Maré de Notícias #94

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ANO VIII. NOVEMBRO DE 2018. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO. GABI CARRERA

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Festival Mulheres do Mundo chega ao Rio Evento tem a curadoria da Redes da Maré e é realizado pela primeira vez na América Latina. PÁGINAS 4 E 5

Dois anos e muitos motivos para comemorar

PETER ILICCIEV

Cais do Valongo: um pouco da história dos nossos antepassados africanos

Além de oferecer oficinas, cursos e atendimentos sociojurídicos, a Casa das Mulheres tem atuado ainda como espaço de troca de experiências, afetos e conhecimento. PÁGINAS 6 E 7

PÁGINA 8

Os veteranos que batem um bolão Cultura na periferia: porque a gente não quer só comida PÁGINAS 12 E 13

Corte do Jaca: a moda que veio das favelas PÁGINA 14

DOUGLAS LOPES

PÁGINA 9

Mosquitos “do bem” Fiocruz libera na Maré mosquitos inoculados com bactéria que impede que o aedes aegypti transmita zika, dengue e chikungunya de uma pessoa para outra. PÁGINA 3


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EDIÇÃO 94 | NOVEMBRO 2018

EDITORIAL

HUMOR - POLARIZAÇÃO

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aros/as leitores e leitoras, acabamos de sair do “Outubro Rosa” e vamos mergulhar em um novembro de todas as cores. Isso porque, neste mês, o Rio de Janeiro será palco do Festival Mulheres do Mundo, um evento inspirado no WOW – Women of the World Festival, um movimento global que já esteve presente em 23 países da Europa, Ásia e África, além de várias cidades na Inglaterra. Nele, estarão presentes mulheres de todo o mundo, de todas as cores, de todos os jeitos. Mulheres que chegam para trocar, somar e compartilhar suas vidas, experiências, saberes e lutas. Será muito bonito de se ver e, mais ainda, de participar. Todas as pessoas da Maré estão convidadas a fazer parte desse grande intercâmbio cultural, intelectual e de experiências. Além disso, outro fato nos deixa bastante empolgados: o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar o evento (realizado pela primeira vez na América Latina), após uma visita de sua idealizadora à Casa das Mulheres – que acaba de completar dois anos. Dois anos intensos, nos quais mais que atendimentos sociojurídicos ou formação profissional, foi oferecido às mulheres de nossas favelas um espaço de acolhimento, trocas e compartilhamento. Um espaço onde as mulheres puderam descobrir seu potencial e confirmar o quanto a frase “juntas somos muitas” é verdadeira e fortalecedora. E, no nosso novembro colorido, trouxemos também para a pauta os vários tons de preto dos africanos – afinal, preto é o somatório de todas as cores. Neste mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra faz-se necessário falar, embora brevemente, do legado desse povo que, mesmo chegando a esta terra na mais miserável das condições humanas – a de escravo –, deixou riquezas culturais diversas, além de se constituírem em um dos principais pilares para a formação do povo brasileiro. Mas esses são apenas alguns dos temas que trataremos nesta Edição. Para conferir esses e outros assuntos abordados, basta seguir em frente com a leitura. Vocês são nossos convidados especiais!

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SAÚDE

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Fiocruz liberará na Maré mosquitos “do bem” Insetos com bactéria wolbachia podem ajudar a diminuir casos de dengue, zika e chikungunya MARIA MORGANTI

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Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) prevê para o fim de novembro a liberação, nas favelas da Maré, de mosquitos aedes aegypti com uma bactéria, a wolbachia, que dificulta a transmissão de doenças como dengue, zika e chikungunya. Em bairros como Olaria, Manguinhos, Complexo do Alemão, Tubiacanga e Bancários, na Ilha do Governador, a liberação já foi feita. Essa bactéria de nome difícil de ser pronunciado, wolbachia (volbakia), passou a ser usada no combate a doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypti quando cientistas da Universidade de Monash, na Austrália, identificaram que, assim que ela era aplicada nos mosquitos, a capacidade de transmissão das doenças ficava reduzida. Os especialistas explicam que a wolbachia é um microrganismo presente em cerca de 60% dos insetos da natureza, e que só consegue ficar viva dentro das células dos mosquitos. Por isso, é um método seguro, que não afeta os seres humanos. Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz responsável pelo projeto, explica que, para auxiliar na liberação dos mosquitos, conta com a ajuda de instituições locais. “Em todos os territórios em que a gente trabalha, tentamos identificar entidades para parcerias. Pra gente poder trabalhar bem customizado, de uma forma que seja bastante adaptada à realidade local”. Na Maré, o projeto está sendo feito em parceria com o “Heróis Contra a Dengue”, iniciativa da Redes da Maré que, apoiada e financiada pela ONG alemã Ireso, atua desde o início do ano em escolas como a Estadual João Borges, na Nova Holanda, e a Municipal Ginásio Escritor Millôr Fernandes, no Salsa e

Merengue. Reforço com heróis Kelly Marques, coordenadora do “Heróis Contra a Dengue”, conta que o projeto atua para que alunos sejam capazes de serem multiplicadores de ações para combater focos de aedes aegypti e ainda torná-los protagonistas do conhecimento, da ciência. “Eles passam por um processo de formação. São sete capítulos e, geralmente, mais um encontro pra eles testarem se estão conseguindo fazer a abordagem na rua. Aí, começa, de fato, a conscientização, casa a casa. Na verdade, a proposta é que eles sejam protagonistas do próprio ensino”. A importância do dever de casa “Eu acho muito importante a parceria com o “Heróis contra a dengue”, porque a gente, apesar de estar trabalhando de uma forma que solta mosquito, que é um pouco contrária, a gente sempre fala que as pessoas têm de continuar fazendo seu dever de casa que é destruir criadouros. Porque o que a gente quer, no final, é ter menos mosquito, mas que esses mosquitos tenham wolbachia. E isso vai ser uma utilidade complementar à nossa, que é muito importante e que tem de ser feita”, afirma o pesquisador Luciano Moreira. Afra Morais, de 12 anos, uma das alunas do ‘Heróis contra a dengue” na Escola Millôr Fernandes, diz que conscientizar as pessoas sobre os potenciais criadouros dos mosquitos é o ponto alto de sua semana. “É a coisa mais importante que eu faço, que é informar todo mundo do que pode acontecer. Porque tinha muita gente morrendo, um monte de gente pegando zika. Minhas amigas aqui na escola mesmo. Elas ficavam semanas

Conheça o Método Wolbachia Natural

A Wolbachia naturalmente existe em 60% dos insetos.

Seguro

A Wolbachia vive apenas dentro das células do inseto.

Autossustentável

A Wolbachia é transmitida para os filhotes no cruzamento. Por isso, a população de Aedes aegypti com Wolbachia vai aumentando naturalmente.

Saiba mais em: wolbitonobrasil.com.br

21 99643-4805

sem vir pra escola. Aí quando eu fiquei sabendo do projeto, eu quis logo entrar”. Resultados “pé no chão” De acordo com o pesquisador Luciano Moreira, os efeitos da liberação dos mosquitos com wolbachia na Maré não poderão ser sentidos neste verão. “O processo de liberação dos mosquitos demora

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quase quatro meses. Então, se a gente começar agora no fim de novembro, lá para março só que a gente termina o processo de liberação. E aí a wolbachia tem de se estabelecer, não é uma coisa de um dia pro outro. Eu seria mais pé no chão dizendo que poderia ver algum resultado no outro verão, não neste”.

Confira as dicas da galerinha do “Heróis Contra Dengue”, da Escola Millôr Fernandes:

“Limpar e secar as calhas das telhas”

Micaelly Alves, 12 anos, 7º ano

“Tampar a caixa d’água” “Colocar todas as garrafas de cabeça para baixo e as que têm tampa, tampar” Vitória de Souza, 12 anos, 7º ano

Eyschila Mendes, 12 anos, 7º ano

E mais: • • • • • • •

Evite o acúmulo de água (em pneus, latas, etc.) Lave sempre a vasilha de água de seu animal de estimação Coloque tela nas janelas Coloque areia nos pratos dos vasos de plantas Seja consciente com seu lixo Coloque desinfetante nos ralos Use repelente


COMPORTAMENTO

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Um Festival de mulheres para eles e para elas

Pela primeira vez na América Latina, Festival Mulheres do Mundo acontece de 16 a 18 de novembro, no centro do Rio

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m Festival que tem o objetivo de celebrar as conquistas das mulheres chega pela primeira vez ao Brasil. O Festival Mulheres do Mundo é inspirado no WOW – Women of the World Festival, um movimento global que já esteve presente em 23 países da Europa, Ásia e África, além de várias cidades na Inglaterra. Ele foi lançado em 2010, por Jude Kelly, ex-diretora artística do Southbank Centre, um dos maiores centros culturais na Europa, no centenário do Dia Internacional da Mulher, em Londres. Por aqui, começou a ser idealizado em 2016, após uma visita da produtora artística britânica à Casa das Mulheres da Maré, um espaço dedicado a estimular o protagonismo político de meninas e mulheres, onde são realizadas atividades de qualificação profissional, atendimento sociojurídico e psicológico gratuitos, além de fomento ao ativismo e engajamento nas lutas feministas. “No encontro que eu tive com ela lá em Londres, eu apresentei um pouco a Redes da Maré. Depois, quando ela veio ao Brasil, conheceu os projetos que nós fazemos. Dentre eles, a Casa das Mulheres. Ela passou um dia conosco e, a partir daí, viu uma sinergia no trabalho que a gente faz com o Festival Mulheres do Mundo, que tem a ideia é criar uma plataforma global sobre a agenda das mulheres, sobre as lutas delas no mundo”, relembra

GABI CARRERA

DANI MOURA

Um dos grupos de reflexão que aconteceu em maio deste ano e ajudou a construir as temáticas que serão discutidas durante o Festival

Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré. O ponto de partida A partir deste encontro, Jude Kelly propôs a Redes da Maré o desafio de realizar um festival para reunir as vozes, experiências e ideias das mulheres do Rio de Janeiro, com toda a sua diversidade. A partir deste momento, a parceira se estabelece com o British Council que já trabalha com a agenda pelos direitos das mulheres. Foram dois anos de expectativas. Em novembro no ano passado foi organizado o primeiro grupo de reflexão, nome dado aos encontros onde são sugeridas as pautas e temáticas que estarão nas mesas do Festival. Foram cinco no total, que aconteceram até maio deste ano. Mais de 200 mulheres se encontraram nos bairros do Centro, Fla-

mengo, Santa Cruz e Maré e sugeriram temas como a maternidade, a objetificação do corpo feminino; as aspirações das mulheres maduras; os novos arranjos familiares; espiritualidade; gravidez precoce, sexualidade e consumismo e a superação de perdas causadas pela violência. Todos esses temas foram levados à curadoria do Festival e muitos incorporados nas 140 Mesas das Mulheres em Diálogos, uma das quatro dimensões do Festival. As outras são Mulheres das Artes e Culturas, com quatro shows diários, oficinas, exposições e performances; Mulheres Empreendedoras, com uma feira com 200 barracas, diversos serviços e produtos, incluindo a gastronomia; Mulheres Ativistas, dimensão em que as atividades serão propostas por movimentos

sociais, grupos e coletivos que realizam campanhas em torno dos direitos das mulheres. Eliana Sousa, curadora do Festival, explica que o evento propõe celebrar as histórias de luta das mulheres em todas as suas perspectivas, em todas as suas lutas, todos os seus desejos: “eu vejo como uma importância muito grande esse Festival chegar ao Rio de Janeiro num momento em que a gente precisa melhorar nossa condição, nossa possibilidade de viver nessa cidade com mais alegria, com mais direitos, mais qualidade de vida e com menos desigualdade”. Já Jude Kelly, idealizadora do Festival que aqui tem previsão de receber cerca de 10 mil pessoas por dia, conta que espera que seja um momento de celebração e união de grupos diferentes de mu-


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lheres. “A gente junta mulheres de grupos diferentes, escuta as histórias delas sobre os triunfos, as tragédias, os traumas, as coisas que fazem diferença na vida delas. A gente está trazendo mulheres de outros lugares do mundo, do Paquistão, da Espanha, do Reino Unido, e elas estão todas falando sobre compartilhar as coisas que a gente tem em comum, e as coisas que a gente tem diferença. E juntas, a gente está tentando achar uma maneira de mapear o que as mulheres estão vivenciando de maneira local e global. Eu acho que o nosso Festival é uma maneira de provocar a mudança, mas de um jeito divertido e com amor”. Fundação WOW Jude fez do movimento uma Fundação que produz festivais com este formato em todo o mundo, buscando promover o diálogo sobre as questões enfrentadas por meninas e mulheres e explorar possíveis causas e soluções. É o maior, mais abrangente e mais importante Festival dedicado a apresentar trabalhos realizados por mulheres, debater e encorajar a busca por igualdade de gênero. A Fundação WOW está em processo de se tornar muito em breve uma ONG, no Reino Unido. Para mais informações sobre a Fundação, acesse: thewowfoundation.com. A programação é gratuita e está disponível em: www.festivalmulheresdomundo.com.br

GABI CARRERA

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Foram mais de 200 mulheres que sugeriram pautas como os novos arranjos familiares, espiritualidade, gravidez precoce, sexualidade e consumismo

MULHERES DAS ARTES E CULTURAS

MULHERES EMPREENDEDORAS

Shows, performances, circo, teatro, poesia e cinema

200 barracas com diversos serviços e produtos, incluindo gastronomia

MULHERES ATIVISTAS Organizações, movimentos sociais, grupos e coletivos que realizam campanhas em torno dos direitos das mulheres Algumas das participantes do Festival Mulheres do Mundo, no Rio

MULHERES EM DIÁLOGOS Troca de experiências em diversos formatos


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DIREITOS HUMANOS

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Casa das Mulheres da Maré completa dois anos

Atendimentos psico-sociojurídicos e cursos profissionalizantes já beneficiaram mais de 400 mulheres ELISÂNGELA LEITE

pia”, afirma.

Shirley Viella e Eliana Sousa Silva no momento da inauguração da Casa das Mulheres há dois anos

MARIA MORGANTI

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Casa das Mulheres da Maré acaba de completar dois anos com muitos motivos para comemorar. O espaço já realizou cerca de 400 atendimentos tanto nos serviços sociojurídicos, com advogadas, assistentes sociais e psicólogas, como nos cursos profissionalizantes de cabeleireiro, o “Maré de Belezas”, e o de gastronomia, o “Maré de Sabores”. Porém, o mais importante: a Casa é, para muitas mulheres da Maré, uma referência quando se pensa em um lugar de trocas de experiências, acolhimento e interação – e isso não pode ser quantificado. Ana Maria de Oliveira Silva, de 44 anos, e moradora do Parque União desde os 8, é uma dessas mulheres. Ela, que frequenta o espaço desde a inauguração, conta que o lugar é um “refúgio”, e que depois que passou a frequentar a Casa,

pôde “abrir a mente”. Ana Maria fez cursos de gastronomia e já se inscreveu no de cabelereiro, mas, pelo que diz, sua relação com a Casa vai muito além disso. “Eu adoro estar na Casa das Mulheres. É gostoso, aconchegante. Elas nos recepcionam hiperbem. Fora as aulas que nós temos. Principalmente as de gênero, que eu acho que, pra muitas, inclusive pra mim em alguns casos, foi bom pra ir pegando um pouco mais de informação. Eu era muito rígida de pensamento. Agora, a mente vai abrindo um pouquinho e eu consigo ser mais maleável”. Além da própria experiência, Ana conta que conhece três mulheres que eram muito 'desanimadas' e que, depois de frequentarem a Casa das Mulheres, passaram a ser 'mais ativas, mais felizes'. "Pra mim, a Casa das Mulheres é como se fosse uma tera-

Profissionalização e trocas Segundo Andreza Jorge, coordenadora pedagógica da Casa e ganhadora do Prêmio Cláudia 2018 na categoria Revelação, todos os cursos profissionalizantes que acontecem na Casa das Mulheres sempre são acompanhados de aulas teóricas que associam temas relacionados à mulher na sociedade. Fora a realização das rodas de conversa. “A ideia das rodas de conversa abertas e espontâneas é que elas aconteçam de dois em dois meses, sempre com um tema que também vai estar aliado a um calendário anual, uma data importante que marca alguma luta das mulheres e aí a gente convida pessoas para facilitar um bate-papo, composto pelas próprias alunas da Casa e outras mulheres que sempre venham aqui pra trocar”, explica. Balanço de dois anos “É a realização de um sonho que era sonho mesmo e virou realidade”, conta Shirley, relembrando o tempo de idealização da Casa. Olhando para trás, a coordenadora avalia que o balanço do trabalho é positivo. “De fato, existe uma demanda muito grande de mulheres por um espaço não só que elas possam aprender alguma coisa, mas que possa ajudar a gerar renda para si mesmas, e também um lugar de acolhimento, de criação de vínculo. Onde elas acessem a Justiça com uma

advogada, onde elas acessem uma assistente social. A nossa ideia é entender o que aquela mulher traz, precisa e quer, tentar encaminhá-la pra outro serviço, se esse for o desejo dela, ou incorporá-la à Casa por outras vias”. Segundo Shirley, o atendimento interdisciplinar é um dos diferenciais mais importantes para as mulheres atendidas ou que simplesmente frequentam a Casa. “Às vezes, a queixa principal da pessoa é voltada para o direito, tem muito essa coisa do enfoque do direito, da advogada, da coisa legal. Mas, às vezes, você vai ver, o direito é o menor dos problemas dela”. Para a coordenadora, todo o trabalho vale a pena quando vê a mudança no olhar das mulheres. “Elas descem com um sorriso de orelha a orelha, com uma cara, numa felicidade, numa alegria. Tudo vale a pena quando eu vejo o olhar delas mudar. Trabalho o ano inteiro pra isso mesmo”, conta, satisfeita. Maré de Sabores e afetos Parte do sonho realizado, ao qual Shirley se refere, é o que hoje se transformou no buffet comercial “Maré de Sabores”, que nasceu, antes mesmo da Casa das Mulheres, por iniciativa das primeiras mulheres formadas pelo projeto desenvolvido pela Redes da Maré, também chamado Maré de Sabores. Com oito anos de existência, a Empresa Maré de Sabores já serviu 40 mil pessoas em mais


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Futuro da Casa das Mulheres Com motivos de sobra para comemorar, no último dia 27 de outubro, a Casa das Mulheres celebrou os dois anos de existência. A comemoração contou com aula de yoga, barracas de artesanato, brechó e apresentações de dança. Questionada sobre os planos para o futuro, Shirley explica que a ideia é consolidar o espaço como ambiente de discussão. “Uma necessidade vital é manter o que já está acontecendo, a equipe trabalhando, fazer o 4º andar, a horta orgânica. Queremos fazer do espaço mais do que tem sido. E já tem sido coisa à beça. Que possa ser realmente um lugar de discussão sobre o feminismo, sobre a condição das mulheres, do feminismo negro, a condição das mulheres trans, do público LGBT. Então é fazer aquela roda continuar rodando, potencializar isso, e trazer mais mulheres, mais atividades”. Se depender da força das nossas tecedoras e das mulheres da Maré, estes e muitos outros sonhos se concretizarão. E em breve.

DOUGLAS LOPES

de 2 mil eventos, gerando renda direta para mais de 200 mulheres da Maré. “A gente imaginava que a formação em gastronomia ia fazer com que as mulheres tivessem autonomia, ou que elas se reconhecessem como lideranças nos empreendimentos comerciais da Maré e que elas pudessem ter esse tino de abrir seus próprios negócios. É um serviço que rompe com os estigmas da favela. A gente acaba levando para outros espaços essa potência e fazendo com que as pessoas experimentem essa potência. Isso é uma grande experiência”, conta a coordenadora da Empresa Maré de Sabores, Mariana Aleixo. O Buffet Maré de Sabores funciona no 1º andar da Casa das Mulheres. Lá, são elaboradas as delícias que conquistaram a Maré e a cidade. O 2º andar da Casa é reservado para a cozinha-escola, onde, em parceria com a Casa das Mulheres, o buffet realiza oficinas para as mulheres da Maré que desejem aprender a arte da gastronomia. Já no 3º piso da casa, funciona o salão das aulas do Maré de Belezas.

Plantão de atendimento na Casa das Mulheres Advogada e Assistente Social: toda quarta-feira, das 15h às 19h. Psicóloga e Assistente Social: todo sábado, das 9h às 12h30.

Para contratar o buffet Maré de Sabores: E-mail: maredesabores@redesdamare.org.br Telefone: (21) 3105-5569 facebook.com/MaredeSabores

Outras instituições que atendem mulheres: A.M.A.R. (Associação de Mulheres de Ação e Reação) Fundada no Vidigal, possui equipe de psicanalistas, psicólogos, médicos, terapeutas, etc. E-mail: mulherescomacaoereacao@gmail.com Telefone: 3283-3206 Local: Rua da Lapa, 180 - Rio de Janeiro Agora Juntas Rede feminista que conecta coletivos do Rio de Janeiro e promove ocupações, eventos e cursos. E-mail: agorajuntas@gmail.com Site: https://agorajuntas.wordpress.com As Marias da Graça Palhaçaria/circo/trabalho social. Oferece oficinas gratuitas para mulheres que sofrem violência doméstica. E-mail: asmariasdagraca@asmariasdagraca.com.br Site: http://www.asmariasdagraca.com.br/ Casa da Mulher de Manguinhos Oferece acolhimento humanizado, e as mulheres são orientadas e encaminhadas aos serviços especializados e à rede de atendimento. E-mail: casadamulhermanguinhosrj@gmail.com Telefone: 2334-8913 Local: Avenida Dom Hélder Câmara, 1184 Manguinhos - Benfica ( DESUP ) Casa das Pretas Espaço de encontros, acolhimento, de produção de saberes específicos da vivência das Mulheres Negras. E-mail: casadaspretas1@gmail.com Local: Rua dos Inválidos, 122, sobrado - Lapa

A apresentação do grupo "Mulheres ao Vento" na festa de dois anos da Casa


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CULTURA

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A grande Pequena África

Região que vai do Bairro da Saúde à Praça Onze tem muita história pra contar

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inco da manhã do dia 20 de novembro é hora dos integrantes do grupo Afoxé Filhos de Gandhi lavarem o busto de Zumbi dos Palmares, no Centro. É assim há 29 anos. Em seguida, é feita a reverência à Escola Tia Ciata e, por último, a lavagem da Pedra do Sal, na Zona Portuária. Esse é um dos rituais que fazem parte do legado africano na cidade do Rio de Janeiro (e de todo o Brasil), que inclui comidas, estilos musicais, danças, festas e muito mais. Para celebrar o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e ressaltar a gigantesca contribuição dos negros na formação do povo brasileiro, o Maré de Notícias abordará, brevemente, a história e a importância de três espaços emblemáticos para entender a cultura, a história e a importância dos africanos na formação da nossa cultura e do nosso povo. Os espaços fazem parte do que foi denominado Pequena África, uma região que se estende do Bairro da Saúde à Praça Onze, que abrigou, em momentos e por motivos diferentes, povos africanos e seus descentes e que se constitui – por si só – em um importante marco para o entendimento da história, cultura e costumes cariocas. Vamos a alguns desses marcos históricos: Cais do Valongo Em 2016, o Cais do Valongo foi apresentado

como candidato à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para receber o título de Patrimônio da Humanidade. Em 2017, veio o reconhecimento: a Unesco elevou o sítio arqueológico à Patrimônio da Humanidade. “Foi reconhecido, mas para que seja de fato considerado como Patrimônio da Humanidade, o espaço precisa de uma série de investimentos, principalmente do Governo federal e municipal”, explica Ivanir do Santos, doutor em História Comparada pela UFRJ e também professor da Universidade. O lugar, que fica na Zona Portuária, foi reconhecido por ser um importante espaço de memória do tráfico de escravos do Oceano Atlântico e símbolo da resistência cultural e política da população negra. De acordo com o livro “Roteiro da Herança Africana no Rio de Janeiro” (Editora Leya/Casa da Palavra), “em nenhuma outra parte do mundo aportaram tantos navios com cativos trazidos da África durante os mais de três séculos das rotas transoceânicas do comércio escravagista como no Rio de Janeiro e o Cais do Valongo, desde o final do século XVIII, era o lugar oficial de desembarque”. Endereço: O Cais do Valongo fica na Gamboa e corresponde à área da Praça Jornal do Comércio e está delimitado pela Avenida Barão de Tefé, a Rua

DOUGLAS LOPES

ELIANE SALLES E MARIA MORGANTI

Objetos de herança da cultura africana são encontrados em boa parte das lojas do Rio

Sacadura Cabral e pelo limite lateral do Hospital dos Servidores do Estado, no nº 178, na Rua Sacadura Cabral. Cemitério dos Pretos Novos Também conhecido como Memorial dos Pretos Novos, localiza-se sobre o local onde funcionou, entre 1769 e 1830, o cemitério de escravos – por sinal, o maior das Américas. O sítio arqueológico foi descoberto em 1996, quando os proprietários do antigo casarão, que hoje abriga o Memorial, faziam uma reforma. Após pesquisas arqueológicas, descobriu-se que naquele local eram enterrados os pretos novos, escravos recém-chegados da África, que não aguentavam os maus-tratos da viagem. Estima-se que tenham sido enterrados de 20 a 30 mil pessoas, embora nos registros oficiais esses números sejam menores, 6.122 entre 1824 e 1830. Seus corpos

foram jogados em valas, que também serviam como depósito de lixo, e queimados. A visita é uma aula de História. Endereço: Rua Pedro Ernesto, 34, Gamboa. Funcionamento: De terça a sexta, das 13h às 18h. Para visitar aos sábados, domingos e feriados, é preciso agendar pelo telefone (21) 2516-7089. Pedra do Sal A Pedra do Sal, também na Zona Portuária, é considerada um dos maiores marcos culturais da africanidade brasileira. Segundo os historiadores, o local tem esse nome por causa do carregamento do produto pelas redondezas. É reduto de samba, de rituais e, para os apreciadores, local de tomar uma cerveja gelada no Carnaval, após os Blocos que acontecem no entorno. Endereço: Rua Argemiro Bulcão, s/nº – Saúde.


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ESPORTE

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Quando um jogador não pendura a chuteira

Peladeiros da Maré mostram-se honrados em serem veteranos

A pelada do Grupo Veterano da Mata acontece todo sábado na Vila do Pinheiro. São atletas acima de 40 anos, que praticam o jogo cadenciado, com mais toque de bola e menos correria

HÉLIO EUCLIDES

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carreira de jogador de futebol é curta, isso foi retratado no Maré de Notícias, em sua Edição 88 deste ano. Para os peladeiros não é diferente: com o passar dos anos, as pernas não correspondem como antes e chega a hora de pendurar a chuteira. Um grupo resiste ao tempo e continua a jogar em times de veteranos. No contexto esportivo, são chamados de seniores, jogadores mais experientes ou com mais idade. Na Maré, diversas comunidades têm representantes acima dos 35 anos. Para Bruno Pereira, do site Futebol Veterano, a prática do futebol sênior é bem antiga, embora não seja possível definir quando exatamente se iniciou. Nos gramados da Maré, Arides Menezes, de 67 anos, se intitula pioneiro. Ele recorda que organizou o primeiro campeonato de veteranos da Maré, em 1994. “No início, eram oito times que jogavam no campeonato do Campo do Oriente, hoje Paty, na Nova Holanda. E, depois, foram agregando outros”, conta. Ele também joga as tradicionais peladas dos cinquentões. “O que fazemos é um toque para lá e outro para cá, pois já somos cascudos”, revela. Jocimar Pereira, com 65

anos, organiza todo sábado pela manhã, no Parque Ecológico da Vila do Pinheiro, a pelada do Grupo Veterano da Mata, com direito a coletes, que trazem escudo e nome de cada jogador. São atletas acima de 40 anos, que praticam o jogo cadenciado, com mais toque de bola e menos correria. “O objetivo é o incentivo de que o outro não pare a prática do esporte”, destaca. Ele conta que a meta do Grupo é a amizade e confessa que a maioria dos peladeiros toma remédio para pressão arterial elevada. “Eu faço exames anuais e visito o cardiologista, mas não sei se o restante é acompanhado pelos médicos”, diz. Álvaro dos Santos Silva, enfermeiro da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, recomenda que os atletas procurem sempre um médico e realizem exames de rotina, entre eles, o eletrocardiograma. O amor pelo campo e pela bola Uma história de amor pelo futebol é a de Vilmar Gomes, conhecido como Magá, com 54 anos. O craque jogava num time da Maré, no qual os atletas foram se casando e acabou a “seleção”. Ele, no entanto, não

se deu por vencido e fundou os Veteranos Amigos do Magá, que já completou 23 anos. O grupo joga todos os sábados pela manhã, no campo da Rubens Vaz e reúne atletas de 35 a 61 anos. “Eu me sinto como um garotão. Como sou o presidente do time, a camisa 10 ninguém tira de mim”, brinca. Montar um time com 100% de veteranos não é tão fácil. Isso é o que acha Arlindo Noberto, de 69 anos. Para ele, os times mesclados de atletas seniores e novos são mais fáceis de serem formados, assim como para se marcar amistosos. Os atletas veteranos também sofrem com as contusões. Arlindo ficou 10 anos afastado dos campos, por causa do menisco. “Não desisti e voltei. O futebol nos mantém vivos”, afirma. Ele joga aos domingos, no Campo da Toca, no Conjunto Pinheiro, onde, bem cedo, joga os acima de 50 anos; e depois, os mais novos. O coordenador das peladas no Campo da Toca é Sebastião Lessa, o Boi, de 58 anos. O seu time é o Raiz da Vila, que ostenta 42 troféus, alcançados desde 1998, quando organizava os campeonatos de veteranos da Vila do João. Ele lembra, com tristeza, que o último foi em 2009. “Os times de veteranos

estão acabando, estamos perdendo espaço, tem lugar que só sobra o sábado para jogar. Continuo nessa jornada, pois o futebol está no sangue, é o nosso DNA, um meio de relaxar”, afirma. Para evitar o calor do verão, a maioria dos campeonatos de veteranos é realizada no período das temperaturas mais amenas. Isso acontece na Praia de Ramos, com a organização de Luiz Carlos, o Lula, de 54 anos. “Os jogos acontecem das 9 às 14 horas, aos domingos. São 10 a 12 times, que se enfrentam durante quatro meses. Já são oito anos de campeonato. Mas o que o pessoal mais gosta é, após as partidas, jogar conversa fora acompanhado de uma cerveja. O encontro se torna um passatempo”, conclui. Você sabia? No Brasil, as categorias ainda são conhecidas por Fraldinha (7 a 9 anos), Dente de Leite (10 a 11 anos), Pré-Mirim (11 a 12 anos), Mirim (12 a 13 anos), Infantil (14 a 15 anos), Infantojuvenil (15 a 16 anos), Juvenil (17 a 18 anos) e Júnior (17 a 20 anos). Acima dessa idade são profissionais. Hoje a categoria de veterano é dividida em Sub 40 e Sub 50.


TRABALHO

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A Maré tem drywall

A técnica que tem mudado a cara das obras e gerado renda para os profissionais que a dominam

A

técnica chegou ao Brasil na década de 1970, mas sua presença ainda é discreta nos canteiros de obra. O drywall é composto por placas de gesso e estruturas metálicas. O termo, que em Português significa “parede seca”, surge da pouca utilização de água para sua confecção. E esse é apenas um dos seus benefícios. O método também produz menos entulho em relação à alvenaria, e seus resíduos são recicláveis. Além dos benefícios ecológicos, o drywall também garante mais leveza na estrutura, flexibilidade, rapidez e possibilidade de isolamento acústico e térmico. De acordo com os profissionais, se o serviço for executado conforme as normas técnicas existentes, não há com o que se preocupar em relação à umidade e à resistência, para citar alguns exemplos. Quanto ao custo que, de fato, é maior que o da alvenaria, Carlos Alberto Anacleto afirma: “se você for comparar o custo x benefício, você vê que vale a pena pela agilidade. Consigo entregar uma obra em três meses em vez de seis. Nesse tempo, o comerciante consegue voltar a lucrar mais rápido ou o

DOUGLAS LOPES

JÉSSICA PIRES

O Curso, promovido pela Redes da Maré com as empresas Knauff do Bra­sil e Ireso, acontece desde 2013 e já formou cerca de 150 profissionais em drywall

morador a deixar de pagar aluguel e voltar pra sua casa”. Carlos Alberto trabalha na área há 12 anos e é professor do Curso de Drywall da Redes da Maré. Engana-se quem associa o rebaixamento de teto ao drywall e acha que essa é a única possibilidade. O sistema serve, por exemplo, para esconder tubulações, engrossar paredes, cobrir aberturas, dividir ambientes e, até mesmo, construir uma casa inteira, incluindo os móveis fixos.

Maré tem profissionais qualificados na técnica Você sabia que por aqui temos muitos profissionais qualificados que trabalham com drywall? O Curso, promovido pela Redes da Maré com o patrocínio e parceria das empresas Knauff do Brasil e Ireso, acontece desde 2013 e já formou cerca de 150 profissionais. Flavio Dantas, estudante e morador do Parque Maré, é um dos alunos da atual turma do Curso de Drywall. “Depois que você começa a reparar, você

vê que aqui na Maré tem muita gente trabalhando com isso, um mercado de trabalho muito grande”, conta o jovem que já construiu uma parede para dividir cômodos da casa da mãe com os conhecimentos adquiridos no Curso. O Curso é composto por 280 horas e oferece aulas teóricas e práticas. Seu objetivo é propiciar aos jovens da Maré a qualificação técnica e teórica em drywall e ges­tão, para ampliação de oportunida­ des profissionais. Com duração de cinco meses,


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Ficou interessado no drywall? Quer fazer contato com um dos profissionais formados pelo Curso da Redes da Maré? Ligue: (21) 3105-5531. BENEFÍCIOS E OBRIGAÇÕES DO MICROEMPREENDEDOR

O método também produz menos entulho em relação à alvenaria, e seus resíduos são recicláveis e têm benefícios ecológicos

DOUGLAS LOPES

o Curso é destinado a moradores da Maré, de 18 a 30 anos, que tenham o Ensino Fundamental completo. Jonatham Pereira e Cleberson Coelho são moradores da Nova Holanda e amigos desde a infância. Atualmente, são sócios e prestam serviços de drywall. Jonatham fez o Curso em 2015, e Cleberson, a convite do amigo, em 2017. Para eles, a princípio, o Curso representava apenas uma tentativa de reinserção no mercado de trabalho. Não imaginavam que a partir dali se tornariam empreendedores: “a gente vive só do drywall hoje e sustentamos nossas famílias com isso”, conta Jonathan. Segundo os jovens, o que apren-

Flávio Dantas já construiu uma parede de drywall em casa

deram no Curso também foi importante para o processo de formalização como microempreendedores, o que hoje garante mais acesso a crédito e a possibilidade de prestar serviços para empresas. “Para ser um microempreendedor são quatro requisitos: não pode ter empresa aberta, não pode ter sócios, não se deve ultrapassar R$ 81 mil de faturamento anual, e tem de ter apenas um ponto de atendimento”, esclarece Ana Carolina, consultora do Sebrae, responsável pelos atendimentos realizados na sede da Redes da Maré (leia mais no box ao lado sobre os benefícios e ebrigações de um Microempreendedor). Clientes satisfeitos Ascendino Procópio é morador da Maré e, após a indicação da irmã, contratou profissionais para rebaixarem o teto da sala de sua casa, na Nova Holanda. O aposentado afirmou que o maior benefício da técnica é o fato de não gerar muita poeira. Ascendino, mais conhecido como Dininho, afirma: "minha irmã é extremamente exigente e, assim como ela, fiquei muito satisfeito com a escolha do drywall e dos excelentes profissionais aqui da Maré".

Benefícios • Sair da informalidade • Acessar crédito (ter uma conta jurídica ou máquina de cartão) • Comprar materiais com desconto • Emitir notas fiscais • Contribuir para a Previdência Social (e ter direito a benefícios como a aposentadoria) • Isenção de impostos • Ter um funcionário de carteira assinada Obrigações • Pagar contribuição mensal. Comércio R$ 48,70; Prestação de Serviços R$ 52,70, os dois R$ 53,70 (R$ 46,70 INSS, R$ 1,00 para quem comercializa e R$ 5,00 para quem presta serviços) • Declarar faturamento anual Para mais informações: www.portaldoempreendedor.gov.br Facebook.com/EmpreendaMaré Atendimento do Sebrae/Redes da Maré Rua Sargento Silva Nunes, nº 1012) Segundas e terças-feiras, das 10h às 16h.


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CULTURA

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Resistir é preciso

A peri­feria usa toda sua potência e criativida­de para usufruir do direito à cultura HÉLIO EUCLIDES

O

incluindo cursos, diálogos e festivais que, por falta de recursos e apoios, interrompeu as atividades por nove meses, reabrindo somente em 11 de outubro deste ano. “Estamos distantes dos cartões postais do Rio. Ainda sofremos por falta de empenho não só do poder público, mas também do setor privado. Cultura deveria ocupar sempre um lugar de destaque nos programas de desenvolvimento do País”, diz. O Ponto Cine começou com um projetor de lente de cristal líquido que Adailton comprou, montando o primeiro espaço de exibição, a Casa de Artes de Anchieta. Mas logo o espaço ficou pequeno e foi então exibir filmes nas calçadas, praças, ruas e escolas. Até que, com um grupo, montou a Lona Cultural Carlos Zéfiro e levou o cinema para as lonas. Participou do Projeto CinemaBR em Movimento e, numa das exibições alternativas na praça de alimentação do Guadalupe

DOUGLAS LOPES

acesso à cultura ainda é privilégio de poucos. Enquanto o Centro e a Zona Sul da cidade concentram as mais variadas opções de lazer, a população da periferia tem de usar a criatividade ou enfrentar muitas horas de transporte público para usufruir do direito à cultura. Para resistir a essa situação, os próprios moradores e instituições da periferia arregaçam as mangas para prover de cultura a população. A única alternativa tem sido os espaços pertencentes à Prefeitura ou que contam com seu apoio financeiro. Apesar das dificuldades, as manifestações artísticas da periferia são ricas e, mesmo sem os espaços físicos tradicionais, pessoas engajadas tentam promover transformações sociais pela arte. Uma dessas pessoas é Adailton Medeiros, do Ponto Cine, um projeto de difusão do Cinema brasileiro, por meio de ações sociais,

Em dezembro de 2017, a cantora Céu em seu show no Centro de Artes da Maré

Shopping, foi convidado, pela administração, para montar uma sala no local. Atualmente, o Ponto Cine é o cinema mais premiado do Brasil e um dos mais estudados por faculdades e universidades. Um modelo original e único. Para Egeu Laus, coordenador de Economia Criativa da Secretaria de Cultura e Turismo de Duque de Caxias, é muito importante levar cultura a regiões periféricas. “Historicamente, sabemos que as periferias são centros potentes de produção cultural. Daí surgiram duas frases emblemáticas que circulam entre operadores culturais dessas regiões: 'toda periferia é um centro' e 'periferia não é carência, periferia é potência'", afirma. Para Egeu, o principal problema é que essas regiões ainda são pouco assistidas pelo poder público. Iniciativas na Maré A Lona Cultural Municipal Herbert Vianna foi aberta em 2005, com um show da banda Paralamas do Sucesso. Em 2009, a Redes da Maré assumiu a cogestão da Lona, numa parceria com a Secretaria Municipal de Cultura. O equipamento oferece espetáculos artísticos, cursos, oficinas e palestras. Na Lona, funciona também a Biblioteca Popular Municipal Jorge Amado. “É um espaço para crianças, que aprendem e se divertem. Além de diversão, é de graça, felicidade em dobro. Se não existisse esse ambiente, as crianças iam ficar na rua, como antes. É um lugar eclético, com circo, rock, funk, samba e teatro”,

detalha Hudson Alves, pescador e morador da Nova Maré. Com um público anual de 6 mil pessoas, a Lona conta com apresentações mensais como o Favela Rock Show, com bandas independentes do cenário carioca, levando sempre um grande público à Lona. No teatro, o destaque recente foi a encenação do espetáculo “O Pequeno Príncipe Preto”, que teve lotação máxima, com presença de crianças da Rede Municipal de Ensino. A Lona dispõe, ainda, de atividades principalmente voltadas para a arte e a educação, como oficinas de complementação pedagógica, iniciação musical, robótica e educação ambiental. Aberto em 2009, o Centro de Artes da Maré (CAM) se encontra num galpão de 1,2 mil metros² próximo à Avenida Brasil, na Nova Holanda. O Ponto de Cultura é fruto da parceria entre a Lia Rodrigues Companhia de Danças e a Redes da Maré, idealizado para a criação, formação e difusão das artes. “O importante, para nós, é a afirmação da dificuldade da manutenção de atividades de um espaço cultural sem apoio, bem como da importância das leis de incentivo nesse sentido e do entendimento dos apoiadores na valorização da arte e da cultura”, ressalta Isabella Porto, coordenadora da Escola Livre de Dança da Maré. O espaço vem se constituindo numa referência genuína para romper com a segmentação existente entre os diferentes territórios da cidade no campo do direito à arte.


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Além de local de eventos, o CAM oferece oficinas - no momento são sete de dança e uma de teatro - atendendo a todas as faixas etárias. No CAM, há projetos da Escola Livre de Dança da Maré, que funciona desde 2011. Um ano depois, veio o Teatro em Comunidades, em parceria com a UNIRIO. “São ações continuadas promovidas no espaço. Além disso, há cineclube, shows musicais, debates, aulas públicas realizadas em parceria com diferentes parceiros”, lembra Isabella. Ela destaca a parceria com Lia Rodrigues, que realiza sua residência no local e um corpo de bailarinos cria e ensaia trabalhos, diariamente. Alguns dos destaques do CAM foram a realização da Temporada Maré de Artes Cênicas, a estreia dos espetáculos da Lia Rodrigues Cia de Danças, entre eles: "Pororoca", "Para que o Céu não Caia", entre outros; o projeto "Ocupação", com a apresentação da CIA Marginal, oficinas de Azulejaria e show da cantora Céu. O Pontilhão Cultural, por sua vez, é tocado por um coletivo local e faz uso criativo do espaço debaixo da Linha Amarela. A iniciativa transformou, com sucesso, esse local de prática de esporte num point para eventos artísticos e culturais, que é usado por grupos de jovens em alguns finais de semana. No local, já ocorreu show de Frank Aguiar e diversos eventos dos funks das antigas, tudo a preços populares. Durante a semana, há atividades de lazer, como skate, escolinha de futebol, ginástica e outras práticas esportivas.

O POVO FALA “Meus netos saem da escola e vão direto para a Lona, o que não me deixa preocupada. Eles crescem como frequentadores do espaço, onde os instrutores são bons e para as crianças é só alegria” Vera Lúcia, a Tia Vera, de 68 anos “Sou frequentadora da Lona desde criança. Gosto dos eventos de rock, algo que não é tão amplo na Maré. Conto com a biblioteca, onde pego livro e percebo um espaço de interação social, onde há diálogo” Júlia Emiliana, de 20 anos

OUTRAS PERIFERIAS, MAIS CULTURA Confira o roteiro dos centros de cultura na periferia: ARENAS Arena Carioca Jovelina Pérola Negra (Pavuna) Endereço: Praça Enio s/nº - Pavuna. Telefone: 2886-3889 Arena Carioca Carlos Roberto de Oliveira Dicró (Penha) Endereço: Av. Brás de Pina, s/nº, Parque Ary Barroso - Penha. Entrada pela Rua Flora Lobo. Telefone: 3486-7643. WhatsApp: 98485-6514 Arena Carioca Fernando Torres (Madureira) Endereço: Rua Soares Caldeira, 115 - Parque Madureira. Telefone: 3518-9669 LONAS E ARENINHAS Areninha Carioca Hermeto Pascoal (Bangu) Endereço: Praça 1º de maio s/nº - Bangu. Telefone: 3463-4945 Areninha Carioca Renato Russo (Ilha do Governador) Endereço: Parque Poeta Manuel Bandeira, s/nº - Ilha do Governador. Telefone: 2467-0095 Areninha Carioca Gilberto Gil (Realengo) Endereço: Avenida Marechal Fontenelle, 5.000 - Realengo. Telefones: 3462-0774 / 3333-2889 Lona Cultural Municipal João Bosco (Vista Alegre) Endereço: Avenida São Félix, 601, Parque Orlando Bernardes - Vista Alegre. Telefone: 2482-4316 Lona Cultural Municipal Carlos Zéfiro (Anchieta) Endereço: Estrada Marechal Alencastro, s/nº - Anchieta. Telefone: 2148-0813 Lona Cultural Municipal Terra (Guadalupe) Endereço: Rua Marcos de Macedo, s/nº, Praça Edson Guimarães - Guadalupe. Telefone: 3018-4203 Lona Cultural Municipal Elza Osborne (Campo Grande) Endereço: Estrada Rio do A 220 - Campo Grande. Telefone: 2413-2255 Lona Cultural Municipal Herbert Vianna (Maré) Endereço: Rua Ivanildo Alves, s/nº - Maré. Telefone: 3105-6815 Lona Cultural Municipal Sandra de Sá (Santa Cruz) Endereço: Praça do Lote, 219 - Santa Cruz. Telefone: 3395-1630 Planetário de Santa Cruz Endereço: Rodovia Rio-Santos, km 1 - Santa Cruz. Telefone: 2088-0536 CinemaneCarioca Nova Brasília Endereço: Rua Nova Brasília, s/ nº, Praça Nossa Senhora de Fátima - Bonsucesso CineCarioca Méier Endereço: Rua Dias da Cruz, 170 - Méier. Telefone: 2461-2461 Microcine Cinema Brasil de Bonsucesso Endereço: Av. Teixeira de Castro, 157 - Bonsucesso. Telefone: 2290-4593


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COMPORTAMENTO

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Deixa na régua DOUGLAS LOPES

O que é e o que tem o “Corte do Jaca”, estilo que saiu da favela e ganhou o mundo do cabelo. O filme não é sobre o ‘Corte do Jaca’, mas ele permeia o filme todo”. Vaidade masculina Em pesquisa sobre o mercado de beleza masculina realizada, em 2016, pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), 45% dos homens se declararam vaidosos. Alison Willian Fidelis é um desses que mantém um ritual de cuidado religioso. Faz hidratação no cabelo duas vezes por semana, atualiza o corte em dégradé e o cavanhaque semanalmente na barbearia, além de ter cuidados com a pele, como limpeza facial. E se não conseguir se cuidar por algum motivo? “Me sinto feio e desleixado”, confessa.

Barbearia do Nandão: corte feito milimetricamente é adotado por homens de toda a cidade

MARIA MORGANTI que quem criou foi o “Barbeirinho do Fundão”, uma localidade do Jacarezinho. Bom, seja lá qual for o criador, o que não falta é gente atrás do “Corte do Jaca”. “Bem graduado, com uma boa finalização, com tintura ou não”, define Lucas como seria um corte perfeito. Nas telas do cinema “O barbeiro da maioria dos jogadores de futebol é de comunidade”, revela Lucas. Além da cabeça dos craques, o tipo de corte também ganhou as telonas. O cineasta Emílio Domingos estava gravando o seu primeiro filme, “Batalha do Passinho”, de 2011, quando algo despertou sua curiosidade: “todos os dançarinos do passinho tinham o ‘Corte do Jaca’ e aquilo me chamou atenção. Muitas vezes, eu tentava me encontrar com os dançarinos na sexta-feira, e eles nunca podiam, porque iam ao barbeiro e eu ficava intrigado com aquilo. Aí, eu vi que o salão era um lugar muito interessante, onde ficavam vários jovens conversando sobre a vida, sobre tudo, não só cortan-

Boom de barbearias O Censo de Empreendimentos da Maré, realizado em 2013, confirma o aumento cada vez maior e a solidificação de negócios envolvendo a vaidade masculina. A categoria “beleza e estética” teve o segundo maior número de empreendimentos de toda a Maré, 307, perdendo apenas DOUGLAS LOPES

P

ágina bombada nas redes sociais, vídeo “viralizado”, tema de filme, barbearias sempre lotadas. O “Corte do Jaca” saiu da favela e já ganhou a cabeça do mundo. Mas o que será que tem de especial o tal “disfarçadinho”? Quem usa? Como é? Quem faz? No “Salão do KBeto - entra feio sai bonito”, na Nova Holanda, estão as respostas para todas essas perguntas. Segundo KBeto, como gosta de ser chamado, barbeiro há mais de 20 anos, a procura é tanta que chega a atender de 40 a 50 pessoas por dia. Ele conta que todos os clientes – que mantêm a frequência semanal – pedem o corte estilo “disfarçadinho”. Para alguns, o corte nasceu no Jacarezinho, favela da Zona Norte, por isso o nome: “Corte do Jaca”. Para outros, como KBeto, o estilo começou a fazer sucesso em 2004. Lucas Lima, um dos administradores da página no Facebook “Eu mando o Corte do Jaca”, criada em 2012 para divulgar os cortes e com mais de 500 mil seguidores, defende a primeira tese e afirma

para o número de bares, 660. Isso antes do boom de barbershops, espécie de barbearia com oferta de bebidas como cerveja, venda de roupas e outros artigos de beleza masculina, ressalta o coordenador geral do estudo, Dalcio Marinho. “A onda que fez proliferar os chamados barbershops na Maré, e em toda a cidade, é bem recente. Quando o Censo de Empreendimentos da Maré foi realizado, em 2013, ainda não havia tantos como se vê atualmente. A quase totalidade dos estabelecimentos do ramo era de barbearias comuns, daquelas mais convencionais. Havia 33 empreendimentos na Maré que eram denominados como barbearias por seus proprietários. Mas a barba também era cuidada em pontos comerciais, que são chamados de salão de cabeleireiro, o que nos leva a admitir que o número de pontos com este serviço era mais elevado. Não sabemos quantos babershops surgiram nos últimos anos na Maré. Só uma nova pesquisa poderia revelar. Mas é certo que o número de barbearias aumentou bastante com essa tendência, que responde a uma nova demanda dos homens em relação à aparência”, afirma.

KBeto é barbeiro há mais de 20 anos e atende de 40 a 50 pessoas por dia


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CONJUNTO ESPERANÇA Bar do Grande Sextas - DJ -19h Sábados – Baile Funk -23h Domingo – Roda de Samba - 19h Localização – Rua Manoel Ribeiro Vasconcelos, 322 MORRO DO TIMBAU Dogueria Resenha O Food Truck carioca, especializado em hot dog artesanal, já aparece como um dos espaços mais “bombados” do momento, com pelo menos três eventos semanais. Quando – sextas, sábados e domingos Horário – a partir das 22h Localização – Avenida Guilherme Maxwel, 95 NOVA HOLANDA Baile Funk da NH Quando – sábados Horário – a partir das 22h Localização – Rua Teixeira Ribeiro – alguns eventos acontecem no Campo da Paty

Pagofunk da BT Acontece na rua que dá nome à festa. Quando – quintas Horário – a partir das 22h Localização – Rua Bitencourt Sampaio CAM: Centro de Artes da Maré RUA BITTENCOURT SAMPAIO, Nº 181, NOVA HOLANDA, MARÉ TELEFONE: (21) 3105-7265 facebook.com/ centrodeartesdamare 01/11 (quinta-feira) Eles não usam tênis naique (Cia Marginal) + Baile de Favela Horário: 20h Espetáculo mais recente da CIA Marginal, com texto premiado de Márcia Zanelatto, Eles não usam tênis naique narra o reencontro de um pai e uma filha que não se viam há muitos anos. 03, 04, 10, 11 de novembro (sábado e domingo) Temporada Grupo Atiro: Agora Sei o Chão que Piso - Corpo Minado Horário - 20h A obra é o primeiro trabalho do Grupo Atiro e trata de um profundo mergulho nas memórias dos atores e atrizes, para denunciar as animalidades expostas nas relações humanas desde a infância até a vida adulta. 23/11 (sexta-feira) Cuidado com Neguin Horário - 20h Trata-se de uma obra em processo, sobre o olhar artísticocrítico do “Neguin” Kelson Succi,

DICAS CULTURAIS que tem como base a vivência e o deslocamento de um jovem pobre, preto e favelado, que sobe e desce o Complexo do Alemão, diariamente, para ocupar a cidade.

e de amanhã. Fala da paixão pela charla, do encantamento pelas palavras e pelas ações, e do feitiço inerente a um bom vendedor.

30/11 (sexta-feira) Cine Conceição - Novembro Negro Pitanga + Mulheres ao Vento Horário - 19h30 A Mostra "Novembro Negro Pitanga" é a sétima ocupação do Cine Conceição, espaço de cinema, debates, acolhimento e encontro, no Centro de Artes da Maré. Esta edição é feita em parceria e cocuradoria com o Projeto Mulheres ao Vento.

21 e 28 de novembro (quartasfeiras) Oficina de Danças Populares Afrobrasileiras com Pâmela Carvalho Horário: 15h30 Bumba meu boi, maracatu, jongo, coco, tambor de crioula e capoeira são algumas das manifestações músico-culturais que constituem um universo conhecido como “cultura popular brasileira”.

Todas as sextas-feiras Oficina de Percussão Panderolando Horário - 18h às 20h Propõe a iniciação e experimentação livre dos instrumentos de percussão, por meio do desenvolvimento coletivo, baseado em diferentes manifestações artísticas. Panderolando convida “Panderolando convida” é uma série de encontros com músicos, bailarinos, dançarinos e estudiosos da musicalidade e corporeidade afro-brasileiros. Em cada um dos encontros haverá experimentações, a partir do corpo e da música, das vivências e narrativas de ritmos que marcam a cultura popular brasileira. A atividade ocorrerá dentro das aulas de percussão Panderolando. TODA A PROGRAMAÇÃO É GRATUITA NOVA MARÉ Lona Cultural Municipal Herbert Vianna RUA IVANILDO ALVES, S/N°, NOVA MARÉ TELEFONE: (21) 3105-6815 facebook.com/ lonaculturaldamare 09/11 (sexta-feira) Favela Rock Show Horário: 21h O Favela Rock Show acontece uma vez por mês sempre circulando pelas vertentes do rock underground, do heavy metal ao indie rock. Além dos três shows que acontecem a cada edição, o evento conta ainda com DJs, projeções, intervenções artísticas, jogos e rolê de skate com freestyle. 13/11 (terça-feira) Festival de Circo: Coletivo Nopok Espetáculo: Carrilhão Horário: 10h O espetáculo fala dos mercadores de todos os tempos e lugares. Mascates de hoje, de ontem

28/11 (quarta-feira) Cuidado com Neguin Horário - 14h O espetáculo será adaptado para o público infantil De junho a dezembro Oficina de Estencil Horário - 14h às 17h A “Oficina de Estencil”, mediada e conduzida pelo coletivo NataFamília, que trabalha com pinturas de interiores e exteriores, quadros e camisas, traz uma formação por meio de várias linguagens do cotidiano da periferia e favela com os alunos que integram o coletivo Maré Crew. Segunda a sexta Projeto Nenhum a Menos: - Complementação Pedagógica - Iniciação Musical - Letramento - Robótica - Contação de histórias Faixa etária 8 a 12 anos Horário - 15h às 18h Cine Clube Rabiola Acontece todas as quintas-feiras do mês Horário - 17h Todas as sextas-feiras Oficina de Percussão Panderolando Horário - 15h às 17h30 TODA A PROGRAMAÇÃO É GRATUITA PARQUE MARÉ Baile Charme da Teixeira Quando – domingos Horário – a partir das 20h Localização – Rua Teixeira Ribeiro 563 - na calçada da Loteria PARQUE UNIÃO Baile Funk do PU Quando - sextas Horário – a partir das 23h Localização – Rua Ari Leão Roda Cultural do Parque União Hip hop, trazendo sempre atrações musicais e batalhas de

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MCs. Quando – sextas Horário – 18h Localização – Rampa de Skate, no final da Rua Ari Leão Baile Retrô Baile funk da antiga e charme. Quando - domingo Horário – a partir das 23h Localização – Rua Roberto da Silveira Praça do Parque União O forró da Praça é um evento consagrado e que já trouxe grandes bandas para o local, com o apoio principalmente dos comerciantes do entorno. Quando – domingos Horário - a partir das 22h Localização – após a Passarela 10, antes da entrada da Ilha BBBar Tradicional Pagofunk já famoso na Maré e fora dela. Quando – sábados Horário – a partir das 22h Localização – Rua Larga PRAIA DE RAMOS Pagode do Litrão Pagofunk sempre com uma atração do funk e do pagode. Quando – sextas Horário – a partir das 23h Localização – Piscinão de Ramos – Passarela 13 SALSA E MERENGUE Pagode da C11 Um dos eventos mais tradicionais de funk e pagode da Maré. Quando – sextas e domingos Horário – a partir das 22h Localização – Via C11 VILA DO JOÃO Baile da V.J Quando – sábados Horário – a partir das 23h Localização – Rua Quatorze e alguns eventos especiais na Quadra da Vila do João Estrela da Vila Barzinho com boa música ao vivo Quando – quinta a domingo Horário – 20h Localização – Rua Quatorze, 322 VILA DOS PINHEIROS Tabacaria Dread Locks Shows de bandas do cenário alternativo do rock, reggae, rap e eletrônico. O local tem frequentadores assíduos que colocam músicas para tocar a noite toda, numa playlist colaborativa. Quando – sextas e sábados Horário – a partir das 20h Localização – Via B9 - em frente ao bloco 1


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Galpão leiloado na Marcílio

Moradores foram encaminhados à Defensoria Pública ELIANE SALLES

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imóvel de cerca de 20 mil metros² do Banco do Brasil, localizado na Marcílio Dias, foi arrematado em setembro, segundo informações obtidas em um site especializado em publicação de editais, por uma empresa de reprografia de publicações e livros, por cerca de R$ 1,3 milhões. O leilão foi realizado uma semana após 25 casas de alvenaria, que estavam sendo construídas no entorno do galpão, terem sido derrubadas por agentes da Prefeitura. Antes da remoção, havia no local, conhecido como Favela do Arroz, 59 barracos (alguns de alvenaria, outros de madeira); alguns abrigavam famílias de até quatro pessoas. "Minha casa estava quase pronta. Os funcionários da Prefeitura disseram que não podia construir no local, mas não tinham ordem de despejo. Ainda falaram para os que ficaram sobre o prazo de dois meses para sair, e inventaram a mentira de que a Associação sabia da operação”, diz Simone do Nascimento, de 31 anos. De acordo com a Associação de Moradores da Favela Marcílio Dias, não havia funcionamento regular no galpão, apenas a circulação de vigilantes e seguranças de uma empresa privada e nem a Associação nem os moradores foram notificados da remoção das construções. "A Prefeitura veio com a Guarda Municipal e policiais, para derrubar os barracos. O absurdo foi que informaram aos moradores que teriam notificado a Associação. Isso foi uma calúnia! Fomos ao local com um advogado que pediu algum documento que auto-

rizasse a desocupação. Eles não apresentaram nenhum papel e, na mesma hora, foram embora”, conta Jupira de Carvalho dos Santos, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias. Acesso à Justiça Acompanhados por representantes da Redes da Maré, 20 moradores (dez em cada reunião) foram atendidos pelo Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Estado (NUTH), especializado em remoções. O Núcleo informou que, do ponto de vista legal, casas em construção em lugar irregular não configuram direito à moradia (usucapião) e que, portanto, aqueles moradores não poderiam ser atendidos pelo Núcleo. Na ocasião, foram orientados que procurassem a Vara de Fazenda Pública, onde poderia ser avaliada a possibilidade de indenização por danos materiais. Aos moradores que tinham suas casas construídas e que já residiam no local, o NUTH sugeriu que aguardassem uma possível notificação de remoção. O acompanhamento dos moradores à Defensoria Pública faz parte de um processo de orientação que a Redes, por meio de seu Projeto Maré de Direitos, vem dando aos moradores da Maré, que alegam terem tido suas casas demolidas pela Prefeitura sem mandado ou notificação prévia. O Projeto Maré de Direitos busca garantir e ampliar o acesso a direitos e interferir em práticas sociais que dificultam o acesso à Justiça.

As temperaturas estão aumentando. Basta de frio. A maioria dos cariocas prefere o sol, a praia e uma boa bebida (seja ela suco, água ou cerveja) gelada. Quanto à comida, a boa da vez são os pratos refrescantes, feitos com ingredientes frescos e que possam ser servidos frios. E, de preferência, que não sejam trabalhosos. Por isso, a dica desta Edição é a Salada de Macarronese, uma receita fácil e rápida. A contribuição é da nossa tecedora Alessandra Ferreira. Experimente. Salada de Macarronese (para cinco pessoas) Ingredientes: 1 kg de macarrão parafuso 1 pote de 250 g de maionese 100 g de muçarela 100 g de presunto 100 g de azeitona 1 lata de milho 1 lata de ervilha Salsa a gosto Preparo: Cozinhe, lave e escorra o macarrão. Depois, misture o milho, a ervilha, a azeitona, a muçarela cortada em pequenos pedaços, a salsa picadinha e o presunto em cubinhos. Por último, coloque a maionese e misture tudo novamente. Coloque na geladeira por 40 minutos e sirva. Acompanha frango, carne assada ou o que mais sua criatividade indicar.

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