Revista Renovação - Edição 84 - Janeiro/Fevereiro de 2014

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ANO 15 - NÚMERO 84 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

SENHOR, FAZEI-NOS INSTRUMENTOS DE VOSSA

PAZ

a alegria que converte

CRISTÃOS NA INTERNET

“A missão mudou totalmente minha vida”

As menores atitudes que testemunhem a alegria cristã podem impactar o próximo gerando conversão

Transmissão da fé ou contratestemunho?

Marajoaras testemunham como tiveram suas vidas transformadas com a chegada da missão RCC à ilha

ENCARTE Carismáticos: artífices da unidade!



janeiro/fevereiro

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Nesta edição

ESPECIAL: senhor, fazei-nos instrumentos de vossa Paz

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corações que amam a Deus

onde houver tristeza: que eu leve a alegria

Cristãos, conservem o vínculo da PAZ NA INTERNET

TESTEMUNHO DE MARAJOARAS A RCCBRASIL sobre a missão realizada na ilha

trans08 agentes formadores movidos pelo espírito santo

e fé: um 14 Ciência diálogo que favo-

pelo 12 restaurados amor caminhamos em unidade

rece a paz

A VIDA NO ES22 SEÇÃO PÍRITO: renunciar

DE LEIMISSÃO UGANDA te 19 SUGESTÃO 17 convida TURA: CONSErVAR a ser um A UNIDaDE PELO kareebi

para ser livre

VÍNCULO DA PAZ

SEMEANDO A CULTURA DE PENTECOSTES Amado semeador,

Graças a Deus e a sua generosidade chegamos à primeira edição de 2014, a edição de nº 84 da Revista Renovação. Sua colaboração, com certeza, foi fundamental para essa caminhada e estamos colhendo muitos frutos da sua fidelidade. Muito obrigado. Contem com nossas orações. Caso você não seja colaborador e gostaria de contribuir, entre em contato conosco.

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Editorial

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Experiência que fortalece o vínculo da Paz O Batismo no Espírito Santo produz naqueles que fizeram essa experiência uma transformação profunda da vida, fazendo com que selem um novo compromisso pessoal com Cristo. É contraditório, contanto, que a mesma pessoa contemplada com essa graça de Pentecostes não se relacione de maneira caridosa e pacífica com os irmãos. Nesse sentido, Deus tem chamado nossa atenção à importância da conservação da unidade do Espírito e nos mostra um importante elo para que ela se constitua: o vínculo da paz. Por isso, esta edição 84 da Revista Renovação é dedicada à paz e a elementos que propiciam sua concretização nas relações fraternas, vida comunitária e até mesmo na internet. O amor e a paz são frutos que o próprio Paráclito gera em nós. Se não os temos promovido em nossos relacionamentos, precisamos rever nossa experiência. Porém,

Expediente Publicação Oficial da RCC do Brasil

Editada pelo Escritório Nacional da RCC do Brasil ANO 15 - Edição Nº 84: Janeiro/Fevereiro 2014

Jornalista Responsável: Lúcia Volcan Zolin - DRT/SC 01537 Redação: Cristina Mansur /Laura Galvão Revisão: Mari Spessatto Fotos: Arquivo RCCBRASIL Projeto Gráfico: Priscila Carvalho Design e Diagramação: Priscila Carvalho E-mail: dpto.comunicacao@rccbrasil.org.br ESCRITÓRIO ADMINISTRATIVO DA RCCBRASIL Rua Antônio Favalli nº 23, Bairro Centro CEP 12.615-000 Canas/SP Tel.: (12) 3151-4155 As matérias publicadas são de responsabilidade de seus respectivos autores. Permitida a reprodução, sem alteração do texto e citada a fonte.

sabemos que o nascer de homens e mulheres restaurados se dá vagarosamente e só é possível com a intensificação da oração pessoal. A constância na intimidade com Deus possibilita que o Senhor permeie nossos atos e feridas interiores, então, a partir da cura, nos tornamos prontos para caminhar em unidade com os irmãos. Você pode estar se questionando: “eu tenho o coração curado, mas meu irmão não”. É fato que encontramos situações que parecem barrar a paz em nosso meio e é aí que recordamos que Jesus vem para derrubá-las. Por seu amor, a vida venceu a morte, e Nele encontramos a verdadeira paz. Repletos por essa harmonia interior, descobrimos em nós um coração livre que constantemente é provocado a externar o encontro com o Mestre por meio de frutos de fraternidade. Convertemos então nossa cultura e passamos a compreender a lógica evangélica: é preciso perder para ganhar. Desejosos em viver a Cultura de Pentecostes, entendemos que é preciso ser o último para adentrar o reino celeste. Mas será que fora de nossos Grupos de Oração nos lembramos desta premissa? Será que nos comunicamos verdadeiros cristãos? No ambiente virtual, por exemplo, como nos comportamos? Promovemos a paz e reflexões que construam o céu? É importante ressaltar que também faz parte da construção de nossa morada eterna o diálogo entre ciência e fé, que dentro de ações evangelizadoras favorecem a paz. Para nos ajudar a estabelecer este vínculo de paz, cada um desses passos que acabamos de meditar podem ser encontrados em nossos artigos nas seções Especial e Vida no Espírito. Depois de fazer esta reflexão, convidamos você a celebrar conosco frutos concretos de ações missionárias que nos trazem a oportunidade de sermos instrumentos da paz. Tocantes testemunhos confirmam que, por meio de um amor gratuito, doado diariamente, temos sido presença de consolo, esperança, amor e de fé em terras marajoaras e ugandenses. Desejamos que a leitura desta edição traga ao teu coração a inquieta paz de Jesus que nos move ao encontro do outro conservando em nós a perfeita unidade do Espírito. Abençoada leitura, Revista Renovação

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Palavra da presidente

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A Unidade que queremos “Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. É como o orvalho do Hermon, que desce pela colina de Sião; pois ali derrama o Senhor a vida e uma bênção eterna” (Salmo 132). Toda pessoa de boa vontade, todo cristão, anseia pela unidade. A unidade propicia o ambiente para o exercício do amor fraterno. Viver em unidade sempre será um desafio, pois não podemos e não devemos anular nossas particularidades. Somos pessoas diferentes e é exatamente nessa diversidade que o amor verdadeiro se expressa e dá frutos. Precisamos ser um, ter o mesmo propósito, observar a grandeza do que nos une e colocar de lado o que nos separa. Isso nem sempre é tarefa fácil. A unidade pode ser comparada ao corpo bem articulado, vivendo em plena harmonia. Fomos resgatados das trevas e reunidos na Igreja, que é o Corpo de Cristo, para entendermos e vivermos a unidade, mesmo na diversidade. Ao abordar o tema da unidade, em uma de suas homilias, no mês de setembro, o Papa Francisco disse: “às vezes surgem incompreensões, conflitos, tensões, divisões, que a ferem, e então a Igreja não tem a face que queremos, não manifesta a caridade, aquilo que Deus quer.” Na ocasião, afirmou que “somos nós que criamos as lacerações!” Disse ainda que Deus nos doa a unidade, mas os próprios homens devem se esforçar para vivê-la. “É preciso procurar, construir a comunhão, educar-nos para a comunhão, superar incompreensões e divisões, começando pela família, pela realidade eclesial, no diálogo ecumênico também. O nosso mundo precisa de unidade. Vivemos numa época em

que temos necessidade de unidade, precisamos de reconciliação, de comunhão e a Igreja é Casa de Comunhão”, enfatizou o Santo Padre. Como o Pontífice ressaltou, a nossa unidade não é, primeiramente, fruto de um consenso ou de um esforço pessoal, mas obra do Espírito Santo. É Ele que gera a unidade na Igreja e que faz a unidade na diversidade. Por isso é muito importante orar ao Espírito Santo, para que Ele nos impulsione, cada dia mais, em direção ao outro, como construtores da unidade e da paz. Pela paz, a unidade se torna consequência – “Senhor, fazei-nos instrumentos de Vossa Paz!”. Aproximando-se o dia da Paixão, Jesus, entre outros preceitos e ensinamentos, disse: “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz” (Jo 14,27). Esta é a herança que nos deixou. Todos os dons e todas as graças das suas promessas estão incluídos nisto: a inviolabilidade da paz. O filho da paz deve buscar a paz, deve procurá-la. Toda conquista só se consolida se tivermos a unidade dada pelo Espírito Santo. Conquistar pela unidade e não na individualidade. A caridade nunca termina, ela estará sempre no Reino, durará eternamente pela unidade dos irmãos em mútua harmonia. Por outro lado, a discórdia não entra no Reino dos céus. Esta é a vontade de Jesus e a Sua oração: “Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, asRevista Renovação

sim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20-21). Aqueles que querem glorificar a Deus viverão esta unidade na família, no trabalho, na comunidade, nos Grupos de Oração, mesmo sabendo que, além da oração e da participação nos sacramentos, precisarão de perseverança, humildade, amor pelos irmãos e, acima de tudo, um amor intransigente por Deus e Sua Palavra. Esta unidade devemos buscar e viver com firmeza! Em 2014, o tema da RCC é “Conservar a Unidade do Espírito pelo vínculo da Paz”. Sabemos que o campo da semeadura é realmente grande e os trabalhadores são poucos. Mas é preciso dividir as tarefas, não querer realizar tudo sozinho, pois a divisão de tarefas é uma mostra de que estamos em unidade e não centralizando tudo numa só pessoa. Peçamos ao Senhor que nos ajude a viver a paz geradora de unidade, de forma autêntica e fecunda. E viver a paz é uma luta diária pela justiça, pela santidade, pelo amor colocado em ação e pela construção do mundo novo sonhado por Deus. Que o Senhor, fonte de vida, nos abençoe para que possamos prosseguir firmes semeando a vida no Espírito! Abraços fraternos, Katia Roldi Zavaris

Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL Grupo de Oração Vida Nova

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Especial

janeiro/fevereiro . 2014 Por Pe. Eduardo Braga (Dudu)

Presbítero da Arquidiocese de Niterói-RJ Vice-Postulador para a Causa da Beata Elena Guerra Membro do Ministério Cristo Sacerdote RCCBRASIL

Corações que amam a deus Enamorar-se por Jesus Cristo é a única maneira de nos tornarmos capazes de viver as virtudes expressas na Oração da Paz, texto popularmente atribuído a São Francisco. Contemplando os atos demonstrados no Evangelho, compreenderemos que o próximo é o próprio sacramento de Cristo A Santidade de um batizado começa a partir de um encontro profundo, autêntico e permanente com a pessoa de Jesus Cristo! Por que o Papa João Paulo II exclamou um dia que o mundo sentia saudades de Francisco? Com certeza, porque o pobrezinho de Assis foi um dos homens que mais se identificou com Jesus na história da humanidade. Dizendo aquela frase célebre, João Paulo gritava por testemunhas autênticas. A Oração da Paz, como frequentemente conhecemos, atribuída a São Francisco de Assis (1182-1226), se dirige ao Senhor, colocando o orante diretamente na presença de Deus, característica própria do misticismo de Francisco.

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Essa oração, em profunda ressonância com o Evangelho, identifica também temas clássicos da espiritualidade medieval, haja vista a referência às obras de misericórdia

é apenas mais um, mas o próprio sacramento da presença de Cristo. Um Cristianismo sem amor concreto nem é digno deste nome! O mundo de Deus é um mundo onde cada um se sente responsável pelo outro. O outro, como dizia o Papa João Paulo II no início do terceicarismáticos, ro milênio, é alguém que me pertence. Irnosso coração não mãos carismáticos, pode ser de fogo para Deus nosso coração não e de gelo para os irmãos.” pode ser de fogo para Deus e de gelo para os irmãos.

espiritual, ao esquema do combate, aos vícios e ao chamado a viver as virtudes. Temos informações de que o Papa Bento XV, no contexto da primeira Guerra, agradou-se sumamente dessa valiosa oração e desejou que a mesma achasse eco em todos os corações, sendo expressão do senIrmãos timento universal.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar que ser amado. Pois, é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna. Na verdade, só um coração profundamente enamorado por Cristo e seu Evangelho é capaz de viver a fraternidade que Francisco consegue expressar e testemunhar. Somente na Escola do “Mestre” Jesus, o homem entende que o próximo não Revista Renovação

É do Espírito Santo a graça da Comunhão! Vem Dele a capacidade que temos para amar a Deus e ao próximo. Ele é o Divino Amor. A Ele precisamos recorrer para amar verdadeiramente. Dele recebemos o Amor teologal pelo santo Batismo. Se nos falta o dom de sair de nós mesmos, nos falta experiência de Deus, oração e colaboração com a graça. Se não somos capazes de con-


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solar, compreender, amar, perdoar e dar a vida, ainda somos (na linguagem de Francisco) cristãos de vitrine. Precisamos entender que tudo parte da nossa relação com Cristo. Se Ele não for o centro de nossas ações, jamais uma vida autêntica será possível. Nunca haverá transformação real, e sim uma ‘maquiagem’ de vida no Espírito!

ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então deteriora todas as relações, arruína tudo; e abre a porta à violência, à indiferença e ao conflito” (L’Osservatore Romano 37, 15 de setembro de 2013, p.8).

Ao escrever a Mensagem para o Dia Mundial da Paz, em 2014, com o título “Fraternidade como fundamento e caminho para a paz”, por váO Espírito de Cristo consegue rias vezes o Santo em mim operar Padre nos leva à Tenho procurado mais ou tudo o que está contido nesta oraa mediocridade é minha redescoberta do “outro” não só ção da Paz? Minha medida preferida? Só quem como ser humano relação com Jesus dotado de direitos experimenta o Amor de Deus me faz instrumento de Paz? Já con- pode sair de si para amar sem e igualdade, mas como “imagem segui sair do túnel medida seu irmão.” viva” de Deus Pai, do egoísmo “euresgatada pelo meu-para mim”? sangue de Jesus Cristo e tornada obA oração atribuída a Francisco jeto de ação permanente do Espírito pode voltar não apenas a ser orada Santo, como um irmão (Cf. n.4). entre os nossos Grupos ou em nosJá no início da Mensagem, o sa oração pessoal, mas, sobretuPapa Francisco dizia: “No coração de do, pode ser transformada em vida cada homem e mulher, habita o anna nossa vida. O desafio de “Ir sem seio de uma vida plena que contém medo ao serviço” (Homilia do Papa uma aspiração irreprimível de fraterFrancisco no encerramento da JMJ) nidade, impelindo a comunhão com é possível! Sair das “zonas de conos outros, em quem não encontraforto” para consolar, compreender, mos inimigos, mas irmãos que deveamar e dar a vida nunca foi tão nemos acolher e abraçar.” (n. 1). cessário. Uma Igreja em Movimento,

como o Papa hoje nos pede, é, na verdade, o amor ao próximo sendo assumido e vivido. Paixão pelas almas, avivamento missionário. Ó Mestre, fazei que eu procure mais! Tenho procurado mais ou a mediocridade é minha medida preferida? Só quem experimenta o Amor de Deus pode sair de si para amar sem medida seu irmão. Enquanto não vivermos para os outros não seremos felizes. Quando orava pelo fim dos conflitos na Síria, durante a Vigília, o Papa afirmou: “Quando o homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios interesses e se coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos

O Espírito do Senhor vem ao nosso auxílio através do grande dom da oração. No último dia 17 de janeiro, o Papa disse no Twitter: “Como é poderosa a oração! Não percamos jamais a coragem de dizer: Dai-nos, Senhor, a vossa paz”! Só o Senhor Jesus que nos amou até o extremo (Cf. Jo 13) pode nos ensinar esse Amor. Que seja Ele, Amor da Vida de Francisco de Assis e de Francisco Papa, que nos auxilie a procurarmos mais consolar, que sermos consolados; compreendermos, que sermos compreendidos; amarmos que sermos amados.

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Especial

janeiro/fevereiro . 2014 Por Vicente Gomes de Souza Neto

Membro da Comissão Nacional de Formação da RCCBRASIL Grupo de Oração ICTUS - RJ

agentes transformadores movidos pelo espírito santo Em cenários rodeados pelo egoísmo e ódio, atos de compaixão são capazes de transformar realidades. Como carismáticos, reconhecemos que é por meio do Batismo no Espírito Santo que passamos a produzir bons frutos. É, portanto, deste transbordamento da experiência pentecostal, nos tornando agentes da caridade, que encontraremos a verdadeira Paz de Cristo

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“Pois Ele é a nossa paz, Ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava, anulando em seu corpo a Lei, os preceitos e as prescrições. O objetivo Dele era criar em si mesmo, de dois povos, uma única humanidade nova pelo restabelecimento da paz, e reconciliar com Deus os dois em um corpo, por meio da cruz, pela qual Ele destruiu a inimizade. Ele veio e anunciou paz a vós que estáveis longe e paz aos que estavam perto, pois por meio Dele tanto nós como vós temos acesso ao Pai, por um só Espírito” (Ef 2,14-18). Nessa passagem vemos narrada por Paulo a excelência da entrega de Cristo e dos méritos de Nele termos sido reconciliados com Deus. O amor de Jesus pela humanidade foi ativo e efetivo. Podemos, por intermédio do Senhor Jesus, derrubar barreiras de inimizade, separação, fofocas e maledicências, levando a considerar o outro como um irmão que precisa ser amado como Cristo nos amou e se entregou por nós. Na Celebração do 47º Dia Mun-

dial da Paz (01 de janeiro de 2014), que teve como tema: “Fraternidade, Fundamento e Caminho da Paz”, nosso querido e amado Papa Francisco, num trecho de sua mensagem, nos diz que “a fraternidade humana foi regenerada em e por Jesus Cristo, com a sua morte e ressurreição. A cruz é o «lugar» definitivo de fundação, da fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar. Jesus Cristo, que assumiu a natureza humana para redimir, amando o Pai até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8), por meio da sua ressurreição constitui-nos como humanidade nova, em plena comunhão com a vontade de Deus, com o seu projeto, que inclui a realização plena da vocação à fraternidade”1. Como ressalta ainda o Santo Padre nesse texto, a vida fraterna é o fundamento e caminho para a paz. A partir da experiência pessoal com Jesus Senhor é que passamos a ver o outro como um irmão que precisa conhecer esse amor de doação. Agindo assim, estaremos efetivamente derrubando muros de inimizade e de Revista Renovação

egoísmo, pois sairemos de nós mesmos para termos atitudes concretas de compaixão e solidariedade. Na história da salvação ainda no antigo testamento, a paz já era sinalizada como uma promessa messiânica que aconteceria com o início da instauração do Reino do Messias: “Ele se chama: Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz” (Is 9,5). Para o povo hebreu, a saudação da paz era designada pela palavra Shalom, que significava muito mais do que apenas a ausência de guerra entre os povos, mas sim a saúde e o bem-estar total. Tanto no hebraico “Shalom”, quanto no árabe “Salaam”, essa saudação era utilizada pelo mensageiro que dava a notícia, o anúncio de restauração da paz entre as nações que guerreavam. Essa saudação ainda hoje é por eles utilizada como forma de desejo de paz recíproca e harmonia no lar. Jesus Cristo, numa de suas aparições já ressuscitado, quando seus discípulos se encontravam em casa com as portas trancadas por medo dos judeus, vem e se apresenta no


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to como Senhor (1 Cor 12,3) e somos meio deles saudando-os: “A paz esmergulhados no mistério na Santísteja convosco” (Jo 20, 19.21.26c). Por sima Trindade. Essa harmonia (paz) três vezes Jesus os saúda; duas veinterior deve provocar em nós um zes num mesmo momento e a terceimovimento de externar esse enconra, oito dias depois, agora na presentro como testemunho de amor ao ça de S. Tomé. Sua saudação não só próximo, gerando frutos de fraternios tranquiliza, como procura dizer: dade como já citado anteriormente. a Vida venceu a morte, em mim vós encontrareis a verdadeira paz, aqueA paz que o mundo tanto dela que o mundo não crê nem conheseja e pede, nós só a encontramos ce, a reconciliação aconteceu! Não verdadeiramente em Cristo, autor e tenham medo (Lo Thedal, em hebraiconsumador dela. Não é à toa que co). A eles, Jesus delega esse manSão Paulo, ao descrever a armadudato de serem anunciadores e prora do Cristão, que tanto utilizamos pagadores da paz e da reconciliação, como oração nas batalhas espirituque Ele mesmo conquistou por meio ais, fala que devemos calçar as sande Sua paixão, morte e ressurreição! dálias para anunciar o evangelho da paz. Ao sermos anunciadores de JeJesus destruiu o muro de inimisus Cristo que é nossa paz (cf. Ef zade, fazendo de dois 2,14), somos povos um só e restaurando o homem no seu A paz anunciada por chamados a em todo: corpo, mente e Jesus não é somente a caminhar suas estraespírito. Ele conquistou a vitória sobre o ausência de guerras, mas, das, sendo mundo (cf. Jo 6,33) e a primeira e principalmente, anunciadores e testemorte (cf 1 Tm 1,10). aquela que acontece dentro munhas da Portanto, toda a vida de Jesus foi pau- de nós, como fruto do Espírito Palavra (Vertada no testemunho Santo, quando reconhecemos bo) que se fez carne. da vida em abundânA i n cia (cf. Jo 10,10) e da que temos Deus como Pai. ” da o Papa restauração e reconFrancisco, em sua exortação aposciliação que Ele nos trouxe. Já em tólica Evangelli Gaudium (A Alegria seu nascimento os anjos cantam do Evangelho), sobre o anúncio do jubilosos: “Glória a Deus nas alturas Evangelho no mundo atual, nos diz e paz na terra aos homens objeto de que “a nova evangelização deve insua benevolência” (Lc 2,14). No sercentivar todo o batizado a ser instrumão da montanha, numa das partes mento de pacificação e testemunha mais reveladoras do reino de Deus, credível de uma vida reconciliada”2. as bem-aventuranças, Jesus proclama que bem-aventurados seriam os Para nós que participamos dos pacíficos, porque seriam chamados Grupos de Oração da Renovação Cafilhos de Deus (cf. Mt 5,9). Os verdarismática Católica e buscamos pedir deiros promotores da paz devem se e viver diariamente o batismo no configurar ao filho único de Deus: Espírito Santo, reconhecemos que Jesus Cristo. é mediante a Sua ação que a verdaA paz anunciada por Jesus não deira paz de Cristo acontece dentro é somente a ausência de guerras, de nós. Do transbordamento dessa mas, primeira e principalmente, experiência pentecostal é que poaquela que acontece dentro de nós, demos produzir os frutos do Espírito como fruto do Espírito Santo, quanSanto (cf. Gal 5,22), dentre os quais do reconhecemos que temos Deus se encontram a caridade (amor) e a como Pai (cf. Rm 8,14-17), Jesus Crispaz. Devemos, então, levar a todos

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aqueles que o Senhor for apresentando em nossa caminhada, primeiramente, no nosso ambiente familiar, depois no profissional, e tantos outros, essa paz que transcende todo egoísmo, ódio, rancor, pois ela nasce de corações que transbordam de amor a Deus e que estão cheios do Espírito Santo, contagiando assim todos aqueles que nos cercam (sejam eles quem forem!). O testemunho de vida é um sinal de santidade de uma vida conduzida, guiada e movida pelo Espírito Santo. Os frutos de santidade que vamos produzindo nos fazem amar ao próximo e por ele ter compaixão (=sofrer com). Criar um ambiente da civilização do amor, onde passamos a ser agentes transformadores das realidades que nos cercam, por obra e graça do Espírito Santo. Quando nos encontrarmos em tribulações pessoais e de combate espiritual, peçamos o batismo no Espírito Santo para que Ele nos traga serenidade e mansidão. Quando deixamos o Espírito Santo operar em nós, não só experimentamos o amor, a paz e certeza de que temos um Deus vivo e perto de nossas realidades, como também iremos contagiar as pessoas que estiverem ao nosso redor. Que nossos Grupos de Oração sejam verdadeiros celeiros de bênçãos e graças, provindas de uma profunda e sincera ação do Espírito Santo. Só seremos verdadeiros promotores da paz se formos vasos transbordantes do Espírito Santo e em meio as situações de ódio, rancor e inimizade que formos presenciando, seremos agentes transformadores dessas realidades. Shalom!

1 www.vaticano.va, Mensagem do Santo Padre Francisco para a Celebração do XVLVII Dia Mundial da Paz, 01 de janeiro de 2014: “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”. 2 Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, § 239, apud Propositio 14. Ed. Paulinas

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Especial

janeiro/fevereiro . 2014 Por Erivelton Costa Souza

Coordenador da RCC da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim/ES Grupo de Oração Rio de Amor

onde houver tristeza: que eu leve a alegria Um forte depoimento nos mostra a importância de nossas atitudes quando agimos de acordo com o que o evangelho nos ensina. O testemunho autêntico pode gerar conversões. É o que partilha Erivelton Costa Souza, coordenador da RCC da diocese de Cachoeiro de Itapemirim/ES, em seu testemunho de conversão Estou muito lisonjeado em poder contribuir para esta edição da Revista Renovação com este artigo, mas tenho a plena convicção de que foi Deus quem contribuiu comigo, oportunizando esse meio para que eu me recorde da ação d’Ele em minha vida e ajude aos milhares de irmãos e irmãs que acompanham essa publicação a revitalizarem o seu caminhar.

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graça em sua vida? Eu me lembro!

Talvez, alguns de nós, apesar de o ano estar apenas começando, estejamos tristes, abatidos, cansados, desanimados de levar adiante o projeto de Deus em nosso viver, mas animemo-nos, pois o Senhor mais uma vez se deixa encontrar, toma conosco nossos fardos (cf. Mt 11, 28-30) e faz resplandecer sobre todos sua luz (cf. Is 9, 1).

Eu era totalmente avesso à Igreja, dado, inclusive, a severas críticas à instituição e aos que praticavam a religião, definitivamente não acreditava no modo de vida eclesial. Comecei a ler alguns livros famosos de um renomado autor brasileiro que falavam de bruxos, fiz algumas visitas a igrejas evangélicas, mais por cortesia a amigos do que com a intenção de seguir uma doutrina. Havia em mim uma grande inquietude interior, um questionamento sobre a ordem das coisas, eu não sabia as respostas, aliás, não sabia nem formular as perguntas. Aliado a isso, ou alimentando tudo isso, tinha em mim uma grande tristeza: meu pai bebia muito. Eu não aceitava.

Há 20 anos participo da Renovação Carismática Católica. O cristão católico que sou, o filho, o esposo, o pai, o profissional, enfim, o homem em que me tornei, e que ainda está em construção, devo ao meu encontro pessoal com Jesus Cristo proporcionado por esse Movimento Eclesial. Não há quem se encontre com o Senhor e que permaneça o mesmo ser de antes, nenhum de nós pode ser a mesma pessoa depois que experimentamos o amor de Deus. Você se lembra quando e como se deu essa

Em 1994, meu pai foi transferido no trabalho e foi necessário que nossa família se mudasse para outra cidade. Eu completaria 17 anos. A mudança foi dividida em duas etapas: primeiro foram os móveis e depois as plantas, ferramentas, ou seja, aquela “miudeza” que encheria outro caminhão. Eu fiquei para trás para acompanhar a segunda remessa. No dia seguinte, chegaram, para levar o restante das coisas, o motorista, meu pai e quatro jovens ajudantes. Acomodamos tudo no caminhão e havia ficado para trás, Revista Renovação

também, uma cama grande e foi em cima dela que os jovens e eu viajamos, pois caía uma garoa fininha e nós nos protegíamos com o lençol. Eu não sabia, mas minha vida começaria a mudar. Aqueles quatro jovens que estavam nos ajudando com a mudança eram muito agradáveis, mas dois deles me chamaram a atenção pela alegria especial que apresentavam. Quando já estávamos em viagem, em cima da cama, escondendo-nos do frio e da chuva, eles começaram a falar do grupo de jovens do qual eles participavam, do grupo de música, mas nada daquilo me interessava, o que me impressionava mesmo (até incomodava) era a alegria que deles vinha. Quando cheguei, fiquei muito decepcionado, porque descobri que não iríamos para nossa casa definitiva, teríamos que esperar, pois ela estava em obras. Nos alojamos em uma casa bem pequenininha, úmida por causa das chuvas. Nossos móveis foram guardados em um galpão da instituição em que meu pai trabalhava – foi um choque na minha vaidade. Naquela mesma noite, aqueles dois jovens foram me buscar para nos encontrarmos com os demais do grupo na casa de um deles. Moças, rapazes, a família que nos recebia, todos


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tão alegres e eu não entendia nada do que estava acontecendo ali, mas não fazia diferença porque eu me sentia muito bem. Não é uma alegria que se traduz somente em risos ou gargalhadas, é algo impregnado no olhar, no jeito de falar, no otimismo e leveza de perceber as coisas, no desprendimento de receber o outro. Eles me acolheram sem perguntar nada, sem impor coisa alguma e Jesus me foi apresentado primeiramente pelo testemunho daqueles jovens e eu não pude ser mais a mesma pessoa, minha vida se iluminou. Fiz meu primeiro retiro onde me anunciaram o Querigma, depois fiz o Seminário de Vida no Espírito Santo, a Experiência de Oração, o Aprofundamento de Dons, o Módulo Básico de Formação. Junto com os irmãos, fundamos um Grupo de Oração, do qual ainda hoje participo, tudo porque um grupo de jovens foi luz em minha vida e apresentou-me Jesus com a alegria de suas vidas. A alegria passou a fazer parte da minha rotina: com alegria caminhei todos esses anos; com alegria as perguntas se formularam melhor no meu interior e as respostas foram sendo encontradas; com alegria vi minhas angústias se dissiparem, minha revolta se desfazer; com alegria vi meu pai, alcoólatra, deixar a bebida; com alegria busco ser luz na vida de outras pessoas. “(...) O fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança (...)”. Interessante que, nesse trecho da Carta de São Paulo aos Gálatas (Gl 5, 22-23), ele elenca todos esses elementos como fruto – veja: no singular – do Espírito, ou seja, o fruto é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança tudo junto, não um ou outro item, mas todos. Quando fui impactado com o testemunho daqueles jovens, a alegria deles era fruto do Espírito e trazia embutida em si toda essa graça descrita por São Paulo. Somos convidados – na verdade,

esse convite se refaz sempre e agora urge em nosso coração – a permitirmos que o fruto do Espírito Santo se manifeste em nossas vidas. Como? Sendo verdadeiramente batizados no Espírito Santo. Essa experiência é capaz de tornar nossa vida repleta de sentido, e nós sabemos disso, portanto, é preciso evidenciá-la em nossos Grupos de Oração, vivê-la sinceramente em nossa oração pessoal. A Renovação Carismática Católica foi vocacionada a ser rosto e memória de Pentecostes, seus membros são apóstolos da efusão do Espírito Santo e a gente se pergunta: para quê? Para que se manifestem os carismas extraordinários na vida da Igreja? Também. Mas, eu acredito, para que homens e mulheres vivam a vida no Espírito e construam melhores relações, pois o fruto dessa experiência de Deus é alegria e tudo mais, como nos exortou o apóstolo. E como o mundo está carente de pessoas que vivam e testemunhem cada um desses frutos. Você pode estar se perguntando: eu já fui batizado no Espírito Santo e em todo Grupo de Oração a gente pede essa graça. Já não é o bastante? É preciso mais? A resposta é sim. Precisamos de mais, é possível receber mais. Em março de 2012, tivemos a satisfação de receber em nossa diocese nosso irmão Reinaldo Beserra dos Reis, e pudemos refletir juntos sobre o perigo da banalização do batismo no Espírito Santo, como muitas vezes se vê. Fomos levados a entender que essa experiência do Deus cristão, originalmente católica, pode e deve ser vivida em sua essência sempre, sendo esse o caminho para que o Movimento não perca sua identidade e os seus membros não caiam na tentação de trocar o vital pelo acidental, ou seja, não busquem demasiadamente os carismas se esquecendo de viver no Espírito. Reinaldo dizia, citando Santo Agostinho em uma de suas homilias (74) contidas em seu livro Comentário ao Evangelho de São João, que ninguém pode amar e obedecer a Jesus Revista Renovação

sem o Espírito Santo, por isso o Espírito é prometido e dado a quem não o tem, para que o tenha e possa amar e obedecer, mas também é prometido e dado a quem já o tem, para que possa amar e obedecer de maneira mais abundante. Santo Agostinho fala de quantidade do Espírito – como no caso de Elias e Eliseu em que o profeta pede uma porção dupla do Espírito Santo – então é possível ter mais do Espírito Santo. É doutrina Católica, por isso a Igreja – em oração oficial – ensina ao batizado a rezar e a pedir “vinde Espírito Santo”, vinde mais uma vez e encha o coração dos fiéis. Nos chamou o Senhor para ser sal da terra e luz do mundo (cf. Mt. 5, 13-16). Não é possível viver esse chamado sozinho nem, tão pouco, com nossa própria força. Não basta ser servo, é preciso ser luz (cf. Is. 49, 3.5-6), é preciso anunciar a Boa Nova, apresentar Jesus Cristo aos outros (cf. Mt. 28,19). Por isso, é tão importante não nos afastarmos de Jerusalém para que se cumpra a promessa do Pai (cf. At. 1, 4-8), por isso, é importante que estejamos juntos para que se renove sempre essa promessa e mais do Espírito nos seja dado (At. 4, 23-31): nosso Grupo de Oração é Jerusalém, nosso ponto de encontro, o lugar propício para a manifestação dos carismas, sinais, milagres e prodígios, lugar para receber o batismo no Espírito Santo para que Ele, o Espírito, dê fruto em nós para uma vida nova. “Tendo entrado uma vez por todas no santuário do céu, Jesus Cristo intercede sem cessar por nós como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo” (CIC 667). Sem cessar quer dizer sempre, sempre quer dizer agora, neste instante, então, coragem, peçamos: vinde Espírito Santo e permitamos que a luz de Deus dissipe toda treva, mande embora toda tristeza e nos façamos, pela força desse mesmo Espírito, verdadeiros embaixadores da alegria de Deus.

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Especial

janeiro/fevereiro . 2014 Por Marizete Martins Nunes do Nascimento

Membro da Comissão de Formação da RCCBRASIL Grupo de Oração Vinde e Vede – Goiânia-GO

restaurados pelo amor caminhamos

em unidade

Na caminhada de fé, por vezes, nos deparamos com feridas que nos marcaram no passado. Tais machucaduras são causas de muitos de nossos desencontros com o próximo. Mas, a experiência com o Amor Ágape do Senhor nos cura interiormente, ensina-nos a amar e nos tornarmos promotores da união e da paz

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Há uma carência de amor no coração do homem e da mulher e estes procuram saciá-la com o amor de outras pessoas, que são também carentes e não podem fazê-lo plenamente. O único amor que cura nossa carência interior é o AMOR ÁGAPE, o amor que vem de Deus. Por isso Jesus nos diz no Evangelho (Jo 15, 10-16): Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chameivos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda. A constância no amor depende de se guardar o mandamento de Cristo: “amai-vos uns aos outros, com Eu vos amo”. Jesus amou-nos tão plenamente que doou-nos Sua vida para a remissão de nossos pecados. É este amor que precisamos e é dele que somos caren-

tes, o amor-doação, que independe da resposta do outro; amor gratuito, amor que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (I Cor 13, 7); amor que justifica o outro em suas falhas; amor que ama sem ser amado. Precisamos mergulhar neste amor e deixar Deus curar as feridas de desamor que nos marcaram enquanto procurávamos o verdadeiro amor, a caridade, a doação total. A oração de cura interior, que é deixar Deus caminhar em nossa história, é que irá sarar as machucaduras da alma, do coração e da mente, mediante o derramamento do Espírito Santo, que é o amor do Pai e do Filho no coração do homem. Não tenha medo de deixar Deus curar sua história, é um processo lento, mas restaurador! Quando experimentamos a revelação de nossa natureza pecadora frente ao amor curador de Deus, vemos nosso nada sendo restaurado pela misericórdia divina. Tudo de pecado que vem à luz de nossa mente, em oração, é curado e restaurado pelo próprio DEUS, que é amor. Vagarosamente, vamos sendo transformados em homens e mulheres restaurados, prontos para caminhar em unidade com a nossa família, com os irmãos no Grupo de Oração. A alma, a mente e o coração humanos, quando iluminados pelo amor de Deus através da oração pessoal e comunitária e da adoração, encontramRevista Renovação

se preparados para viver a unidade em quaisquer circunstâncias e localidades, atendendo a oração de Cristo: “Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim. Pai, quero que, onde eu estou, estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória que me concedeste, porque me amaste antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci, e estes sabem que tu me enviaste. Manifestei-lhes o teu nome, e ainda hei de lho manifestar, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles” (Jo 17, 20-26). Só teremos a possibilidade de viver em unidade uns com os outros se tivermos um relacionamento de permanência com Deus e intensificarmos a oração pessoal, comunitária e a adoração. Assim, alcançaremos a unidade com a Trindade Santa, ficaremos plenos da graça divina e estabeleceremos um relacionamento harmônico com o próximo. A partir do momento em que nos sentirmos totalmente amados por Deus e curados em nossas feridas interiores, estaremos preparados para conviver-


Especial

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mos em unidade, pois nosso objetivo será apenas fazer a vontade de Deus e não impor a vontade própria. O conflito se instala quando há imposição de vontade humana contaminada pelos pecados de ter, poder e prazer. O litígio inicia, também, a partir de interesses opostos e dominação de uns sobre os outros. Quando se vive em fraternidade (que é o laço de união entre as pessoas, fundado na paz e no respeito à dignidade humana) e com equidade (que é uma disposição interior de se reconhecer o direito de cada um; é imparcialidade; é a característica de alguém que revela senso de justiça, retidão; correção no modo de agir ou de opinar; lisura, honestidade e integridade) instala-se em nosso meio a concórdia (que é a circunstância em que existe harmonia; em que há entendimento, concordância, conciliação, que contém ou demonstra paz). Ao convivermos indiferentes ao amor de Deus, sem deixá-Lo permear nossos atos e decisões e curar nossas feridas interiores, qualquer discernimento ou reflexão pode ocasionar a discórdia (que ocorre quando não há acordo entre as pessoas; falta de entendimento acompanhado de desavença) que gera a raiva, que fomentada pela mágoa e o ressentimento, culmina no ódio entre os irmãos, tentação do servo. Isto não pode ocorrer entre nós, em nossos Grupos de Oração e em nossas reuniões. Carecemos, então, deixar que as palavras de Paulo aos Romanos ressoem em nossos corações: “Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros. Não relaxeis o vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor. Sede alegre na esperança, paciente na tribulação e perseverante na oração. Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade. Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os praguejeis. Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram. Vivei em boa harmonia uns com os outros. Não vos

deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos. Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: a mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35). Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25, 21s). Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem” (Rom 12, 9-21). Diante da exortação paulina, temos que repensar nossa caminhada na Renovação Carismática Católica rumo à casa do Pai. Que a convivência humana tanto no Grupo de Oração, quanto no mundo, seja de pessoas sensatas que aproveitam cuidadosamente o tempo, pois os dias são maus. A nossa relação humana deve ser firmada na verdade, sem hipocrisias e fingimentos, aborrecer sempre o mal e apegar-se solidamente ao bem, tudo isso impulsionado pelo amor e pela afeição mútua. Necessitamos zelar muito pela honra do outro, tanto no falar, quanto no agir, na presença e na ausência. Devemos vigiar sempre nossa espiritualidade para que, realmente, vivamos dirigidos pelo Espírito Santo, servindo sempre ao Senhor, sendo alegres na esperança, pacientes nos momentos de tribulação e que a oração seja uma constante em nossa vida. São nossas obrigações socorrer cada irmão em suas necessidades e acolhê-lo, se for o caso, em nossa casa com hospitalidade. Carecemos abençoar sempre e nunca amaldiçoar ou praguejar quem quer que seja. Alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram. Buscar sempre uma convivência harmoniosa, sem deixar-se dominar pelo espírito de grandeza, afeiçoandonos com as coisas modestas. Nunca julgar-se sábio frente ao outro. Nunca pagar o mal com o mal, fazer sempre o bem a todos. Buscar a paz em Deus e disseminá-la entre os outros na convivência cotidiana. Nunca se vingar, por Revista Renovação

ser uma atitude anticristã. Amar e servir nossos inimigos são nosso desafio. O mal não pode vencer em nossas vidas e em nossos relacionamentos, o bem precisa triunfar sempre. Vivendo assim, testemunharemos o amor e a união em nossos Grupos de Oração e o ódio e a discórdia desaparecerão do nosso meio eternamente. Deus seja louvado! UM BREVE TESTEMUNHO A minha experiência pessoal com Jesus Cristo ocorreu em setembro de 1978, foi arrebatadora. Porém, eu vinha de uma história de carência, rejeição, autossuficiência, prepotência e, por ser líder nata, logo fui chamada a servir na Renovação Carismática Católica com as minhas inúmeras feridas ainda não curadas. Testemunhamos milagres, prodígios e a unção poderosa do Espírito Santo, mas, nas reuniões de oração ou de núcleo do Grupo de Oração, sempre alguma atitude do irmão batia de frente com minhas fragilidades e feridas e doía, gerando discórdias, divisões, mágoas, ressentimentos e ódio. Eu queria sempre que minha vontade prevalecesse. Foram muitas quedas e soerguimentos, muitas reconciliações e novas brigas, pedidos de perdão e novas raivas e assim prosseguia... Descobri, então, a graça de deixar Deus me curar de dentro para fora. Foram anos de orações de cura interior, repousos espirituais, tempo de profundas adorações e fui sendo curada e restaurada por nosso Deus. Hoje meu intuito na RCC é apenas servir ao Senhor nos meus irmãos, em quaisquer atividades e, principalmente, na oração, pois tenho como exemplos a serem seguidos Nossa Senhora que se entregou totalmente à vontade de Deus, e os santos, especialmente Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face que, no Carmelo, tornou-se, pela sua vida de oração e intimidade com Deus, a padroeira das missões. Não me interessam cargos, ganhar as discussões. Quero ganhar almas para Deus, tanto pregando quanto cozinhando em minha casa para minha família. Quero amar sempre os meus irmãos e, sempre que depender de mim, viver em unidade e em paz com todos.

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Especial

janeiro/fevereiro . 2014 Por Sérgio Zavaris

Coordenador Nacional do Ministério de Fé e Política Grupo de Oração Vida Nova

Ciência e fé: um diálogo que favorece a paz O Evangelho nos apresenta Jesus: caminho, verdade e vida. Verdade esta que nos convoca a caminhos coerentes que transpareçam os valores cristãos que professamos. Diante disso, somos chamados a viver nossas relações em busca da fraternidade e da paz

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Ao iniciar o ano de 2014, em sua primeira mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco envia para o mundo uma mensagem de alegria, de esperança e de paz, sob a égide da fraternidade – “... a fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura”1 . Na esteira dessa mesma inspiração, vale lembrar que 2013, o ano dedicado à fé, foi sem dúvida um grande marco para a reflexão do cerne fundamental de nossa vida como Igreja, especialmente no âmbito laical. Que alegria perceber que o próprio Deus, pela boca do sucessor de Pedro (na época Bento XVI), nos vem ao encontro para exaltar a importância do dom da fé. Neste percurso, vivido dia a dia nas reflexões de cada um, cumpre-nos fazer memória de quantas vezes fomos e somos desafiados a ter fé. Fé que ultrapassa nosso racionalismo e vence vários obstáculos, até a restrita noção humana de es-

paço e de tempo. Fé que não se conforma a qualquer critério meritório ou às limitadas barreiras da ciência. Aliás, em sua primeira exortação apostólica, Evangelii Gaudium, o Papa Francisco nos ensina que “... A fé não tem medo da razão; pelo contrário, procura-a e tem confiança nela, porque ‘a luz da razão e a luz da fé provêm ambas de Deus’, e não se podem contradizer entre si”2. E assim propõe que “... o diálogo entre ciência e fé também faz parte da ação evangelizadora que favorece a paz” 3. Fé que como Paulo expõe em Hebreus 11, 1ss: “... é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê”. É a fé na promessa de Cristo Jesus, é a Fé na ressurreição dos mortos, é a Fé na vida que há por vir. E vida que há por vir, mas numa trajetória contínua da vida que se vive hoje – não uma abstração mental de um mundo que reproduz nossas percepções materiais, apenas transportando os atuais conceitos para o período após a morte –. Todavia, é a fé revelada a partir de Cristo Jesus, na certeza da experiência do “face a face”, cuja distância da Luz Eterna é estabelecida com base nas decisões tomadas aqui e agora, decerto sempre dependentes da misericórdia de Deus. Revista Renovação

Portanto, não é pequena a importância do que se faz hoje em cada decisão que se toma na vida presente. Não é banal a diferença entre o certo e o errado! Não é mera retórica a Doutrina Social da Igreja, nem são ilusões os dogmas identificados pela Santa Mãe Igreja. Esses direcionamentos são os tijolos da construção da morada eterna e cujo cimento é a Fé que nos permitirá erguer o homem e a mulher dignos de serem chamados, mais do que filhos, de amigos de Deus. A síntese exata que deve nos orientar para sabermos como proceder, nos foi dada pelo próprio Jesus: “... Tende fé em Deus. Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: Levanta-te e lança-te ao mar, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre. Por isso vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado. E quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que também vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os vossos pecados” (Mc. 11, 22-25). Assim, percebemos que se, por um lado, em Deus, pode-se ordenar a uma montanha para que se lance


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te, se hoje somos chamados a viao mar, a partir da fé e não da dúver fraternalmente e trabalharmos vida, a partir da esperança e não pela paz, somos também chamado desespero; por outro é necessádos a impregnar nossas relações rio estar em oração, crer que já se com os valores dos quais falamos. recebeu o milagre e reconciliar-se com os irmãos. Veja que Jesus não Aqui cabe exaltar relevante predeixa dúvidas quanto à importância ciosidade: a importância do trato do aspecto humano referido pelo que as pessoas têm com a verdade. Papa Francisco: “... a fraternidade Verdade como bem maior. Verdade é uma dimensão essencial do hocomo personificação a ser perseguimem, sendo ele um no cotidiano Fé que ultrapassa nosso da ser relacional” 4. Ou de cada um. seja, a fé só habita racionalismo e vence vá- Isso pode até verdadeiramente no rios obstáculos, até a restrita parecer o óbvio, homem, quando este no entanto, por se dedica ao relacio- noção humana de espaço e de mais singular namento humano, tempo. Fé que não se confor- que seja, ainda posto que tal prática demanda ateno faz crescer como ma a qualquer critério meri- ção, esforço e pessoa humana e o tório ou às limitadas barreiras dedicação para aproxima, por fim, do ser alcançado. A da ciência.” próprio Deus. célebre pergunta feita por Pilatos a Jesus no moPorquanto, é claro que viver mento de Seu julgamento tornou-se isolado definha o exercício das virtuemblemática para a humanidade e des humanas, também é sabido que vem ecoando através dos tempos, a convivência entre nós traz consigo especialmente nos tribunais: “Que é grandes desafios. Nesse sentido, em a verdade?” (Jo 18,38). Com isso, se um mundo permeado pelo individuquer apontar o quanto a prática da alismo, torna-se urgente gritar pelo justiça depende do encontro com a resgate dos valores cristãos que nos verdade. E quanto a nossa relação são mais caros. Como disse o Papa com a verdade é resultado da conveFrancisco em sua primeira mensaniência. gem para o Dia Mundial da Paz: “... As inúmeras situações de desigualNo dizer de Mittermayer 6, “... a dade, pobreza e injustiça indicam verdade é a concordância entre um não só uma profunda carência de fato ocorrido na realidade sensível fraternidade, mas também a ausêne a ideia que fazemos dele”. Ora, se cia duma cultura de solidariedade. esta depende da realidade sentida, As novas ideologias, caracterizadas não exigirá a realidade que existe por generalizado individualismo, por si. A verdade passa a ser, então, o egocentrismo e consumismo materesultado da visão que a pessoa tem rialista, debilitam os laços sociais, a partir de um determinado ponto alimentando aquela mentalidade do de vista – corroborando Nietzsche – descartável que induz ao desprezo que, por sua vez, representa tão soe abandono dos mais fracos, daquemente a vista de um ponto. les que são considerados inúteis”5 . Contudo, sabemos que “... o fruOra, se o pilar de nossas difito da luz é bondade, justiça e verdaculdades temporais está centrade” (Ef. 5, 9). E que Deus onipotente do nas relações humanas, talvez e onipresente, que vê todas as coisas nos falte perceber a necessidade e realidades, também contém a verda inclusão permanente em nosdade em si mesmo. Por isso, Jesus sas relações cotidianas dos valores nos disse: “conhecereis a verdade que professamos. Por conseguine a verdade vos livrará” (Jo. 8, 32),

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para que se cumpra Sua determinação: “Santifica-os pela verdade. A tua palavra é a verdade” (Jo. 17, 17). É nesse sentido que, reconhecendo as vicissitudes do mundo, Jesus declarou: “Mas eu, porque vos digo a verdade, não me credes” (Jo 8, 45). Voltando ao princípio de nossa conversa, em Deus e com fé, é possível superar os desafios contrários à verdade – frutos da mentira, que quando plantada no coração humano, mesmo que pequena, como um grão de semente, cresce em egoísmo, soberba, inveja, maquinações e estratégias para satisfazer as inspirações provenientes do inimigo de Deus – “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (Jo 8, 44). Em vista de todas essas coisas, ousamos apontar Provérbios 23, 23: “Adquire a verdade e não a vendas, adquire sabedoria, instruções e inteligência”, pois conhecer a verdade é conhecer o próprio Cristo e seguir os seus ensinamentos. Que nós possamos perseguir insistentemente a verdade a cada minuto de nossas vidas, como um bem precioso, um tesouro valioso para ser cuidado na terra e ser entregue no Céu a Deus como presente de agradecimento por nossa Salvação. 1 FRANCISCO, Mensagem do Santo Padre Francisco para a celebração do XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ, n. 1 p. 1. 2 FRANCISCO, Carta enc. EVANGELII GAUDIUM, n. 242, p. 181-182. 3 Idem 4 FRANCISCO, Mensagem do Santo Padre Francisco para a celebração do XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ, n. 8 p. 6. 5 Idem 6 ARENHART, S. Cruz. A verdade e a prova no processo civil. Disponível em: <http:// www.academia.edu/214442/A_VERDADE_E_A_PROVA_NO_PROCESSO_CIVIL>. Acesso em: 10 jan. 2014.

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Especial

janeiro/fevereiro . 2014 Por Padre João Paulo Veloso

Administrador paroquial de Santa Teresa, Palmas/TO Coordenador Nacional do Ministério Cristo Sacerdote

Cristãos,conservem o vínculo da Paz

na Internet!

O Papa Bento XVI fez o convite aos cristãos para utilizarem a internet como meio de propagação do Evangelho. No entanto, muitos dos debates que acontecem se demonstram um contratestemunho à fé católica. É preciso atenção, pois até mesmo no ambiente virtual “somos chamados a um cuidadoso discernimento”

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Imagine você participando de uma ótima pregação, em um congresso da RCC, proferida por um bispo trajando túnica e estola. Você foi profundamente tocado por aquelas palavras e seu ardor missionário cresceu, juntamente com novos projetos e sonhos. No entanto, quando você volta para casa e entra na Internet, qual a surpresa ao se deparar com uma foto daquele momento com a seguinte legenda: “Falso bispo zomba da Igreja Católica ao celebrar missa sem casula”. Infelizmente, o fato narrado realmente aconteceu. Em 2010, fotos do Congresso Nacional da RCC foram retiradas de seu contexto, interpretadas livremente por um grupo ultradireitista “católico” e lançadas na internet, como essa (o bispo em questão não estava celebrando a Missa). As fotos com suas legendas deturpadas tiveram certa repercussão na época (tempo dos blogs e do Orkut), mas o fenômeno da “guerra civil religiosa” se agravou com a extrema popularização do Facebook. Por todo lado se observam grupos “católicos” declaradamente inimigos atacando-se na rede social. Cada um pensa a Igreja sob um ponto de vista e se obstina nessa visão, rejeitando qualquer pluralidade. Se já não fossem suficientes as frequentes zombarias de pessoas que odeiam o cristianismo; a indiferença daqueles que vivem como se Deus fosse apenas uma ideia; e o abuso doutrinal de certas correntes protestantes, ainda temos que lidar com divisões internas dentro do próprio catolicismo! As diversas bandeiras “católicas”

levantadas na Internet muito lembram os coríntios, severamente corrigidos por São Paulo há dois mil anos: “Quanto a mim, irmãos, não pude falar a vocês como a homens maduros na fé, mas apenas a pessoas fracas [...]. De fato, se entre vocês há invejas e brigas, não será pelo fato de serem guiados por instintos egoístas e por se comportarem como qualquer um? Quando alguém declara: ‘Eu sou de Paulo’, e outro diz: ‘Eu sou de Apolo’, não estarão vocês se comportando como qualquer um?” (1Cor 3,1-4). O correto uso das mídias sociais A Igreja entende que as redes sociais não são um apêndice da vida, mas são parte integrante do cotidiano de uma pessoa, assim como o trabalho e a família. O papa emérito Bento XVI, na mensagem para o 47º Dia Mundial das Comunicações, em 2013, afirmou que “estes espaços, quando bem e equilibradamente valorizados, contribuem para favorecer formas de diálogo e debate [...]. As pessoas que nelas participam devem esforçar-se por serem autênticas, porque nestes espaços não se partilham apenas ideias e informações, mas em última instância a pessoa comunica-se a si mesma” (§ 2). O mandamento de Jesus “amaivos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12) foi levado extremamente a sério pelos primeiros cristãos, ao ponto dos pagãos exclamarem “Vede como eles se amam!”, segundo o relato de Tertuliano (Apologético 39,7). As contendas encontradas na Internet, hoje, são um verdadeiro escândalo e Revista Renovação

contratestemunho para a nossa fé. Pelo exposto, não podemos pensar que as brigas internas no ambiente virtual não irão denegrir a imagem da Igreja no ambiente físico. Os que não são católicos iriam se sentir atraídos a aderir à nossa religião ao verem que, entre nós, há discussões ácidas e de baixo calão? Cada expressão da Igreja deve se preocupar não em atacar o carisma do próximo, mas em evangelizar aqueles que ainda não conhecem a Cristo! Nessa mesma Mensagem, Bento XVI claramente indica que, muitas vezes, a mensagem do evangelho é mal apresentada (§ 4). No entanto, segundo o papa emérito, a solução para isso não é usar o sensacionalismo, pois “mesmo no ambiente digital, onde é fácil que se ergam vozes de tons demasiado acesos e conflituosos [...] somos chamados a um cuidadoso discernimento” (§ 08). Ainda, o pontífice esclarece que a evangelização através das redes sociais nem sempre precisa ser explícita. Ela acontece, principalmente, através dos conteúdos cotidianos produzidos pelos usuários. Esses conteúdos revelam a índole e a opção fundamental pelo Evangelho de cada um (§ 07). Em outras palavras, a verdadeira evangelização acontece através de cada “retweet”, “curtir” ou “compartilhar”, e também através da forma como o usuário se apresenta nas redes. Por tudo isso, conservemos a unidade do Espírito, pelo vínculo da paz, também na Internet!


Projetos Missão

janeiro/fevereiro . 2014

“A missão mudou totalmente minha vida”: depoimentos de marajoaras sobre a presença da RCC na Ilha

Há quase seis anos a Missão Marajó da RCC busca levar novo ânimo do Espírito às terras marajoaras. A Cultura de Pentecostes é semeada em comunidades afastadas e esquecidas da região amazônica. Por meio de ações evangelizadoras e de promoção social, frequentemente, a revista Renovação tras notícias atualizadas sobre esses trabalhos, e nessa edição publicamos uma matéria ainda mais especial: a missão sobre o olhar dos marajoaras. Uma das atividades é a Oficina de Arte que ensina adolescentes e mulheres a fazerem peças artesanais. Assim, as participantes têm a oportunidade de ajudar na melhoria da renda familiar e ainda encontram nas oficinas um local propício para o cultivo da vivência fraterna. É o que conta Marcia Freitas que, há um ano e meio, participa das ações: “Minhas filhas participavam do Anjo da Guarda e passei a ajudar como monitora. Hoje também ajudo no sopão e trabalho na Oficina de Arte. Eu sou uma mãe jovem, não tenho marido, sou apoiada somente pelo meu pai, por isso o trabalho está sendo bom pra mim, a vinda dos missionários foi muito boa. Encontrei neles apoio, amigos e aprendi muito. A minha vida mudou bastante depois da Missão.” Raíze Baia Magalhães também partilha sobre a mudança em sua vida ao conhecer a Missão Marajó: “Ao participar dos projetos da Missão, somos transformados, pois as atividades não apenas trazem conhecimento, mas também trabalham com a nos-

sa espiritualidade. Conheci a Missão por meio do Grupo de Oração Pão da Vida, que atualmente coordeno. Falar de tudo isso como marajoara é uma alegria muito grande, pois somos esquecidos muitas vezes. Mas, com a Missão, mudou. Fico muito feliz.” Quando os missionários da RCC chegaram ao Marajó, tiveram certa dificuldade em estruturar um Grupo de Oração, pois no que lá existia não havia o exercício dos carismas, nem pregação, bem diferente de como nossos Grupos se configuram. Porém, depois de alguns anos, a Missão colhe frutos deste trabalho feito com muita oração e zelo. “Conheci a Missão Marajó por meio do Grupo de Oração Jovem Pão da Vida. É um Grupo cheio do Espírito Santo. Antes eu não ia à Igreja, hoje participo do Anjo da Guarda, da Oficina de Arte, sou coroinha e faço parte do Ministério de Intercessão do GO. Isso tem sido importante, me sinto renovada, cheia do Espírito Santo; minha vida mudou.” (Adrieli Amaral, 15 anos). Joelma ainda era uma criança quando conheceu a RCC: “Comecei a acompanhar a Missão Marajó com sete anos, no Projeto Anjo da Guarda. Hoje, com 14, faço parte da Oficina de Arte e sou do Ministério de Música do GO Pão da Vida. Antes eu não me sentia reconhecida, mas agora me sinto outra pessoa, muitas maravilhas foram realizadas em mim. Sei que Deus sempre prevê alguma coisa pra gente e a Missão Marajó mudou totalmente a minha vida.” Revista Renovação

Os trabalhos desenvolvidos na Missão não somente alcançam as crianças atendidas pelo Anjo da Guarda e as mulheres nas Oficinas de Arte, mas tocam famílias inteiras. É o que testemunha Vanusa Paulino, 16 anos, que começou no Projeto com apenas 11 anos: “Foram feitas maravilhas neste lugar através da Missão Marajó. Toda minha família não frequentava a Igreja, mas hoje eles têm um contato maior com Deus. Eu também participo do Grupo de Oração Jovem Pão da Vida, que foi outra bênção para este lugar. Transformou a vida de muitos jovens que não sabiam nem sequer o que era a Igreja! Aqui aprendi a conviver com as pessoas, ter amigos de verdade. A Missão mudou totalmente a minha vida, sou muito feliz!” Janete também partilha sobre a Rádio Santana, outra atividade da Missão: “Como estamos no interior, muitas vezes não temos como chegar aos encontros, missa aqui é raro. Mas, agora, é só ligar o rádio que podemos ouvir a Palavra de Deus. Se hoje eu estou de pé, é porque encontro forças Nele. Eu agradeço à Renovação Carismática Católica, porque tem sido bênção em minha vida e na de tantas outras pessoas.” A transformação da vida de nossos irmãos marajoaras é o principal objetivo da Missão que já se cumpre nas ações desenvolvidas. Conheça mais sobre o projeto de Missão da RCC. Acesse: www.rccbrasil.org.br

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Projetos Missão

janeiro/fevereiro . 2014

Missão Uganda te convida a ser um Kareebi

Lágrimas de emoção e sorrisos que estampavam uma nova alegria do coração. Assim foi a reação de crianças ugandenses ao saberem da oportunidade de irem à escola. Por meio de seus projetos, a Missão Uganda procura ser instrumento de justiça e paz

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Outubro de 2012, dois corações estavam cheios de expectativas ao chegarem em solo africano. O “Sim” a Deus, o envio a terras distantes, a chegada ao novo continente, a adaptação com à nova cultura, a prática do inglês, a busca pelo discernimento de onde desenvolver a missão... Esses foram os primeiros desafios que levaram nossas missionárias a vivenciarem momentos de grande intimidade com o Senhor em suas orações. Assim iniciou a caminhada de Rita de Cássia e Fabiany Silva, missionárias da Renovação Carismática Católica do Brasil, que ousaram a dar mais um passo e responder ao chamado que o Senhor lhes fazia. Sair de si mesmo e encontrarse com o próximo fez do coração de nossas missionárias um verdadeiro celeiro de amor que continua manifestando os desejos do coração de Deus por meio de suas atividades e testemunhos em terras africanas. Ao visitarem as famílias ugandenses, Rita e Fabiany levavam a palavra de Deus e percebiam o clamor do Senhor manifestado por meio dos olhares inocentes das crianças daquela região. Muitas delas precisam trabalhar, várias são órfãs, outras abandonadas pelos pais e criadas por parentes próximos, além de terem que conviver com o vício do alcoolismo dentro de casa. Após visita a 50 casas, foi constatado que 80% das crianças nunca foram à escola ou ingressaram por um curto período e precisaram parar por falta de condições financeiras.

“Ver com nossos próprios olhos a situação dessas famílias, ouvir sua história de vida, rezar com elas; a cada formulário que íamos preenchendo, o nosso coração se enchia de compaixão. A cada casa que entrávamos e víamos as condições em que viviam, afirmávamos entre nós: “estamos no lugar certo”, partilha Rita. “Inesquecível experiência de amar e deixar-se ser amado. Poderia então dizer que temos a bênção de experimentar o ‘bem das chagas’. Chagas abertas, expostas, e que precisamos tocá-Las. Pois, assim como diz papa Francisco: ‘Precisamos vencer o medo de sujarmos as mãos para ajudar os necessitados’”, ressalta Fabiany. Olhando para essa realidade, Rita e Fabiany entenderam a grande necessidade de se trabalhar ainda mais com a educação daqueles pequeninos. Diante disso, nasceu o Projeto Kareebi.

Projeto Kareebi Lançado em dezembro de 2013, durante o período de Natal, o Projeto Kareebi tem o objetivo de proporcionar a garantia de estudos de uma Revista Renovação

criança durante um ano, por apenas R$100,00 (valor anual). A palavra Kareebi vem da língua local africana “Runyancole” que significa “aquele que é padrinho ou madrinha”. Por isso, o projeto consiste no apadrinhamento de crianças carentes da região de Mwizi, para que elas possam ter um ano inteiro de estudos e, assim, garantirem o direito de educação e um futuro melhor. Além de escola, o projeto proporciona às crianças carentes, atendidas pela Casa de Missão, apoio afetivo, auxílio material e acesso a serviços essenciais. Ao se inscreverem, os padrinhos recebem a foto de seus novos afilhados, conhecem seu nome, bem como outros dados importantes, e, por meio da internet, podem enviar mensagens às crianças. Para se cadastrar e tornar-se padrinho de uma criança ugandense, basta acessar o endereço: www. rccbrasileventos.org.br/campanhas/ kareebi e fazer o seu cadastro. Este é um projeto nascido do coração de nossas missionárias que testemunham diariamente as necessidades dos irmãos africanos e por isso, compartilham o sonho de mudar a triste realidade de muitas crianças, com a colaboração dos padrinhos brasileiros. Homens e mulheres como você, que, mesmo distantes, podem ajudar a proporcionar uma vida mais digna e uma perspectiva de um futuro diferente. www.blog.rccbrasil.org.br/uganda


Sugestãdo deleitura leitura Sugestão de

j a n e i r o / f e v e r e i r o . . 22001144 Apresentação por Pe. Nilso Motta, κένωσις Grupo de oração Kenosis Diocese de Osasco-SP

Livro – Conservar a unidade pelo vínculo da Paz A escuta do Espírito, que move a vida da Igreja faz com que identiquemos as necessidades mais urgentes do nosso tempo para que o anúncio do Evangelho seja feito de forma eficaz, para que produza frutos e frutos que permaneçam. “Conservar a unidade do Espirito pelo vínculo da paz” (Ef 4,3), essa é a moção do Espírito para a RCCBRASIL nesse tempo intenso de anúncio do Evangelho da alegria. A unidade e o desejo do coração de Jesus, e dom de Pentecostes, cada um dos membros da RCC é chamado a viver com espírito de prontidão e docilidade essa inspiração. “Diante de um mundo dividido é necessário proclamar que Deus é comunhão, Pai, Filho e Espírito Santo, unidade na distinção, o qual chama todos os homens a participarem da mesma comunhão trinitária. É necessário proclamar que esta comunhão e o esplêndido projeto de Deus Pai; que Jesus Cristo feito homem é o centro desta mesma comunhão, e que o Espírito Santo age constantemente para criar a comunhão e reconstituí-la quando se rompe. E necessário proclamar que a Igreja é sinal e instrumento de comunhão querido por Deus, iniciada no tempo e destinada à perfeição na plenitude do Reino. A Igreja é sinal de comunhão porque seus membros, como os ramos participam da mesma vida de Cristo, a verdadeira videira (cf. Jo 15,5). Com efeito, mediante a comunhão com Cristo, Cabeça do Corpo místico, entramos em viva comunhão com todos os crentes. Essa comunhão, existente na Igreja e essencial à sua natureza, deve manifestar-se por sinais concretos”.1 O relacionamento de amor perfeito que há na Santíssima trindade faz florescer na Igreja uma espiritualidade, que é a espiritualidade de comunhão. Comunhão esta, que brotando do coração da Trindade se estende para todos os âmbitos da Igreja, passando pela hierarquia, pelo laicato, fazendo com que toda a

Igreja se identifique e viva do amor que emana da unidade entre as três pessoas divinas. Da relação intrínseca e essencialmente amorosa que há entre as pessoas da Trindade, modelo para uma vida de comunhão eclesial, nasce uma espiritualidade de comunhão que nada mais é do que reflexo da ação trinitária no seio da Igreja. E exatamente a abertura do coração do homem as moções do Espírito Santo que possibilita a vivência de uma espiritualidade de comunhão que se manifesta de forma concreta e não simplesmente por discursos vagos, é o próprio Espírito quem suscita na Igreja a necessidade da comunhão. “É o mesmo Espírito que age em tudo e em todos” (cf. 1Cor 12,4-6), portanto, o caminho a ser percorrido para a concretização de uma espiritualidade de comunhão para conservar a unidade deve ser sustentado essencialmente pela ação da graça de Deus em primeiro lugar, mas que requer um esforço virtuoso da parte dos fieis que compõem a Igreja. Como nos recorda o papa Joao Paulo II, “é necessário fazer da Igreja uma escola de comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fieis ao desígnio de Deus e corresponder as expectativas mais profundas do mundo”2. É necessário então, imbuídos de espírito evangélico e impulsionados pela ação do Espírito Santo que capacita a Igreja para sua missão no mundo, compreender o significado dessa espiritualidade de comunhão, bem como corajosamente colocá-la em prática. Espiritualidade da comunhão significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor. Espiritualidade da comunhão significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é, como ‘um que faz parte de mim’, para saber partilhar as suas alegrias e os seus Revista Renovação

sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade. Espiritualidade da comunhão e ainda a capacidade de ver antes de mais nada o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus: um ‘dom para mim’, como o é para o irmão que diretamente o recebeu. Por fim, espiritualidade da comunhão é saber ‘criar espaço’ para o irmão, levando ‘os fardos uns dos outros’ (Gl 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes. Não haja ilusões! Sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão. Revelar-se-iam mais como estruturas sem alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e crescimento3. Para que haja de fato uma espiritualidade de comunhão, uma verdadeira unidade, deve haver portanto uma mútua colaboração entre todos aqueles que compõem a Igreja, numa palavra, um esforço incomensurável da parte de todos sem prescindir é claro, da ação da graça de Deus. Para viver com intensidade esse tempo colocamos em suas mãos a presente obra que nos ajudará a meditar sobre alguns aspectos da unidade, bem como nos recordar da moção profética para a vida da RCCBRASIL durante o ano de 2014. Animados pelo fogo de Pentecostes sejamos “solícitos em conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”. JOAO PAULO II, SS. Exortacao Apostolica Ecclesia in America. 33. JOAO PAULO II, SS. Carta Apostolica Novo Millenio Ineunte. 43 3 Ibidem, 43 1 2

Para adquirir o livro, basta entrar em contato com a Editora RCCBRASILatravésdosite: www.editorarccbrasil. com.br ou pelo telefone: (12) 3151.4155

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Notícias

janeiro/fevereiro . 2014

ENF 2014: compromisso renovado com a unidade O Encontro Nacional de Formação proporcionou importantes momentos para a Renovação Carismática Católica do Brasil para o início de 2014. De 22 a 26 de janeiro, cerca de 8.500 carismáticos de todo o país se reuniram no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida no Santuário Nacional de Aparecida. O ENF vem crescendo a cada edição e se firmando como um marco para os trabalhos do Movimento no início de cada novo ano. “Este fato mostra que o interesse dos carismáticos pela formação tem aumentado e isso é um importante ganho para a RCC. A presença da liderança, coordenadores, servos, irá se refletir em todas as demais instâncias: nos estados, dioceses e, principalmente, nos Grupos de Oração”, afirma Jorge Corrêa do setor de eventos da RCCBRASIL.

Os carismáticos de várias partes do país já têm testemunhado muitas graças depois da participação no Encontro. São histórias de reavivamento, perdão e comunhão. Por isso, estamos certos de que, depois de receberem diversas formações e experimentarem fortes momentos de oração, os participantes voltaram para suas dioceses e Grupos de Oração com um firme propósito: buscar a unidade.

Fique por dentro do ENF 2014 A cobertura midiática do ENF 2014 foi feita instantaneamente por vários meios de comunicação. Quem

não pôde ir à Aparecida, sentiu-se dentro do Centro de Eventos assistindo à transmissão ao vivo via Youtube, no canal da WebTV RCCBRASIL. Também foi possível acompanhar diversos momentos do encontro pelo Facebook, Twitter, e pelo sistema Minuto a Minuto. Já os resumos das pregações, homilias e direcionamentos puderam ser acompanhados pelo Portal RCCBRASIL por meio de matérias e galeria de fotos. E você poderá ficar por dentro ou relembrar esses importantes momentos na próxima edição da Revista Renovação que trará um especial sobre o ENF 2014. Desta forma, quem não esteve presente em Aparecida, poderá encontrar com detalhes o que aconteceu de marcante no encontro e os irmãos que participaram poderão ter mais um material com os direcionamentos e moções dadas a toda a liderança carismática do país. www.rccbrasil.org.br/enf

Uma partilha sobre a Sede Nacional

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Um local de conversão, de batismo no Espírito Santo, um ponto de referência da Cultura de Pentecostes de onde irradiará uma nova luz para o Brasil e o mundo. Quando olhamos para a Sede Nacional da RCC do Brasil, pela fé, vislumbramos a realização das promessas feitas por Deus a este projeto. Esperança que não se abala frente aos desafios encontrados ao longo do caminho.

Em dezembro de 2013, o Escritório Administrativo do Movimento se deparou com um obstáculo: foi surpreendido pela notícia de que a justiça revisava algumas questões legais quanto à doação do terreno localizado em Canas/SP. Foi, então, necessário paralisar as obras da nossa Sede. Sem perder o ânimo, o Escritório Nacional tem trabalhado junto a advogados, membros do Conselho Nacional da RCC do Brasil, para recorrer contra a liminar, a fim de que a construção possa ter continuidade. Os trâmites judiciais já estão sendo Revista Renovação

providenciados com a tranquilidade de se saber que todos os procedimentos de doação, da parte do Movimento, sempre foram feitos com total transparência, sendo, cada passo da construção amplamente divulgado aos membros da RCC. Diante desta situação, convidamos você, que também ajuda a construir a Sede, profeticamente chamada de “Nossa Casa, Nossa Bênção”, a se unir em oração. Vamos interceder para que, o quanto antes, alcancemos a vitória que já é certa para os que confiam no Senhor.


Notícias

janeiro/fevereiro . 2014

Grande Encontro Mundial da Família Renovação Carismática Católica em Uganda Confira a programação:

Clamar um Novo Pentecostes para o mundo todo em meio à biodiversidade africana. O Grande Encontro da Família Renovação Carismática Católica é o convite aos carismáticos de todo o mundo feito pela RCC Uganda, junto ao ICCRS (Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica) e à Conferência Episcopal de Uganda. Com o tema “Ficaram todos cheios do Espírito Santo” (Atos 2,4), o evento faz parte das atividades de preparação para o Jubileu de Ouro da RCC a ser celebrado em 2017.

1ª Semana: Conferência, Peregrinação e Turismo 30/06 a 06/07/2014 – Kampala, capital de Uganda. A Conferência de Líderes tem início em 30/06 e encerra com uma festa em 04/07. Em 05/07, peregrinação ao Santuário dos Mártires, em Namugongo, local do martírio de São Carlos Lwanga e seus companheiros. A programação ainda conta com turismo em um parque ecológico, o qual possibilita a admiração à beleza do país, fonte do poderoso Rio Nilo. Também haverá momentos de atividade paralela aos participantes da semana seguinte, destinada à missão.

2ª Semana: Missões e Visitas De 07/07 a 13/07/2014 – Mbarara, cidade da comunidade Yesu Ahuriire, local da Missão Uganda RCCBRASIL. Durante estes dias, os missionários partilharão a palavra de Deus com pessoas carentes, farão visitas a orfanatos, um mini tour ao Parque Nacional Rainha Elizabeth e ainda um rali espiritual. A participação nas atividades desta segunda semana é limitada. Venha também viver este momento de Novo Pentecostes! Inscreva-se e saiba mais no Portal RCCBRASIL: www.rccbrasil.org.br ou o site oficial do encontro www.ccruganda. org

IEAD: Um mundo de conquistas e novos desafios

Alimentar a vida no Espírito, conhecendo as razões da nossa fé! Esse foi o princípio que norteou a oferta dos cursos do IEAD realizados pelos mais de dois mil carismáticos, que buscaram formação no ano de 2013. História da Igreja e RCC, Eclesiologia, Espiritualidade, Pneumatologia, estudos Bíblicos, Série Formação de Pregadores, Ministérios no Movimento e Evangelização, são áreas dos cursos que oferecem todo dinamismo e

interatividade de uma plataforma à distância, por meio de videoaulas, fórum de discussão, material didático on-line, avaliação e monitoramento. Dentre as vitórias conquistadas pelo Instituto em 2013, estão a criação do novo site do IEAD e da Revista Veni Creator, o preparo da plataforma internacional, a participação com stands no ENF e JMJ e a parceria com o CONCCLAT (Conselho Carismático Latino Americano) que expandiu a evangelização e a formação do Movimento à América Latina. As novidades continuam em 2014 Com uma reflexão sobre o papel do jovem na construção do moRevista Renovação

delo de sociedade proposto por João Paulo II, estão previstos para março os cursos Sentinelas da Manhã I e II. Ministrados pelo coordenador nacional do Ministério Jovem, Fernando Gomes, os cursos ampliam o conteúdo das obras escritas por ele, ao apresentar outros livros e documentos para leitura, além de filmes para reflexão e debate. Por isso, o momento é de expectativa pelos novos cursos, para que eles possibilitem a concentração dos jovens sentinelas de todo país no mesmo ambiente online. Enquanto isso, mantenha-se informado e conheça com detalhes os nossos atuais cursos acessando www.ieadrccbrasil. com.br

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Espiritualidade A vida no Espírito

janeiro/fevereiro . 2014 Por Marcelo Marangon

Coordenador Nacional do Ministério de Oração por Cura e Libertação Grupo de Oração Kénosis

renunciar para ser livre Perder ao invés de ganhar, certamente, parece ilógico na sociedade em que vivemos. No entanto, o seguimento autêntico a Jesus Cristo exige desapego e renúncia. Na lógica cristã aquele que perde ganha

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Certa vez um sacerdote de idade avançada, já experimentado na vida e na fé cristã, enquanto subia as escadas de um ônibus, perdeu um de seus sapatos que enroscou nos degraus e caiu para o lado de fora. A porta se fechou repentinamente e o ônibus começou a mover-se. Todos os passageiros ficaram olhando para ver a sua reação enquanto ele, tranquilamente, retirou o sapato que restara e atirou-o pela janela. Um jovem passageiro, que observava a cena, perguntou: “Por que o senhor fez isso? Por que jogou para fora o outro pé de sapato?” Ao que o sacerdote tranquilamente respondeu: “Porque sou um homem livre! Além do mais, tanto faz perder um ou dois, eles não me são úteis separados! É muito provável que algum necessitado os encontre; e só será útil a ele se encontrar os dois”. O exemplo daquele sacerdote ensinou ao jovem passageiro que a verdadeira alegria está na liberdade. Um coração livre encontra na perda a possibilidade de ganhar. Faz-se urgente uma conversão cultural. Será que precisamos mesmo “levar vantagem” em tudo? Aquele sacerdote poderia ter pedido para o motorista parar o ônibus e descido para pegar de volta o seu sapato. Com isso, no entanto, atrasaria a viagem de todos. Preferiu perder para ganhar. Ele não quis perder a oportunidade de realizar um “bem” a quem encontrasse o par de sapatos. Ele perdeu, fez o bem e saiu ganhando! É preciso perder para ganhar! Perder e ganhar são dois verbos que fazem parte de nosso vocabulário. Podem sugerir tristeza ou alegria. Nem sempre perder é sinônimo de tristeza, como ganhar não implica em alegria. No cristianismo, essa lógica inclusive pode vir invertida... Jesus morreu na cruz. A vitória obtida pela morte não é causa de alegria. Ao perder a vida e entregá-la na cruz, Jesus proporcionou alegria à humanidade inteira.

Em Filipenses 3, 8-9 está escrito: “Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com este bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com ele. Não com minha justiça, que vem da lei, mas com a justiça que se obtém da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus pela fé”. O Senhor também diz: “Renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9, 23). A verdadeira vida se consolida por meio da renúncia, do desprendimento de si mesmo e dos bens materiais acumulados inutilmente. Não é fácil entender a visão cristã sobre o “perder”, pois na sociedade em que vivemos o prêmio é dado somente ao que chega primeiro. O primeiro lugar é buscado em detrimento ou prejuízo dos demais. Em nossa cultura, o primeiro lugar é honroso e o último vergonhoso. O Evangelho, no entanto, converte essa lógica: quem quiser ser o primeiro que seja o último. A própria sociedade nos ensina a ser o primeiro em tudo, até mesmo nas coisas mais simples do dia a dia. É comum ver as pessoas dando passagem à ambulância que socorre um ferido, mas quantas brigas ocorrem quando outro carro “corta” a nossa vez no trânsito? Por lei, deixamos o mais idoso passar (embora ainda exista quem não respeite o estatuto do idoso!), mas se alguém mais jovem “furar” a nossa fila, logo perdemos a paz. O início da conversão é sempre marcado por muito desejo de mudança, mas o crescimento na vida espiritual depende de manter atitudes fundamentadas no Evangelho de Cristo. Quem não avança, retrocede. Quem quer continuar ganhando, vai perder... Quantos equívocos e inversão dos valores cristãos. Quanta busca pelo interesse próprio. Em 1Coríntios 13, 5 o apóstolo Paulo diz que “o amor não busca os seus próRevista Renovação

prios interesses”. Este é o fundamento em que Jesus se baseia para dizer que é necessário renunciarmos a tudo quanto temos e até a nossa própria vida. Ele não está buscando o seu próprio interesse, mas o nosso. Ele quer o melhor para nós. Ele está nos amando e nos conduzindo à verdadeira liberdade, na qual poderemos receber a verdadeira vitória, aquela que nos deixa livres de toda ansiedade, preocupação e de tudo o que poderia novamente nos escravizar. Aprendamos a renunciar aos nossos “falsos” direitos e fazer valer o direito do nosso próximo (cf. Fp 2,1-4). Quando você é gentil, quando ajuda necessitados sem esperar nada em troca, quando é sincero e honesto, ainda que isso resulte em prejuízo para você, tudo isso te resultará em frutos de alegria eterna. Lembrese: a perda daquilo que é temporal se tornará em ganho daquilo que é eterno. Muitos exemplos de atitudes moldadas por esse “perder para ganhar”, podemos encontrar nos santos e santas da Igreja Católica. O eloquente exemplo de São Maximiliano Kolbe, o fundador da Milícia da Imaculada que, durante a segunda guerra mundial, no Campo de Extermínio de Auschwitz, preferiu dar a sua própria vida em troca de um pai de família judeu, a fim de que esse pudesse ter a oportunidade de voltar para sua esposa e filho, configura-se num autêntico sinal de liberdade e desprendimento. São testemunhos assim que sublinham a importância de sermos promotores da paz, brilhar como verdadeiros luzeiros no mundo. O batismo no Espírito Santo que se manifestou em nossas vidas é, certamente, um meio eficaz de desapegar-nos de “nosso par de sapatos”. “Onde está o Espírito, aí está a liberdade!” (2Cor 3,17). Sejamos livres, queiramos perder para ganhar! Só quem é verdadeiramente livre pode declarar-se “servo” do Senhor, como fez Maria Santíssima. Que ela interceda por nós.




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