Maré de Notícias #52

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Elisângela Leite

Ano V, No

52

abril de 2014 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita

Elisângela Leite

Real Maré

Fabiola Loureiro

Memória

Escola de Samba Unidos da NH e bloco Mataram meu Gato Pág. 4 e 5

Fabiola Loureiro

Cultura

Douglas e Amanda do AtivaBreakers Pág. 15 Centro de Artes e Lona da Maré Pág. 13 e 14

Ocupação?

Só se for de políticas públicas Após a ocupação militar, governos fazem muitas promessas de ações sociais na Maré, mas moradores e instituições locais cobram políticas públicas planejadas e estruturantes. Em ano de eleições é bom redobrar a atenção. Associações de Moradores e sociedade civil buscam o diálogo para evitar que

as ações se deem de cima para baixo. Um dos resultados é o Protocolo para Ação das Forças de Segurança, visando proteger a vida dos moradores. Saiba o que vem sendo anunciado e conheça também um mapeamento dos serviços já existentes no conjunto de favelas da Maré. Pág. 8 a 12

No caos da Transcarioca Vias laterais da Av. Brasil serão reabertas até o fim de maio, após término da construção do arco da Transcarioca. Tadeu Ribeiro, morador do Parque União, teme que este BRT que ligará o Aeroporto Internacional custe mais caro. Já o ambientalista Sergio Ricardo levanta os pontos negativos deste corredor de ônibus. Pág. 7

Elisângela Leite

Nosso time de futebol Pág. 3

Elisângela Leite

EDIÇÃO ESPECIAL


Editorial Sem espetáculo A mídia empresarial/corporativa, como de praxe, trata com uma boa dose de espetacularização todos os processos de ocupação militar. Com a Maré não foi diferente. Viramos palco da cidade num primeiro momento. O problema é que, em geral, o olhar de fora tem dificuldade de nos ver como somos. É como se o mundo civilizado e a cidadania estivessem chegando agora na Maré, como se aqui antes não houvesse nada digno.

Time leva o nome da favela até para fora do país Hélio Euclides

Não, isso não é verdade. Por aqui somos cidadãos como os demais brasileiros. Além disso, militarização não é sinônimo de direito à segurança pública, nem a vida social dos cidadãos deve ser regida por militares. Entendemos que espetáculo tem hora para começar e para acabar. E nós estamos interessados em políticas públicas consistentes e de longo prazo. Por isso, a partir desta edição, iniciamos um acompanhamento deste processo, mas como vocês perceberão nas próximas páginas, não deixaremos de lado as matérias sobre a história da Maré contada por nós mesmos e sobre a rica vida cultural e social da favela. A todas e todos, boa leitura!

CARTA Hortas na Maré Olá, pessoal! Estou novamente aqui para agradecer o carinho e a publicação do poema (“É carnaval”, publicado na pág. 16 da Ed. 52). Fico feliz. Todo o Maré de Notícias, como sempre, traz matérias muito importantes, mas fiquei SUPER FELIZ em saber que temos, na Maré, projeto de hortas. Lembro que aqui, na Vila do João, na década de 1980, tínhamos na Ação Comunitária do Brasil (ACB) uma horta linda e os moradores também eram beneficiados com as hortaliças. Além disso, o espaço era cuidado pelos próprios moradores.

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa

Instituição Proponente

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Conexão G Conjunto Habitacional Nova Maré

Diretoria

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Expediente

Redes de Desenvolvimento da Maré Andréia Martins Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir Patrícia Sales Vianna

Instituição Parceira

Observatório de Favelas

Apoio

Ação Comunitária do Brasil Administração do Piscinão de Ramos Associação Comunitária Roquete Pinto Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança

3 PERFIL

Não é cruzado, tostão nem cruzeiro. É o Real Maré

HUMOR - André de Lucena: “Aquecimento global”

Associação de Moradores do Parque Ecológico Associação de Moradores do Parque Habitacional da Praia de Ramos

Gente, como é bom saber que não temos só problemas na Maré... Sara Alves Fotógrafa

Elisângela Leite

Proj. gráfico e diagramação Pablo Ramos

Logomarca

Luta pela Paz

Monica Soffiatti

União de Defesa e Melhoramentos do Parque Proletário da Baixa do Sapateiro

Colaboradores

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Associação de Moradores do Parque Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Associação de Moradores do Parque União Associação de Moradores da Vila do João

Parabéns para os idealizadores e a todos que participam do projeto, especialmente aos profissionais: Srª Maria Euzete e Sr. Antonio, Sr. Hélio e Sr. José Maria, que cuidam das hortas, pois é um trabalho lindíssimo e extremamente relevante. Não é possível deixar de parabenizar também a professora Débora, pois educar para uma alimentação saudável não é fácil. Essa tarefa é de todos!

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon

Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br

Coordenadores de distribuição

Luiz Gonzaga Sirlene Correa da Silva

Editor assistente

Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Anabela Paiva André de Lucena Aydano André Mota Flávia Oliveira Numim/ Redes da Maré

Repórteres e redatores

Aramis Assis Beatriz Lindolfo (estagiária) Fabíola Loureiro (estagiária) Rosilene Miliotti

/redesdamare

Impressão

Gráfica Jornal do Commercio

Tiragem

40.000 exemplares

@redesdamare

Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531 www.redesdamare.org.br comunicacao@redesdamare.org.br Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Parceiros:

Elisângela Leite

Um sonho que se tornou realidade, afirma o presidente do clube Real Maré, Sidnei Alves, sobre o time. No início era um grupo de peladeiro que depois partiu para oficializar o clube junto a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é mostrar que existe qualidade na favela, com pessoas que não esquecem as origens e representam a Maré. O nome“Real”remete a realidade de crianças e adolescentes que hoje são atletas. Tudo começou há 16 anos e hoje são cerca de 180 jogadores na Maré e outros 150 no núcleo do Caju. As dificuldades são imensas. Natan Alves, por exemplo, já ficou sem treinar por falta de chuteiras. “Isso acontece, mas aqui há muito incentivo e conselho, o que não me faz parar”, afirma o garoto. O grupo dribla os percalços e vem participando de diversos campeonatos. “O que muitas vezes falta é apoio para as viagens longas”, conta Sidnei. Esse ano o clube recebeu a proposta de participar de jogos na Argentina para o sub 17 e em

Portugal para o sub 13, mas até o momento não há patrocínio. “Temos dificuldades, mas somos incansáveis”, rebate o presidente. Para amenizar, hoje o clube recebe apoio da Lei de Incentivo ao Esporte, federal e estadual. Além disso, os diretores buscam oferecer aos garotos café da manhã e cesta básica, o que ajuda na alimentação. A entrada de novos jogadores é a partir dos sete anos. Depois a criança pode

seguir em outras categorias do Real: prémirim (sub 11), mirim (sub 13), infantil (sub 15), juvenil (sub 17) e juniores (sub 20). “Aqui é uma família, fora a minha essa é a segunda”, comenta o atleta Everton Mateus Pereira, o Mineirinho.

Em Minas e também no exterior Um dos momentos marcantes do Real Maré foi jogar em Minas Gerais e no Paraguai. “A família é primordial. Na viagem ao Paraguai algumas pagaram a passagem do filho e ainda ajudaram a quem não podia. Eles abraçam a ideia”, elogia Sidnei. O presidente do clube não deseja que seus alunos passem pelo que ele vivenciou. “Joguei na Portuguesa, mas por dificuldades financeiras tive que abandonar meu sonho. Lembro a eles para aproveitarem, pois na minha época não tinha essa oportunidade”, afirma. O funcionário da 30ª RA, Antonio de Pádua, incentiva o trabalho. “Acompanhei a equipe desde a criação. Vi o Sidnei com os ofícios para solicitar apoio, com dificuldades. Então sempre tentamos ajudar”, relata. Os treinos acontecem às segundas-feiras na Vila Olímpica da Maré; e às terças e quintas na Praça do 18, na Baixa do Sapateiro, de 9h as 11h30 e de 13h as 16h, nos dois locais. Neste momento, estão abertas as inscrições para sub 15 e sub 17. Quem se interessar, deve comparecer a um dos treinos.

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

EDITORIAL

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Como tudo começou

Texto e pesquisa: Gilson Silveira, pesquisador do Numim / Redes da Maré

Entendemos que a cultura é uma forma de resistência, uma forma de dar uma volta por cima das adversidades. Imagine você ser retirado do seu local, das suas pessoas e ser mandado para um lugar totalmente estranho e longe. Foi o caso dos moradores de Nova Holanda. Sua população foi composta inicialmente por pessoas de favelas muito diferentes, como Esqueleto, Praia do Pinto, Macedo Sobrinho, João Cândido e muitas outras. Pessoas que foram removidas de suas casas de forma autoritária e vieram parar aqui, com poucas coisas em comum além da vida difícil e a necessidade de se adaptar a um lugar novo e distante – distante tanto de seu local de trabalho quanto da rede social de convivência e, principalmente, de ajuda mútua. Nesse contexto, o samba exerceu o importante papel de aproximar e congregar completos estranhos, permitindo a todos construir novos laços de solidariedade e afetividade, contribuindo para a formação de uma nova comunidade na cidade, a Nova Holanda. Por isso, aproveitamos o espaço desta coluna do Núcleo de Memória e Identidade dos Moradores da Maré (Numim), desenvolvido pela Redes da Maré, para relembrar a trajetória do samba na Nova Holanda. Nesta rodada convidamos a Senhora Roseni Lima de Oliveira, cuja história da própria família se confunde com a história do samba na comunidade.

Conheça a Unidos da Nova Holanda e o início do bloco Mataram meu Gato, hoje Gato de Bonsucesso Roseni Lima de Oliveira

Aqui a primeira escola de samba foi a Unidos de Nova Holanda, e era verde e rosa. Naquele tempo não tinha tantas exigências, mas houve uma mudança e os desfiles que eram na Praça Onze começaram a ser limitados. Eu me lembro de que a Escola de Samba Unidos de Nova Holanda foi desfilar e as autoridades estavam proibindo, deixando apenas as agremiações maiores (que já eram as grandes escolas). Antes não tinha essa organização, era uma diversão, quem chegava, desfilava. Unidos de Nova Holanda foi perdendo força porque não tinha uma organização. Na época meu pai (Adevanir de Oliveira) era presidente de bateria, mas não tinha registro oficial, então com essas proibições foi morrendo...

“A Escola de Samba Unidos de Nova Holanda foi desfilar e as autoridades estavam proibindo, deixando apenas as agremiações maiores (que já eram as grandes escolas). Antes não tinha essa organização, era uma diversão, quem chegava, desfilava”

Roseni Lima de Oliveira

O Mataram o Meu Gato (hoje Gato de Bonsucesso) surgiu bem depois, uns cinco ou seis anos depois... Houve um espaço, um buraco quando acabou a Unidos de Nova Holanda que levou uns cinco ou seis anos até o taparem com o Mataram meu Gato. Quando ele surgiu, era aquela coisa do pessoal sair batucando e que depois se associou essa estória de “mataram meu gato”, porque onde o bloco se concentrava teve uma briga com uma mulher dona do tal do gato que disseram que mataram o gato dela. Mas essa estória eu já ouvi várias versões e não sei dizer qual é a verdadeira. Eu sei que fizeram o samba. Quando eu comecei a frequentar o Gato já existia essa coisa de “mataram meu gato, tiraram o couro...”. Alguns dizem que mataram mesmo o tal gato, outros diziam que não, que era só zoação e fizeram um churrasco na

“Pescador, pescador, aproveita o luar Rema, rema canoeiro pra canoa não virar...”

A memória que eu tenho daqueles primeiros anos é de quando a bateria estava tocando, eu pedia pra alguém me levar, pois era ainda muito nova. O local era lá na porta do Seu Manoel, o fundador do bloco, bem ali pelo miolo da Rua Principal. Quando eu ouvia aquilo eu dizia: “Eu gosto disso!” Aquela batida do surdo, que bate dentro do seu coração ainda hoje me alucina!

E os gritos de “já ganhou!” do povo todo alegre, daí eu fui pra casa e não entrei pra participar, mas aquilo ficou gravado na minha cabeça.

Na adolescência eu cheguei a desfilar no Gato em Vista Alegre. O meu pai queria pôr uma comissão de frente, apesar de, na época, não ser tradição os blocos terem os mesmos quesitos das escolas de samba. A intenção do meu pai era que os blocos seguissem um padrão que permitisse doutrinar o pessoal... Eu estava com 17 anos e ele falou: “Chama umas colegas suas, vamos fazer uma comissão de frente com umas meninas bonitinhas...” na época foi um time de mulheres! A mais sem gracinha era eu... Meu pai nessa época já estava ajudando o seu “Manel” e depois o compadre dele, o Gel, foi o presidente. Um tempo depois o bloco foi registrado e passou a se concentrar na Principal em frente à casa do meu pai, ali em frente ao bar do Tiãozinho. Nessa época eu fui morar fora daqui, mas quando eu vinha sempre tinha essa coisa do Gato. Eu me lembro de um ano em que cheguei aqui numa “final de samba-enredo”... A gente vinha chegando à Teixeira e só ouvia:

Quando eu voltei a morar aqui e o Gel resolveu que não queria mais ser presidente, ele passou a responsabilidade para o meu pai... Isso foi em 1982. Então o meu pai me pediu para fazer um enredo... Eu me espantei e disse que não sabia como fazer. Meu pai disse que não era nada demais, era só contar uma história e convidar as pessoas a assistirem a sua história, que você vai mostrar

“Quando eu comecei a frequentar o Gato já existia essa coisa de ‘mataram meu gato, tiraram o couro...’. Alguns dizem que mataram mesmo o tal gato, outros diziam que não, que era só zoação e fizeram um churrasco na porta dela (da dona do gato), porque ela era dessas mulheres que implicavam com o barulho na porta”

com fantasias, adereços e carros alegóricos. Daí eu disse: Por que eu? Isso é uma coisa de responsabilidade!... Mas o carnaval é uma expressão da cultura popular, é uma coisa que vem de dentro, então a gente sabe fazer! Só não sabe que sabe!... Eu estava separada recentemente, não tinha mais o que fazer, então eu aceitei. O Gato tinha uma imagem meio negativa dentro da comunidade, pois na época ainda tinha aquela coisa do samba não ser lugar para uma moça de família, era lugar de farra e de bagunça na cabeça de algumas pessoas. Então nós fizemos um trabalho que foi fundamental de ir de casa em casa pra trazer as famílias, porque antes era assim: quando o Gato começava a batucar, vinham os jovens e a gente perguntava se queriam desfilar e a resposta era sempre a mesma: Minha mãe não deixa. A gente foi às casas e explicava que a proposta era justamente envolver as famílias e acabávamos convencendo a mãe, o pai e a tia a participar também. E a gente conseguiu encher o bloco, foi um dos carnavais mais lindos que teve no Gato! Pela inocência, pela pureza, sem essa coisa da competição e de querer ganhar, mas foi pela espontaneidade. E nesse ano de 1982 nós conquistamos o terceiro lugar. Eu digo hoje que, se a comunidade abraçar o Gato, ninguém segura essa escola!!!

Desfile do Gato de Bonsucesso, atual nome do Mataram meu Gato, no carnaval de 2012 na Av. Intendente Magalhães

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

A construção da identidade através do samba

porta dela, porque ela era dessas mulheres que implicavam com o barulho na porta.

Elisângela Leite/Riotur

LEMBRO, LOGO EXISTO - Memória e Identidade

Ar tigo

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Fabiola Loureiro

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

ARTIGO

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TRANS CAOS RIOCA

de Vida Real

Inicialmente voltado para pessoas em situação de risco de dependência química, hoje o instituto está aberto a todos os moradores Hélio Euclides

Previsão da prefeitura é reabrir as pistas interditadas da Av. Brasil até fim de maio Hélio Euclides

A atriz Carla Camurati também esteve na festa

Elisângela Leite

O Instituto Vida Real chegou aos seus 10 anos. A data foi marcada por uma cerimônia no dia 22 de março, em um salão da Nova Holanda, com direito a apresentação cultural dos alunos. Para o presidente da instituição, Sebastião Antonio de Araújo, o Tião, essa década é uma vitória. Inicialmente, as atividades eram dirigidas exclusivamente a dependentes químicos. Com o tempo, viu-se a necessidade de um trabalho de prevenção, quando as oficinas foram estendidas a todos os moradores. Tião foi dependente, depois estudou o tema e criou o instituto. “Quando parei de usar drogas precisei ter determinação. Até hoje tem gente que não acredita que não utilizo, pois quem passa por isso fica desacreditado por parte da sociedade. No Vida Real acreditamos na mudança do jovem, com o resgate”, ressalta ele. Os objetivos principais são a capacitação, a ressocialização e a valorização do aluno. A meta é qualificar a vivência do dependente químico com a família, estimulando o diálogo e o respeito. São 23 funcionários que contribuem para a diversidade de oficinas oferecidas, como grafite, informática, artesanato, fuxico, música instrumental, moda, terapia comunitária, reforço escolar, fotografia, pré-técnico e vídeo. Atualmente, há 260 alunos de 12 anos em diante. Dioneia da Silva, de 71 anos, é aluna de fuxico. “Além de mim, um neto frequenta e outro já atua trabalhando aqui. Gosto porque é um prolongamento da minha família”, conta ela, que já planeja o próximo passo: aprender informática. Por sinal, um dos cursos mais procurados é o de informática para idosos, com duas turmas e possibilidade de abertura de mais uma. Para isso, a instituição pede doação de computadores. O Vida Real acredita que o curso ajude na prevenção do Mal de Alzheimer. “Com o curso de informática melhorei o desenvolvimento da mente”, afirma Rosilda Gomes, de 42 anos. Já Dandara Maria Morais, de 14 anos, afirma que seu desempenho na escola melhorou por causa dos cursos. “Se não tivesse estudando aqui estaria dormindo em casa”, diz ela. “O convívio com todos é muito bom”, acrescenta a professora de artesanato, Maria das Dores Farias. Para saber mais, o Instituto Vida Real fica localizado na Rua Teixeira Ribeiro, 575, na Nova Holanda. Pela internet: www.institutovidareal.org.br

Elisângela Leite

Quem passa pela Avenida Brasil percebe, além do engarrafamento, uma enorme obra que atravessa a via na altura do acesso a Ilha do Governador. A intervenção faz parte do BRT Transcarioca, para construção de um arco estaiado, ou seja, uma ponte suspensa por cabos. Para isso, a prefeitura fechou a pista lateral da Av. Brasil, sentido Zona Oeste, e fez um desvio com retorno próximo a Ilha do Fundão. E a outra pista lateral, sentido Centro, está com passagem para apenas um veículo. Moradores da Maré reclamam dos motoristas de ônibus que estão passando da pista lateral para a central para fugir do retorno obrigatório em direção à Zona Oeste. Do outro lado é a mesma coisa. Surpreendidas com a mudança irregular do itinerário, as pessoas estão descendo do ônibus na pista central e atravessando a Av. Brasil a pé, com risco de serem atropeladas. Segundo a Secretaria Municipal de Obras, as obras do arco serão finalizadas até maio, quando as pistas interditadas da Brasil serão reabertas.

“Quando parei de usar drogas precisei ter determinação. Até hoje tem gente que não acredita que não utilizo, pois quem passa por isso fica desacreditado por parte da sociedade. No Vida Real acreditamos na mudança do jovem, com o resgate”

Tião, fundador do Vida Real

O morador do Parque União, Tadeu Ribeiro, representou a Maré em uma reunião sobre a Transcarioca em 26 de janeiro de 2012, no Social Ramos Clube, e desde então está insatisfeito. “Não aconteceu a discussão sobre mobilidade urbana, a obra foi aprovada pelas costas da população”, critica Tadeu. Ele teme que o BRT, que ligará a Barra ao Aeroporto Internacional, tenha o preço elevado no futuro, dificultando o acesso da população, assim como ocorreu com o teleférico do Alemão, que hoje custa R$ 5 se o bilhete for pago na bilheteria (R$ 10 ida e volta). Moradores do Alemão cadastrados têm direito a apenas duas passagens gratuitas por dia (uma ida e uma volta). A tarifa unitária de R$ 1 vale para não moradores que utilizam os cartões VT, Expresso, Bilhete Único e Bilhete Único Carioca. Se comprar na bilheteria é R$ 5.

BRTs na berlinda Ambientalista enumera os pontos negativos das Trans Sergio Ricardo, ecologista, gesto e planejador ambiental

Para a construção da Transcarioca, além de provocar a remoção e despejo de centenas de moradores e do comércio, foram derrubadas dezenas de árvores plantadas pelos próprios moradores na Avenida dos Campeões, em Ramos. Além do valor afetivo, ajudavam a amenizar o calorão da região e a capturar gases poluentes como o monóxido de carbono lançados pelos milhares de automóveis que passam diariamente na Avenida Brasil. Ingressamos com moradores de Ramos na Justiça, sem sucesso neste caso. As Transcarioca, Transoeste e Transbrasil estão na contramão da história, já que enquanto o Rio de Janeiro opta por fortalecer o modelo rodoviarista, controlado por um cartel de empresas de ônibus – já que suas pistas serão utilizadas exclusivamente para circulação de ônibus –, as grandes cidades do mundo buscam investir cada vez mais em outros modais de transporte, como o veículo leve sobre trilhos (VLT, espécie de aeromóvel que é uma alternativa metroferroviária menos poluente), trem, metrô e ciclovia. Considero um crime o fato de o trajeto da Transcarioca ter abandonado o projeto da linha seis do metrô, que ligaria a Barra da Tijuca, Madureira, Vicente de Carvalho e Ilha do Governador. Além disso, a Transcarioca inviabiliza o projeto da Supervia de 2008, que pretendia levar uma conexão de trens de Bonsucesso a Ilha do Governador, ou seja, teríamos uma linha direta do Centro da cidade, passando pelo maior campus universitário do Rio, no Fundão. Além disso, a construção das Trans custarão aos cofres públicos, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cerca de R$ 5 bilhões e serão, após construídas, repassadas para administração de cartel de empresas de ônibus sem estar previsto o ressarcimento das verbas públicas. O que provoca prejuízos ao cofre público, conforme constatou auditoria técnico-financeira do Tribunal de Contas da União (TCU). Uma mamata brutal de dinheiro público para a iniciativa privada.

MOBILIDADE

10 ANOS

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Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

CAPACITAÇÃO

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Silvia Noronha

Elisângela Leite

Logo nos primeiros dias após a ocupação militar da Maré, diferentes representantes dos governos estadual e municipal anunciaram uma série de investimentos nas favelas locais.Aconteceu o mesmo no Complexo do Alemão, onde muitas das promessas não foram cumpridas a contento. A contento significa atuar com planejamento, visando o futuro da população com a oferta de serviços públicos de qualidade, equiparáveis aos demais bairros da cidade. Projetos isolados e que duram apenas alguns meses, ainda mais em ano de eleições, podem ser mal vistos por uma população que já conhece esse tipo de conduta por parte de políticos.

A Maré dispõe de uma extensa gama de serviços públicos (leia reportagem nas pág. 10 e 11), porém o problema aqui é que o Estado se faz presente de maneira precária. Muitas iniciativas em curso tentam mudar essa realidade. Uma delas é o projeto Maré que Queremos, que reúne os dirigentes das Associações de Moradores e instituições locais desde o início de 2010, lutando por melhorias estruturantes. O diálogo com representantes dos órgãos públicos visa justamente cobrar investimentos do Estado, para que eles aconteçam de forma negociada e não de cima para baixo. No campo da segurança pública, logo na primeira semana de ocupação (ainda pela Polícia Militar, substituída pelas Forças Armadas em 5 de abril), veio à Maré o secretário José Mariano Beltrame para uma reunião aberta aos moradores. O encontro teve como principal resultado a aprovação de um Protocolo para a Ação das Forças de Segurança na Maré. Beltrame assumiu o compromisso tanto de orientar a polícia para que os preceitos sejam praticados como de se tornar um interlocutor junto ao comando militar responsável pela ocupação. A reunião, realizada no Centro de Artes da Maré (CAM), na Nova Holanda, contou com a presença de mais de 150 pessoas, entre moradores, integrantes das Associações de Moradores e represen-

Maré deseja políticas públicas planejadas e consistentes que tragam mudanças estruturantes de longo prazo

Agenda ambiental para a Maré

tantes de organizações da sociedade civil, como a Redes da Maré, Observatório de Favelas, Luta pela Paz, Conexão G, Uerê e Instituto Vida Real.

Na visão do ambientalista Sergio Ricardo, este pode ser o momento propício para se conseguir dos governos os investimentos debatidos há décadas e até hoje não executados, como na melhoria do sistema de esgotamento sanitário, cujo problema provoca constantes vazamentos e alagamentos nas ruas da Maré, além de ter transformado os canais em valões a céu aberto. Inúmeros problemas de saúde decorrem disso. O problema vem sendo discutido com a Cedae, estatal do governo do estado, desde os anos 1990, conta Sergio.

Estado de Exceção Segundo Jaílson de Souza, diretor do Observatório de Favelas, o objetivo é ir além da lógica militar. Para Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré, a ocupação pelas Forças Armadas é um equívoco. “O que garante que este processo vai de fato assegurar o direito à segurança do morador?”, questiona ela, que classifica a situação atual como “Estado de Exceção”, por causa do emprego das Forças Armadas. Por outro lado, Eliana aposta na possibilidade de se construir uma outra postura por parte dos agentes de segurança. Para isso, entre as propostas constantes do Protocolo está a criação de uma ouvidoria comunitária, que seria diferente da ideia apresentada pela Força de Pacificação federal para a Maré e por Beltrame para as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Na ouvidoria comunitária, as denúncias seriam feitas a representantes da sociedade civil e não a agentes militares.

AS DE SEGURANÇA: PROTOCOLO PARA A AÇÃO DAS FORÇ

da preservação rá obedecer aos princípios da legalidade e 1 - A ação dos agentes de segurança deve dos polido Estado, sendo obrigatória a identificação ntes age dos e é Mar da res ado mor dos da vida adas em qualquer ação. ciais e dos representantes das forças Arm dados judiciais ica deve seguir rigorosamente o uso de man 2 - A ação dos agentes de segurança públ particulares; individuais para o ingresso em domicílios cia e de cona pública deverá priorizar ações de inteligên 3 - A intervenção dos agentes de seguranç armadas; rticular a presença das redes criminosas trole do uso de armas e munições para desa icas de disrança pública não deve se orientar por prát segu de ntes age dos em rdag abo de 4 - A ação e do Adolescente r em consideração o Estatuto da Criança criminação racial e geracional e deve leva (ECA).

ser encamirrentes da ação das forças de segurança deve 5 - A mediação de eventuais conflitos deco ria. locais, por meio de uma ouvidoria comunitá nhada em articulação com as organizações ndo mês, de primeiro mês, e quinzenais a partir do segu no is ana sem iões reun s zada reali o Serã 6das forças ença do comando das Forças Armadas e pres a com o and cont s, açõe das to men monitora locais. dos moradores da Maré e das organizações estaduais de segurança e a participação

“É fundamental redimensionar a rede coletora, com a correta separação das águas pluviais do esgoto, e ainda fazer a conexão com a Unidade de Tratamento de Alegria (ETE), no Caju”, explica ele. A Cedae voltou a anunciar essa obra há um ano e meio (ver Maré de Notícias, Ed. 35, de novembro de 2012), porém nada fez por enquanto. Sergio teme que a Cedae apenas instale tronco coletor nas principais saídas de esgoto, melhorando as águas da Baía de Guanabara, mas não a situação dos moradores da Maré. Ainda no campo ambiental, Sergio defende a arborização da Maré, que tem um dos piores níveis de qualidade do ar do Rio de Janeiro (leia “O ar que eu respiro”, Maré de Notícias, pág. 4, Ed. nº 9. Disponível em: redesdamare.org.br). Defende também a revitalização do Parque Ecológico e ações que tornem a Ilha do Fundão uma espécie de Aterro do Flamengo dos moradores da Zona Norte. A construção de uma ciclovia ligando o Fundão seria uma das propostas.

Morador, denuncie violação de seus direitos à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa [00:36:14] Silvia Noronha: A reunião, realizada no Centro de Artes da Maré

(!)

Tel.: 2588-1555 / 1660 / 1268 - End.: Palácio Tiradentes, sala 307. Praça Quinze – Centro (no início da Av. 1º de março) -- OBS: Os trabalhadores da Comissão darão orientações sobre como proceder nesses casos.

Militarização

OCUPAÇÃO?

Só se for de políticas públicas

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MILITARIZAÇÃO

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Para alguns a situação até piorou, pois foram fechadas a agência dos Correios do Parque União e duas das três casas lotéricas, da Vila do João e do Parque União, ficando apenas a da Rua Teixeira Ribeiro. O transporte coletivo também foi reduzido. Linhas como 911 (Bonsucesso/Cidade Universitária), 320 e 330 (Castelo/Parque União) só circulam de segunda a sexta-feira, com apenas um veículo. O ônibus Galeão/Charitas deixou de circular pela Linha Amarela e o 663 (Méier/Parque União) mudou o itinerário e não entra mais pela Maré. Outro exemplo é agência bancária, que até hoje não existe por aqui. Na saúde contamos com os Centros Municipais João Candido, Américo Veloso, Parque União, Hélio Smidth, Samora Machel, Nova Holanda, Gustavo Capanema, Vila do João e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA Maré). Destes o Gustavo Capanema, na Vila do Pinheiro, vive em situação deprimente, como mostrado na edição 50. A Maré conta somente com uma Clínica da Família (Augusto Boal) e no início do primeiro governo de

A educação já apresenta um número aparentemente satisfatório. São 18 escolas municipais: Teotônio Vilela, Professor Josué de Castro, Ciep Ministro Gustavo Capanema, Professor Paulo Freire, Bahia, Quarto Centenário, Operário Vicente Mariano, Ciep Elis Regina, Ciep Presidente Samora Machel, Nova Holanda, Ciep Hélio Smidt, Tenente General Napion, Armando de Salles Oliveira, Ciep Leonel de Moura Brizola, Cantor e Compositor GonzaguiCiep dividido em dois em 2012, cada andar agora é uma escola nha, Escritor Lêdo Ivo, além do Centro de EduQuando se fala do lixo é algo dramático, não cação de Jovens e Adultos (Ceja-Maré). A 18ª foi precisa andar muito para ver entulho e sacos inaugurada há dois anos, quando a prefeitura diespalhados por todas as comunidades, embora vidiu o Ciep Operário Vicente Mariano. Surgiu a seja feita coleta diária nas ruas principais, com Escola Municipal Escritor Bartolomeu Campos de exceção de domingo. Por um lado, muitos moQueirós, ficando cada uma em um andar do mesmo prédio. radores jogam seus sacos de lixo logo após a passagem do caminhão de coleta; por outro a própria Comlurb já admitiu a falta de garis. Na Apesar do grande número, o questionado é a quaEd. 40, de abril do ano passado, o diretor de lidade do ensino. Já a escolas de ensino médio Serviços da Comlurb, Luis Guilherme Gomes, não são muitas, duas funcionam dentro de unidainformou que o número ideal é ter um gari para des municipais: Bahia e Tenente General Napion. cada mil habitantes. Na Maré, portanto, deveria A única realmente do governo do estado é o Ciep haver um total de 130, mas havia apenas 36 gaCesar Penetta. ris da Comburb e 72 comunitários, sendo 68 na ativa e quatro de licença. Na relação de creches municipais há seis: Menino Maluquinho, Vila Pinheiro, Monteiro Lobato, ProfesSobre esgotamento sanitário, a Cedae realiza a sor Paulo Freire, Nova Holanda, e Tio Mário. Que manutenção como se estivesse no século retrase somam as creches conveniadas: Sociedade Besado, com canos plásticos (PVC) para desentupir neficente Sagrado Coração de Maria, Creche Esmanilhas. Até antes da ocupação militar, eram socola Mimi, e Sociedade de Ensino Teresa Cristina.

Fabiola Loureiro

Políticas Públicas

mente 11 funcionários terceirizados, da empresa Spil, para toda a Maré. Sem falar na falta d’água que atinge muitas residências, obrigando o morador a instalar bombas hidráulicas que, por sua vez, puxam para cima o gasto com energia elétrica. Para piorar, a agência Cedae Maré quase foi fechada pela estatal no ano passado, o que só não ocorreu por luta das associações de moradores.

Com relação aos projetos esportivos que as associações de moradores tinham conhecimento antes da militarização, havia 37 iniciativas, parte delas mantida pela prefeitura, como o projeto do Piscinão de Ramos, parte com apoio público, como a VOM, além dos projetos ligados a ONGs, como o Luta Pela Paz ou tocados diretamente por moradores. São atividades como futebol, futsal, natação, lutas e artes marciais, capoeira e exercícios voltados para a terceira idade. São ações com ou sem patrocínio, realizadas por profissionais de educação física ou simplesmente por moradores. O Maré de Notícias vai continuar acompanhando as ações e ouvindo a opinião dos moradores para que avaliem as políticas locais. Leia na página seguinte o que disse o prefeito Eduardo Paes em sua primeira vinda à Maré após a ocupação.

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

O Estado já está presente na Maré com diversos serviços públicos de modo geral precários. Com a Lei nº 2.119, de 19 de janeiro de 1994, foi constituído o bairro Maré, agrupando 16 comunidades: Conjunto Esperança, Vila do João, Vila do Pinheiro, Salsa e Merengue, Conjunto Pinheiro, Bento Ribeiro Dantas, Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Nova Maré, Parque Maré, Nova Holanda, Rubens Vaz, Parque União, Roquete Pinto e Praia de Ramos (Marcílio Dias oficialmente passou a pertencer a Penha Circular, mas continua inserida no chamado conjunto de favelas da Maré, em função do histórico de lutas coletivas com as demais comunidades). Nestes 20 anos, pouca coisa mudou.

Eduardo Paes havia a promessa de outras quatro até o final de 2012 que não saíram do papel (ver Ed. 2 do Maré de Notícias). A promessa agora são mais três clínicas dessas. Para agravar, houve o fechamento dos postos de saúde Operário Vicente Mariano, Elis Regina e 14 de Julho.

Posto de Saúde panema : péssimo estado foi motivo greve no início doCa de ano

O que você acha sobre a Maré ter virado bairro há 20 anos? Elisângela Leite

Hélio Euclides e Rosilene Miliotti

Além do Espaço de Educação Infantil Vila do João, administrado pelo Riosolidário/ Obra Social do Governo do Estado. As novidades são os Espaços de Desenvolvimento Infantil, os EDIs que são outros seis: Cremilda da Silva dos Santos, Pescador Isidoro Duarte - “Doro”, Professor Moacyr de Góes, Professora Kelita Faria de Paula, Professora Solange Conceição Tricarico, e Cléia Santos de Oliveira. Contudo, há um número grande de espera por vagas. E até hoje Roquete Pinto, Praia de Ramos e Marcílio Dias não possuem creches públicas.

(?)

“Não adianta o prefeito vir aqui falar que vai fazer clínicas, se o saneamento é de 25 anos atrás. Se vão fazer novas unidades, será que vai ter médico e estrutura para os agentes de saúde? Hoje os agentes têm que levar trabalho para casa, já que tem metas e cobranças, mas faltam computadores. A Maré é um bairro que cresceu para cima com casas de 14 metros. As casas reúnem até 11 famílias, com tubulação de esgoto nas ruas precário. Quando chove a água não vai embora rápido. Não tem o que comemorar nesses 20 anos” Ramires da Silva, morador do Parque Maré “A Maré não é um bairro. Temos comércio, mas cidadania não é consumir, falta o Estado gerir. O que temos é o morador que lutou com resistência. Tem que acabar o estigma de que favelado não tem educação, que todos são bandidos, e da ausência da ordem. Tem que se mudar essa visão, para isso temos que ter o direito de ir e vir” Thaís Cavalcante, moradora do Parque Maré

Vazamento crônico de esgoto no Parque Roquete Pinto

Elisângela Leite

Poucas melhorias e falta de serviços públicos, 20 anos após a “criação” do bairro Maré. Leia abaixo o mapeamento dos serviços existentes por aqui antes da ocupação militar

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Elisângela Leite

Maré, um bairro em criação

Elisângela Leite

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

POLÍTICAS PÚBLICAS

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“Nesses 20 anos foram feitas creches, mas que ainda é insuficiente. Aqui nasceu a primeira UPA do Brasil. Nesse período foram criados os postinhos de saúde, que podem melhorar” Rosilene Oliveira, professora do Ciep Samora Machel


Os dirigentes das Associações de Moradores das favelas da Maré e instituições locais se reuniram com o prefeito Eduardo Paes, na tarde de 9 de abril, no auditório da Escola Municipal Bahia. Esta primeira reunião após a ocupação militar ocorreu a portas fechadas. Mesmo assim, o prefeito prometeu dialogar com a população. A primeira grande ação anunciada, a construção de um complexo educacional ao lado da Vila Olímpica, foi vista com descrença por alguns moradores e trabalhadores. Isto porque há falta de professores nas unidades já existentes, problema básico que precisa ser equacionado. Por outro lado, dirigentes de Associações e a Redes da Maré, por meio do projeto Maré que Queremos, de fato vinham reivindicando novas unidades voltadas prioritariamente para o segundo segmento (6º ao 9º ano), mais creches e mais salas de educação de jovens e adultos. Veja alguns pontos abordados pelo prefeito logo após a reunião: Mudanças – “Não é uma porta da esperança, a lista dos problemas é enorme, mas é preciso realizar as prioridades. Um ponto é que no futuro estaremos avaliando a ordem pública na Maré. As calçadas vão voltar a ser organizadas, não dá para elas ficarem com as barracas. Para isso, vai

haver um processo de diálogo para legalização necessária.” O que falta – “A Maré tem escolas, unidade de saúde, coleta diária de lixo, iluminação e boa parte das ruas estão urbanizadas. O que vamos fazer agora é qualificar os serviços. Aqui o serviço é oferecido, contudo a qualidade era baixa. A presença da prefeitura tem que ser qualificada. O próximo passo será o Bairro Maravilha, que será a reestruturação da infraestrutura urbana, a primeira parte será saúde e educação.”

“Aqui o serviço é oferecido, contudo a qualidade era baixa. A presença da prefeitura tem que ser qualificada. O próximo passo será o Bairro Maravilha, que será a reestruturação da infraestrutura urbana, a primeira parte será saúde e educação” Prefeito Eduardo Paes 20 anos de bairro Maré – “A Maré já foi palafitas, depois vieram os conjuntos habitacionais, as coisas aconteceram. Essa é uma oportunidade e um momento histórico de um bairro popular próximo ao Centro, que têm trabalhadores.” Educação – “Já licitamos para a construção de novas unidades de ensino. O objetivo é ter todas

Edição 30 (junho de 2012) trouxe as reivindicações apresentadas ao prefeito na reunião de 19 de maio, na Maré

as crianças estudando em tempo integral” (novo campus educacional da Maré, ao lado da Vila Olímpica, terá seis escolas e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI). Até 2016, haverá ainda mais 12 novas unidades – sete escolas e cinco EDIs – e outras oito já existentes serão reformadas e ampliadas. O investimento total é de R$ 325 milhões e vai atender mais de dez mil crianças em turno único em toda a região da Maré, conforme divulgado pela Secretaria Municipal de Educação). Saúde – “Temos 100% da atuação de saúde. Tirando a Clínica da Família Augusto Boal, as unidades são ruins. Hoje faltam três clínicas da família. Agora é seguir o cronograma com as clínicas, que com um ano e meio devem estar prontas, a mesma coisa com as escolas” (quando assumiu o primeiro governo, Paes anunciou cinco clínicas da família na Maré até o final de 2012, mas só uma se tornou realidade). Lixo – “Outro debate que travamos foi o trabalho da Comlurb, que tem uma varrição, no qual precisa melhorar, pois tem falhas. A varrição ainda não está adequada, falta um ajuste. Por exemplo, a quantidade de caminhão que entra na Maré para jogar entulho nas áreas públicas é um absurdo. Temos que fiscalizar para melhorar isso. O lugar mais caro do Rio, o Leblon, a coleta é feita três vezes por semana, aqui só para domingo, mas é preciso ter mais diálogo com os moradores.” Mac Laren – “Ninguém deve permanecer debaixo do viaduto. Essas 20 e poucas famílias estão sendo assistidas pela Secretaria de Desenvolvimento Social e o pessoal da Secretaria de Habitação vai ver o caso.”

edição 32 O jornal trouxe a situação da Mac Laren na passou a dia(agosto de 2012), quando a Redes da Marécomunidade logar com a prefeitura cobrando atenção à

Sexta-feira

Ballet 14h30 às 16h30 (acima de 12 anos) Dança contemporânea (intermediário) 16h às 18h (acima de 12 anos) Dança criativa (NOVA!) 18h às 19h (de 6 aos 12 anos) Com Tony Hewerton

Dança de salão Iniciante - 18h às 19h Intermediário - 19h às 21h Acima de 16 anos OBS: No momento, inscrições para damas só com o seu cavalheiro.

Mostra Maré de Artes Cênicas - abril Sempre no último fim de semana de cada mês

Rio de Janeiro a Dezembro Sábado, 26/04, às 18h Espetáculo musical folclórico infantil Cia teatral Cantos do Rio com Jujuba & Ana Nogueira. Presta uma homenagem ao Rio de Janeiro resgatando as mais genuínas manifestações culturais folclóricas do povo fluminense. Apresenta a arte popular em 12 quadros, de janeiro a dezembro. Excelente programa para toda a família! Classificação: Livre Duração: 50 minutos

CULTURA

Dança Criativa 18h às 19h (acima de 12 anos) Dança contemporânea (iniciante) 19h às 20h

Quinta-feira

Pequena Coleção de todas as coisas

Domingo, 27/04, às 18h Espetáculo de dança - infantil Cia Dani Lima & convidados Do alto de um balde posto de cabeça para baixo, um mundo de descobertas se descortina. Adaptação para o universo infantil do espetáculo “Pequeno inventário de lugares-comuns”, de 2009. Classificação: Livre Duração: 50 minutos

R. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda. Programação no local ou pelo tel. 3105-7265 De 2 a a 6a, de 14h às 21h30

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

Hélio Euclides

Ballet 14h30 às 16h (acima de 12 anos) Dança contemporânea (intermediário) – 16h às 18h30 (acima de 12 anos) Consciência corporal 18h às 19h30 (acima de 16 anos) Percussão 19h às 21h (acima de 10 anos)

Quarta feira

Rosilene Miliotti

Eduardo Paes anuncia uma série de intervenções e promete diálogo com os moradores

Terça-feira

Renato Mangolin/Divulgação

Prefeito promete diálogo

Segunda-feira

Dança de Rua Iniciante - 18h às 19h Intermediário - 19h às 20h30 Faixa etária: acima de 10 anos Introdução ao ballet (NOVA!) Iniciantes 17h às 18h (8 aos 12 anos)

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Oficinas da Escola Livre de Dança da Maré

Divulgação

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

Políticas Públicas

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Herbert Vianna

PROGRAME-SE !

www.redesdamare.org.br - entrada gratuita Centro de Teatro do Oprimido - Aula experimental

Sábado, 26 de abril, de 14h às 18h O CTO pretende formar três grupos na Maré com jovens de 15 a 29 anos de idade. O projeto utiliza o teatro como instrumento de emancipação política e discutirá alternativas para os problemas da juventude na Maré

Zigg e Zogg

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

Espetáculo infantil Quinta, 8/05, 15h

Forró na Lona

Lona Música Livre

Com Los Chivitos + Dona Joana. DJ Flora Mariah Sexta, 16/05, 20h

Com os Três Forrozeiros e Trio Estopim Sexta, 9/05, 20h

Urucuia – Grande Sertão

Espetáculo infantil Sexta a domingo, 23/05, 15h; 24 e 25/05, 16h

Festival de Circo Crescer e Viver Segunda a quinta, 12 a 15/05, 14h

R. Ivanildo Alves, s/n Nova Maré Tels.: 3105-6815 / 7871-7692 lonadamare@gmail.com FACE: Lona da Maré / Twitter: @lonadamare

cultura

Cia Urbana de Dança Quinta, 29/05, 19h

Biblioteca Popular Municipal Jorge Amado Ao lado da Lona, atende a toda a Maré: Amplo acervo, brinquedoteca, gibiteca e empréstimo domiciliar

Participe de documentário

A Escola de Cinema Olhares da Maré (Ecom), da Redes da Maré, procura por pessoas que estarão trabalhando durante a Copa do Mundo no Rio para participarem de um documentário. Estão convidados voluntários que estarão prestando serviço para a Fifa ou demais trabalhadores formais e informais como vendedores ambulantes, artistas de rua e jornalistas. Informações pelos e-mails: ecom@redesdamare. org.br / secretaria@redesdamare.org.br ou tel.: 3105-5531 ou 3104-3276.

RECEITA

Bolo de improviso Não deu tempo de preparar aquele super bolo especial, todo lindo e maravilhoso? Não tem problema. Surpreenda o aniversariante com esta dica simples. Faça ou compre um bolinho simples e enfeite com tiras de chocolate por fora e confete de chocolate por cima. O que a equipe do Maré de Notícias viu foi feito com Kit Kat, mas é possível enfeitar com outras marcas mais em conta, como palitos de chocolate, biscoito wafer ou pão de mel. Para a parte de cima, se o confete de chocolate estiver caro, escolha outra opção, como chocolate granulado ou morango. Vai ficar bonito e personalizado!

b na r e e a r k m a e m T

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Lona cultural

Formado por moradores, grupo Ativa Breakers vem conquistando diversos campeonatos de break

Fabíola Loureiro

Douglas Barreto da Silva Alves, 24 anos, morador da Nova Holanda, é B-boy, nome dado aos meninos que praticam o breakdance, e já participou de várias batalhas de break. Na adolescência, Douglas conta que tinha dificuldade em interagir com a galera, pois curtia músicas que não eram populares, como as de James Brown, cantor de soul norte-americano. Quando Douglas assistiu a apresentação de um antigo grupo que havia na Maré, o Ataque Brasil Break, logo se identificou, pois essa galera dançava justamente ao som de Brown, famoso pelas músicas que Douglas sabia de cor.

Amanda Baroni

“O break desenvolveu minha mente e despertou minha curiosidade até para fazer outras atividades e me trouxe disciplina. Além de ser meu trabalho, é meu hobby e minha válvula de escape. Vivo, respiro a dança, é uma filosofia. Minha vida ficou mais saudável”, conta Douglas. O break é um estilo de dança de rua e foi implantado na Maré no ano de 2001 pelos b-boys Luck e Felipe Reis, que faziam parte do Grupo de Break Consciente da Rocinha (GBCR). Ambos já tinham vivência no hip hop e foram referência para Douglas e outros meninos na época. Depois de algum tempo, o pessoal foi parando de treinar na Maré. Vendo a necessidade de manter a cultura hip hop, em 2008 foi feito um evento no Morro do Timbau para divulgar e fazer com que a galera voltasse a treinar. No final do evento surgiu o grupo Ativa Breakers, do qual Douglas participa. Entre 2008 e 2009 o grupo ganhou vários campeonatos, em diversos lugares do Rio de Janeiro. Atualmente o grupo tem 11 integrantes, com idades entre 12 e 24 anos e apenas um não é morador da Maré.

Break também é lugar de meninas Amanda Baroni Lopes, 20 anos, moradora do Timbau, é a única menina do Ativa Breakers. Quando mais nova, ela não se sentia bem ao e Paula Marko D

usar roupas curtas e ouvir pagode para se enturmar. Hoje entende que sua identidade são as roupas largas e o boné, bem ao estilo hip hop. Em 2013, Amanda viajou bastante para participar de competições e um dos lugares por onde passou foi o Chile. “Eu danço porque foi uma atividade que me trouxe amadurecimento, uma profissão e uma autoestima que eu não tinha. Vejo as batalhas como uma forma de avaliação de quanto meu treino está bom ou não. Ser B-girl é uma realização pessoal e uma diversão. Aprendi a lidar com as pessoas e a ser mais tolerante”, diz Amanda, para quem a vida é um constante desafio. Para este ano, a meta do grupo é estar mais presente na Maré, promovendo eventos e mostras de dança nas comunidades.

(?)

O breaking nasceu do hip hop, na década de 1970, nos subúrbios negros e latinos de Nova Iorque, em festas produzidas pelo DJ jamaicano Kool Herc, que ficou conhecido como o fundador da cultura hip hop. Nessas festas, chamadas Block party, Kool percebeu que quando chegava a parte instrumental das músicas, a garotada começava a dançar nesse espaço de tempo (break em inglês significa dar uma pausa). Nesse contexto, nasceram diferentes manifestações artísticas de rua, formas próprias dos jovens ligados àquele movimento de se fazer música, dança, poesia e pintura. Com o tempo começaram a organizar as batalhas, que consistiam em uma competição artística entre diferentes gangues. O break é um dos quatro pilares da cultura hip hop. Os outros três são o graffiti, o rap e o DJ.

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

Cultura

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Mulher - Elcio dos Santos,

ESPAÇO ABERTO

Descalço - poema de Alex Bonfim Fernandes Às vezes o silêncio me assusta, A noite em meu quarto espero A inspiração; para falar-te Frases bonitas.

Maré de Notícias No 52 - abril / 2014

Movimentos repetitivos, Fantasias opacas, porém, Meus sonhos são simples... Bebi água da cacimba, Tomei banho de riacho. Sou um grão de areia Nessa complexa máquina;

funcionário da 30ª Região Administrativa

O universo. Em versos Afogo as ilusões; No céu Pipas e aviões, a noite caveirões. Boas recordações de infância, Como andar descalço entre as plantações Comer jabuticaba, colher algodões. Sei Que você ora por mim, Para que eu supere minhas limitações. Furtaram algumas ideias. Mas, Me resta energia esperança E fé no criador; são valiosas Lições que um dia você me ensinou.

Mulher, Voce tem o aroma das flores E uma sublime essência, tem o brilho das estrelas, Tem candura e ciência, da mulher menina, da mulher adulta, da mulher menina. Você tem a força, que vem revolucionando o mundo. Você tem sonhos e ilusões. Tem sempre uma palavra branda que acalma os corações. Esta é uma singela homenagem Porque todo dia. É dia internacional da Mulher.

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Ana Maria quer lançar livro

Aramis Assis

Vocês se lembram da Ana Maria de Souza, cantora, pintora e poetisa? Ela foi nossa entrevistada na edição 47, de novembro passado. Aos 84 anos de idade, Ana Maria deseja lançar seu primeiro livro, relatando sua trajetória de sucesso no mundo das artes. Porém, para isso, ela precisa de ajuda para imprimir o livro. Qualquer quantia e também dicas de onde imprimir mais barato serão muito bem-vindas.

Mais um desenho lindo do Diogo. Esse garoto vai longe!

Atualmente, Ana desenvolve um trabalho voluntário, atuando como agente de arte e cultura no Projeto Maré Latina, que oferece cursos gratuitos aqui na Maré. O projeto conta com quase 20 crianças e uma turma de 10 mulheres que fazem cursos de espanhol a distância. Vamos ajudar? Quem puder contribuir, pode entrar em contato com a Aline, do Maré Latina. E-mail: alinesepanhol@ gmail.com. Blog: www.anamariadesouza.blogspot.com.br.

Hélio Euclides

O menino chega atrasado ao curso. A desculpa é que a mãe tinha passado mal. A instrutora ficou preocupada com a saúde da mãe do menino. O garoto responde rapidamente: Ela passou mal a minha camisa, então preferiu refazer!

)

PASSANDO MAL

Rindo at o a ZERO

Depois de uma enorme conta, onde encheu o quadro com a equação. O professor finaliza com a resposta: y é igual a zero. O aluno fica decepcionado e completa: tanto esforço para saldo zero!


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