Cultivo da
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Programas Pastorais 1
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Apresentação Um dos valores institucionais da Rede Marista é a audácia, que pressupõe “agirmos com espírito empreendedor, atentos aos sinais dos tempos, (...) explorar novas possibilidades e promover mudanças” (Valores Institucionais da Rede Marista). Impregnados por esse espírito e valor é que os Programas Pastorais Cultivo da Fé, Grupos da PJM, Formação Humano-Cristã, Formação de Pastoralistas, Voluntariado e Ministério da Catequese chegam para ajudar a impulsionar a ação pastoral, qualificando a missão da Rede Marista, já que a evangelização é a razão de ser do Instituto do qual fazemos parte. O principal objetivo dos Programas é garantir a compreensão, alinhamento, sistematização e posicionamento das práticas e temáticas da ação pastoral nas Unidades Maristas. Portanto, é com muita alegria que apresentamos o Programa Cultivo da Fé, resultado de muitas mãos, escuta, entreajuda, leituras e observações. O Programa visa organizar e sistematizar orações, celebrações e vivências para que possam ser efetivamente meios intencionais e privilegiados de cultivo da fé, assim como ressignificar algumas práticas e aprofundar a Espiritualidade Apostólica Marista. Que o Programa possa contribuir em nosso fazer pastoral!
Partilhar e celebrar a fé, orando juntos, é um poderoso meio de construir comunidade (...) quanto mais profundamente vivermos a vida cotidiana, mais significativas serão nossa oração e nossas celebrações litúrgicas. (Água da Rocha, nº 118).
Coordenação de Pastoral
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Sumário
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1. Justificativa
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2. Objetivos 2.1 Objetivo geral 2.2 Objetivos específicos
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3. Fundamentação
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4. Interlocutores
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5. Operacionalização 5.1 Em nível local 5.2 Em nível de Rede Marista
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6. Avaliação
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7. Referências
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Programa Cultivo da Fé 1. JUSTIFICATIVA A fé, além de expressar-se em práticas éticas, na solidariedade, na defesa dos direitos dos empobrecidos (...) também se exprime em gestos cúlticos (Libânio, 2003, p. 52) chamados de formas religiosas. As orações, celebrações e vivências propostas são meios intencionais e privilegiados de cultivo da fé. Por serem intencionais precisam ser pensados, organizados e sistematizados de modo a serem coerentes com os conteúdos que abordam e possibilitem espaços férteis para que crianças, adolescentes, jovens e adultos cultivem a sua fé e cada vez mais vivam de acordo com a fé que se proclama. Assim, o presente Programa justifica-se. 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Oferecer e sistematizar orientações para a realização de orações, celebrações e vivências, garantindo o cultivo da fé. 2.2. Objetivos específicos • Ressignificar práticas relacionadas ao cultivo da fé; • aprofundar a vivência da Espiritualidade Apostólica Marista; • celebrar datas significativas do calendário litúrgico e do calendário marista.
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3. FUNDAMENTAÇÃO Será que “todo mundo tem fé”? A resposta pode ser sim e não. Pode ser sim, se pensarmos na fé como dimensão antropológica, e pode ser não, se nos fizermos a pergunta: de que fé se trata? E aí, ao fazer-se essa pergunta, a fé toma um caráter religioso, específico, doutrinal e que supõe a experiência de uma força misteriosa presente na vida. Conforme Juan Luis Segundo (1997, p. 18), antes de uma fé religiosa, existe uma fé antropológica inerente a todo o ser humano. Ela é uma fé que dá sentido à vida das pessoas. Esta fé é uma estrutura de valores significativos que orientam e dão consistência à existência humana. Por isso, tanto religiosos como ateus possuem fé, isto é, fé antropológica, não religiosa. A fé antropológica está ligada à confiança ou a um voto feito a alguém, testemunha referencial. Esta fé antropológica tem a função de dar uma estrutura significativa à existência humana, hierarquiza os valores até alcançar um valor absoluto sob o qual se subordinam todos os demais (cf. Segundo, 1985, p. 32).
Sendo Cristã há que se considerar que a Igreja Católica não possui o monopólio de Jesus Cristo, outras igrejas também professam a fé em Jesus Cristo. O ecumenismo, então, deve ser característica de nossa atuação pastoral.
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“[...] a fé é a dimensão antropológica ligada com a significação global da existência em cada homem. Em certo sentido, isto equivale a dizer que a fé é muito afim, em seu conteúdo, com uma escala de valores, ou que é seu próprio fundamento. Em palavras mais existenciais, dizer escala de valores é dizer que preços um homem está disposto a pagar por aquilo que estima e deseja. E que preços, é claro, não está disposto a pagar no jogo das mediações, porque tal preço levaria consigo uma parte do “incondicionado”, do que não está à venda, do que não pode ser convertido em condição para nenhuma outra coisa” (Segundo, 1985, p. 76).
A fé tratada neste programa é a fé cristã, fé religiosa portanto, entendida como experiência e vida. Nossa vida participa da vida de Deus e Deus participa de nossa vida dando-se a nós ao
crermos no Filho para termos vida eterna (cf. Jo 3, 16). Essa fé depende de encontro pessoal, de um caminho, de uma experiência onde Deus vai se revelando e onde nós respondemos, nunca de forma definitiva, pois Deus vai se revelando de forma gradual, “pedagogicamente”, adaptando sua linguagem à nossa natureza, nossa capacidade de compreender e aceitar em cada momento histórico. Frei Betto (1992, p.175), nos faz refletir a partir da “definição de fé que está na carta aos Hebreus 11,1 onde a fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se veem”. A realidade que se via no tempo de Jesus era a de falta de vida em plenitude, de falta de dignidade, com numerosos oprimidos fora dos muros das cidades e governos opressores e incapazes de amor. E a realidade que vemos hoje, de que forma se apresenta? “A realidade que nos toca viver hoje, está numa situação de receios e perplexidades, até mesmo de desgaste da esperança, num império contrário ao Reino de Deus, repleto de injustiças e idolatrias. Vivemos a fé numa terra estranha” (Murad, 1999, p. 68). Nesse sentido, a fé cristã é a certeza de que o projeto do Reino de Deus é possível e cabe a cada crente o protagonismo na sua construção. Não é qualquer fé que reúne elementos suficientes para fazer jus à Proposta do Reino. Que fé nos identifica, então? A fé que nos identifica é a fé de Jesus, porque importa que tenhamos a fé que Ele teve e não simplesmente a fé em Jesus. Ter a fé que Jesus teve nos coloca em movimento na busca cotidiana de fazer tudo para “que venha a nós o vosso Reino” (Mt 6, 10), o Reino de Deus. O Dicionário de teologia, (1988, p. 343), considera que a tradição da Igreja insiste na ideia da fé como obra da graça, que faz com que o ser humano se incline com suavidade (como que por instinto interior) e dá a ele a luz da fé, que permite ver com os olhos de Deus. Vendo com os olhos de Deus, será que
É aquele que confessa/professa e tem fé.
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seríamos impulsionados a agir da mesma forma que Jesus? Seria possível um viver tão intenso sem o cultivo da fé? O cultivo da fé cristã precisa de momentos de intimidade, de comunidade e de missão. Se a fé cristã contar com um crente corajoso, audaz e criativo haverá testemunho cristão no fazer cotidiano e os rituais propostos - uma meditação, oração ou serviço aos pobres, por exemplo - “deixam de ser um peso ou uma dificuldade para ser uma necessidade” (Murad, 2007, p.131). A fé cristã não está descolada da vida, mas imbricada, pois vivemos dentro de Deus (cf. Câmara, 1981). “Partilhamos nossa fé pelo testemunho de vida, mediante as orações e celebrações, por nossas opções e pela posição profética que assumimos, em favor dos excluídos. Apoiamo-nos, mutuamente, nos diálogos de fé, ajudando-nos a reconhecer os elementos fundamentais para a nossa vida em comum” (Água da Rocha, 2007, nº 84).
A fé cristã fechada em si mesma não é digna de ser chamada de cristã. Ela é enquanto se destina aos demais na defesa da vida ameaçada seja onde for e de quem for. A fé cristã é percebida, portanto, quando o modo de praticá-la se torna práxis, encarnada e constante. Na encíclica Lumen Fidei nº 8 “a fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama pelo nome” (Francisco, 2013). Enquanto caminha-se sentindo que o Reino já está entre nós, mas que também há muito a ser feito para que Ele aconteça, precisamos de paradas para nutrir e alimentar a utopia. São vários os meios utilizados para cultivar a fé e motivaram, ao longo da História, grandes místicos, profetas e santos reconhecidos nos altares ou anônimos, celebrados pela religiosidade popular. Esses, assim como o fez Champagnat, fizeram uso discipli-
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nado da “meditação da Palavra de Deus e da leitura orante da Bíblia, da oração pessoal, da revisão do dia, da oração em comunidade, da partilha de fé, do acompanhamento, da celebração eucarística, da reconciliação, de retiros, de estudos bíblicos, de vivências” (Água da Rocha, 2007, nº 79-87), enfim, o ser humano precisa cultivar sua interioridade, buscar respostas ao sentido profundo da vida e tornar-se uma pessoa mais integrada. Segundo o Ofício Divino da Juventude (2006, p.3), “a oração nos permite entrar na intimidade com Deus, permanecer no seu amor, experimentar sua infinita ternura e nos incentiva a prática da solidariedade.” Maria, jovem de Nazaré, ao dizer o seu sim, ao servir Isabel, no discipulado e fidelidade ao projeto de Deus, é inspiração para o cultivo e vivência da fé. O cultivo da fé considera que o fato de “celebrar é uma atividade humana e religiosa universal. Celebrar tem a ver com ritualizar. Consiste em tornar célebre, realçar o significado de aspectos fundamentais da vida pessoal, familiar, social e religiosa[...] Está presente na vida da pessoa, na sociedade e no cotidiano da vida. [...] Está presente nas religiões tradicionais em meio a diferentes culturas e nas sociedades modernas e pré-modernas como expressão do sagrado” (Cardoso, 2011, p.27). Cada um dos momentos de cultivo da fé deve proporcionar que as pessoas se sintam acolhidas nas Unidades Maristas, independente da sua confissão, pois o diálogo ecumênico e inter-religioso é indispensável no desenvolvimento de ações pastorais. O documento Missão Educativa Marista (2000, nº 108), afirma que “cada um deve sentir-se em casa entre nós. Uma acolhida calorosa, aceitação e sentido de pertença deve prevalecer, de modo que todos se sintam estimados e valorizados, qualquer que seja a sua função ou posição social”. Assim, cultivar a fé é um processo contínuo que nos manterá fiéis, criativos e profetas da esperança contra toda desesperança. 9
4. INTERLOCUTORES Crianças, adolescentes, jovens e adultos. 5. OPERACIONALIZAÇÃO 5.1. Em nível local 1. Alguns pressupostos • Utilização de recursos didáticos: sendo de grande importância considerar nos momentos as formas de expressão e o jeito de se comunicar, como músicas, mensagens, leituras bíblicas, vídeos, dinâmicas, poesias, levando em consideração o tema da Campanha da Fraternidade de cada ano, e o calendário religioso Marista, assim como o tema norteador do ano, proposto pela Rede Marista. A linguagem, os exemplos e os simbolismos são essenciais e nos ajudam a celebrar e rezar; • mensagem adequada aos interlocutores: é necessário levar em consideração a idade, características e circunstâncias de cada grupo e suas realidades, assim como é de fundamental importância que toda a construção oriente e produza sentido para a vida; • rezar a partir da realidade: o ponto de partida é sempre a realidade. Quando se reza e se celebra a partir da realidade, se vivencia de fato o que é conteúdo essencial, e o gesto concreto para interferir na realidade é mais coerente, unindo fé e vida; • qualidade e profundidade: observar para que a qualidade e a profundidade desses momentos tenham maior importância do que a quantidade; • planejamento: é indispensável o planejamento das atividades, prevendo espaço físico, ambientação, cantos, instrumentos musicais, tempo, subsídios, materiais, interlocutores, celebrante e paramentos litúrgicos (quando houver celebrações eucarísticas).
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2. Algumas orientações Atividade
Indicações
Celebrações Eucarísticas
• Garantir que sejam realizadas celebrações: Páscoa, Maria (mês de Maria), Champagnat e Natal.
Celebrações da Palavra
• Dar destaque ao uso da Bíblia, reflexão e partilha.
Retiros com educandos, estudantes e universitários
Retiros com colaboradores
Oração diária com colaboradores Oração diária com educandos, estudantes e universitários
• Garantir o espaço de silêncio, oração pessoal e comunitária; • prever o assessor; • preparar o ambiente de forma que acolha os interlocutores e proporcione a vivência dos objetivos; • formalizar o convite por escrito, realizar a preparação dos interlocutores; • pensar em atividades que vão dar continuidade à reflexão do retiro. • Conduzir de modo participativo; • garantir que haja rodízio na condução; • ter uma temática condutora, como por exemplo: o Cuidado, a Campanha da Fraternidade, os Valores Maristas... ou as situações que estão vivenciando no dia ou semana.
Oração no início das reuniões
• Alinhar a oração com o que vai ser discutido/tratado na reunião.
Momentos de meditação
• Escolher o método, facilitador, garantindo um espaço apropriado.
Leitura Orante da Bíblia
• Planejar segundo os passos da Leitura Orante; • destacar a Bíblia; • convidar para que os participantes tragam a sua Bíblia pessoal.
Grupos de oração e reflexão
• Criar grupos a partir da necessidade ou da procura com atenção ao ecumenismo e diálogo inter-religioso; • acompanhar os grupos criados; • ter clareza sobre quem são os interlocutores; • deixar claros os objetivos do grupo; • integrar o grupo no todo da Unidade e não algo à parte.
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6.2. Em nível de Rede Marista A Coordenação de Pastoral será responsável por acompanhar o desenvolvimento do Programa. 7. AVALIAÇÃO O Programa deverá ser avaliado, anualmente, com todos os envolvidos no processo nele contido. 8. REFERÊNCIAS BETTO, Frei (1992). Catecismo Popular. SP: Ática. CÂMARA, Dom Helder (1981). CD Deus nos tempos de Hoje e na vida de cada dia. São Paulo: Paulinas-Comep. CARDOSO, Edina Lima et.al (2011). Em Memória de Mim/Escola de liturgia com jovens (Coleção Educação na Fé). Goiânia: Editora Casa da Juventude Pe.Burnier. CASA DA JUVENTUDE DE GOIÂNIA E A DIOCESE DE GOIÁS (22006). Ofício Divino da Juventude. Goiânia: Casa da Juventude. CASALDÁLIGA, Dom Pedro (1998). Nossa Espiritualidade. São Paulo: Paulus. COMISSÃO INTERPROVINCIAL DE EDUCAÇÃO MARISTA (32003). Missão Educativa Marista: um projeto para nosso tempo. Tradução de Manoel Alves e Ricardo Tescarolo. São Paulo: SIMAR. DICIONÁRIO TEOLÓGICO (1988). O Deus cristão. Dirigido por Xavier Pikaza e Nereo Silanes; [tradução I.F.L. Ferreira, Honório Dalbosco e equipe]. São Paulo: Paulus.
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FRANCISCO, Papa. Carta encíclica lumen fidei. Disponível em: http://www. vatican.va/holy_father/francesco/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei_po.html acesso em 29/10/2013. INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS (2007). Água da Rocha: espiritualidade marista, fluindo da tradição de Marcelino Champagnat. Tradução de Ricardo Tescarolo. São Paulo: FTD. MURAD, Afonso (2007). Gestão e Espiritualidade: uma porta aberta. São Paulo: Paulinas. MURAD, Afonso e MAÇANEIRO, Marcial (1999). A espiritualidade como caminho e mistério: os novos paradigmas. São Paulo: Loyola. SEGUNDO, Juan Luis (1985). O homem de hoje diante de Jesus de Nazaré. vol. I (Fé e ideologia) São Paulo: Paulinas. LIBANIO, João Bastista (2003). Crer num mundo de muitas crenças e pouca libertação. São Paulo: Paulinas. Segundo, Juan Luis (21997). A história perdida e recuperada de Jesus de Nazaré - dos Sinóticos a Paulo. São Paulo: Paulus.
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EXPEDIENTE Programas Pastorais Organização e textos: Ir. Dionísio Rodrigues, Ir. Rodinei Siveris, Karen Theline Silva, Laura Skavinski Aparicio, Jaqueline Debastiani, José Jair Ribeiro, Marcos J. Broc, Miriam Quarti da Silveira. Revisão: Ir. Salvador Durante Produção: Assessoria de Comunicação Corporativa Design editorial: Design de Maria, por Carolina Fillmann Diagramação: Tássia Mohr Rede Marista RS | DF | Amazônia 15
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