Encarte Grupo de Oração - Revista Renovação | Edição 135

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Revista Renovação. 134 .Mai/Jun 2022

REAVIVANDO A

CHAMA

CADA COORDENADOR DE GRUPO DE

ORAÇÃO É CHAMADO A DAR SENTIDO À SUA MISSÃO “Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,14-15). A partir das palavras de Jesus neste trecho do Evangelho, vamos discorrer sobre algumas características de um coordenador de Grupo de Oração do Movimento Eclesial da Renovação Carismática Católica. Jesus sabia quem Ele era na Eternidade e no tempo presente de sua missão como Verbo Encarnado. Não veio ao mundo por acaso, sendo apenas mais um. Da mesma forma, todos os coordenadores de Grupo de Oração devem ser sinal de Deus, ter a consciência de que foi o Senhor quem permitiu que a sua eleição acontecesse. Portanto, o coordenador tem uma missão a ser realizada. “O Bom Pastor somente compartilha a grande sede de sua alma (salvar os perdidos) com os seus amigos. Ele não conta com empregados, organizadores ou executores... Ele conta com amigos que possam aprender com Ele e amar aqueles que Ele ama. Jesus não disse a Pedro: ‘apascenta meus planos, cuida dos meus interesses, organiza os meus quadros, gerencia

meu patrimônio...’ Ele disse: ‘Apascenta os meus cordeiros’. Portanto, só se pode cumprir a missão dada por Jesus, movido por um imenso e agradecido amor por Ele” (pág. 16, Apostila do Módulo Básico, Grupo de Oração). Os cordeiros que chegam aos nossos Grupos de Oração são os milhares de pessoas que entram pela porta necessitando de cuidado. Homens, mulheres, jovens e crianças que, por vezes, se encontram no mundo, perdidos, como ovelhas sem pastor. Mas, por algum motivo, eles ouviram falar de uma Igreja, capela, salão, casa, rodoviária, hospital, presídio etc., ouviram falar de um tal de Grupo de Oração que pode ajudar-lhes a cuidar, alimentar, orientar. Diante disso, algumas perguntas precisam ser feitas: •

As ovelhas que já se encontram no Grupo de Oração estão sendo bem cuidadas, alimentadas com uma verdadeira

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Encarte Reavivando a Chama Revista Renovação . 135 . Jul/Ago 2022

caminhada de fé que conduz à santidade? •

As ovelhas conhecem voz do seu coordenador?

Neste redil apenas existem regras, agenda, planos pessoais?

O coordenador do Grupo de Oração tem a consciência de que as ovelhas não são suas, mas do Senhor Jesus?

E as ovelhas que estão fora desse aprisco? O pastor se preocupa com elas também?

A missão de um Grupo de Oração é salvar as almas, conduzi-las ao céu. Portanto todos os esforços devem estar direcionados para este fim. É preciso ir atrás das ovelhas perdidas, não deixar que se percam. O coordenador tem a missão de estar na porta, não permitindo que nenhum ladrão roube os seus, mas também chamando as ovelhas para entrar, sendo sinal da presença do amor de Deus. O bom pastor deixa as noventa e nove ovelhas no aprisco e vai buscar aquela que se perdeu, porque para ele todas são importantes. Ele não quer que nenhuma se perca. “Também precisamos olhar para além Grupo de Oração, da porta pra fora, quem sabe os santos estão lá fora, na rua, esperando o nosso convite. Lembrando sempre que as portas que um dia se abriram para nos acolher devem permanecer abertas para receber tantos mais que precisam ouvir falar de um Deus vivo e presente em nosso meio” (pág. 16, Apostila do Módulo Básico, Grupo de Oração).

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Por vezes, alguns pastores não se deixam submeter ao Bom Pastor, querem fazer tudo do seu jeito, querem conduzir as ovelhas conforme aquilo que eles pensam ser melhor. Aparentemente é um Grupo de Oração, com tudo organizado, mas não tem a unção do Espírito Santo, não se submetem, não permitem que o Bom Pastor seja verdadeiramente o Senhor. Precisamos avançar! Nossos Grupos de Oração precisam ser o local onde as ovelhas são levadas ao encontro pessoal com Jesus, por meio do Batismo no Espírito Santo, onde vivamos a nossa

identidade, o sonho de Deus para o Movimento Eclesial da RCC. O Grupo de Oração tem uma estrutura mínima para que possa caminhar, mas ele não é uma empresa, onde as pessoas desejam galgar cargos. O maior dentro de um Grupo de Oração é aquele que serve, como bem nos ensinou o Senhor. Ser coordenador não é o prêmio dos melhores, não depende da nossa capacidade humana, mas é uma pura ação do Espírito Santo na vida do coordenador, a sua escolha deve ser feita por Jesus. “Aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar alto. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo.” (Papa Francisco, 2013) O Grupo de Oração, que é o redil das nossas ovelhas, é como esse hospital. O hospital de campanha é local dos primeiros socorros. Ele fica próximo do local onde a guerra está acontecendo. Ali chegam todos os tipos de feridos, que são atendidos rapidamente por profissionais que estão de plantão 24h. O pastor não dorme nem cochila, ele está sempre perto das ovelhas, ele acolhe a todas, não faz distinção entre as ovelhas. O pastor não carrega consigo muitas coisas, mas ele tem o suficiente para as necessidades das suas ovelhas. A palavra de Deus nos ensina que o pastor dá a vida por as suas velhas. No caso do coordenador, dar a vida, não necessariamente é morrer numa cruz, mas dar o seu tempo, dar as suas horas de lazer, dar toda a atenção que a ovelha precisa, estar disponível e disposto a ouvir. E quanto for preciso, trazer a ovelha para mais perto, corrigir, colocar ela novamente no caminho, sempre com muito amor! Porém, se ao corrigi-la não estiver disposto a colocá-la sobre seus ombros, trazer de volta, curar seus ferimentos e deixar que ela escute as batidas de amor do seu coração, se o coordenador não for capaz de fazer isso, também


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não tem o direito de “quebrar-lhe as patas”. O coordenador precisa estar próximo das pessoas! Para estar perto, se faz necessário existir um desprendimento de si, pois, estar perto de quem se ama é fácil, mas é necessário estar perto de todos. Estar disposto a acolher os sujos, os esquecidos, marginalizados, os pobres, ricos, bonitos, etc. Num hospital de campanha chegam as pessoas feridas, assim também no Grupo de Oração chegam todos os tipos de ovelhas, pessoas feridas fisicamente, espiritualmente, destruídas em seu interior, com a fé totalmente abalada, são feridas que não se vê com os olhos. É preciso olhá-las com os olhos do Senhor para ver através da alma, para ver além das aparências. Sabemos que esse pastoreio não é fácil. Podemos pensar em São Maximiliano Maria Kolbe, que foi um dos mártires dos campos de concentração, ele recebeu duas coroas: a da pureza e a do martírio. Ele foi digno da missão, recebeu o prêmio. Ele trancado numa pequena cela com vários outros homens que foram escolhidos para morrer, soube, como sacerdote, cuidar daquelas ovelhas. Ele poderia não fazer mais nada, pois fora jogado ali, mas ele decidiu amar até o fim e servir até o fim. Por dias e dias ficou anunciando Jesus, ouvindo confissões, conduzindo as almas para o céu.

O pastoreio no Grupo de Oração deve ser um reflexo da uma vida doada de forma incondicional. Os anos de coordenação não pertencem ao coordenador, ele não será eterno nessa missão. O tempo pertence inteiramente ao Senhor e, neste tempo, Jesus quer fazer desta pessoa um grande instrumento em Suas mãos. É tempo de gastarse, de consumir-se em favor daqueles que lhes foram confiados. O coordenador precisa ser como o Bom Pastor em seu Grupo de Oração, o pastor que tem o cheiro das ovelhas, ele que conhece os seus, e para isso é preciso doar-se inteiramente. Na prática, como esse pastoreio pode acontecer? A resposta está no próprio Jesus, o Bom Pastor: •

Ele sentava junto dos seus para comer (Mt 26,26-28) – os membros de um Grupo de Oração precisam ter momentos de comunhão fraterna, se faz necessário organizar encontros para sentarem juntos e comer um lanche após o GO, um almoço a cada mês na casa de um dos servos... Momentos de partilha, de lazer, de vivência fraterna;

Se retirava para um lugar mais alto para rezar com eles (Lc 22,39) – a oração não deve se limitar apenas aos momentos comuns do GO, é preciso promover momentos extras de oração, se reunir para rezar uns pelos outros, partilhando das suas necessidades. Como nos relatam as primeiras comunidades no livro dos Atos dos Apóstolos, entre eles não havia necessitados, um conhecia de verdade o outro, eles tinham tudo em comum. Fazer vigílias, momentos de adoração, rezar nas casas e serem amigos de verdade;

Entrava no barco e viajava com eles (Mt 8,23-27) – é preciso estar junto em missão, quando acontecer um encontro, um retiro, um evento, o coordenador deve ser o primeiro a estar lá, não pode somente convidar, enviar os seus, mesmo que o cansaço às vezes tome conta, ele precisa estar junto. As ovelhas seguem o pastor, pois quando as tempestades começarem a atingir o barco, o coordenador estará ali junto e poderá acalmar os corações.

Nossos Grupos de Oração precisam estar atentos à guerra que está acontecendo no mundo. Em Auschwitz, existia a guerra das armas, da tortura, da fome, da humilhação. Nos Grupos de Oração, a guerra é pela salvação das almas e, mais do que nunca, precisamos estar prontos para receber as almas que chegam. O pastor também leva as ovelhas às verdes pastagens. Ele as alimenta. Nosso Movimento possui o alimento certo para as nossas ovelhas. Por meio das fases do processo formativo, as ovelhas recebem o alimento necessário para cada etapa da sua caminhada com Jesus. As ovelhas devem ser cuidadas e alimentadas, com o alimento correto. Por meio da formação, o pastor conduz as ovelhas às pastagens mais verdes e mais seguras, para que elas sejam cada vez mais saudáveis.

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Quando eles queriam voltar à vida velha, Jesus ia atrás e os fazia compreender qual era o chamado deles (Jo 21,1-25) – talvez essa seja a ação mais importante do coordenador: não deixar que eles voltem à vida velha. Uma pessoa que abandona o Grupo de Oração pode levar outros com ele e isso pode comprometer todo o GO. Quando o coordenador perceber que alguma coisa de errado está acontecendo, é preciso ir ao encontro deles e fazê-los entender que o lugar deles é no Grupo de Oração.

Ainda, é muito importante o pastoreio também com ações simples do nosso dia a dia, como visitar os servos, uma mensagem, uma ligação, lembrar-se do dia do aniversário e enviar uma lembrança, pequenos gestos que, feitos com amor, produzem um efeito grandioso na vida da ovelha. No livro “Em busca de sentido”, de Victor Frankl, ele apresenta a incrível experiência de passar pelos campos de concentração de Auschwitz, por muitos anos, como prisioneiro. E em certo momento ele cita Dostoievsky: “Temo somente uma coisa: não ser digno do meu tormento”. Essas palavras passam por nossa mente quando contemplamos a vida dos prisioneiros cujo comportamento no campo de concentração, sofrimento e morte testemunham essa liberdade interior última do ser humano, a qual não se pode perder. Sem dúvida, eles poderiam dizer que foram “dignos dos seus tormentos”. Eles provaram que, inerente ao sofrimento, há uma conquista que é interior.

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A liberdade espiritual do ser humano, a qual não pode ser tirada, permite-lhe, até o último suspiro, configurar sua vida de modo que tenha sentido. Não somente uma vida ativa tem sentido, dando à pessoa a oportunidade de concretizar valores de forma criativa, não há sentido apenas no gozo da vida, que permite à pessoa realizar valores na experiência do que é belo, na experiência da arte ou da natureza. Mas, também há sentido naquela vida que – como no campo de concentração – dificilmente oferece uma chance de se realizar criativamente e em termos de experiência, mas que lhe reserva

apenas uma possibilidade de configurar o sentido da existência, que consiste precisamente na atitude com que a pessoa se coloca face à restrição forçada externamente sobre seu ser. Assim como Jesus, esses muitos homens e mulheres deram sentido a todo o sofrimento ao qual foram submetidos. Eles foram dignos de receber tudo porque tinham um propósito. Da mesma forma, acontece com todos os COORDENADORES DE GRUPOS DE ORAÇÃO. Todos serão colocados em situações em que terão que deixar as suas próprias vontades e necessidades, talvez não passem pelo martírio de sangue, mas precisarão renunciar muitas coisas, deixarão suas casas para servir às suas ovelhas, para conduzi-las às verdes pastagens, enfrentar situações difíceis, incompreensões, solidão, mas por um bem maior, irão de cabeça erguida lutar pelos seus. Algumas situações comuns a Jesus, aos mártires, e aos coordenadores chamados a serem bons pastores: •

Foram escolhidos;

Por algum momento desejaram não ter que seguir em frente a missão;

Sofreram;

Rezaram;

Choraram;

Tinham plena confiança em Deus;

Foram até as últimas consequências de suas forças.

É preciso que todas as lideranças da Renovação Carismática Católica tomem essa postura de Bom Pastor, que todos sejam dignos da sua missão! Não deixando o tempo passar em vão, assumindo a sua responsabilidade de ser um bom coordenador, líder, com os olhos fixos nos Senhor, seguindo os direcionamentos do nosso Movimento que tanto tem buscado estar próximo de todos os seus líderes, em especial aos responsáveis pela célula fundamental da RCC, o Grupo de Oração. É por meio do Grupo de Oração que o nosso Movimento acontece.


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