C E N T R O D E C U LT U R A B R A S I L- B O L Í V I A UMA PRAÇA | DOIS PAÍSES | OUTRA CULTURA
REBECA GRINSPUM
C E N T R O D E C U LT U R A B R A S I L- B O L Í V I A UMA PRAÇA | DOIS PAÍSES | OUTRA CULTURA
Trabalho Final de Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Orientador. Angelo Bucci São Paulo, 2011
“Crucé fronteras para llegar a estas tierras lejanas, abandoné a mi madre, abandoné a mi pueblo. Virgencita de Urkupiña ilumina la luz de nuestros días, danos la fuerza para llevar, para llevar esta vida“. (Canto à Virgem de Urkupiña, José Bolivia)
A G R A D E C I M E N TO S
Agradeço à minha família pelo eterno apoio, aos meus amigos que me fazem rir, ao meu orientador que me guiou e às pessoas extraordinárias que conheci por esse mundo afora. Anna, Cacá, Cadu, Carol, Denise, Flor, Jorge, Patrícia, Regis e Rogério, obrigada por me ajudar na realização deste trabalho.
SUMÁRIO
05. Introdução 06. Pela América do Sul 15. A cidade como local de encontro 16. Praça Kantuta 20. Imigração 25. Centro de Cultura Brasil-Bolívia 26. Área 35. Programa 36. Referências de projeto 39. O projeto 42. Implantação 43. Cobertura 44. 1o Pavimento 45. Térreo 46. Subsolo 47. Cortes 51. Imagens 57. Brasileiro que nem eu, que nem quem? 58. Bibliografia
INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca reforçar
Através de visitas à feira, da leitura
contornos sócio-culturais e espaciais.
a presença de uma comunidade es-
de trabalhos, reportagens e de docu-
Pensar e atuar com a DiverCidade nos
trangeira na cidade pluricultural que
mentários realizados sobre a comu-
coloca o desafio de lidar com a me-
é São Paulo, abordar a questão do
nidade boliviana, me aprofundei no
diação entre partes e, paralelamente,
“ser imigrante” na sociedade globali-
tema e me surpreendi com a riqueza
gerir a delicada relação entre o pas-
zada atual, propondo um centro irra-
cultural deste país. O projeto do Cen-
sado, o presente e o que se pretende
diador de uma cultura distinta e que
tro de Cultura Brasil-Bolívia foi criado
como futuro das cidades”1.
se refaz ao se encontrar com a nossa.
para dar forma a essa transformação
Reconhecendo a imigração, es-
Os imigrantes bolivianos que vi-
sócio-cultural. Espaço de trocas, de
tamos aprendendo a ser cidadãos,
vem em São Paulo estão se misturan-
aprendizado, ele se abriria não ex-
incorporando diferentes grupos à
do entre os demais, estão se fazendo
clusivamente para a comunidade
sociedade estaremos re-inventando
cidadãos paulistanos. Vêm à procura
boliviana, mas para todos os interes-
a cidade, re-inventando a democra-
de melhorar de vida, mudar de vida.
sados neste acontecimento, nesta
cia 2. Este trabalho apresenta-se como
Oriundos de uma cultura diferente
diversidade.
uma oportunidade de se fazer uma
trazem consigo hábitos, religiões,
A heterogeneidade de São Paulo,
costumes, ideais distintos, e aqui, de
tão falada e cultuada, se faz quando
As seguintes páginas contarão o
alguma maneira, tentam preservá-
absorvemos novos cidadãos, vindos
processo que percorri para o de-
los. Esse é o papel da Feira Kantuta:
de diversos lados. São minorias que
senvolvimento deste projeto, com o
todos os domingos uma praça no
se aventuram nessa metrópole, so-
qual finalizo o curso de Arquitetura e
Pari se transforma em um reduto bo-
brevivem a dificuldades, e permane-
Urbanismo. É com ele que descrevo
liviano, se pinta de vermelho, amare-
cem. Quando inserimos essas mino-
o que aprendi nestes anos de forma-
lo e verde. Local onde o paulistano
rias, fazemos cidade: “A cidade com o
ção, não só como arquiteta e urba-
é e se sente turista, sem sair de sua
imigrante é, em síntese, uma cidade
nista, mas como pessoa.
própria cidade.
configurada com novos e diferentes
1. MENEZES, Marluci. A cidade com os imigrantes. In: Ser Imigrante. Jornal Arquitectos. Publicação Trimestral da Ordem dos Arquitectos – Portugal. Jan./Fev. /Mar. 2010. 2. Idem.
cidade mais democrática, plural.
São Paulo: mar de culturas.
5
PELA AMÉRICA DO SUL
Viajar é renascer em outra língua. (Guilherme Wisnik)
Através de viagens, cursos, oficinas e intercâmbio construí um forte vínculo com nossos países vizinhos, aprendendo a observar suas culturas e modos de vida. O interesse de trabalhar a América do Sul despertou, principalmente, após participar de uma oficina internacional de arquitetura na Colômbia e realizar um intercâmbio na Argentina, no qual fiz parte da disciplina Taller Sudamerica, onde estudamos Puerto Quijarro, cidade emergente do leste da Bolívia, fronteira com o Brasil. Após essas importantes experiências e diferentes vivências estava claro que esse tema seria parte do meu trabalho final, de um projeto que ainda estava por vir.
6
BOGOTÁ . CARTAGENA DE ÍNDIAS . MEDELLÍN . ZIPAQUIRÁ . MOMPOX
Foi em uma Colômbia, por mim desconhecida, que aprendi que arquitetura é sim uma ferramenta de organização do espaço para a construção de uma cidade democrática. Um lugar onde o espaço público tenha, talvez, mais qualidade que o privado. Equipamentos públicos desenhados por renomados arquitetos do país inseridos em zonas carentes, transformando e requalificando espaços, antes, abandonados e inseguros. Medellín e Bogotá, mais do que belas cidades, dão uma aula sobre inclusão social e integração das periferias à cidade, tornando-as, inclusive, em pontos turísticos.
7
PUERTO QUIJARRO . PUERTO SUAREZ
No leste boliviano a pobreza latente sensibiliza qualquer viajante que por ali passa. As cores dos tecidos e da natureza se destacam entre as ruas de terra e as casas simples. A timidez dos moradores impede uma aproximação: a cabeça baixa, o olhar vazio evidencia a falta de esperança. O contato com o rio é exíguo, apenas a atividade portuária ocorre com maior intensidade. Na Laguna Cáceres, revela-se a oportunidade de desenvolver um turismo sustentável, uma vez que esta é a porta de entrada do pantanal sul-americano. A maioria dos jovens deixa suas pequenas cidades para estudar ou trabalhar nos centros urbanos, contribuindo com a impressão de estarem ainda mais vazias. Suas carências, em todas as dimensões, nos suscitam a urgência de uma mudança.
8
BUENOS AIRES
Buenos Aires, cidade charmosa, suas ruas fervem a qualquer hora do dia. Em suas praças executivos, transeuntes, moradores de rua e crianças descansam, brincam, lêem, conversam. Apesar das manifestações quase diárias prejudicarem o tráfego de veículos e pedestres, revela-se uma sociedade politizada, interessada em lutar pelos seus direitos. A memória dos desaparecidos da ditadura militar está em todos os lados, é próprio da população que não se deixa esquecer o sofrimento de tal período, carregam uma melancolia em sua rotina. A apropriação do espaço público é exemplar, o lazer e a discussão estão nas ruas e praças. Ali, vive-se a cidade.
9
CÓRDOBA . MAR DEL PLATA . ROSÁRIO . LA PLATA
Córdoba, ciudad de los estudiantes, onde a arquitetura do presente tange a do passado em suas praças e museus. Mar del Plata, principal porto pesqueiro do país, é também o balneário preferido dos porteños; carrega o ar dos antigos hotéis e cassinos, agora decadentes, foi
berço dos grandes
tangueros argentinos. Rosário, a cidade banhada pelo Rio Paraná, revela harmonia entre sua população e sua arquitetura através de uma sequência de praças e programas culturais nas margens de suas águas. La Plata, a pequena cidade planejada, com uma praça a cada seis quarteirões, possui o belo e único exemplar da obra de Le Corbusier na América Latina.
10
MONTEVIDEO . ATLÁNTIDA . PUNTA DEL ESTE
A pequena Montevideo não esconde as belezas de suas ruas, casas e edifícios antigos. Parece que se parou no tempo. Aquela conhecida cidade de população velha, agora abre espaço para os jovens que o conquistam com sua arte, dedicação e simpatia. Uma cidade calma que dá as costas ao Rio de La Plata, parece não querer quebrar a harmonia de uma vida interiorana e se contenta com o apelido de hermano chico de Buenos Aires. Atlântida aparece nas curvas dos tijolos da Igreja de Eladio Dieste. Punta del Este, o famoso e requisitado balneário uruguaio, fora de temporada, se transforma em uma cidade fantasma. Em suas ruas vazias só o vento intenso se faz ouvir.
11
SANTIAGO
Surge aos pés dos Andes a Santiago moderna. O céu azul, sem nuvens brinda a paisagem do Rio Mapocho que atravessa a cidade. O verde dos bairros contribui para a boa qualidade de vida que ali se revela. A cidade dos cachorros de rua começa a incentivar mais as atividades culturais a fim de promover a vida urbana, oferecendo diversas opções de lazer. Famosa pela arquitetura contemporânea, seus projetos são destaques no panorama arquitetônico atual e fazem valer os elogios.
12
La espina dorsal del planeta es mi cordillera 3
Canción con todos
faça disso uma limitação.
Nossa colonização nos fez sempre
como lo fue para ellos. La interpretaci-
contemplar os “países desenvolvi-
ón de nuestra realidad con esquemas
A herança dos tempos de colônia
dos”, apreciá-los e os ter como exem-
ajenos solo contribuye a hacernos cada
reflete-se na economia, na carência
plo. Aprendemos a nos enxergar atra-
vez más desconocidos, cada vez menos
social, na desordem e corrupção. No
vés de outro olhar que não o nosso.
libres, cada vez más solitários...”4.
passado, arrancaram nossas rique-
Salgo a caminar por la cintura cósmica del sur, piso en la región, mas vegetal del viento y de la luz; siento al caminar toda la piel de América en mi piel
Na arquitetura ocorre o mesmo, ten-
A América do Sul é um concen-
zas, nos desenvolvemos de mãos
y anda en mi sangre un río
demos a admirar o outro e almejar
trado de países e culturas, dos quais
atadas ao outro. Não somos países
que libera en mi voz su caudal.
ser semelhante. São inúmeros livros,
também fazemos parte, que muito
novos, mas sim, como coloca o ar-
revistas e web sites que nos colocam
pode nos surpreender. Apesar das
quiteto Paulo Mendes da Rocha,
o outro como modelo, como inova-
diferenças, os problemas e as realida-
recém descobertos no plano do
dor. É inegável a qualidade de proje-
des que o Brasil enfrenta, são simila-
conhecimento. Nossos índios e as
tos e estratégias que desenvolvem,
res aos demais países da sul-america-
civilizações pré-colombianas bem
porém nossa realidade é outra, nosso
nos: tomando-se em conta uma foto
habitaram, desenvolveram e cons-
hacia la entraña América y total,
clima, geografia, língua e tradições
da periferia de São Paulo, ela vai ser
truíram nessas terras. Muito foi apa-
pura raíz de un grito
são outros. Devemos sim conhecer
muito parecida à periferia de Bogotá,
gado e esquecido. Entretanto ainda
destinado a crecer y a estallar.
o alheio, mas, antes, reconhecer o
Argentina, Equador, Uruguay, Chile,
podemos identificar nossas singula-
que nos é próprio, assim interpreta
etc. Então, “qual a distância entre o
ridades. Resgatar e evidenciar o que
o escritor colombiano Gabriel García
Brasil e a América?”, nos questiona
nos é próprio.
Márquez: “Es compreensible que insis-
o arquiteto Guilherme Wisnik em
“Yo no creo que los sudamericanos, o
tan en medirnos con la misma vara con
suas notas de viagem pela Améri-
los paraguayos, o los asuncenos, o los
canta conmigo canta,
que se miden a sí mismos, sin recordar
ca Latina5. Nossa língua, diferente
de este barrio tengamos mejores o pe-
hermano americano,
que los estragos de la vida no son igua-
das demais do grupo, aparece como
ores posibilidades. Tenemos una heren-
libera tu esperanza
les para todos y que la búsqueda de
principal obstáculo para uma maior
cia, um mundo que fue desarrollado
la identidad propria es tan sangrienta
integração. É importante que não se
por nuestros antecesores, y tenemos la
3. “A espinha dorsal do planeta é minha cordilheira“. Trecho da música Latinoamérica do rapper porto riquenho Calle 13. 4. “É compreensível que insistam em nos medir com a mesma vara com que medem a si mesmos, sem recordar que os estragos da vida não são iguais para todos e que a busca da indentidade própria é tão sangrenta como foi para eles. A interpretação da nossa realidade com esquemas alheios apenas contribui a sermos cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres, cada vez mais solitários...“. Trecho retirado de: LARRAÑAGA, María Isabel de; PETRINA, Alberto. Arquitectura e identidad en la Argentina. In: TOCA, Antonio (ed.), Nueva Arquitectura em America Latina: presente y futuro. México: Ediciones G. Gili, S.A. de C.V., 1990.
Sol de Alto Perú, rostro, Bolivia, estaño y soledad, un verde Brasil, besa mi Chile, cobre y mineral; subo desde el sur
Todas las voces todas, todas las manos todas, toda la sangre puede ser canción en el viento;
con un grito en la voz. (A. Tejada Gomez e Cesar Isella)
5. WISNIK, Guilherme. Latinoamerica: Notas de viagem. In: O Brasil não existe!: Ficções e canções. São Paulo: Publifolha, 2010. 4. “Eu não acredito que os sul-americanos, ou os paraguaios, ou os asuncenos, ou os deste bairro temos melhores ou piores possibilidades. Temos uma herança, um mundo que foi desenvolvido por nossos antecessores, e temos a obrigação de transformá-lo.“ Entrevista do arquiteto paraguaio Solano Benítez ao documentário argentino Proyecto Brasilia. Disponível em: <http://proyectobrasilia.com.ar/>. Acesso: 02/03/2011.
13
es el Sur”, uma imagem-manifesto,
como ferramenta de opinião10 , uma
Aproveitando as ferramentas que
em 1935. Neste, o artista desenha a
arte coletiva e sócio-política11 , deve-
temos, a terra que pisamos, a tec-
América do Sul invertida, apontando
mos fazer um esforço para integrar
nologia que criamos, conhecendo
para o Norte: “Colocar o Pólo Sul na
conhecimentos e estudos, pensar em
como cada lugar tenta resolver suas
parte superior do mapa, convencio-
um sistema de ações e estratégias,
questões seria possível nos desen-
nalmente usada para indicar o Norte,
que ajudariam a melhorar as nossas
volver revelando uma identidade,
produz uma mudança de sentido. Os
cidades, e que suprissem as carên-
não necessariamente diferente ou
navios subirão para o Sul e descerão
cias sociais, “trata-se de estabelecer
igual, mas verdadeira.
até o Norte: o Leste; o oriente verme-
territórios reconfigurados para que
“Me gustaría ver um mundo donde
lho — como corresponde — estará
os altos ideais humanos se efetivem.
las diferencias y las similitudes sean
à esquerda. Muito mais que um jogo
É uma resistência contra a miséria”.12
auténticas, no forzadas [...] Que existan
engenhoso, o deslocamento semân-
Através de publicações, conferên-
diferencias, pero no las impuestas por
tico dos pontos cardeais produz múl-
cias, discussões, estudos de campo
condiciones económicas; que existan
tiplas associações simbólicas. A nova
e oficinas, tramar-se-ia uma coalizão
similitudes, pero no las causadas por
bússola que aponta ao Sul indica
da potência que é a nossa porção da
carencias de imaginación.”
também um lugar ao que se ascende,
América. Como coloca Milton Santos,
o paraíso. Descer ao Norte é também
“o mundo, porém, é apenas um con-
uma descida aos infernos“.
junto de ‘possibilidades’, cuja efeti-
obligación de tranformarlo.”6
7
O artista uruguaio Joaquín Torres Garcia após 43 anos vivendo em Pa8
9
ris e Madri regressa à Motevideo e
Como fez Torres Garcia, também
vação depende das ‘oportunidades’
traduz sua experiência e seu ponto
devemos inverter a ordem, desmis-
oferecidas pelos lugares“13. Devemos,
de vista, compreendendo sua iden-
tificar a “América do Sul terceiro
assim, romper as fronteiras.
tidade latina ao desenhar “El Norte
mundista”. Entendendo a arquitetura
“Nuestro norte es el Sur. No debe haber norte para nosotros, sino en oposición al Sur. Por eso ahora ponemos el mapa al revés y entonces ya tenemos la justa idea de nuestra posición [...]. Desde ahora, el extremo alongado de Sudamérica apuntará insistentemente para el Sur, nuestro Norte” (El Norte es el Sur, 1935, Joaquín Torres García)
7. “Gostaria ver um mundo onde as diferenças e as semelhanças sejam autênticas e não forçadas [...] Que existam diferenças, mas não as impostas por condições econômicas; que existam semelhanças, mas não as causadas por carência de imaginação.“ In: ZOHN, A. (1990). Arquitectura e identidad (em uma perspectiva vista desde México). In: TOCA, Antonio (ed.), Nueva Arquitectura em America Latina: presente y futuro. México: Ediciones G. Gili, S.A. de C.V., 1990. 8. 28/07/1874 – 8/08/1949. 9. MELENDI, Maria Angélica. Da adversidade vivemos ou uma cartografia em construção. Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: <http://www. ig.art.br/territorialidades/archivos/doc_texto_71.doc>. Acesso em: 31 de out. 2010.
10. Manifesto da disciplina Taller Sudamerica da Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo da Universidade de Buenos Aires. Disponível em: <http://www.tallersudamerica. net/>. Acesso: 14/02/2011. 11. BARDI, Lina Bo, (1990). Uma aula de arquitetura. Em: RUBINO, Silvana; GRINOVER, Marina (orgs.), Lina por escrito. São Paulo: Cosac&Naify, 2009. 12. ROCHA, Paulo Mendes. América, arquitetura e natureza. Em: ARTIGAS, Rosa (org.). “Paulo Mendes da Rocha”. São Paulo: Cosac & Naify, 2000. 13. SANTOS, Milton. “A natureza do espaço. Técnica e Tempo”. Razão e Emoção. 4.ed. São Paulo: EDUSP, p. 337. 2008.
14
A C I D A D E CO M O LO C A L D E E N CO N T R O Ver, encontrar, interagir.
Viver a cidade. A cidade, lugar de
ca. Caminhar ou andar de bicicleta,
gera dinâmicas que justamente nos
mobilidade, encontros, é um espaço
atos de prazer da vida urbana, tor-
emociona, nos integra, ao caminhar
para todo o tipo de atividade de prá-
nou-se difícil, perigoso e desagradá-
pela cidade e deparar com situações
ticas urbanas . Local de trocas, nas
vel, a cidade passa a ser vista através
imprevisíveis. Enxergar a potencialida-
ruas é possível ver o outro, o diferen-
de uma janela de veículo, geralmente
de desses intercâmbios e revelar seus
te. Esses intercâmbios enriquecem
parado no trânsito.
potenciais é a beleza da vida urbana.
14
nosso modo de pensar e ensinam a
O espaço de uso coletivo é a ci-
A abertura de mais um espaço pú-
respeitar e a admirar aquilo que pode
dade democrática. “A cidade como
blico para a cidade de São Paulo, vol-
não ser comum para nós. O espaço
feito social existe, na medida em que
tado à população menos privilegia-
público sempre foi o lugar de encon-
existe a possibilidade de produzir a
da, é um dever que tomei ao iniciar
tro, de comércio e de circulação: “é
valorização dos espaços públicos. A
esse trabalho. Envolver diferentes
um espaço aberto, uma multiplicida-
vida das cidades, as relações entre
grupos da sociedade, ocasionar esse
de de imagens, um espaço no qual a
os habitantes, têm sentido enquan-
encontro é uma maneira de ativação
vida mesma é o espetáculo” .
to existam espaços articuladores e
do espaço urbano.
15
A cidade, cada vez mais voltada
promotores de vínculos sociais. Essa
Seguindo esse caminho, buscando
para interesses privados, diminui
valorização do público, sua conside-
na cidade uma atividade temporária
as possibilidades desses encontros
ração e tratamento dentro da trama
com a qual pudesse contribuir com
uma vez que muitos desses palcos
urbana como feito integrador e nive-
um projeto urbano de arquitetura,
de atividades e interações passaram
lador social, solicita uma atualização
conheci a feira Kantuta.
a serem controlados e regulados para
permanente” . É um mecanismo de
“garantir” a segurança dos cidadãos16 .
aumento do direito à cidade.
17
A predominância do tráfego de
As atividades que acontecem nas
veículos sobre pedestres limita ainda
ruas, a apropriação temporária de
mais o espaço dedicado à vida públi-
um certo espaço de maneira criativa,
14. PERAN, Martín. Post-it city. ciudades ocasionales. POST-IT city : ciudades ocasionales = cidades ocasionais = occasional urbanities : [exposición = exposiçao] / CCCB, SEACEX. Madrid : Turner, D.L. p. 9-12. 2009. 15. MOSSET, Inés. Paisaje Latinoamericano. 1ª Ed. Córdoba: I+P Editorial, 2005. Pg. 64.
16. GEHL, Jean; GEMZOE, Lars. Novos espaços urbanos. Barcelona : Gili, 2002. pg. 13. 17. PERAN, Martín. Post-it city. ciudades ocasionales. POST-IT city : ciudades ocasionales = cidades ocasionais = occasional urbanities : [exposición = exposiçao] / CCCB, SEACEX. Madrid : Turner, D.L. p. 9-12. 2009.
15
P R A Ç A K A N T U TA
O chamado “cantinho boliviano“,
a sugestão da subprefeitura, alguns
Kantuta” (hoje desativada pelas más
a feira Kantuta acontece aos domin-
feirantes se organizaram formando a
condições em que se encontra). Por
gos no bairro Pari, região central de
Associação Gastronômica, Cultural
ser um local que concentra muitas
São Paulo, a poucos metros da es-
e Folclórica Boliviana Padre Bento e
pessoas, é possível observar na pra-
tação de metrô Armênia. Ponto de
conquistaram, em junho de 200218 ,
ça representantes de diferentes igre-
encontro dos imigrantes bolivianos,
a praça entre as ruas Pedro Vicente,
jas, evangélicas e católicas, que bus-
a feira teve seu início na Praça Padre
Cannot e Olarias, que, até então, não
cam difundir suas religiões e cultos
Bento, em frente à Igreja Santo Anto-
possuía nome, e, logo, foi batizada
e conquistando novos seguidores.
nio do Pari, no mesmo bairro, a cerca
como Praça Kantuta – a flor Kantuta
Os eventos são organizados a par-
de quinze anos atrás. Foi a senhora
é típica da região andina e possui as
tir do calendário boliviano, porém
Berta Valdés quem instalou na pra-
três cores da Bolívia, vermelho, ama-
são comemorados aos domingos,
ça a primeira barraca de churrasco
relo e verde.
quando acontece a feira. As festas
de anticucho (coração de boi no es-
São 90 barracas e cerca de 100 fei-
têm uma grande importância, uma
peto). Sem conhecer a língua e sem
rantes associados que contribuem
vez que faz o “elo entre espaços e
amigos, Berta não poderia imaginar
com uma mensalidade à Associa-
tempos distintos [...] representa o
que sua barraca seria início de um
ção, já que esta é responsável pela
momento da recriação de relações
local que reviveria a cultura de seu
manutenção, apoio e segurança da
de sociabilidade”19 , é o reencontro
país de origem.
feira. Há comércio de artesanatos,
com a própria cultura, com suas ra-
Entretanto, com o crescimento da
comidas típicas e, inclusive, barbe-
ízes. É possível assistir a apresenta-
feira e do movimento em torno dela,
aria. Além de comércio, há aula de
ções de danças típicas como a dia-
os moradores da região fizeram um
música, aula de português, aula de
blada, a morenada, a cueca, os tinkus,
abaixo-assinado para sua retirada,
taekwondo para as crianças e os im-
os tobas e os caporales, além da dis-
por conta da desorganização e lixo
portantes campeonatos de futebol
tinta indumentária que desfilam.
que causava nas imediações. Após
na quadra da praça, a “Cancha Praça
18. A feira foi regulamentada em 24 de setembro de 2004. 19. SILVA, Maria A. Moraes; MENEZES, Marilda A. de. Migrantes temporários: fim dos narradores? In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. p. 83.
Apesar das dificuldades do dia-
Flor Kantuta
16
a-dia, da má qualidade de vida, do
geira, no Brasil.
dades apenas ocorrem aos finais de
trabalho intenso dos imigrantes
A Associação também dá apoio
semana, pois, segundo o presidente
bolivianos, “a riqueza e o brilho das
aos imigrantes recém chegados, e
da Associação, Wilson Ferreira Cam-
tradições culturais, por um lado, e
ajuda à procura de emprego, através
pos, faltam voluntários para realizar
o esforço de organização, por ou-
de um mural onde são dispostas as
aulas.
tro, demonstram a busca do grupo
oportunidades. Cabe ressaltar que
Existem mais três associações de
por um lugar de destaque na socie-
essa organização é realizada por vo-
bolivianos na cidade: A Associação
dade paulistana, que em geral os
luntários da própria comunidade.
dos residentes bolivianos (ADRB),
vê apenas como força de trabalho
A sede da Associação funciona
fundada em 1969; o Círculo Boli-
barata para a indústria das confec-
em um pequeno “puxadinho“ e não
viano, fundado em 1975; e o Centro
ções, e não como sujeitos sociais
possui uma infra-estrutura adequa-
dos Residentes Cruzenhos, fundado
portadores de direitos, valores, tra-
da: uma sala e dois banheiros sem
em 1980. Há quatro rádios piratas
dições, ritmos e sabores” . As dan-
iluminação e ventilação natural ne-
no bairro, entre elas a Oficial Clube,
ças que aqui se realizam revelam a
cessária. Foi cedido pela prefeitura
94,3 FM e a Vanguarda, 103,9 FM,
identidade desses imigrantes, não
e se encontra dentro do terreno vizi-
que transmitem músicas bolivianas
só como um resgate de suas ori-
nho, onde funciona uma Unidade Bá-
e informações da comunidade e da
gens, mas também com o fato de
sica de Saúde (UBS), que atualmente,
Bolívia, onde se escuta espanhol, ai-
serem bolivianos numa terra estran-
tenta recuperar tal espaço. As ativi-
mará, quéchua 21 e até guarani. Tam-
20
20. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 59.
21. Na Bolívia, as línguas indígenas andinas aimará e quéchua são consideradas oficiais, junto ao castelhano, e faladas por mais de 3,5 milhões da população.
17
bém, existe uma publicação mensal,
deiras do Brasil, dvd’s com progra-
família que permaneceu no país de
a revista Pachamama, revista de la
mas de humor boliviano, cartões
origem, degustar comidas típicas,
comunidad boliviana, que traz infor-
telefônicos para chamadas interna-
ouvir e dançar músicas bolivianas e
mes, eventos e oferta de serviços
cionais, entre outros tantos produ-
latinas e comprar produtos andinos.
para comunidade boliviana. “A cria-
tos de origem boliviana e também
A feira Kantuta tenta recuperar
ção de diferentes formas de organi-
peruana. A música fica por conta
a imagem do imigrante boliviano
zação entre os imigrantes é um sinal
do dj e muitas vezes de grupos de
visto como índio, pobre e escravo,
de que o processo migratório já se
músicas tradicionais que animam a
apresentando a cultura desse país e
consolidou.” 22
feira. Somente se escuta espanhol
suas riquezas. É a integração entre
Em torno de duas mil pessoas
neste local, realmente parece que
brasileiros e bolivianos em uma pra-
visitam a feira, e nos dias festivos
está em outro país. Roberto, jovem
ça de São Paulo.
podem chegar a três a quatro mil,
boliviano que vive no Brasil há sete
segundo a Associação. São empa-
anos completa: “Cada pessoa que
nadas, salteñas, buñelo (massa de
vem aqui pode contar uma história
trigo frita), ají (tipos de pimentas),
diferente de como chegou ao Brasil,
diferentes tipos de batatas (como a
de como encontrou trabalho. São
ch’uñu) e pães, apí (bebida quente
muitas histórias bonitas que ficam
de milho), cerveja paceña, chica de
escondidas”. 23
mani (refresco de amendoim), re-
Todos os domingos a partir das
fresco de linhaça, mocochinchi (re-
11h00 até às 20h00 centenas de bo-
fresco de pêssego), flautas de pã,
livianos enchem a pequena praça
malha de lã de lhama, aguayo (teci-
Kantuta. Uma das únicas opções de
do típico andino de listras coloridas),
lazer para estes imigrantes é o local
bolsas típicas, pôster do presidente
onde podem encontrar compatrio-
boliviano Evo Morales junto a ban-
tas, namorar, informar-se sobre a
22. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil). Pg. 37. 23 CAMARGO, Beatriz. Kantuta é um pedaço de Bolívia na capital paulista. Repórter Brasil, São
Paulo, jul./2006. Disponível em: <http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=668>. Acesso em: 18 out. 2010.
FESTA DE ALACITAS Tive a oportunidade de visitar a
é o Deus da abundância, que traz
na igreja católica. Segundo a tradição
prosperidade e bens materiais, ne-
esta é a hora sagrada. Se tivermos fé
cessários para a vida.
o nosso desejo se cumpre.”
Festa das Alacitas do ano de 2011,
A festividade da Nossa Senhora de
As cores, as miniaturas da “casa
organizada pela Associação Gastro-
La Paz, celebrada os dias 23, 24 e 25
dos sonhos“ e dos carros, as noti-
nômica, Cultural e Folclórica Boli-
de janeiro desde 1800 com atos litúr-
nhas de dólares e reais, os porqui-
viana Padre Bento. Foi realizada no
gicos católicos, contou com a parti-
nhos, se cobriam de significados. Os
Clube Regatas Tietê, e não na praça
cipação de todos os setores do povo
grupos se reuniam na grama, dispu-
Kantuta, pelo tamanho da festa, dos
paceño e indígenas aymarás, dançan-
nham as miniaturas compradas em
eventos que ali se realizaram e pela
do e vendendo miniaturas de mó-
um círculo, chamavam o padre que
grande quantidade de visitantes, em
veis, roupas, ferramentas, alimentos,
as abençoavam, e logo, benziam jo-
sua totalidade, bolivianos.
utilidades domésticas e animais. De
gando cerveja por elas.
Segundo o convite da festa divul-
1859 a 1865 a feira de Alasitas con-
As danças que foram apresentadas,
gado pela associação: “Alasita vem
verteu-se num espaço de exibição de
além de encantarem pelos movimen-
da língua aymará e significa compra-
belos trabalhos em miniatura.
tos, pelas vestes e pelos adornos,
me. A feira de Alasitas é uma ativida-
As miniaturas segundo o pensa-
de econômica própria dos indígenas
mento andino, são portadoras de po-
aymarás e mestiços que habitam na
deres mágicos e símbolos profundos,
cidade de La Paz (Bolívia). Durante
e trazem a fertilidade e abundância
a colonização existiam diversas fei-
de bens materiais.
ras indígenas que acompanhavam o
Existe o costume de comprar as
calendário agrícola e as festividades
miniaturas às 12:00 hs do dia 24 de
católicas. A feira de Alasitas nasce
janeiro, levá-las ao Yatiri (religioso)
como parte do culto ao Ekeko que
para colocar incenso e abençoá-las
mostravam uma distinta coreografia. A festa toda foi um belo espetáculo.
IMIGRAÇÃO
A questão da imigração está pre-
leiros, ocorreram durante as ditadu-
oportunidades variadas que a cidade
“Respeitando e divulgando as culturas dos
sente em diversos países, principal-
ras latino-americanas, por questões
oferece. A cidade recebe esses imi-
grupos imigrantes, estaremos aprendendo
mente nas grandes metrópoles, que,
políticas, ideológicas e econômicas.
grantes e, de sua maneira, os acolhe,
a viver democraticamente numa sociedade
muitas vezes, não sabem como lidar
Ainda segundo Tirapeli, a partir dos
promovendo uma mistura de raças e
plural” . 24
com a situação. A exploração nos pa-
anos 80, a migração latina tinha por
culturas enriquecedora. Em suas ruas
íses subdesenvolvidos determina um
objetivo a área médica, os cursos
se encontram e se desencontram di-
limite à liberdade de mobilização: por
de pós-graduação e contratação de
versos sotaques, traços, músicas, co-
conta da falta de oportunidades que
executivos e funcionários de empre-
midas e rituais, formando o mosaico
seus países oferecem, os imigrantes
sas multinacionais. Hoje em dia, os
dessa metrópole heterogênea.
se dirigem aos países desenvolvidos,
imigrantes, geralmente, “são aceitos
Os números da migração Bolívia-
enquanto esses adotam políticas res-
com reservas e, muitas vezes, recha-
São Paulo são confusos. Enquanto o
tritivas à sua entrada, “a mobilização
çados antes mesmo de chegarem ao
Consulado da Bolívia na cidade de São
forçada e a imobilização forçada são
seu destino final, como se fossem
Paulo calcula entre 50 e 60 mil a cifra
dimensões da mesma violência“.
possíveis ‘criminosos’. Porém, eles
de imigrantes bolivianos clandesti-
No caso da migração latina, os
têm algo em comum: acalentam o
nos, o Ministério Público calcula em
principais destinos são Brasil, Argen-
sonho de uma vida digna para seus
200 mil não documentados. Boa par-
tina e Chile. O professor Percival Tira-
filhos, ainda que seja numa pátria
te dos migrantes recorre à migração
peli nos conta que no Brasil, a imi-
estrangeira e às vezes em condições
clandestina, pelo acesso limitado e
gração dos povos latino-americanos
adversas”.
pela falta de informação sobre os pro-
25
26
27
deu-se a partir de 1950, quando chi-
São Paulo, desde muitos anos,
cedimentos e requisitos migratórios.
lenos e peruanos foram atraídos pelo
concentra milhares de estrangeiros
Também se encontra grande número
desenvolvimento econômico gerado
oriundos de diversos lados, atraídos
de imigrantes bolivianos nas cidades
com a criação de Brasília. Outros flu-
pelo desenvolvimento industrial
fronteiriças: Corumbá (MT), Guajará-
xos migratórios, incluindo de brasi-
pela oferta de serviços existentes e
24. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. In: SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil). 25. VAINER, Carlos B.. Migração e mobilidade na crise contemporânea da modernização. In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. pg. 28.
e
Mirim (RO) e Foz do Iguaçu (PR).
26. TIRAPELI, Percival (pesquisa e textos); SILVA, Manoel Nunes da Silva (fotografias). São Paulo, Artes e Etnias. São Paulo: Editora Unesp; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007,pg. 341. 27. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 2.
20
novo contexto sociocultural”. 29
país de belas paisagens naturais,
Pelas dificuldades econômicas e
marcado por diferenças e rivalidades
sem melhores perspectivas, milhares
etnoculturais e apresenta os mais
de bolivianos migram em busca de
baixos índices de desenvolvimen-
trabalho. Em São Paulo, grande parte
to humano (IDH) entre os países da
desses imigrantes partiu de La Paz,
América Latina. Segundo o Instituto
Cochabamba, Oruro, Potosí, Santa
Nacional de Estadística de Bolívia , o
Cruz e Beni. Sendo a maioria jovens,
INE , da população total do país, cer-
solteiros e com nível escolar médio,
ca de onze milhões de habitantes, a
mas, também, há uma porcentagem
Todos os domingos milhares de imi-
maioria é jovem e urbana. As cidades
de profissionais liberais, como mé-
grantes tailandesas e filipinas que tra-
mais populosas são: La Paz e El Alto,
dicos, professores, dentistas, enge-
balham como empregadas domésticas
no altiplano, Cochabamba, na região
nheiros, entre outros. Parte desses
em Hong Kong se reúnem nas calçadas
central e Santa Cruz de la Sierra, no
imigrantes reside nos bairros centrais
oriente boliviano. É um país pluricul-
da capital paulista, sobretudo Brás,
tural, formado por diferentes etnias,
Bom Retiro, Pari, mas também em
onde, ainda segundo o INE, cerca de
bairros mais longínquos como Vila
de lazer, elas se encontram para fofocar,
60% da população total é indígena.
Maria, Vila Guilherme, Guaianases e
comer, fazer as unhas, cortar o cabelo e
“As relações etnoculturais entre as
São Mateus.
descansar. Os maus tratos que sofrem
28
várias classes sociais que compõem
Atraídos pelas oficinas de costura
a sociedade boliviana são marcadas
ligadas à indústria da moda paulista
pelo ‘preconceitos’ herdados do pe-
e pelas promessas de bons salários,
ríodo colonial, os quais por sua vez
os trabalhadores bolivianos procu-
acabam se reproduzindo em um
ram os chamados coyotes, que agen-
28. Disponível em <http://www.ine.gob.bo/>. Acessado em 28/04/2011. 29. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 11.
dos grandes edifícios empresariais do centro da cidade (na foto ao lado, térreo do edifício do banco HSBC, projeto do arquiteto Norman Foster). Único dia
pelos patrões e o constante preconceito de que são vítimas, podem ser, de alguma maneira, esquecidos quando elas encontram uma maneira de se firmarem como pessoas comuns, mesmo estando longe de suas famílias, de sua cultura.
FOTO MARINA RAGO
Ponto de partida, a Bolívia é um
de costura, cerca de R$0,10 a R$0,50
Levantava-se às seis horas da manhã
Paulo. Entretanto, quando chegam, a
por peça, assim, o salário varia entre
e se parava uma hora apenas, para
realidade é outra: o custo da viagem
R$150,00 a R$500,00.
alimentar-se com a pobre comida
é debitado do mísero salário que
O caso apresentado a seguir de-
que lhe era oferecida. Para minorar
irão receber, assim como a estadia
monstra a brutalidade desse sistema:
a solidão e as agruras do dia-a-dia,
e alimentação que a oficina conce-
“Miguel, natural de Cochabamba,
uma farta coleção de músicas boli-
de. Ou seja, este imigrante quando
trazido por uma brasileira para traba-
vianas e latinas era posta à sua dispo-
chega para trabalhar, já se encontra
lhar em sua oficina de costura com
sição, pois a música mantinha vivos
endividado e devendo favores aos
promessa de que ganharia U$500,00
nele os vínculos com a terra natal e
empregadores.
mensais. Tendo entrado clandestina-
o sonho de poder voltar um dia para
Nas oficinas, muitas vezes, são sub-
mente no Brasil, foi levado para seu
os familiares, quem sabe um pouco
metidos a condições de trabalho se-
cativeiro, durante a noite, na rua São
melhor do que saíra. Porém, no dia
mi-escravo, em jornadas que podem
Caetano (região central), onde per-
6 de abril de 2001, não suportando
chegar a 18 horas sob o sistema de
maneceu por três meses sem sair.
mais tamanha humilhação, ele to-
cama-quente, sem poder sair às ruas
Quando aí chegou, a mulher que o
mou a decisão de fugir. Ajudado pe-
por dias (ou meses em casos extre-
trouxe disse que se tratava de ‘outro
los companheiros, pulou o alto muro
mos) para evitar as denúncias de que
burro no curral’. Miguel calou-se e se
do cativeiro num dia em que sua
são ameaçados pelos donos desses
perguntava sobre o significado dessa
‘patroa’ tinha ido a uma festa. Com
estabelecimentos clandestinos (em
expressão. Seus companheiros, tam-
muito medo, caminhou a pé várias
geral, bolivianos, brasileiros e core-
bém bolivianos, lhe disseram que a
horas até uma delegacia de polícia,
anos). Se receberem um salário, este
mulher não os pagava e tampouco os
onde permaneceu até o dia amanhe-
é calculado pela quantidade de pe-
deixava sair, com medo de que bus-
cer. No dia seguinte foi encaminhado
ças de roupas feitas, sendo 10% do
cassem outro serviço. Seu dia-a-dia
à Polícia Federal e de lá à Pastoral dos
valor recebido pelo dono da oficina
era totalmente dedicado ao trabalho.
Migrantes, onde permaneceu por al-
30. SILVA, Sidney A. da. Virgem Mãe Terra: festas e tradições bolivianas na metrópole. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2003., pg. 38.
NAVIA, Roberto. Esclavos made in Bolívia, Cuarto Intermedio, n. 84, Cochabamba, Ago./2007.
ciam, desde a Bolívia, a vinda a São
Com uma fronteira de mais de 3.000 km, os principais pontos de travessia são as regiões fronteiriças de Guajará-Mirim, no estado de Rondônia; Cáceres, no estado de Mato Grosso; e Corumbá, em Mato Grosso do Sul.
22
guns dias até o regresso à Bolívia” 30.
que o órgão oficial encarregado é a
conseguirem enviar pelo menos um
Geralmente, o ambiente de traba-
própria Polícia Federal, o que causa
de seus filhos para cursar uma facul-
lho é pouco ventilado e a comida
grande constrangimento pela situa-
dade em seu país de origem. E para
com que são alimentados é rala, de
ção ilegal em que estão, e, também
mantê-los lá é preciso permanecer
modo a prejudicar a saúde desses
pela demora da expedição dos docu-
aqui, sempre um pouco mais, já que
trabalhadores, que se predispõem
mentos que são analisados em Bra-
a tendência parece ser a transforma-
à doenças contagiosas, como a tu-
sília, que podem durar alguns anos.
ção do provisório em permanente“. 32
berculose. Temendo serem levados
Desse modo, sem documentos, não
A Pastoral dos Migrantes, impor-
à polícia, por falta de documentos,
conseguem alugar um imóvel, abrir
tante base para os grupos de imi-
os doentes não procuram postos de
uma conta bancária, estudar, validar
grantes, os acolhe, ajuda e assessora
saúde, e permanecem isolados nas
seus títulos acadêmicos ou votar.
na busca de emprego, casa e docu-
oficinas.
O sonho de uma vida melhor vi-
mentação. Também abre espaço para
Além do exaustivo trabalho, os
rou pesadelo? Pode-se dizer que sim,
realização de festas e eventos da co-
imigrantes bolivianos são constan-
mas “a medida que em que o grupo
munidade. Em troca, exigi-se a parti-
temente alvos de preconceito e xe-
se organiza na cidade e amplia seus
cipação nas atividades da pastoral e
nofobia por parte dos brasileiros que
vínculos com a pátria mãe, através de
seguir as obrigações religiosas.
desconhecem suas raízes étnicas e
investimentos, comércio de produtos
A maioria dos bolivianos é católica,
culturais: “para a sociedade brasileira
e viagens para passar férias, o sonho
a devoção aos santos e às virgens aju-
o imigrante é simplesmente ‘o boli-
do retorno definitivo passa a ser uma
dam a enfrentar os desafios do dia-a-
viano’, com toda a carga negativa
possibilidade cada vez mais remota
dia. Mas é pelo culto à Pachamama
que esta identidade carrega“. 31
para os mesmos, que apostam tudo
que agradecem, fazem pedidos e se
A falta de documentação é um
no futuro de seus filhos. Nesse sen-
fortalecem. “Pacha, enquanto espa-
grande problema enfrentado por es-
tido, tal sonho passa a ser uma reali-
ço, subdivide-se em três níveis cos-
ses imigrantes clandestinos, uma vez
dade tangível na medida em que eles
mológicos: o mundo de cima, Alax
31. SILVA, Sidney A. da. Etnia, Nação e Regionalismos no jogo identitário entre os imigrantes bolivianos em São Paulo. In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração:
nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. p. 126. 32. Idem, pg. 133.
TERRITÓRIO DIVERSIDADE RITOS MIGRAÇÕES MITOS
SONHOS
MEMÓRIA
INTEGRAÇÃO
ORIGENS
23
Pacha, o mundo daqui, Aka Pacha, e
suas lembranças de outro meio
o mundo de baixo, Manqha Pacha. É
pouco lhe servem na luta cotidia-
neste mundo, e, portanto numa po-
na, são necessárias novas experi-
sição intermediária, que se encontra
ências, novas descobertas: “a me-
a Pachamama, definida como Mãe
mória olha para o passado. A nova
Terra, ou mais precisamente mãe da
consciência olha para o futuro. O
totalidade humana ou fonte da vida.
espaço é um dado fundamental
Essa é a razão pela qual é imprescin-
nessa descoberta. Ele é o teatro
dível oferecer-lhe presentes em dife-
dessa novação por ser, ao mesmo
rentes situações através do ritual da
tempo, futuro imediato e passado
Ch’alla, porque Ela sente fome, sede
imediato, um presente ao mesmo
e, quando não atendida pode ficar
tempo concluído e inconcluso,
enfurecida e não atender aos pedi-
num processo sempre renovado“ 35.
dos” . Esse culto inserido no meio
Assim, esses imigrantes bolivianos,
“Se diz Pachamama à terra, porque nos
urbano da cidade, ressignifica-se: a
uma vez estando no Brasil, absor-
dá a produção. É uma realidade, nos dá a
casa, local de moradia e do árduo
vem outra cultura, reformulam seus
produção. Aí cresce a batata, o trigo, tudo. É
trabalho é a Pachamama - “Esta casa
modos de vida e de pensar.
33
é uma Pachamama. Então temos que
Enquanto Jesus Cristo, Deus, não é uma realidade. Onde se pode ver Jesus Cristo,
nos recordar dela sempre, pois ela
Deus? Não existe.
nos cria dia após dia, no trabalho, na
Pachamama é nosso deus, nossa crença,
família, nas wanas (crianças) e em nós
onde na realidade vemos crescer a batata,
mesmos”. 34
as frutas a laranja, tudo é a Santa Terra. Eu
Para Milton Santos, a memória para
semeio nela, vivo nela, como dela. É uma
os imigrantes é inútil, uma vez que
33. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 62. 34. Idem. 35. SANTOS, Milton. “A natureza do espaço. Técnica e Tempo”. Razão e Emoção. 4.ed. São Paulo: EDUSP, p. 328. 2008.
a Pachamama, é uma realidade.
realidade”. 36
36. Depoimento de uma senhora boliviana no documentário Pachamama. In: ROCHA, Erik; MARTINS, Daniela; EDDE, Leonardo. Pachamama. Produção de Daniela Martins e Leonardo Edde, direção de Erik Rocha. Rio de Janeiro, Urca filmes e Aruac Produções, 2008. Dolby Digital 5.1., 100 min, cor.
24
C E N T R O D E C U LT U R A B R A S I L - B O L Í V I A
Sensibilizada pelos dados apresentados anteriormente, decidi desenvolver um projeto que abrangesse essa população de imigrantes bolivianos que já está se miscigenando, construindo novos vínculos em São Paulo. Seria um espaço de conhecimento do outro, onde cada um buscaria sua identidade latino-americana. Pensando que São Paulo contém muitas comunidades latinas, esse local seria o primeiro de uma série. Há toda uma América do Sul (sem falar de outros países de outros continentes) na nossa cidade, temos que conhecê-la, conhecer-nos. Criar um lugar onde paulistano, boliviano, nordestino, coreano, negro, branco, rico e pobre se encontrariam e descobririam semelhanças, conviveriam diferenças. Buscando eliminar preconceitos e promover uma integração latinoamericana, nasce o Centro de Cultura Brasil-Bolívia.
25
ÁREA
ESCALA
P
ESCALA
M
26
9
10 8
11
12
1
PRAÇA KANTUTA
10
ABRIGO SÍTIO DAS ALAMEDAS
2
TERRENO PROPOSTO
11
EMEI
3
CEI
12
FAVELA
4
AMA-UBS
13
ABRIGOS CASA SAMARITANO, ASSOCIAÇÃO MULHER VIDA
5
SEMAB-SECRETARIA ABASTECIMENTO
14
CLUBE COMUNIDADE DO PARI
6
CONJUNTO HABITACIONAL
15
GALPÃO CMTC
7
FÁBRICA BELA VISTA
16
GALPÃO SPTRANS
8
CEFET
17
HORIZONTAL DE BAIXO E MÉDIO PADRÃO
9
EMEF
18
CLUBE DA POLÍCIA MILITAR
14
13 2
15
1 16
4 3 7
17
6 17
5
17 18 17
ESCALA
G
27
12 O terreno escolhido para abrigar o
gens de ônibus.
Centro, localiza-se em frente à Pra-
O local do projeto a ser desenvol-
ça Kantuta, na rua Pedro Vicente, no
vido é destinado a equipamento de
bairro do Canindé, parte do distrito
infra-estrutura e considerado como
do Pari, que integra a Subprefeitura
parte de uma zona mista de alta den-
da Mooca. É um dos menores distri-
sidade. Em suas imediações há a CE-
tos da capital, possui uma população
FET (Centro Federal de Educação Tec-
de 14.824 pessoas, abrange uma área
nológica de São Paulo); a UBS/AMA
de 2,9 km², e conta com mais de 400
Pari (Unidade Básica de Saúde e As-
anos.
sistência Médica Ambulatorial); três
37
Bairro misto, tem predominância
escolas públicas federais e estaduais;
de estabelecimentos industriais e co-
um conjunto habitacional composto
merciais 38 . Abriga muitos descenden-
por três blocos; uma fábrica de bis-
tes e imigrantes, princialmente pela
coitos; três albergues para morado-
oferta de empregos, atualmente nas
res de rua, mulheres e terceira ida-
idústrias de confecção. Possui uma
de; uma favela de pequeno porte; o
boa infra-estrutura, porém faltam
clube da comunidade do Pari; clube
consideravelmente plano, por se en-
serviços e residências horizontais.
contrar na várzea do Rio Tietê, e “bai-
Também vale destacar a proximidade
xo”, já que possui em predominância
com o Terminal Rodoviário Tietê e da
casas térreas e prédios de dois ou
estação de metrô Armênia.
8
três andares entre galpões e gara-
37. Dados retirados do site da Prefeitura de São Paulo. Disponível em <http://www.prefeitura. sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/mooca/historico/index.php?p=435>. Acessado em 30/11/2010.
3
6
É
centes à CMTC e SPtrans; comércios,
2
1
IND
lazer e cultura. Se trata de um bairro
9 5
AN
da CMTC; dois galpões vazios perten-
10
R. C
espaços verdes e equipamentos de
11
7
4
36. Segundo o mapa de Uso e Ocupação do Solo elaborado pela EMPLASA. Disponível em <http://www.emplasa.sp.gov.br/>. Acessado em 30/11/2010.
28
fonte: Secretaria Municipal de Habitação e Ddesenvolvimento Urbano SEHAB
ZONEAMENTO
PRAÇA KANTUTA
MO ZM 3a ZONA MISTA DE ALTA DENSIDADE - a
ZEIS 3 MO ZM 3b-01 ZONA MISTA DE ALTA DENSIDADE -b
29
PRAÇA KANTUTA + FEIRA
PRAÇA KANTUTA + FEIRA + TERRENO PROPOSTO
30
PRAÇA KANTUTA +TERRENO PROPOSTO + EIXOS VISUAIS
PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO + EIXOS VISUAIS + NOVAS CONEXÕES
31
PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO
PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO = NOVA PRAÇA
32
ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE
ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS
33
ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS + PISO PÚBLICO
ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS + PISO PÚBLICO = AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO
34
150m²
435m²
48m²
215m²
245m²
45m²
45m²
45m²
45m²
85m²
43m²
85m²
165m²
CENTRO DE REFERÊNCIA
. cultura boliviana . história da Bolívia . histórias da migração Bolívia-Brasil
AUDITÓRIO
. apresentações . palestras . projeções . 336 lugares
RÁDIOS
. 4 estudios . arquivos
RESTAURANTE /CAFÉ
. cozinha . refeitório . balcão café
BIBLIOTECA
. central de empréstimos . livros e periódicos . área de leitura . internet livre . cabines telefônicas
SALAS DE AULA
. aula de português . aula de espanhol . aula de música . oficina de moda . brinquedoteca
CENTRO DE APOIO AO IMIGRANTE
. recepção/triagem . cadastramento . setores de apoio (habitação, emprego, saúde e documentação)
ADMINISTRAÇÃO
. recepção . sala presidente . sala vice-presidente . sala reuniões
BANHEIRO PÚBLICO
. banheiro feminino . banheiro masculino . banheiro para portadores de deficiência física
QUADRA ESPORTIVA
. quadra poliesportiva . 2 vestiários . arquibancada
PROGRAMA
35
Lina Bo Bardi. Série Arquitetos Brasileiros. Instituto Lina Bo e P.M.Bardi
R E F E R Ê N C I A S D E P R O J E TO
SESC Fábrica Pompéia
MASP - Museu de Arte de São Paulo
Lina Bo Bardi (1977), São Paulo
Assis Chateaubriand Lina Bo Bardi (1958), São Paulo
Como principal referência, a rua interna do SESC revela justamente o
O local de encontro do paulistano:
que se busca no projeto em questão.
no MASP se confunde o que é rua e
Um espaço animado, de constante
o que é calçada. É palco de diversas
transitoridade, local de diversas ativi-
manifestações e atividades abertas
dades e encontros.
ao público.
36
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Vilanova Artigas (1961), São Paulo Um grande céu protege os volumes que formam os espaços da faculdade. Não há portas. As rampas conectam os meios-níveis, tudo flui nesse edifício-cidade. O salão caramelo é centro das mais variadas atividades.
Forty, A., and E. Andreoli, Brazil’s Modern Architecture, Phaidon, London, p. 197, 2004.
É vivo.
REVISTA ARQ, Concursos de arquitectura. Pontificia Universidad Católica de Chile. n.67, Santiago, dez./2007. p. 52-59.
Paulo, FAUUSP
Centro de información y documentación Sergio Larrain García-Moreno Teodoro Fernandez, Smiljan Radic e Cecilia Puga (1994), Santiago, Chile Dispondo o programa em desnívieis, o projeto ganha ambiências e visuais interessantes. Quem está ao nível da rua, observa os nichos criados no andar rebaixado, que concentra os usos que necessitam de menos ruídos. 37
FOTO AUTORA
Baño Público - Pabellones Públicos - Parque de la Independencia Rafael Iglesia (2003), Rosário - Argentina Como parte de um conjunto de pavilhões, o banheiro demarca o ingresso ao parque, como uma lanterna. Sua localização privilegiada, o fechamento em vidro U-Glass, revela a inversão que o arquiteto propõe para um FOTO AUTORA
equipamento de infra-estrutura, normalmente recluso, seu destaque.
Parque Biblioteca León de Grieff Giancarlo Mazzanti (2007), Medellín Colômbia A biblioteca faz parte de um sistema Revista Summa nº71, pg. 104, 2005.
foto: autora
de bibliotecas parques, implantadas na periferia de Medellín. Além de um equipamento de qualidade, o projeto dispõe de três blocos que se unem por uma rua interna, conectando diferentes usos. Disponível em <http://plataformaarquitectura.cl/>. Acessado em 29/11/2010.
38
O P R O J E TO
O desenvolvimento do projeto do
clube comunitário – teve-se a idéia
Centro de Cultura Brasil-Bolívia partiu
de desenvolver um “piso público”: re-
da idéia de reforçar a presença dos
movendo os muros que delimitam os
imigrantes bolivianos na praça Kan-
terrenos, jardins novos e existentes
tuta, conquistada por eles. Garantir
dividiriam as atividades – apenas nas
um espaço em que possam aconte-
escolas adotar-se-ia um fechamento
cer diversas atividades, bem como a
durante a semana, pela segurança
feira e as festas aos domingos.
dos alunos, porém com cercas e não
Com o crescente número de vi-
muros, garantindo alguma transpa-
sitantes atraídos pela feira, a praça
rência entre os ambientes, e seriam
pede por mais espaço. Utilizando o
abertos aos finais de semana para
terreno vazio em frente à praça foi
que a comunidade também possa
possível ampliá-la, como uma exten-
usufruir de tais espaços. Para marcar
são do piso, passando por cima do
ainda mais esse quarteirão público, a
asfalto da rua, abrindo uma nova pra-
partir da rua Pedro Vicente, esquina
ça, onde a rua é o palco. As ativida-
com a rua Carnot, até a rua Olarias,
des poderiam ocorrer ali, ou em ou-
esquina com a rua Araguaia, o nível
tro lugar, é livre. As barracas da feira
da rua alcançaria o nível da calçada,
não devem ter uma localização fixa,
permitindo a livre transitoriedade de
elas podem formar diferentes com-
pedestres. A passagem de veículos
posições neste novo espaço.
seria demarcada apenas com o as-
Pensando nas atividades que se
falto, e, na nova praça, balizadores
desenvolvem no entorno da praça
retráteis indicariam o caminho – du-
– abrigos, escolas, posto de saúde e
rante a feira, sem o trânsito de carros,
A RUA É O PALCO
39
IMPLANTAÇÃO esses balizadores seriam abaixados
auditório fechado, com capacidade
tal atividade.
ao nível do piso, desaparecendo em
para um público de 336 pessoas. Um
No nível da rua, ao lado da gran-
meio aos transeuntes.
local mais reservado para palestras,
de arquibancada, está o volume do
A arquibancada aberta, desenha-
apresentações, aulas e projeções.
restaurante e das rádios. Local para
da como extensão do piso, possibi-
Também nesse volume se encontra
degustar comidas típicas bolivianas,
lita diferentes vistas da praça e do
o centro de referência da cultura
durante toda a semana, ou tomar um
bairro, explorando novas visuais. A
boliviana: dados sobre a Bolívia, sua
rápido café no balcão, o restaurante
maioria das danças típicas bolivianas
história e cultura, e os movimentos
se abre nesse “piso público”, possibi-
possuem distintas coreografias, não
de imigração ao Brasil, conformariam
litando a vista para a cidade. Quatro
permanecem dançando em um lo-
diferentes exposições, organizadas
estúdios de rádios, no nível acima do
cal, ocupam todo o espaço que há,
pela própria comunidade, onde cada
restaurante, abrigariam as rádios da
se misturam entre os espectadores,
um poderia contar sua história, suas
comunidade, atualmente piratas, que
resultando em uma nova dança. A
impressões e suas realidades.
passariam a funcionar como rádios li-
arquibancada pode revelar esses mo-
A quadra esportiva foi reposicio-
vres. A transparência desses estúdios
vimentos, a partir de diferentes altu-
nada em um sentido norte-sul (atual-
com vista para a praça permitiria aos
ras. Alguns degraus foram estendidos,
mente é leste-oeste) e rebaixada três
transeuntes observar e conhecer os
criando nichos, onde, por exemplo,
metros gerando duas arquibancadas
radialistas, interagir com eles. Fun-
um grupo pode se sentar em roda.
por seu comprimento, além de possi-
cionaria como uma vitrine de um
Essa espécie de arena livre poderia ser
bilitar a vista de quem está no nível
meio de comunicação37.
também utilizada para teatros, shows,
da praça. Visto que os campeonatos
Na outra lateral da grande arqui-
apresentações diversas e exibições de
de futebol são muito importantes
bancada, três volumes se relacionam:
filmes ao ar livre.
para a comunidade, foram desenha-
banheiro público, centro de apoio ao
Aproveitando a forma da arqui-
dos dois vestiários, ao lado da qua-
imigrante, biblioteca e salas de aula.
bancada, abaixo desta, cria-se um
dra, garantindo infra-estrutura para
No térreo, o banheiro público, para
rádios arquibancada centro de apoio ao imigrante
salas de aula
10 PAVIMENTO
restaurante
banheiro público biblioteca
TÉRREO
quadra esportiva
administração
centro de referência
vestiários
auditório
37. A antena se localizaria a poucos metros da rádio, próximo aos abrigos para moradores de rua.
SUBSOLO
atender a grande quantidade de visi-
como pátio das salas de aula, locali-
tantes à feira, com clara referência ao
zadas no nível superior. Quatro salas
Próximo aos abrigos de moradores
projeto do arquiteto argentino Rafael
de aula, conectadas por um corredor,
de rua, o terreno ocupado pela pe-
Iglesia , possui uma planta particu-
se apresentam como espaço livre
quena favela passaria abrigar mais
lar: em um zigue-zague de cabines,
para o aprendizado. Ali, bolivianos
dois volumes de moradia, e um ter-
divide o prisma de fechamento em
poderiam receber aulas de portu-
ceiro volume onde funcionaria uma
vidro U-Glass em feminino e mas-
guês, como também poderiam en-
creche e um bicicletário público.
culino. A iluminação garantida e a
sinar o castelhano aos brasileiros.
Para facilitar a circulação de veículos
qualidade do espaço colocam tal in-
Abrir-se-ia um local de trocas de co-
e pessoas no entorno, a rua Projeta-
fra-estrutura, muitas vezes relegada,
nhecimento: aulas de música, costu-
da, paralela à rua Pedro Vicente, foi
como uma peça de arquitetura, tão
ra, desenho, artesanato, entre outras.
estendida ao encontro da rua Pascoal
importante quanto as outras.
38
e reclamações.
Intercambiar. Uma das salas abrigaria
Ranieri, criando mais uma conexão
A biblioteca, espaço de conheci-
a brinquedoteca, espaço de ativida-
com a avenida Cruzeiro do Sul. Para
mento, do aprofundar, se coloca em
des para as crianças da comunidade.
tal, seria necessária a remoção de um
um volume simples, de um pavimen-
As salas dispõem de ventilação cru-
anexo de um edifício pertencente à
to, com uma lateral fechada também
zada e iluminação natural controlada
Secretaria Municipal de Cultura.
com vidro U-Glass, para iluminação
por brises horizontais.
da área de leitura. Além das funções
Acima dos banheiros, compondo
de leitura, empréstimo de livros e
o mesmo volume, está o centro de
periódicos, esse espaço também
apoio ao imigrante. Local que daria
comporta uma área de internet livre
assistência aos imigrantes em busca
e duas cabines telefônicas para rea-
de documentação, emprego ou mo-
lização de chamadas internacionais.
radia, facilitando os entraves burocrá-
A cobertura da biblioteca acontece
ticos, e também local para denúncias
38. Pabellones Públicos , Parque de la Independencia, Rosário, Argentina, 2003.
41
S I T UA Ç Ã O AT UA L
I M P L A N TA Ç Ã O
CO B E R T U R A
1 O PAV I M E N TO
TÉRREO
S U B S O LO
CO R T E S
47
48
49
50
IMAGENS
51
B R A S I L E I R O Q U E N E M E U, Q U E N E M Q U E M ?
Essa questão, título de uma expo-
da constante mobilidade, formam
japonês, eu sou um pouco japonesa;
que tive a oportunidade de
o nosso povo. Os imigrantes boli-
se me deparo com uma apresenta-
visitar em um passeio escolar há al-
vianos apresentados nesse estudo,
ção de música peruana em uma cal-
guns anos, ficou marcada como uma
também fazem parte desse povo
çada qualquer da cidade, eu sou um
constante dúvida até hoje. Quem sou
brasileiro, uma vez que estão crian-
pouco peruana; se assisto a um filme
eu? Quem é o brasileiro? Ao pergun-
do raízes nesta terra, constituindo
iraniano, eu sou um pouco iraniana.
tarmos a diferentes brasileiros sobre
uma família, realizando seu trabalho,
Essa é a beleza do ser humano, é sa-
suas origens, cada um terá uma his-
se refazendo. Eles já não são apenas
ber ver, ouvir, sentir e aprender. As-
tória distinta. Foram imigrantes de
bolivianos, já absorveram novos cos-
sim, quando um cidadão paulistano
diversos lados, que aqui se mistu-
tumes, aceitaram um novo modo de
vai visitar a feira Kantuta, ele também
raram entre índios e escravos. Uma
vida. Eles também são brasileiros. A
sairá de lá um pouco boliviano.
grande mistura. Somos uma mescla
praça Kantuta e o Centro de Cultura
O homem é por si curioso, sempre
de povos, de traços e culturas. Somos
Brasil-Bolívia é a marca dessa nova
está atrás de algo novo. Com a faci-
todos mestiços: “Nós, brasileiros, nes-
miscigenação.
lidade de trocas de informações na
sição
39
se quadro, somos um povo em ser,
Acredito que uma vez que uma
nossa sociedade globalizada, é pos-
impedido de sê-lo. Um povo mestiço
pessoa entra em contato com outra
sível descobrir cada vez mais novas
na carne e no espírito, já que aqui a
cultura, através das mais variadas for-
culturas, outros hábitos, entrar em
mestiçagem jamais foi crime ou pe-
mas - filmes, viagens, comidas, músi-
contato com o que nos é novo. E se
cado, nela fomos feitos e ainda con-
cas, arte, feiras, trabalhos, livros, en-
aprendermos a conviver com o dife-
tinuamos nos fazendo” . É um povo
tre outros - e isso o marca, sensibiliza,
rente, a Terra ainda dará muitas voltas.
em constante “fazimento” segundo o
vai formar parte da sua pessoa. São
Ao respeitar o outro, também estou
antropólogo Darcy Ribeiro .
fragmentos diversos que compõem o
me respeitando. A troca é mútua, por-
São os encontros e desencon-
ser humano. Eu não sou apenas bra-
que o outro também sou eu.
tros de povos que até hoje, através
sileira: quando vou a um restaurante
40
41
39. Título da exposição organizada em homenagem ao fotógrafo franco-brasileiro Marcel Gautherot (Paris, 14 de julho de 1910 — Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1996) no Museu da Casa Brasileira, em 1999, São Paulo. 40. RIBEIRO, Darcy. “O povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil”. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995, pg. 447. 41. Antropólogo, ensaísta, romancista e político (Minas Gerais, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997).
57
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