Revista Nós nº 4

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Caro Leitor, A cada edição a revista Nós busca ampliar a sua dinâmica colaborativa por meio da abertura de mais seções para inscrições de colaboradores. Em seu segundo ano de existência, a publicação se firma como um espaço propício para a experimentação de jovens produtores dos mais diversos conteúdos artístico-culturais. Ao longo dessas quatros edições, a revista também passou a contar com o acompanhamento afetuoso e atento das equipes de colaboradores que por aqui passaram. A constituição desse tipo de pertencimento é uma demonstração de que a Nós consegue estabelecer um diálogo franco e criativo com os jovens. Um dos desafios colocados para o nosso processo editorial é o de registrar, da forma mais ampla, a diversidade de expressões culturais protagonizadas pelas juventudes capixabas . Que a Nós seja cada vez mais nossa!


1. Vitor Limão 2. Vitor Camponez 3. Francisco Neto 4. Caio Perim 5. Adriano Monteiro 6. Ana Luiza Calmon 7. Thiago Alves 8. Jananda Carneiro 9. Cyntia Andrade 10. Rodolpho Paixão 11. Julia Casotti Nogueira 12. Tatiany Volker 13. Gessé Paixão 14. Lis Motta 15. Haroldo Lima 16. Leonardo Ribeiro 17. Ítalo Galiza 18. Gustavo Ortega Os perfis dos colaboradores estão na página 55




16. Crochê Literário

12. Circuito

Da hora e de boa

Eterno cheiro de Proderm [ou] Escrita de superfícies [ou] A grossa falta de espessura de Roma

Vitor Limão

Vitor Camponez

15. Observatório

18-29.

Novelo 18. Aqui

também é a Jamaica

Adriano Monteiro, Gustavo Dias Ortega e Ana Luiza Calmon

20. Um lápis na

25. Ao

Ítalo Galiza e Leonardo Felipe Vieira

Haroldo Lima e Lis Motta

25. Novelo 4

mão e muitas ideias na cabeça

23. Os

28. Novelo 5

princípio: da relevância do papel

ingredientes da juventude

da festa

Gessé Paixão, Tatiany Volker e Julia Casotti Nogueira

Rodolpho Paixão, Jananda Carneiro, Thiago Alves e Cyntia Custódio

27. Os fazedores


1. Louise Gripp 2. Fredone Fone 3. Giovanna Faustini 4. Gabriel Ramos 5. Stefânia Masotti 6. Isis Dequech 7. Edward Marily 8. Priscila Milanez 9. Rubiane Maia 10. Renato Ren 11. Leone Iglesias 12. André Arçari 13. Filipe Borba 14. Thiago Dutra 15. Camila Torres 16. Rayza Mucunã 17. Paulo Prot Os perfis dos colaboradores estão na página 55




30. Entrevista Paulo Gois Bastos

39. Artigo

Que medo você tem de nós? Fredone Fone

33. Crítica

Emaranhada

41. Costura

a Dois

Priscila Milanez, Gabriel Ramos, Isis Dequech, Edward Marily e Stefânia Masotti

Rubiane Maia e Renato Ren

45. PRCJ

51. Nossa Galeria

Transeuntes André Arçari


12 ∙ CIRCUITO

cir cir cui cui to O prato está servido!

No último dia 12 de novembro, o campus de Goiabeiras da Ufes foi palco do evento que tem se firmado como o principal espaço para as mais novas bandas do estado: o 5º Festival Prato da Casa. Embalado por uma verdadeira maratona musical, o público presente assistiu às apresentações de bandas com estilos diferentes e com uma característica em comum: o tempero capixaba. Do metal ao maracatu, da surf music ao samba rock. O prato foi recheado e servido democraticamente, mas, para as bandas garantirem seu lugar no palco, não bastou o desejo de participar. Desde o seu início, o Festival tem caráter competitivo e contou com cerca de 60 inscrições nessa sua última edição. Foram 12 bandas selecionadas: Acorde Prum Sopro, André Prando, Bárbara Dauras, Derengos, Estilo Heartbreaker, MC Jack da Rua, Moana, Nélio Torres e Banda, Nós, Psychodeath, Tripoint e Vociferax. O Festival tem a proposta de ceder espaço aos novos artistas capixabas de maneira profissional e independente. Para André Vinand, baixista da Banda Moana, “é muito importante para a banda participar de um festival dessa expressão, é começar a realizar um sonho, o de se perceber presente na cultura do seu estado”. Há quem diga que a sobremesa é sempre a melhor parte. Há quem discorde. Pelo sim ou pelo não, a garantia é que, além das bandas terem sido premiadas com um grande show com estrutura profissional de luz, palco e iluminação, as músicas das bandas selecionadas já podem ser ouvidas, todas às quartas-feiras, no quadro Prato da Casa do programa Bandejão da Rádio Universitária FM 104,7.


FOTO: JONATHAN LESSA

CIRCUITO ∙ 13

Teatro cachoeirense para os capixabas A vontade de fazer teatro foi o que motivou a criação um grupo de pessoas que formaram a Associação Teatral de Cachoeiro (Asteca), em Cachoeiro de Itapemirim. Com o tempo de atividades, surgiu no grupo a ideia de realizar uma peça em conjunto. Em 2010, nascia a encenação da comédia de Molière “O Burguês Ridículo”, escrita no século XV, com adaptações a fim de torná-la mais atual. Em 2011, sob a direção de Carlos Olla, o espetáculo

levou essa união de profissionais do teatro cachoeireinse para os palcos do Espírito Santo e percorreu os principais festivais de teatro do estado. A peça contou com recursos da Lei Rubem Braga de Incentivo à Cultura de Cachoeiro e foi montada para ao IV Festival de Artes Cênicas da cidade no primeiro semestre deste ano. Nos meses que se seguiram, foi a vez de o VII Festival Nacional de Teatro da Cidade de Vitória e o XII Festival Nacional de Teatro de

Guaçuí receberem a montagem. Também contemplado pelo Edital de Circulação da Secult-ES, o espetáculo pôde ser apresentado em cidades de todas as regiões do Espírito Santo atingindo um público de aproximadamente 2 mil espectadores. O elenco de “O Burguês Ridículo” é formado por Lucimar Costa, Mário Ferreira, Eraldo Costa, Carol Areias, Luiz Carlos Cardoso, Fernanda Camelo, Talita Miranda e Victor Coelho.

Intercâmbio de dança A troca de experiências é um caminho para o desenvolvimento de ideias. Na área cultural, a vivência de outras realidades é fundamental para o amadurecimento de projetos artísticos. Pensando assim, integrantes do Grupo de Danças Folclóricas Edelstein, do distrito de Lajinha, em Pancas, viajaram para o Rio Grande do Sul a fim de se capacitarem e de entrarem em contato com outros grupos de dança. Em em setembro deste ano, dois casais participantes

do Edelstein estiveram em várias cidades gaúchas onde participaram de oficinas e conheceram iniciativas que promovem o resgate de danças tradicionais. O principal destino da viagem foi a cidade de Paverama, município que é sede do Grupo Danças Folclóricas Origens e palco das oficinas vivenciadas pelos jovens dançarinos. A partir de agora, o aprendizado adquirido no intercâmbio será multiplicado, pois o Grupo Edelstein irá compartilhar a experiência com outros grupos de dança do Espírito Santo.

FOTO: ARINY BIANCHI

PRÊMIO PRA NÓS O estúdio JUUZ Design Gráfico recebeu o Troféu Ouro na categoria Editorial Revista do 3º Prêmio de Incentivo à Criatividade na Produção Gráfica, promovido pela Gráfica Santo Antônio. A peça premiada foi a 2ª edição da revista Nós que teve seu projeto gráfico, ilustração e diagramação executados pela dupla Juliana Lisboa e Juliana Coli (foto ao lado). Contentes com a premiação, as duas designers dizem ter recebido críticas positivas pelo projeto da revista Nós e acreditam que o prêmio dará credibilidade e visibilidade para os seus trabalhos. A cerimônia de premiação aconteceu no último dia 23 de novembro e contou com mais de 150 trabalhos inscritos, de criações das principais agências de publicidade e de comunicação, de estúdios de design e de editoras do estado.


FOTO: francisco neto

14 ∙ CIRCUITO

Cabalístico e revolucionário 2011 foi um ano de revoluções astrais que estimularam a cultura jovem capixaba. Elevado ao patamar de principal festival de música independente do Espírito Santo, a segunda edição do Festival Música Livre (FML) selou o ano em que o Circuito Fora do Eixo (FDE) chegou com força para movimentar o estado. As 24 bandas que subiram ao palco do Clube Saldanha da Gama representam uma nova forma de movimentar o mercado da música brasileira e contaram com os ouvidos de um público ávido por novidade. Além de trazer pela primeira vez bandas há muito esperadas, como Móveis Coloniais de Acaju (DF) e Black Drawing Chalks (GO), o II FML foi o ápice de uma série de atividades que o FDE/ES realizou por aqui. Neste ano, as Noites Fora do Eixo possibilitaram o intercâmbio de artistas locais com

gente de vários lugares do Brasil. Por meio do Circuito, os capixabas Valvulla e Fepaschoal saíram em turnê pelo país tocando para públicos diversificados. Além dos shows e dos festivais, a articulação FDE/ES trouxe muita discussão sobre a cena cultural local e colocou na pauta a economia solidária, a comunicação colaborativa e a importância da circulação e da distribuição dos produtos culturais. Espaços como a Semana do Audiovisual – Seda, os Observatórios FDE e o Seminário Música Livre foram essenciais para construir um debate da relação entre as artes integradas e a relação entre os mercados local e global. Com a cena capixaba integrada a essa movimentação nacional da produção de cultura independente, os próximos anos prometem ser intensos. Viva La revolución!

POLÍTICA PARA A Juventude

Entre os próximos dias 9 e 12 deste mês acontece a 2ª Conferência Nacional de Juventude, em Brasília. No evento, as juventudes capixabas serão respresentadas por 25 delegados eleitos na etapa estadual da Conferência, realizada no final de outubro. A expectativa é de que, a partir das propostas aprovadas na versão estadual, seja elaborado um Plano Estadual de Políticas para a Juventude e que também seja constituído um Conselho Estadual de Juventude. Conheça os delegados eleitos para representar o Espírito Santo na Conferência Nacional e fique por dentro das deliberações da etapa estadual no site redeculturajovem.com.br/conjuv

CINEMA NA MONTANHA

No último dia 19 de novembro, a pequena Vila de Serra Pelada, no município de Afonso Cláudio, sediou o 1º Festival de Curtíssimas. O evento contou com uma mostra competitiva de curtas-metragens, de lançamentos de vídeos, além de apresentações de danças tradicionais e de música. A iniciativa foi uma realização do Núcleo de Audiovisual Lagoa (NALagoa), da Associação Diacônica Luterana, e contou com 20 concorrentes, nos mais diferentes gêneros, vindas de diversos municípios capixabas e até de outros estados do país.


OBSERVATÓRIO ∙ 15

Vitor Limão

Nos últimos dez anos a indústria musical tem se concentrado em formas independentes de divulgação que fogem das grandes mídias – antes principais meios de promoção da criação musical – como TV e rádio. A maneira de conhecer e de ouvir boas músicas foi radicalmente modificada pelos blogs, que também influenciaram novos estilos de leitura e de comunicação. O constante e fácil acesso à internet, bem como seu baixo custo são os principais responsáveis por esta mudança. É notório o crescente número de blogs destinados à música nos quais o RAP tem ocupado um espaço expressivo, revelando novos talentos como Emicida, Kamau, Criolo, Projota e muitos outros que fizeram desses espaços e redes sociais as principais formas de mostrar seus trabalhos. Cada vez mais, os artistas vão para o espaço virtual a fim de apresentarem novos sons, compartilhá-los e manterem seus fãs informados sobre diversas notícias, além de exporem suas preferências musicais. As redes sociais, por sua vez, contribuem para a expansão desses blogs visto que há uma fusão entre ambos – a presença de links e aplicativos das redes sociais dentro dos blogs deixa ainda mais cômodo e fácil o acesso, fazendo com que o artista centralize as informações nos blogs e as dissemine nas redes. Com todas essas facilidades, a criatividade e o talento do artista fazem toda a diferença, pois ainda há dificuldade de se destacar em meio a um verdadeiro bombardeio de informações.

Bons exemplos de blogs destinados ao RAP RAPEVOLUSOM Traz referências da cena do RAP mundial. Um dos primeiros blogs voltados à cultura Hip Hop, o site foi criado em 2002. O espaço é considerado por muitos como o G1 do Rap/Hip Hop e veicula notícias 24 horas por dia. www.rapevolusom.com/novo

UM SÓ CAMINHO Blog que surgiu a partir de um coletivo do Rio de Janeiro. MC Marechal e amigos comandam o site que funciona como espaço para a divulgação dos seus trabalhos e das ações sociais feitas pelas comunidades visitadas por ele. www.umsocaminho.com.br

TRACK CHEIO Um ótimo exemplo vindo do sul do país, criado em 2005, tem como objetivo transmitir informações sobre cultura urbana alternativa e sobre música. A equipe do site é formada por MCs, beatmakers, designers, entre outros. www.trackcheio.blogspot.com

LABORATÓRIO FANTASMA Selo criado por Emicida para divulgar seus shows, produtos e clipes de seus recentes sucessos. Em breve, o site deverá ser um espaço para o lançamento de novos artistas. www.laboratoriofantasma.com


16 ∙ CROCHÊ LITERÁRIO

Victor Camponez Vialeto

É Freud quem nos oferece um olhar sincrônico possível sobre Roma. Nesse olhar, a cidade italiana é contentora, em sua configuração atual, de todas as Romas que foi, desde seu surgimento – o que está à tona misturando construções contemporâneas a vislumbres das Romas que já foram em suas antanhas diacronias. E é naquilo que está mais à vista – superfícies, peles – que habita a experiência da produção de Thalita Covre. De Paul Valéry também caberia pegar emprestadas palavras passíveis de caracterizar o movimento observado na arquitetura de seu fazer poético: “o mais profundo é a pele”. A imagem da epiderme é o ambiente de boa parte desses exercícios de escrita. Uma poética das superfícies? Se na metáfora de Freud sobre Roma, a atual cidade contém todas as anteriores, tal qual uma coexistência palimpséstica, na poesia de Covre, na grossa-fina espessura epidérmica, coexistem intensidades de estratos situados acima e abaixo dela. Thalita Covre parece explorar a imagem do contato e da fronteira que também pode ser referida

como uma espécie de experiência do deslizamento, do roçar as exterioridades, em vez da ânsia por capturar o segredo das coisas. É que o segredo também está na superfície, assim como na palimpséstica Roma que delata tácita-eloquentemente a si mesma, em sua camada mais exposta. É na beira das coisas que a experiência se dá, que os fluxos se trasladam. Os corpos não se penetram – é no confronto do roçar que os corpos se desgastam e se engastam uns nos outros, dando a conhecer suas memórias. Sendo assim, o segredo não parece existir enquanto aquilo que é inacessível, como cerne que é preciso devassar: a memória é epidérmica, em suas camadas superpostas, gravada entre os pêlos e a extensão vasta e lisa da pele. Memória e superfícies se articulam como inseparáveis, seja no contato entre os corpos mediado por porosas peles e por areias de ilhas em comunicação com mares, seja pela delicadeza tênue do toque que as sombras da cidade investem contra a aparência do mar. A suavidade dos encontros roçagados é a chance de comunhão dos sujeitos. Na produção

de Covre, a experiência é sempre de fronteira, tênue membrana sem volume. Em “gostaria que o mar me levasse”, por exemplo, não é ao ser bordeado pelo mar que o sujeito ganha a jubilosa possibilidade do uno? Sim, nesse envio eterno que o constitui como dentro-fora. Tudo é sempre em relação ao outro-pele-superfície, lugar da encenação das sensações. Toda a cena é (n)a superfície, (n)a pele – o órgão mais extenso do sentir, carapaça contra e a favor dos encontros. Isso porque se a pele é o invólucro que aparta os corpos e aponta a dimensão solitária do indivíduo, ela é também a esperança de redenção na própria condição de orfandade – é também a chance do contato. Pele – ponto de contato, de articulação, porosidade com potência de re-doar aos sujeitos-fragmentos o instante do encontro, reconferir vislumbres do sentimento de unidade. Tudo encontra fronteira, mas também possibilidade na–pele


CROCHÊ LITERÁRIO ∙ 17

[][][] Pele-esquecimento Saudades são os movimentos circulares que a pele dos meus dedos fazem nos órgãos lúdicos dos meus desejos Saudades são nossos corpos por cima de outros corpos de igual estatura e desempenho suando o teu nome, o meu nome inteiro pela boca – desespero Saudades fazem, se desfazem, face à epiderme do findável toque sucessível de mãos corpos abraços in loco da memória

[][][] Quantas micro-partículas de coisas vivas acoplam-se à minha pele quando euredemoinho nessa rajada de vento?! Música de vendaval, estômago vazio de ansiedade, sol calmo no rosto, fios de rasgar ausências. Baixando as poeiras dos olhos com água: lama. Choro cor-de-pele, grito de vida. Berro de nascer... Por instinto, ainda com os olhos fechados de água e lama, por instinto, jogo meus braços para baixo, toda mole. Mole de argila que gira em espera de mão de molde. Minhas mãos, suas mãos. Suas mãos que são

[][][] beira-mar a sombra do arranha-céu escureceu o mar por um minuto vi petróleo no lugar da sutileza da sombra a água escura dançava ao som dos ventos meus olhos viam beleza onde a sujeira da cidade

brancas e longas de tocar violão. Estou nascendo.

[][][] gostaria que o Mar me levasse lavasse à água e sal meus machucados mais pro fundos

residia

o arranha-céu escureceu o mar e eu era testemunha de seu alastramento

[][][] Sobre minha boa memória A memória do meu corpo nunca falha. Se eu encosto a pele, tudo vem a tona... [minha flor possui póros e suas pétalas são feitas de digitais]

[][][] Thalita Covre tem 26 anos, é professora de Língua Portuguesa e fotógrafa. Utiliza seu blog (paroi-de-lamentation.blogspot.com) como um tipo de livro virtual e pretende lançar um livro artesanal – feito sem ajuda de editoras – no início do ano que vem.

despisse meu corpo ao Sol marcasse com outras profundezas minha pele as lágrimas de meu Mar fluiriam ao teu encontro seriamos uno e eu seria o próprio Universo tocando de uma única vez todos os corpos marítimos das pessoas que se banham ao Domingo e eu me sentiria presente e feliz


18 ∙ NOVELO

Por meio da trajetória da banda Lion Jump, fique por dentro da recente história da cena reggae capixaba Adriano Monteiro e Ana Luiza Calmon

A semelhança é inegável quando ele toca com sua guitarra os primeiros acordes do refrão: “is this love, is this love, is this love, is this love that I’m feeling”. Nostalgicamente, revivemos os melhores momentos do pai do reggae, Bob Marley. Estamos falando de Elias Santos (28 anos), vocalista da banda Lion Jump, cuja afinidade com o mestre do reggae não está apenas na aparência física, mas principalmente no som de seu grupo musical. A banda, inicialmente chamada de Lion Jungle, foi formada no início dos anos 2000 por alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Almirante Barroso, em Goiabeiras, Vitória. Tendo os próprios colegas de escola como plateia, as suas primeiras apresentações aconteciam no horário do recreio. Inicialmente, sem estilo definido, o grupo tocava de tudo. Elias conta que a definição da sonoridade da banda foi motivada pelo Terça Reggae, evento que acontecia na Praia da Curva da Jurema. A mudança do nome surgiu de um fato curioso: em 2001 a banda havia sido convidada para tocar pela primeira vez em um evento na praia de Jacaraípe, na Serra. Nos cartazes de divulgação do show, o nome da banda foi grafado equivocadamente como Lion Jump. Graças à divulgação, o nome pegou. Não demorou muito para a banda lançar seu primeiro single, “O Tempo”, que foi gravado em MD - um mini-disco regravável, semelhante ao também já extinto disquete. A música passou a ser tocada no programa Beco Du Reggae da Rádio Universitária FM 104.7 e foi abraçada pelos ouvintes entre as músicas mais pedidas.

A consagração do grupo aconteceu no Festival Capixaba de Reggae - Tributo a Bob Marley, realizado em 2002, em Vitória. “As bandas participavam com uma música de Bob Marley e duas de autoria própria. Entre mais de 30 bandas participantes, Lion Jump ganhou tanto na escolha do júri quanto no voto popular”, conta Elias. Em 2004, a banda lançou o primeiro disco, Soldado de Jesus, e já tocava por várias cidades do Espírito Santo. Entretanto, fazer carreira na cena independente não é fácil. Em 2007, a banda estava com o segundo disco em andamento, as músicas já estavam gravadas e o álbum se chamaria “Contra a Babilônia”, porém não foi possível captar recursos financeiros suficientes para emplacar o projeto. O início do século XXI foi muito rico para a música capixaba com o surgimento de várias bandas que começaram a ganhar notoriedade na cena local. Algumas delas até romperam as fronteiras do Estado – o que aconteceu mais tarde com a Lion Jump. Desde 2004, a banda começou fazer apresentações em outros estados, principalmente em São Paulo, onde gravaram uma música na coletânea produzida pela tradicional Festa Circuito Reggae. Em 2007, o grupo esteve em Brasília e realizou várias oficinas de música com instrumentos de material reciclado. Essas atividades fizeram parte do projeto Lion Jump nas trilhas de Jah, contemplado pela Lei Rouanet. Em seguida, a banda passou um período em Itacaré, na Bahia, ganhando a simpatia dos baianos. Entre seus altos e baixos, a Lion Jump continuou com seu trabalho e se prepara para lançar um CD comemorativo.


NOVELO ∙ 19

FOTOS: FRANCISCO NETO

“Foram nove meses de produção onde marcou a chegada de novos integrantes e o retorno de outros antigos músicos que participaram da banda ao longo de sua trajetória”, explica Elias. O novo disco leva o nome de Lion Jump – 10 anos e traz 18 músicas inéditas, com lançamento até o fim deste ano.

Sobre o reggae capixaba O músico e compositor Jr. Bocca (36) é um dos precursores do movimento reggae capixaba. No início dos anos 90, por aqui circulava pouca informação sobre a cultura reggae e a religião rastafári. Isso motivou Bocca a pesquisar sobre o assunto. “Fiz parte da primeira banda de reggae do Espírito Santo, a Banana Reggae. Em 1996, entrei para o Java Roots e, nesta época, usávamos a base filosófica do reggae para construir os ritmos variados do Java”, explica Bocca, que em 2010 lançou o disco solo Botocudos e, atualmente, apresenta o programa Bocca.com na Rádio Universitária FM 104,7. A semente plantada na década de 1990 germinou no início dos anos 2000 – período em que surgiram na cena local bandas como Casaca, Macucos, Rastaclone, Herança Negra, Kanabaus, Salvação e Manimal. Algumas delas despontaram para o cenário nacional e fecharam contratos com grandes gravadoras. As rádios tiveram papel importante nesse processo. Vale ressaltar o programa Beco Du Reggae, criado por Bocca e Cristiano Ramos, e veiculado na Rádio Universitária FM 104.7, além do programa Brasil Jamaica da Rádio Cidade FM 97.7. Infelizmente, em meados da primeira década do milênio, a cena começou a estagnar. Para os apresentadores do Brasil Jamaica, Rodrigo Rosa (39) e Léo Kbong (37), houve uma queda depois do boom. Muitos artistas não se prepararam para a realidade hi-tech e outros não se profissionalizaram. O Espírito Santo também era carente de serviços adequados de logística e de técnicos para shows, divulgação e promoção. Com relação aos eventos destinados ao público do reggae, Kbong e Rosa também consideram que as iniciativas já foram melhores. Os atuais shows e festivais voltados

para as bandas locais – Reggae a Vida em Vitória, Coral do Reggae na Serra e Reggae Soul Fusion em Vila Velha – são realizados por meio de ações das próprias bandas ou por meio dos principais e únicos programas radiofônicos do ritmo da Grande Vitória. Novas bandas se formaram e o reggae capixaba vive uma fase de reestruturação. As bandas locais perceberam que é necessário saber mais que alguns acordes para sobreviverem na nova ordem digital e online da música. Os bons modelos disso são as bandas Al Mahasta e Macucos, que estão bem estruturadas nas diversas redes sociais. Grupos como Oghan Reggae, da Serra; Sidreira, de Vitória; e Siloé, de Vila Velha; são exemplos de uma nova geração que continua produzindo música de qualidade

A nossa paisagem reggae Gustavo Dias Ortega

O reggae capixaba já teve mais espaço na cena cultural e, hoje, reacende. Bandas locais que já tocaram para públicos de quase 20 mil pessoas hoje tocam para um publico significativamente reduzido em casas pequenas e bares. Os músicos também foram obrigados a se readaptarem à nova realidade de acesso à música pela internet. Nesse contexto, os programas de rádio têm um papel fundamental enquanto agentes que promovem a divulgação e a circulação do reggae. Como veículo da música, o rádio acompanha de perto os festivais e a produção musical local. Foi graças à união entre os programas Beco Du Reggae e Brasil Jamaica que o Espírito Santo se inseriu no circuito de shows de bandas internacionais do ritmo. Na história dessas duas décadas de reggae capixaba, a beira-mar é um dos seus espaços mais significativos. Foi no quiosque do JB, na Praia da Curva da Jurema, em Vitória, que acontecia a Terça Reggae. Essa movimentação possibilitou trocas de informações e de experiências, além de ter impulsionado o surgimento de muitas bandas que hoje são referência para as novas gerações do reggae local. A Curva se tornou um lugar importante principalmente por suprir as carências de espaços adequados para os shows desse ritmo.


20 ∙ NOVELO

ÍTALO GALIZA LEONARDO FELIPE RIBEIRO

Eles são jovens ilustradores que enxergam no prazer de desenhar não apenas um hobby, mas também uma profissão Nas paredes de um quartinho sem porta de um apartamento em Coqueiral de Itaparica, Vila Velha, estão afixados cartazes com ilustrações diversas, além de colagens e desenhos de revistas e jornais. Sobre uma extensa mesa, a xícara com café fresco divide o espaço com livros, bloquinhos, lápis e uma parafernália digital formada por notebooks, tablets, scanner e uma impressora. Esse curioso lugar é a sede do Estúdio Cosmonauta, núcleo de produção gráfica idealizado há quase um ano pelos ilustradores e estudantes de Publicidade Leonardo Almenara (24) e Laíssa Gamaro (23), que já acumulam três anos juntos na estrada. Almenara é canela-verde, sempre foi fã de video game e adorava fazer caricaturas da galera da turma de escola. Na adolescência, viveu a febre do mangá: “sempre comprei manual de desenho em banca de revista, mas minha primeira referência de quadrinho foi o mangá”, relembra Leonardo que hoje usa o cotidiano como maior fonte de inspiração para a criação de suas charges. Desenhar para Laíssa foi um processo que igualmente partiu da infância. Ela nasceu em Resende, no Rio de Janeiro, e

com apenas quatro anos já criava personagens, histórias em quadrinhos e se desenhava com roupa de pintora, um quadro e um pincel na mão. “Quando criança, eu ficava horas desenhando sozinha. Desenhar me libertava. Eu era quem eu queria ser. Conseguia me expressar mais com desenhos do que com palavras”, conta. E o encontro de Almenara e Laíssa parece que também foi desenhado. Os dois são namorados, mas a paixão pela ilustração foi o que os uniu, de princípio, desde o início da graduação até o momento em que começaram a estagiar juntos no cineclube Cine Kbça, no Centro de Referência da Juventude de Vitória. “Foi lá onde aprendemos a desenvolver os conhecimentos em comunicação e a aprimorar a nossa técnica. Pensamos toda a identidade visual do projeto e passamos a usar o desenho para dialogar com o público, produzindo cartazes e criando uma cartilha ilustrada para fomentar o cineclubismo nas escolas”, descreve Laíssa. Paralelamente ao trabalho no Cine Kbça, a dupla passou a realizar trabalhos como freelancers em agências de publicidade. Depois de muito experimentar, foi criado o Estúdio


CARICATURAS: LAÍSSA GAMARO, LEONARDO ALMENARA, MANOEL RICARDO, JANAÍNA GOMES

Cosmonauta, que conta com um site onde, uma vez por semana, são publicados, principalmente, os trabalhos de charges. No bolso, eles também carregam as referências de outros ilustradores. Indo do galego Miguelanxo Prado, passando pelo brasileiro Raphael Grampá, da revista Sandman – criada pelo britânico Neil Gaiman –, até os paulistas e irmãos gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon. Entre um rabisco e outro, Almenara e Laíssa foram colorindo conquistas. Colaboraram para a coluna Jovem Eleitor do jornal A Gazeta, ganharam o Edital de Núcleo de Criação do PRCJ e, recentemente, tiveram três trabalhos selecionados para o 11º Salão Internacional de Humor de Caratinga, em Minas Gerais. “O pessoal de lá ficou doido com a gente. Disseram que é muito raro alguém do Espírito Santo participar, ainda mais com a nossa idade. Fizemos muitos contatos”, comemora Laíssa que logo revela os planos da dupla para o futuro: “Estamos com um projeto de animação para o ano que vem”. E parece que o ponto final está longe de ser desenhado.

Do boneco palito às charges políticas Com óculos de grau e cabelo rastafári preto e vermelho, a estudante de Desenho Industrial Janaína dos Santos Gomes (25) conta que começou com o famoso boneco palito ainda criança. No entanto, cresceu apaixonada pelos desenhos animados japoneses que passavam na TV. “Nunca fiz curso de desenho, me interessei assistindo os Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon etc. Tinha outro que eu adorava... Freakazoid! Eu amava”, lembra. Desenhos como esses a acompanharam ao longo da vida, influenciando-a a cada rabisco que fazia. Entre suas referências declaradas, estão os animes e os mangás. Janaína afirma que seus desenhos são muito intuitivos, muito baseados na inspiração. Ela ainda diz que suas criações passam por fases que seguem um determinado tema, mas, em seguida, mudam completamente de direção. O talento da artista ganhou maior projeção quando no ano passado fez charges políticas para o jornal A Gazeta. Assim como Leonardo Almenara e Laíssa Gamaro, ela colaborou para a coluna Jovem Eleitor. Insegura, disse que quase não aceitou, mas acabou participando. “Com a experiência, descobri um jeito meu de desenhar, me afastando do meu vício com os desenhos orientais”, afirma. Para aperfeiçoar seus dotes artísticos, Janaína hoje vem formando um grupo de estudos na Ufes, onde estuda, sobre animação. Animada com a ideia, ela diz que o grupo pretende estudar conceitos e técnicas da arte do desenho animado e, ao fim, produzir um filme. Quando fala de um futuro em longo prazo, Janaína não diz com firmeza o que exatamente quer, mas que todas as dúvidas orbitam em volta da arte de desenhar.

NOVELO ∙ 21

“Só os fortes sobrevivem” Chargista, ilustrador, animador, designer... Manoel Ricardo (27) pode ser considerado tudo isso, mas a modéstia o impede de enumerar tantas funções para se considerar apenas “desenhista”, diz. Ele faz de tudo no que diz respeito ao desenho, mas suas áreas de mais interesse são os quadrinhos e a animação. Quando pequeno, por volta dos quatro ou cinco anos, Manoel percebeu que desenhar era uma das atividades que mais gostava. “Desenhava tudo do meu cotidiano. Eu soltando pipa, rodando pião, jogando bola... Tudo”. Além disso, desenhava também os Cavaleiros do Zodíaco, Turma da Mônica, Ziraldo, os desenhos da Disney e os games que jogava. “Aos seis anos, fiz minha primeira história em quadrinhos, sobre o Bruce Lee”, se diverte lembrando. Manoel não consegue descrever seu processo de criação. “Quase psicografada”, brinca. No entanto, com a ideia já pronta, ele se mostra bem prático. “Com o lápis no papel, começo a analisar e buscar melhores soluções”, conta. O rapaz atua profissionalmente com desenho desde os 14 anos, quando trabalhou pela primeira vez como ilustrador para uma pequena editora. Manoel estuda Design, mas diz que apenas aspectos técnicos do curso, como a análise visual, cognitiva e funcional o influenciam. Na função de desenhista, é quase autodidata se ignorar que, na universidade, pegou algumas matérias no curso de Artes Plásticas que serviram para lapidar seu talento. O rapaz foi ilustrador no jornal a Tribuna, trabalhou com produção de games e, de maneira independente, produziu um curta-metragem animado. Ainda este ano, Manoel está deverá lançar a sua primeira história em quadrinho sob o título “Para Tudo se Acabar na Quarta-Feira” – projeto feito em parceria com Octávio Aragão, professor, escritor e designer. O desenhista já participou de diversos eventos de design e quadrinhos, como o Rio Comicon, evento realizado em 2010 no Rio de Janeiro. “Foi uma experiência inesquecível. Fui lá mostrar meu trabalho e acabei sendo visto por muitos caras que eu admiro”, lembra. O mercado capixaba para artistas como Manoel é “um mato sem cachorro”, ele define. E diz que conhece desenhistas que atuam como freelancers ou trabalham para jornais. Ou os dois. Segundo ele, os mais espertos, porém, captam verba por leis de incentivo. Empreender de maneira independente ou buscar mercado fora do estado e até do país são alguns dos caminhos procurados por esses artistas. “Seja aqui em Vitória ou na mais exigente potência, a máxima é constante: só os fortes sobrevivem”, sentencia

Conheça o trabalho deles: Estúdio Cosmonauta: estudiocosmonauta.com.br Janaína dos Santos: flickr.com/jannagomess Manoel Ricardo: manoelricardo.deviantart.com


22 ∙ NOVELO

FOTOS: LOUISE GRIPP

Gessé Paixão, Julia Casotti Nogueira e Tatiany Volker

Em plena geração fast food, uma galera jovem se aventura a criar e empreender no mundo dos temperos, panelas, receitas e sabores A cozinha gastronômica foi criada em nosso imaginário como lugar ocupado por gente rigorosamente séria, de meia idade, uniformes brancos, chapéus... Ou nos vem a imagem de senhoras, mães ou avós, com aventais e lenços na cabeça, perfumando a casa com os cheiros dos temperos caseiros. Um tom meio hermético, às vezes, até parece algo para poucos. Aqueles com pouca idade, que na maioria das vezes apenas desempenhavam o papel da prova e da apreciação dos pratos, passaram a ocupar o espaço da criatividade e da prática gastronômica. Tornaram-se ingredientes fortes, destacando seus gostos, energias, sabores, saberes nesse caldeirão da gastronomia e da culinária. Cada vez mais com cheirinho fresco e muito jovem. Estamos falando das juventudes que experimentam o mundo da culinária e da gastronomia, seja na criação de momentos recreativos com amigos e familiares, seja conquistando postos de trabalho em restaurantes, bares, padarias etc. Existem até os que, sem muitas pretensões, dominam a cozinha na simplicidade do cotidiano para prepararem seus próprios alimentos e refeições. Amantes das cozinhas, eles e elas não perdem chances. Pelo contrário, criam oportunidades para a elaboração de pratos à base dos mais variados ingredientes, cheiros, texturas, conceitos e até ideologias.


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Busca de um ritual

Vivendo em uma época em que o fast-food é cada vez mais comum e há um crescente de lanchonetes na velocidade do vapor de máquinas de fábricas, comidas enlatadas, congelados – alimentos que aparecem prontos ao click de um microondas – de onde vem o interesse dessa galera que prima pela refeição sofisticada, recheada com ingredientes escolhidos à minúcia, que demandam maior tempo para o seu preparo e para a sua degustação? Para Fernando Santa Clara Viana Junior (24), formado em Gastronomia, a motivação começou desde muito cedo quando assistia seus familiares preparando os alimentos na cozinha e ele vivenciava o ritual das refeições. “A hora de comer na minha casa sempre foi motivo de alegria. Era o momento que parávamos para conversar, discutir situações, muitas vezes, familiares. Existe uma ‘magia’ em torno do ritual de se alimentar”, observa. Mesmo com tanta gente na família envolvida com gastronomia, Fernando nunca ficou acomodado. “Eu sou irmão mais velho, tenho um irmão cinco anos mais novo que eu. Comecei desde meus sete anos a preparar mamadeira para ele. A demanda foi aumentando a partir do momento que meu irmão começou a comer outras coisas e, junto com a admiração de ver meus pais e minha avó cozinhando, desenvolvi isso”, lembra orgulhoso.

Renda como prioridade

Para alguns, a gastronomia veio como forma de sobrevivência desde muito cedo. Peter Paul da Silva Laudino (27), formado em Gastronomia, trabalhou desde os 14 anos com culinária. Primeiro como “faz tudo” no restaurante da tia, no Rio de Janeiro. Seu sonho na época era ser jogador de futebol, mas como machucou o joelho, desistiu da carreira e foi fazer um curso profissionalizante de ajudante de cozinha pago pela tia. Aos 18 anos serviu no Exército e trabalhou no quartel como cozinheiro durante sete meses. Sofreu discriminações por atuar na cozinha e não nos serviços tradicionais dos militares. “Eles achavam que o trabalho da cozinha era algo menor, sem valor. Achavam que eu estava lá para fugir do trabalho pesado do quartel”. Entretanto, os preconceitos não o desmotivaram e sua perspectiva para o futuro é de abrir o próprio negócio: um café. Surfista por paixão, cozinheiro e nutricionista do Restaurante Vegetariano Sol da Terra, situado no Centro de Vitória, Daniel Ortiz (31) se aproximou da vivência gastronômica ainda criança. Na década de 1980, os seus pais abriram o restaurante no qual trabalha hoje cuidando dos pratos e das contas. O garotinho que cresceu entre panelas e ingredientes, agora, munido de mais experiência, adquiriu versatilidade e originalidade em seus pratos graças ao trabalho no ambiente familiar que lhe possibilitou maior confiança dentro do restaurante. Com know-how adquirido no negócio familiar, Daniel planeja abrir negócio de comida vegetariana em um pequeno estado no Hawaii. Hawting Ding, (24), taiwanês, estudante de Nutrição, é outro jovem que sobrevive da culinária e trabalha em parceria com a família no restaurante vegetariano-chinês Verde Perene, também no Centro da Capital. Ding ensinou ao pai as técnicas e saberes da culinária e hoje trabalham juntos. Além disso, o jovem nutricionista tem preocupação em popularizar a culinária vegetariana-chinesa. “Temos vontade de trabalhar com marmita, pois queremos que a culinária vegetariana fique cada vez mais acessível e chegue para mais pessoas, independente da sua classe social”.


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Do hobby à arte

Ainda há aqueles que usam da culinária para relaxar, como Mayara Tulli Netto (21), estudante de Psicologia e famosa pelos doces feitos com base de cachaça. “Cozinho para aliviar o estresse, e das coisas que faço o melhor para esse momento é o pão. Penso que os melhores pães são feitos quando estamos mais estressados, quanto mais você bate, a massa fica melhor”, brinca. Tem gente que passa horas na cozinha contemplando o alimento e acaba comendo bem tarde, como é o caso de João Vitor Souza Barros (22), estudante de Cinema e culinarista por hobby. “Gosto de coisas simples, de passar muito tempo na cozinha, sem pressa. Sempre cozinho no fogo baixo e ouvindo músicas, como sambas e rock dos anos 60. Lavo a louça com calma, faço tudo bem devagar e almoço quase sempre bem tarde, depois das 16h”. Também é possível ver semelhanças entre a cozinha e as artes plásticas, pois são práticas que exigem uma constante pesquisa para descobrir novos ingredientes e buscam desenvolver conceitos ancorados na criatividade e na originalidade. A estudante de Artes Visuais Thaís Apolinário (26) é apaixonada pelo trabalho de Alex Atalla, chef de um renomado restaurante paulistano. Atalla trabalha com o conceito “gastronomia arte”. “Me encanta a forma dele pensar a comida a partir dos elementos e desbloquear a barreira que existe entre a arte e a vida. A cada dia tento enxergar as coisas de forma especial, percebo que a comida ultrapassa a necessidade de saciedade, como algo plasticamente potente. Tento levar essa ideologia para as minhas ‘criações gastronômicas’”, conta Thaís.

Ideal gastronômico

A gastronomia também pode vir associada de práticas sociopolíticas, como é o caso do Veganic, pic-nic vegano, realizado sempre a cada nova estação, em algum domingo à tarde no Parque Pedra da Cebola, em Vitória. O encontro idealizado por jovens culinaristas tem o objetivo de fortalecer a filosofia vegana e ainda serve como um momento de troca de receitas e de experiências gastronômicas. Para quem não é do grupo e quiser participar é só levar um prato vegano e compartilhar. Para Giurley Dias, mais conhecido como Giu (25), integrante do grupo organizador do Veganic, o Grupo Abolicionista de Libertação Animal, é importante diferenciar a culinária vegetariana da vegana. “A culinária vegetariana propõe uma alimentação sem qualquer tipo de carne, mas ainda com os derivados, leite, ovos, mel, alguns corantes. Já a vegana propõe uma alimentação totalmente livre de crueldade, ou seja, sem quaisquer tipos de carne nem derivados de animal algum e sem nada que envolva sofrimento animal”, explica

Restaurantes Verde Perene

Rua do Rosário n° 114, 1º e 2º Pav., Centro, Vitória (atrás do Teatro Carlos Gomes) (27) 3019-6069 | www.verde-perene.blogspot.com Sol da Terra

Rua Barão de Monjardim n° 171, Centro, Vitória (na rua do Parque Gruta da Onça) (27) 3223-1205 | www.naturalsoldaterra.com.br


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Haroldo Lima e Lis Motta

Um caderno é fruto de muitos ensaios, ideias espalhadas entre rabiscos, receitas de vida e dispersão. Às vezes, deles, propositalmente, colhem-se testes Por aqui, as folhas de papel são insubstituíveis. Se estiverem juntas por fivelas, costuras ou grampos, ainda melhor. Fora de moda. Modernos, demasiadamente modernos: “Talvez o ponto mais importante da minha utilização do sketch foi colocar todos na minha estante e entender que aquele desenvolvimento foi meu, minha pesquisa. Tirei a cara de somente rascunho para validar aquele conhecimento como útil. Às vezes, pegar um ou outro me traz a memória do que estava buscando naquele momento, meu HD real multi-dimensional cheio de formas, cheiros, sons, diversas interfaces e formas de interação.” – Thiago Sales (26 anos), estudante de Desenho Industrial e iluminador cênico. Da percepção, do registro e da memória brotam muitas (re)significações. É do tátil que se fala aqui. Um amigo, ouvimos dizer, substituiu os registros fotográficos de uma viagem à Europa por esboços das paisagens que enfrentou pelos caminhos do leste. Em terras capixabas, de presente para uma amante, prepara um caderno inteiro com vistas da ilha. Imagine as texturas da cidade e da malícia – que a fotografia, uma conhecida, ainda não pode prover.

É verdade que hoje as ferramentas digitais são indispensáveis no tratamento e no processo de composição dos trabalhos dos artistas, designers e escritores. Entretanto, nada substitui o impulso original de riscar entre um tópico chato e outro durante as aulas intermináveis. Enquanto divagamos, sentamos para esboçar; ou olhamos a vista. Os blocos de anotações, sketchbooks (ou qualquer nome dado a uma sequência de páginas, a princípio, em branco) são usados por eles, os artistas, para planejarem e redimensionarem um trabalho, ou para transformá-los, os próprios blocos, em arte final. A tensão é recorrente em nossos dias tão modernos. Mas como fugir da sombra do digital quando a tecnologia acelera as horas e cisma em matar os suportes de produção de subjetividade com textura, há tempos ligados ao nosso dia a dia? Pois bem, este ensaio não só abandonou esse fato como, a partir das próximas linhas, deixará à mostra a irrelevância da questão para aqueles que supõem ideias, perscrutam traços e enfileiram sentimentos, até mesmo, em pixels. ***


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Como território privado, os cadernos fogem das dimensões de clausura do diário íntimo consoante o desejo do artista, isto é, se este assim quiser, quando e para quem quiser, mostrá-los. “Meu caderno é muito pessoal mesmo e sinto falta dele se o emprestar, por exemplo; vou precisar e não vai estar lá. É sequencial, preciso fazer apanhados.” – Sami Oliveira (28), artista plástica. Os cadernos também podem estar sempre à mão e circularem, como nos cursos de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em que os alunos trocam seus blocos pessoais entre si para que do convívio surjam novos desenhos, impressões, acúmulos visuais e sensitivos. Da página em branco para a parede para o muro da rua: “Meus cadernos são tomados por desenhos de pessoas diferentes. Às vezes, pessoas que eu nem conheço. Absorvo muita coisa nova com os desenhos dos meus amigos, acabo contribuindo pro processo de outras pessoas também. O graffiti me influenciou muito a desenhar no caderninho, porque é bom levar uma ideia pronta para ter mais agilidade na rua. Decidir (o que desenhar) na hora te deixa mais exposto a situações ruins como se explicar pra polícia.” – Marcelo Voodoo (26), artista visual e graffiteiro. A relação de alguns artistas com os cadernos não se prende só ao que é preenchido em suas páginas. Em Vitória, também na Ufes, uma turma insaciável por criação se aplica a produzir sketchs artesanais: para si, para presentear amigos ou fazer uma grana extra. Alguns dos cadernos produzidos “em casa” não perdem em charme ou em qualidade para os clássicos Moleskines, marca italiana famosa por ser a favorita entre os principais artistas europeus no século XX e muito usada atualmente. Por isso mesmo, sinônimo de bloco de anotações. Técnicas de encadernação são aprimoradas por esses artistas e até ensinadas em oficinas, reforçando o valor do papel para uma juventude que também não deixa de ser conectada aos meios digitais.

“Procuro restos de papéis em gráficas, pergunto o que tem para jogar fora, junto tudo e dá para meses de caderno. É tudo na base da reciclagem. De uns três anos pra cá o sketch deu uma “bombada”. Comecei a sentir uma demanda muito grande da galera e comecei a ensinar as técnicas a um e outro e isso acabou resultando em oficinas. O mundo tecnológico gera uma contraenergia, o pessoal fica querendo ter uma coisa sua, que você não comprou.”– Felipe Mecenas (25), designer gráfico e ilustrador. Também encontramos aqueles que estabelecem uma ritualística com o seu suporte de rascunho e de criação. Um deles nos contou que, no começo de cada ano, abre um bloco de folhas A4 e as encaderna com uma capa grossa. A partir dali, toda experiência que, mais tarde, vai tomar forma em projetos de coleções de moda, produção de arte para campanhas de marcas capixabas e ideias para um figurino surgem no entre-quadros inicial do blocão A4. E crescem até a tela grande. Eu tenho uma intimidade com o papel, uma intimidade de perna cruzada no sofá. Divido com o papel a mesa de café, a cama, a espera para uma reunião, para uma consulta. As outras mídias eu encontro diariamente por muitas horas, mas com elas eu trabalho. No papel eu penso. Os rabiscos afirmam uma estética a seguir, para cada caso. Os rabiscos transformam os personagens em amigos, conhecidos em suas sutilezas, formam ideias.” – Harrison Medeiros (24), designer gráfico e figurinista. Sem negar a possibilidade de produção no universo digital, a rotina de composição de uma leva de jovens artistas que surge na cena capixaba revela essa familiaridade nostálgica com os blocos de papel. Ainda hoje, são os cadernos de artista que sobram na gavetas e/ou são deixados em caixas. Nas margens das folhas de cada um deles buscamse, mais tarde, sentidos para a evolução de uma obra

Os sketchs utilizados nessa página foram feitos por Thiago Sales: www.flickr.com/thiagossales


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Cyntia Custódio, Jananda Carneiro, Rodolpho Paixão e Thiago Alves

Produzir seria apenas um verbo atribuído às várias ações do dia não fosse a intensidade que a juventude capixaba vem mostrando na hora de tornar isso diferente. Na reportagem, vamos conhecer diferentes jeitos de os jovens realizarem eventos artístico-culturais pelo território capixaba Se há algum tempo a produção de eventos era restrita a poucos agentes, gestores culturais ou até mesmo “empresários” dotados de qualificação especial ou de contatos exuberantes com grandes artistas, agora a atividade se intensificou em seu significado original: o do contato direto com quem cria e acessa os bens culturais em suas próprias localidades. Entretanto, ilude-se quem pensa que para produzir e promover eventos culturais basta viver no meio de festas, com muita música, arte e gente descolada. Encarar esse tipo de empreitada, que não deixa de ser um processo árduo de trabalho, exige coragem e disposição. Pelo menos, é o que afirmam os novos produtores capixabas. Jovens que veem e, principalmente, compartilham algo de diferente no dia a dia de suas comunidades e municípios. Seja qual for o cenário, a produção de eventos é parte importante na circulação de cultura. Um elo entre a criatividade e a fruição que deve ser tratado com seriedade, pois se trata de um trabalho árduo e coletivo. Mãos à obra!

Festival de Leituras Dramáticas Capixabas Com o olhar atento ao constante crescimento das manifestações artísticas do Espírito Santo, o ator, publicitário e produtor cultural Luiz Carlos Cardoso (23) realizou na cidade de Cachoeiro de Itapemirim o Festival de Leituras Dramáticas Capixabas. “Essa iniciativa mobiliza artisticamente a sociedade local, promove o teatro e a literatura capixabas, incentiva o surgimento de novos atores, de formadores de opinião e de plateia, além de sensibilizar os empreendedores locais para o investimento em cultura”, explica Luiz. Nascido do contato que Luiz teve no Rio de Janeiro com a leitura dramática de “Capitu - Memórias

Póstumas” feita por Fernanda Montenegro, o Festival já teve duas edições realizadas em 2008 e em 2010, crescendo bastante de uma edição para outra. “É preciso uma boa ideia, uma bruta força de vontade para fazer a coisa acontecer, além de uma equipe de produção e de participantes realmente contagiados com o fazer cultural”, argumenta Luiz ao explicar o caminho para o sucesso desse tipo de empreitada. Mas essa iniciativa não vive apenas de bons momentos e tem enfrentado dificuldades na captação de recursos. Mesmo com esses entraves que, inclusive, levaram à não realização do Festival em 2011, o seu organizador tem bons olhos voltados ao futuro. Com o projeto do Festival aprovado pela Lei Rouanet, Luiz pretende levar novas edições do evento para as ruas de Cachoeiro de Itapemirim.

A Porta do Tapete Voador Em São Mateus, no norte capixaba, impulsionado pelo desejo de dinamizar a produção de artistas locais e visando privilegiar o trabalho autoral, o jovem Eduardo Ojú realiza o evento conhecido como A Porta do Tapete Voador. Nas palavras do próprio Eduardo: “a ideia é bem simples. Na teoria, ‘A Porta’ trataria de juntar artistas em encontros públicos para mostrarem o que fazem, conhecerem-se e criarem parcerias. Acreditamos no projeto a longo prazo até porque o fim último é intervir na dinâmica da cidade, estimular a arte, os artistas e as pessoas”, afirma Eduardo. O evento, que acontece desde setembro de 2010, foi contemplado pelo Edital de Núcleos de Criação 2011 do Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ). Para além de suas metas, Eduardo demonstra ter os dois pés muito bem apoiados no chão quando fala sobre as dificuldades enfrentadas por quem atua na área da


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Animefest

produção cultural: “Precisamos saber a hora de ignorar as próprias limitações para colocar a ideia em prática. A crítica vem depois”, diz. E se você imagina que os problemas de produção de eventos se resumem a termos técnicos, está bastante enganado. “Nós lidamos com ideias e criações que nem sempre são razoáveis. Não estamos falando de coisas concretas e práticas que vão garantir futuro ou lugar no mercado de trabalho. O próprio valor de arte é constantemente discutido. Existem problemas de produção, dificuldades técnicas e falta de apoio, mas isso é irrelevante. É só resolver! A maior dificuldade é a arte, é criar. Podemos tentar nos tornarmos produtores, mas antes somos artistas e, particularmente, trato ‘A Porta’ como um objeto artístico. O que se faz com esse objeto?”. E completa: “Em suma, a principal dificuldade encontrada na produção do evento é descobrir o que fazer depois do fim”.

Mostra de Cenas Minuto Do cenário teatral capixaba, a Escola de Teatro, Dança e Música Fafi entra em nossa reportagem com um evento diferente. Localizada no movimentado Centro de Vitória, a Faculdade virou palco da I Mostra de Cenas Minuto que rolou em abril deste ano. Entre as pessoas que atuaram na realização do evento está a estudante de Teatro Ana Cláudia Cristo (23), que conta como foi idealizado o formato da Mostra: “Optamos por fazer as apresentações de forma itinerante, ou seja, o público se locomoveu pelo espaço da Fafi até chegar ao local onde era proposta cada cena”. Segundo Ana, o objetivo é atrair novas pessoas e estimular o interesse pelas atividades ocorridas na Escola. Mas, para isso, os organizadores tiveram que driblar algumas dificuldades: “Fizemos boa parte da divulgação por meio de redes sociais e e-mail. Os impressos foram modestos e pagos com recursos arrecadados com as inscrições dos participantes”. Mesmo se tratando da 1ª edição, Ana Cláudia fala animada sobre o sucesso do evento, que movimentou um grande número de pessoas. “Esperávamos trazer para a Mostra um público menos acostumado a ir ao teatro. E conseguimos. Surpreendemo-nos com a quantidade de rostos novos que compareceram”, diz.

Você já ouviu falar de Super Sentai? Cosplay, Otakus? Pois bem, tudo isso faz parte de um universo muito próprio em que as pessoas chegam até a ter aulas de japonês para se consagrarem no mundo dos Animes! A estudante de Letras Marihá Castro (21) não se esquece do dia em que realizou, em 2006, junto com uma equipe de amigos, o primeiro Anime Fest – atividade multicultural capixaba com foco na cultura oriental. Para o evento eram esperadas 300 pessoas, que devam ter chamado outras 300, que, por sua vez, chamaram mais 400. Foi um verdadeiro espanto para a organizadora que se deparou com um exército de mil aficionados pela cultura nipônica: “Ficamos ‘de cara’ quando vimos aquela multidão”, conta. De lá pra cá, o evento se tornou referência no estado. No ano passado, a programação durou dois dias e reuniu cerca de 4 mil pessoas, muitas delas provenientes


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Baile Funk na Grande Vitória do interior do Espírito Santo. “Também vem gente de fora do estado, mas ainda não é um número expressivo”, explica Marihá que, para produzir o festival, conta com uma equipe de sete pessoas, podendo chegar a quarenta na reta final. No início, umas das maiores dificuldades de Marihá foi conseguir apoio para viabilizar seus projetos: “Ser jovem pode dificultar em conseguir apoio de empresas particulares, pois muitos não encaram os projetos desenvolvidos por pessoas jovens com seriedade. Mas quando conseguimos a oportunidade de apresentar o projeto, surgem apoios interessantes”. E, de fato, surgiram. Além do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) que empresta o espaço físico no campus de Vitória, a jovem produtora conta com alguns apoios de empresários e também com a Associação Nikkei de Vitória.

O funkeiro e vice-presidente da Associação do Movimento Funk do Espírito Santo, Dihego Mardegan (26), também começou cedo na produção cultural. Ele tem nada menos do que 12 anos de experiência produzindo bailes pela Grande Vitória. “Comecei ajudando a organizar eventos junto com amigos e depois passei a fazê-los sozinho”, conta. Ele organiza eventos quase todos os finais de semana e já fez desde bailes pequenos, com público máximo de 200 pessoas, até grandes produções com um público de mil pagantes. A idade média dos frequentadores dessas festas está entre 18 e 25 anos. Mas, segundo Dihego, há pessoas de todas as idades nos eventos. O funkeiro ainda fala da estigmatização dos bailes pela grande mídia, o que exige mais cuidado na hora de serem organizadas as festas, normalmente, com um tanto a mais de seguranças do que em outros eventos. Tudo isso para resguardar o público e a imagem do Baile: “Não é por conta de violência, mas sim de prevenção. Quando acontece uma briga em uma boate, dificilmente a imprensa cai em cima. Mas se for em um baile Funk, eles criam um alvoroço. Todo dono de baile tem consciência que o mais importante é zelar pelo seu público e pelo nome da casa”.

Papo de Compositor Foi a partir da despretensiosa ideia de divulgar o trabalho de amigos compositores que jovens estudantes do curso de Música da Universidade Federal do Espírito Santo deram início ao Papo de Compositor, uma proposta de divulgar de forma democrática a música produzida no estado. Com entrada gratuita, os pocket shows permitem ao artista uma proximidade com seu público, que é presenteado com um bate-papo sobre o processo de composição das músicas. Atualmente, o evento é coordenado por dois professores, Fabiano Araújo e Marcus Vinícius, e por sete monitores: Vagner Geraldo, Arthur Travaglia, Esteban Viveros, Neilson Bonfim, César Muniz, Bruno Rebequi e Elvis Menezes. A primeira edição do evento aconteceu em maio de 2010. E teve a presença do cantor, compositor e guitarrista Zé Moreira. Logo depois, o Papo de Compositor foi vinculado a um projeto de extensão do curso de Música da Ufes, o Musivamentando, e já levou ao Centro de Artes da Ufes artistas como Anselmo Groove, Jr. Boca e Juliano Rabujah. A divulgação das apresentações é feita pelos próprios organizadores por meio de redes sociais, blogs e cartazes. “Nossa intenção é dar visibilidade ao projeto que é uma iniciativa ímpar no Estado. O Papo de Compositor é um espaço alternativo para o músico mostrar a sua obra e, com isso, valorizamos a produção musical local”, explica Vagner Geraldo (23) ex-aluno de Licenciatura em Música e um dos organizadores do evento


30 ∙ ENTREVISTA

FOTOS: LOUISE GRIPP

A natureza jovem em expansão No perfil de uma jovem envolvida com atividades artísticoculturais e turísticas, um exemplo de como a atuação juvenil contribui para a efetivação do desenvolvimento sustentável local e para a constituição de uma consciência cidadã Paulo Gois Bastos

Ela gosta de viajar, de dançar forró, de assistir a filmes, de inventar comidas com os amigos e de dormir. Relva Rodrigues (25 anos) está sempre disposta a fazer seus projetos e ideias acontecerem e, assim como muitos jovens da sua idade, tem sonhos e inquietações. Nascida em Garanhuns, Pernambuco, passou os seus primeiros quatro anos de idade em viagens com a sua mãe que, na época, fazia parte do movimento hippie e procurava um lugar ideal para morar. Daqueles tempos, Relva ainda se recorda das caronas em caminhões. Há 20 anos essas andanças tiveram um fim, quando a família de Relva descobriu o Patrimônio da Penha, distrito do município de Divino São Lourenço, na região do Caparaó Capixaba. Inicialmente, eles foram morar no Portal do Céu, que fica em uma região mais alta do distrito, e se dedicaram à agricultura. Dez anos depois, abriram uma pousada onde Relva atua como gerente administrativa. “Até os meus sete anos, morávamos em uma casa de pau a pique, com chão de barro. Depois, comecei a estudar na escola de Patrimônio da Penha e por isso tivemos que sair do Portal do Céu, pois ficou difícil ter que subir e descer a serra sozinha todos os dias”, conta. A escolha por um estilo de vida mais integrado à natureza, distante do cotidiano acelerado dos centros urbanos e mais próximo de um comunitarismo é comum a vários moradores do Caparaó. Foi essa mesma perspectiva que levou a

família de Relva a fixar morada nas terras capixabas. Para ela, a adoção desses valores e práticas reflete, sem dúvida, no modo como se relaciona com as pessoas e percebe o mundo. “Minha família sempre pensou muito nisso, em viver em comunidade. Acho que isso me ajudou a ser mais humanizada”, diz.

Sem estereótipos Um imaginário comum sobre o tipo de vivência de Relva pode nos levar a pensar que uma jovem crescida nesse tipo de ambiente procure um certo tipo de isolamento, mas sua trajetória equivoca tal estereótipo. Após concluir o Ensino Médio, ela mudou-se para São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, onde cursou a faculdade de Turismo e morou durante cinco anos. Em 2009, retornou e, logo em seguida, começou a trabalhar na Prefeitura de Divino São Lourenço na função de chefe do Departamento de Turismo. Longe da vida nômade dos primeiros anos de sua infância, Relva mantém o gosto pelas viagens, o que influenciou a escolha de seu curso universitário. Ela conta que, aos 17 anos, durante um passeio feito em Porto Seguro, na Bahia, conheceu algumas estagiárias de Turismo na praia e pensou: “‘quero isso pra mim também!’ Fazer estágio viajando? Eu não tinha resolvido até o momento. Voltei da viagem decidida: ‘vou fazer Turismo’”.


ENTREVISTA ∙ 31


32 ∙ ENTREVISTA

A vivência cultural Durante a infância, Relva participou de atividades artísticas como teatro e música que, de alguma forma, abordavam a temática ambiental. Na adolescência, ela acompanhou uma importante movimentação cultural local protagonizada pelo seu avô materno, que também foi morar em Patrimônio da Penha vindo de São Paulo. “Meu avô era o guardião do Boi Pintadinho. As reuniões e os ensaios do Boi eram na minha casa. Eu assisti a todo esse processo de resgate, pois o Boi Pintadinho foi uma tradição trazida pela primeira família que veio para cá e já tinha morrido. No dia que montaram o Boi de novo, a comunidade inteira foi atrás” relembra entusiasmada. Até hoje, ela atua na articulação para que as apresentações aconteçam. Desde que retornou de São Paulo, Relva, junto com outros moradores de Patrimônio da Penha, constituíram um grupo de dança contemporânea, o Feijão com Arroz. O coletivo conseguiu aprovar um projeto nos Editais Rede Cultura Jovem neste ano. A iniciativa chamou-se Sexta Básica e consistiu em oficinas de dança para jovens e adolescentes. O processo criativo das aulas foi registrado e fará parte de um vídeo a ser apresentado para a comunidade posteriormente. As oficinas do Sexta Básica foram realizadas no Polo de Educação Ambiental. Trata-se de um espaço multiuso voltado para as atividades comunitárias e de educação ambiental mantido pelo Consórcio Circuito Caparaó. A partir de demandas dos jovens do distrito, manifestadas durante a etapa municipal da 2ª Conferência Nacional de Juventude, Relva também articulou a criação do Grupo Atitude Jovem, responsável por sessões semanais de cineclube no Polo Ambiental de Patrimônio.

Pertencimento e autonomia As regiões mais afastadas dos centros urbanos tendem a serem vistas como pouco atraentes para os mais novos. Relva conta que, entre os jovens da região, é possível encontrar aqueles que admitem ter vergonha de morar no interior.

“Hoje o jovem não quer mais trabalhar no campo. Nenhum jovem que sai para fazer faculdade quer voltar e trabalhar com a terra. A maior parte dos jovens faz pedagogia e volta para ser professor ou alguma coisa na escola. Aqueles que fazem outro tipo de curso, não conseguem emprego aqui, então não voltam” analisa. Para ela, além da ampliação e da diversificação do mercado de trabalho, a criação de espaços onde os jovens desenvolvam suas ideias de maneira autônoma e vivenciem as diferentes expressões artístico-culturais é o tipo de política que também contribui para reforçar o senso de pertencimento.

O pensamento sustentável Relva faz parte do Conselho Municipal de Turismo e do Circuito Caparaó Capixaba – uma rede de empreendimentos turísticos situados nos municípios da Serra do Caparaó. Por conta de sua atuação, ela, cotidianamente, percebe que uma das grandes preocupações dos moradores da região é a de como minimizar o impacto gerado pelo crescimento da atividade turística. Para Relva, a garantia de um desenvolvimento local sustentável, só é possível por meio da participação e da tomada de posicionamento da comunidade. O conceito de desenvolvimento sustentável é algo que Relva defende e procura sempre praticar. Ela nos explica a amplitude desse ponto de vista: “vejo a sustentabilidade como um meio de vida onde as pessoas conseguem viver em conjunto. Por exemplo, no Circuito Caparaó a gente compra os produtos uns dos outros para sermos sustentáveis, fazemos compras coletivas para obtermos melhores preços, sempre prezando a preservação ambiental e o plantio orgânico. A questão cultural também faz parte da ideia de sustentabilidade: de como manter os registros históricoculturais da comunidade; de como estimular o sentimento de pertencimento e buscar representar no artesanato a fauna e flora existentes aqui, criando uma identidade local. Sempre na perspectiva de deixar para as próximas gerações tudo que a gente tem”


CRÍTICA EMARANHADA ∙ 33

ILUSTRAÇÕES: THIAGO MANAUARA

Dançar para acolher Isis Dequech As danças circulares perpassaram por vários momentos da sociedade, resistiram aos movimentos da chamada cultura erudita e a todos os estilos dançantes, e até hoje são praticadas e celebradas. De acordo com o tipo de celebração, elas se diferem entre si, que podem ser rituais sagrados ou em prol da paz universal. Mas uma coisa todas têm em comum: a busca pela integração dos seres. Olhar nos olhos, trocar carinho, abraçar e dizer que se ama são gestos que podem gerar estranhamento para quem é novato na roda da dança. Esse tipo de expressão pode fazer os praticantes novatos pensarem que voltaram aos anos 70 ou que estão participando de algum movimento neo-hippie. Porém, aos poucos, as pessoas são contagiadas pela energia da dança circular, integramse e retornam para dançar e se sentirem amadas novamente. A dança está presente em todos os seres humanos. Dizem que “quem sabe andar, sabe dançar”. Desde o surgimento das primeiras civilizações já se tem indícios de que as danças circulares existem. A ancestralidade dessas danças e seus passos primitivos as diferenciam de outros tipos de dança. Para vários povos, as rodas eram espaços de celebração e nela eram feitos os rituais para a colheita, a cura, as estações do ano, os casamentos e outras cerimônias sagradas. A formação circular nos traz a sensação de acolhimento, de pertencimento e de união em torno de um bem comum. E foi dentro de círculos que as comunidades se afirmavam como unidade, como família. Diferente dos outros tipos de danças praticadas no mundo, não é necessário aprender uma técnica, nem ao menos um ritmo para dançar na roda; a intenção não é formar dançarinos. A ideia é justamente contrária. Para se dançar basta estar dançando. Não importa se você conseguiu aprender os passos. Dentro da roda, errar é permitido e isso é algo importante nesse processo já que, fora da roda, existe uma grande cobrança social para que as coisas aconteçam de forma perfeita. Hoje, alguns motivos que fazem as pessoas praticarem as danças circulares talvez sejam a sensação de liberdade para errar e o sentimento de fazer parte de um grupo, de se sentir acolhido e querido pelas pessoas que também estão ali dançando, independente de você conseguir acompanhar os passos ou não. Os focalizadores, aqueles que transmitem as coreografias, são responsáveis também por manterem a cultura de um povo, respeitando e honrando sua tradição. Os movimentos coreográficos simbolizam o cotidiano e, em sua maioria, buscam fazer conexão com o sagrado e incluir todos os participantes a fim de promover a integração e a cooperação entre os seres. O sagrado não é relacionado com nenhuma religião. Ele é tido como aquilo que há de mais puro e importante para cada ser. É onde existe o amor.


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E foi pensando em seu sagrado e no seu amor pelas danças que Bernhard Wosien foi um entusiasta dessa forma de dança. Bailarino e coreógrafo francês, renomado entre os profissionais da sua área, ele percorreu o mundo resgatando danças de diferentes povos. Por isso, elas não têm uma origem específica, pois vieram de todo o mundo. Assim, pode-se dizer que sua origem é global. Foi na comunidade alternativa de Findhorn na Escócia, nos anos de 1970, que Bernhard Wosien ensinou pela primeira vez os passos de tudo aquilo que aprendeu ao redor do mundo. Por sorte nossa, havia um brasileiro de passagem naquela comunidade. Foi através de Carlos Solano que o Brasil passou a conhecer e apreciar as danças circulares. Esse jeito de pensar a dança também chegou ao Espírito Santo. O grupo mais ativo de danças circulares da Grande Vitória se reúne sempre no primeiro fim de semana de cada mês na Casa da Cultura da Barra do Jucu, em Vila Velha. Esses encontos são momentos muito especiais para os seus frequentadores partilharem a alegria, o amor incondicional, se autoconhecerem e conhecerem o próximo. Mas, para usufruir ao máximo dos benefícios de estar ali na roda, é preciso que cada ser presente esteja inteiramente aberto e concentrado no aqui e no agora. No pulsar rítmico da dança, o sagrado se manifestará em cada um. Serão sempre bem-vindos aqueles que quiserem participar dessas experiências dançantes. AHO! *Rubens Calegari, focalizador de dança circular que atua na Grande Vitória, colaborou com a elaboração deste texto.

Pode ser? Talvez... Priscila Milanez Falar do novo, do embrionário, do germinal, do que brota rompendo a fronteira estabelecida entre o que ainda não é e o que pode vir a ser é sempre um risco. O risco de tropeçar mais adiante – quando o novo o deixa de ser –, nas próprias palavras. Principalmente, quando o novo em questão diz respeito a uma proposta que emerge em um cenário musical tão multifacetado, fragmentário e controverso quanto o contemporâneo. Cenário este que, para os mais nostálgicos, se manifesta numa fase de crise, relacionada não só aos rumos da indústria fonográfica, como também à própria qualidade musical do que se tem sido produzido. E, para os entusiastas, se configura como um campo rico de possibilidades e de experimentação (um debate profícuo que não cabe aqui). Assim, tecer considerações sobre qualquer nova proposta que desponta no cenário musical contemporâneo é tocar em um ponto de aguda fragilidade. Sobretudo, quando o que se tem em perspectiva é uma gama riquíssima de referências consubstanciadas em movimentos musicais que, em décadas anteriores, fizeram da música popular brasileira um balaio riquíssimo em sonoridade e beleza poética.


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O que será exposto nestas linhas não é mais do que o reflexo de uma expectativa acesa pelo que se viu e ouviu de um processo de criação em curso e que, como quase tudo que se encontra em estado germinal, ainda se apresenta com contornos turvos e pouco definíveis. E, por hora, não é passível de nenhum tipo de enquadramento estético ou estilístico. Trago à cena, então, o Pó de Ser Emoriô. Emoriô – palavra proveniente de um dialeto africano que remete à ideia de ligação, união – soa como um nome, no mínimo, curioso para aqueles que nunca ouviram a canção de mesmo nome composta por João Donato e Gilberto Gil, lançada em 1975, no LP Lugar Comum. Já Pó de ser Emoriô poderia ser muitas coisas (se me permitem o trocadilho tacanho), mas cá estou falando de uma banda recém-formada por quatro jovens músicos – Thiago Perovano, Aline Hrasko, Emmanuel Sete Linhas e Yuri Guijansque – que, como o próprio significado da palavra que nomeia o projeto sugere, se uniram em torno de um objetivo comum. Munidos de seus instrumentos, vozes, muita vontade e uma bagagem repleta de ricas referências musicais, esses moços formaram um núcleo de criação para realizar um projeto musical: ao longo de seis meses o grupo se dedicou intensamente à composição de um repertório autoral e à concepção de um show que serviria de vitrine para as canções resultantes desse processo. Parte do processo germinativo que configurou o Pó de ser Emorió se materializou em canções como Cê tem fé em que?, Mariposa, Sopra-me a ilha, Palha de Ouro, Só para loucos e a Hora da chuva cair, entre outras. E é a partir delas que ouso falar e, mais do que isso, ouso apostar. Pois o que se percebe é que estão impressos em cada uma dessas canções certa dose de labor, trato e intensidade. De cada nota e acorde, palavra e verso se compõem os fios que, com esmero, tecem as tramas melódicas de suas canções. Essas, por sua vez, apontam o caminho que o grupo se propôs a traçar a cada passo e compasso, rumo à concretização desse projeto. Ou seria clichê demais dizer: de um sonho? O sonho de se estabelecerem enquanto músicos, portadores de um repertório autoral e de uma linguagem própria que – como num ato antropofágico – se nutre do passado para regurgitar o novo. Tanto nas canções compostas pelo grupo, quanto no cenário e no figurino do show realizado no teatro do Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes, no último mês, se observa o esforço empreendido na construção de um projeto estético próprio o qual intenta incorporar um legado rico de referências advindas de movimentos musicais de outrora (entre eles, o Tropicalismo), ao mesmo tempo em que propõe um diálogo profícuo com o contemporâneo. Embora seja possível apontar a necessidade de um amadurecimento maior no que concerne à concepção estética desse projeto, o grupo se destaca entre a nova geração de jovens músicos e, neste momento, se apresenta como uma promessa. Quiçá, um desvio nesse caminho repleto de modismos sem substância e densidade harmônica e poética, como tantos que temos visto e ouvido surgir num dia e se esvanecer no seguinte, sem conseguir cravar seu lugar fora do espaço e do tempo, como fizeram tantas canções. Pode ser? Talvez... Oxalá, que possa ser! podeseremorio.tnb.art.br


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Você se Lembra? Edward Marily Quando comecei a desenvolver meu projeto científico para a finalização do curso de Comunicação Social, ao qual denominei Multisensorial, escutava palavras como videoarte, obras de arte, performance, arte sonora e instalação. Em termos, tudo era uma novidade para mim – basicamente porque as ideias concebidas eram meramente intuitivas. Na prática, essas criações formavam uma espécie de constelação midiática – desenhos transformados em design digital, melodias em música, registros visuais em vídeo e um amplo conceito que ocupou um espaço físico e gerou uma apresentação final – justamente características que classificam algo dessa natureza como arte multimídia. Era o ano de 2009 e, nessa época, um dos músicos envolvidos no meu projeto recomendou o trabalho de Murilo Esteves Júnior. Pelas circunstâncias da ocasião, nosso contato foi breve, mas, ao final da apresentação, lembro-me de ter escutado dele: “Quando você fizer mais coisas assim, lembre de mim”. De alguma forma, a frase ficou por um tempo guardada em minha memória. Um ano depois, quando decidi continuar com o Multisensorial, convoquei Murilo, dessa vez assinando como PixxFluxx, para desenvolver uma nova intervenção que acabou por acrescentar outro input tecnológico no projeto: o vídeo-mapping. Fui convidado, tempos depois, para uma reunião do tal PixxFluxx. No encontro, novos rostos: pessoas envolvidas em diversas cenas, desde DJs, programadores, a designers, VJs e cientistas. Lembro-me de sentir orgulho em acompanhar o crescimento do coletivo que não só aumentava em número de integrantes, como também na diversificação de suas atividades – eram incríveis ideias saindo da mente fértil desses jovens. O PixxFluxx é um coletivo de artistas e de produtores de audiovisual composto por Murilo Esteves Jr., Bruno Dias, Murilo Polese e Wanderson Belo. Entusiastas da tecnologia, eles estão sempre pesquisando e criando novas poéticas audiovisuais interativas e imersivas por meio de práticas, como a projeção mapeada, a animação, a arquitetura simulada, o trans-cinema, as live-imagens, o live-cinema, os after effects, e o cinema 4D. Para Arlindo Machado*, “o vídeo é agora uma presença quase inevitável” e a arte multimídia abrange, “por extensão, quaisquer experiências artísticas que utilizem os recursos tecnológicos recentemente desenvolvidos, sobretudo, nos campos da eletrônica, da informática e da engenharia biológica”. Acredito que grande parte da atuação do PixxFluxx no Espírito Santo seja integrada às mídias pelas quais eles transitam com tanta facilidade, obviamente trazendo o aspecto da modernidade que o estado necessita para o seu desenvolvimento cultural. Durante a Semana do Audiovisual (Seda/ES), realizada no último semestre deste ano, o PixxFluxx fez um mapping arquitetônico em fachadas de prédios Ufes. A atividade registrada por uma câmera se tornou um vídeo que foi parar na internet e, logo, ocasionando outra mídia... E por aí vai... Ou seja, as possibilidades midiáticas são infinitas!


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É esse frescor que consigo enxergar no trabalho do PixxFluxx: o desbravamento do desconhecido e o aperfeiçoamento do campo tecnológico. Acredito no progresso desse tipo de trabalho por aqui. Espero que tais contribuições no campo artístico sejam reconhecidas e que seus criadores possam ter condições para se dedicarem ao desenvolvimento que a arte multimídia requer, como o alto custo financeiro e o grande nível intelectual-energético. Aí sim, lembrarei das primeiras aventuras do PixxFluxx. *MACHADO, Arlindo. Arte e mídia, 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. (2008)

A poética da pichação Stefânia Masotti e Gabriel Ramos A palavra muda dos invisíveis e desvenda o suporte da ação: o espaço da cidade. A cidade noturna iluminada por luzes artificiais é a mesma que os esconde. Ao mostrarem suas identidades visuais em meio a uma realidade repleta de imagens a serem digeridas a todo instante, os pichadores são retratados como vândalos e transgressores de legislações e opiniões. Os pichadores também estão escondidos sob a luz do sol, como que cobertos pela correria diária da urbanidade. Têm como território a rua – lugar exclusivo para o trânsito daqueles que correm. Eles utilizam os muros como instante de parada e se apropriam do espaço urbano como uma resistência política e social – devoram-no como quem devora um livro. Falar da pichação é, ao mesmo tempo, distante como também sensível aos olhos. Somos distantes da produção da realidade e da indignação que move seus criadores, mas somos sensíveis por nos sentirmos parte de tudo isso, por sermos também cidade. As tensões provocadas pelo picho não se resumem às dicotomias como ser ou não arte; ser ou não loucura; ser ou não crime. Esse tipo de expressão é, antes de tudo, resultado da intervenção de um corpo ativo e pensante que, a próprio punho, faz transbordar o protesto, a indignação e a necessidade de ser ouvido por meio de sua caligrafia. A relação corpo-cidade se torna cada vez mais íntima à medida que os pichadores interagem com a cidade: são cidade e picho amalgamados. Nas pichações podemos enxergar palavras de ordem, assinaturas emblemáticas ou até mesmo poesias e frases reflexivas. Outras vezes, não compreendemos nada e vemos a necessidade de enxergar outros caminhos de leitura dentro de nós próprios – vias que levam os pichadores para a cadeia ou para o museu. São caminhos que os pixadores nos fazem percorrer até chegarmos a um questionamento ou a um estado de admiração. Dessa forma, o picho sai do muro e ganha a nossa mente como suporte. Picho é trânsito de dentro para fora, que desafia a chegar aonde não se pode tocar: o muro, a instituição, a placa, a pedra, a montanha, o sonho. É comunicação sobre o que nos separa, sobre o que inclui de um lado deixando muito de fora; é ruptura de barreiras


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com palavras e com desenhos. É uma expressão “permanente” na cidade que teima em escorrer e atropelar nossos sentimentos. Pichador é aquele que olha um muro branco e sente muito: do choro ao sorriso. Vê além do que os olhos apressados com o horário apertado, o ônibus lotado, o pé calçado e as mãos atadas não conseguem perceber, não param, não riem, não sentem Sentir é experimentar. É perceber o que se passa em si. É estar convencido a achar, considerar, julgar, pensar. Sentir é conhecer, notar, reconhecer. Sentir é dar fé. É experimentar mudanças físicas ou morais por causa de alguma coisa. É sofrer as consequências. Pichar talvez seja apenas um ato de concretizar sentimentos e sentidos.


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Que medo você tem de nós? Fredone Fone

Muitas expressões e movimentos artístico-culturais acontecem pelas ruas e becos da periferia. É claro que teatros, cinemas, galerias de arte e espaços culturais institucionalizados praticamente não existem, mas a possibilidade de serem vivenciados ambientes alternativos vai muito além desses limites preestabelecidos, realidade percebida cotidianamente no pulsar da periferia. Isso está presente nas músicas reproduzidas pelos aparelhos de celular, pelas caixas amplificadas ou mesmo tocada por DJs ou grupos de amigos que circulam de forma livre nessas comunidades, carregando e proliferando as linguagens do funk, do rap, do pagode e de outros estilos musicais. A grande maioria dos que fazem cultura na periferia é autodidata, com pouco estudo formal, como ter cursado uma faculdade de Música, de Artes, de Teatro ou coisa do tipo. Apesar das dificuldades, de forma espontânea e com muito improviso vão sendo descobertas inúmeras alternativas e permitindo-se que a periferia produza e conquiste novos territórios com a sua produção, mesmo com equipa-

mentos precários e com poucos recursos financeiros para investimentos. É notável essa movimentação nas feiras livres, ônibus, ruas, festas e bares. O Circuito independente vem ganhando força sem gravadoras, produtoras ou equipes de marketing. Por meio da divulgação boca a boca, das redes sociais, de vários pequenos movimentos, da venda de CDs copiados e distribuídos em sacolas plásticas e da ajuda dos comerciantes locais, a circulação cultural vai se multiplicando na periferia. Videoclipes são produzidos em estúdios caseiros e shows são gravados com câmeras fotográficas de baixo custo. O próximo passo é transformar esse material em DVDs que são replicados e vendidos, movimentando a cena musical e criando um mercado independente que consegue se manter sem a ajuda de programas de rádio e da TV. Toda essa “correria” é o combustível para que o emprego formal, aliado à luta diária por sobrevivência, não paralise a produção do indivíduo, condicionando-o a trabalhar em outros empregos e impedindo que ele cresça e tenha pro-


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gresso no campo cultural e pessoal a partir do lugar onde mora. Além da música, as atividades escolares, o culto e o teatro organizado na igreja, o futebol na quadra ou mesmo no campinho de terra, o basquete, o skate e outros esportes e atividades praticados nas ruas têm um papel sociocultural e artístico importantíssimo nos bairros periféricos. Entender a produção cultural feita na periferia, pela periferia e pra periferia não é tão simples, pois essas criações trazem identidades, linguagens e até mesmo gírias específicas de um determinado grupo social que as tornam muitas vezes difíceis de serem compreendidas por quem não vive ou viveu nesse contexto. Essas expressões acabam não sendo legitimadas e chegam a ser consideradas como subculturas. A verdade é que a produção cultural da periferia não para. Com a força do povo e de mecanismos alternativos para a sua circulação e difusão, a arte e a cultura desses lugares extrapolam os limites dos bairros populares e se espalham com tanta força que, muitas vezes, chegam a causar incômodo aos desavisados, “pertubando a paz, exigindo o troco”*. Não é incomum ouvir a fala de muitas pessoas que taxam essas expressões de “coisa de pobre” – postura elitista que visa desqualificar a criatividade pulsante da periferia. Há uma fervilhante experimentação artístico-cultural na periferia e os grandes muros são muito pequenos para esconder o que tem acontecido. Além das artes e dos esportes, compreender que as idas e vindas ao trabalho e toda essa circulação de pessoas pelo bairro também faz parte da experiência cultural. Mais do que isso, se faz necessário compreender que a área da cultura é importante para a vida de todas as pessoas. Ela é o passaporte para que o jovem conheça pessoas de outros bairros e de outras classes sociais, circule por outros espaços e, principalmente, imploda as barreiras sociais que são construídas a todo instante. Para que isso realmente aconteça de forma eficaz, é preciso acreditar em quem faz e no que se faz, pois só assim é possível sair do gueto e ganhar o mundo por meio da arte – algo a se comemorar de forma tão vibrante quanto à fuga de um escravo. É de extrema importância que os autores dessa “façanha” não se esqueçam das suas raízes a fim de continuarem lutando, não só por si, mas principalmente ao lado de

muitos outros que ainda estão escondidos por robustas barreiras socioculturais: o preconceito e o descaso que tentam os/nos separar do resto do mundo. Talvez ainda não perceberam que “o muro caiu”!* O campo da cultura tem contribuído para a inclusão e para a busca por conhecimento e transformação do social, levando o jovem morador da periferia a acreditar que é possível deixar de ser invisível e se tornar um exemplo de vencedor. Onde as palavras “política” e “político” são vistas com total descrédito, seria uma hipocrisia não admitirmos que investimento em saúde, educação e infra-estrutura, muitas vezes, mais parecem uma piada sem graça. E o investimento em cultura? Apesar da efervescência nas periferias, poucos artistas e produtores conseguem acessar as leis de incentivo e ter condições de concorrer a editais elaborados pelo poder público. Um fato evidente é que esses instrumentos são elaborados com linguagens e códigos bem delimitados, com a finalidade de atender a determinados segmentos sociais. Tanto na sua forma de escrita quanto nos prerrequisitos solicitados. Isso funciona como um “boicote” aos artistas e a toda cultura da periferia, feito por meio de um academicismo excessivo em que estudiosos e burocratas escrevem sobre a cultura Hip Hop e sobre outros movimentos de periferia sem nunca terem pisado lá ou conhecido, de fato, as bases desses movimentos. Cada dificuldade encontrada, cada novo muro construído tem impulsionado ações culturais em torno de grupos específicos que cooperam entre si para realizarem suas ações. Isso torna evidente que o povo acredita muito mais na sua própria força do que nas promessas e apoios das instituições públicas. A cultura da periferia incomoda a burguesia, mas ela já está por toda parte estabelecendo encontros e diálogos com outras culturas. Não há como impedir seu crescimento. Resta a reflexão do verso: “que medo você tem de nós?”*

* Versos da música “Pesadelo”, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, gravada em 1972 pelo grupo MP4 no disco “Cicatrizes”.


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FOTOS: LEONE IGLESIAS

Renato Ren e Rubiane Maia

Costura a Dois:


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O encontro pode parecer insólito: uma artista performer e um grafiteiro. Mas a sintonia criativa não podia ter sido melhor. Natural de São Paulo e com um traço inconfundível, Renato Ren possui trabalhos espalhados em diversos muros e paredes da Grande Vitória. Autora de um delicado trabalho que sempre intenta ampliar a ocupação do espaço público pela arte, Rubiane Maia é uma pesquisadora e artista visual da mais atuantes na cena cultural do Espírito Santo. A proposta foi que Renato criasse um graffiti a partir da série de performances chamada Quadrilogia da Cores, realizadas por Rubiane ao longo de 2011. Esse conjunto de apresentações traz como marca visual a monocromia presente nas roupas e em outros objetos. O local escolhido para a execução do trabalho foram os escombros de um prédio às margens da Rodovia BR 262, em Viana. O acesso aos registros das apresentações, por meio de fotos e vídeos, foi o primeiro contato de Renato com a poética da artista performer, que decidiu fazer, não apenas um desenho sintetizando a Quadrilogia das Cores, e sim uma série de três desenhos. Durante o processo de criação do grafiteiro, Rubiane esteve presente executando parte de cada uma das quatro perfomances. Para ambos os artistas, a inteiração, além de inusitada, possibilitou um diálogo cheio de contrastes visuais e cumplicidade poética. O tensionamento por uma arte cada vez mais pública e a implicação corporal desses dois jovens nas suas criações, são elementos comuns nos trabalhos de ambos


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Mostra Claro de Audiovisual Entre setembro e outubro deste ano, três terminais rodoviários do sistema Transcol receberam uma movimentação diferente. Entre embarques e desembarques, a população usuária do transporte coletivo pôde conhecer, por meio do audiovisual, um pouco mais das expressões culturais de diferentes regiões capixabas. A Mostra Claro de Audiovisual exibiu uma seleção de 30 vídeos vencedores das edições passadas das Mostras Capixabas de Audiovisual (MCAs), uma das ações do PRCJ. As MCAs são um grande circuito de realização e de exibição audiovisual que envolvem jovens de 53 municípios do Espírito Santo e são divididas em quatro edições temáticas que acontecem em diferentes regiões capixabas. Os Terminais de Campo Grande, Itaparica e Laranjeiras foram palco para a primeira exibição dos documentários das MCAs em um espaço urbano, fora dos cenários retratados nos vídeos. Mais de 2 mil pessoas assistiram aos vídeos que são feitos por alunos de escolas públicas em oficinas de audiovisual. A Mostra também faz parte de um trabalho de responsabilidade social da Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória (Ceturb-GV). Todos os meses são realizadas atividades de interesse público nos terminais da Grande Vitória, como teatro, cursos gratuitos, ações relacionadas à saúde e ao meio ambiente. A Claro, por meio da Publibox, também foi parceira dessa série de exibições nos terminais.

Encontros com a conexão Desde a sua criação, o PRCJ lançou os Editais Rede Cultura Jovem com o objetivo de fomentar e de promover a visibilidade de projetos culturais protagonizados pelas juventudes capixabas. Em seu segundo ano, essa de rede jovens capixabas envolvidos com o fazer artístico-cultural ganhou mais amplitude. Esse crescimento acontece a partir da experimentação e do intercâmbio de ações que contribuem para a consolidação de uma dinâmica de cultura em rede. Um dos momentos privilegiados para a articulação de parcerias entre as iniciativas contempladas pelos Editais são os Encontrões PRCJ. Neste ano, foram realizados dois encontros, um em maio e outro em outubro, reunindo os representantes dos diversos projetos selecionados. Nos Encontrões, acontecem trocas de ideias entre as iniciativas jovens, repasse de orientações por parte da equipe do PRCJ, além da exposição e de debates em torno de temas relacionados ao fazer cultural. Esses eventos colocam os jovens para dialogarem entre si e possibitam contato com as diversas realidades culturais do estado. A bolsista Amanda Brommonschenkel (21), de Santa Tereza, destaca que os Editais RCJ promovem a expansão das iniciativas não só pelo recurso, mas também pela interação com as outras iniciativas contempladas. “O próprio Encontrão já é um tipo de circulação cultural, onde há trocas muito ricas entre quem está produzindo cultura pelo estado inteiro, não só na Capital”, diz Amanda.


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O integrante do Núcleo de Web TV, Igor Duarte (24), de Vitória, também ressalta a importância das conexões geradas pelos Editais PRCJ como um catalizador de projetos. “A ideia da nossa websérie era encontrar jovens atuantes em outras áreas culturais, como Literatura e Fotografia. Esse intercâmbio foi decisivo para a própria construção dos episódios, fortalecido pelo encontro ao vivo nos Encontrões”, completa Igor. Em uma reunião de jovens envolvidos com as mais variadas expressões artísticoculturais não se pôde esperar menos do que isso: os Encontrões são um espaço de intensa troca de experiências, seja no estabelecimento de relações pessoais, seja na ampliação das conexões virtuais já promovidas por meio do Portal Yah!.

Mais agentes culturais jovens Encarado como uma profissão ou como uma ocupação complementar, o trabalho de um agente cultural é sempre caracterizado por aglutinar atividades que potencializem o alcance das culturas. Para incentivar esse tipo de atuação, o PRCJ realiza, desde 2009, a Formação Agente Cultura Jovem (FACJ). A iniciativa busca atender essa demanda por capacitação de jovens articuladores culturais pelo estado e, em sua terceira edição, conta com a participação de 35 jovens moradores de diversos municípios capixabas. Com a FACJ, os jovens já inseridos na área artístico-cultural são instrumentalizados para perceberem as diversas produções e expressões culturais de suas localidades com um olhar mais crítico. A participante da FACJ de 2010 Ariny Bianchi, de 21 anos, conta que com a experiência foi possível ampliar as perspectivas na áera cultural. “Além de conhecer várias maneiras de se manifestar culturalmente, que eu não imaginava, foi possível conhecer pessoas que trabalham na área e que me instigaram a realmente seguir esses passos, a pensar que é possível divulgar a cultura produzida localmente. Hoje tenho uma produtora cultural que surgiu justamente na época da Formação”. A partir das experiências anteriores, a FACJ teve as suas temáticas e metodologias reformuladas para aproximar ainda mais as vivências dos jovens participantes aos conteúdos teóricos. Mobilização social, conceitos de Arte e Cultura, redes sociais, elaboração e gerenciamento de projetos foram alguns dos assuntos discutidos nos encontros mensais. Além dos debates e das palestras com convidados, os jovens participantes realizaram tarefas práticas sob a orientação da coordenação da FACJ 2011. Tais atividades contribuíram ainda mais para a consolidação do aprendizado dos jovens, tornando-os ainda mais capazes de exercerem o papel de agentes culturais. Para Max Dias, que faz parte da coordenação da FACJ 2011, é necessário maior quantitativo de agentes culturais atentos aos novos contextos culturais e que enxerguem as potencialidades e fragilidades das iniciativas culturais. “A Formação busca desenvolver no jovem, por exemplo, a capacidade de perceber caminhos que garantam a sustentabilidade de projetos culturais. Quanto mais gente capaz de pensar isso, maior é o ganho para a cultura do estado”, diz Max. Acompanhe tudo que o rolou na FACJ 2011 no endereço: portalyah.com/facj


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FOTO: PAULO GOIS

Mostra Meu Lugar Um bairro guarda muitas histórias, desde os personagens mais populares até os problemas e as potencialidades da comunidade. De olho na realidade local, jovens do Ensino Médio aceitaram o desafio de criar um filme sobre o lugar onde moram. A ação faz parte da Mostra Meu Lugar, que integra o projeto Cultura Presente, realizado pela Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, em parceria com o Instituto Sincades, por meio do PRCJ. Por meio de oficinas, jovens de quatro bairros da Região Metropolitana da Grande Vitória realizaram documentários registrando as suas inquietações e percepções sobre o seu entorno. A proposta é contribuir para a construção da cidadania e para a valorização das diferentes possibilidades de ser e estar no mundo por meio da arte e da cultura. Essa galera vivenciou todas as etapas de realização de uma produção audiovisual, desde a elaboração do roteiro, a produção, as filmagens e a edição. Sob a coordenação do Instituto Marlin Azul, as aulas envolveram alunos de escolas estaduais dos bairros de Terra Vermelha, em Vila Velha; de Vila Bethânia, em Viana; de Nova Rosa da Penha, em Cariacica; e de Feu Rosa, na Serra. Os estudantes de Nova Rosa da Penha exerceram as funções de roteirista, produtor, repórter, apresentador, editor e cinegrafista para realizarem um telejornal que registra as principais reivindicações dos moradores. A estudante Lorruama da Silva Matias (18) atuou como produtora e diz que gostou de expor o que pensa sobre o bairro. “O mais difícil foi coordenar as pessoas e suas atividades para que não faltasse nada na hora da gravação. O mais bacana foi a aproximação e o convívio com a galera”, conta Lorruama. Para a estudante Mirian Vieira Nascimento (17), de Feu Rosa, além de aprender a contar uma história com imagens, a oficina motivou os alunos a buscarem novos conhecimentos. “Um curso como este cria responsabilidades e desperta o interesse dos alunos por estudar”, destaca. Em Feu Rosa, os estudantes percorreram diferentes igrejas para registrar histórias de conversões religiosas. Em Terra Vermelha, os alunos contaram a história de Reginaldo Rayol e os Vira Copos, uma banda divertida cujos integrantes incluem ainda os personagens Zé Esqueleto, Chupa Cabra e Quase Morto. Os alunos de Vila Bethânia, em Viana, revelam no vídeo como resolvem o problema da falta de opções de lazer no bairro. Saiba mais sobre a Mostra Meu Lugar em portalyah.com/meulugar


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Geração AudioVisual Filipe Alves Borba

#protestovitoria foi a hashtag usada nas redes sociais da internet que veicularam conteúdos sobre os protestos contra o aumento das passagens ocorridos em Vitória no primeiro semeste de 2011. Atrelado a essa palavra-chave, foi possível divulgar uma série de videos, editados ou não, sobre as ações policiais contra os jovens estudantes. Em 2007, também ocorreram manifestações parecidas, porém o processo de mobilização não contou com essa cobertura audiovisual colaborativa e imediata. Além dos vídeos disponobilizados em repositórios na internet, os jovens realizaram transmissões ao vivo do #protestovitoria por meio dos seus celulares. O caráter dessas transmissões eram muito diversos, pois não havia apenas uma transmissão ao vivo, mas sim várias. Lembro-me bem da transmissão “descolada” do blog Cut Club. Ju Dadalto, autora do blog, transmitiu a sua conversa com policiais que atuavam na repressão do protesto e, por não saberem da transmissão em andamento, desencadeavam uma série de “gentilezas” contra a blogueira. Após um amplo acesso ao conteúdo transmitido, um portal de internet da mídia corporativa local também passou a realizar transmissões, porém em um formato muito mais “careta” e pouco experimental. Os jovens são os maiores responsáveis pela exploração dos novos recursos audiovisuais oferecidos. Hoje, a facilidade de acesso aos meios de produção faz com que a rede mundial de computadores fique cada vez mais lotada de vídeos. Do celular às câmeras mais modernas, passando pelas compactas, o audiovisual vive um momento de grandes possibilidades. As possibilidades são diversas tanto na produção e na captação, quanto na distribuição e na exibição. Há os que captam, mas nem editam seus vídeos e já colocam na internet. Há os que aproveitam os novos programas de edição e viajam em montagens complexas e cheias de recursos. Há os que captam em celular. Há os que captam em modernas câmeras. Há, ainda, os que nem captam, mas se apropriam de conteúdos livres na internet para “mixarem” e produzirem algo novo. Desse modo, podemos até revisitar a tradicional expressão de Glauber Rocha de “uma camera na mão e uma ideia na cabeça”, pois, hoje, já se produz apenas com uma ideia na cabeça e nenhuma camera na mão ou, então, apenas uma câmera e nenhuma ideia na cabeça. Roteiros e ideias estão fervilhando aos montes pela rede. A criação audiovisuial é terreno fértil para a colaboratividade. Os conteúdos disponibilizados por meio de licença creative commons arejam a produção e dão mais vida e dinâmica ao conteúdo audiovisual por meio de novas permissões sobre o uso da obra. A produção não mais se restringe às salas de cinema. Hoje a internet é a maior “distribuidora” de vídeos do mundo. E isso já não é novidade. Possibilidade ainda mais recente é acessar um vídeo na internet por um telefone celular. E as possibilidades das telas só tendem a se multiplicar. Engajados nesse momento de novas possibilidades estão, principalmente, os jovens. Antenados nas novas tecnologias, os jovens têm acesso fácil aos novos e diversos equipamentos de captação e edição, além de poderem assistir às


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inúmeras produções já realizadas e disponibilizadas na internet. O resultado disso tudo é que nunca se viu tanta produção audiovisual. E de maneiras tão distintas e experimentais. Produções por meio de incentivos governamentais, independentes, comerciais, coletivas, individuais, autônomas, corporativas, de baixo ou alto orçamento. O importante é produzir! E o mais legal: as experimentações estão em alta! Tanto na forma de produção como na distribuição ainda há muito a se inventar. Grandes orçamentos não garantem produções de sucesso, mas o contrário pode acontecer: baixos orçamentos podem gerar vídeos de sucesso. Isso se deve, em grande parte, à facilidade de circulação dos vídeos pela internet.

E a TV? Pensando nessas novas tecnologias, possibilidades e experimentações, o PRCJ concebeu o Yah!TV – um canal de web TV com foco na produção audiovisual jovem do Espírito Santo. Baseado na produção colaborativa e na interatividade, o canal, além dos conteúdos produzidos pelo PRCJ, também veiculará conteúdos produzidos pela rede. Parte dessas produções irá para a TV aberta sob a forma do programa televisivo Yah!TV que será veiculado na TV Educativa do Espírito Santo. A partir do espaço virtual do PRCJ, os conteúdos e informações poderão compor o programa na TV. As mídias sociais de relacionamento possibilitarão uma relação mais direta e criativa com os telespectadores; o que orientará as modificações e adequações da programação. A estética hipertextual da internet será assumida e incorporada ao formato televisivo a fim de criar uma identificação entre o universo multimidiático acessado pelo jovem com o Yah!TV. Como resultado dos Editais Rede Cultura Jovem 2011, cinco web-séries produzidas por jovens capixabas também serão destaques do Yah!TV. Cada uma das séries terá três episódios e os primeiros deles já estão disponíveis na internet. Essas produções estão em pleno andamento e, pelos primeiros resultados, já é possível notar os diferentes olhares desses jovens realizadores. A web-série “Piedade Berço do Samba, Terra de Bamba” foi realizada por jovens moradores da Piedade, em Vitória, como forma de pesquisar, registrar e divulgar a história da própria comunidade em que vivem. A produção dessa web-série é importante ferramenta para que a história da comunidade, que se mistura com a história do samba em Vitória, não seja esquecida pelas gerações mais novas. Já a web-série “Na Cola” conta com um grupo de jovens videomakers que se uniram para registrarem a história de jovens artistas da cena local. O Grupo Cultural ETC, de Muqui, tem produzido de maneira bastante disciplinada. Além da web-série “Escada, janela, porão; Luz, câmera, ação!”, esse coletivo jovem teve aprovado um projeto de oficinas audiovisuais no Edital de Núcleos de Criação. O Grupo faz uso de câmeras digitais compactas e usa a criatividade para produzir freneticamente. A série “Palavras”, também contemplada pelo Edital de Web-Série, traz reflexões sobre poesia, literatura e cibercultra. E, por fim, a série “Eu Modo Mundo” aborda como diferentes perspectivas identitárias contaminam e se deixam contaminar pela infinidade de formas de se comunicar e de produzir conteúdo criativo.

Difusão, circulação e intervenção Além das web-séries, outras produções audiovisuais foram contempladas pelos Editais Rede Cultura Jovem 2011. Confinópolis, por exemplo, é um projeto aprovado do grupo Camarão Filmes. A produção conta com um roteiro adaptado


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de uma história em quadrinhos e contará a luta de rebeldes contra a ditadura num mundo de fantasia. Já o pessoal da Onírios Produções e da Tom Tom Tom Filmes, outos dois projetos selecionados pelo PRCJ, brincam com o gênero do falso documentário. É importante ressaltar que o PRCJ apoia grupos que atuam na difusão e na circulação de obras audiovisuais, como o Festival Curtíssimas na Lagoa da Associação Diacônica Luterana, em Afonso Cláudio; o Cineclube Colorado, em Cariacica; o Cineclube Central, em Vila Velha; e o Cine Kbça, em Vitória. Também vale a pena citar um projeto que foge um pouco aos tradicionais formatos de exibição audiovisual que conhecemos. Trata-se do EMULA de autoria Murilo Esteves, integrante do coletivo PixxFluxx, e que foi contemplado pelo Edital Bolsa Cultura Tech. A iniciativa desenvolve intervenções na arquitetura urbana com projeções audiovisuais. Produzindo material próprio ou mesmo utilizando de conteúdos disponibilizados por creative commons na internet, o grupo intervém na cidade com suas mega-projeções mapeadas. Essas projeções na cidade funcionam como eventos e, consequentemente, são muitas vezes também filmadas e registradas em vídeo demonstrando a importância do audiovisual também enquanto ferramenta para o registro de ações artístico-culturais.

Transmissões ao vivo O PRCJ realiza algumas transmissões ao vivo e incentiva outros grupos a fazêlas. Esse tipo de ação é uma ótima ferramenta para as coberturas colaborativas nas quais há uma “cobertura” do evento descentralizada e feita pelos próprios participantes. As transmissões ao vivo já foram utilizadas de outras maneiras pelos jovens capixabas. O coletivo artístico Bolor, do qual também faço parte, realizou em 2010 uma série de transmissões de processos artísticos. Nessas ações, jovens artistas podiam ser acompanhados ao vivo pela internet enquanto desenhavam, pintavam ou grafitavam. Essas transmissões tinham um caráter extremamente experimental, pois não havia um “roteiro” ou “programação”. Por vezes, duravam o dia inteiro e o público tendia ainda a aumentar à medida que o “link” se espalhava pelas redes sociais. As ferramentas virtuais por si só já possuem características propícias à colaboração e à interatividade. Essas características também se incorporam na estética da produção jovem. Uma produção que não está necessariamente fechada, mas sim aberta a opiniões e comentários durante, inclusive, o processo. Acompanhar e tentar entender o processo de criação dos jovens tem sido um dos desafios do PRCJ que utiliza, como uma das formas de acompanhamento dos contemplados pelos Editais RCJ 2011, a postagem nos blogs sobre o que os jovens estão produzindo durante o desenvolvimento de seus projetos. A descentralização dos conteúdos midiáticos e o consequente empoderamento dos jovens são importantes avanços possibilitados pela ampliação do acesso às novas tecnologias. Utilizando-se das ferramentas que têm em mãos, os jovens produzem, experimentam, produzem, experimentam... E na outra ponta, assistindo, interagindo e colaborando com essas produções estão outros jovens. É de jovem para jovem! Acesse: portalyah.com/tv


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Transeunte s Transeuntes André Arçari

A apresentação dos trabalhos desta seção está ancorada na ideia de que é impossível separar a composição dicotômica arte-vida. O composto apresentado aborda atos e relações humanas por meio de uma determinada temporalidade flutuante. A posição de promotor das ações e das reações alcançadas nos trabalhos não é fixa e, às vezes, pode ser confundida até a sua indistinção. Não há como negar a historicidade do corpo, do espaço e do tempo nas representações artísticas de um modo geral. Nesse sentido, o título é dado a fim de organizar o conjunto, por vezes, no tema central; outras, em segundo plano. O “transeunte” é uma espécie de nãohabitante, um ser que passa. O designo não é a citação isolada de cada trabalho, todavia um posicionamento como corpo dentro de um espaço através do tempo. Isto se deve consequentemente à apresentação de caráter único contido em cada exibição das obras. Ao posicioná-las é notável a percepção de uma linha tênue que as unifica.


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AMANDA MILANEZ

Amanda Milanez usa a fotografia subaquática para buscar uma estética da leveza, da suavidade e do encantamento. O resultado alcançado é obtido pelo controle técnico de luz, de movimento e de cor. A água é translúcida e se apresenta como espaço a ser preenchido por algo. O corpo que se infiltra dentro do subaquático exerce a função de mergulhador e de questionador perante o seu entorno. A água aqui presente silencia a mente e o corpo que permanecem estáticos entre raios de cores e movimentos. Mariana Reis traz como conceito a relação do animal urbano e do homem com o espaço que habitam. Em um ambiente desorganizado e heterogêneo, acredita-se que o homem transite invisível e oprimido pelo espaço que deveria lhe ser familiar. Espaço esse que pode ser considerado hostil. As cidades da atualidade parecem ter se “desencarnado” de suas identidades, reforçando-se como um ambiente de passagem ou trânsito de um corpo blindado para a percepção da paisagem.. Jocimar Nalesso apresenta como tema a memória contida nos vazios. O artista carrega em seu processo criativo a necessidade de entender os espaços abandonados de casas de colonos. A história das moradias, o estudo arquitetural do lugar e os objetos que os compõem são fatores que norteiam sua criação. Jocimar compõe, a partir do uso mínimo das cores, uma textura temporal; sobrepõe mais camadas de tinta e vai adicionando objetos aos espaços representados.


MARIANA REIS

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JOCIMAR NALESSO

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JOCIMAR NALESSO


COLABORADORES ARREMATE ∙ 55

Adriano Monteiro Jornalista e ativista cultural. Atualmente, cursa Ciências Sociais na Ufes. É monitor do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Ufes, por meio do qual atua como apresentador e coordenador do programa Afro-Diáspora na Rádio Universitária 104.7. É estagiário do projeto Circuito Cultural da Secretária Municipal de Cultura de Vitória. Amante de produções audiovisuais, escrevedor de algumas estórias e faz um som na nova banda One C. admonteiro@gmail.com @blackBubous @Afro_ Diaspora myspace.com/onecrock Ana Luiza Calmon Cursa o 6º período de Jornalismo da UVV. Tem uma paixão avassaladora pelo cinema, pela música, pelo rádio e pelo teatro. Flerta com o violão, a dança, a culinária e a língua francesa. Trabalha com o rádio desde que foi fisgada, há três anos, por esse lindo veículo de comunicação. Acredita que as atividades culturais mudam a vida das pessoas para melhor. analuizacro@gmail.com @analuizacalmon Facebook: Ana Luiza Calmon André Arçari Artista que caminha livremente pelos segmentos da vídeo-arte e da fotografia. Cursa Artes Visuais na Ufes. Ama café, cinema europeu, gatos e passarinhos, exatamente nesta ordem. Facebook: andre.arcari Caio Perim É estudante de Rádio e TV e membro da Onírios Produções. Trabalha em uma escola de idiomas e é fascinado por culturas. Vem desenvolvendo trabalhos diversos, sejam eles de teatro, dança, fotografia, vídeo. Está aí para explorar e se instigar, produzir para refletir. youtube.com/user/onirios oniriosfilmes@gmail.com Camila Torres Sonoplastia, design gráfico e audiovisual – além de alguns coletivos experimentais. cargocollective.com/camilatorres

Cyntia Andrade Atriz e produtora cultural. Atuou em diversos espetáculos teatrais, leituras dramáticas e cinema. Explora diferentes atividades no campo das artes cênicas e já realizou trabalhos de produção, sonoplastia, figurino e assistência de direção. Atualmente, desempenha a função de produtora executiva e integra a equipe do projeto de pesquisa cênica do espetáculo Benjamin. www.projetobenjamin.com cyntia.andrade@hotmail.com Edward Marily Comunicólogo e criador do projeto multimídia Multisensorial. Tem experiência em assessoria de comunicação, trabalhou em produtoras de vídeo, em agências de criação com atividades de direção de arte e design gráfico e no campo musical e audiovisual. Seus interesses pessoais variam entre ciência, arte e tecnologia. Acabou de produzir a série “Eu Modo Mundo” junto ao Compartilhe ou Nada!, além de colaborar com o Fora do Eixo/ES. Atualmente desenvolve uma instalação multimídia para o Festival Universo Paralello, na Bahia. pmultisensorial@gmail.com www.msensorial.com Filipe Borba Artista plástico, video maker, ativista. Colaborou na concepção do programa Yah! TV Facebook: filipe.borba Francisco Neto Expurgador e caixeiro viajante. flickr.com/chicow Fredone Fone É “HumanUrbano”. Aprendeu a pintar na rua, é escritor de graffiti, artista plástico, MC, se arrisca como designer gráfico e anda de skate pra não enferrujar. Faz parte do movimento Hip Hop e também dos coletivos LDM Crew, BSP – Bicho Solto Produções e Instituto TamoJunto. fredone_fone@hotmail.com flickr.com/fredone-fone Facebook: Fredone Fone Gabriel Ramos Estudante de Arquitetura e Urbanismo na Ufes e escritor. Vencedor do Edital de Literatura da Lei Rubem Braga (2010) por

meio da Secretaria Municipal de Cultura de Vitória, com o livro de poesias Longevo Quando. Foi co-organizador do evento Poetas no Espaço: Espaço Palavra Criação realizado na Ufes em maio deste ano. gabrieltramos.tumblr.com poetasnoespaco.blogspot.com Gessé Paixão Professor de Filosofia. Toca trompete e compõe canções. Interessa-se por cineclubismo, poesia e frequenta a cozinha como espaço privilegiado para além de lavar pratos e louças – adora cozinhar. Integra o Acorde Prum Sopro, projeto que promove diálogos entre a música e a poesia. Integra como conteudista o núcleo de produção de cartilhas do projeto Cineclubismo e Educação em Direitos Humanos – Cine é da Hora. Faz essas coisas sucessivamente, mas quase nunca. gessepaixao@gmail.com Facebook: Gessé Paixão Giovanna Faustini Carioca de nascença e capixaba de vivência. Fotógrafa e estudante de design gráfico na Ufes. Giovanna gosta de experimentar e passear por todos os estilos fotográficos, mas sua verdadeira vocação é fotografar pessoas e trabalhar com edição de imagens. giovannafaustini@gmail.com giovannafaustini.com Gustavo Dias Ortega Professor de Geografia. Seletor de música (DJ) no coletivo Radiola Capixaba com discotecagem em vinil. Faz o resgate da cultura Sound System original jamaicana organizando eventos com a temática reggae e suas vertentes. gdortega@yahoo.com.br Facebook: Gustavo Ortega Haroldo Lima Jornalista e escritor. É integrante do Coletivo Foi à Feira. msantologia.wordpress.com @haroldolia Isis Dequech É estudante de Comunicação Social na Ufes. Monitora do laboratório de vídeo, dialoga com linguagens audiovisuais e juventude, colabora com o Circuito Fora


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FOTOS: Giovanna Faustini

do Eixo, participa de movimentos culturais alternativos e é capoeirista. Emociona-se até com filmes de comédia. Participou da segunda turma da Formação Agente Cultura Jovem. isiscdeq@gmail.com

alguns anos. Mantém um blog de poesias pouquíssimo visitado e sua banda Lis e a Era Briluz foi uma das vencedoras do 4º Festival Prato da Casa em 2010. temsereno.blogspot.com motta.lis@gmail.com

Ítalo Galiza Jornalista, publicitário e radialista. Apresenta e produz o Programa Vice Verso – projeto contemplado por alguns editais de cultura do Espírito Santo –, que experimenta a relação entre a poesia sonora e a MPB, na Rádio Universitária FM 104.7. Como diretor dos vídeos Teoria do Ralo (2007) e Eu preferia um perfume (2008), ganhou menção honrosa em festivais de cinema do estado. Adora entrevistar novos artistas, escritores, músicos e cineastas. galizaitalo@gmail.com programaviceverso.com.br

Louise Gripp É fotógrafa, professora, realizadora audiovisual, compositora musical e capoeirista. flickr.com/photos/frutodomar olhodevidro.com

Jananda Carneiro Jornalista, musicista e experimentadora. Gosta de fotografar pessoas, de canto e de coral, de rádio, do jornalismo diário e da integração trazida pelas novas mídias. Interessa-se por educação e estuda a paisagem sonora e a percepção musical. flickr.com/jananda_soares jananda88@gmail.com Julia Casotti Nogueira Jornalista, apaixonada por revistas, cultura, gastronomia, festivais de cinema, música e idiomas. É participante do 14º Curso de Residência em Jornalismo do jornal A Gazeta. Curiosa, adora ouvir e contar uma história. E ,como diz Drummond, apesar dos pesares conserva o bom-humor e caça nuvens nos ares. juliacnogueira@gmail.com @juliacasotti Leonardo Ribeiro É estudante de Jornalismo e ex-estudante de Artes Visuais pela Ufes. Curte Arte, ama Cinema. @leoknox Leone Iglesias É fotógrafo profissional, graduado em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Faesa. Skatista e designer gráfico, realizou as exposições fotográficas “Ação em Movimento” e “Original skate”. leoneiglesias.blogspot.com leoneiglesias@gmail.com Lis Motta Dona de casa, ciclista, escritora, revisora literária, fotógrafa, cantora e espiritualista; é tudo isso e não é nada disso. Graduada em Letras Português pela Ufes, faz jus à sua formação e é professora já há

Paulo Prot Designer e músico. Membro do Coletivo Opiniães, trabalha com produção cultural e produção de sentido. pauloprot.com coletivopiniaes.tumblr.com Priscila Milanez Escritora e socióloga. Tem mestrado em Ciências Sociais pela Ufes e, atualmente, desenvolve pesquisa sobre a história social da música popular brasileira. Sua produção literária oscila, sem rígidas demarcações de fronteira, entre a prosa poética e o conto. mariafulor.blogspot.com prisckamilanez@yahoo.com.br Rayza Paiva Nasceu no Acre, cursa design gráfico na Ufes e faz parte dos Coletivos Foi à Feira e [JANELAS]. Iririu! agoratenhoscanner.tumblr.com wix.com/rayzamucuna/design Renato Ren Desde 2001 é escritor de graffiti, interferindo e modificando o meio urbano com sua arte. flickr.com/renatoren Rodolpho Paixão Premiado no XVII Prêmio Capixaba de Jornalismo, cursou Comunicação Social na Ufes. É produtor e apresentador do Programa Pede Carona pela Rádio Universitária FM, onde também foi co-idealizador do noticiário Rádio Repórter. Fez parte do Núcleo de Criação Bandejão 104.7, em que realizou a quarta edição do Festival Prato da Casa de Bandas Independentes. Curte quadrinhos e torce pelo Social Futebol Clube, de Coronel Fabriciano, em Minas Gerais. @RodPaixao Rubiane Maia Artista visual, pesquisadora, professora e agitadora cultural. Graduada em Artes Visuais e mestre em Psicologia Institucional. Trabalha com performance, intervenção urbana e outras linguagens envolvendo o corpo e a escrita. Coordena de maneira colaborativa o TRAMPOLIM – Plataforma de Encontro com a Arte da

Performance e o BOOM – Global Creative Action/Vitória/BR. Interessa-se por desvios, encontros, provocações, errâncias... rubianemaia.com plataforma-trampolim.com Stefânia Masotti É uma jornalista de espírito curioso, que tem um pé na publicidade e a alma na arte. Porque tudo que se transforma quando nos transborda é, mais além, um acontecimento em trânsito. flavors.me/smasotti Tatiany Volker Jornalista, produtora cultural, educadora social e cineclubista. Gosta dos diálogos entre Cultura, Educação e Direitos Humanos. Pelo PRCJ, integra o Núcleo de Criação DVD Mostra Curta no Circuito e o Núcleo de Web TV Na Cola. Curte cinema, literatura, dança e gastronomia. tatianyvolker@gmail.com @tatianyvolker Thiago Alves (Ducrér) Jornalista, educador social e especialista em Tecnologias Aplicadas à Educação. Apaixonado por pessoas, músicas, tecnologias, projetos sociais e pela vida. É militante dos movimentos sociais. thiaghooo@gmail.com @thiaghoducrer Thiago Luiz Dutra (Manauara) Designer pela Ufes e desenhista por hobby. É interessado em cultura material, história e design contemporâneo – o que lhe rendeu pesquisas e artigos publicados, além de participações em mesas redondas e congressos pelo país. Um de seus cartazes faz parte do acervo latino-americano de cartazes da Universidad de Palermo, na Argentina, dentre outros trabalhos classificados em concursos. thiagomanauara.blogspot.com Victor Camponez Vialeto É formando em Letras-Português pela Ufes. E só. Não é nem metade do que o pessoal aí do lado vai dizer que é. camponezvialeto@hotmail.com Vitor Limão Nascido na cidade maravilhosa, em 27 de abril de 1987, ano em que a Constituição Brasileira ratificou a liberdade de imprensa. Nasceu para fazer da comunicação uma arte - o que não parece exagero, afinal, está prestes a formar-se no curso de Publicidade e Propaganda. É graffiteiro conhecido no Estado e atua há mais de três anos como diretor de arte. É um dos fundadores da Revista Urbano. www.flickr.com/vitorlimaooo www.flickr.com/limaooo


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GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Renato Casagrande – Governador Givaldo Vieira – Vice-Governador SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA DO ESPÍRITO SANTO José Paulo Viçosi – Secretário Erlon José Paschoal – Subsecretário Joelma Consuêlo Fonseca e Silva – Subsecretária de Patrimônio Cultural INSTITUTO SINCADES Idalberto Luiz Moro – Presidente Dorval Uliana – Gerente Executivo Denise Modolo de Assunção – Coordenação de Projetos Lívia Caetano Brunoro – Assistente de Projetos Bruna Cassimiro Casoli – Assistente de Projetos PROGRAMA REDE CULTURA JOVEM Erlon José Paschoal – Coordenador Marcelo Maia – Coordenador da Plataforma Digital Vânia Tardin de Castro – Coordenadora da Plataforma de Projetos Danilo Pacheco – Coordenador Administrativo-Financeiro Equipe Técnica: Fernanda de Castro Barbosa Filipe Alves Borba Gustavo Rocha Pereira de Souza Ivo Godoy Kênia Lyra Maira Rocha Moreira Muriel Falcão Paulo Gois Bastos

Estagiária: Larissa Fafá

Revista Nós – ISSN 2236-0425 Jornalista Responsável e Editor – Paulo Gois Bastos (MTB/ES 2530) Projeto Editorial – Orlando Lopes e Paulo Gois Bastos Projeto Gráfico Original – Alex Vieira e Vinícius Guimarães

Revista Nós edição nº 4 Produção Danilo Pacheco, Maira Rocha e Paulo Gois Bastos Assistente de Produção Larissa Fafá

Direção de Fotografia Louise Gripp Fotos Amanda Milanez, Ariny Bianchi, Caio Perimm, Fabianne Azevedo, Francisco Neto, Giovanna Faustin, Jocimar Nalesso, Jonathan Lessa, Leone Iglesias, Louise Gripp e Paulo Gois Bastos

Direção de Arte, Diagramação, Ilustrações e Capa Camila Torres, Paulo Prot e Rayza Mucunã

Ficha catalográfica Ana Lúcia Smazaro Siqueira (CRB 296)

Foto da Capa Louise Gripp

Conselho Editorial da revista Nós nº 4 Alex Reblim, Aline Alves, Carol Areias, Charlene Bicalho, Ficore Kabelera, Joyce Castello e Juliana Lisboa

Ilustração da seção Crítica Emaranhada Thiago Luiz Dutra (Manauara) Textos Adriano Monteiro, Ana Luiza Calmon, André Arçari, Cyntia Andrade, Edward Marily, Filipe Borba, Fredone Fone, Gabriel Ramos, Gessé Paixão, Gustavo Dias Ortega, Haroldo Lima, Ísis Dequech, Ítalo Galiza, Jananda Carneiro, Julia Casotti, Leonardo Ribeiro, Lis Motta, Paulo Gois Bastos, Priscila Milanez, Rodolpho Paixão, Stefânia Masotti,Thalita Covre, Tatiany Volker, Thiago Alves (Ducrér), Victor Camponez Vialeto e Vitor Limão Revisão de textos Luiz Cláudio Kleaim

Especificações Gráficas Tipografia – Emona, Syntax LT, LT Finnegan Papéis – Offset 120g/m², Pólen Bold 90g/m², Couchê 115g/m² e Clear Plus 92g/m² para o miolo e Supremo 250g/ m² para a capa. Impressão – GSA Gráfica e Editora Tiragem – 5 mil exemplares A revista Nós é uma publicação do Programa Rede Cultura Jovem. Rua Abiail Amaral Carneiros, nº 191, sala 505, Ed. Arábica – Enseada do Suá – Vitória-ES, CEP: 29.055-220. (27) 3026-2507 jornalismo@redeculturajovem.com.br www.portalyah.com

Vitória-ES Dezembro de 2011

Revista Nós. – n. 4 (nov. 2011). – Vitória: Secretaria de Estado da Cultura . Programa Rede Cultura Jovem . Instituto Sincades, 2011. v. : Il. : 20,2 x 26,4 cm. Semestral. Editor: Paulo Gois Bastos. ISSN 2236-0425 I. Bastos, Paulo Gois. CDD 050


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FOTOS: Giovanna Faustini


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Uma confraria, uma turma de amigos, um coletivo de artistas, uma cozinha pública, uma hospedagem solidária, uma galeria, um salão de festas, um cerimonial no quintal. Desde dezembro de 2010, numa bucólica residência quase engolida pela verticalização do bairro Praia da Costa, em Vila Velha, jovens artistas constituíram um lar transitório para diversas artes e encontros: a Casa 16. Na imagem, o espetáculo Insone, do Grupo Z de Teatro, montado entre os meses de setembro e outubro deste ano na sala da Casa 16. [casan16.blogspot.com]


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FOTOS: Giovanna Faustini


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