Pluralidade religiosa e as intenções por trás da arquitetura sagrada

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REBECCA DE PAULA DANTAS LIMA

PLURALIDADE RELIGIOSA: AS INTENÇÕES POR TRÁS DA ARQUITETURA SAGRADA COMPLEXO DE CONVIVÊNCIA E MEMORIAL RELIGIOSO Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito à obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Prof. Orientador Dr. Rafael Manzo Prof. Dr. Marcos José Carrilho

SÃO PAULO 2020


Banca Examinadora Prof.ยบ Dr. Rafael Manzo

Orientador

Prof.ยบ Esp. Carlos Alberto Coelho Convidado Interno

Prof. Me Orivaldo Predolin Jr.

Convidado Externo


NĂŁo trabalhamos na forma, trabalhamos com todas as outras coisas. Peter Zumthor



RESUMO

PALAVRASCHAVE 6

Este trabalho tem como objetivo entender a origem e o processo histórico do cenário religioso pluralista no Brasil com foco em São Paulo, e além disso, trabalhar pela busca de sentido, através da percepção do sagrado. A escolha da interpretação da arquitetura simbólica através dos edifícios sagrados busca o entendimento do que a arquitetura pode causar nas emoções humanas a partir do espaço arquitetônico, tanto no campo coletivo, quanto no campo individual. A análise da evolução da arquitetura sagrada e as estratégias utilizadas nos fazem perceber que o homem sempre teve a necessidade de se relacionar com algo maior, portanto, o símbolo é um elemento fundamental para o espaço sagrado se o compreendermos como uma arquitetura comunicacional, e por consequência, a experiência humana é imprescindível ao entendermos o homem como intermédio entre o símbolo e a arquitetura. A reflexão sobre a arquitetura sagrada atual confirma a influência que a ciência causou no pensamento religioso da sociedade, assim, com estudos de referências atuais, é desenvolvido um complexo de convívio ecumênico responsável pelas relações humanas tanto no campo intelectual quanto no campo espiritual.

1 - Arquitetura, 2 – Arquitetura Sagrada, 3 – Arquitetura Religiosa, 4 – Simbolismo, 5 – Arquitetura simbólica, 6 – Sagrado, 7 – Percepção, 8 – Geometria Sagrada, 9 – Arquitetura Comunicacional, 10 – Símbolo, 11 – Espaço sacro, 12 - Religião


ABSTRACT

KEY WORDS

This work aims to understand the origin and the historical process of the pluralistic religious scenario in Brazil, focusing on the SĂŁo Paulo city, and besides this, to understand the meaning through the perception of the sacred. The choice of interpreting symbolic architecture through sacred buildings seeks to understand what architecture can cause in human emotions from the architectural space, both in the collective and in the individual perspective. The analysis of the evolution of sacred architecture and the strategies used makes us realize that man has always had the need to relate to something divine, therefore, the symbol is a fundamental element for the sacred space if we understand it as a communicational architecture, and as a result, human experience is essential when we understand man as an intermediary between symbol and architecture. The reflection on the current sacred architecture confirms the influence that science had on the religious thought of actual society, so with the study of current references, it was developed a complex of ecumenical coexistence responsible for human relations in both the intellectual and spiritual perspective.

1 - Architecture, 2 - Sacred Architecture, 3 - Religious Architecture, 4 - Symbolism, 5 - Symbolic Architecture, 6 Sacred, 7 - Perception, 8 - Sacred Geometry, 9 - Communication Architecture, 10 - Symbol, 11 - Sacred Space, 12 - Religion

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À Deus, por ser e estar em tudo e em todos. À vida e pela oportunidade que Ê estar presente.



AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar queria agradecer à minha família por permitir que esse sonho seja realizado, à minha mãe, Andréa, pela força exalada e por acreditar mais em mim do que eu mesma, ao meu pai, Guaracy, por me dar estrutura e fé pra seguir em frente, à minha irmã pelo companheirismo e gentileza, e ao meu avô José (in memoriam) por sempre ter acreditado no meu potencial e ter se feito presente tanto no esporte, quanto na música ou nos estudos. Aos familiares, Aline e Lucas, Regina e Wilson, e amigos, Dona Solange e Sr. Braga, que ajudaram a tornar este sonho possível. Aos meus amigos de vida, mas principalmente aos amigos/irmãos que a faculdade me proporcionou Giulia Favalli, Giovanna Geron, Leonardo Xavier, João Vitor Castro, Amanda Rippi, Leonardo Baiardi, Karina Nori e Vinícius Carvalho, que tornaram todo esse processo acadêmico mais leve. Aos parceiros de trabalho e aos professores que compartilharam de sua sabedoria, em especial aos que me acompanharam durante este ano intenso Prof. Dr. Marcos José Carrilho e Prof. Dr. Rafael Manzo, que acreditaram na minha proposta de trabalho e meu deram base para seguir em frente. E por fim, à tudo e todos que se fizeram presentes na minha vida, hoje me considero parte de cada acontecimento.

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00 p. 14

introdução

02 p. 38 p. 40 p. 42

PRELÚDIO

A PERCEPÇÃO DO SAGRADO

percepção espaço arquitetônico espaço sagrado

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ESTUDO DE CASOS

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COMPLEXO DE CONVIVÊNCIA

p. 88

hikma p. 92 centro global p. 95 capela nova serrana p. 98 midrash p. 102 referências arquitetônicas

p. 128 conceito p. 129 programa p. 130 partido p. 134 peças gráficas p. 158 experimentações

SUMÁRIO 01 A RELIGIOSIDADE BRASILEIRA

p. 18 histórico das principais religiões no brasil e em são paulo p. 31 as relações entre etnias e religiões no brasil

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ARQUITETURA SAGRADA

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VALE DO ANHANGABAÚ

p. 60 a consolidação do simbolismo na arquitetura religiosa p. 64 comunidades e religiosidades p. 78 o campo religioso na arquitetura atualmente

p. 106 histórico p. 119 o local hoje p. 123 inserção urbana

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EPÍLOGO

p. 162 considerações finais p. 164 referências bibliográficas p. 166 anexos p. 168 lista de ilustrações


INTRODUÇÃO

Ao se deparar com um edifício deverá ser levando em consideração das diversas camadas visualmente ocultas que se constituem na arquitetura como um todo. Isto acontece porque além da construção final, a arquitetura dá forma a nossa cultura, exaltando as relações humanas e a vida diária, sendo trabalhada em diversas perspectivas. Nesta pesquisa, busca-se analisar as diversas camadas ocultas, iniciando pela formação de cada etnia no Brasil, mais precisamente em São Paulo, e, quais as influências que ainda exercem nessa aculturação contemporânea. Ao longo da história, a cultura europeia impôs seus costumes no Brasil, fazendo com que houvesse um ocultamento das culturas, principalmente as indígenas e africanas, que repercutem até hoje em nossa sociedade. Após a análise histórica, nos compete entender a dinâmica do espaço nas relações humanas e como ocorre essa transferência entre sentidos e percepções que contribuem diretamente no que conhecemos como arquitetura, entende-se que a percepção é

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muito mais que os aparelhos sensitivos sendo uma somatória destes com experiencias vividas, cultura local, dentre outros fatores psicológicos que acontece unicamente no campo individual. No entanto, o espaço arquitetônico possui diversas dimensões e perspectivas, assim, será restringido ao espaço de cunho sagrado, analisando-se a relação do homem com o simbólico e considerando-se o espaço como uma reprodução de algo maior. Entendendo-se que cada edifício consiste em uma mensagem portadora de um significado, no qual o indivíduo é o foco principal e articulador desse campo perceptivo, esta pesquisa analisa os espaços sagrados em diversas civilizações e suas simbologias, para o entendimento do homem e sua relação com um mundo externo. Neste contexto, o trabalho foi divido em quatro partes sendo elas: contextualização histórica e formação da cultura brasileira no campo religioso, mais precisamente paulista, desde sua formação até os dias atuais; interpretação desses espaços e da percepção


do homem; posteriormente o entendimento da espacialidade simbólica como uma tentativa de relação à um mundo exterior; e por fim, desenvolvimento de um estudo sobre o objeto a ser projetado. Portanto, o foco do trabalho é a interpretação da relação do indivíduo com um mundo exterior a ele, resultando nos espaços sagrados, tendo as particularidades de cada tradição criando sua própria simbologia, que na maioria das vezes se repetem em diferentes civilizações. Entretanto, a primeira parte da pesquisa, incorpora-se o cenário histórico e demográfico permite a interpretação das culturas presentes em São Paulo, servindo de base para a leitura do simbolismo e como estas se relacionam com o espaço sagrado. Devido a globalização e a disseminação da informação no quesito cultural, a partir da análise de dados e gráficos é possível entender que houve uma mudança drástica no cenário religioso/filosófico, afinal a relação do homem com a fé já não se mantem a mesma, muitas vezes introduzindo

também a ciência, tangenciando entre o espaço emocional de fé e o espaço racional de estudo. Sabendo que, tanto a religião quanto a ciência se manifestam num campo coletivo, procuraremos retratar a partir de uma leitura analítica, diferentes abordagens do espaço simbólico, desde sua localização até elementos que compõe o espaço. Essa relação entre a fé e o estudo científico será aprofundada com os estudos de caso nacionais e internacionais, comprovando essa dinâmica muito presente no cenário atual das duas perspectivas ocupando o mesmo espaço. E por fim, o estudo do local de inserção do projeto, no Vale do Anhangabaú, e sua conceituação histórica para então a definirmos um objeto projetual que é uma síntese de um estudo histórico e teórico do tema, resultando em um Complexo de Convivência e Memorial Religioso, possuindo usos tanto de estudo quanto de fé.

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A RELIGIOSIDADE BRASILEIRA

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A história da humanidade é repleta de tragédias decorrentes da intransigência e do fundamentalismo étnico, religioso ou ideológico, a exemplo do nazismo, diásporas, guerras, terrorismo, genocídios, massacres e outras atrocidades do passado e do presente. A globalização, decorrente destes eventos trágicos, causou nas cidades grandes, sendo elas as mais procuradas pelas vítimas, uma sensação de “não identidade cultural”, visto que com estes eventos, misturam-se diversas crenças e culturas.

1.1 HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS RELIGIÕES NO BRASIL E EM SÃO PAULO A partir da Constituição de 1988, inaugurou-se um processo social e político de relativização do catolicismo e do dever de reconhecimento da coexistência necessárias com outras religiões, isto faz com que, líderes religiosos procurem disputa por legitimidade, por espaço, por visibilidade e por adesões. Neste contexto, o Brasil está passando por uma grande transformação no quadro étnico-religioso que se manifesta por quatro aspectos diferentes: declínio absoluto e relativo das filiações católicas, aumento acelerado das filiações evangélicas, crescimento do percentual das religiões que

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não possuem cunho cristão e aumento absoluto e relativo das pessoas que se declaram sem religião. Entretanto, hoje a situação do quadro religioso no Brasil é de competição pluralista entre religiosidades diversas, energizado por um processo de conversão e reconversão complexo e dinâmico, com movimentos diferentes das religiosas tradicionais, incorporação de novas formas, criação de novas igrejas ou espaços para cultos ou até novas religiões.

1.1.1 CATOLICISMO De acordo com o livro “O livro das religiões” (1999) de Henry Notaker, Jostain Gaarder e Victor Hellern, o Brasil foi conquistado e colonizado pelos portugueses no ano de 1500. Naquela época, o cenário mundial estava passando por grande crise na Igreja Católica, os países colonizadores tinham o objetivo de encontrar terras e catequizar povos, visto que, o papado havia concedido à Coroa portuguesa o direito de padroado sobre as igrejas instaladas nas terras conquistadas por Portugal, tornando as conquistas portuguesas uma espécie de “cruzadas” destinadas à conversão compulsória de novos povos. Sendo assim, chega ao país, missionários representantes da Contrarreforma ibérica, os padres jesuítas. A recompensa


FIGURA 1 quadro primeira missa do brasil de victor meirelles, 1860.

concedida pelo padroado à Coroa, era o controle das novas igrejas em seu território, subordinando à Igreja e ao Estado, ou seja, o monarca detinha a prerrogativa de censurar os documentos oficiais vindo de Roma, antes de serem publicados nas colônias. Ao adentrar a região interiorana do estado de São Paulo, os portugueses conquistaram novos pontos da colina central para estabelecer o catolicismo com as diferentes ordens religiosas: os franciscanos, carmelitas e beneditinos, que deveriam manter um certo distanciamento entre elas. Entretanto, a localização dessas edificações católicas definiu os vértices de um triângulo,

que representou em seu centro, o início do desenvolvimento da cidade de São Paulo, chamamos hoje em dia de “Triângulo Histórico”. O Brasil foi uma país oficialmente católico por quase quatro séculos, e só deixou de ser a religião oficial do Estado no final do século XIX, quando a monarquia foi substituída pelo regime republicano, deferindo um golpe no padroado, ao separar a Igreja Católica do Estado Nacional, declarando-se como laico, isto é, religiosamente neutro, isento e abstrato. Este regime republicano é conhecido como República Velha, proclamada em

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1889. É implantada nesta época também a Constituição de 1891, que respeitava a “liberdade de culto e consciência”, que não foi muito bem aplicada naquela sociedade, mas que hoje em dia, temos reflexos de uma aceitação em que o processo começou a mais de um século atrás.

Este decréscimo está relacionado com a “aceitação” da população as outras crenças, isto é, ser católico não é mais o “normal” da sociedade brasileira, como cita a professora de Antropologia da USP, Paula Montero, em seu doutorado ainda em desenvolvimento “Religious diversity in Brazil and Canada” (2020).

O catolicismo era o modelo daquilo que se entendia por religião no país. Por ter sido durante muito tempo religião de Estado, o catolicismo se ‘naturalizou’ como expressão do valor moral da nacionalidade. Ser católico era, para a maioria dos brasileiros, uma decorrência, tida como ‘natural’, da condição de nascimento e do contexto familiar, e não uma escolha individual. [...] Era ‘natural’, por exemplo, que a imagem do Cristo Redentor fosse o símbolo visual mais característico do Rio de Janeiro. Até muito recentemente, essa exibição pública de imagens religiosas não era tida como questionável. (MONTERO, 2020)

1.1.2 PROTESTANTISMO

Portanto a explicação da população brasileira ser altamente católica até hoje é histórica. Atualmente, a Igreja Católica é a religião que mais perde adeptos se comparada com as outras religiões, inclusive em São Paulo. No Censo feito anteriormente no ano de 2000, cerca de 68,4% de paulistanos se diziam fazer parte da religião católica, já no último Censo oficial realizado em 2010, essa porcentagem reduz para 58,6%.

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De acordo com o livro “A história das religiões” de Henry Notaker, Jostain Gaarder e Victor Hellern, não é possível mapear de fato a chegada dos protestantes no Brasil, mas sabe-se que está diretamente atrelada à chegada dos europeus que se fixaram primeiramente na região sul do país, que diferentemente dos católicos, chegavam ao país para povoar e ali se estabelecer. A região sul do país começou a receber muitos imigrantes luteranos, ramo original do protestantismo, durante as revoluções que estavam acontecendo na Europa no século XIX, após uma brecha na legislação do Império, suavizando as restrições legais para entrada de outras igrejas cristãs além da Igreja Católica. Porém, num primeiro momento, não tinham o interesse de passar seus consumes, mas sim conservá-los. Juntamente com os alemães no Sul do país, os anglicanos começam a se instalar


no interior de São Paulo, protestantes de origem britânica, que também fazem parte do grupo de imigração, procurando sempre manter sua língua, costumes e tradições e contra o processo de “nacionalização” de seus costumes. Existem outros ramos do protestantismo histórico existente no Brasil, oriundos de missões, como por exemplo os presbiterianos, os metodistas e batistas, protestantes de origem majoritária norteamericana, e chegaram ao país com o fim de evangelizar os brasileiros. A dinâmica do protestantismo de conversão era prevalecer o nacionalismo local, o que aproximava a religião do povo brasileiro, visto que, as práticas não ofuscavam os costumes do país. Quando, em 1889, a monarquia é substituída pelo novo regime republicano, separando o Estado da Igreja Católica, o protestantismo vê a oportunidade de crescimento. Neste contexto, o século XX é marcado por grandes movimentos protestantes de evangelização de novos povos. O século XX, de acordo com o sociólogo Paul Freston (1994), é marcado pela chegada das “ondas pentecostais” na cidade de São Paulo, conseguindo alcançar novos adeptos em diversas zonas do estado, mas majoritariamente nas periferias que enfrentavam a falta de valores e regras da

sociedade moderna ao se estabelecerem na metrópole devido as migrações das zonas rurais, ou seja, eles contavam com a ajuda das igrejas para sua inserção na sociedade. Este é um dos maiores motivos, ao comparar-se renda, escolaridade e religiosidade, a população evangélica tem um baixo nível de escolaridade e renda mínima (tabela 5), pelo censo do IBGE em 2010, visto que, atualmente as igrejas evangélicas estão predominantemente nas periferias de São Paulo. Os agrupamentos evangélicos são os que mais crescem atualmente no Brasil. No ano de 1991, pelo Censo IBGE, haviam 9,0% de evangélicos, já no último censo oficial realizado em 2010, esta comunidade totalizava em 22,0% dos brasileiros. De acordo com Paula Montero, professora de Antropologia da USP, este fato aconteceu pelo alto investimento dos líderes na mídia, isto é, canais de televisão, redes sociais e até mesmo bancadas políticas que incentivavam a religião evangélica. De acordo com o professor de Sociologia da USP, Antônio Pierucci (1996), outro grande fator que ajuda na ascensão dessas igrejas protestantes é que cerca de 80% dos católicos, ramo tradicional do cristianismo, não praticam ou acompanham a religião, e o fato deles já estarem acostumados com os

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ensinamentos bíblicos, torna o caminho mais fácil para os líderes evangélicos. No último Censo do IBGE de 2010 é possível notar que 87% da população brasileira seguem doutrinas cristãs. Neste contexto, o Brasil vem se concretizando sobre a forma de uma pluralização religiosa, que na verdade está evidenciada no Censo por uma conversão de país católico à país cristão, ou seja, sob mesma base fundamentalista.

1.1.3 ESPIRITISMO KARDECISTA O Espiritismo aparece notoriamente no cenário mundial com a publicação do “O Livro dos Espíritos” em 1857, do Allan Kardec¹ que tinha o objetivo de estudar o Espiritismo como se fosse um ramo da ciência. Nesta mesma época, o Brasil estava vivendo uma fase cosmopolita de reafirmação de valores nacionais próprios. A chegada da família real ao Rio de Janeiro em 1822 e a Independência pouco tempo depois, trouxeram uma força para a nacionalização e a proximidade dos ¹ Allan Kardec é o pseudônimo do teórico francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, um dos pioneiros na pesquisa científica sobre efeitos paranormais e mediunidade, e o principal escritor do espiritismo. Segundo Kardec “A crença espírita, ou o espiritismo, consiste em acreditar nas relações entre o mundo físico e os seres do mundo invisível, ou espíritos” (KARDEC, 1857)

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costumes europeus, que já estavam bem mais desenvolvidos do que qualquer país da América. Entretanto, no Rio de Janeiro a chegada do Espiritismo como proselitismo era início do debate republicano, isto é, os Espíritas eram simpatizantes das crenças progressistas, como abolicionismo, por ferir seus preceitos e também a proclamação da República, que estudava uma nova constituição isenta de religiosidade. São Paulo também foi um estado com muita comoção à doutrina espírita, e seu sucesso deu-se muito ao fato de a elite paulista estar atenta às teorias políticas e filosóficas francesas, já que muitos filhos de fazendeiros iam completar seus estudos na França. Destaca-se, também, a existência de grande número de franceses exilados na região, nos anos de 1850, devido à oposição que fizeram ao governo de Napoleão III. De acordo com Paulo Cesar Fernandes (2008), professor de sociologia da Universidade de Brasília que estudou a propagação do Espiritismo em solo nacional, a elite paulista, anterior a abolição, viu no espiritismo uma oportunidade para os senhores de engenho da época, transformando-o um amuleto contra a magia popular negra, dos escravos. Por isso que se criou a dicotomia “baixo-espiritismo” que representava as religiões afro e o “espiritismo


mesa-branca”, representado pelas elites. Alguns historiadores, como John Moroe (2014), professor da Universidade de Iowa, afirmam que a grande disseminação do Espiritismo em solos brasileiros, principalmente quando o país se declarava católico e com alto índice de rejeição à outras crenças, é porque o mesmo chegou ao país como uma ciência, em um cenário em que o país almejava novos investimentos nas áreas de conhecimento científico. O Brasil tem uma tradição de religiosidade popular muito aberta ao contato com a vida após a morte e a comunicação com espíritos. As classes média e alta não podiam contar com as religiões de origem africana ou indígena como expressões formais de sua fé. O kadercismo, com seu berço francês, satisfez essa necessidade. (MONROE, 2014)

O espiritismo tem um número muito menor de fiéis no país se comparado ao catolicismo e as religiões evangélicas, mas vem crescendo ultimamente. Hoje em dia, o espiritismo kardecista está muito bem consolidado e com muitos adeptos em solo nacional, isto por conta de diversos escritores, que lidaram com a doutrina na literatura de maneira comum. De acordo com os Censos do IBGE de 2000 e 2010, mostram que a religião teve um crescimento de 1,1 milhão de novos adeptos no país, totalizando cerca de 2% de adeptos no Brasil e 6% na cidade de São Paulo.

Em São Paulo, o perfil sociodemográfico dos Espíritas se mantem o mesmo desde o início de sua inserção, isto é, altos níveis de renda e escolaridade (tabela 5), e fora a isso, tem sua maior porcentagem a população branca (tabela 4), que pode ser explicado pela difusão do espiritismo nas elites, que aconteceu no início da propagação da religião.

1.1.4 RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS: CANDOMBLÉ E UMBANDA

As religiões africanas têm grande importância na criação da cultura brasileira. Os cultos afro foram trazidos pelos escravos traficados da África para o Brasil, depois da abolição até meados do século XX, funcionavam exclusivamente como ritos de preservação do estoque cultural dos diferentes grupos étnicos negros que compunham a população dos antigos escravos e seus descendentes. Até hoje, essas religiões são reconhecidas pela liderança do Movimento Negro. Nas últimas décadas do século XIX, no período final da escravidão, os africanos trazidos em levas para o Brasil foram assentados nas cidades, podendo viver em maior contato com os outros, mesmo em condições agravantes, condizia em um processo de liberdade cultural, favorecendo a

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FIGURA 2 homenagem aos caboclos, por marcel gautherot, 1957. Acervo IMS

FIGURA 3 filha de santo, por josé medeiros, 1951. Acervo IMS

sobrevivência de algumas tradições religiosas africanas. Assim, surge a consolidação dos primeiros grupos de culto afro de forma organizada. As religiões afro-brasileiras formaram-se em diferentes estados e regiões do país, isso porque existia diversas concentrações de escravos pelo Brasil, oriundos de diferentes lugares da África. Por isso, elas adotaram nomes e rituais diferentes, como por exemplo “Candomblé” (Bahia), “Xangô” (Pernambuco e Alagoas), “Tambor de Mina” (Maranhão e Pará), “Batuque” (Rio Grande do Sul) e “Macumba” (Rio de Janeiro) de acordo com o Portal da Cultura Afro². Os costumes originais africanos são

conhecidos por não compactuar com a iconografia, mas, no Brasil, como os escravos eram proibidos a efetuar seus cultos e de continuar com sua religião, ou seja, tinham que ser convertidos ao catolicismo, foi criado o costume de utilizar as imagens dos santos para escapar da censura imposta pela Igreja Católica. Este fato causou um sincretismo entre estas religiões em solo brasileiro, dando origem a uma nova religião, a Umbanda. Além do sincretismo citado anteriormente, a Umbanda tem características Espíritas muito realçadas, constituindo uma ala muito forte no Brasil. Assim, a visível predominância da Umbanda abriu caminho e preparou o terreno fértil para a introdução e expansão do Candomblé em São Paulo. A conversão considerável de umbandistas, um fluxo quase natural nos anos 1970 e 1980,

² Disponível em <https://www.faecpr.edu.br/site/ portal_afro_brasileira/3_III.php>.

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empresta características muito próprias ao Candomblé praticado no Estado e inaugura o modelo daquilo que poderíamos chamar de “Candomblé paulista”, obtendo práticas diferentes do Candomblé baiano. A perseguição da Igreja Católica aos cultos afro-brasileiros, foi posteriormente reforçado por praticantes do Espiritismo da alta sociedade e das religiões protestantes. As religiões afro-brasileiras se formaram através de um longo e complexo processo com pouco registro histórico, definidos pela marginalização dos costumes, a falta de interesse de intelectuais por uma religião sem status social e ao fato de suas doutrinas serem em geral transmitidas de maneira oral. Atualmente, ainda existe muito preconceito e repulsa da população para/com essas crenças, principalmente por suas origens africanas, que felizmente, vem diminuindo com a propagação dos movimentos da cultura negra e de liberdade religiosa. Entretanto, por serem religiões que não compactuam com o pensamento clássico, elas tornam-se alternativas para quem não quer seguir doutrinas cristãs, explicação de um alto crescimento que obteve já no século XXI. São Paulo se encontra como o terceiro estado que contém mais adeptos das religiões afro, curiosamente, o Estado que mais possui adeptos é o Rio Grande de Sul,

seguido pelo Rio de Janeiro. Fora a isso, o último Censo oficial relatou que mais de 60% dos seguidores paulistas são brancos e sem herança africana.

1.1.5 JUDAÍSMO Durante o reinado de Fernando II de Aragão e de Isabel de Castela, na Espanha, havia o desejo de que o país se tornasse completamente católico. Por isso, em 1492, foi emitido um Decreto de Expulsão, ordenando que os judeus e muçulmanos se convertessem ou deixassem o país. Quatro anos depois, em 1496, sob pressão de uma Espanha recentemente unificada, Portugal fez o mesmo e o rei Manuel decretou que todos os judeus deveriam se converter ao cristianismo ou deixar o país. Os judeus convertidos forçadamente ao cristianismo eram nomeados como “cristãos-novos”. O Brasil, foi o primeiro palco para as comunidades judaicas estabelecidas na América, visto que, o país tinha sido acabado de ser descoberto, fora isso já tinham alguns judeus na primeira leva de imigrantes europeus que chegaram aqui. Assim, muitos judeus portugueses, procurando fugir da intolerância católica, viam no novo mundo³ a oportunidade de praticar livremente seu culto, incluindo-se aí os cristianizados que continuavam a praticar os cultos judaicos em

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segredo. Um fator que fez com que diminuísse o número de judeus europeus no Brasil foi a criação do Santo Ofício Lusitano ou Inquisição, que era diretamente destinados aos cristãosnovos que continuavam a praticar cultos judaicos, tanto em Portugal como em suas colônias. Alguns pesquisadores afirmam que, muitos desses cristãos-novos não mantinham ligações com o judaísmo, mas, por serem ricos comerciantes e mineiros, eram acusados de praticar judaísmo por seus inimigos e dificilmente se livravam das condenações da Inquisição. Em uma nova frota de imigração judia, com a Proclamação da República do Brasil, a Constituição promulgada garantia a liberdade religiosa no país, o que facilitou a vinda de imigrantes judeus. Se estabeleceram no bairro do Bom Retiro, onde rapidamente constituíram uma próspera comunidade de comerciantes, que posteriormente migrariam para o bairro do Higienópolis. Pouco familiarizados com os hábitos brasileiros e, provavelmente, marcados pela exclusão vivida em suas sociedades de origem, os imigrantes judeus recriaram no Brasil a intensa vida cultural e política de ³ “Novo mundo” consiste na no continente americano que havia sido descoberto no século XV pelo italiano Cristóvão Colombo

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que desfrutavam anteriormente: fundaram jornais, bibliotecas, escolas, sinagogas, e preocuparam-se em criar instituições que cumprissem a função de unir e fortalecer a comunidade judaica brasileira no estado de São Paulo. Hoje em dia, São Paulo é responsável pela segunda maior comunidade judaica na América Latina, perdendo apenas para cidade de Buenos Aires na Argentina. Apesar de não haver dados estatísticos precisos, a Comunidade Israelita do Brasil, estima que hoje vivam cerca de 60 mil judeus na cidade, totalizando cerca de 0,45% da população paulista, já no Brasil, consiste em apenas 0,07% da população. A comunidade judia segue suas doutrinas até hoje, e deixam bem claro que elas são “modificadas” com o tempo. Mesmo atualmente, essa religião é a que menos perde adeptos de pessoas que já nasceram em família judia, isto acontece por serem muito fiéis à história e a cultura judaica. Em contrapartida, é a que menos recebe adeptos de outras religiões. Os casamentos de judeus com pessoas de diferentes doutrinas estão sendo mais aceitos nos dias de hoje, mas não tem grande significado em número de adeptos. Entretanto, as comunidades que chegaram ao país por meio de imigrações, são as raízes das que existem hoje em dia.


1.1.6 ISLAMISMO O Islamismo teve pouca difusão na América Latina, incluindo o Brasil, provavelmente por ser o continente mais longe de suas origens, a Arábia Saudita, localizada no Oriente Médio. O Islamismo no norte da África, ou território subsaariano, repercutiu de forma indireta na história do Brasil colonial, uma vez que muitos escravos trazidos ao país eram praticantes dessa doutrina. Os escravos das áreas urbanas, ultrapassaram o limite da relação com seus senhores, entrando em contato com diferentes grupos sociais, propagando o Islã mais rapidamente. Neste contexto, os servos muçulmanos se diferenciavam dos demais por não aceitarem a imposição religiosa, mas tiveram que ser convertidos ao catolicismo pelos senhores que fugiam da inquisição lusitana, assim, passaram a ser chamados de mouriscos. Estes, foram responsáveis por diversas rebeliões, como a Rebelião de Libertação, Revolta dos Haussás e a mais conhecida, Revolta dos Malês, todas eram contra a servidão. Em um esforço de reação à perda de identidade religiosa e cultural, a comunidade árabe inicia a fundação de centros religiosos, associações beneficentes e a construção de mesquitas e escolas. O polo inicial deste processo foi a cidade de São Paulo, criando

aqui comunidades como Sociedade do BemEstar Mulçumano. Já no século XXI, o IBGE resultou um crescimento de 25% na religião entre os anos de 2000 e 2010, e historiadores dizem que um fator que endossou este aumento na quantidade de muçulmanos no Brasil foram as traduções confiáveis do Alcorão para o idioma português, além da imensa quantidade de informações na mídia aberta. Com isso, a cidade de São Paulo totalizou em cerca de 0,08% de mulçumanos e no país apenas 0,01% da população. As comunidades islâmicas que chegam aqui no Brasil, tem um grande índice de perda de jovens para outras religiões, isso acontece pelo fato do país ter uma alta miscigenação religiosa, e se comparada com outras religiões existentes em solo brasileiro, as doutrinas islâmicas pregadas por famílias conservadoras são mais severas.

1.1.7 RELIGIÕES ORIENTAIS:

BUDISMO E HINDUÍSMO

As religiões orientais são as que chegaram ao país tardiamente, sendo notada apenas no século XX, e não são classificadas como religiões de conversão. Tanto o Budismo quanto o Hinduísmo são religiões originárias da Índia, mas a primeira chega ao Brasil com os imigrantes japoneses, visto que o Japão é

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FIGURA 4 crianças orientais no bairro da liberdade, por hildegard rosenthal, 1940. Acervo IMS

um forte adepto da religião budista. No final do século XIX e início do século XX, o Japão se encontrava superlotado e havia sido acabado de ser libertado de uma ditadura feudal, o que abriu espaço para um intenso projeto de modernização desempregando milhares de camponeses que ficaram endividados ou perderam suas terras. Entretanto, estes camponeses foram para as principais cidades, deixando-as saturadas, tornando as oportunidades de emprego cada vez mais raras. Surge assim, a política emigratória do governo japonês por meio de contratos com outros governos, e tinha como principal objetivo aliviar as tensões sociais devido à escassez de terras cultiváveis e endividamento dos trabalhadores rurais em solo japonês.

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Na mesma época, o Brasil estava passando pela expansão do café, mais especificamente no sudeste do país e necessitava por mão de obra barata. Assim, os países acharam que seria oportuno para as duas nações a chegada de imigrantes japoneses à região para ajudar no cultivo do café que era a maior economia do país na época. Neste contexto, a imigração japonesa no Brasil teve início no ano de 1908, em São Paulo, trazendo centenas de lavradores para as fazendas do interior paulista. As comunidades japonesas eram em sua maioria budistas, e chegam em solo brasileiro em uma época que havia um movimento contrário à vinda de religiosos não cristãos, por isso, havia uma grande dificuldade de manter as culturas perante ao catolicismo imposto. Com o tempo, o Budismo tem perdido adeptos se comparado às outras religiões existentes. Este movimento contrário é explicado pelos imigrantes japoneses no Brasil estarem envelhecendo e morrendo, enquanto que seus descendentes brasileiros tendem a abandonar o budismo para se converter a outras religiões, isto é, grande número de uniões entre ocidentais e japoneses, onde prevalece as tradições ocidentais. Em contrapartida, esta religião oriental tem ganhado adeptos


brasileiros não descendentes de japoneses, muito provavelmente pela difusão dos conhecimentos budistas em solos ocidentais que a mídia e o turismo cultural possibilitaram. Já outro ramo oriental é o Hinduísmo, não muito propagado em solos brasileiros. Esta religião teve grande força após a metade do século XX, por volta da década de 60 no mundo inteiro com o Movimento Hippie, um comportamento coletivo de contracultura, que negava diversas guerras territoriais ou ações capitalistas de grande alcance, e eram a favor do modo de vida comunitário e em comunhão com a natureza. A propagação deste movimento foi através de grandes artistas que estavam em foco na época, eles difundiam os ensinamentos hinduístas por meio de sua visibilidade e apoiavam um grande líder hindu Mahatma Gandhi, fazendo com que esta religião indiana ganhasse diversos adeptos no ocidente. Em solo brasileiro, este movimento ficou mais conhecido como Tropicália4, defendiam a igualdade de direitos e a liberdade de comportamento em plena Ditadura Militar

Brasileira, por esta razão, muitos adeptos deste “estilo de vida” foram perseguidos ou exilados do país pelos militares. Por não ter um principal fundador, ser uma religião politeísta e não ser missionária, historiadores acreditam ser este o motivo da rasa propagação da religião como um todo. Já no século XXI, a mídia possibilitou que mais pessoas tivessem acesso aos ensinamentos e aos costumes hinduístas, como por exemplo festivais, vestimentas, e a própria meditação. O Censo de 2000, do IBGE, totalizava que em São Paulo, 1,3% da população paulista seguia as doutrinas orientais, já no de 2010, este número subiu para 1,7% da população. Além disso, o agrupamento “amarelo”, caracterizado por pessoas nascidas no Oriente, eram o grupo étnico-racial mais expressivo; já no censo de 2010 esta porcentagem cai bastante, cedendo o espaço para os “brancos” como o grupo étnico-racial mais expressivo (tabela 4). Essa inversão de valores mostra o rumo que essas religiões orientais vêm tomando na cidade de São Paulo, conquistando cada vez mais adeptos paulistas.

4 Tropicália foi um movimento cultural brasileiro no final da década de 1960, misturando manifestações tradicionais da arte, encaixando-se numa vertente de contracultura, defendendo a liberdade de expressão, de gênero e dentre outros. Este movimento manifestou prioritariamente na música, como por exemplo Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso.

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1.1.8 OS “SEM-RELIGIÃO”, AGNÓSTICOS E ATEÍSTAS A época do Renascimento e da Reforma Protestante foram períodos muito importantes para expansão de novas crenças e pensamentos, afinal, o questionamento do catolicismo e o ressurgimento do cristianismo em outras vertentes religiosas deram espaço para especulação teológica e filosófica focada em promover uma visão de mundo religiosamente cética. Outros grandes acontecimentos históricos posteriores que ajudaram na concretização deste pensamento foi o Iluminismo e as Revoluções do Antigo Regime na Europa, em que houveram diversas reformas na relação clero e ao Estado. Na segunda metade do século XIX o livre pensamento religioso ganhou diversos filósofos racionalistas prussianos como Karl Marx, Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche5, este pensamento em sua conotação extrema, teria grande presença em novas reformas sociais e políticas futuras, como a Revolução Russa de 1917. Na mesma época, mas no oriente, indianos 5 “Gott ist tot!” que significada “Deus está morto!”, foi uma frase dita pelo filósofo prussiano Friedrich Nietzsche que repercutiu muito durante o século XX.

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revolucionavam contra o hinduísmo e seu sistema de castas, que consiste em uma divisão social hereditária, no qual a condição do indivíduo passa de pai para filho, sem a possibilidade de contestação. O século XX foi um período de grande transformação e avanço para o livrepensamento. Após 1950, aproximadamente metade de toda população viviam sob um poder antirreligioso, governos anunciavam o fechamento de instituições religiosas e se declaravam ateus. No final do século XX e início do século XXI, as tensões já estavam cessando e encontrando um equilíbrio. A queda do Muro de Berlim, em 1989, e, os ataques terroristas no início do novo século, colaborou para que o número de regimes antirreligiosos diminuísse consideravelmente. No Brasil, a chegada do pensamento livre acontece de maneira tímida, se comparada a países da Europa, por ser altamente cristão, mas, recebe reflexos dos movimentos que estavam acontecendo no mundo durante este século. Os pensamentos ateístas se tornaram mais tolerantes, surgindo movimentos como “Ateísmo 3.0” que continua não acreditando na existência divina, mas que diz que a religião tem sido benéfica para os indivíduos e para a sociedade, e que eliminá-la não seria prioridade.


Atualmente no Brasil, o agrupamento “sem-religião” que engloba ateus, agnósticos e aqueles que não possuem uma religião de fato, mas acreditam em um poder divino, consistem em 8% da população, e se encontra em terceiro lugar no ranking de agrupamentos pelo Censo de 2010 do IBGE, atrás somente do catolicismo e dos agrupamentos evangélicos e está em segundo lugar do que mais cresce, novamente atrás dos agrupamentos evangélicos. Já na cidade de São Paulo, este agrupamento conseguiu um número mais considerável totalizando em 10% da população paulista. Isso acontece pela alta pluralidade religiosa e também pelo avanço da ciência e da pesquisa.

1.2 AS RELAÇÕES ENTRE ETNIAS E RELIGIÕES NO BRASIL É sabido que antes do século XXI ao se falar de etnia6, outro conceito diretamente relacionado era o de raça7. Para nós seres 6 O termo “etnia” consiste em uma categorização sociocultural, isto é, conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um ancestral comum, como por exemplo, uma língua em comum, religião, cosmovisão, cultura e moram geograficamente num mesmo território. 7 O termo “raça” foi transportado da Botânica e na Zoologia e é utilizado para categorizar os seres de acordo com suas características físicas, fenótipos.

humanos, a utilização do conceito de raça não teve bons resultados, legitimando as relações de dominação e de sujeição entre classes sociais. Uma época muito contrastante para exemplificação deste fato é o período de descobrimentos, durante os séculos XV e XVI, que colocou em dúvida a ideia de humanidade para os europeus acostumados a lidar com uma sociedade de pele branca, em que acabam encontrando índios, negros e asiáticos. No século XVIII, período do Iluminismo, os filósofos contestam o monopólio do conhecimento e da explicação concentrado nas mãos da Igreja e os poderes dos príncipes, ou seja, os brancos. Eles se recusam a aceitar uma explicação cíclica da história da humanidade e se fundamentam em ideias civilizatórias, que consistia basicamente em: Europa como civilização dominante, e outros povos, os “descobertos”, como civilizações inferiores. Assim laçam mão do conceito de raça já existente nas ciências naturais para nomear esses outros que se integram à antiga humanidade como raças diferentes. Os conceitos e as classificações servem de ferramentas para operacionalizar o pensamento. Com a preocupação de facilitar a busca e a compreensão, o ser humano desde que começou a observar desenvolveu a aptidão cognitiva de

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classificação e infelizmente, a categorização desenfreada desembocou numa operação de hierarquização que pavimentou o caminho do racismo. No início do século XX, estudiosos chegaram à conclusão de que a raça não é uma realidade biológica, mas apenas um conceito cientificamente inoperante para explicar a diversidade humana e para dividi-la em raças estancas, ou seja, biologicamente falando, as raças não existem. Fora do campo da ciência, gradativamente, a ideia se difundia no tecido social das populações ocidentais dominantes, gerando certas crises, como o nazismo. Foi solicitado então, por alguns biólogos que o conceito de raça fosse banido dos dicionários e dos textos científicos, para evitar o racismo social. Voltando ao conceito de “etnia”, um conjunto populacional de mesmo fenótipo (raça), ou seja, “brancos”, “pretos” ou “amarelos”, pode conter em seu seio diversas etnias. Algumas etnias constituíram nações por si só, como é o caso de várias sociedades indígenas brasileiras, africanas, asiáticas, australianas, dentre outros que estavam geograficamente isolados ou distante das civilizações europeias no período pré-colonial. De acordo com Kabengele Munanga, professor da USP especializado na inserção população africana no país, o preconceito

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racial que cientistas e biólogos tentaram evitar no século XX, é hoje reformulado e praticado nas sociedades a partir da ideia de etnia. O racismo hoje praticado nas sociedades contemporâneas não precisa mais do conceito de raça ou da variante biológica, ele se reformula com base nos conceitos de etnia, diferença cultural ou identidade cultural, mas as vítimas de hoje são as mesmas de ontem e as raças de ontem são as etnias de hoje. O que mudou na realidade são os termos ou conceitos, mas o esquema ideológico que subentende a dominação e a exclusão ficou intato. [...] É por isso que os conceitos de etnia, de identidade étnica ou cultural são de uso agradável para todos: racistas e antirracistas. Constituem uma bandeira carregada para todos, embora cada um a manipule e a direcione de acordo com seus interesses. (MUNANGA, 2010)

Recapitulando a história, em um cenário mundial, na Idade Moderna, era muito comum que as civilizações tivessem a crença divina aliada à política, ou seja, um Império pré-estabelecia sua religiosidade que deveria ser seguida pela nação. No caso da história do Brasil, colonizado por Portugal, o país naquela época se autodeclarava católico. O Brasil, em seu período pré-colonial, por estar isolado em relação ao “centro do mundo”, a Europa, era composto por diversas etnias-nações, agrupamentos sociais definidos geograficamente que estabeleciam


sua própria sua cultura, culinária, linguagem, religiosidade e cosmovisão, foram nomeados como “tribos indígenas”. Com a chegada primeiramente dos portugueses, foi implantado uma nova etnia ao local, pré-definindo os costumes europeus da península ibérica melhores do que os existentes aqui, exemplificando a relação de dominação e submissão. Juntamente com essa leva emigratória, eram trazidos para trabalhar nas lavouras em situações precárias os escravos africanos, não menos importante para a formação cultural brasileira. A ideia de escravidão que existiu no mundo na Idade Moderna e parte da Idade Contemporânea, mostra como os seres humanos lidaram com o conceito racial já dissertado anteriormente. Por isso, que ao falar sobre etnias é necessário analisar o conceito de “raça”, sendo os dois observados em um contexto histórico, dando ênfase à ideia de etnocentrismo, em que uma etnia é priorizada em relação às outras. Assim, como exemplificado anteriormente, no Brasil também houve desde o princípio de sua colonização, uma pirâmide hereditária cultural, colocando o homem europeu no topo da pirâmide e os escravos africanos na base, juntamente com os povos indígenas. Entretanto, os povos aqui se encontraram e construíram um país que podemos

historicamente considerar como uma fusão de culturas e civilizações, na medida em que eles continuam pelas regras culturais de endogamia, a participarem dos mesmos círculos de união, formando uma grande miscigenação. É inevitável a percepção que a dominação europeia influenciou diretamente na formação dos padrões culturais brasileiros. Por outro lado, os povos chegados aqui oriundos dessas diversas etnias passam por um processo de aculturação, em que cada civilização sofre influência, mas também exerce influência sobre o outro, como visto anteriormente, uns mais que outros, resultando em novos padrões culturais. Essa logística com o tempo, altera drasticamente o modelo pré-estabelecido de cada etnia, isto é, hoje em dia não necessariamente os indivíduos que compactuam com a cultura europeia são de pele clara ou oriundos da Europa, assim como não necessariamente os indivíduos que seguem culturas africanas são oriundos da África ou de pele negra. Sendo assim, a ideia de etnia tem uma origem que evolui com o tempo e espaço, e não pode ser comparada, mas sim relativizada. Devido essa visão político-ideológica apresentada, temos culturas que são e sempre foram muito bem aceitas, ou melhor dizendo, impostas na sociedade, já aquelas que diferem da globalização tendo padrões

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particulares tem em seu histórico a resistência e a grande dificuldade em se manter. Esse processo se difundiu em diversos métodos, isto é, algumas culturas tiveram que se complementar com padrões considerados comuns para conseguir se estabelecer, que é o caso do sincretismo nas religiões de matriz africana, em que os santos católicos foram agrupados aos orixás africanos, já outras foram se perdendo com o tempo, algumas chegaram até a desaparecer, que é o caso de diversas culturas indígenas. A partir dessa mesma visão cultural, temos uma explícita relação entre religião e etnia. O sociólogo francês Émile Durkheim em seu livro “As formas elementares da vida religiosa” (1912), afirma que o ser humano tem duas perspectivas, a vida individual com base no organismo, e a vida social, que é a ordem intelectual e moral, reflexo do grupo à qual pertence. Portanto, para ele, é pela ação comum que a sociedade toma consciência de si e se afirma como tal. Sendo assim, a religião é um dos pilares da construção de uma sociedade, formador de um pensamento coletivo. As representações religiosas são representações coletivas que exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras de agir que só surgem no interior de grupos coordenados e se destinam a suscitar, manter ou refazer alguns estados mentais desses grupos. (DURKHEIM, 1912, p. 15)

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O Brasil ainda é um reflexo do eurocentrismo e do domínio das ideias cristãs-portuguesas existentes na colonização do país, há 500 anos atrás. Mesmo hoje em dia se auto declarando laico, de acordo com o último censo demográfico do IGBE em 2010, cerca de 65% da população é católica, e somando com os protestantes, o Brasil é o segundo país mais cristão do mundo, totalizando aproximadamente 87% de sua população. Já as religiões de matriz africana que tiveram muita resistência em se manter totalizam apenas 0,3% da população. Comprovando o fato discutido anteriormente de que conceito étnico préestabelecido sofre mudanças drásticas com o tempo ao ser colocado em uma sociedade multicultural. Hoje em dia, se comparado com outros censos demográficos e analisando o país em sua totalidade, no catolicismo o agrupamento que se autodeclara branco é o que mais decresce na religião, tendo grande participação dos pardos e negros. Já nas religiões afro-brasileiras, cerca de 60% são autodeclarados brancos e apenas 13% negros. Nas religiões asiáticas, o número de autodeclarados amarelos cai em ritmo vertiginoso, cedendo o espaço para os brancos que totalizam 58% da população que simpatiza com essas crenças. Porém, observando a distribuição


geográfica do Brasil e sua realidade etnográfica, percebe-se que não existe uma única cultura europeia, uma única cultura afro ou uma única cultura indígena e que regionalmente podemos distinguir diversas culturas no Brasil. Neste sentido, os africanos do Nordeste produzem no campo étnico uma cultura diferente dos africanos do Sudeste, podendo diferenciar no campo religioso como o Candomblé e a Umbanda, religiões afro que fizeram sucesso nos respectivos lugares. As diversas comunidades, apesar de terem alguns problemas comuns, apresentam histórias, culturas e religiões diferentes de acordo com sua localização regional. Contudo, a denominação da identidade cultural é um tema delicado e se constrói com base na tomada de consciência das diferenças provindo das particularidades históricas, culturais, religiosas, sociais, regionais, dentre outros, levando em consideração as civilizações dominantes e as oprimidas, para então, a partir disso entender o multiculturalismo brasileiro não de uma forma geral, mas sim local, e consequentemente as preferências religiosas de cada povo.

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A PERCEPÇÃO DO SAGRADO

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Para uma definição do sagrado na sociedade é necessária uma análise do processo de percepção do homem, que envolve os sentidos, experiências e sua localidade. A interpretação do espaço arquitetônico e sua influência na consolidação desta relação etérea no espaço-tempo também é tema deste capítulo, resultando por fim, no espaço sagrado arquitetônico que será analisado em civilizações ocidentais durante a história.

2.1 PERCEPÇÃO Ao experimentar a arte, ocorre um intercâmbio peculiar: eu empresto minhas emoções e associações ao espaço e o espaço me empresta sua aura, a qual incita e emancipa minhas percepções e pensamentos. (PALLASMAA, 1996, p. 11)

De acordo com o livro “Percepção Visual Aplicada a Arquitetura e Iluminação” de Mariana Lima (2010), a percepção é função psíquica que permite ao organismo, através dos sentidos, receber e captar as informações de seu entorno, e os fatores que influenciam diretamente na percepção são os estímulos sensoriais, a localização do objeto em tempo-espaço e as influências e experiências anteriores ao acontecimento. Uma condição dada como necessária durante o processo perceptivo do objeto é a proximidade em que o mesmo se encontra,

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isto é, um objeto só pode ser percebido se estiver próximo, para que sua identificação seja maior. Caso esteja longe, apenas será imaginado ou lembrado. Além disso, outro fator dominante no processo perceptivo são as características fisiológicas do indivíduo e seus aspectos histórico-culturais integrados à memória vivenciada. Edward T. Hall em seu livro “A dimensão oculta” (1977), conclui que a percepção é individual e reforça a ideia citada acima, afirmando que a cultura em que o indivíduo está inserido altera suas formas de perceber o espaço. Uma análise realizada por Hall com diferentes civilizações evidencia esta afirmação; enquanto os japoneses utilizam paredes finas para proteção acústica e ficam satisfeitos, os alemães e holandeses, necessitam de uma mais espessa, porque perdem a concentração com mais facilidade. Em seu estudo, Hall (1977) classifica o aparelho sensorial em dois grupos: os receptores à distância, que são ouvidos, olhos e nariz, e os receptores imediatos, sendo eles, o tato e o paladar. Relacionando essa separação com o livro de Juhani Pallasmaa, “Olhos da Pele” (1996), os receptores à distância são responsáveis pela investigação sensorial enquanto os receptores imediatos nos trazem para realidade, concluindo e confirmando


ideias geradas pelos receptores à distância. Entretanto, perceber não se reduz a apenas um sentido e ao objeto em especial, mas sim, a interação do aparelho sensorial e também, ao que pode ser excluído, isto é, o que não faz parte do foco central de percepção. Segundo Pallasmaa “nossos olhos acariciam superfícies, curvas e bordas distantes; é a sensação tátil inconsciente que determina se uma experiência é prazerosa ou desagradável.” (PALLASMAA, 1996. p. 40) Pallasmaa (1996) disserta em seu livro sobre a priorização do sentido visual na cultura ocidental e como isso pode ser a

causa para uma percepção distorcida da realidade, segundo ele “apesar de nossa preferência pelos olhos, a observação visual muitas vezes precisa ser confirmada pelo tato”. Outro fator que implica na dominação visual é a grande produção de imagens que a tecnologia nos possibilitou a partir do fim do século XX. Se levarmos em consideração que a percepção é a interação do sistema sensorial com o espaço não só visto, mas experimentado, concluímos que não percebemos o espaço por uma imagem, apenas criamos ideias e pensamentos.

FIGURA 5 quadro a incredulidade de são tomé, por caravaggio, 1602.

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Uma obra de arquitetura não é experimentada como uma coletânea de imagens visuais isoladas, e sim em sua presença material e espiritual totalmente corporificada. Uma obra de arquitetura incorpora e infunde estruturas tanto físicas quanto mentais. (PALLASMAA, 1996. p. 42)

Para a conclusão da percepção como o elemento final, a atividade cerebral recorre à memória inconsciente fazendo diversas associações e classificações. Essa memória inconsciente é onde estão armazenados dados das experiências passadas, nosso cérebro é responsável por receber, captar e selecionar as informações de maior importância, assim as informações relevantes vão para consciência e as irrelevantes para memória. Portanto, a percepção não é o resultado de uma única estimulação e não possui estímulos isolados da realidade, deste modo, necessidades, emoções e valores afetam diretamente o processo perceptivo.

2.2 ESPAÇO ARQUITETÔNICO A partir do estudo antropológico do espaço, Hall (1977) divide o mesmo em três grupos diferentes: os espaços fixos, semifixos e informais. É possível classificar os espaços fixos e semifixos como espaços arquitetônicos, já o informal está relacionado com o espaço

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de interação humana, a proxêmica, e se estabelece a partir das distâncias com os outros. O espaço de características fixas é a maneira mais básica de organizar as atividades dos indivíduos nos ambientes, afinal são manifestações materiais ou imateriais que regem o comportamento humano, por exemplo uma casa, onde é prédeterminado cada ambiente e suas funções, para que o homem consiga dividir os afazeres. Os espaços fixos são mutáveis a partir do espaço-tempo, cada cultura tem uma relação específica com o espaço, assim como cada geração também tem suas especificidades. O espaço de características semifixas, é basicamente a disposição dos elementos que complementam o espaço fixo, eles têm influência direta nas relações das pessoas, podendo ser separados em dois grupos, os sociofugidios, que tendem a manter as pessoas distanciadas pelo baixo nível de intimidade e pela atividade que está exercendo no ambiente; e o sociopetalados, espaços que unem as pessoas. A definição anatômica do espaço está em constante mudança, captamos características de outras culturas para o aperfeiçoamento do mesmo. Outro fator que impacta diretamente o modo de criar os espaços são as novas tecnologias, determinadas invenções criam


novos padrões de relacionamento, gerando um novo padrão de espaço. Segundo Hall (1977, p. 98) “estar desorientado no espaço é ser psicótico”, por isso que a todo momento estamos recriando os espaços de maneira que eles nos auxiliem na vida diária. Bruno Zevi em seu livro “Saber ver a Arquitetura” (1996), afirma que fomos educados a fazer arquitetura pelas dimensões, estabelecendo perímetros precisos, quando o que realmente importa é o espaço interno criado pelos limites. Segundo Zevi (1996, p. 18) “a arquitetura não provém de um conjunto de larguras, comprimentos e alturas dos elementos construtivos que encerram o espaço, mais precisamente do vazio, espaço encerrado, do espaço interior em que os homens andam e vivem.”. O espaço, portanto, é o protagonista da arquitetura, e independente do resultado final, se não for levado isso em consideração, a obra pode ser resultada em uma pobreza arquitetônica. Para Zevi, a interpretação do espaço arquitetônico foi, por muito tempo, distorcida, afinal a arquitetura era entendida apenas como uma grande escultura tridimensional. No início do século XX, os cubistas definiram a existência da quarta dimensão, que seria o espaço-tempo, abrindo caminho para arquitetura ser entendida de uma nova forma, não fixa, mas sim dinâmica, como

um elemento composto por diversas faces e não apenas suas dimensões. A partir deste raciocínio, o homem entra como o protagonista da quarta dimensão, estudando seus próprios pontos de vista a partir da experiência vivenciada. Ainda assim, mesmo com a descoberta dessa quarta dimensão, o conceito se torna raso para a essência da arquitetura, afinal, a experiência espacial só é totalmente válida se utilizarmos a intuição lírica. Neste contexto, é possível interpretar a arquitetura com seus diferentes “limites”, e classifica-lo em espaços internos e, não menos importantes, espaços externos, que seriam os cenários urbanos. A afirmação de que o espaço interno é a totalidade em essência da arquitetura é equívoca, visto que, a verdadeira essência é um conjunto de aspectos também importantes - economia, decoração, iluminação, dentre outros [...] porém trabalham em função do espaço. Entretanto, se uma obra contém bons espaços internos, boa volumetria, boa decoração são classificadas como obras íntegras, que leva em consideração todas as artes figurativas. Zevi afirma que toda vez que os outros fatores são exaltados além do espaço, cria-se uma confusão na concepção arquitetônica, afinal, a arquitetura não é uma obra vista, mas

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sim experimentada. “A história da arquitetura é, antes de mais nada e essencialmente, a história das concepções espaciais.” (ZEVI, 1996 – pg. 27) Com a análise teórica desses autores é possível concluir que o espaço está diretamente ligado à percepção humana, afinal, o mesmo não pode ser conhecido sem a experiência vivenciada. O homem é o protagonista do espaço, que é o protagonista da arquitetura, em outras palavras, a arquitetura não existe sem o espaço, e o mesmo não existe sem o homem. Portanto essa interação homem-espaço, tanto no campo individual como no campo coletivo, permite o desdobramento daquilo que conhecemos como vida humana. Estaríamos então de volta ao princípio: qual é o conteúdo da arquitetura? Qual é o conteúdo do espaço? Nas fotografias não há nenhum conteúdo, mas na realidade da imaginação arquitetônica e na realidade dos edifícios, existe o conteúdo: são os homens que vivem os espaços, são as ações que neles se exteriorizam, é a vida física, psicológica, espiritual que decorre neles. O conteúdo da arquitetura é o conteúdo social. (ZEVI, 1996, p. 189)

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2.3 ESPAÇO SAGRADO O livro “Geometria Sagrada: simbolismo e intenção nas estruturas religiosas” de Nigel Pennick (1980), aborda sobre o espaço sagrado durante a história do homem e como o mesmo fez e faz para se relacionar com o “invisível”. Pennick concluiu no livro que o divino na arquitetura está diretamente relacionado com técnicas geométricas, cósmicas e ergonômicas que o ser humano desenvolveu e aperfeiçoou para ter um contato direto com o mundo externo. Nos tempos mais remotos, magia, ciência e religião eram disciplinas inseparáveis e quem detinha deste conhecimento era apenas o sacerdócio, afinal, conhecer este mistério era um privilégio de acesso aos “deuses”. A harmonia inerente à geometria era considerada uma forte expressão para o plano divino, ou seja, um padrão metafísico que determina o padrão físico. Além disso, a geometria sagrada está conectada a outros princípios místicos no sentido de que a forma da criação universal está refletida no corpo e constituição do homem. No livro, Pennick define esta relação como macrocosmo (mundo maior) e microcosmo (mundo menor), que o mesmo padrão se repete em diferentes escalas e proporções.


O homem, por sua vez, na concepção hebraica, foi criado à imagem de Deus - o templo que o Criador estabeleceu para hospedar o espírito que eleva o homem para cima do reino animal. Assim, a geometria sagrada diz respeito não só às proporções das figuras geométricas obtidas segundo a maneira clássica com o uso da régua e compassos, mas também às relações harmônicas das partes de um ser humano com um outro [...] - a tudo aquilo que for manifestações do continuum universal” (PENNICK, 1980, p. 5)

Pennick faz uma síntese de algumas civilizações durante a história, relatando seus métodos construtivos e naturais relevantes para ter acesso ao plano divino e encontra então a geometria como um ponto em comum entre todas elas.

2.3.1 BRITÂNICO ANTIGO

FIGURA 6 foto área dos magalíticos de stonehenge, salisbury, inglaterra.

As estruturas sagradas e culturais pró-cristãs só podem ser compreendidas se se adotar o ponto de vista dos antigos. Para eles, todas as coisas mundanas estavam vinculadas às coisas divinas. Todos os pensamentos e todas as ações humanas estavam subordinados às influências energizantes das forças divinas onipotentes. Sua filosofia e sua sabedoria culminaram no conhecimento de que como o acima, assim também o abaixo e na tentativa de harmonizar todas as suas atividades e ambições com a natureza superior, a Vontade Divina. (Josef Heinsch, apud. PENNICK, 1980, p. 29)

A maior representação da geometria sagrada britânica é de fato as “pedras eretas”, que consequentemente, podemos fazer uma relação com o conjunto mais famoso delas, o “Stonehenge”. Existem diversas amálgamas dispostas pelo continente datando mais de 30.000 anos, predispostas por civilizações iletradas, mas não pré-astronômicas. A astronomia antigamente era desvendada a partir da observação da atividade celestial, que na época era pouco conhecida. Estudos apontam que os megalíticos na Europa eram observatórios para medição da passagem do tempo. Neste contexto, o Stonehenge e seus similares são elipses e círculos perfeitos diretamente conectados com astronomia, a partir de suas construções, descobriu-se os ciclos de ascensão e declínio do Sol, da Lua e das estrelas. No Stonehenge, a famosa

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FIGURA 7 pedra do calcanhar, mostra o alinhamento durante o solstício de verão.

“linha do nascer do sol” no solstício de verão de Salisbury no Reino Unido, é marcado pela Pedra do Calcanhar, e é apenas uma pequena exemplificação do alinhamento astronômico da amálgama. Posteriormente, um arqueólogo inglês chamado Alfred Watkins descobriu que diversas construções da Inglaterra estavam interligadas por linhas imaginárias retilíneas o qual ele denominou de “leys”. Entretanto, fora a relação astronômica, o Stonehenge conecta outras geometrias em um esquema magistral. Além das construções do megalíticos formarem uma geometria por si só, elas estavam alinhadas à paisagem local, que podemos considerar uma versão ampliada da geometria dos sítios individuais, fazendo uma relação entre o universo microcosmo e

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o macrocosmo. Portanto, no caso das construções antigas britânicas a geometria era um reflexo da astronomia e em conjunto da geografia, os observatórios foram considerados sagrados, por estarem em harmonia com um plano divino, matematicamente calculado. “A geometria dos céus, traduzida na pedra, foi novamente transmutada para o serviço de outros deuses, mas permanece até hoje reconhecível para aqueles que sabem o que devem buscar.” (PENNICK, 1980 – p. 47)

2.3.2 EGITO ANTIGO Geometria significa “medição da terra”, e para o Antigo Egito eles utilizavam esta técnica no sentido literal de sua expressão,


afinal, por estarem posicionados ao redor do Rio Nilo, tiveram que desenvolver um esquema empírico de agrimensura do solo evitando que as cheias do rio prejudicassem a civilização local. Juntamente as técnicas terrenas de vivência, eles traçavam um sentido espiritual para todas as estratégias tomadas, formalizando uma adoração própria a uma força divina. Enquanto se desenvolvia, toda a antiga cultura egípcia mesclou-se tão completamente à religião canônica, que quase todos os atos eram formalizados num ato de adoração. [...] Cerimônias mágicas complexas resultaram de importantes eventos de estado em que o monarca dirigente representava o papel de personificar uma divindade. No planejamento dos templos, a formação básica da geometria subjacente era executada numa complexa cerimônia simbólica. (PENNICK, 1980, p. 48)

Para os egípcios a forma retangular representava o corpo humano e em uma escala maior os céus, relacionando novamente o microcosmo e o macrocosmo. A sua forma complementar, respeitando um padrão geométrico central ou radial, emblema do mundo material, está representado perfeitamente pelas pirâmides. Após alguns fracassos estruturais, as Grandes Pirâmides de Queóps são o símbolo perfeito do Antigo Egito e ao serem concluídas,

FIGURA 8 pirâmides de quéops, deserto de al-giza, egito.

solucionam o entendimento dos problemas construtivos das demais. As pirâmides de Queóps foram construídas para alojar os restos mortais do rei, visto que a civilização detinha de diversas simbologias para a morte, isto é, eles acreditavam que a mesma significava um mudança de estágio em que a alma se desprendia do corpo e iria para outra dimensão, e para isso, neste plano terreno, o corpo deveria ser resguardado em lugares sacros, reforçando a ideia apresentada anteriormente, em que para toda estratégia material os egípcios criavam uma cerimônia imaterial. Para a construção deste “lugar sacro”, os egípcios traçavam geometrias e proporções matematicamente perfeitas. No caso da Grande Pirâmide, sua proporção é uma

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harmonia precisa. O projeto foi pensado com base na geometria, de modo que a elevação estivesse para mesma razão da circunferência em planta, e o ângulo que consiste em 52°52’ é considerado um ângulo sagrado, que posteriormente pôde ser comprovado com a transposição de duas seções douradas. Wiliam Stirling8 (apud. PENNICK, 1980, p. 54/55) afirma que a existência das pirâmides é a própria confirmação dos escritores primitivos de que a geometria é a grande essência da arquitetura sagrada.

2.3.3 MESOPOTÂMIA E HEBRAICA Na antiga civilização Mesopotâmica, os templos sagrados eram desenhados em formas de pirâmides terraplanadas. Consideravam um rearranjo em miniatura do universo e a comparavam com uma montanha sagrada que estava orientada para os quatro lados cardeais, o que justificava sua planta quadrada perfeita. O nome dado a elas era “zigurate” o que significava “pico dos deuses”. De acordo com Pennick (1980, p. 63), “A ligação cosmológica foi pesquisada 8 Wiliam Stirling autor do livro “The Canon: An exposition of the pagan mystery perpetued in the Cabala” (1897), foi um dos primeiros livros que expôs a geometria sagrada nas construções

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pelo Professor Stecchini, que acredita que o zigurate de sete estágios era uma representação do hemisfério setentrional da Terra, representando o nível do solo o equador e o ápice, o pólo”. A tradução dos tabletes cuneiformes comprova que cada terraço do zigurate possuía uma própria medida simbólica. Arqueólogos identificaram que algumas medidas das elevações antigas dos zigurates têm relação em proporção com a Grande Pirâmide do Egito. Nas construções hebraicas, é possível notar também uma influência geométrica egípcia. Ao longo de toda Bíblia, descrevem detalhadamente objetos e construções sagradas com medições precisas, que dizem ser enviadas por Deus. A mais antiga dessas construções perfeitamente dimensionadas foi a Arca de Noé e foi construída de acordo com um padrão do corpo humano.

FIGURA 9 zigurate de ur, nassíria, iraque.


A Arca, embora seja principalmente um barco em que um homem justo, sua família e seu gado escaparam a um dilúvio que desabou sobre toda a terra, é na verdade uma imagem cósmica do homem, o microcosmo que mais uma vez foi conformado ao padrão dado por Deus. Aqueles que se ajustam ao esquema cósmico sobrevivem, os que não se ajustam perecem. (PENNICK, 1980, p. 66)

Monte Sinai. Foi basicamente desenhado de acordo com protótipos egípcios, era colocado em um pátio cuja geometria representava um quadrado duplo e sua frente era orientada para leste de maneira simbólica em que o nascer do sol refletisse a porta de entrada, reforçando a relação com os fenômenos cósmicos. As medidas do Tabernáculo detinham de uma proporção perfeita e eram definidas como uma imitação do sistema do mundo. Tudo em seu interior estava geometricamente posicionado de forma que respeitasse a relação proporcional entre o microcosmo e o macrocosmo. Até mesmo o objeto mais sagrado dos judeus, a Arca da Aliança9, estava proporcionalmente relacionado com a medida total do pátio. Uma construção hebraica de muito significado e posterior ao Tabernáculo, foi o Templo de Salomão, templo sagrado construído a pedido do Rei Davi para seu filho, futuro rei Salomão. Sua forma foi baseada no desenho do Tabernáculo, porém foi desenhado a partir de um quadrado triplo e com acabamentos mais requintados que também detinham de uma geometria

Outra estrutura sagrada hebraica de grande valor geométrico é o Tabernáculo, que consistia em um santuário móvel utilizado pelo povo judeu durante as peregrinações pelo

9 A Arca da Aliança, de acordo com os textos bíblicos, é o objeto que guardava as tábuas dos Dez Mandamentos e outros itens sagrados.

Dado que o homem é a mais bela e a mais perfeita obra de Deus, e a Sua imagem, e também o menor dos mundos, ele, portanto, por uma composição mais perfeita, e uma harmonia doce, e uma dignidade mais sublime contém e conserva em si todos os números, todas as medidas, todos os pesos, todos os movimentos, todos os elementos, e todas as outras coisas que o constituem; e nele, de fato, está a habilidade suprema [...] além disso, o próprio Deus ensinou Noé a construir a Arca segundo a medida do corpo do homem e Ele fez toda a estrutura do Mundo ser proporcional ao corpo do homem. (Heinrich Cornelius Agrippa apud. PENNICK, 1980, p. 65)

De modo mais geral, Wiliam Stirling (apud. PENNICK, 1980, p. 65) associa a medida da Arca de Noé com o tamanho do planeta Terra e dos cânones astrológicos e consequentemente relacionando a ideia de microcosmo e macrocosmo universal.

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impecável. Posteriormente o templo viria a ser demolido com as invasões babilônicas e viria a ser reconstruído muito tempo depois na época de Herodes, afinal, era necessário um conhecimento da geometria sagrada muito aperfeiçoado para construção de uma réplica. Hoje em dia, apenas uma parede do Templo de Herodes está de pé, que consiste no famoso “Muro das Lamentações”’.

2.3.4 GRÉCIA ANTIGA

FIGURA 11 partenon, em atenas, grécia.

Civilização que também se baseou na geometria sagrada egípcia, os gregos foram pioneiros na arte filosófica de teorizar a experimentação do mundo, isto é, elaboravam argumentos para as experimentações práticas que já existiam.

FIGURA 10 o tabernáculo (quadrado duplo) e o templo de salomão (quadrado triplo).

[...] uma descoberta importante que exerceu grande influência sabre a geometria sagrada foi feita por Pitágoras no século VI a.C. Ele descobriu que as cordas percutidas em um instrumento soavam em harmonia quando as suas extensões estavam relacionadas a uma outra por determinados números inteiros.” (PENNICK, 1980, p. 74)

Essa descoberta de Pitágoras10 foi considerada uma revelação divina da harmonia

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universal. A partir de então, o universo poderia ser explicado matematicamente, assim as teorias antigas de conexão com o divino foram afirmadas. Pitágoras dizia que os números e suas proporções eram fundamentais para o entendimento do mundo e que o cubo era a perfeição culminante, afinal, além desta forma era impossível achar alguma outra forma da terceira dimensão com altura, largura e comprimento de mesmo tamanho.

arquiteto inglês que mapeou toda a obra grega, concluiu que todas as medidas do Partenon estavam em proporção geométrica e sua estrutura não havia sido construída a partir de linhas retas, mas sim a partir de formas curvas. Além disso, Penrose relacionou o Partenon com a Grande Pirâmide, afinal, sua elevação frontal também havia sido extraída de uma seção dourada e suas laterais foram baseadas no fator “phi” (φ).

O sistema da proporção definida que os gregos empregavam no desenho dos seus templos foi outra causa do efeito que eles produzem sobre as mentes incultas. Para eles não só a altura deveria’ ser igual à largura, ou comprimento duas vezes a largura - mas toda e qualquer parte devia ser proporcional a todas as partes com que ela se relacionava[...]. (PENNICK, 1980 apud. James Fergusson, pg. 79)

A largura das fachadas do Partenon era tal, que indicava um segundo de um grau no equador. Assim, as partes individuais da estrutura, todas comensuravelmente proporcionais em relação à geometria subjacente a todo o edifício, eram proporcionais às dimensões da própria Terra. (PENNICK, 1980 – pg. 80)

O lugar que podemos considerar essa proporção citada por James Fergusson11 (apud. PENNICK, 1980 – p. 78) de forma mais clara é na clássica construção grega, o Partenon, em Atenas. Francis Penrose, um 10 Pitágoras foi um filósofo, astrônomo e matemático grego muito influente na sociedade em que viveu assim como na matemática que conhecemos hoje em dia. 11 James Fergusson foi um arquiteto escocês que mapeava as grandes obras arquitetônicas pelo mundo, autor do livro “The History of Architecture in All Countries” (1893).

Essa harmonia era responsável por integrar o edifício com o cosmos, tornandose parte integrante de uma harmonia global do mundo, por isso, classificado como uma obra perfeita para adoração, consistia em um tripé considerado essencial para Pennick na construção de um templo sagrado: orientação, geometria e medida.

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2.3.5 ERA VITRUVIANA

FIGURA 12 o homem vitruviano, por leonardo davinci, 1490.

As diversas partes que constituem um templo devem estar sujeitas às leis da simetria; os princípios dessa simetria devem ser familiares a todos os que professam a ciência da arquitetura. [...] A proporção é a comensuração das várias partes constituintes com o todo e o fundamento da existência da simetria. Pois nenhum edifício pode possuir os atributos da composição em que a simetria e a proporção não sejam observadas; e aí nem existe a conformação perfeita das partes que se pode observar num ser humano bem formado [...] portanto, a estrutura humana parece ter sido formada com tal propriedade, que os muitos membros são proporcionais ao todo. (Vitrúvio apud. PENNICK, 1980, p. 88)

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A era Vitruviana foi marcada pelo próprio arquiteto Marcus Vitruvius Pollo, comumente conhecido como Vitrúvio , que resolveu compilar um tratado teórico e técnico detalhado sobre ensinamentos essenciais de arquitetura. Este tratado sobreviveu durante séculos no Império Romano como um “manual de arquitetura”, depois levado ao esquecimento durante a idade medieval. Após quase um milênio em desuso, o descobrimento de suas obras, marcaram o início da Renascença na arquitetura. Os dez livros de Vitrúvio tratam a educação básica do arquiteto, arte, localização, estudo de moradias, estudo das cidades, formas até pintura, maquinaria e artes militares. Para ele, a arquitetura dependia de seis fatores essenciais: ordem, arranjo, eurritmia, simetria, propriedade e economia. A ordem proporciona a medida de uma parcela da obra e sua concordância com as proporções como um todo. O arranjo consiste na organização das partes em uma ordem própria. A eurritmia consiste na beleza e na harmonia da conexão entre todas as partes. 12 Vitrúvio foi um arquiteto romano que escreveu a obra “De Architectura” em 10 volumes, único tratado arquitetônico que chegou até os dias atuais.


A simetria é a própria concordância entre as partes da obra e a relação estre os elementos distintos. A propriedade é a perfeição final de um todo construído por princípios canônicos. E a economia é autoexplicativa. A declaração de Vitrúvio sintetiza a explicação de seus seis fatores mencionados anteriormente como preceitos essenciais para arquitetura por meio da proporcionalidade e relaciona o corpo-humano, associando que a geometria está diretamente ligada com a ergonomia. Ao mencionar os membros do corpo, Vitrúvio faz alusão ao sistema universal de microcosmo e macrocosmo.

2.3.6 IDADE MÉDIA Quando o Império Romano do Ocidente se rendeu aos ataques bárbaros oriundos do norte da Europa é dado início no período chamado de “Idade Medieval” ou “Idade das Trevas”, nome dado por conta da deterioração econômica e cultural da época. Não havia estrutura político-econômica que planejasse e arquitetasse novas grandes obras, neste contexto, as habilidades foram reduzindo com o tempo. Com a perda de uma autoridade central, alguns homens anônimos que detinham de

certo conhecimento arquitetônico se reuniram numa espécie de associação. Estes, foram os antecessores dos franco-maçons medievais, categoria que teve controle exclusivo sob a execução das catedrais posteriores. A descoberta dos mestres artesãos foi pelos reis lombardos, os mesmos acabaram ocupando lugares importantes dentro do reinado, ou seja, cada rei tinha sua equipe técnica para a execução de novas obras onde eles poderiam aplicar a geometria sagrada, a partir de proporções e orientações matematicamente calculadas. Por volta do século XI, devido as invasões árabes, a cultura do ocidente conseguiu agregar técnicas islâmicas, deixando a arquitetura sagrada mais refinada, com a utilização de elementos como os arcos pontiagudos. Com esse intercâmbio, foi só uma questão de tempo até que os segredos da geometria dos maçons árabes fossem incorporados à arquitetura sagrada ocidental para formarem um novo estilo transcendente agora conhecido universalmente por gótico[...] (PENNICK, 1980 – pg. 97)

Outro acontecimento que resultou em grandes frutos para geometria sagrada ocidental foram as Primeiras Cruzadas13. A mistura cultural rendeu novas simbologias místicas, métodos islâmicos foram

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formalizados, inserção da arquitetura síria e outras técnicas orientais, aparecendo novas catedrais com modelos completamente inovadores em um tempo consideravelmente curto, como por exemplo a Catedral NotreDame de Paris, dando início nas primeiras formas do estilo gótico. As catedrais medievais são a mais fina flor da arte da geometria sagrada que se desenvolveu na Europa. As manifestações físicas da suma teológica, a incorporação microcósmica do universo criado, as catedrais em sua forma completa perfeita, unidas em suas posições, orientações, geometria, proporção e simbolismo, tentam criar a Grande Obra - a unificação do homem com Deus. (PENNICK, 1980, p. 107/108)

A universalização da medida canônica foi um grande marco para unificação do homem com Deus. Em diversas culturas acreditavase que a medida sagrada tinha sido enviada por um poder divino à um homem escolhido ou um “semideus” e assim, elas eram cuidadosamente guardadas, evitando a profanação, para que pudessem ser aplicadas apenas nas construções sagradas.

13 As Cruzadas foram expedições militares organizadas por católicos da Europa Ocidental para reconquistar os lugares sagrados para o mundo cristão.

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FIGURA 13 catedral de notre dame de paris, frança.

A essência da geometria sagrada é simples. Todas as partes do conjunto sagrado, desde o aparato e as vestimentas do clero até a forma de todo o edifício sagrado, são determinadas diretamente por uma figura geométrica fundamental. Todas as dimensões e todas as posições estão idealmente relacionadas diretamente a esse sistema e, assim sendo, estão integradas com o todo da criação. (PENNICK, 1980, p. 114)

Uma obra muito importante para a geometria sagrada deste período é a Catedral de Milão. Na época de sua construção os maçons responsáveis pela execução da mesma estavam em uma controvérsia sobre qual sistema deveria ser utilizado: ad quadratum ou ad triangulum. Sua planta havia sido desenhada a partir de um ad quadratum, porém sua elevação, a partir de um ad triangulum, fazendo com que a obra perdesse a relação proporcional essencial de


uma geometria sagrada. A construção teve início em 1386 e a controvérsia geométrica foi tanta que só foi terminada em 1809, sob as ordens do Imperador Napoleão I. O projeto original foi encontrado em uma publicação dos livros de Vitrúvio em 1521, mostrando a relação do plano e da elevação com os princípios vitruvianos, provando a unificação dos sistemas clássico e maçônicos em apenas um, a geometria sagrada.

FIGURA 14 transposição dos esquemas ad. quadratum em planta e ad. triangulum na elevação na cadetral de milão

2.3.7 RENASCIMENTO A partir da redescoberta de valores da antiguidade romana clássica, se inicia o período da Renascença. As igrejas góticas trabalhadas no plano da Cruz Latina sofrem uma transição gradual para a poligonal centralizada, derivada de antigas práticas pagãs, representando uma nova era antropocêntrica. Leon Battista Alberti, um arquiteto do período renascentista, apresenta um tratado arquitetônico com um compilado de teorias e ideias, evidenciando o círculo como forma primordial e justificava que a forma circular voltava as origens da Roma no período de Constantino. Por outro lado, era nítida a influência vitruviana no tratado de Alberti. Segundo Pennick, “assim, como na arquitetura ortodoxa oriental e gótica ocidental, toda a igreja redonda era um emblema do mundo - a manifestação criada da Palavra de Deus: um receptáculo perfeito da humanidade” (1980, p. 136). Como as poucas igrejas redondas do período medieval, as igrejas centrais eram vistas como um símbolo de unificação com Deus, um microcosmo do mundo. Porém, sua geometria não foi muito usufruída, afinal, os conservadores da época não aceitariam tão facilmente a troca da “Cruz Latina” para

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uma forma de origem pagã. Em 1554, Pietro Cataneo escreveu um livro afirmando que o templo haveria de ser dedicado a cristo crucificado e não à um corpo divino abstrato. Neste contexto, o Concilio de Trento sugeriu que as igrejas permanecessem com sua forma e alguns arquitetos que lutavam pelo conceito centralizado foram mortos por heresia. Um arquiteto posterior foi Andrea Palladio, era defensor dos princípios vitruvianos e mesmo com as heresias, mantinha o conceito centralizado a partir da medida do homem, admirando os sistemas proporcionais e o simbolismo oculto que totalizavam e certa harmonia. Considerava-se que o uso, na arquitetura, de harmonias derivadas musicalmente era uma expressão da Harmonia Divina engendrada no ato de criação por Deus; em termos modernos, o “eco” da Grande Explosão que deu início ao Universo. Por meio dessa expressividade da Harmonia Divina, estavam integrados os símbolos duais do templo como o corpo do Homem, o microcosmo, e o templo como incorporação da totalidade da criação. (PENNICK, 1980, p. 142)

No pensamento antigo de Pitágoras e Platão a música era vista como uma forte harmonia universal. No período renascentista, a partir de Brunelleschi, os

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arquitetos projetavam para que houvesse uma conexão visual e audível, isto é, o templo deveria conduzir as energias telúricas e funcionar como um grande instrumento para a produção harmônica divina.

2.3.8 BARROCO O período barroco é posterior a Renascença e é considerado como a continuação da mesma. Seu nome deriva de um conceito italiano que significa disforme ou bizarro, pressupondo a quebra das medidas canônicas universais e da proporcionalidade, entretanto, sua geometria subjacente são formas distintas das principais, evidenciando a forma oval, diferentemente das formas clássicas, porém, dentro das regras de geometria sagrada. Este estilo arquitetônico está bem evidenciado na pequena igreja de Santo Ivo, em que arquiteto Francesco Borromini ousa de formas geométricas totalizando em um elemento final diferente do clássico comumente utilizado. Além disso, usufruí de diversas simbologias de outras culturas como a babilônica e o budismo tântrico indiano relacionados no remate em espiral. Assim, como o renascentismo sofreu com o conservadorismo de Roma, acontece o mesmo com as obras de Borromini. Outros


FIGURA 15 planta da igreja de santo ivo desenhada a partir de formas terciárias

especialistas como Bernini, afirmavam que suas obras consistiam em pura extravagância e não utilizavam a medida humana, conceito vitruviano, como forma de partido ideal. Em suas obras, Borromini utilizava de diversos diagramas geométricos para exemplificar Deus, isto corresponde diretamente com a relação sagrada do microcosmo com o macrocosmo. Os princípios da geometria sagrada que guiavam os arquitetos da Renascença foram modificados e remodificados até que a geometria do edifício fosse modificada por uma pletora de geometrias terciárias e quaternárias. (PENNICK, 1980. p. 154)

2.3.9 EXÍLIO O século XVIII foi um período de muito interesse pelas vibrações telúricas na arquitetura, mas também foi uma época bem conturbada, as pesquisas provam que foi uma época de baixo custo e sem planejamento,

afinal, a Europa estava passando por diversas revoluções e a igreja estava cada vez mais se separando do Estado, e consequentemente perdendo sua influência. Os arquitetos estavam rebaixando suas obras a meras cópias de estilos arquitetônicos anteriores, ou até mesmo a síntese deles, não havendo a criação como um elemento místico e sagrado, o microcosmo do mundo. Após as revoluções, o século seguinte na visão de Pennick (1980), foi parecido com a era renascentista, com a fé da igreja tradicional abalada, todas as ciências puderam expor suas teorias e descobertas, desde segredos antigos da maçonaria até novos conhecimentos. Pela primeira vez, os conceitos maçônicos de geometria sagrada estavam sendo expostos ao público geral em leituras facilmente compreensíveis. No começo do século XX, o culto da iluminação tornara impossível a um arquiteto admitir que ele estava trabalhando segundo princípios esotéricos. Assim como a geomância fora em grande medida extirpada, e por toda a parte da superfície da Terra fosse considerada igualmente profana, assim também a geometria sagrada foi vista apenas como uma aderência supersticiosa a um sistema sem valor algum para a tradição. De fato, as coisas foram ainda mais longe. A maioria dos arquitetos não estava consciente de que havia uma tradição. (PENNICK, 1980 – p. 162)

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Final do século XIX e início do século XX surge uma figura importante para a arquitetura, o espanhol Antoni Gaudí, sendo católico devoto, considerava que toda ação era um ato de piedade, inclusive sua arquitetura. Foi muito julgado pelos historiadores da época como fantasioso, pelos novos elementos estéticos que utilizavam em suas obras, porém tudo dentro das medidas canônica, respeitando a geometria sagrada. Sua obra mais famosa, a Basílica da Sagrada Família, foi o símbolo do renascimento cristão na cidade de Barcelona. A obra utiliza de um sistema para determinar suas formas, trazendo sua originalidade e a verdadeira arquitetura. Pretendia-se que a Sagrada Família fosse a progressão lógica da arquitetura gótica “libertada do flamboyant”, com a utilização de técnicas modernas para evitar a necessidade de expedientes estruturais tais como os arcobotantes. De fato, o interesse de Gaudí pela geometria esotérica fez dele um dos primeiros arquitetos dos tempos modernos a empregar o arco parabólico contendo os pilares inclinados. Estes pilares, todavia, são o resultado de se considerar a construção de um edifício como um todo que integra mecânica e organicamente todas as partes de maneira que ela ecoe espiritualmente, se não funcionalmente, a natureza “abrangente” da arquitetura gótica. (PENNICK, 1980, p. 166)

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FIGURA 16 basílica da sagrada família, barcelona, espanha.

2.3.10 MODERNISMO Por conta da Primeira Guerra Mundial, o século XX, é conhecido por uma “quebra de tradições”, surgiram diversos movimentos artísticos que tinham como propósito romper com o passado clássico e assumir um novo conceito, muitos deles estavam ligados a geometria. Após a restauração da crença de paz em um cenário mundial, aproximadamente na metade do século, o arquiteto Le Corbusier para facilitar a execução de um projeto, resolveu unificar o sistema métrico, até então o mundo estava dividido em duas medidas diferentes. Para vencer esta dificuldade mantendo a proporcionalidade, Le Corbusier se baseou nas medidas gregas canônicas juntamente com as medidas de um homem


Para ultrapassar esta dificuldade, e para estabelecer um meio de criar proporções harmônicas, Le Corbusier voltou ao cânone grego antigo da Seção Dourada. A partir dele, por muitos experimentos geométricos complexos, chegou a um sistema modular proporcional coerente a que chamou Modulor - o módulo da Seção Dourada[...] Como a geometria sagrada antiga, ele se baseava conjuntamente na matemática abstrata e nas proporções inerentes à estrutura humana. (PENNICK, 1980, p. 174)

hipotético, essa métrica foi nomeada como “Modulor”. A partir de seu sistema de medida, Le Corbusier provou conceitos antigos de que o corpo humano está proporcional à regra dourada. Neste contexto, podemos afirmar que ele utilizou da medida do homem, o microcosmo, para executar obras maiores, o macrocosmo, caracterizando sua arquitetura como uma geometria sagrada.

FIGURA 17 o “modulor” por le corbusier.

2.3.11 CIÊNCIA DO PÓS-MODERNISMO

O pós-modernismo é marcado por novas descobertas da ciência, como por exemplo a descoberta da eletricidade. Não só a arquitetura é diretamente afetada, mas assim como todas as disciplinas ativas em uma civilização. Cientistas que estudavam mistérios antigos provaram que certos comprimentos de onda de forças telúricas eram proporcionais as medidas de geometrias sagradas. Com a invenção do microscópio, foi possível notar a relação harmônica e geométrica das células dos seres vivos. A ciência estava começando a provar a geometria sagrada. Cada vez que se produz uma forma geométrica, faz-se uma expressão da unicidade universal; ela é ao mesmo tempo única em tempo e em espaço e também eterna e transcendente, representando o particular e o universal. (PENNICK, 1980, p. 184)

Pennick (1980) afirma que enquanto houver o mundo e a humanidade, os edifícios sagrados e seculares apresentarão o simbolismo da geometria sagrada. Novos períodos acrescentam formas subjacentes de um novo entendimento ou conceito desenvolvido, surgindo assim, uma nova arquitetura, mas sempre usando o mesmo princípio como base.

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ARQUITETURA SAGRADA

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3.1 SIMBOLISMO NA ARQUITETURA RELIGIOSA O símbolo relaciona-se a uma busca por sentido. Também a religião é uma jornada em busca de significado. Se o símbolo traduz uma dimensão exclusivamente humana – uma dimensão de valores, cultura e ideias – também a religiosidade é a dimensão exclusiva da experiência humana. Ambas as estruturas, a do símbolo e a da religião, confundem-se em uma camada da experiência humana que está profundamente relacionada com o abstrato. Em arquitetura os espaços do símbolo e da religião são espaços de crença. Tratar dessa espacialidade simbólica é penetrar no fascinante universo de pesquisa desta dimensão humana, desta cultura da crença. (MELLO, 2007, p. 237)

Na dissertação “A cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa”, para Universidade de São Paulo, Ricardo de Mello Bianco (2007) destaca que a definição do conceito de símbolo é contraditório, a começar pela significado da palavra que grega “sýmbolon” que significa uma “convenção” ou “contrato”, enquanto sua etimologia pelo latim “symbol”, consiste em reunião, locais de encontro e rebanhos. Partindo deste princípio de multiplicidade de abordagens, é possível entender que o símbolo é um conceito que recusa fixar-se. Na linguística, ocupa um lugar concreto.

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Já na psicologia, de acordo com Sigmund Freud15 e Carl Gustav Jung16, o símbolo não se resume a apenas um sentido, sendo ele flexível ao interlocutor que está o interpretando, em níveis de consciência e inconsciência. Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto “inconsciente” mais amplo, que nunca é precisamente definido ou de todo explicado. Nem podemos ter esperanças de defini-la ou explicá-la. Quando a mente explora um símbolo, é conduzida a ideia que estão fora do alcance da nossa razão. (JUNG, 1977, p. 19)

A arquitetura é um meio de comunicação muito presente, e sempre significará algo para alguém. Determinados signos abstratos que remetem a alguma convenção, hábito ou analogia qualquer são chamados de símbolos. O sentido é a composição da produção material conceitual e da percepção individual, assim, Mello (2007) 15 Sigmund Freud foi um médico neurologista criador da psicanálise que consiste em um campo clínico de investigação da psique humana. 16 Carl Gustav Jung foi um psiquiatra suíço, um dos discípulos de Freud, que depois acabou seguindo sua própria linha de pesquisa a Psicologia Analítica que buscava entender a psique humana através do inconsciente.


o considera na arquitetura como uma “experiência inesgotável e reincidente”, não sendo fixo. Cada momento que acontece a interação homem-espaço, o sentido ganha novas significações. Mello (2007), separa a arquitetura em duas categorias simbólicas: os que estruturam e os que se confundem com o espaço em si; e os elementos isoláveis apostos à arquitetura. O primeiro, podemos classificar como a linguística da obra, ou seja, seu estilo arquitetônico, como por exemplo o classicismo, pelo suas estratégias e métodos adquiriu um caráter convencional de rigor, sobriedade e grandeza na sociedade. Podemos fazer associações de apenas alguns elementos, como por exemplo o arco ogival, que tem origem na arquitetura oriental, mas também foi muito utilizado nas catedrais ocidentais. Neste contexto, as interpretações simbólicas podem ser culturais e locais. O segundo, signos isoláveis, são aqueles que possuem simbologia própria, são signos específicos que podem ajudar a construir uma simbologia maior. Seriam elementos espaciais ou ornamentais que compõe o estilo total, estes portanto, são mais fáceis de interpretar, é o caso de símbolo religiosos, como por exemplo a cruz ortodoxa. Entretanto, estes símbolos específicos só comunicam para aqueles que conhecem seu significado.

Bruno Zevi, em seu livro “Saber Ver a Arquitetura” (1996), distingue as interpretações arquitetônicas em quatro formas, sendo uma delas, as interpretações fisiopsicológicas, que são aquelas que relacionam a simbologia do espaço com as questões psicológicas. Neste contexto, cita a “Teoria de Einfühlung”, segundo qual a emoção artística consiste na identificação do espectador com as formas. Portanto, podemos relacionar com a primeira categoria simbólica de Mello, isto é, um estilo inteiro pode condizer a uma simbologia específica ou em menor escala, os elementos que se confundem com os espaços. Para exemplificar, Zevi (1996) associa o estilo egípcio como a “Idade do Medo”, em que o homem dedica o espaço a conservação do corpo para uma possível reencarnação; a Grécia já é interpretado como “Idade da Graça”, símbolo de trégua contemplativa e o predomínio do que é belo; Roma é identificada como “Idade da Força”; o Gótico é representado como “Idade de Aspiração”; e a Renascença a “Idade da Memória”. Para os elementos em menor escala, aqueles que se confundem com os espaços, Zevi (1996) distingue as formas geométricas, reconhecendo seu valor simbólico na arquitetura, como a linha horizontal que tem o objetivo de dar um sentido imanente em

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que é responsável por conduzir o homem; Já a linha vertical é o símbolo do infinito, e para acompanha-la, o homem deve se erguer os olhos ao céu, trazendo a simbologia do sublime; a forma helicoidal, que gira em torno de um eixo, tendo uma forte simbologia no “ascender” da matéria ou libertação terrena; O cubo representa integridade, visto que, suas partes são iguais e compreensíveis, transmitindo ao espectador uma sensação de segurança; o círculo transmite a sensação de equilíbrio e controle sobre os elementos; as esferas e semiesferas representam a perfeição. Procedendo da gramática para o discurso, a teoria de Einfühlung investe todo o edifício. Para ela, toda a crítica da arquitetura consiste na capacidade de transferir o próprio espírito para o edifício, em humanizalo e fazê-lo falar, vibrar com ele numa inconsciente simbiose em que o nosso corpo tende a repetir o movimento da arquitetura. (ZEVI, 1996, p. 163)

Para Mello (2007), o símbolo tem muita força porque restringe a abertura de sentido e reforçando a leitura específica do mesmo. Este potencial de fixação do símbolo é muito priorizado em projetos que expressam determinado pensamento ou tradição, como a arquitetura sagrada, reforçando o patrimônio cultural de certos grupos étnicos. Neste contexto, Mello (2007) ressalta

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a força do simbolismo na Antiguidade, trazendo diversas analogias para o repertório arquitetônico, assim, muitas obras mais recentes se baseiam em referencias já construídas e dadas como “sagradas” para então serem consideradas como tal. Dessas obras antigas podemos citar as mais recorrentes, sendo elas, as Pirâmides do Egito, o Parthenon, as stupas budistas, as pagodas chinesas, o minarete islâmico dentre outros, que já consolidaram tal força simbólica que eles próprios se tornam um símbolo daquilo que desejaram, um dia, transmitir. A importância da arquitetura simbólica religiosa é a necessidade que o homem sempre teve de se relacionar e/ou entender forças exteriores a si mesmo, fazendo-o se sentir mais próximo através da sacralização de certos elementos ou espaços. O simbolismo arquitetônico religioso não se limita a uma tipologia específica e consiste em uma junção do valor simbólico da obra e da prática religiosa que será exercida. Portanto, para o seu entendimento, é necessário analisar alguns aspectos como os pressupostos sociais, pressupostos intelectuais e os pressupostos técnicos vigentes de cada época. Trazemos aqui como exemplo, a explicação de Zevi (1996) para a diferença entre os templos gregos e os romanos. O primeiro, não foi pensado para existir um espaço interno


rico e legítimo, até porque “[...]não era concebido como a casa dos fiéis, mas como a morada impenetrável dos deuses” (1996, pg. 65). Os gregos não realizavam os rituais dentro dos templos, mas sim do lado de fora, neste contexto, o templo era construído como uma obra prima, uma grande escultura. Já os arquitetos romanos não possuíam o sensível requinte estético dos gregos, mas tinham a técnica da construção, e Zevi (1996) separa a arquitetura romana como submissa da grega, pois os ideias construtivos de Roma eram outros, afinal eles exploravam as técnicas em meio a um espaço interno, mostrando certo amadurecimento arquitetônico durante seu período. Isto é, a arquitetura romana em nenhum momento encerra o espaço, como nos templos gregos, mas o envolve. Portanto, ele afirma a partir da escala, que a arquitetura romana exala autoridade e dominação da multidão. Outro exemplo, são as religiões cristãs com sua vertente católica e evangélica, possuindo diferentes crenças. Na Igreja Católica o posicionamento e a dignidade do altar representam o símbolo do próprio Cristo, sendo ele o símbolo máximo da arquitetura católica, o mesmo não acontece nos templos protestantes, que evidenciam o púlpito, para eles simbolizando a “palavra divina” como prioridade.

Jean Hani17 (apud. MELLO, 2007, p.153) classifica o símbolo religioso em dois grupos distintos: o intencional e o essencial. O primeiro consiste em um signo com significado imotivado e fixado por hábito ou convenção, para ele, este é um símbolo “menor” para arquitetura religiosa devido a característica mutável do sentido com o tempo-espaço. Já o símbolo essencial é considerado pelo autor o “verdadeiro simbolismo”, que interliga a matéria ao espírito, este é um símbolo motivado, que implícita a intenção no próprio objeto. Neste, podemos fazer a relação que Nigel Pennick abordava em seu livro “Geometria Sagrada: Simbolismo e Intenção nas Estruturas Religiosas” (1980), afinal o símbolo essencial é a busca pela harmonia com o mundo, o microcosmo sendo um reflexo proporcional do macrocosmo. Portanto, o conhecimento da cultura e suas tradições religiosas é a base fundamental para interpretação do simbolismo religioso, afinal, cada tradição, mesmo que compartilhe de elementos básicos, possui uma particularidade. Este conhecimento tradicional é entendido como a teologia do templo, a “verdade religiosa” para determinada comunidade, que consiste 17 Jean Hani foi um filósofo e teólogo cristão autor do livro “O simbolismo do templo cristão” (1962).

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em histórias, mitologias, ritos e condutas variando com o espaço-tempo. Entretanto, tratamos aqui o simbolismo religioso não é apenas a vertente comunicacional, ele pode também ter a função mágica, isto é, um signo cuja finalidade é uma ação imediata, cujo receptor não precisa traduzir nenhuma mensagem específica, o propósito é tão puro que ele existe por si só, fazendo com que a interpretação seja repentina.

3.2 COMUNIDADES E RELIGIOSIDADES O simbólico mescla o símbolo, elemento em princípio altamente codificado, e a arquitetura, linguagem não-verbal altamente informativa e, portanto, pouco codificada por natureza. É no espaço simbólico que a arquitetura pode comunicar com mais clareza. Para tanto é preciso reconhecê-lo e penetrá-lo, desvendando e aplicando o código que o define. (MELLO, 2007, p. 16)

Ao identificar a simbologia religiosa como consequência do sistema de vida, da economia, classes, costumes, coletividade, mitos, crenças e técnicas da época em que ela foi concretizada, e assim concluir que cada qual possui certa originalidade, é preciso frisar que algumas utilizam das mesmas estratégias para a consolidação do

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símbolo final, sem qualquer prova de relação entre uma cultura e outra. Mello (2007), visando pontuar partidos que o homem tomou como predominante para a consolidação do símbolo sagrado nas diversas culturas pelo tempo e espaço, divide seu estudo em: localização, implantação e o edifício. O primeiro, a localização do sítio, geralmente sua escolha se dá por uma relação imediata de elementos do entorno, ou elementos distantes em uma escala maior. Por exemplo, na tradição hindu, muitos templos são construídos na confluência de dois rios. Já no Antigo Egito, o posicionamento dos espaços religiosos e fúnebres eram dispostos pelas margens do Rio Nilo, sendo a leste, as “estruturas dos vivos”, representados pelo nascer do Sol, e a oeste, as “estruturas dos mortos”; representados pelo pôr do Sol. Outro relevo muito explorado pela arquitetura religiosa são as montanhas, com o desígnio de atingir o céu. O simbolismo da montanha parece fortemente ligado a imagens religiosas tradicionais e, além da presença em grandes visões religiosas no mundo, a montanha parece ter sido influência direta para o desenvolvimento de determinadas tipologias, tais como pirâmides, zigurates, stupas e pagodes. (MELLO, 2007, p. 165)


Um dos mais tradicionais sistemas de avaliação de interferências no meio físico a partir de códigos simbólicos é o feng shui chinês, em que a etimologia da expressão aponta tanto para seu conteúdo filosófico quanto aos mecanismos físicos da natureza: feng significa vento, associando formas abstratas; shui significa água, relacionando o meio físico, aquilo que é tangível. Essa técnica busca equilibrar o ambiente entre os princípios das energias opostas yin e yang, encorajando as energias positivas, conhecida como qi, e retirando as energias negativas, o sha.

FIGURA 18 bússola lo pan utilizada em feng shui para analisar a posição do edifício

As estruturas megalíticas da antiga GrãBretanha, já visto anteriormente no capítulo anterior, que estão posicionadas no meio físico, configurando um sistema de “grandes linhas geométricas”, que posteriormente, com o aprofundamento do assunto, alguns pesquisadores, identificaram que esses eixos conectam antigos sítios sagrados de toda Europa.

FIGURA 19 Vista aérea da antiga cidade de Chichén Itzá construída pela civilização maia, no

FIGURA 20 vista aérea da antiga cidade de machu picchu construída pela civilização inca, no peru.

Outras culturas distantes e possivelmente isoladas que também usufruíram da localização de sítios foram as civilizações précolombianas, sendo eles, as mais conhecidas, maias, incas e astecas. A antiga cidade de Chichen Itzá, no México, é um grande complexo cuja posições dos edifícios parece constituir uma simbologia cosmológica para a observação astronômica com finalidades ritualísticas. Em Cuzco, a capital inca do Peru, a cidade é desenhada a partir do Templo do Sol, traçando linhas geométricas para espaços importantes da história da civilização, o que podemos relacionar com a cultura britânica antiga.

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Em Cuzco, a capital inca do Peru, o Templo do Sol situava-se no centro ritual da cidade, e dele irradiavam quarenta e uma ceques (linhas de vista), passando através de locais significativos que não eram só astronômicos como estavam associados a acontecimentos da história inca. (HUMPHREY, Caroline; VITEBSKY, Piers18 apud MELLO, 2007, p. 169)

As motivações dos traçados sagrados da civilização inca despertam não só para características naturais da geografia e astronomia como visto anteriormente nas estruturas europeias, mas também a sacralização em um acontecimento histórico ou mitológico, pertencente a determinado lugar ou cultura. Um local torna-se sagrado através de um acontecimento ou ação num tempo mítico ou histórico e os homens respondem frequentemente a tal evento erigindo um edifício sagrado no local. [...] O budismo e o cristianismo têm um forte culto por relíquias e constroem-se muitas vezes santuários nos locais onde aconteceu algo de estranho na vida de uma figura importante. As localizações das fases e incidentes do percurso de Buda são assinaladas por stupas, tal como os locais associados como a vida e a morte de santos e mártires são marcados por relicários. (HUMPHREY, Caroline; VITEBSKY, Piers apud MELLO, 2007, p. 170) 18 Caroline Humphrey e Piers Vitebsky são antropólogos americanos autores do livro “Arquitetura Sagrada” (1997).

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Assim como o lugar escolhido, a implantação também é um fator simbólico muito presente, geralmente relacionando com histórias, fatos, lendas, alegorias e dogmas pertencentes a doutrina. E novamente, neste, um dos partidos dominantes também é o espelhamento dos cosmos, ou seja, templos, ao longo de toda história, foram implantados de forma a reproduzir elementos celestes, como por exemplo citado anteriormente, o Stonehenge, que está diretamente relacionado com a posição dos equinócios e solstícios. Outro caso que é implantado de maneira relacionada aos cosmos é nave central das igrejas católicas orientadas no eixo oesteleste, sendo a entrada para o sol poente e o altar direcionado ao sol nascente, que antes de mais nada, faz uma simbologia com o percurso do fiel na igreja, que sai da “escuridão” e volta para “luz”. Trata-se de uma orientação invariável, de tal maneira que os fiéis e profanos, entrando no templo pelo Ocidente, caminhem em direção ao santuário, a face voltada para o lado onde o Sol se ergue, na direção do oriente, a Palestina, o berço do cristianismo. Saem das trevas e dirigem-se para luz.” (Fulcanelli19 apud MELLO, 2007, p. 175) 19 Fulcanelli é o pseudônimo de um alquimista e autor francês chamado Eugène Canseliet, responsável pela obra “O Mistério das Catedrais” (1926).


Uma das mais tradicionais técnicas de marcação dos eixos para construção dos templos, tanto ocidentais como orientais, é baseada na observação da sombra de uma vareta fincada no solo, ao qual recebe o nome de “gnômon”. No livro “Geometria Sagrada”, Nigel Pennick (1980) detalha o processo inicial de demarcação dos eixos para construção de um templo hindu, já Jean Hani, citado por Ricardo Bianco de Mello (2007), descreveu o mesmo processo para a construção de um templo cristão escrito por Vitrúvio:

FIGURA 21 planejamento de um templo a partir de gnômons

Importa fixar de forma precisa as três operações da fundação: o traçado do círculo, o traçado dos eixos cardeais e da orientação e o traçado do quadrado da base, pois são eles que determinam o simbolismo fundamental do templo, com seus três elementos correspondentes às três operações: o círculo, o quadrado e a cruz, por intermédio do qual se passa do primeiro para o segundo. (Hani apud. MELLO, p. 177)

de forma a demarcar a trajetória celeste do planeta Vênus. No Egito Antigo, foi sugerido por vários pesquisadores que, a posição das pirâmides de Gizé estaria alinhada com algumas estrelas da constelação de Órion, associadas ao deus Osíris e ao drama de morte e renascimento, além de se relacionar com o movimento solar.

Algumas civilizações se baseavam no percurso celestial como um todo, não somente Sol e Lua, focando em estrelas fixas, planetas e constelações, é o caso da implantação do palácio real da antiga China que se firmava em uma posição análoga à da estrela polar, sendo um retrato celestial com o objetivo de reforçar a figura do imperador. Já na antiga civilização maia, a implantação e a forma dos edifícios eram precisamente calculadas

Em todas as culturas humanas, a mecânica celeste serve de fundamento a um simbolismo mitológico e teológico que por sua vez sustenta as orientações e formas dos edifícios sagrados. (MELLO, 2007, p. 178)

Além de relacionar o movimento celestial com a implantação, muitos templos também são implantados de forma a manter uma crença religiosa ou uma estrutura social. No primeiro caso, é possível citar a construção

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de mesquitas, em que o mihrab do centro de orações deve estar direcionado a Meca, cidade que simboliza o centro do universo islâmico, a qual Maomé deu início as suas pregações. Já a segunda opção pode ser representada pelos índios brasileiros, a tribo de Bororo localizada no Mato Grosso, é dividida por duas metades pelo eixo lesteoeste onde é priorizado as divisões entre a “casa dos homens” e a “casa das mulheres” e uma casa central responsável por manter os rituais, a partilha das caças, dentre outras atividades coletivas. FIGURA 22 mihrab da grande mesquita de córdoba

FIGURA 23 vista aérea da aldeia indígena bororo, mato grosso

FIGURA 24 grande santuário de ise

Outro partido muito utilizado para a construção de um simbolismo religioso, de acordo com Mello (2007), é o edifício. Muitas vezes, a presença da obra é por si só, é um símbolo, como é o caso do Grande Santuário de Ise, no Japão, que consiste no templo mais sagrado do país, os edifícios adjacentes ao principal são destruídos de vinte em vinte anos, para construção de novos edifícios idênticos também adjacentes. Esse processo de reconstrução periódica está relacionado com a visão de renovação do xintoísmo e de acordo com Humphrey e Vitebsky: “O processo revela o entendimento da natureza, aquela que é constantemente renovada” (apud. MELLO, 2007, p. 181). Um grande exemplo da arquitetura religiosa moderna é a obra de Frank Lloyd Wright20, a sinagoga de Beth Sholom, na Filadélfia. Sua 20 Frank Lloyd Wright foi um arquiteto americano, um dos pioneiros do estilo Modernista junto ao Le Corbusier, mas seguia uma linha completamente diferente, conhecida hoje em dia como orgânica.

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FIGURA 25 sinagoga beth sholom, na filadélfia, pelo arquiteto frank lloyd wright

FIGURA 27 vista interna da cobertura da catedral sagrada família, em barcelona, pelo arquiteto antoni gaudi

forma piramidal remete ao Monte Sinai, local onde Moisés recebe de Deus as Tábuas da Lei, de acordo com o judaísmo. As paredes de vidro branco fazem com que mantenham a iluminação natural de dia e de noite, a luz artificial faça o edifício brilhar como uma luz divina, dentre outros diversos simbolismos da obra.

Outra obra moderna da arquitetura religiosa rica em simbolismo é a igreja da Sagrada Família, em Barcelona, projetada pelo arquiteto Antoni Gaudí. O plano da igreja desenvolve-se em cruz latina, e no cruzamento da nave principal com o transepto ergue-se uma abóboda servindo de base a torre, que representa Jesus Cristo, cercada por torres menores, representados pelos evangelistas. Um exemplo moderno não cristão, mas que se baseava nas estruturas cristãs é o Goetheanum, projeto de Rudolf Steiner21, foi um templo dedicado ao próprio Goethe, conhecido por ser o pai da antroposofia. Steiner utilizou de diversas estratégias

FIGURA 26 vista aérea do segundo templo goetheanum, em dornach, suíça.

21 Rudolf Steiner foi um educador, filósofo e artista croata um dos percursores uma linha de pensamento chamada “Antroposofia” que emprega o conhecimento do ser humano alinhando a fé com a ciência.

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simbólicas para se comunicar diretamente com a filosofia que queria passar, como por exemplo a priorização da madeira como material construtivo, representando a metamorfose, a elevação do edifício foi desenhada para que representasse o homem de pé, a forma circular representava a forma etérea ou o mundo orgânico priorizado ao terreno, assim como nas igrejas cristãs sua entrada era pelo lado oeste. Sobre a obra, Mello cita: Um desenho engenhoso, baseado no triângulo 3:4:5 pitagórico, serviu como base para esses dois domos que simbolizavam não só a fusão dos princípios masculino e feminino, mas também a estrutura do cérebro humano. É nessa analogia que a geometria é especialmente engenhosa. No cérebro, a interseção focal dos dois círculos que compõe a geometria básica do templo, está no corpo pineal. Em termos ocultistas, esse órgão é a seda da alma, antigo terceiro olho de nossos antepassados arcaicos. (2007, p. 182)

Na cultura oriental até hoje, como budistas, hinduístas e jainistas, os templos são geralmente edificados de acordo com o modelo dos cosmos, representados por mandalas. A palavra tem origem do sânscrito e significa círculo, que consiste em um símbolo para integração, união e continuidade. Por isso, a mandala é uma simbologia para um sistema organizado, um modelo para a estruturação em planta de edifícios que pretendem reproduzir os cosmos.

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FIGURA 28 mandala kalachakra

Tais diagramas costumam estar baseados na divisão do círculo em quartos, e todas as partes e elementos aplicados estão inter-relacionados com um desenho unificado. As mais das vezes, são de certa forma cosmológicos, isto é, representam num símbolo o que se considera como estrutura essencial do universo; por exemplo as quatro direções espaciais, os quatro elementos, as quatro estações, por vezes os doze signos do zodíaco, diferentes divindades e com frequência o próprio homem. Mas o mais notável e constante dessa forma de diagrama é o que expressa a noção de cosmos, isto é, a realidade concebida como um todo organizado e unificado. (Lawlor22 apud. MELLO, 2007, p. 189) 22 Robert Lawlor é um mitógrafo e simbólogo americano autor do livro “Geometria Sagrada: Filosofia e Prática” (1982).


FIGURA 29 vastupurusha mandala

FIGURA 30 Plano de basílica sobreposto a figura humana por Francesco di Giorgio.

Os edifícios têm sido muitas vezes considerados, não somente como reprodução do cosmo, mas também do corpo humano, correspondência que pode ser até considerada como fazendo parte do eu caráter sagrado. Os túmulos megalíticos foram por vezes construídos com a forma do corpo humano, com o espaço interior a assemelhar-se ao útero, do qual se acreditava por vezes que o morto renasceria. O templo grego de Delfos, tal como a Caaba de Meca, era designado do umbigo do mundo, ao passo que o falo (lingam) do deus hindu Shiva se encontra ao centro de todos os templos que lhe são dedicados.” (HUMPHREY, Caroline; VITEBSKY, Piers apud MELLO, 2007, p. 191)

É muito frequente também a cultura hindu se basear em modelos microcósmicos para representação de um macrocosmo, como por exemplo a vastupurusha mandala, que utiliza a representação do ser humano, de planetas

FIGURA 31 faraó como modelo do templo luxor, egito.

e deuses em um esquema organizado para a construção dos edifícios sagrados. No ocidente o arquétipo do ser humano para organização dos edifícios também foi muito usual, como visto anteriormente, os textos de Vitrúvio que indicava um modelo organizacional a partir das medidas do corpo humano. Na tradição católica romana, que disseminou mais no ocidente, as igrejas partiam de uma mesma tipologia, a simbologia do corpo de Cristo para delimitar os espaços interiores, o presbitério estaria localizado na cabeça e a nave representava o corpo. Além disso, com a inclusão dos transeptos, a igreja também teria o formato da cruz latina, representando a analogia do Cristo crucificado. Já na tradição católica ortodoxa, que disseminou no oriente, a disposição da planta que colaborou para uma definição de uma

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FIGURA 32 planta modelo de uma catedral gótica do ocidente, tipologia do corpo de cristo em formato de cruz latina.

FIGURA 33 planta octogonal da igreja de são vital.

tipologia foi a utilização da cruz grega ou da planta octogonal, tendo o número oito como o símbolo do renascimento de Cristo (7+1=8, sendo o 7 um número divino e o 1 um novo início). Mello cita que o número oito já possuía um forte significado para os romanos, e estava relacionado a uma eternidade. Portanto, as igrejas católicas de base circular ou até mesmo octogonal não tiveram muita veracidade no ocidente por possuir raízes pagãs, além da simbologia numérica, muitos arquitetos que tentaram introduzir esta forma na tradição católica romana foram mortos por heresia, incluindo aqui a Ordem dos Cavaleiros Templários23.

O círculo sempre esteve relacionado a marcação de pontos sagrados da geomântica, o omphalos (centros), eram um microcosmo do mundo. Pennick, sugere em seu livro “Geometria Sagrada” (1980), que a Igreja não aceitava esta forma por representar o mundo e não o homem. Esta forma circular só consegue adentrar a arquitetura católica durante o século XX, com as propostas modernistas e novas concepções de espaço.

23 A Ordem dos Cavaleiros Templários era composta por nove cavaleiros franceses que tinham o objetivo de velar pelas conveniências e pela proteção dos peregrinos cristãos nos territórios sagrados, tendo sido fundada durante a Primeira Cruzada. Muitos teóricos relacionam esta ordem com a maçonaria.

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É fundamental destacar que tais feitos só parecem ter sido possíveis porque modernamente a perda do conteúdo simbólico tradicional da igreja circular aliou-se a um novo simbolismo do círculo na liturgia cristã, nascido do moderno movimento de reforma litúrgica da Igreja Católica. Esta nova visão associa a planta circular à democratização da liturgia, até então marcada pela profunda separação entre o clero e a comunidade, e está também relacionada ao resgate do altar único como símbolo de Cristo e foco do ritual católico. (MELLO, 2007, p. 200)


os elementos da natureza é a seção áurea ou número de ouro, que consiste na “relação recíproca entre duas partes desiguais de um todo, na qual a parte menor está para maior na mesma proporção em qual a maior está para o todo” (MELLO, 2007, p. 202), assim, essa proporção traz consigo uma simbologia divina ou de perfeição. FIGURA 34 catedral de brasília, por oscar niemeyer, a partir de uma planta circular.

Na arquitetura sagrada além do simbolismo numérico, existe o simbolismo geométrico e as proporções, como visto no capítulo anterior. O homem, desde a antiguidade, se dedicou a traduzir as proporções da natureza nas formas dos edifícios, criando a relação muito citada por Pennick (1980) em seu livro, microcosmo e macrocosmo. De fato, nenhum templo pode sem bem composto sem que se considere alguma proporção ou semelhança, a não ser que tenha exatas proporções, como as dos membros segundo uma figura humana bem constituída. [...] Assim, ao serem aplicadas as regras a todos os edifícios, principalmente aos recintos sagrados, o mérito e os defeitos dessas obras costumam permanecer expostos para sempre. (Vitrúvio apud. MELLO, 2007, p. 202)

Além desse sistema antropológico disseminado pelas escrituras de Vitrúvio, outra proporção muito utilizada que também está presente no corpo humano, e em todos

FIGURA 35 elevação frontal do parthenon e o estudo de geometria sagrada a partir da seção áurea

FIGURA 36 proporção áurea encontrada em um elemento da natureza.

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Um aspecto trabalhado por diversas culturas é a dicotomia espaço externo/ interno, sendo eles, espaço mundano e espaço sagrado, em que é introduzida grandes funções simbólicas para reforçar essa separação. De acordo com Mello (2007), a própria etimologia do nome “templo” tem raízes latinas e gregas que significam “cortar” ou “separar”. Assim, todos os elementos que fazem o intermédio desta fronteira são levados em consideração, como portões, limiares e aberturas, tendo dimensões e ornamentações expressivas. Deve se considerar que também são os pontos de maior vulnerabilidade dos templos, sendo em muitas culturas protegidos por orações, bençãos e encantos ou em alguns casos até imagens especiais para proteger a entrada de forças negativas. A sacralidade da passagem e da porta assume todo seu valor quando se trata do templo, razão pela qual se colocavam à entrada dos edifícios sagrados ‘guardas do limiar’, estátuas de arqueiros, de dragões, de leões ou esfinges, personagens semidivinas, e até divinas, como o ano dos Romanos, deus da porta – janua – e do primeiro mês do ano, aquele que abre o ano – januarios (janeiro). Esses guardas do limiar tinham por missão recordar a quem se dispunha a entrar o caráter temível do ato que se preparava para executar ao penetrar no domínio sagrado. “Tu que entras, volta-te para o céu”. (Hani apud. MELLO, 2007, p. 208)

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FIGURA 37 entrada de um mosteiro no tibete.

FIGURA 38 portal do santo salvador na catedral de notre-dame d’amiens

Outro elemento arquitetônico de forte simbologia em algumas culturas é o pátio central, utilizado em algumas culturas ocidentais, porém, tradicionalmente da cultura islâmica, o sahn é a representação do paraíso, e nele, encontra-se uma fonte de formato octogonal que demarca o centro relativo da mesquita, simbolizando o trono de Alá. Na igreja católica, este centro relativo é o altar, símbolo de Cristo para qual o fiel se dirige.

FIGURA 39 pátio central da mesquita de damasco.


reforça as dificuldades da ascensão. Para Jung em seu livro “O homem e seus símbolos” (1977), o labirinto simboliza o inconsciente, algo que estamos em busca.

FIGURA 40 claustro do mosteiro de san domingo de silos.

A água é muito presente em diversas culturas, simbolizando a vida, purificação e o renascimento, aparecendo como a pia de água benta nas igrejas cristãs, lavabo de bronze no tabernáculo judeu ou o ato de ablução dos mulçumanos. Já o hinduísmo se utiliza do rio sagrado, o Ganges na Índia, para esta simbologia, e não de um elemento arquitetônico em si, assim como as tribos indígenas brasileiras que possuem um grande apreço pelo mar, rios ou lagoas. A partir de elementos arquitetônicos dispostos sequencialmente ou, em uma ordem estabelecida, são criados percursos que simbolizam o “caminho ao divino”, representado por labirintos, escadas, corredores, dentre outros. Sua finalização representa a epifania, o encontro e/ou a descoberta. Neste contexto, a escada, os labirintos e corredores simbolizam a jornada espiritual, sua dificuldade de encontrar o ponto final

FIGURA 41 labirinto no piso da catedral de chartres, frança.

FIGURA 42 escadaria da igreja de bom jesus, em braga, portugal.

No templo budista de Borobudur, na Indonésia, o percurso do fiel é trabalhado com labirintos e escadarias, e cada nível físico está relacionado com os níveis de consciência da teologia budista, sendo a base relacionada ao mundo terreno e o topo, onde estão dispostos diversos budas em meditação, representado pelo nível de consciência, o desprendimento da matéria.

FIGURA 43 templo budista de borobudur, indonésia.

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E, em toda ação espiritual, o objetivo único da vida, o unum necessarium, consiste em ‘realizar’ este Eu, ou seja, em tomar consciência, com a graça de Deus, de uma forma não discursiva, mas vital e ontológica, pois só ele é o nosso verdadeiro ser, pelo que todos os envoltórios do indivíduo, se fundem nesse centro vivo e luminoso, que é o “reino de Deus em nós’, e que em virtude da analogia entre o macrocosmo e o microcosmo humano, se identifica como Centro do Mundo. O homem que pela graça de Deus, se estabeleceu neste centro, vê tudo, o mundo e a si próprio, com os mesmos olhos que Deus. (Hani apud. MELLO, 2007, p. 218)

FIGURA 45 campanário de são marcos, em veneza itália.

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FIGURA 44 minarete da mesquita do xá, isfahan, irã.

A torre também tem grande importância para simbologia da arquitetura religiosa, aparecendo em forma de campanário, minarete, pilar, stupa, pagode, totens, dentre outros, detendo de diversos significados como montanha sagrada ou conexão com algo superior. Tomamos como exemplo os campanários cristãos que, com o tempo passaram a receber sinos, com a função de “convidar” o fiel e também possui a simbologia de evocação do sagrado e ao exorcismo do mal. O som não é uma especificidade arquitetônica ou espacial, como todos discutidos até o momento, porém, detém de grande poder simbólico e está presente em todas as culturas, de leste a oeste, de tribos isoladas a religiões populares, seja como ritos, danças e cantos ou orações e preces para eliminar as energias negativas e se aproximar do divino.


FIGURA 46 mulçumanos na peregrinação anual em torno da caaba, em meca.

FIGURA 47 papa francisco fazendo uma oração na basílica de são pedro, vaticano.

FIGURA 48 ritual da religião candomblé.

FIGURA 49 ritual indígena da tribo brasileira de yawalapiti.

FIGURA 50 judeus rezando no muro das lamentações, em jerusálem.

Um edifício sagrado relaciona-se com os adoradores humanos através dos ritos da consagração e da purificação, que o tornam um ponto de encontro adequado entre a humanidade e a divindade. No interior desse espaço, esse encontro é geralmente encenado através de um ato religioso de sacrifício (literal ou simbólico), que também se desenvolve e realiza em outros tipos de ação, como seja a oração e a dança. Esses atos humanos são combinados com gestos dos deuses, os quais concedem favores e abençoam os adoradores dentro do edifício, comunicação que, realizada em dois sentidos, intensifica o poder sagrado do local, transformando-o por vezes em atração para peregrinos – estes veem geralmente com grande sacrifício pessoal, procurar uma transformação das suas vidas nessa porta de acesso aos deuses. (HUMPHREY, Caroline; VITEBSKY, Piers apud MELLO, 2007, p. 215)

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Portanto, podemos considerar o espaço novamente como o protagonista, afinal é a partir dele que o homem se relaciona com o símbolo. Em todas as culturas, o espaço cria essa interação do homem com algo superior, permitindo o encontro com o Eu, ou Deus, como objetivo final. Por isso, na antiguidade os deuses eram vistos como arquitetos, tal como se o mundo fosse um grande edifício sagrado que permitisse essa troca entre o plano terreno e o espiritual. Zevi, termina seu livro “Saber Ver a Arquitetura” concluindo que o espaço é a essência da arquitetura, porque nele “coincidem vida e cultura, responsabilidades sociais e interesses espirituais” (1996, p. 217). Para finalizar então, diversas comunidades possuem diferentes religiosidades, porém todas utilizam o espaço para isso, independente do símbolo, o objetivo é a experiência de troca com esse mundo abstrato e intangível.

3.3 O CAMPO RELIGIOSO NA ARQUITETURA ATUALMENTE Para o entendimento da arquitetura religiosa atual é necessário nos permearmos em uma base histórica de como tem sido o cenário mundial nos últimos tempos e compreender a transição que a arquitetura

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em geral tem sofrido, a partir de uma nova perspectiva filosófica, social, política e científica. Hebert Bangs inicia seu livro “Retorno da Arquitetura Sagrada” (2010), dissertando sobre a importância da postura filosófica para a definição do projeto arquitetônico, e que a negação dessa realidade espiritual e a insistência em tentar entender o mundo apenas a partir de uma perspectiva material são profundamente destrutivas para arquitetura e frisa a ideia de que a antiga função do arquiteto era expressar em uma forma material uma realidade espiritualmente mais elevada. A origem desta filosofia materialista aplicada está no Iluminismo24 do século XVIII, porém até o século XX, a tradição se mantinha contínua, mesmo eclética. A partir de então, houve uma ruptura expressiva com o passado descartando a tradição e aplicando princípios do materialismo científico aos projetos dos edifícios. Com o ecletismo e o neoclassicismo, os arquitetos tentaram reproduzir construções antigas, porém muitos não passavam 24 Iluminismo foi um movimento cultural durante os séculos XVII e XVII que aconteceu na Europa, também conhecido como “O Século da Filosofia”, dando origem a ideias de liberdade política e econômica defendidas pela burguesia, que também questionava a vertente religiosa, assim como a fé.


apenas de cópias utilizando materiais e técnicas antigas apenas para reproduzir um movimento do passado. Bruno Zevi (1996) é bem crítico com esses movimentos e diz que eles representam em geral a falência de um espaço interior, portanto da arquitetura, fazendo uma relação com os antigos monumentos clássicos, reduzidos em escalas a cubos justapostos. As diferenças estilísticas dizem respeito as decorações que mudam com o variar caótico dos movimentos românticos ou com preferências fragmentadas dos clientes, solicitamente satisfeito pelo arquiteto que tudo ou nada sabe fazer. (ZEVI, 1996, p. 119)

Com a Primeira Guerra Mundial, criou-se a consciência de que a sociedade já havia avançado muito em termos técnicos para continuar reproduzindo a tecnologia antiga. Neste contexto, nasce a Bauhaus, dentre outras escolas de arquitetura que propunham uma revolução nas artes. Esse “novo” estilo foi chamado de Modernismo, tendo como abordagem básica “a necessidade de reconhecer e projetar com novos materiais e tecnologias [...] guiados por um humanismo sincero e o desejo de melhorar o ambiente em que vivia o homem do século XX.” (BANGS, 2010, p. 25). Zevi (1996) afirma que esse desígnio da técnica como um

dos protagonistas do espaço arquitetônico surge primeiramente no estilo gótico que contrastava as linhas verticais mostrando a força do edifício a partir da concepção estrutural. O espaço moderno resumese, portanto, o desejo gótico da continuidade espacial e do estudo minucioso da arquitetônica [...] de um gosto que, em parte por antítese polêmica à ornamentação aplicada do século XIX, prefere a simplicidade, a essencialidade dos elementos figurativos, muitas conquistas espaciais precedentes encontram-se assim uma nova fisionomia artística. (ZEVI, 1996 – p. 123)

Assim, surge o interesse da produção em massa na arquitetura, que já estava acontecendo no mercado capitalista com o surgimento do “fordismo” possibilitados pela Revolução Industrial que havia acontecido na Europa nos séculos anteriores. Contudo, diversos arquitetos deste movimento visavam reproduzir nas construções os efeitos obtidos pelas máquinas, como por exemplo a “máquina de morar” de Le Corbusier.

25 Revolução Industrial foi um processo de mudança que ocorreu na Europa no final do século XVIII e início do século XIX tendo como principal particularidade a substituição do trabalho manual pelo uso de máquinas.

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A arquitetura moderna que se desenvolveu a partir desse programa foi apelidada de ‘Estilo Internacional’, e passou a ser aplicada em todo tipo de estrutura. Estamos todos familiarizados com as torres de escritórios, blocos de apartamentos, escolas, armazéns e industrias. (BANGS, 2010, p. 26)

Esse estilo universal enfatizava o uso de materiais como concreto armado, aço e vidro, a planta e elevações era o resultado de uma análise lógica e racional do programa, trazia a concepção estrutural de laje/viga/ pilar e foi eliminado tudo que consideraram desnecessário à estrutura, como ornamentos, molduras, cornijas, dentre outros. De acordo com Mello (2007), Adolf Loos é o pioneiro nesta ideia no campo artístico, com seu ensaio em 1908 “Ornament und Verbrechen” (Ornamento é Crime). Em contrapartida, Frank Lloyd Wrigth, outro arquiteto moderno, seguia uma linha conhecida como “orgânica”, entendia que a construção em massa na arquitetura supria a necessidade das grandes cidades que haviam sofrido uma saturação devido as migrações campo-cidade, resultadas pela Revolução Industrial, ou seja, supria no campo quantitativo a falta de moradia. Porém, Wright, que já incorporava os estudos da psique humana do início do século aos seus projetos, compreendia que essas obras não supriam a necessidade qualitativa daqueles

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que a usufruíam, afinal, cada um percebe o espaço de uma maneira diferente. Se o problema do urbanismo e das massas proletárias que entram na vida política empenhou os funcionalistas na heróica luta pela casa mínima, pela padronização, pela industrialização da construção, ou seja, para resolver problemas quantitativos, a arquitetura orgânica sabe que se o homem tem uma dignidade, uma personalidade e uma mensagem espiritual, isto é, se distingue de um autômato, o problema da arquitetura é também um problema qualitativo. (ZEVI, 1998, p. 126)

Neste contexto, o estilo internacional acaba dominando as obras do século XX, afinal a arquitetura orgânica de Wright era muito apreciada, porém pouco compreendida para uma perspectiva materialista. É importante frisar aqui que o estilo Moderno foi um grande avanço para novas técnicas estruturais, que por outro lado deixa em segundo plano a concepção simbólica da obra e tudo que não era material ou que não tivesse explicação lógica e racional pela ciência. Não há um lugar lógico no paradigma de um materialismo para a crença de uma existência de um Ser Superior, ou em qualquer propósito transcendental da existência, ou qualquer forma de vida após a morte. (BANGS, 2010, p. 84)

De acordo com Bangs (2010), os primeiros arquitetos modernos, aqueles que fundaram o


movimento até a década de 1930, souberam preservar o antigo cânone, refletindo nos prédios a proporção e a harmonia dos edifícios anteriores. A medida em que o movimento foi ganhando força, foi consequentemente, perdendo essa visão intuitiva, chegando então ao pós-modernismo em que ele define a tarefa do arquiteto reduzida a manipulação de símbolos, muito criticado pelo arquiteto Robert Venturi que criou o termo “galpão decorado” para este tipo de arquitetura que comunicava apenas o conhecimento mundano e imediatista. Analisando pela perspectiva filosóficareligiosa, é importante lembrar que a Igreja Católica deteve de muito poder durante toda a sua existência, e muitas vezes tinha mais domínio do que a própria monarquia local, quem contrariasse seus ensinamentos corria perigo de ser perseguido por “heresia”. Deste modo, as descobertas resultantes da ciência formaram de imediato um novo grupo que negava completamente a Igreja. Entretanto, mesmo que a rejeição à Igreja Católica não implicasse em uma rejeição ao impulso da fé e da crença, era muito difícil distinguir as duas coisas, afinal a Igreja detinha do poder, sendo a religião oficial de muitos países. Portanto, pode-se dizer que o movimento filosófico iluminista e o avanço da ciência desempenharam um importante papel para

uma nova visão de mundo, um mundo mais científico que detém de uma forte necessidade de explicação. Nos últimos três séculos, esse paradigma materialista conquistou muitas pessoas e instituições, criando Estados com forte poder financeiro e material. Em contrapartida, a religião passou a ser cada vez mais irrelevante para elite intelectual. Hoje, no Brasil e em diversos países, os fatores “religiosidade” e “economia” são inversamente proporcionais de acordo com estudo do IBGE. A ‘ciência’ se tornou a nova religião do homem moderno, que inclui seu sacerdócio e seus dogmas, e a devoção de seus fiéis é atestada pela militância dos que apoiam doutrinas ateias para as quais, como veremos, não há qualquer justificação racional. (BANGS, 2010, p. 87)

O reconhecimento da psicologia como uma ciência nova do século XX, possibilitou o entendimento da psique humana a partir de fenômenos espirituais, muito embasado nas teorias do “inconsciente” de Sigmund Freud e de Carl Gustav Jung, juntamente com os estudos de Albert Einstein26, suavizaram os ataques dos defensores da base científica, 26 Albert Einstein foi um físico e teórico alemão do início do século XX, que desenvolveu uma pesquisa sobre a Teoria da Relatividade provando que existe muito mais do que não podemos ver no nosso próprio mundo material.

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abrindo caminho para uma nova visão espiritual. O ressurgimento dessa tradição de percepção esotérica que promovia o ingresso da humanidade no significado da existência e na natureza do mundo, crença em uma Divindade, mas não necessariamente um único Deus religioso, e no propósito transcendental da vida, faz com que renasça a interpretação simbólica da realidade, mesmo com a religião tradicional tentando recuperar o monopólio, ou em contrapartida, a ciência tentando consolidar certo controle sobre os sentimentos ou a imaginação das pessoas. Entretanto, essa tradição era o ponto médio entre a ciência e a religião. Incluía os que tentavam provar os fenômenos a partir de bases científicas da filosofia materialista, mas também incluía aqueles que afirmavam uma existência de uma realidade espiritual além do mundo material, a partir da experiência direta, com a aceitação de que a visão esotérica não exclui a visão científica, ou vice e versa. Na verdade, ela é a tradição antiga. Já era antiga quando Jesus caminhou sobre a água no Mar da Galileia e quando Buda se sentou sob a árvore Bodhi. Era anterior a Platão e anterior a Pitágoras. É mais velha que as pirâmides e a Esfinge. (BANGS, 2010, p. 96)

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Essa tradição começou a aparecer na arquitetura no final do século XX, em que os arquitetos e teóricos se rebelaram contra a rigidez da abordagem técnica ou da “forma segue a função”, e se voltaram para a simbologia e os arquétipos presentes nas construções mais antigas para a interpretação do edifício e do espaço. Assim, os arquitetos dessa época ressuscitam a intuição para a concepção da forma e função e o efeito disso foi o sucesso do empreendimento escolástico, onde a forma confunde e encobre o problema real, o espaço. Esse fato acontece porque existe uma confusão no processo criativo da arquitetura ou até mesmo no sentido da palavra criatividade para o homem posterior a filosofia materialista, em que descartam as funções espirituais e o foco é completamente no sentido de construir algo “interessante” ou “inusitado”, não como técnica, igual ocorreu no Modernismo, mas agora como forma.

FIGURA 51 pirâmede de vidro projetada por i. m. pei, em 1989, para entrada do museu do louvre


Pei descreveu sua busca pela forma correta como um processo intuitivo de comparação de alternativas, enquanto a grande pirâmide de Gizé foi obviamente projetada com um conhecimento total sobre o complexo de princípios matemáticos incorporados em sua estrutura. Prevejo uma arquitetura do futuro que combinará com o brilho técnico do empreendimento de Pei com a consciência científica da importância dos princípios geométricos sagrados que estão subjacentes às formas antigas. (BANGS, 2010 – p. 283)

É perceptível que existe um descontentamento em relação a arquitetura materialista do movimento moderno e posterior a isto, os arquitetos já tentam recuperar a intuição, mesmo aplicando somente ao conceito de forma e função. Entretanto, os arquitetos estão voltando as tradições para recuperar o vazio que falta na arquitetura atual, seja na religião, nos mitos, na filosofia, nos arquétipos e também na matemática esotérica ou geometria sagrada. Para isso, Bangs (2010) supõe que os novos arquitetos do século XXI deveriam entender a mente não só como racional, aceitando o seu poder inconsciente como parte integral do nosso indivíduo e cultivar a introspecção para alcançarmos então o nosso poder de intuição, entende-se aqui como toda percepção ou inspiração que não possam ser atribuídas ao pensamento lógico,

afinal, para ele “a intuição é a nossa via de acesso imediato à ‘sabedoria do coração’” (BANGS, 2010, p. 121). É necessário frisar que a recuperação da fé no cenário atual é muito diferente dos modelos que estávamos acostumados antes do movimento moderno. Junto a forte globalização que ocorreu no mundo na segunda metade do século XX, surge um grande interesse dos ocidentais pelos sistemas teológicos do oriente, ou então, por uma divindade transcendental, não necessariamente antropomórfica. Além disso, o entendimento de que seria possível alcançar essa comunhão com a mente cósmica sem a intersecção de um sistema religioso. À medida que renovamos nossa fé em uma existência significativa e reafirmamos nossa crença em um cosmos ordenado, nossos arquitetos certamente irão compreendendo a importância da geometria sagrada que está subjacente à nossa experiência sensorial do mundo material. (BANGS, 2010, p. 287)

Um bom exemplo de edifício religioso dentro dessa nova perspectiva de fé assimilando a técnica é o Templo Bahá’í, finalizado em 2016, em Santigo no Chile. Atualmente, Bahá’í é reconhecida como religião, tendo como filosofia principal “a união espiritual da humanidade”. Siamak Hariri, um dos sócios

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FIGURA 52 templo haba’í, em santiago, no chile, projetado pelo escritório hariri pontarini architects.

do escritório Hariri Pontarini Architects, é o arquiteto responsável pela obra, comentou em sua entrevista para o TED Talk em 201727, que gostaria que a obra tivesse “vida”, para isso recorreu ao processo de crescimento das plantas para buscar inspiração utilizando a luz e o movimento no projeto como expressão divina. A obra traz a simbologia do número 9, que representa a espiritualidade, altruísmo fraternidade e fins de ciclos. Assim, tem como partido inicial nove entradas e nove caminhos internos a partir de uma planta circular. A cobertura do espaço de consagração foi pensada como uma releitura dos cosmos, e a iluminação incidente durante o dia, desenha 27 Disponível em: <https://www.ted.com/ talks/siamak_hariri_how_do_you_build_a_sacred_ space?language=pt-br>.

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o espaço. Além disso, utilizou dos cânones antigos da geometria sagrada para forma final nunca vista antes que é estruturada em aço fabricado com tecnologia aeroespacial. Entretanto, esse ressurgimento do interesse pela importância transcendental do espírito em uma sociedade pós-científica reabre espaço para arquitetura sagrada a partir de novos paradigmas técnicos. Para Bangs (2010), essa fusão é o futuro da arquitetura sagrada, que compreenderá a ordem dos cosmos, a psique humana, o místico e o técnico. No momento ainda estamos nessa transição, afinal, a arquitetura como obra investida pelo cliente, seria necessário que essa recuperação do místico e dos arquétipos da psique humana estivessem no conhecimento geral da sociedade, não só do arquiteto.


FIGURA 53 templo baha’í em construção, é possível notar a utilização do aço como material principal

FIGURA 54 cobertura do espaço de consagração já finalizada com nove abrturas se unindo, representando a unidade.

Uma nova arquitetura simbólica pode então alcançar as camadas inconscientes e místicas do ser e nos guiar para um estado de percepção espiritual mais elevada. Nós, como um povo e uma cultura, podemos mais uma vez entender a significação de um edifício como algo análogo à própria criação, e o ato de construir como ato de devoção. E se aceitarmos que tudo na vida é sagrado, e que a Terra em si mesma é divina, será impossível abusar do nosso mundo da maneira tão imprudente e descuidada como fizemos. (BANGS, 2010, p. 287)

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ESTUDO DE CASOS E REF. ARQUITETÔNICAS

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Para o desenvolvimento deste trabalho foi necessário analisar algumas obras de cunho religioso que tivessem áreas voltadas ao estudo norteando o projeto final. Entretanto, procurou-se escolher obras com propostas religiosas distintas para o entendimento da espacialidade interna e da utilização da forma como simbologia, visto que o objeto final é um Complexo de Convivência e Memorial Religioso que incita a convivência e a troca intelectual sem exaltar qualquer religiosidade. Para isso, foram selecionadas quatro referências em que foram feitas análises funcionais, técnicas e estéticas, a partir da observação de plantas, cortes, elevações e fotografias.

4.1 HIKMA - COMPLEXO RELIGIOSO E LAICO

FIGURA 55 entrada principal do complexo religioso e laico

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Ficha Técnica: Arquiteto: Atelier Masomi / Studio Chahar Área: 5.238m² Localização: Dandaji Village, Níger Ano: 2018

4.1.1 ANÁLISE FUNCIONAL É possível analisar que o arquiteto fraciona o programa em duas partes principais, sendo elas, a mesquita que reinterpreta a organização tradicional da mesquita Hausa existente no local anteriormente em más condições, e a biblioteca que funciona como um centro de estudo comunitário religioso e laico. Fora a estes usos, priorizando sempre o nível térreo, outros ambientes que estão soltos pelo complexo são banheiros, anfiteatro aberto, área infantil, dentre outros espaços de consagração da religião islâmica, predominante no vilarejo de Dandaji. Estes espaços estão implantados em uma grande praça que envolve todos os programas em um: o Complexo, em que o principal objetivo é que religiosos e não religiosos coexistam pacificamente para elevar mentes e fortalecer a comunidade. Os ambientes ao ar livre foram definidos para serem flexíveis o suficiente para acomodar eventos da comunidade ou simplesmente para a contemplação silenciosa. Outro ato explícito do arquiteto na


implantação dos edifícios foi o sentido de sua abertura, ou seja, o centro de estudo tem sua frente voltada a mesquita, trazendo a ideia de que os estudos religiosos não subtraem os estudos filosóficos ou científicos, trazendo os três para o mesmo meio social.

FIGURA 56 planta e modulação da biblioteca FIGURA 58 implantação do complexo religioso e laico

4.1.2 ANÁLISE TÉCNICA

FIGURA 57 planta e modulação da mesquita

Para este tipo de construção é mais comum utilizar madeira tradicional para estruturação, mas como a mesma é escassa da região, foi necessária a utilização do metal para espaços de estudo, partições, escadas e um mezanino, trazendo estratégias contemporâneas no espaço tradicional. A reinterpretação da tradicional mesquita Hausa, contempla também a utilização do sistema estrutural e detalhamento contemporâneo principalmente para a

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FIGURA 59 corte da implantação do complexo religioso e laico

consolidação das abóbodas. O diálogo entre as estruturas formais do antigo e do novo levou a uma maior colaboração entre os pedreiros tradicionais e a equipe de construção. O principal material de construção do projeto é o tijolo de solo-cimento (ou tijolo de terra comprimida) feito do solo encontrado perto do local, o que proporciona melhor desempenho térmico, reduz o consumo de energia e também diminui o custo da construção, visto que, se enquadra numa arquitetura vernacular.

FIGURA 60 e 61 cortes longitudinais da mesquita e da biblioteca

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4.1.3 ANÁLISE ESTÉTICA

FIGURA 62 complexo religioso e laixo inserido na paisagem

É explicito que a arquiteta fez com que o Complexo respeitasse a paisagem local, tanto na forma quanto nas cores, visto que, a utilização dos tijolos de solo-cimento fabricados na mesma região, faz com que o projeto mantenha a coloração local, e transpasse a ideia do deserto, onde o mesmo está situado. O minarete, os traços abobadados, e o uso de estilizados e repetitivos padrões decorativos, como os arcos, remetem as construções de ordem islâmica. Em contrapartida, a utilização do sistema


vernacular, para redução de custos, como tijolos, tecidos, dentre outros, evidenciam a originalidade das construções dos países africanos em locais de baixa renda e alta vulnerabilidade.

FIGURA 63 uma das entradas da mesquita

FIGURA 65 vista para o minarete

FIGURA 64 mesquita internamente com a consagração da religião árabe

FIGURA 66 vista interna da biblioteca

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4.2 CENTRO GLOBAL PARA VIDA ACADÊMICA E ESPIRITUAL

4.2.1 ANÁLISE FUNCIONAL

FIGURA 67 vista externa do centro global para vida acadêmica e espiritual

Ficha Técnica: Arquiteto: Machado and Silvetti Associates Localização: Nova York, Estados Unidos. Área: 2.300m² Ano: 2012

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Após a análise do projeto, é possível notar que este prédio funciona como um anexo, ao outro prédio do campus da Universidade de Nova York, que contém um grande auditório para utilização de eventos maiores. O nível da rua é destinado a programas administrativos, ou aqueles que necessitam a tal praticidade como acervos, biblioteca e espaços para pessoas não frequentadoras de fato. Já os níveis superiores são responsáveis por abrigar salas de aula, espaços de convivência, salas de reuniões, espaços ecumênicos para consagração religiosa, tendo o objetivo de trazer a união, portanto


4.2.2 ANÁLISE TÉCNICA O edifício é composto pelo térreo, subsolo e mais 4 pavimentos acima. Pela necessidade de grandes vãos que dispõem o auditório, salas de conferências, dentre outros espaços amplos, sua estrutura é mista, pilares de concreto e vigas metálicas, que permitem vãos maiores. As paredes externas são paredes pré-fabricadas e contém largas janelas basculantes. O objetivo do arquiteto é esconder a estrutura, portanto tudo é encoberto pelos revestimentos. O subsolo tem um caráter diferente em relação aos outros pavimentos, suas lajes são também sustentadas por vigas metálicas, porém nas laterais foi necessário a construção de um muro de arrimo.

FIGURA 68 plantas centro global para vida acadêmica e espiritual

não há separação de espaços por crenças, visto que, o Centro Global é projetado para reunir estudantes e universitários dos campus da NYU ao redor do mundo. O último pavimento, é reservado para eventos, ou seja, salas maiores para conferência, unidos por um foyer central e o subsolo ficou destinado a espaços que necessitassem preservar a acústica do ambiente, como auditório e salas de música.

FIGURA 69 corte longitudinal centro global para vida acadêmica e espiritual

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FIGURA 70 vista externa para o painel

FIGURA 71 vista intena para o painel

4.2.3 ANÁLISE ESTÉTICA O prédio em si não possui nenhuma forma diferente, sua elevação é regular e o que traz personalidade ao projeto é algumas escolhas estéticas simbólicas definidas pelo arquiteto. A principal estratégia é a fachada norte, a fachada principal, que tem a responsabilidade de projetar a expressão espiritual. Foi criado então, um padrão orgânico de painéis de lâminas em pedras perfuradas, que possuem 20 cm de espessura, 75 cm de largura e 1 m de altura, e são fixados por quatro pinos integrados à parede préfabricada. Alinhamentos e desalinhamentos entre as ordens lógicas do revestimento externo e do núcleo interno são ativados pelos usuários ocupando o edifício ao longo

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do dia. Essas placas simbolizam a ideia da “árvore da vida”, uma imagem compartilhada por diversas religiões. A imagem da árvore, com todas as suas conotações positivas juntamente com a forte tradição arquitetônica ocidental de usar motivos ornamentais baseados em motivos naturais formais, foram dois elementos adicionais que deram ainda mais impulso à ideia principal. Como o edifício tem como objetivo abrigar diferentes organizações religiosas dentro do campus da NYU, nenhuma iconografia religiosa em particular foi prioridade, assim, os espaços internos são espaços neutros.


FIGURA 72 área neutra para consagração

4.3 CAPELA DE NOVA SERRANA

FIGURA 74 vista externa da capela de nova serrana

Ficha Técnica: Arquiteto: Kruchin Arquitetura Área: 195m² Localização: Minas Gerais, Brasil Ano: 2016

FIGURA 73 sala para conferências e debates

4.3.1 ANÁLISE FUNCIONAL A planta da capela faz alusão a um desenho que o arquiteto fez na sua adolescência quando visitou a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, Minas Gerais. Este desenho teve o propósito de transferir para o papel o que a geometria interna da igreja causava nele como sensação. Entretanto, a capela traz nas formas, a Nossa Senhora do Pilar em sua essência. Mas como desígnio principal, a planta limpa tem a intenção de transpassar tranquilidade e reflexão, visto que além de uma construção, o objeto também é uma escultura. A capela contém uma rampa de acesso para vencer os níveis do terreno, em virtude de a mesma é instalada em frente a uma represa.

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FIGURA 75 implantação da capela de nova serrana

4.3.2 ANÁLISE TÉCNICA A edificação é uma instalação de área comum, em um condomínio fechado, e foi implantado à beira de uma represa que pode ser observada de quase todos os loteamentos. A capela possui uma base elíptica com as paredes inclinadas e forro convexo resultando numa composição onde as curvas se manifestam em várias direções. Para dar forma ao templo, recorreu-se essencialmente

ao concreto, explorando as possibilidades do material que se molda como se a construção fosse constituída por um único plano. Além das formas, o arquiteto “rasga” algumas laterais do forro, criando aberturas zenitais que, como em qualquer edifício de ordem religiosa, incita a ideia do divino, ou algo além da vida terrena.

FIGURA 76 corte transversal da capela de nova serrana

FIGURA 77 corte longitudinal da capela de nova serrana

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4.3.3 ANÁLISE ESTÉTICA O projeto é pequeno em espaço, mas grande em termos simbólicos. Sua aparência é o que traz a personalidade e conduz a intenção do projeto pela apreciação do espaço em sua forma pura, causando reflexões a aqueles que visitam. Em termos estéticos, as cores do local não se diferem tanto. Assim como aparece na estrutura, o concreto também vem como acabamento, fora a isso, um piso monolítico cinza, forro côncavo em pintura branca e algumas aberturas zenitais, que permitem que a luz, junto a forma, sejam protagonistas do espaço.

FIGURA 78 vista externa da capela de nova serrana

FIGURA 79 vista interna da capela de nova serrana

FIGURA 80 vista interna da capela de nova serrana

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4.4 MIDRASH

Ficha Técnica: Arquiteto: Isay Weinfeld Área: 395m² Localização: Rio de Janeiro, Brasil Ano: 2009

4.4.1 ANÁLISE FUNCIONAL

FIGURA 81 vista externa do midrash

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O programa é conhecido como um Centro de Cultura e Transcendência da Congregação Judaica do Brasil e contém cinco níveis contando com o térreo. Seu programa contempla principalmente espaços voltados ao debate, discussão e ensino de várias vertentes do conhecimento como tradições judaicas, políticas, literatura, arte, história, psicologia, dentre outros, sempre buscando significados, relações e referências na vida. No pavimento térreo, é reservado para espaços convivência, como terraço, bar e loja de artigos judaicos, já o primeiro pavimento contempla a sinagoga, espaço destinado à consagração judaica. O terceiro e o quarto pavimento estão destinados respectivamente por auditório e salas de aula ou reunião, liberando assim o último pavimento para as áreas técnicas e um grande terraço que ocupa a fachada da rua. A planta do Centro de Cultura Judaica é pequena, isso faz com que, cada pavimento tenha apenas um uso específico.


1ยบ PAVIMENTO

Tร RREO

3ยบ PAVIMENTO

2ยบ PAVIMENTO

FIGURA 82 plantas do midrash

4ยบ PAVIMENTO

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4.4.2 ANÁLISE TÉCNICA O projeto possui duas empenas cegas em sua lateral, com outros lotes, dispondo apenas de uma única fachada aberta, que é direcionada rua, isso faz com que a planta seja dividida em duas partes, áreas comuns e de circulação voltadas ao fundo e espaços principais na parte da frente ocupando a fachada e utilizando a sua iluminação natural. Sua estrutura é mista composta por concreto em sua maior parte, mas para vencer alguns vãos maiores em sua seção longitudinal foi adicionado vigas metálicas no térreo e no terceiro pavimento, uma vez que, a planta não possui pilares internos, apenas as paredes estruturais da lateral.

FIGURA 83 e 84 cortes transversal e longitudinal do midrash

FIGURA 85 elevação midrash

FIGURA 86 vista externa midrash

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4.4.3 ANÁLISE ESTÉTICA O edifício está no recuo da rua, junto a outros edifícios maiores em sua lateral; possui apenas uma fachada, em que são dispostas diversas janelas grandes para iluminação natural. Sua elevação remete a um grande cubo branco, com os pavimentos superiores recuados. O que chama atenção na sua fachada é uma trama composta de letras em hebraico em variados tamanhos e tons de branco, são dispostas em diferentes camadas sobrepondo a alvenaria, cobrindo o edifício do primeiro ao último andar. Feitas em fibra de vidro, as letras formam sempre a palavra “Midrash”, que significa em hebraico “extrair sentido”, exaltando o objetivo do local. Em sua parte interna, não é possível visualizar nenhum elemento de estruturação do prédio, a não ser suas paredes laterais que são estruturais. O arquiteto deixou o pé direito baixo para trazer o aconchego ao local. O ambiente é trabalhando em madeira e na cor branca.

FIGURA 87 sala de conferências do midrash

FIGURA 88 recepção e bar

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4.5 REFERÊNCIAS ARQUITETÔNICAS

FIGURA 89 hikma: dinâmica entre a mesquita (à direita), espaço religioso, e a biblioteca (à esquerda), espaço de estudo, envolvidas por uma praça central

FIGURA 90 painel da fachada do centro global vazado em alumínio, fixado na estrutura do prédio

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As referências analisadas contribuíram para o entendimento do espaço religioso, tanto pela interpretação mística quanto intelectual. A dinâmica entre os ambientes e como eles se relacionam também foi um objeto de análise, como por exemplo no Complexo Religioso e Laico no Níger, que contém a mesquita como espaço místico, e também a biblioteca de assuntos teológicos e científicos, no âmbito intelectual. A consolidação desses espaços em um mesmo programa reforça a ideia que um não subtrai o outro. O projeto dispõe de outros ambientes que fazem parte do cotidiano da vida local, interagindo com a comunidade. Outro projeto que colaborou para a definição do partido e a diagramação projetual foi o Centro Global para vida Acadêmica e Espiritual. O prédio em si, se absteve de qualquer simbologia que pudesse exaltar alguma religião, determinando espaços neutros com o objetivo de relacionar pessoas de diferentes crenças, incentivando o conhecimento mútuo. Como o projeto está inserido em uma zona central, na cidade de Nova York, os programas foram determinados por pavimentos de maneira que o térreo fosse para utilização pública, e os pavimentos


superiores foram dispostos a partir do fluxo de pessoas que iriam frequentar. Mais uma estratégia utilizada deste projeto foi a trama da fachada que encapa o prédio regulando a incidência solar no ambiente interno e ao mesmo tempo contém um significado espiritual, a “árvore da vida”, unindo todas as religiões. A fixação das tramas por parafusos na estrutura da fachada foi uma técnica utilizada em projeto. O Midrash no Rio de Janeiro, também utiliza esta mesma ideia, a fachada tem a responsabilidade de passar a identidade do edifício, para isso, também é desenhado uma trama com significados da religião judaica. O projeto também se divide entre o programa místico, a sinagoga, e o programa intelectual, o centro de estudo judaico, e a disposição desses usos por ambiente também foi algo utilizado em projeto. A principal referencia arquitetônica utilizada dos projetos estudados foi a relação da Capela Ecumênica de Nova Serrana com a luz. O projeto é disposto para que a luz seja a protagonista do espaço, podendo, de forma conceitual, relacionar a luz como algo divino. Assim, a luz transforma o espaço interno de maneira dinâmica, fazendo com que cada período do dia e cada dia do ano tenha sua própria identidade naquele espaço.

FIGURA 91 fachada do mirash feita em fibra de vidro, fixadas na estrutura do prédio

FIGURA 92 relação do espaço interno da capela de nova serrana com a luz

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VALE DO ANHANGABAÚ

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Para o desenvolvimento do objeto projetual final foi necessário a escolha e a análise de um terreno que condissesse com a proposta do edifício. Neste contexto, a escolha da região do Vale do Anhangabaú foi uma decisão de caráter histórico, para retomar a chegada dos portugueses ao local, em que cria-se uma nova cultura a partir de então, com a miscigenação de europeus, índios e africanos e que basicamente se inicia entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú. Neste capítulo será abordado o processo histórico, o local atualmente e o caráter urbano da região.

5.1 HISTÓRICO Após três décadas da chegada dos portugueses ao Brasil, a Coroa Portuguesa implementou uma política de colonização para a terra recém-descoberta que se organizou por meio da distribuição de capitanias hereditárias a membros da nobreza. Assim, em 1532, ocorre a fundação de São Vicente, uma das únicas capitanias que prosperou ao regime português instaurado. Concomitantemente, foi implantado um colégio jesuítico no local e seu objetivo era a conquista de novas terras pelo interior do país. Neste contexto, de acordo com José Geraldo Simões Jr. (2003), em seu livro:

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Anhangabaú: História e Urbanismo, algumas cartas deixadas pelos padres jesuíticos relatavam a grande curiosidade dos índios nos portugueses recém-chegados, e que eles haviam sido convidados pelos silvícolas a se estabelecer junto à ocara, situada no alto de uma colina circundada pelos rios Tamanduateí e Anhangabaú. Os índios destinaram um local onde poderiam construir uma capela, que seria a primeira escola em terras no interior do país. A partir dos estudos de Simões Jr., é possível notar que os índios se estabeleciam na região que hoje consiste nas quadras ocupadas pela Praça das Artes e Teatro Municipal (fig. 93). Um dos fatores de maior importância para a localização do sítio indígena era a proximidade com os rios, visto que, a pesca era sua maior fonte de alimentação. No entanto, as encostas voltadas para o lado do rio Tamanduateí, eram sujeitas aos constantes ventos oriundos da Serra do Mar, por este motivo, os indígenas se instalaram mais ao centro da colina, cedendo aos jesuítas esta porção de terreno, onde foi construído o primeiro colégio jesuítico. Nos anos iniciais, houve um convívio razoavelmente pacífico entre os silvícolas e os portugueses. Por volta da década de 1560, os indígenas se retiram desta colina central em direção ao interior do país, liberando o espaço para os portugueses explorarem através


FIGURA 93 ao redor da área a, localização aproximada da aldeia indígena entre os rios anhangabaú e aamanduateí, com a chegada dos jesuítas em são paulo, sobre um mapa da cidade em 1842.

FIGURA 94 as três ordens religiosas definiram os marcos iniciais, ocupando pontos estratégicos da cidade.

das trilhas indígenas já pré-estabelecidas, outros espaços interioranos. Desta forma, a estrutura viária original da cidade de São Paulo é resultado de caminhos indígenas, que procuravam sempre atender às necessidades de conexão entre vilas e povoados situados no interior do território brasileiro. Durante os séculos XVI e XVII, os portugueses conquistaram outros pontos da colina central que acabaram sendo definidos em decorrência de três ordens religiosas na cidade: beneditinos, franciscanos e carmelitas (fig. 94). Estas três ordens deviam manter um certo distanciamento entre si, respeitando suas respectivas circunscrições territoriais, logo, a localização de cada ordem acabou definindo os vértices de um triângulo

na colina central, que estabelecia em seu interior o início do desenvolvimento da cidade. As principais ruas se configuravam a partir das conexões entre espaços religiosos da parte alta e baixa da cidade, várzea do rio Tamanduateí por onde chegavam os colonizadores provenientes do litoral. As três ruas originárias do triangulo são XV de Novembro, rua São Bento e rua Direita, consiste na área mais antiga da cidade, denominado como “Triângulo Histórico”. Os descolamentos nos séculos seguintes eram objetivados pela conquista de território ao interior e trocas comercias, fundamentalmente por meio das comunicações terrestres. Assim, a vila de São Paulo, a partir dos rios Anhangabaú e

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Tamanduateí foi se tornando o principal centro de trocas da região. Com o crescimento do fluxo de trocas sendo a vila de São Paulo o ponto central, a cidade começou a se tornar um caos. Em meados da década de 1860, o trinômio café-ferrovia-imigração alterou completamente as bases econômicas de São Paulo. Com a produção cafeeira se mantendo apenas no leste de São Paulo, as rotas terrestres e fluviais estavam dando conta, a partir do momento em que houve uma demanda maior para o oeste da cidade foi necessário a implantação de um novo sistema de transporte, para viabilização de tempo. Neste contexto, em 1860 é organizada em Londres a São Paulo Railway, que tinha como objetivo construir a primeira estrada de ferro, unindo as cidades de Santos e Jundiaí. Novas ferrovias eram então construídas a partir dos financiamentos dos empreendedores da cafeicultura. O crescimento deste novo sistema ferroviário impactou diretamente na organização de espaço urbano, fortalecendo uma nova polarização no entorno da Estação da Luz. Assim, a cidade criava novos polos à medida que eram construídas novas estações de trem. A partir de então, a acelerada expansão da economia impõe um ritmo vertiginoso à capital, isto é, o crescimento

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populacional na cidade se tornou algo desenfreado. O novo polo na região da Luz gerou melhorias e intervenções públicas na infraestrutura da cidade, e contribuiu também decisivamente para o parcelamento de terras. Neste cenário, o presidente da província de São Paulo, João Teodoro (1872-1875), foi o primeiro que investiu no processo de urbanização, criando condições para que o novo centro tivesse uma conexão consolidada com o Centro Histórico e com outras estações e bairros de residência da elite paulistana, concretizando o novo polo ao norte da cidade. Entretanto, a valorização desses espaços próximos à Estação da Luz se daria até meados da década de 1890, com a construção do Viaduto do Chá, novos núcleos seriam definidos. Assim, a antiga entrada da cidade, entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí passam a se desvalorizar em benefício da nova face ao norte, visto que São Paulo estava crescendo a partir das linhas férreas, bairros de elite e terras planas e salubres, o investimento público se concentrava em ações de melhorias em bairros que hoje são Campos Elíseos, Higienópolis e Paulista. Fora a isso, era considerável alguns obstáculos como as várzeas inundáveis, contribuindo para o progressivo abandono de investimentos na região, mas mantendo algumas conexões


antigas importantes, como as rotas de acesso ao Rio de Janeiro. No final do século XIX, o rumo da cidade muda novamente, dando maior foco à zona oeste, consequência da implantação de novas infraestruturas necessárias para a grande população da cidade. Isto é, a partir do momento em que a economia cafeeira fez com que a cidade adquira um novo ritmo, antigos chafarizes e fontes concentrados em largos, não supriam mais a demanda de abastecimento de água de região, visto que em 40 anos a população de São Paulo quadruplicou. Assim, essas deficiências aliadas ao fim do trabalho escravo levou a administração pública junto às companhias particulares, a empreenderem obras de melhoramento no sistema de captação, adução e distribuição de água. Com a criação da Companhia Cantareira em 1878, responsável pelo saneamento e abastecimento de água de toda região central proveniente da serra da Cantareira, ampliou-se a capacidade de armazenamento e distribuição de água, permitindo novos empreendimentos imobiliários em zonas mais periféricas, definindo uma nova lógica de ocupação nos espaços. A produção de moradias para abrigar toda massa de trabalhadores que chegavam à cidade foi solucionada de maneira precária,

FIGURA 95 mapeamento da cidade de são paulo em 1881

resultando em diversos encortiçamentos na região central. Neste contexto, junto à construção de um reservatório na região da Consolação e o aumento da densidade populacional, visto na época como gerador de focos pestilenciais e epidêmicos, a elite paulistana passa a se deslocar cada vez mais do centro histórico para novos loteamentos dotados de condições mais salubres, saudáveis, com ruas largas e lotes amplos na região do Higienópolis e Campos Elíseos. Com a concentração da elite paulistana na região da zona oeste, o rumo da cidade muda novamente e passa então a criar novas articulações viárias entre o centro e esta região, e não mais unicamente com o setor norte, onde estavam as estações ferroviárias. A inauguração do Viaduto do Chá em 1892 consolidou essa tendência.

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FIGURA 96 fotografia do viaduto do chá depois da inauguração da obra em 1892

Esta proposta de criação do viaduto ocorreu após a morte do barão de Itapetininga, em que ocorre o loteamento desta chácara e surge então a necessidade de interligação dessa região, centro novo com o centro histórico, conhecido como centro velho, em nível. O Vale do Anhangabaú era o perímetro que diferenciava o centro novo do velho. Este fato valorizou significantemente a região do Anhangabaú, com isso, investimentos públicos voltam a olhar pra esta parte da cidade, construindo obras como o Teatro Municipal e Edifício dos Correios no início do século XX.

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Inicia-se então a transposição dos pontos mais tradicionais e valorizados da colina histórica voltados ao Tamanduateí, para regiões do Vale do Anhangabaú. A valorização da região central teve grande incentivo no começo do século XX, início do governo republicano no país. O objetivo era negar os traços da arquitetura e do urbanismo colonial muito presentes nos espaços centrais, e afirmar uma simbologia baseada na modernidade e no cosmopolitismo. Esta política conduziu grandes intervenções nos espaços centrais, executando demolições em quarteirões inteiros, para consolidação


de praças públicas, alargamento e conexões de vias, alteração no padrão técnico e estético das edificações existentes e também alterações de infraestrutura local. No Anhangabaú, a afirmação desta estratégia, se deu a partir da construção do Viaduto do Chá e do Teatro Municipal, como mencionado acima. Neste contexto, Silva Teles, um dos primeiros urbanistas e então vereador de São Paulo, analisa maneiras de melhorar a rápida expansão da cidade, reajustando alguns equívocos não planejados das áreas centrais, e disciplinando o crescimento das áreas periféricas. Teles não se limitava apenas à região nobre da cidade e defendia o interesse público aos abusos promovidos pelos especuladores particulares. Este projeto urbano vem a público a partir de seu livro publicado em 1907: “Os melhoramentos de São Paulo”. Silva Teles começa estudando o intenso crescimento da cidade em poucos anos, estabelecendo a partir de então, parâmetros reguladores de expansão, disciplinando o crescimento de novos bairros periféricos e promovendo correções na área central. Aponta que a maior dificuldade da cidade naquele momento era o sistema viário, propondo imediatamente o alargamento de vias e de cruzamentos, onde o fluxo de

pedestres estava incontrolável, pela grande quantidade de comércio no local e também pelas linhas de bonde. Outra proposta de Teles é a adequação na rua Líbero Badaró, localizada aos “fundos” da colina central. O trecho íngreme que abrigava diversos cortiços, seria aterrado e aplainado para que a rua se transformasse numa avenida capaz de escoar o intenso movimento de pedestres oriundo dos bondes, transformando-se assim na rua mais importante da cidade, a Avenida Central. Em 1907, após a publicação do livro de Silva Teles, e quase um ano após a apresentação de sua indicação na Câmara Municipal, a Diretoria de Obras resolve estudar este tema com mais afinco. Neste momento dois processos ocorrem simultaneamente, de um lado o projeto de Teles sendo aperfeiçoado pela Diretoria de Obras, com Vítor Freire e Eugênio Guilherm, e por outro lado a Câmara Municipal efetuava debates de cunho urbanístico, envolvendo membros da justiça, finanças e proprietários de terras para realizarem acordos. No fim da gestão do prefeito Antônio da Silva Prado, é negociado com o governo estadual um reforço no orçamento para melhorias no centro da cidade, justificando as dificuldades financeiras do município em face do rápido crescimento da capital. Com

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FIGURA 97 desenho ilustrativo para o projeto apresentado em 1910 pela FIGURA 98 pontos de maior congestionamento da diretoria de Obras de São Paulo cidade eram, as esquinas das ruas de são bento com direita, são bento com são joão e são joão com libero badaró

a aprovação do Congresso, é divulgado em 1910 o projeto de “Melhoramentos de Centro da cidade de São Paulo”, contendo projetos de Vítor Freire e Eugênio Guilherm (fig. 97), utilizando do plano inicial de Teles para aperfeiçoamento das vias, resolvendo os problemas de tráfego central e adequando a estrutura da cidade para uma possível capital comercial da América do Sul. Para o descongestionamento do centro comercial da capital (fig. 98), foram projetadas cinco intervenções, seriam elas: alargamento da avenida São João; prolongamento da rua Líbero Badaró, estabelecendo uma conexão entre Estação da Luz e Av. Paulista; prolongamento da rua 11 de Junho (atual Dom José de Barros), conectando a Estação da Luz com o recente Viaduto de Chá;

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prolongamento da rua Boa Vista até o Pátio do Colégio; e a abertura de uma grande praça no cruzamento da rua Direita e rua São Bento, facilitando o trânsito de pedestres. Mesmo com o projeto parecendo bem encaminhado, quem tradicionalmente conduzia intervenções de maior escala como essa, era o governo do estado. Entretanto, o secretário da Agricultura contrata o engenheiro Samuel Neves para elaboração de um novo plano de melhoramentos para área com algumas alterações, como por exemplo a execução de um viaduto na então Praça do Patriarca. Essas diferenças foram analisadas e criticadas por Freire em seu próximo trabalho “Melhoramentos de São Paulo”, considerado o primeiro plano urbanístico da cidade.


Logo após a liberação das novas estratégias urbanas pelo governo estadual, Vitor Freire é convidado a realizar uma conferência urbanística na Universidade de São Paulo, pela Escola Politécnica, explicando as situações de confronto entre os planos do governo e do município. Procura então, fundamentar-se numa visão abrangente, isto é, uma visão de conjunto, o que ocasionará aos planos urbanos com entorno, uma abordagem viária, sanitária, estética e expansão das áreas periféricas. Freire concluiu que um dos pontos fracos do plano de Neves era a falta da visão de conjunto, limitando-se unicamente às melhorias nas questões viárias. Assim, o Diretor de Obras de São Paulo parte dos princípios apresentados no manifesto de Camillo Sitte, de 1889, escrito após diversos equívocos nas grandes cidades europeias. As estratégias eram resumidas à defesa do traçado histórico existente na colina central, respeitando a topografia local e valorização na região da rua Líbero Badaró. Para solução do sistema viário de São Paulo, um dos maiores problemas da capital devido ao grande crescimento populacional da cidade em pouco tempo, o desenho viário deveria respeitar a topografia local e os condicionantes históricos. Sendo assim, o modelo ideal de estruturação viária de

Freire é aquele formado espontaneamente e de tendência radial concêntrica. Simões Jr. afirma que “Os esquemas geométricos não fazem parte da concepção de estrutura viária de Freire”. De acordo com José Geraldo Simões (2003), Vitor Freire conclui a partir da visão de alguns urbanistas europeus como Sitte, Vierendeel, Robinson e Hérnard, que o modelo adequado é aquele que contempla a organicidade destacando três elementos: o núcleo central, as avenidas radiais de penetração e as ruas transversais do centro para os bairros, atrelado à visão de conjunto, citado anteriormente. Após esta análise, reconhece que o plano urbano, elaborado meses antes com Eugenio Guilherm não saciaria o problema de São Paulo, tendo que realizar uma nova proposta mais abrangente. Sendo assim, Freire propõe um anel viário contornando o Centro Velho da cidade, expandindo as possibilidades do triângulo histórico, ampliando pelas ruas Libero Badaró, Boa Vista e Benjamin Constant, solução que respeitaria o traçado histórico e simultaneamente ligaria com novos equipamentos urbanos que estavam surgindo na época, garantindo um aspecto de grande metrópole. Outra vertente que precisaria de grandes melhorias era a questão de espaços abertos e

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espaços verdes. Após um mapeamento global de áreas verdes por habitantes, São Paulo se encontrava em uma das piores situações observadas no mundo. O ajardinamento dos vales dos rios Anhangabaú e Tamanduateí mantendo-os como espaços abertos era um item que deveria estar presente em qualquer plano urbano apresentado, juntamente com novas manchas verdes propostas pela malha da cidade, criando parques públicos fundamentais a higienização ambiental e salubridade moral da população. No mais, outras estratégias pontuadas por Freire era a importância do controle das áreas de expansão urbana, condenando a visão segregacionista que evidencia apenas os bairros nobres da cidade, modelo de administração municipal com profissionais

na área e a desapropriação por interessa público. Concluindo a conferência, Freire pede pra que seja analisado o novo plano urbano de Buenos Aires, de 1907, e foca necessariamente na contratação de um especialista urbanístico, o francês JosephAntoine Bouvard, como solução de um impasse entre o projeto municipal e do governo estadual. Pouco dias depois, a Câmara Municipal contrata então o francês para arbitrar o assunto, e em maio do mesmo ano, o mesmo apresentaria um novo projeto de renovação urbana que contemplaria diversas ideias de Freire e descartaria quase todo projeto de Neves.

FIGURA 99 no projeto de bouvard, finalmente é proposta uma rua de traçado artístico para o fundo do vale.

FIGURA 100 proposta do cruzamento do vale do anhangabaú com a avenida são joão

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Bouvard em seu plano urbano apresenta duas variantes para o Vale do Anhangabaú, a primeira seria seu ajardinamento total, ideia priorizada por Vitor Freire (fig. 99), e a segunda seria a construção de eixos de edificações na orla do parque (fig. 100), variante que foi executada, pois resolvia os impasses de interesses na área, como por exemplo a venda dos terrenos do Conde de Prates, uma condição solicitada pela governo do estado, visto que, o conde era conhecido de Samuel Neves. Para lidar com o sistema viário de São Paulo, o urbanista opta com desenhos organicistas, respeitando o histórico e a topografia local. Para conexão do centro com sua periferia é criado um plano de expansão de arruamentos, fluxo contornado e evidenciado por novos equipamentos públicos propostos. Assim, o Plano Bouvard original continha quatro linhas de ação, Parque Anhangabaú, Várzea do Carmo, Centro Cívico em torno da nova Catedral da Sé e conexão com os bairros periféricos. As obras do Anhangabaú foram priorizadas pela urgência, iniciando em 1911 no mandato do prefeito Raimundo Duprat e finalizado em 1917 com Washington Luís, com algumas ressalvas (fig. 101).

FIGURA 101 nesta vista aérea do anhangabaú, realizada em meados dos anos 1920, parque projetado por bouvard já está concluído.

FIGURA 102 transformação – plantações de chá e agrião em 1910 no vale do anhangabaú (foto de cima), que após urbanização passou a ser parque e um dos endereços mais elegantes da cidade, com os palacetes prates, sede da prefeitura (foto de 1927)

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FIGURA 103 mapeamento da cidade de são paulo, região do vale do anhangabaú, no ano de 1930. neste mapa já é possível analisar o alargamento da av. são joão, grandes edifícios como teatro municipal e ed. dos correios e o parque anhangabaú

FIGURA 104 mapeamento da cidade de são paulo, região do vale do anhangabaú, no ano de 1954. é possível analisar a alteração mencionada acima, isto é, o antigo parque anhangabaú dá espaço para a ligação norte-sul pela nova avenida anhangabaú

Com a finalização das obras nas imediações do Anhangabaú, a região volta a se tornar polaridade central de São Paulo, caracterizando como um cartão postal da cidade para os estrangeiros que ali chegavam.

Assim, se inicia um novo processo, a “marcha para oeste” deslocando o centro da antiga região, para o Anhangabaú, sentido Viaduto do Chá e Praça da República, isto é, concretizando o Centro Novo. A próxima modificação urbana em grande escala, acontece nas décadas de 1930 e 1940, sob o mandato de Prestes Maia, em que ocorre a implantação do Plano de Avenidas, valorizando o sistema viário em relação aos espaços públicos e as ligações norte-sul e leste-oeste. Neste contexto, a ligação N-S da região metropolitana citada acima passaria por cima do Vale do Anhangabaú (fig. 104105). Nas décadas seguintes, começa a ser executado em São Paulo até 1990, grandes obras, chegando na Av. Paulista e Faria Lima.

FIGURA 105 foto retrata o antigo parque do anhangabaú que se tornara um grande eixo n-s após o plano de avenidas de prestes maia

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Outra construção de mesmo objetivo desta época é o Elevado João Goulart, nomeado na época como Elevado Presidente Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, que cruza São Paulo em seu sentido leste-oeste, solução adotada para o cruzamento da cidade em menor tempo. Durante o início da década de 1980, o atual prefeito da cidade, Reynaldo de Barros, é questionado pelos diversos problemas que aconteciam na grande Av. Anhangabaú, na relação automóveis e pedestres. Surge então, uma posposta feita pela EMURB (Empresa Municipal de Urbanização) que consistia basicamente na construção de seis passarelas sobre a avenida, para cessar a alta taxa de atropelamento. O projeto não vingou e recebeu diversas críticas de especialistas no assunto. A partir disso, a prefeitura propõe então, um concurso para

reurbanização e revitalização da região do Vale do Anhangabaú. O edital do concurso previa uma solução global que deveria envolver a circulação viária e de pedestres, equipamentos de uso local e metropolitano, regulamentação do uso do solo e das edificações, valorização dos edifícios tombados e demais aspectos que o participante achasse pertinente para o local. O projeto vencedor, esboçado pelos arquitetos Jorge Wilheim, Jamil Kfouri e Rosa Kliass, o vale é tido como um grande espaço público, concebido com pequenas praças dentro de uma ampla esplanada, formando espaços entrecortados por áreas verdes e delimitações claras de permanência e passagem. Fora isso, a canalização do rio e as “avenidas túneis” enterradas a 500m, também fazem parte do plano urbano ganhador.

FIGURA 106 perspectiva do vale em uma das fases de implantação

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O projeto foi então contratado com um escopo menor e as obras iniciadas no início daquela década. Durante a gestão Mário Covas (1983-1986), as obras foram paralisadas e retornada apenas na gestão de Jânio Quadros (1986), com o início de um dos túneis, juntamente com a construção da Praça das Bandeiras, mas só foi finalizada com a Luiza Erundina em 1991, que priorizou as obras nas áreas centrais da cidade. Após esta época, São Paulo começou a crescer sentido sul, estabelecendo o centro corporativo da metrópole, em torno da Marginal Pinheiros. Neste contexto, o afastamento deste centro econômico da região central, não contribuiu para a valorização da região do Anhangabaú, perdendo sua antiga característica em face a grande metrópole que a cidade se tornou, e se encontra hoje em grande estado de degradação, e a utilização do espaço como parque não acontece. Hoje, abriga diversos prédios comerciais e de serviços, raízes de um antigo polo comercial da cidade. Isso faz com que movimente a região, mas apenas durante a semana e em horário comercial. No quesito vale/parque, o local é utilizado apenas como meio de passagem, sem utilização do espaço público, mas continua sendo um grande ponto nodal para cidade de São Paulo.

FIGURA 107 foto aérea sentido norte-sul, recorte do túnel de avenidas, viaduto sta. ifigênia e vale do anhangabaú

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5.2 O LOCAL HOJE O Vale do Anhangabaú continua sendo hoje uma importante região de cunho histórico para São Paulo, devido sua grande extensão ampla e linear é considerado um espaço adequado para reuniões públicas e cede o espaço para grandes eventos culturais da cidade. No entanto, algumas de suas características são também desafios que impedem a melhor circulação e o fluxo de pessoas em seu espaço, assim como o não-aproveitamento em potencial do local, causando vazios urbanos em períodos noturnos e aos fins de semana, isso acontece pela má distribuição do uso do solo na região, de predominância comercial e serviços, o local tem poucos espaços cedidos para o uso da população em geral, tornando-se um espaço apenas para passagem por ser pouco convidativo ao

FIGURA 108 foto noturna da virada cultural em 2018

turista ou ao pedestre à deriva. Hoje em dia, a região do Vale se encontra dentro da Operação Urbana Centro que tem como objetivo promover a melhoria e a revalorização da área central, para atrair investimentos imobiliários, turísticos e culturais, revertendo o processo de FIGURA 109 implantação do novo projeto de requalificação para região do vale do anhangabaú

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FIGURA 110 cortes transversais e longitudinal do novo projeto de requalificação do vale do anhnagabaú

deterioração local. Esta operação se deu após o sancionamento do novo Planejamento Urbano Estratégico em 2014, pelo prefeito Fernando Haddad. Nele, foi redefinindo a Macroárea de Estruturação Metropolitana (MEM) como território estratégico de transformação. Esta área também está inserida no PIU Setor Central, que promove o incentivo à habitação, buscando dar suporte ao pretendido adensamento populacional e construtivo, à diversificação de atividades e ao fortalecimento da economia. Assim, uma das grandes intervenções públicas ativas no momento e oriundas da OUC Centro (Operação Urbana Centro) e do PIU Setor Central (Projeto de Intervenção Urbana)

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é a Requalificação do Vale de Anhangabaú, que consiste em basicamente colocar em prática a união dessas duas estratégias urbanas. O projeto visa unir emprego, mobilidade, transporte, equipamentos públicos e o patrimônio, contemplando o respeito à escala humana, o resgate de suas características históricas, melhoria das condições para recepção de eventos públicos, a melhoria dos acessos, a ativação de suas fachadas, e a instalação de equipamentos de lazer e apoio, qualificando as conexões com os meios de transporte público e os espaços culturais da cidade, museus, cinemas e teatros, além dos edifícios de escritório ao seu redor. A obra de requalificação teve uma prorrogação no


prazo, estendendo para o final de dezembro de 2020. O novo projeto de revitalização era uma idealização do mandato do prefeito Fernando Haddad (2013-2016), sendo um dos tópicos do projeto de “reformas piloto” no centro da cidade. Na mesma época, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) realizou uma reunião e propôs à prefeitura um concurso para que alguns escritórios trouxessem ideias à região. Entretanto, antes desse concurso acontecer, o Itaú, em 2013, já tinha financiado um projeto do local pelo renomado urbanista dinamarquês Jan Gehl e doado à Prefeitura. A crítica dos arquitetos é que a mesma pretendia promover a revitalização de acordo com diretrizes do projeto apresentado, com posterior desenvolvimento de projeto executivo sem consulta pública e acompanhamento da população. O projeto vencedor do escritório Biselli Katchborian, consiste em um conjunto de diretrizes apresentadas no projeto de Gehl, como previsto, por exemplo o resgate de suas características históricas (Rio Anhangabaú) com a utilização do fator água.

FIGURA 111 e 112 comparação dos projetos de jan gehl (acima) e do primeiro colocado no concurso de revitalização, escritório biselli katchborian (abaixo)

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FIGURA 113 e 114 comparação entre o vale do anhangabaú anterior a reforma (esquerda) e nova proposta pelo escritório biselli katchborian (direita).

O espaço amplo para grandes eventos foi prioridade ao centro do vale, mantendo espaços de maior permanência nas extremidades, fazendo com que eles funcionem como fachadas ativas para os prédios existentes, requalificando o mobiliário urbano, prevendo novos quiosques, pontos de apoio dentre outros equipamentos. Um grande fato é que, os projetos realizados até o momento para o Vale do Anhangabaú nos conduzem a um olhar de uma cidade progressista, com diversos espaços públicos, e reforçando a ideia de cidade para todos. Porém, o que todos até o momento tem em comum é a perda de noção do espaço amplo ser refletido em espaços vazios. FIGURA 115 foto retirada por um drone durante a reforma em julho de 2020

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5.3 INSERÇÃO URBANA

FIGURA 116 sobreposição do mapa da metrópole de são paulo.

FIGURA 117 recorte de satélite da subprefeitura da sé.

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5.3.1 LOCALIZAÇÃO E SITUAÇÃO

FIGURA 118 mapa de localização do anhangabaú

FIGURA 119 mapa de lsituação do lote

5.3.2 USO, OCUPAÇÃO DO SOLO E SISTEMA VIÁRIO

FIGURA 120 mapa de uso do solo predominante no entorno do lote

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FIGURA 121 mapa de ocupação predominante no entorno do lote

FIGURA 122 mapa de sistema viário


5.3.3 VISÃO SERIAL

FIGURA 123 mapa da visão serial da quadra de inserção do projeto com fotos autorais de março de 2020

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COMPLEXO DE CONVIVÊNCIA E MEMORIAL RELIGIOSO

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6.1 CONCEITO O conceito foi estabelecido através de uma reflexão do que seria coerente na sociedade atual. Sabendo que, não existe nenhum estudo de que a tendência daqui há alguns anos que é que as religiões se fundam e compartilhem o mesmo espaço de consagração, temos a consciência de que independentemente do uso espacial, deve haver tolerância de ambas as vertentes religiosas. Neste contexto, a definição do partido foi a concretização da análise conceitual, seria necessário dispor ambientes de cunho religioso e intelectual no mesmo espaço, que seriam utilizados por pessoas de diferentes crenças e costumes simultaneamente, com o objetivo de compartilhar a vida cotidiana e a sabedoria de cada cultura e de cada indivíduo. Fora a isso, para relembrar a história a inserção de diferentes religiões em São Paulo, surge a ideia do memorial religioso, trazendo a origem e o processo de cada etnia.

FIGURA 124 modelo conceitual FIGURA 125 diagrama volumetria e insolação

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6.2 PROGRAMA

FIGURA 126 diagrama de usos

FIGURA 127 diagrama de estrutura

Com essa mudança do cenário social tanto no campo religioso-filosófico, quanto político e científico, o sagrado vem se transformando, abrindo espaço para explicações científicas, mas sem anular a intuição, o sentir. Assim, o objetivo principal do programa é intermediar essa fusão do pensamento científico e religioso sem algum dogma específico, afinal a essência da arquitetura aqui é o espaço interno que possibilita o encontro com algo diferente, o inusitado, uma experiencia nova a partir das relações humanas. Portanto, o Complexo é dividido em quatro partes principais: o memorial, que tem o objetivo de trazer a história étnicareligiosa; as acomodações e os ambientes de convivência mútua fazem o papel social de aproximar aquele que é diferente, o outro, para que então seja entendido mais sua rotina, seu modo de lidar com a vida e sua cultura própria num geral; já os espaços de estudo são responsáveis por compartilhar sabedoria, agregando ao conhecimento de cada indivíduo, independente de etnia; e o espaço para consagração no piso mais elevado, para um contato com o divino. Além disso foram dimensionados ambientes administrativos e de serviços.

FIGURA 128 modelo final

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FIGURA 129 diagrama de implantação

FIGURA 130 diagrama de terreno

6.3 PARTIDO O partido foi desenvolvido após a análise do entorno, as condicionantes e potencialidades, e o estudo do programa e como seria relacionado após inserido no local. A partir do estudo do entorno e do local escolhido, foi definido que deveria ser incorporado o projeto já existente, a Praça das Artes, e a implantação deveria respeitar os fluxos existentes e ceder o espaço térreo para o uso público. Para isso, viu-se necessário a readequação do percurso existente da Praça das Artes, que permeia a quadra, ligando o Vale do Anhangabaú com a Rua Conselheiro Crispiniano a partir de um desnível de aproximadamente 8 metros. A proposta para essa nova adequação é dividir a escadaria pelo terreno, dispondo um auditório em sua parte inferior, que esteja no nível térreo, aproveitando o isolamento acústico criado, por estar certa parte aterrado. A planta foi desenvolvida a partir de um retângulo de ouro, contento a mesma

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medida na sua elevação frontal, ou seja, a altura total é igual a largura do edifício principal. O volume trabalhado é um cubo “desfragmentado”, que possui a simbologia da unidade e integração, e os fragmentos seriam os diversos pensamentos filosóficosreligiosos que possam agregar a aquele espaço. Um dos partidos principais para dar inicio ao projeto foi a questão da iluminação, era necessária uma iluminação zenital que representasse um Ser Superior, e também iluminações laterais, assim, foi criado um núcleo central definido por um quadrado duplo de proporção 2:1, que a partir das tramas simbólicas regulam a incidência solar no ambiente interno. Pode-se considerar que este núcleo é o protagonista para disposição dos espaços internos, afinal, o edifício o envolve. Assim, foram dispostos dois núcleos, um em cada extremidade do projeto, separando os usos semiprivados dos totalmente


FIGURA 131 diagrama de proporcionalidade

privados. O espaço para consagração é o último ambiente a ser acessado, sendo ele o mais alto em nível vertical, utilizando de um conceito antigo: “quanto mais alto, mais próximo de Deus”. Outra estratégia da fachada é proporcionalidade de seus volumes a partir de sua elevação total. Para recordar as origens do Vale do Anhangabaú, foi criado um elemento para fachada como releitura dos grafismos da cultura indígena, mais precisamente a tribo tupiniquim. Foram dispostos no térreo três entradas para fazer uma relação com as construções sagradas antigas, respeitando a simbologia do “eu-negativo” (lado esquerdo), “euessência” (centro) e “eu-positivo” (lado direito). A definição dos espaços em termos dimensionais foi estabelecida a partir do desenho do “Homem Vitruviano” e suas concepções, isto é, os espaços retangulares estão explícitos nos ambientes intelectuais e os espaços circulares foram dispostos para

ambientes espirituais, como por exemplo a consagração. Os programas foram dispostos em sete níveis, relacionando com a simbologia das construções sagradas orientais, que afirma que na Terra o homem pode se dispor entre sete níveis de percepção de realidade, sendo o térreo o mais raso, representados pelos espaços públicos, e o sétimo, a consciência, representado pelo espaço para consagração. No lado externo, o paisagismo tem o objetivo de recriar o arquétipo da clareira, fazendo contraposição com o espaço interno, a caverna. O memorial religioso foi disposto na readequação do fluxo da Praça das Artes com o intuito de chamar atenção dos pedestres. Os painéis autoportantes são responsáveis por contar uma breve história a partir de sua materialidade, dimensão, cor e texturas como foi o processo de inserção dessa cultura no país, causando desconforto ou conforto naquele que o observa.

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FIGURA 132 modelo final com entorno

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IMPLANTAÇÃO

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0

50m

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FIGURA 134 fachada do vale do anhangabaĂş

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PAVIMENTO Tร RREO

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1ยบ PAVIMENTO


2ยบ PAVIMENTO

3ยบ PAVIMENTO

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4ยบ PAVIMENTO

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5ยบ E 6ยบPAVIMENTO


7ยบ PAVIMENTO

COBERTURA

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FIGURA 143 fachada da av. são joão

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CORTE AA 0

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12,5m

CORTE BB 0

12,5m


CORTE CC

m

CORTE DD

12,5m

0

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CORTE EE

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0

12,5m

0

12,5m

CORTE FF


FIGURA 150 modelo final branco

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FIGURA 151 vista piso praรงa das artes

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ELEVAÇÃO 1

150

0

12,5m

0

12,5m

ELEVAÇÃO 2


ELEVAÇÃO 3

0

12,5m

ELEVAÇÃO 4 0

151


FIGURA 156 vista noturna da fachada do vale do anhangabaĂş

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ENCAIXE DOS PAINÉIS

ENCAIXE INFERIOR s/ escala

ENCAIXE CENTRAL s/ escala

ENCAIXE SUPERIOR s/ escala

ANCORAGEM DA LAJE SUSPENSA s/ escala

CORTE AMPLIADO

154

0

5m

PEÇA CENTRAL E PISO ELEVADO s/ escala


ELEVAÇÃO AMPLIADA

0

5m

155


FIGURA 160 vista do vão central exposições

156


FIGURA 161 vista do corredor dos quartos para o vĂŁo central

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ILUMINÂNCIA

12h

17h

8h

12h

17h

8h

12h

17h

EQUINÓCIO

8h

SOLSTÍCIO DE INVERNO

SOLSTÍCIO DE VERÃO

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Em termos de iluminância foi observado uma melhora de 50,78% para fachada sudeste com os painéis. Porém, se compararmos com NBR-5413 – Iluminância de Interiores, algumas médias durante o dia se encontram maiores do que o recomendado, que seria entre 100-500lux, necessitando de uma outra estratégia, além dos painéis, para o controle dessa iluminância.


VENTILAÇÃO

No estudo de ventilação, foi possível notar que o painel obteve eficiência na fachada sudeste, visto que, no primeiro cenário, os ventos adentravam os quartos com aproximadamente 7m/s, sendo que o recomendado, de acordo com Leonardo Bitencourt e Cristina Candido (2008) em seu livro “Introdução à ventilação natural”, é no máximo 2,5m/s para uma ventilação natural confortável, assim, este valor se reduz aproximando a 0m/s. PLANTA SEM PAINEL

CORTE SEM PAINEL

PLANTA COM PAINEL

CORTE COM PAINEL

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FIGURA 164 vista laje suspensa, área de consagração

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O entendimento dos meios que o homem utiliza para se relacionar com algo externo a ele foi o motivo principal para a escolha do tema estudado. Entretanto, ao fazer as primeiras análises, foi notado que o espaço como o elemento comunicacional principal para essa relação torna a arquitetura muito presente nesta dinâmica, afinal, toda arquitetura comunica algo para alguém, independente do uso espacial. Mas, restringindo ao espaço simbólico sagrado, foi possível identificar que o homem sempre buscou além de comunicar, reproduzir as estruturas celestes como forma de aproximação ao divino. Para a interpretação da influência do espaço nesta busca do homem por algo sublime e imaterial, foi necessário estudar sobre espaço tridimensional e como ele afeta diretamente as nossas percepções, estimulando o aparelho sensorial que em cada indivíduo resulta de uma maneira especifica por ser o resultado de experiencias

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e da cultura vivida. Assim, é possível interpretar que cada civilização tem seu próprio método de atingir o sagrado, que por muitas vezes se repete em diversas culturas, como por exemplo a escolha do local em termos geográficos, a implantação, a forma do edifício, os percursos e os elementos espaciais contendo em si uma simbologia própria. A implantação do edifício religioso durante toda história teve um grande caráter simbólico, estando relacionado diretamente com a astronomia, as civilizações pré-cristãs na Inglaterra posicionavam os megalíticos como forma de reprodução das estruturas celestes, demarcando os solstícios e equinócios. Outra estratégia muito utilizada é a geometria que continha em sua forma números sagrados. Assim, todo edifício de caráter sacro tem o objetivo final de comunicar algo a alguém a partir dessas estratégias mencionadas, com isso é possível interpretar que o espaço


arquitetônico só existe a partir da presença do homem que o vivencia por meio das suas percepções e sentidos, estimulados por experiências próprias em sua determinada cultura. Considerando que durante a história a maioria dos espaços sagrados eram destinados somente a consagração espiritual, num cenário atual, a ciência, desde de o final do século XIX, tem sido cada vez mais presente na sociedade, criando novas dinâmicas no pensamento religioso/ filosófico, por isso o objeto final resulta em um espaço arquitetônico com espaços de fé e de estudo. A partir do entendimento das religiões existentes em São Paulo, nota-se a grande influência cristã devido aos quatro séculos em que o país foi declarado católico, excluindo qualquer outro tipo de manifestação religiosa. Como atualmente a cidade de São Paulo se encontra em um cenário religioso plural, viu-se necessário considerar a diversidade

cultural criando um espaço múltiplo, com o objetivo de que o grande protagonista das relações humanas fosse o próprio espaço. Assim, podemos entender que a religião exprime a vontade do homem de se relacionar com o sagrado, o espaço é o meio utilizado, a tradução das simbologias criadas em uma dimensão especificamente humana. Assim, abordar a espacialidade simbólica religiosa é adentrar o espaço da percepção do homem, sendo uma tentativa de traduzir o símbolo em arquitetura.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANTES, José Tadeu. A pluralidade religiosa na sociedade contemporânea: Brasil e Canadá. Brasil e Canadá. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/a-pluralidade-religiosa-nasociedade-contemporanea-brasil-e-canada/23626/>. Acesso em: 15 maio 2020. BANGS, Herbert. O retorno da arquitetura sagrada: A Razão Áurea e o Fim do Modernismo. 1 ed. São Paulo: Editora Pensamento, 2010. DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996. FERNANDES, Paulo César da Conceição. As Origens do Espiritismo no Brasil: Razão, Cultura e Resistência. Orientador: Dr. Eurico Antônio Gonzalez Cursino dos Santos. 2008. 139 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, Brasília, 2008. FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1994 HALL, Edward. A dimensão oculta: 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves S.A., 1977. HARIRI, Siamak. Como construir um espaço sagrado? Palestra proferida no TED Taks, Nova York, mar. 2017. Disponível em: <https://www.ted.com/talks/siamak_hariri_how_do_you_ build_a_sacred_space?language=pt-br>. Acesso em: 06 setembro 2020. HELLERN, V.; NOTAKER, H; GAARGER, J. O livro das religiões. São Paulo: Schwarcz Ltda., 2006. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico: resultados preliminares – São Paulo, 2010. JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. 3 ed. Rio de Janeiro: Harpercollins Brasil, 2016. KAMARA, Mariam. HIKMA: um complexo religioso e laico. Um Complexo Religioso e Laico. 2018. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-elaico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em: 20 abr. 2020. KRUCHIN, Samuel. Capela de Nova Serrana / Kruchin Arquitetura. 2016. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura?ad_ source=search&ad_medium=search_result_projects>. Acesso em: 20 abr. 2020. LIMA, Mariana. Percepção Visual Aplicada a Arquitetura e Iluminação. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2010. MACHADO, Rodolfo et al. Centro Global para a vida Acadêmica e Espiritual / Machado and Silvetti Associates. 2012. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-140536/ centro-global-para-a-vida-academica-e-espiritual-slash-machado-and-silvetti-associates?ad_ source=search&ad_medium=search_result_projects>. Acesso em: 20 abr. 2020. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o

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ANEXOS

TABELA 1 comparação dos censos ibge em 1991 e 2010 na análise sobre religiosidade.

TABELA 2 estudo prospectivo sobre a inversão das vertentes cristãs no brasil em 2028.

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TABELA 3 relação dos agrupamentos religiosos na cidade de são paulo nos anos de 2000 e 2010 de acordo com dados do ibge 2010.

TABELA 4 relação dos agrupamentos religiosos na cidade de são paulo nos anos de 2000 e 2010 por grupo étnico-racial de acordo com dados do ibge 2010

TABELA 5 relação dos agrupamentos religiosos na cidade de são paulo nos anos de 2000 e 2010 por escolaridade de acordo com dados do ibge 2010

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Primeira Missa no Brasil. MEIRELLES, Victor. 1860. Óleo sobre tela. 270 x 357cm. Disponível em: <https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2012/06/PrimeiraMissaBR_VictorMeirelles.jpg>. Acesso em 31 outubro 2020. Figura 2 - Filha de Santo. Fonte: MEDEIROS, José. 1951. Acervo IMS. Figura 3 - Homenagem aos Caboclos. Fonte: GAUTHEROT, Marcel. 1957. Acervo IMS. Figura 4 - Crianças orientais no bairro da Liberdade. ROSENTHAL, Hildegard. 1940. Acervo IMS. Figura 5 - A incredulidade de São Tomé. CARAVAGGIO. 1601-2. Óleo sobre tela. 107 x 146 cm. Disponível em: <http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=224&evento=6>. Acesso em: 30 outubro 2020. Figura 6 - Foto aérea dos megalíticos de Stonehenge, Salisbury, Inglaterra. Disponível em: <https://www. naduvidaembarque.com.br/bate-e-volta-a-partir-de-londres-bath-e-stonehenge/>. Acesso em 31 outubro 2020. Figura 7 - Foto de um turista realizada durante o solstício de verão que mostra o alinhamento perfeito da “Pedra do Calcanhar” com a astronomia. Salisbury, Inglaterra. Disponível em:<https://superandarilho.com/2020/05/28/ stonehenge-comemora-a-chegada-do-verao-2020-com-transmissao-online/>. Acesso em 31 outubro 2020. Figura 8 - Pirâmides de Quéops, Deserto de Al-Giza, Egito. Disponível em: <https://www.institutodeengenharia. org.br/site/2018/07/04/como-foram-construidas-as-piramides-do-egito/>. Acesso em 31 outubro 2020. Figura 9 - Zigurate de Ur, Nassíria, Iraque. Disponível em: <https://incrivelhistoria.com.br/zigurate/>. Acesso em 31 outubro 2020. Figura 10 - O Tabernáculo (quadrado duplo) e o Templo de Salomão (quadrado triplo). PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada: Simbolismo e intenção nas Estruturas Religiosas. São Paulo: Pensamento, 1980 – p.67 Figura 11 - Partenon, em Atenas, Grécia. Disponível em: <https://www.lonelyplanet.com/greece/athens/ attractions/parthenon/a/poi-sig/1289715/359421>. Acesso em 31 outubro 2020 Figura 12 – O Homem Vitruviano. DA VINCI, Leonardo. 1490. Tinta sobre papel. 35 x 26 cm. Disponível em: <https://www.culturagenial.com/homem-vitruviano-leonardo-da-vinci/>. Acesso em: 31 outubro 2020. Figura 13 - Catedral de Notre Dame, em Paris, França. Disponível em: <https://www.viajonarios.com.br/francaa-catedral-notre-dame-de-paris/>. Acesso em 31 outubro 2020. Figura 14 - Transposição dos esquemas ad. quadratum em planta e ad. triangulum na elevação na Cadetral de Milão. PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada: Simbolismo e intenção nas Estruturas Religiosas. São Paulo: Pensamento, 1980 – p.125 Figura 15 - Planta da Igreja de Santo Ivo desenhada a partir de formas terciárias. Disponível em: <https:// historiadlarte.wixsite.com/arte/12-barroco-arqu-esc-imgn>. Acesso em 31 outubro 2020. Figura 16 - Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, Espanha. Disponível em: <https://gq.globo.com/ Prazeres/Poder/noticia/2019/06/apos-137-anos-sagrada-familia-de-gaudi-recebe-licenca-municipal.html>. Acesso em 31 outubro 2020. Figura 17 - O Modulor de Le Corbusier. PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada: Simbolismo e intenção nas Estruturas Religiosas. São Paulo: Pensamento, 1980, p.176 Figura 18 - Bússola lo pan utilizada em feng shui para analisar a posição do edifício. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 166. Figura 19 - Vista aérea da antiga cidade de Chichén Itzá construída pela civilização maia, na Península de Yucatan, México. Disponível em: <https://gochichen.com/overview/#:~:text=In%201998%2C%20UNESCO%20gave%20 Chichen,%E2%80%9CNew%20Open%20World%20Corporation%E2%80%9D>. Acesso em 01 novembro 2020. Figura 20 - Vista aérea da antiga cidade de Machu Picchu construída pela civilização maia, em Cusco, no Peru. Disponível em: <https://www.segueviagem.com.br/destino-internacional/machu-picchu-historia-e-misticismo-

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peruanos/>. Acesso em: 1 novembro 2020. Figura 21 – Planejamento de um tempo a partir de gnômons. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 176. Figura 22 - Mihrab da Grande Mesquita de Córdoba. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 178. Figura 23 - Vista aérea da aldeia indígena Bororo. Disponível em: <https://img.socioambiental.org/v/publico/ bororo/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 24 - Grande Satuário de Ise, Japão. Disponível em: <https://arteforadomuseu.com.br/santuario-de-ise/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 25 - Sinagoga Beth Sholom, na Filadélfia, pelo arquiteto Frank Lloyd Wright. Disponível em: <https:// medium.com/@MatheusRudo/antonio-gaud%C3%AD-e-frank-lloyd-wright-76a87fa06de3>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 26 - Vista aérea do segundo Templo Goetheanum, em Dornach, Suíça. Sede do movimento antroposófico por Rudolf Steiner. Disponível em: <https://www.letemps.ch/societe/goetheanum-coeur-lunivers-anthroposophe>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 27 - Vista interna da cobertura da Catedral Sagrada Família, em Barcelona, pelo arquiteto Antoni Gaudi. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/ba/Sagrada_Familia_nave_roof_detail. jpg>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 28 - Mandala Kalachakra. : MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 189. Figura 29 - Vastupurusha Mandala. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 190. Figura 30 - Plano de basílica sobreposto a figura humana por Francesco di Giorgio (1460-1560). MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 14. Figura 31 - Faraó como modelo do Templo Luxor, Egito. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 15. Figura 32 - Planta modelo de uma catedral gótica do Ocidente, tipologia do corpo de Cristo em formado de cruz latina. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/49/Esquema_Igreja_-_ Portugu%C3%AAs.png/542px-Esquema_Igreja_-_Portugu%C3%AAs.png>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 33 - Planta octogonal da Igreja de São Vital, em Ravena, Itália. Disponível em: <http://arquiteturadosagrado. blogspot.com/2017/04/viagem-ravena-origem-da-arquitetura.html>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 34 - Catedral de Brasília, pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/br/01-14553/classicos-da-arquitetura-catedral-de-brasilia-oscar-niemeyer>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 35 - Elevação frontal do Parthenon e o estudo de geometria sagrada a partir da seção áurea. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 125. Figura 36 - Proporção áurea encontrada em um elemento da natureza, concha do gênero Nautilus. Disponível em: <https://artsandculture.google.com/asset/concha-de-n%C3%A1utilo-dom%C3%ADnio-p%C3%BAblico/

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dgGh8oV4-2wrYQ?hl=pt-br>. Acesso em: 1 novembro 2020. Figura 37 – Estrada de mosteiro no Tibete. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 207. Figura 38 - Portal do Santo Salvador na Catedral de Notre-Dame d’Amiens. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 208. Figura 39 – Pátio central da Mesquita de Damasco. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 209. Figura 40 – Claustro do Mosteiro de San Domingo de Silos. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 209. Figura 41 - Labirinto no piso da Catedral de Chartres, França. Fonte: MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 217. Figura 42 – Escadaria da Igreja de Bom Jesus, em Portugugal. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 216. Figura 43 - Templo Budista de Borobudur, Indonésia. Disponível em: <https://www.leonardolopes.com.br/ocaminho-para-sabedoria/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 44 – Minarete da Mesquita do Xá, Isfahan, Irã. MELLO, Ricardo Bianca de. Cultura da crença: uma reflexão sobre o espaço simbólico e o simbolismo na arquitetura religiosa. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 222. Figura 45 - Campanário de São Marcos, em Veneza, Itália. Disponível em: <http://italiaperamore.com/basilicade-sao-marcos-e-campanario-sem-filas-saiba-como/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 46 - Mulçumanos na peregrinação anual em torno da Caaba, em Meca. Disponível em: <https://veja.abril. com.br/religiao/mais-de-2-milhoes-de-muculmanos-iniciam-peregrinacao-a-meca/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 47 - Papa Francisco fazendo uma oração na Basílica de São Pedro, Vaticano. Disponível em: <https:// www.gazetadopovo.com.br/mundo/milhoes-acompanham-oracao-papa-francisco-pandemia-coronavirus/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 48 - Ritual da religião candomblé. Disponível em: <https://segredosdomundo.r7.com/candomble-fatosque-voce-descobre-indo-a-um-terreiro/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 49 - Ritual indígena da tribo brasileira de Yawalapiti - Disponível em: <http://www.funai.gov.br/index. php/comunicacao/noticias/3878-aldeia-yawalapiti-encerra-ritual-de-homenagem-aos-mortos>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 50 - Judeus rezando no Muro das Lamentações, em Jerusálem. Disponível em: <https://epocanegocios. globo.com/Mundo/noticia/2016/01/israel-autoriza-homens-e-mulheres-orar-juntos-no-muro-das-lamentacoes. html>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 51 - Pirâmide de vidro projetada por I. M. Pei em 1989 para entrada do Museu do Louvre, em Paris, França. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-169587/classicos-da-arquitetura-piramides-dolouvre-slash-im-pei>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 52 - Templo Bahá’í, Santiago, Chile, 2016. Disponível em: <https://hariripontarini.com/projects/bahaitemple-of-south-america/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 53 - Cobertura do espaço de consagração já finalizada com nove aberturas para entrada de iluminação,

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se unindo em um ponto central que representa a unidade. Disponível em: <https://hariripontarini.com/projects/ bahai-temple-of-south-america/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 54 - Templo Bahá’í em construção, utilizando aço como material principal. Disponível em: <https:// hariripontarini.com/projects/bahai-temple-of-south-america/>. Acesso em 1 novembro 2020. Figura 55 - Entrada principal do Complexo Religioso e Laico. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 56 - Planta e modulação da biblioteca. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 57 - Planta e modulação da nova mesquita de Hausa. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 58 - Implantação do Complexo Religioso e Laico. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www. archdaily.com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 59 - Corte da implantação do Complexo Religioso e Laico. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 60 – Corte da nova mesquita de Hausa. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 61 – Corte da biblioteca. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/ br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 62 - Inserção do projeto na paisagem local. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 63 – Fiéis se unem para consagrar na nova mesquita Hausa. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studiochahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 64 – Fiéis se unem para consagrar na nova mesquita Hausa. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studiochahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 65 – Minarete da Mesquita de Hausa. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 66 – Comunidade local se une para utilizar a biblioteca. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 67 - Imagem externa do Centro Global para vida Acadêmica e Espiritual. Acervo Machado and Silvetti Associates. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-140536/centro-global-para-a-vida-academicae-espiritual-slash-machado-and-silvetti-associates>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 68 - Plantas Centro Global para Vida Espiritual e Acadêmica adaptadas para o português. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-140536/centro-global-para-a-vida-academica-e-espiritual-slashmachado-and-silvetti-associates>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 69 - Corte técnico longitudinal do Centro Global. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-

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140536/centro-global-para-a-vida-academica-e-espiritual-slash-machado-and-silvetti-associates>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 70 - Fachada norte. Acervo Machado and Silvetti Associates. Disponível em: <https://www.archdaily.com. br/br/01-140536/centro-global-para-a-vida-academica-e-espiritual-slash-machado-and-silvetti-associates>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 71 - Painel da fachada criando desenhos no ambiente interno pela sombra. Acervo Machado and Silvetti Associates. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-140536/centro-global-para-a-vida-academicae-espiritual-slash-machado-and-silvetti-associates>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 72 - Sala para consagração à crença. Acervo Machado and Silvetti Associates. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/01-140536/centro-global-para-a-vida-academica-e-espiritual-slash-machado-andsilvetti-associates>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 73 - Sala para conferência dos estudantes. Acervo Machado and Silvetti Associates. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-140536/centro-global-para-a-vida-academica-e-espiritual-slashmachado-and-silvetti-associates>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 74 - Imagem externa da Capela Ecumênica de Nova Serrana. Acervo Kruchin Arquitetura. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 75 - Implantação da Capela de Nova Serrana. Acervo Kruchin Arquitetura. Disponível em: <https://www. archdaily.com.br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 76 – Corte transversal da Capela de Nova Serrana. Acervo Kruchin Arquitetura. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 77 – Corte longitudinal da Capela de Nova Serrana. Acervo Kruchin Arquitetura. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 78 – Imagem externa da Capela. Acervo Kruchin Arquitetura. Disponível em: <https://www.archdaily.com. br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 79 – Imagem interna da Capela e a luz que incide no espaço. Acervo Kruchin Arquitetura. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 80 – Imagem interna da Capela e a luz que incide no espaço. Acervo Kruchin Arquitetura. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 81 – Vista externa do Midrash. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/ br/765724/midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 82 - Plantas técnicas adaptadas para o português. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www. archdaily.com.br/br/765724/midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 83 – Corte transversal do Midrash. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/ br/765724/midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 84 – Corte longitudinal do Midrash. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/ br/765724/midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 85 – Elevação frontal do Midrash. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/ br/765724/midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 86 – Vista externa do Midrash. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/ br/765724/midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 87 – Sala de conferências do Midrash. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www.archdaily.com. br/br/765724/midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 88 – Recepção e Bar. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/765724/ midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020.

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Figura 89 – Hikma: Dinâmica entre a mesquita (à direita), espaço religioso, e a biblioteca (à esquerda), espaço de estudo, envolvidas por uma praça central. Acervo Atelier Masomi. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/br/922419/hikma-um-complexo-religioso-e-laico-atelier-masomi-plus-studio-chahar>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 90 – Painel da fachada do Centro Global vazado em alumínio, fixado na estrutura do prédio. Acervo Machado and Silvetti Associates. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-140536/centro-globalpara-a-vida-academica-e-espiritual-slash-machado-and-silvetti-associates>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 91 – Fachada do Mirash feita em fibra de vidro, fixadas na estrutura do prédio. Acervo Isay Weinfeld. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/765724/midrash-isay-weinfeld>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 92 – Relação do espaço interno da Capela de Nova Serrana com a luz. Acervo Kruchin Arquitetura. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/928519/capela-de-nova-serrana-kruchin-arquitetura>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 93 – Ao redor da área A, localização aproximada da aldeia indígena entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, com a chegada dos jesuítas em São Paulo, sobre um mapa da cidade em 1842. SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 94 – As três ordens religiosas definiram os marcos iniciais, ocupando pontos estratégicos da cidade. SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 95 – Mapeamento da cidade de São Paulo no ano de 1881. Companhia Cantareira e Esgoto. Disponível em: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Planta-da-cidade-de-Sao-Paulo-levantada-pela-CompanhiaCantareira-de-Esgotos_fig2_315480086>. Acesso em 9 novembro 2020. Figura 96 – Fotografia do Viaduto do Chá depois da inauguração da obra em 1892. SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 97 – Desenho ilustrativo para o projeto apresentado em 1910 pela Diretoria de Obras de São Paulo. SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 98 – Pontos de maior congestionamento da cidade eram, segundo vereador Silva Teles, as esquinas das ruas de São Bento com Direita, São Bento com São João e São João com Libero Badaró. SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 99 - No projeto de Bouvard, finalmente é proposta uma rua de traçado artístico para o fundo do vale. SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 100 - Proposta do cruzamento do Vale do Anhangabaú com a Avenida São João. SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 101 – Nesta vista aérea do Anhangabaú, realizada em meados dos anos 1920, parque projetado por Bouvard já está concluído. SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 102 – TRANSFORMAÇÃO – Plantações de chá e agrião em 1910 no Vale do Anhangabaú (foto de cima), que após urbanização passou a ser parque e um dos endereços mais elegantes da cidade, com os Palacetes Prates, sede da Prefeitura (foto de 1927). SIMÕES Jr., José Geraldo. Anhangabaú: História e Urbanismo. São Paulo. Senac. 2003. Figura 103 – Mapeamento da cidade de São Paulo, ano de 1930. Sara Brasil, Geosampa. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>. Acesso em 02 novembro 2020. Figura 104 – Mapeamento da cidade de São Paulo, ano de 1954. Vasp Cruzeiro, Geosampa. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>. Acesso em 02 novembro 2020. Figura 105 - Foto retrata o antigo parque do Anhangabaú. Arquivo da cidade de São Paulo. Figura 106 – Perspectiva do Vale em uma das fases de implantação. Acervo Jorge Wilhein. Figura 107 – Foto Aérea sentido Norte-Sul, recorte do túnel de avenidas, viaduto Sta. Ifigênia e Vale do Anhangabaú. Acervo Nelson Kon.

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Figura 108 – Foto noturna da Virada Cultural em 2018, no Vale do Anhangabaú. Disponível em: <https://istoe. com.br/virada-cultural-de-sao-paulo-e-adiada-para-setembro/>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 109 – Implantação do novo projeto de requalificação para região do Vale do Anhangabaú. Gestão Urbana de São Paulo. Disponível em: <https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/projetos-urbanos/anhangabau/>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 110 - Cortes transversais e longitudinal do novo projeto de requalificação do Vale do Anhnagabaú. Gestão Urbana de São Paulo. Disponível em: <https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/projetos-urbanos/ anhangabau/>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 111 – Projeto do Jan Gehl para o Vale do Anhangabaú. <https://issuu.com/gehlarchitects/docs/ issuu_1453_sao_paulo_vale_do_anhang?utm_medium=website&utm_source=archdaily.com.br>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 112 – Projeto do escritório vencedor Biselli Katchborian. Gestão Urbana de São Paulo. Disponível em: <https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/projetos-urbanos/anhangabau/>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 113 – Vale do Anhangabaú antes da reforma. Gestão Urbana de São Paulo. Disponível em: <https:// gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/projetos-urbanos/anhangabau/>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 114 – Vale do Anhangabaú nova proposta. Gestão Urbana de São Paulo. Disponível em: <https:// gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/projetos-urbanos/anhangabau/>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 115 – Foto retirada por um drone durante a reforma em julho de 2020. Reportagem G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/07/08/reforma-no-vale-do-anhangabau-no-centro-de-spja-custou-pelo-menos-r-17-milhoes-a-mais-do-que-o-previsto.ghtml>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 116 – Sobreposição do Mapa da metrópole de São Paulo. Mapa base disponibilizado no Google Earth. Figura 117 – Recorte de satélite da subprefeitura da Sé. Mapa base disponibilizado no Google Earth. Figura 118 – Mapa de localização do Anhangabaú. Mapa base disponibilizado no Google Earth. Figura 119 – Mapa de situação do lote. Mapa base disponibilizado no Google Earth. Figura 120 – Mapa de uso do solo predominante no entorno do lote. Mapa base disponibilizado no Geosampa. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 121 – Mapa de ocupação no entorno do lote. Mapa base disponibilizado no Geosampa. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 122 – Mapa de sistema viário. Mapa base disponibilizado no Geosampa. Disponível em: <http:// geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 123 – Mapa da visão serial da quadra de inserção do projeto. Fotos autorais de mar/2020. Mapa base disponibilizado no Geosampa. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC. aspx>. Acesso em 2 novembro 2020. Figura 124 – Modelo conceitual. Autoral. Figura 125 – Diagrama de volumetria e insolação. Autoral. Figura 126 – Diagrama de usos. Autoral. Figura 127 – Diagrama de estrutura. Autoral. Figura 128 – Modelo final. Autoral. Figura 129 – Diagrama de implantação. Autoral. Figura 130 – Diagrama de terreno. Autoral. Figura 131 – Diagramas de proporcionalidade. Autoral. Figura 132 – Modelo com entorno final. Autoral. Figura 133 – Implantação. Autoral. Figura 134 – Render vista da fachada do Vale do Anhangabaú. Autoral. Figura 135 – Planta Pavimento Térreo. Autoral. Figura 136 – Planta 1º Pavimento. Autoral.

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Figura 137 – Planta 2º Pavimento. Autoral. Figura 138 – Planta 3º Pavimento. Autoral. Figura 139 – Planta 4º Pavimento. Autoral. Figura 140 – Planta 5º e 6º Pavimento. Autoral. Figura 141 – Planta 7º Pavimento. Autoral. Figura 142 – Planta Cobertura. Autoral. Figura 143 – Render vista da fachada da Av. São João. Autoral. Figura 144 – Corte AA. Autoral. Figura 145 – Corte BB. Autoral. Figura 146 – Corte CC. Autoral. Figura 147 – Corte DD. Autoral. Figura 148 – Corte EE. Autoral. Figura 149 – Corte FF. Autoral. Figura 150 – Modelo final branco. Autoral. Figura 151 – Render vista do piso da Praça das Artes. Autoral. Figura 152 – Elevação 1. Autoral. Figura 153 – Elevação 2. Autoral. Figura 154 – Elevação 3. Autoral. Figura 155 – Elevação 4. Autoral. Figura 156 – Render vista noturna vista da fachada do Vale do Anhangabaú. Autoral. Figura 157 – Corte ampliado. Autoral. Figura 158 – Detalhes. Autoral. Figura 159 – Elevação ampliada. Autoral. Figura 160 – Render vista no vão central exposições. Autoral. Figura 161 – Render vista do corredor dos quartos para o vão central. Autoral. Figura 162 – Estudo de iluminância na fachada sudeste. Autoral. Figura 163 – Estudo de ventilação na fachada sudeste. Autoral. Figura 164 – Render vista da laje suspensa de consagração. Autoral. Tabela 1 – Comparação dos censos IBGE em 1991 e 2010 na análise sobre religiosidade. IBGE. Tabela 2 – Estudo prospectivo sobre a inversão das vertentes cristãs no Brasil em 2028. Pesquisa Datafolha. Tabela 3 – Relação dos agrupamentos religiosos na cidade de São Paulo nos anos de 2000 e 2010 de acordo com dados do IBGE 2010. Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo. Tabela 4 – Relação dos agrupamentos religiosos na cidade de São Paulo nos anos de 2000 e 2010 por grupo étnico-racial de acordo com dados do IBGE 2010. Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo. Tabela 5 – Relação dos agrupamentos religiosos na cidade de São Paulo nos anos de 2000 e 2010 por escolaridade de acordo com dados do IBGE 2010. Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo.

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