Resultados e conclusões da pesquisa 2014 CNPQ Processo: 408952/2013-0 Chamada n.º 80/2013 CNPq/SEC/MinC Título do projeto: Capital social dos empreendedores da economia criativa: o caso das associações de artesãos de Florianópolis-SC
Ao analisar a dimensão da confiança e da solidariedade no quadro dos resultados da pesquisa, percebeu-se que dentre os principais motivos pelos quais os artesãos participam da Associação de Artesãos tem-se: divulgação e apoio ao trabalho; gosto pelo artesanato e necessidade de comercialização (imposição legal); necessidade de filiar-se a uma entidade organizada; continuidade da participação na antiga organização que existia no Parque da Luz e artesanato como atividade ocupacional e terapêutica. Dentre os benefícios dos artesãos fazerem parte da Associação de Artesãos é possível apontar os de cunho pessoal e os de cunho comercial. No âmbito dos benefícios pessoais têm-se as interações e o aprendizado que ocorre pela proximidade física dos artesãos. No âmbito dos benefícios comerciais, de formalização e de organização, observa-se a importância de um espaço comum de comercialização e divulgação do artesanato, bem como de uma estrutura de gestão adequada para a realização dos trabalhos, contando com: secretaria, gerência e coordenação. Além disso, há rotatividade de artesãos, ainda que pequena se comparado a outras organizações do mesmo porte. No que se refere aos problemas e dificuldades no quadro das atividades desenvolvidas pela Associação de Artesãos, verifica-se que eles são resolvidos por meio de conversas informais, assembleias e reuniões. Além disso, alguns dos artesãos depositam confiança nas escolhas da presidente e dos gestores, deixando a cargo deles o processo de decisão para resolução dos problemas. Assim, consideram que os representantes da Associação de Artesãos tem papel importante nas atividades da feira, além do papel do voluntário, que contribuiu para a gestão, estruturação e a organização da feira. Quando questionados sobre quem desempenha o papel de liderança na Associação e por que o desempenha, três pessoas foram citadas: a gestora, a atual presidente e o voluntário. Já no que se refere à tomada de decisão do grupo, a maioria dos entrevistados destacou que ela é feita em conjunto, por meio de assembleias e reuniões ou pela diretoria, o que evidencia importância do contato pessoal e das relações interpessoais para a organização da Associação de Artesãos. Nesse sentido, a pesquisa constata o que é certo consenso na literatura, qual seja, de que grupos de profissionais que interagem entre si compartilhando informações, recursos e experiências, visando o bem comum, tendem a ser mais bem estruturados, caracterizando estruturas sociais e/ou comunidades baseadas na confiança, como é o
caso da Associação de Artesãos e dos seus associados. No âmbito da confiança e da solidariedade, quando questionados se confiam e são solidários uns com os outros, de maneira geral, os artesãos que compõem a Associação de Artesãos consideram que sim, mas quando questionados se confiam e se há solidariedade em relação à Federação de Artesãos preferiram não opinar, o que pode denotar certo desconhecimento e falta de integração entre os artesãos da Associação de Artesãos e a Federação de Artesãos. Quanto à confiança dos artesãos nos gestores públicos do Município, do Estado e nos vereadores, ficou evidente que há certa falta de credibilidade nos representantes públicos locais e estaduais. O trabalho evidenciou que a confiança e solidariedade estabelecida entre os membros da Associação de Artesãos tem facilitado o compartilhamento de informações e conhecimento e possibilitado a promoção de melhores oportunidades sociais e viabilidade econômica dos empreendimentos. Todavia a circulação de informações dentro da Associação de Artesãos é considerada ainda incipiente. Ela acontece atualmente por meio da comunicação direta, em reuniões, por telefone, via rede sociais e e-mails enviados pela gestão da feira. É preciso destacar que as iniciativas de criação do IGEOF pela Prefeitura Municipal e as ações da própria demonstram que as iniciativas locais caminham no sentido de maior envolvimento e articulação entre os diferentes atores e instituições. Tais iniciativas convergem com o que destaca Putnam (2002), que quanto mais desenvolvidos forem os sistemas numa comunidade, maior a probabilidade de que seus cidadãos sejam capazes de cooperar em benefício mútuo. Dessa forma, o capital social identificado no contexto da Associação de Artesãos têm fortalecido a tomada de decisão e a execução de ações colaborativas que beneficiam toda comunidade local. No que se refere às evidências da importância do capital social da Associação de Artesãos no contexto do artesanato local conclui-se que o intercâmbio de informações entre profissionais da área por meio de uma ampliação da rede de relações de confiança e busca de objetivos comuns - por meio do IGEOF (Instituto de Geração de Oportunidade de Florianópolis, órgão da Prefeitura de Florianópolis), Federação de Artesãos, SEBRAE, diferentes artesãos em diferentes feiras - acarreta uma postura proativa e incentiva o espírito cívico e a vida cooperativa, proporcionando espaços e estruturas de trabalho em equipe, instigando a inovação e a aprendizagem coletiva, fatores essenciais para o dinamismo econômico recente. Percebe-se, também, que tal perspectiva segue a intenção do IGEOF de que o artesanato seja uma atividade econômica que fomente a geração de renda, desenvolvimento econômico, cultural e artístico do município de Florianópolis. Assim, pode-se concluir que as tendências analisadas no transcurso desta pesquisa demonstram que esse é um campo em desenvolvimento e, portanto, há necessidade de ampliação das pesquisas empíricas de modo a resgatar as reais potencialidades e os reais limites do artesanato em Florianópolis e do potencial de dinamização do campo da Economia Criativa como alternativa mais compatível para o desenvolvimento local. A partir dessas conclusões podem se derivar algumas sugestões ou diretrizes
para a Associação: - A pesquisa demonstrou ações fragmentadas entre os artesãos e as organizações promotoras do artesanato em Florianópolis. Mesmo assim, é possível perceber que o capital social tem influenciado de forma positiva os empreendimentos e elevado sua probabilidade de sobrevivência. Isso significa que quanto maior forem as redes, as relações de confiança, as troca de experiências, o compartilhamento de informações e os vínculos entre os artesãos, maior a probabilidade de que a associação venha a crescer. O foco sobre tais relações é merecedora de atenção. - Percebeu-se que a motivação para o exercício do artesanato está relacionada (a) às habilidades manuais; (b) à forma de manter a saúde e como terapia ocupacional; (c) como fonte de renda; (d) por ser um trabalho livre; (e) para manter o convívio social; (d) proporcionar tempo para cuidar da família; e, por fim, (e) relacionado à questão cultural. Portanto, sugere-se o estímulo da motivação por meio de atividades extras que aumentem os vínculos entre os artesãos. - Os artesãos realizam poucos cursos voltados à sua arte, em geral realizam cursos promovidos pelo SEBRAE. Além disso, a articulação externa dos artesãos da Associação com outras feiras, instituições e indivíduos, podem ser fomentadas pelo IGEOF e Federação de Artesãos. - Um outro aspecto abordado na pesquisa foi o acesso a recursos pelos artesãos da Associação pesquisada. Conclui-se que os principais recursos/ajudas/benefícios são: do Banco do Brasil, da Prefeitura Municipal de Florianópolis com a idealização do IGEOF e o apoio do SEBRAE. Além disso, há a Federação de Artesãos, mas que detém apenas vínculo burocrático. Ou seja, a maioria dos artesãos não conhecem a Federação nem o seu papel na Associação. Para tanto, sugere-se um canal de comunicação contínuo entre a federação e a Associação como meio de fortalecimento institucional. - Há dois pontos de atenção que emergiram durante a pesquisa e que é necessário maior aprofundamento: (1) alguns entrevistados externaram a preocupação da prefeitura ter a intenção de assumir o controle da Associação. Não conseguimos ter dados mais consistentes que dê sustentação a essa preocupação, mas gostaríamos de registrar tal informação que veio à tona em algumas entrevistas. É um fenômeno recorrente a apropriação, por parte do poder público, de iniciativas organizadas pela sociedade civil, o que acarreta desmotivação dos empreendedores/inovadores sociais e burocratização da iniciativa; (2) segundo a percepção de alguns entrevistados há a necessidade da Associação em investir em uma gestão mais profissionalizada. Há alguns processos administrativos - como o controle e monitoramento dos associados, reuniões ordinárias com atas, formalização de parcerias, busca mais efetiva por financiamentos - que precisariam de aperfeiçoamento. Recomenda-se que a Associação inicie um planejamento estratégico da organização com vistas a atingir tais objetivos.
Empreendedorismo 5. Temas livres: Micro Empreendedor individual, empreendedorismo e desenvolvimento econômico, e redes empreendedoras: franquias ECONOMIA CRIATIVA E EMPREENDEDORISMO CULTURAL: A DIMENSÃO DA CONFIANÇA E DA SOLIDARIEDADE NA ASSOCIAÇÃO DE ARTESANATO EM FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA
Resumo A pesquisa busca analisar e compreender o capital social da associação de artesanato Magiarte localizada em Florianópolis, a partir das dimensões confiança e solidariedade. Para tanto, baseou-se nas abordagens de capital social e economia criativa, valeu-se de entrevistas semiestruturadas com 14 artesãos da associação e concluiu que a existência de confiança e solidariedade entre os artesãos demonstra relevantes estoques de capital social. Porém, a confiança entre o grupo de artesãos e as instituições de apoio é incipiente, indicando a necessidade de reconhecimento, por parte dos órgãos públicos e apoiadores, das potencialidades e limites do artesanato em Florianópolis. Palavras-chave: Capital Social, Artesanato, Economia Criativa. Abstract The research seeks to analyze and understand the social capital of the association of handicraft Magiarte, localized in Florianopolis, from the dimensions of trust and solidarity. For this, it relied on the approaches of social capital and creative economy. It was used semi-structured interviews with 14 handicraftsman of the association. It was concluded that the existence of trust and solidarity of the handicraftsman demonstrated relevant stocks of social capital. However, the trust of the group of handicraftsman and the support institutions are weak. This indicate about the need of recognition of the public repartition and the stakeholders, of the potentials and limits of the handicraft in Florianopolis. Keywords: Social capital; handicraft; Creative Economy.
0
1 Introdução Neste início do século XXI se observa que as crises econômicas mundiais trouxeram prejuízos aos setores tradicionais da economia brasileira. No entanto, outros setores se tornam mais atrativos e constituem potenciais para a geração de trabalho e renda. No âmbito desses novos setores a criatividade passa a ser percebida como uma fonte inesgotável de recursos, por possuir uma característica peculiar: quanto mais se explora, mais se tem. A economia criativa tem sido um tema importante – tanto na atuação pública quanto na privada – e é objeto de estudos e interesse por parte da academia, de agências governamentais e organizações multilaterais (UNCTAD, 2012). Além disso, verifica-se o crescente aumento da importância da elaboração de políticas públicas, no campo da economia criativa, voltadas para desenvolvimento local e econômico. Nos últimos 20 anos a economia criativa vem se destacando na literatura devido, entre outras questões, a sua importância social e econômica. Há evidências de que as atividades desenvolvidas nessa área impactam a economia local, seja diretamente – ao oferecer empregos e aumento de produtividade – ou indiretamente, gerando externalidades positivas relacionadas a ideias e conhecimentos. No Brasil, dados do IBGE (2006) indicam que quase 10% do PIB nacional provêm da economia criativa, tendo, portanto, um importante papel na criação de riqueza do país. Um dos setores da economia criativa é o artesanato, e seu desenvolvimento, além de ser uma manifestação cultural, contribui para o desenvolvimento de pequenos municípios. Ele está presente em mais de 64% municípios brasileiros e envolve mais de 8 milhões de pessoas, representando, em 2008, um percentual de 2,8% do PIB nacional (FALCÃO, 2008). Dessa forma, além de gerar renda em mais da metade do território nacional, é um dos dinamizadores da economia como setor isolado. É preciso destacar que os estudos sobre a economia criativa podem se valer do conceito de capital social, pois se observa que nesse tipo de dinâmica produtiva há aumento dos benefícios obtidos pelos empreendedores por participarem de uma rede ou grupo e estabelecerem laços de confiança e solidariedade. Uma das hipóteses investigada nesse tema é a de que o capital social influência de forma positiva os empreendimentos e eleva a sua probabilidade de sobrevivência (FUKUYAMA, 1996). Além disso, há evidências de que quanto maior o estoque de capital social maior é a facilidade de acesso e compartilhamento de informações e conhecimento, tais como oportunidades de negócios, possibilidade antecipada de aquisição de recursos e mais facilidade para a exploração de oportunidades comerciais (MARTES; RODRIGUEZ, 2004). Nesse sentido, quanto maior o capital social mais chance de acesso às relações interpessoais decisivas para a abertura e manutenção de um negócio, e menores são as chances de comportamentos oportunistas devido ao grau elevado de confiança entre os membros da rede (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998; BARON; MARKMAM, 2003). Diante desse quadro, a pesquisa objetiva analisar a dimensão da confiança e da solidariedade, à luz da teoria do capital social, tendo como objeto a segunda maior associação de artesãos do Estado de Santa Catarina que agrega empreendedores culturais. O trabalho parte dos seguintes pressupostos: (a) o artesanato integra relevantemente a economia criativa no País; (b) o capital social influencia positivamente as dinâmicas produtivas locais, sendo uma orientação importante para os empreendimentos da economia criativa. Portanto, compreender a dimensão da confiança e da solidariedade do capital social, suas interfaces e a dinâmica da Associação de Artesanato é um aspecto essencial para se compreender a economia criativa e o estágio atual do artesanato em Florianópolis. 1
O presente estudo é do tipo empírico, valendo-se de um arcabouço teórico para norteálo. Caracteriza-se também como um estudo exploratório-descritivo. Exploratório porque (a) permite aumentar a compreensão do investigador em relação ao problema, assim como esclarecer e modificar conceitos e ideias (LUDKE; ANDRÈ, 1986); (b) a investigação é realizada “em área com pouco conhecimento acumulado e sistematizado” (VERGARA, 1998, p. 45). A pesquisa vale-se, também, de uma abordagem qualitativa, visto que privilegia a interpretação da percepção dos sujeitos de pesquisa. Ademais, essa abordagem é mais compatível com a técnica de coleta de dados que foi adotada nesse estudo, a entrevista semiestruturada. A pesquisa foi construída, também, pela adaptação do material publicado do Grupo Temático sobre Capital Social do Banco Mundial (GROOTAERT et al., 2003). O material original subdivide o conceito de capital social em seis dimensões: (1) grupos e redes; (2) confiança e solidariedade; (3) ação coletiva e cooperação; (4) informação e comunicação; (5) coesão e inclusão social; (6) empoderamento e ação política. A pesquisa analisou a dimensão ‘confiança e solidariedade’, que identifica a manifestação de confiança e solidariedade entre os indivíduos da comunidade, bem como a confiança de tais indivíduos em pessoas desconhecidas e nas instituições. Assim, no quadro dos participantes do estudo totalizaram-se 14 entrevistados, no período de outubro a dezembro de 2013. O levantamento de informações também incluiu fontes de dados primários e secundários. Os dados primários foram obtidos na pesquisa de campo por meio da aplicação de entrevistas semiestruturadas. Os dados secundários foram obtidos por meio de pesquisa documental e dados levantados em periódicos, revistas, jornais e demais publicações da região. A interpretação dos dados foi desenvolvida de acordo com a análise qualitativa e descritiva do conteúdo, correlacionando-se com o referencial teórico assumido. Por meio das entrevistas aplicadas, bem como a observação realizada no estudo de campo, foi possível realizar a triangulação dos dados obtidos para que a análise e interpretação dos dados fossem realizadas de forma confiável (TRIVIÑOS, 1987). O artigo está estruturado da seguinte forma: nesta primeira seção são apresentados a problemática e os aspectos metodológicos da pesquisa. A segunda seção aborda aspectos da economia criativa e as contribuições da teoria do capital social para se pensar a problemática da pesquisa. A terceira seção recupera a dinâmica da Associação de Artesanato sob a perspectiva das dimensões de confiança e solidariedade. A quarta seção trata dos resultados da pesquisa. Por fim, apresenta-se as principais conclusões do estudo e as referências bibliográficas que o nortearam. 2 Economia criativa e capital social A economia criativa é um conjunto de atividades, bens ou serviços culturais que possuem natureza tanto econômica quanto cultural. Divide-se em setores criativos, que se caracterizam por desenvolver um conjunto de atividades, bens ou serviços culturais que apresenta como processo principal um ato criativo gerador de “valor simbólico” – ou seja, o valor do bem criativo se encontra na capacidade humana de inventar, de imaginar, de criar, seja de forma individual ou coletiva –, elemento base da formação do preço, e que irá resultar na produção de riqueza cultural e econômica. Dessa forma, abrange-se mais do que apenas setores tipicamente culturais, ligados à produção artístico-cultural – música, dança, teatro, ópera, circo, pintura, fotografia, cinema –, compreendendo outras expressões ou atividades relacionadas às novas mídias, à indústria de conteúdo, ao design à arquitetura, entre outros (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2011). No Brasil a economia criativa ganha campo com a Secretaria da Economia Criativa, criada pelo Decreto 7743, de 1º de junho de 2012, vinculada ao Ministério da Cultura. Tal decreto considera que os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como 2
insumos principais a criatividade e o conhecimento, caracterizados pela variedade infinita, abundância e não pela escassez. Tomando-se como exemplo a pintura, seu valor está associado à expressão artística do pintor, indo além do preço dos materiais em si. A economia criativa, por conseguinte, é a economia do intangível, do simbólico. Para Caiado (2011), a economia criativa é o ciclo que engloba a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade, o ativo intelectual e o conhecimento como recursos produtivos fundamentais. As atividades econômicas são desenvolvidas a partir da combinação de criatividade com técnicas e/ou tecnologias, agregando valor ao ativo intelectual, ou seja, associando o talento aos objetivos econômicos. Caracteriza-se não somente como um ativo cultural, produto ou serviço comercializável, mas incorpora elementos tangíveis e intangíveis dotados de valor simbólico. De forma complementar, Fonseca (2012) expõe que a economia criativa se abastece dos talentos criativos, que se organizam de forma individual ou coletiva, para produzir bens e serviços criativos, segundo a auto identificação do trabalhador com a tarefa. As conversações criativas permitem a mistura de conhecimentos pessoais, transformando-os em linguagem tangível, a partir das quais as mídias sociais promovem a amplificação dessa capacidade de conversação e as modificam. A revisão bibliográfica realizada por esse grupo de pesquisa apontou diversos conceitos sobre economia criativa, dentre estes o da UNCTAD (2010), Hartley (2005), Machado (2007), UNESCO (2005), Ministério da Cultura (2011) e Caiado (2011). Neste artigo o conceito de economia criativa adotado foi aquele utilizado pelo Ministério da Cultura, que tem sido responsável, dentre outros atores, pela elaboração de políticas públicas para o setor numa perspectiva de sustentabilidade social e inclusão produtiva. A definição de economia criativa adotada pelo Ministério da Cultura se insere na noção de que a economia criativa “[...] é, portanto, a economia do intangível, do simbólico. Ela se alimenta dos talentos criativos, que se organizam individual ou coletivamente para produzir bens e serviços criativos. Por se caracterizar pela abundância e não pela escassez, a nova economia possui dinâmica própria [...]” (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2011, p. 24). Na seção a seguir apresentam-se as principais contribuições da noção de capital social no quadro da dimensão da confiança e solidariedade. 2.1 As contribuições do capital social: análise da dimensão da confiança e solidariedade O termo capital social destaca-se na literatura internacional a partir da década de 1990 com os estudos empreendidos por Putnam (1993) (SERAFIM et al, 2012). Nesses estudos, observou-se que a performance institucional estaria diretamente relacionada com o contexto social, cultural e histórico. Assim, há certo consenso na literatura de que grupos de profissionais que interagem entre si compartilhando informações, recursos e experiências, visando o bem comum, tendem a ser mais bem estruturados, caracterizando estruturas sociais e/ou comunidades baseadas na confiança. Dentre os autores mais reconhecidos no âmbito da discussão sobre capital social tem-se Putnam (1993), Coleman (1988), Bourdieu (2007). Serafim et al (2012, p. 5) destaca que essas três correntes enfatizam diferentes aspectos do KS que se complementam, sendo: A primeira se relaciona no âmbito confiança atrelado ao nível de extensão das obrigações existentes na comunidade, nas quais o maior nível de capital social ocorre onde as pessoas confiam mais umas nas outras pela aceitação e cumprimento mútuo de obrigações; a segunda forma enfatiza a existência de canais de interação em função de um maior fluxo e troca de informações e ideias; e na terceira forma as normas e sanções encorajam os indivíduos a trabalhar por um bem comum, relativizando seus interesses próprios e imediatistas (COLEMAN, 1988).
3
Anterior à teoria de Putnam (1993) e Coleman (1988), Pierre Bourdieu, no início da década de 80, estuda as relações existentes nas classes sociais no contexto francês. O autor extrapola o conceito de capital social inserindo em seu estudo os conceitos de capital cultural (simbólico), econômico e religioso como forma de explicar as relações de poder entre os indivíduos e classes sociais (BOURDIEU, 2007). O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1986, p. 249) define KS como “a soma dos recursos reais ou virtuais que indivíduos ou grupos de indivíduos adquirem devido ao fato de possuírem redes duráveis de relacionamentos sociais mais ou menos institucionalizados de reconhecimento e conhecimento mútuos”. Os recursos são empregados pelas pessoas a partir de uma estratégia de progresso dentro da hierarquia social do campo, prática resultante da interação entre o indivíduo e a estrutura. James Coleman (1988), sociólogo norte-americano, foi um dos primeiros estudiosos a enfatizar o debate acadêmico acerca do tema, afirmando que o KS ajuda a manter a coesão social em função da observação às normas e leis, e de comportamentos como negociação em situação de conflito, prevalecendo à cooperação sobre a competição, o que é um fator de extrema importância numa sociedade. Robert Putnam (2002) conseguiu avançar nas pesquisas sobre o tema, por meio de estudos na Itália contemporânea, conclui que os sistemas de participação cívica representam uma intensa interação horizontal, se revelando uma forma essencial de capital social: “quanto mais desenvolvidos forem esses sistemas numa comunidade, maior será a probabilidade de que seus cidadãos sejam capazes de cooperar em benefício mútuo [...]” (PUTNAM, 2002, p. 183). Além disso, o KS é um conceito político, já que estimula a articulação dos indivíduos, por meio de suas redes, em torno de seus objetivos comuns (FRANCO, 2003). KS, então, diz respeito à capacidade das pessoas se unirem, trabalhando em conjunto para o bem comum. A articulação, a partir de grupos, pressupõe que haja um grau de confiança entre os membros de uma comunidade entre si. Baquero (2006) reforça a ideia de que quando as pessoas tomam consciência da importância de trabalhar em conjunto, a ação coletiva é viável. Nesse sentido, empoderar mediante redes de confiança fomenta o KS entre as pessoas e pode se traduzir na obtenção de bens tangíveis. Dessa forma, por ser composto tanto pela dimensão econômica quanto pelas dimensões da confiança e da solidariedade, o conceito de KS pode contribuir para o estudo da economia criativa, uma vez que dentre os benefícios do KS estão: maior facilidade de compartilhamento de informações e conhecimentos, devido a relações de confiança, “espírito” cooperativo, referências socioculturais e objetivos comuns; conformação de ambientes propícios ao empreendedorismo; melhor coordenação e coerência de ações, processos de tomada de decisão coletiva e maior estabilidade organizacional, contribuindo para a redução de custos (WILLERS et al., 2008). No âmbito das dimensões do capital social, para fins deste estudo, são provenientes do material publicado pelo Grupo Temático sobre Capital Social do Banco Mundial, Grootaert et al (2003), contido no Questionário Integrado para Medir Capital Social, são elas: i) Grupos e redes: é considerada a diversidade associativa da comunidade, a forma de escolha das lideranças e as mudanças no envolvimento do indivíduo com a comunidade ao longo do tempo; ii) Confiança e solidariedade: manifestação de confiança e solidariedade entre os indivíduos da comunidade e a confiança depositada por eles em pessoas desconhecidas e nas instituições; iii) Ação coletiva e cooperação: formas em que o indivíduo tem trabalhado com outros membros da comunidade em situações diversas; iv) Informação e comunicação: conhecimento dos meios de comunicação onde se recebem informações de serviços públicos e condições de mercado; v) Coesão e inclusão social: natureza e o tamanho das divergências manifestadas na comunidade, além dos mecanismos de gerenciamento e resolução destas; vi) Autoridade ou capacitação 4
(empowerment) e ação política: capacidade do indivíduo influenciar as decisões no âmbito político, institucional e comunitário (SERAFIM et al, 2012). Neste artigo enfatizou-se, assim, as dimensões da confiança e solidariedade, especialmente os seguintes aspectos: confiança em relação às pessoas e instituições presentes na comunidade; confiança em relação às outras instituições (de apoio); disposição com que os artesãos ajudam uns aos outros; e disposição em apoiar outros artesãos e instituições. Nesse sentido, as atividades desenvolvidas no campo da economia criativa podem ser analisadas, em certa medida, como aquelas capazes de criar condições de geração de empregos e riqueza. Por meio do quadro conceitual, na seção a seguir são apresentados os principais resultados da pesquisa. 3 A dinâmica do artesanato em Florianópolis: dimensão da confiança e da solidariedade na Associação de Artesãos No contexto brasileiro é na década de 1990 que se observa o desenvolvimento do artesanato por meio do Programa Artesanato Brasileiro – PAB, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comercio Exterior – MDIC. O principal objetivo deste programa foi a geração de trabalho e renda e a melhoria do nível cultural, profissional e econômico do artesão brasileiro. Suas diversas ações possibilitaram a consolidação do artesanato no Brasil, concebendo-o como um importante setor da economia. A criação da Secretaria da Economia Criativa – SEC traduz o reconhecimento do potencial das atividades criativas para o país e para o desenvolvimento local e regional. Em 2011, anteriormente à criação da SEC, foi criado o Plano da Secretaria da Economia Criativa 2011-2014, com o compromisso do Ministério da Cultura de liderar os debates e a formulação de políticas públicas sobre a cultura e o desenvolvimento no Brasil, transformando a criatividade brasileira em inovação e a inovação em riqueza. Em Santa Catarina, assim como no Brasil, há tradições artesanais dos povos indígenas, dos povos africanos e dos demais imigrantes, de diversas etnias, que ocuparam o território em diferentes períodos, dando origem a uma extensa variedade de procedimentos e objetos (ANDRADE, 2008). Porém, foi somente na década de 1960 é que se teve um primeiro interesse comercial pelo artesanato de Santa Catarina e a partir disso o governo passou investir em programas como o PROCARTE (Programa Catarinense de Desenvolvimento do Artesanato). No ano de 2000, a Lei N. 11390 autoriza o Poder Executivo a isentar do ICMS produtos artesanais produzidos por artesãos autônomos de Santa Catarina. Contudo, para usufruir do benefício, o artesão deve estar associado a entidade federativa dos artesãos catarinenses através do documento de identificação que o qualifique como tal. Em 2009 é criada pelo governador Luiz Henrique da Silveira a Lei N. 14.830, que dispõe sobre a criação do Conselho Estadual do Artesanato e da Economia Solidária - CEAES, vinculado a Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação. O CEAES é um órgão colegiado de caráter permanente e com composição partidária entre governo e sociedade civil de caráter consultivo e deliberativo. Além disso, em 2013, a Lei nº 16.010 institui a obrigatoriedade de um espaço dedicado à exposição e comercialização do artesanato catarinense em eventos que recebam apoio financeiro do Governo do Estado de Santa Catarina. O órgão responsável pelo artesanato na Prefeitura Municipal de Florianópolis é o Instituto de Oportunidades de Florianópolis – IGEOF, criado em dezembro de 2003 com o propósito de promover oportunidades sustentáveis de renda na cidade por meio do trabalho em rede. A intenção do IGEOF é de que o artesanato seja uma atividade econômica que fomente a geração de renda, desenvolvimento econômico, cultural e artístico da cidade. Além disso, há a Federação das Associações, que tem como missão o fomento e a defesa dos interesses dos Artesãos Catarinenses e de suas Associações na execução 5
de atividades artesanais e culturais no Estado de Santa Catarina. Atualmente congrega 30 associações. A Associação de Artesanato foi escolhida para representar o segmento dos artesãos nessa pesquisa por ser a segunda maior associação do Estado e por nascer com o apoio de uma importante instituição de ensino do Estado de Santa Catarina. Com objetivo de fomentar o associativismo dos artesãos e gerar possibilidades capazes de satisfazer às necessidades de melhoria de qualidade de vida dos artesãos, o Núcleo Integrado de Pesquisa e Extensão (NIPE/ESAG/UDESC), sob a coordenação da Professora Dra. Clerilei Aparecida Bier, iniciou a constituição de uma associação para abrigar os artesãos da grande Florianópolis. Assim, no ano de 2003 foi criada a Associação dos Artesãos, com a finalidade de consolidar e valorizar a profissão do artesão e o desenvolvimento do artesanato, por meio de ações organizadas que promovessem e significassem a atividade como importante geradora de ocupação e renda. Houve alterações em 2007 do nome da Associação de Artesãos e ela passou a ter como objetivo incentivar e divulgar a produção artística, gastronômica e cultural do Estado de Santa Catarina, junto à comunidade, visitantes e turistas, proporcionando momentos de lazer e cultura. Atualmente a feira de artesanato da Associação de Artesãos acontece às terças-feiras e aos sábados na Praça XV de Novembro, no centro de Florianópolis, contando com 52 expositores associados e três filiados. A Feira da Associação de Artesão é um evento que se realiza através de exposição e comercialização dos produtos elaborados por artesãos autônomos no Estado de Santa Catarina. Quanto às barracas, aquelas que são utilizadas atualmente foram doadas pelo Banco do Brasil através do “Projeto Sustentabilidade”. A Prefeitura apoia a feira, disponibilizando o uso do espaço público e da energia elétrica. A respeito da hierarquia organizacional da Associação de Artesãos tem-se: a diretoria executiva que possui maior autonomia; seguida do grupo gestor. A organização da feira é feita obedecendo ao artigo 12 do regulamento, no qual afirma que a mesma é desempenhada pelo grupo gestor em conjunto com a diretoria da Associação, constituída por um diretor executivo, vice-diretor executivo, um diretor financeiro, um vice-diretor financeiro, primeiro e segundo secretários. A Associação ainda conta com uma comissão de avaliação, constituída por 12 membros, eleitos em assembleia geral, pelo prazo de 1 ano e um conselho fiscal composto por 5 membros da Associação. Na próxima seção apresenta-se a análise da dimensão da confiança e da solidariedade na Associação de Artesãos. 3.1 Dimensão da confiança e da solidariedade na Associação de Artesãos: potenciais de participação A feira de artesanato da Associação de Artesanatos como destacado na seção anterior, ocorre na Praça XV de Novembro, no centro de Florianópolis e conta com 52 expositores associados e três filiados. De acordo com o artigo 4o do estatuto da Associação de Artesãos, é considerado artesão toda a pessoa que se dedique individualmente à atividade manufatureira pura e/ou mecanizada, com domínio e controle integrais do processo produtivo e que tenha como resultado final a produção, restauro ou reparação de bens artísticos, utilitários e alimentares, de estilo tradicional, contemporâneo ou livre. Assim, o artesanato é considerado como o produto da habilidade de modificar, agrupar e lapidar materiais diversos, formando uma peça ou instalação com originalidade, arte e técnica. Conforme apontado anteriormente, é preciso reconhecer a importância das diferentes instituições para o desenvolvimento e ampliação das atividades artesanais em Florianópolis. Segundo a teoria do capital social, grupos de profissionais que interagem entre si compartilhando informações, recursos e experiências tendem a ser mais bem estruturados. Assim, é relevante compreender como ocorreu o processo de consolidação da Associação de Artesãos para, então, reconhecer quais organizações e indivíduos tiveram papel determinante 6
na sua formação. Portanto, a pesquisa de campo buscou aprofundar quem teve papel determinante nesse processo de fundação da Associação de Artesãos e quem contribuiu de maneira efetiva para a organização do artesanato em Florianópolis. Durante as entrevistas recupera-se a importância da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC para a fundação da Associação de Artesãos, destacando o papel das universidades locais para a dinamização da economia local: “Foi o pessoal da UDESC e um grupo do curso de Administração. Todas as feiras funcionavam, mas era muito rudimentar, e o grupo da UDESC que resolveu pegar isso e deixar mais formal” (Entrevistado 13). “A gente teve um apoio muito grande da UDESC, e nossa avaliação primária foi feita no prédio da UDESC mesmo” (Entrevistado 6). Outros entrevistados acrescentam o apoio que tiveram do Banco do Brasil e da Prefeitura, como no caso do entrevistado 4 que destaca quais as principais instituições que contribuíram com a fundação da feira: “A UDESC, Banco do Brasil e a Prefeitura”. Dos 14 entrevistados, quatro artesãos não souberam informar sobre os fundadores da feira o que demonstra que há, ainda, a falta de informação sobre a história da Associação de Artesãos. No que se refere ao tempo que o artesão está associado à Associação de Artesãos, do total de 14 artesãos entrevistados, nove estão associados a mais de cinco anos, os cinco restantes estão associados a menos de cinco anos. Quando indagados sobre o motivo pelo qual participam da Associação de Artesãos, muitos artesãos pontuam que a participação se deve ao interesse de divulgação e comercialização do próprio trabalho: “Para divulgar o trabalho, fonte de renda, visibilidade de vendas” (Entrevistado 1). “Porque eu gosto de fazer artesanato, e a gente tem que vender” (Entrevistado 6). “Porque tenho possibilidade de expor meu trabalho de artes plásticas” (Entrevistado 7). No que se refere ao ambiente de trabalho no qual os produtos são comercializados, alguns entrevistados destacaram que o mesmo é atrativo, agradável e tranquilo, conforme ilustrado pelas falas a seguir: “Eu gosto, foi a primeira feira que começamos. Deram apoio para o nosso trabalho. Lugar agradável, tranquilo” (Entrevistado 8). “Participo pelo espaço, pra poder expor o meu trabalho, e estar mais envolvida com o artesanato que é a minha área” (Entrevistado 3). A participação na Associação de Artesãos também está relacionada, de acordo com alguns entrevistados, com o interesse de desenvolver atividades ocupacionais e terapêuticas: “Porque a princípio eu precisava fazer uma terapia. Eu era diretora de escola em SP, era muita agitação. Cheguei aqui e precisava fazer alguma coisa. Adorei fazer artesanato e agora estou aqui” (Entrevistado 12). “Eu tinha problema de depressão, e comecei ter aulas de artesanato. Daí fiz avaliação na feira e passei e estou aqui desde então. E melhorou muito minha vida. Agora meu trabalho é ficar aqui e eu faço por gosto mesmo” (Entrevistado 14). Além desses fatores mencionados, a Associação de Artesãos é considerada uma entidade que pela sua formalização e organização facilita a comercialização dos produtos dos artesãos, destacado nas falas a seguir: “Porque precisa se filiar a alguma entidade” (Entrevistado 10). “Tudo na vida tem que ser organizado, mesmo que seja o artesanato, que é mais um hobby, tem que ter essa organização” (Entrevistado 13). Portanto, dentre os motivos pelos quais os artesãos participam da Associação de Artesãos tem-se: divulgação e apoio ao trabalho; o gosto pelo artesanato e necessidade de comercialização (imposição legal); necessidade de filiar-se a uma entidade organizada; continuidade da participação na antiga organização que existia no Parque da Luz e o artesanato como atividade ocupacional e terapêutica. Dando continuidade à análise, quando indagados sobre se existe algum benefício de fazer parte da Associação de Artesãos, 13 dos entrevistados destacaram que existem inúmeros benefícios. Dentre os quais, observam-se os pessoais e os comerciais. No âmbito dos benefícios 7
pessoais têm-se as interações e o aprendizado que ocorre pela proximidade física dos artesãos, corroborado pelas falas a seguir: “O maior benefício é o espaço, que é legal. E também pra poder interagir com outras pessoas que trabalham na mesma área que a minha” (Entrevistado 3). “Justamente a exposição e o espaço. E aqui eu aprendo muito, não há faculdade que ensine mais do que aqui. Eu prefiro ficar aqui do que passear” (Entrevistado 4). “É um grupo bom, legal, companheiro” (Entrevistado 9). No âmbito dos benefícios comerciais, de formalização e de organização observa-se a importância de um espaço comum de comercialização e divulgação do artesanato, bem como de uma estrutura de gestão adequada para a realização dos trabalhos, contando com secretaria, gerência e coordenação, conforme as falas a seguir: “Sim, você tem um espaço para expor o seu trabalho, para comercializar. É uma vitrine. A barraca é da associação, mas a gente ganha ela pra trabalhar” (Entrevistado 1). “É a carteira, né. Você precisa se filiar para ter a carteira de artesão” (Entrevistado 10). “É que você não corre o risco de ter o produto apreendido. Se você não for associado e não tiver associado, seus produtos são apreendidos” (Entrevistado 13). Todavia, um dos entrevistados destaca o fato de não ter visto benefício, conforme a fala a seguir: “Até agora não vi nenhum” (Entrevistado 7). No que se refere ao tamanho do grupo nos últimos cinco anos, pode-se perceber, pela fala dos entrevistados, que ele permaneceu o mesmo, apesar de no transcurso desse período ter ocorrido oscilações e grande rotatividade de artesãos. As razões dessa rotatividade estão fundamentadas numa lógica do curto prazo, no qual os artesãos têm expectativas de vendas já no início do processo associativo. Entretanto, os artesãos mais antigos, tendem a permanecer associados. Tal percepção é compartilhada pela maioria dos entrevistados, conforme as falas a seguir: “No começo era bem maior, agora aumentou de novo, mas ainda não chegou ao que era. As pessoas têm uma visão de feira diferente. Tem muitos que acham que vem e já vão vender rápido. Tem que formar uma clientela, como se fosse uma loja. Tem um grande vai e vem de artesões. Uma rotatividade grande” (Entrevistado 1). Ainda em relação ao tamanho do grupo muitos destacam o aspecto da rotatividade, conforme as falas a seguir: “Manteve o tamanho. Foi muito rotativo. Os mais antigos tão sempre aí, mas meio que manteve” (Entrevistado 3). “Diminuiu um pouco. Agora chega no verão aumenta” (Entrevistado 5). “O grupo sempre aumenta e diminui, em função das características do trabalho, da pessoa. As pessoas acham que vão ganhar dinheiro do dia para a noite” (Entrevistado 8). “Bem dizer, mantém o mesmo. Mas há uma rotatividade bem grande, porque a pessoa entra e acha que vai vender e não vende, daí sai. E outros ficam” (Entrevistado 11). Já no que se refere aos problemas e dificuldades que ocorrem nas atividades desenvolvidas pela Associação de Artesãos, cinco dos entrevistados destacam que os mesmos são resolvidos por meio de conversas informais, assembleias e reuniões. A fala seguinte ilustra as formas pelas quais os problemas são resolvidos: “Normalmente se faz reunião, decide em grupo, em assembleia o que tem que ser feito” (Entrevistado 2). Além disso, alguns dos artesãos depositam confiança nas escolhas da presidente e dos gestores, deixando a cargo deles o processo de decisão para resolução dos problemas, conforme as falas a seguir: “Geralmente é o pessoal da diretoria que pega junto e tenta resolver” (Entrevistado 3). “Nós temos a presidente. Toda uma diretoria que você conversa e gestores que tomam conta” (Entrevistado 10). “A Associação de Artesãos é a associação. E a feira é um espaço dentro da associação. Então o problema da feira é resolvido com a gestora. A presidente resolve os problemas da Associação de Artesãos” (Entrevistado 13). No que tange à participação dos associados nas atividades da Associação de Artesãos observa-se que a grande maioria participa, conforme expressam as falas a seguir: “Sim, bem participativo. Eles participam da feira, das atividades, da organização em si. A gente tem um 8
trabalho voluntário dentro da feira. Eu cobro, eu organizo, eu coloco gente nova, eu vejo aonde as pessoas vão ficar...” (Entrevistado 1). “De todas as associações, a mais participativa é a Associação de Artesãos. Eu percebo por fazer parte de outras associações, eu percebo que das três que eu participo, a mais integrada é a Associação de Artesãos. Em termos de organização, de colaboração do pessoal. Tudo que tu pedes é acatado. O pessoal é parceiro, é uma equipe de trabalho na verdade” (Entrevistado 2). “O pessoal aparece e participa das reuniões” (Entrevistado 5). No entanto, um dos entrevistados tem uma visão divergente da maioria, considerando que a participação não é significativa e que não há efetivamente cooperação, conforme a fala a seguir: “Sempre o ambiente é invejoso, eu acho que ninguém deixa fazer nada parecido. Eu, por exemplo, já pintei na França e lá há um artesão do lado do outro fazendo pinturas e todos vendem, porque a venda está no gosto de quem compra, não na peça a ser vendida pelo pintor” (Entrevistado 7). No que tange ao fato de haver ou não segregação entre os artesãos associados à Associação de Artesãos, observa-se que a maioria dos entrevistados acredita que não há. Há convivência entre os associados, embora um dos entrevistados justifica não conhecer todos os artesãos que participam da feira. Tais percepções são ilustradas pelas falas a seguir: “Não. Da nossa parte não. A rivalidade sempre existe, a concorrência, a rivalidade. Mas da nossa parte não. A gente se dá bem com todos. Rivalidade de associações com associações” (Entrevistado 1). “Não, na nossa associação eu não sinto isso. Nesse ponto todo mundo se dá muito bem, ninguém faz diferença com ninguém. O que eu sinto é a falta de interesse por alguns. Automaticamente esses ficam um pouco de lado por não terem interesses de se envolver” (Entrevistado 3). “Tem pessoa que não se envolve, mas daí é da personalidade da pessoa. Mas o pessoal em geral é bom, e participam” (Entrevistado 13). Além disso, um dos entrevistados enfatizou haver sim segregação. A seção a seguir aprofunda os elementos que dizem respeito à liderança e representatividade dos artesãos na Associação de Artesãos. 3.2 Liderança e capital social na Associação de Artesãos Em relação a importância dos representantes da Associação de Artesãos para as atividades da feira, 11 dos 14 entrevistados destacaram a presença de um voluntário, que contribuiu para a gestão, estruturação e a organização da feira, cuja esposa é artesã e associada da feira. Além disso, foram destacadas as atividades desenvolvidas pela presidente e pela gestora. Tais fatos são corroborados pelas falas a seguir: “Olha, até antes de eu pegar a diretoria, a referência maior que a gente tinha era o coordenador voluntário e sua esposa. Até hoje eles seguem bastantes participativos, dando muita força. Ele é meu padrinho aqui. E todo mundo sente ele ainda como a pessoa que cuida. Ele tá sempre ali dando uma força, ele seria assim o nosso pai, o nosso padrinho aqui” (Entrevistado 3). “A gestora. Ela coordena tudo. Quando tem algum problema, todo mundo recorre a ela. Mas o coordenador voluntário também é excelente, e a presidente também” (Entrevistado 4). “A presidente, o coordenador voluntário, ele tem assim um estilo militar, ele é brabo e o pessoal respeita mais. E isso é bom para a feira. E a gestora” (Entrevistado 6). “A senhora gestora. Ela organiza a montagem, organiza os lugares” (Entrevistado 7). “Ultimamente tivemos uma pessoa acompanhando a presidência, o coordenador voluntário. Pegou a causa, batalhou pela organização...” (Entrevistado 8). Todavia, um dos entrevistados destacou o fato de não haver liderança efetiva, criticando, em certa medida, a gestão. Quando questionados sobre quem desempenha o papel de liderança na Associação e por que o desempenha, três pessoas foram citadas: a gestora, a atual presidente e o coordenador voluntário. Mesmo ele não sendo artesão, ficou com o encargo de gerir e formalizar a feira para colaborar com sua esposa, que é artesã. As duas primeiras são mencionadas pela própria posição 9
que possuem na feira, e o coordenador voluntário por ser uma liderança nata e engajada. As falas a seguir demostram quem cumpre o papel de líder na Associação: “Nossa presidente executiva. Ela foi eleita pelos artesões para fazer isso” (Entrevistado 1). “O coordenador voluntário. Pela força, pela organização, pela liderança mesmo” (Entrevistado 2). “Acho que o coordenador voluntário, apesar de ele não expor e nem ser artesão” (Entrevistado 8). “Olha, eu acho que a diretoria toda pega junto. Todo mundo pode resolver, mas ninguém em especial. E são todos de fácil acesso” (Entrevistado 10). “Gestora, presidente e coordenador voluntário. Porque eles são líderes mesmo, naturais, eles pegam as coisas e fazem” (Entrevistado 13). No que se refere a como são escolhidos os representantes do grupo, 12 dos 14 entrevistados destacaram que ocorre por meio de eleição em assembleia, conforme as falas a seguir: “Em assembleia geral, por voto. No final do ano, no mês de novembro” (Entrevistado 1). “Votação na assembleia geral. Passa o pessoal avisando da chapa e perguntando quem quer se candidatar...” (Entrevistado 4). De acordo com o artigo 12 do Estatuto da Associação de Artesãos, a Assembleia Geral é órgão soberano da instituição e se constitui dos associados em pleno gozo de seus direitos estatutários. Compete a Assembleia Geral: a) Eleger a Diretoria, a Comissão de Avaliação e o Conselho Fiscal; b) Destituir os administradores; c) Apreciar recursos contra decisões da diretoria; d) Decidir sobre reformas do Estatuto; e) Conceder o título de associado benemérito e honorário por proposta da diretoria; f) Decidir sobre a conveniência de alienar, transigir, hipotecar ou permutar bens patrimoniais; g) Decidir sobre a extinção da entidade, nos termos do artigo 33º; h) Aprovar as contas; i) Aprovar o regimento interno. Ademais, quando questionados sobre como ocorre a tomada de decisão no grupo, a maioria dos entrevistados destacou que ela é feita em conjunto, por meio de assembleias e reuniões ou pela diretoria, conforme as falas a seguir: “Geralmente entre a diretoria, a gente se conversa, e se for necessário a gente convoca os artesões. Se for algo mais simples a gente decide na diretoria” (Entrevistado 1). “Principalmente entre as diretorias. Esse ano eu pensei em buscar a opinião do grupo. Estava uma história de ir lá pra baixo e não ir. A diretoria é importante e ela tá tomando frente, mas se é um grupo, tem que ser a vontade geral. Não adianta eu pensar no que eu acho melhor pra feira. É o grupo que precisa dizer o que quer. Em casos extremos passamos uma pesquisa de opinião pra cada um expressar suas necessidades” (Entrevistado 3). “Geralmente por conversa com a presidente, vice-presidente, os cargos mais próximos são chamados e se conversam” (Entrevistado 8). “No boca-a-boca a gente toma algumas decisões, e se tem alguém que discorda, a gente tenta chegar num consenso” (Entrevistado 13). A seção a seguir destacará a confiança e solidariedade para compreender as relações entre os artesãos, as redes e as relações interorganizacionais. 3.3 Confiança e solidariedade: compreendendo as redes e relações interorganizacionais No âmbito da confiança, quando questionados se confiam nas outras pessoas da Associação, oito dos 14 entrevistados destacam que sim. Dentre os demais entrevistados destacamos dois que confiam muito: “Confio muito. Porque é tudo gente simples e não tem interesse” (Entrevistado 6). E três que confiam pouco: “Confio pouco. Tem umas que dá de confiar bastante, tem outras que não. Então confio pouco” (Entrevistado 1). No quadro dos entrevistados da Associação de Artesãos, quando questionados se acreditam que na Associação as pessoas confiam umas nas outras, 11 dos 14 entrevistados acreditam que sim, corroborado pelas falas a seguir: “Creio que sim, uma sai e deixa a barraca para a outra cuidar...” (Entrevistado 5). “Olha, eu imagino que sim. Eu não tenho contato com todo mundo, mas quem fica perto de mim, eles confiam” (Entrevistado 10). Dentre os demais entrevistados apenas um destacou que as pessoas confiam pouco umas nas outras. Da mesma 10
forma, um dos entrevistados destacou que confia muito: “Acho que confiam bastante” (Entrevistado 12). Ainda no âmbito da confiança, quando questionados se confiam de maneira geral na Federação de Artesãos apenas três destacaram que sim. Um dos entrevistados destacou confiar muito na Federação, conforme a fala: “Pelo tempo de contato que eu tive, eu confio muito, confio bastante” (Entrevistado 3). Os demais entrevistados preferiram não opinar por desconhecer ou não ter contato com a Federação de Artesãos: “Muitas nem sabem ao certo o que é Federação de Artesãos. Têm a carteirinha da Federação de Artesãos, mas nem sabem o que é. Falta um pouco de informação sobre isso” (Entrevistado 1). No quadro de avaliação da solidariedade, 13 dos 14 entrevistados responderam positivamente quando questionados se os artesãos da Associação de Artesãos se ajudam, conforme as falas a seguir: “Ah, se ajudam sim. Uma cuida da barraca pra outra, se alguém passa mal a outra recolhe e ajuda... Nesse ponto sim” (Entrevistado 1). “Sim, sim, sempre. Cuidam das coisas aqui, trocam dinheiro, notas e tal, quando precisam, é muito bom nisso” (Entrevistado 12). No que se refere, ainda, à solidariedade, quando questionados se acreditam que a Federação de Artesãos ajuda os artesãos da Associação de Artesãos, uma parte significativa dos entrevistados preferiu não opinar. Outra parcela afirmou que há muito pouca ou não há ajuda, corroborado pela fala a seguir: “No geral, nem faz diferença. Pra mim não, não vejo diferença. Não é muito atuante” (Entrevistado 1). Alguns poucos entrevistados destacaram o papel de ajuda da Federação de Artesãos no que tange ao acesso à carteira de artesão e a informes de feiras e eventos no país: “Ajuda, ela nos informa de tudo que acontece de feiras fora daqui, do Brasil inteiro. Não é frequente, também não sei qual a frequência das outras feiras. Acredito que quando tem a informação é repassado” (Entrevistado 2). “O que tem ajudado é fornecendo a carteirinha, e nesse ano ele trouxe uma oportunidade de expor alguns artesões em uma nova feira” (Entrevistado 3). Quando questionados se já ajudaram algum artesão da Associação de Artesãos, a grande parte dos entrevistados acredita já ter ajudado seus pares. E quanto à forma como essa ajuda ocorreu, a maioria destacou: o transporte de materiais, montagem das barracas, cuidado das barracas, entre outras formas ilustradas pelas falas a seguir: “Ah, sim, claro. Eu ajudo a transportar material se precisar, ajudo a desmontar, eu monto, o que tiver ao meu alcance eu faço” (Entrevistado 1). “Para as coisas do dia-a-dia também a gente ajuda. Carregar as coisas, trocar dinheiro, cuidar das coisas...” (Entrevistado 8). Apenas um dos entrevistados destacou o fato de não ter ajudado outros integrantes e a feira. No quadro dos entrevistados, oito afirmaram que já ajudaram algum artesão de outra Associação, especialmente na montagem das barracas, indicação para ingressarem na Associação de Artesãos, ensinamento de alguma técnica, fornecendo materiais, entre outras formas, conforme as falas a seguir: “Também já. Da mesma forma... Quando vem um temporal, um corre para ajudar o outro, até pra levar material pra casa às vezes” (Entrevistado 1). “Ajudando a montar e cuidar da barraquinha” (Entrevistado 2). “Eu já tentei indicar algumas pessoas que queriam estar entrando na feira. Uma conhecida minha eu indiquei pra avaliarem. Indiquei ela pra novas oportunidades” (Entrevistado 3). “Já, inclusive de fora do município. Eles vêm e pedem para eu ensinar a bordar...” (Entrevistado 5). Os demais entrevistados, quando questionados sobre a ajuda promovida a outros artesãos de fora da Associação de Artesãos, não quiseram opinar ou acreditam não ter promovido relações de ajuda com artesãos de fora da feira. Quando questionados se consideram que as pessoas são solidárias ou cooperativas umas com as outras dentro da Associação de Artesãos, 12 dos 14 entrevistados responderam que sim. Dentre os 12 artesãos que responderam positivamente a maioria destacou que há receptividade 11
aos novos integrantes, apoio nos momentos de dificuldades e trabalho em equipe, conforme as falas destacadas a seguir: “No geral sim. Tem um ou dois que não. Mas no geral sim, são. Já estou há quatro anos aqui e já sei que eles colaboram, se unem, ajudam as pessoas novas que entram, tentam acolher...” (Entrevistado 1). “Aqui sim... Eu tive a minha mãe durante um tempo afastada por causa da doença. Pessoas que eu nem tinha muita intimidade foram visitá-la no hospital. Deu de perceber que as pessoas têm um carinho diferente aqui” (Entrevistado 2). “Sim, são bastante. No que você precisa, se a pessoa tem como ajudar, elas ajudam” (Entrevistado 10). “São, são. Porque estamos no mesmo barco, né. Todo mundo quer crescer junto” (Entrevistado 11). Apenas um dos entrevistados afirmou que as pessoas da Associação de Artesãos não são solidárias e cooperativas, conforme a fala a seguir: “Não. Falta companheirismo e cultura, fundamentalmente” (Entrevistado 7). Quando questionados se consideram que as pessoas quando cooperam e se ajudam esperam alguma retribuição, 12 dos 14 entrevistados destacaram não acreditar que as pessoas ajam com essa intenção: “Não. Nada em troca” (Entrevistado 2). “Não espera. Eu não espero, por exemplo. Eu ajudo porque acho que devo ajudar e porque se precisa no momento, todo mundo precisa” (Entrevistado 4). “Não, não. Sem segundas intenções” (Entrevistado 6). No entanto, um dos entrevistados destacou que não poderia opinar, pois acredita que o ser humano é movido por paixões e interesses, conforme a fala a seguir: “O ser humano é movido por interesse, mas não sei a que ponto pode chegar isso aqui. Não tenho condições de responder” (Entrevistado 7). Quando questionados se nos últimos 12 meses trabalharam com outros membros da Associação dos Artesãos para fazer alguma coisa em benefício da própria Associação, oito dos 14 entrevistados afirmam que não, embora muitos sejam voluntários para atividades como avaliador, tesoureiro, gestor, entre outras. As falas a seguir demostram as percepções dos associados: “Não. Talvez meu próprio cargo que é voluntário, já faço isso faz 3 anos. Sou a primeira a chegar e a última a sair. Chego as 6 da manhã e sou a última a sair. Todas as vezes que tem feira” (Entrevistado 1). “Não, mas trabalho de avaliadora aqui, é voluntário...” (Entrevistado 6). “Não, não. Mas já fui tesoureira” (Entrevistado 13). Já os demais entrevistados acreditam que nos últimos 12 meses trabalharam para fazer algo em benefício da própria Associação, conforme a fala a seguir: “Sim, pelo fato da presidência. Ano passado eu era vice. Nesse ano eu sou presidente. Muita coisa no ouvido, muita reclamação na minha orelha. Mas estamos aí, faz parte. Querendo buscar o melhor e ajudar no máximo que der. Esse ano principalmente a minha maior responsabilidade foi estar tendo as reuniões com o IGEOF. Foi isso. Fazer esse intermédio de fazer esse projeto que eles queriam que a gente estivesse incluso. Além de atender as necessidades dos probleminhas das feiras” (Entrevistado 3). No que tange a forma como acontece a circulação de informações dentro da Associação de Artesãos, os entrevistados destacam que ela se dá por meio da comunicação direta, em reuniões, por telefone, via redes sociais e e-mails enviados pela gestão da feira, de acordo com as seguintes falas: “Faz muito tempo que a gente não faz uma reunião. Geralmente eu vou passando de barraca em barraca. Ou passando por e-mail. A gente tem todo o cadastro do pessoal, por e-mail e por telefone. Então qualquer informação eu mando via facebook, e-mail, e pessoalmente aqui na feira mesmo. Os responsáveis são a diretoria, gestores e avaliadores. Estamos sempre trabalhando junto. Se eu não venho na feira algum outro assume a responsabilidade” (Entrevistado 3). “A secretária e a gestora, ou o coordenador voluntário avisam por e-mail, ou telefone ou barraca em barraca... Não tem uma frequência fixa, é quando precisa” (Entrevistado 11). Entretanto, um dos entrevistados critica a falta de comunicação existente na feira, segundo ele “Isso é o que quero saber. Falta comunicação na feira” (Entrevistado 7). Algumas 12
falas anteriores destacaram que a comunicação só ocorre quando há alguma demanda pontual e, também, verifica-se que não há uma frequência previamente definida de realização de reuniões para discussão sobre os problemas da feira. A próxima seção apresenta as principais considerações da pesquisa. 4 Considerações finais Ao analisar a dimensão da confiança e da solidariedade no quadro dos resultados da pesquisa, percebeu-se que dentre os principais motivos pelos quais os artesãos participam da Associação de Artesãos tem-se: divulgação e apoio ao trabalho; gosto pelo artesanato e necessidade de comercialização (imposição legal); necessidade de filiar-se a uma entidade organizada; continuidade da participação na antiga organização que existia no Parque da Luz e artesanato como atividade ocupacional e terapêutica. Dentre os benefícios de os artesãos fazerem parte da Associação de Artesãos observamse os de cunho pessoal e os de cunho comercial. No âmbito dos benefícios pessoais têm-se as interações e o aprendizado que ocorre pela proximidade física dos artesãos. No âmbito dos benefícios comerciais, de formalização e de organização, observa-se a importância de um espaço comum de comercialização e divulgação do artesanato, bem como de uma estrutura de gestão adequada para a realização dos trabalhos, contando com: secretaria, gerência e coordenação. Além disso, há rotatividade de artesãos, mas ainda é pequena se comparado a outras organizações. No que se refere aos problemas e dificuldades no quadro das atividades desenvolvidas pela Associação de Artesãos, verifica-se que eles são resolvidos por meio de conversas informais, assembleias e reuniões. Além disso, alguns dos artesãos depositam confiança nas escolhas da presidente e dos gestores, deixando a cargo deles o processo de decisão para resolução dos problemas. Assim, consideram que os representantes da Associação de Artesãos têm papel importante nas atividades da feira, destacaram, também, a presença de um voluntário, que contribuiu para a gestão, estruturação e a organização da feira. Quando questionados sobre quem desempenha o papel de liderança na Associação e por que o desempenha, três pessoas foram citadas: a gestora, a atual presidente e o voluntário. Já no que se refere a tomada de decisão do grupo, a maioria dos entrevistados destacou que ela é feita em conjunto, por meio de assembleias e reuniões ou pela diretoria, o que evidencia importância do contato pessoal e das relações interpessoais para a organização da Associação de Artesãos. Nesse sentido, a pesquisa constata o que é certo consenso na literatura, qual seja, de que grupos de profissionais que interagem entre si compartilhando informações, recursos e experiências, visando o bem comum, tendem a ser mais bem estruturados, caracterizando estruturas sociais e/ou comunidades baseadas na confiança, como é o caso da Associação de Artesãos e dos seus associados (PUTNAM, 1993; COLEMAN, 1988; BOURDIEU, 2007; SERAFIM et al, 2012). No âmbito da confiança e da solidariedade, quando questionados se confiam e são solidários uns com os outros, de maneira geral, os artesãos que compõem a Associação de Artesãos consideram que sim, mas quando questionados se confiam e se há solidariedade junto a Federação de Artesãos preferiram não opinar, o que pode denotar certo desconhecimento e falta de integração entre os artesãos da Associação de Artesãos e a Federação de Artesãos. No que se refere à confiança pelos artesãos diante dos gestores públicos, do município, do estado e dos vereadores, ficou evidente que há certa falta de credibilidade frente aos representantes públicos locais e estaduais (PUTNAM, 1993; COLEMAN, 1988; BOURDIEU, 2007; SERAFIM et al, 2012). O trabalho evidenciou que a confiança e solidariedade estabelecida entre os membros da Associação de Artesãos tem facilitado o compartilhamento de informações e conhecimento 13
e possibilitado a promoção de melhores oportunidades sociais e viabilidade econômica dos empreendimentos. Todavia a circulação de informações dentro da Associação de Artesãos é considerada ainda incipiente. Ela acontece atualmente por meio da comunicação direta, em reuniões, por telefone, via rede sociais e e-mail enviados pela gestão da feira. É preciso destacar que as iniciativas de criação do IGEOF pela Prefeitura Municipal e as ações da própria demonstram que as iniciativas locais caminham no sentido de maior envolvimento e articulação entre os diferentes atores e instituições. Tais iniciativas convergem com o que destaca Putnam (2002), que quanto mais desenvolvidos forem os sistemas numa comunidade, maior a probabilidade de que seus cidadãos sejam capazes de cooperar em benefício mútuo. Dessa forma, o KS identificado no contexto da Associação de Artesãos tem fortalecido a tomada de decisão e a execução de ações colaborativas que beneficiam toda comunidade local. No que se refere às evidências da importância do KS da Associação de Artesãos no contexto do artesanato local conclui-se que o intercâmbio de informações entre profissionais da área por meio de uma ampliação da rede de relações de confiança e busca de objetivos comuns - por meio do IGEOF, Federação de Artesãos, SEBRAE, diferentes artesãos em diferentes feiras - acarreta uma postura proativa e traz à tona o espírito cívico e a vida cooperativa, proporcionando espaços e estruturas de trabalho em equipe, instigando a inovação e a aprendizagem coletiva, fatores essenciais para o dinamismo econômico recente (ALBAGLI; MACIEL, 2003). Percebe-se, também, que tal perspectiva segue a intenção do IGEOF de que o artesanato seja uma atividade econômica que fomente a geração de renda, desenvolvimento econômico, cultural e artístico do município de Florianópolis. Assim, pode-se concluir que as tendências analisadas no transcurso desta pesquisa demonstram que esse é um campo em desenvolvimento e, portanto, há necessidade de ampliação das pesquisas empíricas de modo a resgatar as reais potencialidades e os reais limites do artesanato em Florianópolis e do potencial de dinamização do campo da Economia Criativa como alternativa mais compatível para o desenvolvimento local. Referências ALBAGLI, S.; MACIEL, M. L. Capital social e desenvolvimento local. In: LASTRES, Helena M. M.; CASSIOLATO, J. E.; MACIEL, M. L. Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003. p. 423-440. ANDRADE, J. J. de; ASEFF, M.; ANDRADE, R. Feito a mãos: o artesanato em Santa Catarina. Florianópolis: Tempo Editorial, 2008. BARON, R. A.; MARKMAN, G. D. Beyond social capital: The role of entrepreneurs' social competence in their financial success. Journal of Business Venturing, v. 18, n. 1, p. 41-60, 2003. BAQUERO, M. Globalização e Democracia Inercial: O que o capital social pode fazer na construção de uma sociedade participativa? In: BAQUERO, M.; CREMONESI, D. Capital Social: Teoria e Prática. Ijuí: Unijuí, 2006. pp. 42-69. BOURDIEU, P. The Forms of Capital. In: RICHARDSON, J. (Ed.). Handbook of theory and research for the sociology of education. Greenwood Press, pp. 214-258. CAIADO, A. S. C. (coord.). Economia Criativa na cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. São Paulo: FUNDAP, 2011. COLEMAN, J. S. Social Capital in the Creation of Human Capital. The American Journal of Sociology, v. 94, S95-S120, 1988. FALCÃO, J. M. Artesanato: as mãos visíveis do mercado. 2008. Disponível em: <http://migre.me/iSpIC >. Acesso em: 14 fev. 2014. 14
FONSECA, A. C. et al. Economia Criativa: um conjunto de visões. São Paulo: Fundação Telefônica, 2012. FRANCO, A. Capital Social. Brasília: Instituto Milleniun, 2003. FUKUYAMA, F. Confiança, as virtudes sociais e a criação da prosperidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. GROOTAERT C.; NARAYAN, D.; JONES, V. N.; WOOLCOCK, M. Questionário integrado para medir capital social (QI-MCS). Grupo Temático sobre Capital Social. Washington, D.C.; World Bank, 2003. HARTLEY, J. Creative Industries. London: Blackwell, 2005. Disponível em: <http://goo.gl/mXg0s>. Acesso em: 15 out. 2012. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Sistemas de informações e indicadores culturais. Estudos & pesquisas, 18. Brasília, 2006. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986. MACHADO, R. M. Da indústria cultural à economia criativa. Artigo apresentado originalmente como comunicação no IV Encontro Nacional de Estudos do Consumo (IV ENEC), realizado em setembro de 2007 no Rio de Janeiro, e promovido pelo CPDA/UFRRJ, UFF e CAEPM/ESPM. MARTES, A. C. B.; RODRIGUEZ, Carlos L . Church membership, social capital, and entrepreneurship in Brazil communities in Brazilian communities in the U.S. In: Curt H. Stiles; Craig S. Galbraith. (Org.). Ethnic Entrepreneurship: Structure and Process. Boston: Elseveier Ltd., 2004, v. 1, p. 171-202. MARTELETO, Regina Maria; SILVA, Antonio Braz de Oliveira e. Redes e capital social: o enfoque da informação para o desenvolvimento local. Ci. Inf., Brasília, v. 33, n. 3, dez. 2004. Disponível em <http://migre.me/iSq29>. Acesso em: 14 mar. 2014. MARTINS, Saul. Contribuição ao estudo científico do artesanato. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1973. MINISTÉRIO DA CULTURA. Plano da Secretaria da Economia Criativa: Política, diretrizes e ações 2011-2014. Brasília, 2011. Disponível em: < http://migre.me/iSqh1> NAHAPIET, J.; GHOSHAL, S. Social capital, intellectual capital, and the organizational advantage, Academy of Management Review, v. 23, pp. 242-266, 1998. NICOLA, M. P.; V. DIESEL. Capital social em comunidade rural no âmbito de um projeto de desenvolvimento regional participativo: o caso carro quebrado, Pinheiro Machado, RS. Revista Científica do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural e do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural, 10 ed., Ano X, jan/dez 2003. PORTES, A. Social Capital: Its Origins and Applications in Modern Sociology. Annual Review of Sociology 24, 1-24, 1998. Disponível em: <http://migre.me/iSq7U> Acesso: 30 ago. 2012. PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getulio Vargas, 2002. UNCTAD - UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. Creative economy report: a feasible development option. New York, 2010. Disponível em: <http://migre.me/byaVj>. Acesso em: 27 out. 2012. UNESCO. Convention on the Protection and Promotion of the Diversity of Cultural Expressions, 20 October 2005, 33rd session of the General Conference. Disponível em: <http://migre.me/iSqbP> Acesso em: 30 ago. 2012. VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 1998. TRIVIÑOS, A. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1987. 15
WILLERS, E. M.; LIMA, J. F.; STADUTO, J. A. R. Desenvolvimento local, empreendedorismo e capital social: o caso de Terra Roxa no estado do Paraná. Interações, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 45-54, 2008.
16
LIMITAÇÕES TEÓRICAS DA ECONOMIA CRIATIVA
Resumo: As indústrias criativas surgiram nos anos 90 para classificar os setores em que a criatividade é o principal insumo capaz de gerar desenvolvimento econômico e social. Este artigo tem como objetivo apresentar uma discussão a respeito das limitações teóricas da área da economia criativa, que compreende a Indústria criativa e também os setores considerados criativos, a fim de contribuir para o debate acadêmico do tema. Analisamos conteúdos acadêmicos e relatórios governamentais e destacamos as limitações encontradas dentro deste campo de pesquisa, de modo a verificar o nível de consenso sobre o construto. Concluiu-se que há uma necessidade de aprofundamento das pesquisas acadêmicas no campo da economia criativa visando superar as limitações descritas para que a área seja consolidada como um novo campo de estudo das ciências sociais. Espera-se que o artigo possa contribuir no cenário da pesquisa e investigação no âmbito científico, fomentando assim uma área de estudo que auxilie governos e instituições nos processos de formulação de políticas e marcos regulatórios, propiciando desenvolvimento e avanços para os setores criativos. Palavras Chave: economia criativa, limitações, indústrias criativas
1 INTRODUÇÃO
A economia criativa, objeto de investigação deste trabalho, é um tema que vem ganhando força e notoriedade por sua relevância, que pode ser percebida nas mais diversas formas de publicação e comunicação, como trabalhos acadêmicos, planos de políticas públicas, relatórios de empresas do setor privado, sites de notícias e de debates econômicos, programas de TV, mídias sociais, relatórios de pesquisas estatísticas, entre outros. Apesar da importância apresentada, este campo da economia ainda é recente. Ao que tudo indica, o termo “economia criativa” emergiu no ano de 2001 através da publicação de John Howkins, intitulada “The Creative Economy – How people make money from ideas”, em Londres (THE CREATIVE NOVA SCOTIA LEADERSHIP COUNCIL, 2012).
Juntamente com a rápida emergência do tema, os estudos e as publicações realizadas passaram a demonstrar grandes variações no que diz respeito à definição de economia criativa e da classificação dos setores considerados como indústrias criativas. Atenta à ascensão do tema, a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) publicou a primeira perspectiva das ONU a respeito da economia criativa o I relatório de economia criativa (UNCTAD, 2008), trazendo uma melhor compreensão das questões subjacentes à economia criativa e sua dimensão do desenvolvimento. Este relatório foi de imensa importância para o setor, pois abordou o desafio de avaliar a economia criativa de um modo amplo e tem sido amplamente utilizado como referência pelos formuladores de políticas de desenvolvimento, profissionais e pesquisadores. De acordo com a Fundação do Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo (FUNDAP-SP)(2011), diferentemente dos estudos feitos no Reino Unido, que têm foco nos direitos autorais (DCMS, 2001), os realizados pela UNCTAD abordam a questão da criatividade, verificando suas interações com a tecnologia e procurando subsidiar a elaboração de políticas que fomentem essa produção e estimulem a economia. Diante destas divergências a respeito dos conceitos da economia criativa, percebe-se a necessidade de compreender melhor as complexas interações entre os componentes econômicos e culturais, visando esclarecer o conceito. Porém, cientificamente, são raros os estudos nesta área, com esta intenção. A rigor, destaca-se como o primeiro livro sobre o assunto, o já anteriormente mencionado, trabalho de Howkins (2001). Já as publicações de caráter governamental encontram-se em maior número, agregando conceitos aos documentos de políticas, planos estratégicos, programas de ação e projetos de órgãos e agências governamentais. No Brasil, por exemplo, este assunto ainda é pouco aprofundado dentro da academia. Percebem-se poucas publicações, pesquisas, estatísticas e estudos na área. Vale destacarmos algo fundamental: em ambos os caso -conceitos científicos e governamentais de economia criativa - podemos perceber uma lógica comum a eles: normalmente o conceito se expressa através de uma definição, seguida de um conjunto de setores que compõem a economia criativa. Neste trabalho iremos tratar de alguns assuntos relativos à economia criativa e os desafios enfrentados para conceituar a área de estudo dentro docampo científico. Para tal, serão aboradadas as limitações encontradas, como divergências de conceitos e a falta de embasamento teórico. Também serão abordados conceitos como indústrias
criativas e culturais, assim como setores criativos. Desta forma, como objetivo principal deste trabalho, tem-se destacar as limitações teóricas no campo da economia criativa, assim como fazer um breve apanhado das diferentes definições de economia criativa e seus conceitos correlatos por meio de análise e comparação de documentos e artigos publicados a respeito do setor e sua relevância enquanto constituição de uma nova área de estudo econômica. Devido à rápida ascensão do tema, a economia criativa acabou por se popularizar diante de inúmeras utilizações da expressão. Porém nota-se que ainda carece de uma discussão dos conceitos-chave que dizem respeito ao objeto de estudo desta área, permitindo que os os trabalhados produzidos possam ser melhor embasados, dando maior relevância e utilidade aos resultados tanto como insumos para políticas públicas quanto para a discussão científica. Tendo em vista o cenário de surgimento e expansão da economia criativa, composto por uma gama de diferentes conceitos e terminologias, estabelecemos três hipóteses neste trabalho: 1) A economia criativa seria meramente um setor derivado da economia da cultura, de modo a compreender a relevância do tema enquanto uma área própria dentro da história econômica. Segundo Reis (2008), se entendermos a economia criativa como uma mera reordenação de setores em uma categoria cunhada de “indústrias criativas”, não caberá novidade, já que a “criatividade é reconhecida como combustível de inovação desde o início dos tempos”; 2)Não há consenso entre os diversos relatórios e artigos científicos a respeito da definição, pois buscar-se-á evidências ao longo das obras a respeito da conceituação do setor; 3) Há equivalência dos conceitos de “indústria criativa” e “setores criativos”, devido ao fato que ambos foram originados da expressão inglesa “creativeindustries”, que em sua tradução significa tanto indústria quanto setor, confusão esta acarretada pela má interpretação na tradução dos termos. O método utilizado para este trabalho consistiu em uma pesquisa exploratória em fontes acadêmicas e também relatórios governamentais, com o foco em materiais produzidos no Brasil. A respeito da estrutura do trabalho, este será apresentado da seguinte maneira: primeiramente, abordaremos o surgimento das indústrias criativas e o debate entre as diferenças de conceitos de indústria criativa e indústria cultural, apresentando, por fim
um quadro ilustrando as diversidades de conceito dentro da indústria criativa; em seguida, abordaremos a economia criativa enquanto conceito, seu surgimento, as diferentes nomenclaturas dentro da área e como o tema vem sendo utilizado no Brasil; no quarto tópico trataremos dos setores criativos buscando destacar a necessidade de uma padronização dos mesmos, e apresenta-se uma tabela com índices de correlação entre os mais relevantes relatórios mundiais já publicados; no tópico cinco, abordaremos a questão das limitações de uma forma mais plena, já que o principal debate do presente artigo se refere à este assunto; por fim concluímos retomando os principais pontos e estabelecendo uma breve agenda para pesquisas futuras. 2INDÚSTRIAS CRIATIVAS OU INDÚSTRIAS CULTURAIS?
Partindo de uma definição da UNESCO (2006), as indústrias culturais e criativas diferenciam-se devido ao contexto em que ambas emergem. As indústrias culturais referem-se a indústrias que combinam a criação, produção e comercialização de conteúdos criativos que são de natureza cultural. Já as indústrias criativas abrangem uma gama mais ampla de atividades que incluem as indústrias culturais além de toda a produção cultural ou artística. A indústria cultural é geralmente associada ao termo indústria criativa. Segundo Lima (2006), alguns autores consideram que o conceito de indústria criativa surgiu, nos final dos anos 1990, como uma nova definição do setor cultural. Segers e Hujigh (2006) interpretam que o uso do conceito indústria criativa possibilitaria, aos formuladores de política, introduzir os aspectos econômicos às políticas culturais, escapando da rejeição que o termo indústria cultural possui (LIMA, 2006). Para a UNCTAD (2010), por exemplo, as indústrias culturais são tidas como aquelas que “combinam a criação, produção e comercialização de conteúdos intangíveis e culturais por natureza”. Esses conteúdos são tipicamente protegidos por direitos autorais e podem assumir a forma de produtos e serviços. Um aspecto importante das indústrias culturais, de acordo com a Unesco, refere-se ao fato de que elas são “centrais na promoção e manutenção da diversidade cultural e na garantia do acesso democrático à cultura”. Essa natureza dupla – combinando o cultural e o econômico – proporciona às indústrias culturais um perfil distinto. A definição de indústrias criativas remete ao fato de que estes setores não são apenas economicamente valiosos por si mesmos, mas funcionam como catalisadores e
fornecedores de valores intangíveis a outras formas de organização de processos, relações e dinâmicas econômicas de setores diversos (REIS, 2008 p.25). Da mesma forma que o termo economia criativa possui divergência de definições, as indústrias criativas e os setores que são considerados deste ramo divergem de acordo com o país e o estudo em questão. A utilização da expressão “indústrias criativas” varia de acordo com o país. Ela tem origem relativamente recente, tendo surgido na Austrália em 1994, com o lançamento do relatório “creative nation”, ganhando maior exposição em 1997, quando legisladores do departamento de cultura, mídia e esporte (DCMS) do Reino Unido estabeleceram a força tarefa das indústrias criativas. Vale observar que a designação “indústrias criativas” que vem se desenvolvendo desde então tem ampliado o escopo das indústrias culturais para além das artes, marcando uma mudança de abordagem às atividades comerciais em potencial, que, até recentemente, eram consideradas pura ou predominantemente em termos não econômicos. As definições de indústria criativa mais usadas acabam sendo aquelas de alguma forma relacionadas aos direitos de propriedade intelectual. Para o DCMS, as indústrias criativas são definidas como “aquelas que exigem criatividade, habilidade e talento, com potencial de riqueza e criação de emprego através da exploração de sua propriedade intelectual” (UNCTAD, 2010, p. 6). A UNCTAD tem uma definição semelhante: “qualquer atividade econômica que produz produtos simbólicos com uma forte dependência de propriedade intelectual [...]” (idem, p. 7). De acordo com a UNCTAD (2010), uma variedade de modelos tem sido criada, nos últimos anos, como forma de oferecer uma compreensão sistemática das características estruturais nas indústrias criativas. Os quatro modelos são: - modelo do DCMS/RU:definem-se como “indústrias criativas” aquelas que necessitam de criatividade, habilidade e talento, com potencial para a geração de riquezas e empregos por meio da exploração de sua propriedade intelectual (DCMS, 2001); - modelo de textos simbólicos:típico da abordagem para as indústrias culturais, originado na tradição de estudos crítico-culturais, existente na Europa e, especialmente, no Reino Unido (HESMNDHALGH, 2002). Essa abordagem enxerga as artes “eruditas” ou “sérias” como sendo o território do estabelecimento social e político, e, portanto, foca a atenção na cultura popular. Os processos pelos quais a cultura de uma sociedade é formada e transmitida são
retratados neste modelo por meio da produção industrial, da disseminação e do consumo de mensagens ou textos simbólicos, que são transmitidos através de vários meios, como filme, radiodifusão e imprensa; - modelo de círculos concêntricos: as ideias criativas são originadas das artes criativas centrais na forma de som, texto e imagem, e que essas ideias e influências se externalizam através de uma série de camadas ou “círculos concêntricos”, com a proporção do conteúdo cultural ao conteúdo comercial sendo diminuída conforme se afasta do centro. Este modelo foi a base para a classificação das indústrias criativas na Europa no recente estudo preparado pela Comissão Europeia (KEA EUROPEAN AFFAIRS, 2006); - modelo de direitos autorais da Organização Mundial da Propriedade Intelectual(OMPI):baseia-se nas indústrias envolvidas direta ou indiretamente na criação, fabricação, produção, radiodifusão e distribuição de trabalhos protegidos por direito autoral (OMPI, 2003). O foco recai, assim, na propriedade intelectual como sendo a materialização da criatividade que foi utilizada na criação dos produtos e dos serviços incluídos na classificação. Já para Caves (2000) as indústrias criativas são aquelas que atuam nas atividades relacionadas às artes, à cultura e ao entretenimento em geral. Seu campo de análise compreende apenas atividades de cinema e vídeo, fotografia, música, artes cênicas, artes visuais, mercado de artes e antiguidades, rádio e televisão, artes e entretenimento, artesanato, editoras e editoração de livros. Ele deixa de fora outras atividades importantes como design, design gráfico, moda e alta costura, internet, softwares, arquitetura, gastronomia e partes do turismo. Ao mesmo tempo, descreve que não existem limites para uma produção cultural na medida em que ela utiliza, em ordem de importância, insumos criativos e recursos técnicos. Howkins (2001) destaca que o fator distintivo das indústrias criativas reside no seu potencial de gerar propriedade intelectual. Ele ainda afirma serem as indústrias criativas a soma total de quatro setores: as indústrias de copyrights, das patentes, das marcas registradas e do design, agregando que elas também formam a economia criativa. No quadro abaixo estão contidos alguns destes conceitos, segundo Bendassoli (2009, p.12): Quadro 1 – Definições de Indústrias Criativas
Definição “Atividades que têm a sua origem na criativadade, competências e talento individual, com potencial para a criação de tralho e riqueza por meio da geração e exploração de propriedade intelectual [...] As indústrias criativas tem por base indivíduos com capacidades criativas e artísticas, em aliança com gestores e profissionais na área tecnológica, que fazem produtos vendáveis e cujo valor econômico reside nas suas propriedades culturais (ou intelectuais).” “A idéia de indústrias criativas busca descer a convergência conceitual e prática das artes criativas (talento individual) com as indústrias culturais (escala de massas), no contexto de novas tecnologias midiáticas (Tis) e no escopo de uma nova economia do conhecimento, tendo em vista seu uso por parte de novos consumidores-cidadãos interativos.” “Em minha perspectiva, é mais coerente restringir o termo indústria criativa a uma indústria onde o trabalho intelectual é preponderante e onde o resultado alcançado é a propriedade intelectual.” “[Industrias criativas] produzem bens e serviços que utiizam imagens, textos e símbolos como meio. São indústrias guiadas por um regime de propriedade intelectual e[...] empurram a fronteira tecnológica das novas tecnologias da informação. Em geral, existe uma espécie de acordo que as indústrias criativas tem um core group, um coração, que seria composto de música, audiovisual, multimídia, software, broadcasting, e todos os processos de editoria em geral. No entanto, a coisa curiosa é que a fronteira das industrias criativas não é nítida. As pessoas utilizam o termo como sinônimo de indústrias de conteúdo, mas o que se vê cada vez mais é que uma grande gama de processos, produtos e serviços são baseados na criatividade, mas que tem as suas origens em coisas muito mais tradicionais, como o craft, folclore ou artesanato, estão cada vez mais utilizando tecnologias de management, de informática para se transformarem em bens, produtos e serviços de grande distribuição.” “As indústrias culturais são formadas a partir da convergência entre as indústrias de mídia e informação e o setor cultural e das artes, tornando-se uma importante (e contestada) arena de desenvolvimento nas sociedades baseadas no conhecimento [...] operando em importantes dimensões contemporâneas da produção e do consumo cultural [...] o setor das indústrias criativas apresenta uma grande variedade de atividades que, no entanto, possuem seu núcleo na criatividade.” “As atividades das indústrias criativas podem ser localizadas em um continuum que vai desde aquelas atividades totalmente dependentes do ato de levar o conteúdo à audiência (a maior parte das apresentações ao vivo e exibições, incluindo festivais) que tendem a ser trabalho-intensivas e, em geral, subsidiadas, até aquelas atividades informacionais orientadas mais comercialmente, baseadas na reprodução de conteúdo original e sua transmissão a audiências (em geral distantes) (publicação, música gravada, filme, broadcasting, nova mídia.”
Fonte: Bendassoli (2009, p.12)
Referências DCMS (2005, p. 5)
Hartley (2005, p. 5)
Howkins (2005, p. 119) Jaguaribe (2006)
Jeffcutt (2000, p. 123-124)
Comford e Charles (2001, p. 17)
A partir deste quadro Bendassoli (2009) agrupa as características das indústrias criativas em três grandes blocos: o primeiro bloco refere-se a uma forma de produção que tem a criatividade como recurso-chave, que valoriza a arte pela arte, que fomenta o uso intensivo de novas tecnologias de informação e de comunicação, fazendo uso extensivo de equipes polivalentes; o segundo bloco abrange os contornos específicos dos produtos gerados, tais como a variedade infinita, a diferenciação vertical e a perenidade; e o terceiro bloco representa uma forma particular de consumo, que possui caráter cultural e apresenta grande instabilidade na demanda (BENDASSOLI, 2009). A problemática observada a respeito desta divergência de conceituação e classificação referente às indústrias criativas e aos setores envolvidos deixaria vago a real medida do seu potencial econômico e seu papel na promoção da diversidade cultural através do mercado. A razão da busca de conhecimento a respeito destas definições acabaria por favorecer diversos setores, como por exemplo, as políticas públicas e inclusive convencer os governos da necessidade de abordar este setor com iniciativas específicas através da exibição de análises fundamentadas. A fim de aproveitar as oportunidades oferecidas pelas indústrias criativas, os governos precisam realizar primeiro mapeamento completo e pesquisa estatística para melhor compreendêlos (UNESCO, 2006). 3 ECONOMIA CRIATIVA No cenário econômico, recentemente a criatividade passou a ser percebida como uma fonte inesgotável de recursos, por possuir a peculiar característica de ser abundante: quanto mais se explora, mais se tem. Furtado (1978) afirmava que a criatividade é a capacidade inventiva que a sociedade possui, visando combinar e desenvolver forças produtivas dentro da ótica cultural. Já John Howkins tomou nota do impacto global relativo, relacionando criatividade e economia. A criatividade, é definida como “a capacidade de gerar algo novo. Isso significa a produção por uma ou mais pessoas de ideias e invenções que são pessoais, originais e significativas” (HOWKINS, 2001, p.01). Enquanto a criatividade se torna um elemento de grande relevância nos processos de produção dos bens e serviços, existe um conjunto de atividades em que consideram este fator como sendo essencial para o seu surgimento, pois se utilizam da criatividade intensivamente e com elevado grau de especificidade profissional. Essas
atividades são conhecidas como setores criativos, pertencentes à economia criativa. Do ponto de vista histórico, os estudos relacionados ao conceito de economia criativa ganharam corpo principalmente nas últimas duas décadas, mais especificamente a partir de 1994, através da publicação do relatório denominado Creative Nation, na Austrália, e no ano de 1997 o governo britânico do recém eleitoTony Blair motivou a análise das contas nacionais do país visando identificar tendências de mercado e as vantagens competitivas nacionais do Reino Unido (Reis, 2008). Assim, o Reino Unido identificou 13 setores da economia de maior potencial, denominados de indústrias criativas, entendidas como “indústrias que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e que apresentam um potencial para a criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração de propriedade intelectual.” (DCMS, 2005). Nesse contexto, foi criado pelo governo britânico o Department of Culture, Media and Sports (DCMS). O principal objetivo dessa iniciativa foi revitalizar a economia nacional tendo em vista a perda de espaço que as indústrias de base britânicas vinham sofrendo no final do século XX. Para reverter esse quadro, o Reino Unido passou a apostar em setores relacionados à criatividade, visto que possuiriam investimentos baixos e também por já haver uma breve percepção da importância dos setores criativos na geração de emprego e renda no país. Para Reis (2008, p. 19) o maior mérito do sucesso do programa britânico não foi somente o de reorganizar suas indústrias a fim de dar um novo foco para a economia do país. Mais do que isso, provocou reflexões acerca do potencial da economia criativa para o desenvolvimento do país, evidenciando mudanças profundas e estruturais que se fazem necessárias no contexto socioeconômico global. Por este fato, a publicação britânica acabou sendo um marco dentro da história do desenvolvimento da economia criativa, e a partir do relatório publicado pelo DCMS outros tantos foram sendo elaborados por diversos países que passaram a ver as indústrias criativas como sendo fonte de recursos para impulsionar a economia local. No Brasil o conceito foi introduzido em 2004 durante o encontro quadrienal da UNCTAD, em São Paulo, onde o Ministério da Cultura abordou a importância da valorização da cultura e da criatividade no país (REIS, 2008 p.128). Em 2005 o Brasil sediou o Fórum Internacional de Indústrias Criativas em Salvador, onde foram fundamentadas estas ideias a respeito da economia criativa. Porém, mesmo diante do interesse percebido nos mais diversos locais do país, uma das carências mais
debilitantes para o reconhecimento da importância da economia criativa é a de estatísticas e pesquisas. O que existe são dados isolados de setores específicos, insuficientes para esta análise. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) realizou, em 2008, estudo sobre a cadeia da indústria criativa brasileira apoiando-se em uma classificação bem mais ampla que aquela proposta pela UNCTAD; utilizando-se de uma abordagem expandida, com uma visão de cadeia. Assim, foi proposta uma definição para a cadeia da indústria criativa baseada em três grandes áreas. Em primeiro lugar, o núcleo da indústria criativa, uma adaptação dos 13 segmentos do estudo britânico, apresentados pela UNCTAD. [...] Em seguida, encontram-se as áreas relacionadas, envolvendo segmentos de provisão direta de bens e serviços ao núcleo. E sobre a terceira área, caracteriza-se pela provisão de bens e serviços de forma mais indireta. Através da publicação desde estudo pioneiro do País, a Firjan objetivou reconhecer um novo paradigma de crescimento econômico (2008). O Estado de São Paulo, através da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), também realizou um estudo a respeito da economia criativa local, utilizando uma classificação dos setores que se restringem a atividades essencialmente criativas, não incluindo aquelas ligadas à fabricação e à comercialização de bens criativos(FUNDAP, 2011). No campo das pesquisas brasileiras, vale destacar o Prof. Paulo Miguez com um repertório de fontes a respeito da economia criativa, o Prof. Pedro Bendassolli através das publicações de artigos sobre economia criativa na Revista de Administração de Empresas da FGV, Ana Carla Fonseca Reis com diversos estudos já publicados sobre o tema, Lala Deheinzelin; especialista mundial em economia criativa&desenvolvimento sustentável, com participações em diversos relatorios e publicações, entre outros. Miguez (2007) afirma que até agora, a definição mais correntemente utilizada pelospaíses que já adotam as expressões economia criativa e indústrias criativas é aquela formulada pela creativeindustries taskforce, grupo criado em 1997 pelo DCMS: As indústrias criativas são aquelas indústrias que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e que têm um potencial para geração de empregos e riquezas por meio da geração e exploração da propriedade intelectual. Isto inclui propaganda, arquitetura, o mercado de artes e antiguidades, artesanatos, design, design de moda, filme e vídeo, software de lazer interativo, música, artes cênicas, publicações, software e jogos de computador, televisão e rádio (BRITISH COUNCIL, 2005, p.5)
Para Caiado (2011), pode-se dizer que “economia criativa é o ciclo que engloba a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade, o ativo intelectual e o conhecimento como principais recursos produtivos.” As atividades econômicas são aquelas que partem da combinação de criatividade com técnicas e/ou tecnologias, agregando valor ao ativo intelectual. Ela associa o talento a objetivos econômicos. É, ao mesmo tempo, ativo cultural e produto ou serviço comercializável e incorpora elementos tangíveis e intangíveis dotados de valor simbólico. O quadro abaixo, retirado de um artigo que debate a conceituação da economia criativa (SERAFIM et al., 2012, p. 4), expõe a sua comparação dentre as diversas definições de autores: Quadro 2 – Definições de economia criativa
Economia Criativa Economia criativa seria uma abordagem holística e multidisciplinar, lidando com a interface entre economia, cultura e tecnologia, centrada na predominância de produtos e serviços com conteúdo criativo, valor cultural e objetivos de mercado, resultante de uma mudança gradual de paradigma. Economia criativa abrange além das indústrias criativas, o impacto de seus bens e serviços em outros setores e processos da economia e as conexões que se estabelecem entre eles. “[...] Economia criativa. Ao que tudo indica, trata-se de uma nova denominação que vem se afirmando no discurso dos profissionais envolvidos com a área cultural no Brasil – administradores públicos, produtores, gestores, entre outros – em substituição àquilo que se convencionou chamar de indústria cultural. ’’ “As atividades, bens e serviços culturais possuem dupla natureza, tanto econômica quanto cultural, uma vez que são portadores de identidades, valores e significados, não devendo, portanto, ser tratados como se tivessem valor meramente comercial”. “Diferentemente da economia tradicional “taylorista”, a economia criativa se caracteriza pela abundância e não pela escassez, pela sustentabilidade social e não pela exploração de recursos naturais e humanos, pela inclusão produtiva e não pela marginalização de indivíduos e comunidades.” “A economia criativa é, portanto, a economia do intangível, do simbólico. Ela se alimenta dos talentos criativos, que se organizam individual ou coletivamente para produzir bens e serviços criativos. Por se caracterizar pela abundância e não pela escassez, a nova economia possui dinâmica própria
Referências Edna dos SantosDuisenberg (2011) Chefe do programa de Economia e Indústrias Criativas da UNCTAD Hartley (2005)
Machado (2007, p.83)
Declaração do Milênio das Nações Unidas (2000) Leitão (2011, p.14)
Ministério (p.24)
da
Cultura
[...]” “Em todas as atividades realizadas pelo homem existe um grau maior ou menor de criatividade e, nos mais simples gestos de comunicação entre os seres humanos, é clara a presença de elementos culturais. No entanto, se convencionou chamar Economia Criativa aquelas manifestações humanas ligadas à arte em suas diferentes modalidades, seja ela do ponto de vista da criação artística em si, como pintura, escultura e artes cênicas, seja na forma de atividades criativas com viés de mercado, como design e publicidade.” “Economia Criativa é o ciclo que engloba a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade, o ativo intelectual e o conhecimento como principais recursos produtivos. São atividades econômicas que partem da combinação de criatividade com técnicas e/ou tecnologias, agregando valor ao ativo intelectual. Ela associa o talento a objetivos econômicos. É, ao mesmo tempo, ativo cultural e produto ou serviço comercializável e incorpora elementos tangíveis e intangíveis dotados de valor simbólico.” “A capacidade da Economia Criativa de gerar novos produtos e serviços “transborda” para atividades inovadoras em outras empresas e organizações dentro e fora do setor, gerando encadeamentos nas cadeias produtivas, potencializando inovações em outros setores.”. Fonte: Serafim, 2012 p.4
Caiado (Coord) (2011, p. 11)
Caiado (Coord) (2011, p. 15)
Economia Criativa na cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. (p. 140)
Segundo Santos (2008), de acordo com esta necessidade observada da falta de consenso de definições, é fundamental a observação da economia criativa através da ótica acadêmica, buscando evidências do surgimento da economia criativa nas teorias econômicas neoclássicas, vislumbrando compreender a maneira como estas teorias influenciaram o funcionamento de modelos econômicos atuais Tratando-se de conceituação, Karl Popper, filósofo britânico, afirma que um conceito é formado a partir de uma teoria, ou seja, é preciso que exista uma investigação científica para que este seja determinado, e não apenas uma previsão ou simples constatação (POPPER, 1972). Desta forma, a economia criativa demonstra ausência de rigor teórico do tema, mesmo que muitos autores insistam em conceituá-la ou definí-la, surgindo assim a hipótese de tendencialismo destes divergentes conceitos gerados. Popper (1972, p.62) afirma que “as teorias são redes, lançadas para capturar aquilo que denominamos mundo: para racionalizá-lo, explicá-lo, dominá-lo. Nossos esforços são no sentido de tornar as malhas da rede cada vez mais estreitas”.
São muitos os documentos, relatórios e publicações de ordem privada e pública, elaborados tomando como ponto de análise a localidade onde estão inseridos, evidenciando as características criativas que ali existem, numa tentativa de exibição da cultura local. Nesses documentos, nota-se a falta de critério para definição e classificação da economia criativa, ou seja, há uma deficiência na definição de critérios claros e objetivos que caracterizem a economia criativa, resultado de um processo de "normatização antes do desenvolvimento" do conceito, que será apresentado mais a frente. 4 SETORES CRIATIVOS A definição de indústrias criativas remete ao fato de que estes setores não são apenas economicamente valiosos por si mesmos, mas funcionam como catalisadores e fornecedores de valores intangíveis a outras formas de organização de processos, relações e dinâmicas econômicas de setores diversos (REIS, 2008). Da mesma forma que o termo economia criativa possui divergência de definições, as indústrias criativas e os setores que são considerados deste ramo divergem de acordo com o país e o estudo em questão. Para o Ministério da Cultura (2011), a expressão “economia criativa” pode ser considerada como um conjunto de atividades, bens ou serviços culturais que possuem natureza tanto econômica quanto cultural. Assim, os setores criativos são as atividades produtivas que apresentam como processo principal um ato criativo gerador de valor simbólico, elemento este base da formação do preço, e que irá resultar na produção de riqueza cultural e econômica. A categoria, portanto, abrange mais que apenas setores tipicamente culturais, ligados à produção artístico-cultural (música, dança, teatro, ópera, circo, pintura, fotografia, cinema), compreendendo outras expressões ou atividades relacionadas às novas mídias, à indústria de conteúdos, ao design à arquitetura, entre outros. Os setores criativos definidos pelo Ministério da Cultura em 2011 são: patrimônio (patrimônio material, patrimônio imaterial, arquivos e museus); expressões culturais (artesanato, culturas populares, culturas indígenas, culturas afro-brasileiras, artes visuais); artes de espetáculo (dança, música, circo e teatro); audiovisual e do livro, da leitura e da literatura (cinema e vídeo, publicações e mídias impressas); criações funcionais (moda, design, arquitetura e arte digital).
Esta divergência fica exemplificada no trabalho de Serafim et al. (2012), que analisou o quadro de comparação metodológica entre setores da Fundap (2011) com a utilização do coeficiente de spearman Nesta análise, foram realizados cruzamentos entre os dados para identificar quais instituições utilizavam metodologias mais alinhadas em suas propostas. Utilizou-se a codificação de respostas tratando Não = 0 e Sim = 1 para cada uma das categorias analisadas no quadro proposto pela Fundap. E com variáveis categóricas foi calculado o coeficiente rho (ρ) de Spearman para identificar possível correlação entre as metodologias utilizadas por diferentes instituições. Serafim et al. (2012) destaca que Desta análise podemos perceber o alinhamento entre as metodologias utilizadas por UNESCO, UNCTAD e DCMS, todas correlações significativas A um nível de significância menor que 1% . Os cruzamentos UNESCO x UNCTAD (ρ =0,653), UNESCO x DCMS (ρ =0,422), UNCTAD DCMS (ρ =0,549) apresentaram correlação moderada, indicando algum grau de semelhança quanto aos descritores de mensuração de Economia Criativa.
Quadro 3 - Correlação de Definições dos Setores Criativos
UNESC O UNESC CorrelationCoeffic 1,000 O
IBGE
DCMS
FIRJAN OIC
F7
,653**
,094
,422**
,063
,031
-,684**
ient Sig. (2-tailed)
.
,000
,544
,004
,685
,841
,000
N
44
44
44
44
44
44
44
1,000
,098
,549**
,055
,275
-,813**
UNCT CorrelationCoeffic ,653** AD
UNCTAD IBGE
ient Sig. (2-tailed)
,000
.
,526
,000
,721
,070
,000
N
44
44
44
44
44
44
44
,098
1,000
-,098
-,312*
-,006
-,283
CorrelationCoeffic ,094 ient Sig. (2-tailed)
,544
,526
.
,526
,039
,968
,063
N
44
44
44
44
44
44
44
,549**
-,098
1,000
,231
,271
-,718**
DCMS CorrelationCoeffic ,422** ient
Sig. (2-tailed)
,004
,000
,526
.
,131
,075
,000
N
44
44
44
44
44
44
44
,055
-,312*
,231
1,000
,231
-,278
FIRJA CorrelationCoeffic ,063 N
ient
OIC
Sig. (2-tailed)
,685
,721
,039
,131
.
,131
,068
N
44
44
44
44
44
44
44
,275
-,006
,271
,231
1,000
-,536**
CorrelationCoeffic ,031 ient Sig. (2-tailed)
,841
,070
,968
,075
,131
.
,000
N
44
44
44
44
44
44
44
-,813**
-,283
-,718**
-,278
-,536**
1,000
CorrelationCoeffic -,684**
F7
ient Sig. (2-tailed)
,000
,000
,063
,000
,068
,000
.
N
44
44
44
44
44
44
44
Fonte: Serafim et al, 2012 p. 15. Este estudo demonstra então que
os setores criativos são conceituados de
diversas formas de acordo com os relatórios analisados, o que pode se tornar um impeditivo para produção científica, principalmente para o levantamento estatístico visto que dificulta análises e comparações entre os setores de diferentes regiões, já que estes não apresentam um grau claro de semelhança. Assim, esta tabela que demonstra baixa correlação entre os setores criativos reforça ainda mais a necessidade e a relevância deste trabalho, destacando as limitações teóricas da economia criativa tornando-se relevante, no sentido de reforçar a necessidade da busca acadêmica por embasamento e conceituação da economia criativa.
5 LIMITAÇÕES TEÓRICAS DA ECONOMIA CRIATIVA
A partir dos construtos até agora analisados, dedicaremos as próximas linhas para apresentarmos aquelas que são, a partir da pesquisa realizada nos documentos
científicos e governamentais, as principais limitações a nível teórico da economia criativa. Primeiramente, a constatação de que o campo governamental - e consequentemente político - tem-se destinado a definir conceitos teóricos dentro do aparato burocrático de estado extrai, a priori, da ciência e do processo científico o surgimento, consolidação e contestação de um construto teórico. Movendo o "berço da ciência" para fora dela mesma nos tolhe diversas possibilidades de desenvolvimento científico, que pode impactar em maior ou menor grau no mundo social. Não afirmamos que o processo de estabelecimento de regras e normas pelo aparato burocrático é naturalmente "ruim", muito pelo contrário, diversos são os benefícios (KERWIN, 1994). Contudo, quando o estado destarte normatiza um conceito que possui um nível muito baixo de discussão anterior e que ainda busca "nascer", ele esgota toda a forma de discussão elementar dentro do campo científico. Deixa-nos, talvez, a possibilidade de realizar trabalhos como este, mas retira-nos a capacidade de, enquanto comunidade científica, discutir e aperfeiçoar uma teoria, o que talvez poderia produzir outcomes ainda mais produtivos para o próprio estado e para a sociedade. Ora, como discutir o que de fato caracteriza-se como economia criativa no Brasil (e não só), se o próprio governo possui uma política pública que a define e a restringe, e que surgiu antes mesmo de uma discussão mais amadurecida cientificamente. É claro que muitos poderão argumentar no sentido de que um governo inovador e pró-ativo é um grande anseio popular. Não discordamos, muito pelo contrário. No entanto, fazemos a ressalva de que o processo de discussão científica - valendo ressaltar que tal processo não se dá somente dentro da academia, mas também no diálogo com a sociedade civil e com a realidade tanto teórica quanto prática - traz consigo as vantagens do processo científico, podendo tornar as políticas públicas mais eficazes, eficientes e justas se "discutirmos antes de normatizarmos". Assim sendo, vemos como uma das principais limitações percebidas
este
processo "apressado" do governo instituir um conceito para a área da economia criativa, normatizando-o para às áreas acadêmicas, onde justamente deveria ser ao contrário. Creemos que a investigação acadêmica - através da pesquisa, da extensão e do ensino, deveria, propor uma definição para “o novo campo criativo” que está sendo criado, pelos motivos anteriormente estipulados. No plano brasileiro, por exemplo, percebe-se que o ministério da multura (MINC) criou a Secretaria de Economia Criativa (SEC), traçando o conceito, os setores
componentes, as metas, e os projetos da economia criativa no Brasil. Como demonstramos os diversos construtos se confundem na delimitação do conceito da economia criativa, tornando imperativo observamos com cautela tal definição da SEC/MINC (conceito no quadro 02). Por exemplo, a secretaria define como um dos setores da economia criativa no Brasil a moda. O que exatamente, dentro da moda pode ser considerado dentro da economia criativa? Toda a cadeia produtiva? As industrias de tecido em série (que produzem milhares de metros de um mesmo tecido, todo preto, por exemplo) se enquandram dentro da economia criativa, juntamente com aquelas que produzem tecidos com estampas personalizadas? Antes: a produção do tecido é parte da economia criativa, ou somente o desing de moda? O possível varejista que vende o produto final é também considerado dentro da economia criativa? Estas questões não são claramente respondidas e por isto, não saberemos ao certo e de que fato os diferentes setores são compostos, tendo em vista que o planejamento da Secretaria não aprofunda e especifica exatamente quais atividades das diversas cadeias produtivas podem ser consideradas atividades da economia criativa. Cremos que neste caso específico, uma discussão científica ampla poderia ter sanado muito destas questões. Dessa forma, o Ministério da Cultura (2011) descreveu que o início do plano se deu de forma mais complexa pois havia a necessidade de definição de um conceito que servisse tanto como ponto de partida, como fio condutor do processo de elaboração do plano. Apesar de alguns estudos já elaborados sobre o tema, o governo optou por construir uma própria definição para a economia criativa “de acordo com a realidade brasileira”, conforme menciona abaixo: Tínhamos a consciência de que se o conceito de economia criativa é novo e ainda se encontra em construção, mesmo entre os países desenvolvidos, nós necessitaríamos adequá--lo, em nosso Plano, às especificidades e características brasileiras. Assim, ao invés de reproduzir conceitos de outros países com realidades políticas, econômicas, culturais e sociais divergentes de nós, deveríamos aceitar o desafio de ampliar os significados da economia criativa, adaptando-a às potencialidades e às características do nosso país (MINC, 2011).
Sendo assim, a secretaria da economia criativa definiu a sua versão a respeito da área, delineou o seu conceito,
desconsiderando o que já havia sido estudado em
diversas outras ocasiões pelo mundo, criando novas métricas e parâmetros para o nosso país. A problemática observada diz respeito aos critérios não especificados de definição para o conceito e para os setores, como também as dificuldades a serem enfrentadas enquanto métricas e indicadores mundiais, sendo inviável o planejamento, controle e
comparação de dados entre diversos países, colocando ainda outras questões ao nosso exemplo da moda: como comparar, e assim, poder avaliar e fazer a gestão da economia criativa no Brasil se nossa "régua" é tão diferente de outros países, ou, como saberemos se o setor de moda no Brasil se desenvolve melhor que no Reino Unido? Ou mesmo se o setor de moda é um setor criativo no Reino Unido?. Além disto, é comum a postura dos territórios (países, estados, cidades) que produzem relatórios, ; investiguem mais profundamente seus potenciais criativos a partir de critérios próprios, demonstrando um tendencialismo da investigação, e um grande desapego ao rigor teórico. Assim, observa-se que territorios que possuem, por exemplo, a moda como fator de relevo em seu desenvolvimento, tendem a evidenciar esta característica em seus
relatórios, enquanto locais que possuem um polo
tecnológico avançado destacam que é a tecnologia que os tornam cidades mais criativa, dentre outros. Seria a economia criativa então um rótulo que se adéqua de acordo com a garrafa? No caso do plano da Secretaria, muitos argumentos utilizados poderiam ser discutidos. Tal plano define como economia criativa, além de outras questões,
o
seguinte: “ela [A economia criativa] pode estimular a geração de renda, a criação de empregos e a exportação de ganhos, ao mesmo tempo que promove inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento humano” (MINC,2011). Pode-se perguntar, até que ponto houve a verificações entre a proposta da economia criativa e a hipótese de que esta pode gerar benefícios econômicos e sociais. Conforme Popper (1972), nota-se claramente a utilização daquilo que o autor intitlua "convenção de conceito" da economia criativa, ou seja, a não existe um fato comprovado e teorizado sobre a ligação entre desenvolvimento sócio-econômico e a economia criativa em si. Em outro trecho, o MINC ainda cita que: Considerar que os setores criativos são aqueles cuja geração de valor econômico se dá basicamente em função da exploração da propriedade intelectual expressa uma percepção bastante restritiva posto que a propriedade intelectual não corresponde a um elemento obrigatório nem definidor único de valor dos bens e serviços criativos. (MINC, 2012)
Neste segundo trecho, faz-se referência à definição dada pelo DCMS, onde fica evidente a ênfase na propriedade intelectual. Alguns estudiosos afirmam que a economia criativa no Reino Unido assumiu essa característica visto que no governo da época, New Labour, propôs em seu manifesto pré-eleitoral políticas públicas para
incentivar a “indústria criativa”, o que compensaria a perda da indústria manufatureira inglesa para outros países, como a China. Em outro exemplo de definição "própria", a Federação de comércio de São Paulo (Fecomercio-SP) publicou um relatório Índice de criatividade das cidades no ano de 2012, utilizando um indicador para agregar informações a este segmento que além de recente, conta com poucas informações disponíveis. Este indicador se propõe a medir alguns números do país, como por exemplo o PIB per capita, até aspectos criativos, como é o caso do “emprego criativo per capita”. Poderíamos aqui discutir: o que é indústria criativa, economia criativa, quais os setores contemplados na pesquisa? O estudo da Fecomercio-SP (2012) apenas cita exemplos de setores criativos, : fabricação de artefatos têxteis e tapeçaria; desenvolvimento de programas de computador sob encomenda; serviços de arquitetura; agências de publicidade, educação superior e profissional; gestão de espaços para artes cênicas, espetáculos e outra atividades artísticas; e, cabeleireiros e outras atividades de tratamento e beleza. Percebemos que nesta lista, estão evidenciados alguns setores criativos de forma aleatória, além de atividades que não se caracterizam como criativas de acordo com outras classificações já abordadas neste trabalho, como é o caso do tópico “cabeleireiros e outras atividades...”. A Fecomércio-SP deixa claro que a intenção deste relatório é apresentar informações inéditas sobre o tema e fornecer subsídios para a adoção de medidas públicas, focadas na criatividade. Porém, a divulgação de informações sem um embasamento científico mais amplo pode acabar por distorcer alguns conceitos ligados ao tema, visto que políticas públicas irão fazer uso de um material que, a partir de seu lançamento, pode tornar-se referência da área para estudos posteriores. A forma com que estes conceitos foram colocados podem vir a prejudicar o debate sobre o tema. De fato, podemos perceber as resultantes deste processo dentro do próprio desenvolvimento acadêmico do conceito de economia criativa, pois percebemos que dentro da própria academia, não se pode localizar um artigo que se destinasse a discutir o conceito de economia criativa em si, mas sim, a economia criativa sempre relacionada com outros temas como cidades criativas (OOI, 2008; FOORD, 2008; ACS, MEGYESI, ;2009; LASCHINGER, 2009; WAITT; GIBSON, 2009; OOI, 2010; PRATT; HUTTON, 2013), desenvolvimento local e regional (CHAPAIN; COMUNIAN, 2010; STROM; NELSON, 2010), ocupação profissional, carreira e condições de trabalho da classe criativa (MARKUSEN et al, 2008; BANKS; HESMONDHALGH, 2009;
LAIKWAN, 2009; COMUNIAN; FAGGIAN; JEWELL, 2011), empreendedorismo acadêmico
(PETERS;
BESLEY,
2008),
capital
criativo
(PETROV,
2008),
desenvolvimento rural sustentável (FLEMING, 2009), planejamento e desenvolvimento urbano (PHELPS, 2012), políticas públicas culturais (STEVENSON; ROWE; MCKAY, 2010), governança (LANGE, 2011), belas artes (OOI, 2011), moda (HAUGE, 2012), comércio internacional (SNIESKA; NORMANTIENE, 2011), modelos de negócio (CASANI;
RODRÍGUEZ-POMEDA;
SÁNCHEZ,
2012;
MILIĆEVIĆ;
ILIĆ;
SOFRONIJEVIĆ, 2013) e direitos autorais (SCHLESINGER; WAELDE, 2012). Preocupado com os desdobramentos futuros da temática das indústrias criativas e da economia criativa, é Howkins (2001) quem alerta para o que considera questões a enfrentar nesta área: a necessidade de uma revisão do conceito; a importância de promover a aproximação entre criatividade e inovação – o que permitirá a inclusão da ciência no âmbito das indústrias criativas; a urgente necessidade de uma revisão dos marcos regulatórios da propriedade intelectual na direção do interesse público e por fim a elaboração de políticas públicas capazes de integrar as múltiplas dimensões (e responder às várias demandas) da economia criativa. Howkins (2001) ainda afirma que, mesmo na economia criativa, a criatividade não é necessariamente uma atividade econômica. Ela torna-se uma atividade econômica somente quando produz uma ideia com implicações econômicas ou um produto passível de ser comercializado. Ainda que a economia criativa assuma um “tom de novidade”, este é um questionamento recorrente no meio acadêmico. Segundo Reis (2008), se entendermos a economia criativa como uma mera reordenação de setores em uma categoria cunhada de “indústrias criativas”, não caberá novidade, já que a “criatividade é reconhecida como combustível de inovação desde o início dos tempos.” Todavia, supõe-se que o tema não tenha surgido sozinho. Uma prévia pesquisa histórica sugeriria a compreensão da economia criativa como uma ampliação da economia da cultura (MIGUEZ, 2007), pois ambas propõe a valorização da autenticidade e do intangível cultural único e inimitável (REIS, 2008). 6 CONCLUSÕES Neste trabalho, apresentou-se uma investigação a respeito das limitações de economia criativa, buscando um levantamento do tema dentre as diversas fontes disponíveis. De fato, por suas características e complexidade já destacadas, o fenômeno
criativo torna-se de difícil conceituação e mensuração, visto que a criatividade é uma atividade abudante e que depende de diversos fatores externos. Embora com limitações, este presente trabalho se estabelece diante da necessidade percebida em se contribuir com os processos e a dimensão criativa da produção humana no que toca o debate econômico. Durante o seculo XX foi observada uma revolução tecnológica que contribuiu para fundar novos direcionamentos sociais, culturais e econômicos. Essa grande transformação ocorrida nos meios de produção alterou a lógica da sociedade a respeito da produção. O capital de hoje emana do próprio homem, das qualidades humanas, especialmente, da sua capacidade criativa. Segundo Lugoboni et al. (2014), quando o valor começou a ser gerado pelo processamento da informação e não mais pelo processamento da matéria prima, naturalmente o mercado passou a valorizar as empresas que incorporavam criatividade e inovação, incluindo a área de tecnologia de informação. Dentro desse contexto há o surgimento da terminologia “indústrias criativas”, onde inclui-se uma nova ótica para a criatividade – a ótica econômica. Agora, ao pensarmos propriamente no insumo – a criatividade, percebemos que ela existe há muito tempo e já está conceituada dentre as diversas áreas do conhecimento humano. Porém, para a sociedade, a economia tem atuado na história como fonte de grandes transformações. Nesse ponto, a criatividade hoje, ligada a inovação, a cultura, a tecnologia, a informação e a produção e transmissão do conhecimento, é vista para muito além do simples pensar e do criar, é um elemento indispensável tanto para a economia como a sociedade. Assim, a economia criativa, enquanto área de estudo, distancia-se da economia da cultura, visto que a primeira envolve um número de maior de aspectos, que vão além do âmbito cultural, apesar de possuírem o mesmo insumo criativo. Com a popularidade do assunto, surgem as tentativas de enquadrar estes segmentos criativos em padrões pré-determinados. Observou-se que esta categorização ainda sofre devido à falta de aprofundamento do tema, deixando muito vago as escolhas e delimitações de setores. Na questão de mensuração, até entre os próprios setores as diferenças são enormes. Como criar políticas ou realizar um censo com os mesmos parâmetros para atividades tão distintas, como artesanato ou áreas tecnológicas? As características são únicas, tanto entre setores, quanto em locais específicos. Seria
possível comparar a criatividade da Tribo Wayuu colombiana com o valor criativo do artesanato de Rendeiras de Bilro de Florianópolis? Ao longo do desenvolvimento do trabalho pudemos perceber a raridade de estudos e debates sobre os quais estamos abordando; a economia criativa, tão falada atualmente, não possui uma linha forte dentro da análise acadêmica. E mais, poucos estão em busca disso. O fato observado expõe-se de diversas formas; em muitos documentos declaram conhecer a necessidade de estudos aprofundados mas devido “ao certo grau de novidade” que a área possui resolvem por conceituá-la livremente ou apropriar-se de algum conceito “já desenvolvido”. A área de pesquisa exige por si só uma investigação ampla; sugerimos aos próximos trabalhos que se destinam a explorar mais o tema, a busca pelo aprofundamento do conceito de acordo com teorias econômicas. Caso estas raízes não sejam óbvias, será preciso rever a classificação do termo “economia criativa” dentro das ciências sociais. Não podemos incluí-la como uma nova corrente econômica somente por estar impactando economicamente a sociedade. É preciso mais para que as teorias de economistas neoclássicos sejam descartadas, atingindo assim uma nova fase ou ciclo da sociedade atual. Por enquanto, ainda persiste a definição de que a Economia é uma ciência de recursos escassos, e esta é a causa da existência da mesma. A alocação dos recursos se faz necessária e a “economia criativa” prega uma nova realidade, uma convenção que a ciência ainda não aceita como fato. Não questionamos a relevância do tema ou a importância socioeconômica que a economia criativa possui. Mas é inegável que o caminho é muito longo; nós, cientistas sociais, precisamos lidar com os fatos reais, e através de uma observação mais precisa traçar os próximos passos desta ciência milenar. Não podemos trabalhar com hipóteses ou números incertos. Não podemos gerar estatísticas sem significado. Portanto, esperamos também que este trabalho inspire trabalhos semelhantes para contribuição de um aprofundamento teórico a cerca da economia criativa, podendo então construir planos e relatórios governamentais conceituados. Assim, são apontadas algumas possibilidades para estudos futuros. Seria pertinente para o desenvolvimento científico do conceito de economia criativa a existência de trabalhos que investigassem a essência da criatividade, para que os setores criativos possam aproveitar estes conceitos. Aproveitamos também para levantars uma hipótese sobre a criatividade: ela possui formas distintas deexpressão, sendo impossível mensurar com os mesmos critérios um processo criativo artístico
juntamente com um processo criativo vinculado às áreas das tecnologias ou design. A discussão da diferenciação entre a arte e design, que já está estabelecida, é também relevante para o desenvolvimento do tema, visto que o uso da criatividade como simples insumo para ambos setores constitui-se em diferentes graus, pois visivelmente observamos as enormes diferenças de criação e desenvolvimento que os compõe. A nível de exemplificação, o processo criativo artesanal como um ato criativo espontâneo se contrapõe à criação de uma marca, um software, um bem industrial, pois estes possuem uma função atrelada ao seu resultado final. Retomando a discussão da relação entre economia e criatividade, consideramos que seria desejável também a realização de trabalhos de investigação empírica, com estudos que se propusessem a observar a realidade destas “indústrias”, levando em conta aspectos inovadores. Assim, a partir da observação deste cenário, poderiam ser traçado alguns parâmetros e métricas para cada setor. Não podemos usar as mesmas métricas para todos os setores, devido as suas características peculiares, como é o caso do “números de trabalhadores do setor”; sabe-se que nas áreas técnológicas este indicador pode não possuir a relevância que teria num estudo a respeito das atividades musicais, visto a diferença entre estas duas áreas. Nesse sentido, podemos enaltecer também a criatividade enquanto processo de de inovação na área da gestão, já que uma mudança nos processos através de novas combinações caracteriza-se como um fenômeno criativo. Para Schumpeter (1988), as inovações são descobertas científicas que nem sempre influenciam a economia, ao passo que as novas combinações dos fatores de produção, oriundas ou não de inovações recentes ou passadas, desencadeiam o desenvolvimento econômico. Assim, a criatividade, aplicada aos processos de gestão, e consequentemente refletida no valor agregado à este produto ou marca, não viria também a se caracterizar como um integrante das indústrias criativas? Outro ponto-chave que sugere-se para futuros trabalhos diz respeito à questao da caracterização dos setores criativos e seu enquadramento de atividades. A criação de um software é considerada um produto criativo ou tecnológico? Um projeto arquitetônico contribui para o setor civil ou criativo? Como estes setores poderão ser classificados? Como avaliá-los diante da enorme rede complexa que é a ciência econômica? Diante dessa realidade, seria necessário uma revisão de conceitos micro e macroeconômicos visto que novas funções precisariam surgir, incluindo o “valor criativo” dentro da equação de precificação das empresas ou das preferências do
consumidor. Questiona-se como esta nova categoria econômica; a criativa, seria incluída no PIB. Como ela seria mensurada, visto que a criatividade é um ativo intangível e imensurável por consequência? É comum vermos exemplos que citam os Estados Unidos como um grande produtor criativo devido às grandes receitas advindas dos filmes de Hollywood. Estes exemplos se arriscam a classificar a criatividade do país, baseando-se nos números da receita gerada nas vendas de patentes e produções cinematográficas. Poucos questionam-se a respeito da real capacidade de um setor ser classificado como criativo ou não diante somente de valores monetários. Como comparar esta “criatividade” com a criatividade vinculada à produção cultural de países subdesenvolvidos? Será somente a “capacidade criativa” a responsável pelos resultados econômicos demonstrados? Assim, é necessário uma nova métrica a respeito da propriedade intelectual, lei de patentes, essencialmente com o advento da internet. Muitos dos materiais divulgados exploram a cultura de países subdesenvolvidos, ou seja, a lei de propriedade intelectual precisaria agir para que os países “donos” desta criatividade participassem da receita que está sendo gerada. Aqui reforça-se a hipótese da existência da criatividade muito antes do surgimento da economia criativa. Será a criatividade suficiente para transformar um local em um polo socioeconômico? Este também é um possível tema de investigação, principalmente no que tangera infraestrutura necessária para tornar a criatividade em um insumo com potencial transformador. Por fim, encerramos este trabalho colocando em questionamento a real necessidade de limitação e regulamentação pública da criatividade dentro da sociedade. Sabe-se a existência da criatividade nas mais diversas formas, que há muito tempo está enraizada nas culturas locais, seja através das tradições ou das inovações, e esta sempre existiu livremente e de forma espontânea. Até que ponto a normatização e a consequente burocratização da criativadade pode contribuir com o próprio desenvolvimento de criatividade dentro do mundo social? Acreditamos que não falta potencial dentro da própria sociedade, principalmente tendo em vista a diversidade cultural existente no mundo superconectado em que hoje vivemos. Talvez uma pista de como o governo pode atuar com relação a economia criativa resida muito mais na capacidade de se aproveitar estas oportunidades e potencialidade da sociedade, através de incentivos modernos à arte, à cultura e à criação, retirando assim, ações que inibam
estas atividades, do que por por meio de regras e editais que impõe regulamentações para padronizar a criatividade, que por si só é sustentável. REFERÊNCIAS
ACS, Zoltan J.; MEGYESI, Monika I. Creativity and Industrial Cities: A Case Study of Baltimore. Entrepreneurship & Regional Development, v. 21, n. 4, p. 421-439. BANKS, M., & HESMONDHALGH, D. Looking for work in the creative industries policy. CAIADO, Aurílio S. C. (Coord.). Economia Criativa na cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. São Paulo: FUNDAP, 2011. CASANI, Fernando; RODRÍGUEZ-POMEDA, Jesús; SÁNCHEZ, Flor. Los nuevos modelos de negocio en la economía creativa: Emociones y redes sociales. Universia Business Review, n.33, v.1, 2012, p.48-69 CAVES, Richard, Creative Industries, Harvard University Press, Cambridge, Mass, 2000. CHAPAIN, Caroline; COMUNIAN, Roberta. Enabling and Inhibiting the creative economy: the role of the local and regional dimensions in england. Regional Studies, v. 44, n.6, 2012, p. 717-734. COMUNIAN, R. FAGGIAN A, JEWELL, S. Winning and losing in the creative industries. An analysis of creative graduates’ career opportunities across creative disciplines, Cultural Trends, Vol 20 n.3, 2011. p.291-308 Creative Economy Literature Review, The Creative Nova Scotia Leadership Council, 2012 Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy - The Department of Communications and the Arts and the Cultural Policy Advisory Panel, 1994 (Department of Communications and the Arts: Canberra) Disponívelem: <http://www.australiacouncil.gov.au/__data/assets/word_doc/0003/107778/CulturalPoli cybibliography.doc>Acessoem: 20/10/2012 Creative Nova Scotia Leadership Council, Part. Nova Scotia Department of Communities, Culture and Heritage.Creative Economy Literature Review DCMS (Department for Culture, Media and Sport). Creative industries mapping document. Disponível em: http://www.culture.gov.uk/global/publications/archive_1998/Creative_Industries_Mapp ing_Document_1998. htm. Acesso em 20.10.2012 DEHEINZELIN, Lala. Economia Criativa e Empreendedorismo Cultural. In: ENECULT II, 2006 Salvador, 2005, 12 p.
DEPARTMENT FOR CULTURE, MEDIA AND SPORT – DCMS (United Kingdom). Creative Industries Mapping Document 1998. London, 1998.Disponível em: <http://www.culture.gov.uk/Reference_library/Publications/archive_1998/Creative_Ind ustries_Mapping_Document_1998.htm>. Acesso em: 25.10.2012Download.asp?docid=9750&lang=1&intItemID=4494 Economia criativa : um conjunto de visões [recurso eletrônico] / [Ana Carla Fonseca ...et al.]. - São Paulo : Fundação Telefônica, 2012. 170p., recurso digital Economia criativa/ Coordenador do Projeto Aurilio Sergio da Costa Caiado. São Paulo: FUNDAP, 2011, 160 p. FIRJAN. A cadeia da indústria criativa no Brasil. Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n. 2, maio 2008. FLEMING, Rachel C. CREATIVE ECONOMIC DEVELOPMENT, SUSTAINABILITY, AND EXCLUSION IN RURAL AREAS. Geographical Review, v. 99, n. 1, 2009, p. 61-80. FOORD, Jo. The new boomtown? Creative City to Tech City in east London. Cities, 2013, v.33, pp.51-60 FURTADO, C. Criatividade e Dependência na Civilização Industrial, Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1978. HARTLEY, John (Ed.). Creative industries. Oxford (UK): Blackwell Publishing, 2005. 414p. HAUGE, Atle. Creative industry: Lacklustre business - Swedish fashion firms' combination of business and aesthetics as a competitive strategy. Creative Industries Journal, v. 5, n.1e2, 2012, p. 105-118 Heartfield, James. 2000. "Grandes Esperanças: as indústrias criativas em a Nova Economia ". Agenda de Design. HOWKINS, J. The Creative Economy: How People Make Money From Ideas. London: Allen Lane, 2001 International Journal of Cultural Policy, v. 15, n. 4, 2009, p.415 - 430 KERWIN, c. m. Normatização: como entidades governamentais escrevem leis e fazem políticas. Rio de Janeiro: Nordica, 1994. LASCHINGER, Verena. Flaneuring into the Creative Economy: Orhan Pamuk's Istanbul: Memories of a City. The Explicator,v.67, n.2, 2009 LIMA, Carmen Lúcia Castro. Debate sobre indústrias criativas: uma primeira aproximação para o Estado da Bahia. In Revista do DESENBAHIA, Salvador, n. 5,set. 2006. Disponível em:
<http://www.cult.ufba.br/enecult2007/CarmenLuciaCastroLima.pdf>.Acesso 21/10/2012
em:
LUGOBONI, Et al., ECONOMIA CRIATIVA: APLICAÇÃO NAS EMPRESAS DE TI. Future Studies Research Journal , São Paulo, v.6, n.1, p. 132 – 171, Jan./Jun. 2014 MARKUSEN, Ann . et al. Defining the Creative Economy: Industry and Occupational Approaches. Economic Development Quarterly, v. 22 n. 1, 2008, p. 24-45 MIGUEZ, Paulo. Economia criativa: uma discussão preliminar. In: NUSSBAUMER, Gisele Marchiori (Org.). Teorias e políticas da cultura: visões multidisciplinares. Salvador: EDUFBA, 2007. ColeçãoCULT, Milićević, V.; Ilić, B.; Sofronijević, A. Business Aspects of Creative Industries from a Global Perspective.Management, v. 66, 2013. OOI, Can-Seng. "Political pragmatism and the creative economy: Singapore as a City for the Arts", International Journal of Cultural Policy, v.16, n. 4, 2010, p. 403-417. OOI, Cna-Seng. Reimagining Singapore as a creative neation: The politics of place branding. Place Branding & Public Diplomacy, v. 4, n. 4, 2008, p287-302. OOI, Can-Seng. Subjugated in the Creative Industries: The Fine Arts in Singapore. Culture Unbound, V. 3, 2011, p. 119-137 PETERS, M. A.; BESLEY, T. Academic Entrepreneurship and the Creative Economy. Thesis Eleven, vol. 94, n..1, 2008, p. 88-105 PETROV, Andrey N. Talent in the Cold? Creative Capital and the Economic Future of the Canadian North. Arctic, V. 61, N. 2, 2008. PHELPS, N. A. The sub-creative economy of the suburbs in question. INTERNATIONAL JOURNAL OF CULTURAL STUDIES , v.15 n.3, 2012, p. 259 271. POPPER, K. A lógica da Pesquisa Científica. Tradução: Editora Pensamentos Cultrix Ltda.. São Paulo, SP, 1972. PRATT, Andy C.; HUTTON, Thomas A. Reconceptualising the relationship between the creative economy and the city: Learning from the financial crisis. Cities, v.33, 2013, p. 86-95 REIS, A.C.F. (org). Economia criativa como estratégia de desenvolvimento: uma visão dos países em desenvolvimento. São Paulo: Itaú Cultural, 2008. SANTOS, E. “ECONOMIA CRIATIVA: UMA OPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO VIÁVEL?” Economia criativa como estratégia de desenvolvimento: uma visão dos países em desenvolvimento. São Paulo: Itaú Cultural, 2008.
SCHLESINGER, P., and Waelde, C. Copyright and cultural work: an exploration. Innovation: The European Journal of Social Science Research, v. 25, n. 1, 2012,. pp. 1128. SCHUMPETER, J. Teoria do desenvolvimento econômico. Tradução: Maria Silvia Possas. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. SERAFIM, Mauricio C. Et al. Economia Criativa ou Indústria Criativa: Delimitação de um Conceito em Construção, 2012 SNIESKA, Vytautas; NORMANTIENE, Akvile. The role of creative industries in international trade:"lithuanian case. Economics and Management, n.16, 2011, p. 338344 STEVENSON, D., ROWE, D., MCKAY, K. ‘Convergence in British Cultural Policy: The Social, the Cultural and the Economic’, The Journal of Arts Management, Law, and Society, v.40, n.4, 2010, p. 248-65. STRÖM, Patrik; NELSON, Ross. Dynamic regional competitiveness in the creative economy: can peripheral communities have a place? The service industries journal.Abingdon V.. 30. n.3, 2010 p. 497-511 UK Department of Culture, Media and Sport & Creative Industries Taskforce.(1998). Creative Industries 1998: Mapping Documents. London, UK: DCMS. UNCTAD, Creative economy report. Geneva, 2008. http://www.unctad.org/templates/ UNESCO. Global Alliance for Cultural Diversity.Understanding creative industries. Cultural statistics for public-policy making.Paris, Feb. 2006. Disponível em: <http://portal.unesco.org/pv_obj_cache/pv_obj_id_7D7822788289E0813D7CE3855339 15A9E27A0100/filename/cultural_stat_EN.pdf> Acesso em: 24/10/2012 WAITT, G and GIBSON, C. Creative small cities: rethinking the creative economy in place’, Urban Studies, v. 46, n. 5 e 6, 2009, p.1223-1246
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas – ESAG Curso de Administração Pública Projeto de pesquisa: Capital social dos empreendedores da economia criativa: o caso das associações de artesãos de Florianópolis-SC QUESTIONÁRIO NÚMERO: Data:_____/_____/______ Início da entrevista: ___________________Término da entrevista:________________ Qual área do artesanato:__________________________________________________ Há quanto tempo está associado:_________________________________ Contato:_______________________________________________________________
RESPONDA ÀS QUESTÕES, COM BASE NA ESCALA PROPOSTA, SENDO: 1 – DISCORDO TOTALMENTE 10 – CONCORDO TOTALMENTE 1 10 DISCORDO CONCORDO
1. Minha associação sofre influência externa (pessoas físicas ou jurídicas / agentes públicos ou privados)
Grau de Concordância 1
2
a. Governo do Estado b. Prefeitura Municipal c. Governo Federal d. Pessoas de outras associações e. Pessoas da comunidade f. Empresas privadas em geral g. Bancos h. Outras associações/grupos de artesãos 2. O meu trabalho como artesão sofre influência externa (pessoas físicas ou jurídicas / agentes públicos ou privados) a. Governo do Estado b. Prefeitura Municipal c. Governo Federal d. Pessoas de outras associações e. Pessoas da comunidade f. Empresas privadas em geral g. Bancos h. Outras associações/grupos de artesãos
3. Em relação ao fator tempo, considero que a. É necessário dedicar tempo para as relações entre pessoas b. Participar de uma associação exige muito tempo c. As lideranças da associação dedicam mais tempo à organização que ao seu trabalho como artesão d. É importante dedicar um tempo para fortalecer os relacionamentos e. É preciso dedicar tempo para fortalecer a associação e alcançar seus objetivos
1
3
2
3
1
4 4
2
5 5
3
6 6
4
7 7
5
8 8
6
9 9
7
10
8
10
9
10
4. Em relação ao ganho financeiro (remuneração pelo trabalho, maior possibilidade de venda, etc.) a. Estar numa associação/grupo de artesãos me proporciona um ganho maior. b. As atividades proporcionadas pela associação (feiras, cursos, etc.) aumentam meu ganho financeiro. c. Se eu fizer contatos com as pessoas certas, meus ganhos financeiros serão maiores. d. As pessoas com quem me relaciono me ajudam a conquistar meus objetivos financeiros.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
e. Conviver com outros artesãos me deixa mais seguro quanto aos meus ganhos financeiros.
5. Quanto à sua relação com a associação e com outros artesãos a. Participar de uma associação/grupos de artesãos me deixa mais feliz b. A minha criatividade para o trabalho é maior quando me relaciono com outras pessoas c. Eu me sinto motivado a trabalhar mais quando frequento a associação ou grupos de artesãos d. Estar em contato com outros artesãos me motiva a produzir mais.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
6. Em relação à sua capacitação para o trabalho a. Eu me sinto mais capacitado para o trabalho quando participo da associação ou grupos de artesãos b. Participar da associação ou grupos de artesãos me faz aprender mais. c. Participar da associação ou grupos de artesãos me incentiva a procurar novos cursos d. Desenvolvo novas técnicas para o meu trabalho a partir do contato mais frequente com outros artesãos na associação ou grupo de artesãos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
e. A minha rede de relacionamentos (amigos, artesãos, outras pessoas) me faz aprender mais sobre meu trabalho. 7. Sobre as pessoas com quem você se relaciona 1 a. A minha rede de relacionamentos aumentou por fazer parte de uma associação ou grupo de artesãos. b. Tenho mais contato com outras pessoas se eu participar de uma associação ou grupo de artesãos do que trabalhando sozinho. c. A associação ou grupo de artesãos me incentiva a conhecer outras pessoas. d. Busco sempre aumentar minha rede de relacionamentos. Como? Opção 1 Como? Opção 2 e. Conhecer pessoas novas é importante para o meu trabalho como artesão.
2
3
4
5
6
7
8
9
10
8. Quanto à forma de lidar com problemas a. Se há um problema na associação ou no grupo em que participo, procuramos resolver todos juntos. b. O consenso entre todos, ou pelo menos a maioria, dos participantes da associação ou de um grupo de artesãos é a maneira como chegamos à solução de um problema.
1
4
5
6
7
8
9
10
h. Consigo bons clientes para os meus produtos a partir das indicações dos meus amigos.
3
c. Os problemas são sempre debatidos em grupo para que possamos resolvê-‐los. d. Quando tenho problema com alguma pessoa, em relação ao meu trabalho como artesão, procuro resolver sempre com ela. e. Os conflitos que surgem no meu dia-‐a-‐dia são resolvidos por mim. f. Eu busco a ajuda de alguém para resolver os meus problemas com outras pessoas, em relação ao meu trabalho. g. A associação ou grupo de pessoas exerce um papel importante como mediador de conflitos. 9. Em relação às suas amizades a. As minhas relações são na maioria com pessoas da minha família. b. É importante ter amigos para fazer novos amigos. c. Eu faço amizades com pessoas que possam me ajudar no meu trabalho. d. Meus amigos são importantes para eu me capacitar mais no meu trabalho. e. Meus ganhos financeiros são maiores se eu tiver mais amigos. f. Quando conheço alguém, conheço também outras pessoas por meio dele. g. Eu sempre apresento os meus amigos à pessoas novas para aumentar minha rede de contato.
2
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
10. Sobre o papel da associação ou grupo de artesãos a. Sempre que tenho um problema, procuro apoio na associação ou no grupo de artesãos que participo e sou atendido. b. Vejo na associação ou no grupo de artesãos que participo a resposta para os meus problemas no trabalho. c. Se não existisse esta associação ou grupo de artesãos eu não resolveria os meus problemas. d. A associação ou o grupo de artesãos que eu participo só me ajuda se eu insistir muito. e. As pessoas que fazem parte da associação ou do grupo de artesãos sempre me procuram para saber se eu preciso de alguma ajuda. f. Reconheço na associação ou no grupo de artesãos que existe uma liderança. g. Todos participam igualmente na associação ou no grupo de artesãos. h. Existem assembléias e reuniões na Associação. i. As reuniões são sempre participativas. j. A associação ou grupo de artesãos é um espaço para compartilhar.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10