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2.3 Categoria e Gênero
from Flor do Ártico
by Rede Código
do dia-a-dia. Por conta da falta de representatividade e/ou desta distorção da mesma, algumas realidades, sejam boas ou ruins, acabam não sendo mostradas.
Figura 21 - Linha do Tempo do Movimento LGBTQIAP+ / Tabela feita pela Caramelo
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2.3CategoriaeGênero
O telefilme Flor do Ártico é uma média-metragem. Importante destacar que internacionalmente tal denominação não encontre amparo (já que nos Estados Unidos e no Reino Unido não utilizam a denominação “média-metragem”), pois para a Academia de Artes e Ciências Cinematogŕaficas o American Film Institute e o British Film Institute, filmes abaixo de 40 minutos são considerados curtas-metragens, e acima desta duração são considerado longas-metragens No Brasil, a Medida Provisória nº 2228, de 6 de setembro de 2001, define em seu 1º capítulo, “das definições” no artigo 1º, inciso § VIII, “média metragem como obra cinematográfica ou videofonográfica [...] aquela cuja duração é superior a quinze minutos e igual ou inferior a setenta minutos”. Isto ocorre por se tratarem de obras consideradas curtas para se passarem em lançamento comercial convencional, ou seja, em salas de cinema. Por ser um filme, sua categoria é entretenimento que tem como objetivo de acordo com Aronchi de “ divertir, chocar, estimular ou desafiar a audiência mas despertando sua vontade de assistir, isto é entretenimento.” (ARONCHI, 2004). Na arte, o drama pode ter diversos significados, sendo o mais forte um conjunto de textos que se tem como principal objetivo serem encenados e dramatizados, o gênero se divide entre a tragédia e comédia e possui algumas particularidades, como ressalta Loureiro “A história é contada através das falas dos personagens, a narrativa pode ser tanto em diálogos, como em monólogos [...] e encenação gestual e sonora”. Por falta de uma terminologia mais atualizada, Flor do Ártico, também será classificado em seu formato como telefilme, de acordo com o dicionário Dicio a etimologia da palavra telefilme, vem de “tele” de televisão com a junção de filme. Seu significado é “filme desenvolvido para ser exibido em televisão, normalmente mais curto do que um filme normal (longa-metragem).” ou seja, refere-se a produções audiovisuais associadas a cinema, mas que têm como seu meio de divulgação a TV. Aronchi em seu livro “Gêneros e formatos na televisão brasileira” descreve o gênero filme como atrelado “pelo produtor e distribuidor [...] cede lugar para a classificação divulgada pela rede televisiva”. No cenário mais atual seria os serviços de streaming que se atrela tanto com o que Aronchi escreve sobre filme que “o cinema brasileiro de todas as
épocas têm lugar na programação de algumas emissoras”. Quanto a visão da categoria outros, que associa uma multiplicidade de reprodução. Por conta da narrativa se tratar de personagens consideradas novas, também se pode afunilar o gênero para o Young Adult (Jovem adulto) que trata-se de um tipo de narrativa que acabou tendo mais destaque por conta da comunidade literária, com seus protagonistas jovens, geralmente em fase escolar do ensino médio ou início da faculdade. De acordo com Loureiro (2020) “Young Adult [...] inclui temas sensíveis como a morte, a depressão, a sexualidade, o bullying, doenças, aceitação ou rejeição por parte da sociedade e temas pesados e densos como, [...] a violência, álcool, drogas e a busca por uma identidade.”. Enquanto o coming of age se trata de outra vertente desta narrativa que trata-se de um tipo de história sobre amadurecimento, onde se é enfatizado o crescimento do protagonista de uma juventude para a idade adulta, ou com mais responsabilidades. Este tipo de narrativa tende a enfatizar o diálogo ou monólogo interno, e é um tipo de história que pode falar do primeiro amor, do primeiro amigo, do primeiro amor, enfatizando o que um ser humano entende sobre crescer.
2.4ViolênciaEntrePessoasQueJáSãoMarginalizadas
Embora não seja o principal da narrativa, um ponto que acabará sendo abordado é o de relacionamentos abusivos entre pessoas LGBTQIAP+, definindo o que é violência, segundo a OMS, é o uso de força física ou de poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação, Menezes (2017) agrupa violência em: física, sexual, psicológica, por privação ou abandono [...] Quando se trata de direitos humanos, a violência abrange todos os atos de violação dos direitos: civis, sociais, econômicos, culturais e políticos. No filme a personagem Clarice está saindo de um relacionamento abusivo de sua namorada, enquanto começa a se relacionar com Laura, não queremos romantizar isto, e nem é o foco da produção mostrar uma personagem que faz parte de um grupo já marginalizado sofrendo ainda mais, mas queremos mostrar brevemente que estes tipos de relacionamentos podem ocorrer com pessoas pertencentes ao grupo LGBTQIAP+, e que isso não ocorre por conta de gênero ou sexualidade e sim por se tratar de seres humanos que possam demonstrar algum tipo de agressividade por conta do passado e da sua criação.
Este tipo de agressão são pouco tratadas e discutidas no geral. Isso faz com que esta problemática só venha a ser vista com algo “comum", decorrente, e realmente problemático, em relacionamentos tidos como heterossexuais cisgênero. Este pensamento ocorre pela sociedade possuir em sua construção a base de relações patriarcais, sexistas e machistas. A história foi contada por homens, brancos, héteros e cisgênero, e essa narrativa prejudica nossa sociedade em inúmeros aspectos. Considerando-se que não tivemos o ponto de vista do “outro”, e que hoje, mesmo com os avanços da sociedade, ainda se necessita fortemente de uma ressignificação da figura queer,e do relacionamento desses, temos questões que são apagadas. É um ponto válido querer retratar um relacionamento queer apenas de uma forma positiva, e envolver algo abusivo envolvendo a comunidade requer extrema cautela, pois o “passo” que a nossa, ainda cis-heteronormativa sociedade, irá tomar saindo de “nesta obra temos um casal aquiliano abusivo” para “todos são”, não é muito longo. Porém, todo e qualquer tópico “sensível” requer cautela, temos inúmeros filmes sobre casais héteros que retratam essa narrativa, ou outras como depressão, ansiedade, violência doméstica. Pensar apenas em fingir que um problema não existe, apenas o excluindo, faz com que a voz de quem passa pelo mesmo seja silenciada. De acordo com Silva (2021) ações abusivas [lgbtqiap+] são invisibilizadas tornam-se cada vez mais frequentes, gerando danos às pessoas envolvidas, gerenciando um ciclo de mal-estar psicossocial, que penetra subjetividades e se destrincham em baixo autoestima, angústia, ansiedade e depressão. Mas Silva também ressalta que nenhuma relação começa sendo abusiva, que é algo que vai sendo construindo com o tempo, e também comenta que a vítima não é responsável pela manutenção da relação, nem por estar passando por essas violências, e que também estes moldes de relações surgiram por conta das normas sociais, construções discursivas e produções de subjetividades.
3.BíbliadeProdução
3.1TítulodoProjeto
Flor do Ártico ganhou este nome por conta de um dos diversos poemas de Emily Dickinson, que foi uma das poetas mais importantes do século XIX, por sua escrita já ter contribuído para construir os fundamentos da poesia moderna. De acordo com Laura Aidar a poetisa ficou conhecida como a “Grande Reclusa” pelo fato de nunca ter se casado, nem saído da casa dos pais, além de ser considerada uma pessoa extremamente solitária. Em vida não publicou mais do que 10 poemas, e alguns deles de forma anônima, foi somente após sua morte em 1886 que sua família encontrou e publicou quase 1800 poemas de Emily, mas que por conta da época foram editados para se adequar às normas das sociedade da época, uma destas edições foi a retirada do nome “Susan” de diversos poemas, sendo One Sister have I in our House, uma exceção, por acabar em tradução livre com: “Sue - para sempre.” De acordo com Augusto de Campos na introdução do livro Emily Dickinson: Não Sou Ninguém - Poemas “Cruzam-se em sua poesia, os traços de um panteísmo espiritualizado, de uma solidão-solitude, ora serena ora desesperada, e de uma visão abismal do universo e do ser humano. Micro e macrocosmo compactados em aforismos poéticos”. (CAMPOS, 2008) Marcus Mordeca complementa ao descrever algumas características de escrita de Emily e sobre as edições mencionadas acima:
“As obras que chegaram a ser publicadas foram editadas e alteradas para se adequarem à norma social da época, nestas alterações foi excluído o nome de Susan Gilbert, amante da poeta [...] A sua poesia é caracterizada por conter linhas curtas e não ter título, e traz como temática a morte e imortalidade, e também exploram estética, natureza e espiritualidade. ” (MORDECA, s.d.)
O poema que deu título é o “As if some little Arctic Flower”:
Como se uma pequena flor do Ártico Na orla polar –Descesse errante pelas Latitudes Até confusa chegar A continentes de verão –A firmamentos de sol –A estranhas, brilhantes multidões de flores –E pássaros, de língua sem igual!