-
-
-
0
-
0
0
Tabapuã
-
-
-
-
-
-
-
0
0
TABELA 2 - Categorias acerca dos Aspectos Políticos nos JA e JR. Categorias
Frequência Absoluta
Frequência Relativa
Importância dos Jogos para as prefeituras
11
64,70%
Contratação de atletas
9
52,94%
Questões financeiras
7
41,17%
Fomento/Massificação
3
17,64%
Importância dos Jogos (JR e JA) para as prefeituras
Um ponto largamente discutido pelos treinadores foi em relação à importância dos JR e JA para as prefeituras dos municípios (QUADRO 1). Estes
eventos, de acordo com os entrevistados, apresentam extrema relevância para as cidades, pois podem exibir a soberania de uma determinada região e dar visibilidade para os municípios e, portanto, grande parte do investimento, ou mesmo, das exigências de resultados surgem a partir destas competições.
QUADRO 1 - Categorias acerca dos Aspectos Políticos nos JA e JR. Unidade de Registro T1: Os Jogos Regionais e Abertos, são muito importantes para a Prefeitura [...] os Jogos são para nós o auge do nosso trabalho, para a Prefeitura são os regionais, é ser o melhor da região [...]. T2: Se acabar Jogos Regionais, muita prefeitura, muita equipe vai acabar. Essa é a vantagem, que eu acho que São Paulo tem em relação aos outros Estados [...] o Regionais é muito forte, o Regionais e Abertos no Estado de São Paulo. T3: Os Abertos, obriga uma participação, mas não resultado. Agora nos Regionais, você precisa do resultado [...] o Jogos Abertos, é mais livre, não importa tanto o resultado pra eles.
Continua 6 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
Continuação T4: Ganhar os Jogos Regionais tem um peso um pouco maior sim [...] mas a gente sente no trabalho que os Regionais têm uma importância muito grande [...] porque o meio que veicula e mantém o ginásio é o resultado em Jogos Regionais e Jogos Abertos, então não tem como a gente desvincular a meta da equipe como não sendo Jogos. T5: É mais importante do que uma Olimpíada. Ah, você foi pra uma Olimpíada, você ganhou, mas você não é campeão dos Regionais? Porque que a cidade vai investir em você se você não ganha pra cidade? T7: [...] os Jogos Regionais e os Jogos Abertos eles são muito importantes pra essas cidades, então assim... eles querem esse resultado ali [...] se você for campeão dos Regionais e campeão dos Abertos é muito mais importante que ser campeão brasileiro. T8: Os Jogos Regionais são mais importantes pra eles do que o Campeonato Sul-americano, não tenha dúvida disso [...] a gente tem um apoio grande da Prefeitura então a gente precisa ter resultado pra prefeitura. T9: Ah, eu acho que é mais pra colocação de ranking, né, de desempenho da cidade com relação às modalidades. T10: Lá é muito importante politicamente. O Resultado pra eles é o que determina se tem mais verba pra uma modalidade ou não, tanto para os Jogos Regionais como para os Abertos. T11: Por ser uma prefeitura, tem grande importância. Então a gente leva também a sério. Pra Prefeitura é mais importante ganhar um Jogos Regionais, Jogos Abertos do que estar no pódio em mundial. Ele dá visibilidade. T12: E os Jogos Regionais e Abertos, na verdade é uma obrigação e compromisso com a cidade [...] Pra cidade os Jogos são prioridade.
A busca por resultados aparenta estar altamente relacionada com o recurso destinado para a modalidade e até mesmo com a continuidade ou não em determinado município (T2, T4, T8 e T10) (QUADRO 1), ou seja, a pressão por resultados para esses campeonatos se sobrepõem sobre a qualidade e frequência do trabalho realizado durante toda a temporada. Segundo N UNOMURA ; C ARRARA ; TSUKAMOTO18, a pressão por resultados muitas vezes parte, sobretudo, das próprias instituições que investem em determinado esporte e equipe, portanto cria-se uma expectativa por resultados desde as categorias de base, principalmente em anos eleitorais. Ademais, os JR e os JA, são vistos como mais importantes para as cidades do que outros campeonatos de maior expressividade na GA em cenário estadual, nacional e, até mesmo, internacional (T5, T7 e T11), sendo destacados pelos treinadores como as competições mais importantes para suas equipes, pela cobrança que recebem das prefeituras. Diversos treinadores também abordaram sobre a diferença de importância entre estes eventos para as prefeituras. Estes relatam que os JR apresentam maior relevância para as prefeituras do que os JA (T3 e T4), o que pode ter relação com a forma de classificação destes eventos, ou mesmo com a visibilidade das prefeituras em suas regiões. Para classificar-se para os JA, é necessário primeiramente disputar os JR, que subdivide os
municípios por região do estado de São Paulo, e então passam para a etapa dos JA apenas os melhores de cada localidade. Acontece que, em algumas regiões, a competitividade pode ter um nível técnico superior, por reunir equipes com melhor qualidade técnica, o que pode gerar a desclassificação de equipes com bom nível técnico dessa região. Porém, o oposto também pode ocorrer, com regiões em que a qualidade das equipes é aquém, classificando equipes de baixo nível técnico. Como resultado disso, equipes com um melhor nível técnico podem não classificar para as disputas dos JA, enquanto que equipes menos expressivas passam para esta próxima etapa. Esse fato é abordado por um dos treinadores (T6): “[...] teoricamente os Jogos Abertos deveriam servir para... é... teoricamente, pegar as melhores equipes do Estado e se enfrentarem nos Jogos Abertos, então a qualificatória serviria pra isso. Só que, por falha [...] acontece que equipes mais fortes, por estarem na mesma região, ficam de fora dos Jogos Abertos porque são eliminadas nos Jogos Regionais. E nos Jogos Abertos, às vezes têm equipes mais fracas em nível de... de nota mesmo [...]”. Desta forma, os resultados dos JA não necessariamente repercutem a realidade da modalidade em questão, de realmente demonstrar as melhores equipes do Estado, o que pode reduzir consideravelmente seu nível de competitividade/ técnico e, por conseguinte, sua relevância para as prefeituras vigentes. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 7
Lima LBQ, et al.
Contratação de atletas
A contratação de atletas foi uma temática largamente discutida pelos treinadores participantes da pesquisa e é um tema recorrente
quanto se trata de JR e JA, com divergência de opiniões. Observando as respostas dos treinadores, notou-se uma dicotomia de opiniões acerca da temática, com o apoio ou o repúdio a essa prática (QUADRO 2).
QUADRO 2 - Respostas referentes às contratações de ginastas para JR e JA. Unidade de Registro T2: [...] eu sou totalmente contra contratar, eu não gosto, mas quando tem opção e a prefeitura às vezes também quer resultado tal, você tem que dar um jeito e infelizmente precisa pegar [...] É muito mais fácil o cara pagar, sei lá, quinze, vinte mil ir lá e ganhar tudo, do que o cara investir em um ginásio, professores, esperar cinco, seis, dez anos pra montar uma equipe boa, isso é muito mais difícil, então o pessoal que quer resultado rápido, faz isso. T3: [...] eles contratam ginastas pra competir pela sua cidade pra mostrar que a sua cidade tem o esporte, diversos esportes, não só a ginástica, que é importante pra eles. Acredito que seja... é interesse político mesmo. T4: Se a gente fosse pensar em termos de forçar as prefeituras a um bom investimento, a melhorar o investimento em equipamento, em atleta, em melhorar a equipe, é ruim, é ruim essa abertura de contratação, nesse sentido, porque a gente dando resultado com contratação, a gente acaba, é, dando um tiro no pé, né, entre aspas, porque a gente dá resultado sem ter tido a melhora necessária no espaço que a gente trabalha [...]. T7: Pra gente é muito bom porque elas não teriam a oportunidade de competir [...] e elas já estão tendo oportunidade pra competir com outras cidades. Então, elas estão lá representando outra cidade e estão participando disso tudo que elas não estariam participando se não fosse por isso... né... então pra gente é muito bom. T8: Eu não gosto quando uma cidade da minha região contrata atletas de outra, fica aquela coisa artificial, ao mesmo tempo pode formar equipes muito mais fortes do que equipe de clubes [...]. O outro Município pode formar uma Seleção [...] fica uma equipe fortíssima. T9: Então, a equipe, um clube, por exemplo, ele não tem atletas da cidade, e aí tem essa contratação, e aí fica, acho que muito fácil pra você ter um pódio e ser [...] uma cidade que não tem atleta, acaba contratando e tirando a chance de pódio. T14: Por mais que você pague um atleta de fora pra competir ainda sai mais barato do que você fazer um trabalho pra você formar o seu atleta na sua cidade. T15: [...] às vezes a cidade nem tem ginástica, só escolinha, ai chega e ganha a competição mas pra cidade não ficou legado nenhum e pra gente [...] acaba que sendo desmotivador [...]. T16: Acredito que dificulta muito pra quem tem um trabalho, por exemplo, de formação. A gente nunca contratou atleta, sempre compete com as de casa [...].
Entre os treinadores que se posicionaram contra a contratação de atletas (T2, T4, T8, T9, T15 e T16), ou seja, que não consideram esse tipo de ação uma condição ideal, alguns pontos foram ressaltados. Primeiramente, contratar atletas para competir por outro município acaba por “mascarar” a realidade da modalidade e do próprio Esporte em determinada região com relação à formação de atletas, incentivo e investimento. A vitória e os resultados obtidos por meio de contratação podem gerar um status para o município e para seu respectivo prefeito, porém não há qualquer retorno para a população que muitas vezes não possui a oportunidade de praticar a GA em sua cidade. Outro ponto a se ressaltar é o aumento do nível técnico das competições. A contratação de atletas, e em alguns casos, até de nível internacional, muitas vezes, resulta em equipes com um nível muito acima 8 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
ao dos demais municípios participantes, influenciando diretamente no resultado destes eventos. Tal fato pode desmotivar ginastas e treinadores em um processo de formação de atletas em longo prazo dos municípios que investem neste setor, além de, em uma última instância, acabar com a modalidade em certos municípios por dificuldade financeira, somada à falta de resultados sequer em nível regional. Afinal, aos olhos de dirigentes interessados na mídia e não no desenvolvimento de sua população, contratar um atleta “pronto” é um processo mais simples e com menos custo do que formar um atleta (T2 e T14). O investimento com infraestrutura, profissionais qualificados, formação, entre outros, além de se tratar de um processo de longo prazo é razoavelmente representativo e permanente para uma prefeitura, em várias modalidades esportivas. Porém, como mencionado anteriormente a contratação não gera benefícios permanentes para os municípios, além
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
de ir contra os objetivos dos JR e JA que é contribuir para o melhor aprimoramento técnico das modalidades esportivas no interior do estado de São Paulo, e ter equipes com condições de desenvolvimento mais próximas do que equipes da capital paulista19. Neste mesmo sentido, apesar de alguns treinadores serem contra a contratação de ginastas para compor suas equipes, em alguns casos, por exigência do município esta ação acontece, mostrando que o interesse político em mostrar desempenho e resultados, muitas vezes, pode se sobressair à importância de promover experiências esportivas para os atletas locais. Por outro lado, apenas um treinador posicionouse a favor da contratação de atletas ao apontar a oportunidade para que atletas que não puderam representar seus municípios participem da competição, como levantado pelo treinador T7, ou seja, uma situação bastante particular. A possibilidade de participar de mais competições, pode ser um ponto positivo para os atletas e para os municípios que os cedem, principalmente pelo número reduzido de competições por ano na modalidade, tanto no Estado, como em campeonatos nacionais, no entanto, essa não é a proposta dos Jogos Regionais e Abertos do Interior, e muito menos é assim que se resolverá esse problema mais amplo da Ginástica brasileira. Além disso, a questão da contratação de atletas para representar determinada instituição – ou neste caso, um município – entra no âmbito da profissionalização esportiva, levando o esporte a outro patamar. O esporte do século XXI apresenta uma evidente característica de profissão, o que acabou por modificar a organização do Esporte, incluindo o contexto competitivo, e, por consequência, caracterizando o Esporte como uma carreira profissional cobiçada20. Uníssono a crescente intervenção estatal, a atividade esportiva supõe-se, também, como atividade industrial e comercial, transformando-se em um setor da vida econômica e uma área de consumo importante e dinâmica21. O esporte de alto rendimento tornou-se tão qualificado do ponto de vista técnico, que os praticantes com maior destaque – logo, que precisavam de maior dedicação - passaram a ser considerados, segundo Ferrando22, como “trabalhadores do esporte”. Apesar de avanços nos direitos dessa área, ainda notamos problemas na profissionalização dos mais jovens, que não apresenta especificações em leis trabalhistas ou normas e estatutos sobre trabalho infantil23. Por fim, os treinadores levantaram algumas sugestões de soluções em prol da melhora neste aspecto, propondo que inibir a contratação de equipes inteiras seria uma alternativa, pois isto obrigaria uma
participação de atletas formadas na própria cidade para a participação e, consequentemente, exigiria o desenvolvimento de um trabalho de formação esportiva, bem como um maior investimento na modalidade por parte do próprio município. Questões Financeiras
As questões financeiras foram destacadas pelos participantes como essenciais para um trabalho adequado na formação de ginastas e, consequentemente, obtenção de resultados para as instituições financiadoras (QUADRO 3). De acordo com De Bosscher et al.24 o sucesso esportivo está diretamente relacionado à captação de recursos financeiros necessários. Atualmente, as entidades/instituições que investem no Esporte são as prefeituras, que geralmente direcionam um percentual de seu rendimento total para esta área. Lima12 ao investigar a GA paulista nos Campeonatos Brasileiros da modalidade feminina, aponta que entre as instituições participantes, há prevalência de instituições públicas, em sua maioria entidades geridas por prefeituras municipais. A mesma autora também aponta que quanto maior o nível de rendimento esportivo, maior a presença de instituições públicas, o que certamente está vinculado ao investimento maior necessário no alto rendimento esportivo. Desta forma, o trabalho com a prática esportiva depende, inevitavelmente, dos recursos financeiros disponibilizados pelas prefeituras. No entanto, em relação à administração pública, as prefeituras deveriam ter o foco dos seus recursos voltados mais para a base da modalidade do que para o esporte de rendimento, o que aparenta não estar acontecendo12. A GA é uma modalidade marcada pelo uso de materiais de grande porte, que muitas vezes dependem de mudanças na estrutura física, sendo alguns fixos, além do alto custo destes equipamentos19,25. Lima et al.19 apontam que “[...] para a aquisição de aparelhagem necessária da GAF e da GAM é necessário um investimento financeiro significativo”19, além dos gastos com taxas federativas, de arbitragem, transporte, manutenção, entre outras. No entanto, o investimento, mesmo que insuficiente, vem atrelado com a cobrança por resultados, ou seja, apesar do investimento ser aquém do necessário, a cobrança por resultados positivos persiste. Assim, os treinadores se veem na “obrigação” de mostrar resultados, como uma forma de “prestação de contas” ao investimento realizado. Isso faz com que os treinadores tenham que tomar decisões baseadas no investimento recebido e não nas necessidades dos Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 9
Lima LBQ, et al.
atletas e da equipe como um todo. Ademais, como comentado pelo treinador T10, para algumas equipes, o resultado das competições é o que determina se haverá, ou não, recurso financeiro para a modalidade no próximo ano e até se a modalidade continuará sendo desenvolvida no município.
Fomento/Massificação
Os JR e os JA apresentam outra importante característica de competições para o fomento da prática esportiva, pois um dos objetivos desses campeonatos é justamente propiciar um melhor desenvolvimento das modalidades esportivas disputadas14.
QUADRO 3 - Respostas referentes ao apoio financeiro das prefeituras municipais nos JR. Unidade de Registro T3: Quando você tem um clube que paga as competições fica mais fácil, mas quando seu clube não paga, o próprio atleta tem que pagar a competição, fica um pouquinho mais difícil [...]. T6: [...] a gente trabalha em prefeituras e clubes que... é... demanda da verba, de ter disponibilidade de verba pra enviá-las. T7: A gente está na prefeitura, por exemplo, então a gente tem uma verba reduzida que não consegue atender a tudo, toda demanda que a gente necessita, então a gente tem sempre que dar um jeitinho de economizar, né [...] hoje nós não temos os subsídios da prefeitura suficientes para... esse projeto, né, para essas competições. T8: Então hoje a realidade dos municípios, ela é muito difícil. Então os Municípios têm tido cada vez menos em Esporte [...] E isso interfere diretamente nos resultados, porque você, não adianta você fazer bem o teu trabalho, você e os ginastas, se você não puder participar das competições [...]. T10: Lá é muito importante politicamente. O Resultado para eles é o que determina se tem mais verba para uma modalidade ou não, tanto pros Jogos Regionais como para os Abertos. T12: [...] aí a gente tem que começar a ver se vai conseguir arrecadar o dinheiro, se vai conseguir participar, aí tem que falar com o pai. E aí acaba travando o trabalho, porque isso vai deixando o pessoal desinteressado, desestimulado. T13: Esse ano, por exemplo, que eu tinha um atleta no infantil que não tinha dinheiro para ir [...].
QUADRO 4 - Respostas referentes ao Fomento/Massificação nos JR e JA. Unidade de Registro T2: [...]isso é muito forte no estado de São Paulo, então eles apoiam bastante, tem muita criança fazendo, hoje em dia muita gente vive da Ginástica de Jogos Regionais e Abertos. Então tem muita equipe, espalhou muito, tem muita ginasta no estado de São Paulo [...]. T4: Onde tem Jogos Regionais acaba fomentando muito e disseminando a prática da Ginástica. T8: O objetivo dos Jogos Regionais é a formação e fomentar novos ginastas, novos técnicos, novos Municípios para prática da Ginástica.
Nesse contexto, os JR e JA reúnem muitos atletas e treinadores de diferentes níveis da modalidade, desde atletas olímpicos a iniciantes nesta prática, todos competindo em um mesmo local e na mesma aparelhagem, tornando-se um ambiente propício para troca de informações e, indiretamente para o aprendizado informal. Além de esses eventos serem um destaque no estado de São Paulo, têm sua relevância, pois auxiliam no desenvolvimento de treinadores, ginastas e árbitros. Pois, aumentam a possibilidade 10 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
de experiência para os árbitros e de competições para os ginastas, como mencionado pelos treinadores T2, T4 e T8, tendo em vista o número reduzido de competições anuais da modalidade no estado e no país. Portanto, é ressaltada a importância desses campeonatos para a massificação da prática da GA nos municípios paulistas, mostrando o estado de São Paulo como grande polo disseminador da prática da Ginástica no país, como também abordado pelos treinadores T2 e T4. Tal fato é corroborado por pesquisas de Schiavon et al.26 e Lima12 que pontuam
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
São Paulo como um estado representativo em questão de entidades que oferecem o ensino e a prática da
GA, sobretudo, no interior paulista, com diversas competições de caráter de participação da modalidade.
Considerações Finais Os JR e os JA representam também um importante movimento econômico e político no interior do estado de São Paulo. No entanto ainda vemos, muitas vezes, esses campeonatos sendo usados pelas prefeituras apenas como bandeiras políticas e não pelo significado que eles realmente devem ter para a população do interior do Estado, de desenvolvimento da prática esportiva e de formação de cidadãos. Verificamos pelo discurso dos treinadores, que seus dirigentes não compreendem as muitas possibilidades de benefícios para seus municípios, como estímulo de práticas esportivas e eventos no perfil regional. É quase uma situação de humilhação por parte dos treinadores para obterem recursos e poderem desenvolver apropriadamente seus trabalhos em suas cidades. Os treinadores querem que esse tipo de evento continue, principalmente porque é uma forma em que eles podem obter auxílio financeiro para desenvolverem suas equipes. No entanto, o propósito desses eventos foi se modificando no passar do tempo, inclusive entre os treinadores, a partir da visão dos gestores das cidades. No momento em que uma cidade opta por contratar atletas, por ser mais barato e solucionar um problema de forma imediata, demonstra o olhar que essa gestão tem sobre o Esporte, como uma “escalada” política e não como um benefício para a população em si. A própria população, muitas vezes, não tem qualquer cultura ou proximidade com a modalidade esportiva, na qual a equipe da cidade é campeã da região. Não se reconhecem como tal. A contratação de atletas também pode ser notada pela falta de continuidade do desenvolvimento da GA nos munícipios do interior paulista, quando verificamos na Tabela 1 que apenas seis municípios participaram nos quatro anos analisados com a modalidade feminina e masculina, sem interrupções, ou seja, cidades que desenvolvem um trabalho em longo prazo. Outras cidades, não participam durante anos da Ginástica
Artística e de repente aparecem com um número de medalhas bastante representativo em um dos anos analisados e posteriormente não participam mais dos JA (TABELA 1). Verificamos, também, o aumento da modalidade masculina no interior paulista, o que pode ser um retrato do estímulo pelos resultados crescentes de ginastas brasileiros na última década pelo aumento no investimento financeiro e incremento de infraestrutura27, capacitação e desenvolvimento dos treinadores da GAM. Logo, apesar da importância dada pelos treinados aos JR e JA, a aparente dissociação para a arrecadação financeira entre as diferentes estruturas governamentais, dificulta a melhoria de investimentos, por exemplo, em infraestrutura. Destaca-se a importância dada pelos treinadores aos JR e JA, assim como o interesse em desenvolver a GA em suas cidades. A busca por recursos financeiros para o desenvolvimento de modalidades como a GA, que dependem de infraestrutura com alto investimento será sempre um desafio. É preciso que haja estímulos ao desenvolvimento da GA no interior paulista, que pode politicamente vir da Federação Paulista de Ginástica, junto às prefeituras e ao Governo do Estado, em parceria com as universidades paulistas, para que possam encontrar alternativas “saudáveis” para o desenvolvimento do Esporte no interior do Estado. Os JR e JA, como um evento organizado pela SELJSP, deveria estimular a prática esportiva no interior do Estado e não permitir o uso apenas político desse evento sem qualquer benefício direto para as cidades, e para isso há que se reorganizar o regulamento que orienta as diferentes cidades para tal evento. Assim, há a necessidade de resgatar os princípios que nortearam a criação desses eventos e motivar o desenvolvimento do esporte no interior paulista como previsto nos próprios regulamentos destes eventos.
Notas a. Categoria livre: a competição não é separada por idade, sendo permitido participantes a partir de nove anos de idade, com séries livres, ou seja, séries que não são obrigatórias (todas iguais), mas possuem exigências técnicas comuns.
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Lima LBQ, et al.
Abstract Jogos Regionais and Jogos Abertos from Sao Paulo State: politic influences in the development of artistic gymnastics The present article discusses political aspects that interfere in the competitive development of gymnasts of the state of São Paulo. For this purpose, we employed two traditional sport’s events of the State: Jogos Regionais (JR) and Jogos Abertos (JA). This research was divided into two phases: first, a documentary research, with an analysis of the official documents of the JA between the years 2011 and 2014, with the purpose of describe the main characteristics of this championship in the Artistic Gymnastics (GA); and at the second moment, a field survey, which was interviewed 17 coaches who acted in the JA in the year of 2014. The interviews were fully recorded, transcribed, and later analyzed by Content Analysis. As results, we observed that: a. the events have great importance for the prefectures, as they represent the supremacy of the cities; b. The hiring of athletes does not generate permanent benefits for the cities and may obscure the reality of some cities about the promotion of the modality, besides going against the aim of the JR and JA; c. financial issues were considered essential for an adequate work in the training of gymnasts and also for the achievement of results; d. these events have a high character of massification, as they help in the development of coaches, judges and gymnasts, increasing the possibility of experiences for judges and competition for the athletes. KEYWORDS: Artistic Gymnastics; Competition; Sportive education; Politics; Hiring of athletes.
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Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
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ENDEREÇO
Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima Av. Dr. Jesuino Marcondes Machado, 2541 Chácara da Barra, Campinas – SP – BRASIL e-mail: leticia_queiroz@hotmail.com
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A parceria público-privada no contexto esportivo
A parceria público-privada no contexto esportivo: o caso de uma equipe de ginástica rítmica da cidade de Campinas-SP http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10015
Fernanda Raffi MENEGALDO* Eliana de TOLEDO** Marco Antonio Coelho BORTOLETO*
Resumo
*Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. **Faculdade de Ciências Aplicadas e Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
O presente estudo analisa a parceria estabelecida entre um clube socioesportivo da cidade de CampinasSP, uma associação esportiva sem fins lucrativos e a Prefeitura Municipal, por meio de uma lei municipal de incentivo ao esporte, com objetivo de proporcionar sustentabilidade aos trabalhos de uma equipe de Ginástica Rítmica (GR) que representa a cidade. A pesquisa, de caráter qualitativo, caracteriza-se como estudo de caso e teve como procedimentos metodológicos uma revisão documental de arquivos públicos e privados, e a realização de entrevistas semiestruturadas com profissionais envolvidos. Os resultados revelam que a parceria foi e continua sendo fundamental para a manutenção das atividades da equipe de GR, sendo atualmente o principal meio de financiamento. Além disso, a parceria possibilitou o aumento da quantidade de ginastas e uma maior proximidade com a rede municipal de educação, contribuindo para o maior acesso a esse esporte, inclusive para não sócias do clube e residentes em áreas de vulnerabilidade social. Embora a parceria tenha importante função na manutenção da equipe, o modelo apresenta limitações, como o alto grau de dependência financeira da equipe aos recursos advindos da lei de incentivo, dificultando o planejamento das atividades competitivas da equipe – devido à imprevisibilidade temporal e ao montante dos recursos recebidos anualmente. A dificuldade de desenvolver ações voltadas à iniciação nessa modalidade que atendam, quantitativamente, um público ainda mais expressivo, também foi objeto de preocupação por parte das especialistas consultadas. Por fim, observou-se uma destacável sobrecarga de trabalho por parte das treinadoras, consequência da soma das atribuições técnicas inerentes ao treinamento esportivo e às decisões administrativas necessárias para a gestão da parceria, sobre as quais elas não possuíam experiência ou formação prévia. PALAVRAS-CHAVE: Esportes; Ginástica; Organização e Administração; Políticas Públicas.
Introdução A Ginástica Rítmica (GR) constitui-se como uma modalidade esportiva sob o auspício da Federação Internacional de Ginástica e figura no programa dos Jogos Olímpicos desde 19841. No Brasil, sua prática teve início entre os anos de 1953 e 1954 pelas mãos das instrutoras Margareth Frohlich, de origem austríaca, e Ilona Peuker, húngara. Sua trajetória se consolidou majoritariamente no contexto dos clubes socioesportivos2, especialmente no que tange à vertente competitiva, sendo sua prática por eles financiada no que se refere aos custos com taxas federativas, equipamentos, infraestrutura e despesas com profissionais,
conforme apontam Toledo e Antualpa3. No contexto específico do município de Campinas (São Paulo), embora a modalidade tenha tido grande repercussão entre 1980 e 1990 4, a GR perdeu significativo espaço nas últimas duas décadas 5,6 , fato que pode ser explicado, parcialmente, devido à crise dos clubes socioesportivos no final da década de 19907,8, condição que influenciou diretamente a degradação das condições de trabalho das equipes esportivas nessa cidade. Por outro lado, com a criação do Ministério do Esporte (ME) em 2003 e as posteriores Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 15
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mudanças nas políticas públicas esportivas, surgiu, nos âmbitos federal, estadual e municipal, um conjunto de programas e leis para incentivo ao esporte, principalmente na sua dimensão de alto rendimento9-12. Entre eles, merece destaque o Programa Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte (LI), instituídos respectivamente pelas leis federais nº 10.891/2004 13 e nº 11.438/200614. Esses dispositivos impulsionaram novos modelos de financiamento e de gestão do esporte nacional – principalmente no caso da LI, que veio fortalecer a parceria público-privadaa,15 – e estão sendo estudados e implementados por um crescente, atraindo a atenção da área de pesquisa da Gestão Esportiva16,17.
Considerando essas novas condições contextuais, este estudo tratará de questões relacionadas à Ginástica Rítmica e ao seu financiamento, tendo como objetivo analisar como a parceria público-privada vem fomentando o esporte de alto rendimento, especificamente a parceria estabelecida entre a equipe de GR do Clube Campineiro de Regatas e Natação b (CCRN), a Associação Campineira de Ginástica Rítmica de Elite (ACGRE) e a Prefeitura Municipal de Campinas (PMC) – por meio da Lei nº 12.352/Fundo de Investimento Esportivo de Campinas (FIEC) –, promovendo reflexões acerca dos benefícios e dos entraves diagnosticados na execução desse projeto.
Método O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória e descritiva, de natureza qualitativa, conforme estabelece Minayo 19 , e se designa como um estudo de caso 20. Para a realização deste trabalho, foi necessária a utilização de diferentes técnicas de pesquisa, algo comum em estudos qualitativos21: revisão de literatura, pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas. Para a revisão de literatura, foi utilizada a ferramenta on-line, intitulada “Busca Integrada” do Sistema de Bibliotecas da Unicamp, que permite acesso a um amplo conjunto de bases de dados como SportDiscus, Scielo, Pubmed e Scirus, bem como foi feita uma consulta no acervo do Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG – FEF/ UNICAMP). Acerca da pesquisa documental, as principais fontes utilizadas foram: Arquivo público disponível no site oficial da PMC, na seção da Secretaria de Esporte e Lazer, e o Diário Oficial do Município (DOM), além do acervo documental particular da ACGRE. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas atendendo às indicações de Triviños20, possuindo dois roteiros norteadores: um, com questões administrativo-burocráticas, direcionado à voluntária da ACGRE; e outro, destinado às quatro voluntárias representantes do CCRN, abordando as mudanças e as consequências da
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implantação da parceria público-privada na dinâmica da equipe. A amostra de depoentes se constituiu de uma voluntária representando a ACGRE, caracterizada como uma associação desportiva sem fins lucrativos22 e quatro voluntárias representando o CCRN, entidade classificada como clube socioesportivo7. As duas instituições – ambas situadas em Campinas, como também as cinco voluntárias – consentiram com a realização da pesquisa por meio de uma carta de autorização e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, respectivamente. Previamente, o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, via Plataforma Brasil, sendo aprovado conforme consta no parecer nº 709.848. Para subsidiar e sistematizar a análise dos dados, adotamos a Análise de Conteúdo23. Assim, identificamos nas transcrições as unidades de registro e as unidades de contexto19. Os passos seguintes foram constituídos por: (i) distribuição do material em categorias; (ii) realização de inferências dos resultados; (iii) reagrupamento das categorias; (iv) produção de narrativas temáticas; e, por fim, (v) interpretação dos resultados obtidos e diálogo entre as narrativas e a literatura levantada, em atenção ao processo descrito por Souza Junior, Melo e Santiago24.
A parceria público-privada no contexto esportivo
Resultados e Discussão Para cada categoria foi confeccionado um texto narrativo, que teve como intuito organizar o discurso das voluntárias.
No fim do processo de categorização dos dados, foi possível identificar sete categorias temáticas, conforme dispostas na TABELA 1.
TABELA 1 -Categorias temáticas originadas do processo de Análise de Conteúdo. Categoria
Tema
1
Criação da ACGRE
2
Parceria ACGRE - CCRN
3
O papel do CCRN na parceria
4
Benefícios e limitações
5
ACGRE/FIEC/CCRN e as influências sobre as competições
6
O antes e o depois da ACGRE
7
Perfil das ginastas
Antes, no entanto, de estabelecer o diálogo entre essas narrativas e outros dados obtidos por meio da análise documental, optamos por agrupar algumas categorias que se relacionavam
de forma significativa e estratégica para a organização das ideias e dos temas identificados. Esse agrupamento (QUADRO 1) resultou em três categorias apresentadas a seguir:
QUADRO 1 - Categorias constituídas a partir do agrupamento de categorias originais. Novas categorias
Categorias originais
O surgimento do FIEC e da ACGRE: o porquê e o como da consolidação de uma parceria.
Criação da ACGRE (1)
O funcionamento da parceria: sobre as mudanças administrativas.
O papel do CCRN na parceria (3)
Parceria ACGRE - CCRN (2) Benefícios e limitações (4) ACGRE/FIEC/CCRN e as influências sobre as competições (5)
As principais mudanças na rotina de ginastas e treinadoras.
O antes e o depois da ACGRE (6) Perfil das ginastas (7)
Essas três novas “macro” categorias, portanto, mediaram o diálogo a seguir, construído com os dados discursivos (entrevistas), dados oriundos da revisão documental e a literatura especializada. O surgimento do FIEC e da ACGRE: o porquê e o como da consolidação de uma parceria
A trajetória das cinco entrevistadas na equipe do CCRN é longa, a começar pelo fato de que
todas foram ginastas do clube, o que sugere um grande envolvimento com a modalidade, trazendo uma continuidade dessa relação na fase adulta e no campo profissional. As voluntárias I e II integraram a primeira geração de ginastas em meados da década de 1980 e, posteriormente, passaram a atuar como treinadoras, bem como as outras três voluntárias, as quais tiveram trajetórias similares, integrando-se ao corpo técnico no fim de suas carreiras como atletas. Foi no ano de 2005, de acordo com a Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 17
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voluntária I, durante uma conversa informal com um funcionário da PMC, que a equipe tomou conhecimento do programa FIEC, antes mesmo da divulgação de seu primeiro edital, ocorrido em junho de 2006. Essas informações, ao chegarem à comissão técnica da equipe e a um grupo de pais que auxiliava com as atividades de arrecadação de verbas, motivaram a criação da ACGRE, uma vez que os projetos beneficiados pelo FIEC deveriam, obrigatoriamente, ser tramitados por associações sem fins lucrativos25. Definido pela lei nº 12.352, de 10 de setembro de 2005 26 , o FIEC é gerido pela Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Lazer (SMCEL) e objetiva apoiar projetos estritamente esportivos ou de lazer de iniciativas de pessoas jurídicas, de direito tanto público como privado25. Desde sua criação, foram 12 editais anuais. Para este estudo, foram analisados os editais de 2006 a 2014c. De acordo com o Decreto nº 15.442, de 26 de abril de 2006 27 , que “Estabelece Normas e Procedimentos Sobre a Organização e o Funcionamento do Fundo de Investimentos Esportivos do Município de Campinas – FIEC, e dá outras Providências”27, os editais são elaborados pela SMCEL e aprovados, anualmente, pelo Conselho Municipal de Esportes e Lazer (CMEL), que tem como principal papel “apreciar os projetos esportivos a serem financiados pelo FIEC”27, bem como a avaliar os pareceres técnicos, fiscalizar a execução dos projetos e auxiliar na seleção de pareceristas e consultores26. Todas as informações referentes à lei e à sua execução são divulgadas pelo Diário Oficial do Município (DOM), inclusive os projetos aprovados26. Em 2005, quando a lei foi instituída, o SMCEL propunha sete categorias para submissão de projetos: esporte de participação e lazer, esporte educacional, esporte de rendimento, paradesporto, espaços esportivos, estudo e pesquisa e por fim, formação26. No entanto, ao longo de sua realização e publicações de editais anuais, algumas categorias foram mantidas e outras retiradas dos editais. Atualmente, o FIEC disponibiliza apenas três opções de categorias para submissão de projetos: esporte de participação e lazer, esporte de rendimento e paradesporto28. É importante ressaltar que essa lei foi instituída em âmbito municipal, mas está inserida em um cenário de implantação de políticas em diferentes 18 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28
esferas do poder público, com propostas que convergiam com os interesses das secretarias nacionais instituídas a partir de 2003 pelo ME, sendo elas: de Esporte Educacional (SNEED), de Esporte e Lazer (SNDEL) e de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR)29,11. Nesse panorama, o Esporte de Alto Rendimento (EAR) sempre possuiu grandes investimentos por parte do governo Federal, mesmo antes da criação do ME30,31,11, o que pode ser constatado pelo fato das ações esportivas do país estarem divididas em três categorias desde a Constituição de 1988 (Esporte-Educação, Esporte-Participação e Esporte-Performance) – mesma data em que as ações esportivas foram definidas como direito dos cidadãos. Embora encontremos algumas alterações, é possível observar grande semelhança entre a divisão proposta pela Constituição em 88, pelo ME em 2003 e a organização atual, que propõem como departamentos de gestão estratégica a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS) e o SNEAR, além da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor (SNFDT) e a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ACBD)32. O FIEC, por sua vez, representa uma ação do governo municipal para o fomento de práticas esportivas que contempla, desde seu início, projetos esportivos de diferentes naturezas. No entanto, analisando detalhadamente seus Editais, podemos concluir que as verbas anunciadas ano a ano para as atividades que estão envolvidas com o EAR são significativamente superiores às quantias destinadas às atividades de outras categorias presentes nos editais, como “Esporte Educacional” e “Esporte de Participação e Lazer”33. No estudo realizado por Benini30, no qual faz-se uma análise detalhada sobre o FIEC entre os anos de 2011 e 2013, o autor conclui que: [p]ensando na questão da verba destinada para cada manifestação esportiva em 2013 a verba repassada para o Esporte de Rendimento representa quatro vezes e meia a verba do Esporte de Participação, seis vezes a verba do Esporte Educacional e treze vezes a verba do Paradesporto. Apenas com essa primeira observação tendo como critério a verba repassada para os projetos pode-se observar que o Esporte de Rendimento se apresenta em uma posição mais valorizada dentro do fomento esportivo na cidade de Campinas30 (p. 27).
Com o intuito de participar do referido edital,
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a equipe de GR do CCRN fundou, em 12 de dezembro de 2005, a ACGRE, caracterizada como uma associação civil sem fins lucrativos, que tem como objetivos: difundir a prática da GR; promover eventos esportivos e recreativos com caráter amador para alunos e funcionários da ACGRE; e representar a cidade de Campinas em eventos esportivos34. O surgimento da ACGRE e a possibilidade de acessar os fundos do FIEC foi, segundo as voluntárias, uma alternativa à difícil situação financeira que a equipe vivia no início da década de 2000, situação diretamente relacionada à crise dos clubes socioesportivos 8, que no contexto campineiro, fez com que na década de 1990 muitos clubes sofressem uma evasão de associados, resultando em uma crise financeira, visto que “a manutenção dos clubes se baseia no pagamento das taxas mensais pelos associados” (p. 108)7. Numa perspectiva mais ampla, é possível pensar ainda que as sociedades pós-modernas adquirem um caráter cada vez mais individualista35, o que, atrelado aos avanços tecnológicos de acessibilidade de entretenimento instantâneo e de consumo, desencontra-se com a ideia do usufruto coletivo através de uma associação, o que seria, a nosso ver, o ideal de clube8. Concomitantemente, Alves e Pieranti 36, Meira, Bastos e Böhme37 e Galatti38, apontam o clube como o locus da prática esportiva no país, situando-se, portanto, da base ao topo de um modelo esportivo piramidal. A partir disso, ao pensarmos a crise clubista, deparamo-nos com um dilema: a base da pirâmide esportiva não possui condições, mecanismos financeiros, e por vezes nem interesses políticos e midiáticos que permitam manter as equipes competitivas. Além da dificuldade financeira, outra questão que incentivou a busca da parceria com a Prefeitura Municipal foi, na visão da voluntária V, a diminuição no ingresso de novas ginastas e a dificuldade de permanência dessas atletas para além das categorias de base. De acordo com as entrevistadas, a equipe passava por um período crítico no que diz respeito à sua renovação (ingresso de novas ginastas), fato que para a voluntária V poderia estar relacionado às diversas possibilidades de atividades as quais as crianças passaram a ter acesso: [h]oje em dia o acesso às coisas é muito fácil. Na minha época era muito legal passar horas treinando. Hoje não é mais porque as crianças
têm muitas possibilidades: curso de inglês, de espanhol, de música. Na minha época a gente via o treinamento como uma opção sensacional e hoje não é mais assim (Voluntária V).
A menor adesão indicada na fala da Voluntária V parece ter relação com o estudo de STRINGHINI39, quando são analisadas as razões da desistência da prática da Ginástica Artística (GA) no alto rendimento, modalidade que mantém algumas similaridades com a GR. Foi constatado que a condição econômica das famílias das ginastas pode contribuir tanto para incentivar como para desestimular os treinamentos. Ainda sobre essa questão, a voluntária V afirmou que, antes mesmo da efetivação da parceria, a equipe técnica já notava uma mudança no perfil socioeconômico das famílias que traziam as crianças para participar do processo de “seleções de talento”. Os testes e “peneiras”, como é comumente denominado o processo, eram realizados no espaço do CCRN – privilegiando o público das proximidades da instituição –, começaram a receber uma quantidade expressiva de meninas não sóciasd, que residiam em regiões distantes do clube e que pertenciam a grupos sociais distintos aos costumavam comparecer nas “seleções de talento”. Refletindo acerca disso, as treinadoras perceberam uma possibilidade para o aumento do número de ginastas da equipe. Simultaneamente, a parceria com o FIEC trouxe uma nova exigência às gestoras da equipe, o chamado “investimento social”, item presente em todos os editais e que exige a execução de ações relacionadas à modalidade esportiva do projeto em áreas de vulnerabilidade social do município. Importante ressaltar que o conceito de vulnerabilidade social utilizado neste estudo não está atrelado simplesmente a divisão geográfica periferia-centro, como é mencionado por CUNHA, JAKOB, HOGAN E CARMO40 e RIBEIRO E LAGO41. Na realidade, a utilização da expressão vulnerabilidade social no contexto deste trabalho está estritamente ligada à concepção trazida por MONTEIRO42, que aborda a vulnerabilidade social como um “produto negativo da relação entre recursos simbólicos e materiais, de indivíduos ou grupos, e o acesso a oportunidades”42 (p. 33). Nessa perspectiva, a vulnerabilidade social estaria atrelada a dois pressupostos que MONTEIRO42, em concordância com BUSSO43, define como o “risco de ser ferido ou prejudicado frente à mudança ou permanência de situações indesejáveis e [...] à Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 19
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capacidade de respostas que os grupos sociais têm às mudanças e aos desafios que o meio natural e social impõe”42 (p. 33). Nesse mesmo sentido, a autora ainda reforça a ideia de vulnerabilidade social como sujeitos que [e]ncontram-se incapacitados para lidar com as circunstâncias do cotidiano da vida em sociedade e de se movimentarem na estrutura social. Essas situações não se restringem aos determinantes econômicos, pois perpassam também as organizações simbólicas de raça, orientação sexual, gênero, etnia42 (p. 35).
A possibilidade de possuir uma equipe com um número maior de ginastas foi viabilizada, principalmente, pela realização de intervenções nas escolas da rede pública do município de Campinas, ambientes antes não acessados pela equipe técnica do CCRN. Essas intervenções deram-se no formato de aulas abertas semestrais ministradas pelas treinadoras e que tinham como objetivo a “seleção de talentos”. Essas novas intervenções viabilizadas pela parceria permitiram, de acordo com a voluntária IV, a criação de um trabalho de base mais amplo: “O objetivo era ter um financiamento para dar estrutura para trazer novas atletas para o clube” (Voluntária IV). A ação que a treinadora IV destaca em seu depoimento, refere-se à busca por novas ginastas em áreas de vulnerabilidade social e realização de seleções de talento para além do espaço do clube socioesportivo, são situações que têm se tornado bastante comuns em diversos municípios, e que muitas vezes são atreladas ao que chamamos de projetos esportivos sociais. Estudos como SILVA e SILVA44 e CASTRO e SOUZA45 confirmam o aumento dos projetos sociais esportivos no país e reforça a importância da atuação de profissionais qualificados nesses contextos onde o esporte ainda se faz ausente: “[...] a população carece de locais com profissionais para dirigir e ensinar práticas esportivas; por isso, a necessidade de disseminação do esporte e de seus valores através de políticas públicas esportivas”44 (p. 417). Nesse sentido, consideramos importante destacar a alteração quase que total do perfil das ginastas da equipe, por conta do acesso as escolas públicas, diminuindo drasticamente o número de atletas sócias e ingressantes por meio dos testes realizados do próprio CCRN. Essa mudança de perfil marcou, em concordância com os discursos, uma mudança no papel e “na pedagogia” das treinadoras, alterando a dinâmica de treinamentos da equipe e, muitas 20 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28
vezes, o papel que a prática esportiva assumia na vida das praticantes. Nesse caso, parece ser que, para essa nova geração de ginastas – e para suas famílias, o caráter socioeducativo do esporte é prioritário. Para além disso, o exemplo dessa parceria público-privada, hora estudada, aponta uma expansão do papel do clube socioesportivo como espaço de promoção e ingresso ao esporte. Quando concretizadas, essas parcerias fomentam a flexibilização de algumas características para que a instituição elitista7 assuma um “novo” status, um novo papel, principalmente no que tange o acesso ao esporte, esse sendo pensado não apenas como um direito civil11, mas também como um direito social, quando pensado enquanto prática de lazer46. O funcionamento da parceria: sobre as alterações administrativas
Um dos aspectos mais influenciados pela implantação da parceria público-privada foi o modelo de gestão da equipe que, até então, dependia de ações alternativas para obtenção de verba, como a realização de rifas, apresentações remuneradas e eventos para arrecadação de recursos. Essas ações refletem o amadorismo que ainda define a prática da GR no Brasil48 e as estratégias adotadas pela maioria dos clubes. Esse novo modelo exigiu das treinadoras competências relacionadas aos trâmites administrativo-burocráticos, antes não necessárias, realizados de maneira voluntária. [e]u sei ser técnica, e com a parceria tive que aprender a ser gestora. Isso é um pouco complicado porque você vem dar o treino e fica pensando na prestação de contas que você tem que fazer. Deveria ter uma pessoa dentro da equipe só para fazer essa parte, o que não é o nosso caso, porque a associação é formada pelas próprias professoras (Voluntária I).
Em concordância com a realidade descrita acima e confirmando o ingresso tardio de disciplinas de gestão nos cursos de formação em Educação Física16, SOUCI47 define que, em geral, os administradores nos diferentes contextos esportivos são ex-professores e treinadores que não possuem a qualificação na área da gestão. Em muitos casos, inclusive no modelo estudado, o acúmulo de funções resultou na sobrecarga e na realização de funções de maneira não otimizada49. Nesse sentido, é importante reservar algumas palavras sobre o processo de prestação de contas, ação principal referente às questões administrativas
A parceria público-privada no contexto esportivo
de manutenção dos projetos. O “Guia de Prestação de Contas 2014”50, documento disponibilizado às instituições proponentes dos projetos, confirma a seriedade deste processo e as atribuições por parte dos responsáveis pelas instituições beneficiadas, alegando que as prestações de contas dos projetos que receberem benefícios do FIEC devem ser elaboradas com rigorosa observância à legislação específica e às orientações, e deverão ser assinadas por contador ou por técnico contábil legalmente habilitado. Fica, assim, evidente, que esse processo requer determinada cautela e competência técnica frente a tantas exigências, as quais revelam o cuidado das instituições públicas com a “cultura da corrupção”e. A voluntária I acrescentou que, embora desejável, a contratação de um profissional contábil é inviável por conta da variação das quantias recebidas a cada ano, impossibilitando a contratação de um serviço administrativo regular ou com custo fixo. Esse aspecto está atrelado à inconstância ou à oscilação do volume concedido na rubrica, anualmente, para cada projeto. Essa variação foi apontada como um fator negativo da parceria por outras voluntárias, que indicaram que essa oscilação pode prejudicar o planejamento das atividades da equipe. Como os editais permitem a submissão de projetos com vigência, em geral, de março a novembro, a cada ano as associações parceiras correm o risco de ter sua verba aumentada ou diminuída ao pleitear novamente o auxílio. Essa situação está diretamente relacionada à própria inconstância e organização assistemática dos programas e projetos de esporte e lazer no Brasil, conforme nos aponta PINTO53. Distanciando-nos de questões administrativas, um ponto interessante levantado pela voluntária II refere-se às intervenções nas escolas. Para ela, essas ações mereceriam uma reflexão particular: “nós não estamos lá todo dia, o tempo todo... Exatamente no dia em que você foi fazer a “peneira”, aquela criança que é talentosa não foi na aula, ou não estava bem, e daí nós não conseguimos enxergá-la” (Voluntária II). Esse aspecto torna-se um dilema no contexto da equipe, pois as treinadoras não possuem tempo disponibilizado pelo clube e nem financiamento – ajuda de custo ou remuneração para a realização dessas ações. Ao mesmo tempo, não há outras iniciativas que possam levar as crianças para aulas abertas no CCRN sem que elas já estejam vinculadas a equipe de treinamento. Essa questão está relacionada, na perspectiva da
voluntária V, a uma política esportiva mais ampla por parte do governo municipal, no sentido de fomentar ações que ampliem ainda mais acesso às práticas esportivas e, paralelamente, uma ação social de maior impacto. A entrevistada então sinaliza que, para viabilizar outras ações para além das que são possibilitadas pela parceria com o FIEC, a equipe explora outras ferramentas com intuito de ampliar o orçamento. De fato, as políticas públicas esportivas, como a Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte, também merecem destaque, uma vez que já compõem, de alguma forma, a realidade da equipe ACGRE/FIEC/CCRN. A primeira delas, a Bolsa Atleta13, sancionada pela Lei nº 10.891/2004, já beneficiou três ginastas da equipe, benefício que foi possibilitado pelos resultados obtidos no Campeonato Sul-americano de 2013. A segunda política, na esfera federal, é a Lei nº 11.438/2006, definida como a dedução de imposto de renda, de pessoa física ou jurídica, de valores despendidos a título de patrocínio ou doação, no apoio direto para projetos desportivos ou paradesportivos, que já possuam aprovação pelo ME14. A contemplação por esse programa público de incentivo aos trabalhos das organizações não governamentais sem fins lucrativos, vinculadas ao CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – e à Secretaria Municipal de Assistência Social, vem sendo um dos objetivos da equipe ACGRE/FIEC/CCRN, que já obteve aprovação de projetos, mas não obtiveram a captação dos recursos. Todas essas leis preveem exigências a serem executadas pelas instituições beneficiadas. Com relação ao FIEC, cabe ressaltar a representação da cidade nos Jogos Regionais ( JR) e nos Jogos Abertos do Interior (JAI), competições de grande repercussão esportiva e política no estado de São Paulo54. Para além de resultados competitivos, o edital do FIEC aponta a obrigatoriedade da realização das intituladas ações de “contrapartida”, que devem fomentar a prática da modalidade no município, exigindo a utilização de um valor referente a 5% da quantia total recebida a cada ano pela instituição 28. No caso da equipe CCRN, essas ações de contrapartida se dão, em geral, pela organização de duas atividades realizadas anualmente: a Copa Campinas de Ginástica Rítmica e o Curso de iniciação à Ginástica Rítmica, com caráter de formação continuada55. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 21
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As principais mudanças na rotina de ginastas e treinadoras
Fora as exigências previstas pela lei, a efetivação da parceria ACGRE/FIEC/CCRN exigiu outras mudanças na rotina das treinadoras e, principalmente, no relacionamento delas com as ginastas. Devido ao cunho social atribuído, a atuação profissional delas se transformou, deixando de ter apenas o caráter técnico-esportivo, exigindo maior “dedicação” educativa. As treinadoras informaram que a relação treinador-atleta mudou significativamente, em sentido similar ao relatado por SILVA e SILVA44, quando destacam a influência dos treinadores na formação dos alunos de projetos sociais, no sentido de uma expectativa de futuro ligada diretamente à modalidade praticada, almejando, por exemplo, tornarem-se professores. A mudança na postura das atletas também foi observada pelas treinadoras. As voluntárias I, II e IV atribuem essa mudança não apenas à expressiva alteração no perfil socioeconômico, mas principalmente a diferenças relacionadas a uma mudança geracional, aos diferentes contextos históricos e aos momentos da sociedade nos quais estão inseridas as equipes anteriores e posteriores à parceria. Conforme a voluntária I, é possível observar atualmente uma postura menos independente e autônoma das atletas. [a] geração de dez anos atrás é totalmente diferente da geração de hoje... elas são muito mais dependentes. Inclusive na própria quadra. Às vezes parece que nós precisamos dar mais do que elas, porque elas sempre estão esperando muito de nós. Elas são mais dependentes emocionalmente, não só monetariamente (Voluntária I).
O depoimento da voluntária I vai ao encontro da literatura quando, por exemplo, GERVIS e DUNN56, citados por SCHIAVON57, afirmam que em muitos casos, as ginastas podem compreender a figura do treinador como mais importante até do que os próprios pais, estabelecendo o que os autores denominam como relacionamento criança-adulto ainda na infância54,55. Essa relação pode ser similar a um vínculo familiar, relacionamento que origina sentimentos como respeito, carinho, obediência e até submissão. A relação atleta-atleta também adotou outro caminho. A estratégia competitiva, antes voltada para as competições individuais, passou a enfocar as competições de conjunto. Para a voluntária V, 22 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28
essa alteração se fez necessária para manter o grupo, uma vez que o treinamento de conjuntos se mostrou mais seguro – do ponto de vista emocional – para as ginastas e, a cada geração, desencadeia o surgimento de um círculo de amizade entre as ginastas que torna o ambiente mais saudável para os treinos: “Nós vimos que para segurar as meninas dentro do ginásio não adiantava elas fazerem só individual, elas não querem, é muita pressão. Com o conjunto, elas iam se soltar mais, e ia dar para segurar as meninas pelas amizades, pelo clima que ficava ali” (voluntária V). Dessa forma, fica evidente que a preferência por parte das ginastas pelas provas de conjunto se deve ao caráter social que essa prova impõe, devido à convivência das atletas nos treinamentos. LOPES e NUNOMURA58, ao escreverem sobre os fatores motivacionais intrínsecos e extrínsecos para o treinamento da GA, relatam a importância desse fator para os ginastas. Assim, o vínculo social pode ser um fator motivacional relevante para a continuidade dos treinos59, principalmente quando as atletas ingressam na realidade competitiva da modalidade que possui uma rotina de treinamentos mais intensa60,58,61. Outra modificação instalada nesse período foi a organização e o acesso a itens essenciais para o desenvolvimento dos treinos e para a participação da equipe em eventos de âmbito nacional e internacional. Nas gerações de ginastas anteriores, os investimentos aconteciam de modo individual, decisão justificada, principalmente, pela falta de investimento na modalidade: “Na minha época, a gente tinha o conhecido pai-trocínio” (Voluntária V). Cada atleta, portanto, custeava seus próprios gastos e isso permitia às ginastas e a seus responsáveis um maior poder de decisão em escolhas como compra de materiais, confecção de uniformes de treino e competição, além de competições que iriam participar, pois os preços de passagens áreas, hotéis e alimentação precisavam ser acessíveis às possibilidades de investimento por parte das ginastas. Assim, o desenvolvimento da equipe estava condicionado a um diálogo intenso entre a equipe técnica e os ginastas e seus familiares. O investimento externo do FIEC atrelado à mudança do perfil socioeconômico das ginastas desencadeou as tomadas de decisões dentro da equipe, norteadas, prioritariamente, pelas treinadoras. Dessa forma, a compra de itens necessários para o treinamento e, principalmente, os campeonatos a serem disputados representam decisões da equipe técnica, com mínima interferência das ginastas e de
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seus responsáveis. Segundo as treinadoras, essa nova conjuntura contribuiu para a autonomia e facilitou o planejamento, além de viabilizar a participação em eventos com maior número de ginastas. Diversos estudos recentes no campo da ginástica competitiva analisam as distintas formas de patrocínio nas equipes esportivas, destacando a ausência dele no âmbito da ginástica48,62,57, exceto no caso das seleções nacionais. Para esses autores mencionados, o discurso amador ainda é marcante nesse contexto, pois nem sequer ginastas de alto nível possuem garantias de um patrocinador individual. Isso se dá principalmente por conta da falta de visibilidade midiática63,62, inclusive no campo da ginástica: “na mídia, as modalidades não ganham exposição, não se desenvolvem, não atraem investidores e não atingem o público [...]. Se o público não se identifica, não há investimento por parte das empresas”62 (p. 168).
Embora seja uma alternativa que se concretizou no contexto da equipe CCRN e que contribui até os dias atuais de forma fundamental para a manutenção das atividades da equipe, o modelo de parceria apresentado gera, segundo a presidente da ACGRE, uma possível dependência das ginastas aos benefícios possibilitados pelo projeto, como, por exemplo, o acesso a escolas privadas. Após alguns anos, de acordo com as voluntárias II e III, essas benfeitorias podem ter se tornado condicionantes para a permanência das ginastas na equipe, influenciando diretamente o comprometimento delas com o treinamento. Dessa forma, os discursos apontam para a necessidade de redefinir o modelo atual de gestão e o acesso a esses benefícios, evitando essa relação acentuada de dependência entre as ginastas, relação que, na opinião das treinadoras, não é positiva para o desenvolvimento da equipe.
Considerações Finais Os dados analisados não deixam dúvidas de que as atividades da equipe de GR do CCRN foram mantidas graças à parceria público-privada estabelecida, um modelo relativamente recente de gestão esportiva, que merece ser estudado com atenção, pois revela benefícios, contradições, problemáticas e desdobramentos merecedores de análises mais pormenorizadas. O estudo de T OLEDO , D ESIDERIO e S CHIAVON 64 trouxe essa temática à tona, na relação entre o FIEC, CCRN e o Instituto SOS Pequeninos, sendo este último do terceiro setor, no desenvolvimento da Ginástica Artística, confirmando que diversas parcerias estão em curso e, por isso, merecem atenção da comunidade acadêmica. Por outro lado, a realização do presente estudo despertou questões que nos parecem extremamente importantes para a compreensão do atual panorama do esporte nacional, entre elas, a temática dos clubes socioesportivos. Acerca disto, o exemplo analisado evidencia a decadência do associativismo clubístico na cidade de Campinas-SP, indo ao encontro das publicações que tratam do tema, e sua implicação negativa na manutenção das equipes de GR da cidade em questão. Essa crise não se resume ao âmbito da GR, indicando tratar-se de um fenômeno de maior amplitude que afeta a maior parte dos
esportes amadores, e não somente na localidade analisada. Podemos debater também o uso de um espaço privado, o clube socioesportivo, por parte da população oriunda das áreas de vulnerabilidade social, normalmente pouco atendida por políticas e serviços públicos. Esse quadro revela a ausência ou a insuficiência de ações esportivas por parte do setor governamental, hoje mais atento ao esporte de alto rendimento, repassando sua responsabilidade, por meio das leis de incentivo, ao setor privado. Não obstante, ainda há tímidas propostas no setor público que merecem destaque e estudos, como propostas a serem viabilizadas em outros estados e municípios. O estudo aponta, por fim, que parcerias público-privadas representam uma tendência no âmbito do esporte de competição, envolvendo o poder público (organizações e leis), os clubes ou associações esportivas, e também, em alguns casos, organizações sem fins lucrativos (ONGs). Não obstante, parece-nos importante destacar a limitação desta presente pesquisa, que, como já foi dito, trata-se de um estudo de caso. Entendemos que a análise sistemática de outros contextos – outros casos – contribuiria sobremaneira para ampliar a discussão aqui iniciada.
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Notas a. O termo “parceria público-privada” é utilizado no contexto deste estudo para denominar uma situação de cooperação entre instituições no sentido de viabilizar a execução de um projeto. Dessa forma, entendemos que os três componentes da parceria estudada – o clube socioesportivo (instituição privada), a associação esportiva (instituição de terceiro setor) e a prefeitura (instituição pública) – tornam os projetos da equipe estudada exequíveis, contribuindo de formas distintas para sua efetivação. b. A equipe de Ginástica Rítmica do Clube Campineiro de Regatas e Natação tornou-se uma referência na prática dessa modalidade no país, desde o início de seu desenvolvimento nesta instituição na década de 198018. A revelação de ginastas para integrar as seleções brasileiras, tanto de individual como de conjunto, e os bons resultados nas participações em competições nacionais e internacionais atribuíram a essa equipe uma posição de relevância na modalidade. Atualmente, o clube se destaca pelo trabalho realizado nas provas de conjunto, tendo representado o Brasil e obtido títulos de grande importância como Campeão Sul-americano de Conjunto na categoria Juvenil nos anos de 2013 e 2017, na categoria infantil no ano de 2017 e na categoria pré-infantil no ano 2016. c. Esse artigo é resultado de uma pesquisa finalizada em 2015 e, por esse motivo, foram contemplados para análise os editais FIEC publicados no DOM até o ano de 2014, uma vez que foram considerados apenas os editais que já haviam sido encerrados. No entanto, sinalizamos que a parceria descrita nessa pesquisa continua ocorrendo, de maneira quase que análoga, renovando-se anualmente ininterruptamente até a presente data. d. No contexto do CCRN, os integrantes não sócios de equipes esportivas são denominados atletas “militantes”, ou seja, atletas que possuem vínculo restrito à prática de determinada modalidade, não podendo usufruir das instalações e de outras atividades oferecidas pelo clube. e. Não podemos deixar de mencionar brevemente a incidência de casos de corrupção no universo esportivo, temática que já se tornou objeto de estudo em publicações como Brito51 e Azevedo e Rebelo52, além de converter-se frequentemente em pauta da mídia esportiva.
Agradecimentos Ao Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, financiou parcialmente a realização desse estudo.
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Abstract The public-private partnership in the sports context: the case of a rhythmic gymnastics team from the city of Campinas-SP The present study examines the partnership established between a club in the city of Campinas, state of São Paulo, Brazil, a non-profit sports association and the City Hall, through a municipal sports incentive law, with the aim to provide sustainability to the work of a Rhythmic Gymnastics team (GR) that represents the city. This research has a qualitative character and it is characterized as a case study and has methodological procedures as a documentary review of public and private archives, and it has semi-structured interviews with professionals involved in the partnership. The results show that the partnership was and continues to be essential for the maintenance of the activities of this RG team, and it is currently the main means of financing. In addition, the partnership made it possible to increase the number of gymnasts and greater proximity to the municipal education system, contributing to greater access to this practice, including non-members of the club and residents in areas of social vulnerability. Although the partnership has an important role to the maintenance of the team, the model has limitations, such as the high degree of financial dependence of the team on resources from the incentive law, making it difficult to plan its activities. As example of these difficulties, we can say the temporal unpredictability and the amount of resources received annually. The difficulty of developing actions directed to initiation in this sport to attend a greater number of people was also the object of concern of the experts consulted. Finally, it was observed a substantial work overload to the coaches, as a consequence of the sum of the technical attributions and the administrative tasks necessary for the management of the partnership. KEYWORDS: Sports; Gymnastics; Organization and Administration; Public Policies.
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ENDEREÇO
Fernanda Raffi Menegaldo Rua Hermantino Coelho, 743 Campinas - SP - BRASIL e-mail: fernandamenegaldo@hotmail.com
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A ginástica no terceiro setor
A ginástica no terceiro setor: um estudo de caso da REMS (rede esporte pela mudança social) http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10029
Bianca ASSUMPÇÃO* Eliana de TOLEDO**/***
Resumo
*Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. **Faculdade de Ciências Aplicadas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. ***Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil
A ginástica tem sido praticada e promovida em diversos contextos sociais, e defendemos que um deles seja no terceiro setor, foco desta pesquisa, que objetiva identificar e analisar sua presença e tipologia neste contexto, especificamente em organizações que reconhecem o esporte como princípio para o desenvolvimento humano. Trata-se de uma pesquisa documental, com perfil de estudo de caso, cuja amostra é composta por 86 organizações não governamentais (ONGs) filiadas à REMS (Rede Esporte pela Mudança Social). Os dados mostram que apenas 9,3% das ONGs filiadas à REMS indicam registros de práticas gímnicas, principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste. Os tipos de ginástica identificados foram de condicionamento, artística e rítmica. Concluiu-se neste estudo de caso que a ginástica tem sido pouco oferecida nas ONGs, com ênfase, apenas, em algumas regiões do país e baixa tipologia. PALAVRAS-CHAVE: Organizações Não Governamentais; Ginástica Artística; Ginástica Rítmica; Ginástica de condicionamento.
Introdução A ginástica é compreendida como uma área de Pesquisa1, como manifestação da cultura corporal2, como conteúdo da Educação Física Escolar (como veremos adiante); como esporte3, entre outras abordagens. Seus campos de atuação são distintos e diversos, e segundo Souza4, divididos da seguinte forma: - Ginásticas de Condicionamento Físico: englobam todas as modalidades que tem por objetivo a aquisição ou a manutenção da condição física do indivíduo normal e/ou do atleta (localizada, aeróbica, musculação, step, etc.); - Ginásticas de Competição: reúnem todas as modalidades competitivas (Artística, rítmica, acrobática, trampolim acrobática, etc.); - Ginásticas Fisioterápicas: responsáveis pela utilização do exercício físico na prevenção ou tratamento de doenças (Reeducação Postural Global, Cinesioterapia, Isostrechting, etc.); - Ginásticas de Conscientização Corporal: reúnem as Novas Propostas de Abordagem
do Corpo, também conhecidas por Técnicas Alternativas ou Ginásticas Suaves5, introduzidas no Brasil a partir da década de 1970, tendo como pioneira a Antiginástica. A maioria desses trabalhos teve origem na busca da solução de problemas físicos e posturais (Antiginástica, Eutonia, Feldenkrais, etc.); - Ginásticas de Demonstração: é representante deste grupo a Ginástica Geral – que, a partir de 2007, passou a ser chamada de Ginástica para Todos, pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), cuja característica é ser prioritariamente não competitiva, tendo como objetivo principal a interação social entre os participantes. Suas áreas e tipologias são distintas e parecem estar disseminadas em diferentes setores sociais e ramos do mercado de trabalho, conforme diagnosticado em algumas produções em livros e artigos6-8 e em outras publicadas em anais de congressos específicos da área, como o Fórum Internacional de Ginástica Para Todos 9 e o Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:29-40 • 29
Assumpção B & Toledo E
Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição10. Especificamente nas escolas, sua presença está cada vez mais evidente nos currículos, e é defendida tanto por autores da área11-14 como pelos documentos oficiais de abrangência nacional da área, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)15 e a mais recente Base Nacional Comum Curricular (BNCC)16. A grande área das ginásticas de condicionamento físico e fitness, cujo boom no Brasil ocorreu na década de 1980 e continua em ascensão17, parece estar fortemente presente nas academias de ginástica, assim como nos clubes, condomínios, programas públicos, hotéis, cruzeiros etc. As ginásticas de competição estão, como historicamente se tem constatado, muito evidentes nos clubes18,19, mas também em algumas academias, associações (do sistema S, por exemplo SESC e SESI), como atividade extracurricular em escolas20, dentre outros contextos. Dessa forma, podemos perceber o vasto leque de possibilidades de fazer ginástica e colocá-la em diferentes contextos de prática, praças de esporte, hotéis, cruzeiros, clubes, escolas, academias etc. Nesse amplo contexto, a ginástica é praticada e promovida em ambientes muito diversos, de acordo com suas características e com os objetivos institucionais. Um desses ambientes que vêm ganhando força e visibilidade, mas ainda de pouca incidência, é o terceiro setor e, mais especialmente as organizações não governamentais (ONGsa) que dele fazem parte. Especificamente em relação à Ginástica Artística, segundo Toledo, Desiderio e Schiavon21, há a narrativa do caso do Instituto S.O.S Pequeninos (Campinas-SP) que, em parceria com o Clube Campineiro de Regatas e Natação (CCRN) e com a Prefeitura Municipal de Campinas (por meio do Edital do FIEC – Fundo de Investimento do Esporte de Campinas), desenvolveu cursos de formação, vivências da modalidade para as crianças das ONGs filiadas ao SOS Pequeninos, suporte ao treinamento das ginastas de alto rendimento e contato das mesmas com a comunidade. A partir desta iniciativa, as autoras destacam que: Desta forma, o terceiro setor, composto por entidades como o Instituto S.O.S Pequeninos, pode incluir entre suas possibilidades de ação, a do esporte de alto rendimento também, oferecendo melhores condições aos atletas que não contam com patrocínios ou grandes apoios 30 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:29-40
financeiros para se desenvolverem, beneficiando talentos que não tinham a oportunidade de participar de equipes competitivas em clubes. E também estabelecendo uma relação com os projetos e entidades atendidos, assim como a ‘ponte’ estabelecida no projeto S.O.S Ginástica Artística, que aproximou crianças de maior vulnerabilidade social das ginastas (muitas que também vivem esta vulnerabilidade), unindo mundos até então distantes, mas que a partir da aproximação propiciada, perceberam muitas semelhanças, e o quanto se pode crescer juntos, assim como os parceiros desse projeto fizeram21 (p. 69-70).
Em relação à Ginástica Rítmica (GR) podemos citar um projeto desenvolvido na Comunidade da Mangueira (Rio de Janeiro-RJ), relacionado ao Programa Social da Mangueira (especificamente no Projeto Olímpico). Segundo Buarque22, este projeto intitulado “GRD no ritmo da Mangueira”, a partir do ano 2000, desenvolveu-se com crianças e adolescentes desta comunidade e adjacências. Para a referida autora, por meio da prática da GR: […] as ginastas tiveram a oportunidade de desenvolver múltiplas competências, valores e atitudes. Competências pessoais (aprendendo a ser), competências sociais (aprendendo a conviver), competências cognitivas (aprendendo e conhecendo sobre GR, corpo humano, arte, cultura, sobre as relações interpessoais e tudo mais que puderam aprender e conhecer no cotidiano da prática da GR) e competências produtivas (aprendendo a fazer). Ou seja, a prática da GR configurou-se como um instrumento de educação pelo esporte para o desenvolvimento humano e integral das meninas que a praticam (ou praticaram) no Projeto Olímpico da Mangueira. As ginastas da Mangueira com suas ações, atitudes e práticas são capazes intervir na sociedade em que vivem, modificando positivamente a realidade que as cerca22 (p.108).
No caso da então denominada Ginástica Geral (GG), atual Ginástica para Todos (GPT), destacamos o projeto da Associação Estrela Azul (Mauá-SP), projeto este que se iniciou em 2008 com crianças e jovens, de 6 a 17 anos. A professora do projeto, autora desta publicação, Elizabeth Nobre, enfatiza que: Após 29 meses de existência do nosso primeiro projeto […] consigo perceber que meus alunos evoluem a cada dia, que os esforços
A ginástica no terceiro setor
para aprimorar o movimento, a dedicação do trabalho em grupo para elaborar coreografias, ou mesmo a aceitação de músicas nunca antes ouvidas, me trazem plena certeza de que a Ginástica Geral consegue envolver todos, independente de classe social25 (p. 288-289).
Estas foram algumas das experiências bem sucedidas em ONGs, que utilizaram a ginástica como meio de intervenção social de crianças e adolescentes, em suas respectivas comunidades e realidades socioculturais. Consideramos que possa haver outras iniciativas desta natureza pelo país, ainda não publicadas em artigos e congressos da área, uma vez que muitas instituições e educadores não possuem a pretensão ou objetivo de publicar suas atividades, além de considerar que o movimento de criação e de amadurecimento das ONGs é recente.
No Brasil, segundo A CIOLI 26, as primeiras ONGs surgiram por iniciativa da Igreja Católica, e mais adiante - no final da década de 1980, houve um crescimento das organizações nãogovernamentais, tanto em quantidade quanto em representatividade; e em 1990, esse campo se tornou ainda mais ampliado e diversificado, com a chegada das entidades autodenominadas como terceiro setor (ligadas a empresas e fundações). Segundo dados do IBGE27, em 2010, havia 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (FASFIL) no Brasil. Na TABELA 1, constituído a partir dos dados fornecidos pelo IBGE, é possível analisar a concentração dessas entidades por região do país. De acordo com sua área de atuação, as entidades são classificadas pelo IBGE27 confome indicado na TABELA 2.
TABELA 1 -Concentração das FASFIL por região do Brasil. Região
Quantidade (%)
Sudeste
44,2%
Nordeste
22,9%
Sul
21,5%
Centro Oeste
6,5%
Norte
4,9%
Fonte: Adaptado de IBGE27.
TABELA 2 - Classificação das FASFIL por área de atuação e sua concentração. Área
Quantidade (%)
Religião
28,5%
Partidos políticos, sindicatos, associações patronais e profissionais
15,5%
Desenvolvimento e defesa dos direitos
14,6%
Cultura e recreação
12,7%
Assistência social
10,5%
Educação e pesquisa
6,1%
Saúde
2,1%
Meio ambiente e proteção animal
0,8%
Habitação
0,1%
Outras
9,3%
Fonte: Adaptado de IBGE27.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:29-40 • 31
Assumpção B & Toledo E
Dentre as 290,7 mil associações espalhadas no Brasil, 24.926 são atuantes na área de Esporte e Recreação - representando aproximadamente 11,7% do total - sendo que, 10.840 estão na região Sudeste e 5.546 estão no estado de São Paulo, segundo o IBGE27. Vale considerar que muitas ONGs que não possuem o esporte ou a recreação como foco de sua atuação, ou como objetivo estatutário, acabam por promovê-los como conteúdos ou estratégias importantes na viabilização de atividades internas ou de projetos. Neste sentido, entendemos que há um número superior a este de 11,7% que atua com estas temáticas/conteúdos, principalmente nas áreas da Saúde, Educação e Pesquisa e de e Assistência Social. Há um caso singular de ONGs que não atuam diretamente com o público, mas que se caracterizam pelo perfil de liderança no apoio a outras ONGs, com o objetivo de colaborar para seu auxílio, suporte, promoção e ação como, na área esportiva, a REMS – Rede Esporte pela Mudança Social, foco desta pesquisa. Sobre a rede esporte pela mudança social (REMS)
Algumas ONGs possuem, em seus respectivos estatutos, objetivos, valores ou até mesmo como missão institucional, o desenvolvimento do esporte. Assim, algumas consideram o esporte como uma das atividades a serem propostas em seus contextos, e outras a têm como o grande “carro chefe”, mediador das transformações sociais. Nesta pesquisa, será analisada a prática da ginástica no terceiro setor, de acordo com a organização que, em seu estatuto, assumiu a responsabilidade por atuar na mobilização e fortalecimento das organizações do terceiro setor que reconhecem o esporte como fator para desenvolvimento humano, a Rede Esporte pela Mudança Social (REMS). A REMS foi fundada no Brasil, em 2007, por um grupo de organizações da sociedade civil e outros atores internacionais28. Fomentada inicialmente pela empresa multinacional NIKE e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), reúne e articula diversas organizações que acreditam no esporte como fator de desenvolvimento humano e social. Segundo o site da REMS28, a instituição busca visibilidade para o trabalho das organizações, demonstrando o impacto social e o poder transformador do esporte, que inspira pessoas, instituições e governos para a promoção da saúde, desenvolvimento humano, ética e cidadania. 32 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:29-40
As organizações que integram a REMS viabilizam ações ligadas ao esporte pela transformação social, dialogando com diversos temas transversais, como cultura de paz, direitos humanos, saúde, família, progresso econômico, diversidade, comunicação, gênero, raça, etnia, meio ambiente e inclusão de pessoas com deficiência. Os objetivos da REMS são: - Fortalecer as capacidades institucionais e aumentar a sustentabilidade das organizações da sociedade civil; - Mobilizar a sociedade brasileira para a criação e a execução de programas, ações e políticas públicas de esporte para o desenvolvimento humano e a transformação social; - Promover pesquisas e sistematização de conhecimentos que evidenciam a efetividade de projetos ou programas de esporte para a mudança social. Atrair mais financiamentos para o setor e aumentar o número de programas ou projetos de esporte para o desenvolvimento humano28. Nesse mesmo site, encontra-se a missão institucional da REMS, descrita como: “mobilizar e fortalecer organizações que reconheçam o esporte como fator para o desenvolvimento humano”28. A REMS reúne 86 instituições e realiza mais de cem mil atendimentos diretos por ano. Destas organizações, oito formam o conselho de representantes: Associação Luta Pela Paz, Atletas Pelo Brasil, Fundação Gol de Letra, Instituto Companheiro das Américas, Instituto Esporte & Educação, Instituto Futebol de Rua, Prodhe, Urece, Instituto Barrichello, Nike e PNUD. Duas organizações – a NIKE e o PNUD – são apoiadoras da REMS e, atualmente, o responsável pela Secretaria Executiva é o Instituto Barrichello28. Muitas dessas ONGs, disseminam preferencial ou preponderantemente os esportes de seus “atletas fundadores ou apoiadoresb”, e de forma empírica, encontra-se com frequência os mais populares (com destaque para os coletivos com bola) como “conteúdos” de ONGs que, mesmo sem foco no esporte, desejam alcançar os mesmos objetivos de emancipação humana a partir dele. Nesse panorama, identificamos como é forte a prerrogativa de ex-atletas fundarem suas próprias organizações, principalmente no Brasil, e o quanto isso as impulsiona, pela visibilidade que os mesmos podem alcançar, bem como parcerias e apoiadores de maior significância. Nesse cenário, dificilmente se encontram estes tipos de organizações desenvolvendo esportes
A ginástica no terceiro setor
menos conhecidos, quiçá práticas corporais sem fins competitivos ou que não estejam presentes na ¨mídia¨. No caso da Ginástica, embora sua veiculação na mídia tenha aumentado sobremaneira devido às conquistas de atletas de alto rendimento nas últimas três décadas (especialmente na ginástica artística), sua prática ainda parece pouco presente nas ONGs, talvez por falta de capacitação dos profissionais, falta de materiais (do próprio esporte ou para segurança), espaço físico inadequado, alto custo de materiais (de pequeno e grande porte), dentre outros. E as práticas gímnicas que não priorizam a competição, como a GPT, parecem desconhecidas pelos profissionais que atuam nessas
organizações, muitos deles, por vezes, nem formados em Educação Física ou Ciências do Esporte. Segundo TOLEDO, DESIDERIO e SCHIAVON21 (p.49): A inserção da ginástica como prática possível e acessível às pessoas que frequentam entidades sociais, parece ocorrer ainda hoje num número bastante reduzido se comparada as outras práticas corporais (como esportes coletivos básicos, dança, capoeira etc.).
Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa foi identificar e analisar a presença da ginástica e sua tipologia no terceiro setor, especificamente em organizações que possuem alguma relação com o esporte em seus estatutos, filiadas à REMS.
Método Trata-se de uma pesquisa documental, com um perfil de estudo de caso, cuja amostra é composta por um total de 86 instituições, sendo todas organizações não governamentais (ONGs) e filiadas à REMS (Rede Esporte pela Mudança Social), organização esta responsável por atuar na mobilização e fortalecimento das organizações do terceiro setor que reconhecem o esporte como fator para desenvolvimento humano. A pesquisa documental, segundo LAKATOS e MARCONI29, usa como fonte de pesquisa documentos escritos ou não. Dentre os escritos estão os arquivos públicos, os privados, cartas, diários, autobiografias. Documentos não escritos podem ser fotografias, gravações em fita magnética, filmes, mapas, gráficos e outras ilustrações. No caso desta pesquisa, foram utilizados todos os registros e informações disponibilizados online no site da REMS28, por meio de suas ferramentas de busca. Neste contexto, a pesquisa se caracteriza como um estudo de caso, que segundo GIL30: “É caracterizado pelo estudo profundos e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimentos amplos e detalhados do mesmo […]” (p.73). Com relação ao desenho da pesquisa, houve uma divisão em duas fases. Na primeira, foi realizado um levantamento de informações gerais acerca da REMS, com o objetivo de melhor compreender o papel desta rede frente às ONGs filiadas, sua estruturação, seus membros e parceiros, bem como suas ações internas e externas. Este levantamento foi realizado por meio do site da organização28, sendo
que algumas informações complementares foram solicitadas e posteriormente fornecidas por uma funcionária da organização, por correio eletrônico. Num segundo momento, com o objetivo de identificar uma amostragem da expressão da ginástica nas ONGs pelo Brasil e sua tipologia, foi utilizada uma ferramenta de filtro disponível no site da própria REMS. Esta ferramenta oferece a busca por estados, por cidades, por tema e por tipo de atividade física. No campo tema são possibilidades: cultura, educação, diversidade, família, esporte, gênero, entre outros. Especificamente para este estudo de caso, foi utilizado o tema esporte. Já no campo atividades físicas, são mais de 60 opções disponíveis, dentre elas aikidô, atletismo, badminton, basquete, bocha, capoeira, caratê, dança, futebol, judô, natação, voleibol etc. Para esta pesquisa, utilizamos os campos que abordavam a terminologia ginástica, disponíveis na ferramenta, a saber (três termos): ginástica, ginástica artística e ginástica rítmica. Vale salientar que esses termos/modalidades são informadas pelas próprias ONGs e enviadas à REMS, isso quer dizer que cada organização define e classifica suas atividades e projetos desenvolvidos a partir dos seus referenciais e não tivemos acesso a este processo ou às concepções destes termos pelas ONGsc. Uma das fragilidades do processo investigativo e da pesquisa num aspecto mais amplo, foi a dificuldade de encontrar trabalhos que tratassem academicamente os projetos e procedimentos que envolvem a ginástica (de modo geral) no terceiro setor. No entanto, esta se tornou uma das mais Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:29-40 • 33
Assumpção B & Toledo E
importantes justificativas da pesquisa, dada sua
relevância para o campo científico e de intervenção.
Resultados e Discussão Conforme já mencionado na metodologia, foram utilizadas as próprias ferramentas online existentes no site da REMS, e o primeiro levantamento foi
relacionado à incidência da ginástica no Brasil, incluindo as três possíveis terminologias encontradas (ginástica, ginástica artística e ginástica rítmica) (FIGURA1).
FIGURA 1 - Registros da prática gímnica em ONGs filiadas à REMS (2017).
Neste primeiro levantamento é possível identificar que os registros das práticas gímnicas pelas ONGS filiadas à REMS no Brasil demonstram números muito baixos. Sendo 5 registros na categoria ginástica, 3 registros na categoria ginástica artística e 2 registros na categoria ginástica rítmica. Vale enfatizar que,
apesar de totalizar 10 registros, há uma ONG que se encontra nas três categorias. Portanto, de 86 ONGs filiadas à REMS, apenas 8 (9,3%) delas têm registradas suas atividades relacionadas à ginástica. O segundo levantamento refere-se à incidência da ginástica nessas ONGs, por estados do Brasil (TABELA 3).
TABELA 3 - Registros da prática gímnica em ONGs filiadas à REMS por estados brasileiros Estado
Ginástica
Ginástica artística
Ginástica rítmica
Total por estado
Acre
-
-
-
-
Alagoas
1
1
1
3
Amapá
-
-
-
-
Amazonas
1
1
1
3
Bahia
1
1
1
3
Ceará
2
1
1
4
Distrito Federal
0
1
0
1
Espírito Santo
0
0
0
0
Goiás
0
0
0
0
Maranhão
1
1
1
3
Mato Grosso
1
1
1
3
Mato Grosso do Sul
1
1
1
3
Continua
34 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:29-40
A ginástica no terceiro setor Continuação Estado
Ginástica
Ginástica artística
Ginástica rítmica
Total por estado
Minas Gerais
1
0
0
1
Pará
1
1
1
3
Paraíba
0
0
0
0
Paraná
1
1
1
3
Pernambuco
1
1
1
3
Piauí
0
0
0
0
Rio De Janeiro
3
1
1
5
Rio Grande Do Norte
1
1
1
3
Rio G. Do Sul
1
2
1
4
Rondônia
-
-
-
-
Roraima
-
-
-
-
Santa Catarina
0
0
0
0
São Paulo
3
2
1
6
Sergipe
0
0
0
0
Total por Categoria
20
17
14
*
Os dados da TABELA 3 possibilitam algumas análises acerca da participação da ginástica nas ONGs. Alguns estados como Espírito Santo, Paraíba, Santa Catarina e Sergipe, não apresentam registros em nenhuma categoria (ginástica, ginástica artística e ginástica rítmica). Segundo dados do IBGE de 2010, os estados citados acima têm expressão quando se trata da concentração de ONGs. Juntos, eles representam aproximadamente 10% do total de Organizações no Brasil. Por outro lado, Rio de Janeiro e São Paulo são os estados com maior quantidade de registros, se somadas as três categorias (Rio de janeiro - 5 registros e São Paulo - 6 registros). Estes números possivelmente
ocorrem pelo fato de a região Sudeste concentrar 44,2% das ONGs no Brasil (IBGE, 2010), sendo que 20,5% estão localizadas em São Paulod. A categoria definida como ginástica compreende a maior quantidade de registros, provavelmente pela amplitude e complexidade do conceito, que pode considerar todos os campos da ginástica5 (de condicionamento, de conscientização corporal, fisioterápica, de demonstração e de competições). Para facilitar o entendimento e possibilitar uma visão mais ampla, apresentamos gráficos, abaixo, que contemplam os registros de cada prática gímnica em suas três categorias (tipos), por região do Brasil (FIGURAS 2, 3 e 4).
FIGURA 2 - Incidência da GINÁSTICA por regiões do Brasil
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A FIGURA 2 nos mostra que as duas regiões com maior quantidade de registros são Nordeste (7) e Sudeste (7), somando juntas 70% dessa amostra. É importante perceber que a região Sudeste conta com menor quantidade de estados (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo), mas com contingente populacional muito elevado, e se iguala em percentual com a região Nordeste, que conta com nove estados (Alagoas, Bahia,
Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), proporcionalmente com menor contingente populacional. As regiões Norte, Centro-Oeste e Sul apresentam baixa quantidade de registros, dois em cada região e, apesar de revelarem pouca expressão, apresentam a prática da Ginástica. A FIGURA 3 traz os registros acerca da ginástica artística, por regiões:
FIGURA 3 - Incidência da GINÁSTICA ARTÍSTICA por regiões do Brasil
Nesta FIGURA 3, podemos destacar o Nordeste como a região de maior incidência de registros e a região Norte como a de menor participação na ginástica artística. Vale salientar que a região Norte está representada somente por dois estados (Amazonas e Pará), uma vez que os outros cinco estados que integram esta região (Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins) não estão inseridos na ferramenta de busca do site da REMS. Isso nos faz refletir sobre a real participação desses estados na promoção da ginástica e do exporte e como são vistos e reconhecidos pelas instituições, organizações esportivas e sociedade de maneira mais ampla,
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uma vez que outros estados aparecem no filtro mesmo não apresentando incidência de registros em nenhuma das categorias, diferentemente dos cinco estados citados acima. Podemos notar, que há um grande desequilíbro entre tipos de ginástica e incidência nos estados, o que já foi verificado por CARBINATTO, TOLEDO e MASSARO31, alegando certa dificuldade na difusão dessas modalidades gímnicas em algumas regiões, por questões políticas, socioeconômicas, dentre outras. Na FIGURA 4, estão apresentados os resultados para os registros de ginástica rítmica, por regiões do Brasil.
A ginástica no terceiro setor
FIGURA 4 - Incidência da GINÁSTICA RÍTMICA por regiões do Brasil.
A FIGURA 4 referente à ginástica rítmica traz novamente a região Nordeste apresentando maior número de registros e, dessa vez, com maior destaque. De maneira geral, a ginástica rítmica apresenta o menor índice de incidência se observarmos todas as regiões. Esta traz 14 registros no total, contra 17 na categoria ginástica artística, e 20 na categoria ginástica. A grande representação do Nordeste nesta categoria pode estar relacionada a questões políticas e de gestão da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), órgão este que rege oficialmente a ginástica no Brasil. Desde 2009, a CBG instalou-se em Aracajú/Sergipe, e ainda construiu o centro de treinamento da seleção brasileira de Ginástica Rítmica no mesmo local32 (CBG, 2017). No alto rendimento, o Nordeste também começa a se destacar desde 2010, pela participação de seus atletas na seleção brasileira, quase sempre composta, exclusivamente, por atletas do Sul e Sudeste 33. Segundo a autora: A configuração da atual seleção brasileira de ginástica rítmica, individual e conjunto, confirma as expectativas desse estudo, ao acreditar que a construção e manutenção dos centros de treinamento em ginástica rítmica pode contribuir para o desenvolvimento e o crescimento da modalidade. Portanto, o estudo considera que a criação de novos centros de treinamento acarretaria na ampliação do nível técnico da modalidade no país, incentivando assim maior concorrência nos campeonatos e na formação, com maior nível técnico, da equipe nacional33 (p.162).
Nesse contexto, o destaque da GR na região Nordeste pode estar atrelado à maior visibilidade adquirida a partir de determinadas ações que visaram o desenvolvimento da modalidade, por questões políticas ou não. Ademais, embora a GR seja bem disseminada em várias federações estaduais de ginástica e principalmente nas regiões Sul e Sudeste 34, parece não haver um trabalho sólido de disseminação da GR voltada ao lazer nessas regiões. Analisando os registros de cada estado, é possível perceber que na maioria dos casos - em qualquer uma das categorias - os mesmos apresentam apenas UM registro. Em todos esses casos, este registro aponta a mesma organização como promotora da prática: Instituto Esporte Educação (IEE). Devido à grande expressão desta ONG na pesquisa, julgou-se necessário compreender e expor o que o IEE entende por ginástica, assim como quais tipos de projeto realiza. Para o institutoe, a ginástica é compreendida como exercício físico realizado com a função de melhora e ou manutenção de saúde e profilaxia, englobando assim, os diferentes tipos de ginástica. A ginástica no IEE está inserida como conteúdo dos diversos projetos de formação de professores que desenvolve, entre eles, Caravana do Esporte, Rede Multiplicadora de Esporte Educacional e Formação Continuada de Professores. Portanto, a oferta da prática da ginástica - seja ela qual for - é muito baixa, uma vez que a instituição que aparece com maior destaque apresenta um programa formador e não atua ou promove a prática diretamente às pessoas atendidas pelas ONGs. Vale salientar que essa amostra é delimitada, Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:29-40 • 37
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podendo haver organizações que não trabalham com o esporte como principal meio de intervenção e, portanto, não estão vinculadas à REMS, mas que desenvolvem projetos com a ginástica. Assim como pode haver muitas ONGs que promovem
a Ginástica, mas não estão vinculadas à REMS e não divulgam seus trabalhos (conforme já apontado anteriormente).
Considerações Finais Por meio desta pesquisa podemos perceber que a Rede Esporte pela Mudança Social (REMS) cumpre seu papel como organizadora e promotora de organizações não governamentais que reconhecem o esporte como ferramenta de transformação social. Um dos méritos dessa rede é a disponibilização de muitas informações online, fator decisivo para o desenvolvimento deste estudo. Sugerimos que outras institições e redes (públicas ou do terceiro setor), também o façam, propiciando maior acesso e conhecimento dessas realidades. No entanto, vale ressaltar a necessidade de aperfeiçoar suas ferramentas de busca online, recomendando: - Incluir todos os estados na plataforma de busca; - Definir melhor as práticas que ali estão disponíveis; - Repensar o conceito de ginástica que, por ser amplo e complexo, dificulta uma melhor organização e a categorização desses dados, que necessitam ser discutidos e considerados; - Algumas modalidades como a Ginástica para Todos, por exemplo, que deveria ser desenvolvida nas organizações não governamentais, sobretudo por seus conceitos e práticas, não tem categoria própria na ferramenta de busca, portanto, não aparece nesse contexto. O estudo de caso referiu-se à Rede Esporte pela Mudança Social (REMS), tendo como amostra 86 organizações membros e, a partir dos dados obtidos, diagnosticou-se que as regiões Nordeste e
Sudeste apresentam maior incidência de registros de atividades gímnicas. São Paulo e Rio de Janeiro, por sua vez, prevalecem como os estados mais incidentes, fato que pode estar relacionado à grande influência da ginástica na região Sudeste, tanto em escolas e associações, quanto em equipes de competição e clubes. Na categoria ginástica, percebemos que as regiões Sudeste e Nordeste apresentam maior expressão (somando juntas 70% dessa amostra), enquanto as regiões Norte, Centro Oeste e Sul apresentam baixa quantidade de registros. Quando a categoria é ginástica artística, o Nordeste aparece em destaquem, com a maior incidência, e a região Norte com a menor incidência. Na terceira e última categoria ginástica rítmica, novamente o Nordeste se destaca. Vale ressaltar que os números apontados por esta pesquisa são extremamente baixos, e evidenciam o quanto a ginástica é incipiente nas ONGs associadas à REMS. A ginástica, mesmo com sua diversidade de áreas, tipos e contextos de intervenção, parece estar ainda pouco presente no terceiro setor. Dessa forma, é clara a necessidade de potencializar e democratizar o ensino da ginástica no terceiro setor, por meio de diferentes iniciativas provenientes do poder público, privado, das próprias ONGs e seus parceiros institucionais (incluindo a Universidade), para alcançar, em maior escala, a transformação social e o desenvolvimento humano.
Notas a. A expressão ONG (Organização Não Governamental), segundo Landim23 e Gohn24, foi criada pela Organização das Nações Unidas – ONU, na década de 1940, para designar entidades não oficiais que recebiam ajuda financeira de órgãos públicos para executar projetos de interesse social, dentro de uma filosofia de trabalho denominada desenvolvimento de comunidade. b. Alguns exemplos: Bernardinho (ex-atleta de vôlei) e o Instituto Compartilhar; Paula (ex-atleta de basquete) e o Instituto Passe de Mágica; Flávio Canto (ex-atleta de judô) e o Instituto Reação; Raí e Leonardo (ex-atletas de futebol) e o Instituto Gol de Letra, entre outros. 38 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:29-40
A ginástica no terceiro setor
c. Ressaltamos que estes dados foram levantados no período de fevereiro de 2017 a abril de 2017, e estão sujeitos a mudanças, conforme a atualização do site. d. É importante ressaltar que nem todas as ONGs que estão presentes no levantamento do GRÁFICO 1 mostraram-se presentes neste levantamento por Estados, o que nos revela algum erro de registro ou de sistema de filtro. e. O acesso a estas informações ocorreu pelo contato com o coordenador de projetos do Instituto Esporte Educação e o mesmo autorizou a publicação destas informações.
Abstract Gymnastics in the Third-Sector: a REMS case study Gymnastics is practiced and promoted in different social contexts, one of these is the third sector, focus of our research. This study aims to identify and analyze the presence of gymnastics and its typology, in the third sector and specifically in organizations that recognize sport as a factor for human development. This is a documentary research, with a case of study profile, whose sample is made up of a total of 86 institutions, all Non-Governmental Organizations (NGOs) affiliated with REMS (Sports Network for Social Change). The data show that only 9.3% of the NGOs affiliated to the REMS indicate records of gymnastic practices, mainly in the Southeast and Northeast regions. The gymnastics types identified were: fitness, artistic and rhythmic. It was concluded in this study that gymnastics are being little offered in the NGOs, mainly in some regions of the country and with low typology. KEYWORDS: Non-Governmental Organizations; Artistic gymnastics; Rhythmic gymnastics; Fitness.
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ENDEREÇO
Bianca Assumpção Rua das Rosas, nº 108 – apto93 - Mirandópolis 04048-000 - São Paulo - SP - BRASIL e-mail: assumpcao.bianca@hotmail.com biancaaaa_92@hotmail.com
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A compreensão e a avaliação do componente artístico
A compreensão e a avaliação do componente artístico da ginástica artística Mauricio Santos OLIVEIRA* Fernanda Regina PIRES** Odilon ROBLE*** Caroline Inácio MOLINARI**** Myrian NUNOMURA****
http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10041
Resumo O objetivo do presente estudo foi analisar e discutir o entendimento dos componentes artístico e estético na avaliação das competições na Ginástica Artística Feminina. Assim, entrevistamos três árbitros internacionais do setor feminino e três do masculino. Constatamos que os árbitros demonstram dificuldades sobre o componente artístico da modalidade, particularmente, na sua conceituação, avaliação e diferenciação no desempenho. Além disso, eles criticam a falta de orientação aos profissionais, a escassez de apoio e a ausência de material didático que esclareçam e traduzam as exigências dos Códigos de Pontuação da modalidade para uma linguagem mais acessível e aplicável.
*Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil. **Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. ***Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. **** Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Arbitragem; Estética; Código de Pontuação.
Introdução Thomson1, assim como Arkaev e Suchilin2, destacam o processo contínuo de desenvolvimento da Ginástica Artística (GA). E, nesse ambiente de mudanças constantes, um dos grandes desafios desse esporte ainda é a busca por um sistema de avaliação mais objetivo e que seja capaz de reconhecer e quantificar os aspectos artísticos, como a expressividade e a estética, que são inerentes as apresentações dos ginastas. Na GA é comum ouvirmos a palavra “virtuosidade”, que Vidmar3 relata que significa fazer um elemento com mais amplitude, mais extensão, mais maestria – apresentada com um estilo que, quando o árbitro observa o elemento que foi visto centenas de vezes, ele pára e diz: “wow, eu já tinha visto isso ser executado antes, mas eu gostei dele feito assim” (p. 91).
O virtuosismo está relacionado ao domínio da técnica e a perfeição na execução. E, Thomson1 pondera que quando o ginasta alcança essa perfeição na execução de um movimento, ele alcança o nível da arte. Sabemos que o intuito da GA não é a produção
de uma obra de arte, mas de modo peculiar, essa ginástica traz o “como se faz” à tona. Em outras palavras, a beleza dos gestos é algo que parece presente na prática da GA e consubstancia os modos de percepção e de avaliação de suas provas. Erige-se, dessa maneira, um contexto estético, sendo possível analisar e propor compreensões fundamentadas nesse saber. Podemos compreender então que a GA, assim como a avaliação de seu componente artístico/ estético, está contida nessa episteme. Contudo, ainda parecem incipientes as abordagens sistemáticas para a orientação e a preparação dos árbitros para o julgamento do fator artístico/estético dos ginastas, o que leva ao entendimento de que esse componente fica relegado ao “bom gosto” dos árbitros. Sem dúvida, muitos deles reúnem essas qualidades e competência para julgar de forma subjetiva o componente artístico. Ainda assim, a indefinição sistemática de abordagem sobre esse quesito poderia contribuir para um componente impreciso de julgamento e, eventualmente, gerar injustiça. O Código de Pontuação (CP) é o livro de regras Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:41-50 • 41
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que norteia as competições de GA e inclui diretrizes para a avaliação do componente artístico nessa modalidade. NUNOMURA4, assim como OLIVEIRA e BORTOLETO5, destaca a característica transitória do CP, visto que sofre modificações a cada ciclo olímpico, ou seja, a cada quatro anos. E que incidem na avaliação do componente artístico. Apesar desse processo de mudanças ocorridas nas regras, assim como em outros aspectos da modalidade, A RKAEV e S UCHILIN 2 afirmam que a GA continua vividamente expressiva e
criativa, conectada com a “arte do movimento”. B ORTOLETO 6 cita que a característica estética, inerente e significativa da GA, garantiu o sucesso e a popularidade adquirida ao longo dos tempos. Assim, é perceptível a importância do fator artístico nessa modalidade intrinsecamente associada à beleza7. A partir dessa conjuntura, o presente artigo visa abordar como o componente artístico das séries da GA é percebido pelos árbitros, bem como identificar qual a base de conhecimento que apóia o julgamento dos árbitros nas competições.
Método Este estudo é de natureza qualitativa, no qual optamos pelo caminho da pesquisa de campo, cuja característica está na investigação conduzida no ambiente em que o fenômeno ocorre, a fim de compreendê-lo em sua essência e, assim, proporcionar benefícios ao ambiente e à população envolvida no estudo8. Para a coleta de dados, recorremos à entrevista com questões abertas. Segundo Thomas e Nelson 9, a pergunta aberta é “uma categoria de questão em questionários e entrevistas que permite ao entrevistado considerável liberdade para expressar sentimentos e expandir ideias” (p. 281). Assim, o entrevistado discorre livremente sobre o tema da pergunta. As entrevistas foram realizadas individualmente, no próprio ambiente de trabalho, e foram gravadas e transcritas integralmente. A população do estudo foi constituída por seis árbitros, sendo: três da GA masculina e três da GA feminina. Todos os árbitros possuíam brevê internacional, com ampla experiência em eventos internacionais, o que lhes confere maior autoridade,
inserção e representatividade no contexto do estudo. Para o tratamento dos dados, optamos pela técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin 10. Segundo a autora, refere-se a “um conjunto de técnicas de análise das comunicações” (p.37). Nesse tipo de abordagem os dados são codificados, classificados e categorizados, o que possibilita a melhor organização e consequente exame crítico do conteúdo que emerge das mensagens e que são de interesse da pesquisa. Após a organização dos dados, optamos pela Análise Temática. Para efeito de organização da pesquisa, os indivíduos do estudo foram apresentados pela abreviatura A (árbitro) seguida pelo setor (M = masculino ou F = feminino) e uma numeração, exemplo: AM1 (árbitro masculino 1). Destacamos que o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. E, cada sujeito recebeu um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) no momento de realização da pesquisa, o qual foi lido e assinado.
Resultados As categorias formuladas a partir das respostas dos árbitros, tanto no setor masculino quanto no feminino, estão relacionadas à definição dos termos “arte, artístico e estética” e a avaliação desses componentes em competições. No QUADRO 1, observamos a categoria e as subcategorias relacionadas à definição dos termos,
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segundo os protagonistas do estudo, assim como as Unidades de Registro. Optamos pela não inclusão das Unidades de Contexto nos quadros devido ao volume das respostas. Ponderamos que a compreensão do que é arte, o que é artístico e a compreensão do que é estética são essenciais para o julgamento do componente artístico da GA.
A compreensão e a avaliação do componente artístico QUADRO 1 -Definição dos termos arte, artístico e estética.
Categoria
Setor
Subcategoria
Unidade de Registro
Mesmo sentido
São um conjunto
Característica do Movimento
Estético Expressão / sentimento
Feminino
Característica da séria
Representação da música Coreografia / dança Originalidade
Definição dos termos “arte, artístico e estético”
Característica da ginasta
Postura
Espectador
Gosto pessoal
Sinônimos
Masculino
Característica da série
Harmonia
Não sei
Dificuldade em explicar
Artístico
Expressão / beleza
Característica do Movimento
Estética
Sobre a avaliação do componente artístico, verificamos no QUADRO 2 as respostas dos sujeitos que expõem aspectos que incidem no estabelecimento
das notas. Mas, é perceptível nas Unidades de Registro a presença de aspectos subjetivos que dificultam a avaliação objetiva e equitativa entre os árbitros.
QUADRO 2 - Definição dos termos arte, artístico e estética.
Categoria
Setor
Subcategoria
Unidade de Registro
Critérios objetivos
Código de Pontuação Gosto Pessoal
Subjetividade
Experiência
Feminino Avaliação do Componente Artístico
Solo e Trave
Coreografia
Masculino
Música
Espetáculo
Não é só acrobacia
Subjetividade
Critérios subjetivos
Critérios objetivos
Código de Pontuação
Na sequência do texto, discutiremos os resultados e apresentaremos as Unidades de
Contexto que melhor elucidam os tópicos de interesse para a pesquisa.
Discussão Alguns artistas escolhem o pincel e as tintas com um meio de expressão, porque eles foram
expostos a esse meio. Outros escolhem o lápis e o papel ou a máquina de escrever... e alguns Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:41-50 • 43
Oliveira MS, et al.
escolhem os seus corpos, o solo e o ar como um meio e um campo de expressão – os ginastas11 (p. 88).
A partir dos depoimentos dos árbitros, observamos que há dúvidas e dificuldades em expressar o entendimento sobre os termos “arte, artístico e estético”. A diversidade e o número de Unidades de Registros mostram a ausência de uniformidade na compreensão dessas palavras. Salientamos que nessa pesquisa utilizamos como referência para a conceituação dos termos o dicionário Aurélio da língua portuguesa12. Essa escolha justifica-se pelo acesso fácil e linguagem simples, sendo que no caso de dúvidas o árbitro encontraria prontamente essas definições sem quaisquer dificuldades. Assim, consideramos que: • Arte é a “atividade que supõe criação de sensações ou de estados de espírito, de caráter estético carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação” 12 (p.176). • Estética é o “estudo racional do belo, quer quanto à possibilidade de sua conceituação, quer quanto à diversidade de emoções e sentimentos que ele suscita no homem” 12 (p. 720). •Artístico é aquilo que é “relativo às artes (...) de lavor primoroso e original” 12 (p. 178). Observamos que em ambos os setores, masculino e feminino, grande parcela dos indivíduos da pesquisa considera os termos como sinônimos ou, até mesmo, um conjunto: “(...) eu vejo como uma coisa só (...) na verdade eu acho que é um conjunto: o artístico e o estético fazem parte da arte, do esporte” (AF2); “Falando assim de arte, eu dentro da ginástica eu vejo como um todo (...)” (AF3); “Um está bem ligado no outro” (AM1). A dificuldade em definir os termos emerge na fala de AF1: “É muito difícil, né? Por que uma coisa está ligada na outra”. Sabemos que os árbitros são responsáveis por avaliar os componentes artísticos e estéticos das séries e, por isso, os mesmos devem ter clareza sobre os termos “arte, artístico e estético” para poder avaliar e atribuir as pontuações justificadas no CP. A generalização dos termos denota fragilidade na formação dos árbitros. O conhecimento apropriado acerca do significado e da essência dessas palavras poderia prover uma avaliação equitativa com os seus pares. Ukran13 cita que “a personalidade do ginasta, o seu temperamento, as particularidades de sua constituição e a originalidade da apresentação dos 44 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:41-50
seus exercícios imprimem um selo na forma em que ele executa. Esse estilo próprio o destaca dos demais, além de trazer uma particularidade estética ao exercício” (p. 158). E, para julgar de forma correta e dentro das normas do CP, o que não é uma tarefa fácil, os árbitros deveriam estar conscientes dos aspectos artísticos, desde a sua definição até a sua personificação nas séries dos ginastas. Além da subcategoria “Mesmo Sentido” e da Unidade de Registro “São um conjunto”, observamos outras duas subcategorias comuns aos setores masculino e feminino, as quais: “Característica da Série” e “Característica do Movimento”. A compreensão dos árbitros de que os termos poderiam ser compreendidos como característicos das séries e dos movimentos teria influência direta do CP. No CP feminino 14, observamos que a criatividade, a atitude de confiança durante a apresentação, o estilo pessoal e a perfeição técnica são aspectos utilizados para explicar e delinear o desempenho artístico na trave de equilíbrio. O livro de regras destaca que há que se converter uma série de elementos em uma apresentação, na qual não basta apenas o que a ginasta faz, mas como ela executa. Um direcionamento semelhante pode ser observado nas diretrizes da prova de solo feminina. O CP14 cita a fluidez, a expressividade, a musicalidade, a maestria nos movimentos e a perfeição técnica como características do componente artístico das séries de solo. Constatamos, também, a menção da harmonia, da feminilidade e da graça. Essas orientações do CP feminino auxiliam na compreensão de algumas Unidades de Contexto que emergiram na busca pela definição dos termos pelos árbitros na subcategoria “Característica da Série”. A Unidade de Registro “expressão/sentimento” das ginastas, fatores que são citados no CP14 na prova de solo, foi elencada pelas árbitras: “Por isso chama GA, tem a parte de coreografia, a parte de expressão, a combinação da série com a música” (AF1); “(...) a música e os movimentos conseguem ter uma ligação, uma vida e te expressar um movimento” (AF2); “(...) a expressão da ginasta sejam explorados durante as apresentações” (AF3). A árbitra AF3 cita a originalidade como definição do fator artístico na GA feminina. De acordo com a Federação Internacional de Ginástica15, a originalidade seria quando o ginasta executa formas de movimento diferenciadas, partes ou ligações de
A compreensão e a avaliação do componente artístico
exercícios que, como tais, são novas e se destacam nos quadros do que é conhecido, tradicional ou clássico nas séries. A criatividade e a inovação são aspectos da arte e emergem no fator artístico da ginástica. A Unidade de Registro “Representação da Música” também foi relacionada no estudo como uma forma de definir os termos no contexto da GA: “(...) meio que representar a música (...) estar dentro da música (...)” AF1; “(...) a música e os movimentos conseguem ter uma ligação, uma vida e te expressar um sentimento (...)” AF2. BRAGA16 menciona que a música tem o potencial de agradar ou incomodar, pois está relacionada às questões culturais, de perspectiva, do momento em que é ouvida e das preferências individuais. Assim, podemos relacionar essa reflexão da autora com a Unidade de Registro “gosto pessoal” devido às influências pessoais intervenientes na compreensão dos termos exposta pela árbitra AF2: “Aí eu gostei da série! Ou, ai que série fraquinha! (...)”. O gosto pessoal do espectador não está relacionado apenas à música, mas, também, ao estilo da ginasta, a originalidade e ao conceito pessoal de belo. As árbitras AF1 e AF3 relacionam os termos “arte, artístico e estética” à coreografia: “Por isso chama GA, tem a parte de coreografia, a parte de expressão (...)” (AF1). A AF3 destaca um problema nas séries para elucidar a sua compreensão dos termos: “(...) coreografia do solo que não vai bem com determinada parte da música (...)”. Observamos que a compreensão dos árbitros sobre os termos é ingênua, pois eles recorreram, frequentemente, a exemplos na tentativa de ilustrar o seu entendimento. Segundo WESTON17, o uso de exemplos sem informação de fundo é um artifício proveniente de argumentação fraca sobre o tema. Em outras palavras, o exemplo serve para ilustrar o conceito apresentado e não para ocupar o lugar desse. Quando isso ocorre, parece emergir uma compreensão que fora construída na prática, muito mais guiada por um senso de aproximação entre os fenômenos analisados do que por conceitos e definições específicas. Na categoria masculina da GA, ao percorrermos o CP18, verificamos que a questão artística se restringiu à estética dos movimentos que está relacionada à postura nos elementos e à perfeição. Entre os árbitros do sexo masculino, a subcategoria “Característica da Série” restringiu-se a Unidade de Contexto “Harmonia”, conforme acompanhamos no relato a seguir: “(...) quando você olha e você
vê: poxa o cara fez uma transição bem feita...” (AM3). A FIG18 relaciona a harmonia à ordenação dos elementos na série de tal forma que haja ritmo. Também observamos a compreensão de que os termos “arte, artístico e estética” são característicos do movimento ginástico. Isso fez emergir outra subcategoria do estudo com a Unidade de Registro “Estética”: “(...) Um atleta, um ginasta que executa com uma estética melhor, ele tem menos desconto (...)” AM1; “A estética seria as correções posturais” AM2; “(...) movimentos mais refinados, as linhas do corpo isso em geral nas séries de ginástica é muito importante (...) a gente fala em estética e o que me vem na cabeça é a parte da correção técnica, então, a falta de uma ponta de pé (...)” AM3. UKRAN13 cita fatores vinculados à qualidade da execução dos exercícios sendo, um deles a maestria e o domínio na realização dos elementos que se relaciona à precisão, à leveza, à segurança, à expressividade, à audácia e à elegância, aspectos subjetivos que aumentam a complexidade do processo de avaliação da modalidade. A “Expressão/Beleza” constitui outra Unidade de Registro na subcategoria “Fator Artístico”. Para o árbitro AM2, os termos representam o fator artístico da modalidade e estão ligados à expressão e à beleza dos movimentos: “E aparentando o mínimo de esforço” (AM2). Um dos árbitros expôs no início do relato que “não saberia dizer exatamente a diferença” (AM3), aspecto comum aos demais árbitros de ambos os setores que, entre linhas, demonstram falta de clareza em definir os termos. Isso explica o fato de muitos considerarem as palavras sinônimas e outros recorrerem a exemplos para tentar defini-los, pois lhes faltam palavras para elucidar os conceitos em suas próprias concepções. Todos esses desencontros ou desentendimentos sobre os conceitos que permeiam o componente artístico da modalidade poderiam estar diretamente ligados à formação dos árbitros. Dessa forma, após essa primeira abordagem, que está relacionada à compreensão dos termos “arte, artístico e estética” pelos árbitros, questionamos os protagonistas do estudo sobre como eles arbitram o componente artístico das séries. A partir desse questionamento, emergiu a categoria “Avaliação do Componente Artístico” com seis subcategorias. A subcategoria “Critérios Objetivos” apresentou em ambos os setores, masculino e feminino, uma Unidade de Registro “Código de Pontuação”: “(...) existem os critérios objetivos do CP em relação ao que a gente tem que avaliar” (AF3); “antes ele era mais Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:41-50 • 45
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subjetivo, hoje ele é um pouco mais objetivo” (AF2). O fato do CP mudar, a cada ciclo olímpico, também foi relatado na pesquisa: “Olha, eu acredito que a ginástica mudou muito, muito do que a gente chama de ginástica artística, o artístico acabou perdido, né?” (AM3); “Eles tentam sempre fazer alguma modificação justamente para arrumar, para não ficar rotineiro (...)” (AM1). Corroboramos OLIVEIRA e BORTOLETO19 quando afirmam que manter a relação entre esporte e arte é um dos grandes desafios da FIG. Para fornecer direcionamentos à modalidade e aprimorar o sistema de avaliação e pontuação dos atletas, a FIG implementa alterações no CP a fim de tornar o julgamento menos subjetivo e, consequentemente, mais justo e objetivo. Apesar da busca pelo estabelecimento de critérios que tornem o processo de avaliação mais objetivo, a emergência das subcategorias “Subjetividade”, tanto no masculino quanto no feminino, denota dificuldade para alcançar esse objetivo. A Unidade de Registro “Gosto Pessoal” foi citada pela AF1: “Então, depende muito do árbitro (...) não está muito claro assim. Às vezes eu acho que aquela ginasta não foi tão bem na parte artística, mas a outra (árbitra) pode achar bonito o que ela fez. Então, eu acho que é uma coisa bem subjetiva”. A árbitra AF2 relata que “(...) não tem como, sempre vai ser um pouco subjetivo, esse artístico, o gostei ou não gostei”. Esse aspecto do gosto pessoal fica ainda mais evidente com o exemplo da árbitra AF3: “é como se fosse uma música que soa bem aos ouvidos e aí, quando você visualiza algo que parece incoerente, feio e que não agrada, você percebe que não tem preparação artística”. A Unidade de Registro “Experiência” se insere na subcategoria “Subjetividade”, embora, na percepção dos árbitros, ela seja compreendida como aspecto que traz maior precisão na avaliação: “nós árbitros temos essa vivência de anos arbitrando e avaliando e você consegue através disso (...) mas, não é uma
coisa pela qual eu seja especialista, é realmente pela vivência mesmo para que a gente consiga ver tudo isso” (AF2). A árbitra AF1 destaca o problema da falta de experiência “se é difícil para nós, imagina para quem está começando agora, né?”. Ao serem questionados sobre a avaliação do componente artístico, os indivíduos do setor feminino relacionam isso à coreografia. Assim, duas Unidades de Registro emergiram dessa subcategoria “Coreografia”. A coreografia do solo e da trave foram citadas pelas árbitras AF2 e AF3: “(...) é dentro das séries de solo e de trave que a gente consegue avaliar este componente artístico (...)” AF2; “É... por exemplo, um movimento na... coreografia do solo (...) que tem no código e você percebe sabendo ou não que tem no CP” (AF3). A música foi outra Unidade de Registro dessa subcategoria: “um movimento (...) que não vai bem com determinada parte da música (...)” AF2. O discurso da árbitra AF1 culminou com o estabelecimento da subcategoria “Espetáculo”, pois a árbitra alude ao fato de que “Na ginástica não é só acrobacia, tem o espetáculo” (AF1). MITCHEL20 destaca que quando o ginasta está em um evento competitivo, ele deve causar uma impressão nos árbitros e nos espectadores. O autor compara a modalidade ao show de entretenimento em que o ginasta é o seu protagonista. Trata-se de um esporte que deixa os espectadores admirados com as possibilidades de movimentos que os atletas executam nos aparelhos. ROBLE, NUNOMURA e OLIVEIRA7 citam o prazer que a contemplação da GA pode causar, mesmo sem o entendimento das regras desse esporte. Esse caráter desinteressado, segundo os autores, é um atributo que valoriza a GA como fenômeno estético. Mas, diferentemente do espectador que apenas aprecia os feitos dos ginastas, o árbitro deve ter o conhecimento necessário para converter as impressões estéticas em pontuação, respeitando-se as normas do CP.
Considerações finais O árbitro tem a função de contemplar e analisar a execução dos elementos que compõem a série do ginasta com a premissa de estabelecer a nota do atleta de forma objetiva. Para isso, deve conhecer a dificuldade, a técnica e o padrão de perfeição do movimento. E, para tornar ainda mais complexa 46 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:41-50
essa tarefa, o árbitro é influenciado pela maestria, estilo e originalidade do ginasta. Sabemos que há distinções na avaliação dos componentes artísticos entre a categoria masculina e a feminina da GA. No CP feminino14, verificamos diretrizes para a avaliação do componente artístico
A compreensão e a avaliação do componente artístico
das séries de solo e de trave de equilíbrio. Na GA masculina, observamos que o CP18 restringe os aspectos artísticos, no caso a estética, à postura e à perfeição dos movimentos. No entanto, sabemos que durante a avaliação há o fator “impressão geral” da série, que influencia de forma subjetiva na determinação da nota. O estilo, a originalidade e o virtuosismo não são mencionados no CP masculino, mas incidem na contemplação dos árbitros. É perceptível que há complexidade inerente ao processo de avaliação, principalmente, quando entramos na esfera subjetiva da análise dos elementos. Bortoleto 6 pondera que o caráter subjetivo da GA é um dos atrativos da modalidade, mas se conforma em um desafio para todos os envolvidos na busca pela definição dos campeões da modalidade. Concordamos com Nunomura 4 quando a autora cita que na GA a determinação do campeão não é algo evidente, principalmente, para muitos espectadores. Mas, mesmo os leigos conseguem perceber quando o componente artístico foi bem apresentado pelo ginasta. Oliveira e Bortoleto19 destacam que quando falamos em fator artístico na GA, muitas vezes nos referimos ao virtuosismo do ginasta. A elegância particular na execução do elemento, a leveza, o domínio da técnica e do risco definem o atleta virtuoso. Talvez, por isso, a maior parte dos sujeitos do estudo vincula o componente artístico da série à execução e à postura. Há grande dificuldade na compreensão dos árbitros em definir os temos “arte, artístico e estética”, conforme observamos nas Unidades de Contexto. Embora os árbitros tenham definido e, na maior parte dos casos, utilizado exemplos para tentar conceituar os termos, as ideias não são claras. De fato, os aspectos mencionados pelos árbitros, na tentativa de definir esses termos, estão presentes no contexto artístico da modalidade. Porém, causa preocupação o fato dos árbitros da modalidade não terem esses conceitos bem definidos, pois poderia gerar insegurança no momento da avaliação e, consequentemente, falhas e injustiças nesse processo. Em ambos os Códigos de Pontuação 14, 18 , feminino e masculino, não há definição dos termos “arte, artístico e estética”. Isso corrobora a dificuldade dos árbitros na definição clara dessas palavras no contexto da GA. As orientações no CP poderiam auxiliar na compreensão dos árbitros, a fim de proporcionar maior objetividade na
avaliação, principalmente, na categoria feminina, cujo componente artístico recebe tratamento distinto nas provas de solo e de trave de equilíbrio. Ao questionarmos os sujeitos do estudo sobre o processo de avaliação do componente artístico das séries, observamos que embora eles citem critérios objetivos explicitados no CP, a subjetividade continua delineando o julgamento desse aspecto das séries, com destaque para a Unidade de Registro “Gosto Pessoal”. O depoimento da árbitra AF2 exemplifica bem essa questão: “O que aquela série te passou”. Compartilhamos a concepção de alguns árbitros quando afirmam que o componente artístico não possui um padrão ou uma regra de avaliação. É importante esclarecer que concordamos com Gombrich21 que cita que as pessoas têm sensações diferentes sobre as manifestações artísticas, porém, isso não pode ser apenas uma constatação “visual”. Para avaliarmos esse componente, devemos entender o método e o que está sendo apresentado. Por esse motivo, acreditamos que essas questões poderiam ser discutidas nos cursos e evidenciadas no CP ou em algum material de apoio distribuído aos árbitros e treinadores. A impressão vaga que se tem dos termos não facilita a ação dos avaliadores e, certamente, fragiliza a modalidade como um todo. Por meio dos depoimentos dos árbitros entrevistados, constatamos que eles percebem características que poderiam enriquecer o conteúdo artístico das séries. Essa percepção, entretanto, é similar ao de pessoas do senso comum. E, ainda está muito relacionada ao gosto pessoal do árbitro. Esses aspectos são visualmente percebidos pelos árbitros, mas, o que nos parece, é que não há nenhuma análise mais profunda do que esteja sendo avaliado. O fato do termo “artístico” não ser mencionado no CP da GAM18, faz com que este seja “ignorado” ou sofra comparação pejorativa em relação ao mesmo aspecto na avaliação da série feminina. Nesse sentido, a associação entre movimentos estéticos e a graciosidade feminina, presente nas orientações e na percepção avaliativa, além de diminuir a amplitude dos termos, tem caráter sutilmente sexista. A polaridade entre graça feminina e força masculina é francamente anacrônica se comparada com as discussões de gênero atuais. Um árbitro menciona que a forma de avaliação do componente artístico não é clara e que nos cursos deveriam ser utilizados exemplos de séries Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:41-50 • 47
Oliveira MS, et al.
com uma parte artística satisfatória para que as questões artísticas pudessem ser visualizadas e entendidas. Notamos que, novamente, embora o entrevistado identifique a carência conceitual sobre esses componentes que depois ele se deparará no momento da avaliação, mais uma vez a prática do modelo, do exemplo perfeito, lhe ocorre. Ao identificar um modelo ideal o árbitro faria um julgamento de aproximação e distanciamento com tal modelo. A essa altura de nossa discussão parece possível perceber que a obsessão por essa prática do modelo ideal mereça investigação no imaginário da modalidade. Por hora, basta percebermos que a carência de discussão efetiva do que corresponda ao componente artístico na GA parece se manifestar de diversos modos na compreensão dos árbitros e, provavelmente, influenciaria seus modos de exercer suas funções. Essa defesa do modelo, por parte desses discursos, embora importante contra-argumento no que estamos encontrando como tendência nesse texto, também não avança objetivamente. Mais uma vez a percepção parece envolta num manto de compreensão precária que, no caso dos discursos citados, coloca a autoridade dos proponentes do curso como algo acima dos critérios objetivos do próprio código (“o curso esclarece o que eles querem”). Há tabelas com valores de dedução para falhas artísticas, as quais variam de 0.10 a 0.50 pontos, sendo que na trave há somente desconto de 0.10; no solo de 0.10 a 0.30 e o desconto de até 0.50 por musicalidade14. Ressaltamos que esses descontos da parte artística são separados daqueles por falhas de execução dos elementos. Assim, apesar de certa objetividade numérica para os descontos, ainda não parece tarefa simples avaliar itens como “falta de confiança, estilo pessoal e singularidade” ou “falta de habilidade em atuar”. Como esperávamos, os árbitros denotam a imprecisão da avaliação artística e ainda mencionam que a nota desse componente varia, sensivelmente, de árbitro para árbitro. O que ocorre é que o gosto pessoal do árbitro interfere nas deduções atribuídas ao componente artístico das séries, como mostra o depoimento a seguir: AF2: “Mas não tem como, sempre vai ser um pouco
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subjetivo, esse artístico, o gostei ou não gostei.” Ev i d e n t e m e n t e , c o n c o r d a m o s c o m a subjetividade dessa avaliação e entendemos, até, que possa ser um contrabalanço interessante ao rigor objetivo de outros setores do julgamento. Contudo, há uma diferença evidente entre o gosto subjetivo e o gosto pessoal. Enquanto o primeiro se construiu no interior de um sistema de percepção coeso, do qual o sujeito é mais um elo da sensibilidade compartilhada, o segundo está completamente dependente do indivíduo e das conexões que ele pode fazer entre setores distintos da sensibilidade. Não à toa os modelos ideais, como já citados, acabam por ocupar a lacuna deixada pela falta desse gosto subjetivo. Outro ponto que merece comentário é o fato dos árbitros do setor feminino só perceberem o componente artístico nas provas de solo e trave. No CP14, a frase “dedução por falhas da apresentação artística” só está presente nas regras de solo e trave. Todavia, a falta de discussão sobre a definição de artístico e de estético e suas relações fazem com que os árbitros entendam que não há avaliação artística ou uma relação com ela nas demais provas. É válido lembrar que existe a avaliação da estética e da qualidade técnica dos movimentos em todas as provas. É importante esclarecer, novamente, que não pretendemos argumentar contra o caráter subjetivo que acompanha o tema, porém, essa discussão é importante para diminuir os impactos ou, ainda, reduzir e/ou organizar essa subjetividade de modo que evite, assim, injustiças nas competições. Pretendemos incentivar a reflexão e evidenciar a importância da qualidade na formação profissional dos envolvidos na modalidade, bem como evidenciar o papel dos órgãos que regem a GA na orientação adequada dos profissionais. Os depoimentos dos árbitros são preocupantes, pois, muitos equívocos na avaliação do componente artístico das séries poderiam ocorrer. Por esse motivo, acreditamos que seja profícua a discussão dos aspectos artísticos e estéticos mencionados no CP, bem como a possível utilização de um material de apoio, principalmente, para os treinadores e árbitros.
A compreensão e a avaliação do componente artístico
Conflito de interesse Não houve conflitos de interesses para realização do presente estudo.
Abstract Understanding and evaluation of the artistic and aesthetic components in artistic gymnastics The purpose of this study was to analyze and discuss the artistic and aesthetic components involved in the evaluation of competitive Artistic Gymnastics (AG). Thus, we interviewed three international Women`s Artistic Gymnastics (WAG) judges and three Men’s Artistic Gymnastics (MAG) judges. We found out that the judges have difficulties in understanding the artistic component of this sport, particularly its conceptualization, evaluation, and differentiation in performance. In addition, they complain about the lack of guidance to professionals, as well as the lack of support and teaching resources that could clarify and even translate the requirements of the Code of Points in a readable and applicable way. KEYWORDS: Judging; Aesthetic; Code of Points.
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ENDEREÇO
Mauricio dos Santos Oliveira Av. Fernando Ferrari, 514 - Goiabeiras 29075810 - Vitória - ES - BRASIL e-mail: mauricio_olliveira@yahoo.com.br
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Ginástica de trampolim
Ginástica de trampolim: estudo do processo de institucionalização e suas consequências no Brasil http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10051
Murilo Guarniei ROVERI* Paulo CARRARA** Marco Antonio Coelho BORTOLETO***
Resumo
*Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. **Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, SP, Brasil. ***Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
Reconhecida pela Federação Internacional de Trampolim (FIT) em 1964, a Ginástica de Trampolim passou por uma significava mudança institucional ao ser incorporada à Federação Internacional de Ginástica (FIG) em 1999. Como consequência direta desse processo no âmbito nacional a Confederação Brasileira de Trampolim e Esportes Acrobáticos (CBTEA) foi incorporada à Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). O objetivo deste trabalho foi analisar esse processo de transição institucional e suas consequências no contexto Brasileiro, por meio de pesquisa documental e de um estudo de campo que incluiu entrevistas em profundidade com renomados especialistas brasileiros. Os resultados indicam que alguns aspectos positivos podem ser atribuídos à referida mudança organizacional, como o maior investimento financeiro por meio de patrocinadores oficiais, a maior visibilidade midiática, o aumento e maior regularidade da participação de ginastas brasileiros em campeonatos mundiais e etapas de copa do mundo. Parte destes avanços aconteceu devido a que a Ginástica de Trampolim foi reconhecida como modalidade olímpica em Sydney (2000), fato que modificou sensivelmente a atenção dada por parte das autoridades brasileiras, incluindo o Comitê Olímpico Brasileiro. Não obstante, o desenvolvimento das categorias de base, a formação de treinadores e árbitros, a quantidade de clubes e ginastas federados, bem como a quantidade de federações estaduais ativas, parecem não terem sofrido mudanças significativas, e, em alguns aspectos, mostraram retrocesso se comparamos com o período anterior a sua vinculação da modalidade à CBG. Conclui-se que o desenvolvimento da Ginástica de Trampolim não sofreu todas as mudanças esperadas após sua incorporação à CBG, sugerindo que a mesma ainda encontra-se fora das prioridades dessa entidade, mantendo-se como um esporte em “vias de desenvolvimento” e com importantes problemas estruturais no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Federações Esportivas; Política esportiva; Gestão esportiva; Trampolim.
Introdução Amplamente difundido em âmbito internacional, o Trampolim, modalidade esportiva popularmente conhecida como “cama elástica”, pode se expressar em distintos contextos, tais como: prática recreativa, opção de lazer privado nas próprias casas; ou público, em espaços para festas, hotéis, em parques recreativos, por exemplo. Seu uso como forma de entretenimento-artístico, como em espetáculos de circo, também é comum, e por fi m, enquanto modalidade esportiva de competição, contexto objeto desse estudo. De acordo com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) 1, até por volta de 2003,
a Ginástica de Trampolim era denominada de Trampolim Acrobático, o que gerava muita confusão com a modalidade aquática Saltos Ornamentais. Esse parece ser o principal motivo para a inclusão do termo ‘Ginástica’, antes do ‘Trampolim’. Essa mudança visou ainda seguir as recomendações da Federação Internacional de Ginástica (FIG), entidade responsável pela modalidade e que a define como esporte, no qual os ginastas realizam sequências de saltos acrobáticos, podendo constituir rotinas, nos seguintes aparelhos/equipamentos: Trampolim (popularmente denominada “cama-elástica”), Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:51-62 • 51
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Duplo Mini-trampolim e Tumbling (pista acrobática). Essas acrobacias combinam aspectos como altura, controle corporal, ritmo e velocidade, visando a maior precisão possível, conforme as diretrizes impostas pelos respectivos regulamentos do Código de Pontuação2. Oficializado internacionalmente como esporte competitivo em 1964, com a criação da Federação Internacional de Trampolim (FIT), foi com a incorporação à Federação Internacional de Ginástica (FIG), em 1999, que a modalidade passou a ter maior apoio institucional, sendo incorporada aos
Jogos Olímpicos na edição de Sydney (2000)3. Considerando o desenvolvimento da Ginástica de Trampolim no Brasil, principalmente após a década de 1980, e as mudanças geradas a partir desse novo modelo organizativo, o presente trabalho visou analisar o processo de institucionalização e suas consequências para o desenvolvimento da modalidade no Brasil, dando especial atenção à transição administrativa ocorrida da Confederação Brasileira de Trampolim e Esportes Acrobáticos (CBTEA) para a CBG em 1999.
Método Considerando os objetivos da presente pesquisa, optamos por realizar uma abordagem qualitativaexploratória, visando a compreensão de um processo complexo e com características particulares4. Essa perspectiva de investigação permite ademais, descrever a complexidade de um dado problema, bem como mapear a interação entre os vários aspectos que o compõem, precisamente o que buscamos nessa ocasião. A análise documental, isto é, o estudo sistemático de documentos que ajudem a elucidar problemas de pesquisa, pode ser de grande valor para esse tipo de estudo 5. Desse modo, procedemos com o levantamento e a análise de distintos documentos (regulamentos, boletins, cartazes de divulgação, investigações acadêmicas como resumos, artigos e teses). Por outro lado, o levantamento de dados empíricos, de preferência no próprio local ou por meio de interlocutores (informantes privilegiados) também residem em processos de grande valia. Em consonância, realizamos uma pesquisa de campo que se apresentou como uma possibilidade de conseguirmos uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, e portanto, elaborar conhecimentos partindo da realidade presente no campo6. Como instrumento de obtenção dos dados optamos por realizar entrevistas semi-estruturadas junto a notórios especialistas. Esse procedimento é, segundo Barros e Lehfeld 7, uma técnica que permite o relacionamento estreito entre os pesquisadores e os sujeitos que detém informações relevantes (entrevistados), tratando de produzir uma conversa aberta e prolongada, buscando dados 52 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:51-62
específicos sobre o problema de pesquisa. As entrevistas foram realizadas, conforme orientações indicadas por Flick 8, a partir de um roteiro de perguntas previamente elaborado, que além de questionar os objetivos (gerais e específicos), possibilitavam novos apontamentos e, por conseguinte, o surgimento de perguntas não previstas inicialmente, como é característico dos estudos de natureza descritivo-exploratória9. Ainda segundo a opinião de Flick8, a entrevista semi-estruturada permite acessar os dados “direto da fonte”, um instrumento que, para Triviños4, valoriza o entrevistado e o investigador, oferecendo assim várias perspectivas possíveis para a abordagem do problema e maior liberdade para os sujeitos tratarem do assunto. O projeto de pesquisa foi previamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), via Plataforma Brasil, sendo aprovado conforme parecer – nº 989.213. Conforme as premissas expostas pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os participantes foram voluntários e concordaram em contribuir com a pesquisa uma vez conhecidos os objetivos, cuidados éticos, a metodologia e a finalidade acadêmico-científica do estudo. Estudo piloto
O estudo piloto, ou investigação preliminar, consistiu na aplicação prévia do instrumento de coleta de dados (nesse caso da entrevista) a um sujeito ou um grupo que apresente as mesmas características da população que constituiu a pesquisa, tendo por objetivo
Ginástica de trampolim
revisar e direcionar esse procedimento da investigação10. Segundo Marconi e Lakatos5, o estudo piloto busca ainda verificar se os termos utilizados nas perguntas são compreensíveis aos respondentes, se as perguntas foram entendidas como deveriam ser, se a sequência/ lógica das perguntas está correta, se não há objeções na obtenção das respostas e, finalmente, se o tempo demandado é adequado. Dito isto, foi realizada uma entrevista junto a um experiente treinador da modalidade, selecionado por conveniência, isto é, por não residir na mesma cidade da instituição onde a pesquisa estava sendo realizada, e também por atender ao critério de notório conhecimento do esporte e reconhecimento dentre os especialistas11. Para o registro foi usado um gravador de voz digital e também o gravador de áudio do aparelho celular modelo Motorola Moto X. Após transcrição e a posterior análise dos dados, o roteiro da entrevista teve apenas duas questões modificadas e uma nova pergunta adicionada. Participantes
Os voluntários participantes do estudo foram três profissionais selecionados a partir do critério de notoriedade11, ou seja, são renomados especialistas no assunto, todos com atuação na área a mais de 15 anos, incluindo destacadas carreiras como ginastas, treinadores, árbitros e, em dois casos, como membros federativos.
Dois participantes foram entrevistados no município de Rio de Janeiro – RJ, em locais indicados por eles: o primeiro em seu clube de treinamento, e o segundo em sua residência. Já o terceiro entrevistado foi entrevistado durante o Campeonato Brasileiro de Ginástica de Trampolim, realizado na cidade de Goiânia – GO. O registro das entrevistas foi realizado através de um gravador de voz digital e o gravador de áudio do aparelho celular já citado. Posteriormente, foram realizadas as transcrições literais das entrevistas, processo que visa assegurar a originalidade e a espontaneidade do depoimento, buscando com que o conteúdo não sofra alterações que possam significar a perca da funcionalidade do mesmo12. Análise de dados
O processo analítico pautou-se na Análise de Conteúdo proposta por Bardin13, que consiste num conjunto de procedimentos sistemáticos que visam a organização, classificação e categorização dos dados. As categorias temáticas derivadas foram as seguintes: a) institucionalização da ginástica de trampolim; b) história da ginástica de trampolim no Brasil; c) ações formativas de qualificação profissional; d) mudanças na organização federativa. Finalmente, foi produzido um texto narrativo que relacionam os dados categorizados, buscando a interpretação dos resultados de acordo com os objetivos estabelecidos.
Resultados e Discussão A institucionalização da ginástica de trampolim
Embora tenha se desenvolvido como esporte na década de 1940, foi em 22 de março de 1964, foi criada em Londres a Federação Internacional de Trampolim (FIT) com 42 membros federados. O suíço Sr. René Schaerer foi eleito Presidente e o Sr. Erich Kinsel como Secretário-Geral. Em 21 de março do mesmo ano, o Royal Albert Hall em Londres sediou o primeiro Campeonato Mundial, evento que consagrou Judy Wills e Dan Millman (EUA) como os primeiros campeões mundiais na modalidade14. Nos anos seguintes, outras provas foram desenvolvidas no contexto mundial. O Trampolim Sincronizado e o Tumbling entraram para os campeonatos Mundiais a partir de 1965; já o Duplo Mini-Trampolim foi
incluído em 1976, da edição realizada em Tulsa, nos EUA. Vale ressaltar que, apesar de o Tumbling ter sido inserido em 1965, só foi assumido como uma “disciplina” pela FIT em 197614. Em 1985, segundo a FIG, a disciplina passa a fazer parte do programa do World Games em Londres (GBR). Em 1988, a FIT foi reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), fato crucial para o Trampolim iniciar o projeto de fazer parte dos Jogos Olímpicos. Durante o ciclo 1993-1996, o presidente da FIT Ron Froehlich14 e seu Secretário Geral, Sr. André Gueisbuhler, desenvolveram uma estratégia para ampliar o número de países atuantes na modalidade incluindo uma demonstração no dia 30 de maio de 1996 na área externa do Museu Olímpico em Lausanne (Suíça), com a presença de diversas autoridades Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:51-62 • 53
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Olímpicas, entre elas o presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, membros do COI, membros do Comitê Técnico da FIT, do presidente da FIG, Sr. Yuri Titov, bem como os melhores trampolinistas daquela época. Após o Congresso da FIG realizado em Vilamoura (Portugal) em maio de 1998 e o Congresso da FIT em Sydney (Austrália) realizado no mesmo ano, a incorporação da modalidade foi aceita e ratificada por ambas instituições. Desse modo, no final de 1998 a FIT foi dissolvida e em 1 de janeiro de 1999 as modalidades já existentes na FIT (Trampolim, Tumbling e Duplo Mini-Trampolim) foram incorporadas à FIG. Durante os anos seguintes a modalidade sofreu algumas modificações até alcançar a configuração atual. Por fim, as competições de “Trampolim individual” (masculino e feminino) foi incluída no programa olímpico em Sydney (2000). Notas sobre a história da Ginástica de Trampolim (GTR) no Brasil
No Brasil, um dos principais fatores que contribuiu para o desenvolvimento do Trampolim como modalidade esportiva foi a vinda do professor alemão Dr. Hartmut Riehle em 1974. O referido professor, que acumulava grande experiência na área, incluindo o título de Campeão Mundial em 1967, ministrou cursos de Ginástica Artística nos estados de SP e RJ, abordando também o Trampolim. Motivado por essa ação, o professor paulista José Martins Oliveira Filho inscreveuse no curso de especialização em ginástica da Universidade de Colônia (Alemanha) e, ao retornar, iniciou aulas de Trampolim na Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP). Durante este período, a modalidade foi “agregada” à Federação Paulista de Ginástica (FPG), começando ademais a ser desenvolvida em outras regiões brasileiras. A partir de 1976 o Trampolim passou a ser utilizado na preparação acrobática de ginastas nos clubes brasileiros de Ginástica Artística. Ainda em 1976, inicia-se a prática competitiva de Trampolim no Brasil, graças a realização do primeiro campeonato de Mini-trampolim, ocorrido no Clube Ginástico Desportivo do Rio de Janeiro (CGDRJ), evento organizado pelo professor Sergio Bastos, ex-ginasta de Ginástica Artística e um dos principais entusiastas e incentivadores do Trampolim no Brasil. Assim, o Torneio Intercidades do Estado de 54 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:51-62
SP, pode ser considerado pioneiro e um marco para o surgimento da modalidade esportiva Trampolim Acrobático no país. Realizado no Ginásio do Ibirapuera em 1984, contou com a participação de ginastas das cidades de São Paulo, Sorocaba e Guarulhos. Dois anos depois, em 1986, realizou-se o primeiro campeonato interestadual de Trampolim do Brasil durante a 5ª Copa Vasco da Gama de Ginástica, com a participação da Equipe da Academia FIT (SP) e do C. R. Vasco da Gama (RJ). Neste primeiro momento, de acordo com os sujeitos entrevistados, desde o aparecimento da prática no país até o final da década de 1980, as atividades desenvolvidas em trampolins tinham, em sua maioria, fins meramente recreativos. Porém, a prática modalidade sofreu um grande crescimento e uma maior difusão a partir da adoção do Trampolim no treinamento das Forças Armadas uma vez que a corporação começou a realizar apresentações públicas. O uso do Trampolim no treinamento da Ginástica Artística foi de primordial importância para que alguns de seus ex-praticantes assumissem o compromisso de desenvolver a “nova” modalidade. A partir de então, com o aperfeiçoamento técnico dos professores, a realização das outras competições e a aquisição de equipamentos apropriados, esse esporte passou a ser desenvolvido de modo mais organizado no Brasil. Durante o ano de 1989, considerado um período “divisor de águas” para o trampolinismo no país, foi criada a primeira federação de Trampolim do Brasil, a Federação Paulista de Trampolim (FPT), embora esta entidade não tenha sido oficializada legalmente. Em julho do mesmo ano, um grupo de professores e atletas brasileiros de SP e RJ, liderados por José Martins, participaram de um Curso Técnico de Trampolim, na Universidade de Konztanz (Alemanha). Durante este curso, os brasileiros foram orientados a fundar uma federação própria. Logo, no dia 1º de dezembro, professores e dirigentes de várias entidades fundaram a Federação de Trampolim e Ginástica Acrobática do Estado do Rio de Janeiro(RIOTRAMP), a primeira federação estadual de Trampolim oficializada no Brasil, sendo o Prof. Sérgio Bastos eleito Presidente. A partir de então, o Trampolim passou a ser desenvolvido como modalidade esportiva de competição. Em Setembro de 1990 foi realizado o I Campeonato Brasileiro de Trampolim Acrobático,
Ginástica de trampolim
na cidade de Mogi Mirim-SP. Durante o evento foi fundada a Associação Brasileira de Trampolim Acrobático (ABRATA), sendo eleito José Martins como Presidente. Neste mesmo ano a ABRATA filiou-se à FIT, oficializando e projetando o Trampolim Brasileiro no cenário internacional, tornando possível a estreia do Brasil em campeonatos Mundiais da modalidade.
No mesmo ano, o país contou como representante o ginasta Christiano Andrade, orientado por José Martins. O empenho de muitos aficcionados, com destaque para os já mencionados José Martins e Sérgio Bastos (FIGURA 1), projetou o trampolim a um outro patamar, obtendo inclusive alguns bons resultados em competições internacionais.
FIGURA 1 - Sergio de Almeida Bastos e José Martins de Oliveira Filho, pioneiros do desenvolvimento do Trampolim no Brasil.
A realização de clínicas e cursos técnicos ministrados por diferentes especialistas, alguns estrangeiros, assim como a par ticipação regular de brasileiros nos principais eventos internacionais permitiu maior investimento em equipamentos e uma considerável melhora
na preparação dos ginastas, como destacam distintos documentos, como o informativo “Trampolim” (FIGURA 2), uma espécie de jornal que costumava ser distribuído mensalmente e gratuitamente pela Confederação Brasileira de Trampolim e Esportes Acrobáticos (CBTEA):
F o n t e : “ Tr a m p o l i m ” CBTEA - 1ª edição 1997Acervo pessoal Sergio Bastos.
FIGURA 2 - Divulgação de cursos sobre Trampolim.
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Ações formativas de qualificação profissional
Os dados obtidos indicam que o desenvolvimento do Trampolim no Brasil aconteceu baseado num tripé composto por: a ação de alguns treinadores entusiastas; a disponibilidade de locais adequados; e a aquisição de materiais de qualidade (trampolins). Quando algum desses elementos não era atendido, os problemas eram rapidamente notados. No caso das ações realizadas na cidade do Rio de Janeiro, o apoio do Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ) (FIGURA 3), local de trabalho do Prof. Sergio Bastos, é destacado como fundamental. Para além de oferecer um espaço adequado para o treinamento, a instituição sediou inúmeros cursos, adquiriu
equipamentos importados e deu suporte para a visita de diversos especialistas estrangeiros (mais de 10), mesmo sem suporte financeiro externo. Vale ressaltar que muitas ações tiveram seus custos (totais ou parciais) pagos com recursos dos próprios treinadores e ginastas, caracterizando essa como uma fase de “autofinanciamento” da modalidade. De fato, e de modo ilustrativo, os discursos relatam que aproveitando as competições internacionais, por exemplo, era comum trazer molas, telas (redes), e outros acessórios divididos nas malas. Os relatos indicam que “ser criativo” não era uma opção nesse período, mas uma necessidade; logo, as ações e conquistas à época podem ser atribuídas mais a um esforço coletivo do que às políticas e ao financiamento institucional (federativo).
FIGURA 3 - Equipe do Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ) liderada por Sergio Bastos (canto inferior esquerdo da foto) após participação no Campeonato Brasileiro de 1997.
Em 1995, foi realizado o 1º Curso Internacional de Arbitragem da FIT no Brasil, mais precisamente na cidade de São Paulo, formando os primeiros árbitros brasileiros com brevê para atuar em eventos internacionais. Neste ano, a prática da modalidade já estava oficialmente presente em oitos estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Pernambuco, Espírito Santo e Minas Gerais. Também em 1995, na cidade de Guarulhos-SP, foi fundada a Confederação Brasileira de Trampolim e Esportes Acrobáticos (CBTEA) (FIGURA 4), substituindo a ABRATA nacionalmente e também na representação nacional junto à FIT. 56 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:51-62
Entre 1997 e 1998 a prática esportiva do Trampolim atingiu seu ápice no Brasil, com aumento no investimento, nos cursos e nas participações de ginastas e treinadores em eventos internacionais. Os relatos indicam a presença de mais de 600 ginastas nas competições nacionais, representando uma grande quantidade de clubes. Esses números parecem ter diminuído, tendo em 2017, apenas 133 ginastas no campeonato brasileiro, mesmo considerando essa a primeira competição após o Brasil ter sediado os jogos olímpicos, quando teve consumada a primeira participação de um ginasta brasileiro (Rafael Andrade) nesse evento.
Ginástica de trampolim
FIGURA 4 - Logomarca da CBTEA.
Mudanças na organização federativa
Durante o congresso da modalidade realizado por ocasião do Campeonato Mundial de 1998 na cidade de Sidney (Austrália), foi apresentada a proposta de inclusão do Trampolim como disciplina olímpica. Para isso ocorrer seria necessária uma mudança organizacional radical, bem como adequações nas regras do esporte. Em outras palavras, a FIT foi dissolvida e a Ginástica de Trampolim incorporada à FIG. Neste congresso, cinco membros da FIT foram eleitos e selecionados para compor o Comitê Técnico de Trampolim da FIG, que incluiria ademais outros dois membros indicados pela FIG, totalizando sete membros. O conhecimento sobre o Trampolim por parte da FIG ainda era restrito, por este motivo a organização dos campeonatos mundiais nos anos posteriores à mudança teve a colaboração ativa de “antigos membros da FIT” na sua base, incluindo seu presidente. Na opinião dos sujeitos entrevistados, a expectativa inicial dos brasileiros diante dessa mudança institucional, foi extremamente positiva, principalmente pelo fato do Trampolim ter melhores opções de tornar-se um esporte Olímpico e assim ampliar sua visibilidade no meio da ginástica, contexto dominado pela Ginástica Artística e Rítmica até aquele momento. Acompanhando a dinâmica internacional, ao retornarem ao Brasil após o Campeonato Mundial da Austrália os brasileiros representantes da CBTEA propuseram a CBG constituir uma fusão similar à ocorrida no âmbito internacional, que incluía a
criação de um comitê técnico composto por cinco membros da CBTEA e dois membros da CBG. Na época a CBG aceitou a proposta, porém decidiu constituir o Comitê Técnico por representantes indicados por ela, os quais na sua maioria não tinham ampla experiência na modalidade. Dessa forma, em 1999 foi oficializada a inclusão do Trampolim como mais uma disciplina gerida pela CBG – incluindo-a em seus estatutos legais, passando essa entidade a representar o Brasil junto à FIG. A seguir, em 2000, foi criado o Comitê Técnico de Trampolim na CBG, com o ex-atleta de Ginástica Artística, Marco Monteiro, no comando. Embora as expectativas fossem positivas, parece que de um modo geral os resultados dessa mudança não foram na direção esperada, ao menos no entendimento dos entrevistados. Equívocos no planejamento e nas ações fomento por parte da CBG foram apontados como responsáveis por uma “relativa estagnação” do esporte no âmbito nacional. Afirmou-se que a CBG não tinha conhecimento específico, passando a gerir o Trampolim de modo similar ao usado com a Ginástica Artística, modalidade mais consolidada e com maior prestígio na entidade. No entanto, considerando as diferenças entre essas modalidades e, por conseguinte, a necessidade de um projeto adequado às suas particularidades, os resultados não foram satisfatórios. De fato, a forma de gestão da FIT mudou significativamente no período da CBG, gerando percepções de descontentamento como a seguinte: “Enquanto nós éramos autônomos <somente trampolim>, nós realmente tínhamos mais autonomia e liberdade e desenvolvíamos muito mais a modalidade do que hoje” (Entrevistado 3). Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:51-62 • 57
Roveri MG, et al.
Queixas como a que temos a seguir, balizaram os relatos obtidos: Na CBTA, não tínhamos nenhum apoio financeiro do governo, tudo era financiado pelos próprios ginastas, então era uma iniciativa privada, entendeu? Já com CBG chegando, começou a haver um patrocínio, a CBG paga para os ginastas irem e ainda dá uma ajuda de custo para os ginastas, e isso não havia antes. Nós íamos para muitos campeonatos, o último campeonato que nós fomos como CBTEA foi em 1998 e fomos com 80 ginastas no age group e no elite tínhamos 20 e poucos, algo assim. E tinha o caso também que íamos com 26 treinadores, porque tínhamos uma norma de que se você tinha um atleta na competição, o atleta tinha que ir com seu treinador, não podia ser outro. Se o treinador não fosse, o atleta também não iria, porque era uma maneira de incentivar os treinadores, porque se você quer que o esporte se desenvolva, você precisa trabalhar o treinador, porque atleta você tem em todo lugar (Entrevistado 1).
Considerando a atuação das federações estaduais e da própria CBG em relação às categorias de base, e também à formação e à realização de cursos a opinião geral é de que continua sendo escassa, ou insuficiente. De fato, foi relatado que durante muitos anos, a delegação brasileira foi prejudicada em campeonatos mundiais por só levar dois árbitros internacionais (Carlos Werneck e Marcos Antônio de Oliveira). Embora tenham sido realizados cursos nacionais de arbitragem ainda é notório o déficit de árbitros qualificados para atuarem, seja nos eventos nacionais e, principalmente, nos internacionais. Foi mencionado, inclusive que a CBG não organiza nenhum curso nacional de arbitragem porque espera que as federações estaduais solicitem (demandem) ou mesmo que essas entidade realizem seus próprios cursos. Como a maioria das federações estaduais de ginástica no Brasil carecem de interesse e organização na modalidade, a situação tende a não modificar-se, a não ser que a CBG modifique sua política de atuação. Foi apontado que atualmente a federação estadual que está mais bem estruturada e organizada na modalidade é a do estado de Minas Gerais. Lamentavelmente, federações como a do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, não têm realizado campeonatos estaduais com regularidade, nem promovido cursos de formação continuada. Há um entendimento entre os especialistas consultados de que se as federações estaduais não têm condições 58 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:51-62
ou não estão atuando de modo adequado, caberia à entidade máxima do país, a CBG, assumir esse lugar visando o fomento do esporte. Ressaltou-se a necessidade urgente de mais cursos de formação de árbitros nacionais, condição que poderia tornar as competições mais bem organizadas, bem como prover os clubes de melhor apoio técnico. Cursos de atualização, como os oferecidos pela FIG com o Programa FIG Academy, são fundamentais, salientaram os entrevistados. Não menos importante, investimentos para a qualificação dos árbitros brasileiros atuarem em competições internacionais, são destacados como de caráter urgente. De acordo com as regras gerais dos árbitros da FIG2, há quatro categorias de árbitros (IV, III, II e I), sendo a categoria I a mais alta. A habilitação nessas categorias (brevê) determina a atuação, bem como as funções que os árbitros exercerão em eventos internacionais. Nesse sentido, cabe indicar que para o ciclo olímpico 20132016, conforme disponível no site da FIG15, o Brasil possuía nove árbitros habilitados no Trampolim, 18 no Duplo-Mini Trampolim e sete (07) para as provas de Tumbling. Somente dois árbitros da categoria III para a prova de Trampolim, cinco árbitros da categoria III e três da categoria II na prova de Duplo-Mini Trampolim e um árbitro da categoria III na prova de Tumbling, sendo o restante da categoria IV. Fica patente a carência de árbitros em níveis superiores, condição que para os especialistas consultados é fundamental para o desenvolvimento do esporte nacional e internacionalmente. Comentários recorrentes revelaram que desde que a CBG assumiu a gestão da modalidade, houve apenas um curso oficial FIG ministrado pelo português Luis Nunes, no Rio de Janeiro em 2010. Alguns envios esporádicos de treinadores para realizar cursos FIG Academy foram mencionados, porém os conhecimentos adquiridos não são compartilhados de modo sistemático para os demais treinadores brasileiros. Considerando que muitos profissionais migraram da Ginástica Artística para a Ginástica de Trampolim, a formação desse contingente torna-se ainda mais necessária. Em outras palavras: Se você vê um atleta saltando bem ou mal, a culpa é do técnico. Se você sabe que o atleta é bom, o técnico é bom. Se você olha para o atleta e vê que o cara é ruim, você sabe que o técnico também é ruim. Para você subir no trampolim, você tem que ter alguém embaixo com o colchão para segurar você, para te dar
Ginástica de trampolim
as orientações necessárias para você saltar bem, e se você não tem isso durante o treinamento, não será durante a competição que você vai ter. E na competição fica muito claro, reflete toda essa situação (Entrevistado 2).
O atual nível técnico dos ginastas em campeonatos brasileiros mostra-se um reflexo da condição acima apontada. De fato, desde que o Trampolim passou a ser gerido pela CBG, houve uma considerável rotatividade dos representantes da modalidade e, segundo os entrevistados, parte dos que assumiram esse cargo não atuaram de modo democrático e holístico. Como consequência, diversos equívocos, incluindo a elaboração de regulamentos nacionais questionáveis, parecem ter contribuído para o declínio do nível técnico apresentado nos campeonatos brasileiros dos últimos anos. Um exemplo mencionado foi o uso de apenas
dois elementos obrigatórios nas séries de Trampolim durante vários anos, regra que para os especialistas contribuiu negativamente para a modalidade. Esta situação no Brasil começou a melhorar a partir do momento em que as séries obrigatórias passaram a ser completas, a partir de 2009, ou seja, com dez saltos obrigatórios numa sequência pré-estabelecida. De fato, atualmente2 segue-se no Brasil o regulamento FIG16 (TABELA 1) para todas as categorias em competições oficiais, o que tem facilitado o planejamento dos treinamentos das equipes bem como a participação nos campeonatos internacionais. De acordo com cada categoria competitiva, ocorre o avanço na complexidade da série, com o aumento da dificuldade dos saltos. Há a opção de séries obrigatórias para as categorias iniciais, o que também facilita o trabalho de treinadores menos experientes.
TABELA 1 - Requerimentos obrigatórios para as rotinas de Ginástica de Trampolim de acordo com a categoria. Categoria (idade)
Requerimento
9-10
Um elemento na posição carpada
Um elemento com aterrissagem dorsal
Um elemento com aterrissagem frontal
-
-
11-12
Dois elementos com pelo menos 270º de rotação de mortal
Um elemento com aterrissagem dorsal
Um elemento com aterrissagem frontal
Um mortal para frente com meia volta grupado (Barani)
-
13-14
Quatro elementos com pelo menos 270º de rotação de mortal
Um elemento com aterrissagem dorsal
Um elemento com aterrissagem frontal
Um mortal para frente com meia volta carpado (Barani)
Um Mortal para trás carpado (Back)
15-16
Seis elementos com Um elemento de pelo menos Um elemento com aterrissagem dorsal mortal em combi270º de ou frontal nação com o item rotação de anterior mortal
Um elemento com 360º de mortal e pelo menos 360º de pirueta
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Por outro lado, com a oficialização do Trampolim como esporte olímpico, a visibilidade da modalidade ao menos junto às instituições de fomento esportivo, dentre elas o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), melhorou significativamente. Os sujeitos indicaram que, apesar da dificuldade na relação com a CBG, há um lado claramente positivo nesse processo, relacionado principalmente com o acompanhamento dos calendários internacionais, aumentando a participação de ginastas brasileiros em campeonatos mundiais e etapas de copa do mundo, e, mais adiante, com a
aquisição de equipamentos oficiais homologados pela FIG, a partir de fundos provenientes do Ministério do Esporte, por exemplo. Não obstante, a falta de manutenção adequada nos equipamentos, bem com a substituição periódica das molas e telas, foi e ainda é um problema para o esporte, criando problemas, inclusive, durante a realização de alguns campeonatos brasileiros. Em outras palavras, há a percepção de ganhos a partir da nova organização institucional, porém frequentemente salientada como mais lenta e ainda frágil frente às necessidades de um esporte olímpico.
Considerações finais Observamos que a atuação das federações estaduais e da CBG em relação às categorias de base, à formação continuada e realização de cursos de arbitragem não mostrou melhoras significativas respeito ao período anterior, cuja gestão era realizada pela CBTEA. Os aspectos positivos destacados após o inicio da administração por parte da CBG foram o cumprimento de calendários internacionais, além do aumento da participação de ginastas brasileiros em campeonatos mundiais e etapas de copa do mundo, impulsados fundamentalmente por um aumento no financiamento a partir de recursos de patrocínios, verbas federais e de programas dos COB (visando a participação olímpica). Contudo, de um modo geral, o desenvolvimento da GTR no Brasil parece estar estagnado, isto é, não revelando grandes avanços ou mesmo sua consolidação esportiva. De fato, as fontes ressaltam que enquanto a GTR teve como entidade responsável a CBTEA, vinculada à FIT, houve um maior crescimento, consequência do esforço e dedicação de alguns entusiastas. Ao ser integrada à FIG e consequentemente à CBG, seu desenvolvimento não prosperou como era esperado. Para alguns, inclusive, desacelerou. Se o fato de tornar-se modalidade olímpica
foi relevante no cenário internacional, mudando a realidade do esporte em muitos países (China, Canadá, Alemanha, Japão, entre outros), no Brasil o impacto não foi na mesma proporção. Embora se reconheçam ações positivas na gestão realizada pela CBG de um modo geral as opiniões convergem no sentido de que a entidade não conseguiu dar continuidade ao trabalho desenvolvido pela CBTEA. A aquisição de novos equipamentos de competição, também usados para treinamento das seleções nacionais, e a maior participação em eventos internacionais, constituem, sem dúvida, os aspectos de maior relevância após a mudança institucional. Assim sendo, o presente estudo sugere a necessidade de maior atenção das instituições (federações estaduais, CBG, COB, Ministério do Esporte, ...) para a a GTR, bem como a urgência de um plano/projeto em longo prazo para seu desenvolvimento, além do incremento e maior regularidade da realização de cursos para treinadores e árbitros. Com isso espera-se aumentar a quantidade e a qualificação dos profissionais atuantes, bem como fomentar a GTR no âmbito dos clubes e dos programas esportivos municipais, principalmente para além da região sudeste, como também sugeriram Pol et al (2006)17.
Agradecimentos Ao CNPQ pelo financiamento parcial dessa pesquisa; aos professores Sérgio Bastos, José Martins, Marcos Oliveira e Marília Bernardeli pelos documentos disponibilizados.
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Ginástica de trampolim
Abstract Trampoline gymnastics: studying the institutionalization process and its consequences in Brazil Recognized by the International Trampoline Federation (FIT) in 1964, Trampoline Gymnastics went thru a significant institutional change being incorporated to the International Gymnastics Federation (FIG) in 1999. As a consequence of this process, in national context, the Brazilian Confederation of Trampoline and Acrobatic Sports (CBTEA) was incorporated to the Brazilian Gymnastics Confederation (CBG). The aim of this study was to analyse this institutional transition process and it’s consequences to the Brazilian context, by means of documental and field research, including in deep interviewing with three renowned Brazilian experts. The results shows that some positive aspects may be attributed to the referenced institutional changel, as higher financial investment by official sponsors, higher media visibility, rise and greater regularity of Brazilian gymnasts participation in world championships and world cups. These advances might understand considering that the Trampoline Gymnastics became an Olympic sport in Sydney (2000), changing significantly the attention given by the Brazilian authorities, including Brazilian Olympic Committee (COB). However, the development of base categories, coaches and judges education, the quantity of clubs and gymnasts federated and the number of state federations affiliated might not had suffered considerable changes, or even, had reduced if compared with occurred previously to CBG affiliation. We concluded that Trampoline Gymnastics development did not undergo over the expected changes within CBG incorporation, positioning out that this sport discipline is out of its priorities and standing as a sport “under development” with evident structural problems in Brazil. KEYWORDS: Sports Federations; Sports Policy; Sport management; Trampoline.
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Roveri MG, et al.
16. Confederação Brasileira de Ginástica. Regulamento técnico 2016: ginástica de trampolim - programa competitivo. Aracaju: CBG; 2016. 17. Pol DOC, SteiglederF, Dornellles, ASN, Padilha, JCN. Trampolim acrobático: um pouco de história e de competição. Ef. Deportes, Ano 11, n. 98, junho, 2006.
ENDEREÇO
Marco Antonio Coelho Bortoleto Av. Érico Veríssimo, 701 - Geraldo 13083-851 - Campinas - SP - BRASIL e-mail: bortoleto@fef.unicamp.br
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Motivação para o início da prática de ginástica rítmica
Motivação para o início da prática de ginástica rítmica http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10063
Laura de OLIVEIRA* Maurício Santos OLIVEIRA** Vítor Ricci da COSTA* Myrian NUNOMURA*
Resumo
*Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. **Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil.
O objetivo do presente estudo foi identificar e analisar os motivos que incentivam as crianças a iniciar a prática de Ginástica Rítmica (GR). Entrevistamos 10 ginastas do sexo feminino, com idades entre 7 e 10 anos, que compõe a equipe de GR do município de Cotia. Procedemos a entrevista semiestruturada e utilizamos a técnica de “Análise de Conteúdo” para o tratamento dos dados. A partir dos resultados identificamos motivos de origem extrínseca e intrínseca que influenciaram a escolha das ginastas pela modalidade. Destacamos que os fatores extrínsecos foram mais evidenciados pelas ginastas, entre outros fatores, particularmente, pela influência social dos pais e amigos. Os resultados podem auxiliar os treinadores a tornar a prática esportiva mais atraente e, consequentemente, promover a permanência e a obtenção do potencial máximo no esporte, sobretudo em um esporte em que a especialização esportiva ocorre em tenra idade. PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia do Esporte; Iniciação Esportiva; Formação Esportiva; Esporte na Infância.
Introdução O Espor te é um fenômeno sujeito às transformações constantes, de caráter plural e heterogêneo¹. O fato sugere a forte relação entre as necessidades de adaptações de acordo com seu sentido e o ambiente social em que o indivíduo está inserido. Ao pensarmos no ambiente de iniciação esportiva, observamos que na Ginástica Rítmica (GR) os métodos utilizados no processo de ensino-aprendizagem têm forte cunho cultural. E, é comum que o sucesso nessa modalidade esteja vinculado à aquisição de habilidades complexas durante a infância, devido à exigência de ampla variedade de movimentos coordenativos com grande potencial de serem desenvolvidos e treinados nessa fase. Essa condição influencia positivamente no aprendizado e no domínio das habilidades de manipulação de objetos, que é a essência da GR². Dessa forma, os treinadores são incentivados a orientar crianças ainda muito novas para o aprendizado intensivo de habilidades específicas e, por vezes, poderiam negligenciar as necessidades e os interesses dos praticantes.
O alto rendimento exige muita dedicação do atleta e é um processo de formação progressivo que demanda tempo. Bompa³ cita que sejam necessários, no mínimo, 10 anos de prática contínua. Desse modo, modelos de progressão na carreira esportiva são analisados, discutidos e desenvolvidos com a finalidade de compreender e explicar as variáveis que interferem nessa trajetória. O esporte pode proporcionar diversas experiências e diferentes emoções. Assim, torna-se importante analisar os diversos fatores presentes na iniciação esportiva dentro desse ambiente. E, sobretudo, que os profissionais compreendam aqueles fatores motivacionais que influenciam, vigorosamente, nesse processo, ou seja, as razões e os motivos que levam o indivíduo a iniciar a prática esportiva. Em todo e qualquer ambiente, conteúdo ou situação, a motivação é vista como um dos elementos centrais para a condução das informações percebidas na direção dos comportamentos4,5. Por conseguinte, a motivação torna-se essencial, também, para a iniciação esportiva, e no esporte em geral6. Ao percorrermos a literatura, verificamos que a Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:63-72 • 63
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motivação pode ser identificada por dois grandes grupos. Quando a satisfação do sujeito não é separada do objeto de aprendizagem e essa não depende de fatores externos, nomeia-se motivação intrínseca. Em contrapartida, a motivação extrínseca está associada ao determinismo e aos fatores externos ao indivíduo e que envolvem a aprendizagem, a obtenção de medalhas, aos salários, à interação social, entre outros7. Segundo Weinberg e Gould 8, as pessoas intrinsecamente motivadas se esforçam internamente para serem competentes e autodeterminadas, a fim de dominar a tarefa proposta. Essas são pessoas que participam por amor ao esporte e apreciam a competição, gostam de ação e ativação, mantém-se focadas na diversão e querem aprender o máximo de habilidades possíveis. Em geral, o início da prática esportiva é prazeroso, no entanto, à medida que a prática esportiva se estende e progride, as crianças e jovens vivenciam emoções, tanto positivas quanto negativas, como prazer ou frustrações. O prazer pode estar relacionado ao sucesso na realização de movimentos, ao alcance de objetivos e às competições das quais participam. As frustrações e sensações adversas ocorreriam quando seu potencial não correspondesse aos objetivos determinados, sejam eles em relação aos movimentos ou às competições. Ou ainda, quando não atendessem as expectativas de outros, como treinadores e pais. Além do prazer, outros fatores influenciariam a prática esportiva de crianças e jovens, como: a autorrealização; a diversão; a influência de outros (família, amigos, professores) e da mídia; a afinidade com o treinador, entre outros.
Os autores Weinberg e Gould8 propõem que a motivação para a prática esportiva depende da interação de elementos individuais (personalidade, necessidades e objetivos) e situacionais (esporte competitivo ou não, estilo do treinador). Essa interação de fatores gera muitas implicações para os profissionais envolvidos nesse processo. E, para aqueles esportes que não possuem muita tradição no país, como a GR, é interessante criar estratégias para que crianças e jovens passem a se envolver e se manter na prática. O papel dos treinadores é essencial, pois eles devem conhecer e compreender os fatores motivacionais, explorá-los de forma positiva e mantê-los presentes, principalmente, durante a iniciação esportiva. Alguns profissionais se esquecem ou negligenciam os fatores motivacionais e, por vezes, se queixam do grande número de desistências entre os praticantes, mas sem analisar ou refletir sobre a causa. É possível que o abandono da prática e a falta de conhecimento e/ou de habilidade dos profissionais em lidar com crianças pouco motivadas estejam relacionados. O conhecimento e a compreensão de fatores motivacionais para a prática esportiva auxiliariam os profissionais a atuar em direção aos objetivos, interesses e necessidades dos praticantes, e tornaria essa experiência mais interessante, eficaz e prazerosa. E, assim, aumentariam as chances de minimizar o nível de desistência e também colaboraria na promoção da modalidade. O objetivo do presente estudo foi identificar e analisar os motivos que incentivam as crianças e os jovens a iniciar a prática de GR. No presente estudo, analisamos os fatores na perspectiva da Pedagogia, e discutimos o papel treinadores nesse processo.
Método Optamos pela pesquisa qualitativa que está centrada em descrever, analisar e interpretar as informações coletadas na investigação, na tentativa de entendê-las, de forma contextualizada, sem a
preocupação em generalizar os dados. Esse tipo de pesquisa responde às questões muito particulares e trabalha com o universo de significados, de motivos, de aspirações, de crenças, de valores e de atitudes.
Participantes
As ginastas que fizeram parte do universo de estudo são da equipe de GR do município de Cotia, São Paulo, e representam a cidade em diversas competições, dentre elas, estaduais e nacionais. O grupo existe há mais de uma década e, devido 64 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:63-72
ao volume de meninas, é dividido em três turmas: iniciante, intermediária e avançada. Os treinos acontecem no Ginásio de Esportes Municipal de Cotia, onde as ginastas foram entrevistadas. A equipe não possui nenhum tipo de patrocínio vindo
Motivação para o início da prática de ginástica rítmica
de iniciativa privada, apenas subsídios municipais. Assim, o projeto é mantido pela Prefeitura de Cotia e, como a maior parte das meninas que compõe a equipe é de origem humilde, elas não têm gastos, tanto para utilizar o Ginásio, como para as aulas. Os responsáveis necessitam realizar a inscrição na secretaria do ginásio e as crianças iniciam quando houver vagas. Fizeram parte do estudo 10 (dez) ginastas com idades entre 7 e 10 anos, do sexo feminino, da turma iniciante, que praticam a modalidade três vezes por semana há pelo menos 1 (um) ano. O tempo de prática foi utilizado como recorte da pesquisa. A turma iniciante tem aulas com duração de uma hora com duas professoras que, também, são ginastas da mesma equipe, no entanto, da turma avançada.
sobre a procedência, objetivos do estudo e a importância de sua participação. Foi entregue para cada participante um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi assinado pelos responsáveis legais e um Termo de Assentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos responsáveis e pelas crianças. Foi solicitada permissão para registrar as entrevistas em áudio e as crianças foram entrevistadas individualmente em seu respectivo local de treino. O anonimato dos participantes e o acesso aos dados da pesquisa estão mantidos em sigilo. Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (Processo CAAE n° 61276216.3.0000.5659).
Coleta de dados
Para o tratamento dos dados, utilizamos a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin10, definida como: “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (p. 44). Para a aplicação da técnica, seguimos as seguintes etapas: 1. Pré-análise: os dados foram organizados fisicamente por meio da transcrição integral das entrevistas; 2. Exploração do material: os dados foram codificados por meio do estabelecimento de Categorias com suas respectivas unidades de registro e de contexto.As categorias surgiram do agrupamento das unidades de registro. 3. Inferência: refere-se aos pontos que o pesquisador pode se concentrar ao realizar uma análise, ou seja, os emissores e suas mensagens. Após a organização dos dados, foi feita a análise temática, que segundo Bardin10, “através de um sistema de categorias aplica-se uma teoria (corpo de hipóteses em função de um quadro de referência)” (p. 221).
Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semi-estruturadas. Segundo Triviños9, a entrevista semi-estruturada é aquela que, a partir de questionamentos básicos, previamente elaborados e baseados em teorias e hipóteses referentes à pesquisa, permite novos questionamentos conforme vão emergindo novas hipóteses provenientes das respostas do entrevistado. Esse tipo de entrevista combina perguntas abertas e fechadas e, a partir de questões previamente elaboradas (roteiro), o entrevistado pode discorrer ou não a respeito do assunto. Nesse contexto, o entrevistador pode conduzir a discussão para chegar ao assunto que o interessa, fazendo com que as questões que não ficaram tão claras se tornem mais nítidas. As entrevistas semi-estruturadas costumam ser utilizadas quando há necessidade de delimitar o volume de informações e obter um maior direcionamento para o tema. Permitem também que os indivíduos do estudo tenham maior liberdade de se expressar. Utilizamos um roteiro norteador das entrevistas que foi definido após a aplicação do estudo piloto. Antes da coleta, os entrevistados foram esclarecidos
Análise dos dados
Resultados As ginastas relataram fatores motivacionais de origem intrínseca e extrínseca que influenciaram
o início da prática de GR, conforme verificamos no QUADRO 1.
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Oliveira L, et al. QUADRO 1 - Motivação para o início da prática de Ginástica Rítmica. Categoria
Subcategoria
Unidade de Registro Características do Esporte Influência do Treinador
Motivação de origem Extrínseca
Influência dos Pais Influência da Mídia
Motivação para o início da prática de Ginástica Rítmica
Amigos Competições/Apresentações Motivação de origem Intrínseca
Prazer pela prática Para ser uma atleta
Na sequência do texto, apresentamos as Unidades de Contexto que melhor representam as Unidades de Registro.
Discussão Motivação extrínseca
Segundo Ryan e Deci11, a motivação extrínseca pode ser identificada quando o motivo que impulsiona o indivíduo à determinada ação está relacionado a fatores externos de reconhecimento ou recompensas, como: prêmios, influência da mídia, influência dos pais, dos treinadores e amigos. Assim, é perceptível que o meio social exerce influência significativa nas escolhas dos indivíduos. Na continuação do texto, discutiremos as Unidades de Registro relativas à motivação de origem extrínseca. Características do esporte
Para Frutuoso, Kraeski e Krebs 12, a GR é uma modalidade que envolve muita beleza e plasticidade, pois é um esporte que alia a expressão corporal e o manejo de aparelhos com a música, sem que o caráter esportivo e o desafio sejam perdidos. Logo, tem como forte característica ser um esporte de demonstração. Em uma competição, a equipe vencedora é aquela que fez esteticamente “mais bonito”, com menos erros e executa elementos de maior valor de acordo com o Código de Pontuação. Essas características fazem com que várias pessoas sejam atraídas por esse esporte e queiram praticá-lo com o fim de 66 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:63-72
demonstrar suas habilidades. No desenvolvimento do estudo, verificamos que a plasticidade, a expressividade e os desafios da GR refletem na motivação das crianças de forma positiva e incentivam a prática da modalidade. A partir dos relatos, observamos que os exercícios e os aparelhos utilizados causam muita excitação nas crianças, conforme os seguintes trechos: “Eu acho que... eu acho bonito” P5; “Eu sou persistente, tem um monte de desafio aqui pra mim” P6; “Porque eu não gosto muito de ballet, porque no ballet não tem muita coisa que nem na ginástica, na ginástica tem um monte de coisa (...) gosto de levantar a perna assim” P7; “Gosto quando abre espacate” P8; “Porque eu acho bonito, um monte de coisas” P9; “Aquele… a parte de movimento, gosto mais daquele de trás com as costas…” P2; “(...) mas eu gosto mais de fazer… ah… de fazer aquele ali (...) a ponte” P4. Ao percorrermos a literatura, observamos que em outra manifestação gímnica competitiva, as características do esporte são elencadas como fatores motivacionais de ginastas iniciantes. Lopes e Nunomura 12 e Costa et al. 14 citam que os movimentos da Ginástica Artística são aspectos que motivam o ingresso na modalidade, assim como verificamos na GR. Outro fator que parece motivar as atletas é a
Motivação para o início da prática de ginástica rítmica
utilização de aparelhos característicos da modalidade durante os treinos. Ao longo das entrevistas foi possível perceber que, apesar da maioria das crianças ter manipulado somente o aparelho corda, elas disseram que os treinos se tornam mais divertidos quando os aparelhos são inseridos nos treinamentos: “Acho que é corda, porque quando ela passa exercício de corda fica bem legal” “Quando as tias dão exercício com a corda é muito legal” P3; “(...) eu só fiz a corda, não fiz mais nenhum, mas eu gostei, foi divertido” P2. Influência do treinador
No decorrer das entrevistas, percebemos que todas as ginastas relataram que gostam das treinadoras, apesar de algumas citarem que as professoras são um pouco exigentes o que se comprova em: “Legal. É porque assim, ela faz coisa pro nosso bem… Elas, eu sei que quando ela senta nas minhas costas dói um pouco, mas é pro meu bem.” P4; “Eu gosto delas, elas são bem rígidas e ao mesmo tempo bem legais.” P6; “...elas são legais (...) Ah, elas forçam e puxam, mas não deixa de ser legal.” P7; “A tia G. até que é boazinha, mas na hora que tem que ser brava… Daí ela briga e força bastante. A tia T. é muito séria. (...) Ela não é tão brava, mas ela não brinca muito com a gente, sabe?” P8; “O que você mais gosta daqui da GR? (...) das professoras. P2; “O que você acha que mais gosta? Das tias.” P10. As atitudes e ações dos treinadores influenciam significativamente no interesse e na participação no esporte8. Várias atletas disseram que gostam que as professoras “ajudem” durante os treinos, o que teria relação com a assistência que as treinadoras ofereciam às ginastas e também com a correção de exercícios. A partir do que foi relatado, constatamos: “Elas me ajudam quando eu não sei fazer.” P1; “é muito legal, ela ajuda a gente, a outra tia também, é muito legal. Só que o que a gente faz errado elas corrigem, né. É bom, ajuda bastante”. P2; “São legais, elas explicam as coisas, ajudam quando a gente não consegue fazer e várias coisas. (...) É, quando elas falam, assim, pra ajudar, é melhor pra gente.” P3; “Elas são bem legais, mas, hmm, deixa eu ver… Não tem do que eu reclamar porque elas tão fazendo o trabalho delas, estão ajudando a gente, então elas não são bravas. Elas são bem legais.” P5; “Ah, sempre que a gente faz alguma coisa errada, elas ajudam e quando a gente tá fazendo errado elas “vai” lá e fala: “não é assim”, corrigem porque eu sei que elas tão querendo o melhor pra gente pra gente
ir pra ginástica mais avançada.” P9. Influência dos pais
Sobre a influência familiar, Vilani e Samulski15 apontam que, na maioria das vezes, ela costuma ser a primeira fonte de motivação, principalmente, para crianças na iniciação esportiva. No presente estudo, nota-se que os pais são responsáveis por fornecer subsídios para que as ginastas comecem e se mantenham na prática da GR. Durante essa fase, o apoio e o estímulo familiar são fundamentais, pois nessa faixa etária, frequentemente, as crianças são dependentes de outras pessoas para terem oportunidade de prática. Isso pode ser visto nos trechos a seguir, em que os membros da família são os responsáveis por levar as crianças até o local de treino: “ela me traz na segunda e minha vó na quarta.”P3; “Meu pai quem me traz.” P6; “(...) eles que me trazem” P7. “Ela fala que mesmo ela não podendo me levar, ela tem ajuda da minha tia, mãe da minha prima.” P9. No presente estudo, está claro que os pais poderiam influenciar, e muito, na iniciação esportiva dos filhos e, principalmente, na motivação. Essa influência pode ser positiva, fazendo com que as crianças se sintam motivadas a praticar GR, conforme relatado pelas praticantes: “Muito bom. (...) gostam, me apoiam, meu pai que descobriu, aí eu gostava muito e eles me colocaram” P1; “Ah, eles falam que é muito bom pra mim, pra minha saúde, pra eu conhecer gente nova (…)”; P5 “Eles falam que é bom, porque eu vou ficando mais elástica. (...) eles acham bom pra minha saúde. Falam muito que vai ser bom, porque vou mexer meu corpo” P6; “Eles gostam, me incentivam (…)” P7; “Meus pais acham bem legal, porque eu chego em casa falando do que eu aprendi hoje e eles acham muito legal essa atitude.” P9; “Eles falam que tudo bem se eu não quiser fazer ginástica, eles me tiram e que se eu quiser, posso parar que não tem problema.” P10. A maioria das crianças entrevistadas demonstrou ter tomado gosto pelo esporte após terem iniciado: “Porque minha mãe queria né, me colocar na ginástica. (...) A minha mãe queria me colocar faz tempo, porque ela já achava bonito as meninas fazendo. (...) mas, agora eu gosto de vir.” P2; “Não, eu não falto. Porque minha mãe não gosta, então nunca faltei, só uma vez.” P3; “Minha mãe me fala que eu tenho que me dedicar mais (...) Porque ela acha que eu não consigo fazer direito. Não sei explicar, tia. Acho que ela quer que eu seja muito Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:63-72 • 67
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boa. Ah, eu até queria, mas é difícil né, dói quando força.” P8; “(...) a minha mãe sempre, assim, quando eu to cansada, ela fala: não, você tem que ir na ginástica, porque mais pra frente, eu quero te ver aparecendo na tv, todo mundo falando. E ela fala que não quer que eu falte.“ P9. Influência da mídia
Na contemporaneidade, vê-se que houve vasta evolução dos meios de comunicação e, principalmente, daqueles vinculados à tecnologia. Ligada à rapidez de expansão de inúmeras informações e ao fácil acesso a elas, é notável que a mídia passou a exercer influências sobre a cultura esportiva da sociedade. De acordo com Campos, Ramos e Santos16, a mídia é o universo cultural onde a nova geração se socializa no esporte. O esporte e a mídia formam uma poderosa combinação de força, e com isso influenciam muito na escolha dos esportes e modalidades praticadas e produtos consumidos pelas pessoas. A grande exposição de determinadas modalidades na rede televisiva e a criação da imagem social dos atletas como “heróis” influenciam na motivação e na escolha do esporte e na iniciação esportiva17. Em vista disso, apesar de a GR não ser um esporte de tamanha representatividade no Brasil, tal como o futebol, em muitos relatos, as ginastas disseram ter visto sobre a modalidade em vídeos na internet, em programas de televisão e, também, nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 que teve muita repercussão no país. Alguns dos trechos que descrevem o fato são: “Mas, eu via no esporte olímpico as meninas fazendo ginástica, achava muito legal e eu pedi pra minha mãe pra eu vir.” P3; “Ah, eu assistia tudo, os campeonatos (...) Na televisão e, também, no youtube.” P4; “(...) eu via na TV, nas Olimpíadas, e achei sempre bonito.” P5; “Porque eu vi muitas meninas na TV fazendo nos Jogos Olímpicos e aí eu queria fazer uma outra ginástica.” P6; “(...) um monte de coisas, de ginastas aparecendo na televisão e sempre que eu assisto na tv eu acho incrível.” P9. Amigos
No presente estudo, embora com menor frequência, constatamos que a amizade é fator de importância para uma entrevistada quando se trata de motivação para o início da prática de GR. Quando questionada sobre aquilo que mais 68 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:63-72
a motivou, a ginasta relatou: “(...) por causa das minhas amigas” P3. O meio em que se vive, afeta diretamente a adoção de comportamentos e características, principalmente, em crianças e jovens. E, a motivação para o início de uma prática esportiva mostrase diretamente relacionada a esse fato. Assim, a possibilidade de interagir com o grupo de amigos se torna umas das razões importantes para a prática esportiva entre os jovens. Autores como Ryan e Deci11 explicam que a predisposição das pessoas para realizar determinadas ações relaciona-se ao sentimento de valorização por indivíduos que exercem influências preponderantes em suas vidas, como os amigos. Dessa forma, o meio social exerce influência significativa na escolha dos indivíduos14. Competições/apresentações
Quanto às competições e apresentações, vemos que são fatores importantes de reforço da motivação. Na iniciação esportiva, a competição é algo muito discutida. No entanto, é relevante destacar sobre a importância que ela receberá para que não seja sempre o foco dentro do contexto de ensino-aprendizagem, ou seja, a competição pode existir, fazer parte do processo de desenvolvimento esportivo das crianças, mas nessa fase de iniciação, não necessita ser o fator de maior relevância. Segundo Fontana18, durante o processo de treinamento é tarefa do treinador promover atividades competitivas, desenvolver a competitividade e utilizar a competição como ferramenta educativa. Para os autores, “a competição é uma importante fonte de feedback e tem relevante papel na percepção de competência de atletas. Tratase de uma característica importante e inerente a atividade esportiva que não deve ser subestimada nem superestimada”(p. 396). De acordo com os relatos das ginastas, quando as perguntas se referiam às participações em competições, vemos que a maioria das atletas não havia competido ainda, mas tinham vontade. A competição então, nos parece ser um fator motivante na iniciação esportiva da GR: “(...) mas eu quero, deve ser muito legal.” P3; “O que me faz vir? (...) poder ir pra alguns campeonatos (...) Mas quer ir? Aham, muito.” P4; “Não, mas eu quero competir, deve ser muito legal.” P6; “(...) viaja pros lugares e por isso eu prefiro a ginástica. (...) Aham, queria muito.” P7. As apresentações podem ser muito bem-vindas e utilizadas como uma boa estratégia de ensino, pois mantêm o caráter demonstrativo do esporte,
Motivação para o início da prática de ginástica rítmica
motivam as crianças, mas não exigem preocupação ou cobrança como um bom resultado dentro de uma competição. Nos trechos a seguir, observamos o discurso das jovens ginastas sobre a possibilidade de se apresentarem e sobre a reação que tiveram após apresentações quando aconteceram: “Eu fiquei feliz, eu gostei e gostei mais ainda da música. (...) Gostei muito, por isso agora eu quero competir. ”P2; “Foi bem legal, eu fiquei com um pouco de medo, porque tem um monte de gente, mas eu acabei me divertindo.” P5; “No começo eu tive um pouco de vergonha, porque foi minha primeira apresentação e tinha um monte de pessoa, eu não esperava tanta pessoa, mas depois quando começou a dançar foi um alívio” P9. Motivação intrínseca
Sabe-se que quando a propensão do sujeito para realizar determinada tarefa não depende de fatores externos, encontramos a motivação intrínseca no cerne desse interesse11. As pessoas intrinsecamente motivadas se esforçam internamente para serem competentes e auto-determinadas, a fim de dominar a tarefa proposta8. Os fatores motivacionais de origem intrínseca, como a autorrealização, o desafio pela prática, o apreço à competição, a diversão, o prazer e a vontade de ser um atleta, influenciam no início da prática esportiva. A seguir, discutimos os fatores intrínsecos para iniciar na GR. Prazer pela prática
Muitos autores afirmam que os indivíduos que são intrinsecamente motivados são os mais motivados a praticar esporte. Em um estudo de Fontana et al.18, o prazer pela prática de GR era o que mais motivava as atletas estudadas. Os autores citam que praticar a atividade em questão lhes proporcionava prazer, e “o prazer é o protótipo da motivação intrínseca. Ele está associado ao bem estar, à persistência, à autoestima e à disposição à tarefa” (p . 395). No discurso das jovens ginastas, observamos como o prazer em praticar ações motoras gímnicas incidiu no ingresso na modalidade: “Porque eu gostava de ginástica (...) Porque eu gosto.” P3; “Foi...
e foi porque eu gostava muito.” P4; “Eu sempre gostei de ginástica né. Eu desde pequena gosto de ginástica, aí acho que é por isso.” P5; “Eu sempre gostei, porque o que eu mais gostava de fazer desde pequena era coisa de ginástica e eu falava pra minha mãe. E foi porque eu pedi mesmo, não porque ela me colocou (...) gosto mesmo da ginástica.” P7.
Para ser um atleta
As questões relacionadas a um bom desempenho esportivo são motivos importantes para as crianças iniciarem a prática. Em linhas gerais, a maioria dos indivíduos busca ser eficiente no que faz para poder alcançar uma meta ou algum tipo de recompensa. A competência esportiva e os fatores associados a ela, como os motivos: para vencer; para conquistar um objetivo; para ser o melhor naquele esporte; para gostar; para competir; para ser um atleta quando crescer; e para desenvolver habilidades dentro da modalidade são subcategorias de motivação e inclusive, algumas delas, utilizadas no Inventário de Motivação para a prática Desportiva de Gaya e Cardoso19. Durante as entrevistas, as meninas destacaram ter vontade de se tornarem atletas reconhecidas no futuro: “(...) quero ser ginasta e professora de ginástica, os dois.” P4; “Quero (ser ginasta), é meu grande sonho.”; “Ah, eu quero ser ginasta quando eu crescer e competir que nem as meninas da tv que são boas.” P10. A vontade de ser atleta é um fator motivacional para as ginastas em iniciação esportiva, como verificamos no relato das ginastas. No entanto, destacamos que, segundo Weinberg e Gould8, aqueles que iniciam no esporte em busca de recompensas podem desistir facilmente dessa prática. É comum que as crianças se motivem com possíveis recompensas que o esporte lhes pode proporcionar, muitas citaram ganhar medalhas, aparecerem na televisão, etc. Ponderamos que os treinadores devem estar atentos à esse aspecto em busca de equilíbrio. Pois, a busca em ser uma atleta conhecida e angariar recompensas poderia acarretar frustrações que podem incidir em um abandono precoce da GR.
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Considerações Finais Sabemos que a motivação é essencial para o início da prática esportiva. E, segundo Weinberg e Gould8, a escolha por determinada modalidade está relacionada à fatores pessoais (necessidades, interesses, objetivos, personalidade) e fatores situacionais (estilo de liderança do treinador, facilidades de acesso à prática, atividades atrativas, desafios, influências sociais). Em vista dessa conjuntura multifatorial, os treinadores devem estar atentos àqueles que influenciam o início da prática esportiva para propiciar a permanência e a consequente obtenção do potencial máximo no esporte dos aspirantes a atletas. Sobretudo, em modalidades como a GR, cuja especialização esportiva ocorre em tenra idade. Há necessidade de se pensar em todas as perspectivas que existem dentro desse esporte e, principalmente, quando a criança começa a praticá-lo. Por começarem cedo, é preciso que os profissionais responsáveis pela sua iniciação tenham um leque de estratégias para fazer com que as crianças apreciem e gostem da prática. Assim, é possível que as crianças criem um vínculo com a modalidade. E, então, se motivem para não apenas iniciar, mas, movidas por diferentes fatores, continuem na prática e não se desmotivem nessa trajetória que costuma ser longa quando se trata de alto rendimento. Portanto, para que as crianças permaneçam na GR, o mais interessante é a manutenção da motivação. Nunomura, Okade e Carrara 20 destacam que os treinadores consistem em modelo adulto importante para as ginastas. Portanto, eles são mentores que poderiam influenciar, significativamente, a decisão de um atleta para continuar participando do esporte. Nesse sentido, os treinadores devem estar atentos sempre aos interesses e expectativas dos esportistas, assim como estarem cientes das necessidades e daquilo que motiva suas atletas, fazendo o possível para que os fatores motivacionais mantenham-se presentes. A partir dos dados do estudo, observamos que seria papel do treinador, então, organizar o
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planejamento dos treinos, de maneira a promover atividades no aquecimento e na preparação física em que a socialização esteja presente. São interessantes as atividades em grupo, colaborativas e de interação, tento em vista a influência dos pares no ingresso na modalidade. Isso facilitará a construção de um ambiente em que haja união, amizade, parceria e cumplicidade entre praticantes/atletas. Quanto às competições, que também têm papel significante na continuidade no esporte, é preciso atribuir-lhes os devidos significados e valores para que os resultados incentivem os praticantes e não o contrário, ou seja, conduza-os ao abandono do esporte. Ainda que alguns momentos, como a preparação física citada pelas ginastas, não seja tão prazerosa, é importante destinar um período do treino para a prática do esporte em si e, de preferência, com a utilização dos aparelhos característicos da modalidade, conforme o relato das ginastas do estudo. Aos familiares, cabe a responsabilidade de apoiar e incentivar as crianças de forma sensata para que não haja pressão ou estímulos exagerados que comprometa o gosto pela prática, pois o prazer associado a outros fatores motivacionais de origem intrínseca exercem preponderante influência na manutenção da prática esportiva. É essencial, também, que os pais não recorram somente às recompensas, principalmente materiais, como incentivo para que as crianças se envolvam com a GR. Costa et al.14 sugerem que haja controle das aspirações e das expectativas em relação às competições, para que as crianças não se frustrem com as derrotas, a ponto de abdicarem da prática por não obterem troféus e medalhas. Sabendo que a GR, assim como outras práticas esportivas, possui potencial educacional e formativo para desenvolver talentos esportivos, conclui-se então que é essencial que as possibilidades existentes dentro da modalidade sejam vivenciadas pelas alunas e que a alegria, o sucesso e o gosto pela prática sejam os principais motivos de uma criança iniciar e permanecer na GR.
Motivação para o início da prática de ginástica rítmica
Abstract Motivation to the initiation of practice in Rythmic Gymnastics The purpose of the present study was to identify and analyze the reasons that encourage children to begin the practice of Rhythmic Gymnastics (RG). We interviewed 10 female gymnasts, aged between 7 and 10 years, who make up the RG team of Cotia city. We conducted the semi-structured interview and applied the technique of “Content Analysis” for data treatment. From the results, we identified reasons of extrinsic and intrinsic origin that influenced the choice of gymnasts by modality. We emphasize that the extrinsic factors were more evidenced by gymnasts, among other factors, particularly, by the social influence of parents and friends. These results can assist coaches to make sporting practice more attractive. And, as a result, promote the maintenance and consequent accomplish of the maximum potential in sport, especially in a sport in which specialization occurs at a young age. KEYWORDS: Sports Pedagogy; Sports Initiation; Sports Development; Youth Sport.
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ENDEREÇO
Myrian Nunomura Av. Bandeirantes, 3900 - Monte Alegre 14040-907 - Ribeirão Preto - SP - BRASIL e-mail: mnunomur@usp.br
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 01
PRIORIDADES NO TREINAMENTO DA INICIAÇÃO ESPORTIVA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA
SOUZA MN, NETO A, DODÓ A. mateus_nasc2505@hotmail.com
Universidade Federal do Ceará-UFC
O objetivo do estudo foi apontar prioridades no treinamento de iniciação esportiva da modalidade ginástica artística (GA), com foco em identificar as principais capacidades físicas treináveis por meio de uma revisão da literatura publicada no período de 2004 a 2017, disponível na plataforma de dados Google acadêmico. Foram analisados especificamente os trabalhos referentes ao treinamento desportivo na ginástica, utilizando os term]os de busca “treinamento” e ginástica”, foram excluídos os trabalhos que não apresentavam relação com a ginástica competitiva. Analisando o que autores da área julgam como prioritário no processo de desenvolvimento de ginastas pode-se encontrar que para Lacordia et al (2006) o inicio do treinamento deve oferecer ao atleta o desenvolvimento de suas potencialidades gerais, antes de submetê-lo a condições mais específicas do treinamento na GA. No esporte deve-se estimular importantes habilidades físicas como flexibilidade, força e resistência muscular, coordenação motora, equilíbrio e conscientização corporal (SOUZA, 2006). Segundo Tricoli; Serrão, (2005); Bale,(2009); força, potência muscular, flexibilidade e coordenação destacam-se entre as capacidades fundamentais para o desempenho na modalidade. De acordo com Munôz et al (2004); Claessens et al (2006) para alcançar ganhos na GA, além das capacidades físico-motoras e habilidades técnicas, os ginastas devem possuir características antropométricas específicas, como a baixa estatura, e grande força muscular. Baseado nisso pode-se perceber a importância da preparação física na base do futuro ginasta, deve- se iniciar um trabalho com as capacidades físicas essenciais para então partir para a parte mais específica como a correta execução técnica de movimentos. Um programa de treino que vislumbre o desenvolvimento geral, associado à aquisição de habilidades gerais e específicas do esporte, proporcionará desempenhos mais bem-sucedidos em um estágio subseqüente de desenvolvimento (LACORDIA et al, 2006). Somente será possível a evolução no treinamento técnico específico dos elementos, tanto corporais quanto dos aparelhos com maior grau de dificuldade e por conseqüência alcançar melhores resultados se houver uma boa estrutura de base desenvolvida. Partindo do que foi encontrado, as capacidades físicas principais na GA são a (I) força, em algumas de suas variações como força explosiva, isométrica e dinâmica, respectivamente apontando exemplos como a prova do salto sobre a mesa, as argolas e paralelas; (II) flexibilidade, pois se faz necessário uma excelente amplitude de movimento em alguns casos específicos como saltos em afastamento; (III) coordenação e (IV) consciência corporal, pois os movimentos avançados exigem um alto nível técnico, como na prova de solo uma corrida seguida de rodante, flick-flack e mortal, é necessário um certo período de adaptação é interligação desses movimentos. A prática da GA inicia-se entre os cinco e seis anos de idade, e para atingir resultados de nível internacional são necessários de oito a dez anos de treinamento (ARKAEV; SUCHILIN, 2004). Desse modo, foi concluído que a preparação física na iniciação da GA, deve concentrar-se em promover o condicionamento adequado aos futuros atletas, para que possam chegar a um nível de dificuldade de movimentos elevado, tendo em vista o alto de grau de exigência técnica requerido na ginástica, priorizando as capacidades físicas de força em suas variações, flexibilidade e coordenação. PALAVRAS-CHAVE: Treinamento; Iniciação esportiva; Ginástica artística.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 02
AVALIAÇÃO DA EXECUÇÃO DE MOVIMENTOS GÍMNICOS EM CRIANÇAS PARTICIPANTES DE UM PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
OLIVEIRA LM, FREITAS CR, LUNARDI M, GARCIA L, PIZANI J. lucasmdo@outlook.com
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
O estudo objetivou avaliar a execução de movimentos gímnicos em crianças praticantes de um projeto de extensão universitária de ginástica artística. Para isto, realizou-se um estudo transversal da performance de exercícios característicos da ginástica. O estudo foi composto por uma amostra de oito crianças de sexo feminino com idades entre 6 e 12 anos. Estas treinavam duas vezes por semana, com duração de uma hora por sessão. O tempo médio de participação das crianças no projeto até a realização desse estudo foi de 5,8 meses. Os exercícios analisados foram: equilíbrio no passé, salto extensão, salto grupado, rolamento grupado para frente e roda. A avaliação consistiu numa escala de três pontos: excelente (movimento bem definido e forma fixa); bom (movimento com segmentos corporais não totalmente fixados, prejudicando a definição do elemento); regular (movimento sem forma fixa e/ou não conseguiu executar). A seguir, os resultados são expressos pela ocorrência das categorias em cada exercício em conformidade com o número de crianças que atingiu essa classificação: equilíbrio no passé – excelente (ƒ=1), bom (ƒ=4) e regular (ƒ=3); salto extensão – excelente (ƒ=1), bom (ƒ=5) e regular (ƒ=2); salto grupado – bom (ƒ=7) e regular (ƒ=1); rolamento grupado para frente – excelente (ƒ=1), bom (ƒ=4), regular (ƒ=3); roda – excelente (ƒ=4), regular (ƒ=4). A partir disto, foi possível observar que as habilidades ginásticas avaliadas nas crianças encontram-se majoritariamente entre níveis “bons” (50%) e “regulares” (32,5%) de execução. Os saltos, o equilíbrio no passé e o rolamento grupado para frente apareceram com menor frequência no nível “excelente”. Embora a roda apresente uma maior complexidade das habilidades exigidas em relação aos outros elementos avaliados, esta concentrou o maior número de execuções excelentes. Aferimos que este resultado pode ter relação com as experiências motoras anteriores à participação no projeto de extensão, uma vez que é comum encontrar crianças brincando com movimentos gímnicos, mesmo sem ter conhecimento de que isso seja ginástica. Pressupõe-se também que a carga horária limitada do projeto tenha grande reflexo nos baixos índices de excelência na execução dos movimentos. Diante do exposto, é importante considerar que o estudo limitou-se à avaliação da performance em um único momento o que, por conseguinte, desconsidera fatores intrínsecos que poderiam interferir na realização da tarefa pelas crianças. De modo geral, ressalta-se a importância de momentos de avaliação como este dentro de um projeto de extensão, como uma ferramenta que possibilite subsídios para o planejamento das aulas. Sugere-se para estudos posteriores a realização de avaliações periódicas da performance dos movimentos gímnicos para, então poder discutir o processo de aprendizagem dos mesmos. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Performance; Extensão Universitária.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 03
INCIDÊNCIA DE ELEMENTOS ACROBÁTICOS EM DIFERENTES DIREÇÕES NAS SÉRIES DE EXERCÍCIO DE SOLO DO CICLO
2013-2016
OLIVEIRA MH, LIMA LBQ, COSTA AR. matthenri0@gmail.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Grupo de Estudos em Ginástica-GPG
A Ginástica Artística (GA) parece estar atraindo o interesse da mídia no Brasil em virtude das conquistas internacionais de nossos ginastas. Na GA, a ginasta se expressa com o próprio corpo e as exigências biomecânicas das acrobacias atingem excelência, exigindo das ginastas muita força, potência e flexibilidade. Na Ginástica Artística Feminina (GAF) temos quatro provas sendo elas: Barras paralelas assimétricas, Trave de equilíbrio, Salto sobre a mesa e o Solo, sendo este último o foco principal de nossa pesquisa. A direção dos exercícios acrobáticos nas provas de solo vem sendo amplamente discutida pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), o que pode ser observado pelas frequentes mudanças referente a esta temática nos Códigos de Pontuação (CP) da GAF. Durante o ciclo 20012004, não houve nenhuma exigência de acrobacias em diferentes direções. A partir dele, a exigência por elementos acrobáticos em diferentes direções (frente/lado e trás) nas provas de solo, começam a surgir nos CP seguintes, inicialmente no do ciclo 2006-2008, em que em um dos Requisitos de Composição (RC) do aparelho eram exigidas acrobacias em diferentes direções. Tal mudança se deu, entre outros fatores, pelo fato de as ginastas, em sua maioria, só realizarem acrobacias para trás, direção em que tem maior facilidade. Neste sentido, nos ciclos posteriores a esta mudança (2006-2008, 2009-2012 e 2013-2016), observou-se diversas ginastas realizando elementos com menor grau de dificuldade (valor A) para frente e de forma isolada, apenas para cumprir tal RC, diminuindo, de certa forma, o grau de dificuldade deste aparelho. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar as séries de solo da GAF e verificar a incidências dos diferentes elementos acrobáticos com vôo para frente/lado e como estes são realizados (de forma isolada ou ligado à outros elementos). Para tanto, foi realizada uma análise videográficas das séries de solo das oito finalistas da prova de solo de quatro eventos da GAF, sendo eles, Campeonato Mundial de 2013 (Antwerp/ Bélgica), Campeonato Mundial de 2014 (Nanning/China), Campeonato Mundial de 2015 (Glasgow/Escócia) e Jogos Olímpicos 2016 (Rio de Janeiro/Brasil). Ademais, foram analisados cinco CP da modalidade referente a esta mesma prova (2001-2004, 2006-2008, 2009-2012, 2013-2016 e 2017-2020). A amostra foi composta por 32 séries de 22 atletas diferentes, porém apenas 23 séries foram analisadas pelo fato de algumas dessas atletas atuaram em mais de uma competição analisada com a mesma série. Destas, foram observados um total de 118 movimentos acrobáticos com vôo, sendo 37 para frente e 81 para trás. Dos elementos para frente, 21 foram realizados com ligação, ou seja, ligados a outros elementos acrobáticos com vôo; e 16 de forma isolada. Dessa forma, é possível concluir que os elementos acrobáticos para frente, normalmente, surgem como elementos coadjuvantes nas séries, servindo apenas para o cumprimento da exigência que o CP sugere. Ademais, é possível concluir que os elementos que aparecem de forma isolada em sua maioria (56,5%) possuem um baixo valor de dificuldade (Valor A), evidenciando a dificuldade de execução, forma de aterrisagem e a pouca valorização desses movimentos perante ao CP. Por fim, destacam-se as alterações realizadas pela FIG no CP do ciclo vigente (2017- 2020), na tentativa de contemplar os elementos acrobáticos em diferentes direções na GAF. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Código de Pontuação; Solo.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 04
O ENSINO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA: ESTRATÉGIAS PARA A INICIAÇÃO ESPORTIVA
SOUZA MN1, CARVALHO KMC2. mateus_nasc2505@hotmail.com 2
1 Universidade Federal do Ceará-UFC Faculdade de Educação Física -FEF-Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP
A Ginástica Artística(GA) é uma prática esportiva que proporciona o exercício de uma diversidade de habilidades motoras, além de desenvolver capacidades coordenativas e condicionais (NUNOMURA et. al, 2016). Assim, defende-se esta prática como base para vários esportes. No entanto, vê-se no cenário brasileiro a escassez desta prática na escola (NISTA-PICCOLO, 1988; POLITTO, 1988; (SILVA e PIZANI, 2010). Buscamos por meio desta pesquisa partilhar a experiência docente abordada na iniciação esportiva na Ginástica Artística (GA) em uma academia da capital cearense, Fortaleza. A amostra foi composta por 20 alunas com faixa etária entre 9 e 12 anos. Nesta idade, são trabalhados os fundamentos da GA: Saltos, aterrissagens, deslocamentos, posições estáticas, rotações e balanços (NUNOMURA, 2016). As aulas seguem o seguinte formato: O aquecimento é realizado utilizando series de exercícios gerais, buscando alcançar um condicionamento físico básico para realização dos movimentos gímnicos, após este momento inicial, são realizados exercícios mais específicos como pliometria e trabalhos coordenativos em solo buscando aperfeiçoamento das capacidades físicas. O trabalho no solo pode simular diversos aparelhos, para tanto é necessária criatividade. A fim de exemplificar esta estratégia temos o trabalho de força de membros superiores, em que é utilizado o jogo“troca-bolas” que funciona da seguinte maneira: estando em posição de prancha no solo, os alunos apoiam uma das mãos em uma bola pequena, esta deve estar sendo constantemente trocado com as colegas. Desta maneira, as alunas permanecem mais tempo em isometria, graças ao elemento lúdico (jogo). Outro exemplo, é a parada de mãos ou apoio invertido a qual é realizada e aperfeiçoada (com ajuda dos jogos) no solo para então ser executada na trave de equilíbrio. Após este momento da aula, são iniciados trabalhos em aparelhos. Para Nunomura e colaboradores (2016, p.225) a aula/ treino de GA deve despertar e estimular os sentidos. A fim de seguir estas diretrizes, parte da aula mantém o aspecto lúdico. Por exemplo, para o ensino dos saltos são atribuídos nomes divertidos, o salto grupado vira “salto bolinha”, rolamento podem ser chamados de rolinhos. Outra estratégia utilizada é a solicitação para que as crianças deem os nomes dos movimentos, criando mais significado para elas. No momento final da aula é realizado uma“brincadeira ginástica”, esta geralmente terá elementos aprendidos naquele dia. Um exemplo é a “Cola-cola ginástico”, um aluno é escolhido para pegar os demais,a criança que é pega, deve-se permanecer parada até que outra criança realize um movimento ginástico aprendido em sua frente para livrá-la. Além de executar algumas vezes o movimento, a criança “parada” tem a oportunidade de observar a realização do movimento. Acreditamos que este trabalho e estratégias tem sido de grande importância nesta cidade e representativo para o estado do Ceará, uma vez que o mesmo ainda não possui a cultura da prática de GA, mas este cenário parece estar se modificando com ajuda de iniciativas como esta. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Pedagogia do ensino da Ginástica; Ginástica no Ceará.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 05
FORMAÇÃO COMPETITIVA NA GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA
SILVA PP, CARBINATTO MV. pamelapiresgymnastics@gmail.com Escola de Educação Física e Esporte-EEFE-Universidade de São Paulo-USP Grupo de Estudos e Pesquisa em Ginástuca-GYMNUSP
Está cada vez mais evidenciado que uma das fases da vida onde há maior inserção e aderência ao ambiente esportivo e competitivo é durante a infância e a adolescência. Em diversos esportes, a iniciação à prática ocorre em tenras idades, como é o caso da Ginástica Artística (GA), modalidade onde a participação competitiva é constantemente introduzida já em estágios iniciais de sua formação, seja em eventos de pequeno porte ou competições formais, sobretudo, para já adaptar o atleta aos regulamentos e campeonatos de categorias mais elevadas. À exemplo de competições que apresentam expressiva representatividade para a GA no Estado de São Paulo, nas categorias de ginastas que já obtêm considerável nível técnico, são os Jogos Regionais (JR) e Jogos Abertos (JA), organizados pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Governo do Estado, que têm por proposta desenvolver a prática esportiva por intermédio da competição e estimular o aprimoramento da técnica no esporte vigente. Assim, o objetivo geral desta pesquisa foi verificar os pontos convergentes e divergentes entre o quadro competitivo, a concepção dos treinadores e as orientações e recomendações da literatura sobre a competição na Ginástica Artística Feminina. Foram entrevistados nove técnicos com resultados de pódio atuantes nos campeonatos JR e JA do ano de 2014, visto que estes eventos são referência para a inserção de ginastas no ambiente competitivo. Este estudo se apoiou essencialmente na pesquisa qualitativa, sendo a coleta de dados correspondendo a dois momentos: Análise dos Regulamentos de Competição; e Estruturação e Aplicação das Entrevistas. A análise dos dados foi realizada pela Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010), compreendendo de três fases: Pré-análise; Exploração do material; e Categorização. Como resultados, encontraram-se quatro categorias de respostas com base nos discursos dos técnicos, sendo elas: Aspectos da Competição; Aspectos do Treinamento; Aspectos das Ginastas; e Aspectos Políticos, cada qual com suas Unidades de Registro (Temas correspondentes à cada categoria) correspondentes, sendo algumas destas: competitividade, preparação para a competição, motivações para competir e, inclusive, discussões sobre aspectos de infra-estrutura do local de treino e competição. A partir das respostas dos sujeitos, foi possível analisar as notáveis concordâncias e dissonâncias sobre os pontos abordados e discutidos nesta pesquisa. Observou-se que a inserção no ambiente competitivo visando uma progressão de níveis foi considerada essencial para todos, sobretudo por sua riqueza de experiências e aprendizados. A progressão de níveis é marcante no ambiente gímnico, e esta ocorre com cada vez mais imposições, séries de maior grau de dificuldade, elementos de alta complexidade e menores adaptações dos regulamentos. Apesar de grande parte das Unidades de Registro apresentarem opiniões confluentes entre os técnicos, algumas discordâncias de opiniões podem dificultar a evolução destes pontos e, assim, da modalidade como um todo. Portanto, as variadas divergências devem ser conversadas e analisadas entre os dirigentes para que acordos sejam alcançados e, consequentemente, os progressos sejam possíveis. PALAVRAS-CHAVE: Formação; Competição; Ginástica Artística Feminina.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 06
MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DE GINÁSTICA ARTÍSTICA
LUNARDI M, GARCIAS L, BARROS TES, ZANATTA A, FREITAS CR. morganalunardi.edf@gmail.com
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
A busca constante pela alta performance na execução de movimentos ginásticos, demanda horas de dedicação, acarretando em uma rotina longa e exaustiva, associada ao estresse das competições. Assim, nota-se a importância da análise dos fatores que motivam a prática, possibilitando um melhor planejamento e atuação baseada nas metas do atleta, possivelmente reduzindo o abandono precoce da modalidade esportiva. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo analisar a motivação para a permanência na ginástica artística (GA) de uma equipe feminina da categoria adulta de Florianópolis-SC. Participaram do estudo seis atletas de GA do sexo feminino, com idade entre 12 e 16 anos, membros de uma equipe competitiva. Utilizou-se para a coleta de dados, uma entrevista semiestruturada, na qual abordamos os motivos para continuarem praticando esta modalidade esportiva. Para o tratamento dos dados utilizou-se a técnica de análise de conteúdo que envolve o tratamento bruto dos dados (leitura), a categorização (organização) e a codificação (definição das unidades de significado e unidades de contexto) para posterior discussão acerca do tema. Para apresentação dos resultados foi realizada uma categorização dos dados, classificando os motivos que fazem as atletas permanecerem praticando GA. Com relação aos motivos para permanência na prática de GA, as atletas responderam: treinar o máximo possível (ƒ=6), melhorar o desempenho (ƒ=5), superar limites (ƒ=3), estar com as amigas (ƒ=3), pelas características da modalidade (ƒ=3), realizar sonhos (ƒ=2), competir (ƒ=1) e viajar (ƒ=1). A partir disso, pode-se perceber que os fatores intrínsecos foram preponderantes e a maioria deles estão ligados aos desafios físicos presentes no esporte. Os motivos de maior relevância foram treinar até o limite corporal e à melhora do desempenho, fatores que se destacam, já que nas competições de GA o desempenho depende única e exclusivamente do indivíduo, não podendo haver ajudas externas. Portanto, pode-se perceber a influência da busca pela autorrealização, pela superação de limites e pelo domínio do próprio corpo como motivadores no prosseguimento das atletas no esporte. A motivação de realização vem ao encontro desses relatos e é explicada pela necessidade de buscar excelência, atingir grandes objetivos ou obter êxito em tarefas difíceis envolvendo a auto competição. Sendo assim, a necessidade do domínio corporal e a busca por novas tentativas, necessárias frente aos movimentos desafiadores, evidenciam que a especificidade da GA leva ao fortalecimento dos fatores intrínsecos, os quais mantém as atletas motivadas a treinar e permanecer na modalidade. PALAVRAS-CHAVE: Motivação; Ginástica Artística; Treinamento Esportivo.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 07
A APOSENTADORIA NA GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA: ESTUDO DE CASO DA CARREIRA ESPORTIVA DE UMA
EX-GINASTA BRASILEIRA
COSTA VR, NUNOMURA M. vitor.costabr@gmail.com Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto-EEFERP Universidade de São Paulo-USP
A formação de um atleta de alto rendimento exige anos de trabalho. O caminho para o sucesso é longo e os atletas dedicam parte de suas vidas integralmente ao esporte. Esse é um dos motivos da aposentadoria ser traumática em alguns casos. Na Ginástica Artística Feminina (GAF) esse quadro pode ser acentuado, pois a formação leva em média 10 anos, para chegar ao ápice inicia-se o treinamento especializado cedo e a carreira esportiva costuma terminar na adolescência. Compreender esse processo é essencial para repensar fatores que contribuiriam no desenvolvimento das ginastas. Assim, este estudo analisou a carreira esportiva de uma ex-ginasta brasileira e identificou potencias fatores que contribuíram para sua aposentadoria. Para obtenção dos dados realizamos uma entrevista semiestruturada, e, para o tratamento recorremos à técnica de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010). A ginasta iniciou a prática motivada pelos pais. No início, as atividades eram lúdicas, mas com apenas 2 anos de prática foi indicada para um clube renomado. Ela considera que iniciou o treinamento especializado aos 7 anos de idade e afirma que ninguém a questionou se estava pronta para mudar de nível, apenas a incluíram em um grupo de treinamento novo. Ainda, vê negativamente esse novo ambiente: “era uma pressão, de angústia, de medo, que eles queriam te maltratar”. Apesar disso, ela continuou a carreira, pois os treinadores usavam argumentos como: “agora que você está aqui, não pode mais parar, você já está em um nível em que muitas meninas gostariam de estar e não dá pra voltar atrás”. Com a conquista de campeonatos brasileiros, a ginasta mudou de cidade aos 15 anos de idade para integrar a seleção permanente. Ela participou de etapas de Copa do Mundo e de um Pan-americano, no qual foi medalhista e obteve bolsa atleta internacional, auxílio importante para prosseguir a carreira. Apesar dos resultados de sucesso, a ginasta descreve um cenário negativo durante esse período, no qual havia controle de peso, restrição de comunicação com a família, restrição ao ensino formal e cuidados médicos indevidos. Ainda, a relação com os treinadores era ruim, a ginasta se sentia incomodada com a submissão e pelo fato de não poder questioná-los. Esse cenário negativo ao longo da carreira contribuiu para a aposentadoria. Após sair da seleção permanente para cuidar da saúde, ela já tinha a ideia de aposentar, mas protelou por 1 ano, pois sentia que a única coisa que sabia fazer era Ginástica. Mas aos 17 anos se aposentou, pois sua saúde estava debilitada, por conta das lesões que teve ao longo da carreira e também sentia que não continuaria com bom desempenho. Essa dificuldade evidencia a falta de planejamento pós-carreira que os atletas vivenciam. Entretanto, com o apoio da família a ginasta superou as dificuldades, se graduou em Educação Física e hoje está na reta final de seu doutorado. Apesar dos pontos negativos, ela cita que há um lado positivo, como as viagens, as amizades e a responsabilidade que adquiriu enquanto ginasta. Contudo, afirmamos que o encerramento da carreira esportiva é produto do processo que ocorre ao longo da carreira e depende de vários fatores que não são totalmente planejados. Assim, evidenciamos que treinadores, dirigentes e familiares deveriam contribuir para o desenvolvimento do atleta como esportista e como “pessoa”. É importante orienta-los que a carreira não é eterna e que qualquer fato pode por fim inesperado na vida esportiva. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística Feminina; Esporte de Alto Rendimento; Carreira Esportiva.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 08
ESPECIALIZAÇÃO NA GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA
MOLINARI CI, NUNOMURA M. carolmolina.cm@gmail.com Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto-EEFERP Universidade de São Paulo-USP Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Quando investigamos o processo de treinamento de alto nível na modalidade ginástica artística feminina (GAF), percebemos que o desenvolvimento inicial do atleta e o treinamento de base devem se constituir a partir de ampla formação de habilidades básicas de controle postural e de fundamentos da GA. Esses fundamentos serão essenciais para o avanço com segurança e qualidade no desempenho esportivo de alto nível. Todo o processo de preparação esportiva visa a consolidar o atleta em longo prazo e atingir a excelência na modalidade em idades superiores. O treinamento especializado varia de acordo com a modalidade esportiva, a cultura, e o ápice esportivo. Estudos realizados com ginastas e treinadores revelam que a especialização precoce tem alta associação com o alcance do alto rendimento nessa modalidade. O presente estudo analisou a idade ideal para especializar na GAF na perspectiva de sete treinadores da modalidade, brasileiros, com no mínimo oito anos de experiência e que obtiveram resultados nacionais e internacionais ao longo de sua carreira. Adotamos a entrevista semiestruturada e, para o tratamento dos dados, utilizamos a técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2010). Identificamos que a prática da modalidade se inicia com crianças ainda muito jovens. Segundo os treinadores, a seleção de talentos é realizada com crianças entre 5 e 10 anos de idade. Aos 5 anos, a prática tem viés recreativo e de formação geral, com baixa frequência semanal. Os participantes relataram que a idade ideal para a especialização é entre os 7 e 8 anos e justificaram que as exigências técnicas da modalidade demandam muito tempo de preparação. O conjunto de habilidades necessário para o desenvolvimento dessas técnicas exigem muita dedicação das ginastas até apresentarem condições físicas e técnicas para competir. Por outro lado, crianças previamente selecionadas, com características e habilidades específicas para a modalidade, tendem a se adaptar melhor ao treino especializado. Outro fator comentado é a idade proposta pelos regulamentos das Federações, Confederação e Federação Internacional de Ginástica (FIG). Em nível nacional, as ginastas iniciam a participação competitiva aos 9 anos (categoria pré-infantil), e aos 16 anos atingem a idade mínima proposta pela FIG para participar dos Jogos Olímpicos. Os treinadores entrevistados têm consciência dos fatores positivos e negativos da iniciação ao treinamento sistematizado em crianças muito novas. No entanto, eles acreditam que o grande problema não seja a idade na qual essas atletas se especializam, mas como esse processo de treinamento é conduzido. O planejamento da carreira das atletas visa ao resultado em longo prazo, e o sucesso em categorias iniciais é consequência de um trabalho de qualidade, e não a meta principal do planejamento. Fica então o nosso questionamento: Quais as concepções de formação esportiva do atleta que repercutem no treinamento inicial da modalidade? Como as entidades regulamentadoras enxergam a especialização precoce? E ainda, é possível alterar esse sistema que está culturalmente estabelecido no mundo e que, apesar das criticas recebidas, apresenta efetividade? PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Especialização; Treinamento.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 09
ANÁLISE CRÍTICA DO DESEMPENHO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA DO BRASIL NOS CICLOS OLÍMPICOS DE
2004-2016
MOLINARI CI, COSTA VR, MONTEIRO KOFF, NUNOMURA M. carolmolina.cm@gmail.com Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto-EEFERP Universidade de São Paulo-USP Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
A Ginástica Artística Feminina (GAF) do Brasil é representada em Jogos Olímpicos (JO) desde 1980. Apesar das participações individuais, só em 2004 que o Brasil classificou uma equipe completa. Em 2001, a Confederação Brasileira de Ginástica implementou a seleção permanente e contratou treinadores estrangeiros para comandar a seleção. Ao analisar a participação do Brasil nos últimos quatro ciclos (2004- 2016) identificamos diversos fatores que implicaram nos resultados da GAF. Nesse estudo, discutiremos esses fatores e refletiremos sobre as contribuições para a evolução da modalidade no país. Ciclo Olímpico 2001-2004 - a primeira participação de uma equipe completa: com a vinda dos treinadores estrangeiros para comandar a GAF, o sistema de treinamento foi reorganizado, as atletas selecionadas passaram a treinar de forma centralizada no CT de Curitiba. Em 2001, Daniele Hypólito conquistou o 2o lugar no Campeonato Mundial de Gante, e em 2003 no Mundial pré Olímpico, Daiane dos Santos sagrou-se campeã na prova de solo, encantou o público com suas acrobacias e gingado ao som de Brasileirinho. Nos JO a equipe brasileira não se classificou para as finais, mas as ginastas Daniele Hypólito e Camila Comin foram finalistas no Individual Geral e Daiane dos Santos obteve a 5a colocação no solo. Ciclo Olímpico 2005-2008 – surtem os reflexos do planejamento em longo prazo: Nessa edição, os resultados foram fruto da continuidade do trabalho iniciado no ciclo anterior. A seleção brasileira classificou-se para a final por equipe e obteve a 8a colocação. As ginastas Jade Barbosa e Ana Claudia Silva 10a e 22a no individual geral. Jade obteve também a 7ª posição na prova de salto e Daiane dos Santos a 6ª no solo. Ciclo Olímpico 2009 – 2012 - um período de turbulências: Com o fechamento de um ciclo de sucesso, 2009 inicia com muitas mudanças organizacionais. A nova presidência da Confederação Brasileira de Ginástica, o encerramento do contrato do treinador-chefe e do sistema de treinamento centralizado. Cada atleta retornou ao seu clube de origem. Neste ano, o Brasil não se classificou para nenhuma final, obteve o 12o lugar por equipe, e a ginasta Bruna Leal, brasileira melhor colocada ficou com o 36o lugar. Ciclo Olímpico 2013 – 2016- a competição em casa: Rio de Janeiro sedia os JO de 2016, fato que impulsionou o COB a criar estratégias para potencializar o sucesso do país. Um russo foi contratado como o novo treinador chefe da seleção brasileira, foi construído um CT no Rio de Janeiro. Os investimentos no esporte estavam em alta e o Brasil conseguiu alavancar novamente seus resultados na GAF. A equipe composta por atletas de diferentes idades e nível de experiência, fez sucesso, e o time brasileiro voltou a se classificar para final e igualou o feito de Pequim. As ginastas estreantes Rebeca Andrade e Flávia Saraiva obtiveram a 11ª colocação no Individual geral e 5ª colocação na Trave de equilíbrio, respectivamente. Os últimos ciclos olímpicos representaram um grande avanço na GAF do Brasil. E, todos esses resultados são frutos de um planejamento em longo prazo e investimentos na modalidade jamais vistos. Entretanto, frente às lacunas organizacionais que ainda existem, questionamos se os esforços foram pensados em longo prazo ou seguem a lógica imediatista do sistema esportivo brasileiro. Assim, acreditamos que a condução do processo em longo prazo, como o desenvolvimento de base da GAF do Brasil, poderia impulsionar as perspectivas futuras da modalidade. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística Feminina; Jogos Olímpicos; Desenvolvimento Esportivo.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 10
DISCUSSÕES SOBRE A IDADE NA GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA
ALEIXO IMS1, NUNOMURA, M2. ivanamontandonaleixo@gmail.com Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG 2 Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto-EEFERP Universidade de São Paulo-USP 1
A Ginástica Artística Feminina (GAF) é uma modalidade esportiva emocionante, bela, de força e plasticidade. Historicamente, a GAF tem sido extensivamente criticada devido à produção de pequenas notáveis como atletas de sucesso, ao invés de mulheres adultas. É uma modalidade diferenciada na sua formação e tem sofrido mudanças devido às transformações sociais e, consequentemente, educativas. Atualmente, percebemos alguns estudos sobre os fatores que influenciam as ginastas a prolongar sua carreira, tais como a manutenção do físico ideal, a relação treinador-ginasta, modelos flexíveis de desenvolvimento de carreira e estudos sobre as crenças relacionadas à idade e ao desempenho (Claessens et. al., 2005,Nunomura et al., 2010, Cohen,2013, Barker-Ruchti et al 2016). A presente pesquisa foi gerada pelo projeto “Coming of age: Towards best practice in Women’s Artistic Gymnastics” (Kerr, Barker-Ruchti, Schubring, Cervin, Nunomura, 2015), cujo foco é analisar as experiências de ginastas mais velhas e os fatores que levaram ao prolongamento de sua carreira. As participantes deste estudo foram constituídas por sete ginastas de Portugal, exginastas de alto rendimento que tinham pelo menos 20 anos de idade no momento de sua carreira ativa e ginastas que ainda estão ativas na GA de alto rendimento. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas que utilizou-se a análise temática (Ryan e Bernard, 2000, Braun e Clark, 2006) para o tratamento dos dados. Em Portugal, as ginastas estão separadas pela 1ª divisão e pela divisão de base. Na 1ª divisão, as ginastas utilizam o código e normatizações da Federação Internacional de Ginástica. Todas participantes deste estudo estiveram na 1ª divisão ao longo das suas carreiras, foram envolvidas pelo gosto da ginástica e tinham como principal suporte a família, sendo os pais os principais incentivadores da continuidade do esporte e do financiamento de sua carreira. O estudo encontrou que as mudanças no sistema de arbitragem, no formato das competições e, principalmente, no novo fenômeno, ou seja, no aparecimento de ginastas com idade avançada nas competições de alto nível teriam mudado a percepção das ginastas sobre a idade avançada. Essa percepção de se tornar mais velha passa por diferentes transições, todas elas com exigências de ajustamento e características próprias, que resulta em uma troca nas suposições sobre si mesmo. A percepção de se tornar mais velha, principalmente, na parte física, foi a mais difícil de gerir entre maioria das entrevistadas. Os dados corroboram Hodkinson et al.(2008), que apresenta a “theory of learning cultures and cultural theory of learning” esta teoria sobre a aprendizagem no contexto cultural, ou seja aprendizagem em relação ao contexto dos indivíduos envolvendo práticas, interações e comunicação. As entrevistadas apontam que a percepção da idade madura, passa por sentir em determinados momentos uma combinação de visão dos fatores individuais comportamentais como a mudança corporal, das influências sociais, tais como o treinamento, as colegas, o treinador. A experiência de serem ginastas “mais velhas” ajuda a compreender como os contextos particulares acontecem e, assim, a enfrentar os desafios nova fase da carreira. A identificação dos fatores que influenciam o prolongamento da carreira poderia quebrar o mito de que mulheres maduras não desempenham na ginástica e gerar formas alternativas de conduzir a GAF. PALAVRAS-CHAVE: Ginastica Artística Feminina; Corpo; Carreira Prolongada.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 11
JOGOS POSSÍVEIS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA
PAIVA B P, SILVA L M, LOURENÇO IC, PAULA RG, TSUKAMOTO MHC. barbara.paiva@usp.br Universidade de São Paulo-USP Grupo de Estudos e Pesquisa em Práticas Esportivas
O objetivo do trabalho foi analisar a possibilidade de fazer o uso de jogos na prática pedagógica no contexto da iniciação à Ginástica Artística (GA). A GA é uma modalidade de ginástica cujos praticantes realizam um conjunto de exercícios em grandes aparelhos. Tais movimentos consistem em habilidades básicas: andar, correr, saltar, saltitar e específicos como os diferentes tipos de acrobacia. Além de desenvolver o controle corporal, a prática da GA também promove o desenvolvimento de capacidades físicas como força, agilidade e flexibilidade. O trabalho, caracterizado como descritivo e bibliográfico, buscou analisar os jogos propostos na obra “Fundamentos de la Gimnasia” (2010), elaborado pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), à luz da classificação proposta por Peter Hastie na obra “Students Designed Games” (2010). A análise foi feita utilizando como referência as categorias de jogos proposta por Hastie. Com isso, identificamos qual tipo de jogo é passível de ser aplicado no ambiente ginástico, visando a diversificação e o aprimoramento pedagógico. Em um primeiro momento, foi realizada uma análise da obra de Hastie, buscando identificar os tipos de jogos e sua classificação. Em seguida, foram analisadas as propostas de jogos da obra “Fundamentos de la Gimnasia”, selecionando todos aqueles que se encaixavam dentro das características. Hastie propõe a existência de quatro elementos para que tal atividade seja classificada como jogo: objetivo, regras, restrições e aceitação das regras. Logo, existem jogos que podem ser denominados como jogos de perseguição, invasão, alvo, rebatida, jogos de rede e parede. A obra “Fundamentos de La Gimnasia” apresenta 23 capítulos, organizados em duas partes. A primeira, expõe toda a parte teórica de determinado conteúdo e logo após, na segunda parte, exemplos de jogos e atividades. Ao longo dos capítulos, compreendemos o que é ginástica, seus fundamentos, a importância do aquecimento, os componentes da forma física entre outros elementos. Além disso, apresenta a classificação dos elementos da modalidade, organizados de acordo com a mecânica dos movimentos, divididos em seis grandes grupos: posições estáticas, aterrissagens, saltos, movimentos de locomoção, rotação e balanços. Os resultados apontaram que a obra analisada propõe 18 jogos, separados de acordo com suas características, predominando aqueles classificados como jogos de perseguição, nos quais o objetivo é marcar o adversário, evitando que o mesmo te marque, e os jogos de invasão cujo objetivo é invadir determinado espaço para marcar o ponto. Assim, podemos constatar que esses tipos de jogos são possíveis de serem aplicados em um ambiente educativo de GA, a fim de proporcionar diferentes experiências no ambiente ginástico. É possível notar que, em sua maioria, os jogos propostos não trabalham os elementos e movimentos específicos da GA, e sim são propostos para momentos que visam o desenvolvimento das capacidades físicas que são extremamente importantes para a prática correta da modalidade. Ainda assim, todos os jogos são passíveis de adaptações de acordo com a faixa etária e os objetivos da prática. A análise do material nos permitiu perceber que (1) a utilização de jogos como parte da prática pedagógica da GA é possível e, (2) apesar de só terem sido encontradas duas categorias de jogos no material analisado de acordo com a referência utilizada, consideramos que a criação de jogos de outras categorias também é possível e viável. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Jogos; Prática Pedagógica.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152 • R.83
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 12
O ENSINO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA NA GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA: EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS
HONORATO GF, FUZARO RAS, MURAROLLI RB, SANTOS TA, LIMA LBQ. g-froes-honorato@bol.com.br
Fundação Hermínio Ometto/Uniararas
Nos cursos de Educação Física no Brasil, entre as disciplinas teórico-práticas, que tem por objetivo apresentar os conceitos teóricos para que estes possam fundamentar a prática, encontramos a disciplina de Ginástica Artística. No entanto, o oferecimento ou não desta disciplina fica a critério da própria instituição, o que influencia diretamente no contato que os alunos terão com as disciplinas ginásticas (TSUKAMOTO, 2012). No caso da Fundação Hermínio Ometto/Uniararas, os alunos, em seu primeiro ano do curso de Educação Física, têm que realizar duas disciplinas de Ginástica Artística, sendo elas: Metodologia do ensino da Ginástica Artística I e II. Entre as atividades destas disciplinas, destacamos a realização de um Festival de Ginástica Artística, o qual é o foco do presente relato de experiência. O Festival de Ginástica Artística acontece semestralmente nas dependências da instituição e surgiu de uma parceria entre a Universidade e uma academia da cidade de Araras, suprindo as necessidades de ambas as partes como: infraestrutura, ginastas e staffs qualificados. No entanto, para as disciplinas, o principal objetivo do festival é que os alunos tenham contato direto com a prática e as várias funções que o profissional de Educação Física pode exercer no mercado de trabalho. Além, deste ser, para muitos, a primeira vivência (seja como espectador ou participante) com a modalidade fora as aulas da universidade. O festival é direcionado para crianças a partir de três anos de idade e o papel dos graduandos, neste evento, está relacionado a organização. Assim, os alunos são divididos em diversas funções, dentre elas: arbitragem, apuração, premiação, aquecimento corporal, montagem de aparelhagem, acompanhamento de ginastas durante o evento e staffs. Para tanto, é realizado um treinamento teórico-prático prévio, com a presença de ginastas, para que os alunos se capacitem para estas funções. O enfoque dado por esta atividade, para nós alunos, nos permite estar em uma situação real de prática e com responsabilidades, pois cerca de 60 crianças participam deste evento. Ademais, o fato de termos que realizar diversas funções na prática, nos permite aprender e aplicar diferentes papeis que normalmente em aula não são possíveis, se limitando, muitas vezes, apenas ao ensino-aprendizagem da modalidade e seus elementos, como ocorrem na maioria das instituições de ensino superior. Por fim, consideramos esta experiência relevante para o processo de formação na Educação Física, pois além de nos preparar para lidar com situações reais desta área, permite termos um papel ativo no processo de aprendizagem. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Formação; Graduação.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 13
A GINÁSTICA ARTÍSTICA COMO ATIVIDADE FÍSICA ENRIQUECEDORA NA INFÂNCIA
SOUZA APD, DIAS FS, SILVA PCC. anadiasbueno@gmail.com Centro de Educação Física e Desportos Universidade Federal do Espírito Santo-UFES
“The Little Gym” (TLG) é um centro de desenvolvimento motor para crianças entre 4 meses e 12 anos que teve início em 1970, nos Estados Unidos da América (EUA). Tornou-se uma franquia e tem alcançado sucesso com mais de 300 unidades, abrangendo 31 países. A franquia de Vitória, no Espírito Santo, que é a primeira no Brasil, iniciou seus trabalhos em 2015 e atende 120 crianças. As aulas oferecidas privilegiam o desenvolvimento cognitivo e social do aluno, além do motor, caracterizando-se como uma metodologia “tridimensional” de ensino. Assim, uma das características dos programas de aulas é a adoção da Ginástica Artística (GA) na estruturação das sessões. Nesse sentido, estudiosos como Tsukamoto; Nunomura (2005) corroboram com essa metodologia de trabalho, pois propõem promover as primeiras adaptações físicas e cognitivas para que o indivíduo possa responder aos novos estímulos. Além do mais, a TLG tem como preocupação direcionar a criança para que se torne segura e autoconfiante. O objetivo desse estudo foi realizar uma análise comparativa entre as características da prática da GA proposta por Nunomura; Carrara; Cabinatto (2010) e a nossa experiência pedagógica na TLG. Ao tratar a GA como atividade física Nunomura, Carrara; Cabinatto (2010), elencam características para essa abordagem, tais como: a) o caráter formativo, que prima o desenvolvimento motor, por meio dos movimentos ginásticos; b) não há pré-requisitos para a prática; c) o nível de dedicação do aluno, em geral, permite que ele participe de outras modalidades, individuais e coletivas; d) o conteúdo com movimentos variados, que podem ser realizados no ambiente ginástico; e) os eventos são caracterizados por festivais e competições com regras adaptadas e flexíveis, estimulando a prática da modalidade e o intercâmbio social e esportivo entre as crianças; f) a postura do professor visa mais o processo de aprendizagem do que o produto e a perfeição do movimento final; g) os resultados, quando esses existem, estimulam a auto avaliação e a auto superação, sem comparações com padrões ou pares e, por fim, h) a avaliação é feita diariamente sem sistematização formal. Quanto à proposta da TLG, verificamos que a GA é utilizada para explorar os benefícios no desenvolvimento da criança; o ensino segue a faixa etária dos programas, sem que haja seleção de talentos; alguns programas inserem o karatê, dança e esportes; as apresentações excluem o incentivo da competição; os profissionais são treinados e avaliados dentro dos critérios da franquia, sendo orientados quanto à conduta nas aulas e no relacionamento com as crianças e responsáveis, buscando valorizar o esforço individual independente dos resultados e as avaliações são pautadas apenas nas observações diárias. Desse modo, pelo que a TLG tem desenvolvido, verificam-se diversos aspectos que evidenciam sua qualidade no que diz respeito ao trato com a GA como atividade física. O que é apontado pelos autores reforça a importância desses aspectos dentro de um programa que prima o desenvolvimento físico, cognitivo e social PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Ginástica Artística; Ensino-aprendizado da Ginástica.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152 • R.85
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PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA PEDAGOGIA DO ESPORTE: A GINÁSTICA ARTÍSTICA EM QUESTÃO
COSTA AR, BARROS TES, PACHECO L, RIBEIRO ADO, CARRARA P. andrize.costa@gmail.com
Universidade Federal de Pelotas-UFPEL
A Ginástica Artística (GA) é uma modalidade de exercícios ginásticos sistematizados realizados em aparelhos específicos. Esse esporte faz parte do programa olímpico e uma das ginásticas mais praticadas segundo a FIG (Federação Internacional de Ginástica). Além de ser considerada um esporte de gala, está inclusa como conteúdo que pode vir a ser trabalhado nas aulas de Educação Física tanto com caráter lúdico educativo bem como ganhar adornos competitivos. Observando todas as contribuições da GA como elemento que contribui para a inserção de crianças e jovens em vários contextos sociais, bem como o estímulo para desenvolvimento de técnicas e capacidades físicas através de seus exercícios é que o problema de pesquisa deste trabalho centrou-se em identificar quais tipos de estudos pedagógicos sobre GA estão sendo publicados em forma de artigo científico. Foi realizado um levantamento bibliográfico, bem como a análise das publicações científicas sobre GA, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2016. Para isso foi realizada a seleção do material a ser analisado e foi dividido em duas etapas: a primeira quantitativa centrando-se na seleção a partir da análise metodológica de estudos pedagógicos em GA. Já a segunda etapa, qualitativa, classificou os artigos de acordo com a sua temática a encaixar-se na categoria do objetivo do trabalho. A pesquisa foi feita em bases de buscas (Google Acadêmico, EBSCO Host, MEDLINE, SCIELO, Scopus, Sport Discus, Science Direct e “Web of Science”), com a utilização de descritores “Ginástica Artística” OR “Ginástica Olímpica”; em português, inglês e espanhol. Para a busca na base LILACS foram utilizados os descritores “Ginástica”, “Gymnastics”; “Gimnasia”, separadamente. Adiante, foi feita uma seleção utilizando os critérios: artigos com aspectos da pedagogia do esporte ou EF; textos publicados e na íntegra na internet e estudos empíricos e/ou teórico. Os artigos que compõem esta pesquisa caracterizam-se predominantemente como estudos empíricos (16), realizados por meio de procedimentos de pesquisa qualitativa (07), a partir da combinação de instrumentos de pesquisa como entrevistas estruturada e semiestruturada. Encontramos também, pesquisas de cunho quantitativo (06), utilizando procedimentos de baterias de testes para coletas de dados e análise estatística para o tratamento dos mesmos. Ademais, os artigos que utilizaram a combinação de procedimentos qualitativo e quantitativo de pesquisa, foram classificados como estudos de abordagem mista (3) os quais verificou-se uma tendência à utilização de técnicas de entrevista, observação e questionários. Já os artigos classificados como estudos teóricos (4 artigos), utilizaram técnicas de revisão bibliográfica (2 artigos), ensaio teórico (1 artigos) e estudo documental (1 artigo). O estado atual da Produção do conhecimento da área pedagógica na Ginástica Artística se destaca pela predominância de estudos internacionais nesta temática, indicando ainda uma lacuna a ser preenchida em nosso país. Acredita-se na existência de um conjunto amplo acerca desta temática que não foram contemplados nesta revisão sistemática, esta é uma das situações de limitação dos estudos de revisão sistemática. Fica evidente a partir deste estudo que a natureza do conteúdo pedagógico relacionado a Ginástica Artística ainda é pobre, a preponderância dos estudos realizados ao rendimento, tecnologia e treinamento de equipes. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Formação Esportiva; Teoria da Aprendizagem dos Elementos.
R.86 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
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APRENDIZAGEM PROFISSIONAL DE TREINADORES DE GINÁSTICA ARTÍSTICA
BARROS TES, RAMOS V, BRASIL VZ, COSTA AR, SOUZA JR. thais_emanuellibarros@hotmail.com Instituto Estadual de Educação-IEE Laboratório de Pedagogia do Esporte e da Educação Física-LAPEF-CEFID-UDESC
Esta pesquisa é uma síntese de uma dissertação de mestrado, defendida no ano de 2016 na Universidade Federal de Santa Catarina/ UFSC. A Ginástica Artística (GA) é uma das modalidades mais antigas do programa Olímpico, um esporte individual caracterizado por um conjunto de exercícios corporais sistematizados, realizada em aparelhos específicos no feminino (mesa de salto, barras paralelas assimétricas, trave de equilíbrio e solo) e, também no masculino (solo, cavalo com alças, argolas, mesa de salto, barras paralelas simétricas e barra fixa), podendo ser praticada com objetivos competitivos e também educativos (PUBLIO, 1998; NUNOMURA; NISTA-PICCOLO, 2005). O reconhecimento do esporte, como uma prática corporal de caráter lúdico, educacional e também competitivo; capaz de conduzir pessoas de todas as idades a um aumento do nível de aptidão física, qualidade de vida e inserção de valores; tem reforçado sua valorização no contexto social (BRASIL, 2015). Neste sentido, o processo de formação profissional esportiva tem sido fonte de discussões, na medida em que a atividade de ensino destes profissionais implica em consequências importantes para o desenvolvimento integral dos jovens, bem como, a criação de hábitos permanentes de prática esportiva. A busca pela formação e qualificação profissional destes indivíduos tem acontecido por meio de instituições de ensino, cursos, federações, e outros ambientes correspondentes aos contextos Formal, Não Formal e Informal, pelos quais os treinadores aprendem (NELSON; CUSHION; POTRAC, 2006). As investigações a respeito da aprendizagem dos treinadores esportivos têm se concentrado nos processos de aprendizagem do treinador expert, identificando a trajetória de atuação, com o propósito de buscar alternativas, que de fato operacionalize os processos Formais de formação destes profissionais. O principal objetivo deste estudo foi investigar a aprendizagem profissional de treinadores de Ginástica Artística (GA) do Estado de Santa Catarina. Adotou-se uma abordagem qualitativa de pesquisa, de caráter descritivo interpretativo, a partir de estudos de caso múltiplos, envolvendo oito treinadores de GA, com reconhecida competência na formação de jovens atletas, com no mínimo dez anos de experiência profissional. Os dados foram obtidos com gravação de áudio, a partir do preenchimento da linha do tempo (Rappaport Time Line) e também por meio de entrevista semiestruturada. A credibilidade das descrições e interpretações do pesquisador foi obtida por meio da triangulação das fontes de dados, da confirmação dos treinadores e da supervisão de investigadores especialistas na formação profissional. Verificou-se que a aprendizagem dos treinadores de GA decorreu em um processo de socialização esportiva, contínuo, ao longo da vida, com trajetórias semelhantes, marcada por etapas (Entrada no esporte; permanência no esporte; ingresso na carreira profissional como treinador) dotadas de crenças, valores e significados pessoais que os fizeram permanecer em contato com o esporte. Os treinadores indicaram uma variedade de situações de aprendizagem em particular, por meio das experiências de prática esportiva, compartilhamento de informações e observação de treinadores mais experientes e cursos específicos da modalidade, característicos do contexto Informal e Não Formal de aprendizagem profissional. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Aprendizagem do Treinador; Educação Física.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152 • R.87
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A INFLUÊNCIA DA EXPERIÊNCIA DE PRÁTICA ESPORTIVA PARA ATUAÇÃO PROFISSIONAL COMO TREINADOR DE GINÁSTICA ARTÍSTICA
BARROS TES, COSTA AR, RAMOS V, KUHN F, CARRARA P. thais_emanuellibarros@hotmail.com Instituto Estadual de Educação-IEE Laboratório de Pedagogia do Esporte e da Educação Física-LAPEF-CEFID-UDESC
É comum percebermos entre os treinadores de Ginástica Artística, ex-atletas que após encerrar a carreira de atleta se tornam treinadores. Treinadores que não possuíram experiência como atletas também são vistos, no entanto, fazem parte da minoria dos profissionais atuantes. Com referência a experiência de prática esportiva ainda na infância, alguns estudos têm indicado um percurso, ou trajetória de vida comum entre treinadores de diferentes modalidades esportivas como no Basquetebol (RAMOS et al., 2011); Hóquei no gelo (WRIGHT, TRUDEL E CULVER, 2007) e no Futebol (TALAMONI; OLIVEIRA; HUNGER, 2013), indicando fases e episódios comuns ao longo da vida destes treinadores. O contato com o esporte ou atividade física ainda na infância, de forma lúdica, ligados a contextos de relações sociais fortemente influenciados pelos familiares, os quais apoiam e proporcionam condições favoráveis para a prática desses jovens, têm sido de fato, as primeiras experiências e inserção de alguns treinadores no ambiente esportivo (CÔTÉ, 2006; FRASERTHOMAS; CÔTÉ, 2009). Considerando o ambiente esportivo, o objetivo deste estudo, foi identificar a valorização da experiência de prática esportiva como referência na aprendizagem de oito treinadores de Ginástica Artística do Estado de Santa Catarina. Utilizou-se uma abordagem qualitativa de pesquisa, de caráter descritivo interpretativo, a partir de estudos de caso múltiplos. Os dados foram obtidos por meio de gravação de áudio, a partir do preenchimento da linha do tempo (Rappaport Time Line) e também por meio de entrevista semiestruturada. Utilizou-se a análise de conteúdo (BARDIN, 2010) para análise dos dados. A credibilidade das descrições e interpretações do pesquisador foi obtida por meio da triangulação das fontes de dados, da confirmação dos treinadores e da supervisão de investigadores especialistas na formação profissional.As primeiras experiências dos treinadores no ensino da GA, foram desencadeadas a partir do envolvimento prévio de prática na modalidade, por todos os treinadores entrevistados. Estas experiências se caracterizam por diferentes níveis de competição e tempo mínimo de cinco anos de envolvimento como atleta. O envolvimento desde cedo com a GA, fez com que os treinadores naturalmente se envolvessem com o ensino da modalidade. Todos os treinadores iniciaram suas primeiras experiências no ensino, ainda enquanto mantinham seus compromissos como atleta. Particularmente os treinadores T2, T6, T7 e T8 tiveram suas primeiras experiências auxiliando seu treinador, no papel de “auxiliar técnico”, sendo orientados pelos seus próprios treinadores sobre como ensinar. Na transição da fase de atleta para treinador, os treinadores T3, T4, T5 e T8 não obtiveram a orientação dos seus treinadores para ingressar na carreira. No entanto, o envolvimento com a modalidade, implicaram em situações favoráveis para começar a atuar como instrutor de GA. Conclui-se que a experiência de prática esportiva, possui contribuição significativa principalmente no início da carreira esportiva como treinador. A contribuição se dá a partir das experiências advindas da socialização esportiva, envolvendo um conjunto de experiências ao longo da vida, estimulando esses profissionais a obter a graduação em Educação Física e assumirem papeis de auxiliar técnico e posteriormente de treinadores. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Treinador; Educação Física.
R.88 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
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A PARTICIPAÇÃO DE ÁRBITROS BRASILEIROS DE GINÁSTICA ARTÍSTICA NOS JOGOS OLÍMPICOS DO INÍCIO DO SÉCULO XXI
OLIVEIRA MH, PIZZOL V, TOLEDO E. eliana.toledo@fca.unicamp.br Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Laboratório de Pesquisas e Experências em Ginástica-LAPEGI
Introdução: A ginástica artística brasileira tem vivido internacionalmente um cenário muito positivo nas últimas décadas, com o destaque de ginastas em diferentes competições pelo mundo(SCHIAVON et al, 2013) desde a conquista do título mundial no Solo com Daiane dos Santos em 2003, até as medalhas olímpicas de Arthur Zanetti nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012 e Rio de Janeiro em 2016 (juntamente com outros ginastas brasileiros). Porém, além dos atletas, os árbitros brasileiros também têm participado das maiores competições em nível internacional, principalmente a partir de 2009, conforme verificado por Oliveira et al (2015). No caso dos Jogos Olímpicos, os árbitros recebem a convocação da Federação Internacional de Ginástica (FIG), de acordo com a sua categoria de brevet internacional, e reconhecimento/ avaliação de boa qualidade de trabalho durante o ciclo olímpico em questão. Objetivo: Identificar a incidência da participação de árbitros brasileiros de Ginástica Artística Masculina (GAM) e Feminina (GAF) durante os Jogos Olímpicos, no período de 2000 a 2016, assim como, quais foram esses árbitros e suas formas de atuação. Metodologia: A pesquisa foi realizada em caráter documental, especificamente com foco na análise dos denominados “Result Books”, que são documentos oficiais gerados pela FIG ao final de cada competição, com o detalhamento completo da mesma. A amostra foi composta por 4 competições/edições de Jogos Olímpicos, a saber: Atenas-2004; Pequim-2008; Londres-2012 e Rio de Janeiro-2016. A análise dos dados foi realizada de modo quantitativo, analisando-se a quantidade dos árbitros brasileiros atuantes nas competições; e de modo qualitativo, analisando-se quais foram esses árbitros e em quais aparelhos atuaram. Resultados e Discussão: Foi possível identificar que os árbitros brasileiros de GA participaram das 4 edições de Jogos Olímpicos analisados (2004; 2008; 2012; 2016), tanto na GAF quanto na GAM. Na GAM, três árbitros diferentes atuaram: Gilberto Pantiga Jr (2004), Roberto Gomes Nassar (2008) e Robson Caballero (2012 e 2016). Na GAF, a única árbitra convocada para atuar nas 4 edições de Jogos Olímpicos foi Yumi Yamamoto Sawasato, chegando a ganhar o prêmio de melhor árbitro do mundo no ciclo 2001-2004 (FOLHA, 2007/ ESTADÃO; CBG, 2016). Os árbitros brasileiros atuaram em todas as etapas das competições, que são feitas por sorteio tanto de aparelho, como de posição na banca de arbitragem – Qualificatórias, Final por Equipes, Individual Geral e Final por aparelhos – como árbitros de execução, sendo que o maior número de atuação dos árbitros de GAM foi no aparelho Argolas, com 4 atuações num total de 16. Na GAF, o aparelho Solo foi o de maior participação, com 5 atuações num total de 16. Conclusão: É possível concluir que a participação de árbitros brasileiros na GAM e GAF se manteve constante durante a realização dos Jogos Olímpicos no início do século XXI, observando uma maior variedade nos árbitros de GAM, e enaltecendo a constância e a excelência do trabalho de uma única árbitra na GAF. Também é possível analisar a versatilidade de aparelhos nos quais os árbitros atuaram, porém a regularidade na função de atuação dos mesmos. Portanto, é possível concluir que a participação dos árbitros brasileiros de Ginástica Artística em Jogos Olímpicos tem sido significativa e importante para a modalidade. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Artístico; Jogos Olímpicos.
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EM CENA O COMPONENTE ARTÍSTICO DE ATLETAS DE GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA NOS JOGOS OLÍMPICOS RIO
2016
PIZZOL V, OLIVEIRA MH, TOLEDO, E. vanessavany61@hotmail.com Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Laboratório de Pesquisas e Experências em Ginástica-LAPEGI
A partir dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, os quesitos de composição artística das séries de Ginástica Artística (GA) passaram a ser maior adensados, recebendo maior atenção do comitê técnico, e na mudança do código de pontuação do ciclo seguinte (FIG 2013-2016). Alguns reflexos disso constam nas mudanças do código, como por exemplo, os painéis de deduções de apresentação artística foram melhor especificados, aumentando-se de 4 itens (com uma somatória de 0.8 pontos possíveis de dedução), em 2012, para 11 itens (com uma somatória de 1 ponto possível de dedução total), em 2016, no aparelho Trave; 8 itens (com uma somatória de 1,30 pontos possíveis de dedução artística total), em 2012, e 16 itens (com uma somatória de 2,60 pontos possíveis de dedução artística total), em 2016, no aparelho Solo (FIG, 2016). E ainda, a partir deste ciclo, foi introduzido um campo específico nas súmulas oficiais da modalidade para que os árbitros pudessem destacar o valor do desconto artístico, caracterizando ainda mais a importância deste quesito. Neste contexto, esta pesquisa objetivou identificar como o componente artístico na Ginástica Artística Feminina (GAF) se manifestou nas composições coreográficas de atletas participantes dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a partir da mudança no código de pontuação do ciclo de 2013 a 2016. A pesquisa se caracteriza como documental, tendo como base o Código de Pontuação da GAF (FIG, 2016), também tendo como amostra os documentos oficiais “Result Books” da Federação Internacional de Ginástica (FIG), com os resultados das competições de GAF nos Jogos Rio 2016, analisando-se apenas o desconto artístico dado pelos árbitros nas séries de trave e solo. Os descontos foram quantificados por médias aritméticas simples, e a amostra foi composta por 138 notas de cada aparelho, sendo 82 notas das séries qualificatórias, 24 séries das finais por equipes, 24 séries do individual geral e 8 séries das finais por aparelhos. A análise dos dados demonstrou que no aparelho Trave, apenas duas atletas (Lauren Hernandez - EUA e Sanne Wevers - Holanda) das 82 possuíram desempenho artístico considerado de maestria, e no aparelho Solo, apenas 8 das 82 atletas (Simone Biles e Lauren Hernandez - EUA, Flávia Saraiva - Brasil, Marine Brevet - França, Rune Hermans e Nina Derwael - Belgica, Lieke Wevers e Eythora Thorsdottir Holanda) obtiveram desconto nulo neste quesito. E os descontos variaram entre desconto nulo e desconto de 0,4 pontos, sendo a média e a moda de descontos igual a 0,2 pontos. Já no aparelho Solo, os descontos variaram entre desconto nulo e 0,5 pontos, sendo a moda de descontos igual a 0,3 pontos. Além disso, foi possível notar nos dados que as notas de composição de uma mesma atleta nas diferentes etapas de competição ou se manteve constante, ou diminuiu. A mudança no código mostra uma maior valorização do aspecto artístico a cada ciclo, destacando e discernindo cada vez melhor o que seria considerado como algo inadequado na elaboração de séries. Os dados mostraram que as ginastas estão se adequando a essa mudança, devido ao fato dos descontos sofridos serem bem baixos (num total possível de descontos em ambos os aparelhos). Espera-se com esta pesquisa fortalecer a crescente valorização proposta pelo Código de Pontuação da GAF ao quesito artístico, assim como, trazer para os debates científicos esta temática, para que a Ginástica Artística se relacione cada vez mais à Arte. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Artístico; Jogos Olímpicos.
R.90 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
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GINÁSTICA ARTÍSTICA PARA ADULTOS
: DESAFIOS PARA A PRÁTICA
SILVA PP, CARBINATTO MV. pamelapiresgymnastics@gmail.com Escola de Educação Física e Esporte-EEFE Universidade São Paulo-USP Grupo de Estudos e Pesquisa em Ginástica-GYMNUSP
A Ginástica Artística (GA) é uma modalidade ampla em movimentos e exigências, combinando diversas capacidades físicas com os mais variados padrões de movimento, resultando em um mix de combinações acrobáticas, juntamente com elementos artísticos, como saltos em amplitudes máximas, passos de dança e movimentos de expressão corporal. A GA é conhecida, essencialmente, pela competição. Sua repercussão na mídia e nas redes sociais tem despertado o interesse pela prática em públicos de diferentes fases da vida. Apesar da maior parcela dos praticantes ser de crianças e adolescentes, a GA tem conquistado espaço, também, dentro do público adulto. Apesar da pouca – ou nenhuma – discussão sobre ginástica para esta faixa etária, sabe-se de algumas instituições que promovem a prática da GA para adultos, com interessantes resultados não apenas no desempenho físico, mas também nas relações interpessoais e na forma de pensar a Ginástica. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é relatar a experiência, enquanto professora, de prática de ensino da GA para grupos de adultos. Grande parte dos indivíduos que buscam este esporte vem com uma ideia equivocada da GA e desacreditados de suas capacidades para se inserirem e se manterem na modalidade. O delineamento da atividade pauta-se, portanto, em mostrar o trabalho de uma modalidade competitiva com um viés diferenciado – lazer, aprendizado e, até mesmo, superação de limites – para este público diferenciado – seja com ou sem experiências prévias em ginásticas. As aulas são elaboradas a partir dos fundamentos da GA, permitindo atividades amplas em possibilidades e exigências motoras. Apresentam duração de uma hora e meia, com a seguinte estrutura: Aquecimento coletivo; Preparação Física específica; Parte principal, com enfoque em duas ou três habilidades; e treinamento da Flexibilidade ao final. O maior desafio é proporcionar uma prática que atenda aos mais diversos níveis de proficiência e habilidade. A estratégia utilizada para resolver esta questão é ramificar os elementos ginásticos, realizando variedades de educativos de forma progressiva até chegar ao movimento completo, respeitando os limites, medos e a fases de aprendizado de cada aluno. A abordagem nas aulas não se limita à apenas o aprendizado de habilidades motoras, mas também explorações de outros elementos além de físicos, como aspectos emocionais e psicossociais. Prima-se por uma boa integração e cooperação entre todos os participantes, apoio e suporte uns aos outros, promovendo uma prática interativa e rica em elementos ginásticos. Desta forma, o ensino em ginástica para adultos tem se apresentado como enriquecedora para os participantes, nos pontos de vista físico-motor, cognitivo e social, promovendo experiências positivas e desafiadoras para todos. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Adultos; Prática Esportiva.
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DEFICIÊNCIA VISUAL E A GINÁSTICA NA ESCOLA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES
SILVA JR, ABREU IC, LIMA LBQ, ANTUALPA KF. julianaramosdasilva7@outlook.com.br Faculdade Devry Metrocamp Experiências Pedagógicas em Ginástica da Metrocamp (EXPEGIM)
A deficiência visual é uma limitação que pode anular ou reduzir a capacidade de enxergar, abrangendo diversos graus de acuidade visual e permitindo várias classificações da redução da visão (FREITAS; CIDADE, 1997). A perda de informações sobre o meio acaba dificultando a interação social do deficiente visual (DV) e o afastando das possíveis oportunidades de uma participação plena nos diversos aspectos da vida cotidiana. Portanto, o processo de inclusão do DV se mostra fundamental para sua inserção na sociedade. Nesse contexto, acredita-se que a inclusão escolar, mais especificamente nas aulas de educação física, pode proporcionar oportunidade de entendimento do próprio corpo, melhora postural e equilíbrio juntamente com a competência social e socialização do deficiente visual. A Ginástica Artística (GA) é uma modalidade esportiva básica, de caráter competitivo, que compõe o currículo da educação física escolar (EFE). Conhecida por possibilitar diversas formas de movimentação, refinando as capacidades e habilidades motoras do praticante, ela proporciona o entendimento do próprio corpo e melhora postural. Ademais, trabalha a resistência muscular, coordenação, flexibilidade, equilíbrio, ritmo e consciência corporal, além de auxiliar na integração social, promovendo disciplina, responsabilidade, iniciativa, organização, e possibilita, sobretudo, a formação integral do indivíduo com ou sem deficiência (BEZERRA; FELICIANO; FERREIRA FILHO, 2006). Assim, o objetivo deste trabalho, ainda em andamento, será analisar o currículo do estado de São Paulo, com o intuito de diagnosticar - dentro do conteúdo de Ginásticas-atividades que possibilitem a inclusão de deficientes visuais. Como objetivo secundário, teremos a intenção de, a partir das atividades selecionadas, propor estratégias para adaptação deste conteúdo no ensino da GA para deficientes visuais. Para tanto, será realizada primeiramente uma revisão de literatura sobre temas pertinentes a temática deste trabalho. Serão utilizadas as bases de dados Google acadêmico, Scielo, Pubmed e Lilacs acerca dos termos: deficiência visual,Ginástica Artística, Ginástica na escola e inclusão. Serão utilizados os trabalhos (artigos, teses, dissertações e livros) publicados a partir de 1990. Além disso, será utilizada a análise documental, que se caracteriza pela busca de informações em documentos que ainda não receberam nenhum tratamento científico (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009). Espera-se que com a revisão e a análise documental, possamos aperfeiçoar o ensino da GA no contexto escolar (no ensino formal ou extracurricular), para todos, sobretudo para deficientes visuais e pessoas com baixa visão. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Inclusão; Educação Física Escolar.
R.92 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 21
REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE ATLETAS NA GINÁSTICA ARTÍSTICA MASCULINA DO BRASIL
SILVA YTG1, OLIVEIRA MS1, NUNOMURA M2. yan.t.gal@hotmail.com Universidade Federal do Espírito Santos-UFES Escola de Educação Física de Ribeirão Preto-EEFERP 2 Universidade de São Paulo-USP 1,2 Laboratório de Ginástica-LABGIN Apoio: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica-PIBIC Fundo de Apoio à Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo-FAP/UFES 1
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O sucesso na Ginástica Artística (GA) depende do apropriado planejamento, organização, administração e avaliação do processo de treinamento (ARKAEV; SUCHILIN, 2004; READHEAD, 1993; SMOLEUSKIY; GAVERDOUSKIY, 1996), pois, somente assim, o ginasta conseguirá atingir o seu potencial máximo na modalidade. Um programa de formação esportiva visa orientar os profissionais no planejamento, na execução e na avaliação de um treinamento sistematizado em longo prazo e, por conseguinte, permitiria a melhor formação de atletas. Sabemos que o esporte deve ser adaptado à realidade de seus praticantes e considerar as capacidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais dos desportistas (COACHING ASSOCIATION OF CANADA, 1993 apud NUNOMURA; TSUKAMOTO, 2008). Destacamos que o treinamento em longo prazo representa um meio eficaz para a promoção de talentos e possibilita que aqueles que buscam o esporte recebam instruções apropriadas para o seu nível e, consequente, aperfeiçoamento. O presente estudo visa discutir o processo de formação esportiva na GA, bem como caracterizar as ações formativas no contexto brasileiro da modalidade. Como procedimento metodológico, optamos por uma pesquisa de cunho bibliográfica e documental na qual os dados foram coletados por meio de uma documentação indireta. A pesquisa bibliográfica consistiu em selecionar, fichar e arquivar tópicos de interesse para o estudo a partir de informações, conhecimentos e dados que foram sistematizados, os quais estão disponíveis em livros, artigos, notícias e meios audiovisuais. Na pesquisa documental procuramos fontes, denominadas primárias, que ainda não receberam um tratamento analítico ou que ainda podiam ser reelaboradas de acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 1999), como: documentos federativos, programas competitivos para as diferentes categorias, descrições de séries compulsórias e relatórios técnicos. Para a organização, categorização e análise das informações recorremos a Análise de Conteúdo (BARDIN, 1970). Consideramos que essa análise da formação esportiva na GA masculina, assim como a apreciação inicial dos procedimentos realizados no Brasil, tem o potencial de aliar conhecimentos gerais do Esporte com aqueles específicos dessa modalidade de forma contextualizada. E, assim, poderá contribuir com a reflexão e o futuro desenvolvimento de novos estudos e ações relativas ao sistema de formação esportiva na GA no Brasil. Destacamos que o estudo encontra-se em fase de desenvolvimento e recebe aporte financeiro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. PALAVRAS-CHAVE: Formação Esportiva; Ttreinamento Esportivo; Ginástica de Competição.
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ANÁLISE DAS COMPETIÇÕES NACIONAIS DE GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA E A FORMAÇÃO DA ATLETA
KUMAKURA RS, HAIACHI MC, BALBINOTTI CAA. kumakura.roberta@gmail.com Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRS Scenarios
A ginástica artística feminina (GAF) brasileira apesar da evolução conquistada nas últimas décadas ainda apresenta dificuldades para atingir os resultados estabelecidos por técnicos e dirigentes. Apesar dos avanços apresentados na década de 2000, com a vinda dos técnicos ucranianos, os resultados não conseguiram ser consolidados. A formação da atleta de GAF é um processo longo que necessita de uma estrutura bem articulada para alcançar metas estabelecidas ao final do planejamento. A competição se mostra como fator determinante nesta formação, no entanto, ao observar as competições nacionais percebe-se um número reduzido de participantes nas diversas categorias. Neste sentido, o objetivo do estudo foi analisar a participação nas competições nacionais de GAF (2013-2016) e sua importância na formação das atletas. As informações foram obtidas através dos relatórios finais dos Torneios Nacionais (TNGA) e dos Campeonatos Brasileiros de Ginástica Artística (CBGA) de todas as categorias nos anos de 2013 a 2016 e de entrevista com o responsável pela elaboração dos regulamentos técnicos destas competições. Trata-se de uma pesquisa descritiva, estruturada na análise documental e na análise de conteúdo, a partir de uma abordagem qualitativa. O número de participantes nas competições nacionais é uma preocupação comum entre técnicos e dirigentes da modalidade, principalmente nas categorias de base, já que é a partir dessa formação inicial que novos atletas terão condições de compor equipes principais. Nos últimos dois anos este número, que já era reduzido, apresentou um decréscimo de 27,6% na principal competição nacional da modalidade, o CBGA, com representantes apenas das regiões sul e sudeste do país, o que torna evidente a necessidade de ações que possam alterar esse cenário. O TNGA, apesar do discreto acréscimo no número de participantes (7%) apresentado em 2015 (quando passou a ser realizado em uma única edição anual) comparado ao total de participantes nas edições dos anos anteriores, em 2016 sofreu uma redução considerável (39%). Nesta competição, por requerer menor nível técnico dos seus participantes, pode-se notar a participação de atletas de todas as regiões do Brasil, no entanto, esta participação sofre influência do local onde é realizada a competição, expondo a dificuldade dessas entidades em se deslocar para outras regiões. As competições de GAF são organizadas e têm seus regulamentos elaborados visando uma gradativa evolução técnica, em busca da perfeição e da precisão, mas apesar desta preocupação estar presente no discurso do responsável pela elaboração dos regulamentos, a evolução técnica das ginastas ainda se mostra um desafio. A participação em competições desde as categorias iniciais, além de contribuir na educação deste indivíduo possibilitando aquisições nos aspectos comportamentais e atitudinais, que serão levadas por toda a vida, é fundamental para a preparação técnica e psicológica da atleta. O reduzido número de participantes constatado nas competições nacionais e a grande concentração destes nas regiões sul e sudeste reflete diretamente a falta de renovação de atletas no alto rendimento. Com a recente alteração dos regulamentos técnicos, em 2017, cria-se a perspectiva de ampliação na participação dos estados nas competições nacionais, principalmente no CBGA. PALAVRAS-CHAVE: Renovação; Participação; Regulamento Técnico.
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UNIDADES GERACIONAIS OLÍMPICAS DA GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA
(1952-2016)
KIOURANIS TDS1, MARCHI JÚNIOR W2. taizaseron@hotmail.com Universidade Federal do Tocantins-UFT 2 Universidade Federal do Paraná-UFPR Centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade-CEPELS Núcleo de Estudos e Políticas Públicas para o Esporte-NEPPE 1
A Ginástica Artística (GA), enquanto modalidade esportiva com regras e aparelhagem pré-definidas, só foi estabelecida nos Jogos Olímpicos a partir de 1952. Nesse ano, a ginástica artística feminina (GAF) começou a ser disputada em provas individuais. Antes disso, as competições femininas eram realizadas somente por equipe (NUNOMURA, 2008). Desde então, a GAF tem evoluído constantemente, apresentando transições nas formas de competição, regras e resultados, além do surgimento de ginastas, que podem marcar grupos geracionais. Observando esse cenário, questionamos: como se caracteriza a trajetória olímpica da GAF no período de 1952 a 2016, a partir da perspectiva de gerações de Karl Mannheim? Parte-se da hipótese de que as décadas de 1950, 1970, 1990, 2010 marcaram o início de diferentes gerações na GAF olímpica, sendo que cada uma orientou o desenvolvimento da modalidade nas fases seguintes. Buscamos, então, analisar a trajetória olímpica da GAF no período de 1952 a 2016, a partir da perspectiva de gerações de Karl Mannheim. O estudo, ainda em andamento, caracteriza-se como bibliográfico e documental. Como fontes bibliográficas serão mapeados livros, teses, dissertações e artigos científicos que tratam da história da GAF, tais como Publio (1998), Nunomura (2008) e Schiavon (2009). Como fonte documental definimos reportagens jornalísticas e ranking olímpico disponíveis em sites relacionados à GAF olímpica, de modo especial, no site do Comitê Olímpico Internacional (COI), além de códigos de pontuação oficial da GAF. Não identificamos estudos dessa natureza voltados para a GAF, contudo destaca-se o trabalho de Vlastuin (2013), no qual a autora fez uma análise das unidades geracionais olímpicas do voleibol feminino no Brasil no período de 1980 a 2008. Os estudos de Schiavon (2009) e Schiavon e Paes (2012), apesar de trazerem o contexto da GAF olímpica brasileira, nos ajudará a construir a ideia de geração olímpica na perspectiva manheiminiana. “Para partilharmos da mesma localização de geração, i.e., passivamente sofremos ou activamente usarmos as capacidades e privilégios de uma localização de geração, devemos ter nascido dentro da mesma região histórica e cultural. Mas a geração como realidade vai precisar de mais do que uma mera co-presença em tal região histórica e social. É necessário um outro nexo concreto para que a geração se constitua como realidade. Este nexo adicional pode ser descrito como uma participação num destino comum desta unidade histórica e social” (MANNHEIM 1986 apud VLASTUIN, 2013. p. 65). Como resultados preliminares destacamos algumas ginastas em cada geração inicialmente proposta: 1950-1960: Agnes Keleti (húngara), Larissa Latynina (ucraniana); Polina Astakhova (russa) e Vera Cáslavská (tcheca); 1970 a 1980: Lyudmila Turischeva (russa), Olga Kornut (soviética), Nadia Comaneci (romena), Nellie Kim (soviética) e Mari Lou Retton (norte-americana); 1990 a 2000: Shannon Miller (norte-americana), Tatiana Goutsu (soviética), Svetlana Khorkina (russa), Andreia Raducan (romena), Catalina Ponor (romena), Anastasia Liukin (russa) e Shawn Johnson (norte-americana); e 2010 a 2016: Alexandra Raisman (norte-americana), Aliya Mustafina (russa), Gabi Douglas (norte-americana) e Simone Bailes (norte-americana). Cada uma dessas fases é percebida tendo em vista o surgimento de novos portadores de cultura, a saída de antigas práticas culturais, a transmissão dos bens acumulados e o caráter contínuo das mudanças geracionais. PALAVRAS-CHAVE: Sociologia; Geração; Ginástica Artística Feminina.
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GINÁSTICA ARTÍSTICA E GINÁSTICA RÍTMICA DO CEARÁ: ESTUDOS INICIAIS
CARVALHO KMC, SCHIAVON LM. kassiamitalli@gmail.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Grupo de Estudos em Ginástica-GPG Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
No Brasil, a Ginástica foi introduzida por imigrantes que aportaram ao Sul e Sudeste do país, tendo já no século XIX grupos de ginástica dispersos nestas regiões como meio dos imigrantes alemães manterem sua identidade cultural no país (TESCHE, 2002; FIORIN, 2002). Como prática esportivizada no século XX surge a primeira federação estadual, a Federação Riograndense de Ginástica (1942), seguida pela Federação Paulista de Ginástica (1948) e pela Federação Metropolitana de Ginástica do Rio de Janeiro (1950) (PÚBLIO, 2002). Desde então, até os dias atuais, estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, concentram a prática de ginásticas competitivas como a Ginástica Artística (GA) (LIMA, 2016) e Ginástica Rítmica (GR) (ANTUALPA, 2011). Além de estudos que apontem para a concentração e a ausência da ginástica em diferentes regiões do país (SCHIAVON et al., 2013; LOURENÇO, 2015), este fenômeno ocorre também em relação às pesquisas, com uma prevalência de estudos sobre a região sudeste, o que não nos permite conhecer realidade, dificuldades e necessidades de outras regiões. Assim, esta pesquisa tem o objetivo de analisar a participação do estado do Ceará em competições de GA e GR nos níveis estadual e nacional. Para tal, foi realizada pesquisa documental, nos registros da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e da Federação Cearense das Ginásticas (FCG). O recorte temporal foi realizado de acordo com os documentos disponíveis no site da CBG e na sede da FCG (2011-2016). Foram encontrados Campeonatos Estaduais de GR em todos os anos analisados, com média de 50 ginastas participantes no total das categorias pré-infantil, infantil, juvenil e adulto, realizados na Universidade de Fortaleza, Estácio FIC e Universidade Federal do Ceará. Já na GA, em 2016 houve o primeiro evento documentado, o Torneio Estreantes de GA e Campeonato Cearense de GA, do qual participaram 55 atletas nas categorias Mirim, Pré-Infantil, Infantil, Juvenil e Adulto feminino (51 atletas) e 4 atletas infantis no masculino. O evento foi realizado no Centro de Formação Olímpica do Nordeste (CFO). Nos eventos nacionais de GR, foram encontradas participações esporádicas de ginastas de entidades cearenses desde 2011, nas categorias Pré-infantil, infantil, juvenil e adulto, exceto em 2015 (máximo de 7 ginastas em 2007 e média de 4 ginastas por ano). Na GA, em 2015 houve a participação de ginastas cearense no Torneio Nacional de Ginástica Artística, nas categorias Iniciante Pré-infantil (1), Iniciante Infantil (2), Iniciante juvenil (1), Avançado juvenil (1) e Intermediário adulto (1). No Campeonato Brasileiro de GA uma atleta cearense participou na categoria adulto (2015). A partir dos dados analisados, confirma-se a falta de tradição do Estado na prática da GA em relação a GR no Estado, o que se reflete na participação também em eventos nacionais. Porém é possível notar um esforço em desenvolver essas modalidades no Ceará nos últimos anos. O primeiro evento de GR no Ceará foi realizado em 1997, daí então houve diversos eventos de massificação da modalidade (DODÓ, 2014). No entanto, a participação de ginastas de GA em eventos nacionais demonstra o interesse pela prática e a necessidade de um melhor desenvolvimento. Destaca-se a importância de compreendermos e desenvolvermos estudos sobre a Ginástica de regiões pouco estudadas, entendendo as dificuldades e necessidades dessas regiões para o impulso e desenvolvimento a partir da realidade de cada região ou estado. PALAVRAS-CHAVE: Palavras-chave: Ginástica; Nordeste. Esporte.
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A ESTÉTICA ESPORTIVA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA: O CÓDIGO DE PONTUAÇÃO E QUALIDADE DAS SÉRIES OLÍMPICAS
TUCUNDUVA BBP, MOLINARI CI. tucunduva@ufpr.br
Universidade Federal do Paraná-UFPR
A ginástica artística feminina (GAF) possui uma linguagem corporal densa em expressão, simbolismo e criatividade. As séries que compõem a competição demonstram o nível de competência técnica da ginasta, sua capacidade de executar os exercícios com destreza, e sua expressividade em apresentar de modo impactante suas habilidades. A elaboração dessas séries é orientada por um código de pontuação desenvolvido pela Federação Internacional de Ginástica (FIG). Esse instrumento orienta os critérios de avaliação das séries apresentadas, estabelece o padrão mínimo de execução das técnicas, e direciona a interpretação artística. Desse modo, a estética esportiva da GAF tem no seu código de pontuação um elemento determinante, sendo esse o principal recurso da FIG para guiar o desenvolvimento do esporte. Estudar a GAF com base na sua estética e expressividade é uma abordagem que pode nos auxiliar a compreender as suas peculiaridades. De outro modo, pode revelar uma leitura detalhada da linguagem corporal da GAF, um elemento subjacente ao treinamento esportivo que também estrutura a sua lógica interna (PARLEBAS, 2001). Assim a compreensão da estética esportiva da GAF pode auxiliar os profissionais da área na concepção dos valores subjetivos e simbólicos das séries de competição, além de lançar luz à formação expressiva da ginasta. Nesse estudo, buscamos compreender a estética da GAF segundo o efeito prático das orientações do código de pontuação nas séries de competição. A pesquisa se fundamenta na estética esportiva (GUMBRECHT, 2005) e se dedica a discutir a constituição expressiva da GAF, os valores implícitos em sua prática, e os significados transmitidos por suas produções. O recorte temporal para a seleção dos materiais de pesquisa foram as edições dos Jogos Olímpicos dos anos de 2000 a 2016. O estudo é composto por uma análise do código de pontuação e das séries finalistas olímpicas correspondentes. A análise do código de pontuação foi direcionada para a interpretação das implicações estéticas de suas orientações. Esse procedimento considerou a qualificação e valorização das séries segundo as regras. Com base nisso analisamos as séries em sua composição artística. Os resultados preliminares desse estudo debatem a produção da linguagem corporal da ginástica em interface com o espetáculo esportivo. As técnicas corporais da GAF são recursos estéticos para a composição de uma competição definida sobre o controle do gesto e o impacto cênico. Desse modo, debatemos os significados simbólicos do gesto, a corporificação de um jogo expressivo baseado em regras e sua caracterização competitiva. As considerações preliminares desse estudo é uma tendência atual da GAF à valorização dos aspectos artísticos das séries, em busca de apresentar um espetáculo esportivo com estética mais criativa e plural. No recorte estudado, os traços de estratégias para estimular determinadas características e potencialidades do esporte se mostraram relacionados com um perfil estético esportivo, muito próximo de determinados valores do esporte espetáculo. Compreendemos isso a partir de alterações significativas na normatização das séries, de modo a estimular uma maior integração entre elementos de dificuldade e elementos artísticos. PALAVRAS-CHAVE: estética esportiva; Ginástica Artística Feminina; Jogos Olímpicos.
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A HISTÓRIA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA EM CAMPINAS
(1970 - 1990): PERSPECTIVAS DOS TREINADORES
PIONEIROS
SORDI ICE, LOCCI B, SCHIAVON LM. isa_desordi@hotmail.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Apoio:Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica-PIBIC do Conselho Nacional de Desenvolvimento de Científico e Tecnológico-CNPq Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES
A Federação Paulista de Ginástica (FPG) é considerada a instituição com o maior número de entidades filiadas do País. No estado de São Paulo (SP), uma das cidades do interior com tradição na Ginástica Artística (GA) e que ainda se mantém em campeonatos regionais, estaduais e nacionais é a cidade de Campinas, que vem trabalhando esta modalidade competitiva em diversas instituições públicas e privadas. Ademais, trata-se de uma cidade que já teve expressão no cenário nacional, estadual e regional da modalidade, havendo campeões brasileiros e integrantes de seleção brasileira nas décadas de 70 e 80. Atualmente, mesmo com a diminuição dos resultados nos campeonatos, Campinas é considerada uma das únicas cidades interioranas que ainda compete na modalidade em nível nacional (LIMA, 2016). Tendo em vista a falta de estudos históricos sobre a GA em Campinas, esta pesquisa tem como objetivo registrar e analisar a história da GA competitiva na cidade de Campinas, no período de 1970 a 1990, a partir da perspectiva dos (as) treinadores (as) pioneiros da referida cidade. Para tal, será desenvolvida uma pesquisa qualitativa fundamentada na análise documental e pesquisa de campo com história oral, com os treinadores da modalidade nessas duas décadas. Na pesquisa documental serão analisados documentos e imagens referentes à GA em Campinas, como registros de resultados de competições da FPG e Confederação Brasileira de Ginástica, Jogos Abertos e Regionais do interior do estado de SP, acervos de clubes tradicionais na prática da GA, além de fotos, acervos pessoais e jornalísticos dos participantes da pesquisa. A pesquisa de História Oral, considerada uma fonte para compreensão do passado que, ao lado de outros documentos como fotografias e documentos escritos, será desenvolvida por meio da técnica de relato oral, que consiste em entrevistas organizadas pelo pesquisador em relação a um determinado período ou fato que o seu informante tenha vivido. Portanto, não será reconstruída parte da vida do informante, mas sim registrada a história da GA na cidade de Campinas nesse período em que ele pôde conviver e participar (QUEIROZ, 1988). A coleta de relato oral será realizada com gravador digital de voz, e posteriormente as entrevistas serão transcritas e textualizadas (MEIHY, 2005). Os dados serão analisados pela técnica de análise cruzada proposta por Thompson (1992). Dessa forma, os depoimentos transcritos serão classificados em unidades de análise, ou seja, “recortes que agrupam em função de sua significação, que cumpre que esses sejam portadores de sentido em relação ao material analisado e às intenções da pesquisa” (LAVILLE; DIONNE, 1999, p.216). Espera-se, com o resultado, divulgar a história da modalidade em Campinas, dando voz aos protagonistas dessa história, buscando conhecer e valorizar essa modalidade e, de uma forma mais ampla, a história do esporte em Campinas, sendo possível estabelecer relações com a atualidade. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; História Oral; Treinador.
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GINÁSTICA ARTÍSTICA PARA ADULTOS: UM OLHAR PARA A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
NUNES JGB, MENEGALDO FR, TOLEDO MA, SCHIAVON LM. joaogbn@hotmail.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Grupo de Estudos em Ginástica-GPT
Na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (FEF-Unicamp), o oferecimento de projetos de extensão universitária oportuniza o acesso e a vivência a um espectro de práticas corporais, sendo uma delas a “Ginástica em Aparelhos para Adultos”, turma para pessoas acima de 18 anos do projeto “Ginástica”. Tendo como monitores alunos de graduação e pós-graduação da FEF-Unicamp, todos integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas Pedagógicas em Ginástica (GEPPEGIN), essa turma em especial tem como objetivo oferecer e viabilizar um espaço para a prática das ginásticas em aparelhos por participantes adultos. No entanto, nesse projeto, há alguns semestres, o interesse dos alunos e a expectativa deles vem sendo, quase que de forma exclusiva, direcionados para o conteúdo da Ginástica Artística mais especificamente. A partir disto, como um espaço de iniciação esportiva tardia ou mesmo de continuidade de prática de alguma modalidade ginástica, este trabalho teve como objetivo analisar o perfil dos alunos, experiências anteriores, bem como as suas expectativas em relação às aulas do primeiro semestre de 2017. Para isso, foi utilizado um questionário respondido individualmente no primeiro encontro do semestre. Posteriormente, os dados foram analisados pelo método de categorização (BARDIN, 2011). Acerca dos resultados, são 21 alunos (12 mulheres e 9 homens), com a faixa etária (86%) entre 20 e 25 anos, o que sugere uma possível associação ao fato de serem estudantes de graduação e pós-graduação da UNICAMP. Sobre as experiências anteriores, 17 alunos responderam ter vivências prévias com a Ginástica: Ginástica Artística (14), Ginástica Acrobática (5), Ginástica Rítmica (2), Ginástica Geral (2), Ginástica de Trampolim (2) e Cheerleader (2). Em menor incidência apontaram outras práticas: Ioga (1) e Pilates (1). No que diz respeito às expectativas dos praticantes em relação ao projeto, observa-se que a maioria (71,4%) enfatizou o aprendizado de novos elementos da GA, com ênfase nas acrobacias. Mais da metade dos alunos (52,3%) busca também um condicionamento físico, com destaque para a flexibilidade, e 33,3% indica o desejo de aprimorar a execução de elementos da modalidade que já têm domínio, além da diversão (28,5%). Dessa forma, entende-se que o público que busca essa vivência, em sua maioria, já tem alguma proximidade com a Ginástica, principalmente a GA, o que é coerente com a alta incidência de expectativas em aprender ou aprimorar elementos próprios dessa modalidade. O fato de haver participantes com experiências em níveis bastante diferentes, sendo que 33% provém do alto rendimento enquanto os outros 67% tem pouca ou nenhuma experiência com a Ginástica, torna a aula um rico ambiente de interação e troca entre os próprios alunos, o que, a partir da proposta pedagógica adotada, facilita o aprendizado por meio das trocas de experiências. Simultaneamente, esse quadro traz uma reflexão sobre a possibilidade de turmas iniciantes para pessoas que não tenham tido quaisquer oportunidades anteriores na Ginástica, pois, de acordo com os dados obtidos, esse público não tem se aproximado deste espaço de prática da ginástica. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Adultos; Extensão Universitária.
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O OLHAR DOS TÉCNICOS SOBRE A GINÁSTICA ARTÍSTICA MASCULINA NO ESTADO DE SANTA CATARINA
FRANCISCHI VF, RIBEIRO NT. profvanessa@unochapeco.edu.br
Universidade Comunitária da Região de Chapecó-UNOCHAPECÓ
O estado de Santa Catarina (SC), mesmo sendo local de origem no Brasil da Ginástica Artística Masculina (GAM), tem seu desenvolvimento restrito em relação a outras modalidades gímnicas, sendo desenvolvida em poucos municípios. Com o intuito de problematizar esta temática optou-se por realizar esta pesquisa que apresenta como problema: qual o panorama da GAM em Santa Catarina na perspectiva dos técnicos? O objetivo geral foi compreender o panorama da GAM em SC, na perspectiva dos técnicos. Assim, os objetivos específicos foram: realizar levantamento sobre as cidades catarinenses em que a GAM se encontra presente; conhecer a realidade de cada local em relação à formação do técnico, estrutura e situação da GAM nos municípios de SC; e investigar a percepção dos técnicos sobre situação da GAM em SC. O estudo caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa de natureza descritiva. Os sujeitos da pesquisa foram quatro técnicos envolvidos ativamente com a GAM em SC, equivalente a 67% dos técnicos que atuam na modalidade. O instrumento para a coleta dos dados foi um questionário com questões abertas. Para a análise dos dados utilizou-se a análise temática, proposta por MINAYO (2008). Foram encontradas as seguintes categorias de análise: a organização da GAM em SC; a formação dos sujeitos (técnicos) de GAM; e gênero na GA catarinense. Os resultados apresentaram que a GAM é desenvolvida atualmente em seis municípios de SC, um número pequeno quando posto ao lado do número total de cidades existentes no Estado. Esse número reduzido de locais de treinamento viabiliza a participação de poucos praticantes, o que acarreta o enfraquecimento da modalidade. Além disso, na maioria das vezes a infraestrutura reduzida dos mesmos prejudica a ampliação e a qualidade do trabalho realizado. Outro fator que interfere na expansão da modalidade é o acesso limitado à formação profissional de técnicos de GAM, seja na formação inicial (cursos de graduação em Educação Física) ou mesmo na formação continuada (cursos específicos da modalidade). A escassez de cursos específicos no Brasil, seja em esfera local, estadual ou nacional, pode ser um dos motivos pelo qual o esporte não é tão difundido no país, se analisarmos países onde o esporte se encontra mais popularizado, como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá entre outros percebe-se uma maior e mais organizada estrutura na formação e qualificação dos sujeitos que estão à frente da Ginástica Artística (NUNOMURA, 2001). As questões de gênero também se apresentaram como fator relevante na pesquisa, todos os quatro participantes envolvidos com a GAM são do sexo masculino, ou seja, nenhuma mulher atua como técnica na GAM. Além disso, os técnicos relataram que a procura pela GA é maior pelo sexo feminino do que pelo masculino. Assim, conclui-se este estudo apontando que a GAM em Santa Catarina tem um longo caminho a ser trilhado, nos quais várias barreiras devem ser ultrapassadas, tais como: ampliação do número de locais de treinamento, bem como sua infraestrutura e ampliação de acesso a um maior número de praticantes; melhoria na qualificação profissional dos técnicos; e ações que incentivem a iniciação esportiva para todos, problematizando os estereótipos de movimentos relacionados ao gênero, que ainda estão presente nas modalidades esportivas, principalmente na Ginástica. PALAVRAS-CHAVE: Esporte; Ginástica Artística Masculina; Técnicos.
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PROMOÇÃO DE GINÁSTICA ARTÍSTICA E INCLUSÃO DE INDIVÍDUOS ADULTOS NA MODALIDADE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
DAMASCENO JUNIOR A, COSTA VR, MONTEIRO KOFF, NUNOMURA M. ari.damasceno@usp.br Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto-EEFERP Universidade de São Paulo-USP
A Ginástica Artística (GA) é um grande desafio, tanto para quem ensina como para quem pratica, independente de seus objetivos, seja para alcançar o alto rendimento ou para lazer e recreação. O praticante deve desenvolver capacidades físicas e dominar fundamentos da GA que constituirão o alicerce para o desenvolvimento nesse esporte. Estabeleceu-se a cultura de que a GA seja um esporte para crianças e adolescentes, e os adultos têm poucas oportunidades de vivenciá-la. Assim, buscamos incluir os adultos no nosso projeto “Promoção de Ginástica Artística no Campus de Ribeirão Preto” da Universidade de São Paulo (USP). As atividades ocorrem há quase um ano, duas vezes por semana, 90 minutos/ dia. Atualmente, são 10 universitários inscritos, mas o ingresso é de fluxo contínuo. Esta apresentação trata-se de um relato de experiência dos alunos de Graduação e Pós-Graduação da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da USP, que participam como monitores. Para compreender como iniciamos e temos conduzido a prática de GA, discutiremos os motivos que atraíram os participantes nessa prática tão desafiadora. Alguns participantes tiveram experiências na infância e outros não, mas que foram atraídos pelo encanto do esporte, outros que desejam aprimorar sua consciência corporal, assim como força e flexibilidade. Esses participantes compartilham o mesmo espaço e aulas, independente dos respectivos motivos de estarem ali. Assim, o desafio dos monitores é, além de conduzir a vivência prática e promover a integração do grupo, também atender aos interesses diversos dos participantes, de modo que se mantenham regulares e satisfeitos no projeto. Apresentamos nossas impressões, desafios e dificuldades na condução das aulas, pois no processo de formação acadêmica, seguimos a compreensão da GA em seu contexto prático, psicossocial e sociocultural; nas dificuldades apresentadas pelos participantes que, devido à falta de experiência no esporte, têm pouca aptidão física para a prática, além da ausência de consciência corporal e, principalmente, receio e medo de progredir para habilidades mais complexas. Ao fim, pensamos no que poderia ser alterado ou mantido para que o projeto possibilite melhor vivência e desenvolvimento dos alunos no esporte e como poderíamos aprimorar a qualificação dos alunos de Graduação e Pós-Graduação em Educação Física por meio desse projeto. Nossa experiência fez perceber que a GA não é tão seletiva como observamos e a literatura aponta. Para quebrar preconceitos temos acolhido a todos que nos procuram, a fim de oportunizar, na universidade, um esporte que é pouco difundido no país. Apesar da dificuldade e complexidade do ensino e do aprendizado da GA, temos observado a satisfação dos participantes e o interesse crescente em aprender. E, nós monitores, temos sentido orgulho e autoconfiança ao vencer os desafios de quem deseja seguir na GA profissionalmente. Assim, evidenciamos que os adultos são capazes de praticar GA, e que seus fatores limitantes não diferem daqueles desafios em toda modalidade esportiva. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Relato de Experiência; Inclusão.
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GINÁSTICA ARTÍSTICA E DISCUSSÃO DE GÊNERO: CONSTRUÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES NO ESPORTE
SILVA HN, GAIO RC. rcgaio@ig.com.br
Universidade Salesiana-UNISAL
Após anos de experiência na ginástica artística, seja como atleta, técnico, árbitro ou como secretário executivo da Associação Metropolitana de Desportos Acrobáticos e Ginástica em Geral, sinto-me incentivado a investigar sobre as relações de gênero na modalidade, pois as diferenças entre meninos e meninas sempre perseguiram a minha prática esportiva. Como ginasta, vivenciei os movimentos da Ginástica Artística (GA), tendo como referencial a força, a impulsão, a velocidade e os movimentos de membros superiores e inferiores considerados quadrados, com uma forte influência do método de ginástica alemão, na figura de Frederich Jahn. Estudos comprovam que a concepção da modalidade GA iniciou-se no século XIX, na Alemanha e que o estudioso já mencionado, criou, em 1811, o primeiro campo de ginástica ao ar livre, na floresta de Hasenheide. A ginástica artística, tal qual vemos hoje, como aparelhagem sofisticada, sofreu influências dos aparelhos improvisados em árvores, na floresta já mencionada, para fins militares. Por outro lado, sempre presenciei as meninas treinando a ginástica em outros aparelhos, com foco na graça, na leveza, tendo os passos rítmicos e expressivos presentes nas coreografias, inclusive tendo a música como acompanhamento obrigatório. A série de solo do masculino não tem música. Isso sempre foi um aspecto que diferenciou e ainda diferencia o feminino do masculino e nos leva a refletir sobre gênero e as características dos movimentos na Educação Física. Meu ingresso no curso de educação física e os estudos realizados das diversas disciplinas me levaram a pensar na temática de gênero como um aspecto fundamental para eliminar possíveis exclusões em aulas de educação física, advindas do conceito de que existem movimentos específicos de meninas e de meninos. Assim, esse estudo, ainda em andamento, surge a partir da seguinte questão problema: qual a visão dos técnicos de Campinas e região sobre o espaço de meninas e meninos na ginástica artística? Optou se por um estudo de cunho qualitativo, descritivo de opinião, com o intuito de desvelar o fenômeno a ser pesquiso e contribuir para a construção de novas identidades de gênero na prática dessa modalidade. Como suporte teórico para essa discussão foi realizada uma pesquisa bibliográfica sistemática, trazendo à baila a produção científica sobre ginástica artística e gênero em periódicos, dissertações e teses dos últimos cinco anos. O resultado nos mostra uma tímida produção e, ao mesmo tempo, um campo fértil para debates e produções. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Gênero; Identidade.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 31
A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E SEU IMPACTO SOBRE A GINÁSTICA ARTÍSTICA: UMA ANÁLISE DOS REGISTROS DE PATENTES
BORTOLETO, MAC. bortoleto@fef.unicamp.br Faculdade de Educação Física-FEF Universidade de Campinas-UNICAMP Grupo de Pesquisa em Ginástica-GPG Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
A modernidade vem sendo palco da emergência de inúmeras tecnologias, as quais revolucionam a vida de um modo geral, bem como a prática esportiva, inclusive a da ginástica de competição. Se o século XIX foi marcado pela construção de suntuosos ginásios repletos de novas tecnologias para o treinamento corporal (VIGARELLO, 1988), o século XX ampliou significativamente a diversidade dos aparelhos usados para o treino e competições ginásticas (KARACSONY; CUK, 1995) modificando notavelmente o processo pedagógico (ULMANN, 1977). Nesse contexto, a Ginástica Artística (GA) teve as especificações de seus aparelhos normatizadas pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), de modo que as tecnologias utilizadas nesse esporte precisam ser aprovadas por um rigoroso processo de verificação de qualidade, conforme especificações previstas no Regulamento Técnico dos Aparelhos (FIG, 2015). Somente após sua “homologação” pela FIG, é que os aparelhos podem ser comercializados e utilizados em eventos oficiais. Buscando compreender melhor essa evolução tecnológica, a partir de uma abordagem sistêmica (BERTALANFFY, 1976), realizamos uma análise documental (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004), revisando 44 pedidos de reconhecimento de propriedade intelectual (patente), cujas especificações técnicas estão disponíveis publicamente em distintas bases de dados internacionais, tais como: www.faqs.org/patents; https://www.epo.org; https://www.uspto.gov. Notamos que embora os pedidos de patentes remontem ao XIX, foi no XX que eles aumentaram, especialmente a partir da década de 1970. A hegemonia dessas tecnologias é disputada basicamente por fabricantes dos Estados Unidos e da Europa, com alguma participação recente de outros países como Japão e China. As mudanças na arquitetura e também na composição material dos equipamentos vêm buscando maior capacidade reativa e, concomitantemente, de absorção do impacto, e mais segurança. As tecnologias tratam de atender à demanda de um esporte cada vez mais acrobático, extrapolando o âmbito competitivo e passando a integrar o cotidiano da preparação dos ginastas (SMOLEUSKIY, GAVERDOUSKIY, 1991), permitindo sua execução com fases de voos mais prolongadas e um maior número de repetições (RAMIREZ, 2006). De modo geral, vemos que a tecnologias patenteadas representam, em grande medida, uma mudança no paradigma deixando o uso de materiais rígidos (ferro, aço, ...) ou semirrígidos (madeira, couro, ...) e incorporando materiais flexíveis ou elásticos (OLIVEIRA; BORTOLETO, 2011; BORTOLETO; COELHO, 2016). Parece ser que mesmo em um esporte considerado conservador e, portanto, resistente a toda e qualquer mudança, como é o caso da GA, a tecnologia acabou influenciando de modo singular seu desenvolvimento (BORTOLETO, 2016). Essa relação dialética entre a revolução tecnológica e a evolução das técnicas corporais revela uma resposta à demanda por um esporte mais “espetacular”, mais estético-artístico (ROBLE; NUNOMURA; OLIVEIRA, 2013), e a uma prática mais acrobática (BORTOLETO, 2017). Por fim, o aumento dos pedidos de registro de propriedade intelectual parece obedecer à lógica da atividade industrial, na qual o esporte torna-se cada vez mais relevante. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Propriedade Intelectual; Tecnologia Esportiva.
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FLEXIBILIDADE DO QUADRIL NOS GESTOS DESPORTIVOS DE GINASTAS RÍTMICAS
CASSIMIRO AO, ARAÚJO T, OLIVEIRA LC, MANCINI R, JUNIOR JP, MATSUDO V. andrea-cassimiro@bol.com.br Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul-CELAFISCS
Introdução: A flexibilidade é uma das variáveis da aptidão física imprescindível para o desempenho atlético em atletas de ginástica rítmica, entretanto são escassos os trabalhos científicos, evidenciando a flexibilidade nos gestos desportivos. Objetivo: Comparar a flexibilidade do quadril nos gestos desportivos de ginastas rítmicas aos da população. Material e Método: Para este estudo foram avaliadas 60 meninas residentes em São Bernardo do Campo, sendo dividido em 30 meninas do Colégio São José, com faixa etária entre 6 a 16 anos (x:11,1 ± 2,4), Campeãs do Troféu São Paulo e como grupo controle foram avaliadas 30 escolares com respectiva faixa etária (x: 11,8 ± 1,3) anos, pertencentes a escola EE “Profº Antônio Nascimento”. Para avaliar a flexibilidade foi utilizado o flexímetro pendular (Sanny) com escala em graus; mensurando os movimentos no plano sagital e frontal, referente aos gestos desportivos realizado de forma ativa (espacate anteroposterior bilateral e espacate lateral), exigidos como fundamentos básicos do esporte pelo Código de Pontuação de Ginástica Rítmica (FIG, 2017- 2020). Para análise estatística, foram utilizados o teste t de “Student”, o índice Z-CELAFISCS e o delta percentual (Δ%) adotando o nível de significância de p< 0,01. Resultados: No plano sagital [flexão do quadril direito (ginastas 74,6±8,0 versus escolares 40,6±13,3 graus; z: 2,5 e Δ% 83); extensão do quadril esquerdo (ginastas 58,0±10,5 versus escolares 37,0±12,3 graus; z:1,7e Δ%57); flexão quadril esquerdo (ginastas 68,9±13,9 versus escolares 40,0±13,2 graus; z:2,1e Δ%71); extensão quadril direito (ginastas 51,1±12,2 versus escolares 34,9 ±11,0 graus; z:1,5 e Δ% 46)]; plano frontal [abdução direita (ginastas 63,4±13,0 versus escolares 43,3±8,7 graus; z:2,3; Δ%:46; abdução esquerda (ginastas 62,3±11,5 versus escolares 45,0±9,5 graus; z:1,8; Δ%:38]. Conclusão: A partir da análise dos resultados, concluímos que houve diferença significativa na flexibilidade no quadril em ambos os planos (sagital e frontal) analisadas a favor das ginastas quando comparados com as escolares; sendo que, os valores das ginastas foram mais altos em relação às escolares, variando de (Δ%) 38 a 83, assim como, 1,5 a 2,5 desvios-padrão. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Desempenho; Flexibilidade.
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ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE E GINÁSTICA RÍTMICA: DISCUSSÕES E PERCEPÇÕES
SILVA PAL, MIGUEL BS, BOHER NS, JACÓ LF, ANTUALPA KF. patricialodi95@yahoo.com.br Faculdade Devry-Metrocamp Experiências Pedagógicas da Metrocamp-EXPEGIM
A Ginástica Rítmica (GR), é uma modalidade exclusivamente feminina, com provas individuais e de conjunto (5 ginastas). Envolve movimentos de dança e elementos corporais, que devem ser realizados em harmonia com a música e combinadas com o manejo de aparelhos. Caracterizada pelo seu início precoce, muitas vezes as crianças são introduzidas no treinamento sistematizado antecipadamente, em busca de resultados. Neste contexto, a GR, por sua exigência física e técnica, tende a especialização precoce (EP), em virtude da busca pela perfeição, introdução no processo de treinamento sistematizado, e antecipação das fases do processo de aprendizagem esportiva (PAES et al., 2008). Assim, o objetivo deste estudo foi compreender a percepção de treinadores e futuros treinadores de Ginástica Rítmica acerca da especialização precoce. Para tanto, aplicou-se um questionário com perguntas abertas e fechadas com 14 voluntários (12 mulheres e 2 homens), com idade média de 29,15 (± 7,67) anos de idade, participantes do Curso de Conjuntos, em maio de 2017. Os dados quantitativos foram analisados a partir da estatística descritiva (REIS, 2008) e os qualitativos pela análise de conteúdo proposta por Bardin (2010). Os resultados da presente pesquisa mostram que, 78,57% possuem experiência como exginastas, treinadores (57,14%) ou professores de educação física (42,86%), 21,43% são árbitros ou atuam em outras áreas (21,43%). Ao serem questionados sobre a compreensão do termo especialização precoce, 71,43% dos participantes entendem que a EP está associada ao início precoce no treinamento sistematizado, enquanto, 14,29% a vinculam ao início precoce na modalidade, 14,29% a atribuem ao avanço sem respeito com a individualidade, e outros 14,29% a dedicação exclusiva. Quanto ao momento para que as crianças iniciem na prática esportiva, 16,67% dos participantes acreditam que o início deva ocorrer aos 4 anos de idade, 33,33% aos 5 anos, 41,67% aos 6 anos e apenas 8,33% afirmam que as crianças devem iniciar aos 7 anos de idade. Ademais, os mesmos acreditam que a idade ideal para início no âmbito competitivo seja, 7/8 anos (50%), 9/10 anos (35,71%) e 11/12 anos de idade (14,29%), respectivamente. A partir dessas informações, 85,71% dos participantes concordam que a EP aconteça na GR, enquanto 14,29% sugerem que ela possivelmente ocorra. Por fim, as condições citadas para a presença da EP na GR são: desejo da família (7%), dedicação exclusiva à modalidade (14,29%), antecipação das condições físicas e psicológicas das atletas (28,57%) e início precoce no treinamento sistematizado (50%). Assim, em virtude dos resultados obtidos, podemos concluir que a EP aconteça no âmbito da GR, em decorrência do início precoce no treinamento sistematizado, da dedicação exclusiva, e também da prematura exigência física e psicológica das atletas. Além disso, mesmo que os órgãos regulamentadores estipulem uma idade mínima para iniciar no âmbito competitivo, os participantes indicam que esta entrada deve ocorrer entre 7 e 8 anos de idade, estimulando, sobretudo a busca de resultados a curto prazo (RAMOS; NEVES, 2008). Entretanto, a especialização é inevitável para o esporte de alto nível (WEINECK, 1991), embora tal condição aumente a possibilidade de erro de planejamento, pois nem sempre aqueles que atingem um maior nível de desempenho esportivo nas categorias infantil e juvenil, serão aqueles que pertencerão a uma seleção nacional adulta. PALAVRAS-CHAVE: Iniciação; Resultados; Crianças.
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EXERCÍCIOS DE SALTO NA GINÁSTICA RÍTMICA: UM OLHAR A PARTIR DO BALLET CLÁSSICO
DIAS CD, ANTUALPA KF. carol_dias95@yahoo.com.br Faculdade Devry-Metrocamp Experiências Pedagógicas da Metrocamp-EXPEGYM
A arte de se expressar pelo corpo é determinada pelos movimentos e entonações que a eles são dados. A dança, em especial o ballet clássico, faz uso desta caracterização, somando a ela a graciosidade, musicalidade e harmonia nas diversas formas de movimentação presentes em aulas e coreografias. A Ginástica Rítmica (GR) é uma modalidade esportiva cuja execução dos movimentos pode ser caracterizada por um complexo nível de dificuldade, tendo detalhes técnicos de grande exigência física e expressiva (PORPINO, 2014). Além das questões técnicas, os aspectos artísticos a caracterizam como uma modalidade atrelada a beleza e fatores estéticos. É notável a importância do ballet clássico para o desenvolvimento da leveza e fluidez na GR. Ademais, o ballet clássico tem sido amplamente utilizado para o ensino de elementos corporais (ECs - equilíbrios, giros e saltos) na GR, já que diversos desses movimentos tem sua origem no ballet clássico. Assim, o objetivo desse trabalho foi comparar o grupo de movimentos de salto da GR com os movimentos de salto do ballet clássico, buscando propor uma relação entre ambas as práticas. Para a realização do estudo, utilizou-se a análise documental, com base no Código de Pontuação de GR (2017-2020) e registros orais e escritos do método cubano de ballet clássico. Após a avaliação preliminar dos documentos, as questões pertinentes (elementos de salto e formas de execução) foram tabuladas, e organizadas em subgrupos. A análise descritiva foi utilizada a fim de organizar a apresentação dos dados. Os elementos corporais de salto da GR foram organizados em 5 subgrupos, sendo eles: G1 (pequenos saltos), G2 (médios saltos), G3 (grandes saltos), G4 (saltos para preparação técnica e física) e G5 (não utilizados). Os resultados mostram que 7,5% dos saltos estão dentro do G1, 25% são encaixados no G2, 20% dos saltos são encontrados no G3, 7,5% do grupo são considerados do G4 e 42,5% dos mesmo são encontrados no G5. Essa análise foi realizada devido à ao alcance da altura que cada salto deve ser realizado, a amplitude de movimento alcançada e se possuem, ou não, participação no conteúdo do ballet clássico (como treinamento para outros saltos ou nas apresentações – repertório) ou ainda, se não são utilizados em nenhum dos momentos anteriores. Os resultados do presente estudo sugerem que os exercícios na rotina do bailarino (mesmo que semelhantes) são realizados com propostas e em momentos diferentes, já que a organização da aula para o bailarino clássico é voltada ao desenvolvimento neuromuscular, remodelação de estruturas, e melhora do desempenho físico (DIAS, 2016). Entretanto, na GR, os saltos visam contemplar duas exigências básicas (forma definida e altura), a fim de alcançar a pontuação exigida. Contudo, a busca por essa execução perpassa, em diversos momentos, por excessos, e pela falta de organização técnica. Acredita-se que com base no diagnóstico apresentado, o ensino da técnica de salto na GR, possa ser repensada e reorganizada. PALAVRAS-CHAVE: Elementos corporais; Preparação técnica, Processo.
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A ESTRATÉGIA DE INTENSIFICAÇÃO DO TREINAMENTO NO DESEMPENHO FÍSICO E TÉCNICO EM GINASTAS PRÉPUBERES
ANTUALPA KF1, MOREIRA A2. kizzyantualpa@gmail.com Escola de Educação Física e Esporte-EEFE 1 Universidade de São Paulo-USP 2 Faculdade Devry Metrocamp Grupo de Estudos e Pesquisa em Planejamentyo e Monitoramento do Treinamento Físico e Esportivo 1
A Ginástica Rítmica (GR) é uma modalidade classificada como complexa de coordenação (BOBO-ARCE; MÉNDEZRIAL, 2013) e uma de suas particularidades é a participação de jovens atletas no treinamento sistematizado. A complexidade das rotinas na GR, sobretudo com base nos aspectos físicos e técnicos, demonstra o papel fundamental desses aspectos no desempenho na GR. Desta forma, o objetivo do estudo foi examinar o efeito da estratégia de intensificação e tapering nas respostas de desempenho físico e técnico. Para tanto, 25 jovens ginastas (idade: 12,1 ± 2,61 anos; massa corporal: 37,2 ± 9,4 kg; estatura: 143,9 ± 13,7 cm) aceitaram participar do estudo, entretanto dados de 23 ginastas foram retidos para análise, visto que 2 ginastas haviam ultrapassado o pico de velocidade de crescimento (PVC) em 2 anos. O estudo teve duração de 10 semanas (4 semanas de treinamento habitual [TH], 4 de intensificação [IT] e 2 de tapering [TP]). Os testes de desempenho foram realizados em 3 momentos (T1 – pré IT, T2 – pós IT e T3 – pós TP). A percepção subjetiva de esforço da sessão (PSE da sessão) foi utilizada para quantificar a carga interna de treinamento (CIT) para cada sessão de treinamento (MOREIRA et al., 2011), através da escala CR-10, adaptada (FOSTER et al., 2001). Os testes de desempenho foram utilizados para avaliar as possíveis alterações em medidas de desempenho físico (abdominal, resistência de força de membro superiores [RFms], salto vertical [CMJ] e flexibilidade [FQD-FQE]) (DOUDA et al., 2008; GATEVA, 2011) e técnico (análise da rotina) das ginastas ao longo da investigação. Para a interpretação da magnitude das mudanças dos testes de desempenho físico e técnico o tamanho do efeito (TE) e limite de confiança (LC; 90%) foram reportados. A magnitude do tamanho do efeito foi classificada, como sugerido por Batterham e Hopkins (2006): trivial (< 0,2), pequena (≥ 0,2-0,6), moderada (> 0,6-1,2) e grande (> 1,2). Os dados foram analisados utilizando o Microsoft Excel (Microsoft™; EUA). Observou-se magnitude moderada de mudança (melhora) para teste de abdominal de T2 para T3 (17,7 ± 2.1 vs 19 ± 3,4 repetições; TE = 0.80), e T1 (17,8 ± 2,4 repetições) para T3 (TE = 0,78), e para RFms (T2–T3; 15 ± 6 vs 20 ± 10 repetições, e T1 [15 ± 7 repetições]-T3; TE = 0,61 e 0,55, respectivamente). Esses resultados indicam um efeito relevante de TP para esses testes físicos, após o período de IT. TE trivial e LC, incluindo zero (sem efeito), foram observados para CMJ e FQE, em particular a partir do início da etapa de intensificação para pós-tapering (T1-T3). Para a análise do desempenho técnico (rotina) as melhoras foram classificadas como moderada (TE = 1,13) de T1 para T2, grande (TE = 1,33) de T2 para T3 e muito grande de T1 para T3 (TE = 2,32). Quanto aos resultados de desempenho físico e técnico, estes confirmam que um período de TP, após a IT, possa auxiliar na preparação das ginastas, já que as melhoras foram observadas principalmente após o TP. A melhora muito grande no desempenho técnico em TP, podem representar efeitos positivos da redução da carga de treinamento, após um período de IT, mostrando a importância desses achados para o cenário prático, pois sugerem aos treinadores a possibilidade de redução do volume do treinamento por um período de 2 semanas antes de uma competição, após 4 semanas de elevação da carga de treinamento. PALAVRAS-CHAVE: Periodização; Ginástica Rítmica; Adaptações positivas.
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ANÁLISE DE LESÕES DESPORTIVAS EM PRATICANTES DE GINÁSTICA RÍTMICA DO ESTADO DO PARANÁ
CORTZ RV, LOURENÇO MRA. marcia.lourenco@unopar.br
Universidade Norte do Paraná-UNOPAR
A Ginástica Rítmica (GR) é uma modalidade esportiva que relaciona três elementos: corpo, música e aparelhos que apresenta uma grande complexidade de movimentos configurando sua técnica por elementos de dança, ginástica e arte de manusear os aparelhos oficiais. A prática da GR requer bom nível de condicionamento físico ao mesmo tempo em que proporciona à ginasta uma melhora de diferentes capacidades físicas características próprias do esporte, como a flexibilidade, coordenação motora, ritmo, equilíbrio, agilidade, potência muscular e resistência. O treinamento desportivo, por sua repetitividade de ações, promove adaptações orgânicas às atletas predispondo o aparecimento de lesões e na ginástica vários fatores contribuem com a ocorrência destas. Estudos têm apontado os membros inferiores como a região mais comprometida por lesões, outros apontam a alta incidência de lesões na coluna devido a alta repetitividade de movimentos com hiperextensões. A escassez de trabalhos que esclareçam esses fatos nesta população também é outro problema que necessita ser resolvido. Durante o período de iniciação esportiva, as primeiras competições de GR no Brasil são realizadas, aos nove e 10 anos, denominada categoria pré-infantil, na sequência a ginasta é encaminhada para a categoria infantil que atinge a idade entre 11 e 12 anos e que corresponde à etapa de formação esportiva, período em que aumenta a capacidade de resistir a intensidade do treinamento. Posteriormente, na categoria juvenil dos 13 aos 15 anos de idade, que compreende o final da etapa de formação e início da especialização esportiva, a capacidade de treinar potência e resistência aumenta, e por fim, a partir dos 16 anos em diante, que corresponde ao final da especialização e início do alto desempenho, a ginasta entra definitivamente para a categoria adulta. Assim, o objetivo da pesquisa é analisar a incidência de lesões e os fatores desencadenates em atletas de ginástica rítmica do Estado do Paraná nas categorias pré-infantil, infantil, juvenil e adulta participantes de campeonatos oficiais da Federação Paranaense de Ginástica do ano de 2017. Serão avaliadas, por meio de um questionário adaptado e já testado em projeto piloto, aproximadamente 180 ginastas de GR das categorias pré-infantil, infantil, juvenil e adulta participantes de três Campeonatos Paranaenses oficiais do ano de 2017 sendo dois em competições individuais e um em competições de conjuntos. No questionário serão investigados o perfil físico das ginastas, a carga horária de treinamento, a presença de lesão no último ano, o tipo da lesão e suas características como o mecanismo que a desencadeou, o local anatômico afetado, o momento que sofreu a lesão e como foi seu retorno a modalidade. Após a obtenção dos dados, a análise estatística será realizada. Os resultados serão apresentados em tabelas observando as regiões corporais mais acometidas. O estudo proposto busca suprir uma lacuna existente na literatura específica da modalidade de Ginástica Rítmica permitindo que estratégias preventivas sejam criadas diminuindo as lesões nesta população. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Atletas; Lesões.
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PADRÃO ALIMENTAR E OSTEOPENIA EM ATLETAS DE RENDIMENTO DE GINÁSTICA RÍTMICA
CAMARGO CTA, GAIO RC. cris-camargo@hotmail.com.br
Centro Universitário Salesiano São Paulo-UNISAL
O objetivo deste estudo foi analisar pesquisas sobre treinamento de Ginástica Rítmica, o comportamento alimentar das ginastas e suas implicações na saúde óssea, por meio de uma revisão sistemática, com o propósito de identificar se a elevada intensidade de treinos e o baixo suprimento energético podem provocar a situação de baixa densidade óssea. Foi realizada busca nas bases de dados eletrônicas Medline (PubMed), Embase, Scielo, Lilacs e Banco de Teses da Capes. Após definir os de critérios de inclusão dos artigos, foram selecionados 34 estudos e agrupados por similaridade. Dos estudos selecionados 18 foram considerados na análise e 16 foram descartados, pois embora estivessem relacionados ao tema, não responderam às questões do estudo. Das teorias revisadas, as questões relacionadas ao comportamento alimentar apresentaram evidências que permite afirmar que a baixa ingestão calórica e a deficiência dos nutrientes podem causar danos à saúde da atleta. Quanto às questões relacionadas à saúde óssea em jovens atletas do sexo feminino, os estudos ainda apresentam controvérsias; os resultados disponíveis na literatura não dão respaldo para uma única causa desencadeadora de baixa massa óssea, o que demonstra que o problema pode ser ocasionado por um conjunto de fatores. Recomenda-se, então, que pesquisas sejam realizadas para comparar experimentalmente os efeitos do treinamento de alto rendimento, associados à uma dieta baixa ingestão de nutrientes, que conduzem a alterações do estado nutricional e da saúde óssea. Essa investigação tem como foco, juntamente com outros estudos, contribuir de forma indireta para que comissão técnica, técnicos, ginastas e familiares possam refletir sobre o tema em questão e tenham consciência de que, apesar dos resultados serem sempre os objetivos a serem alcançados no esporte de alto rendimento, esses fatores não podem estar acima dos aspectos relevantes que são prejudiciais à saúde e a qualidade de vida das atletas em longo prazo. Pois no universo das competições de alto rendimento da ginástica rítmica, as exigências relacionadas ao biotipo e a perfeição na execução são exacerbadas. Os estudos selecionados para a realização desta revisão, apontam que os procedimentos adotados para se obter uma otimização momentânea do rendimento com a intenção de levar a atleta a uma rápida obtenção de resultados, podem comprometer a sobrevida competitiva e a qualidade de vida futura da atleta, além de provocar alteração no desenvolvimento harmonioso da criança e do adolescente. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Transtorno Alimentar; Saúde Óssea.
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CAPACITAÇÃO DE GINÁSTICA RÍTMICA ADAPTADA
SAROA G. gisaroa@gmail.com Pontifícia Universidade Católica de Campinas-PUCCAMP Grupo de Pesquisa em Ginástica-GPG
O projeto Capacitação de Ginástica Rítmica Adaptada, faz parte do programa de capacitações de esportes da Special Olympics Brasil (SOB). A SOB faz parte da Special Olympics (SO) desde 2008, sendo o único programa mundial de treinamento e competições esportivas para crianças e adultos com deficiência intelectuais, visando melhorar através do esporte a vida dessas pessoas. A filosofia deste movimento é dar oportunidade a todos os atletas, independentemente do nível de habilidade. Este programa está presente em 180 países. Atualmente a Special Olympics Brasil (SOB) possui 53.000 atletas cadastrados sendo, 14.000 em treinamento e 5.000 competindo em 10 esportes. O objetivo da capacitação é fomentar o conhecimento sobre a Special Olympics Brasil e suas possibilidades enquanto metodologia do esporte adaptado e unificado por meio da modalidade Ginástica Rítmica. A Ginástica Rítmica é um desporto que mescla movimentos gímnicos com elementos da dança, regulamentada pela FIG (Federação Internacional de Ginástica). O treinamento contribui na formação disciplinar, desenvolvimento psicomotor e melhora as capacidades físicas da atleta/praticante. A prática desta modalidade também propicia melhora nas capacidades cognitivas, como criatividade e imaginação, juntamente com o aspecto social de inclusão da praticante. As diferentes vivências no aprendizado do aluno universitário de Educação Física, faz parte do processo de formação acadêmica para que esse se torne um bom professor. Pensando nisso, o projeto de capacitação em Ginástica Rítmica Adaptada oferecida pela SOB vem sendo oferecido pela organização para que os alunos e futuros professores possam trabalhar e desenvolver essa modalidade no âmbito escolar ou clubistico. Essa capacitação é ministrada pela professora Giovanna Saroa, que atua também como uma das responsáveis pela oferta de cursos em todo o Brasil desta modalidade, representando a Special Olympics Brasil e tem como objetivo apresentar a história da SOB mundial e brasileira, além de oferecer a teoria e a práxis desta modalidade gímnica, oferecendo uma apropriação e ampliação dos conteúdos, além da segurança de passar esse conhecimento adiante enquanto futuros docentes. A capacitação é oferecida as instituições acadêmicas que além de apoiar, entendem a importância deste conhecimento para os futuros docentes. Atualmente a SOB conta com aproximadamente 60 ginastas cadastradas e desenvolvendo esta modalidade nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Concluímos que essas capacitações são muito importantes para a formação dos alunos de Educação Física que atuarão com a diversidade em diferentes âmbitos. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica Adaptada; Deficiência Intelectual; Olimpíadas Especiais Brasil.
R.110 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 39
MOTIVAÇÃO DAS ATLETAS DE GINÁSTICA RÍTMICA PARA A PRÁTICA ESPORTIVA
GENTIL RN. phaelgentil@hotmail.com
Universidade do Estado do Pará-UEPA
Para Gaya e Cardoso (1998), e Interndonato et al (2008) os aspectos emocionais de atletas para a prática esportiva estão ligados diretamente às suas experiências com ela. Para tanto, o objetivo do estudo foi identificar as motivações e as principais referências esportivas das principais atletas de ginástica rítmica no ano de 2016. O estudo qualitativo, do tipo documental, teve como coleta de dados a ficha das oito primeiras atletas de ginástica rítmica do ranking do ano de 2016 disponíveis no site da federação internacional de ginástica, sendo elas: quatro da Rússia, duas da Bielorrússia, uma da Coreia do Sul, uma de Israel, uma da Ucrânia e uma da Bulgária. A coleta de dados foi realizada no dia 14 de abril de 2017 e identificou-se as razões pela escolha da prática da ginástica rítmica e quem eram seus ídolos. A análise foi feita a partir da análise de conteúdo de Bardin (2011). Depois da pré-análise, codificação e categorização: identificou-se que as principais motivações para a prática da ginástica rítmica estão relacionadas ao incentivo da família, de indicação de pessoas próximas a família, divulgação da modalidade esportiva na TV, contato direto com atletas da referida modalidade e incentivo de treinadores esportivos em escolas de iniciação. Quanto às referências esportivas, foram mencionadas as atletas de alto rendimento que ganharam as principais competições esportivas (campeonato mundial e olimpíadas). Outras referências esportivas dessas atletas de ginástica rítmica são pais ou parentes próximos que praticam outras modalidades esportivas. Concluiu-se que, para boa parte das atletas o contato direto com a modalidade, seja pela televisão, pelo contato com atletas foi determinante para a prática da modalidade, porém, sem o incentivo da família, e as referências esportivas estão, principalmente, nas atletas da modalidade de seus países. Das atletas de países com pouca tradição na modalidade, as referências esportivas estão nas atletas cujo as nacionalidades são de países de referência. Concluiu-se que, para 62,5% das atletas investigadas, o contato com a modalidade, seja pela televisão ou pelo contato direto com as atletas da modalidade e o incentivo da família, foram determinantes para a permanência no esporte. Quanto às referências esportivas, 75% das atletas de ginástica rítmica possuem referências de atletas da sua modalidade de seus países de origem, sendo em geral, países do leste europeu. E das atletas que representam países com pouca tradição na ginástica rítmica, as referências esportivas correspondem às ex-tletas da modalidade de países com forte tradição na área. PALAVRAS-CHAVE: Motivação; Prática Esportiva; Ginástica Rítmica.
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GINÁSTICA RÍTMICA: FESTIVAL DE CULMINÂNCIA DA DISCIPLINA DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFPA
– BELÉM/PA
RIBEIRO ADO, PACHECO L, COSTA AR. adri_die197@yahoo.com.br
Universidade Federal do Pará-UFPA
A Ginástica Rítmica (GR) é um esporte de essência feminina considerada “desporto da arte” que tem influência da dança, música e teatro e toda sua expressão é facilitada pelo uso de aparelhos e considerada um esporte olímpico, regida pela Federação Internacional de Ginástica (FIG).Tal ginástica encontra-se também como uma vertente de ensino e ancora-se às aulas de Educação Física (EF) como possibilidades corporais e no manejo de elementos que engradecem as apresentações e possibilita ao aluno à descoberta e proposições para a construção de contrastes rítmicos e expressivos na composição de uma formação que tange em vários de seus eixos sociais. Uma vez enquanto disciplina eletiva do curso de Licenciatura em EF da UFPA fomenta o aprendizado para ensino das características gerais e específicas e manejos dos aparelhos demonstrando um pouco da técnica, não tratando como prioridade, mas como uma possibilidade de evolução e superação para cada um, afinal, não é finalidade neste contexto a exclusão ou priorização para alto rendimento, isso contraria a função social da escola, a qual é a de ampliar a participação, assim, o objetivo deste trabalho é o de demonstrar a importância do Festival de GR na aprendizagem do conteúdo da disciplina através das possibilidades corporais. O trabalho relata a percepção dos alunos da disciplina na apreensão dos conteúdos de GR para o ensino e aprendizagem desta enquanto modalidade e possibilidade, as descobertas e dificuldades encontradas e a construção de um Festival de apresentação feito por eles e, como tal, contribuiu na forma de experiência e tomada de conhecimento. Houve um acordo entre as partes para que a culminância final fosse um pequeno festival a nível de demonstração da aprendizagem e extensão da mesma sem fazer distinção de gênero. O “I Festival de GR da UFPA” ocorreu no dia 24 de abril de 2017.Todos os alunos nunca tinham tido nenhum tipo de contato com a modalidade, apenas em nível de visualização midiática ou outros que já haviam ido assistir a competições oficias. Obviamente que enquanto obrigatoriedades de elementos corporais e manejos dos aparelhos de início tiveram algumas dificuldades, mas muita dedicação em tentar estabelecer uma ponte entre elementos conceituais e às práticas em aula, afinal, eles consideravam-se em um universo novo. A fins conclusivos observou-se primeiramente a conscientização de todos os alunos da turma de EF em perceber que, mesmo que não trate de trabalhar com equipes que a desempenharão como modalidade, as possibilidades da GR como elementos corporais e implementos de aparelhos é uma possibilidade de trabalho nos campos de atuação da Educação Física, além do que, não se pode negar o ensino dos aparelhos mesmo que as escolas não disponibilizem. Quanto ao aprendizado motor, os alunos da disciplina obtiveram aulas que discutiam técnicas, manejos e ritmo explorando o contexto musical, saltos, rotações e equilíbrio. Em relação ao Festival, mesmo não sendo de caráter avaliativo, os alunos julgaram importante sua construção a elucidarem que ali seria a oportunidade de demonstrarem efetivamente seus aprendizados e que a oportunidade de apresentarem-se em uma modalidade que se une a um estado de arte seria única. Outro ponto levantado por eles foi o de que tal temática torna a GR, assim como outras ginásticas, uma disciplina mais atrativa, pois pouco se discutiu nesse contexto as ginásticas no curso da universidade em questão com tal extensão. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Festival; Possibilidades corporais.
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O ELEMENTO ARTÍSTICO E A EXPRESSÃO CORPORAL NOS CÓDIGOS DE PONTUAÇÃO DA GINÁSTICA RÍTMICA
OLIVEIRA BF, LIMA LBQ, ALVES FS. bfracalanza@gmail.com
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”-UNESP
A Ginástica Rítmica (GR) é uma modalidade olímpica que possui grande influência da técnica do ballet clássico desde as primeiras fases do ensino na preparação das atletas. Com isto, a execução dos movimentos ginásticos ganha não só em glamour e elegância, mas também em ritmo e expressão. De acordo com o Código de Pontuação (CP) atual da GR (2013-2016), a nota atribuída aos movimentos combinados com a musicalidade pertencem tanto a “Dificuldade”, como também a “Execução” dos exercícios individuais. Ambas avaliam a dança como elemento obrigatório das séries e esta passa a ser fundamental. A valorização da expressão corporal e do ritmo nas performances competitivas na GR representa uma grande modificação do CP atual quando comparado aos CP anteriores. Com base nestas mudanças, tendo a dança como elemento obrigatório, muitos(as) treinadores(as) necessitaram adaptar seus treinamentos para cumprir essas novas exigências. Assim, este trabalho teve como objetivo analisar os elementos artísticos nos Códigos de Pontuação da modalidade e verificar como a expressão corporal na GR vem sendo trabalhada na literatura específica sobre a Dança e Ginástica, compreender a noção de expressão corporal na literatura específica sobre Dança e Ginástica Rítmica e verificar como o elemento artístico é valorizado na atual versão do CP (2013-2016), quando comparado ao CP anterior. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica - artigos oriundos de periódicos nacionais e teses e dissertações das universidades estaduais paulistas - e uma pesquisa documental nos CP da modalidade dos ciclos 2009-2012 e 2013-2016. Para a análise dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo proposta por Laville e Dionne (1999). Ao final do trabalho pudemos concluir que os estudos a respeito da inclusão do elemento dança nos últimos ciclos dos CP de Ginástica Rítmica ainda são muito escassos na literatura. E embora saibamos que o ballet clássico tem grande influência desde a técnica de base nos treinos da GR, também vimos em alguns resultados o quanto é importante se trabalhar outros elementos da dança como contemporâneo, dança moderna, jazz, entre outros dentro dos treinos de GR, pois explora nas ginastas outra forma de expressão e faz com que a relação entre série, música e tema estejam mais conectadas entre si. Se a expressão corporal for trabalhada desde a iniciação, com o passar dos anos as ginastas tendem a desenvolver sua consciência corporal e aprendem a explorá-la, fazendo com que isto seja aplicado no momento de desenvolver e por em prática os passos de dança dentro das séries de GR. Essa discussão aponta para a necessidade de realização de outras pesquisas para melhor entendermos como estas mudanças influenciam de fato nos treinamentos de GR, tanto para os treinadores quanto para as ginastas. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Dança; Expressão Corporal.
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A PROMOÇÃO DA GINÁSTICA RÍTMICA ADAPTADA NA UNIVERSIDADE: UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR
TOLEDO E, ESTEVES AM. eliana.toledo@fca.unicamp.br Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas -UNICAMP Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica-LAPEGI
Nota-se, de maneira empírica, que as modalidades ginásticas ainda pouco estão difundidas no Brasil para pessoas com deficiência, uma percepção coletiva entre alguns docentes universitários de diferentes regiões do país, que se deu no último Fórum Internacional de Ginástica para Todos (FIGPT, 2017), mediante palestras, cursos e diálogos com o profissional inglês Patrick Bonner, da Federação Britânica de Ginástica (federação na qual esta proposta é bem desenvolvida). No Brasil, a Educação Física Adaptada (EFA) surgiu oficialmente desde final da década de 80, por meio da resolução 3/87, do Conselho Federal de Educação, ganhando ao longo do tempo maior espaço nos currículos de formação profissional em Educação Física e Esportes. Embora alguns docentes universitários já abordassem este tema em outras disciplinas (de forma voluntária e por vezes assistemática), destacamos o quanto essa prerrogativa/normativa pública em nível nacional, colaborou para o desenvolvimento da EFA, tanto nos projetos pedagógicos dos cursos, como nos projetos de extensão universitária (com ou sem parcerias externas). Neste contexto, este trabalho caracteriza-se como um relato de experiência, que tem por objetivo narrar uma iniciativa interdisciplinar bem sucedida, que teve como meta a ampliação da capacitação profissional de graduandos do Curso de Ciências do Esporte (FCA-UNICAMP) para atuar com a Ginástica Rítmica Adaptada, no ano de 2016. Neste curso há duas disciplinas obrigatórias no currículo sobre EFA (Introdução aos Estudos Adaptados e Esportes Adaptados) e desenvolvem-se outras ações de extensão (dentro e fora da FCA) e estágio com instituições que fomentam este tema (ARIL, AINDA, Clube Inclusivo e Equoterapia da Hípica de Limeira). A proposta desta aula interdisciplinar surgiu da professora responsável pela disciplina eletiva Tópicos Especiais em Ciências do Esporte – Ginásticas Desportivizadas, Eliana de Toledo, para uma parceria com a disciplina obrigatória Introdução aos Esportes Adaptados, sob responsabilidade da professora Andrea Maculano Esteves, em unir as disciplinas para o desenvolvimento do conteúdo Ginástica Rítmica Adaptada. Contou-se com a colaboração da doutoranda da UNICAMP, Giovanna Regina Sarôa, que atua também como responsável pela oferta de cursos desta modalidade, pela Special Olympics Brasil. Ademais, houve ainda uma ginasta com síndrome de down, Érika Raíza, que representa a cidade de Limeira (com recém participação no 3o. Jogos Latino Americanos, no Panamá), que nos honrou com sua presença, demonstrando as séries e ampliando ainda mais esta experiência coletiva de formação profissional e pessoal. Concluiuse que esta iniciativa foi muito importante para a formação dos graduandos (a partir do relato dos mesmos ao final da aula/curso), e consolidou-se como uma iniciativa interdisciplinar dentro do mesmo curso de graduação, com o apoio do poder público municipal (atleta que representa a cidade de Limeira) e de uma organização renomada na área (Special Olympics), em prol da promoção da ginástica rítmica adaptada, ainda tão pouco difundida no país. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Esporte Adaptado; Síndrome de Down.
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INICIAÇÃO ÀS COMPETIÇÕES DE GINÁSTICA RÍTMICA: OS FESTIVAIS EM FOCO
REIS LN1, CARBINATTO MV2. lorenareis@gmail.com Universidade Federal do Ceará-UFC Escola de Educação Física e Esporte-EEFE 1,2 Universidade de São Paulo-USP 1,2 Grupo de Estudos e Pesquisa em Ginástica-GYMNUSP 1
1,2
Considerando a Ginástica Rítmica (GR) uma modalidade em que a iniciação acontece muito cedo, além de planejar a evolução da ginasta, devemos pensar seu desenvolvimento como ser humano. As competições oficiais de GR envolvem grande complexidade. Ao reproduzirmos tais exigências para as ginastas iniciantes, talvez não estejamos contribuindo para uma formação esportiva que considere os diferentes aspectos do desenvolvimento da criança. Autores da Pedagogia do Esporte, propõem diferentes formas de festivais para esta etapa da formação esportiva. A principal ideia são eventos que privilegiem a participação de todos, buscando a integração das equipes em vez do confronto, transcendendo o modelo do esporte adulto. Assim, o objetivo desse estudo foi analisar os festivais de GR das federações dos estados das principais equipes pré-infantil do Brasil. Para tanto, foi realizada uma pesquisa documental, na qual foram analisados os regulamentos de festivais de GR das federações do Paraná (PR) e de Santa Catarina (SC), por serem os estados que tiveram equipes entre os três primeiros lugares nos campeonatos brasileiros pré-infantil entre 2013 e 2016. Os resultados indicaram quatro do PR e uma de SC. Foram detectados dentre os regulamentos da modalidade, aqueles com características de festivais pedagógicos. Foram utilizados quatro critérios: categoria/idade; adaptação de estrutura física; exigências técnicas; e premiação. Foram encontrados dois eventos no PR: Torneio Elisabeth Laffranchi e Campeonato de Estreantes e um em SC: Copa Estreante de GR. Com relação à categoria e idade, os eventos possibilitam a participação de crianças abaixo da idade da categoria pré-infantil da CBG, sendo um espaço de preparação para a inserção nas competições, porém no PR essa possibilidade de iniciação se prolonga, permitindo ginastas de todas as idades, o que mostra um olhar também voltado para a democratização da ginástica. Em relação à adaptação de estrutura física, no que diz respeito ao espaço, apenas no Torneio Elisabeth Laffranchi há redução do espaço físico, o que pode favorecer o desempenho da ginasta iniciante. Todos os eventos preveem exercícios sem aparelhos, e em SC, também é exigida a participação com um aparelho. Isso demonstra grande adaptação em relação aos campeonatos oficiais, nos quais é obrigatória a realização de exercícios com quatro aparelhos. Com relação às exigências técnicas, percebemos a presença de elementos obrigatórios de diferentes maneiras nos três eventos, sugerindo que a preocupação maior das ginastas iniciantes não deve ser de elevar a pontuação de dificuldade, mas sim o cuidado com a execução. Por sua vez, a avaliação de execução só foi modificada para o Torneio Elisabeth Laffranchi, tendo critérios simplificados em relação aos oficiais. No que tange a premiação, todas as ginastas são premiadas, independente de critérios de classificação. Assim, concluímos que os festivais pedagógicos podem auxiliar o processo de inserção de ginastas em competições, já que simulam situações semelhantes às de competição sem a cobrança exacerbada das mesmas, enquanto estimulam a permanência das crianças na prática. Acreditamos que a presença dos festivais nos estados pesquisados possa contribuir para que esse processo aconteça de maneira natural e traga benefícios às equipes participantes. Sugerimos ainda que essa análise seja aprofundada com análises de outros aspectos para uma avaliação completa. PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia do esporte; Ginástica Rítmica; Festivais.
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CONSTRUÇÃO DE APARELHOS DE GINÁSTICA RÍTMICA: UMA AÇÃO PARA DIVERSAS REAÇÕES
LOMBARDI G. giselelombardi.gr@gmail.com
Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI
A Ginástica Rítmica é um esporte pouco comum nas aulas de Educação Física. Apesar de ser imprescindível ao professor compreender que a escola é o espaço no qual as diferentes manifestações da cultura corporal precisam ser ensinadas e aprendidas, este processo muitas vezes exclui alguns saberes para que outros sejam reforçados. O que acontece com alguns esportes coletivos que são mais tradicionais e estão sempre na grande maioria dos conteúdos trabalhados. Diante deste cenário, algumas pesquisas se propuseram avaliar porque o conteúdo da Ginástica Rítmica não é comum nas aulas de educação física, questionando os profissionais de algumas escolas os motivos desta falta. Dentro dos diversos motivos para a ausência da modalidade, um deles é a falta de materiais específicos desta nos locais de trabalho destes profissionais. Neste relato abordo uma atividade realizada nas disciplinas de Ginástica Rítmica do curso de Educação Física (Bacharelado e Licenciatura) da Universidade do Vale do Itajaí, que tem como objetivo proporcionar uma possível intervenção diante desta problemática. Nesta atividade, é proposto aos alunos uma construção de aparelhos com materiais reciclados ou reaproveitados. A turma é dividida em grupos e cada um deles deve construir um tipo diferente de aparelho da ginástica rítmica sendo eles: bola, corda, arco, maças e fita. Cada membro do grupo deve ter o seu próprio aparelho, o que enriquece ainda mais a atividade, pois muitas vezes no mesmo grupo existem construções com materiais diferentes. Todos os grupos devem fazer um vídeo sobre como confeccionaram os aparelhos e quais materiais utilizaram, assim como realizam uma apresentação oral diante da turma com o mesmo objetivo. Depois de conhecer os processos de confecção de todos os grupos e seus respectivos aparelhos, os alunos são convidados a realizar livremente os manejos de cada aparelho, experimentando todos aqueles que foram construídos em um grande momento de integração. Depois desta integração os alunos são convidados a refletir sobre essas possibilidades de construção, no sentido de passar adiante este processo para seus futuros alunos. O reconhecimento da importância de trabalhar a confecção dos materiais em suas aulas futuramente, não se dá apenas pela possibilidade de implantação das atividades com os aparelhos criados, mas também pela riqueza que o processo de confecção proporciona. Como por exemplo o grande valor que é atribuído ao material confeccionado. Pois além do processo de criação exigir criatividade e integração dos alunos, no processo de confecção este aluno é levado a realizar movimentos que exigem coordenação motora, os quais muitas vezes não são comuns ou trabalhados em outros momentos. Além disso, o uso de materiais recicláveis ou reaproveitados possibilita ao professor incentivar reflexões com temas transversais como sensibilização deste aluno em relação ao meio ambiente. Estas atividades incentivam os acadêmicos a refletir sobre a prática, no caso do esporte em questão, os acadêmicos devem ser incentivados a discutir sobre as questões que dificultam a inserção da Ginástica Rítmica nas aulas de Educação Física possibilitando uma reflexão sobre a desconstrução da modalidade para aplicação desta em diferentes espaços educacionais, sem que esta perca suas características, mas possibilitando a prática a todos os públicos. PALAVRAS-CHAVE: Construção de Materiais; Ginástica Rítmica; Educação Física.
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A RETIRADA DA FICHA DE COMPOSIÇÃO NA GINÁSTICA RÍTMICA: A PERCEPÇÃO DE ÁRBITROS E PARTICIPANTES DO CURSO DE ARBITRAGEM
SOARES AA, ANTUALPA KF, MENEGALDO FR, LOCCI B, LIMA LBQ. andressadealmeida.soares@gmail.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Grupo de Pesquisa em Ginástica-GPG
A Ginástica Rítmica (GR) está em seu 14º ciclo olímpico e a partir de 1970 conta com a sistematização de regras previstas pelo Código de Pontuação (CP) regido pela Federação Internacional de Ginástica (FIG). No período de 2001 a 2016 (10˚ a 13˚ ciclo), a modalidade contou com a Ficha de Composição (FC), que veio auxiliar treinadores e árbitros na organização e controle das rotinas realizadas por meio do registro dos elementos a serem executados em uma ordem pré-estabelecida. O ciclo atual (2017/2020) começou com uma grande mudança, a retirada da FC, gerando grande repercussão entre os envolvidos com a modalidade. Dessa forma, o objetivo da presente pesquisa foi analisar a percepção de árbitros sobre a FC e sua retirada. Para tanto, foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas com 33 participantesdo Curso de Arbitragem Estadual de São Paulo, em maio de 2017. Destes 33 (66,26% do total de cursistas), 2 são árbitras (internacional e nacional), 27 realizaram a prova para o brevet estadual e 4 participaram como ouvintes. Quanto às experiências prévias, 6,06% foram árbitros no ciclo 2001/2004; 21,21% no ciclo 2005/2008; 42,42% no ciclo 2009/2012; 51,52% no ciclo 2013/2016 e para 48,48% este foi o primeiro contato com a arbitragem. Acerca dos resultados, quando questionados sobre o auxílio da FC na avaliação das rotinas, 6,06% acreditam que ela não auxilia, 21,21% que ela auxilia e 72,73% que esta auxilia em termos/parcialmente. As justificativas foram divididas em dois pólos: presença (a FC como alicerce - 70% e segurança para arbitragem - 3%) e ausência (função negativa - 30%, benefício da ginasta/treinador e liberdade para resolução de problemas - 24%, avaliação tendenciosa - 6%). Ademais, quando indagados sobre as implicações da saída da FC para as avaliações das rotinas, os participantes indicaram: o aumento da dificuldade para árbitro (43,75%), o favorecimento à ginasta (37,50%), necessidade de maior conhecimento prático do árbitro (28,12%), liberdade para atuação do árbitro (12,50%), valorização das rotinas (9,37%), prejuízo à ginasta (6,25%), ausência de feedback para treinadores (3,12%) e sem implicações (3,12%). Assim, a ausência da FC de acordo com os próprios árbitros pode beneficiar a ginasta na medida em que permite maior liberdade dos movimentos, principalmente em situações de resolução de problema. Por outro lado, é possível perceber que a FC auxilia o árbitro, pois oferece respaldo no momento da avaliação, uma vez que a tarefa do árbitro é quantificar a rotina da ginasta com base na análise detalhada e comparação dos movimentos pré-estabelecidos pelo CP (DÍAZ-PEREIRA et al., 2014). Além disso, existe uma limitação humana que permeia a tarefa do árbitro, no sentido de que a ausência da ficha poderia intensificar a ausência de precisão no critério de avaliação, queda da objetividade - em virtude da rápida transição dos elementos gímnicos, além da pressão temporal e externa. Por fim, consideramos que a saída da FC exigirá um período de transição, principalmente nos anos iniciais do ciclo atual, com maior dedicação no estudo da modalidade em sua vertente prática, no intuito de manter a qualidade e a objetividade da avaliação dos árbitros, visto que a subjetividade está significativamente presente nos esportes de competição com caráter artístico. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Avaliação; Subjetividade.
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DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA E A GINÁSTICA RÍTMICA: HISTÓRIAS DE VIDA A INDICAR CAMINHOS
GAIO R, CAMARGO C. rcgaio@ig.com.br Centro Universitário Salesiano de São Paulo-UNISAL Grupo de Ginástica e Dança do UNISAL-GGDSAL
Este estudo tem como objetivo discutir docência universitária, especificamente, relacionada ao ensino-aprendizagem da Ginástica Rítmica nos cursos de formação em Educação Física. É sempre um desafio escrever sobre docência, pois se trata de uma profissão de interações humanas e há uma complexidade englobando sua ação, desde a relação com o conhecimento sobre a área, as experiências que definem estratégias e métodos de ensino; além do contexto social, político, cultural, econômico, científico, entre outros aspectos da vida coletiva, incluindo aí os impactos de cada período histórico na organização escolar. Ao mesmo tempo em que o contexto é amplo, ao se pensar a docência em qualquer âmbito do conhecimento, é também abrangente os impactos dessa docência nos seres humanos e, consequentemente na sociedade. Sendo assim, optou-se por uma pesquisa de cunho qualitativo, denominada de história oral, com técnica de história de vida. A técnica de história de vida consta de um relato descritivo de um sujeito ou mais sobre sua vida, destacando acontecimentos e experiências que credenciam um determinado aspecto da sua vida, no caso desse estudo as experiências na Ginástica Rítmica e o conhecimento adquirido por meio delas. Assim, nesse trabalho são descritas as situações vividas que, foram se juntando como peças de um quebra cabeça, compondo uma forma de ser e de viver, construindo possibilidades de atuar, desenvolver estratégias, rotinas que propiciaram resolver problemas frente ao processo de ensino-aprendizagem dos movimentos da Ginástica Rítmica no ensino superior. As duas histórias de vida aqui apresentadas, fruto de existência em tablados, com aparelhos, executando saltos, giros, rolamentos, entre outros elementos corporais, trazem experiências significativas que contribuem com a estruturação da ginástica rítmica enquanto disciplina nos cursos de formação, seja na licenciatura ou no bacharelado. Pois, a formação é um processo que ocorre por toda a vida, considerando-se que a aprendizagem acontece mediante as relações e interações decorrentes dos diversos ambientes culturais nos quais se mantém relações. A incorporação dessas relações depende de fatores históricos de cada pessoa, de fatores sociais oriundos dos diversos contextos da cultura humana. Constata-se que um/a profissional, especificamente no caso desse estudo, para trabalhar com a ginástica rítmica, não se faz do dia para noite. As vozes são memórias vivas a comprovarem que experimentar, viver, conviver, conhecer, estudar, ampliar seu repertório, entre tantas outras ações no mundo infinito dos movimentos da ginástica rítmica são necessárias. PALAVRAS-CHAVE: Docência; Ginástica Rítmica; Histórias de vida.
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MEMÓRIAS DA GINÁSTICA RÍTMICA NO PIAUÍ
(1973-2016)
VILANOVA CAMPELO RC, COSTA FS, FORMIGA SAM. regina.vilanova-campelo@usp.br Faculdade de Medicina-FMUSP Universidade de São Paulo-USP Federação de Ginástica do Piauí-FEGINPI Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul-PUCRS YCARE (Youth/Child Cardiovascular Risk and Environmental-YCARE Grupo de Pesquisa, Departamento de Medicina Preventiva Metabolic Diseases, Exercise and Nutrition-DOMEN
Essa pesquisa teve por objetivo reconstruir a história da ginástica rítmica (GR) em Teresina-Piauí, tomando por foco o registro de imagens e discurso da pioneira desse processo, buscando compreender como a GR se consolidou no Estado. Para o desenvolvimento desta pesquisa qualitativa, foram empregados o método da História Oral, com auxílio de documentos e fotografias. Utilizamos entrevista estruturada, focada em momentos proeminentes da história da GR. Os critérios estabelecidos para determinar os sujeitos foram: pioneirismos, continuidade do trabalho com a GR piauiense; formação em GR. Esta pesquisa contou com a participação da técnica Ana Lourdes de Freitas Santos. A década de 70 caracterizou-se como o período de desenvolvimento da GR no Piauí, quando Ana Lourdes aceitou treinar a equipe de Ginástica Moderna para os V Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s). A seleção e treinamento das ginastas foram realizadas pelo porte físico, pois tinham menos de dois meses antes da realização do evento. Em julho de 1973, a primeira Seleção Piauiense representou o Estado nos JEB’s em Brasília. A GR, nesta época era praticada de forma demonstrativa em escolas, eventos cívicos e esportivos em Teresina, tinha 10 grupos de ginástica. No final dos anos 70, início de 80 houve um avanço na prática da GR, foram realizados Cursos Técnicos Pedagógicos para professores, que contribuíram para evolução da GR. Os treinos da seleção de GR eram realizados no Jockey Club do Piauí, Escola Técnica, Ginásio de Esportes Verdão e Club do River. A indisponibilidade de materiais oficiais, aquisição de música e uniformes dificultava o trabalho da GR, com o apoio da Secretária de Cultura, Desportos e Turismo do Estado, foi realizado no dia 28 de junho de 1985 o Campeonato Aberto de GR Desportiva marcado pela presença de Dayse Barros e François, ambas do Rio de Janeiro. A nível nacional o Piauí participou de 07 competições: 1973, 1974, 1979, 1982, 1984,1985. Em 1986, nos JEB’s em Vitória-ES, a ginasta Acilayne Freitas obteve o 3º lugar na série individual a mãos livres. Neste mesmo ano aconteceu o fim das atividades da modalidade em seu formato competitivo e a participação do Estado no cenário nacional. A GR continuou sendo praticada de forma demonstrativa até 1995. A formação dos professores é apontada como o principal motivo de declínio da GR no Estado. Esta dificuldade refletiu no aprendizado das ginastas e na evolução da modalidade. Com a intenção de mudar este quadro, disseminar e retomar à prática da GR no estado no dia 23 de julho de 2011 foi fundada a Federação de Ginástica do Piauí-FEGINPI, desde então com o apoio da Confederação Brasileira de Ginástica são realizados cursos de iniciação, atualização e arbitragem em GR. O Estado voltou a participar de Torneios Regionais Nordeste em 2014, 2015 e 2016. A trajetória histórica da GR no Piauí é marcada por um forte empenho da pioneira da GR, ao longo do período (1973-2016). A indisponibilidade de espaço e materiais oficiais, o apoio governamental e principalmente a formação profissional é apontada como os principais desafios para o desenvolvimento da GR no Estado, mesmo com a criação da FEGINPI a ascensão da GR não aconteceu. Uma das alternativas para modificar esta realidade é o conhecimento teórico-prático que pode ser oferecido na disciplina GR nas Universidades, para que os futuros profissionais se envolvam com a modalidade e talvez assim, veremos a prática da GR nas escolas/clubes do Piauí. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; História; Desenvolvimento.
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FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA: ESTUDOS SOBRE GÊNERO NA ESPECIALIZAÇÃO EM GINÁSTICA RÍTMICA
LOURENÇO MRA1, GAIO RC2,3. rcgaio@ig.com.br Universidade Norte do Paraná-UNOPAR Centro Universitário Salesiano de São Paulo/Liceu-UNISAL 3 Universidade Nove de Julho-UNINOVE 1
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O texto apresenta uma discussão sobre formação profissional em Educação Física e questões de gênero, tendo como foco de análise a ginástica rítmica, considerando a universidade como espaço de formação e produção do conhecimento a partir do tripé ensino, pesquisa e extensão. Partindo de uma pesquisa documental (Rudio, 2003) por meio dos trabalhos científicos produzidos na especialização em ginástica rítmica da Universidade do Norte do Paraná e do próprio projeto pedagógico do referido curso, discorremos sobre a pós-graduação lato sensu, a partir de uma disciplina que se propõe a discutir a diversidade humana e a prática esportiva numa perspectiva expressiva e manipulativa. A especialização aqui em discussão permite o aprofundamento em uma determinada área de conhecimento, levando os alunos e as alunas a não somente reproduzirem o conhecimento, mas, fundamentalmente, a produção dele com seriedade e qualidade. Na tentativa de desenvolver atividades adequadas e compatíveis para um melhor desenvolvimento da ginástica rítmica no Brasil, acreditamos ser necessário reforçar as oportunidades ofertadas aos profissionais de Educação Física, em se tratando de estudos específicos, possibilitando, a orientação necessária e precisa para o aprimoramento técnico desportivo e para o conhecimento didático-pedagógico. Assim, é objetivo deste trabalho, mostrar que, a Universidade em estudo, com a contribuição de diversos profissionais de outras instituições, como polo de treinamento e divulgação da ginástica rítmica, vem criando espaços para os profissionais de Educação Física e áreas afins fazerem pesquisa sobre a essa modalidade em diversos aspectos, inclusive investigações sobre o lugar do feminino e do masculino nesse esporte. Especificamente se tratando da especialização em ginástica rítmica, há dezoito anos fomentando a reflexão sobre o universo da diversidade como possibilidade de espaço de vivência da modalidade, tendo como pano de fundo a teoria do multiculturalismo como foco de discussão. A abordagem teórica passou a contemplar os princípios da diversidade, da inclusão e da alteridade, tendo como referenciais os debates fomentados a partir das experiências em ginástica rítmica dentro e fora da escola dos/ das próprios/as alunos/alunas no decorrer do curso. Que os esforços permanentes possam nos levar a contemplar, o que na verdade já era um desejo do percussor da então ginástica moderna e seus seguidores: que a modalidade, atualmente, denominada como ginástica rítmica possa existir para além do Sexismo. PALAVRAS-CHAVE: Formação Profissional; Gênero; Ginástica Rítmica.
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V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 49
GINÁSTICA RÍTMICA E CORPOREIDADE: OLHARES DIVERSOS
BRITO BJG, SOARES AA. boninejohnn@hotmail.com
Universidade Federal do Amazonas-UFAM
O número de mulheres que praticam esporte vem aumentando a cada dia e uma das disciplinas eleitas é a Ginástica Rítmica (GR). Paoliello (1997) alia a GR à estética sendo constituída de atributos de beleza a serviço da arte, da expressão e da influência dos movimentos. Já Aversani (2014) a define como uma modalidade que tem a principal característica a utilização de aparelhos manuais específicos, que são: corda, arco, bola, maças e fita. Outros autores como Soares (2014) descrevem a GR como uma atividade psicomotora de expressão gíminica e artística, baseada na inter-relação entre elementos corporais, aparelhos manuais e música. A GR é uma atividade que privilegia a corporeidade, que pelas palavras de Moreira (2001) significa buscar transcendência em todas as formas e possibilidades, tanto individual quanto coletivamente,pois apresenta inúmeras chances de vivenciar e experienciar o corpo e testar o próprio corpo na execução de habilidades várias utilizando aparelhos de vários formatos, texturas, pesos e características próprias.Este trabalho tem por objetivo trazer à discussão para reflexão de técnicos e professores as possibilidades de movimento apresentadas pela Ginástica Rítmica (GR) como fatores que privilegiam a vivência da corporeidade, classificando as diversas epistemologias que referem a corporeidade na prática das atividades gímnicas, privilegiando e enaltecendo a ginástica rítmica com seus saberes no Brasil e no exterior, demonstrando a importância da Ginástica Rítmica como atividade de ricas possibilidades para atuar no necessário desenvolvimento da linguagem corporal.Os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa visam fazer um levantamento de produções científicas utilizando a técnica da Bibliometria, uma vez que esta técnica é eficaz para medir e quantificar produções sejam em teses, artigos, dissertações entre outras publicações de cunho científico. Para Vanti (2002) a bibliometria aplicada com um elevado grau de vigor metodológico, torna-se uma importante ferramenta para analisar a produção científica e quantificar a evolução do conhecimento produzido pelo homem. Desta maneira podemos dizer que essa pesquisa é de cunho quantitativo. Com o levantamento bibliométrico foi realizada uma análise documental de seis (4) artigos relacionando a ginástica rítmica com a corporeidade, e duas (2) dissertações de mestrado, trazendo a problematização de questões que envolvem os temas Ginástica Rítmica e Corporeidade. Dessa forma a pesquisa também tem cunho qualitativo, pois o estudo buscou evidenciar dentro de produções científicas, a íntima relação da ginástica rítmica com a corporeidade e os diversos olhares que permeiam entre esses temas, podendo ser observada uma rica construção corporal dentro de um universo esportivo caracteristicamente feminino, com movimentos construídos a partir da necessidade da exclusividade feminina, porém, com uma ampla possibilidade de ser utilizada para o desenvolvimento da criança e do adolescente visando não só as capacidades físicas, mas um corpo saudável, pleno de sentidos e significados marcados pela história e vivências corporais acumuladas. PALAVRAS-CHAVE: Palavras chave: Ginástica Rítmica, Corporeidade, Construção Corporal.
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GINÁSTICA RÍTMICA: REFLEXÕES A PARTIR DA SOCIOLOGIA CONFIGURACIONAL DE NORBERT ELIAS
COSTA CR, PAZ B, PIRES AF, TEIXEIRA RS, BARBOSA-RINALDI IP. karolruivo@gmail.com Universidade Estadual de Maringá-UEM Gímnica: Formação, Intervenção e Escola
A Ginástica Rítmica (GR) surgiu a partir do século XIX, iniciando-se na Europa central e disseminando-se por outras regiões. Com base na sua história, descrevemos o processo de desportivização da GR por meio da teoria sociológica de Norbert Elias. Sociólogo alemão que desenvolveu, uma abordagem denominada de “Sociologia Configuracional”, que busca explicar as diversas relações de interdependências entre as pessoas, estabelecendo configurações sociais, que estão sempre em movimento. O objetivo deste artigo foi analisar historicamente o processo de desportivização da GR por meio da Sociologia Configuracional de Norbert Elias. Este ensaio fundamenta-se em textos, livros, artigos referentes a Sociologia Configuracional e a GR, sendo que as pesquisas relacionadas a esses temas não possuem um grande número de debates, tornando o tema significativo para a área. Até a sistematização dos movimentos no séc. XIX por meio dos métodos ginásticos, a maioria dos exercícios físicos eram voltados ao sexo masculino, pois o equilíbrio de poder entre os sexos que existia na sociedade, sempre enaltecia o homem. Segundo Elias, havia na sociedade uma natureza patriarcal pois julgava-se que as mulheres eram intelectualmente inferiores aos homens, e que a família devia basear-se no predomínio do marido, e o âmbito esportivo reproduzia esse caráter. A dominação masculina, provavelmente ocorre por conta dos aspectos físicos, sendo o ideal masculino descrito como arrogante e fisicamente forte, e as mulheres, por sua vez, se tornam mais frágeis por conta da possibilidade de engravidar, amamentar seus filhos, entre outros fatores, tendo como ideal feminino tímido, frágil e dependente. Elias diz que todos os desportos são, por natureza, competitivos, e por isso, possibilitam a emergência da agressão. Ou seja, o fato dos esportes serem competitivos, faz com que as pessoas que o praticam possam ter sentimento agressivo, tornando-o em violência física, e foi por conta disso que as regras foram criadas, para que as atividade físicas fossem mais civilizadas. Porém, ainda assim há relatos de que, mesmo o esporte tendo regras, ainda eram violentos e machistas. A preocupação com a saúde, principalmente das mulheres pelo fato de elas poderem engravidar, foi um aspecto importante fazendo com que os idealizadores das Escolas Ginásticas incluíssem as mulheres em seus exercícios. Foi após a Primeira Guerra Mundial, por meio da falta de atividades de lazer específico para as mulheres, a sociedade cada vez mais civilizada, e a preocupação com a saúde da mulher que foi criada a Ginástica Moderna, uma modalidade especificamente feminina, que não possuía um caráter competitivo, tendo como finalidade formar o corpo, restabelecer o original de cada movimento orgânico, desenvolver e exercitar a ideia e satisfação de movimento, e educação da atitude, fazendo parte do processo de civilização. A GR assumiu um carácter competitivo a partir da organização de uma competição pela União Soviética.Portanto, a desportivização da GR ocorreu em meio a conflitos e tensões internacionais no qual o equilíbrio de poder estava totalmente instável. Este fato foi muito importante no processo de civilização, principalmente para as mulheres, pois foi por meio da modalidade que elas começaram a buscar um espaço na sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Sociologia; Educação Física.
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RELATO DE EXPERIÊNCIA: DA DOCÊNCIA AO VOLUNTARIADO
CAMARGO CTA, GAIO RC. cris-camargo@uol.com.br
Centro Universitário Salesiano de São Paulo-UNISAL
Este relato de experiência tem como objetivo apresentar a visão das professoras, trazendo uma reflexão sobre o mundo das ginásticas, da docência ao voluntariado, com intuito de demonstrar a importância dessa vivência. Há mais de vinte anos na carreira docente, disseminando e difundindo conhecimentos acerca da ginástica, na educação formal e não formal, bem como, em outras áreas de conhecimento da educação física, surge a oportunidade de vivenciar outra faceta, o voluntariado no maior evento esportivo do mundo, os Jogos Olímpicos. Neste contexto, o presente relato busca descrever a participação no background deste megaevento na qualidade de voluntárias, a qual agregou grande experiência não só no que diz respeito à organização, como também proporcionou conhecer de perto os bastidores desse grande espetáculo, onde se concentram as melhores equipes de ginástica artística e ginástica rítmica do mundo, destacando-se as diversas manifestações e comportamentos de técnicos, ginastas, organizadores e voluntários. A formação acadêmica em Educação Física deve estabelecer a relação entre teoria-prática por meio de atividades complementares, a fim de enriquecer o processo de ensino-aprendizagem, auxiliando na formação profissional. Esta vivência foi uma excelente oportunidade para ampliar conhecimentos tanto aos docentes envolvidos quanto aos discentes que foram beneficiados pelas descrições dos relatos durante as atividades desenvolvidas em sala de aula. Foi possível observar a participação de voluntários de diversas áreas, seduzidos pelo significado de congraçamento e união dos povos e pela expectativa em fazer parte de um momento importante e histórico. Percebeu-se grande comprometimento dos voluntários, preocupados com a qualidade e com o sucesso dos jogos, mesmo diante de imprevistos e dificuldades, os quais não mediram esforços para que tudo acontecesse da melhor maneira possível. Tudo foi grandioso: a técnica refinada e impecável, os movimentos precisos, a agilidade, a velocidade, a força e a graça! Era o movimento em suas mais variadas formas e estilos. Houve a possibilidade apreciar os melhores atletas das ginásticas artística e rítmica; por trás das cortinas, pode-se perceber a rigidez dos treinamentos, as fragilidades das ginastas e dos ginastas como efeito colateral dos esportes de alto rendimento; nas entrelinhas, a dinâmica e sistematização dos treinos em momentos de aquecimento e a postura dos técnicos sempre preocupados com os resultados e os atletas sempre em busca da melhor colocação. O amor pelo esporte uniu a todos que ali estavam; atletas, técnicos, voluntários, torcida. Tudo ali se encaixava como se todos sonhassem o mesmo sonho. O sonho da dedicação, do esforço, da firmeza de propósitos e dos treinamentos exaustivos, enfim, teriam uma explicação: a participação nos Jogos Olímpicos! PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Voluntário; Jogos Olímpicos.
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UMA PERCEPÇÃO SOBRE A PARTICIPAÇÃO DE HOMENS NA GINÁSTICA ARTÍSTICA E NA GINÁSTICA RÍTMICA: APROXIMAÇÕES INICIAIS
SILVA TED, CHAGAS DL, SOUSA CT. ewerk_12@hotmail.com
Universidade Federal do Ceará-UFCE
A identidade de gênero é construída socioculturalmente a partir do que se identifica como prática masculina e/ou feminina, que geram representações de feminilidades e masculinidades e que associam determinados esportes aos homens e as mulheres (GOELLNER, 2010). A fim de compreender estas determinações tomaremos a Ginástica Artística Masculina (GAM), e a Ginástica Rítmica Masculina, como modalidades de investigação, para analisar a percepção social sobre a participação de homens nestas modalidades. A GAM é caracterizada pela execução de elementos ginásticos em aparelhos (solo, argolas, mesa de salto, cavalo com alças, as barras paralelas simétricas e barra fixa) (TSUKAMOTO e KNIJINK, 2008). A Ginástica Rítmica (GR), uma modalidade formulada exclusivamente para mulheres, teve início no começo do século XIX, sob influência das Artes Cênicas, Dança, Música e da Pedagogia (GAIO, 1996). A Ginástica Rítmica Masculina (GRmasc) presente em alguns países como Japão, Canadá, Estados Unidos, Rússia, Coréia do Sul, Grécia, Espanha e Itália, teve sua primeira competição oficial organizada em 2009 na Espanha, onde seguiu os mesmos parâmetros da GR feminina, com séries individuais, em conjunto e os aparelhos (maça, bola, fita, arco e corda)(KAMBERIDOU, et al 2009). Nesta pesquisa trabalharemos com esta vertente europeia da GRmasc, que segue os mesmos moldes da GR feminina. Assim, este trabalho teve por objetivo descrever a percepção da sociedade acerca da participação de homens na GRmasc e na GAM. Foram entrevistados 12 pessoas (8 mulheres e 4 homens), com idades entre 24 e 62 anos em Fortaleza-CE. Todos afirmaram ter pouco conhecimento técnico proximidade com qualquer modalidade ginástica. Dois vídeos foram apresentados, o primeiro, de uma apresentação de GR masculina (fita). Logo após foi realizada a seguinte pergunta: Esta modalidade é permitida para homens? Por que? Após o entrevistado responder, foi apresentado o segundo vídeo, este de GAM(solo) e a mesma pergunta anterior foi feita. As entrevistas foram tratadas por Análise Temática (BARDIN, 2010). Com relação à permissão de homens praticarem a GRmasc, três entrevistados foram a favor e resumem-se em “todos são capazes de realizar o que sentem vontade e possuem capacidade para isso”, os outros nove afirmaram que a modalidade não é adequada para eles e as respostas se dividiram na justifica de que “a modalidade exigia muitas coisas delicadas e femininas” e que “visualmente não é bonito”. Já para a GAM, todos os entrevistados, afirmaram que é permitido a participação de homens na modalidade, as justificativas se resumem em: “exige muita força”, “muitas acrobacias” e “não tem passos de dança”. Como podemos ver, o que define a permissão ou não de homens nas modalidades são masculinidades e feminilidades. Pelas respostas nota-se que a GR é dita feminina por ser mais delicada, já a GA é mais masculina por exigir força, ou por não ter passos de dança. Os elementos de oposição encontrados nas falas apontam que homens e mulheres devem ser distintos, assim como os achados de Tsukamoto e Knijink (2008), estes nunca terão aspectos em comum. Concluímos nesta pesquisa de caráter inicial, que a diferença/oposição de gênero cria uma sociedade estereótipos de identidades e papéis. Assim, dentro desta prática esportiva, e dada o recorte metodológico, apontamos este fator como possível para o não desenvolvimento das modalidades aqui estudadas nesta sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Ginástica Rítmica; Identidade de Gênero.
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FORMAÇÃO DE ÁRBITROS NA GINÁSTICA RÍTMICA: O PERFIL DOS PARTICIPANTES DO CURSO DE ARBITRAGEM DO ESTADO DE SÃO PAULO
LOCCI B, MENEGALDO FR, SOARES AA, LIMA LBQ, ALTUALPA KF. brunalocci@gmail.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade de Campinas-UNICAMP Grupo de pesquisa em Ginástica-GPG
Os árbitros de Ginástica Rítmica (GR) necessitam de um conjunto de conhecimentos e habilidades que contribuam para a eficácia do processo de avaliação. Considerando que a experiência anterior com a modalidade possa favorecer o desenvolvimento profissional da banca de arbitragem, o objetivo do presente estudo foi analisar a formação dos árbitros de GR, com foco em três vertentes: experiências prévias com a modalidade, atuação vigente com a GR e a formação acadêmica (cursos de graduação e pós-graduação). Para tanto, foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas para 33 participantes do Curso de Arbitragem Estadual de São Paulo, realizado em maio de 2017. Destes 33 (66,26% do total de cursistas), 2 são árbitras no ciclo vigente (internacional e nacional), 27 realizaram a prova para o brevet estadual e 4 participaram como ouvintes. Sobre os resultados, mais especificamente acerca das experiências prévias, 63,64% dos cursistas possuem experiência anterior como treinador(a), 63,64% foram ex-atletas de GR, 45,45% tem experiência como árbitros, 6,06% ainda são atletas e 3,03% atuaram como auxiliar técnico. Com relação a atuação vigente, 90,91% atuam na área da GR, enquanto 9,09% não atuam na modalidade. Dentre os atuantes na àrea, 9,09% são ginastas, 51,52% são treinadores de equipes competitivas, 21,21% são árbitros, 27,27% são treinadores na iniciação esportiva e 12,12% são auxiliares/estagiários. Quanto a formação acadêmica, 81,82% possuem graduação em Educação Física/Esporte, 15,15% graduação em cursos variados (Administração, Direito, História, Pedagogia e Publicidade e Propaganda) e 6,06% ainda são estudantes. Em relação aos cursos pós-graduação, apenas 27,27% dos participantes possuem essa formação, sendo 8 deles na modalidade lato sensu (3 em GR, 2 em Fisiologia do Exercício, 1 em Treinamento, 1 em Educação Física Escolar e 1 em Gestão Estratégica de Moda) e apenas 1 na modalidade stricto sensu (doutorado em História). Ainda, um dos participante alegou possuir o CREF Provisionado - registro no Conselho Regional de Educação Física, mesmo sem formação superior na área. Os dados apontam que a função de árbitros está amplamente relacionada a prática da GR, seja como treinador (em diferentes níveis) ou ginasta. Apesar da formação acadêmica em Educação Física/Esporte e as experiências prévias com a modalidade não serem pré-requisitos para tornar-se árbitro, a complexidade da compreensão e avaliação das modalidades gímnicas, parecem clamar tal contato/envolvimento prévio. PALAVRAS-CHAVE: Arbitragem; Experiências; Formação.
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INICIAÇÃO À GINÁSTICA RÍTMICA E PARTICIPAÇÃO EM FESTIVAIS DE GINÁSTICA: A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS A PARTIR DE DESENHOS
MENEGALDO FR, MILANI CS. fernandamenegaldo@hotmail.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Grupo de Pesquisa em Ginástica-GPG
A Ginástica Rítmica (GR) é uma das práticas reconhecidas pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), tendo em sua vertente competitiva sua maior expressão, caracterizada pelo diálogo entre música, movimento e manejo dos cinco aparelhos. No entanto, pode se manifestar em diferentes contextos como, por exemplo, nos festivais de ginástica, eventos habituais no âmbito da iniciação esportiva desenvolvida em instituições de ensino e lazer, como escolas e clubes, respectivamente. Este resumo trata sobre a participação da turma “Mirim” de GR do Clube Semanal de Cultura Artística (CSCA) no festival de encerramento do ano de 2015 desse mesmo clube sócio-esportivo, localizado na cidade de CampinasSP. A partir desse cenário, o objetivo deste trabalho foi analisar a percepção das alunas sobre a participação no festival, evento que possui características distintas das competições das quais as ginastas participaram ao longo do ano letivo. Como ferramenta para esta análise foi utilizada a elaboração de desenhos realizados individualmente na aula posterior a apresentação. A realização destes desenhos foi mediada pelo seguinte questionamento proposto pela professora: “Vocês gostaram de se apresentar no festival?”. Dentre as 20 alunas, 14 estavam presentes na aula em questão e realizaram a atividade. Por meio do princípio da categorização (BARDIN, 2011), os 14 desenhos foram observados detalhadamente com intuito de identificar elementos relativos à prática da GR e à experiência no evento, e posteriormente, seus possíveis significados. Acerca dos resultados, o processo de análise revelou os seguintes elementos e a suas respectivas frequências de aparição: componentes da estrutura da área de apresentação (13/14); autorretrato (13/14); expressão facial de felicidade (11/14); collant/vestimenta semelhante ao utilizado no evento (8/14); aparelho bola utilizado na coreografia (7/14); presença das colegas (5/14); presença da professora (5/14); presença de espectadores (2/14); presença da mãe (1/14); preparação para o festival (1/14). Com isso, foi possível observar uma relação positiva entre as crianças e o ato de se apresentar, visto que a grande maioria dos desenhos possui elementos específicos do momento da apresentação – estrutura de iluminação, diferentes cores das luzes, superfície instalada para o espaço de apresentação, o uso do collant específico da coreografia, a presença do material utilizado e, por fim, o autorretrato sempre com expressão que remete a sensação de alegria. Assim, consideramos que o desenho se constituiu como uma interessante ferramenta pedagógica para o diagnóstico da percepção das crianças sobre essa experiência proporcionada pela prática da GR, uma vez que, em concordância com (SANS, 2001), o desenho para a criança se concretiza em uma linguagem, que possibilita a representação, a expressão, de seus sentimentos, de suas vivências, participação na sociedade e situações do cotidiano. Dessa forma, portanto, os desenhos revelaram de forma clara que a participação em festivais para esse grupo foi uma estratégia pedagógica interessante. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Criança; Desenhos.
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REPRESENTATIVIDADE DA GINÁSTICA RÍTMICA CEARENSE EM COMPETIÇÕES NACIONAIS
LIMA MF, CARVALHO KMC, ANDRADE NETO A. mar.yana123@hotmail.com Universidade Federal do Ceará-UFC
A Ginástica Rítmica (GR) no Brasil segue as diretrizes da Federação Internacional de Ginástica, portanto é um esporte praticado apenas por mulheres, no qual são realizados movimentos que combinam manejo de aparelhos (corda, arco, bola, fita, maça) e elementos corporais (ex: giros, saltos) aliando o caráter artístico e expressivo da modalidade. No Ceará, esta prática parece ter tido impulso a partir de 2009 com a criação da Federação Cearense das Ginásticas (FCG) (DODÓ, 2014) e com a consequente criação de eventos de massificação que tornaram a prática mais popular no Estado. Embora ainda exista a carência de pesquisas sobre Ginástica no Ceará, é sabido que a prática da GR vem crescendo nesta sociedade em diferentes âmbitos (clubes, escolas, projetos sociais). Assim, este estudo inicial de caráter documental observou a representatividade da GR Cearense em competições nacionais organizados pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) (2011-2016). Foram analisados registros dos resultados de competições de GR da CBG disponíveis no site oficial da instituição. Devido à ausência de alguns registros, foi realizada uma busca complementar em registros da FCG, tais como calendários, além de notícias de jornais. Ao todo 13 atletas representaram o Ceará entre os anos de 2011 a 2016, uma destas atletas permaneceu ativa em competições por três anos, da categoria Pré-infantil ao infantil, e outra por cinco anos, do infantil ao adulto. De acordo com os resultados da CBG, apenas no ano de 2015 não houve participação de atletas cearenses em campeonatos nacionais. O ano de 2012 foi o ano com maior representatividade, sete ginastas competiram sendo três na categoria Pré- infantil 2, uma no Infantil 1, duas no Infantil 2 e uma no Juvenil 1. Em 2013, 3 atletas competiram, sendo duas na categoria infantil 1 e uma na juvenil. No entanto, em 2014 apenas uma atleta competiu (juvenil). Já em 2016, houve um aumento no número de ginastas competindo, em um total de 5 ginastas: uma na categoria Pré infantil 1, duas no Pré-infantil 2, uma no Infantil e uma no Adulto. Os dados encontrados mostram uma participação esporádica das ginastas cearenses em eventos nacionais no período analisado. Porém, foi possível observar que as duas atletas que tiveram participação em mais de uma competição demonstraram melhor desempenho que as demais, o que aponta para outro dado relevante desta pesquisa, a existência de alguma(s) dificuldade(s) na continuidade da carreira esportiva das atletas, para as quais temos algumas hipóteses, como falta de investimento na iniciação esportiva na GR e condições para manutenção dos centros de treinamento e atletas, bem como outros aspectos necessários para o desenvolvimento esportivo, porém são necessários estudos que investiguem essas questões. Este estudo nos permitiu observar também a dificuldade e a necessidade das pesquisas documentais em Ginástica neste Estado, uma vez que nos documentos da CBG não foram encontrados alguns resultados de competições. Já a FCG não possui uma base de dados pública como a instituição anterior. O blog da FCG atualizado em 2012 também não fornecia dados que pudessem contribuir com esta pesquisa. Desta maneira, as notícias de jornais ajudaram a compor este estudo. Concluímos que a GR, embora seja a modalidade ginástica de maior destaque no Ceará, apresenta problemas quanto ao seu desenvolvimento, os quais devem ser investigados a fim de proporcionar a progressão e enriquecimento desta prática no Estado. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Ginástica Rítmica; Nordeste.
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GINÁSTICA RÍTMICA MASCULINA: UMA REVISÃO DE LITERATURA
KIKUTI TLA1, OLIVEIRA MS2, NUNOMURA M3. almeidatabata@yahoo.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP 2 Universidade Federal do Espírito Santo-UFES 3 Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto-EEFERP Universidade de São Paulo-USP 1
A Ginástica Rítmica Masculina (GRM) é uma manifestação ginástica que, comparada a outras, pode ser considerada recente, sendo praticada internacionalmente por aproximadamente três décadas (KAMBERIDOU et. al, 2009). Noda et. al (2015) identificam duas vertentes dessa modalidade na atualidade. A primeira vertente, originalmente japonesa, se apresenta como uma combinação do método sueco e dinamarquês às artes marciais orientais; enquanto a segunda vertente, praticada originalmente na Espanha, apresenta os mesmos movimentos, aparelhos e dificuldades técnicas da Ginástica Rítmica feminina, porém, executada pelo sexo masculino. Após pesquisa à procura de literatura referente à GRM, nas principais bases de dados nacionais e internacionais (Portal de periódicos CAPES/MEC, LILACS, Japanese Institutional Repositories Online e Scholarly and Academic Information Navigator), utilizando as palavras-chave Ginástica Rítmica Masculina (MEN’S RHYTHMIC GYMNASTICS / •••••), encontramos somente seis artigos pertinentes à modalidade e um pôster. Dentre esses, somente três, além do pôster, apresentavam tradução para o inglês, enquanto os outros três artigos foram encontrados em bases de dados na língua japonesa, especificamente. Após a leitura dos artigos, constatou-se que a questão do gênero foi citada nos três artigos em inglês. O primeiro artigo (CHIMOT; LOUVEAU, 2015) discute a ideia da construção da masculinidade por homens que praticam a GR, um esporte tradicionalmente feminino. O segundo (KAMBERIDOU et al, 2009) afirma a prática da Ginástica Rítmica feminina pelo sexo masculino, e ressalta a diferença da GRM tradicional japonesa comparada ao esporte praticado pelo sexo feminino, com relação às características típicas da modalidade. O terceiro artigo (BOZANIC, MILETIC, 2014) aborda as diferenças de aptidão entre os sexos na prática das mesmas atividades dentro da Ginástica Rítmica feminina, de forma a identificar quais atividades e aparelhos são mais fáceis/difíceis para cada sexo. Com relação aos artigos em japonês, um deles aborda as lesões entre estudantes do ensino médio que praticavam a GRM (NODA et al, s.a.) e outro discute a autoimagem dos atletas praticantes da modalidade (NODA, 2015). Por fim, o terceiro artigo faz uma revisão teórica apontando o que se encontra, mundialmente, na literatura sobre GRM na área das ciências humanas e sociais (NODA; HIM, 2015). Neste último artigo, foi possível encontrar demais fontes provenientes de livros e de periódicos específicos de universidades japonesas que utilizam palavras-chave diferentes daquelas das buscas. Por meio desta pesquisa foi possível identificar uma expansão internacional da GRM japonesa, pelo envio de treinadores qualificados para promoverem a modalidade fora do Japão. Por falta de apoio financeiro, por parte dos países que receberam os técnicos, em 2006, ocorreu a finalização deste projeto e, a partir desta data, podemos observar a crescente da GR feminina praticada pelo sexo masculino, como na Espanha e Rússia (KAMBERIDOU et al, 2009). Sem o código de pontuação traduzido para outras línguas, a modalidade tradicional japonesa congelou internacionalmente, dando lugar à sua outra vertente. Assim, identificamos a GRM como um campo novo de prática e de pesquisa, repleto de curiosidades e tradições que merecem investigações em vista de benefícios potenciais como a popularização desse esporte, independente da vertente, de modo a apresentar um panorama mundial da modalidade. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica Masculina; Ginástica de Competição.
R.128 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 57
GARIMPANDO MEMÓRIAS: HISTÓRIAS DA GINÁSTICA RÍTMICA NO ESPIRITO SANTO
DIAS FS, OLIVEIRA MS. francinydias@gmail.com Universidade Federal do Espirito Santo-UFES Laboratório de Ginástica-LABGIN
Ao analisarmos a trajetória histórica da Ginástica Rítmica (GR) brasileira, observamos um marco com a realização dos cursos de Aperfeiçoamento Técnico-Pedagógico, nos anos de 1953 e 1954, na cidade de São Paulo (CRAUSE, 1985; ALONSO, 2000). Soares e Barros (2012) citam a participação de professoras eminentes na área e o potencial de divulgação desse curso. Alonso (2000) aponta que a então Ginástica Moderna foi impulsionadapor meio desse curso de formação ministrado pela austríaca Margareth Frölich, a qual foi auxiliada pela professora Érica Saur da Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Soares e Barros (2012) mencionam também o professor Ernest Idla na promoção da modalidade por meio de cursos realizados na década de 1950.No mesmo período em que Margareth Frölich esteve no Brasil, a professora húngaraIlonaPeuker radicou-se no país tornando-se a principal agente da modalidade (CRAUSE, 1985). O trabalho de IlonaPeuker influenciou a prática nacional, tanto no âmbito educacional quanto esportivo. Os nomes supracitados, assim como Stella Mansur citada por Marinho (1982), foram essenciais na divulgação, propagação e desenvolvimento dessa modalidade gímnica no contexto brasileiro. Após esse processo inicial de divulgação e disseminação da GR no país, observamos em Lafranchi (2001) o proeminente papel das discípulas e de ex-ginastas na promoção da modalidade no Brasil. Segundo a autora, Daisy Barros, IngeborgCrause, Vera Miranda, Elisa Resende e Elisabeth Laffranchi, assim como outras, foram essenciais na continuidade dos trabalhos realizados pelas pioneiras, e contribuíram com a história da GR brasileira.Devemos destacar que as ações de IlonaPeuker despertaram, segundo Alonso (2000), o interesse pela prática da Ginástica Moderna como modalidade esportiva e, também, educativa, a qual foi inserida nos currículos das escolas de1. e 2. Graus no antigo estado da Guanabara (CRAUSE, 1985). No Espirito Santo, a GR seguiu percurso histórico semelhante, ainda na década de 1950, sendo promovida, inicialmente, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim no ambiente escolar. Desde então, a GR espírito-santense passou por um processo contínuo de desenvolvimento tornando-se referência na modalidade. O estado é terra natal das ginastas Natalia Gaudio, Francielly Machado e Emmanuele Lima que representaram o Brasil na GR nos Jogos Olímpicos de 2016. Ademais, a treinadora Monika Queiroz, também capixaba, atuou em duas edições das Olimpíadas (2008 e 2016).Apesar dessa trajetória antiga, aliada ao sucesso de atletas e treinadores do estado, são poucos os aspectos históricos da modalidade no Espírito Santo que deram voz aos seus protagonistas: ginastas, treinadores, árbitros e dirigentes. Nesse sentido, o objetivo desse estudo é retratar a história da GR espírito-santense por meio de uma abordagem qualitativa. Dentre as diferentes opções metodológicas, optamos pela abordagem da história oral. Segundo Schiavon (2009) a oralidade carrega detalhes, jeitos, expressões, pausas, sorrisos, risadas, silêncios que apenas um relato é capaz de narrar com riqueza asinformações e detalhes. Desta forma utilizaremos entrevistas narrativas (JUNQUEIRA et al., 2014). O estudo encontra-se em fase inicial de desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito-Santo. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; História Esportiva; História Oral.
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PERCEPÇÕES DA GINÁSTICA RÍTMICA COMO UM SUBCAMPO ESPORTIVO A PARTIR DA TEORIA DE PIERRE BOURDIEU
PAZ B, BARBOSA-RINALDI IP, SOUZA J. paz.bruna77@gmail.com Universidade Estadual de Maringá-UEM Gímnica: formação, intervenção e escola
A ginástica rítmica (GR) como prática social organizada possui elementos estruturais que a tornam parte de um universo esportivo mais amplo. É possível apontar sua relação com o treinamento de alta performance, com os processos pedagógicos, com a formação profissional, com a cultura esportiva global, entre outras temáticas adjacentes que estimulam novas análises e interpretações sobre a modalidade. Com o objetivo de apresentar sua trajetória como um subcampo do campo esportivo, num diálogo com o programa bourdieusiano para Sociologia do Esporte (BOURDIEU, 1983) e com pesquisas já desenvolvidas a partir desse quadro teórico (SOUZA; MARCHI JÚNIOR, 2010), o estudo contextualiza a história da GR à luz da Teoria dos Campos de Bourdieu, entendida como uma abordagem que tem “[...] como ponto central a relação, de mão dupla, entre as estruturas objetivas (dos campos sociais) e as estruturas incorporadas (do habitus)” (BOURDIEU, 1996, p.10). Na investigação, mobilizaram-se textos, livros e artigos sobre a GR relacionando-os com a temática de Campos de Bourdieu. A GR se destaca por permitir ao corpo o uso da arte, da criatividade e de capacidades físicas a partir de sua estrutura trifásica, envolvendo acompanhamento musical, manejo de aparelho e elementos. A primeira condição para compreendê-la é conhecer de diferentes ângulos os problemas que são apresentados sobre um espaço social, neste caso o esporte, além do caminho histórico, e das produções sociológicas e epistemológicas reservadas ao campo (BOURDIEU, 2004). Assim, evidenciou-se que a GR atualmente ocupa um lugar no campo esportivo, por atender um universo complexo de indivíduos com diferentes interesses e objetivos. Porém, sempre respeitando costumes, tipos de práticas e estruturas de espaços e tempos dos movimentos. Isto é, do alto nível a iniciação, do esporte competitivo à participação há normas que são respeitadas e seguidas a partir dos princípios da modalidade. Notou-se, também, a existência de um habitus que norteia comportamentos e ações das praticantes, tendo por referência a conformação de um subcampo esportivo formalizado oficialmente, regido e organizado por órgãos competentes, FIG, CBG e suas federações. Somam a este cenário, as rotinas de treinamentos, os atributos estéticos exigidos e a estruturação de prática reconhecida pela FIG somente por mulheres. Porém, a imposição da GR ao universo feminino vem sendo quebrada nos últimos anos pela presença de treinadores e árbitros nos eventos esportivos e por equipes masculinas. Para os treinamentos, além de uma organização rígida entre periodização e sistemática de treinos técnicos e físicos, há uma preocupação com o trabalho específico de ballet e expressão corporal que se aproximam de uma perspectiva artística das séries. Nesta visão artística se singulariza o habitus da GR, em uma lógica que a vincula à estrutura de um espetáculo artístico garantido pelo uso de collants, aparelhos e músicas que remetem a uma história contada a partir dos movimentos. Por fim, os processos de dominação neste subcampo perpassam a ideia de localidade, pois na GR mundial, a Rússia, assume seu papel de dominador neste esporte e o Brasil de dominado. Contudo, se tal análise se restringisse, ao universo das Américas mudaria o cenário entre dominantes e dominados, e assim por diante. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Sociologia; Bourdieu.
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A HISTÓRIA DA GINÁSTICA RÍTMICA ESCOLAR EM SALVADOR
FLORES AA, SILVA FO. professoraamandaazevedo@gmail.com
Centro Universitário Jorge Amado-UNIJORGE
A noção de que os padrões ginásticos hoje conhecidos, tem se transformado, no decorrer da história, segundo as características de regiões, povos e costumes, nos leva a interpretação de que esta atividade se associou ao que foi a perspectiva de trato com o corpo, com o outro e com o meio. O termo e as formas de prática da ginástica ganharam variadas definições de acordo com cada época e cada padrão cultural onde se dava. Assim, estes movimentos assumiram caráter militar, como por exemplo, entre os espartanos e de ocupação do tempo de ócio, de consagração à beleza, como entre os atenienses. Entende-se que foi nos séculos XVIII e XIX, na Europa, que a ginástica, agora sob viés pedagógico ganhou um status, contando com uma maior estruturação. Esse processo visava à organização das atividades, sob um caráter metódico, rigoroso e mesmo, com cunho disciplinador. Assim teve origem o termo Movimento Ginástico Europeu. Foi a partir deste movimento, que vimos surgir os Métodos Ginásticos. Os métodos, sob influências das revoluções que se davam no continente europeu, dentre elas a científica, tinham a perspectiva de criar, moldar novos corpos e comportamentos, difundindo as ideias e preceitos de uma nova saúde, de uma nova sociedade, de um novo homem e de uma nova ciência e tecnologia. A ginástica uma das ferramentas da Educação Física como formação escolar, está presente de forma legal desde 1851 como disciplina obrigatória nas escolas primárias, englobando as modalidades competitivas e não competitivas. Após esta conformidade é que a ginástica se apresenta na instituição escolar, no campo da Educação Física como uma atividade de seu quadro de conteúdos, as ginásticas esportivas, compõe outro campo em específico, o dos esportes. Dentre as ginásticas esportivas está a ginástica Rítmica que se caracteriza como um esporte do quadro olímpico tendo sua organização moderna, próximos ao fim da segunda guerra mundial e aos escassos sistematizou e globalizou uma estrutura competitiva, admitindo assim suas especificidades do esporte moderno. Temos a ginástica como uma das práticas do movimento humano e nesta pesquisa procuramos compreender na Ginástica Rítmica sua constituição histórica e conceituação. Desta forma o artigo teve como objetivo compreender a história da ginástica rítmica escolar em Salvador. A pesquisa justifica-se por se tratar de um registro importante, propiciando a melhor compreensão desse processo evolutivo da modalidade em seu tempo, e sua expansão na atualidade. Dois métodos de pesquisa foram utilizados, sendo um deles a História Oral, com a técnica de depoimento oral e também a análise de conteúdo através de uma entrevista semi-estrututrada. Essa pesquisa ainda não foi concluída, porém ao longo desse caminho encontramos evidencias de diferentes contextos e iniciativas da prática da Ginástica Rítmica na escola, além disso, foram levantadas problemáticas do passado, ainda recorrentes na atualidade. Acreditamos que a uma ausência da Ginástica Rítmica como conteúdo escolar em Salvador, na formação dos professores e em lacunas do passado que persistem ainda hoje. Mas ainda não temos tais confirmações. Conduto acredito que este estudo é de grande somatória bibliográfica na área da Educação Física e na prática da Ginástica Rítmica em Salvador reforçando assim a iniciativa desta e de outras pesquisas sobre a Ginástica Rítmica no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Escola; Ginástica Rítmica; História.
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PERFIL DE GINASTAS DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE CONJUNTOS DE GINÁSTICA RÍTMICA
LOURENÇO MRA, BARBOSA-RINALDI IPB. marcia.lourenco@unopar.br
- 1997 A 2012
Universidade Norte do Paraná-UNOPAR
A pesquisa teve como objetivo identificar, por meio de depoimentos de ginastas da seleção brasileira de conjuntos de ginástica rítmica (GR), o perfil de ginastas convocadas no período de 1997 a 2012, recorte de tempo que compreende os quatro últimos ciclos olímpicos completos da modalidade que culminam com a realização dos Jogos Olímpicos de 1997 a 2000 (Sydney), 2001 a 2004 (Atenas), 2005 a 2008 (Pequim) e 2009 a 2012 (Londres), entre estes eventos, apenas na última edição o Brasil não esteve presente nas competições de conjunto. Utilizou-se como instrumentos para o estudo de cunho descritivo, questionário e entrevista semiestruturada para 12 atletas participantes das seleções brasileiras de conjuntos no período proposto e para análise dos dados optou-se pela estatística descritiva e análise de conteúdo. Os contatos foram realizados via e-mail, telefone e pela rede social Facebook com coleta das assinaturas de todas as envolvidas no Termo de Autorização e no Termo de Consentimento Livre Esclarecido e a partir da aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Maringá, sob o nº 739.303, realizou-se as entrevistas, todas realizadas pela própria pesquisadora nas residências dos sujeitos ou ainda em eventos específicos de GR realizados no decorrer do ano de 2014. As ginastas selecionadas para a seleção brasileira de conjuntos de ginástica rítmica vêm de todas as regiões do Brasil, sendo a maioria da região sul do país tendo iniciado na GR aos sete anos de idade. A média de permanência representando o país é de cinco anos dos aproximadamente 13 anos dedicados ao treinamento da GR como um todo. As mesmas entram na seleção brasileira no primeiro ano da categoria adulta e após a participação em diversas competições internacionais encerram sua carreira esportiva ou continuam o treinamento em seus clubes de origem por mais um ciclo. Conquistaram seus resultados mais expressivos na própria seleção brasileira de conjuntos e foram motivadas e estimuladas pela família ou ainda por ginastas de gerações passadas. A preocupação com a formação profissional sem se desligar do meio esportivo é uma constante, 80% estudam ou estudaram Educação Física e 25% se tornaram treinadoras em nível nacional. O perfil encontrado é uma tendência internacional, pois raramente presenciamos ginastas defendendo seus países por mais de um ciclo olímpico, como exemplo, os conjuntos da Rússia, campeã das últimas seis edições dos Jogos Olímpicos, são renovados constantemente, algumas vezes com alterações completas das titulares dentro do mesmo ciclo. Porém, dentre as ginastas participantes da pesquisa uma delas foi a que mais tempo permaneceu na equipe nacional, durante 22 anos, ou seja, além do período previsto para este estudo, esta mesma ginasta juntamente com uma segunda atleta participaram de duas edições dos Jogos Pan Americanos e juntamente com uma terceira atleta participaram de duas edições dos Jogos Olímpicos, nos levando a fazer análise com outras equipes mundiais como a seleção italiana de conjunto manteve duas ginastas por três ciclos olímpicos inteiros do qual esteve no pódio em dois deles. A pesquisa apresenta dados que poderão colaborar para os processos futuros de selecionamento de ginastas para a seleção brasileira de conjuntos. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Seleção de Atletas; Perfil Esportivo.
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O USO DO PORTFÓLIO COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO NO ENSINO DA GINÁSTICA NO ENSINO SUPERIOR
JACÓ LF, BOHER NS, MIGUEL BS, SILVA PAL, GALDINO VC. leotozzi.fagundes@hotmail.com Faculdade Devry-Metrocamp Experiências Pedagógicas da Metrocamp-EXPEGIM
A Ginástica Artística (GA) e Ginástica Rítmica (GR) são disciplinas presentes na grade curricular de diversos cursos de graduação em Educação Física do Brasil (BARBOSA, 1999, p.16). Têm como objetivo promover o conhecimento, a compreensão, além de possibilitar o desenvolvimento técnico-pedagógico desta modalidade. O contato com a GA e GR no ensino superior, possibilita uma melhor divulgação e disseminação das modalidades entres os estudantes, que em sua maioria, nunca tiveram relação com a prática gímnica. O vínculo com a disciplina se estabeleceu a partir de aulas teóricas, vivências práticas e trabalhos avaliativos (leitura de textos, elaboração de vídeo aulas, portfólios, entre outros). Essas vivências perpassaram pela aprendizagem de elementos básicos (ex. rolamento para frente e para trás, parada de mãos, estrelas, salto sobre o plinto, entre outros), e também pela familiarização e manuseio de aparelhos oficiais e adaptados das modalidades. Nas aulas, a proposta foi o contato com exercícios e atividades que visassem estimular futuramente, crianças, jovens e adultos que viessem a se tornar alunos de Ginástica, a tentar alcançar novas possibilidades de movimentação, respeitando os limites físicos e intelectuais, com propostas lúdicas e inspiradoras. Nesta perspectiva, este grupo de alunos (formado por 5 pessoas), da disciplina Práticas Pedagógicas das Ginásticas Rítmica e Artística, e participantes do Grupo de Experiências Pedagógicas em Ginástica da Metrocamp (EXPEGIM), optou por relatar um pouco da experiência vivida no semestre, através do portfólio que foi criado a partir das aulas semanais de GA e GR. O portfólio é uma documentação organizada que visa registrar conhecimentos construídos e processos importantes no ato de aprender e ensinar (CAMPBELL, 1996), e foi um dos métodos avaliativos utilizados na disciplina, ministrada de fevereiro a junho de 2017. Foram realizadas 3 aulas teóricas e 8 práticas (8 de GA / elementos básicos e 3 de GR). As aulas teóricas tiveram o objetivo de contextualizar os alunos sobre a GA e GR em suas vertentes competitivas, elucidando informações sobre as características e normatização das modalidades. As aulas práticas, divididas em dois blocos (elementos corporais básicos - GA; manejo de aparelhos - GR), almejaram ensinar a execução dos elementos básicos, assim como propor que entrássemos em contato com as melhores formas de ensiná-los, discutindo técnicas pertinentes a segurança dos elementos, e as estratégias de ensino (educativos). O enfoque dado a disciplina, nos permitiu pensar o desenvolvimento da Ginástica em diferentes ambientes (públicos, particulares e escolares). O registro do conhecimento em portfólio ressaltou o conteúdo aprendido, pois ao selecionarmos os principais momentos das aulas e a busca por imagens que os expressassem para realizarmos os registros, pudemos nos colocar no papel de protagonistas de nossa aprendizagem., permitindo uma reflexão a respeito do conteúdo trabalhado (GASTALDO et al., 2016). Assim, consideramos essa experiência como relevante, por nos tornar mais capacitados para lidar com os ensinamentos das modalidades. PALAVRAS-CHAVE: Conhecimento; Vivência; Graduação.
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GINÁSTICAS COMPETITIVAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR DE ESTUDANTES INGRESSANTES NA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
PIOVANI VGS, SONTAG B, SILVA DO, TEIXEIRA RTS, BARBOSA-RINALDI IPB. veropiovani@hotmail.com Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE Universidade Estadual de Maringá-UEM Gímnica: formação, intervenção e escola
A ginástica na escola possui papel importante na formação dos alunos, haja vista que a presença e trabalho de seus conteúdos nas aulas de Educação física (EF) apresenta forte potencialidade no desenvolvimento de experiências e aprendizagens aos discentes. Ademais, a presença das ginásticas competitivas na EF escolar pode contribuir com a formação dos futuros alunos de cursos de licenciatura em EF, uma vez que ao contribuir com o acervo de movimentos ginásticos, pode permitir o enriquecimento de sua futura prática profissional, visto que a história da vida escolar dos professores tem influência em sua atuação profissional. No entanto, diversos estudos assinalam a ausência da prática da ginástica na escola e entre os motivos apontados para esta situação, destacam-se: a capacitação profissional insuficiente para este conteúdo, a falta de equipamentos e materiais adequados, a incoerência entre os conteúdos/formas aprendidos na formação inicial e a realidade escolar, a insegurança de trabalhar um conteúdo “perigoso” que pode comprometer a segurança dos alunos e a visão esportivizada da ginástica. Ao considerar que os alunos ingressantes nos cursos de Licenciatura em EF tiveram a disciplina EF no seu percurso no Ensino Fundamental e Médio, o objetivo deste estudo foi identificar quais as modalidades de ginásticas competitivas que os estudantes ingressantes num Curso de Licenciatura em EF aprenderam na EF escolar e como avaliaram seu desenvolvimento. A pesquisa caracterizou-se como descritiva com abordagem quantitativa. O instrumento para a coleta de dados foi um questionário que possuía informações sociodemográficas e questões fechadas sobre a experiência e conhecimento das ginásticas de competição adquiridas na EF escolar. O questionário foi aplicado com 77 estudantes (52 mulheres e 25 homens) ingressantes no primeiro ano de um curso de EF Licenciatura de uma universidade estadual do Paraná, no ano de 2017. Na análise dos dados foi aplicada a estatística descritiva e o teste qui-quadrado para verificar a relação existente entre a avaliação dada pelos estudantes a abordagem do conteúdo ginástica de competição e a presença do conteúdo nas aulas de EF escolar. Os resultados evidenciaram que somente 15 sujeitos tiveram aulas do conteúdo ginásticas de competição na EF escolar. A modalidade de ginástica de competição que predominou foi aeróbica, seguida pela ginástica artística e ginástica rítmica. Ao indicar a forma na qual eram realizadas as aulas deste conteúdo, prevaleceu a leitura textos, livros, pesquisa na internet; depois, a demonstração/execução dos movimentos, criação de coreografias, realização de trabalhos em pequenos grupos com ajudas e correções entre os próprios colegas, vídeos e progressões. A percepção que os estudantes tiveram do trabalho do conteúdo ginástica de competição na EF escolar foi péssimo (51%), ruim (34%) e no mínimo bom para 17% dos sujeitos. Ao associar a percepção dos alunos frente às abordagens do conteúdo ginástica e a presença do conteúdo nas aulas de EF observou-se associação significativa (p<0,001). A maioria dos discentes que teve ginástica de competição na EF escolar avaliou a abordagem como positiva. Dos que não tiveram o conteúdo, a maioria avaliou a abordagem como péssima ou ruim. Conclui-se que o conteúdo ginástica de competição foi pouco trabalhado nas aulas de EF escolar dos estudantes deste estudo, o que pode comprometer o conhecimento prévio destes estudantes com relação as modalidades gímnicas. PALAVRAS-CHAVE: Escola; Educação Física; Ginástica.
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MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DE GINÁSTICA EM UM PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
LUNARDI M, OLIVEIRA LM, HEINEN EH, FERRAZ LM, PIZANI J. morganalunardi.edf@gmail.com
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
Muitos são os fatores motivacionais que influenciam a iniciação e a permanência, por parte das crianças, na prática de ginástica. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi investigar quais fatores influenciam as crianças a participarem de um projeto de extensão de ginástica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Participaram do estudo 10 meninas, com idades entre 6 e 12 anos e que fazem parte do projeto de 3 a 15 meses (7 meninas – 3 meses; 2 meninas – 8 meses; 1 menina – 15 meses). Utilizou-se uma entrevista semiestruturada com 5 perguntas. Para o tratamento dos dados utilizou-se a técnica de análise de conteúdo, que envolve leitura, categorização e a codificação. As frequências das categorias são isoladas, uma vez que as respostas podem se alocar em diferentes categorias. Dentre as avaliadas, 4 responderam que escolheram praticar por influência da família, 3 para aprender movimentos específicos, 2 por influência da TV e apenas 1 por achar divertido. Quando questionado o que tem na ginástica que faz querer praticar, 4 responderam devido aos movimentos acrobáticos, 4 por terem movimentos diferentes do cotidiano, bonitos e divertidos, 3 pelos elementos de flexibilidade, 2 pelos aparelhos e 1 devido aos saltos. Com relação aos objetivos dentro da ginástica 5 responderam que querem aprender elementos específicos, 4 querem competir e 1 não sabe. Todas as meninas responderam que gostariam de participar de uma competição de ginástica e os principais motivos elencados foram: porque gostam de competir (4), para executar bem os exercícios específicos (3), porque é divertido (2) e para ganhar e ser famosa (1). Por fim, questionouse sobre o que elas mais gostam de fazer nas aulas, 4 responderam roda, 2 grand écart, 2 rolamentos, 1 brincadeiras, 1 saltos, 1 ponte, 1 exercícios na trave e 1 movimentos em geral. Com base nas entrevistas pode-se concluir que as crianças participantes desse projeto tiveram principalmente a influência de fatores extrínsecos (da família e da TV) para ingressar na modalidade, mas parecem permanecer devido a fatores intrínsecos (gostar dos movimentos da modalidade). Vale destacar que se trata de um projeto de extensão com características de escolinha de ginástica e que o ingresso de alunos é muito rotativo de um semestre para o outro. A permanência muitas vezes não acontece pela burocracia imposta para o funcionamento do projeto. Dessa forma, as respostas das crianças são carregadas de significados pessoais sobre o ginástica e sem influência do projeto em si, uma vez que, o tempo de prática pode ser compreendido como pouco significativo para mudança de comportamento e compreensão das mesmas. Sendo assim, indica-se a importância de haver um trabalho que motive não só a adesão, mas também a aderência das crianças em projetos de ginásticas no contexto universitário. PALAVRAS-CHAVE: Iniciação; Movimentos; Ginástica.
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UM DESEQUILÍBRIO ENTRE A PRESENÇA DA GINÁSTICA COMPETITIVA E NÃO COMPETITIVA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
HESS CM, PASQUA LM, TOLEDO E. cassiahess@gmail.com Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Laboratório de Pesquisas e Experências em Ginástica-LAPEGI
A versão final da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi oficializada na data de 06/04/17, pelo MEC (Ministério da Educação) com o objetivo de nortear a ação pedagógica dos professores, bem como os currículos das escolas de todo o país. A disciplina de Educação Física se encontra na área de Linguagens, sendo “o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social [...]” (BNCC, 2017, p. 171). Cada uma das práticas corporais tematizadas, segundo consta na organização da BNCC, compõe uma das 6 unidades temáticas, ao longo do Ensino Fundamental (EF), a saber: Brincadeiras e Jogos, Lutas, Esportes, Ginásticas, Danças, e Práticas Corporais de Aventura, porém conforme apontado, essa categorização não tem a pretensão da universalidade. Neste sentido, o objetivo deste estudo é identificar como a ginástica está presente no EF neste documento, destacando-se em quais anos e com quais nomenclaturas (áreas ou tipos da ginástica).Este estudo justifica-se, devido à importância da BNCC em âmbito nacional para a Educação, como também para a Educação Física na escola, que tem o papel importante na democratização de conhecimentos e experiências próprias desta disciplina, e para que o cidadão deles se aproprie também fora da escola . Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de cunho documental, tendo como fonte principal a própria BNCC (2017). Identificamos que a unidade temática Esporte foi organizada em 7 categorias, a saber: Marca; Precisão; Rede/ quadra; Campo e taco; Invasão ou territorial; Combate e Técnico-combinatório. Nesta última, constam as ginásticas competitivas por serem consideradas práticas esportivas. E na unidade temática Ginásticas, foram apresentadas as ginásticas consideradas, pelo documento, não competitivas, explicitadas pelas denominações/nomenclaturas: “ginástica geral” ou “ginástica para todos (ginástica básica, de demonstração, acrobacias, entre outras)”, “ginásticas de condicionamento físico” e “ginásticas de conscientização corporal” (2017, p. 175). A partir desta primeira constatação, identificamos a presença da ginástica competitiva e também da ginástica não competitiva, somente nos 6º e 7º anos, enquanto que para os demais anos do EF (1o ao 5o ano e 8o e 9o anos) estão presentes apenas as ginásticas não competitivas. Concluímos que apropriadamente na BNCC é citada a nomenclatura mais atualizada a saber: ginástica para todos, no entanto, segundo a FIG, ela não é mais somente de apresentação ou não competitiva. Embora o documento seja atual, com a participação e consulta dos docentes da área para sua elaboração, a ginástica competitiva somente está presente em dois anos do EF, com menção somente às ginásticas artística, rítmica, aeróbica esportiva, acrobática e de trampolim. Considerando-se o grande campo da ginástica (PAOLIELLO, 1997), sua abrangência e diversidade parece ter sido pouco explorada no documento, e constatamos ainda que há um notório desequilíbrio das ginásticas competitivas e não competitivas, pois a primeira é menos ocorrente do que a segunda, diminuindo consequentemente a possibilidade dos alunos vivenciarem, fazerem uma nova leitura e produção dessas práticas corporais na escola e fora dela. Inferimos a necessidade de novas reflexões pelos docentes da área neste desequilíbrio para efetivas mudanças. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; BNCC; Educação Física Escolar.
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GINÁSTICA RÍTMICA: ANÁLISE DOS FATORES MOTIVANTES, ESTRESSANTES E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMPETIÇÃO
PONTES RF, SANTIAGO LV. Universidade Federal do Alagoas-UFAL
Tendo em vista a expansão do esporte no contexto escolar, o corrente trabalho surge na área da Psicologia do Exercício e do Esporte. Uma vez que os alunos são submetidos a treinamentos especializados e pressionados para obter os melhores resultados nas competições – embora este fato vá de encontro aos princípios do esporte dentro da escola, que deveria evitar a hipercompetitividade e a seletividade – os alunos-atletas se deparam constantemente com situações motivantes ou estressantes que afetam diretamente no seu desempenho esportivo. Assim, o presente trabalho objetiva identificar e analisar fatores que fazem parte do universo competitivo, a fim de compreender se as situações de competição geram motivação e/ou estresse em atletas escolares de ginástica rítmica, bem como se existem diferenças significativas na percepção dessas situações, de acordo com os níveis técnicos das atletas. Também busca conhecer as representações acerca da competição, valendo-se da Teoria das Representações Sociais. O presente artigo justifica-se pela necessidade de os profissionais da área conhecerem o seu alunado, a fim de conseguirem intervir de forma mais eficaz no treinamento e na assistência aos seus alunos-atletas. Além disso, uma vez identificadas as situações de competição que provocam um retorno negativo para o indivíduo, pode-se buscar alternativas viáveis para eliminá-las ou reduzir os seus efeitos. O atual trabalho também pretende servir de auxílio para a família, os amigos e os demais envolvidos neste processo de interação com o aluno-atleta, uma vez que devem ter a consciência de que eles também são responsáveis pela formação e desempenho do atleta, através de suas relações sociais. Integram o grupo estudado 50 alunas de ginástica rítmica matriculadas em instituições escolares da cidade de Maceió/AL, que estão na faixa etária compreendida entre 8 e 16 anos. O Teste de Carga Psíquica de Frester (1972) - validado para a população brasileira por Samulski e Chagas (1992), e a entrevista semiestruturada, foram os instrumentos utilizados para a coleta de dados; a análise estatística e a análise de conteúdo foram as estratégias metodológicas, respectivamente. A entrevista semiestruturada teve como pergunta de partida: “O que representa a competição para você?”. As respostas semelhantes foram agrupadas em 5 categorias criadas a posteriori, definidas como: resposta da aprendizagem, nervosismo e erros, receio da arbitragem, a busca por medalhas e apoio familiar. Já o Teste de Carga Psíquica de Frester consiste em 21 itens com situações de competição que devem ser julgados como motivantes ou estressantes para os desempenhos das atletas. Analisando a média das 50 alunas, 7 situações foram consideradas motivantes e 14 desmotivantes. Avaliando as diferenças entre os níveis técnicos das alunas, percebeu-se que as atletas “iniciantes” identificaram apenas 4 situações motivantes; as atletas “intermediárias”, 7; e, as atletas “avançadas”, 12. Verificou-se, portanto, que os níveis técnicos mais elevados pressupõem que as atletas conseguem suportar e lidar melhor com as situações de competição, considerando-as motivantes e transferindo esses fatos para os seus desempenhos esportivos. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Rítmica; Competição Escolar; Psicologia do Esporte.
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VIVÊNCIAS EM GINÁSTICA ARTÍSTICA E RÍTMICA PARA UM GRUPO DE IDOSOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
CAVALHIERI ACM, CAMPOS ACML, PAIVA BP, MORENO NL, TSUKAMOTO MHC. ana.cavalhieri@usp.br Universidade de São Paulo-USP Grupo de Estudos e Pesquisa em Práticas Esportivas
A longevidade é uma realidade em nosso país.A cada ano podemos perceber que a população está envelhecendo e se torna inegável a importância do exercício para a saúde de indivíduos da terceira idade.A Ginástica Para Todos (GPT)surge como uma grande possibilidade de prática para essa faixa etária por se adequar às necessidades, possuir caráter inclusivo e por envolver diversas possibilidades de expressão corporal de forma livre e criativa em conjunto com as particularidades das culturas corporais dos indivíduos.Dentre as práticas possíveis no contexto da GPT estão a Ginástica Artística (GA) e Ginástica Rítmica(GR).Estratégias de Intervenção:A intervenção foi realizada com um grupo de GPT composto por praticantes idosos de ambos os sexos, acima de 60 anos, com uma média de 25 alunos que frequentam a aula e são matriculados na Universidade Aberta da Terceira Idade (UNATI)vinculada à Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH-USP).O objetivo foi apresentar conteúdos de GA e GR para idosos praticantes de um grupo de Ginástica Para Todos. O cronograma foi desenvolvido em cinco semanas, com sessões de uma hora de duração. Na primeira semana aconteceu uma introdução do tema GA e GR aos alunos através da apresentação de vídeos e da discussão sobre as duas modalidades, com perguntas referentes aos conhecimentos dos praticantes a respeito delas, falas sobre as diferenças, etc. Na segunda semana, a aula teve como tema central posições estáticas com diferentes tipos de apoio, aspectos posturais, característicos da GA.Na terceira semana o tema foi GR, na qual trabalhamos a manipulação da bola com lançamentos, balanços, rotações, passagem e equilíbrio pelo corpo. Na quarta semana o tema foi GR com a manipulação do Arco, nesta aula foram realizados balanços, lançamentos, prensa, entrada e saída de dentro do arco e movimentação em deslocamento. Na quinta semana o tema foi trabalhar posições de equilíbrio em diversas bases, diferentes tipos e eixos de rotações e diferentes tipos de saltos comuns da GA. Reflexões e experiências: Durante as atividades, foi observado que cada aluno realizava os exercícios propostos, os quais foram adaptados quando necessário.Isso fazia com que todos parecessem incluídos nas atividades. Em alguns momentos houve hesitação dos participantes, porém todos seguiram e conseguiram completar e superar essa sensação inicial. Foi perceptível também uma dificuldade em atividades coordenativas e de equilíbrio realizadas com os aparelhos. No entanto, durante as atividades, os alunos conversavam e aparentavam estar se divertindo no processo, demonstravam realizar as atividades com prazer, descontração, principalmente com a utilização da música como recurso paralelo aos exercícios. Outro ponto observado durante as aulas foi que muitas vezes os alunos associavam os movimentos propostos a situações do cotidiano e a lembranças de suas vidas, como o tempo em que eram crianças, lembraram dos filhos, entre outras coisas.Considerações finais:Podemos perceber que apesar das limitações de cada um, todos participaram e vivenciaram a proposta. A partir das observações feitas em aula, foi possível observar que os alunos encontravam utilidade dos aspectos aprendidos para cotidiano deles, o que faz parecer que a intervenção possa ter uma influência na funcionalidade e na qualidade de vida dessas pessoas. Assim, consideramos que a prática da GA e da GR quando aplicadas a esse grupo, trazem resultados que podem influenciar positivamente nas suas vidas. PALAVRAS-CHAVE: Idosos; Ginástica Artística; Ginástica Rítmica.
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AS RELAÇÕES ENTRE AS GINÁSTICAS DE COMPETIÇÃO E A GINÁSTICA PARA TODOS: O ESTADO DA ARTE NAS PRODUÇÕES DO SIGARC
SCARABELIM MLA, ASSUMPÇÃO B, SOUSA FS, TOLEDO E. marialeticiascarabelim@gmail.com Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica-LAPEGI
Embora a Ginástica para Todos (GPT) seja uma prática essencialmente não competitiva, ela apresenta muitas aproximações com as ginásticas de competição (PAOLIELLO, 1997; TOLEDO, 2016; NUNOMURA e TSUKAMOTO, 2016). Lima et al (2015) apontam alto índice de estudos em nível de pós graduação acerca da Ginástica nas universidades estaduais paulistas (com destaque para Unicamp), assim como, das ginásticas competitivas nos temas destas produções. Essas três universidades (USP, UNICAMP e UNESP) têm realizado diversas iniciativas para ampliar a promoção da ginástica em nível nacional e internacional, como a organização do Fórum Internacional de Ginástica para Todos (FIGPT) e Simpósio Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC). Numa primeira análise empírica, identificamos que tantos os eventos, como as produções, pouco têm apontado as relações entre essas duas áreas de manifestações da ginástica. Delineado como estado da arte (MALDONADO et.al., 2014), este estudo de caráter bibliográfico, busca identificar se as produções acadêmicas dos anais do SIGARC, trazem a temática da GG/GPT e como ela se manifesta nessas produções em relação às ginásticas competitivas. A amostra foi constituída de todos Anais produzidos em todas as edições do referido evento (2007, 2010, 2012 e 2015), disponíveis em seu site. A busca se deu pelas palavras “Ginástica Geral (GG)” e “Ginástica Para Todos (GPT)”, considerando-se como critério de inclusão, todos as produções que continham essas palavras em seus títulos, palavras-chave, resumos e corpo do texto, e desconsiderando-se as Referências. Foram estabelecidas duas categorias de análise: a primeira, quantitativa, buscando-se a incidência de trabalhos por ano/ edição; e a segunda, qualitativa, buscando analisar de que forma e com qual propósito a GPT era mencionada nesses trabalhos (de forma específica, uma simples menção ou relacionada às ginásticas de competição). Como resultado, na primeira categoria, encontraram-se menções à GG/GPT em 14 trabalhos das 4 edições do evento, porém apenas 6 deles possuem seu título especificamente relacionado com a GPT, respectivamente com a seguinte incidência por ano: 20070; 2010-1, 2012-1 e 2015-4. Observou-se um número crescente de trabalhos que relacionam a GPT com as ginásticas de competição, presentes principalmente em 2015, ano no qual a comissão científica do evento passou não mais aceitar trabalhos específicos somente de GG/GPT. Na segunda categoria, seguindo os critérios metodológicos das subcategorias, identificou-se que destes 14 trabalhos, apenas 2 relacionavam a GG/GPT com as ginásticas competitivas; 4 abordavam especificamente a GG/GPT, sem nenhuma relação com outras ginásticas; e 8 simplesmente citavam a GG/GPT como uma prática não competitiva do campo da Ginástica. De maneira geral, concluímos que há pouquíssimos trabalhos específicos de GG/GPT nos Anais do SIGARC (no período que isso era permitido – 2007 a 2012), e embora com tímido aumento, ainda há poucos trabalhos que relacionam estas áreas da Ginástica, mesmo depois do impedimento das normas de trabalhos exclusivamente de GG/GPT. Conclui-se ainda que parece haver poucos diálogos, tanto no campo prático como acadêmico, entre a GPT e as ginásticas de competição, mesmo que alguns estudos apontem para uma relação dialógica entre elas. Sugere-se ainda uma reflexão para que tanto o SIGARC, como o FIGPT, possam potencializar de algum modo estes tipos de produções. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica de Competição; SIGARC; Ginástica Para Todos.
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O TEMA GINÁSTICA NAS MATRIZES CURRICULARES E EMENTAS DOS CURSOS DE FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA DO VALE DO ITAJAÍ
DALCIN TB, BUNESE RF. taliedfisica@yahoo.com.br
Universidade do Vale do Itajaí-UNIJUI
DESCRIÇÃO DO PROBLEMA INVESTIGADO: a ginástica para se constituir em conteúdo de ensino nas escolas e ginásios deve ser pensada e discutida como objeto acadêmico nos cursos de formação em Educação Física, Licenciatura e Bacharelado. Para tanto, é necessário que as grades curriculares destes cursos otimizem e valorizem o ensino das disciplinas e conteúdos relativos à ginástica. Mediante este problema, tivemos como objetivo geral comparar a incidência do tema ginástica (como disciplina ou conteúdo) nas Matrizes Curriculares e Ementas das disciplinas dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física das Instituições de Ensino Superior do Vale do Itajaí/SC. METODOLOGIA E AMOSTRA: abordagem mista; quantitativa e qualitativa; método comparativo; descritiva; documental. A amostra se constituiu por 7 Instituições de Ensino Superior (IES) situadas nas cidades do Vale do Itajaí e que possuem cursos de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física. Foram analisadas as Matrizes Curriculares e Ementas de cada curso. A coleta de dados foi feita no Site das IES ou solicitada por e-mail aos coordenadores de curso. Estabelecemos 2 tabelas e 2 quadros para tabulação dos resultados e só foram consideradas àquelas disciplinas e/ou ementas que faziam menção ao termo ginástica. O procedimento analítico foi a Análise de Conteúdo. RESULTADOS: Há uma variabilidade de 1 a 3 disciplinas sobre ginástica na Licenciatura e de 1 a 5 no Bacharelado. A média da carga horária total na Licenciatura é de 2.993 horas, sendo 105 destinadas à ginástica, contra 3.280 horas do Bacharelado, que destina 167 horas à ginástica. Esse resultado a maior se deve, principalmente, pelo fato de o Bacharel possuir carga horária total maior que a Licenciatura e incluir às disciplinas de Ginástica Laboral, Ginásticas de Academia e Hidroginástica. Localizamos também a temática circo referida em 1 disciplina na Licenciatura e no Bacharelado como um tipo de ginástica. As tendências de ginástica formativas, esportivas e médicas estão mais presentes nos cursos de Licenciatura, enquanto as tendências médicas, esportivas e atuais no Bacharelado. Comparando as matrizes, percebemos que há várias disciplinas que possuem nomes diferentes, porém com ementas iguais ou muito similares, assim como cargas-horárias iguais, o que indica que devem ser equivalentes. CONCLUSÕES: Os cursos de Bacharelado tem em média o dobro de disciplinas dedicadas ao estudo da ginástica, assim como uma carga horária bem mais elevada, tanto do ponto de vista absoluto como relativo, comparadas à Licenciatura. Mas a temática da ginástica foi evidente em ambas as matrizes, inclusive incluindo o tema circo como um tipo de ginástica (ginástica circense) em uma das IES. Enfatizamos a necessidade de outros estudos ampliando o universo documental analisado e incluindo planos de ensino e referencial como fontes. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física; Ginástica; Matriz Curricular.
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A IMPORTÂNCIA DOS PADRÕES BÁSICOS DE MOVIMENTO PARA O ENSINO DAS GINÁSTICAS
PEDRO LA, DALCIN TB. lucasginasta97@hotmail.com
Universidade do Vale do Itajaí-UNIJUÍ
Esse trabalho objetiva relatar as experiências obtidas na docência por meio da extensão Universitária, destacando a importância dos Padrões Básicos de Movimentos (PBM’s) (RUSSEL & KINSMAN, 1986) para o ensino das ginásticas. Esse projeto de extensão é extremamente relevante por proporcionar a práxis pedagógica, fundamental para estudantes do curso de Educação Física permitindo adquirir muita experiência na docência. O projeto é direcionado a crianças com idades entre 6 e 13 anos, estudantes de escolas públicas de Itajaí/SC, porém a maior parte dos alunos são moradores do Nossa Senhora das Graças, bairro carente, situado ao lado da Universidade. É importante destacar, que quando os alunos iniciaram no projeto de ginástica não se percebia noções básicas dos PBM’s, assim como, foi perceptível baixa noção corporal e espacial, dificultando qualquer processo específico de ensino/aprendizagem de qualquer ginástica. Portanto, a partir das leituras efetuadas no projeto somadas às experiências vivenciadas nas ginásticas, sentiu-se a necessidade em elaborar um planejamento que desse ênfase aos PBM’s, visto que o aprendizado desses padrões é fundamental para o ensino das ginásticas. O intuito deste planejamento foi proporcionar ao aluno o conhecimento, vivência e aprendizagem dos movimentos básicos para que pudessem entender como estes se desdobrariam em movimentos combinados ou complexos das diferentes ginásticas. O ensino partiu de uma sequencia pedagógica, abordando dos elementos simples aos mais complexos, respeitando o processo de desenvolvimento motor e cognitivo e experiências prévias de cada criança, respeitando-as física e psicologicamente, facilitando sua aprendizagem e garantindo segurança. O desenvolvimento das aulas, incluiu o ensino/aprendizagem dos 6 Padrões Básicos de Movimentos: Aterrissagem, Deslocamentos, Posições Estáticas, Rotações, Saltos e Balanços, como também mostrou-se vídeos e discutiu-se com os alunos a importância de aprender os fundamentos e para que servia cada um deles. Esta discussão, em rodas de conversa, foram fundamentais para que os alunos se sentissem coparticipes da aula e valorizassem o ensino dos fundamentos. Entre os PBM’s, a aterrissagem foi o padrão mais trabalhado, visto que o ginasta executa movimentos em diferentes eixos, posições e alturas, sendo fundamental saber cair de diferentes formas caso ocorra algum imprevisto no momento de aterrissar (NUNOMURA, 2009). Além disso, abriu-se espaço aos alunos para expressarem suas opiniões sobre as aulas de aterrissagem, por meio de desenhos e pinturas, além das constantes rodas de conversas, estimulando o lado artístico, que também faz parte da ginástica, embora nesta seja expresso corporalmente. Com isto ficou evidente que o ensino dos Padrões Básicos de Movimentos permitiu desafiar o corpo a explorar diferentes formas de movimentos, que exigiram força, equilíbrio, flexibilidade, noção corporal e espacial, agilidade, resistência, como também coragem, superação, autoconfiança e entendimento. Foi perceptível a evolução dos alunos após a aprendizagem dos PBM’s e o seu uso e percepção nos movimentos específicos de ginástica que se adicionavam. Também ficou claro o entendimento da importância dos padrões em geral e da aterrissagem em específico representada pelos desenhos, o que evidenciou que o ensino dos PBM’s ampliou o repertório de movimento, favorecendo o processo ensino/aprendizagem de novos movimentos gímnicos. PALAVRAS-CHAVE: Extensão; Ginástica; Padrões Básicos de Movimentos.
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O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA GINÁSTICA: UM OLHAR A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DA EXTENSÃO
DALCIN TB, PEDRO LA. taliedfisica@yahoo.com.br
Universidade do Vale do Itajaí-UNIJUÍ
Este estudo aborda o processo de ensino aprendizagem da ginástica em um projeto de extensão realizado junto a uma comunidade carente localizada nas encostas da Universidade. Foi realizado a partir da análise de conteúdo do relatório final do bolsista com enfoque nas experiências que já tinha com esta prática corporal; a experiência na extensão e como isto influencia sua formação docente. O bolsista foi atleta de Ginástica Artística por 9 anos e esta experiência facilitou o entendimento do que ele tinha que ensinar. Porém, destacou a visível diferença entre treinar e ajudar colegas de treinamento e ensinar/auxiliar as crianças, que estavam aprendendo os movimentos e ficavam ansiosas para executar exercícios mais avançados para os quais não estavam preparadas. O acadêmico precisou de apoio a partir da orientação e do estudo dos textos discutidos no projeto, voltados para os procedimentos de segurança no ensino da ginástica. Segundo Nunomura et al (2009) a segurança é uma questão fundamental no processo de ensino-aprendizagem da ginástica e precisa ser analisada com atenção, para minimizar acidentes e evitar fatalidades e são muitos os fatores que interferem neste aspecto, tanto estruturais, quanto comportamentais. Destaca-se que devido à ausência e precariedade de alguns materiais somada à carência dos alunos atendidos e a falta de noção de perigo destas crianças, os cuidados para manutenção de segurança também se elevaram. A indisciplina de alguns alunos foi outro fator destacado pelo acadêmico, que influenciou nos procedimentos de segurança e processos de aprendizagem e se caracterizou por: vocabulários inadequados, agressividade e desobediência. Com o desenrolar das aulas estes comportamentos foram minimizados, o que refletiu em mudanças de atitude e aprendizado. Mas foi fundamental os alunos entenderem isso e trabalharem em parceria com o bolsista. Este comprometimento e vínculo possibilitaram a aprendizagem dos alunos e execução de muitos movimentos gímnicos e ao acadêmico perceber a necessidade de individualização do ensino, entendendo que cada um tem um tempo e um modo de aprender. Para isso, adaptou as aulas de acordo com as possibilidades de cada aluno e entendeu a importância que o planejamento tem no processo pedagógico, de organizar e ter uma sequencia pedagógica obtendo uma experiência importante e diferenciada pela extensão universitária. O fato de estar trabalhando como professor de ginástica no projeto e desta modalidade ter sido tão importante na sua trajetória de vida, tornou a experiência ainda mais rica, pois agora não atua mais como atleta, mas sim como professor. Questões como segurança, organização, planejamento, comportamento e processo pedagógico deveriam ser pensadas e mediadas por ele, com auxílio da professora orientadora e isso exigiu leitura, estudo e determinação, além do conhecimento específico da modalidade. Sendo assim, o próprio significado da ginástica mudou e isso contribui substancialmente para a sua formação de professor. PALAVRAS-CHAVE: Extensão; Ensino-Aprendizagem; Ginástica.
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A GINÁSTICA ARTÍSTICA E A GINÁSTICA RÍTMICA A PARTIR DO OLHAR DE PÓS GRADUANDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
OLIVEIRA MF, SOUSA JAS, MAIA JCA, GOMES LCN. michelle.oliveira@ueg.br
Universidade Estadual de Goiás-UEG
Introdução: O presente trabalho tem como objetivo apresentar a Ginástica Artística (GA) e a Ginástica Rítmica (GR), na perspectiva competitiva, no Estado de Goiás, a partir da percepção de professores de Educação Física (EF) que se encontram cursando pós graduação na área, ofertada por uma universidade pública. Essa pesquisa caracteriza-se pela ramificação de um projeto de maior amplitude que busca cartografar todas as modalidades de ginástica, competitivas ou não, no Estado de Goiás, denominada “Pesquisa em movimento: cartografia da ginástica em Goiás”. Almeja-se, a partir desse estudo, apresentar a percepção sobre tais modalidades entre indivíduos que estão vinculados ao campo da EF, tendo em vista que os profissionais dessa área obtiveram suporte em sua formação inicial à respeito dessas modalidades bem como estão cursando uma disciplina específica que dialoga com a ginástica na referida pós graduação. A compreensão aqui considerada acerca das modalidades gímnicas apontadas, pressupõem um aporte teórico embasado nos estudos de Nunomura (2012), Nista-piccolo (2003), Paoliello e Toledo (2010), Carbinatto (2012), entre outros. Metodologia: Foram aplicados questionários para reflexão e averiguação do problema que, mostraram-se viáveis no sentido de compreender aspectos objetivos e subjetivos dos entrevistados. Foram elaboradas 15 questões (9 dissertativas e 6 objetivas) que, aplicadas à 29 indivíduos graduados em EF, possibilitaram a estruturação de um tratamento, análise e interpretação de dados. Utilizamos a análise de enunciação (BARDIN, 1977), técnica que recorta as entrevistas por meio de categorias de análise. Resultados e conclusões: A partir das questões apresentadas, ponderamos três categorias principais para esse estudo, a saber: a compreensão a respeito das duas modalidades (GA e GR); afinidade e/ou vivência com os aparelhos; compreensão/conhecimento sobre os centros de treinamento/equipes existentes em Goiás. Quanto a compreensão das modalidades concluímos que, em geral, os entrevistados percebem o que sejam as modalidades, entretanto, contradizemse quando questionados sobre a caracterização das mesmas. A respeito da vivência com aparelhos, tanto da GR quanto da GA, coincidentemente 37,9% da amostragem respondeu negativamente, ou seja, nunca experienciaram os aparelhos destas modalidades. A respeito da afinidade observa-se que 41,4% da amostragem responderam negativamente à GR, ou seja, não possuem afinidade com nenhum dos aparelhos. Em contrapartida a vivência com os aparelhos da GA torna-se superior, apesar da não assimilação destes na categoria de análise anterior. Quanto ao conhecimento acerca das equipes ou centros de treinamento de GR e GA no Estado de Goiás, identificamos que apenas 3,4% da amostra apresentou conhecimento sobre um espaço de treinamento competitivo de GA em Goiás. A partir dos dados obtidos, considerando que a entrevista foi realizada apenas com professores de EF, retomamos o objetivo da pesquisa macro: em qual situação encontram-se as ginásticas competitivas no Estado. A falta de conhecimento sobre centros de treinamentos e equipes, nos permitem retomar: quais são os espaços de competição em Goiás? Como tais modalidades estão sendo divulgadas? PALAVRAS-CHAVE: Cartografia; Pós-Graduação; Ginástica Goiana.
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PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE GINÁSTICAS COMPETITIVAS: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA
OLIVEIRA LM, BARBOSA-RINALDI IP, FREITAS CR, PIZANI J. lucasmdo@outlook.com Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC Gímnica: formação, intervenção e escola
A presente pesquisa caracteriza-se como uma revisão integrativa, tendo como objetivo quantificar a produção científica sobre ginásticas competitivas. Para isto, foi realizada uma busca por artigos em periódicos, dissertações e teses em programas de pós-graduação. A amostra de artigos foi definida por meio de busca pelas palavras-chave ginástica, ginásticas, gímnica, gímnicas, gímnico, gímnicos, ginasta, ginastas, ginástico e ginásticos em doze periódicos nacionais da educação física mais tradicionais no país, entre os anos de 1980 e 2016. As palavras-chave foram pesquisadas utilizando o marcador “todos os campos”. Dessa forma, o banco de dados inicial foi constituído por 900 artigos. A partir disso, optamos pela leitura dos títulos e resumos, pois acreditamos ser este um processo mais fidedigno para a seleção da amostra. Após essa triagem, a amostra reduziu para 311 artigos, dos quais 97 tratam das ginásticas competitivas. A amostra de teses e dissertações foi definida a partir da realização da coleta diretamente nos sites dos programas e complementamos com a busca no Portal Domínio Público e nas Bibliotecas Digitais das instituições de ensino superior responsáveis pela oferta dos programas de pós-graduação pesquisados. Para a busca das teses e dissertações, pelo fato de nem todos os programas disponibilizarem a ferramenta de busca, foi necessária a elaboração de um banco de dados com todas as pesquisas encontradas, de todas as áreas, contendo informações como autor, ano, título e instituição, para somente depois identificarmos as pesquisas que tratam das ginásticas competitivas. Sendo assim, a amostra inicial foi composta por 2540 dissertações e 510 teses. Destas 3050 pesquisas, 26 abordam temáticas relacionadas às ginásticas competitivas. Os dados foram tratados por meio de análise de conteúdo. Do total de artigos, encontramos 65 tratando de ginástica artística, 28 de ginástica rítmica, 2 de ginástica acrobática e 2 de ginástica aeróbica. Não foram encontrados artigos que investigassem a ginástica de trampolim. Referente ao total de dissertações, 11 delas tratam da ginástica artística, 9 da ginástica rítmica, 1 de ginástica acrobática, 1 de ginástica aeróbica e nenhuma de ginástica de trampolim. No campo das teses, apenas 4 delas tratam da ginástica artística. Não foram encontradas teses com temática central nas outras modalidades ginásticas. Considerando os achados, observa-se uma carência em produções sobre ginásticas competitivas. Nota-se que a ginástica artística e a ginástica rítmica possuem maior produção científica quando comparadas as demais. Um pressuposto para isto é que as ginásticas de trampolim, acrobática e aeróbica tenham menor tradição no país. Além disso, pressupõe-se que a falta de produção na temática é reflexo da disseminação insuficiente das modalidades ginásticas no processo de formação profissional em educação física e que, por conseguinte, isso resulte em uma menor abordagem sobre ginástica na educação física escolar, bem como em outros campos de atuação. Ressalta-se a importância de ampliação amostral em estudos futuros. Dessa forma, sugere-se para novos estudos uma análise qualitativa dessas produções, a fim de compreender sob quais perspectivas se dá a formação de conhecimento em ginásticas competitivas. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Competição; Produção Científica.
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A PARTICIPAÇÃO DE TREINADORES BRASILEIROS NO PROGRAMA FIG ACADEMY
CARVALHO KMC, SOARES DB, LIMA LBQ, LOCCI B, SCHIAVON LM. kassiamitalli@gmail.com Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-Unicamp Grupo de Pesquisa em Ginástica-GPG
Entre as oportunidades formativas para os treinadores esportivos estão os programas oferecidos pelas federações esportivas internacionais. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) desenvolve o programa educativo “FIG Academy”, que visa ensinar conhecimento comum para a base do desenvolvimento da Ginástica de alto rendimento esportivo. O programa é oferecido para todas as disciplinas da FIG, sendo três níveis (L1, L2 e L3) para as modalidades competitivas: Ginástica Artística Masculina (GAM), Ginástica Artística Feminina (GAF), Ginástica Rítmica (GR), Ginástica Aeróbica Esportiva, Ginástica de Trampolim e Ginástica Acrobática. Os treinadores que finalizarem os três níveis podem submeter-se a um exame para obtenção do brevet, título que demonstra maior competência na modalidade e tem relevância administrativa, pois é uma condição para a indicação de membros para os comitês técnicos da FIG (FIG, 2008). Sendo o Brasil um país emergente nas modalidades GAF, GAM e GR, o objetivo deste trabalho foi analisar a participação de treinadores brasileiros destas três práticas em tal programa. Realizou-se uma pesquisa documental nos arquivos oficiais disponibilizados no site oficial da FIG, desde a primeira edição dos cursos (2002 - GAM e GAF e 2008 - GR), até outubro de 2016. Foram observados 51 treinadores, sendo quatro participantes em mais de uma modalidade. Pelo fato de o site oficial não especificar os níveis de participação por modalidade, estes foram excluídos da pesquisa. Assim, considerou-se 13 participações na GAM, 18 na GAF e 16 na GR. Com relação aos treinadores de GAM, 69,23% (9) realizaram os três níveis do curso e, destes, dois adquiriram o brevet. Ao mesmo tempo, dois treinadores realizaram apenas o L1, outros dois o L2 e dois apenas o L3. Já na GAF, 38,88% (7) cursaram os três níveis e apenas um obteve o brevet. Ademais, quatro treinadores realizaram o L1, três o L2, três o L3 e dois o L1 e L2. Por fim, para a GR, 50% (8) dos treinadores cursaram os três níveis, tendo apenas um deles adquirido o brevet. Além desses, seis cursaram o L1 e três o L1 e L2. Com base nos dados obtidos, é possível perceber um número pequeno de treinadores brasileiros participantes neste programa que, a nível federativo, é a única oportunidade de formação mediada e continuada, uma vez que a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) não oferece ações formativas. A distribuição dos treinadores brasileiros entre os diferentes níveis do programa revela que essa participação não é planejada por uma instituição, ou seja, não é recomendada pela CBG, mas ocorre de acordo com a disponibilidade e vontade de cada profissional, de forma esporádica. Assim, o fato do maior número de treinadores que obtiveram o L3 e o brevet serem da GAM pode ser uma indicação da organização dessa modalidade, que incentivou de forma mais incisiva a formação de treinadores. A realização de edições do FIG Academy para as modalidades estudadas no Brasil [GA nos anos 2004 (L1), 2005 (L2) e 2008 (L3) e GR em 2010 (L1), 2011 (L2) e 2012 (L3)] (SOARES, 2016) pode ter influenciado a participação de treinadores brasileiros no programa. Ressalta-se que a importância do FIG Academy, bem como de qualquer estratégia de aprendizagem de treinadores, é relativa e depende da formação universitária e das experiências vividas por cada treinador. Assim, este resumo indica um ponto inicial de investigação sobre a formação de treinadores brasileiros de Ginástica que ainda necessitam de esclarecimentos. PALAVRAS-CHAVE: Treinadores; Formação; Ginástica.
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ELEMENTOS ACROBÁTICOS COMUNS À GINÁSTICA E À CAPOEIRA: ANÁLISE VIDEOGRÁFICA DO IV JOGOS DO INTERIOR ABADÁ-CAPOEIRA
2017
PASQUA LPM, VENTURA GM, OLIVEIRA MH, TOLEDO, E. liviapasqua@yahoo.com.br Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Grupo de Pesquisa em Ginástica-GPG
A capoeira percorreu uma trajetória de grandes transformações desde o seu surgimento, com objetivo de proteção, luta e resistência, até a atualidade, com o seu reconhecimento de patrimônio imaterial mundial em 2014. É uma manifestação cultural polissêmica, com facetas artísticas, sociais, esportivas e até mesmo competitiva (SILVA, 2009; PASQUA, 2011). Segundo Rego (1968), Mestre Bimba, criador da Luta Regional Baiana, conhecida hoje como Capoeira Regional, assimilou golpes e movimentações de outras práticas corporais, como golpes de batuque, detalhes das coreografias de maculelê, folguedos, luta greco-romana, jiu-jitsu, judô e savata, não havendo menção à ginástica. No entanto, atualmente podemos perceber a forte presença das acrobacias na prática da capoeira, em suas diferentes formas de manifestação. Assim, esta pesquisa tem por objetivo identificar a presença e tipologia dos elementos acrobáticos, presentes nos Códigos de Pontuação das Ginásticas Artística masculina e feminina (GAM e GAF) nas competições de capoeira. Trata-se de uma pesquisa documental, tendo como fonte os vídeos dos “IV Jogos do Interior Abadá - Capoeira 2017”, realizado em Itapetininga-SP, em maio de 2017 e os Códigos de Pontuação de GAM e GAF (FIG, 2017). A amostra videográfica refere-se aos jogos do ritmo “iúna”, denominado pelo mestre criador (Mestre Camisa), como “um jogo acrobático, de domínio do corpo, técnica dos movimentos, a beleza, os saltos e a leveza”, em que mais aparecem os chamados floreios na capoeira, que se assemelham aos elementos acrobáticos da ginástica (PASQUA, 2011). Foram analisados 41 jogos, de aproximadamente 60 segundos cada um (Regulamento dos jogos Abadá-Capoeira 2013). Foram identificadas, em média, 13 acrobacias por jogo. Com relação à tipologia das acrobacias, algumas foram criadas pelos capoeiristas, caracterizando a maioria da amostra e outras se assemelhavam às encontradas nos códigos da GAF e GAM, caracterizando a minoria da amostra, como os diferentes tipos de mortais, estrela, parada de mãos, flic-flack e reversões (para frente e para trás). Embora encontremos muitas acrobacias comuns às duas práticas, nota-se que os Códigos de pontuação da GAM e GAF exigem um nível de execução técnico mais detalhado e preciso (incluindo-se variação de valores para diferentes níveis de dificuldade), visando uma plasticidade específica da modalidade, que possui como finalidade a execução mais correta possível dos elementos (determinada pelo Código). Na capoeira, não são exigidos tantos detalhes e precisão técnica na realização das acrobacias, mas sim, são analisados o início da execução, a criatividade, a variação e o chamado “bom término” (para voltar de frente para o seu oponente, sem cair ou desequilibrar). Sendo assim, a forma de avaliar as acrobacias nestas práticas competitivas é diferente, embora haja semelhança entre seus elementos acrobáticos. As diferenças de execução das acrobacias caracterizam as identidades das práticas analisadas, visto que, enquanto os árbitros da ginástica analisam detalhes na execução das acrobacias de um ginasta, que combinam risco, precisão e arte (FIG, 2017); os juízes da capoeira analisam o jogo em si, o diálogo travado entre dois capoeiristas, sem apego a modelos de execução dos movimentos, visto que prezam pela liberdade de criação na acrobacia, os conhecidos floreios (PASQUA, 2011). PALAVRAS-CHAVE: Capoeira; Ginástica Artística; Floreio.
R.146 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 75
ANÁLISE DOS CALENDÁRIOS DE EVENTOS DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA DE
2011 A 2017
ASSUMPÇÃO B, TOLEDO E. assumpcao.bianca@hotmail.com Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Grupo de Pesquisa em Ginástica-GPG
A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), em seu estatuto, possui objetivos voltados para a promoção e desenvolvimento da Ginástica no país, especialmente em relação às modalidades que estão sob a égide da Federação Internacional de Ginástica (FIG): Ginástica Acrobática (GAC), Ginástica Aeróbica (GAE), Ginástica Artística (GA – GAM e GAF), Ginástica Rítmica (GR), Ginástica de Trampolim (TRA) e Ginástica para Todos (GPT). Uma das formas de atingir esses objetivos é a organização de eventos, foco da nossa pesquisa, que objetiva identificar a quantidade de eventos que são promovidos pela CBG, por modalidade ginástica, e analisar a incidência dessa oferta em cada modalidade, assim como, a proporção de oferta de eventos entre elas. A pesquisa, de caráter documental, utilizou como fonte os calendários de eventos disponíveis no site da CBG, consultados em maio de 2017. Estes documentos contemplam todos os eventos (internacionais e nacionais) que ocorrem anualmente nas sete modalidades abarcadas pela CBG. A amostra da pesquisa foi composta por 7 calendários anuais, no período de 2011 à 2017 (todos os que estavam disponíveis no site da CBG). Os dados revelam que somando-se os eventos de todas as categorias (faixas etárias), de 2011 a 2017, foram realizados 158 eventos nacionais de ginástica num período de 7 anos. Desse total, 63 correspondem a eventos de GR, e 44 correspondem a eventos de GA. Nota-se uma predominância de eventos da GR e GA em relação às demais, representando (juntas) quase 70% dos eventos realizados pela CBG neste recorte histórico. Por conseguinte, as outras 4 modalidades apresentaram uma oferta reduzida de eventos: a TRA (20), a GAE (13), a GAC (12) e a GPT (6). Estes números demonstram a falta de representatividade dessas modalidades no cenário brasileiro, e isso se dá por diferentes motivos (MERIDA e TOLEDO, 2014). A GAC, assim como a GAE, apresenta-se como “modalidade recém-chegada no mundo da competição”, segundo Merida, Nista-Piccollo e Merida (2008), o que pode ter relação direta com a baixa quantidade de competições realizadas. A GPT continha apenas 6 eventos no calendário dentro de 7 anos, tendo-se somente um evento de caráter nacional por ano. Embora tenha se difundido mais no país nas últimas décadas (FIGPT, 2016), e tenha tido maior atenção das universidades (eventos, publicações etc), sua valorização pela CBG parece ainda incipiente. Ainda vale ressaltar, que nem todos os eventos presentes nos calendários, foram de fato, realizados, como ocorrido com algumas categorias de modalidades competitivas ou com o GymBrasil (evento nacional de GPT). Por meio da análise dos calendários, é possível concluir que a maioria dos eventos realizados abrigam duas principais modalidades: GR (40%) e GA (28%). A TRA, a GAE e a GAC somam 28,5% dos eventos realizados, revelando-se um pouco ausentes, principalmente se comparadas à GR e GA. A GPT, que é exceção por não apresentar caráter competitivo e sim voltado ao lazer, representa 6% dos eventos de ginástica – sem levar em consideração aqueles que não aconteceram de fato. Em suma, essa pesquisa intensifica um debate que já vem sendo feito, por estudiosos na área da Ginástica, em relação à desproporção na promoção, desenvolvimento e/ ou organização das modalidades ginásticas no país, algo que precisa ser revertido, inclusive com parcerias institucionais. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; CBG; Calendário.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152 • R.147
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A IMPORTÂNCIA DA OFERTA DE INFORMAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESPORTE: UM ESTUDO DE CASO DA GINÁSTICA ACROBÁTICA
SOUSA GV, TOLEDO E. giovana.sousavs98@gmail.com Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Laboratório de Estudo e Experiências em Ginástica-LAPEGI
Embora a Ginástica Acrobática (GACRO) seja uma modalidade ginástica competitiva considerada nova, dado que surgiu nos últimos 44 anos neste formato esportivizado, regida pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), parece que ainda precisa de maior investimento tanto das organizações que fomentam o esporte, como do poder público, para seu maior desenvolvimento. Alguns autores da área argumentam que, por ser recém-chegada ao mundo da competição, ainda não recebeu, inclusive, maior atenção acadêmica. (MERIDA; PICCOLO, 2008; MERIDA, 2009). Em nível nacional, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), a Liga Nacional de Desportos Acrobáticos e Ginástica Geral (LINDAGG) e as federações e associações estaduais ou regionais, são as entidades que possuem em seus respectivos estatutos, a responsabilidade para difusão e promoção dos esportes ginásticos, dentre eles, a GACRO. Destaca-se ainda que até o ano corrente (2017), não há uma seleção brasileira da modalidade (CBG, 2017), um dos indicativos de que a modalidade ainda é pouco desenvolvida no país, dependente de iniciativas individuais, que apesar de bem intencionadas, não têm gerado aumento significativo no número de praticantes, e nem mesmo no que se refere ao público atingido (MERIDA, 2008; GALLARDO e AZEVEDO, 2007). Diante deste cenário, esta pesquisa objetivou fazer um levantamento acerca das informações sobre a GACRO disponibilizadas pela maior e mais legítima organização que a fomenta em nível nacional, a CBG, caracterizando-se como documental e tendo como fonte primária o site da CBG. Como resultados, na aba Modalidades, em Ginástica Acrobática, não há dados sobre sua história e características. Em princípio, há algumas informações desde 2012 (um recorte histórico que parece comum às outras modalidades ginásticas), porém, nos arquivos de 2012, 2013 e 2014, os informes contidos sobre os resultados infelizmente referem-se à Ginástica Aeróbica. A partir de 2014, dados como: regulamento, programação, lista de participantes e tabela de elementos compulsórios, são adicionados além de resultados. Em 2015 os dados são realmente de GACRO, tendo sido disponibilizados os resultados do Torneio Nacional de Ginástica Acrobática e do Campeonato Brasileiro de Ginástica Acrobática. Porém, junto com esses dados, há também uma pasta denominada “Intermediário”, na qual constam informações sobre os resultados do Campeonato Brasileiro de 2014. Os informes sobre regulamentos, tabelas de elementos obrigatórios e resultados de 2016 estão disponíveis de forma correta e completa. Conclui-se que a disponibilidade de informações pela CBG possui uma boa diversidade, no entanto, ainda com algumas lacunas advindas do recorte temporal, pois somente há informações dos últimos 5 a 7 anos (para todas as modalidades ginásticas); de equívocos de locais para se encontrar os documentos (em abas não específicas) ou pela ausência de algumas informações sobre a modalidade na plataforma. Ressaltamos a importância de uma organizada e completa disponibilidade de informações sobre as modalidades ginásticas, ainda mais no site da instituição que a organiza em nível nacional, não só para propiciar que atletas, técnicos, escolares e a população em geral, possam melhor se informar, conhecer e difundir a GACRO; assim como, para que acadêmicos possam utilizar essas informações como fonte de pesquisa, num esforço conjunto com a CBG e o poder público para colaborar para seu desenvolvimento. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Acrobática; Confederação Brasileira de Ginástica; Informações.
R.148 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
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GINÁSTICA DE TRAMPOLIM: EFEITOS DA TRANSIÇÃO INSTITUCIONAL NO BRASIL
ROVERI MG, CARRARA P, BORTOLETO MAC. bortoleto@fef.unicamp.br Faculdade de Educação Física-FEF Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP RockStar Gym Malaysia Grupo de Pesquisa em Ginástica-GPG
Institucionalizada como esporte competitivo pela Federação Internacional de Trampolim (FIT) em 1964, a Ginástica de Trampolim passou por uma significava mudança no cenário internacional ao ser incorporada à Federação Internacional de Ginástica (FIG) em 1999. O objetivo deste trabalho foi analisar as consequências dessa transição administrativa no contexto Brasileiro, por meio de pesquisa documental e estudo de campo que incluiu entrevistas em profundidade com três renomados especialistas brasileiros. Nossas análises indicam que em Setembro de 1990 foi realizado o 1º Campeonato Brasileiro de Trampolim Acrobático, durante o qual foi fundada a Associação Brasileira de Trampolim Acrobático (ABRATA). Neste mesmo ano, a ABRATA filiou-se à FIT, possibilitando a participação de atletas brasileiros em eventos internacionais, incluindo os campeonatos mundiais. Essa primeira etapa foi motivada e organizada, em grande medida, por meio do empenho de alguns aficionados, com destaque para os professores José Martins (São Paulo) e Sérgio Bastos (Rio de Janeiro), gerando bons resultados em competições internacionais. Tratou-se de um período marcado pela realização de diversas clínicas, cursos e assessorias, muitas com a participação de especialistas internacionais, aumentando consideravelmente a presença brasileira em competições internacionais. Em 1995 foi fundada a Confederação Brasileira de Trampolim e Esportes Acrobáticos (CBTEA), assumindo a gestão do esporte. Em 1998, FIT e FIG acordaram a fusão das entidades, buscando a inclusão da modalidade nos jogos olímpicos. Consequentemente, uma proposta similar foi negociada no Brasil de modo a unir CBTEA à Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), entidade já filiada à FIG, fato consumado em 1999. Em 2000 foi criado o Comitê Técnico de Trampolim na CBG dando início a outra fase do desenvolvimento desse esporte nacionalmente. De acordo com os especialistas, alguns aspectos positivos podem ser atribuídos à referida fusão institucional, como o maior investimento econômico, a maior visibilidade midiática, bem como o aumento e maior regularidade da participação de atletas brasileiros em campeonatos mundiais e etapas de copa do mundo. Esses avanços devem ser entendidos considerado que a ginástica de trampolim passou a ser uma modalidade olímpica em Sydney (2000), recebendo atenção diferenciada por parte das autoridades brasileiras, incluindo o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Não obstante, o desenvolvimento das categorias de base, a formação de treinadores e árbitros, a quantidade de clubes e ginastas federados (estadual e nacionalmente), a quantidade de federações estaduais ativas, parecem não terem sofrido mudanças significativas, ou mesmo, terem diminuído se comparamos com o período anterior. Desse modo, conclui-se que o desenvolvimento da Ginástica de Trampolim não sofreu as mudanças esperadas com sua incorporação à CBG, situando-se ainda fora das prioridades dessa entidade, e, por fim, mantendo-se como uma modalidade em “vias de desenvolvimento” no Brasil, com evidentes problemas estruturais. PALAVRAS-CHAVE: Federações Esportivas; Política Esportiva; Trampolim.
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O CONHECIMENTO DAS GINÁSTICAS DE COMPETIÇÃO: UMA INVESTIGAÇÃO COM ESCOLARES DE FORTALEZA/ CE
SOUSA CT, SILVA TED. thaiscarlasousa@gmail.com
Universidade Federal do Ceará-UFC
O Brasil é conhecido pela monocultura esportiva, o futebol. Esta prática por fatores socioculturais e financeiros recebe atenção especial dos meios de comunicação, restando às demais práticas corporais atenção secundária, o que implica no desconhecimento e interesse por diversos outros esportes. No entanto, o país acaba de sediar os Jogos Olímpicos de Verão que aconteceram no Rio de Janeiro em Agosto/Setembro de 2016, o que oportunizou a apreciação de diversos esportes, dentre eles, a Ginástica Artística (GA) e Ginástica Rítmica (GR). Este estudo inicial investigou o conhecimento de jovens em idade escolar, nos anos finais de formação colegial sobre as ginásticas de competição presente nas olímpiadas (GA e GR). Para tanto, este estudo de caráter quantitativo, coletou dados por meio de questionário semiaberto, a respeito com as seguintes questões: “Você conhece esta ginástica (GA/GR)?”; “Como a conheceu (Televisão, Internet, Jornal, Outros)?”; “Poderia citar algum aparelho/prova?”. Ao todo, 319 jovens, com idade entre 14 e 19 anos, de uma escola pública de Ensino Médio integral da cidade de Fortaleza/CE, participaram da pesquisa. Em relação à GA: 94,9% dos alunos afirmaram conhecer a modalidade. Quanto aos primeiros contatos com a modalidade: 91,8% dos entrevistados citaram como meio a Televisão; 20,3% a Internet e 8,7% outras fontes. Já sobre os aparelhos/provas da GA: a Argola foi citada 194 vezes; O Cavalo com Alças e o Solo foram citados 63 vezes, cada um; As Barras paralelas e assimétricas foram citadas 50 vezes; A Trave de Equilíbrio, 10 vezes, e o Salto sobre a Mesa foi citado apenas 4 vezes. Aparelhos/provas da GR e outras modalidades esportivas (por exemplo, trampolim) foram citados 57 vezes. Os aparelhos mais citados (Argolas e solo) podem estar associados aos resultados obtidos nestes aparelhos por atletas brasileiros nos últimos anos (2012 - 2016), em competições televisionadas. Em relação à GR encontramos que: 93,10% dos alunos afirmaram que conheciam esta modalidade. Quanto aos primeiros contatos com a GR: 88,4% alunos conheceram por meio da Televisão; 19,7% da Internet e 9% por outras fontes. Quanto aos aparelhos ou provas da GR: A Fita foi citada 243 vezes; A Bola 136 vezes; O Arco foi citado 37 vezes; As Maças, 8 vezes e a Corda foi citada 1 vez. A falta de citação da corda pode ter ligação com a sua retirada de competições transmitidas por vídeo. Aparelhos de GA e outras modalidades esportivas (como por exemplo, saltos ornamentais) foram citados 43 vezes. Na GR, o aparelho Fita destacou-se, o que vai de encontro aos estudos sobre as práticas e os espetáculos da sociedade atual. O aparelho, colorido e de fácil visualização monta e desmonta figuras no ar contribuindo para a beleza do espetáculo, diferente dos aparelhos menores, que por vezes são de difíceis captação e transmissão, como a corda, sendo, inclusive, omitidos da transmissão televisionada (ANTUALPA, 2011). Observamos um conhecimento das práticas de Ginástica de competição advindo das Mídias em suas diversas formas. Destacamos, que a valorização e transmissão de algumas práticas esportivas, aproxima o público telespectador destas manifestações, porém o contrário, ou seja, a não transmissão de esportes variados não oportuniza nem contribui para o fortalecimento de uma cultura esportiva diversa. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física; Ginástica; Mídia.
R.150 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
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ANÁLISE DO MOVIMENTO INICIAL PARA A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA MODALIDADE DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA
NOVO GA, TOLEDO E. gan.pk@outlook.com Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica-LAPEGI Apoio: Conselho Nacional de Desenvplvimento Científico e Tecnológico
Introdução: A Federação Internacional de Ginástica (FIG) é considerada a federação esportiva mais antiga do mundo (FIG, 2017) e tem desenvolvido as sete modalidades ginásticas, seis delas são competitivas: Ginástica Acrobática (GAC), Ginástica Aeróbica (GAE), Ginástica Artística (GA – GAM e GAF), Ginástica Rítmica (GR) e Ginástica de Trampolim (TRA); e uma que até 2007 era somente de demonstração, mas apesar de possuir essa predominância até atualidade, já possui eventos com caráter competitivo (Gym for Life): a Ginástica para Todos (GPT). As inovações da FIG, no que concerne às modalidades, vem se dando muito mais nas mudanças dos códigos de pontuação, ou na criação de novos eventos, do que na criação de novas modalidades. No entanto, em 2017, sob a coordenação de um novo corpo diretivo, a FIG se propõe a desenvolver uma nova disciplina ginástica inspirada no Parkour, com competições baseadas em percurso de obstáculos (FIG, 2017). Objetivo: Identificar como a FIG vem constituindo uma nova modalidade ginástica inspirada no Parkour. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa documental, que tem como fonte principal os dados disponibilizados no site da FIG acerca do surgimento de uma nova modalidade ginástica inspirada no Parkour, na Aba “News”, consultada no período de 1 de fevereiro a 09 de junho de 2017, com a palavra chave “Parkour”. Dados e discussão: Ao total foram encontradas 6 notícias sobre a nova modalidade, sendo a primeira notícia do dia 24 de fevereiro e a última no dia 09 de junho. No dia 10 de maio de 2017, disponibiliza-se bases para os formatos competitivos dos dois tipos de percurso de obstáculos, o Obstacle Course Freestyle, que segundo a FIG será julgado por algumas performances dos atletas, não divulgadas até então, e o Obstacle Course Sprint, que se encontra em um formato contra-o-relógio. Neste mesmo documento apresenta-se algumas dificuldades sobre a inclusão de uma nova modalidade da FIG, o que exigirá modificações nas regulamentações técnicas da federação, que possivelmente devem ser submetidas na próxima reunião do conselho em 2018. Observa-se que a tentativa de associação com integrantes do Parkour imponentes na prática está sendo a estratégia tomada pelo presidente Morinari Watanabe, pois, segundo o artigo do dia 20 de maio de 2017, Mr. Watanabe encontrou-se com David Belle e Charles Perrière , com o objetivo de demonstrar que a FIG não se preocupa apenas com a competição, mas que compartilha da importância do auto aperfeiçoamento e de dominar o corpo em qualquer ambiente. No dia 28 de maio de 2017, a FIG realiza a primeira FIG Obstacle Course Cup, e pela notícia do dia 30 de maio de 2017, informa que o evento foi um sucesso,. Conclusão: A FIG está constituindo uma nova modalidade, inspirada num forte movimento jovem do Parkour (com o apoio de seus maiores precursores mundiais), difundindo-a predominantemente no seu site pela aba “News”, e já tendo ofertado um evento sobre a mesma. Esse movimento se inicia no ano de 2017, de forma tímida, sendo foco de debates tanto dos próprios comitês da FIG, como também dos praticantes de Parkour, que vêm se manifestando de diferentes formas nas redes sociais e no próprio canal da FIG no Youtube. PALAVRAS-CHAVE: Federação Internacional de Ginástica; Obstacle Course Cup; Nova Modalidade.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152 • R.151
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 80
GINÁSTICA RÍTMICA: ANÁLISE DOS FATORES MOTIVANTES, ESTRESSANTES E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMPETIÇÃO
NOVO GA, TOLEDO E. gan.pk@outlook.com Faculdade de Ciências Aplicadas-FCA Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica-LAPEGI Apoio: Conselho Nacional de Desenvplvimento Científico e Tecnológico
Introdução: A Federação Internacional de Ginástica (FIG) é considerada a federação esportiva mais antiga do mundo (FIG, 2017) e tem desenvolvido as sete modalidades ginásticas, seis delas são competitivas: Ginástica Acrobática (GAC), Ginástica Aeróbica (GAE), Ginástica Artística (GA – GAM e GAF), Ginástica Rítmica (GR) e Ginástica de Trampolim (TRA); e uma que até 2007 era somente de demonstração, mas apesar de possuir essa predominância até atualidade, já possui eventos com caráter competitivo (Gym for Life): a Ginástica para Todos (GPT). As inovações da FIG, no que concerne às modalidades, vem se dando muito mais nas mudanças dos códigos de pontuação, ou na criação de novos eventos, do que na criação de novas modalidades. No entanto, em 2017, sob a coordenação de um novo corpo diretivo, a FIG se propõe a desenvolver uma nova disciplina ginástica inspirada no Parkour, com competições baseadas em percurso de obstáculos (FIG, 2017). Objetivo: Identificar como a FIG vem constituindo uma nova modalidade ginástica inspirada no Parkour. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa documental, que tem como fonte principal os dados disponibilizados no site da FIG acerca do surgimento de uma nova modalidade ginástica inspirada no Parkour, na Aba “News”, consultada no período de 1 de fevereiro a 09 de junho de 2017, com a palavra chave “Parkour”. Dados e discussão: Ao total foram encontradas 6 notícias sobre a nova modalidade, sendo a primeira notícia do dia 24 de fevereiro e a última no dia 09 de junho. No dia 10 de maio de 2017, disponibiliza-se bases para os formatos competitivos dos dois tipos de percurso de obstáculos, o Obstacle Course Freestyle, que segundo a FIG será julgado por algumas performances dos atletas, não divulgadas até então, e o Obstacle Course Sprint, que se encontra em um formato contra-o-relógio. Neste mesmo documento apresenta-se algumas dificuldades sobre a inclusão de uma nova modalidade da FIG, o que exigirá modificações nas regulamentações técnicas da federação, que possivelmente devem ser submetidas na próxima reunião do conselho em 2018. Observa-se que a tentativa de associação com integrantes do Parkour imponentes na prática está sendo a estratégia tomada pelo presidente Morinari Watanabe, pois, segundo o artigo do dia 20 de maio de 2017, Mr. Watanabe encontrou-se com David Belle e Charles Perrière , com o objetivo de demonstrar que a FIG não se preocupa apenas com a competição, mas que compartilha da importância do auto aperfeiçoamento e de dominar o corpo em qualquer ambiente. No dia 28 de maio de 2017, a FIG realiza a primeira FIG Obstacle Course Cup, e pela notícia do dia 30 de maio de 2017, informa que o evento foi um sucesso. Conclusão: A FIG está constituindo uma nova modalidade, inspirada num forte movimento jovem do Parkour (com o apoio de seus maiores precursores mundiais), difundindo-a predominantemente no seu site pela aba “News”, e já tendo ofertado um evento sobre a mesma. Esse movimento se inicia no ano de 2017, de forma tímida, sendo foco de debates tanto dos próprios comitês da FIG, como também dos praticantes de Parkour, que vêm se manifestando de diferentes formas nas redes sociais e no próprio canal da FIG no Youtube. PALAVRAS-CHAVE: Federação Internacional de Ginástica; Obstacle Course Cup; Nova Modalidade.
R.152 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
Autor, número do resumo, paginação
ABREU IC 20 ALEIXO IMS 10 ALVES FS 41 ANDRADE NETO A 55 ANTUALPA KF 20, 33, 34, 35, 45, 53 ARAÚJO T 32 ASSUMPÇÃO B 67, 75
R.92 R.82 R.113 R.127 R.92 R.105 R.106 R.107 R.117 R.125 R.104 R.139 R.147
BALBINOTTI CAA 22 BARBOSA-RINALDI IP 50, 58, 60, 62, 72 BARROS TES 06, 14, 15, 16 BOHER NS 33, 61 BORTOLETO MAC 31, 77 BRASIL VZ 15 BRITO BJG 49 BUNESE RF 68
R.94 R.122 R.130 R.132 R.134 R.144 R.78 R.86 R.87 R.88 R.105 R.133 R.103 R.149 R.87 R.121 R.140
CAMARGO C 46 CAMARGO CTA 37, 51 CAMPOS ACML 66 CARBINATTO MV 05, 19, 43 CARRARA P 14, 16, 77 CARVALHO KMC 04, 24, 55,73 CASSIMIRO AO 32 CAVALHIERI ACM 66 CHAGAS DL 52 CORTZ RV 36 COSTA AR 03, 14, 15, 16, 40 COSTA CR 50 COSTA FS 47 COSTA VR 07, 08, 29
R.118 R.109 R.123 R.138 R.77 R.91 R.115 R.86 R.88 R.149 R.76 R.96 R.127 R.145 R.104 R.138 R.124 R.108 R.75 R.86 R.87 R.88 R.112 R.122 R.119 R.79 R.80 R.101
DALCIN 68, 69, 70 DAMASCENO JUNIOR A 29 DIAS CD 34 DIAS FS 13, 57 DODÓ A 01
R.140 R.141 R.142 R.101 R.106 R.85 R.129 R.73
ESTEVES AM 42
R.114
FERRAZ LM 63 FLORES AA 59 FORMIGA SAM 47 FRANCISHI VF 28 FREITAS CR 02, 06, 72
R.135 R.131 R.119 R.100 R.74 R.78 R.144
Índice de Autores dos Resumos
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
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Índice de Autores dos Resumos
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) Autor, número do resumo, paginação
FUZARO RAS 12
R.84
GAIO RC 30, 37, 46,48, 51 GALDINO VC 61 GARCIA L 02, 06 GENTIL RN 39 GOMES LCN 71
R.102 R.109 R.118 R.120 R.123 R.133 R.78 R.111 R.143
HAIACHI MC 22 HEINEN EH 63 HESS CM 64 HONORATO GF 12
R.94 R.135 R.136 R.84
JACÓ LF 33, 61 JUNIOR JP 32
R.105 R.133 R.104
KIKUTI TLA 56 KIOURANIS TDS 23 KUHN F 16 KUMAKURA RS 22
R.128 R.95 R.88 R.94
LIMA LBQ 03, 12, 20, 41, 45, 53, 73 LIMA MF 55 LOCCI B 26, 45, 53, 73 LOMBARDI G 44 LOURENÇO IC 11 LOURENÇO MRA 36,48, 60 LUNARDI M 02, 06, 63
R.75 R.84 R.92 R.113 R.117 R.125 R.145 R.127 R.98 R.117 R.125 R.145 R.116 R.83 R.108 R.120 R.132 R.74 R.78 R.135
MAIA JCA 71 MANCINI R 32 MARCHI JÚNIOR W 23 MATSUDO V 32 MENEGALDO FR 27, 45, 53, 54 MIGUEL BS 33, 61 MILANI CS 54 MOLINARI CI 08, 09, 25 MONTEIRO KOFF 09, 29 MOREIRA A 35 MORENO NL 66 MURAROLLI RB 12
R.143 R.104 R.95 R.104 R.99 R.117 R.125 R126 R.105 R.133 R.126 R.80 R.81 R.97 R.81 R.91 R.107 R.138 R.84
NETO A 01 NOVO GA 79 80 NUNES JGB 27
R.73 R.151 R.152 R.99
R.154 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152
Autor, número do resumo
Autor, número do resumo, paginação
NUNOMURA M 07, 08, 09, 10, 21, 29, 56
R.79 R.80 R.81 R.82 R.93 R.101 R.128
OLIVEIRA BF 41 OLIVEIRA LC 32 OLIVEIRA LM 02, 63, 72 OLIVEIRA MF 71 OLIVEIRA MH 03, 17, 18, 74 OLIVEIRA MS 21, 56, 57
R.113 R.104 R.74 R.135 R.144 R.143 R.75 R.89 R.90 R.146 R.93 R.128 R.129 R.86 R.112
PACHECO L 14, 40 PAIVA BP 11, 66 PASQUA LM 64, 74 PAULA RG 11 PAZ B 50, 58 PEDRO LA 69, 70 PIOVANI VGS 62 PIRES AF 50 PIZANI J 02, 63, 72 PIZZOL V 17, 18 PONTES RF 65
R.83 R.138 R.136 R.146 R.83 R.122 R.130 R.141 R.142 R.134 R.122 R.74 R.135 R.144 R.89 R.90 R.137
RAMOS V 15, 16 REIS LN 43 RIBEIRO ADO 14, 40 RIBEIRO NT 28 ROVERI MG 77
R.87 R.88 R.115 R.86 R.112 R.100 R.149
SANTIAGO LV 65 SANTOS TA 12 SAROA G 38 SCARABELIM MLA 67 SCHIAVON LM 24, 26, 27, 73 SILVA DO 62 SILVA FO 59 SILVA HN 30 SILVA JR 20 SILVA LM 11 SILVA PAL 33, 61 SILVA PCC 13 SILVA PP 05, 19 SILVA TED 52, 78 SILVA YTG 21 SOARES AA 45, 49, 53 SOARES DB 73 SONTAG B 62
R.137 R.84 R.110 R.139 R.96 R.98 R.99 R.145 R.134 R.131 R.102 R.92 R.83 R.105 R.133 R.85 R.77 R.91 R.124 R.150 R.93 R.117 R.121 R.125 R.145 R.134
Índice de Autores dos Resumos
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152 • R.155
Índice de Autores dos Resumos
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) Autor, número do resumo, paginação
SORDI ICE 26 SOUSA CT 52, 78 SOUSA GV 76 SOUSA JAS 71 SOUZA APD 13 SOUZA FS 67 SOUZA J 58 SOUZA JR 15 SOUZA MN 01, 04
R.98 R.124 R.150 R.148 R.143 R.85 R.139 R.130 R.87 R.73 R.76
TEIXEIRA RS 50 TEIXEIRA RTS 62 TOLEDO E 17, 18, 42, 64, 67, 74, 75, 76, 79, 80 TOLEDO MA 27 TSUKAMOTO MHC 11, 66 TUCUNDUVA BBP 25
R.122 R.134 R.89 R.90 R.114 R.136 R.139 R.146 R.147 R.148 R.151 R.152 R.99 R.83 R.138 R.97
VENTURA GM 74 VILANOVA CAMPELO RC 47
R.146 R.119
ZANATTA A 06
R.78
R.156 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:R.73-R.152