Poemas de Rogério Sena

Page 1

Poemas de Rogério Sena

1

Sobre Rogério Sena

O pintor, escritor e ator mineiro, Rogério Sena desenha desde criança. Apesar da habilidade nata, só passa a produzir com intensidade quando inicia o tratamento no serviço de saúde mental. Em 1993 Rogério conheceu o movimento da reforma psiquiátrica, desde então se tornou militante atuante de vários movimentos sociais, como o movimento negro e dos direitos humanos, além de ter participado da fundação da Luta Antimanicomial em Salvador em 1993. Em 2000, participou de uma série de oficinas de comunicação comunitária realizadas pela Associação Imagem Comunitária (AIC), em centros de convivência para usuários da rede pública de saúde mental. Essas oficinas culminaram no surgimento da Rede Parabolinoica de Arte e Loucura, desde então Rogério Sena atua nesse coletivo que atrela arte, loucura e comunicação, que é voltado á reflexão sobre o tratamento destinado pela sociedade aos portadores de sofrimento mental, que os marginaliza e subestima. Rogério atuou na peça Aqui não tem doido não!!!” - Criação Coletiva - Teatro ICBEU. B.H. Em 2009 recebeu premiação da Bienal de Piracicaba em 2009, e em 2010 foi homenageado na mesma Bienal. Em 2010 ainda participou da Feira Nacional da Artesanato expondo os seus trabalhos no stand da Expominas reservado aos artistas mineiros.


Poemas de Rogério Sena

NORDESTE

Sim como um asfalto, Onde não cresceste ficaste esticado Em cima dessa terra socada Sem nunca sido molhada Se fosses pelo menos o asfalto De um aeroporto internacional Ou da pista de Interlagos Seria olhado com mais cuidado Mas é apenas um asfalto Inacabado pra vender lote de voto Longe lançado e depois ti abandonaste Como lua várias crateras Onde todos se transformam Em seres do espaço Sem espaçonaves para Voar para outros ares E dançam com tradição O baião no bailão Para esquecer a sofridão Esperando que venha Uma resolução para A população do sertão

2


Poemas de Rogério Sena

BANDEIRA

Com os ventos Vieram as andorinhas Cantando uma antiga ladainha Avisando qual tempo que vinhas Escondendo nos telhados daquela Ainda velha capelinha Circulam nos céus Que já no total escuro Os amados urubus Que nos diziam quase tudo Tinha chegado o esperado futuro Não queremos sobreviver nuclear Queremos apenas poder viver Ou mesmo morrer com o puro ar E o frescor do mar Queremos o verde da bandeira Junto com o azul e as estrelas O amarelo até deixamos Que se administra pelo antigo ministério Mas que seja sério E o povo marchará em honra Todas as letras fixadas na Faixa e será a paz desejada

3


Poemas de Rogério Sena

ESTRALAR DO CORAÇÃO Estrala coração fala: Dessas luzes estranhas que cobrem o batismo, Numa alquimia ocultando os cascavéis nos troncos De uma eterna galeria, como se fosse tesouro dos reis Que não podemos cantar em melodias e nas palavras falar, Os riscos dessas pazes de mentiras. Suspiro em versos mil a desentoar No zelo de um veneno letal, lograrem conosco. Jogando-nos flagelamente nas sepulturas da vida Pedindo a sorte desculpa e ferem sem ternura, Com conversas fiadas, perversas e perigosas Estrala coração e fala! Nos lamentos das viúvas Nos olhos presos Abafando os sonhos de uma simples realidade Nas adorações de crespas serpentinas serenas Com cadências convidativas nos corpos nus adolescentes E também nos filhos aos braços, presentes e pacientes. Estrala coração fala! São famintos, são ratos, são serpentes com sede Nas bocas ardentes de conquistas insanas e desgraçadas Dessas raças culpadas.... Estralou o coração e falou a dor caprichosa:

4


Poemas de Rogério Sena

Firme tua força, fortaleça as esperanças, encha os peitos de amor e alegria Note nas perfeições da natureza e perdoa, marcando um encontro Para eterna paz O PARQUE Alegria da infância Atração do êxodo Que vem dos interiores Tentando ali colherem As tuas esperanças em flores Passarela dos gays E antigas furtivas paqueras Angustias dos desempregados Lagoas dos patos Passeios de pedalinhos e barcos Grandes árvores com jacas E outros tipos de árvores Teatro popular de apelido, Chico, Se ouve canto dos pássaros A misturar com a sinfonia do palácio das artes Ao expressar, nos famosos clássicos, Quando principalmente ao ar livre do parque. Mas me salta uma lágrima, com tantos espaços, Ver lindos bichos presos... Passeios em jegue E charretes de cabras No meio desta crescente

5


Poemas de Rogério Sena

Cidade ( Belo Horizonte ) Roda carrosséis Balança gangorras, Vê as faunas brasileiras Presas no viveiro Pombos livres ao chão Penso até estar em piso de Londres

6


Poemas de Rogério Sena

ESPÍRITOS

Os espíritos não passam De lágrimas e risos. De todos se julgam Ativo ou passivo. Os espíritos vão sempre Existir a insistir, enquanto Todos os indivíduos de ter Uma fé em morte e vida, Como um sinal alegre e sinistro. E por dentro se brigar Se o bom e o mal e se o mal e o bom. E ao pensar porque as chuvas e Sol em uma catástrofe Da tempestade e seca o incomoda

7


Poemas de Rogério Sena

ATOS Rirei o pior riso que já ri Sou maldito, Deus se não acredito, eu sou maldito. Pronto já desabafei Acabei a emoção Você... você acha que falar é tudo A minha longa escada dupla da vida Em direção ao céu ou inferno Virada para cima e para baixo A base dos meus pés até dói Guardando a pressão da escada dupla Sinto a escada dupla da vida balançar. Fico ouvindo uns sons retumbantes, um canto. Que todos já ouviram na vida Mas o balanço não a curvaria para sempre, O canto é alto que faz até parecer Que vão desmoronar a cúpula e descer para o inferno. E não perecem se quebrar, embora tenha se curvado Tão baixo tanto tempo. Gostaria de ir subindo em direção ao céu,

8


Poemas de Rogério Sena

Até que a escada não aguentasse, e se vergar toda Me recolocando ao chão As duas coisas seriam boas Tanto ir como voltar a nirvania

ESPELHOS Inúmeras vezes tento não acreditar, No que os olhos, coração e cérebro, Que a cortesia da história Faz-me mostrar Nos homens que carregam em seus peitos Um grande espelho que reflete silhuetas De suas verdadeiras imagens... Alguns se mostram tão magníficos Que pajem, um passo forte de um soldado. Como se estes estarem certos e límpidos, Com ocultos olhares bofejados pela morte Revetados, patenteados, condecorados e sepultados Que se puseram nas mutações da terra, aos meteoritos E galvanismos as circulações dos sangues, nas ondas das luzes, Até a gravidade... O que se mostra além do espelho, São também outros Que viveram e nasceram repetindo as mesmas coisas,

9


Poemas de Rogério Sena

No presente e no futuro E se julgaram patriotas, pelas lutas idiotas, Aos direitos de cinco palmas numa cova Ornamentadas de desconhecidas rosas e vinte e um salmos De tiros de guerras, Onde os homens se vestem de suas vestes, de papéis ou de bornéis, Se achando donos da terra, mar e quem sabe até do céu

SERPENTINAS

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar E comemorar os martírios inconscientes das crenças Serpentes grandes: boca de males nos dentes, Que tem só um ponto ideal, ambições, e como sempre, Desejos macabros nas visões... Sob as arcarias das sobrancelhas: odeio de quando de malefícios Se aparelhas nos momentos festeiros. Aos sons de violas, cuícas batuques e pandeiros, Tangidos como se fosses legítimo brasileiro Abjuro as utopias, abro as pálpebras para a visão, Que me desarranjava no sonho de olhos hipnotizados E lhe digo que que tua alma se vai Que bata no teu peito: Uma lança o notificando... Com todas as pompas de pecados de outros carnavais

10


Poemas de Rogério Sena

De remorsos que fez rirem e chorarem. Vai, vai para a onda dos mares, porque já é a quarta estrofe É como quarta feira de cinzas, está acabado

SEPARATA

Um segredo tenho Quando vem a sina Como vozes que vem Lá de cima e me mostram Parecendo um clima de mediunidade A que todos tiveram na terra Nas suas personalidades. Sonho com sons cansados Morro com os consolos dos mortos Que como uma navalha de gelo, Que corta e aniquila pulverizando As ideias sombrias, escuras ou claras. Que apenas pretendia mostrar sem nunca importunar Ou hipnotizar... E vagueia nos meus olhos, lágrima.

11


Poemas de Rogério Sena

Sentido tão magoado desta vida Em que me corta e não dando nada em troca Ao céu até tento bater nos olhos e rogar uma prece.

CARRUAGEM DE FOGO

Minha alma que tinha Liberta a vontade Agora já sente um Queimar de saudade Busco em lembranças De muitas coisas vividas Em muitos caminhos percorridos Sonho a voltar à infância A mata virgem A serra viva A máquina vem O concreto monta O progresso é que conta Os casebres que descem

12


Poemas de Rogério Sena

Os prédios que sobem Os pedestres que morrem Nos asfaltos que cobrem O chão de barros que correm Os passarinhos que vão Pras gaiolas e dali Ao céu não se vê mais O verde só nas paredes Ou nas mãos negras Das portas bandeiras Das escolas de samba brasileiras Mata o Beija-flor Serra a Mangueira e o Salgueiro Máquina do Império Serrano Concreta a Imperatriz para o progresso Da Mocidade Independente Unidos da Vila que descem Caprichosos que sobem As Rosas que morrem Nos jogos que cobrem Os carnavais de carruagens de fogo Dos pobres que neles concorrem.

13


Poemas de Rogério Sena

LAMENTO DOS RIOS

Quando vi meu leito esplendido, A morte de meus peixes violentamente Pela ganância do instante do tempo No derrame da indústria de sempre Um leite espumoso irritante Uma revolta torna latente No que destrói dentro da vida intima da gente Na agua fria e corrente Agora parada e quente Caio numa vida minguante Não sou mais lua mais lua crescente Sou uma estrela cadente

14


Poemas de Rogério Sena

Afetada pelos raios marcantes Do mercúrio ardente No repúdio dos rios do mundo Promete uma vingança de tudo Ao ver o tamanho absurdo.

DESEJOS

Dos beijos já sinto desejos, De um crime; que me foram Roubados perfeitos Dos abraços já sinto atraços Que deixaram marcas como Cortes de navalhas... Dos teus seios sinto falta Do leite e cheiro que me Lembra quando ainda usava frauda Do sexo sinto um ébrio Que me embriagava como

15


Poemas de Rogério Sena

Se toma muito vinho Oferecido me na taça No corpo sinto-me morto Por não ter mais o teu Amor que se foi...

ALEGRO

era quinta ou sexta ou sábado? Ah, sei lá, entrei assim mesmo como Se não quisesse nada e pedi uma carteira de tabaco E também um trago de uma garrafa amarga Bem, acho que era mesmo sábado E a bebida descia goela abaixo, Como um perfeito veneno de um condenado Os insetos : eles ali não estavam mais e Felizmente eu poderia falar em voz alta Uma coisa banal sabendo por mim mesmo

16


Poemas de Rogério Sena

Que ninguém queria ouvir – me Que eu fale bem ou mal de modo que a ti igual, Que ninguém também saiba a mim a você espera Discretamente formosura a mulher amada Enquanto com a gentil cortesia do ar que com Frescor a namoro me espalha a lira de esperança Brilhantemente quando passo contigo Goza gostosamente Te que tu tem ainda a flor da mocidade, Que o tempo trata com toda sua ligeireza Tentando imprimir como em toda flor pisada Não, não aguardes que madura – lhe a idade E não converte nesta flor tua beleza De dentro da sua espiritualidade, Em terra, em cinza, pó , sombra, ou em nada Sentado neste lugar Quando o sol no poente Me despeço e o mundo é tomado de surpresa A gente olha pra cima E vê umas coisas voando Entre o dia e a noite andorinhas Entre o dia e a noite, andorinhas. Como novelo de linho escuro costurando Cada sombra a outra, onde a luz se intromete ainda Pois bem, vamos fingir que nada sabemos E vejamos quem ganha neste astuto jogo de blefes:

17


Poemas de Rogério Sena

O homem ou o mosquito Nada sabe que eu existo E nem sei que tu existe Então vamos brincar de amor.

EXALTAÇÃO

Como é tão bom estar com você Ouvir e amar todas as coisas que Você disse e faz é tão bom ver Você mostrar a paz Em todos os sentidos Já estou convencido Você me traz emoção Dentro do meu coração

18


Poemas de Rogério Sena

És algo tão natural Que se torna normal Amar você é uma arma contra todos os males A noite vai chegando Pelo teu nome Vou clamando Como uma oração de insônia Na escuridão Você como um sonho vem a iluminação Como é tão bom estar com você dentro do coração Você nunca será um passado deixado E será sempre um presente amado E no futuro viverá para caminhar a meu lado

ESTILO

Agora transbordante de vida Sólido e visível Dedico estes cantos Tenho a impressão de que estou morrendo. Para terminar, eu envio o que vem depois de mim Oh, como tudo isto me envolve por todos os lados Desbravarei caminhos por minha própria conta

19


Poemas de Rogério Sena

Oferecerei a todos o meu estilo Que percorri os caminhos de passe confiante Lanço meu grito elétrico recorrendo a atmosfera Avanço em marcha desabalada, mas me detenho Ponho a prova os músculos do cérebro Findo o que resta apenas um eco melodioso Acomodado em meu túmulo Alguém que morrera pela verdade. Nem vi nunca estive no céu E nem vi Deus Saem de mim sem valor desconhecidos.

NIRVANIA

Voa bem alto, quase a se perder de vista Meu pássaro pensamento e volta trazendo Em minha boca de palavras sábias para cantar E mostrar em versos vários tons, os caminhos a nirvania

Bem baixinho eu vou tentar contar e mostrar

20


Poemas de Rogério Sena

O que trouxeste lá do alto, ao modo das palavras Ouve-se em silêncio no neurônio central, como se Estivesse cantando um lindo livre passarinho na árvore do quintal

Mantenha a mente sã, profundamente e respire O oxigênio limpo que esta virgem mata, o ar , o ar Ajeita-se devagarinho a coluna cervical E colocando em posição ereta e o coração tranquilo... E deixa voar seu pensamento para o além Que você ouvira as vozes sábias de vários tons à nirvania

Lados abertos Atlantes ao Badalar que Induzirá todo Objetivo do teu Saciar

21


Poemas de Rogério Sena

Notável és Apreciada é Desejada ao Erotizar-te o Galvanismo que Adjetiva todo Sensualismo em você Alvado a tornaria Ninfomaníaca E o ufania Ao lhe saborear Preferido sempre Ereto Nedio quando Infubula a tua Sede Histórias e tradições Importância nenhuma Membrana apenas que Esconde a incerteza de nunca amar totalmente Semente Especial Metempsicose que lhe Envolve tão nirvaniamente

22


Poemas de Rogério Sena

MENTIAS

Caminha para mim Para as coisas aonde é O extremo do meu ser

23


Poemas de Rogério Sena

O sentir do viver e o morrer Ao ver aquelas mesmas velhas prosas Serem ouvidas como novidades por idiotas Como nunca, nunca houve derrotas, Mas sim, sim, muitas vitórias Nunca chorar por tristezas ou Por sementes e alegrias... Para onde vamos parar com Tantas mentiras em que faça A nos acreditar que mentias Mente, mentias, mentirás, mentemente...

SUPLÍCIO

Os ossos já gemem Os sonos já chegam

24


Poemas de Rogério Sena

Os passos já não se movem E nem já espero mais um trem Deus meu deus De crentes descrentes De católicos apostólicos De espíritas e xiitas De cristãos ou budistas E de outras seitas que exista Tudo, tudo que quero é ti Nesse início ou último dia Dos cotidianos de uma vida Sem pais, sem choro Sem filhos Quero festas, que nunca tive. Não chores sorria sorrias Estou passando para outro plano, Ou estou chegando Ao espaço ou embaixo, digamos: Vida viva, morte morre, fica em vós Vida morte, viva morre

PIEDADE

As infelizes vem chegando de todos os lugares

25


Poemas de Rogério Sena

Carregando um abafado e interno sonho São famintas são cativas da vida afetiva São morenas , louras, negras, ruivas E todas as raças mais Expulsadas do jardim do éden Que sempre as consome Fecundando-lhes os ovários Nos seus dias de cios São Evas são Adões São Marias Madalenas sem perdão À chama de tudo que no signo da palavra É absurdo e soturno e maligno Por sem detalhes oferecer-lhes tudo No olhar da estátua que ri e chora Para padecer perdão pelo mundo Das infelizes aceita convites para torna-las felizes Dos adultos aceita convite para torna-los potentes Dos deficientes recebe convites para torna-los eficientes Dos adolescentes recebe convites para torna-los adultos Das outras recebe convites para se tornar suas utopias reais Das outra recebe convites para tornar sua loba Talvez até um poeta surpreso a convida ao poema dizer amem Depois de todas essas cadeias de martírio Destas crucificações de sua honra para os iguais e desiguais Normais e anormais Agora na rua lua de todas as luas cheias, novas

26


Poemas de Rogério Sena

Crescente e minguantes Sente a decadência (aids) Sente ausências das adorações serenas sente agora O gosto salgado na boca da lágrima que chorava até doce Nesta vida dura da forçada profissão mais antiga do mundo A Deus roga piedade e perdão por estar nesta posição.

BRIGUELA

27


Poemas de Rogério Sena

Sentado neste lugar Quando o sol no poente Se despede e o mundo é Tomado de surpresa

A gente olha pra cima E vê umas coisas voando Entre o dia e anoite Andorinhas como novelos de linho escuro Costurando cada sombra a outra Onde a lua se intromete ainda

Pois vem vamos fingir que nada sabemos E vejamos quem ganha neste astuto jogo de blefes O homem ou o mosquito

Não sabe que eu existo E nem sei que tu existes Então vamos brincar de fantoche.

28


Poemas de Rogério Sena

APOTEOSE HUMANA

A mata virgem A serra viva A máquina vem O concreto monta O progresso é que conta Os casebres é que crescem Os prédios que sobem Os pedestres que morrem Nos asfaltos que cobrem Os chãos de barro que, Agora é do que nele corre correm O passarinho que vai Pra gaiola e ali Ao céu não se vê mais O verde só nas paredes Ou nas mãos negras da porta bandeira Das escolas de samba brasileiras Mata o beija flor Serra a mangueira Máquina do império serrano Concreto da imperatriz para o Progresso da mocidade independente Unidos da vila que descem

29


Poemas de Rogério Sena

Os caprichosos que sobem As rosas que morrem Nos jogos que cobrem O carnaval dos pobres Que nele concorrem Para a apoteose de Niemeyer No monumento como a águia Se torna rainha e não Sai mais.

30


Poemas de Rogério Sena

“CONFETES”

Chamam-lhe Pelé, zé, pivete Um pé de moleque que vende na grande cidade Por ter na derme A marca da escravatura e Viver na miséria Numa imensa e farta terra Enquanto na crua escola muda Onde um sonho brotara em volúpia Em ser um doutor daquela flor Em que a professorinha Com tanta ênfase Do livro a ele Uma bela poesia declamou Ao enamorar-se desta Sentiu uma ânsia Que poderia ter asas Comum a todos os anjos E voaria aos céus distantes Encantando Profundamente os grandes Mas ao notar que estas asas ansiosas Não surgia no corpo

31


Poemas de Rogério Sena

Onde não devia Normal a todos os anjos para voarem aos céus As asas surgiram em outras partes do corpo Sim, sim aos pés que apenas os serviria para Voarem um pouco acima de uma bola esportiva Não, não nos lugares em que ensinava a muda escola Agora, agora serve apenas para as escolas de sambas Onde se torna parasita ou atleta bamba Para poder voar na cidade dos grandes O9nde a polícia não prende os grandes culpados Dessas asas surgirem em partes tão distantes

32


Poemas de Rogério Sena

SONHO E HORA

À Ana Cristina César Ah como fugiste desta atmosfera Foi assim como as aeronaves alienígenas Parece que só a noite escutou tuas palavras Que saia de tua alma Semelhante a uma caudas do cometa brilhante Como uma musa que inspira poesia Quem sabe? Mesmo até pelas fotografias, Ana Que às vezes parecem tão frias Que abjuro a uma fantasia Assemelho-a Como Cleópatra Qual teve teu Marco e Cesar A lutarem pelo amor do teu sorriso A inteligência em ti será sempre a tal Que tua alma não sei por que Esquivou-se desse ideal Aprisionando a esperança no peito de uma serpente Numa rara fulgência da poeta

33


Poemas de Rogério Sena

No sonho tropeça-te Ao mundo que é jogado a teus pés

34


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.