Relatório Final Micael Herschmann Assim, quando pesquisavam as transformações locais (e globais) no mercado da música em curso na atualidade (e, portanto, avaliavam-se especialmente as alternativas de sustentabilidade que estavam sendo implementadas pelos atores junto às cenas cariocas), os concertos de música executados nos espaços públicos foram se revelando cada vez mais – da perspectiva não só dos envolvidos, mas também de quem pesquisava – um objeto de estudo relevante e instigante, o qual deveria merecer maior atenção por parte das lideranças, artistas, autoridades e do meio acadêmico (HERSCHMANN, 2011a). Para além de rótulos desgastados, tais como mainstream ou indie, os atores indicavam que no contexto atual de produção e consumo musical e de grande carestia do custo de vida (especialmente no Rio de Janeiro), a música de rua apresentava-se cada vez mais como uma alternativa inovadora, capaz de mobilizar um público saturado de ofertas culturais e com poder aquisitivo limitado1. Ao mesmo tempo, foi possível constatar também que esta experiência estética coletiva – que constroem o que se denominou em trabalhos anteriores como sendo “territorialidades sônico-musicais” (HERSCHMANN e FERNANDES, 2012) – promovidas por grupos musicais e seu fãs, os quais ocupavam o espaço público e vinham ressignificando, ainda que pontualmente, o ritmo e o cotidiano das cidades. Com esta noção “territorialidades sônico-musicais” busca-se valorizar a importância da música e das inúmeras sonoridades presentes no cotidiano das cidades para os processos de reterritorialização que serão realizados pelos atores pesquisados. Muitas vezes a decisão da área que será ocupada com música leva em conta não só a circulação dos atores, mas também o fluxo e a intensidade dos fluxos sônicos do local. Essas territorialidades – mais ou menos temporárias –, pela sua regularidade, geram uma série de benefícios locais diretos e indiretos para o território (permitindo até o incremento das atividades socioeconômicas locais). Aliás, como sugerem alguns 1
Inclusive, devido a essa limitação do mercado e procurando atender as demandas por programas gratuitos na cidade, começaram a surgir sites como, por exemplo, Catraca livre (https://catracalivre.com.br) e De graça eu vou (http://degracaeuvou.wordpress.com), os quais gradativamente estão ficando mais populares entre segmentos expressivos da população. Outro fato que chama a atenção é o movimento Somos um Rio Surreal, que possui página no Facebook (www.facebook.com/surreal.visual), na qual os usuários denunciam aquilo que eles consideram “preços extorsivos praticados por bares, restaurantes, lojas e ambulantes no Rio de Janeiro”.
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