ORAÇÃO DO ANO DA MISERICÓRDIA Ó Pai, rico em misericórdia e cheio de bondade, neste ano a Igreja nos convida a viver a misericórdia, como ato supremo pelo qual viestes ao nosso encontro em Jesus de Nazaré. Como educadores lassalistas, unimo-nos à missão da Igreja de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho. Nós vos pedimos, ó Pai, que a misericórdia seja entre nós fonte de alegria, serenidade e paz, para ver com olhos sinceros, os nossos irmãos e irmãs, e abrir o nosso coração à esperança. Ajudai-nos, Senhor, para que neste Ano da Misericórdia, cada palavra, gesto e atitude nossa seja de abertura, disponibilidade, compreensão, acolhida e perdão. Amém.
ORACIÓN DEL AÑO DE LA MISERICORDIA Oh Padre, rico en misericordia y lleno de bondad, en este año la Iglesia nos invita a vivir la misericordia como un acto supremo, por el que viniste a nuestro encuentro en Jesús de Nazaret. Como educadores lasallistas nos unimos a la misión de la Iglesia de anunciar la misericordia de Dios, con el corazón ardiente de Evangelio. Nosotros te pedimos, oh Padre, que la misericordia sea entre nosotros fuente de alegría, serenidad y paz, para mirar con ojos sinceros, a nuestros hermanos y hermanas y abrir nuestro corazón a la esperanza. Ayúdanos, Señor, para que en este Año de la Misericordia, cada una de nuestras palabras, gestos y actitudes sean de apertura, disponibilidad, comprensión, acogida y perdón Amén.
VIDA RELIGIOSA APOSTÓLICA A Carta “Verde” do Papa Francisco O Rosto da Misericórdia
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O Desafio Proposto pela Regra Revisada
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Experimentar a Bondade e a Ternura de Deus
MATÉRIA DE CAPA
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Misericordiosos como o Pai
REFLEXÃO E PARTILHA
32 Corporación de Amigos de La Salle 39
Amadurecimento Espiritual e Humano
Nuevo Colegio La Salle Beira, Mozambique
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Refectorio Solidario San Juan Bautista de La Salle O Irmão Enquanto Gestor
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Por uma Vida que Valha a Pena
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Ano da Misericórdia: Algumas Provocações
EVENTOS
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3º Painel da Comissão de Formação e Vida Consagrada Uma Jornada Valorosa
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Encontros dos Irmãos por Regiões Projeto Escola Lassalista
AGENDE-SE
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Cronograma de Atividades
RELAL
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Plano de Ação Regional e o Ano da Misericórdia
GESTÃO
Novos Horizontes
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PASTORAL VOCACIONAL
Cultura Vocacional e Estratégias
ESPECIAL
Trajetórias de Fé e de Dedicação
SUGESTÕES CULTURAIS
Reflexões pela Leitura
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Estimado leitor:
O Ano Santo da Misericórdia Capa: Setor de Comunicação e Marketing Obra: Bartolomé Esteban Murillo Fonte: http://www.wga.hu
No início de dezembro, começou um tempo especial para a Igreja Católica e para todos nós: a abertura oficial do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, convocado por Papa Francisco. Seu sentido é contemplar o mistério da misericórdia como fonte de alegria, serenidade e paz. Como nos recorda o Pontífice na Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (Misericordiae Vultus), este ano jubilar quer celebrar o modo misericordioso do agir de Deus desde os primórdios da nossa história. O Jubileu é tempo favorável para nos voltarmos a Deus de todo coração, para louvar e agradecer com júbilo pelas graças recebidas; mas é também tempo conveniente para acolher graças especiais de Deus, por meio do serviço da Igreja, e para buscar mais intensamente o encontro com Ele e com os irmãos e irmãs. Por isso, nesta edição, a Revista Fraternitas compartilha com você as temáticas que abarcam o Ano Santo da Misericórdia, que se estenderá até 20 de novembro de 2016. Este assunto permeia Fraternitas em textos, relatos e experiências vivenciadas pelos Irmãos na Província La Salle Brasil-Chile e no Instituto. Na Matéria de Capa, são compartilhadas reflexões a partir do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Na publicação também é oferecida uma variedade de conteúdos, artigos e pensamentos sobre a Vida Consagrada e suas dinâmicas na Província.
Provincial: Ir. Edgar Nicodem Diretor de Missão: Ir. José Kolling
A seção inicial, Vida Religiosa Apostólica, fala sobre a Encíclica Laudato SI’, a chamada “Carta Verde” de Papa Francisco, e a importância do documento para fazer florescer a sustentabilidade no planeta. Nesta seção você também vai ver como o Santo Padre fala sobre a misericórdia e um texto sobre o desafio proposto pela Regra Revisada para a compreensão e a vivência dos votos. A seção Reflexão & Partilha oferece análises dos livros “O sofrimento de uma vida sem sentido – caminhos para encontrar a razão de viver”, de Viktor E. Frankl, e “Amadurecimento espiritual e humano”, de Anselm Grün e Christiane Sartorius, além de outros textos sobre projetos e iniciativas que acontecem no Chile e em Moçambique, e um sobre o papel do Irmão enquanto gestor. A respeito do Projeto Provincial, na seção Gestão, o Ir. Edgar Nicodem, Provincial, fala sobre a importância deste norteador para a trajetória de Irmãos e de Colaboradores na Província. Também são apresentados neste número o Plano de Ação da Região Latino-Americana Lassalista (RELAL), a Cultura Vocacional, os Encontros de Irmãos por Regiões, entre outros temas. Uma boa leitura a todos! Viva Jesus em nossos corações! Para Sempre! Irmão Marcelo Cesar Salami – Diretor de Formação
Realização: Direção de Formação e Setor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle Edição e Reportagens: Gabriela Boni – Mtb 15441
Diretor de Formação: Ir. Marcelo Cesar Salami
Revisão: Ir. Marcelo Misturini
Diretor de Gestão e Ecônomo: Ir. Olavo José Dalvit
Apoio na Tradução para Espanhol: Ir. Aldo Aedo Aliaga
Secretário Provincial: Ir. Antônio Cantelli
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Diagramação: Rogério Jesus Theisen
*Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores.
A Carta “Verde” do Papa Francisco Alberlan Martins Coelho Comunidade La Salle Noviciado – Porto Alegre/RS Leandro Sousa Brito Comunidade La Salle Pão dos Pobres – Pré-Noviciado – Porto Alegre/RS Fábio Mesquita de Azevedo Comunidade La Salle Noviciado – Porto Alegre/RS
Motivações e eixos transversais à Encíclica
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audato SI’, mi’ Signore’! é o título da carta aberta do Papa Francisco que trata de uma ecologia integral. Francisco procura unir a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável. Desse modo, aponta formas de construir um futuro melhor para os jovens, sempre com um olhar crítico à crise do meio ambiente e ao sofrimento dos excluídos. Lester Brown, segundo Capra (2002), ao criar o conceito de sustentabilidade já afirmava que uma sociedade sustentável é aquela capaz de suprir suas necessidades sem comprometer as gerações futuras. Nesse sentido, a Encíclica quer entrar em diálogo com todos(as), acerca do cuidado com a casa comum. Para isso, o Papa apresenta motivações que o levaram a escrever a carta “Verde”: • Apontar a necessidade de profundas mudanças no estilo de vida, nos modelos de produção, nos consumos e nas estruturas consolidadas de poder; • Mencionar os escritos dos Papas: São João XXIII, Beato Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e do Patriarca Bartolomeu acerca dos problemas ambientais e a necessidade de mudanças de atitudes frente à casa comum; • Ter como inspiração e guia São Francisco de Assis, pelo seu testemunho de sensibilidade para com a vida fragilizada e para com uma ecologia integral vivida com alegria e autenticidade; • Convidar as pessoas a abandonar atitudes de dominação, de exploração e de consumo desnecessários; • Entrar em contato com a natureza de forma aberta e em atitude de admiração e encantamento, considerando a linguagem da fraternidade e da beleza; • Alertar para o urgente desafio de proteger o planeta, unindo
a família humana na busca de desenvolver-se sustentável e integralmente; • Agradecer e encorajar as iniciativas já existentes de proteção à casa comum; • Convidar para o diálogo “sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta” (n. 13, p. 13), dado que os problemas ambientais afetam a todos e demandam, portanto, iniciativas que visem solucioná-los; • Propor o diálogo sobre a indiferença, a negação do problema, a resignação e a confiança cega nas soluções técnicas, o que dificulta chegar a uma solução; • Reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente. Com base nessas inspirações, Francisco faz um apelo à humanidade e a convida ao diálogo e ao compromisso planetário. A Encíclica ecológica, estruturada em seis capítulos, a partir do esquema metodológico Ver-Julgar-Agir-Celebrar, é uma ferramenta de debate que propõe um pensar sobre novos estilos de vida, contrários à cultura do descarte. Embora cada capítulo da Encíclica aborde conteúdo específico, há eixos transversais que perpassam todo o documento, os quais são retomados e desenvolvidos com novos elementos, a partir da ótica trabalhada em cada ponto. A saber: 1) a relação entre os pobres e a fragilidade do planeta; 2) a convicção de que tudo está integrado; 3) a crítica ao novo modelo de poder; 4) o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso; 5) o valor de cada criatura; 6) o sentido humano da ecologia; 7) a necessidade de debates sinceros e honestos; 8) a grave responsabilidade da política internacional e local; 9) a cultura do descarte; e 10) a proposta de um novo estilo de vida. São assuntos que levam ao debate no que concerne ao cuidado com próximo e com os outros seres vivos da “casa-Terra”. Um olhar do cuidado para com a casa comum à luz da fé cristã No primeiro capítulo, O que está acontecendo em nossa casa, Francisco traça um panorama da crise ecológica atual, tendo por objetivo apresentar pesquisas sobre o assunto, a fim de que o interlocutor se deixe tocar por elas. Não há dúvidas de que o contexto mundial globalizado trouxe grandes impactos ambientais, causando danos a todos os seres vivos. Frente a isso, a Igreja vem mostrando-se preocupada com a degradação
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por exemplo, a devastação ambiental, o acúmulo de riquezas nas mãos de poucos e as brigas pelo poder. Se a globalização e o progresso tecnológico levaram as sociedades a evoluírem, ao mesmo tempo alimentaram sentimentos de indiferença com aqueles(as) que sofrem. A modernidade elevou o ser humano a patamares inimagináveis, mas, em contrapartida, provocou a diminuição do senso de pertença e de cuidado com a casa comum. Frente a tudo isso, necessita-se de um olhar ético mais rigoroso no que diz respeito à maneira de lidar com os bens que a natureza oferece.
Papa procura unir a família humana na busca do desenvolvimento sustentável
ecológica, motivo pelo qual o Papa Francisco retoma os escritos dos seus antecessores na tentativa de diálogo com outras vozes, inclusive não católicas romanas. Destarte, ressalta o pedido do Patriarca Bartolomeu para o arrependimento das atitudes hostis em relação ao planeta que sofre em dores de parto. Portanto, percebe-se o incentivo à colaboração e valorização de diversas opiniões e ações, advindas de distintas frentes políticas, sociais, culturais, religiosas, etc., no combate aos problemas ambientais. No segundo capítulo, O evangelho da criação, o Papa faz uma retomada de argumentos da tradição judaico-cristã, visando dar maior coerência ao compromisso ambiental. Ele faz um resgate das reflexões de muitos bispos de vários lugares do mundo e de documentos da Igreja, para afirmar que Deus transmite uma mensagem por meio de suas criaturas. Assim como o ser humano é imagem e semelhança de Deus, as outras criaturas, ao mesmo tempo, revelam a linguagem do amor de Deus, pois cada criatura tem sua importância. A natureza revela a beleza do seu criador. No silêncio e na harmonia Deus vai se revelando. Para o crente contemplar a natureza também significa ouvir o criador. Logo, Deus também deseja que os seres cooperem com ele. Essa colaboração passa pela preservação do planeta, na tentativa de evitar a autodestruição humana. Afinal, enquanto singulares que transcendem a objetividade, segundo o Papa, os seres humanos são capazes de entrar em diálogo com os outros e com o próprio Deus. No terceiro capítulo, A raiz humana da crise ecológica, o Bispo de Roma chega às raízes da atual situação tendo por objetivo apontar as causas mais profundas. É importante frisar que ocorreram profundas mudanças na maneira do ser humano se relacionar com a natureza. Os meios de produção talvez tenham sido os mais modificados no decorrer dos séculos, trazendo grandes benefícios; por outro lado, trouxeram malefícios como,
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No quarto capítulo, Uma ecologia integral, Francisco propõe uma ecologia nas suas várias dimensões, incluindo o ser humano, o seu lugar e o seu elo com a realidade do planeta. Os estudos ecológicos sobre a relação que há entre seres vivos e meio ambiente devem, sem dúvidas, levar a sério as discussões que existem no âmbito da melhoria das condições de vida e dos meios que se tem para a sobrevivência da sociedade, sem descartar a atenção para com a fauna, a flora e outras riquezas de nossa casa comum. Nos dias hodiernos, é necessário detectar e encontrar meios que possam solucionar os problemas ambientais, sem deixar de lado as atrocidades que afetam a conjuntura humana: familiar, laboral e urbana. Em vista disso, o legítimo progresso produz uma melhoria global da qualidade de vida, o que implica um avanço dos espaços onde as pessoas e outros seres vivem. No quinto capítulo, Algumas linhas de orientação e ação, o Papa verifica as grandes linhas de diálogo e de ações que envolvem cada pessoa e, também, no que tange à política internacional. Além disso, a interdependência que existe entre os países deve levar à construção de projetos que amparem a todos(as), visto que a crise não será resolvida isoladamente por cada nação. Notam-se posturas governamentais imediatistas que se refletem em atrasos no planejamento e nas ações de combate à degradação, causando danos à população. É possível reverter a situação nos países por meio de iniciativas que valorizem as organizações locais, de forma que lideranças futuras possam-nas assumir. Isso é de extrema importância para que a recuperação do meio ambiente aconteça. Outro aspecto relevante é a transparência que deve haver nos processos políticos e nos projetos governamentais, para que esses incluam, também, os estudos dos impactos ambientais e culturais que causarão à natureza. Dessa maneira, a política e a economia devem estar a serviço da vida humana. Todavia, os bens naturais estão sendo utilizados exacerbadamente sem a preocupação de que um dia possam acabar. O diálogo entre as ciências e as religiões é um meio importante na busca de soluções, uma vez que tanto uma quanto a outra podem contribuir por caminhos que, embora diferentes, não são divergentes. No sexto capítulo, Educação e Espiritualidade ecológica, Francisco propõe linhas de maturação humana inspiradas na espiritualidade cristã. É fato que a humanidade precisa de mudança no que diz respeito à sua maneira de se relacionar com a natureza. Nota-se
Comprometimento é uma atitude integral e integradora que envolve o fiel
que falta uma consciência de uma origem em comum e de uma reciprocidade, de maneira que desenvolva convicções, atitudes e novos modos de vida. Esse é o grande desafio social, cultural, espiritual e educativo. Para Francisco, é necessário educar para uma consciência ecológica, visto que o ser humano é um ser de mudanças. Nesse quesito, a fé cristã tem um papel enorme, pois constitui uma fonte de riqueza espiritual que pode ajudar a humanidade no processo de renovação. Dela derivam motivações profundas que podem auxiliar um itinerário, o qual se manifesta em uma mística vivencial e atitudinal. Ela se propõe a relacionar o todo da criação em um movimento integrador de tudo o que existe no mundo com o ser humano. Portanto, todas as pessoas devem entrar nesse itinerário de conversão pessoal e social. Deus, que nos chamou à vida e também ao cuidado à casa comum, dá força e luz necessárias para a caminhada na busca de soluções às dores ambientais. O Papa aposta em uma mudança nos estilos de vida que implica viver juntos e em comunhão frente à cultura do descarte. Assim, não entrar em consonância com o poder que massacra o outro, o próximo e o meio ambiente. Ele ressalta que é preciso “voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma
responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos” (nº229, p. 181). Chegou o momento de abandonar a desumanidade moral, colocando a ética, a bondade, a honestidade, a fé e a vontade de ter compaixão para com o próximo como pilares a serem preservados e como valores que sustentem a conduta da humanidade diante da criação. Nessa perspectiva, Capra (2002, p. 238) salienta que, no ciclo ecológico, uma comunidade humana sustentável tem de ser moldada de tal maneira que seus recursos de sobrevivência não venham a prejudicar a capacidade intrínseca do planeta de sustentar a vida. Laudato si’: um chamado à misericórdia O documento é um chamado a todos os povos, sem distinção de religião, classe social ou cultura. Em meio a tantas mazelas e destruição da casa comum, o documento oficial da Igreja abre um diálogo para refletir a respeito daquilo que está acontecendo com o planeta. Nessa reflexão, busca-se tomar consciência de que todos são responsáveis pela preservação e manutenção da casa comum. O Santo Padre afirma que “é preciso revigorar a consciência de que somos uma única família humana. Não há fronteiras nem barreiras políticas ou sociais que permitam isolar-nos e, por isso mesmo, também não há espaço para a globalização da indiferença” (nº 52, p. 43). Nessa afirmação, é
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Mudança nos estilos de vida implica comunhão frente à cultura do descarte
importante perceber que há uma preocupação com relação ao futuro do planeta, e no decorrer do texto, mais especificamente no capítulo quatro do documento, o Sumo Pontífice destaca que é preciso criar uma “cultura” da ecologia integral, ou seja, criar um costume que evite olhar a natureza como algo à parte, separado da humanidade. Olhando para a caminhada da Igreja nos últimos anos, alegranos imensamente a transformação por que essa vem passando. Ser Igreja hoje é ser comprometido com o Reino de Deus. Esse comprometimento é uma atitude integral e integradora que envolve o fiel a seguir exemplarmente o protótipo Jesus Cristo. Visando seguir fielmente o evangelho, o Santo Padre anunciou, no mês de março de 2015, na Basílica de São Pedro, a proclamação do “Jubileu Extraordinário”, que tem como centro a misericórdia de Deus. Assim, o Ano Santo Jubilar da Misericórdia iniciou no dia 8 de dezembro de 2015, na Solenidade da Imaculada Conceição e será encerrado no dia 20 de novembro de 2016, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Misericórdia é uma palavra suscitada inúmeras vezes na Sagrada Escritura, na maioria das vezes ela parte do Criador para com a criatura, isto é, a humanidade. No dicionário da língua portuguesa, a misericórdia é a compaixão despertada pela miséria alheia, em outras palavras, é se importar com a dor e a clemência do outro. Se formos analisar o documento Laudato Si’ e a bula de proclamação do Ano da
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Misericórdia, iremos identificar muitos pontos em comum que nos levam a olhar o mundo com mais sensibilidade, preocupação e responsabilidade por aquilo que nos foi dado. Assim como o documento Laudato Si’ propõe um olhar mais integral a respeito da casa comum, a Bula de proclamação também nos incita a olhar com mais sensibilidade para o irmão que sofre as atrocidades e as misérias do mundo ao nosso lado. Se a misericórdia tem a ver com se importar com a dor alheia, logo se faz necessário perceber que a “criação toda geme e sofre como em dores de parto”, e se essa criação sofre, sofre porque protagonizamos situações que ocasionaram esse tipo de sofrimento. Como Igreja, com a reflexão e as posteriores práticas, é de extrema importância admitir que tudo está interligado e é por esses e outros motivos que se faz necessário construir uma “cultura de uma ecologia integral e integradora”.
Referências CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2002. FRANCISCO, Papa. Laudato SI’: sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015.
La Carta “Verde” del Papa Francisco Alberlan Martins Coelho Comunidad La Salle Noviciado – Porto Alegre/RS Leandro Sousa Brito Comunidad La Salle Pão dos Pobres – Pré-Noviciado – Porto Alegre/RS Fábio Mesquita de Azevedo Comunidad La Salle Noviciado – Porto Alegre/RS
Motivaciones y ejes transversales de la Encíclica
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‘Laudato Si’, mi Signore! Este es el título de la carta del Papa Francisco, que trata de la ecología integral. Francisco quiere unir a la familia humana en la búsqueda de un desarrollo sustentable. De este modo, apunta a fórmulas de construcción de un futuro mejor para los jóvenes, siempre como una mirada crítica a la crisis del medio ambiente y al sufrimiento de los excluidos. Lester Brown, según Capra (2002), al crear el concepto de sustentabilidad ya afirmaba que una sociedad sustentable es aquella que es capaz de suplir sus necesidades sin comprometer a las generaciones futuras. En ese sentido, la Carta Encíclica, quiere entrar en diálogo con todos/as, acerca del cuidado de la casa común. Para eso el Papa presenta motivaciones que lo llevaron a escribir la carta “verde”. • Apuntar a la necesidad de profundos cambios en el estilo de vida, en los modelos de producción, en el consumo y en las estructuras de poder; • Mencionar los escritos de los Papas: san Juan XXIII, beatificado Paulo VI, san Juan Paulo II. Benedicto XVI y del Patriarca Bartolomé acerca de los problemas ambientales y a la necesidad de cambios de actitudes frente a la casa común. • Tener como inspiración y guía a san Francisco de Asís, por el testimonio de sensibilidad para con la vida fragilizada y para con la ecología integralmente vivida con alegría y autenticidad; • Invitar a las personas a abandonar actitudes de dominación, de explotación y de consumo innecesarios y entrar en contacto con la naturaleza con apertura, admiración y encantamiento, hablando la lengua de la fraternidad y de la belleza; • Alertar hacia el urgente desafío de proteger el planeta, unido a la familia humana en la búsqueda de un desarrollo sustentable e integral; • Agradecer y estimular las iniciativas ya existentes de protección de la casa común; • Invitar con urgencia a renovar el diálogo “sobre la manera cómo estamos construyendo el futuro del planeta” (n. 13, p.13). Una vez que los problemas ambientales afectan a
todos, hay iniciativas que buscan soluciones. Por otro lado, todavía hay mucha indiferencia, negación del problema, resignación y confianza ciega en las soluciones técnicas, dificultando, así, los caminos para llegar a una solución; • Y, por fin, desear que esta Encíclica posibilite reconocer la grandeza, la urgencia y la belleza del desafío que tenemos por delante. En base a esas inspiraciones, Francisco hace un llamado a la humanidad e invita al diálogo y al compromiso planetario. La Encíclica ecológica, estructurada en seis capítulos, a partir del esquema metodológico Ver-Juzgar-Actuar-Celebrar, es una herramienta de debate que propone un pensar sobre nuevos estilos de vida, que sean contrarios a la cultura del descarte. Cada capítulo de la Encíclica trae un contenido propio, pero en todo el documento ejes transversales que son retomados y desarrollados con nuevos elementos, a partir de la óptica trabajada en cada punto: 1) la relación entre los pobres y la fragilidad del planeta; 2) la convicción de que todo está integrado; 3) la crítica al nuevo modelo de poder; 4) la invitación a encontrar otras maneras de entender la economía y el progreso; 5) el valor de cara creatura; 6) el sentido humano de la ecología; 7) la necesidad de debates sinceros y honestos; 8) la grave responsabilidad de la política internacional y local; 9) la cultura del descarte y 10) la propuesta de un nuevo estilo de vida. Son asuntos que llevan al debate en lo que concierne al cuidado del prójimo y con los otros seres vivos de la “casa-Tierra”. Una mirada al cuidado de la casa común a la luz de la fe cristiana En el primer capítulo, Lo que está pasando en nuestra casa, Francisco muestra un panorama de la crisis ecológica actual, teniendo por objetivo traer las investigaciones actuales sobre el asunto y dejarse tocar por ellas. No hay duda que el contexto mundial globalizado trajo grandes impactos ambientales, causando daños a todos los seres vivos. Frente a eso, la Iglesia viene mostrándose preocupada con la degradación ecológica. En este sentido, el Papa Francisco retoma los escritos de sus antecesores en la tentativa del diálogo con otras voces, inclusive no católicas romana. Por lo tanto resalta el pedido del Patriarca Bartolomé, que hace una invitación al arrepentimiento de las
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actitudes hostiles en relación al planeta que sufre dolores de parto. Entonces, percibimos que las soluciones de los problemas ambientales vendrán de la colaboración y de la valorización de la diversidad de opiniones en diferentes frentes políticos, sociales, culturales, religiosos, etc.
los problemas ambientales, sin dejar de lado las atrocidades que afectan la coyuntura humana: familiar, laboral y urbana. En vista de eso, el legítimo progreso produce una salud global de calidad de vida, lo que implica un avance de los espacios en donde las personas y los otros seres viven.
En el capítulo segundo, El evangelio de la creación, el Papa retoma los argumentos venidos de la tradición judeo-cristiana, tratando de dar una mayor coherencia al compromiso ambiental. Él hace un rescate de la reflexiones de muchos obispos de varios lugares del mundo y de los documentos de la Iglesia, para afirmar que Dios trasmite un mensaje a través de las criaturas. Así como el ser humano es imagen y semejanza de Dios, las otras creaturas, al mismo tiempo, revelan el lenguaje del amor de Dios, ya que toda creatura tiene su importancia. La naturaleza revela la belleza de su creador. En el silencio y en la armonía Dios se va revelando. Para el creyente contemplar la naturaleza, también significa escuchar al creador. Dios desea que los seres cooperen con Él. Esta colaboración pasa por la preservación del planeta, en la tentativa de evitar la autodestrucción humana. Finalmente, en cuanto singulares que trascienden la objetividad, según el Papa, los seres humanos son capaces de entrar en diálogo con los otros y con el propio Dios.
En el capítulo quinto, Algunas líneas de orientación y acción, el Papa verifica las grandes líneas del diálogo y de acciones que involucran a cada persona y, también, en lo que concierne a la política internacional. Fuera de eso, la interdependencia que existe entre los países debe llevar a la construcción de proyectos que amparen a todos/as, pues la crisis no será resuelta aisladamente en cada nación. Se perciben posturas gubernamentales inmediatistas que se reflejan en planificaciones atrasadas y en planificaciones y acciones de combate a la degradación, causando daños a la población. Es posible revertir la situación en los países por medio de iniciativas que valoricen las organizaciones locales, de forma que los liderazgos futuros las puedan asumir. Eso es de extrema importancia para que la recuperación del medio ambiente se realice. Otro aspecto relevante es la trasparencia que debe haber en los procesos políticos y en los proyectos gubernamentales, para que esos incluyan también los estudios de impactos ambientales y culturales, que van a causar a la naturaleza. Por otro lado, la política y la economía deben estar al servicio de la vida humana. Todavía, los bienes naturales están siendo utilizados sin control y sin la preocupación de que un día se puedan acabar. El diálogo entre las ciencias y las religiones es un medio importante en la búsqueda de soluciones, tanto en cuanto pueden contribuir por caminos diferentes, pero no divergentes.
En el capítulo tercero, La raíz humana de la crisis ecológica, el Obispo de Roma llega a las raíces de la actual situación teniendo por objetivo apuntar a las causas más profundas. Es importante destacar que ocurrieron profundos cambios en la manera como el ser humano se relaciona con la naturaleza. Los medios de producción tal vez fueron los más modificados en el transcurso de los siglos, trayendo grandes beneficios, pero, por otro lado, también trajeron males como, por ejemplo, la devastación ambiental, la acumulación de riquezas en las manos de unos pocos y las luchas de poder. Considerando que la globalización y el progreso tecnológico llevaron a las sociedades a evolucionar, al mismo tiempo, alimentaron sentimientos de indiferencia hacia aquéllos(as) que sufren. La modernidad elevó al ser humano a niveles inimaginables, pero, en contrapartida, provocó la disminución del sentido de pertenecia y de cuidado de la casa común. Frente a toso eso, se carece de una mirada ética rigurosa, en lo que dice respecto a la manera de lidiar con los bienes que la naturaleza ofrece. En el capítulo cuarto, Una ecología integral, Francisco propone una ecología en sus dimensiones más variadas, incluyendo al ser humano, su lugar y su enlace con la realidad del planeta. Los estudios ecológicos sobre la relación que existe entre los seres vivos y el medio ambiente deben, sin duda, llevar en serio las discusiones que existen en el ámbito de mejorar las condiciones de vida y de los medios de que se disponen para la sobrevivencia de la sociedad, sin descartar la atención de la fauna, la flora y otras riquezas de nuestra casa común. En el día de hoy, es necesario detectar y encontrar los medios que puedan solucionar
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En el capítulo sexto, Educación y Espiritualidad ecológica, Francisco propone líneas de madurez humana inspiradas en la espiritualidad cristiana. Es un hecho que la humanidad necesita de cambio en lo que dice respecto a su manera de relacionarse con la naturaleza. Se percibe una falta de una conciencia del origen común y de reciprocidad, de manera que desarrolle convicciones, actitudes y nuevos modos de vida. Este es el gran desafío social, cultural, espiritual y educativo. Para Francisco, es necesario educar a la conciencia ecológica, pues el ser humano es un ser de cambios y, en ese proceso, la fe cristiana tiene un papel enorme, ya que constituye una fuente de riqueza espiritual, que puede ayudar a la humanidad en el proceso de renovación. De ella derivan motivaciones profundas que pueden ayudar a un itinerario, que se manifieste en una mística vivencial y actitudinal. Ella se propone relacionar el todo de la creación con un movimiento integrador de todo lo que existe en el mundo con el ser humano. Por lo tanto, todas las personas deben entrar en ese itinerario de conversión personal y social. Dios, que nos llamó a la vida y también al cuidado de la casa común, da la fuerza y la luz necesarias para este movimiento en la búsqueda de soluciones a los dolores del medio ambiente.
El Papa, en su documento, apuesta por un cambio en los estilos de vida, que implica vivir juntos y en comunión frente a la cultura del descarte. Así, no entrar en consonancia con el poder que masacra al otro, al prójimo y al medio ambiente. El Papa enfatiza que es necesario “volver a sentir que nos necesitamos unos a otros, que tenemos una responsabilidad por los demás y por el mundo, que vale la pena ser buenos y honestos” (n. 229). Llegó el momento de abandonar la deshumanización moral, poniendo la ética, la bondad, la honestidad, la fe y la voluntad de tener compasión para con el prójimo como pilares que se deben preservar y como valores que sustenten la conducta de la humanidad ante la creación. En este mismo sentido, Capra (2002, p. 238) subraya que, en el ciclo ecológico, una comunidad humana sustentable tiene que ser moldeada de tal manera que sus recursos de sobrevivencia no vayan a perjudicar la capacidad intrínseca del planeta de sustentar la vida. “Laudato si”: un llamado a la misericordia Este documento es una llamada para todos los pueblos, sin distinción de religión, clase social o cultura. En medio a tantas heridas y destrucción de la casa común, el documento oficial de la Iglesia abre un diálogo para reflexionar sobre aquello que está pasando con el planeta y, en esa reflexión, se busca tomar conciencia de que todos son responsables de la preservación y mantención de la casa común. En el documento, el Santo padre afirma que “Necesitamos fortalecer la conciencia de que somos una sola familia humana. No hay fronteras ni barreras políticas o sociales que nos permitan aislarnos, y por eso mismo tampoco hay espacio para la globalización de la indiferencia” (n.52). En esa afirmación, es importante percibir que hay una preocupación en relación al futuro del planeta, y en el texto, específicamente en el capítulo cuarto, el Sumo Pontífice destaca que se necesita crear una “cultura” de la ecología integral, crear la costumbre que evite mirar a la naturaleza como algo aparte, separado de la humanidad. Mirando el itinerario de la Iglesia en los últimos años, nos alegra inmensamente la transformación que está sucediendo. Ser Iglesia es estar comprometido con el Reino de Dios. Ese compromiso es una actitud integral e integradora que involucra al fiel para que siga ejemplarmente al prototipo, Jesucristo. Queriendo seguir fielmente el Evangelio, el Santo Padre anunció, en el mes de marzo de 2015, en la Basílica de San Pedro, la proclamación del “Jubileo Extraordinario” que tiene como centro la misericordia de Dios. Así, el Año Santo Jubilar de la Misericordia se inició el 8 de diciembre de 2015, en la Solemnidad de la Inmaculada Concepción y será clausurado el día 20 de noviembres de 2016, en la Solemnidad de Nuestro Señor Jesucristo Rey del Universo. Misericordia es una palabra que aparece innumerables veces en la Sagrada Escritura, en la mayoría de éstas ella parte del Creador hacia la criatura, o sea, hacia la humanidad.
En el diccionario de la lengua portuguesa, la palabra misericordia se define como la compasión por la miseria ajena, o sea, involucrarse con el dolor y la clemencia del otro. Si analizamos el documento ‘Laudato Si’ y la Bula de proclamación del Año de la Misericordia, identificaremos muchos puntos en común que nos llevan a mirar al mundo con más sensibilidad, preocupación y responsabilidad por aquello que nos ha sido dado. Así, como el documento ‘Laudato Si’ propone una mirada más integral del respeto de la casa común, la Bula también nos insta a mirar con más sensibilidad al hermano que sufre las atrocidades y las miseria del mundo. Si la misericordia ve y se involucra con el dolor ajeno, entonces se hace necesario percibir que “toda la creación gime y sufre como los dolores de parto”, y si esta creación sufre, es porque somos protagonistas de situaciones que ocasionan ese tipo de sufrimiento. Como Iglesia, con la reflexión y las posteriores prácticas, es de extrema importancia admitir que todo está ligado y es por eso y otros motivos que se hace necesario construir una “cultura de una ecología integral e integradora”.
La humanidad necesita de cambio en la manera de relacionarse con la naturaleza
Referencias CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2002. FRANCISCO, Papa. Laudato SI’: sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015.
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O Rosto da Misericórdia
Misericordiae Vultus – S.S. Papa Francisco Irmão Paulo Dullius Staff-CIL – Casa Generalícia – Roma - Itália
“A misericórdia sempre será maior que qualquer pecado e ninguém poderá colocar limite ao amor de Deus que perdoa.” (RM 3)
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stamos sendo convidados e estimulados a revisar nossa vida cristã e a apresentarmos sempre mais objetivamente Deus, Jesus Cristo e a missão da Igreja e dos cristãos. Se Deus é amor, como nos foi ensinado, como aprendemos e como experimentamos no passado e no presente, não se pode mais aceitar compreensões e denominações de Deus decorrentes de experiências humanas, as quais incluem o amor e o desamor. É o desamor que leva a vinganças, a agressões, a isolamentos, a abandonos. E estas características, muitas vezes, foram aplicadas a Deus, sobretudo a partir do Antigo Testamento, e, por muito tempo, na cultura e na Igreja até o presente momento. Ainda retomamos esse tipo de conceito sobre Deus na liturgia e em outros momentos.
Na própria construção da palavra está o coração. Quem pode ter misericórdia? Aquele que está animado pelo amor. Quando alguém ama e vê o bem acontecendo, ele se alegra. A Igreja usa expressões como “aleluia” ou correspondentes quando fala e reconhece a salvação acontecendo. É que ela parte de uma visão salvífica e de amor. Isso se pode verificar na liturgia, sobretudo a do tempo pascal. Misericórdia decorre daquela – pessoa ou instituição – que está animada pelo amor e vê o desamor – momentâneo em ações, ou como atitude – nos demais, sejam eles pessoas ou grupos. Então, nasce um sentimento de “dor”, de “pena”, de “compaixão”, de misericórdia, que inclui um desejo amoroso e respeitoso que a pessoa deixe de se ferir e aos demais e tenha uma experiência boa e supere seu “mal”, seus limites. A misericórdia é uma atitude estável de acolhida aos que não conseguem ser suficientemente bons. Ela se beneficia com uma ampla compreensão das motivações e “condicionamentos” do agir. Certamente, esse aspecto da compreensão praticamente não é citado diretamente. Deus compreende os corações e as intenções profundas. Por isso, Ele – como amor total – é totalmente misericordioso.
A teologia moral foi muitas vezes baseada no certo e no errado, atribuindo-se ao errado o merecimento de castigo. E houve grupos que se especializaram em estabelecer os erros e os correspondentes castigos, aplicando o princípio social da lei. O desenvolvimento da concepção de pecado foi praticamente identificado com erros decorrentes da limitação humana. Não se pode dizer que não haja pecado, mas esta é uma palavra do nível espiritual e religioso e só se pode aplicar nesse nível.
Nossa misericórdia vai depender bastante de nossa capacidade de amar e de nossa capacidade de compreender os demais em suas dificuldades, condicionamentos, intenções profundas, sofrimentos e falta de liberdade efetiva. Compaixão por compaixão, sem compreender as motivações profundas do agir, pode levar a alguma decepção em se tratando da expectativa de resultados positivos.
Falar da misericórdia nos introduz outra forma de ver Deus e de compreender as limitações humanas, os erros, as fragilidades, agressividades, vinganças e infidelidades. É um convite a aumentar o leque de compreensão do que acontece. Refletir sobre a misericórdia vai acelerar maior objetivação da realidade humana, aproximando-a da intenção original de imagem e semelhança de Deus. Essa abordagem vai mudar também a compreensão e a missão da Igreja, como a depositária da presença de Deus e de Jesus Cristo no mundo. Compreendendo a experiência existencial da misericórdia
O Papa coloca a misericórdia no centro de sua Bula do Jubileu da Misericórdia. Usa a palavra “misericórdia” e/ou “misericordioso” mais de 160 vezes e liga-a quase sempre ao amor e a uma consequência que é o perdão. Não explica muito o termo e o considera compreendido. Vimos acima que se trata de uma atitude de acolhida, compreensão, solidariedade, aceitação daqueles que não sabem amar o suficiente. Por isso, como o Papa afirma, todos nós precisamos de misericórdia, porque em nossa constituição temos o amor e também o desamor. Nossa área de desamor precisa de misericórdia. O Papa chama várias vezes este desamor de pecado.
A misericórdia decorre de uma forma de compreensão do ser humano. Requer incluir o limite e também uma postura diante das ações, intenções próprias e dos demais. A misericórdia inclui uma relação. E esta relação precisa de algum conteúdo positivo.
Em vez de julgamento e condenação, o Papa insiste na necessidade da misericórdia como expressão da Igreja, como uma de suas principais expressões. Nisso ela se inspira em Deus Pai – sobretudo no Antigo Testamento – e em Jesus Cristo.
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Como o Papa fala da misericórdia
Jesus é a Misericórdia do Pai para a humanidade (Rm, 7.8.9), a partir de sua sensibilidade, cura, atenção aos pobres, em seus ensinamentos e parábolas da misericórdia. Seremos julgados pela qualidade de nossa misericórdia. O Papa recorda as obras de misericórdia corporais e espirituais (Rm,15). A questão da misericórdia esteve presente na Igreja, enquanto depositária do modo de ser e da doutrina de Jesus Cristo. “Com os olhos fixos em Jesus e em seu rosto misericordioso, podemos perceber o amor da Santíssima Trindade” (Rm, 8). Já no discurso inaugural do Concílio Vaticano II, São João XXIII, entre outras coisas, diz que a Igreja “quer mostrar-se mãe amável de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e de bondade para com os filhos separados dela”. E na conclusão, o Beato Paulo VI repete algo parecido: “A Igreja é enviada ao mundo não para fazer diagnósticos deprimentes, mas para indicar remédios alentadores, cheios de esperança (...) Toda esta riqueza do Concílio vai numa única direção: servir ao homem, em todas as suas condições, suas debilidades, suas necessidades”. A isso se soma a surpreendente encíclica de São João Paulo II, “Dives in misericórdia”. Assim, o Papa ressalta a importância da misericórdia para hoje, especialmente diante de tantas situações sofridas. “A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus”. Lucas 6,36 coloca a misericórdia como uma das características centrais de Deus: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”. Portanto, “a misericórdia é a viga mestra que sustenta a vida da Igreja” (Rm, 10). Misericórdia, justiça, perdão Misericórdia é uma atitude cristã que nos aproxima de Deus e nos permite conhecê-lo melhor e a Jesus Cristo
A misericórdia é fonte de alegria, de serenidade e de paz. É condição para nossa salvação. Misericórdia é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia é o ato último e supremo com o qual Deus vem a nosso encontro. Misericórdia é a lei fundamental habita no coração de cada pessoa quando olha com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia é a vida que une Deus e o homem, porque abre o coração à esperança de ser amados sem levar em consideração o limite de nosso pecado. (Rosto da Misericórdia, 2). Para que este tema tenha suficiente espaço e não seja dominado pela introdução histórica de aspectos feridos e egoístas do coração humano, convém que de tempos em tempos se assuma e se transforme a misericórdia numa realidade cristã, em que estamos vivendo. Afirma Francisco “anunciei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia” (Rm, 3). O Papa recorda que não é um tema novo. Recorda, também, como o tema está presente no Antigo Testamento (Rm, 6-7). Dedica bom tempo para mostrar como
A misericórdia é uma atitude de acolhida, de aceitação de alguém ou de suas ações quando está presente o amor naquele que acolhe e não o vê suficiente naquele que é frágil. Todos já ouvimos falar da diferença entre justiça e perdão. Mas talvez seja útil considerar que a justiça é o máximo ideal social (segundo a qual cada um recebe o que merece) e a caridade é o máximo ideal espiritual, religioso, moral (segundo a qual cada um recebe segundo tem necessidade). A justiça se orienta segundo uma lei que precisa ser observada. A infração numa lei leva a castigos, a punições. A lei se baseia nas provas sobre a ação, mas não considera o suficiente as motivações, os condicionamentos. Dali sua ambiguidade para a realidade ampla da experiência humana. O Papa fala da relação entre justiça e misericórdia (Rm 20.21), mas coloca a noção de justiça no sentido bíblico, ou seja, realizar a vontade de Deus. Para superar a visão muito judicial de justiça, Jesus ligou tudo à fé. O legalismo, o julgamento, a interpretação apressada e parcial pode se distanciar da verdadeira justiça. Para melhor compreender o tema da justiça, convém recordar as contribuições de Rawells (Uma Teoria da Justiça) e de Paul Ricoeur (O Justo, em dois volumes). A misericórdia é uma atitude que considera, também, as motivações daquele que age, e não apenas a ação em si, pois – como dissemos – ela vem de alguém capaz de amar e de compreender as intenções profundas.
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Há casos em que não há justificativas aceitáveis frente a leis infringidas. Uma boa compreensão ampla pode ativar a misericórdia e encaminhar o perdão. O “perdão é difícil, mas não impossível”, diz Paul Ricoeur. Isso porque há uma desproporção entre o que pede (está abaixo) e o que dá que está acima. E por isso pode acontecer que aquele que pede pode ouvir uma possível dupla resposta: “eu te perdoo” ou “eu não te perdoo”. Por parte de Deus, que é amor total, que conhece o interior de cada pessoa, vale o que se fala da Misericórdia: Deus perdoa sempre. A própria palavra inclui a capacidade de dar: per dom. É um dom que decorre do amor. A justiça é plenamente realizada na misericórdia. Já o perdão é o final de um processo que é precedido pelo conhecimento dos fatos, da compreensão deles, das intencionalidades e de processos de reconciliação. Disso resultará uma memória pacificada e feliz, uma experiência de salvação. Misericórdia e modelo de Igreja Todos nós temos memória de imagens de Deus que eram muito julgadoras, castigadoras, vingativas. Tais imagens se estenderam aos processos educativos e morais das religiões, das famílias. Mas isso nunca retratou quem Deus é. Sabemo-lo melhor agora a partir de Jesus Cristo e de tantas outras pessoas. Deus é amor. A Igreja continuou por muito tempo o modelo julgador, avaliador. Detinha os critérios de salvação e condenação. O Concílio Vaticano II tentou mudar esta visão de Igreja, mas agora estamos compreendendo isso melhor e assumindo a compreensão de Igreja a partir da misericórdia, da compreensão, da acolhida, do respeito, da ajuda e da cura. Muitos fatores facilitaram isso, tanto intra como extra Igreja. Em vez de insistir em “sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito”, que incentivou o modelo da perfeição, estamos nos orientando mais pelo “sede misericordiosos como vosso Pai do céu é misericordioso”. Essa visão acentua novo modelo de Igreja, com a qual Papa Francisco tem contribuído bastante. Todo julgamento, toda rigidez da lei se origina muitas vezes de corações mal-amados que o estendem como modelo a instituições. Numa palavra, estamos numa época de mudança de visão de mundo e também da Igreja. Precisamos alegrar-nos com isso. Esse modelo é beneficiado com nossa satisfação de viver e amar, com outros e em instituições justas que promovem a vida. Questões práticas Um ano jubilar prevê vários aspectos práticos. A Bula do Jubileu prevê várias delas, e podemos nos dispor para nos colocar nesse movimento da Igreja. É um ano jubilar sobre a misericórdia com data precisa de início (Festa da Imaculada Conceição de Maria, 8 de dezembro de 2015) e de término (Festa de Cristo Rei, 20 de novembro de 2016). O Papa fundamenta a escolha destas datas. Durante este tempo se abrem as portas santas de várias basílicas com uma finalidade de misericórdia, meditar textos do
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A justiça é plenamente realizada na misericórdia
Antigo e do Novo Testamentos ligados à misericórdia. Convém aproveitar o tempo do Advento e da Quaresma para viver mais a misericórdia. O Papa convida a todos, especialmente aos bispos, a criar iniciativas sobre o tema. Fala também de peregrinações e inclui a nomeação de “missionários da misericórdia”, padres que serão enviados pelo mundo para serem presença de misericórdia. Há incentivo para que pessoas e organizações ao redor do mal, violência, corrupção... deixem este tipo de vida e experimentem a alegria de serem mais como Jesus. Deve motivar o pensamento e compreensão das pessoas, famílias e grupos atingidos por diferentes formas de violência. E nós? Creio que nós podemos aprender bastante do tema. Infelizmente, pessoas e instituições não manejam suficiente vigilância sobre alguns temas humanos fundamentais, um dos quais é a misericórdia. Nós Irmãos temos situações e experiências não reconciliadas. Aguçamos e apressamos julgamentos e interpretações. Também nós podemos melhorar a compreensão de nós e dos coirmãos, ver que no fundo todos queremos ser melhores. Partilhar mais a vida e as motivações é uma forma inicial de misericórdia. Para ter misericórdia é preciso saber amar e compreender os demais, sobretudo os fracos. Nossas comunidades religiosas e educativas podem encontrar formas concretas e significativas de se associar à Igreja e ao mundo que quer ser mais misericordioso. Misericórdia é uma atitude cristã nunca plenamente vivida. Mas ela nos aproxima de Deus e nos permite conhecê-lo melhor e a Jesus Cristo. Há muito sofrimento no mundo que pode ser diminuído com nossos corações mais acolhedores, compreensivos, misericordiosos.
O Desafio Proposto pela Regra Revisada
para a Compreensão e a Vivência dos Votos Irmão Edgar Genuino Nicodem Provincial da Província La Salle Brasil-Chile
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anto Tomás de Aquino1, citando Aristóteles2, afirma que “um pequeno erro no princípio acaba por tornar-se grande no fim”. Guardadas as devidas proporções, algo parecido pode ocorrer com relação à compreensão dos votos na Vida Religiosa. Provavelmente não se trata de um erro, mas de uma inadequada impostação e articulação do assunto. É comum ouvir falar em primeiros votos, renovação de votos ou votos perpétuos, dando a entender que constituem um elemento preponderante da Vida Religiosa. Ultimamente, os documentos do Instituto estão falando da centralidade do voto de associação para o serviço educativo aos pobres. Como pode ser compreendida essa centralidade na nossa vida de Irmãos? Nossa reflexão estará concentrada no entendimento lassalista da consagração e dos votos. Partimos do pressuposto de que existe uma originalidade que precisa ser resgatada e valorizada na vida dos Irmãos. Recuperá-la é importante para superar a anemia com a qual, muitas vezes, se vive o ser Irmão hoje. Para isso, vamos utilizar particularmente os estudos lassalianos sobre as origens do Instituto e a Regra recentemente revisada, durante o 45º Capítulo Geral, e aprovada pela Igreja. Os votos na perspectiva lassalista A perspectiva lassalista dos votos teve um percurso particular e complexo nas origens do Instituto. Até 1921, não pudemos identificar a consagração religiosa dos Irmãos com a profissão de alguns votos3. Para compreender essa perspectiva, é necessário situá-la num horizonte mais amplo, particularmente considerando a relação entre missão, consagração e votos. Segundo Josean Villalabeitia, a fundação dos Irmãos das Escolas Cristãs, ao redor de 1680, supõe – como é bem sabido – na história da Igreja, a aparição de uma nova maneira de conceber a consagração religiosa, seus objetivos e seu modo concreto de materializar-se 4.
Nessa nova maneira de compreender a consagração religiosa, pode-se destacar a centralidade da missão educativa, o valor da comunidade, uma espiritualidade específica, uma forma colegiada de gestão – “juntos e por associação” e uma concepção peculiar de compreender os votos. Na perspectiva lassalista, os Irmãos são consagrados porque respondem generosamente ao chamado de Deus, dedicando suas vidas na construção do Reino de Deus, por meio das lides escolares. Se fazem o que fazem, se vivem o que vivem é porque são consagrados a Deus para “levar adiante” as escolas cristãs. É a missão que marca o ritmo da vida dos Irmãos. Tudo começa com uma missão que precisa ser levada a bom termo. Ser, viver e agir de acordo com o objetivo de vida descoberto que não é outro, senão a obra de Deus. Tudo está profundamente unificado. Noções como Irmão, escolas cristãs, vocação, consagração, missão e comunidade não têm sentido, se consideradas isoladamente. A consagração é um processo de chamadas e respostas, cada vez mais envolventes que afetam a pessoa do Irmão no seu todo. Ela está indissociavelmente ligada à Sociedade das Escolas Cristãs. A consagração lassalista é uma consagração ministerial. Deus elege, chama e envia os Irmãos. A porta de entrada do Irmão para participar na construção do Reino de Deus é a Missão Educativa. Considerando a fórmula de votos de 1694, melhor seria designála fórmula de consagração, constatamos que os Irmãos fazem votos de obediência, associação e de estabilidade. Ao analisar a fórmula, podemos destacar três elementos. Em primeiro lugar, antes de qualquer outra consideração, a fórmula começa com a consagração total e sem condições a Deus. É uma consagração que requer total disponibilidade e generosidade para realizar a obra de Deus, que consiste em “levar adiante” as escolas cristãs. Em segundo lugar, podemos reconhecer uma tríplice promessa: a) unir-se em sociedade com os Irmãos; b) permanecer em sociedade; e c) obedecer ao corpo da sociedade e aos superiores. Em terceiro lugar, podemos relacionar cada promessa com um determinado voto: a) unir-se em sociedade com os Irmãos com o voto de associação; b) permanecer em sociedade com
1Cf. Aquino, T., O ente e a essência, p. 1. 2Cf. ARISTÓTELES [384 a.C.-322a.C.], De Caelo et Mundo I 5, 271 b 8- 13; a. 3Cf. Villalabeitia, Josean, No hagais diferencia...Consagración y tareas apostólicas en los primeros tiempos del Instituto, Ensayos Lasalianos 2, Roma, 2007, p. 64. Em grande parte, vamos seguir em nossa reflexão a leitura da nossa história fundacional proposta pelo Ir. Josean Villalabeitia. 4Cf. Villalabeitia, op. cit. P. 7.
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Voto de associação Considerando a história do Instituto nascente, o Ir. Josean Villalabeitia5 afirma que o principal objetivo do voto de associação foi o de unir os Irmãos internamente e comprometê-los ao redor dos mesmos ideais e objetivos. O voto de associação surgiu e se consolidou em momentos históricos de extrema dificuldade do Instituto. Foram situações nas quais o Instituto corria sério risco de desaparecer. Mais do que dizer o que não fazer, é um voto de um projeto que convida os Irmãos a olhar para o futuro com realismo, objetividade e esperança. Na prática, representou no Instituto nascente um novo dinamismo para construir novas alternativas que foram fundamentais para a viabilidade e a vitalidade do Instituto. No voto de associação podemos identificar diversas dinâmicas. Uma delas é fortalecer a coesão interna da comunidade, superando divisões e a dispersão. Outra é o “para” do voto de associação. Os Irmãos se associam para o serviço educativo aos pobres, que assumem juntos e por associação. Voto de Estabilidade A Regra Revisada pelo 45º Capítulo Geral propõe um caminho de recuperação do sentido original da consagração lassalista
o voto de estabilidade; e c) obedecer ao corpo da sociedade e aos superiores com o voto de obediência. Os votos, segundo a fórmula de 1694, são expressão da consagração. Além disso, não podem ser compreendidos fora do contexto específico da missão dos Irmãos na construção do Reino de Deus. Cada um dos votos da fórmula de votos de 1694 tem especificidades que são importantes ser destacadas. No seu conjunto, são expressão da consagração do Irmão a Deus para uma missão específica na Igreja e na sociedade. O voto de obediência Em uma sociedade tão marcadamente religiosa, como a do século XVII, o voto de obediência, além de favorecer as decisões de governo, também ligava os Irmãos a uma promessa dirigida diretamente a Deus que os vinculava em primeira pessoa. Talvez esse compromisso dos Irmãos possa ser considerado mais como uma virtude do que um voto. Aqui também convém destacar outro importante elemento da obediência, presente na fórmula de 1694. Trata-se de obedecer não somente aos Superiores, mas também ao corpo da sociedade. La Salle, com os primeiros Irmãos, instaurou um modo concreto de tomar decisões que se converteram em tradição no Instituto. Estamos falando das famosas assembleias dos Irmãos, nas quais se debate livremente até chegar a um acordo satisfatório.
5Cf. Villalabeitia, op. cit. p. 77 – 78.
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O voto de Estabilidade desde as origens do Instituto tem uma especificidade que não pode ser transcurada. É distinto do modelo do voto de estabilidade da vida monacal, da Regra Beneditina, por exemplo, que significava permanecer no mesmo mosteiro. Na perspectiva lassalista, o voto de estabilidade tem um viés prático e outro espiritual. Segundo o viés prático, os Irmãos se comprometem a permanecer estáveis na sociedade durante o tempo de duração do voto, não podendo abandoná-lo de nenhuma maneira nem desejar que os expul-sem. Na perspectiva espiritual, o voto de estabilidade recorda aos Irmãos que não podem abandonar a obra de Deus. Em outras palavras, que não podem abandonar as crianças e os jovens que Deus lhes confia. Bula de aprovação do Instituto Com a Bula de Aprovação de 1725, e a Regra publicada em 1726 ocorreram algumas mudanças substanciais na forma de compreender a consagração e os votos. Em primeiro lugar, passamos de três a cinco votos. Os votos agora são de pobreza, castidade, obediência, estabilidade no Instituto e voto de ensinar gratuitamente aos pobres. A tríade clássica passa a encabeçar os votos, e o voto de associação é transformado em voto de “ensinar gratuitamente aos pobres”. A dinâmica própria do voto de associação desaparece. A partir de agora, a tríade clássica passa a ser a chave de leitura para os demais votos. Em termos práticos, isso significa que a santificação pessoal terá um lugar destacado, e não tanto a missão educativa, e a regularidade serão reforçadas. Com isso, em grande parte serão perdidas as senhas identitárias e a originalidade do carisma lassalista.
A Regra Revisada A Regra Revisada pelo 45º Capítulo Geral, e recentemente aprovada pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, propõe um audacioso caminho de recuperação do sentido original da consagração lassalista. O decreto de aprovação da Regra reconhece o voto de associação como um dos eixos da releitura das disposições carismáticas propostas pelo 45º Capítulo Geral.
Num tempo em que existe uma desconfiguração dos metarrelatos tradicionais, precisamos recuperar e atualizar a dinâmica da consagração lassalista, expressa na fórmula de votos de 1694. É o mesmo Deus que iluminou La Salle e os Primeiros Irmãos que hoje nos convida a sermos criativamente fiéis às crianças, adolescentes e aos jovens que Ele mesmo nos confia. Oxalá, que a nova proposta de compreensão da relação entre missão, consagração e votos nos ajude a recuperar o dinamismo místico e profético do nosso carisma.
O Capítulo sobre a Vida Consagrada, da Regra revisada, começa recordando a experiência fundacional do Instituto, destacando que o itinerário do Santo Fundador e dos primeiros Irmãos continua sendo fonte de inspiração e orientação para os Irmãos. Segundo a Regra revisada, o voto de associação, juntamente com o voto de estabilidade, expressa a especificidade da consagração do Irmão. O voto de associação, por sua vez, une fortemente os Irmãos, reforça o sentido de pertença solidária ao Instituto, desafia os Irmãos a responder com criatividade aos desafios atuais dos destinatários da missão, conduzindo-os a compreender os demais votos a partir da perspectiva do voto de associação. O voto de estabilidade recorda aos Irmãos que estão comprometidos com a obra de Deus e que não podem abandonar as crianças, os jovens e os adultos que Ele lhes confia. Recuperar o dinamismo carismático do Instituto Normalmente, nas suas origens, os carismas têm um “aroma” e um “sabor” característicos. Contudo, com o passar do tempo, em contato com as vicissitudes históricas, passam por um processo de institucionalização. Nessa institucionalização, a perspectiva original pode ser enriquecida ou também pode perder ou afastarse, em parte, do seu dinamismo místico e profético. Sem entrar na longa e rica história do carisma lassalista, amplamente estudada e divulgada, no contexto atual é importante recuperar a articulação e o dinamismo místico e profético das origens: missão, consagração e votos. Segundo Michel Sauvage, precisamos constantemente reencontrar o dinamismo criador do nosso Instituto6. Em termos concretos, recuperar a perspectiva lassalista dos votos significa situá-los no horizonte da missão e da consagração. Com a Perfectae Caritatis passamos dos votos à consagração. O Irmão, segundo o carisma lassalista, é chamado a desempenhar uma missão específica na construção do Reino de Deus. Os votos, particularmente os específicos do Instituto, são expressão dessa consagração. Esses votos são a chave de leitura para os demais votos. O que Deus quer de nós é que sejamos fiéis à missão que Ele mesmo nos confia. Precisamos recuperar a dinâmica própria da fórmula de votos de 1694, que hoje o Instituto e a Igreja repropõem por meio da Regra revisada de 2015.
O mesmo Deus que iluminou La Salle nos convida a sermos criativamente fiéis às crianças, aos adolescentes e jovens que Ele mesmo nos confia
6Cf. Comte, Robert, Grass, Paul e Muñoz, Diego, L’espérnace fragile d’um témoin – L’itinéraire du F. Michel Sauvage (19243 – 2001), Étuds Lasallienes 18, p. 491. ARISTÓTELES [384 a.C.-322a.C.], De Caelo et Mundo I 5, 271 b 8- 13; a.
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El Desafío Propuesto por la Regla Revisada
para la Comprensión y la Vivencia de los Votos Hermano Edgar Genuino Nicodem Visitador del Distrito La Salle Brasil-Chile
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anto Tomás de Aquino1, citando a Aristóteles2, afirma que “un error pequeño en el principio se convierte en grande al final”. Guardadas las debidas proporciones, algo semejante puede ocurrir en relación a la comprensión de los votos en la Vida Religiosa. Probablemente no se trata de un error, pero de una postura inadecuada y articulada del asunto. Es común oír hablar de primeros votos, renovación de votos o de votos perpetuos, dando a entender que constituyen un elemento preponderante de la Vida Religiosa. Últimamente, los documentos del Instituto están hablando de centralidad del voto de asociación para el servicio educativo de los pobres. ¿Cómo puede ser entendida esta centralidad en nuestra vida de Hermanos? Nuestra reflexión estará concentrada en la comprensión lasallista de la consagración y de los votos. Partimos del presupuesto de que existe una originalidad que necesita ser rescatada y valorizada en la vida de los Hermanos. Recuperarla es importante para superar la anemia con la que, muchas veces, se vive el ser Hermano hoy. Para eso, vamos a utilizar particularmente los estudios lasalianos sobre los orígenes del Instituto y al Regla recientemente revisada por el 45° Capítulo Genera y aprobada por la Iglesia. Los votos en la perspectiva lasallista
La perspectiva lasallista de los votos tiene una trayectoria particular y complejo en los orígenes del Instituto. Hasta 1921, no pudimos identificar la consagración religiosa de los Hermanos con la profesión de algunos votos3. Para comprender este enfoque es necesario situarlo en un horizonte más amplio, particularmente considerando la relación entre misión, consagración y votos. Según Josean Villalabeitia, La fundación de los Hermanos de las Escuelas Cristianas, alrededor de 1680, supone – como es bien sabido – en la historia de la Iglesia, la aparición de una nueva manera de concebir la consagración, sus objetivos y su modo concreto de materializarse4.
La fundación del Instituto supone, en la historia de la Iglesia, la aparición de una nueva manera de concebir la consagración religiosa
En esta nueva manera de comprender la consagración religiosa se puede destacar la centralidad de la misión, el valor de la comunidad, una espiritualidad específica, una forma colegiada de la gestión – “juntos y pos asociación” una concepción peculiar de comprender los votos. En la perspectiva lasallista, los Hermanos son consagrados porque responden generosamente al llamado de Dios, dedicando sus vidas a la construcción del Reino de Dios, a través de las lides escolares. Si hacen lo que hacen, si viven lo que viven, es porque son consagrados a Dios para “llevar adelante” las escuelas cristianas. Es la misión que marca el ritmo de la vida de los Hermanos. Todo comienza con una misión que necesita ser llevada a buen término. Ser, vivir y actuar de acuerdo con el objetivo de vida descubierto, que no es otro, sino la obra de Dios. Todo está profundamente unificado. Términos como hermano, escuelas cristianas, vocación, consagración, misión y comunidad
1Cf. Aquino, T., O ente e a essência, p. 1. 2Cf. ARISTÓTELES [384 a.C.-322a.C.], De Caelo et Mundo I 5, 271 b 8- 13; a. 3Cf. Villalabeitia, Josean, No hagais diferencia...Consagración y tareas apostólicas en los primeros tiempos del Instituto, Ensayos Lasalianos 2, Roma, 2007, p. 64. 4Cf. Villalabeitia, op. cit. P. 7.
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las escuelas cristianas. En segundo lugar, podemos reconocer una triple promesa: a) unirse en sociedad con los Hermanos; b) permanecer en sociedad; y c) obedecer al cuerpo de la sociedad y a los superiores. En tercer lugar, podemos relacionar a cada promesa con un determinado voto: a) unirse en sociedad con los Hermanos, con el voto de asociación; b) permanecer en sociedad, con el voto de estabilidad; y c) obedecer al cuerpo de la sociedad y a los superiores, con el voto de obediencia. Los votos, según la fórmula de 1694, son expresión de la consagración. Además, los votos no pueden ser comprendidos fuera del contexto específico de la misión en la construcción del Reino de Dios. El voto de Obediencia
En la perspectiva espiritual, el voto de estabilidad recuerda a los Hermanos que no pueden abandonar la obra de Dios
no tienen sentido si se los considera aisladamente. La consagración es un proceso de llamadas y respuestas, cada vez más envolventes, que afectan a la persona del Hermano en su todo. Ella está inseparablemente ligada a la Sociedad de las Escuelas Cristianas. La consagración lasallista es una consagración ministerial. Dios elige, llama y envía a los Hermanos. La puerta de entrada del Hermano para participar en la construcción del Reino de Dios es la Misión Educativa. Considerando la fórmula de votos de 1694, sería mejor llamarla fórmula de consagración, constatamos que los Hermanos hacen votos de obediencia, asociación y estabilidad. Analizando la fórmula podemos destacar tres elementos. En primer lugar, antes de cualquier otra consideración, la fórmula comienza con la consagración total y sin condiciones a Dios. Es una consagración que requiere total disponibilidad y generosidad para realizar la obra de Dios, que consiste en “llevar adelante”
En una sociedad tan marcadamente religiosa, como la del siglos XVII, el voto de obediencia, fuera de favorecer las decisiones de gobierno, también ligaba a los Hermanos a una promesa dirigida directamente a Dios que los vinculaba en primera persona. Tal vez ese compromiso de los Hermanos pueda ser considerado más una virtud que un voto. Aquí también conviene destacar otro elemento importante de la obediencia, presente en la fórmula de 1694. No se trata solamente de obedecer a los Superiores, sino también al cuerpo de la sociedad. La Salle, con los primeros Hermanos, instauró un modo concreto de tomar decisiones que se convirtieron en tradición en el Instituto. Estamos hablando de las famosas asambleas de Hermanos, en las que se debate libremente hasta llegar a un acuerdo satisfactorio. El voto de Asociación Considerando la historia del Instituto naciente, el Hno. Josean Villalabeitia5 afirma que el principal objetivo del voto de asociación fue el de unir a los Hermanos internamente y comprometerlos alrededor de los mismos ideales y objetivos. El voto de asociación surgió y se consolidó en momentos históricos de extrema dificultad en el Instituto. Fueron situaciones en las que el Instituto corría un serio riesgo de desaparecer. Más que decir lo que no se debe hacer, es un voto de un proyecto que invita a los Hermanos a mirar hacia el futuro con realismo, objetividad y esperanza. En la práctica, representó en el Instituto naciente un nuevo dinamismo para construir nuevas alternativas que fueron fundamentales para la viabilidad y la vitalidad del Instituto. En el voto de asociación podemos identificar diferentes dinámicas. Una de ellas es fortalecer la cohesión interna de la comunidad, superando divisiones y la dispersión. Otra, es el “para” del voto de asociación. Los Hermanos se asocian para el servicio educativo a los pobres, que asumen juntos y por asociación.
5Cf. Villalabeitia, op. cit. p. 77 – 78.
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El voto de Estabilidad El voto de Estabilidad desde los orígenes del Instituto tiene una especificidad que no se puede dejar de lado. Es diferente el modelo del voto de estabilidad de la vida monacal, de la Regla Benedictina, por ejemplo, significaba permanecer en el mismo monasterio. En la perspectiva lasallista, el voto de estabilidad tiene un sesgo práctico y otro espiritual. Según el sesgo práctico, los Hermanos se comprometen a permanecer estables en la sociedad durante el tiempo de duración del voto, no podrán abandonarlo de ninguna manera ni desear que los expulsen. En la perspectiva espiritual, el voto de estabilidad recuerda a los Hermanos que no pueden abandonar a los niños y a los jóvenes que Dios les confía. Bula de aprobación del Instituto Con la Bula de Aprobación de 1725, y la Regla publicada en 1726, hubo algunos cambios sustanciales en la forma de comprender la consagración y los votos. En primer lugar, pasamos de tres a cinco votos. Los votos ahora son de pobreza, castidad, obediencia, estabilidad en el Instituto y el voto de enseñar gratuitamente a los pobres. La tríada clásica va a encabezar los votos, y el voto de asociación es transformado en “enseñar gratuitamente a los pobres”. La dinámica propia del voto de asociación desaparece. A partir de ahora, la tríada pasa a ser la clave de lectura para los otros votos. En términos prácticos, esto significa que la santificación personal tendrá lugar destacado y no tanto la misión educativa, y la regularidad será reforzada. Con eso, pierden en gran medida los signos de identidad y la originalidad del carisma lasallista. La Regla Revisada La Regla revisada por el 45° capítulo General, y recientemente aprobada por la Congragación para los Institutos de Vida Consagrada y las Sociedades de Vida Apostólica, propone un audaz camino de recuperación del sentido original de la consagración lasallista. El decreto de aprobación de la Regla reconoce el voto de Asociación como unos de los ejes de la relectura de las disposiciones carismáticas propuestas por el 45° Capítulo General. El Capítulo sobre la Vida Consagrada, de la Regla revisada, comienza recordando la experiencia fundacional del Instituto, destacando que el itinerario del santo Fundador y de los primeros Hermanos continúa siendo fuente de inspiración y orientación para los Hermanos. Según la Regla revisada, el voto de asociación, juntamente con el voto de estabilidad, expresan la especificidad de
la consagración del Hermano. El voto de asociación, a su vez, une fuertemente a los Hermanos, refuerza el sentido de pertenencia solidaria al Instituto, desafía a los Hermanos a responder con creatividad a los desafíos actuales de los destinatarios de la misión, y los conduce a comprender los otros votos a partir de la perspectiva de la asociación. El voto de estabilidad recuerda a los Hermanos que están comprometidos con la obra de Dios y que no pueden abandonar a los niños(as), a los jóvenes y a los adultos que Él les confía. Recuperar el dinamismo carismático del Instituto Normalmente, en sus orígenes, los carismas tienen un “aroma” y un “sabor” característicos. Sin embargo, con el pasar del tiempo, en contacto con las vicisitudes históricas, pasan por un proceso de institucionalización. En esta institucionalización, la perspectiva original puede ser enriquecida o también puede perder o apartarse, en parte, de su dinamismo místico y profético. Sin entrar en la larga y rica historia del carisma lasallista, ampliamente estudiado y divulgado, en el contexto actual es importante recuperar la articulación y el dinamismo místico y profético de los orígenes: misión, consagración y votos. Según Michel Sauvage, necesitamos constantemente reencontrar el dinamismo creador de nuestro Instituto6. En términos concretos, recuperar la perspectiva lasallista de los votos significa situarlos en el horizonte de la misión y de la consagración. Con la Perfectae Caritatis pasamos de los votos a la consagración. El Hermano, según el carisma lasallista, es llamado a desempeñar una misión específica en la construcción del Reino de Dios. Los votos, particularmente, los específicos del Instituto, son expresión de esa consagración. Esos votos son la clave de lectura para los otros votos. Lo que Dios quiere de nosotros es que seamos fieles a la misión que Él mismo nos confía. Precisamos recuperar la dinámica propia de la fórmula de votos de 1694, que hoy el Instituto y la Iglesia nos vuelven a proponer por medio de la Regla revisada del 2015. En un tiempo en que existe una desconfiguración de los metarrelatos tradicionales, necesitamos recuperar y actualizar la dinámica de la consagración lasallista, expresada en la fórmula de votos de 1694. Es el mismo Dios que iluminó a La Salle y a los primeros Hermanos que hoy nos invita a que seamos creativamente fieles a los niños(as), adolescentes y a los jóvenes que Él mismo nos confía. Ojalá, que la nueva propuesta de comprensión de la relación entre misión, consagración y votos nos ayude a recuperar el dinamismo místico y profético de nuestro carisma.
6Cf. Comte, Robert, Grass, Paul e Muñoz, Diego, L’espérnace fragile d’um témoin – L’itinéraire du F. Michel Sauvage (19243 – 2001), Étuds Lasallienes 18, p. 491.
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Experimentar a Bondade e a Ternura de Deus: o Jubileu Extraordinário da Misericórdia e os Encontros de Jovens Irmãos Irmão Cláudio André Dierings Vice-Diretor do Colégio La Salle Caxias, de Caxias do Sul/RS Irmão Marcos Antonio dos Santos Professor na Fundação O Pão dos Pobres de Santo Antônio, de Porto Alegre/RS
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Ano Santo pretende ser uma Porta da Misericórdia. O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco, foi aberto no dia 8 de dezembro de 2015, Solenidade da Imaculada Conceição, e terminará na Solenidade Litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, no dia 20 de novembro de 2016. A Igreja, concentrando seu olhar sobre o mistério da misericórdia, coloca em evidência esta iniciativa, encontrando nela uma especial ocasião para anunciar “o rosto da misericórdia do Pai, que tornou-se vivo, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré”1.
João Paulo II desenvolveu e aprofundou o que foi sugerido por João XXIII. Todavia, Kasper (2015) salienta que o tema da misericórdia não surgiu no pensamento de João Paulo II quando ele estava sentado no seu gabinete. Esse Papa conheceu como nenhum outro, e padeceu na sua própria carne, a história do sofrimento da sua época. Cresceu nas proximidades de Auschwitz; na juventude, nos seus primeiros anos de sacerdote e na época em que foi bispo de Cracóvia, viveu as duas guerras mundiais e brutais sistemas totalitários; experimentou muitas tribulações no seu povo e na sua própria vida. O seu pontificado ficou marcado pelas consequências de um atentado e, nos últimos anos de vida, pelo sofrimento pessoal. Na avaliação de Kasper (2015), o testemunho do seu sofrimento foi uma homilia mais eloquente do que muitas das homilias que proferiu e do que os inúmeros documentos que escreveu no seu longo pontificado. Bento XVI já na sua primeira encíclica Deus Caritas Est (Deus é Amor, 2005) aprofundou teologicamente o sentido da misericórdia. Na sua encíclica social Caritas in Veritate (Caridade na Verdade, 2009), enfatizou a misericórdia à luz dos novos desafios. Kasper
Depois das terríveis experiências vividas no breve século XX2 e no ainda incipiente século XXI, a questão sobre a compaixão de Deus e sobre as pessoas compassivas é hoje mais urgente do que nunca. Não resta dúvida de que a misericórdia surge como um tema fundamental para o século XXI e não é sem razão que um Papa dedique a ela um tempo favorável de reflexão com vistas a tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes3. Em nossa história recente, como nos lembra Walter Kasper4, Papas reconheceram com toda a clareza os sinais dos tempos e exortaram a que se voltasse a situar a questão da misericórdia no centro do anúncio e da prática eclesiais. João XXIII foi o primeiro a lançar esse desafio. Já no seu diário espiritual se encontram inúmeras e profundas considerações sobre a misericórdia divina. Para ele, a misericórdia é o mais belo nome de Deus, a forma mais bela de nos dirigirmos a Ele.
A Igreja concentra seu olhar sobre o mistério da misericórdia
1Misericordiae Vultus, n. 1. 2A expressão é do historiador Eric Hobsbawm. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 3Misericordiae Vultus, n. 3. 4KASPER, Walter. A misericórdia: condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. São Paulo: Edições Loyola; Portugal: Princípia Editora, 2015.
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(2015) sublinha a diferença em relação às encíclicas sociais de Papas anteriores. Na sua avaliação, Bento XVI não parte já da justiça, mas sim do amor como princípio fundamental da doutrina social cristã. Desse modo, opta por um novo enfoque da doutrina social da Igreja e põe novas tônicas, que retomam uma vez mais a grande meta da misericórdia num contexto mais amplo. Francisco não se limita em apenas proclamar um Jubileu Extraordinário da Misericórdia, mas também o vive. Vive o que proclama e dá visibilidade ao essencial da vida cristã e nos convoca: Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e levemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo (Misericordiae Vultus, n.15). Tudo isso está em perfeita sintonia com o Evangelho de Jesus. Kasper (2015) salienta que a novidade da mensagem de Jesus em relação ao Antigo Testamento é que Ele anunciou a misericórdia divina de forma definitiva e para todos. Jesus de Nazaré abriu o acesso a Deus não só a uns quantos justos, mas a todos; no Reino de Deus há lugar para todos, ninguém é excluído. Os pecadores são destinatários da mensagem de Jesus de um modo especial. De modo diferente dos fariseus e dos doutores da lei, Jesus não Se mantém afastado dos pecadores; come e participa em banquetes com eles (Mc 2,13-17). É tido como amigo de publicanos e pecadores (Lc 7,34). Em casa do fariseu Simão, mostra misericórdia para com uma prostituta conhecida na cidade (Lc 7,36-50). E faz o mesmo com o publicano Zaqueu, cuja casa visita (Lc 19,1-10). Quando os fariseus se escandalizam com essa forma de atuar, Jesus replica-lhes: “Não são os saudáveis que precisam de médico, e sim os que estão mal” (Lc 5,31; Lc 19,10)5. Conta-lhes a parábola do fariseu e do publicano que sobem juntos ao templo para orar. O que volta justificado a casa não é o fariseu, que se envaidece das suas boas obras, mas sim o publicano, que bate no peito e reza: “Ó Deus, sê indulgente comigo, o pecador!” (Lc 18,9-14).
Nosso fundador, São João Batista de La Salle, ao comentar a parábola do fariseu e do publicano diz: Jesus Cristo via que a maioria dos homens é muito convencida e que, ao falarem, com frequência falam de si e em seu favor. Por isso, propôs no Evangelho a parábola de um publicano e de um fariseu. Este último, aparentando rezar, só pensava nas próprias boas qualidades, enquanto o outro se considerava miserável pecador e pedia humildemente misericórdia a Deus. O publicano foi justificado por ter rezado de maneira simples e humilde. O outro, porém, ficou coberto de confusão, tendo mais ultrajado a Deus do que orado a Ele (MD 63,2,1). É significativo que La Salle tenha abordado em diversas circunstâncias a misericórdia divina. Hoje, em nossa Província La Salle Brasil-Chile, podemos perceber uma relação direta entre o Jubileu Extraordinário da Misericórdia e os Encontros de Jovens Irmãos por Polos de Formação e Acompanhamento; esses Encontros de Jovens Irmãos, além do objetivo de serem uma instância de acompanhamento e formação, são também verdadeiros espaços de misericórdia, no qual se pode partilhar a vida-missão, sonhos, alegrias, esperanças, tristezas e angústias. E mais do que partilhar, se encontra acolhida e compreensão; e se apresenta o rosto misericordioso do Pai revelado em Jesus de Nazaré pela ação do Espírito Santo como horizonte e guia do nosso caminho de seguimento. Jesus foi um grande exemplo de um ser de misericórdia, formador e acompanhante. Conforme o Dicionário Aurélio6, acompanhar significa ir em companhia de; seguir; observar a marcha, a evolução. Essa é uma prática comum, também quando se refere que os pais acompanham os filhos, os educadores que acompanham os educandos, os amigos que acompanham os amigos, o patrão que acompanha o empregado, o formador7 que acompanha o formando8 (DULLIUS, 2009). Há, assim, em toda relação humana, uma forma de acompanhamento, cuja importância é fundamental. Alguns têm mais habilidade para acompanhar do que outros, no entanto, a experiência de acompanhar se dá pela prática e pelo treinamento (BALDISSERA, 2002). Nesse sentido, acontecem nas regiões do Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul os Encontros de Jovens Irmãos da Província La Salle Brasil-Chile, organizados pela Direção de Formação, instância de estudos, reflexões e acompanhamento. Em 2015, o Setor de Formação proporcionou aos Irmãos a construção de seu projeto de vida nas visitas às Comunidades Religiosas. Nos encontros regionais de Jovens Irmãos é realizado o acompanhamento.
5Nas citações bíblicas utilizamos: Evangelhos e atos dos apóstolos: novíssima tradu ção dos originais. [tradução, introdução e notas Cássio Murilo Dias da Silva; Irineu J. Rabuske]. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013. 6FERREIRA, 2004. 7Formador: Irmão, consagrado a Deus, como ministro e embaixador de Cristo, exercendo seu ministério apostólico através do acompanhamento dos jovens que ingressam nas casas de formação para se congregarem a esse estilo de vida (PLANO DE FORMAÇAO LASSALISTA, 1998). 8Formando: Toda pessoa que se prepara para se consagrar a Deus, através da Vida Religiosa Consagrada (PLANO DE FORMAÇAO LASSALISTA, 1998).
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Encontros de Irmãos são espaços para o cuidado de si e do outro
Esses encontros, além de proporcionar a vivência da misericórdia, são espaços para o cuidado de si e do outro. Somos constituídos antropologicamente como seres para convivermos entre as pessoas, possibilitando que consigamos perceber nossas alegrias, habilidades, competências, mas também nossas fraquezas, realizando esse autoconhecimento a partir da alteridade. Por isso, o acompanhamento pessoal ou grupal é importante no sentido de buscar gradualmente o processo de formação integral e integradora. Na história, percebemos que o acompanhamento era realizado no controle, desconsiderando questões subjetivas e culturais. No contexto contemporâneo, existe a possibilidade de realizar um acompanhamento integral, no qual a pessoa é o centro do processo. Para Mondin (2003): O homem nos interessa na sua totalidade, não por esse ou aquele de seus aspectos. As ciências especializadas, malgrado os seus esforços, tendem a limitar a totalidade do indivíduo, considerando-o do ponto de vista de uma função ou de um impulso particular. O nosso conhecimento do homem resulta fragmentado: muito frequentemente tomamos uma parte pelo todo. É esse erro que nos propomos evitar (p.14-15). Em várias situações, a ciência só analisa o homem a partir de um enfoque, tendo o enfoque unilateral, reducionista e etnocêntrico. Nesse sentido, a Formação da Província Brasil-Chile busca realizar um acompanhando formativo que seja plural, valorize a diversidade, motivações pessoais e comunitárias, numa perspectiva generalista e integral, que possa atender à totalidade do ser.
Realiza, assim, um acompanhamento personalizado, compreendendo que o ser humano é um indivíduo dotado de muitas potencialidades e constituído por várias dimensões (física, psíquica e espiritual), que são desenvolvidas a partir da experiência de cada um. Além dos estudos e reflexões, os momentos de acompanhamento são espaços para refletir acerca de nossa identidade e da missão que cada Jovem Irmão desenvolve, partilha do projeto de vida, ações pastorais desenvolvidas, partilha de vida e dos sonhos, possibilitando a construção da autonomia, integração do eu, viver de forma equilibrada e renovando a consagração. Avaliamos positivamente os Encontros de Jovens Irmãos por Polos, como instância de formação, acompanhamento e de vivência da misericórdia, pelo fato de refletir sobre os cenários da Vida Religiosa Consagrada, sobre as novas perspectivas de ser Irmão, momento de convivência, integração, partilha e de ser um espaço para renovarmos nossa missão, fé e consagração. Diante do contexto contemporâneo, a Vida Religiosa é marcada por desafios e mudanças, tendo exigido novas formas de acompanhamento. Vislumbra novas perspectivas de projetos e da própria Vida Consagrada.
Referências BALDISSERA, Deolino. Acompanhamento personalizado. São Paulo: Paulinas, 2002. DULLIUS, Paulo. Acompanhamento na Vida Religiosa. In. Rev. Convergência. Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB. n. XLIV, janeiro/fevereiro – Brasília, 2009. MONDIN, Batista. O homem, quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. 11. ed. São Paulo: Paulinas, 2003.
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Misericordiosos como o Pai:
Reflexões a partir do Jubileu Extraordinário da Misericórdia Irmão Marcelo Cesar Salami Diretor de Formação Irmão Marcos Antonio dos Santos Professor na Fundação O Pão dos Pobres de Santo Antônio, de Porto Alegre/RS
Para além desse sentido, o dia 8 de dezembro de 2015 também recorda que há 50 anos se dava a conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II, acontecimento eclesial mais importante do século XX, que indicou caminhos para novas formas de viver e expressar o mistério cristão. A Mensagem do Concílio ao Mundo, datada de 20 de outubro de 1962, não mais que duas semanas após sua abertura, dizia, entre outras coisas:
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o dia 8 de dezembro, iniciou um tempo especial para a Igreja Católica. Nessa data, ocorreu a abertura oficial do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. A propósito, convém lembrar que os Jubileus são celebrados ordinariamente a cada 25 anos; fora dessa sequência, são Jubileus Extraordinários. O novo Jubileu que a Igreja iniciou foi convocado pelo Papa Francisco, para contemplar o mistério da misericórdia como fonte de alegria, serenidade e paz. Ele foi aberto na Solenidade da Imaculada Conceição.
Como nos recorda o Papa Francisco, na Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (Misericordiae Vultus), este ano jubilar quer celebrar o modo misericordioso do agir de Deus desde os primórdios da nossa história. Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado1.
Continuamente voltamos nossos corações a todos os anseios que afligem os seres humanos hoje... A exemplo de Cristo, nutrimos comovida compaixão pela multidão fortemente castigada pela fome, pela miséria e pela falta de educação; constantemente nos dirigimos aos desprovidos das ajudas necessárias, que ainda não alcançaram uma vida digna de pessoa humana [...]2. Portanto, não é sem razão que o Papa Francisco marcou para essa data a abertura oficial do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Ele que, com suas palavras e ações, tem promovido tantas traduções práticas (e não apenas retóricas) segundo a letra e o espírito do Concílio Vaticano II na vida da Igreja. Não é exagero afirmar que, depois de João XXIII, Francisco é o Papa do Vaticano II, pois tem retomado sua principal mensagem: uma Igreja de reconciliação, de compaixão, de misericórdia. A ternura e a misericórdia se mostram como dimensões centrais do seu magistério. Este Jubileu Extraordinário da Misericórdia, além de ser instituído para assinalar o cinquentenário do Concílio Ecumênico Vaticano II, concluído em 8 de dezembro de 1965, foi também estabelecido, pelo Papa Francisco, na perspectiva da Nova Evangelização 3, com o objetivo de anunciar e testemunhar a misericórdia de Deus, que é condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. Em suas palavras: A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que,
1FRANCISCO, Misericordiae Vultus: Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (11 de abril de 2015), n. 2. 2Apud O’MALLEY, John. Vaticano II: a crise, a resolução, o fator Francisco. Cadernos Teologia Pública, São Leopoldo, v. 12, n. 94, p. 4, 2015. 3“Nova Evangelização obviamente não quer dizer novo Evangelho; ela quer expressar o mesmo Evangelho de Jesus Cristo nessa nova situação de maneira nova. Ele retoma a mensagem fundamental tanto da Escritura como da tradição dos Padres, que diz o seguinte: Deus é um Deus dos seres humanos, que quer estar e habitar junto a nós, conosco, entre nós e dentro de nós e esse ser com, junto de e em Deus é a realização plena e última e a verdadeira felicidade do ser humano.” KASPER, Walter. A Igreja Católica: essência, realidade, missão. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2012, p. 423-424.
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por meio dela, deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia4. O Jubileu é tempo favorável para nos voltarmos para Deus de todo coração, para louvar e agradecer com júbilo pelas graças recebidas; mas é também tempo conveniente para acolher graças especiais de Deus, por meio do serviço da Igreja, e para buscar mais intensamente o encontro com Ele e com os irmãos e irmãs. Apesar de nossa fé, muitas vezes, esquecemo-nos de louvar e agradecer ao Senhor por tantas graças concedidas à nossa Província, às nossas Comunidades Educativas e Religiosas, a nós, Irmãos. Nosso querido e saudoso Irmão Arthur Schuster (“Véio”) repetia muitas vezes: “É preciso agradecer, éh!!!”. Cultivar a gratidão a Deus, ao próximo e à natureza é uma forma muito concreta de vivermos a dimensão do amor ágape que nos pede o Evangelho. No Jubileu, somos chamados à conversão dos costumes e de vida, ao arrependimento, à reconciliação com Deus e com o próximo, e a renovar-nos espiritualmente mediante a experiência do perdão Daquele que é rico em misericórdia e maior que nossa consciência e que tudo sabe (Cf. Ef 2,4; 1Jo 3,18-20). Não é preciso repetir que muitas de nossas doenças têm sua origem em rancores, ódios nutridos por nós mesmos. A reconciliação é o caminho que conduz à fonte certa de alegria, serenidade e paz. Nossa Regra Revisada diz que “a comunidade é o lar dos Irmãos” (RR 49). Então, por que não vivermos esse desafio de transformar nossas comunidades num espaço mais acolhedor, afetivo, de maior compreensão?
Depois de João XXIII, Francisco seria o Papa do Vaticano II
O convite que nos faz a Igreja é oportunidade para retomarmos uma de nossas dimensões constitutivas. A construção da cultura vocacional também é resultado de nossas vivências fraternas, ou seja, da qualidade de nossa vida comunitária. Os jovens sentemse atraídos por ambientes fraternos e repelidos por ambientes hostis.5 O Ano Jubilar terminará oficialmente na solenidade litúrgica de Jesus Cristo Rei do Universo, a 20 de novembro de 2016. Porém, pelo convite do Papa Francisco, somos todos interpelados a fazer com que os anos futuros sejam repletos de misericórdia; que, vivendo juntos a alegria de nossa missão, saibamos compartilhar as razões de nossa fraternidade levando a todos e todas a bondade e a ternura de Deus (Cf. Circular 470). O Jubileu Extraordinário da Misericórdia também nos deve alertar para a realidade do mal. Conforme salienta Torres Queiruga: “O mal, quando a finitude – puramente física ou livremente culpável – o produz, não é nem querido nem permitido por Deus, senão oposto à sua intenção e suportado conosco e por nós”6. Que saibamos atentar para isso e concentrar nossos esforços não na construção do inferno7, mas de relações comunitárias fraternas. Isso, tendo presente que o inferno 8 começa a ser construído na terra pelas relações que instituímos com os outros, se nelas estão ausentes o amor, a misericórdia, a compaixão, a ternura, a acolhida. Elas se cristalizam, cada vez mais, no ódio, na rejeição, na frialidade, no absoluto encapsulamento em si mesmo.
4FRANCISCO, Misericordiae Vultus: Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (11 de abril de 2015), n. 12. 5“A fidelidade no discipulado passa e é provada, finalmente, pela experiência da fraternidade, lugar teológico, no qual somos chamados a nos sustentar no sim alegre ao Evangelho”. ALEGRAI-VOS. Carta circular do Magistério do Papa Francisco aos Consagrados e às Consagradas (02 de fevereiro de 2014). São Paulo: Paulinas, 2014, p. 28-29. 6TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar o mal: da ponerologia à teodiceia. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 291. 7É significativo, nesse sentido, o diálogo das personagens de um recente romance português: “O inferno não são os outros, pequena Halla. Eles são o paraíso, porque um homem sozinho é apenas um animal. A humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti. Ser-se pessoa implica a tua mãe, as nossas pessoas, um desconhecido ou a sua expectativa. Sem ninguém no presente nem no futuro, o indivíduo pensa tão sem razão quanto pensam os peixes. Dura pelo engenho que tiver e perece como um atributo indiferenciado do planeta. Parece como uma coisa qualquer” (MÃE, Valter Hugo. A desumanização. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p. 15). 8“A partir dessa situação podemos definir exatamente o significado desse termo: ele designa uma solidão em que o amor já não penetra e que representa, por isso mesmo, o abandono propriamente dito da existência”. RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Introdução ao cristianismo: preleções sobre o símbolo apostólico. 6. ed. São Paulo: Loyola, 2012, p. 221.
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Como religiosos dedicados ao ministério da educação cristã, prometemos unirmo-nos e permanecer em sociedade
O pior inferno acontece se somos este egoísta, narcisista, fechado. Tornamo-nos inferno para os outros, porque somos nós mesmos infernos para nós mesmos. Quem criou tal inferno? Foi Deus? Não. Foram a nossa liberdade e as nossas decisões, nutridas e corroboradas com muitas outras. Há, sem dúvida, um nível pessoal em que unicamente eu sou o plasmador do inferno. A frase de Sartre adquire plena verdade quando o eu se faz absoluto no sentido forte da etimologia. Ab-soluto – estar separado de todo liame, de toda relação –, isto é, separado de todo outro ser humano. Eis aí o inferno. E o conjunto de seres assim constitui-se o inferno coletivo9. Este artigo não pretende apenas repetir as palavras do Papa Francisco, mas oferecer algumas reflexões para celebrarmos bem este tempo favorável, a fim de se tornar mais forte e eficaz o nosso testemunho de embaixadores e ministros de Jesus Cristo (Cf. LA SALLE, MR 195,2,1).
que a Igreja nos desafia. Identifiquemos quais práticas podemos programar, em nível pessoal e comunitário, que respondam ao convite da Igreja. Oxalá nossos Projetos de Vida, Comunitário e Provincial fiquem enriquecidos com a proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Que saibamos traduzir, com nossas vidas e ações, os grandes propósitos desse tempo favorável, e não nos esqueçamos do que nos recorda o Papa Francisco: Espero de vós o mesmo que peço a todos os membros da Igreja: sair de si mesmo para ir às periferias existenciais. A humanidade inteira aguarda: pessoas que perderam toda a esperança, famílias em dificuldade, crianças abandonadas, jovens a quem está vedado qualquer futuro, doentes e idosos abandonados, ricos saciados de bens mas com o vazio no coração, homens e mulheres à procura do sentido da vida, sedentos do divino...
Recomendamos a todos a leitura da Bula Misericordiae Vultus, de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Nesse texto-base, o Papa Francisco apresenta as grandes motivações para a celebração deste Ano Santo Extraordinário, além de indicações importantes sobre como celebrar esse tempo especial da graça de Deus.
Não vos fecheis em vós mesmos, não vos deixeis asfixiar por pequenas brigas de casa, não fiqueis prisioneiros dos vossos problemas. Estes resolverse-ão se sairdes para ajudar os outros a resolverem os seus problemas, anunciando-lhes a Boa Nova. Encontrareis a vida dando a vida, a esperança dando esperança, o amor amando.
Aproveitemos o Ano Santo da Misericórdia como tempo oportuno para viver e testemunhar nossa vocação em sintonia com aquilo a
De vós espero gestos concretos de acolhimento dos refugiados, de solidariedade com os pobres,
9LIBANIO, João Batista. Qual o caminho entre o crer e o amar? 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005, p. 93
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de criatividade na catequese, no anúncio do Evangelho, na iniciação à vida de oração. Consequentemente almejo a racionalização das estruturas, a reutilização das grandes casas em favor de obras mais cônsonas às exigências atuais da evangelização e da caridade, a adaptação das obras às novas necessidades. Espero que cada forma de vida consagrada se interrogue sobre o que pedem Deus e a humanidade de hoje. [...] ninguém deveria subtrair-se a um sério controle sobre a sua presença na vida da Igreja e sobre o seu modo de responder às incessantes e novas solicitações que se levantam ao nosso redor, ao clamor dos pobres10. Como religiosos dedicados ao ministério da educação cristã, todos nós prometemos unir-nos “e permanecer em sociedade com os Irmãos das Escolas Cristãs, que se congregaram para manter juntos e por associação as escolas a serviço dos pobres” (RR 25). Nessa perspectiva, é lenitivo recordar o significado original da palavra latina misericordia, pois a mesma quer dizer ter o coração (cor) com os pobres (miseri), sentir afeto pelos pobres11. Nesse sentido humano global, Kasper (2015) caracteriza a misericórdia como “a atitude de quem transcende o egoísmo e o egocentrismo e não tem o coração centrado em si mesmo, mas centrado nos outros, em especial nos pobres e nos afligidos por todo o tipo de misérias”. E o autor prossegue: “Transcender-se a si mesmo até aos outros, esquecendo-se assim da sua pessoa, não é debilidade, mas fortaleza. Nisso consiste a verdadeira liberdade”.
Desse modo, podemos concluir que a misericórdia é a opção de Deus pela vida, pois Ele mostra-Se especialmente solícito com os débeis e os pobres12. Isso vai tão longe, que Deus não só defende os pobres e os humildes, mas une o destino deles a seu próprio destino histórico13. A opção pelos pobres “transforma-se, de fato, na marca inconfundível do anúncio e do destino de Jesus. Eleva-a à proclamação inaugural – ‘os pobres são evangelizados’ –, transforma-a em tema central – ‘felizes os pobres’ – e estabelece-a como critério definitivo – ‘porque tive fome e me destes de comer...’”14. Sendo assim, lembrar que estamos na santa presença de Deus (RR 64.1) supõe necessariamente um impulso salvador para todo necessitado. Salvador até diante da própria justiça humana, porque o mais das vezes a justiça legal transforma-se também na institucionalização da injustiça exercida pelos mais poderosos, pelos mais fortes. Concluímos com palavras do Papa Francisco, pronunciadas durante a Audiência Geral ocorrida na Praça de São Pedro no dia 29 de maio de 2013: [...] é bom saber que, quando nos damos conta de que somos pecadores, encontramos a misericórdia de Deus, que perdoa sempre. Não o esqueçais: Deus perdoa sempre e recebe-nos no seu amor de perdão e misericórdia. Alguns dizem que o pecado é uma ofensa a Deus, mas é também uma oportunidade de humilhação, para nos darmos conta de que existe algo melhor: a misericórdia de Deus. Pensemos nisto.
Indicações para a leitura e reflexão comunitária: FRANCISCO, Misericordiae Vultus: Bula de Convocación del Jubileo Extraordinario de la Misericordia (11 de abril 2015). FRANCISCO, Misericordiae Vultus: Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (11 de abril de 2015). GARCÍA RUBIO, Alfonso. A caminho da maturidade na experiência de Deus. São Paulo: Paulinas, 2008. KASPER, Walter. A misericórdia: condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. São Paulo: Edições Loyola; Portugal: Princípia Editora, 2015. KASPER, Walter. La misericordia: clave del Evangelio y de la vida cristiana. Santander: Sal Terrae, 2012. NOUWEN, Henri J. M. A volta do filho pródigo: a história de um retorno para casa. 15. ed. São Paulo: Paulinas, 2008. NOUWEN, Henri J. M. El regreso del hijo pródigo: meditaciones ante un cuadro de Rembrandt. 40ª Edición. PPC, 2005. OS MISERÁVEIS. Reino Unido, 2012, Cor, Musical/Drama/Romance, 158 min. Direção: Tom Hooper; Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Debra Hayward, Cameron Mackintosh. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Alguien así es el Dios en quien yo creo. Madrid: Editorial Trotta, 2013.
10FRANCISCO, Carta apostólica às Pessoas Consagradas para Proclamação do Ano da Vida Consagrada (21 de novembro de 2014), n. 4 e 5. 11Cf. KASPER, Walter. A misericórdia: condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. São Paulo: Edições Loyola; Portugal: Princípia Editora, 2015, p. 36. 12Cf. KASPER, Walter. A misericórdia: condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. São Paulo: Edições Loyola; Portugal: Princípia Editora, 2015, p. 75. 13Oferece uma boa panorâmica MOLTMANN, Jürgen. O Deus crucificado: a cruz de Cristo como base e crítica da teologia cristã. Santo André: Academia Cristã, 2014. Cf. também PIXLEY, Jorge; BOFF, Clodovis. Opção pelos pobres. Petrópolis: Vozes, 1986. 14TORRES QUEIRUGA, Andrés. Do terror de Isaac ao Abbá de Jesus: por uma nova imagem de Deus. São Paulo: Paulinas, 2001, p. 275-276.
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Misericordiosos como el Padre:
Reflexiones a partir del Jubileo Extraordinario de la Misericordia Hermano Marcelo César Salami Director de Formación Hermano Marcos Antonio Santos Comunidad La Salle Pão dos Pobres – Porto Alegre/RS
El día 8 de diciembre, comenzó un tiempo especial para la Iglesia Católica. En esa fecha, se realizó la apertura oficial del Jubileo Extraordinario de La Misericordia. Conviene recordar que los jubileos son celebrados ordinariamente cada 25 años: los que no siguen esta secuencia se los llama Jubileos Extraordinarios. El nuevo Jubileo que la Iglesia ha iniciado fue convocado por el Papa Francisco, con el fin de contemplar el misterio de la misericordia como fuente de alegría, serenidad y paz. Su apertura se realizó en la Solemnidad de la Inmaculada Concepción. Como nos recuerda el Papa Francisco, en la Bula de Proclamación del Jubileo Extraordinario de la Misericordia (Misericordia Vultus), este año jubilar quiere celebrar el modo misericordioso de actuar de Dios desde los orígenes de nuestra historia. Siempre tenemos necesidad de contemplar el misterio de la misericordia. Es fuente de alegría, de serenidad y de paz. Es condición para nuestra salvación. Misericordia: es la palabra que revela el misterio de la Santísima Trinidad. Misericordia: es el acto último y supremo con el cual Dios viene a nuestro encuentro. Misericordia: es la ley fundamental que habita en el corazón de cada persona cuando mira con ojos sinceros al hermano que encuentra en el camino de la vida. Misericordia: es la vía que une Dios y el hombre, porque abre el corazón a la esperanza de ser amados para siempre no obstante el límite de nuestro pecado1. Más allá de este propósito, el día 8 de diciembre de 2015 se recuerda también que hace 50 años se daba conclusión al Concilio Vaticano II, el acontecimiento eclesial más importante del siglo XX, que señaló caminos para nuevas formas de vivir y expresar el
misterio cristiano. El Mensaje del Concilio al mundo, clausurado el 20 de octubre de 1962, a dos semanas de su apertura, decía entre cosas: Continuamente miramos hacia nuestros corazones a todos los anhelos que afligen a los seres humanos hoy... A ejemplo de Jesucristo, conmovidos nos compadecemos por la multitud castigada por el hambre, por la miseria y por la falta de educación constantemente nos dirigimos a los desprovistos de las ayudas necesarias, que todavía no alcanzan una vida digna de persona humana...2 Por lo tanto, nos es sin razón que el Papa Francisco señaló esta fecha para la apertura oficial del Jubileo Extraordinario de la Misericordia. Él que, con sus palabras y acciones, ha promovido tantas traducciones prácticas (y no sólo retóricas) según la letra y el espíritu del Concilio Vaticano II, ha retomado su principal mensaje: una Iglesia de reconciliación, de compasión, de misericordia. La ternura y la misericordia se muestran como las dimensiones centrales de su magisterio. Este Jubileo Extraordinario de la Misericordia, fuera de ser instituido para marcar el cincuentenario del Concilio Vaticano II, concluido el 8 de diciembre de 1965, fue también establecido, por el Papa Francisco, en la perspectiva de la Nueva Evangelización3, con el objetivo de anunciar y testimoniar la misericordia de Dios, que es la condición fundamental del Evangelio y clave de la vida cristiana. En sus palabras: La Iglesia tiene la misión de anunciar la misericordia de Dios, corazón palpitante del Evangelio, que por su medio debe alcanzar la mente y el corazón de toda persona. La Esposa de Cristo hace suyo
1Cf. Aquino, T., O ente e a essência, p. 1. 2Apud O’MALLEY, John. Vaticano II: a crise, a resolução, o fator Francisco. Cadernos Teologia Pública, São Leopoldo, v. 12, n. 94, p. 4, 2015. 3“Nueva evangelización obviamente no quiere decir nuevo Evangelio; ella quiere expresar el mismo Evangelio de Jesucristo en esa nueva situación de manera nueva. Él retoma el mensaje fundamental tanto de la Escritura como de la tradición de los Padres, que dice lo siguiente: Dios es un Dios de los seres humanos, que quiere estar y habitar junto a nosotros, con nosotros, entre nosotros y dentro de nosotros y ese ser con, junto de y en Dios es la realización plena y última y la verdadera felicidad del ser humano” KASPER, Walter. A Igreja Católica: essência, realidades, missão. São Leopoldo; Ed. UNISINOS, 2012, p. 423-424.
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especiales de Dios, a través del servicio de la Iglesia, y para buscar más intensamente el encuentro con Él y con los hermanos y hermanas. A pesar de nuestra fe, muchas veces, nos olvidamos de alabar y agradecer al Señor por tantas gracias concedidas a nuestro Distrito, a nuestras comunidades Educativas y Religiosas, a nosotros, Hermanos. Nuestro querido y saludable Hermano Arthur Schuster (“Véio”) repetía muchas veces: “Es necesario agradecer, eh!!!” Cultivar la gratitud a Dios, al prójimo y a la naturaleza es una forma muy concreta de vivir la dimensión del mor ágape que nos pide el Evangelio. En este Jubileo, estamos llamados a la conversión de las costumbres y de la vida, al arrepentimiento, a la reconciliación con Dios y con el prójimo, y a renovarnos espiritualmente mediante la experiencia de perdón de Aquél que es rico en misericordia y mayor que nuestra conciencia y que todo lo sabe (Cf Ef 2,4; 1Jn 3,18-20). Quizás es necesario repetir que muchas de nuestras enfermedades tienen su origen en rencores, odios alimentados por nosotros mismos. La reconciliación es el camino que conduce a la fuente cierta de la alegría, serenidad y paz. Nuestra Regla Revisada dice que “la comunidad de Hermanos es el hogar de los Hermanos” (RR 49). Entonces, ¿por qué no vivir ese desafío de transformar nuestras comunidades en un espacio más acogedor, afectivo, de mayor comprensión? Año de la Misericordia comenzó el día 8 de diciembre
el comportamiento del Hijo de Dios que sale a encontrar a todos, sin excluir ninguno. En nuestro tiempo, en el que la Iglesia está comprometida en la nueva evangelización, el tema de la misericordia exige ser propuesto una vez más con nuevo entusiasmo y con una renovada acción pastoral. Es determinante para la Iglesia y para la credibilidad de su anuncio que ella viva y testimonie en primera persona la misericordia. Su lenguaje y sus gestos deben transmitir misericordia para penetrar en el corazón de las personas y motivarlas a reencontrar el camino de vuelta al Padre4. El Jubileo es tiempo favorable para volcarnos a Dios de todo corazón; para alabar y agradecer con júbilo las gracias recibidas; pero es también un tiempo conveniente para acoger gracias
La invitación que nos hace la Iglesia es nos demos oportunidad para retomar una de nuestras dimensiones constitutivas, La construcción de la cultura vocacional también es el resultado de nuestras vivencias fraternas, o sea, de la calidad de nuestra vida comunitaria, Los jóvenes se sienten atraídos por ambientes fraternos y repelidos por ambiente hostiles5. El Año Jubilar terminará oficialmente en la solemnidad litúrgica de Jesucristo Rey del Universo, el 20 de noviembre de 2016. Por ello, por medio de la invitación del Papa Francisco, estamos todos llamados a hacer de los años futuros tiempos plenos de misericordia; que, viviendo juntos la alegría de nuestra misión, sepamos compartir las razones de nuestra fraternidad llevando a todos la bondad y la ternura de Dios (Cf. Circular 470). El Jubileo Extraordinario de la Misericordia también nos debe alentar para la realidad del mal. Así como resalta Torres Queiruga: “El mal, cuando la finitud –puramente física o libremente culpableel produce, no es ni querido ni permitido por Dios, si no opuesto
4FRANCISCO, Misericordiae Vultus: Bula de Convocación del Jubileo Extraordinario de la Misericordia (11 de abril 2015). 5La finalidad Del discipulado pasa y es probada, finalmente, por La experiencia de La fraternidad, lugar teológico, en el cual estamos llamados a sustentarnos en el sí alegre del Evangelio. ALEGRAOS. Carta circular del Magisterio del Papa Francisca a los Consagrados y a las consagradas (02 de febrero de 2014). San Paulo: Paulinas 2014.
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a su intención y soportado con nosotros y por nosotros”6. Que sepamos ponderar y concentrar nuestros esfuerzos no en la construcción del infierno7, sino en las relaciones comunitarias fraternas. Eso, teniendo presente que el infierno8 comienza a ser construido en la tierra por las relaciones que instituimos con los otros, si en ellas están ausentes el amor, la misericordia, la compasión, la ternura, la acogida. Ellas se cristalizan, cada vez más, en el odio, en el rechazo, en la frialdad, en el absoluto encapsulamiento en sí mismo. El peor infierno sucede si somos egoístas, narcisistas, cerrados. Nos hacemos infierno para los otros, porque somos nosotros mismos infiernos para nosotros mismos. ¿Quién creo el infierno? ¿Fue Dios? No. Fueron nuestra libertad y nuestras decisiones, nutridas y corroboradas con muchas otras. Hay, sin duda, un nivel personal en que únicamente yo soy el configurador del infierno. La frase de Sartre adquiere plena verdad cuando el yo se hace absoluto en el sentido fuete de la etimología. Ab-soluto – estar separado de toda ligación, de toda relación- este es, separado de todo otro ser humano. Eh ahí el infierno. Y el conjunto de seres se constituyen así en el infierno colectivo9. Este artículo no pretende sólo repetir las palabras del Papa Francisco, sino ofrecer algunas reflexiones para que celebremos bien este tiempo favorable, con el fin de hacer más fuerte y eficaz nuestro testimonio de embajadores y ministros de Jesucristo (Cf La Salle, MR 195, 2,1). Recomendamos a todos la lectura de la Bula Misericordiae Vultus, proclamación del Jubileo Extraordinario de la Misericordia. En ese texto base, el Papa Francisco presenta las grandes motivaciones para la celebración de este Año Santo extraordinario, además de las indicaciones importantes sobre cómo celebrar ese tiempo de gracia de Dios. Aprovechemos el Año Santo de la Misericordia como un tiempo oportuno para vivir y testimoniar nuestra vocación en sintonía con aquello a que la Iglesia nos desafía. Identifiquemos aquellas prácticas que podemos programar, a nivel personal, comunitario, que respondan a la invitación de la Iglesia. Ojalá nuestros Proyectos de Vida, Comunitario y Distrital
se enriquezcan con la proclamación del Jubileo Extraordinario de la Misericordia. Que sepamos traducir, con nuestras vidas y acciones, los grandes propósitos de este tiempo favorable, y no nos olvidemos de lo que el Papa Francisco nos recuerda: Espero de ustedes, además, lo que pido a todos los miembros de la Iglesia: salir de sí mismos para ir a las periferias existenciales. «Vayan al mundo entero», fue la última palabra que Jesús dirigió a los suyos, y que sigue dirigiéndonos hoy a todos nosotros (cf. Mc 16,15). Hay toda una humanidad que espera: personas que han perdido toda esperanza, familias en dificultad, niños abandonados, jóvenes sin futuro alguno, enfermos y ancianos abandonados, ricos hartos de bienes y con el corazón vacío, hombres y mujeres en busca del sentido de la vida, sedientos de lo divino... No os repleguéis en vosotros mismos, no dejéis que las pequeñas peleas de casa os asfixien, no quedéis prisioneros de vuestros problemas. Estos se resolverán si vais fuera a ayudar a otros a resolver sus problemas y anunciar la Buena Nueva. Encontraréis la vida dando la vida, la esperanza dando esperanza, el amor amando. Espero de vosotros gestos concretos de acogida a los refugiados, de cercanía a los pobres, de creatividad en la catequesis, en el anuncio del Evangelio, en la iniciación a la vida de oración. Por tanto, espero que se aligeren las estructuras, se reutilicen las grandes casas en favor de obras más acordes a las necesidades actuales de evangelización y de caridad, se adapten las obras a las nuevas necesidades. Espero que toda forma de vida consagrada se pregunte sobre lo que Dios y la humanidad de hoy piden. [...] nadie debería eludir este Año una verificación seria sobre su presencia en la vida de la Iglesia y su manera de responder a los continuos y nuevos interrogantes que se suscitan en nuestro alrededor, al grito de los pobres10.
6TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar o mal: da ponerologia à teodiceia. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 291 7Es significativo, en ese sentido, el diálogo de los personajes de una reciente novela portuguesa: “El infierno no son los otros, pequeña Halla. Ellos son el paraíso, porque un hombre solo es apenas un animal. La humanidad comienza en los que te rodean, y no exactamente en ti. Si ser persona implica a tu madre, a nuestras personas, a un desconocido o su expectativa. Si nadie en el presente ni en el futuro, el individuo piensa tan sin razón cuanto piensan los peces. Duro por el ingenio que tiene y parece como un atributo distinto del planeta. Parece uma cosa cualquiera” (MÃE, Valter Hugo. A desumanização. São Paulo; Cosac Naify, 2014, p. 15). 8“A partir de esa situación podemos definir exactamente el significado de ese término: El designa una soledad en que el amor ya no penetra y que representa, por eso mismo, el abandono propiamente dicho de la existencia” RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Introdução ao cristianismo: preleções sobre o símbolo apostólico. 6. ed. São Paulo; Loyola, 2012, p.221. 9LIBANIO, João Batista. Qual o caminho entre o crer e o amar? 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005, p. 93. 10FRANCISCO, Carta apostólica a las Personas Consagradas para La Proclamación del Año de la Vida Consagrada (21 de noviembre de 2014), n. 4 y 5.
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Como religiosos dedicados al ministerio de la educación cristiana, prometemos unirnos “y permanecer en sociedad con los Hermanos de las Escuelas Cristianas, que se han reunido para tener juntos y por asociación las escuelas al servicio de los pobres (RR 25). En esta perspectiva, es tranquilizador recordar el significado original de la palabra latina misericordia, pues la misma quiere decir tener el corazón (cor) con los pobres (miseri), sentir afecto por los pobres11. En este sentido humano global, Kasper (2015) caracteriza la misericordia como “la actitud de quien trasciende el egoísmo y el egocentrismo y no tiene el corazón centrado en sí mismo, sino centrado en los otros, especialmente en los pobres y en los afligidos de todo tipo de miserias”. Y el autor prosigue: “Trascenderse a sí mismo hasta los otros, olvidándose así de su persona, no es debilidad, sino fortaleza” En eso consiste la verdadera libertad”. De esta forma, podemos concluir que la misericordia es la opción de Dios por la vida, pues Él se muestra especialmente solícito con los débiles y los pobres12. Eso va tan lejos, que Dios no sólo defiende a los pobres y a los humildes, sino que une el destino de ellos a su propio destino histórico13. La opción por los pobres “se transforma, de hecho, en el sello inconfundible del anuncio y del destino de Jesús”. La eleva a la proclamación inaugural –‘los pobres son evangelizados’-, la transforma en tema central- ‘felices los pobres’ – y la establece como criterio definitivo –‘porque
tuve hambre y me distes de comer...”14. Siendo así, recordar que estamos en la santa presencia de Dios (RR 64,1) supone necesariamente un impulso salvador para todo necesitado. Salvador hasta ante la propia justicia humana, porque muchas veces la justicia legal se transforma también en la institución de la injusticia ejercida por los más poderosos, por los más fuertes. Concluimos con palabras del Papa Francisco, pronunciadas durante la Audiencia General realizada en la Plaza de San Pedro el día 29 de mayo de 2013: [...] es bueno saber que, cuando nos damos cuenta de que somos pecadores, encontramos la misericordia de Dios, que perdona siempre. No lo olviden: Dios perdona siempre y nos recibe en su amor de perdón y misericordia. Algunos dicen que el pecado es una ofensa a Dios, pero es también una oportunidad de humillación, para que nos demos cuenta de que existe algo mejor: la misericordia de Dios. Pensemos en esto.
Sugerencias para la lectura y reflexión comunitaria: FRANCISCO, Misericordiae Vultus: Bula de Convocación del Jubileo Extraordinario de la Misericordia (11 de abril 2015). FRANCISCO, Misericordiae Vultus: Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (11 de abril de 2015). GARCÍA RUBIO, Alfonso. A caminho da maturidade na experiência de Deus. São Paulo: Paulinas, 2008. KASPER, Walter. A misericórdia: condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. São Paulo: Edições Loyola; Portugal: Princípia Editora, 2015. KASPER, Walter. La misericordia: clave del Evangelio y de la vida cristiana. Santander: Sal Terrae, 2012. NOUWEN, Henri J. M. A volta do filho pródigo: a história de um retorno para casa. 15. ed. São Paulo: Paulinas, 2008. NOUWEN, Henri J. M. El regreso del hijo pródigo: meditaciones ante un cuadro de Rembrandt. 40ª Edición. PPC, 2005. OS MISERÁVEIS. Reino Unido, 2012, Cor, Musical/Drama/Romance, 158 min. Direção: Tom Hooper; Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Debra Hayward, Cameron Mackintosh. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Alguien así es el Dios en quien yo creo. Madrid: Editorial Trotta, 2013.
11Cf. KASPER, Walter. A misericórdia: condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. São Paulo: Edições Loyola; Portugal: Princípia Editora, 2015, p. 36. 12Cf. KASPER, Walter. A misericórdia: condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. São Paulo: Edições Loyola; Portugal: Princípia Editora, 2015, p. 75. 13Ofrece ua buena panorámica MOLTMANN, Jürgen. O Deus crucificado: la cruz de Cristo como base y crítica de la teologia cristiana. Santo André: Academia Cristã, 2014. Cf. também PIXLEY, Jorge; BOFF, Clodovis. Opção pelos pobres. Petrópolis: Vozes, 1986. 14TORRES QUEIRUGA, Andrés. Do terror de Isaac ao Abbá de Jesus: por uma nova imagem de Deus. São Paulo: Paulinas, 2001, p. 275-276.
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Amadurecimento Espiritual e Humano* Irmão José Kolling Diretor de Missão
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presento pequenas reflexões sobre o livro “Amadurecimento espiritual e humano”, como forma de instigar a leitura e reflexão da obra.
Maduro é o ser humano que se realiza e que faz florescer, ao longo de sua vida, sua vocação única. É decisivo que a pessoa descubra sua própria escala interior de valores e aja de acordo com ela, em vez de se orientar pelas expectativas de outrem. Maturidade está vinculada ao fato de o indivíduo estar conectado com sua fonte ou se ele se adapta tão somente a coisas prefixadas, define-se a partir da continuidade e adquire seu valor próprio a partir dela. Maturidade significa assumir o caminho da individuação, ou autorrealização. Conforme Jung, o ser humano pode encontrarse a si mesmo quando: 1. Desenvolve na primeira metade da vida um forte ego, uma persona bem modelada; 2. É capaz de enfrentar o mundo; 3. Encontrou sua identidade. Depois da primeira metade da vida, sua tarefa consiste em: 1. Relativizar a persona; 2. Reconhecer e aceitar sua sombra; 3. Integrar dentro de si anima e animus do próprio sexo e do sexo oposto; 4. Ceder espaço à imagem de Deus dentro de si, ou seja, desapegar-se de seu pequeno ego e render-se a Deus. Amadurecimento significa assumir os próprios sentimentos, pensamentos e desejos pessoais; a coragem de se perceber e de mostrar-se como é. Quanto mais elevados os ideais, tanto maior é a sombra. Amadurecimento significa, para Carl G. Jung, olhar com honestidade os lados sombrios e reconciliar-se com eles. Isto é possível pela virtude da humildade. Coragem de descer às próprias profundezas, de se reconciliar com a própria condição de ser terrestre e de ser humano. Somos apenas o estábulo onde Deus nasce. Sozinhos ainda não somos o palácio. Mas é ali que Deus quer nascer. Entra em contato com o verdadeiro ser. Jesus não quis o ser humano unilateralmente espiritual. Vida Religiosa não significa levar um ideal espiritual até o excesso e ficar nesse processo humanamente esmagado. É decisivo que aceitemos todos os lados sombrios e que lidemos com eles amigavelmente. A meta e o sentido da Vida Religiosa não são os religiosos perfeitos, mas a pessoa humana íntegra, enraizada em Deus e na vida humana, e que são fiéis a si mesmos, aceitam-se *Análise do livro de Anselm Grün e Christiane Sartorius (Ed. Paulinas)
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com serenidade e também com humor e têm um coração grande perante as forças e fraquezas dos outros. O conhecimento da sombra que há dentro de nós – o escuro, o reprimido, o ignorado, o não-perfeito ou o não-vivido –, nos torna também humildes e nos desafia a perceber e viver atentamente um equilíbrio sadio. Integridade como sinal de maturidade humana significa, para religiosos, que nos contentemos com nossa comunidade concreta, que não estejamos procurando constantemente onde poderíamos viver melhor e fazer mais. Portanto, faz da integridade do ego a aceitação da vida como ela é. Na Vida Religiosa partimos normalmente de imagens idealizadas. Nós as consideramos unilateralmente como a realidade completa e deixamos de perceber o desafio positivo do momento presente. No entanto, a tensão entre moções diferentes, até contraditórias, dentro de nós e de nossas comunidades, bem como a confrontação delas, pode nos levar para mais perto de nosso ser mais profundo. Quando vivo o momento presente, torno-me aos poucos sensível àquilo que está acontecendo agora. Torno-me aberto aos impulsos vindos de Deus. É importante que a pessoa religiosa não se contente em adquirir conhecimentos teológicos ou o bom comportamento numa comunidade. Ela precisa se tornar testemunha da que habita nela, do Cristo dentro de si. E precisa chegar, por esse caminho, ao amadurecimento. A maturidade implica que cada pessoa testemunhe, à sua maneira, o ser divino, que cada pessoa se torne, ao seu modo, aquele rosto singular de Cristo que somente ela pode refletir. Para os religiosos, o corpo que não apenas se possui, mas que se é, tornou-se um importante campo de exercícios para se abrir a Deus, mas passou a ser também o indicador que mostra até que ponto a pessoa permite que Deus a penetre e a transforme. Há comunidades de Vida Religiosa que vivem, no seu próprio interesse, tão isoladas e estéreis que, nelas, não se sente nada de participação irrestrita da vida. Uma comunidade madura caracteriza-se pela sua sensibilidade para com as pessoas e solidariedade com seus medos e aflições. Portanto, a maturidade de uma comunidade mostra-se sempre para além dela. Conforme Assagioli, a maturidade da pessoa sob o desenvolvimento do ego espiritual precisa primeiro reconhecer a
Maturidade é assumir o caminho da autorrealização
si mesma, descobrir o inconsciente e, depois, aprender a lidar com seus pensamentos e sentimentos. Contudo, é preciso ir além dos próprios pensamentos e sentimentos, das paixões e necessidades, para chegar até o ego espiritual, até o centro unificador da personalidade. Quem descobre sua pátria, dentro de si mesmo, sentirá logo uma sensação de humildade e encontrará uma profunda noção de Deus. Deus coloca esta pessoa em contato com o potencial inimaginável que está dentro dela. Ele mesmo conduz, finalmente, para a forma que está projetada nela. O caminho para o amadurecimento requer ceder dentro de si espaço para Deus. A verdadeira maturidade na Vida Religiosa mostra-se também à medida que a relação com Deus perpassa a realidade do nosso cotidiano, de nossos sentimentos, de nosso corpo, de nosso trabalho e de nossas relações. A abertura para Deus precisa transparecer por todas as áreas da vida. Faz parte da maturidade a dimensão religiosa, uma espiritualidade amadurecida, bem como a consciência da presença de Deus em todas as coisas. Madura é a pessoa que se experimenta em contato com a saudade de Deus e que está atenta, para além de si mesma, para o mistério de Deus em todos os seres humanos e todas as coisas. Características da pessoa amadurecida religiosamente são: serenidade, tolerância, paz interior, permeabilidade para o amor e a misericórdia de Deus, e ser testemunha deles.
Em relação à Vida Religiosa, pode-se dizer que a primeira condição de maturidade humana é sair da casa dos pais. Nesse sentido, ordens e congregações certamente já ajudaram muitas pessoas a se libertarem das expectativas dos pais. Mas aqui surge a pergunta: não trocaram a expectativa dos pais pelas expectativas da congregação? Nesse caso, a maturidade não pode crescer. Na Vida Religiosa, existem “mestres” que orientam a pessoa a descobrir a língua de Deus dentro de seu próprio coração. Em outras palavras, em vez de obedecer às novas expectativas de uma congregação ou à antiga dos pais, deve-se tratar de escutar Deus no próprio íntimo, descobrir dentro de si o mestre interior que conduz a pessoa ao seu próprio centro e a liberta da atitude de procurar somente mestres externos. Aprender a lidar com os sentimentos e necessidades, de modo maduro, pois Deus fala também por meio deles. E por isso não devem ser desvalorizados nem ignorados. Todos eles têm sentido. A pergunta central é: qual a mensagem que trazem e em que sentido querem me transformar? A meta é sempre a imagem de Deus dentro de nós... não se pode chegar a Deus sem acessar a si mesmo. Quando se reprimem as paixões, sentimentos e necessidades, quando não se lhes dá um espaço, eles tendem a ser vividos às escondidas, ganham uma dimensão própria, frequentemente incontrolável e até conseguem dominar a pessoa de modo completo e irresistível. Os antigos monges nos ensinam a olhar honestamente e sem julgamentos para as nossas necessidades
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e paixões. Somente aquilo que admitimos e contemplamos com honestidade pode ser transformado por Deus. Religiosos que não são transformados, por não serem donos de suas necessidades e paixões; ao contrário, dominados por eles, tornam-se especialmente agressivos e vulneráveis, insatisfeitos consigo mesmos e com muitas coisas ao seu redor. Perderam o olhar para aquelas realidades que poderiam influenciar e transformar positivamente. Por não terem desenvolvido dentro de si fantasia e energia, ficaram presos no círculo vicioso do papel de vítima. Por consumirem toda a sua energia somente para si mesmos – a insatisfação sempre consome muita energia vital – já não têm força para uma produtividade voltada para fora. Em comunidades religiosas existe não apenas uma espécie de fascínio pelo sofrimento, mas também uma fuga imatura do sofrimento. Olhar para as feridas exige coragem e humildade. A ferida faz parte de nós. É um lugar onde não podemos nos ajudar, onde nos sentimos impotentes, onde brota a dor e nos tornamos tristes. Faz parte do amadurecimento humano na Vida Religiosa o fracasso, o malogro, o fiasco. Para ninguém a vida vai decorrer do modo como a sonhou e esperou. Para C.G.Jung, o fracasso faz parte essencial de nosso processo de humanização. Quem pensa poder chegar à maturidade sem erros nem fracassos acalenta uma ilusão. O maior inimigo da transformação é uma vida cheia de sucessos. Quem sempre experimenta sucessos cai facilmente na ilusão de que nunca vai precisar mudar nada, vai sempre continuar vivendo do mesmo modo e que, mesmo assim, sempre dará certo. Somente quando permitimos sentir emoções, especialmente as ditas “negativas” – raiva, medo, tristeza –, pode crescer dentro de nós um verdadeiro zelo pelo serviço divino. Quando ignoramos os próprios sentimentos – por causa de humildade mal-entendida e/ou uma postura espiritual incorreta – também a nossa vida espiritual torna-se aborrecida, vazia, sem emoções, rotineira. Lidar de modo maduro com as emoções cria condições para a verdadeira oração. Quando nossos sentimentos, necessidades, paixões e nossa corporeidade forem reprimidos por um tempo muito longo, não podem reagir de outra forma, a não ser pela manifestação do corpo. Deus nos fala por meio de nosso corpo e, também, por meio dos sonhos. Quando damos ouvidos para a voz divina dos sonhos e procuramos entendê-la, podemos confiar que estamos nos aproximando de nós mesmos e da imagem que Deus tem de nós e de nosso caminho. Há pessoas que sentem prazer no trabalho. Sente-se que sua atividade jorra de uma fonte interior e traz bons frutos para muita gente. Seu trabalho é o fruto da vida espiritual. Por outro lado, há pessoas que rejeitam o trabalho, refugiam-se em doenças ou fingem para si mesmas e para as demais o desejo de mais meditação.
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O caminho para o amadurecimento requer ceder espaço para Deus, dentro de si
Mas, na verdade, é uma forma de esquivar-se dos desafios do trabalho. É espantoso que não raro pessoas muitos religiosas se negam a cooperar com outros em seu trabalho e a assumir responsabilidades no dia a dia de sua comunidade. Tal bloqueio expressa muita agressividade reprimida. Um fenômeno frequente na Vida Religiosa é que as pessoas que trabalham em excesso são, em geral, muito sensíveis à crítica. Se sente que a sua grande atividade não é inteiramente uma virtude, mas um meio para se autoafirmar e exercer poder sobre outras pessoas; elas não se colocam a serviço de Deus e da comunidade, mas a serviço de si mesmas, de seu ego. No contexto da Vida Religiosa, a maturidade e a honestidade humanas se refletem num modo de trabalhar e numa atitude diante dele que é sinal de entrega e de corresponsabilidade autênticas, aberto ao questionamento, no interesse honesto da própria pessoa e da comunidade. No modo de trabalhar de um religioso, sente-se claramente se a pessoa é amadurecida. A produtividade é um elemento essencial da maturidade humana. Demasiadas vezes as pessoas se sobrecarregam com o trabalho por preguiça de pensar e organizar. O processo do amadurecimento de toda comunidade é parte imprescindível do ideal da Vida Religiosa, no sentido de uma atualização e permanente revisão de vida. Cada comunidade religiosa é chamada a ser um desafio inspirador para a pessoa individualmente, a fim de esta poder amadurecer por meio da comunidade e dentro dela. Uma causa da imaturidade humana na Vida Religiosa é a frequente incapacidade de diálogo, principalmente quando falta uma cultura de discussão respeitosa. As pessoas não são capazes de discutir sem emoções, de modo objetivo; podem até discutir pouco, mas isso não significa que não lutem umas com as outras. Não foi desenvolvida uma política de debate respeitoso no qual os conflitos possam ser confrontados e resolvidos.
qual podemos crescer. Conflitos são sempre uma chance de inspirar nossa criatividade a procurar soluções melhores. Em comunidades religiosas se escutam queixas sobre a solidão. Especialmente no fim do dia é difícil ficar sozinho. Pessoas jovens que entram na Vida Religiosa esperam o aconchego e a convivência da comunidade e ficam muito desapontadas quando se sentem solitárias. Na solidão, é preciso perguntar-nos sempre sobre a verdadeira fonte de nossa vida. Ela é um desafio espiritual e nos confronta com a pergunta para onde aponta nossa saudade mais profunda, se nos abandonamos de verdade e inteiramente, ao Deus fascinante e, não obstante, às vezes assustador, se queremos pertencer a esse Deus no mais profundo do nosso ser ou se é mais importante para nós sentirmo-nos bem. Qualquer comunidade nos decepcionará em nossas expectativas, por mais que ela se esforce para cultivar uma convivência humana e aberta. Numa comunidade religiosa, estamos sempre vivendo a tensão de experimentar, por um lado, o Reino de Deus, numa convivência viva, de vivenciar a comunidade como um lugar de experiência de Deus; por outro lado, de ficarmos desiludidos e machucados pela comunidade. Todos nós temos altos ideais de como uma comunidade deveria ser para nos sentirmos sempre aconchegados e aceitos nela, de que nela deveria estar viva uma grande força inspiradora de procurar a Deus comunitariamente, de que nela deveria reinar um bom clima espiritual e humano. Jesus não quis o ser humano unilateralmente espiritual Foto: O Fiel Católico
Também não desenvolvemos uma linguagem para expressar sentimentos, para conversar sobre nós mesmos, nossas experiências, nossa fé, nossa vida. Muitas comunidades de Vida Religiosa literalmente morrem por falta de capacidade de diálogo. Quando não se podem manifestar sentimentos, ou se tem medo de fazê-lo, também não é possível permitirem-se fraquezas. Por isso, muita gente na Vida Religiosa esconde suas fraquezas atrás da aparência de um religioso perfeito. No entanto, o que se nega em sentimento e fraqueza falta em vigor e honestidade. Desde modo, cria-se muito facilmente uma atmosfera estéril, na qual todos fazem de conta que estão cumprindo os ideais da Vida Religiosa, mas, na verdade, algo de essencial morreu e se perdeu qualquer busca autenticamente espiritual, assim com qualquer anseio pelo Deus vivo. A comunidade como lugar de amadurecimento, lugar de partilha viva, de um autoconhecimento amadurecido, um espaço de confiança onde cada pessoa cresce em amor por si mesma e pelo próximo, por meio da convivência humana e justa. Em nenhuma comunidade podem-se evitar conflitos. Decisivo é como lidamos com eles. São um verdadeiro desafio no
Nenhuma comunidade de homens com histórias de vida diferentes, características e tendências diferentes poderá jamais cumprir plenamente essas expectativas e ideais, ela também decepcionará. Entretanto, decepções são uma ocasião de amadurecimento existencial e espiritual, pois nos chamam para continuar avançando no caminho de Deus. A comunidade pode ser um regulador muito importante que nos ajuda a perceber onde estamos verdadeiramente a serviço de Deus e onde trabalhamos em favor de nosso próprio nome. As pessoas realmente grandes não provocam nem idolatria nem constantes notícias. Uma comunidade de pessoas adultas não é um ninho onde a pessoa se esconde e se sabe protegida e abastecida, e sim um espaço de vida onde as pessoas lidam suas vidas umas com as outras em amizade, onde partilham suas vidas e responsabilidades. Isso significa, em termos de estrutura e de atmosfera, que em tal comunidade, cada pessoa encontra espaço para seus sentimentos, suas vivências e suas preocupações; significa que ninguém precisa ter medo ou cuidado de manifestar alegria ou irritação.
Referências GRÜN, Anselm; SARTORIUS, Christiane. Amadurecimento espiritual e humano na vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 2012.
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Madurez Espiritual y Humana
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Hermano José Kolling Director de Misión
Presento pequeños extractos del libro “Madurez espiritual y humana” como una forma de instigar y provocar la lectura del mismo. Maduro es el ser humano que se realiza y que hace florecer, a lo largo de su vida, su vocación única. Es decisivo que la persona descubra su propia escala interior de valores y actúe de acuerdo con ella, en vez de orientarse por las expectativas de otros. La madurez está vinculada al individuo si éste está conectado con su fuente o si él se adapta sólo a cosas prefijadas o se define a partir de la continuidad y adquiere su valor propio a partir de ella. Madurez significa asumir el camino de la individualización, o de la autorrealización. Según Jung, el ser humano se puede encontrar a sí mismo cuando: 1. Desarrolla en la primera mitad de la vida un fuerte ego, una persona bien modelada; 2. Es capaz de enfrentar el mundo; 3. Encuentra su identidad. Después de la primera mitad de la vida, su terea consiste en: 1. Relativizar la persona; 2. Reconocer y aceptar su sombra; 3. Integrar dentro de sí ánima y animus del propio sexo y del sexo opuesto; 4. Ceder espacio a la imagen de Dios dentro de sí, o sea, desapegarse de su pequeño ego y rendirse a Dios. Madurar significa asumir los propios sentimientos, pensamientos y deseos personales; tener el coraje de percibirse y de mostrarse tal como se es. Cuánto más elevados los ideales, tanto mayor es la sombra. Madurar significa, para Carl G. Jung, mirar con honestidad los lados sombríos y reconciliarse con ellos. Esto es posible por la virtud de la humildad. Valentía de bajar a las propias profundidades, y reconciliarse con la propia condición de ser terrestre y de ser humano. Somos apenas el establo en donde Dios nace. Solos, todavía no somos un palacio. Pero es allí donde Dios quiere nacer. Entra en contacto con el verdadero ser. Jesús no quiere al ser humano unilateralmente espiritual. La Vida Religiosa no significa llevar un ideal espiritual hasta el exceso y quedarse en este proceso humanamente aplastado. Es decisivo que aceptemos todos los lados sombríos y que lidiemos con ellos amigablemente. La meta y el sentido de la VR no son los religiosos perfectos, sino la persona humana íntegra, enraizada en Dios y en la vida humana, y que son fieles a sí mismos, aceptándose con serenidad y también con humor y tener un corazón grande ante las fuerzas y flaquezas de los otros.
El conocimiento de la sombra que existe dentro de nosotros –lo oscuro, lo reprimido, lo ignorado, lo no perfecto o lo no vivido-, nos hace también humildes y nos desafía a percibir y vivir atentamente un equilibrio sano. Integridad como signo de madurez humana significa, para los religiosos, que nos contentemos con nuestra comunidad concreta, que no estemos buscando constantemente en dónde podríamos vivir mejor y hacer más. Por lo tanto, hace de la integridad del ego la aceptación de la vida como ella es. En la Vida Religiosa partimos normalmente de imágenes idealizadas. Las consideramos unilateralmente como la realidad completa y dejamos de percibir el desafío positivo del momento presente. Sin embargo, la tensión entre mociones diferentes, hasta contradictorias, dentro de nosotros y de nuestras comunidades, así como la confrontación con ellas, nos pueden llevar más cerca de nuestro ser más profundo. Cuando vivo el momento presente, me hago poco a poco sensible a aquello que ahora está sucediendo. Me abro a los impulsos venidos de Dios. Es importante que la persona religiosa no se contente sólo en adquirir conocimientos teológicos o tener buena conducta en una comunidad. Ella necesita ser testimonio de que Cristo habita en ella. Necesita llegar, en este camino, a la madurez. La madurez implica que cada persona testimonie, a su manera, al ser divino, que cada persona se haga, a su modo, aquel rostro singular de Cristo que solamente ella pueda reflexionar. Para los religiosos, el cuerpo no sólo se posee, sino que es; éste se hace un importante campo de ejercicios para abrirse a Dios, que pasa a ser también un indicador que muestra hasta qué punto la persona permite que Dios la penetre y la transforme. Hay comunidades de Vida Religiosa que viven, centradas en su propio interés, tan aisladas y estériles que, en ellas, no se percibe una participación irrestricta de la vida. Una comunidad madura se caracteriza por su sensibilidad para con las personas y la solidaridad con sus miedos y aflicciones. Por lo tanto, la madurez de una comunidad se muestra también más allá de ella. Según Assagioli, la madurez de la persona bajo el desarrollo del ego espiritual necesita en primer lugar reconocerse a sí misma, descubrir el inconsciente, luego, aprender a lidiar con sus pensamientos y sentimientos. Sin embargo, es necesario ir más allá de los propios
*GRÜN, Anselm; SARTORIUS, Christiane. Amadurecimento espiritual e humano na vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 2012.
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pensamientos y sentimientos, de las pasiones y necesidades, para llegar hasta el ego espiritual, hasta el centro unificador de la personalidad. Quien descubre su patria, dentro de sí mismo, sentirá luego una sensación de humildad y encontrará una profunda noción de Dios. Dios pone a esta persona en contacto con el potencial inimaginable que está dentro de ella. Dios mismo conduce, finalmente, hacia la forma que está proyectada en ella. El camino para la madurez requiere ceder dentro de sí espacio para Dios. La verdadera madurez en la Vida Religiosa se muestra también en la medida que la relación con Dios sobrepasa la realidad de nuestro cotidiano, de nuestros sentimientos, de nuestro cuerpo, de nuestro trabajo y de nuestras relaciones. La apertura a Dios necesita traspirar por todas las áreas de la vida. Hace parte de la madurez la dimensión religiosa, una espiritualidad madura, así como la conciencia de la presencia de Dios en todas las cosas. Madura es la persona que se experimenta en contacto con la nostalgia de Dios y que está atenta, para ir más allá de sí misma, hacia el misterio de Dios en todos los seres humanos y en todas las cosas. Características de la persona madura religiosamente son, entre otras: serenidad, tolerancia, paz interior, permeabilidad para el amor y la misericordia de Dios, y ser testimonio de ellas. En relación a la Vida religiosa, se puede decir que la primera condición de madurez humana es salir de la casa de los padres. En este sentido, órdenes y congregaciones ciertamente ya han ayudado a muchas personas a liberarse de las expectativas de los padres. Pero aquí surge la pregunta ¿cambiaron la expectativa de los padres por las expectativas de la congregación? En este caso, la madurez no puede crecer. En la Vida Religiosa existen “maestros” que orientan a la persona a descubrir la lengua de Dios dentro de su propio corazón. En otras palabras, en vez de obedecer a las nuevas expectativas de una congregación o a la antigua de los padres, se debe tratar de escuchar a Dios en la propia intimidad, descubrir dentro de sí al maestro interior que conduce a la persona a su propio centro y la libera de la actitud de buscar solamente maestros externos. Aprender a lidiar con los sentimientos y necesidades, con madurez, pues Dios habla también por medio de ellos. Y por eso no deben ser desvalorizados ni ignorados. Todos ellos tienen sentido. La pregunta central es: ¿cuál es el mensaje que traen y en qué sentido me quieren transformar? La meta es siempre la imagen de Dios dentro de nosotros... no se puede llegar a Dios sin tener acceso a sí mismo. Cuando se reprimen las pasiones, sentimientos y necesidades, cuando no se les da un espacio, ellos tienden a ser vividos a escondidas, ganan una dimensión propia, frecuentemente incontrolable y hasta consiguen dominar a la persona de modo completo e irresistible. Los antiguos monjes nos enseñan a mirar honestamente y sin enjuiciamientos hacia nuestras necesidades y pasiones. Solamente aquello que admitimos y contemplamos con honestidad puede ser transformado por Dios.
Religiosos que no son transformados, por no ser dueños de sus necesidades y pasiones; al contrario, dominados por ellos, se hacen especialmente agresivos y vulnerables, insatisfechos consigo mismos y con muchas cosas de su derredor. Perdieron la virtud de mirar hacia aquellas realidades que podrían influenciar y transformar positivamente. Por no haber desarrollado dentro de sí la fantasía y la energía, quedaron presos en un círculo vicioso en un papel de víctima. Consumieron toda su energía solamente para sí mismos –la insatisfacción siempre consume mucha energía vital- yo no tienen fuerza para una productividad volcada hacia fuera. En comunidades religiosas existe no sólo una especie de fascinación por el sufrimiento, sino también una fuga inmadura del sufrimiento. Mirar hacia las heridas exige valentía y humildad. La herida parte de nosotros. Es un lugar en donde no podemos ayudarnos, en donde nos sentimos impotentes, en donde brota el dolor y nos volvemos tristes. Hace parte del proceso de madurez humana en la Vida Religiosa el fracaso, la frustración, la desilusión. Para nadie la vida va a transcurrir del modo como se ha soñado o esperado. Para C.G. Jung, el fracaso hace parte esencial de nuestro proceso de humanización. Quien piensa poder llegar a madurar sin errores ni fracasos acuna una ilusión. El mayor enemigo de la transformación es una vida llena de éxitos. Quien siempre experimenta éxitos cae fácilmente en la ilusión de que nunca va a necesitar cambiar nada, siempre va continuar viviendo del mismo modo y que, aún así, siempre logrará éxito. Solamente cuando nos permitimos sentir emociones, especialmente aquella llamadas “negativas” rabia, miedo, tristeza-, puede crecer dentro de nosotros un verdadero celo por el servicio divino. Cuando ignoramos los propios sentimientos –por causa de una humildad mal entendida u otra postura espiritual incorrecta- también nuestra vida espiritual se vuelve vacía, aborrecida, sin emociones, rutinaria. Luchar de modo maduro con los emociones crea condiciones para una verdadera oración. Cuando nuestros sentimientos, necesidades, pasiones y nuestra corporeidad fueron reprimidas por un largo tiempo, no pueden reaccionar de otra forma a no ser por la manifestación del cuerpo. Dios habla a través del cuerpo, y me habla también a través de los sueños. Cuando damos oídos a la voz divina de los sueños y procuramos entenderla, podemos confiar que estamos aproximándonos a nosotros mismos y a la imagen que Dios tiene de nosotros y de nuestro camino. Hay personas que sienten placer en el trabajo. Siente que su actividad mana de una fuente interior y trae buenos frutos para mucha gente. Su trabajo es el fruto de la vida espiritual. Por otro lado, hay personas que rechazan el trabajo, se refugian en enfermedades o fingen para sí mismas y para los otros el deseo de más meditación. Pero, en verdad, es una forma de esquivar los desafíos del trabajo. Es espantoso y no es raro que haya personas muy religiosas que se niegan a cooperar con
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otros en su trabajo y asumir responsabilidades en el día a día de su comunidad. Tal bloqueo expresa mucha agresividad reprimida. Un fenómeno frecuente en la Vida Religiosa es que las personas que trabajan en exceso son, por lo general, muy sensibles a la crítica. Sienten que su gran actividad no es enteramente una virtud, pero un medio para autoafirmarse y ejercer poder sobre otras personas; ellas no se ponen al servicio de Dios y de la comunidad, sino al servicio de sí mismas, de su ego. En el contexto de la Vida Religiosa, la madurez y la honestidad humanas se reflejan en un miedo de trabajar y una actitud ante de él que es signo de entrega de corresponsabilidad auténticas, abierto al cuestionamiento, en el interés honesto de la propia persona y de la comunidad. En el modo de trabajar de un religioso se percibe claramente si la persona es madura. La productividad es un elemento esencial de la madurez humana. Demasiadas veces las personas se sobrecargan de trabajo por la pereza de pensar y organizar. El proceso de madurez de toda la comunidad es parte imprescindible del ideal de la Vida Religiosa, en el sentido de una actualización y permanente revisión de vida. Cada comunidad religiosa está llamada a ser un desafío inspirador para la persona como individuo, con el fin de que ésta pueda madurar por medio de la comunidad y en su interior. Una de las causas de la inmadurez humana de la Vida Religiosa es la frecuente incapacidad de diálogo, principalmente cuando falta una cultura de saber discutir de forma respetuosa. Las personas no son capaces de discutir sin emociones, de modo objetivo; pueden hasta discutir poco, pero eso no significa que no luchen unas con otras. No fue desarrollada una política de debate respetuoso en que los conflictos puedan ser confrontados y resueltos. También no desarrollamos un lenguaje para expresar sentimientos, para conversar sobre sí mismo las experiencias, nuestra fe, nuestra vida. Muchas comunidades de Vida Religiosa literalmente mueren por falta de capacidad de diálogo. A veces no se pueden manifestar sentimientos, o se tiene miedo de hacerlo, o no es posible permitirse flaquezas. Por eso, muchas personas en la Vida Religiosa esconden sus flaquezas detrás de una apariencia de religioso perfecto. No obstante, lo que se niega en sentimiento y flaqueza falta en vigor y honestidad. De ese modo, se crea muy fácilmente una atmósfera estéril en la que todos hacen cuenta de que están cumpliendo los ideales de la Vida Religiosa, pero donde, en verdad, algo de lo esencial murió y se perdió cualquier búsqueda auténticamente espiritual y cualquier deseo por el Dios vivo. La comunidad como lugar de madurez, lugar para compartir viva, de un autoconocimiento maduro, un espacio de confianza en donde cada persona crece en amor por sí misma y por el prójimo, por medio de la convivencia humana y justa. En ninguna comunidad de pueden evitar los conflictos. Lo decisivo es cómo lidiamos con ellos. Son un verdadero desafío en el que
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podemos crecer. Conflictos son siempre una chance de inspirar nuestra creatividad y buscar soluciones mejores. En comunidades religiosas de escuchan quejas sobre la soledad. Especialmente al fin del día es difícil quedar solo. Personas jóvenes que entran hoy en la Vida Religiosa esperan el calor humano y la convivencia de la comunidad, y quedan muy decepcionados cuando sienten la soledad. En la soledad, es necesario preguntarnos siempre sobre la verdadera fuente de nuestra vida. Ella es un desafío espiritual y nos enfrenta a la pregunta hacia dónde nuestra nostalgia más profunda, si nos abandonamos de verdad y enteramente, al Dios fascinante y, no obstante, a veces asustador, si queremos pertenecer a este Dios en lo más profundo de nuestro ser, o si es más importante para nosotros sentirnos bien. Cualquier comunidad decepcionará nuestras expectativas, por más que ella se esfuerce para cultivar una convivencia humana y abierta, En una comunidad religiosa estamos siempre viviendo la tensión de experimentar, por un lado, el Reino de Dios, en una convivencia viva, de vivenciar la comunidad como un lugar de experiencia de Dios; por otro lado, de quedarnos desilusionados y heridos por la comunidad. Todos nosotros tenemos altos ideales de cómo una comunidad debería ser para sentirnos siempre acogidos y aceptado en ella, de que en ella debería estar viva una gran fuerza inspiradora de buscar a Dios comunitariamente, de que en ella debería reinar un buen clima espiritual y humano. Ninguna comunidad de hombres con historia de vida diferente, características y tendencias diferentes podrá jamás cumplir plenamente estas expectativas e ideales, ella también en algún momento decepcionará. Sin embargo, las decepciones son una ocasión de madurez existencial y espiritual, pues nos llaman a continuar avanzando en el camino de Dios. La comunidad puede ser un regulador muy importante que nos ayuda a percibir en dónde estamos verdaderamente al servicio de Dios y dónde trabajamos a favor de nuestro propio nombre. Las personas realmente grandes no provocan ni idolatría ni constantes noticias. Una comunidad de personas adultas no es un nido en donde la persona se esconde y se sabe protegida y abastecida, y sí un espacio de vida en donde las personas luchan por sus vidas unas con otras en amistad, en donde comparten sus vidas y responsabilidades. Eso significa, en términos de estructura y de atmósfera, que en tal comunidad, cada persona encuentra espacio para sus sentimientos, sus vivencias y sus preocupaciones; significa que nadie necesita tener miedo o cuidado de manifestar alegría o irritación.
Referencias GRÜN, Anselm; SARTORIUS, Christiane. Amadurecimento espiritual e humano na vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 2012.
Corporación de Amigos de La Salle (CORDAS) Gabriel Mc Manus Presidente de CORDAS – Chile
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al como lo decía nuestro Santo Fundador, San Juan Bautista de La Salle, una obra nos lleva a otra, sin darnos cuenta, así se ha ido construyendo nuestra historia. A principios del año 2003, comenzamos a tener la inquietud en conocer algo más de La Salle, así sugerimos a la dirección del colegio, desde la animación del Centro General de padres del colegio de La Salle La Reina Chile, un lugar donde pudiéramos pensar el Colegio en los Próximos años y ¿qué significaba educar con valores Lasallistas? Esta pregunta e inquietudes se resolvió trabajando junto con Rectoría, Hermanos, Directores de Ciclo y Centro de Padres, formando un equipo de trabajo denominado “Mesa de Encuentro”. Al correr el año 2003, ya habíamos avanzado en descubrir el sentido del ideario Lasallista y La Misión. Este proceso que hoy miramos con agradecimiento, nos permitió ir encantándonos con la misión Lasallista y esta espiritualidad donde se sostienen los valores más fundamentales de la comunidad Lasalliana, Espíritu de Fe, Fraternidad y Servicio. Todo este trabajo nos permitió ENCANTARNOS con esta obra y decidimos como seglares seguir trabajando y hacer obra esta espiritualidad. Convocamos a otros apoderados, a quienes compartiendo nuestro desafío fuimos encantando. Así formamos el 2004 la “Comunidad de Padres Lasallistas”. En todo este proceso de aprendizaje tuvimos muchos integrantes y mucho apoyo de La Comunidad e Hermanos, quienes nos apoyaron con una guía espiritual. Comenzaron las obras, algunos aportes, y comenzamos a sentir la necesidad de concretar algo más trascendental y duradero, y así el año 2007 iniciamos el trabajo en formar la “Corporacion de Amigos de La Salle” y después de mucho compartir, mucho trabajar, debatir, pudimos lograr el 6 de octubre del 2009 el decreto supremos del estado de Chile que otorgaba el marco jurídico de “Corporacion de Amigos de La Salle”. Y comenzamos a trabajar en concretar uno de los objetivos más relevantes de la corporación, el otorgamiento de becas educativas Universitarias a alumnos en situación de vulnerabilidad, sabíamos que el desafío era difícil, sin embargo el Celo Ardiente de los miembros de la Corporación, pudo ir concretando esta difícil tarea, obra que se sumaba a la entrega de Mochilas con materiales educativos a alumnos de 1º Medio del colegio de La Salle San Gregorio A fines del 2010 entregamos nuestras primeras becas a 4 alumnos del Colegio San Gregorio La Granja Chile, colegio de la
CORDAS: desafío es seguir creciendo
Comunidad Lasallista, y ahí comenzamos a entender que nuestra obra, era más allá de apoyo económico, sino se fundaba en mirar a los becados como “lo hacemos con nuestros propios hijos”, así el apoyo se extendió a todo lo educativo, emocional, espiritual y afectivo; y más aún la beca que entregamos se extendió por todo el período Universitario de los becados. Todo esto transformo el quehacer de nuestra corporación. Necesitábamos mas aportes, más socios colaboradores y más socios activos. El año 2011 comenzamos a abrir nuestra corporación de amigos de La Salle, ya denominada CORDAS, a otras personas que no tenían vínculo con La Salle, sin embargo les atraía la Obra. Así fuimos integrando a nuevos socios activos e incorporando una estructura de trabajo corporativo donde el directorio de la corporación forma diferentes comités para enfrentar los desafíos que se venían. Comenzamos con implementar el comité de difusión Corporativa, Comité de aprendizaje, comité de socios, comité financiero y el comité de educación, donde se trabaja directamente con todos los becados. Hoy ya tenemos 8 becados, entregamos 50 mochilas anualmente a un curso completo de alumnos de 1º medio, y nuestro desafío es seguir creciendo, porque sabemos que la única forma de lograr cambios permanentes en nuestra sociedad y en sus personas, es educando, y si esta educación es basada en una formación cristiana y Lasallista, tendremos una humanidad solidaria, dejándonos impresionar con todo lo que ocurre alrededor de nosotros como Lasallistas.
“Ser lasallista es un regalo, y conocer a nuestro Santo Fundador es una bendición.”
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Con Fe, una Estrella Alcanzar:
Nuevo Colegio La Salle Beira, Mozambique
Hermano Rodolfo Andaur Zamora Comunidad La Salle Beira – Mozambique
E
n aquel lejano año de 1989, los Hermanos Provinciales, reunidos como RELAL en Bogotá, se propusieron dar respuesta al desafío misionero que proponía el Capítulo General de 1986, en particular, a los Distritos de San Pablo y Porto Alegre se le encomendó ser presencia lasallista misionera en África de habla portuguesa. Así ya han pasado, desde esa fecha, 23 años de caminar lasallista en Mozambique.
Aun se vivía la guerra civil, en enero de 19921, cuando llegan los primeros Hermanos a Beira, Mozambique. Hasta el año 2010 sus esfuerzos, como Congregación, se concentraron en apoyar y asumir, tanto en el campo educativo como pastoral, lo que la Iglesia local le confiaba. Sólo en el 2011, un sábado 12 de marzo, vio la luz la primera obra educativa propiamente de los lasallistas: el Centro Educacional y Asistencial La Salle (CEALS). Su objetivo hasta hoy ha sido entregar educación no formal a los niños(as) y jóvenes estudiantes de escuelas públicas, en donde encuentran un espacio en donde se les refuerzan los aprendizajes, en donde tienen una biblioteca a su disposición que en sus centros no encuentran, un lugar para recrearse, y en donde los más necesitados pueden recibir, al menos, algo de alimentación. Como buenos hijos de La Salle, a quien Dios lo fue llevando de “un compromiso a otro compromiso”, hoy los Hermanos lasallistas damos un nuevo paso. El año 2016 abrirá sus puertas la segunda obra educativa propia de la Congregación: el Colegio La Salle de Beira. En diferencia a la anterior, es una propuesta de educación formal. Se inició el mismo año 2011, y en un largo camino, este sueño ha tenido que vencer barreras de diversos tipos, las cuales han atrasado su puesta en marcha. Hoy solo resta que las autoridades le otorguen el reconocimiento oficial, documentación ya presentada en los plazos estipulados. El nuevo Colegio La Salle de Beira aspira a constituirse en una alternativa educativa innovadora en Beira y Mozambique. En su proyecto se propone entregar una educación valórica, exigente, formativa, renovada que forme a alumnos capaces de enfrentar 1La firma de acuerdo de paz se logró en octubre de 1992. 2Cf. Propuesta educativa de la provincia Lasallista Brasil-Chile 2015, introducción.
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23 años de caminar lasallista en Mozambique
las exigencias del mundo de hoy, de la sociedad del conocimiento y constructores de un mundo más justo. Por la educación de calidad integral que se espera entregue a sus alumnos y alumnas, se encontrará basada en la capacitación y formación docente continua, la cual sea un apoyo al entorno educativo eclesial, y si Dios quiere a la sociedad. Sus fundamentos están en la Propuesta Educativa de la Provincia Lasallista Brasil-Chile, que se caracteriza por ser “de carácter propositivo [y] objetivo”. Es así como, el nuevo establecimiento pretende: “actualizar y compartir la pedagogía y el carisma educativo lasallistas; manteniendo un permanente diálogo con la sociedad local, teniendo como referencial tanto la historia institucional y el carisma, como las normas y las regulaciones legales propias del país; constituyéndose así en una referencia en la gestión, la planificación, la practica pedagógica y pastoral, en donde el docente este en constante capacitación y acompañamiento constituyéndose en ejes y motores de una educación cristiana integral de calidad”2. Con esta directriz, el Proyecto Educativo del Colegio La Salle Beira se propone que sus:
Colegio La Salle de Beira: educación formal
Alumnos(as) sean el “centro de la escuela, protagonista consciente, libre y responsable por su propia formación”; capaces de “relacionarse con los demás en una actitud de servicio, constructor[es] de un mundo más solidario, justo y fraterno”, conscientes del “cuidando a la naturaleza, sintiéndose administrador[es] y cocreador [es] de la misma, según el mandato divino y, [que] a imitación de Jesús Cristo, [vivan] en profundidad su relación filial con Dios3. “Educadores... [que vivan] su vocación con plena consciencia de ser ministro e cooperadores de Jesucristo, procurando la salvación de todos los alumnos(as) mediante una educación integral [que lleve a] la adhesión al Mensaje Revelado”. Educadores que modelen por la vivencia, como San Juan Bautista de La Salle, mostrando en el día a día, los “valores que humanizan” y que hacen crecer en la fe, docentes sensibles a los más necesitados de sus alumnos(as), lo cual les hace tener una “especial preocupación” por ellos. Profesores que “establece[n] relaciones fraternas, acogedoras y honestas... [ y que se preocupan de estar] en constante formación personal y profesional”. Educadores que saben que hay un solo Maestro y que ellos son “Hermanos” de sus educandos. Profesionales conscientes que, antes que nada, son “mediadores del conocimiento, organizadores y facilitadores de los aprendizajes y constructores de
saberes y de sentidos” de sus alumnos, todo lo cual les permita a ellos integrar, en una síntesis propia, las prácticas y saberes en una nueva sociedad del conocimiento al estilo africano4. Con este marco de fondo se debe entender: ...La MISION, por medio de la cual se propone “formar humana, cristiana e integralmente a los niños, jóvenes y adultos, mediante instancias educativas, de investigación y de extensión de excelencia, que contribuyan a la transformación delas personas y de la sociedad.” ...La VISION en donde plantea su aspiración a “Ser reconocidos por la excelencia en la formación académica, humana y cristiana que hace a los niños, jóvenes y adultos que sirve.” ...Y su META y LEMA: “Preparar líderes para un nuevo Mozambique”.5 Muchos dirán que la vara muy alta. Más, como educadores cristianos, seguidores de quien nos invita a luchar por una meta en favor de los más queremos, niños y jóvenes confiados a nuestra solicitud6. Por lo demás, son así los sueños: “con fe una estrella alcanzar [...y...] llegar donde nadie ha llegado, y soñar, lo imposible soñar”7, Esperamos que esta nueva obra educativa en Beira, sea un aporte renovador y aporte a la educación mozambicana,
3Cf. Proyecto Educativo Colegio La Salle Beira 2015 4La firma de acuerdo de paz se logró en octubre de 1992. 5Cf. Propuesta educativa de la provincia Lasallista Brasil-Chile 2015, introducción. 6Cf. Proyecto Educativo Colegio La Salle Beira 2015 7La firma de acuerdo de paz se logró en octubre de 1992.
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Refectorio Solidario
San Juan Bautista de La Salle Hermano A. Francisco Márquez M. Comunidad La Salle – San Gregorio – Chile
La Solidaridad
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Cómo es esto de la solidaridad? Ser solidario se ha ido convirtiendo cada vez en un sello propio de nuestro Colegio, ¿qué tan beneficioso es para el crecimiento personal de nuestros estudiantes, y sus familias? Educar para ser solidarios, habitualmente tiene que ver con pequeños gestos, con acciones muy simples y que a veces terminan en grandes campañas. La solidaridad no es algo que se enseñe como una asignatura, es transversal a todo el currículum y la convivencia escolar. No sólo es cuestión de dar algo material, es una actitud de vida. Somos personas en relación a los otros y con los otros. Sin duda, muchas veces los niños/as y jóvenes de nuestros Colegios nos dan grandes lecciones de solidaridad. La solidaridad se convierte, en nuestro caso, en un deber; en una exigencia que tiene su fundamento en la fe, fraternidad y servicio, pilares de nuestra espiritualidad. La defensa y la promoción de la dignidad humana es responsabilidad de todos, pero, ¿en qué medida, nuestros estudiantes son responsables de esta defensa y promoción? En la medida de sus posibilidades, capacidades, circunstancias, y de sus propias obligaciones y limitaciones. Es una cuestión prudencial en la que cada uno buscará la respuesta en la verdad y profundidad de su conciencia personal. La solidaridad es una obligación “que Dios nos demanda, no solo a ellos, nuestros estudiantes, sino a todas la comunidad”. Invierno de 2011: “el comienzo...” Viendo la necesidad del medio circundante en nuestra población “San Gregorio”, la pobreza, la drogadicción, la delincuencia, el abandono y la soledad, los estudiantes de nuestro Colegio deciden emprender una acción en beneficio de los propios vecinos del sector. Es así como los Hermanos y profesores, motivados por los propios estudiantes del grupo de pastoral, hicieron suya una inquietud. No sabían qué, ni cómo empezar, sólo tenían claro que debían “ayudar”, solidarizar con los pobres de barrio. Poco a poco esta necesidad de ayudar al “otro” comienza a tomar forma, materializándose en la entrega de almuerzos que las mismas mamás de los estudiantes preparaban en las dependencias del Colegio y lo servían bajo unos toldos ubicados en la vereda de
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calle, a un costado del Colegio. Comenzamos entregando entre 20 y 30 almuerzos a los más necesitados, una vez por semana. Este compromiso fue creciendo, “un compromiso me llevó a otro”dice La Salle - y meses después son casi 180 almuerzos que se entregan, dos o tres veces por semana. Los deseos de participar contagiaron a otros estudiantes y apoderados, no sólo de nuestro Colegio, sino además con los otros Centros Educativos Lasallistas de otras comunas de Santiago, debiendo organizarlos en pequeñas “cuadrillas de servicio”. Ese año, aprendimos que la solidaridad es una muy buena pedagoga, que nos enseña fundamentalmente con la práctica, el arte de ser feliz por medio de la donación personal. Podemos asegurar que la solidaridad “ayuda a nuestros jóvenes a ser mejores personas”. Pero, la solidaridad se debe vivir con valentía, humildad y por sobre todo, con respeto al otro, es por eso que en... La primavera de 2012, comienza construcción... Los Hermanos de La Salle, quiénes se hacen partícipes de esta iniciativa desde el comienzo, saben mejor que nadie, que a los pobres se les debe servir con dignidad, y por intermedio de algunos de ellos se comienza la construcción de un local en las dependencias del estacionamiento del Colegio, será el nuevo comedor solidario “San Juan Bautista de La Salle”, un espacio digno para atender a los más necesitados, un espacio digno para que nuestros estudiantes, profesores y apoderadas puedan seguir haciendo vida el mensaje de amor del Evangelio. Jesús no solo se compadeció de los pobres, sino que se interesó personalmente por sus necesidades y animaba a sus seguidores a reconocer su obligación de socorrer a los más desfavorecidos. Gracias a la entrega de los Hermanos a cargo de este hermoso proyecto y a los profesionales que trabajaron voluntariamente en el diseño y cumplimiento de las normas, en la primavera del año 2012, se inicia su construcción. Mientras los estudiantes junto a los apoderados y profesores seguían entregando los almuerzos a las personas en la calle, eran testigos ansiosos del avance de la construcción, del comedor solidario “San Juan Bautista de La Salle”. Invierno de 2013: bendición del nuevo local Los Hermanos deciden entregar estos almuerzos en un espacio digno y no en la calle. El día viernes 30 de agosto y después de casi dos años, lo que comenzó como un pequeño proyecto de
solidaridad, se hacía realidad, fuimos testigos junto al Hno. Jardelino Menegat, Visitador Provincial y partícipes de la bendición presidida por nuestro párroco Jorge Orellana, de la construcción de un hermoso comedor, que día a día se llena de hombres, mujeres y niños que reciben no solo su almuerzo, sino que también compañía, cariño, oración y por sobre todo respeto por sus situaciones de vida y condición de pobreza.
servir al prójimo, por hacer realidad el mandato de Jesús: “Amar al prójimo...” Es una obra lasallista , donde se han ido comprometiendo todos los Centros Educativos del Polo-Chile, algunos con un servicio directo, otros a la distancia con mercadería para tener siempre abastecida nuestra despensa y todos, hermanos, profesores y estudiantes, comprometidos con la oración.
Lo que hoy es el Comedor Solidario “San Juan Bautista De La Salle” es el fruto de la inquietud de nuestros estudiantes por
Testimonios:
“En lo personal, el Comedor Solidario me ha ayudado a crecer más en mi vida de fe, fraternidad y servicio, me emociona ver a tanta gente en ese lugar, muchos de ellos son drogadictos, alcohólicos o personas en situación de calle, pero a pesar de todo ese dolor, son personas agradecidas de Dios. Me alegra la vida ver como nosotros podemos hacer que ellos sea felices con tan poco. Todos formamos parte de este lugar, los alumnos, las madres cocineras voluntarias, los profesores, los Hermanos, sin ellos, nada de esto hubiese resultado.” (Romanette Valenzuela, IV° Medio, Colegio San Gregorio – de La Salle)
“Mi experiencia en el comedor solidario no se puede describir en unas pocas líneas, la satisfacción y el enriquecimiento personal que se siente cuando uno ve los rostros de felicidad de las personas, es inmensa. Gracias al comedor solidario he aprendido a valorar más mi vida... en cada una de estas personas vemos a Jesús y al participar de esta maravillosa actividad nos ponemos al servicio de Él. Mi felicidad y mis ganas de ayudar se la he transmitido a mi abuela “Nieves” y ella ahora es voluntaria y destina una día a la semana para venir a cocinar.” (Rocío Ferrada,
“¿Cómo podemos amar Dios a quien no vemos, y no amar a nuestros hermanos a quienes si vemos en su miseria? Este fue el tema que nos motivó a iniciar una campaña para dar una vez a la semana un plato de comida a nuestros hermanos que viven en la calle. Era una ocasión muy propicia para que nuestro estudiante y profesores pudiéramos vivir la solidaridad, y no solo hablar de ella. La historia es conocida, de un día a la semana pasamos a los cuatro días semanales e involucramos a otros colegios de la Salle. No ha sido una misión fácil, hemos debido superar algunas de nuestras propias miserias, pero ha sido beneficioso para todos, por una parte hemos hecho visible la pobreza de nuestro pueblo y por otra, hemos iniciado una real vivencia de nuestra fe. Estoy cierto que esta acción marcará no solo la vida de nuestros estudiantes, sino que a los profesores nos recordará el compromiso con el Cristo sufriente. El Comedor Solidario es una realidad que esperamos mantener con un equipo de voluntarios en beneficio de los hijos predilectos de Dios.” (Hugo Vicencio, profesor Colegio San Gregorio de La Salle)
IV° Medio, Colegio San Gregorio de La Salle)
La solidaridad no es algo que se enseñe como una asignatura, es transversal a todo el currículum y la convivencia escolar
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Estudiantes junto a los apoderados y profesores seguían entregando los almuerzos
“El comedor solidario ha sido una experiencia que nos ha permitido involucrar en una actividad solidaria significativa a toda la comunidad escolar: Alumnos, docente, padres y apoderados. Los alumnos de I° a IV° de Enseñanza Media asisten todos los viernes al colegio San Gregorio, donde está ubicado el Comedor Solidario, se organizan en grupos, reúnen los recursos económicos necesarios para el almuerzo del día, ayudan a servir y a limpian el lugar. Esta acción solidaria ha motivado también a algunos padres a participar junto a sus hijos, otros han prestado su colaboración a través donaciones y familias completas se han ofrecido para donar tiempo y recursos junto a sus hijos y realizar almuerzos especiales en días previos a Navidad. Los docentes del colegio se han organizado fuera de su tiempo de trabajo también para realizar visitas al comedor, principalmente a la hora de once y día sábado al almuerzo. Esto nos demuestra que esta obra es muy querida por la comunidad Lasallistas y motiva a diferentes estamentos del colegio a querer participar y prestar colaboración.” (Fátima López, profesora encargada de pastoral del Colegio de La Salle – La Reina)
“Mi experiencia solidaria empezó cuando el profesor Gerardo, profesor de religión, me invitó al comedor solidario de San Gregorio, en ese momento unos compañeros y yo comenzamos la campaña de recolección de alimentos en nuestro colegio, el Instituto La Salle. Al cabo de uno días fue nuestro turno de ir al comedor, si bien estaba muy nervioso, me tenía que calmar para poder ayudar lo más posible. Algunas de las variadas tareas que me asignaron realiza: limpiar las mesas, ordenar las sillas, doblar las servilletas, asear los baños y armar las bandejas para pasarlas a mis compañeros que estaban sirviendo la comida a las personas que llegan a diario al recinto. Pero lo que realmente gané con esta experiencia solidaria fue hacer mío el valor de la solidaridad, el valor del respeto, aprendí a no comparar a las personas con uno mismo, a que cada persona es diferente y hay que aceparlos tal y como son. Agradezco mucho a mi colegio y a mi profesor de Religión por invitarme a participar de esta obra.” (Nicolás Gavilán, III° Medio, Instituto La Salle)
“El Comedor Solidario es una actividad Social, que responde a una invitación realizada de parte del Hno. Santiago y del Equipo de Pastoral del Colegio San Gregorio de La Salle, para apoyar la hermosa iniciativa de colaborar un día a la semana para preparar y hacernos responsables de darle de comer a la gente de la calle. A través de esta actividad, queremos promover y fortalecer en los estudiantes del Instituto y del personal la capacidad de despertar la conciencia social y fortalecer nuestra espiritualidad a través del contacto con los más necesitados de la población San Gregorio. Las repercusiones que esta actividad ha tenido en nuestros estudiantes son muchas, por nombrar algunas, nos ha permitido desarrollar en ellos el compromiso y la sensibilidad social, que valoren a la familia y la sientan como un pilar fundamental de sus vidas, que se sientan útiles aportando con este servicio al más necesitado y finalmente, que tienen la oportunidad de hacer felices a otras personas que carecen de lo básico para vivir.” (Gerardo González, profesor encargado de Pastoral del Instituto La Salle).
“Para nosotros como Centro General de Alumnos, la solidaridad es un tema fundamental. Por esto que año tras año se realizan actividades en torno a ésta, simbolizados en la entrega y servicio. Dentro del Aniversario de nuestro Colegio cobra un papel importante la llamada “Ayuda Fraterna” donde todos como una familia realizamos una entrega voluntaria en el marco de las celebraciones, la colaboración incluye: alimentos, útiles de aseo, ropa y materiales para el aula. Para nosotros como CGA, significa no sólo una tradición digna de imitar, sino una entrega de esfuerzo de parte de las Alianzas (grupos de estudiantes) y a la vez del equipo de trabajo y organización. Posteriormente todo lo que corresponde a los alimentos es cargado en el bus de los estudiantes de II medio que realizan su gira de estudios al Norte del País, haciendo siempre necesaria y formativa la detención en Santiago para hacer llegar los alimentos al Comedor Solidario del Colegio San Gregorio, nuestro hermanos en La Salle, quienes hacen un maravilloso trabajo con nuestro granito de arena. “llevadera la labor, cuando compartes la fatiga.” (Directiva del Centro de Alumnos 2015)
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O Irmão Enquanto Gestor Irmão Eucledes Fábio Casagrande Vice-diretor e Supervisor Educativo do Colégio La Salle Carmo, de Caxias do Sul/RS
O
presente ensaio quer ser uma reflexão acerca do papel do Irmão na gestão das instituições lassalistas de ensino. Não tem a pretensão de ser uma obra acabada, mas o início de uma discussão que aponte caminhos e nos descortine horizontes para repensarmos a gestão educacional. Essa, por sua vez, precisa constantemente ser objeto de reflexão para poder progredir firmemente para um estado melhor e de maior profissionalização. No que tange ao cenário da educação brasileira, percebemos que o ensino privado tem sofrido, nos últimos anos, os impactos de inúmeras mudanças econômicas e culturais. Com isso, as instituições de ensino confessional foram afetadas de diferentes modos, seja pelo crescimento da oferta de vagas oriundo do aumento exponencial no número de novas instituições, seja pela relação com as políticas governamentais, seja pelas mudanças culturais por parte dos benificiários de seus serviços. Compreender essas mudanças nos processos evolutivos das últimas décadas e projetar-se estrategicamente para os mercados atuais e futuros tem sido um dos grandes desafios para a gestão dessas instituições. Soma-se a isso tudo uma vertiginosa diminuição no número de vocações religiosas. Essa situação contribui para que enfraqueça a presença de religiosos na gestão e na coordenação das organizações administradas por grupos católicos. Da mesma forma, tem-se constatado a necessidade de presença mais ativa, significativa e qualificada dos atuais religiosos nessas obras. Diante desse contexto competitivo em que a educação privada brasileira está inserida, entendo que as Comunidades Educativas Lassalistas podem e devem encontrar na qualificação da gestão e, por conseguinte, de seus gestores, uma forte estratégia para melhorar seu desempenho e participação nesse setor. Tendo em vista essas questões preliminares, dividirei essa reflexão em quatro exigências básicas que podem contribuir para o bom desempenho da missão dos Irmãos, enquanto gestores, bem como para a sustentabilidade e manutenção das obras e de sua qualidade educativo-evangelizadora. A saber: (I) exigência de formação continuada; (II) prática do acompanhamento sistemático; (III) competência de planejar estrategicamente em equipe; (IV) capacidade de estabelecer relacionamentos. Lembro que essas exigências nascem da minha experiência enquanto gestor e educador lassalista e, nessa condição, retratam, portanto, apenas a minha caminhada pessoal e o olhar que dela faço.
Um planejamento bem feito prepara o caminho para conquistas duradouras
Exigência de formação continuada Por muitas décadas, as instituições confessionais, pela tradição e pelo reconhecimento do seu nome, lideram o mercado educacional brasileiro. Com o crescente aumento da concorrência, o setor passou a exigir uma profissionalização cada vez maior em todos os níveis. Dessa forma, as obras passaram a necessitar de pessoas cada vez mais competentes em tudo que realizam, visto que somente com profissionais bem formados e extremamente qualificados será possível atingir metas e alcançar resultados positivos. Murad (2012, p. 13-14), ao estudar o tema da gestão e da vida religiosa, nos recorda que as organizações religiosas, em geral, desenvolveram pouco o profissionalismo no exercício da sua missão, tendo dificuldade de lidar com resultados. O autor reconhece que existe imensa boa vontade e ideais verdadeiros, mas faltam organização e instrumentos que garantam viabilidade aos projetos. Um sinal de esperança é que essa realidade está mudando: hoje, começa-se a buscar conhecer e introduzir conceitos de gestão nas obras para garantir sua continuidade. Enquanto Irmãos Lassalistas e fiéis ao legado de São João Batista de La Salle, que se preocupou durante toda a sua vida com a formação de seus mestres, precisamos reconhecer a importância da formação continuada como principal prioridade em nossas obras e como uma questão de sobrevivência futura.
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A educação lassalista não quer ser uma ilha: ela está aberta à sociedade
Portanto, ser lassalista, hoje, mais do que em qualquer outro período da história, requer um itinerário formativo que implique estudar, aprofundar conceitos e experiências, atualizar-se constantemente com leituras, cursos, intercâmbios e partilhas de experiências, para podermos viver e assumir a missão lassalista com consciência e convicção, prosseguindo e consolidando o legado do Santo Fundador. Prática do acompanhamento sistemático O acompanhamento refere-se ao cuidado, à atenção e ao monitoramento de todos os processos, por mais difíceis e complexos que sejam. É compreendido na criação de um ambiente de harmonia, confiança e cuidado e, na presença fraterna, atenta e disponível dos envolvidos nos espaços onde acontece a educação lassalista. No campo da gestão, “acompanhamento” refere-se à capacidade de selecionar, formar, avaliar e coordenar pessoas, informações e recursos para que sejam alcançados os objetivos e as metas da instituição. Murad (2012, p. 65) nos alerta que gestores limitados, despreparados para responder com proatividade aos desafios atuais e com pouca visão estratégica selecionam seus colaboradores privilegiando o mesmo perfil: “pessoas boazinhas, medianas ou medíocres, sem ousadia e espírito empreendedor”. Como não há mecanismos de avaliação e acompanhamento de metas e resultados, essas pessoas permanecem nas suas funções durante anos sem serem desafiadas a empreender e melhorar o seu desempenho. Logo, compete ao gestor lassalista atrair pessoas competentes, formar e especificar suas responsabilidades, assim como avaliar, acompanhar e cobrar seus colaboradores para que eles desenvolvam suas aptidões e multipliquem os resultados em prol da qualidade e da continuidade da missão lassalista.
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Competência de planejar estrategicamente em equipe O gestor lassalista, conforme expresso na Proposta Educativa Lassalista (2014, p.29-30), tem por compromisso assegurar o cumprimento da missão, da visão, dos princípios e dos valores da instituição, utilizando instrumentos e modelos atualizados de gestão, que contribuam para a obtenção dos objetivos, indicadores e metas, bem como para a viabilidade e manutenção pedagógica, econômica e pastoral da missão educativa desenvolvida. O planejamento estratégico constitui-se numa das principais ferramentas de gestão, permitindo o acompanhamento e a avaliação sistemática dos resultados obtidos. Hoje, segundo Murad (2009), qualquer grupo minimamente organizado precisa prever suas ações, a fim de evitar a dispersão de energia que leva à morte lenta das instituições. Dessa forma, planejar significa especificar metas a serem alcançadas e decidir com antecedência as ações necessárias para atingi-las. Um planejamento bem feito prepara o caminho para conquistas duradouras. Cabe ao gestor coordenar o planejamento estratégico com a total participação de todos os atores da ação escolar e sempre voltar a ele, para manter o rumo da missão. Capacidade de estabelecer relacionamentos Um dos paradigmas da atualidade é o da parceria e do relacionamento. O exercício do bom relacionamento busca construir uma relação duradoura de confiança, compromisso, colaboração e benefícios mútuos entre todos os envolvidos na ação escolar. Sua essência, no campo da gestão, consiste na descoberta por parte das instituições da necessidade de aprender a ser útil aos seus beneficiários e criar com eles vínculos duradouros, que sejam vantajosos para ambos.
É mister lembrarmos que, quando falamos na importância do relacionamento nas instituições lassalistas, devemos recordar que, desde as origens do Instituto, La Salle e os Primeiros Irmãos defendiam uma educação aberta. Logo, a educação lassalista não quer ser uma ilha, dado que está aberta à sociedade em geral, na busca de qualidade na formação dos cidadãos; à Igreja, no estímulo às práticas religiosas e à participação na comunidade eclesial; à família, no contato e no diálogo com pais e responsáveis sobre a educação dos filhos.
Da mesma forma que no tempo de La Salle, as escolas lassalistas ainda hoje se mantêm abertas à sociedade e aos diversos públicos de interesse da instituição. Ações que promovam o acompanhamento, o cuidado, a presença atenta e o achatamento da estrutura piramidal da instituição, de forma a aproximar os responsáveis da escola ao mercado (alunos, pais, professores, colaboradores instituições parceiras) têm trazido muitos benefícios às instituições de ensino. Desse modo, gerenciar relacionamentos é uma estratégia de solidificação da marca da instituição e uma questão de sobrevivência futura. Considerações finais Nesta reflexão destacou-se a importância de o Irmão, enquanto gestor lassalista, desenvolver algumas competências básicas que, do meu ponto de vista, podem ajudar no êxito do exercício de nossa missão. Abordou-se a importância da formação continuada em serviço, visto que a qualidade não é algo definido e acabado, mas em constante evolução. Enfocou-se a importância do acompanhamento diário das pessoas, das estruturas e dos processos, principalmente quanto à necessidade de planejar estrategicamente em equipe, superando o amadorismo e o improviso que tende a se fazer presente nas estruturas religiosas. Relembrou-se, também, a importância da manutenção de bons relacionamentos com os diversos públicos de interesse das instituições lassalistas, pois o sucesso da instituição dependerá da criação e da administração de boas relações com todos eles. Por fim, acredito que, independente do foco específico de atuação de cada Irmão, seu engajamento é de total importância para a continuidade e o sucesso da missão lassalista.
Referências COLOMBO, Sonia Simões. Marketing Educacional em Ação: Estratégias e Ferramentas. Porto Alegre: ARTMED, 2005. LA SALLE. Proposta Educativa Lassalista. Porto Alegre: 2014. Documento de uso restrito da Rede La Salle. LA SALLE. Plano de Formação do Educador Lassalista. Porto Alegre: 2014. Documento de uso restrito da Rede La Salle. MURAD, Afonso. Gestão e Espiritualidade. São Paulo: Paulinas, 2012. Desde as origens do Instituto, La Salle e os Primeiros Irmãos defendiam uma educação aberta
MURAD, Afonso. Funções do Gestor Eclesial. 2009. Disponível em: http://afonsomurad.blogspot.com.br.
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Por uma vida que valha a pena Irmão Paulo Fossatti Reitor do Unilasalle Canoas/RS
O
tema que me ocupa neste comentário é a Produção de Sentido como antídoto para combater o profundo sentimento de insignificância e vazio existencial pelo qual passa o homem do século XXI, independente de seu lugar social ou grau de escolarização.
Minha análise se dá a partir da obra “O sofrimento de uma vida sem sentido – caminhos para encontrar a razão de viver”, de autoria de Viktor E. Frankl. Nela, o autor registra a experiência vivida por ele mesmo, seus pacientes e seus contemporâneos sob a égide do princípio do sentido. Nesse livro, a experiência vivida ganha forma de texto. A tese está na Vontade de Sentido concreto em uma situação concreta. Esta se apresenta como alternativa para construir projetos de vida em contraposição à Vontade do Prazer de Freud e à Vontade de Poder de Adler. Meu comentário considera: a trajetória existencial de Frankl; a tese calcada no sentido; os sintomas de uma vida vivida sem sentido; a contribuição da logoterapia para o homem de hoje; aproximações entre vontade de sentido e projeto de vida. A trajetória existencial de Frankl É possível afirmar que cada autor fala de seu tempo, de seu entorno e de si mesmo. Com Frankl não foi diferente. Ele nasce no ano de 1905, em Viena. É educado nos princípios judaicos. Sofre as agruras de duas guerras mundiais. Tem formação em Psicologia, Medicina e Especialização em Neurologia e Psiquiatria. Na segunda Guerra Mundial é feito prisioneiro simplesmente pelo fato de ser judeu. Vivencia as atrocidades de prisioneiro passando por um período de três anos confinado em quatro campos de concentração. Com exceção de sua irmã, toda sua família é morta em algum campo de concentração. Em sua fase pós-guerra, em seus escritos e trabalho, opera com a Vontade de Sentido como potência para dar conta das situações que a vida apresenta a seus pacientes e alunos, dando a eles um sentido, mesmo no sofrimento. A tese calcada no sentido Frankl apresenta seu pensamento sob o prisma do existencialismo. Assim, podemos afirmar que já não estamos mais na era do “Cógito, Ergo Sum” (“Penso, logo sou!”) cartesiano, mas na lógica do “Existo, Logo Sou!”.
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Viktor E. Frankl registra a experiência vivida por ele mesmo e por seus pacientes. Foto: reprodução
Ao criar a terceira escola vienense de psicoterapia, conhecida como logoterapia, Frankl procura ir além das escolas de seus mestres Freud (escola de psicanálise: princípio do prazer) e Adler (escola de psicologia individual: princípio do poder). Ele trabalha sobre o pressuposto de que [...a existência não é para o homem um empenho pelo prazer ou pelo poder, nem tampouco pela autorrealização, mas antes pelo cumprimento de um sentido] (FRANKL, p. 87, 2015). Mas como viabilizar a Produção de Sentido? Ela pode ganhar vasão na vivência dos valores. Eles se apresentam em três grupos: Os Valores Criativos consistem em produzir ação, em entregarse a um trabalho. Neste eixo cabe a pergunta pela qualidade e criatividade da ação empreendida em nosso cotidiano e em nosso modo de existir. Já os Valores Vivenciais se expressam na capacidade de amar alguém, em entregar-se a uma causa ou a um projeto. Aqui, conforme Frankl, reside a capacidade de o ser humano encontrarse com outro ser humano e amá-lo sob a forma de um tu diferente de si mesmo.
A produção de sentido, por meio do cultivo dos valores, leva a pessoa à autotranscendência da existência humana
Por sua vez, os Valores Atitudinais nos mostram como podemos nos posicionar frente à dor, ao sofrimento e à morte. Ou seja, os fatos a exemplo de uma morte ou tragédia podem influenciar nosso comportamento, mas jamais determinar nosso posicionamento diante destes. Na contramão dos valores, deparamo-nos com o vazio existencial, prova cabível de uma sociedade que apenas busca satisfazer as necessidades básicas (Maslow) e distancia-se cada vez mais da vontade de sentido. Os sintomas de uma vida vivida sem sentido O livro traz vários exemplos clínicos e do cotidiano vivenciado por Frankl consigo mesmo, com seus pacientes ou com pessoas de seu entorno. Tais recortes dizem de uma época que nos dá acesso aos bens de consumo, nos dá condições materiais para viver bem, contudo, não responde à pergunta pelo “por que” viver. O vazio existencial apresenta-se com diversas máscaras na atualidade, como mostramos a seguir. O cenário de uma vida vivida sem sentido, calcada nos sintomas da busca acelerada pelo prazer e pelo poder, descortina-se diariamente nas páginas
dos jornais e revistas nas inúmeras cartografias da corrupção, da falta de ética na política e no cotidiano, nas propagandas que prometem bem-estar e felicidade associada aos bens de consumo. Conforme Frankl, poderíamos classificar esse mosaico como sintoma de uma humanidade que saiu de seu eixo e que já não encontra referenciais garantidores de reumanização. As estatísticas de uma vida tragada pelo vazio existencial estão nos elevados índices de suicídios, não somente entre os jovens americanos, mas na população em geral. Esse vazio desdobra-se no aumento do número de pessoas com diagnóstico de depressão ou nos alarmantes acidentes de carro, especialmente nos finais de semana. Marca presença, também, no ativismo frenético daquela pessoa que não se deixa silenciar com medo de deparar-se com suas próprias verdades. Consolida-se nas neuroses noogênicas ou também chamadas neuroses de domingo, próprias de pessoas que tomam consciência do conteúdo raso de suas vidas. Estas mazelas expõem a fragilidade humana calcada no vazio, no desespero humano, no mundo do incessante movimento, próprio de quem perdeu o sentido de seu existir.
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A era do vazio mostra-se ainda na opressão produzida pela crise existencial da pessoa desempregada por ter ciência de que ela não encontra sentido num viver apenas amparado no segurodesemprego. Ou o que dizer do vazio existencial manifestado no excesso de velocidade no trânsito ou no barulho dos motores, especialmente nas noites de sexta-feira ou nos finais de semana? Ou o que dizer do excesso de trabalho, excesso de pressa que nos roubam a experiência e nos deixam a sensação de cansaço e de “servos inúteis” após um dia ou semana assoberbados de tarefas?
Logo, as diversas manifestações de violência humana recaem sobre um existir desumanizado, uma vida precária de sentido que pode levar a um “matar” ou “morrer”, real ou simbólico. O vazio existencial pode usar-se de diversas máscaras, dentre as quais podemos citar as mais comuns em nosso meio: trabalho incessante; alcoolismo; embriaguez. Pessoas sem sentido geralmente são infelizes, pouco capazes de viver e sem orientação para o futuro.
Acima mostro apenas um quadro diagnóstico, com vários sintomas, das neuroses noogênicas, aquelas apontadas por Frankl como as que se originam da ausência de razões pela existência. Assim, concordamos com o autor ao afirmar que:
Cada época tem suas neuroses e, para estas, suas psicoterapias. O “Logos” que significa “espírito” e “sentido” apresenta-se como uma resposta às neuroses de nosso tempo. Frankl tem por pressuposto que o essencial para um processo terapêutico é levar uma vida orientada para valores e sentido.
As neuroses, contudo, não se enraízam necessariamente no complexo de Édipo ou no complexo de inferioridade. Também podem estar fundadas em um problema espiritual, em um conflito de consciência e em uma crise existencial (FRANKL, 2015, p. 65).
A contribuição da logoterapia para o homem de hoje
Por outro lado, a frustração existencial apresenta-se como a neurose atual, pessoal ou social, decorrente da sensação da falta de sentido associado a um sentimento de vazio interior ou, no dizer de Frankl, de um vazio existencial. Ao frustrar-se com a vontade de sentido, fazem-se valer as vontades de poder e de prazer, aqui como sintomas de uma humanidade que saiu de seu eixo.
É preciso saber diante “do que” somos chamados a “ser responsáveis”
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A produção de sentido, por meio do cultivo dos valores, leva a pessoa à autotranscendência da existência humana. Tal atitude mostra-se num olhar para além de si e diferente de si mesmo. Este se volta em direção a uma pessoa a amar, a uma tarefa a realizar, a um trabalho a implementar ou na entrega a uma causa. Quem não consegue autotranscender-se fica preso na armadilha narcísica, provocando sua própria morte, quando não física, ao menos simbólica ou existencial. A capacidade de autotranscender-se leva a pessoa a ser responsável, livre, e viver uma causa, bem como até morrer por ela. Ou, no dizer de Frankl (2015, p.43), “...o que interessa verdadeiramente é a entrega a uma tarefa, quero dizer, a uma tarefa pessoal e concreta que se torna clara no decorrer da respectiva análise existencial”. Como vemos, a Logoterapia não está centrada no sintoma. Busca, sim, levar a pessoa a uma mudança de atitude, a um novo posicionamento diante da vida. Ela orienta a pessoa a enfrentar-se, enfrentando seu medo, diminuindo sua ansiedade e cultivando uma boa dose de senso de humor. Seus princípios podem muito bem ser considerados num projeto de vida à medida que as pessoas precisam se desenvolver e agregar valor no meio em que estão inseridas. Aproximações entre vontade de sentido e projeto de vida Ao concordarmos com Frankl, temos somente uma alternativa: sair de nosso casulo. Ou seja, a felicidade autêntica está no movimento em direção ao outro, como já afirmava Kierkegaard, dizendo que a porta da felicidade se abre para fora e que, quanto mais alguém tenta arrombá-la, mais ela se fechará. A decisão em levar uma vida simplesmente boa ou significativa depende, portanto, exclusivamente da pessoa, de seu posicionamento, de sua escolha. Nessa lógica, todos somos livres para amar ou mesmo para não usufruir desta potencialidade. Aos que preferem abrir mão do cuidado de si, resta-lhe o sentimento de vazio interior. E, chamo atenção, este não é privilégio dos jovens em período de “crises”, de países socialistas ou capitalistas. Ele se faz sentir também entre países em desenvolvimento e em pessoas de qualquer natureza, visto que não se trata apenas de uma questão social, mas também espiritual na medida em que o ser humano precisa dar conta da problemática autêntica de sua existência. Esse dar conta compete somente a ele enquanto posicionamento, especialmente diante do amor, do trabalho, do outro e dos acontecimentos. Numa época em que não se para de disseminar frustração existencial, com muitas pessoas desesperadas do sentido de suas vidas, é preciso recuperar a razão concreta e pessoal da existência. Uma bela maneira de fazer isso é colocar-se constantemente a pergunta: o que a vida, as pessoas, a instituição e a sociedade podem esperar de mim? A resposta afirmativa levanos a operar no nível da liberdade e da responsabilidade.
Diante de um projeto e da sociedade, cabe responder bem àquilo que somos chamados
Como relacionar a leitura do livro com nossos Projetos de Vida? Creio que as grandes diretrizes e estratégias que participam de nossos projetos de vida estão contidas nesse livro. Ele nos aponta critérios e caminhos para dar respostas significativas às situações concretas que a vida nos apresenta. E nesta época em que se goza de liberdade, é-nos exigida a pergunta pela responsabilidade com os demais. Todos somos responsáveis por dar conta de um sentido mais amplo, o que, em outras palavras, podemos chamar de fé. Logo, é preciso saber diante “do que” somos chamados a “ser responsáveis”. Ou seja, é diante de um projeto, diante da sociedade, diante de uma instituição, diante de uma pessoa, diante da consciência que cabe à decisão pessoal para responder bem àquilo que fomos chamados. A qualidade da resposta torna-se um grande ato de fé! Que possamos fazer bom uso de nossa responsabilidade, “respondendo bem” às situações ali onde a vida nos pede uma resposta pessoal e intransferível.
Referências: FRANKL, Viktor E. O Sofrimento de uma vida sem sentido – caminhos para encontrar a razão de viver. Tradução Karleno Bocarro. 1ª Ed. – São Paulo: É Realizações, 2015.
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Por una vida que valga la pena Hermano Paulo Fossatti Rector de Unilasalle Canoas/RS
Introducción El tema que me ocupa en este comentario es la Producción de Sentido como antídoto para combatir el profundo sentimiento de insignificancia y vacío existencial por el que pasa el hombre del siglo XXI, independientemente de su lugar social o grado de escolarización. Mi análisis se da a partir de la obra “El sufrimiento de una vida sin sentido – caminos para encontrar la razón de vivir”, del autor Viktor E. Frankl. En ella el autor registra la experiencia vivida por él mismo, sus pacientes y sus contemporáneos bajo la égida del principio de sentido. En ese libro, la experiencia vivida gana forma de texto. La tesis está en la Voluntad de Sentido concreto en una situación concreta. Ésta se presenta como alternativa para construir proyectos de vida en contraposición a la Voluntad de Placer de Freud y a la Voluntad de Poder de Adler. Mi comentario considera: la trayectoria existencial de Frankl; la tesis fundamentada en el sentido; los síntomas de una vida sin sentido; la contribución de la logoterapia para el hombre de hoy; aproximaciones entre voluntad de sentido y proyecto de vida. La trayectoria de Frankl Es posible afirmar que cada autor habla de su tiempo, de su entorno y de sí mismo. Con Frankl no fue diferente, Él nació en el año 1905, en Viena. Es educado en los principios del judaísmo. Sufre las amarguras de dos guerras mundiales. Tiene formación en Psicología, Medicina y Especialización en Neurología y Psiquiatría. En la segunda Guerra Mundial es hecho prisionero simplemente por el hecho de ser judío. Experimentó las atrocidades de prisionero pasando un periodo de tres años confinado en cuatro campos de concentración. Con excepción de su hermana, toda su familia es asesinada en algún campo de concentración.
Al crear la tercera escuela vienense de psicoterapia, conocida como logoterapia, Frankl procura ir más allá de las escuelas de sus maestros Freud (escuela de psicoanálisis: principio del placer) y de Adler (escuela de psicología individual: principio del poder). Él trabaja sobre el presupuesto de que [...la existencia no es para el hombre un empeño por el placer o por el poder, ni tampoco por la autorrealización, sino más bien por el cumplimiento de un sentido] (FRANKL, p.87, 2015). Pero ¿cómo viabilizar la Producción de Sentido? Ella puede ganar movimiento en la vivencia de los valores. Ellos se presentan en tres grupos: Los Valores Creativos consisten en producir acción, en entregarse a un trabajo. En este eje cabe la pregunta por la calidad y creatividad de la acción emprendida en nuestro cotidiano y en nuestro modo de existir. Así, los Valores Vivenciales se expresan en la capacidad de amar a alguien, en entregarse a una causa o a un proyecto. Aquí, según Frankl, reside la capacidad del ser humano de encontrarse con el otro ser humano y amarlo bajo la forma de un tú diferente a sí mismo. A su vez, los Valores Actitudinales nos muestran cómo nos podemos posicionar frente al dolor, al sufrimiento y a la muerte. O sea, los acontecimientos de una muerte o tragedia pueden influenciar nuestro comportamiento, pero jamás determinar nuestra postura ante éstos. A contramano de los valores nos deparan el vacío existencial, prueba aplicable a una sociedad que apenas busca satisfacer las necesidades básicas (Maslow) y se aparta cada vez más de la voluntad de sentido. Los síntomas de una vida sin sentido
La tesis fundamentada en el sentido
El libro trae varios ejemplos clínicos y de lo cotidiano vivenciado por Frankl consigo mismo, con sus pacientes o con personas de su medio. Tales ejemplos nos hablan de una época que nos da acceso a los bienes de consumo, nos da las condiciones materiales para vivir bien, sin embargo, no responde a la pregunta “por qué” vivir.
Frankl presenta su pensamiento bajo el prisma del existencialismo. Así, podemos afirmar que ya no estamos más en la era del “Cógito”, Ergo Sum” (“Pienso, luego existo”) cartesiano, sino en la lógica del “Existo, luego soy”.
El vacío existencial se presenta con diferentes máscaras en la actualidad, como en seguida lo mostramos. El escenario de una vida vivida sin sentido, basada en los síntomas de la búsqueda acelerada por el placer, la encontramos diariamente
En su fase post guerra, en sus escritos y trabajo, trabaja con la Voluntad de sentido como potencia para dar cuenta de las situaciones que la vida presenta a sus pacientes y alumnos, dando a ellas un sentido, incluso en el sufrimiento.
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Que podamos hacer un buen uso de nuestra responsabilidad
en las páginas de los periódicos y revistas en la innumerables cartografías de la corrupción, de la falta de ética en la política y en el día a día, en las propagandas que prometen bien-estar y felicidad asociada a los bienes de consumo. Según Frankl podríamos clasificar este mosaico como síntoma de una humanidad que se salió de su eje y que ya no encuentra aquellas referencias que garantes de rehumanización. Las estadísticas de una vida devorada por el vacío existencial están en elevados índices de suicidios, no sólo entre los jóvenes americanos, sino en la población en general. Este vacío se extiende en el aumento del número de personas con diagnóstico de depresión o en los alarmantes accidentes de vehículo, especialmente en los fines de semana. Marca presencia también el activismo frenético de aquella persona que no se permite hacer silencio por el miedo a enfrentarse con sus propias verdades. Se consolida en las neurosis noogénicas o también llamadas neurosis de domingo, propias de personas que toman conciencia del contenido superficial de sus vidas. Estas razones exponen la fragilidad basada en el vacío, en la desesperación humana, en el mundo del incesante movimiento, propio de quien perdió el sentido de su existir. La era del vacío se muestra aún más en la opresión producida por la crisis existencial de la persona desempleada por tener conciencia de que ella ya no encuentra sentido en un vivir solamente amparada en el seguro de desempleo. O ¿qué decir
del vacío existencial manifestado en el exceso de velocidad en el tránsito o en el ruido de los motores, especialmente en las noches de viernes o en los fines de semana? O ¿qué decir del exceso de trabajo, exceso de prisa que nos roban la experiencia y nos dejan la sensación de cansancio y de “siervos inútiles” luego de un día o semana absorbidos de tareas? Arriba muestro solamente un cuadro diagnóstico, con varios síntomas, de las neurosis noogénicas, aquellas apuntadas por Frankl como aquéllas que se originan en la ausencia de razones por la existencia. Así, concordamos con el autor al afirmar que: Las neurosis, no obstante, no se enraízan necesariamente en el complejo de Edipo o en el complejo de inferioridad. También pueden estar fundadas en un problema espiritual, en un conflicto de conciencia y en una crisis existencial (FRANKL, 2015, p. 65). Luego, las diferentes manifestaciones de violencia humana recaen en un existir deshumanizado, en una vida precaria de sentido que puede llevar a un “matar” o “morir”, real o simbólico. El vacío existencial puede usar de diferentes máscaras, de entre la que podemos citar las más comunes en nuestro medio: trabajo incesante; alcoholismo; embriaguez. Personas sin sentido generalmente son infelices, poco capaces de vivir y sin orientación hacia el futuro.
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La contribución de la logoterapia para el hombre de hoy Cada época tiene sus neurosis y, para éstas sus psicoterapias. El “Logos” que significa “espíritu” se presenta como una respuesta a las neurosis de nuestro tiempo, Frankl tiene un presupuesto que es esencial para el proceso terapéutico es llevar una vida orientada por los valores y sentido. Por otro lado, la frustración se presenta como la neurosis actual, personal o social, derivada de la sensación de la falta de sentido asociado a un sentimiento de vacío interior, al decir de Frankl, de un vacío existencial. Al sentir frustración ante la voluntad de sentido, se hacen valer las voluntades de poder y de placer, aquí como síntomas de una humanidad que se salió de su eje. La producción de sentido, por medio del cultivo de los valores, lleva a la persona a la autotrascendencia de la existencia humana. Tan actitud se muestra en un mirar hacia un más allá de sí y diferente de sí mismo. Quien no consigue autotrascenderse queda preso en una trampa narcisista, provocando su propia muerte, cuando no física, al menos simbólica o existencial. La capacidad de autotrascenderse lleva a la persona a ser responsable, libre, y vivir una causa, y a morir por ella. O, en el decir de Frankl (2015, p.43), “... lo que interesa verdaderamente es la entrega, quiero decir, a una tarea personal y concreta que se hace clara en el transcurso del respectivo análisis existencial”. Como vemos, la Logoterapia no está centrada en el síntoma. Busca, sí, llevar a la persona a un cambio de actitud, a un nuevo posicionamiento ante la vida. Ella orienta a la persona a enfrentarse, enfrentando su miedo, disminuyendo su ansiedad y cultivando una buena dosis de sentido de humor. Sus principios pueden ser muy bien considerados en un proyecto de vida en la medida en que las personas necesitan desarrollarse y agregar valor en el medio en que están insertas. Aproximaciones entre voluntad de sentido y proyecto de vida Si concordamos con Frankl, tenemos solamente una alternativa: salir de nuestra cápsula. O sea, la felicidad auténtica está en el movimiento en dirección al otro, como ya afirmaba Kierkegaard, diciendo que la puerta de la felicidad la puerta de la felicidad se abre hacia dentro, hay que retirarse un poco para abrirla: si uno la empuja, la cierra cada vez más. Por lo tanto, la decisión en llevar una vida simplemente buena o significativa depende exclusivamente de la persona, de su posicionamiento, se su opción. En esta lógica, todos somos libres para amar o incluso para no aprovechar esta potencialidad.
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A los que prefieren abrir la mano del cuidado de sí, les resta el sentimiento de vacío interior. Y, llamo la atención, este no es un privilegio de los jóvenes en periodo de “crisis”, de países socialistas o capitalistas. Éste se hace sentir también entre países en desarrollo y en personas de cualquier naturaleza en vista que no se trata sólo de una cuestión social, sino espiritual en la medida en que el ser humano necesita dar cuenta de la problemática auténtica de su existencia,. El hecho de dar cuenta compete solamente a él en cuanto posicionamiento, especialmente ante el amor, el trabajo, el otro y los acontecimientos. En una época que no para de sembrar frustración existencial, con muchas personas desesperanzadas de sentido de sus vidas, es necesario recuperar la razón concreta y personal de la existencia. Una hermosa tarea de hacer esto es formularse constantemente la pregunta: ¿qué es lo que la vida, las personas, la institución y la sociedad pueden esperar de mí? La respuesta afirmativa nos lleva a obrar a nivel de la libertad y de la responsabilidad. ¿Cómo relacionar la lectura del libro con nuestros Proyectos de Vida? Creo que las grandes directrices y estrategias que hacen parte de nuestros proyectos de vida están contenidas en este libro. Él nos señala criterios y caminos para dar respuestas significativas a las situaciones concretas que la vida nos presenta. En esta época que goza de libertad nos es requerida la pregunta por la responsabilidad con los otros. Todos somos responsables de dar cuenta de un sentido más amplio o que en otras palabras podemos llamar fe. Entonces, es necesario saber enfrente “de qué” estamos llamados a “ser responsables”. O sea, es enfrente de un proyecto de vida, enfrente de la sociedad, enfrente de la institución, enfrente una persona, enfrente de la conciencia que cabe la decisión personal para responder bien aquello a que fuimos llamados. ¡La calidad de la respuesta se hace un gran acto de fe! Que podamos hacer un buen uso de nuestra responsabilidad, “respondiendo bien” a las situaciones allí en donde la vida nos pide una respuesta personal e intransferible.
Referencias: FRANKL, Viktor E. O Sofrimento de uma vida sem sentido – caminhos para encontrar a razão de viver. Tradução Karleno Bocarro. 1ª Ed. – São Paulo: É Realizações, 2015.
Ano da Misericórdia: Algumas Provocações Irmão Clóvis Trezzi Vice-Diretor da Escola Fundamental La Salle Sapucaia, de Sapucaia do Sul/RS
I
niciado em novembro de 2014, vivemos o Ano da Vida Consagrada, cujo tema foi “Vida Consagrada na Igreja hoje: Evangelho, Profecia e Esperança”. Ao mesmo tempo, de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016 vivemos o Ano Santo da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco por meio da Bula Misericordiae Vultus. São duas ocasiões excepcionais para uma reflexão sobre a nossa vida e missão, e também para tomarmos consciência sobre como esses dois temas interferem em nossa vida. Talvez uma primeira pergunta que todos devamos fazer seja a seguinte: o que é misericórdia? A seguir, podemos perguntar: que lugar ela ocupa na minha vida? E, em terceiro lugar, como eu a pratico? Essas perguntas são um bom ponto de partida para qualquer reflexão a respeito de como, na nossa vida, damos espaço a essa virtude tão evangélica. Parece que sofremos no mundo uma crise generalizada de falta de misericórdia. Embora pareça ser este um fenômeno atual ou pós-moderno, não é. Basta olharmos para a história recente e percebermos a insensibilidade do mundo frente aos horrores do nazismo. Atualmente, o problema se repete frente aos refugiados da guerra na Síria e que são rechaçados por boa parte dos países nos quais buscam refúgio e, mesmo nos países em que são politicamente bem recebidos, são maltratados. Como nos posicionamos frente a essa situação específica? E frente aos milhões de refugiados pelo mundo em todos os países? E diante do sofrimento de muitos filhos da nossa terra que são condenados, sem culpa, a morrer de fome? Como nos portamos diante das necessidades daqueles que convivem conosco? Atitude de misericórdia A palavra misericórdia, que remonta a miseratio cordis, ou coração compadecido, estará presente nas reflexões da Igreja durante todo o ano de 2016. Presente como mensagem e como atitude de Jesus em todo o Evangelho, ela significa mais do que, muitas vezes, o senso comum nos diz. Ter misericórdia é mais do que ter compaixão ou sentir pena. Ser misericordioso é nada menos que uma das caraterísticas de Deus, e é o que a Ele imploramos toda vez que pedimos perdão. A misericórdia enquanto tal é uma virtude. É necessário esforço para mantê-la como atitude de vida. Não são simplesmente “obras de misericórdia”, como se dizia em tempos idos ao falar-se de dar esmolas ou ajudar algum necessitado.
Atos isolados podem ter qualquer outra motivação como, por exemplo, um súbito sentimento de compaixão diante do sofrimento alheio. Este sentimento súbito pode ser apenas um arroubo e não me faz mais ou menos misericordioso. Enquanto virtude, ela é uma atitude constante, de acordo com a própria etimologia da palavra. O Papa Francisco fala nas “obras de misericórdia corporal e espiritual” para referir-se a isso: não apenas um momento solidário, mas uma atitude de acolhida para com aqueles que dela necessitam. No Evangelho, Jesus é extremamente misericordioso. A misericórdia de Deus está presente em toda a Bíblia, mesmo quando, ainda nos princípios, ele seja apresentado como um Deus castigador, e isso aparece de maneira muito clara no célebre diálogo com Abraão, relatado em Gn 18. Da mesma forma, Jesus demonstra misericórdia com todos que se aproximam dele, não importando a crença dessa pessoa. Caso emblemático é o da mulher cananeia (Mc 7), à qual Jesus relutou em ajudar, fato que serviu como uma espécie de “conversão” dele, que passou a ver de maneira diferente a própria missão. Misericórdia com quem está longe Nas nossas comunidades, costumamos ter presentes, especialmente nas orações, aquelas pessoas que sofrem em diferentes partes do mundo. Recordamos as vítimas dos desastres naturais, das guerras, das violências urbanas, da política desumana. E parece que, na atualidade, há muitas pessoas por quem rezar. A violência cada vez maior, a iminência de uma nova guerra mundial, refugiados... O Papa Francisco nos convida a sermos misericordiosos com aqueles que vivem “nas mais variadas periferias existenciais”. Quais são essas periferias? Recordemos que elas, muitas vezes, não estão distantes de nós. Há a realidade de países que nos afetam por meio dos noticiários na TV. O caso recente dos refugiados da Síria, que fogem de uma guerra sangrenta e inútil, é talvez o mais forte nos últimos tempos, mas não o único e tampouco o principal. Esse problema, aliás, remonta aos tempos bíblicos. Bem próximo de nós, temos as periferias físicas, das cidades. Estas estão cada vez maiores e nem sempre as vemos, pois são empurradas sempre mais para longe, para fora de nosso campo de visão. Frutos de políticas públicas que priorizam o enriquecimento dos mais ricos e o empobrecimento dos mais pobres, as favelas crescem, cada vez mais longe dos centros, ameaçando a tranquilidade dos habitantes da cidade. Os moradores das favelas são notícia quando vítimas ou protagonistas de alguma desgraça.
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Existem várias realidades que poderíamos situar nesse contexto de periferias: os dramas e misérias humanos vividos por grande parte da população de nossos dias; as situações de calamidade das pessoas vítimas de tráfico humano; o problema dos migrantes, que deixam sua terra para buscar um mundo melhor (temos o caso no Brasil de haitianos e senegaleses, para citar dois exemplos), e que não conseguem retornar; temos as vítimas da ganância dos que provocam crises políticas e econômicas; as vítimas da violência urbana... a lista seria enorme. Diante desse contexto, como nos posicionamos? Somos capazes de refletir ou nos rendemos ao discurso de ódio que é manifestado nas redes sociais e programas de televisão? Acolhemos as vítimas da sociedade ou as vitimamos ainda mais? Rezamos para que apareça alguém que faça algo por elas ou saímos da nossa zona de conforto e as acolhemos? Misericórdia com quem está perto e depende de nós Outra situação de periferia com a qual nos defrontamos muitas vezes está debaixo de nossos olhos e nem sempre notamos. A invisibilidade social torna-se cada vez maior num mundo em que o que impera é o poder econômico. Tentativas de mudar a situação em que vivem os pobres são imediatamente sufocadas por políticos inescrupulosos, para quem enriquecer às custas da miséria alheia é imperativo. Diante desse quadro, temos as vítimas da injustiça social, que nos rodeiam: moradores de rua nos centros urbanos; vítimas de catástrofes como as enchentes e secas (que deixaram de ser catástrofes naturais depois que os rios passaram a sofrer intervenção humana no seu curso); e o que está mais ligado à nossa vida e missão: o drama da falta de políticas públicas voltadas à educação e que afetam diretamente a população com a qual lidamos, de maneira mais acentuada nas escolas que atendem famílias em situação de vulnerabilidade social. Enquanto religiosos educadores, é fundamental que abramos os olhos a essa realidade da falta de educação. Enquanto nos dados exibidos pelos governos o número de crianças dentro das escolas só aumenta, sabemos que boa parte desses alunos concluem o Ensino Médio como semianalfabetos. Essa realidade afeta diretamente a situação familiar das pessoas com as quais trabalhamos. Aqui, podemos questionar-nos: temos os olhos abertos para os dramas vividos pelas famílias de nossos alunos ou deixamos que vivam com seus próprios problemas? Estamos atentos, como fez La Salle, ao problema educacional que nos rodeia e nos dedicamos ao seu combate? Visualizamos, na nossa missão educativa, o atendimento aos que mais dela necessitam? Misericórdia com quem vive ao nosso lado Viver a misericórdia com quem está ao nosso lado é, talvez, o mais difícil. Quanto mais distante o problema, mais fácil é demonstrar um sentimento de compaixão, de solidariedade e de
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A misericórdia exige passos significativos: deixar de lado velhos conceitos, sair das zonas de conforto. Foto: AFP
misericórdia. Quanto mais próximo, mais esse sentimento exige de nós um esforço pessoal em direção do outro. Francisco, na Bula Misericordiae Vultus, afirma que “o perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir”. Perdoar é um imperativo evangélico para os cristãos. A dinâmica da vida comunitária é muito ativa. Ela exige aquilo que Paulo escreve em Col 3,13: “Suportai-vos uns aos outros”. Suportar, mais do que “aguentar”, que o que o significado ditado pelo senso comum diz “dar suporte”. E a dinâmica da vida comunitária exige justamente isso. Mais do que morar na mesma casa, mais do que fazer parte de um projeto comum, é fundamental o apoio mútuo. Na vida comunitária, a atitude de misericórdia deve estar sempre presente. Não se trata de ignorar as falhas dos coirmãos, mas de, misericordiosamente, os ajudar a enxergá-las para que possam crescer. Ao mesmo tempo, é estar aberto para deixar-se ajudar. Querer crescer enquanto pessoa é, também, uma atitude de misericórdia conosco mesmos e com os coirmãos, pois eles também merecem viver com uma pessoa que torna a vida mais leve. Quando eu estou disposto a fazer com que os outros mudem, mas não estou disposto a mudar, não estou sendo caritativo nem misericordioso. Tornar-me uma pessoa melhor e mais aberta é uma atitude de amor aos que convivem comigo. Em qualquer dos casos, a misericórdia exige passos significativos: deixar de lado velhos conceitos, sair das zonas de conforto, buscar a alteridade, estar atento a algo mais que as próprias necessidades. Tudo isso pode parecer difícil, e efetivamente é, mas é isso que o Evangelho nos pede e que está sendo reforçado pelo Papa Francisco neste Ano da Misericórdia.
3º Painel da Comissão de
Formação e Vida Consagrada
C
om o intuito de avançar no tema sobre a Partilha do Carisma e pensar em formas e em modalidades mais adequadas para a Província La Salle Brasil-Chile, Irmãos e colaboradores leigos reuniram-se na 3ª edição do Painel da Comissão de Formação e Vida Consagrada. O encontro ocorreu no Colégio La Salle São João, em Porto Alegre/RS, para analisar e discutir a primeira versão do documento da “Proposta de Partilha do Carisma Lassalista”. O 3º Painel foi organizado da seguinte forma: breve regaste dos dois painéis já realizados (A Província como Agente Formador de Irmãos e Leigos - 1º painel - e A Mística de Ser Lassalista - 2º painel); momento de espiritualidade; apresentação da 1ª versão do documento da proposta de partilha de carisma; memória histórica de La Salle como Padroeiro dos Professores; discussão da proposta em grupo e apresentação de sugestões em plenária. O Provincial, Ir. Edgar Nicodem, apresentou a proposta de partilha de carisma a partir das considerações do 45º Capítulo Geral, do 1º Capítulo Provincial, de documentos da Igreja e das
próprias experiências realizadas nas Comunidades Educativas Lassalistas. Ressaltou, ainda, que a partilha não é apenas um tema teórico; na prática, participa-se por meio de diversos níveis. Dentre os 42 participantes do Painel, o Ir. Pedro Ruedell foi presença inspiradora para todos no encontro. Realizou memória histórica de La Salle como Patrono do Magistério Público do Rio Grande do Sul (1958) e participou ativamente com ideias e sugestões no grupo de discussão. As propostas deste 3º painel são enriquecidas pelas contribuições de outras instâncias da Província: Conselho da Missão Educativa Lassalista, Conselho Provincial, Comunidades Religiosas e Educativas, e outros grupos de formação. A temática do encontro fechou o ciclo dos painéis de 2015, coordenados pela Comissão de Formação de Vida Consagrada, a qual agradece a participação de todos os envolvidos que, com suas sugestões, adicionaram elementos enriquecedores aos debates.
Painéis de 2015 foram coordenados pela Comissão de Formação e Vida Consagrada
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Uma jornada valorosa
E
m outubro, aconteceu a edição 2015 do Encontro de Irmãos acima de 70 anos, uma ocasião especial para celebrar a caminhada dos que perseveram na Província La Salle BrasilChile. Foram 25 participantes desse itinerário, que contemplou as cidades de São Paulo/SP, Aparecida/SP, Rio de Janeiro/RJ e Niterói/RJ.
O encontro foi idealizado pela Direção Provincial no início do ano. Orientada pela Equipe de Coordenação (Irmãos Ignácio Weschenfelder, Lauro Bohnenberger e Marcelo Salami), a viagem começou em 18 de outubro, e a abertura contou com uma mensagem do Ir. Provincial dirigida aos participantes. No dia seguinte ocorreu a visita ao Colégio La Salle São Paulo. Houve oração com a Comunidade Educativa (grupo da 3º idade do Colégio), café da manhã, apresentação de coral e visita a algumas salas de aula. Os Irmãos também fizeram um passeio pelo centro da capital paulista e foram a uma exposição de arte. A próxima parada foi na cidade de Aparecida, terra da Rainha e Mãe do Brasil. Os viajantes estiveram no Santuário de Nossa Sra. Aparecida, Padroeira do País, para momentos de reflexão, oração e integração. De lá, o grupo rumou à Cidade Maravilhosa. No Rio de Janeiro, visitou pontos turísticos e cartões-postais, como o Cristo Redentor, a Catedral Metropolitana e o Forte de Copacabana. Em Niterói, os participantes concluíram a viagem, no dia 23, visitando o Colégio La Salle Abel e o Unilasalle Rio de Janeiro, onde confraternizaram com Irmãos da Comunidade, com alunos e com colaboradores.
“Realmente vivenciamos aquilo que o passeio nos propôs: vivência comunitária, missas, fraternidade. Gostei muito do encontro e de ter conhecido lugares novos, como os fortes da Baía de Guanabara”, disse o Ir. Hilário Arraldi. “O Encontro dos Irmãos acima de 70 anos ensejou a todos os seus integrantes um tempo intenso de contemplação. Primeiro de nossa própria vida, com nostálgicas recordações de um passado construtivo e consolador que vivemos juntos e por associação. Segundo, deslumbramentos sucessivos que desfilaram por São Paulo, Aparecida, Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Catedral do Rio, Caminho Niemeyer de Niterói-RJ, Parque da Cidade, Fortaleza Santa Cruz, Museu de Arte Contemporânea (MAC) e ainda com maior significado, a convivência com as comunidades religiosa e educativas das obras lassalistas de Niterói, Rio de Janeiro. Vale a pena chegar aos 70 anos de vida e ser agraciado pela Província com um brinde de semelhante encontro”, disse Ir. Ignácio Weschenfelder. “Desejamos, verdadeiramente, um encontro para celebrar a vida de Irmão no Ano da Vida Consagrada”, mencionou o Provincial, Ir. Edgar Nicodem, que também ressaltou a Meditação 22 de São João Batista de La Salle como motivação: “Preparai-vos, hoje, para receber a Cristo em toda a plenitude, entregando-vos sem reserva ao vosso governo. E deixando que Ele reine sobre os vossos impulsos interiores de modo tão absoluto de sua parte e com tal dependência da vossa, que possais afirmar que efetivamente já não sois vós que viveis, mas que é Jesus Cristo que vive em vós” (M. 22,2,2).
Parada no Forte de Copacabana, no Rio
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Encontros dos Irmãos por Regiões
E
m 29 de novembro iniciaram os Encontros dos Irmãos por Regiões da Província La Salle Brasil-Chile. O tema escolhido foi o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco e aberto no dia 8 de dezembro. Normalmente, ao redor da Solenidade da Imaculada Conceição é realizado esse segundo evento do ano, do qual também participam os Noviços. Além de estabelecer sintonia com a Igreja, o tema central é uma excelente oportunidade para aprofundar o sentido e a vivência da vida fraterna em comunidade. Os Irmãos se reuniram em São Miguel do Oeste/SC, no dia 29. E no dia 6 de dezembro, houve os encontros em Brasília/DF, São Paulo/SP e Porto Alegre/RS. Os Irmãos das Comunidades do Chile, do Amazonas, do Mato Grosso, do Maranhão e de Moçambique fizeram organização própria, com a mesma intenção. “A misericórdia, segundo a Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário, é fonte de alegria, serenidade e paz. Que o Encontro de Irmãos por Regiões fortaleça entre nós o espírito do Jubileu Extraordinário da Misericórdia”, afirmou a Direção Provincial, em documento. Confira a seguir alguns registros!
Encontro em Porto Alegre/RS
Encontro em São Miguel do Oeste/SC
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Projeto Escola Lassalista
O
s resultados do Projeto Escola Lassalista foram apresentados na tarde do dia 9 de novembro de 2015 por Postulantes da Província na Casa Sede, em Porto Alegre/RS. A iniciativa foi idealizada pela Direção de Formação e pelos Formadores da Etapa do Postulado. As atividades foram coordenadas e acompanhadas pelos Formadores. O projeto oportunizou que os integrantes dos Postulados I, II e III planejassem uma escola La Salle levando em conta documentos da Província e do Instituto, com o desafio de pensarem na proposta pedagógica e na gestão. O Postulado I idealizou o Colégio La Salle Tamoio, tendo como referência a Proposta Pedagógica da Província. O Postulado II imaginou como seria o funcionamento da Escola Assistencial La Salle Guadalupe, inspirando-se no Projeto Educativo Regional Lassalista Latino-Americano. Já o Postulado III idealizou o Colégio La Salle Ir. Arthur, com base no Caderno MEL do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs. Coloridas e criativas maquetes concretizaram o que os grupos vislumbraram, após meses de estudo e preparação. Era preciso pensar nos espaços considerando uma edificação sustentável financeira e ecologicamente. A Direção Provincial e representantes de Comunidades Educativas prestigiaram os resultados desse verdadeiro laboratório!
Confira alguns depoimentos! “A atividade desenvolvida marcou um percurso de dedicação, de comprometimento e de compreensão de elementos pedagógicos e administrativos que compõem a missão lassalista. O estudo dos documentos e a aplicação em um protótipo de escola contribuiu na edificação de uma experiência significativa e conectada com a vida vocacional. Os objetivos foram atingidos, e os resultados apontam para novos horizontes formativos!” – Jorge Bieluczyk – Formador – Comunidade La Salle Postulado – Esteio/RS
“Foi uma oportunidade interessante de conhecer a fundo como funciona uma escola e o que a mantém de pé.” – Taylon de Amorim – Postulante do 3º ano
“O projeto teve o intuito de associar as teorias estudadas pelos Postulantes à prática de gerenciamento de uma instituição escolar. Transformar um documento em prática foi altamente enriquecedor para eles. Com atividades desse nível, espera-se que os Formandos Lassalistas tenham maior proximidade com o mundo da educação. Resta, agora, lançar novos desafios.” – Ir. Clóvis Trezzi – Formador – Comunidade La Salle Postulado – Sapucaia do Sul/RS
“Esse trabalho foi resultado de muita pesquisa e dedicação. Além de um maior conhecimento em relação às práticas pedagógicas e à gestão de uma escola, o projeto nos proporcionou momentos comunitários significativos.” – Feiruque de Jesus dos Santos – Postulante do 1º ano
“A apresentação de nosso trabalho me fez perceber o quanto sou capaz de superar meus limites e refletir sobre a minha contribuição na missão lassalista.” – Diego Ferreira dos Santos Souza – Postulante do 2º ano
“Vejo que todo o processo de construção da maquete, a leitura e a partilha de um documento, além do contato com elementos pedagógicos e administrativos constitutivos de uma Escola Lassalista, auxiliam muito em uma visão mais ampla e realista do que é a nossa missão e identidade no mundo de hoje.” – Gabriel Pôrto César – Postulante do 3º ano
“Creio que estamos dando passos significativos na Formação Inicial em termos de propostas pedagógicas inovadoras. O Projeto Escola insere-se na proposta do uso de metodologias ativas que favorecem, dentre outros aspectos, a gestão participativa, o estímulo à criatividade e ao protagonismo dos Formandos, a reorganização da relação entre teoria e prática, a ruptura com a forma tradicional do processo formativo.” – Ir. Marcelo Cesar Postulantes elaboraram projetos pensando em um viés sustentável
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Salami – Diretor de Formação
Cronograma de Atividades A Revista Fraternitas divulga alguns dos próximos eventos da Província La Salle Brasil-Chile, momentos para fortalecer o sentimento de pertença a partir da convivência, reflexão, partilha e oração. Confira!
26 de dezembro de 2015 a 2 de janeiro de 2016 – I Retiro Provincial. Local: Casa Nazaré – Beira – Moçambique. Responsável: Direção de Formação.
2 a 8 de janeiro de 2016 – II Retiro Provincial. Local: Casa São Carlos Eventos e Hospedagem – São Paulo/SP. Responsável: Direção de Formação.
3 a 9 de janeiro de 2016 – III Retiro Provincial. Local: Casa dos Jesuítas – Belém/PA. Responsável: Direção de Formação.
8 a 10 de janeiro – Encontro Provincial de Jovens Irmãos. Local: Centro de Pastoral – Canoas/RS. Responsável: Direção de Formação.
10 a 16 de janeiro de 2016 – IV Retiro Provincial. Local: CECREI – São Leopoldo/RS. Responsáveis: Irmãos Jacques D’Huiteau e Marcelo Cesar Salami.
17 a 23 de janeiro de 2016 – V Retiro Provincial. Local: Constitución – Chile. Responsável: Irmão Carlos Jamade
17 de janeiro de 2016 – Dia da Província. Local: Canoas/RS. Responsável: Direção Provincial.
18 de janeiro de 2016 – Reunião do Conselho Provincial. Local: Casa Sede – Porto Alegre/RS. Responsável: Direção Provincial.
18 a 20 de janeiro de 2016 – Reunião da Equipe de Formadores e Animadores Vocacionais. Local: Morro do Coco – Viamão/RS. Responsável: Direção Provincial.
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Plano de Ação Regional e o Ano da Misericórdia
Irmão Paulo Petry Conselheiro Geral para a Região Latino-Americana Lassalista (RELAL)
Q
ue o nosso amor brote da Fonte do amor original! “Como lassalistas, somos embaixadores e ministros de Cristo sempre em busca daquilo que é bom e benéfico para alcançar o desenvolvimento integral e o bem comum” (Circ. 470, p.6).
Em espírito de comunhão e com alegria, unimos nossa voz latinoamericana lassalista à do Sumo Pontífice, para louvar o Senhor, agradecer sua misericórdia e compaixão e apresentar os clamores das pessoas que vivem na América Latina (AL) e no Caribe. Ao mesmo tempo, atrevemo-nos pedir que siga derramando suas bênçãos sobre o continente da esperança, suas graças sobre o povo que sofre, luta, ora e celebra a vida. O Papa Francisco nos convida ao jubileu extraordinário da misericórdia, e, seguramente, estaremos todos atentos e abertos para reconhecer a ação misericordiosa de Deus em nossa vida pessoal, em nossa missão, em nossa vida comunitária, assim como na vida dos alunos que atendemos, na dos lassalistas que conosco assumem a missão de educar e evangelizar. Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade; é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro; é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida; é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado (Francisco, Bispo de Roma: “Misericordiae Vultus”). Em 13 de maio de 2015, a XI Conferência Regional de Provinciais, celebrada em Santo Domingo, aprovou nosso Plano de Ação Regional (PAR) da RELAL, para o triênio 2015-2018. Portanto, este “nasce” antes de o Santo Padre proclamar 2016 como o Ano Santo da Misericórdia. Assim, neste artigo, sem forçar o texto de nosso PAR a dizer o que não disse, pretendo verificar algum ponto de intersecção entre este e o convite que o Papa Francisco faz para celebrar o Ano da Misericórdia. Apresento a seguir o processo de elaboração do PAR.
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O PAR foi construído de forma participativa a partir das prioridades elaboradas pela 2ª Assembleia Regional da MEL, o 3º Encontro Regional de Irmãos e o 1o Encontro Regional de Leigos. A Comunidade de Animação Regional e o Conselho MEL elaboraram os objetivos, indicadores, metas, programas, projetos e ações, diretamente relacionados com as prioridades estipuladas nos três encontros acima mencionados, para dar vida às Propostas do 45º Capítulo Geral (CG). Também se tomou em conta as iniciativas e os eventos previstos pelo centro do Instituto para os próximos anos, como é o caso das sessões formativas por meio do CIL e SIEL. O PAR foi aprovado pela Conferência Regional de Provinciais, durante a reunião realizada em maio de 2015, em Santo Domingo. O Plano está dividido em duas grandes áreas: a de Missão e a de Irmãos com seus respectivos programas, projetos e ações. Para o seu adequado seguimento e avaliação se incluiu um terceiro capítulo que especifica as formas de acompanhar o desenvolvimento do PAR. Finalmente, propomos o cronograma de atividades que integra as ações em uma linha de tempo sequencial. Agora, todos os lassalistas são convidados a transformar letra em ação, isto é, somos convidados a assumir o PAR, participar ativamente na implementação dos programas, projetos e ações, e, portanto, precisamos conhecer o Plano de Ação Regional. Este teve um reduzido número de exemplares impresso em papel, mas encontra-se publicado no site da RELAL, e todos podem acessá-lo ou baixá-lo: http://www.relal.org.co/relal/plan-deaccion-regional-2015-2018.html. O PAR será uma experiência transformadora e geradora de vida para a Região na medida em que seja conhecido e assumido pelas diversas instâncias de todas as Províncias. Vivemos hoje no continente latino-americano e caribenho uma história rica, cheia de luzes e sombras, fraquezas e oportunidades que diariamente desafiam nossa missão lassalista. O Senhor nos chama, como no tempo do Santo Fundador e dos primeiros Irmãos. Escutemos a Deus onde a vida clama. Onde Deus clama na vida, por um mundo mais humano, sejamos presença misericordiosa, que consola e acompanha. Ao estilo de Maria, mulher forte e arriscada, caminhemos em meio ao povo e anunciemos a Boa Nova. Sejamos sinais de vida, de esperança e comunhão, de fé e de solidariedade palpável para as crianças, jovens e adultos que Ele mesmo nos confia. Dessa forma, assumiremos o convite de Francisco, Bispo de Roma, de viver e praticar a misericórdia, não
apenas no ano jubilar, mas também no triênio 2015-2018 que apresentamos em nosso PAR. Acredito que todos, ou a maioria de nós, já tivemos a graça de experimentar a misericórdia de Deus. Assim, reconheço que a presença misericordiosa de Deus se revela, também, nas pessoas que contribuíram para construir o Plano de Ação Regional. Basicamente, nossa esperança e invocação, ao elaborar e assumir o PAR, é que a realidade latino-americana e caribenha seja objeto da Misericórdia divina, por meio da ação dos lassalistas que vivem neste continente. Assim, com o Irmão Martín Digílio, Provincial de Argentina-Paraguai, “encomendamos a vida lassalista da RELAL à proteção de Maria, a mãe de Jesus misericordioso, para que seja a misericórdia quem nos guie e conduza nosso agir, nos assista em nosso caminhar e sustenha o nosso ser. Que a Virgem nos bendiga junto com seu misericordioso Filho Jesus”. No anúncio pontifício do Ano Jubilar, o Papa Francisco convoca os fiéis a aceitar e a oferecer gestos de misericórdia. Nos fala da Misericórdia divina, das indulgências jubilares e das ações, atitudes e procedimentos para alcançar a indulgência jubilar. Entre esses está a participação no Sacramento da Reconciliação. Tanto o Instituto quanto a Região se preocupam com a formação das crianças e dos jovens para que participem da catequese, da vida pastoral, sacramental e eclesial, e sejam destinatários e autores do anúncio da Boa Nova. O 45º CG, no capítulo 3, ao tratar do tema da Evangelização e catequese: • Fala da importância de impulsionar uma vida de fé entre os jovens; • Reconhece como um clamor urgente a apresentação do Evangelho em um mundo marcado pela violência e a intolerância e uma Igreja atribulada; • Insiste em comunicar Jesus Cristo como nosso libertador e libertador do mundo; • Insiste na preparação e formação dos Irmãos como catequistas. Já o PAR traduz os apelos do 45º CG em ações a serem assumidas e desenvolvidas pelos lassalistas da RELAL. E isto o faz quando: • Constitui uma equipe de reflexão e acompanhamento; • Implementa uma rede para refletir e acompanhar os processos de catequese, evangelização e pastoral; • Analisa os desafios educativos dos mais necessitados e das situações de fronteira na América Latina e no Caribe; • Realiza um evento em nível regional sobre catequese, evangelização e pastoral (7-11/5/2018); • Socializa a reflexão e o acompanhamento dos processos de catequese, evangelização e pastoral como meios para articular a pastoral como eixo transversal nos projetos educativos de cada obra.
O Senhor nos chama, como no tempo do Santo Fundador e dos primeiros Irmãos
Portanto, de alguma forma somaremos forças com a proposta do Ano Jubilar, ao renovar e fortalecer em nossas obras, comunidades, Províncias e Região os processos formativos, a pastoral e a catequese. Somaremos forças com a proposta pontifícia, se voluntária, consciente e profissionalmente ajudarmos os jovens e as crianças a conhecer a Boa Nova do Evangelho, e aproximálos da vida sacramental. No Ano Santo da Misericórdia, o Papa nos convida, de modo particular, a aproximar-nos com fé e humildade do sacramento da reconciliação. Em atitude filial receber as indulgências jubilares, sentindo-nos objetos do amor e misericórdia divinas. Como educadores e catequistas, não temos o direito de reservar esse privilégio tão somente para nós. Em nossa missão educativa, evangelizadora e catequética, convidemos as crianças e os jovens a nós confiados, para que também eles reconheçam o valor, o sabor, a graça, o dom precioso da misericórdia divina. Isso implica que junto com a proclamação da Mensagem de Jesus Cristo aos nossos estudantes, também os preparemos para receber os sacramentos e, neste Ano da Misericórdia, que se preparem bem e participem do sacramento da reconciliação.
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Abrindo o coração ao Senhor que nos presenteou com a vida, respondemos ao seu chamado, dizendo-lhe que o nosso interior é espaço em que queremos que se manifeste seu amor, sua ternura e misericórdia, tão prodigamente revelados na encarnação do Filho, e que desejamos, também nós, experimentar com nossos irmãos e com a natureza, para revelá-los aos filhos/as de Deus. Assim, por meio dos programas e ações assumidas em nosso PAR, e comungando com o ano jubilar da Igreja, pretendemos voltar nosso olhar para o Autor da Vida, contemplar sua bondade e misericórdia, sua criatividade e entrega, e pedir-lhe que habite nosso interior. Humildemente peçamos que seja Ele o amor que ama em nós, para tornar-nos sempre mais compassivos e misericordiosos, acolhendo o próximo com ternura, tomando o firme propósito de aceitar que a santa vontade de Deus se cumpra em nosso existir. Sendo Deus o amante em nós, seremos entranhavelmente misericordiosos e buscaremos sentir e oferecer o abraço de Deus. Estaremos atentos à ação divina em nosso dia a dia e proclamaremos a bondade, a misericórdia e a alegria da presença constante do Deus da Vida em nossa história. Maria, levando dentro de si o Verbo de Deus, carregando em seu ventre toda bondade e misericórdia, é a figura por excelência do Deus amante em nós, é a imagem perfeita do Deus que abraça a humanidade com ternura, alegria e misericórdia. Por isso, Maria, exultando, cantava profeticamente, em nome da Igreja: “A minha alma glorifica o Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador. Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre” (Lc 1,46-47). Com estas palavras de tanta importância, o Evangelho mostra que o Deus que falou aos pais, isto é, aquele que deu a Lei por meio de Moisés e pela qual sabemos que falou aos pais, é o mesmo Deus que, na sua imensa bondade, derramou sobre nós a sua misericórdia. Por causa dessa misericórdia, “visitou-nos o Astro das alturas e apareceu aos que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigiu nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,78-79). Sendo Deus o amante em nós, seremos provocados a discernir sua santa vontade que se manifesta constantemente. Seremos capazes de escolher e renunciar... ao abraçar o seguimento de Jesus. Sendo Deus o amante em nós, seremos capazes de servir a Deus e amar o próximo. Serviremos a Deus, doando nossa vida em favor do irmão, comungando seus sofrimentos e alegrias, suas dores e conquistas para juntos louvar o Senhor. “Se Deus solicita o serviço dos homens é porque, sendo bom e misericordioso, quer beneficiar os que perseveram em seu serviço. Tanto Deus não precisa de nada quanto o homem precisa da comunhão com Deus. É esta, pois, a glória do homem: perseverar e permanecer no serviço de Deus. Por esse motivo dizia o Senhor a seus discípulos: ‘Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu quem vos escolhi’ (Jo 15,16), mostrando que não eram eles que O glorificavam seguindo-o, mas, por terem seguido o Filho de Deus, eram glorificados por Ele” (Irineu de Lião, Contra as Heresias).
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Onde Deus clama a vida, sejamos presença misericordiosa, que consola e acompanha
Sendo Deus o amante em nós, faremos o propósito de servir... como o Mestre que não veio para ser servido (cf. Mc 10,45). Sendo Deus o amante em nós, vamos nos dispor a dar fruto para que todos tenham a vida, e vida em abundância. Sendo Deus o amante em nós, vamos buscar e encontrar. Estaremos atentos às palavras de Jesus: “Venham e vocês verão”! (Jo 1,39), e que o salmista já proclamava “Venham e vejam o que Deus tem feito; como são impressionantes as suas obras em favor dos homens!” (Sl 66,5). Sendo Deus o amante em nós, aprenderemos a escutálo quando Ele nos convida a perdoar... setenta vezes sete. Sempre (cf. Mt 18,21-35). Dentro desta perspectiva, pedindo que Ele seja o amante em nós, que Ele nos ensine a amar, servir e perdoar, deixando que o Espírito Santo nos ilumine, somos convidados a ser misericordiosos para com nossos Irmãos de comunidade, misericordiosos em nossas comunidades educativas, em nossa vida e missão lassalista na Província, na RELAL e no Instituto. Somos, também, convidados a conhecer o Plano de Ação Regional da RELAL, que busca traduzir para a América Latina e para o Caribe as propostas do 45º CG, e adentrar o ano jubilar, deixando que o Deus Misericordioso siga sendo o amante em nós, cultivando em nosso interior a bondade, a alegria e a misericórdia. Que aprendamos do autor de toda bondade e misericórdia a ser bons e misericordiosos, já que “a misericórdia divina consiste em que Deus dá a cada coisa mais do que exige a sua natureza e também em que dá aos justos mais do que lhes é devido, e castiga os pecadores com pena inferior à que merecem as suas culpas” (cf. Suma Teológica, XXI, 4). Que o nosso amor brote da fonte do amor original, e a nossa acolhida se inspire na misericórdia divina.
Plan de Acción Regional y el Año de la Misericordia Hermano Paulo Petry Consejero General para la Región Latinoamericana Lasallista (RELAL)
¡Que nuestro amor brote de la Fuente del amor original! “Como lasallistas, somos embajadores y ministros de Cristo siempre en búsqueda de aquello que es bueno y beneficioso para alcanzar el desarrollo integral y el bien común” (Circ 470, p.6). En espíritu de comunión y con alegría, unimos nuestra voz latinoamericana lasallista al Sumo Pontífice, para alabar al Señor, agradecer su misericordia y compasión y presentar los clamores de las personas que viven en América Latina (AL) y el Caribe. Al, mismo tiempo, nos atrevemos pedir que siga derramando sus bendiciones sobre el continente de la esperanza, sus gracias sobre el pueblo que sufre, lucha, ora y celebra la vida. El Papa Francisco nos invita al Jubileo Extraordinario de la Misericordia, y seguro que estaremos atentos y abiertos para reconocer la acción misericordiosa de Dios en nuestra vida personal, en nuestra misión, en nuestra vida comunitaria, así como en la vida de los alumnos que atendemos, en la de los lasallistas que con nosotros asumen la misión de educar y evangelizar. Siempre tenemos necesidad de contemplar el misterio de la misericordia. Es fuente de alegría, de serenidad y de paz. Es condición para nuestra salvación. Misericordia: es la palabra que revela el misterio de la Santísima Trinidad. Misericordia: es el acto último y supremo con el cual Dios viene a nuestro encuentro. Misericordia: es la ley fundamental que habita en el corazón de cada persona cuando mira con ojos sinceros al hermano que encuentra en el camino de la vida. Misericordia: es la vía que une Dios y el hombre, porque abre el corazón a la esperanza de ser amados para siempre no obstante el límite de nuestro pecado. (Francisco, Obispo de Roma: “Misericodiae Vultus”). El 13 de mayo de 2015, la XI Conferencia Regional de Visitadores, celebrada en Santo Domingo, aprobó nuestro Plan de Acción Regional (PAR) de la RELAL, para el trienio 2015-2018. Por tanto, este “nace” antes que el Santo Padre proclamara el 2016 como el Año de la Misericordia. Así, en este artículo, sin forzar el texto de nuestro PAR y decir lo que no dice, pretendo verificar algún punto de intersección entre éste y la invitación que el Papa Francisco hace para celebrar el Año de la Misericordia. Presento a continuación el proceso de elaboración del PAR.
Donde Dios clama en la vida, seamos presencia misericordiosa, que consuela y acompaña
El PAR fue construido de forma participativa a partir de las prioridades elaboradas por la 2ª Asamblea Regional de la MEL, el 3er. Encuentro Regional de Hermanos y el 1er. Encuentro Regional de Seglares. La Comunidad de Animación Regional y el Consejo MEL elaboraron los objetivos, indicadores, metas, programas, proyectos y acciones, directamente relacionados con las prioridades estipuladas en los tres encuentros arriba mencionados, para dar vida a las Propuestas del 45° Capítulo General (CG). También se tomó en cuenta las iniciativas y los eventos previstos por el centro del Instituto para los próximos años, como es el caso de las sesiones formativas a través del CIL y SIEL. El PAR fue aprobado por la Conferencia Regional de Visitadores, durante la reunión realizada en mayo de 2015, en Santo Domingo. El Plan está dividido en dos grandes partes: el área de Misión y el área de Hermanos con sus respectivos programas, proyectos y acciones. Para su seguimiento y evaluación se incluyó un tercer capítulo que especifica las formas de acompañamiento al desarrollo del mismo. Finalmente se propone el cronograma de actividades que integra las acciones en una línea de tiempo secuencial.
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Ahora, todos los lasallista estamos invitados a transformar la letra en acción, esto es, estamos invitados a asumir el PAR, participar activamente en la implementación de los programas, proyectos y acciones, y, por tanto, necesitamos conocer el Plan de Acción Regional. Éste tuvo un reducido número de ejemplares impresos en papel, pero se encuentra publicado en la página Web de la RELAL, y todos pueden acceder o bajarlo: http://www.relal. org.co/relal/plan-de-accion-regional-2015-2018.html. El PAR será una experiencia transformadora y generadora de vida para la Región en la medida en que sea conocido y asumido por las diferentes instancias de todos los Distritos. Vivimos hoy en el continente latinoamericano y caribeño una historia rica, llena de luces y sombres, flaquezas y oportunidades que diariamente desafían nuestra misión lasallista. El Señor nos llama, como en el tiempo del santo Fundador y de los primeros Hermanos. Escuchemos a Dios donde la vida clama. Donde Dios clama en la vida, por un mundo más humano. Seamos presencia misericordiosa, que consuela y acompaña. Al estilo de María, mujer fuerte y arriesgada, caminemos en medio del pueblo y anunciemos la Buena Nueva. Seamos signos de vida, de esperanza y comunión de fe y de solidaridad palpable para los niños(as), jóvenes y adultos que Él mismo nos confía. De esa forma, asumiremos la invitación de Francisco, Obispo de Roma, a vivir y practicar la misericordia, no sólo en el año jubilar, sino en el trienio 2015-2018 que presentamos en nuestro PAR. Creo que todos, o la mayoría de nosotros, ya tuvimos la gracia de experimentar la misericordia de Dios. Así, reconozco que la presencia misericordiosa de Dios se revela también a través de las personas que han contribuido en la construcción del Plan de Acción Regional. Básicamente nuestra esperanza e invocación, al elaborar y asumir el PAR es que la realidad latinoamericana y caribeña sea objeto de la Misericordia divina, por medio de la acción de los lasallistas que viven es este continente. Así, con el Hno. Martín Digilio, Visitador de Argentina-Paraguay, “encomendamos la vida lasallista de la RELAL a la protección de María, la madre de Jesús misericordioso, para que sea la misericordia quien nos guíe y conduzca nuestro actuar, nos asista en nuestro caminar y sustente nuestro ser. Que la Virgen nos bendiga junto con su misericordioso Hijo Jesús”. En el anuncio pontificio del Año Jubilar, el papa Francisco invita a los fieles a aceptar y a ofrecer gestos de misericordia. Nos habla de la Misericordia divina, de las indulgencias jubilares y de las acciones, actitudes y procedimientos para alcanzar la indulgencia jubilar. Entre ellas están la participación en el sacramento de la Reconciliación. Tanto el Instituto como la Región se preocupan con la formación de los niños(as) y de los jóvenes para que participen de la catequesis, de la vida pastoral, sacramental, eclesial y sean destinatarios y autores del anuncio de la Buena Nueva.
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Siendo Dios el amante en nosotros, seremos provocados a discernir su santa voluntad que se manifiesta constantemente
El 45° CG, en el capítulo 3, al tratar del tema de la Evangelización y catequesis: • Habla de la importancia de impulsar una vida de fe entre los jóvenes; • Reconoce como un clamor urgente la presentación del Evangelio en un mundo marcado por la violencia y la intolerancia y una Iglesia atribulada: • Insiste en comunicar a Jesucristo como libertador nuestro y del mundo; • Insiste en la preparación y formación de los Hermanos como catequistas. Ya el PAR traduce los llamados del 45° CG en acciones a ser asumidas y desarrolladas or los lasallistas de la RELAL. Y esto lo hace cuando: • Constituye un equipo de reflexión y acompañamiento; • Implementa una red para reflexionar y acompañar los procesos de catequesis, evangelización y pastoral; • Analiza los desafíos educativos de los más necesitados y de las situaciones de frontera en América Latina y el Caribe; • Realiza un evento a nivel regional sobre catequesis, evangelización y pastoral (7-11/5/2018); • Socializa la reflexión y el acompañamiento de los procesos de catequesis, evangelización y pastoral como medios para articular la pastoral como eje transversal en los proyectos de cada obra. Por tanto, de alguna forma sumaremos fuerzas con la propuesta del Año jubilar, al renovar y fortalecer en nuestras obras, comunidades, distritos y Región los procesos formativos, la pastoral y la catequesis. Sumaremos fuerzas con la propuesta pontificia, si voluntaria, consciente y profesionalmente ayudamos
a los jóvenes y niños(as) a conocer la Buena Noticia del Evangelio, acercándolos a la vida sacramental. En el Año Santo de la Misericordia, el Papa nos invita, de modo particular, a aproximarnos con fe y humildad al sacramento de la Reconciliación. En actitud filial recibir las indulgencias jubilares, sintiéndonos objetos del amor y misericordia divinas. Como educadores y catequistas, no tenemos derecho a reservar ese privilegio solamente para nosotros. Es nuestra misión educativa, evangelizadora y catequética invitemos a niños(as) y jóvenes a nosotros confiados, para que también ellos reconozcan el valor, el sabor, la gracia y el don precioso de la misericordia divina. Esto implica que junto con la proclamación del Mensaje de Jesucristo a nuestros estudiantes, también los preparemos a recibir los sacramentos y, en este Años de la Misericordia, que se preparen bien y participen del sacramento de la Reconciliación. Abriendo el corazón al Señor que nos regaló la vida, respondemos a su llamado, diciéndole que nuestro interior es espacio en el que queremos que se manifieste su amor, su ternura y misericordia, tan pródigamente revelados en la encarnación del Hijo, y que deseamos experimentar con nuestro hermanos y con la naturaleza, para revelarlos a los hijos(as) de Dios. Así, a través de los programas y acciones asumidas en nuestro PAR, y comulgando con el año jubilar de la Iglesia, pretendemos volver nuestra mirada al Autor de la Vida, contemplar su bondad y misericordia, su creatividad y entrega, y pedirle que habite en nuestro interior. Humildemente pidamos que sea Él el amor que ama en nosotros, para hacernos siempre más compasivos y misericordiosos, acogiendo al prójimo con ternura, haciendo el firme propósito de aceptar que la santa voluntad de Dios se cumpla en nuestro existir. Siendo Dios el amante en nosotros, seremos entrañablemente misericordiosos y buscaremos sentir y ofrecer el abrazo de Dios. Estaremos atentos a la acción divina en nuestro día a día y proclamaremos la bondad, la misericordia y la alegría de la presencia constante del Dios de la Vida en nuestra historia. María llevando dentro de sí al Verbo de Dios, cargándolo en su vientre toda la bondad y misericordia, es figura por excelencia de Dios amante en nosotros, es imagen perfecta de Dios que abraza a la humanidad con ternura, alegría y misericordia. Por eso, María, exultando de alegría, cantaba proféticamente, en nombre de la Iglesia: “Mi alma glorifica al Señor y mi espíritu exulta en Dios mi Salvador. Socorrió a Israel, su siervo, recordando su misericordia, conforme lo prometiera a nuestros padres, a favor de Abraham y de su descendencia, para siempre” (Lc 1,46-47). Con estas palabras tan importantes, el Evangelio muestra que Dios habló a los padres, esto es, aquél que dio la Ley por medio de Moisés y por la que sabemos que habló a los padres, es el mismo Dios que, en su inmensa bondad, derramó sobre nosotros su misericordia. Por causa de esa misericordia “nos visitará desde lo alto un
amanecer que ilumina a los que habitan en tinieblas y en sombras de muerte, que endereza nuestros pasos por el camino de la paz” (Lc 1, 78-79). Siendo Dios el amante en nosotros, seremos provocados a discernir su santa voluntad que se manifiesta constantemente. Seremos capaces de escoger y renunciar... al abrazar el seguimiento de Jesús. Siendo Dios el amante en nosotros, seremos capaces de servir a Dios y amar al prójimo. Serviremos a Dios, donando nuestra vida a favor del hermano, comulgando con sus sufrimientos y alegrías, sus dolores y conquistas para juntos alabar al Señor. “Si Dios solicita los servicios de los hombres es para poder conceder sus beneficios de bondad y misericordia a los que perseveran en su servicio. Porque, si Dios no necesita nada, el hombre sí que necesita de la comunión con Dios. La gloria del hombre es que persevere en el servicio de Dios. Por esto, el Señor dijo a sus discípulos: ‘No me elegisteis vosotros a mí; fui yo quien os elegí a vosotros’ (Jn 15,16), indicando así que...por haber seguido al Hijo de Dios, serían glorificados con Él “(Irineo de Lyon, Contra la Herejías). Siendo Dios el amante en nosotros, haremos el propósito de servir... como el Maestro que no vino para ser servido (Cf Mc 10,45). Siendo Dios el amante en nosotros, nos disponemos a dar fruto para que todos tengan vida, y la vida en abundancia. Siendo Dios el amante en nosotros, vamos a buscar y encontrar. Estaremos atentos a las palabras de Jesús: “¡Vengan y vean!” (Jn 1,39), y que el salmista ya proclamaba “Vengan a ver las obras de Dios, sus hazañas formidables a favor de los hombres” (Sal 66,5). Siendo Dios el amante en nosotros, aprenderemos a escucharlo cuando Él nos invita a perdonar... setenta veces siete. Siempre (Cf Mt 18,21-35). Dentro de esta perspectiva, pidiendo que Él sea el amante en nosotros, que Él nos enseñe a amar, servir y perdonar, dejando que el Espíritu Santo nos ilumine; estamos invitados a ser misericordiosos para con nuestro Hermanos de comunidad, misericordiosos en nuestras comunidades educativas, en nuestra vida y misión lasallistas en el Distrito, en la RELAL y en el Instituto. Estamos también invitados a conocer el Plan de Acción Regional, de la RELAL, que busca traducir para América Latina y para el Caribe las propuestas del 45° CG, y adentrarnos al año jubilar, dejando que Dios Misericordioso siga siendo el amante en nosotros, cultivando en nuestro interior la bondad, la alegría y la misericordia. Que aprendamos del autor de toda bondad y misericordia a ser buenos y misericordiosos, ya que “la misericordia divina consiste en que dios da a cada cosa más de lo que exige su naturaleza y también en que da a los justos más de lo que les es debido, y castiga a los pecadores con una pena inferior a lo que merecen sus culpas” (Cf. Suma Teológica, XX, 4). Que nuestro amor brote del amor original, y nuestra acogida se inspire en la misericordia divina.
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Novos horizontes Entrevista com o Irmão Edgar Nicodem, Provincial da Província La Salle Brasil-Chile, concedida a Gabriela Boni, do setor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle
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eja a seguir uma entrevista com o Ir. Provincial, Edgar Nicodem, sobre a relevância do Projeto Provincial como norteador da missão nas Comunidades Educativas, Religiosas e Formativas Lassalistas. R.F – Como o Projeto Provincial pode ajudar a Província La Salle Brasil-Chile a sair do habitual, a olhar a realidade com novas perspectivas e a sonhar com novos horizontes?
Ir. Edgar – A primeira parte do Projeto Provincial é o Horizonte Inspirador. Conforme destaca o próprio Projeto Provincial, o horizonte inspirador “é o nosso sonho de Província, considerando nossa experiência fundacional e os sinais dos tempos que emergem dos novos cenários, integrando missão e visão, com a perspectiva de atualizar constantemente as nossas narrativas lassalistas” (n.5). O horizonte fala de novos cenários e da atualização das narrativas lassalistas. O Projeto Provincial convida a Rede La Salle a deixar-se impactar pelos novos cenários e a construir novas narrativas. Isso será possível na medida em que estivermos abertos e disponíveis aos sinais que Deus coloca hoje em nossas vidas. Como o Santo Fundador e os Primeiros Irmãos, precisamos sair do habitual e configurar novos caminhos para a educação e a evangelização. R.F – A Comunidade Educativa é um lugar privilegiado para viver a dimensão comunitária do carisma lassalista. De que forma a partilha do carisma inspira a caminhada de Irmãos e de Colaboradores? Ir. Edgar – A vida comunitária é uma das dimensões constitutivas da vida do Irmão. Hoje, o carisma lassalista é partilhado entre Irmãos e Colaboradores. A dimensão comunitária é constitutiva do nosso carisma. Não existe experiência lassalista sem a dimensão comunitária. A Comunidade Educativa é o lugar privilegiado de encontro entre Irmãos e Colaboradores. Nela, somos chamados a desenvolver relações humanas verdadeiramente significativas e, juntos, a assumir a missão educativa. Partilhar o carisma na Comunidade Educativa significa, para Irmãos e Colaboradores, ser coração, memória e garantia do carisma lassalista. R. F – O que o senhor considera importante para que o Projeto Provincial alcance os resultados esperados? Ir. Edgar – O Capítulo Provincial pede o “incremento de uma dinâmica participativa visando à elaboração de um Projeto Provincial que desafie e comprometa a todos os Irmãos nas várias dimensões de sua vida”. Os resultados esperados vão depender em grande parte da participação e comprometimento de Irmãos e colaboradores com o Projeto Provincial.
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O Projeto Provincial convida a Rede La Salle a deixar-se impactar pelos novos cenários e a construir novas narrativas
O lugar onde as ações do Projeto Provincial serão desenvolvidas são as Comunidades Educativas e Religiosas. Cada Irmão e colaborador é convidado a participar do Projeto Provincial a partir da sua qualificação profissional. Queremos uma Província que seja caracterizada cada vez mais pelas práticas inclusivas e participativas. R.F – De que modo a experiência de São João Batista de La Salle e dos Primeiros Irmãos pode inspirar a missão educativa de Irmãos e Colaboradores? Ir. Edgar – O carisma lassalista é um dom de Deus para a Igreja e para a sociedade. Há alguns elementos da experiência fundacional que ainda hoje são fonte de inspiração para os Irmãos e os Colaboradores lassalistas. Em primeiro lugar, está uma leitura de fé da realidade para descobrir no rosto dos filhos dos artesãos e dos pobres de hoje o projeto de Deus. Em segundo lugar, um projeto que consiste em tornar a escola acessível aos jovens, particularmente os pobres e excluídos. Para viabilizar esse projeto, os Irmãos se associam e vivem em comunidade, assumindo uma espiritualidade ministerial.
Hoje, inspirados nessa experiência do Santo Fundador e dos Primeiros Irmãos, somos chamados, Irmãos e Colaboradores, a olhar a realidade com os olhos da fé e responder com fidelidade criativa às necessidades e urgências dos jovens do século XXI. Uma das preocupações de São João Batista de La Salle e dos Primeiros Irmãos sempre foi de constituir por meio da educação, um diferencial para a vida dos jovens. Como Rede, queremos ser reconhecidos pela excelência. Ser fiéis à experiência de São João Batista de La Salle e dos Primeiros Irmãos significa, entre outros elementos, proporcionar uma educação de qualidade, particularmente para os pobres. R.F – Quais são os próximos passos do Projeto Provincial? Ir. Edgar – É a implementação. Para cada área estratégica estão previstos diversos objetivos com as suas ações. Para cada ação, por sua vez, estão previstos indicadores e metas. Vamos utilizar um software para facilitar o acompanhamento. Uma boa parte das ações do Projeto Provincial já está sendo implantada. A partir do próximo ano vamos ter uma visão mais global desse processo. O Projeto Provincial tem um caráter dinâmico. Cada ano podemos introduzir novas ações para concretizar melhor os objetivos das áreas estratégicas. Por isso, a participação dos Irmãos e dos Colaboradores é fundamental.
O carisma lassalista é um dom de Deus para a Igreja e para a sociedade
A Comunidade Educativa é o lugar privilegiado de encontro entre Irmãos e Colaboradores
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Cultura Vocacional e estratégias para implantação nas Comunidades Educativas e Religiosas Irmão Éder Polido Coordenador de Pastoral da Província La Salle Brasil-Chile Irmão Marcelo Cesar Salami Diretor de Formação
realizar-se plenamente como pessoa. São João Batista de La Salle, nosso Fundador, foi extremamente coerente com a visão de uma pessoa vocacionada ao amor e à vida digna. A dimensão vocacional é intrínseca ao processo educativo. A vida é, de fato, um dom que se realiza na resposta livre a um chamado particular. O zelo educativo e apostólico nos recorda que evangelizar implica orientar a pessoa a interpretar a própria experiência à luz do projeto de Deus; auxiliando-a no importante discernimento acerca das escolhas fundamentais da própria vida1.
A
visão cristã concebe o ser humano como criatura desejada e querida por Deus, como sua imagem e semelhança, portadora de um projeto de dignidade, de felicidade e de plena realização para si, para os outros, para o universo e para Deus (Gn 1, 26-31). Os lassalistas comungam dessa visão e a explicitam em documentos do Instituto (45º Capítulo Geral, p. 32-35) e da Província (Plano de Formação dos Irmãos, 2013, p. 15; Plano de Formação do Educador Lassalista, 2013, p. 09).
Não poderíamos falar em cultura vocacional sem fazer referência a essa visão. Jesus Cristo foi quem mais promoveu a pessoa em sua dignidade plena. A Igreja, ao longo de sua história, sempre defendeu e promoveu o ser humano na sua condição de criatura amada e querida por Deus, digna de
Nossa condição de cristãos lassalistas nos compromete com essa concepção de ser humano e, mais concretamente, com as pessoas que nos são confiadas no processo educativo de nossas Comunidades Educativas. Nessa perspectiva, criar uma cultura vocacional, como explicita o 1º Capítulo Provincial da Província La Salle Brasil-Chile, faz muito sentido. Conceito de cultura Em busca de algumas definições do conceiro cultura, encontramos alguns resultados que podem colaborar com a reflexão. Na antropologia, a cultura é vista como um sistema comum de significados, aceitos com conteúdos implícitos e explícitos, que são, deliberadamente ou não, aprendidos e participados pelos membros de um grupo social (OLIVEIRA, 2003, p. 292). A cultura nessa perspectiva vive um processo ativo, contínuo, vivo, por meio do qual as pessoas criam e recriam o mundo em que vivem. Dessa definição nos interessa destacar a ideia de que são as pessoas que criam e recriam o meio em que vivem, ou seja, a cultura se forma na trama, na teia das múltiplas relações que se estabelecem, no compartilhamento de significatos, atitudes e comportamentos de uma instituição.
A dimensão vocacional é intrínseca ao processo educativo
Na Psicologia Social, de acordo com Tooby & Cosmides (1995), o conceito de cultura está relacionado aos seguintes componentes: a) A cultura é socialmente aprendida, isto é, dentro de uma comunidade/grupo ela é transmitida entre as gerações; b) As constituições psíquicas e comportamentais são produtos históricos e sociais; c) em uma sociedade, os seres humanos demonstram semelhanças intragrupais e intergrupais.
1Cf.http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20021028_consecrated-persons_po.htmln. n. 55.
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A cultura pode ser definida, ainda, como o estilo de vida de uma comunidade que resulta do seu modo de interpretar a vida. Para Cencini (2013), nós criamos cultura e a interpretamos, nutrimo-nos dela e a procuramos transmitir. Uma instituição
Conteúdos (ou cultura em si)
que investe na promoção de uma cultura específica precisa facilitar, condicionar, mediar os processos de comunicação e os compromissos experienciais dos seus membros. O autor apresenta o seguinte esquema para explicitar sua concepção:
Tipo de abordagem
Quanto ao grupo
Quanto ao indivíduo
Conjunto de verdades convincentes objetivamente
Intelectual
Tradição a ser transmitida
Mentalidade
Conjunto de verdades convincentes objetiva e subjetivamente
Experiencial
Tradição a ser remotivada
Sensibilidade
Existencial – metodológico
Tradição a ser renovada
Práxis-estilo de vida
Conjunto de verdades convincentes objetiva e subjetivamente e traduzível em método e estilo de vida
Fonte: (CENCINI, 2013, p. 16) De acordo com o teólogo, a construção da cultura passa por determinados processos. Do ponto de vista da mentalidade, podese afirmar que qualquer cultura se produz a partir de um conjunto teórico de dados e noções que ilustram o sentido e o valor objetivo daquilo com que se quer construí-la criando convicções intelectuais. Porém, os dados objetivos não são suficientes para formar uma cultura. A sensibilidade diz respeito à passagem do valor objetivo para o subjetivo, em outras palavras, a passagem do conhecimento teórico para a experiência prática e personalizada. Um terceiro elemento no processo da construção de uma cultura diz respeito à práxis, ou seja, à tradução em pedagogia, em caminhos praticáveis, em ações concretas daquilo que passou pela inteligência e o coração. Quando esses três aspectos estão presentes, pode-se dizer que estamos construindo uma cultura. Cultura Vocacional O fundamento do ethos humano está no ser imagem e semelhança de Deus como já nos referimos no início deste texto. A pessoa humana faz experiência da própria humanidade na medida em que é capaz de participar da humanidade do outro, portador de um projeto original e irrepetível. Trata-se de um projeto, cuja realização só pode acontecer no contexto da relação e do diálogo com o tu, num horizonte de reciprocidade e de abertura a Deus2. Falar em cultura vocacional desde essa perspectiva significa contemplar a variedade e a beleza das diversas vocações que são a expressão mais concreta do amor de Deus por suas criaturas. A promoção da cultura vocacional é um elemento fundamental do projeto da nova evangelização e, como tal, remete à coragem
de propor o questionamento pelo sentido da vida, pelas grandes perguntas relativas ao presente e ao futuro que permitem descobrir a existência como dom de Deus e compromisso com o próximo. De acordo com Echeverría (2003), falar de cultura vocacional é, em primeiro lugar, refletir e narrar a nossa própria vocação, ou seja, o percurso da descoberta de uma vocação específica. A opção vocacional não se reduz a um chamado e resposta inicial, pois consiste em uma série de opções feitas pela pessoa ao longo de toda a vida. Um ambiente propício ao cultivo vocacional precisa promover, dentre outras coisas, itinerários formativos por meio do quais a pessoa se torna consciente do chamado de Deus e das exigências radicais que comporta, e trata de responder com fidelidade e amor. Martos (2010, p. 46) afirma que “a vocação normalmente se transmite por mediação pessoal de tu a tu. Para que isso possa ocorrer, deve haver previamente um crente que tenha respondido ao chamado e seja sinal”. Aproximando a reflexão do autor ao contexto das Comunidades Religiosas e Educativas Lassalistas, pode-se dizer que a promoção de uma cultura vocacional necessita contar com a disposição por parte de Irmãos e Colaboradores para narrar a própria experiência vocacional. Nessa narrativa, colabora o uso de uma linguagem acessível e compreensível ao interlocutor que são nossos educandos. No glossário de nossos Planos de Pastoral e Pastoral Vocacional dizemos que Cultura vocacional significa, entre outras coisas, que tanto Irmãos como Colaboradores Lassalistas exortem jovens, no “momento adequado”, a considerar o modo de vida
2Cf.http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20021028_consecrated-persons_po.html. n.36.
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e consagração a Deus dos Irmãos de La Salle como opção de vida. Entende-se por “momento adequado”, o relacionamento positivo que o Irmão ou a pessoa que convoca passa a ter com o jovem, processo em que conta, sobretudo, o testemunho evangélico dos Irmãos. Os jovens, mesmo se nem sempre de forma consciente, desejam encontrar o testemunho de uma vida vivida como itinerário até Deus, como procura dos sinais, nos quais Ele se faz presente. Esperam ver pessoas que convidam a descobrir o significado mais profundo da existência humana e da história3. Assim, o convite personalizado ao jovem ou jovem adulto é um diferencial na estratégia vocacional que exige do outro uma resposta positiva ou negativa que lhe faz pensar na proposta. Quando fazemos uma pergunta ou colocamos uma questão vocacional a uma pessoa, esta é convocada a pensar na possibilidade. É importante reforçar que a linguagem a ser utilizada em convites vocacionais deve ser no positivo. No caso de um convite explícito para a vocação de Irmão, por exemplo, se pode utilizar: Você quer ser um Irmão de La Salle? ou uma afirmação: Você poderá ser um Irmão de La Salle, e não utilizar questões ou afirmações na negativa, por exemplo: Você não quer ser um Irmão de La Salle?. A neurolinguística nos ensina que as frases afirmativas obtêm melhor resultados que as negativas. Outro elemento importante na promoção da cultura vocacional são as narrativas vocacionais que podem acontecer informalmente em diversas situações, mas também formalmente em uma abertura de ano letivo pelo Irmão Diretor ou Reitor, em uma palestra ou semana pedagógica, em uma formatura pelo Irmão, Coordenador ou Professor, etc. Além disso, ressalta-se que é importante utilizar da linguagem verbal e não verbal para a ‘transmissão vocacional’ que poderá garantir introjeções, projeções e identificações simbólicas contribuindo para as escolhas vocacionais. É preciso ter presente que quando acolhemos um jovem vocacionado numa Comunidade Religiosa e/ou Educativa, consciente ou inconscientemente, passamos a ele inúmeras mensagens, muitas delas não verbais. As ações e projetos vocacionais concretos em cada Comunidade Educativa e Religiosa são importantes para a cultura vocacional, pois demonstram a concretude das opções. Uma cultura vocacional não pode ficar somente no nível simbólico e imaginário, mas também precisa concretizar-se em realidade e ser uma possibilidade concreta de assimilação.
O vocacionado em processo de escolhas precisa encontrar propostas concretas que o convoquem ao discernimento gradual, sistemático e transformador. Às vezes, tem-se discurso e convite vocacional, mas falta proposta concreta para que o vocacionado consiga se inserir. Enfim, dentre outros elementos para a promoção e implantação de uma cultura vocacional, destacam-se dois pontos fundamentais: a consciência da própria vocação e os comportamentos cotidianos. No primeiro ponto, é importante a conscientização vocacional que remeta constantemente à ideia de que a vocação é um presente e um chamado de Deus e que a vocação é anterior à profissão, confundida, muitas vezes, com a vocação. Ter consciência de que cada pessoa é vocacionada nos leva ao segundo ponto que nos faz um comportar vocacional. Que nos faz seres únicos em nosso ser e estar, em nosso ser e fazer, que nossos comportamentos sejam vocacionais e passíveis de criarem identificações. A Vocação é o chamado de Deus para a vida, para a convivência humana e para dar testemunho de seu amor. A promoção de uma cultura vocacional em nossa Província envolve Irmãos e Colaboradores Lassalistas, sendo responsáveis, primeiro pelo cultivo da própria vocação, e num segundo momento pelo despertar, acompanhar e discernir de outras vocações.
Referências COSMIDES, L.; TOOBY, J.; BARKOW, J. H. Introduction: Evolutionary Psychology and conceptual integration. In: BARKOW, J. H.; COSMIDES, L.; TOOBY, J. (Orgs.). The adapted mind: evolutionary psychology and the generation of culture. New York: Oxford University Press, 1995. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20021028_ consecrated-persons_po.html. CENCINI, Amedeo. Construir cultura vocacional. São Paulo: Paulinas, 2013. ECHEVERRÍA, ÁLVARO RODRÍGUEZ. Carta Pastoral a los Hermanos: la vocación del Hermano hoy. Roma, 2003. MARTOS, Juan Carlos. Animação vocacional para tempos difíceis e exigentes. São Paulo: Ave-Maria, 2010. OLIVEIRA, Lindamir Cardoso Vieira. Cultura escolar: revisando conceitos. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 19, n. 2, 2003. PROVÍNCIA LA SALLE BRASIL-CHILE. Plano de Pastoral Vocacional, 2015.
3Cf.http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20021028_consecrated-persons_po.html. n. 50.
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Trajetórias de fé e de dedicação A Província La Salle Brasil-Chile despediu-se dos Irmãos Albano e Arthur Schuster, Aloysio Flach e Claudino Backes, que faleceram neste ano de 2015.
Como responsável pelos setores de Horticultura e de Fruticultura, pôde proporcionar a muitos uma educação humana e cristã, daquelas que transformam uma comunidade.
Ir. Albano partiu em 23 de setembro, em Porto Alegre/RS. Nascido em 2 de outubro de 1926, em Cerro Largo/RS, era filho de José Schuster e de Dona Lidwina Theobald Schuster. Sua trajetória de lassalista iniciou com o ingresso no Juvenato São José de Canoas, em 1939, com 13 anos. Iniciou o Postulado em dezembro de 1942, e vestiu o hábito lassalista em março de 1943, quando adotou o nome de Irmão Adalberto Gabriel. Emitiu os votos de final do Noviciado, em março de 1944. Fez a profissão perpétua em Caxias do Sul em janeiro de 1951.
O Irmão Claudino Pedro Backes partiu em 24 de novembro, em Porto Alegre/RS. Ele nasceu em Cerro Largo/RS, em 24 de fevereiro de 1931. Iniciou sua vida de Lassalista com a entrada no Juvenato, em janeiro de 1944. Vestiu o hábito em 1º de julho de 1949, quando adotou o nome de Irmão Claudino Benjamim, e fez a Profissão Perpétua em 16 de janeiro de 1956. Suas qualidades de mais destaque foram a disponibilidade em prestar serviços e sua fraternidade leal. Entre as funções que exerceu e as comunidades pelas quais passou, está a de professor em colégios como La Salle Dores, La Salle Canoas, La Salle Carazinho, La Salle Brasília e La Salle Abel, além da de diretor do Juvenato em Cerro Largo e em Santo Cristo, no Rio Grande do Sul.
Em sua trajetória de quase 90 anos de vida, Irmão Albano foi membro de várias Comunidades Lassalistas, e nelas teve de desempenhar muitos afazeres para que tudo corresse bem e para que os Irmãos fossem sempre unidos. Dedicou-se, na Província, a diversas atividades, como: Diretor da Comunidade Nossa Senhora da Estrela por 12 anos, em Porto Alegre/RS; Diretor do La Salle Agro, de Xanxerê/SC; Auxiliar nas Comunidades La Salle Pão dos Pobres, Uruará e Carazinho. Ele era irmão de sangue do Ir. Arthur Schuster, que também faleceu este ano, em 21 de julho. Ele estava com 92 anos de idade e passou por um longo período de enfermidade. Nascido em Cerro Largo/RS, fez seus Primeiros Votos em 1940. Irmão Arthur prestou serviços como roupeiro, cozinheiro e ecônomo, entre outros. Sempre demonstrou a grande virtude da simplicidade. Pelo seu proceder sempre correto e seu exemplo de vida, deu um testemunho de religioso modelar. Esta foi sua constante contribuição à educação. Sem entrar em sala de aula, foi um verdadeiro educador de todo tipo de pessoas, inclusive para os Irmãos de qualquer idade, mas especialmente os jovens Irmãos e Formandos.
A Província La Salle Brasil-Chile une-se em preces pelo descanso eterno dos queridos Irmãos e pelo conforto de seus coirmãos, familiares e amigos.
Ir. Albano Schuster
O Irmão Aloysio Flach faleceu em 29 de julho. Nascido no dia 21 do mesmo mês, em 1929, ele era filho de Guilherme Flach Sobrinho e Maria Florentina Ely Flach. De Itapiranga/SC, iniciou sua caminhada para se tornar Irmão Lassalista já com a idade de 18 anos, em 1947, no Juvenato de Canoas. O Ir. Arnaldo Hillebrand atuava em seu último ano na comunidade quando Ir. Aloysio chegou. Ele lembra que o novato era muito habilidoso, organizado e tinha interesse em aprender e se aprimorar no português. Ir. Aloysio vestiria o hábito lassalista em 15 de julho de 1948. Também conhecido como Irmão Aloísio Marcos, desempenhou diversas funções na Congregação, inclusive dedicando-se a serviços tipográficos. Sua oportunidade como educador surgiu em 1984, quando foi enviado ao La Salle Agro, em Xanxerê/SC. Durante 31 anos, a instituição lhe proporcionou a oportunidade de ensinar e melhorar a vida de filhos de famílias humildes.
Ir. Aloysio Flach
Ir. Arthur Schuster
Ir. Claudino Backes
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Reflexões pela leitura Confira as dicas de leituras que a Revista Fraternitas apresenta nesta edição:
Vida Religiosa Consagrada em processo de transformação (Luiz Carlos Susin – Paulinas, 2015) A obra foi preparada pela equipe interdisciplinar de assessoria da Conferência dos Religiosos do Brasil e tem o objetivo de ajudar na reflexão e no avanço do processo de transformação da Vida Consagrada, exigido pela época de mudanças em que vivemos.
Fogo sob as cinzas: uma espiritualidade da vida religiosa contemporânea (Joan Chittister – Paulinas, 1998) – O livro analisa a questão da Vida Religiosa adaptada ao tempo presente, propondo-se a responder as questões: “O que constitui a espiritualidade da Vida Religiosa contemporânea? O que é sagrado hoje? Qual a missão da Vida Religiosa? Quais as virtudes necessárias hoje aos religiosos, que formam o caráter, testam o compromisso e tornam o mundo mais próximo do Reino de Deus e uma pessoa mais próxima da verdade e da vida?”. Segundo a autora, “este livro pretende ser um clamor para aquelas pessoas que carregam a visão da Vida Religiosa nestes nossos tempos e que buscam repensar seus propósitos, suas bênçãos e seu poder”.
Esperança em tempos de desespero: outras palestras e escritos (Albert Nolan – Paulus, 2012) A obra delineia as bases de uma teologia e da espiritualidade a favor dos pobres e da causa da justiça. Muitos dos capítulos foram produzidos durante a luta contra o sistema do apartheid na África do Sul. Mas a obra transcende a situação do país para dirigir-se a todos os cristãos que vivem em um mundo marcado por desigualdade, violência e exploração. O autor não aborda apenas o tema da resistência, mas também desafia a assumir a espiritualidade de Jesus, mostrando como o poder salvífico de Deus pode fortalecer-se para alcançar a liberdade pessoal e contribuir com a criação de estruturas de graça.
Além das Palavras: vivendo o credo apostólico (David Steindl-Rast – É Realizações, 2014) Análise tocante das palavras do Credo Apostólico. A mensagem do livro é que as palavras dessa oração são cristãs e que seu coração é um guia universal e atemporal da plenitude da vida. A partir da perspectiva espiritual e transformadora do autor, fica claro que o Credo expressa uma fé além do ritual e da exclusividade, acessível a todas as pessoas. Para marcar ainda mais o diálogo interreligioso, o livro traz um prefácio de Dalai Lama.
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