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recibo75 edições traplev orçamentos ano 10 | número 10 2011-2012

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Esta publicação foi selecionada entre os projetos que se inscreveram no Programa Cultura e Pensamento – Seleção Pública e Distribuição de Revistas Culturais. Foram escolhidos quatro projetos, e desta forma contemplamos quatro revistas culturais bimestrais cujas tiragens, somadas, chegam a 240 mil exemplares. O objetivo desta iniciativa é estimular a criação de publicações culturais permanentes, e de alcance nacional – não apenas em sua distribuição, mas também em seu conteúdo.Ao patrocinar este projeto, a Petrobras reafirma, uma vez mais, seu profundo e sólido compromisso com as artes e a cultura em nosso país – confirmando, ao mesmo tempo, seu decisivo papel de maior patrocinadora cultural do Brasil. Desde a sua criação, há pouco mais de meio século, a Petrobras mantém uma trajetória de crescente importância para o país. Foi decisiva no aprimoramento da nossa indústria pesada, no desenvolvimento de tecnologia de ponta para prospecção, exploração e produção de petróleo em águas ultra-profundas, no esforço para alcançar a auto-suficiência. Maior empresa brasileira e uma das líderes no setor em todo o mundo, a cada passo dado, a cada desafio superado, a Petrobras não fez mais do que reafirmar seu compromisso primordial, que é o de contribuir para o desenvolvimento do Brasil. Patrocinar as artes e a cultura, através de um programa sólido e transparente, é parte desse compromisso.

CULTURA E PENSAMENTO é um programa nacional de estímulo à reflexão e à crítica cultural. Desde sua primeira edição em 2005, seleciona e apoia projetos de debates presenciais e publicações. O objetivo do programa é dar suporte institucional e financeiro a iniciativas que fortaleçam a esfera pública e proponham questões e alternativas para as dinâmicas culturais do país. Em 2009, o Programa abriu a terceira edição dos editais para financiamento de debates e de periódicos impressos de alcance nacional. Os editais são abertos a propostas de intelectuais, pensadores da cultura, artistas, instituições e grupos culturais, pesquisadores, organizações da sociedade civil e outros agentes, visando à promoção do diálogo sobre temas da agenda contemporânea. O projeto de revistas do Programa Cultura e Pensamento busca ofertar gratuitamente conteúdos de elevada qualidade a um público amplo e diversificado de leitores, através de uma rede de circulação formada por 200 pontos de distribuição em todo território nacional, entre eles instituições culturais, universidades e pontos de cultura. Ao longo dos 24 meses o projeto prevê o lançamento de 20 títulos, cada um com 6 edições bimestrais, totalizando a circulação gratuita de 1.200.000 exemplares de revistas com discussões sobre arte e cultura, oriundas de diversos estados do país. A rede abrangerá mais de 200 colaboradores editoriais de cinco regiões e 19 estados brasileiros. A edição 2009-2010 do Edital de Revistas do PROGRAMA CULTURA E PENSAMENTO tem patrocínio da Petrobras e é realizada pela Associação dos Amigos da Casa de Rui Barbosa. Este projeto foi contemplado pela seleção pública de revistas culturais do programa CULTURA E PENSAMENTO 2009/2010

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ICONO - NO

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2011

Luciana Lamothe


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Es una serie de 6 fotografías que surgen de una acción realizada en el espacio público en la ciudad de Buenos Aires. Uso un espejo y una cámara de fotos al mismo tiempo. Reflejo la luz solar en la cara de diferentes personas que circulan por la calle, busco encandilarlas, cuando esto sucede, realizo el disparo fotográfico. 10


Eu realmente digo Que eu não dou a mínima para o seu dinheiro Porque isso significa tanto para você (E todo o seu dinheiro) Por que significa tanto para você? Você fala sobre terra da ganância Eu estou falando sobre um mundo de necessidade Dinheiro não tem nada a ver Com o valor da vida Mas isso é apenas o senso comum Embrace – “Money” (1985)

arte e economia: um duplo movimento

andré mesquita

2011

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1.Prestadores de serviços

Durante os protestos do Primeiro de Maio de 2012, um cartaz com a frase “Arte é trabalho” (Art is labour) foi levado por um manifestante da Occupy Wall Street para as ruas de Nova York. Sua imagem foi compartilhada por centenas de pessoas no Facebook. Dentre os que compartilharam a mensagem do cartaz nas redes sociais estão artistas plásticos ou pessoas ligadas a alguma atividade cultural, trabalhando com conhecimento, tecnologia ou comunicação. No entanto, a palavra empregada no cartaz em inglês é labour e não work, o que denota a ideia de trabalho como “labor” e que conforme um dos sentidos apontados por Raymond Williams, refere-se a “um conjunto de pessoas disponíveis para um contrato [de trabalho]”, ou está ligado a “um movimento político e econômico.”1 Em um mundo onde ganhar dinheiro com arte é visto tradicionalmente como um passatempo, um hobby ou uma prestação temporária de serviços para uma galeria, museu ou outras instituições particulares ou públicas, às vezes como trabalho voluntário ou definitivamente como uma categoria mal-remunerada, esta frase deve ter caído sobre a cabeça de muitos como o golpe de uma dura realidade.

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Afirmar que arte é trabalho não faz desta frase uma asserção óbvia, mas um meio de assumir as próprias contradições das atividades que exercemos diariamente como trabalhadores autônomos, como membros de coletivos, dando aulas ou palestras, formando parte de uma equipe do educativo de uma exposição ou sendo a mão de obra precarizada e subcontratada no projeto de um museu ou de uma empresa.

Foi através da cooptação da organização política e do trabalho criativo que o neoliberalismo pôde emergir da crise estrutural que atingiu o capitalismo nos anos setenta. Novas tecnologias em rede, a não separação entre trabalho e lazer, longas jornadas de trabalho, pagamentos aquém do esperado, cortes e reduções, ênfase no trabalho mental, criatividade, inovação e colaboração dentro das empresas. Tudo isso permitiu que o capitalismo realizasse o seu retorno triunfante na década de noventa e tivesse a sua riqueza concentrada, cada vez mais, nas mãos de uma minoria privilegiada.

Os modos distintos de prestação de serviços e pagamento de honorários têm sido o foco de grupos e indivíduos interessados em debater publicamente estas questões. Os circuitos por onde percorrem projetos e práticas artísticas foram visualizados por dois diagramas desenhados pela artista norteamericana Lize Mogel. Em um desenho maior, Mogel expõe a circulação dos “negócios da arte”. Atividades artísticas como residências ou escolas de arte financiadas por bolsas de fundações, patrocínio corporativo e administradores. A produção do artista entra em um circuito comercial, onde se dá a atuação de colecionadores, leilões, feiras de arte e bienais. Um diagrama menor mostra o circuito de uma prática artística “sem fins lucrativos”. O artista é o agente central de sua atividade, onde o valor cultural de sua relação institucional e seu trabalho geram retornos diversos, mas a sua sobrevivência econômica está sempre atrelada ao trabalho diário realizado, ou pelos apoios financeiros recebidos por meio de fundações e governo.2

Recentemente, o coletivo Working Artists and the Greater Economy (W.A.G.E.), formado por trabalhadores da arte que chamam a atenção para as desigualdades econômicas existentes nesta área para tentar resolvê-las, publicou um relatório com dados obtidos em questionários feitos com pessoas que participaram de exposições e projetos em espaços independentes e museus situados em Nova York, entre 2005 e 2010. Dentre os diversos resultados obtidos, um de seus gráficos aponta que 58,4% dos que responderam aos questionários não receberam qualquer forma de pagamento, compensação ou reembolso pela sua participação em uma exposição, incluindo a cobertura de quaisquer despesas. “Artistas merecem um pagamento, e não apenas ‘publicidade’”, diz um dos depoimentos anônimos publicados junto ao relatório.3

Raymond Williams. Palavras-chave. Um 0 vocabulário de cultura e sociedade. São 0 Paulo: Boitempo Editorial, 2007. p. 248.

1

Este diagrama foi publicado no jornal Art 0 Work: A National Conversation About Art, 0 Labor, and Economics, 2009, editado pelo 0 coletivo Temporary Services. Disponível em: 0 http://www.artandwork.us/i/ art_work_web.pdf.

2

Outros dados do relatório, incluindo um 0 pôster com gráficos e os comentários 0 anônimos reunidos durante a pesquisa sobre 0 o trabalho e a remuneração dos artistas, 0 encontram-se em: http://www.wageforwork. 0 com/resources/4/w.a.g.e.-survey-report0 summary.

3


Tais estratégias de visibilidade sobre as condições de trabalho dos artistas visuais também foram tratadas em uma outra iniciativa lançada em 2001 por Maria Lucia Cattani e Nick Rands, com a criação de uma legenda batizada de APIC! (Artistas Patrocinando Instituições Culturais). APIC! é um logotipo inventado como resposta aos problemas relacionados às exposições de arte em instituições públicas no Brasil, quando muitas vezes o artista não tem outra alternativa a não ser aceitar o patrocínio de empresas ou marcas para cobrir os custos de sua exposição. Segundo a dupla, muitas vezes o artista costuma prestar um serviço público gratuito arcando com os custos de uma exposição, sendo “convidado” também a fazer doações de seus trabalhos para coleções públicas. Ao usar o logotipo APIC! no material de divulgação, o artista indica que os custos relacionados à montagem de uma exposição saíram de seu bolso e que não houve remuneração pelo trabalho.

O questionamento de situações de precariedade econômica inerentes a um sistema de galerias-curadores-críticosmuseus, uma possível e muitas vezes necessária ruptura institucional ou a produção crítica de outros espaços autônomos de criação cultural revelam também a crise de legitimidade vivida há pelo menos um século pelo mundo da arte e sua tentativa, muitas vezes ilusória, de se reconhecer como política. “Basicamente, quando as pessoas falam de política no campo artístico, elas estão mentindo. [...] É fácil para os artistas escutarem a injunção do museu, das revistas e do mercado dizendo ‘retrate a política para mim’.”4 Há uma grande quantidade de exemplos conhecidos os quais vemos museus, curadores e

galerias tentando gerenciar ou coreografar os eventos de práticas colaborativas e pedagógicas de coletivos e artistas solicitados a “retratar a política”. No entanto, nem sempre a resposta a isso se dá nos termos esperados pelas instituições, especialmente quando suas estruturas econômicas são seriamente questionadas.

O caso do workshop realizado pelo coletivo Laboratory of Insurrectionary Imagination na Tate Modern, em janeiro de 2010, foi bastante esclarecedor para apontar como uma grande instituição pode esconder ou se esquivar de suas relações econômicas com empresas conhecidas por atividades ecologicamente destrutivas. Ao serem convidados para realizar um workshop de intervenções com o nome de Disobedience Makes History no espaço da Tate, o Laboratory of Insurrectionary Imagination e participantes se recusaram a aceitar a censura imposta pelo museu de que não poderiam criticar seus patrocinadores. Durante o workshop, fundaram o grupo Liberate Tate e começaram a realizar intervenções que questionaram a incompatibilidade ética do patrocínio das atividades da Tate pela British Petroleum (BP), uma corporação petrolífera mundialmente famosa pelo vazamento de quase cinco milhões de barris de petróleo no Golfo do México em abril de 2010, uma empresa que usa a arte para “limpar” a sua atuação de décadas de exploração e desastre ambiental.

Em uma ação em 28 de junho de 2010, o grupo de artistasativistas derrubou penas e melaço saídos de baldes com um logo da BP sobre as escadarias do museu Tate, mar-

cando simbolicamente os 20 anos deste patrocínio corporativo. Em 14 de setembro daquele ano, 30 integrantes do coletivo entraram no espaço da Turbine Hall na Tate Modern vestidos de preto, e ali desenharam durante uma elegante performance a imagem de um girassol gigante utilizando tinta a óleo de cor preta saída de tubos com a logomarca da BP. Ao final, a obra batizada de Crude foi assinada pelo Liberate Tate e oferecida ao museu para a sua coleção.5 Com a série de protestos realizados também pelos grupos Art Not Oil e Platform, a Tate passou a rever a sua ligação com a BP.6

4

Brian Holmes. Unleashing the Collective Phantoms: Essays in Reverse Imagineering. Nova York: Autonomedia, 2008. pp. 81 e 82.

5

A história das intervenções realizadas e informações sobre o patrocínio da BP na Tate estão documentados no livro Not If But When: Culture Beyond Oil, 2011. Disponível em: http://platformlondon.org/2011/11/27/ read-online-now-not-if-but-when-culturebeyond-oil.

6

Como mostra a notícia publicada em 13 de dezembro de 2011, “Tate may not renew BP sponsorship deal after environmental pro tests”. Disponível em: http://www.guardian. co.uk/artanddesign/2011/dec/13/tate-bppartnership-environmental-protests.

13


Para o antropólogo David Graeber, o mundo da arte tornou-se “um apêndice do capital financeiro. Isso não quer dizer que o mundo da arte assumiu a natureza do capital financeiro [...], mas isso quer dizer que o mundo da arte o segue: suas galerias e ateliês se agrupam e proliferam ao redor das franjas dos bairros onde os financistas vivem e trabalham.” A arte contemporânea, diz Graeber, “tem um charme todo especial para os financistas porque ela permite um tipo de curto-circuito no processo normal de criação de valor. É um mundo onde as mediações que normalmente intervêm entre o mundo proletário da produção material e as elegantes alturas do capital fictício são, essencialmente, arrancadas.”7

Afinal, olhando a partir dessas elegantes alturas do capital, quem consegue ou quer enxergar que o mundo da arte depende de maneira direta ou indireta de uma força de trabalho essencialmente formada por artistas, pesquisadores, estudantes, estagiários, freelancers e trabalhadores eventuais vivendo sob as sombras de sua economia? Para usar uma expressão empregada pelo artista-ativista norte-americano Gregory Sholette em seu livro Dark Matter (2011), esta “matéria escura criativa” é responsável por uma produção anônima, informal e invisível que o sistema de arte não costuma reconhecer, embora seja dependente da sua força de trabalho flexível.8

A matéria escura criativa é formada por uma grande parcela do universo cultural da sociedade capitalista, composta de práticas informais como artesanato, memoriais temporários, fotografia amadora, 14

pintores de fim de semana, publicações independentes, fanzines, sistemas baseados na economia da gratuidade, blogs e galerias virtuais pela internet, indivíduos empregados por galerias, exposições e bienais na montagem de trabalhos de artistas consagrados e as formas de trabalho colaborativo, faça-você-mesmo, vernacular e flexível dos coletivos.

2.Poéticas do capital

Se algumas dessas ações realizadas por Liberate Tate e W.A.G.E. vão mais além dos meandros tradicionais daquilo que se convém chamar de “crítica institucional”, as possibilidades de intervenção em outras esferas e nos espaços urbanos torna-se algo não apenas desejável como também imprescindível. Quando artistas e ativistas passam evidenciar os processos de economia política que estão dentro do mundo da arte ou, principalmente, fora dele, buscando investigar as raízes históricas de uma crise, produzindo análises, levantamentos ou diagnósticos sobre as abstrações e os efeitos da violência do capitalismo financeiro, protestando e perfomatizando a (ir)racionalidade do sistema econômico e a sua funcionalidade por meio de imagens, gestos e símbolos, ou revelando as ligações da arte com empresas e corporações, retomam em diferentes níveis e aspectos a pergunta feita pelo poeta e ativista Joshua Clover: “o capital tem uma poética em sentido estrito?”9

“Revelar”, “desvendar”, “organizar” ou “tornar publicas” certas relações produzem muitas vezes a imagem de “cons-

telações”, como afirma Walter Benjamin, de que “as ideias se relacionam com as coisas como as constelações com as estrelas.”10 Tal imagem parece apropriada para tentar visualizar o que dizem os mercados financeiros e seus conceitos técnicos, ou a circulação dos fluxos do capital. Em seu livro sobre a história da dívida, Debt: The First 5.000 Years (2011), David Graeber explica que há anos as pessoas têm escutado sobre inovações financeiras sofisticadas através de termos como “crédito e commodities de derivativos,” “obrigações de dívida colaterizadas”, “seguridades híbridas” ou “swaps de dívida”.

Estes novos mercados de derivativos eram tão incrivelmente sofisticados história – uma relevante casa de investimentos teve de contratar astrofísicos para executar programas de troca tão complexos que nem mesmo os financistas puderam entendê-lo. A mensagem era clara: deixe essas coisas para os profissionais.11

7

David Graeber. Revolutions in Reverse: Essays on Politics, Violence, Art, and Imagination. Nova York: Autonomedia, 2011. pp. 94 e 95. Walter Benjamin. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 56.

10

David Graeber. Debt: The First 5.000 Years. Nova York: Melville House, 2011. p. 15.

11


A chance de trazer as constelações do capital para a nossa compreensão através de uma maneira não especializada, questionando sobre a sua influência no mundo em que vivemos, podem aparecer em instalações como Black Shoals, criada pelos artistas Lise Autogena e Joshua Portway e exibida em uma exposição na Tate Gallery em 2001.12 Black Shoals mostra um verdadeiro planetário em tempo real, onde as estrelas mais brilhantes dessa constelação obscura são as empresas com a maior cotação naquele dia no mercado de ações. Enquanto algumas estrelas/ empresas perdem o seu brilho, outras surgem com maior intensidade provocadas pelas mudanças de cotização13 , nos permitindo até mesmo especular sobre o lugar no qual se encontra, dentre tantas estrelas corporativas, a produção social oculta neste complexo sistema astronômico.

A imagem do ambiente virtual e especulativo de Black Shoals se organiza como um mapa. Mapas são instrumentos poderosos quando usados para visualizar as poéticas do capital, para capturar os poderes e a abstração dos mercados financeiros do ponto de vista humano. Para o coletivo francês Bureau d’Études, que vem desde 1998 produzindo mapas que detalham minuciosamente as conexões entre corporações, governos, redes de influência, indivíduos poderosos, grupos e movimentos sociais, tornar visível um diagnóstico do presente não requer apenas realizar uma denúncia da ditadura dos mercados financeiros ou do regime neoliberal, mas imaginar que fluxos de informação, poder, dinheiro e redes sociopolíticas são símbolos que precisam ter seus significados extraídos e notados. Assim, ao retratar

um mundo totalmente administrado, o Bureau d’Études transforma suas cartografias em “mapas para o fora”, em “sinais apontando para um território que ainda não pode ser totalmente determinado e que nunca será ‘representado’ nos modos tradicionais.”14 Seu trabalho cartográfico consiste em “desmembrar a informação e tornar visível aquilo que não é. [...] A cartografia permite descobrir as implicações entre as redes de produção e as redes da política, que trabalham paralelamente ao Estado mas que, de alguma maneira, também são parte dele.” 15

Convidados a participar da exposição La Normalidad (2006) em Buenos Aires, um dos temas de Ex Argentina, projeto nascido a partir da crise econômica e dos levantes populares ocorridos na Argentina em dezembro de 2001, o Bureau d’Études contribuiu com um mapa intitulado Crisis, trazendo uma extensa cronologia da crise do sistema financeiro mundial a partir da década de noventa. Em um plano dividido em três áreas, o coletivo expõe na parte superior de seu mapa informações sobre sistemas monetários alternativos. Na parte central da cartografia, “ações antiprivatização” estão representadas por manifestações e greves ocorridas na África e na Ásia. Na área inferior, uma linha narrativa sobre a história do Fundo Monetário Internacional surge paralelamente a um conjunto de datas e descrições sobre as crises ocorridas no Japão, Ásia e México, chegando ao colapso econômico na Argentina e a reação popular a ela. Em um plano geral, Crisis expõe uma geografia virtual dos mercados e o fracasso da Nova Economia e de suas promessas, como também assinala a

emergência do movimento de resistência transnacional anticapitalista nessa conjuntura, onde a revolta argentina é mostrada dentro de uma estrutura ainda maior da globalização econômica, tornando as lutas sociais e o movimento abstrato do capital perceptíveis.16 os mapas do Bureau d’Études “inspiram ações de protesto na medida em que são passados de mão em mão, aprofundando a determinação de resistir, sejam eles utilizados em conjunto ou individualmente.”17 Foi a partir de um trabalho realizado sobre gratuidade no final dos anos noventa na França que levou o Bureau d’Études a pensar a questão da autonomia artística. “Nos pareceu necessário mapear as redes que nos controlam. Compreender o mundo que nos rodeia, de sermos capaz de nos situarmos e de nos orientarmos.”18

O nome Black Shoals faz referência a Fórmula de Black-Scholes, criada em 1973 por Fisher Black, Myron Scholes e Robert Merton, e que permite calcular o valor exato de uma opção financeira.

12

Mar Canet, Jesús Rodríguez e Daniel Beunza. Derivados, nuevas visiones financieras (Catálogo da exposição). Madri, 2006. p. 27.

13

Brian Holmes, 2008. p. 52.

14

Gabriela Massuh (ed.). La Normalidad (catálogo da exposição para o projeto Ex Argentina). Buenos Aires: Interzona Editora, 2006. p. 226. 16 Ver a descrição de Brian Holmes sobre Crisis e o pdf deste mapa em: http://bureaudetudes. org/2006/01/20/crisis-2006. 15

Brian Holmes, 2008. Idem.

17

Trecho de uma entrevista realizada por André Mesquita com o Bureau d’Études em maio de 2006.

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Símbolos da crise financeira de 2008 foram reunidos na obra Bankrupt Banks (2012), do coletivo dinamarquês Superflex. Uma série de 24 bandeiras pintadas com as logomarcas de bancos que declararam falência ou foram comprados por outros bancos, governos ou entidades privadas. Sem os nomes dos bancos e apenas representados por suas iconografias, os logos que antes exibiam confiança, austeridade e solidez em propagandas ou nas ostentosas entradas de suas agências, aparecem agora como marcas das falhas e colapsos de um sistema global financeiro que reestruturou as esferas organizacionais, políticas e tecnológicas, assim como a nossa vida cotidiana e a emergência dos movimentos sociais que estão agora protestando nas ruas e ocupando os espaços públicos contra as condições de exploração e dominação desse sistema, buscando uma mudança real e concreta.

Em um artigo recente, Gregory Sholette atesta que as ocupações como as de Wall Street não abarcaram simplesmente a invisibilidade de práticas artísticas muitas vezes nãoreconhecidas pelo mundo da arte. Ao contrário, essas manifestações foram capazes de proclamar o seu próprio território cultural.19 Nos últimos meses, ocupações espalhadas nas praças de diversas cidades do mundo, como Madri, São Paulo, Oakland e Londres, viveram enfrentamentos com a polícia, produziram ações diretas e intervenções criativas, organizando também arquivos públicos e abertos que foram além de uma estrutura material, constituídos por um emaranhado de histórias, tramas, relatos e experiências. Curiosamente, alguns museus estão recolhendo fotografias, 16

documentos, faixas e cartazes produzidos nas manifestações e organizando os seus arquivos institucionais. Um dos organizadores de um arquivo da Queens College em Nova York tentou justificar este trabalho de coleção dos materiais de Occupy Wall Street dizendo o seguinte: “Occupy é sexy. Soa maneiro. Um monte de gente que estar associado a isso.”20

Embora a cooptação institucional desses arquivos me parece praticamente inevitável, a arte passa a ter outros usos que não são normatizados em seu sistema tradicional. Se a arte não está visível, ela escapa do controle, da prescrição e de sua regulação. Seus usuários constituem uma comunidade baseada em uma experiência comum21 de construção de ferramentas táticas, visuais e políticas. Alguns conseguem materializar radicalmente esta experiência, como foi o caso da intervenção desencadeada por um grupo de ativistas em 2010, que levou um gigantesco martelo prateado inflável – produzido pelo coletivo Eclectic Electric – para os protestos contra a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em Cancun, no México. Em diversos momentos, grupos de pessoas corriam com o martelo inflável sobre a barreira policial, ou lançavam-no para o outro lado. Nesses carnavais de resistência e de ativismo criativo, uma enorme “obra de arte” assumiu o seu valor de uso e incorporou a máxima que nenhum mercado financeiro ou instituição pode expropriar a: de que a arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo.22

Gregory Sholette. “Occupology, Swarmology, Whateverology: the city of (dis)order versus the people’s archive”, 2011. Disponível em: http://artjournal.collegeart.org/?p=2395.

19

Christian Salazar e Randy Herschaf. “Occupy Wall Street: Major Museums And Organizations Collect Materials Produced By Occupy Movement”, 2011. Disponível em: http://www.huffingtonpost. com/2011/12/24/occupy-wall-streetmuseums-organizations_n_1168893. html?ref=new-york&ir=New%20York.

20

Stephen Wright. “Users and Usership of Art: Challenging Expert Culture”, 2007. Disponível em: http://transform.eipcp.net/ correspondence/1180961069.

21

A história desta ação está registrada no livro El Martillo Project, organizado pelo Electric Electric em 2012. Disponível em: http://www. minorcompositions.info/?p=357.

22


Lize Mogel. Two Diagrams: The Business of Art and The Non-Profit Art Practice, 2009. 17 


BEFORE OR AFTER

2011

Installation with series of collages, glass Various dimensions

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Anetta Mona ChiSa & Lucia TkáCová


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CONTEMPORARY BRAZILIAN POLITICS 2011

ERIK VAN DER WEIJDE

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foi filmado entregando pacotes de dinheiro para vários aliados de seu chefe renunciou para evitar um impeachment por corrupção, mas agora está de volta ao Senado ninguém foi para a prisão um escândalo de compra de votos que quase destruiu o governo do presidente foi detido em um aeroporto com 100.000 dólares na cueca e mais dinheiro em sua bagagem ex-presidente, é o apego ao seu trabalho como líder do Senado, apesar das alegações de má administração permanece no Senado, apesar das alegações de corrupção

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está sob investigação imagens de meio milhão de dólares em notas, encontradas no escritório de seu marido, foram transmitidas na televisão é relatado que os cobradores de impostos freqüentemente pedem subornos para relaxar avaliações e inspeções segundo ministro renuncia em um mês em meio a acusações de corrupção uma empresa que ele fundou aumentou seu valor em 50 milhões de reais ($ 32 milhões), dois anos depois de ter sido fundada com um capital de 60.000 reais uma empresa que se beneficiou de contratos cedidos pelo Ministério dos Transportes pediu demissão em meio a alegações de que ele usou sua posição para enriquecer a si mesmo 25


descobriu que sua fortuna cresceu 20 vezes durante um período de quatro anos, enquanto ele era um legislador ele deixou o cargo após alegações de que ele participou de um esquema do governo para subornar parlamentares para votar em projetos de determinado partido no poder e 50 outros funcionários, em desvio de verbas de obras públicas para projetos fraudulentos dezenas de parlamentares acusados de superfaturar a compra de ambulâncias e embolsando o dinheiro fazer acordos financeiros com os operadores de máquinas caçaníqueis ilegais flagrado com milhares de reais enfiados na cueca

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estima-se que tão pouco quanto um terço dos recursos do governo atingiu suas metas destinadas cerca de 10 por cento das verbas federais destinadas para os municípios do Brasil desapareceu uma recente auditoria revelou que de US $ 7 bilhões em contratos postais, por exemplo, pelo menos US $ 180 milhões estão relacionados como perdas pela corrupção apesar de milhares de pessoas serem acusadas de corrupção, poucos foram condenados um bom advogado pode esticar um caso de corrupção por 10 à 20 anos nos tribunais o chefe do comitê de ética do Senado se demitiu após ser acusado de obstrução a uma investigação sobre o presidente do Senado

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seu ministério agiu de forma inadequada, incluindo aceitar subornos na atribuição de contratos com o governo também é acusado de ter utilizado fundos ilícitos para financiar as campanhas eleitorais de seus membros e aliados foi acusado de corrupção e lavagem de dinheiro ele nega as acusações foi indiciado por acusações de corrupção quatro diretores de um banco privado também foram indiciados, acusados de fazer empréstimos fraudulentos que realizou diversos contratos com o governo, está enfrentando acusações de corrupção e lavagem de dinheiro nenhum dos parlamentares envolvidos até agora têm sido indiciado 28


a maioria está concorrendo à reeleição embolsar um envelope que se diz conter RS 50.000 um grupo de congressistas foi ficando rico às custas dos contribuintes acusado de roubo de fundos públicos o Brasil continua a ser um lugar onde há uma grande quantidade de roubo de alto nível que são pagos para não comparecer a empregos no governo ameaçar o jornalista por causa de artigos que revelaram a corrupção na prefeitura recebiam propina de empresários

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LOBÃO

2010

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ALEXANDRE VOGLER


”Juntos pelo rio: Eduardo Paes, Rosinha Garotinho, Sergio Paes e Crivella”

”O candidato a prefeito Eduardo Paes beija mão do governador Sergio Cabral”

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15/02/2012, 16:55h, Rua Humaitá, Rio De Janeiro

DETER-SE NOS TELHADOS 34

luz broto

16: 50 h, 15/02/2012


15/02/2012, 19:20h, Avenida Vieira Souto, Rio de Janeiro

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16/02/2012, 19:00h, Rua do Catete, Rio de Janeiro

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24/02/2012, 09:00h, Rua Saint Hilaire, São Paulo

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O ataque que invade as camadas das concentrações E a intenção que sugere ou supere as percepções, Ultrapassa a concepção do que já existe, Tendo em vista a questão pública e total Entre as quais todas as camadas estão submetidas. Um movimento chama a intenção necessária do coletivo que se preze, Nas questões totais de pessoa pra pessoa. Pra que público o discurso se refere? Pra que situação a crítica retribui às idéias e aceitações de um todo? O individual permanece o mais forte? O que constrói a comunicação geral? O que é deus perante os passos E os devaneios desses novos loucos deuses? Destas novas crenças públicas? Dessa nova massa cinzenta?

“O ATAQUE“ 38

FÊ LUZ

1999/2000


DECADENCE AVEC ELEGANCE

marcelo cidade

2012

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CARTAZES: POR OUTRAS PRÁTICAS E ESPACIALIDADES 44

poro

2010/2011


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CONTRA-GOLPE Troca de emails, ação e processo

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C.L. Salvaro

2012


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LAJE # 8 (AMEAÇAS) Concreto armado e papel 20 x 30 x 4 cm

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2012

matheus rocha pita


LAJE # 19 (HERZOG)

2012

Concreto armado e papel 22 x 44 x 2 cm

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LAJE # 16 (PNEUS)

2012 Concreto armado e papel 20 x 30 x 2 cm

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LAJE # 10 (DIREÇÃO)

2012

Concreto armado e papel 22 x 44 x 2 cm

LAJE # 13 (GOL)

2012 Concreto armado e papel 22 x 20 x 2 cm

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ANTICAPITALIST MUSEUM 2012 Desenhos, pinturas,colagens, gravura, livros e objetos , dimensões variáveis

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fabio tremonte


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Postal Sur del Lago (de la serie paisajes irreversibles)

2012

ImpresiĂłn digital y vinyl sobre papel 72 x 50 cm

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LUIS ROMERO


Postal Lago de Maracaibo (de la serie paisajes irreversibles) 2012 ImpresiĂłn digital y vinyl sobre papel 72 x 50 cm

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μεταφ Etimologia Do grego antigo μεταφοράou (metafora) (“transporte”, “mudança”), pelo latim metaphora. Datação: século XIV

From μεταφέρω (metapherō, “transfer”)

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οράou Substantivo me.tá.fo.ra 1- (Retórica) tropo em que há a substituição de um termo por outro, criando-se uma dualidade de significado 2- (Retórica) palavra ou expressão empregada por metáfora μεταφορά (genitive μεταφορᾶς) f, first declension; (metaphora) 1- transference 2 - (rhetoric) metaphor, trope 61


EDITORIAL 75 Este número de recibo registra a décima edição em seu décimo ano1 de (d)existência. Recibo 75 não é uma “edição especial de aniversário”; o projeto editorial surge como uma metáfora da realidade que reúne uma série de trabalhos em diálogo com seu tema subjetivo e abstrato. Por mais direto e óbvio que seja o resultado da forma de gestão do sistema capitalista hoje2, as páginas deste recibo integram uma tentativa clara e direta de evidenciar a crítica e a reflexão do pensamento. O “sub-texto” deste recibo, μεταφοράou (metaforá) que na tradução em grego significa “mudança”, “transporte”, surgiu de uma série de encontros in situ com a realidade ao redor – dos dez meses sem receber o valor contratado do Programa Cultura e Pensamento até as revoltas internacionais registradas nas redes sociais - passando pelos infindáveis casos de corrupção e regalias de nossos políticos – tudo isso foi base para pensar o projeto editorial do recibo 75. De setembro de 2011 a setembro de 2012, a quantidade de revoluções que se presenciaram pelo mundo não se restringem a cinco ou seis atos de significativo destaque; pelo contrário, a intensidade das manifestações coletivas aumentaram em grau e número, de maneira tal que os governos não conseguem mais bloquear sua difusão pública. Egito, Líbia, Síria, EUA, Espanha, Grécia – e União Européia em geral - são apenas alguns exemplos que viram seus sistemas ruírem e sua população em revolta máxima nas ruas, consequência das sucessivas crises econômicas dos últimos anos na Europa e também de governos ditatoriais no Oriente Médio. A revolução do acesso `a informação que a rede social hoje desempenha na vida das pessoas em seus domicílios - ou onde quer que se esteja com seus telefones inteligentes - é o novo vício ou síndrome da informação e difusão instantânea que ao mesmo tempo é urgente e banal. Viver nessa ambiguidade que o mundo online-off hoje nos proporciona é o paradigma. Incorporar crítica e reflexão dentro desse contexto é um dos princípios que “des-regem” a publicação recibo, quer seja patrocinada pela Petrobrás com dez mil exemplares de distribuição gratuita, ou sendo auto-financiada com cinquenta cópias ou mil exemplares de recibos (sempre) grátis. Especificamente esta coleção Petrobrás de recibo do Programa Cultura e Pensamento do Ministério da Cultura aglutina em sua produção e edição um período tortuoso que só um programa de governo e sua respectiva mudança de gestão (2010-2011) podem (não) explicar. Por mais que paralisar por um ano um projeto patrocinado não seja mais relevante ao futuro desse contexto irrisório que se institui apenas na leitura ou no “folheamento” dessas páginas, é essencial registrarmos aqui uma total “inoperância dos usuários do sistema em reclamar por qualquer coisa”. Dentro e fora desse contexto específico em que os processos públicos se envolvem, reuni uma série de trabalhos e intervenções que se referem `a metáfora da crítica e também `a abstração e `a subjetividade. Intervenções como a da dupla de espanhóis que vivem em Berlin, PSJM - I love the system, ou o trabalho da dupla de artistas de Madrid, Democracia - com o “demus contra cracia”, direcionam o tom da manifestação que recibo publica. Na pesquisa para o projeto editorial, acabei adquirindo a Revista Mensal de Cultura Política – Problemas, que em seu título deflagra uma ótima provocação, sobretudo quando sabemos quem é o diretor do sexto número publicado no Brasil em 1948, Carlos Marighella3. A referência histórica que convocamos com a inserção metafórica da revista Problemas não se resume apenas `a questão política, mas `a valorização da resistência contida na imagem da capa. Outra referência não menos histórica e muito atual é a intervenção de Erik van der Weijde que reproduzimos 62


- numa versão em português especial para recibo - de seu fanzine Contemporary Brazilian Politics4. Todas as frases nos são muito conhecidas por suas reproduções em tele-jornais e outros meios de comunicação, que de tanto citadas nos soam como um mantra que (quase) não surte mais efeito para fins de reivindicação de algo ou de punições ou restrições das regalias, ou mesmo uma (mais que necessária), Reforma Política Brasileira. As fotomontagens das artistas romenas Anetta e Lucia que gentilmente cederam seus trabalhos (numa conversação de email via google translate!) evidenciam essa esfera subjetiva dos signos das imagens que também servem muito bem para retratar não só o tempo pelo qual passamos, mas demonstram a matéria da qual temos muito conteúdo para explorar como linguagem (sampler e remix das imagens e informações no mundo). A série de fotografias da artista argentina Luciana Lamothe também destaca o que está “óbvio “ justamente pela sequência de sentidos de um trabalho para o outro nessas páginas do recibo75... Não querer ver o que representam certas atitudes hoje é uma opção e até uma profissão, digamos, mas as evidências estão todas aí para quem quiser se alimentar de uma certa raiva, que como disse um amigo, há que se cultivar para no mínimo revelar o problema e não se acomodar na ilusão de que tudo está ok. A resistência aqui, até parece que se funde com a palavra utopia... e citando Paulo Freire numa “nãoleitura” de um post da rede social: A postura utópica é a postura que vive, entende, e se experimenta na tensão entre a denúncia e o anúncio. Qual a importância ou eficácia da crítica hoje? Ou mesmo do contragolpe? Ou nas próprias palavras de Fê Luz (performado por ela e Traplev no Centro de Artes da UDESC em Florianópolis no início dos anos 2000): Pra que público o discurso se refere?Pra que situação a crítica retribui às ideias e aceitações de um todo?O individual permanece o mais forte?O que constrói a comunicação geral? O que fazer se o fracaço é eminente quando se aborda a resistência em prol de um bem público... ou mesmo da própria prática artística como ferramenta para reflexionar todo o contexto - e que realmente não tem utilidade nenhuma5 segundo os preceitos do mercado e da economia? As palavras inventadas de Jorge Menna Barreto demonstram essa dicotomia quando ele junta a palavra “aço” e “fraco” para criar FRACAÇO. Sentido parecido acontece com a palavra criada DEXISTIR, que se transformam em tapetes... As “metáforas da mudança”, nesse sentido estão todas aí e reúnem numa ideia sentidos opostos que juntos se fortalecem justamente tentando evidenciar a reflexão sobre as coisas. Nas fotos de Luz Broto, nas intervenções de Marcelo Cidade, nas lajes de Matheus Rocha Pitta, na poesia de Fê Luz, nos cartazes do grupo Poro, nos desenhos de Alexandre Vogler, no texto de André Mesquita, na intervenção de Roberto Winter, na proposta de C.L. Salvaro, na coleção de Fabio Tremonte e nas imagens do artista venezuelano Luis Romero, recibo evidencia justamente o que nos alimenta: a potência do pensamento e da iniciativa crítica para dispersão. Traplev Recife de setembro de 2012.

_____________ Recibo surgiu em 2002 na cidade de Florianópolis com um grupo de artistas que financiou sua primeira edição, onde o governo estadual de Santa Catarina até hoje insiste em ignorar a produção cultural local e externa a ela. 2 Apesar de não haver um ideal de gestão para o sistema vigente, digamos que há formas de mudanças (metáforas) que podem contribuir para uma melhor fruição do sistema, seja lá qual for. 3 Foi um político, guerrilheiro e poeta brasileiro, um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar a partir de1964. 4 Para maiores informações sobre a publicação: http://www.4478zine.com/2010publications.htm 5 Dentro dos projetos editoriais de recibo, a edição de número seis - recibo 88, publicou entre outras reflexões de outros autores sobre o tema, a tradução do texto de Georges Bataille intitulado “O paradoxo da utilidade absoluta”. Recibo 88 assim como os demais números estão disponíveis na plataforma online: http://issuu.com/recibo/ 1

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EXPEDIENTE 75 _ recibo75 _ ano dez _ número dez _ produção: Edições Traplev Orçamentos _ administração: Fundação Hassis _ projeto editorial 75 e editor geral de recibo: Traplev _ projeto gráfico 75: |||||||||||||||||||| _ revisão texto editorial: Bárbara Wagner _ consultoria da palavra em grego: Maria Sideri _ conselho editorial 75: Amilcar Packer e Guilherme Altmayer Recibo agradece em especial a todos os colaboradores por cederem seus trabalhos impressos para a publicação deste número. Agradecimentos e desculpas gerais (esse recibo não seria possível sem a ajuda e compreensão dessas pessoas): Francini Barros, Isabel Ferreira Zarzuela, Eduardo Bonito, Icaro dos Santos, Helmut Batista, Amilcar Packer, Pipa, Vanessa Damasco, Julia Amaral, Priscila Gonzaga, Jorge Menna Barreto e a minha família. Um salve especial a Matias Moreira Barros que nasceu no meio desse período. Crédito das intervenções: _ Intervenção na capa e nas pags. 28 e 29: Jorge Menna Barreto; _ Imagem da Revista Mensal de Cultura Politica – Problemas: acervo Traplev; _ Intervenção editorial das pags. 56-59: Traplev; _ Intervenção da pag. 61 e 62 do artista paulista Roberto Winter; _ Imagem I Love the System da dupla de artistas espanhóis radicados em Berlim PSJM; _ Imagem demus contra cracia (ação urbana de stencil e adesivos) da dupla de artistas espanhóis Democracia; Sobre o trabalho de Luz Broto entre as pags. 34 e 37: _ fotografia: Sofia Caesar, Nicolás Llano Linares, Martín Vitaliti. _ agradecimientos: Sofia Caesar, Daniela Castro, Rodrigo Garcia Dutra, Daniel Gorin, Celso Gouveia, Nicolás Llano Linares, Glaucia Mayer, Gleice Mayer, Danielle Meres, Felipe Meres, Leo Motta, Eduardo Pacheco, Amilcar Packer, Airton Protencio, Eduardo Rodrigues, Lucas Sargentelli, Daniel Steegmann, Martín Vitaliti. _ impressão 4\4 _ 64 páginas _ tiragem de 10 mil exemplares _ sem periodicidade _ produzido entre setembro de 2011 a setembro de 2012 entre o Rio de Janeiro e Recife _ impresso na Gráfica Ediouro - RJ no Brasil entre fevereiro e março de 2013 _ distribuição nacional gratuita: Programa Cultura e Pensamento/MINC _ contato: recibo0@gmail.com _ http://issuu.com/recibo _ facebook: traplev orçamento MINISTÉRIO DA CULTURA Marta Suplicy – Ministra de Estado SECRETARIA DE POLÍTICAS CULTURAIS Sergio Mamberti – Secretário ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DA CASA DE RUI BARBOSA João Maurício de Araújo Pinho – Presidente SELEÇÃO PÚBLICA DE REVISTAS CULTURAIS DO PROGRAMA CULTURA E PENSAMENTO 2009/2010 Sergio Cohn - Coordenador 64


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C om e p ça de ela r a po lin qu nt ha eim os ar .

©PSJM


recibo75 Ministério da Cultura

Apoio

Realização Ministério da Educação Secretaria de Políticas Culturais

Ministério da Cultura

Esta publicação foi contemplada pela seleção pública de revistas culturais do Programa Cultura e Pensamento 2009/2010

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Apresentam


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