Maré de Notícias #68

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ANO VI. AGOSTO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO. ELISÂNGELA LEITE

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Mulheres da Maré conquistam espaço próprio

Batizado de a “Casa das Mulheres”, edifício de quatro andares com um total de 360 metros quadrados, na Rua da Paz, no Parque União, será o ponto de encontro e de reflexão das mulheres que vivem na Maré. PÁGINAS 8 E 9

Balanço da campanha “Somos da Maré, temos direitos”

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Educação de jovens e adultos na Maré PÁGINAS 4 E 5

Despoluição da Baía de Guanabara se arrasta há mais de 20 anos PÁGINA 11

Espetáculo “Para que o céu não caia”

Lia Rodrigues Cia. de Dança faz temporada na Maré Depois da estreia e mais cinco apresentações na Alemanha, a Companhia esteve no Festival Montpellier, na França e em agosto se apresenta no Centro de Artes da Maré. PÁGINAS 12 E 13

No primeiro, mês a campanha foi embalada por eventos culturais e mutirões de distri-buição de materiais que levam informações à população sobre seus direitos e como se portar diante de uma abordagem policial desrespeitosa. PÁGINA 7 ELISÂNGELA LEITE

SAMI LANDWEER

As eleições municipais estão chegando


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EDIÇÃO 68 | AGOSTO 2016

EDITORIAL

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jornal Maré de Notícias chega, mais uma vez, em suas mãos recheado de informações sobre temas de interesse direto dos moradores da Maré. Nesta edição, destacamos a grande conquista das mulheres organizadas da Maré que possibilitou a construção de uma sede para projetos com foco nas suas demandas. Uma luta que começou lá atrás, nos anos de 1970, quando se viabilizou, por exemplo, a construção da primeira creche na Nova Holanda. A Casa das Mulhe-

humor | André de Lucena

res da Maré, uma iniciativa idealizada pela Redes da Maré, terá no prédio de 4 andares, no Parque União, um espaço onde se pretende pautar novos pensamentos e ações que ajudem a enfrentar a histórica desigualdade entre gêneros. Enriquecendo a abordagem do tema das condições das mulheres, a diretora da Redes da Maré, Eliana Sousa Silva, traz, em artigo, uma reflexão clara, objetiva sobre a condição da mulher a partir da favela. Apresentamos, ainda nesta edição, os bons resultados obtidos até o momento pela Cam-

panha “Somos Maré Temos Direitos”, que em um mês realizou os três lançamentos da Campanha na região. O esforço, agora, será a distribuição dos adesivos e dos folhetos com orientação aos moradores, casa a casa, sobre o que fazer em casos de desrespeito aos seus direitos durante uma abordagem policial. Estamos mostrando, ainda neste número 68 do Maré de Notícias, o quanto caminha lento e o quanto vem custando os projetos e programas que têm como objetivo despoluir a Baía de Guanabara. Para se ter

uma ideia, só no primeiro programa, elaborado em 1993 e que durou 13 anos, foram gastos mais de três bilhões de reais e os resultados não alcançaram a metade da meta estabelecida. Estamos lembrando também ao leitor que este ano teremos eleições municipais, consideradas por cientistas sociais e políticos de grande importância por trazerem a discussão de temas que estão muito próximos dos eleitores, como a vida na cidade, no município. Tenham todos uma boa leitura!

EXPEDIENTE REALIZAÇÃO:

UMA INICIATIVA:

Redes de Desenvolvimento da Maré DIRETORIA:

R. Sargento Silva Nunes, 1012 Nova Holanda - Maré Rio de Janeiro - RJ CEP: 21044-242 Telefone: (21) 3105-5531 (21) 3104.3276 comunicacao@redesdamare.org.br

Andréia Martins Eliana Sousa Silva Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir APOIO:

16 Associações de Moradores da Maré Observatório de Favelas

PARCERIA:

Conexão G Luta pela Paz Vida Real

LEIA O MARÉ DE NOTÍCIAS E BAIXE O PDF EM: www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare

EDITOR EXECUTIVO E JORNALISTA RESPONSÁVEL

Marcílio Brandão (Mtb – 1076 / PE) EDITOR ASSISTENTE

Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ) JORNALISTA COLABORADORA

Adriana Pavlova FOTÓGRAFA

Elisângela Leite PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Mórula_Oficina de ideias IMPRESSÃO

Folha Dirigida TIRAGEM

50 mil exemplares OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO REPRESENTAM A OPINIÃO DO JORNAL. PERMITIDA A REPRODUÇÃO DOS TEXTOS, DESDE QUE CITADA A FONTE.


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POLÍTICA

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As eleições municipais estão chegando

O trabalho do prefeito Em linhas gerais, o prefeito de uma cidade tem como função pôr em prática o seu plano de governo que, de alguma maneira, apresenta quando está em campanha. Ele decide como e onde serão aplicados o dinheiro da arrecadação de impostos municipais, como o IPTU e o ISS, e, ainda, os recursos repassados pelo Governo Federal e o governo de seu Estado. O prefeito não pode se negar a manter relacionamento

HÉLIO EUCLIDES

A

importância das eleições municipais, no Brasil, cresceu muito a partir da Constituição de 1988. O município hoje tem autonomia política, administrativa e financeira para atender demandas locais, como serviços básicos de educação, de coleta de lixo e de saúde. Isso ocorre porque é feita a transferência da gestão de alguns serviços públicos sociais do governo federal para os estados e os municípios. É no município que o cidadão se encontra mais próximo do poder constituído. Mas no geral, no Brasil, os governos se fecham e definem sobre o que impacta o nosso cotidiano sem ouvir ou atender nossas reivindicações e demandas. Não raro, decisões são tomadas em gabinetes e, geralmente, beneficiam interesses de grupos privados, alguns desses financiadores de campanhas de prefeitos e de vereadores. Felizmente, nas próximas eleições estão proibidas as doações de empresas para a campanha de candidatos. Essa prática, segundo alguns cientistas políticos, é uma das causas da rejeição que o brasileiro tem aos partidos políticos, aliada à falta de confiança, conseqüência dos escândalos sucessivos de corrupção que vieram à tona nos últimos anos. Mas isso precisa ser repensado, pois partido político é um espaço importante de poder do qual os cidadãos devem, organizados, participar.

atenderem aos interesses da população. O prefeito pode, também, apresentar à Câmara projetos de lei que sejam de interesse público.

A tarefa dos vereadores

O prefeito deve cumprir a Lei orçamentária anual, que, em síntese, é uma previsão dos recursos que vão entrar nos cofres municipais e a autorização de despesas públicas para o ano” com o poder executivo do seu estado (governador e secretários) e com o federal (presidente e ministros). Mesmo que sejam de partidos diferentes, precisa buscar apoios e firmar parcerias que ajudem a melhorar a vida da cidade que governa. Mas o prefeito não governa sozinho. Ele nomeia secretários municipais nas diversas áreas e deve, ainda, atuar junto com os vereadores. Precisa apreciar as leis propostas pelos vereadores e aprovar as que

O vereador deve estar bem próximo da população, já que é um elo entre ela e o prefeito. Dentre suas diversas funções, estão: elaborar, discutir e votar as leis municipais; aquelas que se referem aos impostos municipais, às políticas públicas nas diversas áreas, como saúde, educação, meio ambiente, transportes urbanos, coleta de lixo e etc. Os partidos, pelos quais os vereadores concorrem às eleições, se juntam em bancadas de apoio ou de oposição à administração do prefeito, mas não significa que o parlamentar da oposição vai ser sempre contra as propostas trazidas pelo prefeito ou pela bancada governista, e vice-versa. Na realidade, o que deve pautar o voto de um vereador é o interesse público.

O papel do eleitor Cada um de nós, como eleitores, temos uma grande responsabilidade. É fundamental que, ao escolhermos nossos candidatos saibamos, de alguma maneira, os seus planos de governo. Nas próximas eleições, em outubro, vamos escolher quem será o próximo prefeito do Rio de Janeiro e, também, os novos vereadores. Nesse sentido, é muito importante refletir e avaliar as propostas que consideramos melhores para nossa cidade. É a hora de tentarmos fazer as mudanças que queremos ver, a partir do nosso voto. E nossa participação não acaba nas eleições. Cabe ao eleitor acompanhar a conduta do prefeito e dos vereadores eleitos, observando o cumprimento de suas obrigações como gestores e legisladores escolhidos pelo voto do povo. É fundamental pressionar para que as promessas de campanhas sejam cumpridas.


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EDUCAÇÃO

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A história do PEJA na cidade do Rio de Janeiro PROFESSORA DA FACUL.DADE DE EDUCAÇÃO (UERJ), PARTICIPOU DA LUTA PELA IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA JOVES E ADULTOS NA MARÉ QUANDO ERA MORADORA E ATUA NA EJA ATÉ HOJE

A

Educação de Jovens e Adultos na Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro começou em 1985, como parte do Programa Especial de Educação, elaborado por Darcy Ribeiro. Destinava-se ao atendimento de jovens das classes populares, egressos do ensino regular, na faixa etária de 15 a 20 anos. O PEJ (Projeto de Educação Juvenil) foi implantado inicialmente em 20 Cieps, privilegiando a alfabetização. A partir de 1987, em resposta às reivindicações dos profissionais de educação e dos alunos, o Projeto foi ampliado garantindo a continuidade de estudos dos alunos alfabetizados no próprio PEJ ou fora dele. Em 1998, a Secretaria Municipal de Educação apresentou ao Conselho Municipal de Educação proposta para a implantação do 2º segmento do Ensino Fundamental no PEJ (PEJ II) e a regulamentação do mesmo. No ano de 2005, foi publicado pelo Conselho Municipal de Educação o Parecer 06/2005 que, entre outras alterações, estabeleceu o nome Programa de Educação de Jovens e Adultos – PEJA, em substituição à designação usada até então. A mudança teve impacto sobre o atendimento aos adultos que procuravam as escolas, ampliou a oferta de vagas, o estabelecimento de parcerias com a sociedade civil, o reconhecimento do Centro Municipal de Referência de Educação de Jovens e Adultos (CREJA) e a redefinição de matrizes curriculares para o Programa.

A partir de 2012, iniciaram-se os CEJAS, escolas exclusivas de EJA, funcionando em seis turnos, com ensino semipresencial, nos mesmos moldes de funcionamento do CREJA. Os CEJASsomam esforços e trabalhos com as escolas que possuem o PEJA. O primeiro CEJA foi inaugurado na Maré. Na cidade, o Peja beneficia 28.382 alunos, num total de 139 escolas. Ser professora da Educação de Jovens e Adultos é um grande prazer e uma realização. É um trabalho que exige comprometimento, estudo, engajamento e mobilização para a transformação. O PEJA contribuiu muito para a minha formação pedagógica e para que eu quisesse estudar mais e buscar soluções para os desafios que nos são impostos. Quando

atuei na Secretaria Municipal de Educação, na gerência de EJA, pude ter contato com a gestão das escolas e do PEJA e, assim, pude compreender melhor como se estrutura o programa. Na Maré trabalhei com uma realidade que já conhecia, por ser moradora e ter tido toda a minha formação na escola pública. Dessa maneira, conhecia as demandas daquele público, suas trajetórias humanas e escolares, seus sonhos e motivações e, principalmente, sua luta por direitos negados, entre eles, a educação. Por isso, a EJA é uma conquista da sociedade que não se cala e luta para que a educação seja direito de todos, independentemente da idade e de qualquer outra diferença, na Maré e em todas as outras comunidades.

Ser professora da Educação de Jovens e Adultos é um grande prazer e uma realização. É um trabalho que exige comprometimento, estudo, engajamento e mobilização para a transformação”

ELISÂNGELA LEITE

JAQUELINE LUZIA DA SILVA


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EDUCAÇÃO

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Três décadas de educação de jovens e adultos ELISÂNGELA LEITE

A Maré foi um dos primeiros locais a ter implantação do programa HÉLIO EUCLIDES

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Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) completa 31 anos. Nesse período, tem ajudado pessoas a recuperar o seu direito à educação. No Rio de Janeiro, seis CIEPs foram os pioneiros na implementação do Programa, um deles foi o CIEP Ministro Gustavo Capanema, na Vila do Pinheiro. “O PEJA funciona aqui há 31 anos, um período de luta e desafios. Estamos aqui porque temos um compromisso”, conta a professora Janete Trajano. A ex-diretora Carmen Lúcia se emociona a falar do trabalho: “É muito importante uma pessoa ler uma carta, o aluno se sente valorizado. O PEJA recorda a história da minha mãe, de pessoas oriundas do Nordeste, que desejam melhorar o seu destino”, revela. A atual diretora Gisleide Gonçalves(Gisa), afirma: “Estar dirigindo uma escola na Maré já é uma grande responsabilidade, e quando se estende para adultos é ainda maior(...) Os adultos têm um desejo maior de aprender e temos que incentivar, para satisfazer as expectativas desse aluno.” A aluna Kelly Neide, de 29 anos, reconhece a importân-

cia do PEJA na sua vida: “Parei por causa de filho e marido. Aqui encontrei uma oportunidade de estudar e tentar um emprego melhor. Hoje estou com um novo companheiro que me apoia, me incentiva a, mesmo cansada, vir para sala. Foi pela escola que, pela primeira vez, fui ao teatro, algo que me encheu de alegria. Vejo aqui os professores sempre prestativos”.

O PEJA na Praia de Ramos Na Maré, há outra unidade que oferece educação para jovens e adultos: o CIEP Leonel de Moura Brizola, na Praia de Ramos. “O programa é para valorizar a cidadania. Apontar os caminhos novos do mercado de trabalho, para o aluno se inserir. Apresentar a questão política, para que ele tenha um envolvimento”, explica a professora Helena Gaioni Fernandes. A professora Fernanda Lessa, que faz mestrado sobre o PEJA, acrescenta: “Nosso trabalho é valorizar o ensino que o aluno traz. Tive um aluno de 75 anos, que depois se tornou gráfico, e outro foi estagiário na escola”. O Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Maré O CEJA Maré começou em 2012. Localizado na rua Praia de Inhaúma nº 200 oferece

O programa é para valorizar a cidadania. Apontar os caminhos novos do mercado de trabalho, para o aluno se inserir. Apresentar a questão política, para que ele tenha um envolvimento” HELENA GAIONI FERNANDES, professora

os EJA 1 e 2 comaulas de artes, música, artes plásticas e língua estrangeira (inglês ou espanhol).Não há apresentação de histórico escolar para ingresso. Os alunos são avaliados e enviados a série indicada. “Se o aluno tem algum problema em algum horário, há a adequação”, afirma a diretora Luciana Santana. “Tem aluno que chega aqui e nem sabe pegar o ônibus para ir a algum lugar. Agora

eles se unem e vão ao cinema. Aqui todos são corresponsáveis, a decisão é do coletivo, com envolvimento de todos”, comenta a professora Margareth Sanches. Como revelam os depoimentos, há um grande empenho para que o direito à educação seja cumprido. Muitos sacrifícios individuais e coletivos são feitos, mas a recompensa é ver a vida de cada um mudar para melhor.


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SEGURANÇA PÚBLICA

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Primeira liminar contra operações policiais abusivas

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primento de mandados de prisão e/ou busca e apreensão (...)” No entanto, a juíza também adverte que os órgãos de Segurança Pública “(...) devem adotar providências para preservar vidas e o direito de ir e vir das pessoas (...) A população não pode ficar refém de operações sem planejamentos e açodadas, muito menos a policia justificá-las sob o frágil argumento de capturar bandidos”. O Defensor Público do Núcleo de Defesa de Direitos, que acompanha outros casos de violação de direitos da Maré, Daniel Lozoya Constant Lopes, destacou a importância da decisão judicial: “Que eu saiba, é um precedente inédito de intervenção judicial em uma operação policial em curso (...) Acho, e torço que isso sirva, mesmo que momentaneamente, de freio para as ações policiais, pois, repito, desconheço que tenha havido alguma demanda de intervenção judicial em operação policial em curso em favela que tenha sido exitosa” conclui o defensor. Essa ação é uma evidência da força que pode ter a mobilização popular para a solução de problemas tão graves como a falta do direito à segurança pública para moradores de favelas no Rio de Janeiro.

A liminar da Justiça contra operações policiasi abusivas

ELISÂNGELA LEITE

fim de junho e o mês de julho foram marcados pelas sucessivas operações policiais que tiveram como motivação, segundo o comando da policia militar, cumprir mandados judiciais e, ainda, enfrentar os grupos civis armados que atuam em favelas do Rio de Janeiro. As ações envolveram batalhões militares e a polícia civil que utilizaram carros blindados. Tivemos, como resultado dessas ações, uma série de tiroteios, com o agravante dos abusos ocorridos aos moradores que envolveram invasões a residências sem a devida autorização judicial para que houvesse entrada as casas. Uma dessas operações aconteceu, no final de junho, mais precisamente no dia 24, na Nova Holanda, quando vários disparos atingiram e atravessaram portas e janelas da Biblioteca Infantil Maria Clara Machado, iniciativa coordenada pela Redes da Maré que integra a rede de bibliotecas comunitárias do estado. Os tiros marcaram vidraças, paredes, estantes e livros do espaço, onde há contação de histórias, oficinas de textos, encontros com autores e é freqüentada por dezenas de crianças e adolescentes, diariamente. Felizmente, naquela manhã, foi possível retirar a tempo o público presente. Mas, nos embates desse dia, três pessoas foram mortas, sete presas e dois policiais ficaram feridos. O que é muito grave e nos deixa a todos perplexos. Por isso, dessa vez, numa tentativa de colocar um limite nesse processo histórico de violações pelo estado, algumas instituições da sociedade civil que atuam na Maré, com destaque para as Associações de Moradores, foram solicitar providências à Justiça. Em resposta, a juíza Angélica dos Santos Costa assinou uma liminar contra as operações policiais historicamente abusivas, impondo condições e limites de horário, suspendendo as ações policiais noturnas. Em sua argumentação, a juíza reconhece a necessidade de realização de operações policiais “que visem ao cum-

Marcas de tiros na biblioteca e em livros


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SEGURANÇA PÚBLICA

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Da esquerda para a direita: o cantor Bhega participa da Campanha na Praia de Ramos; colagem de adesivo na Nova Holanda e a arte do grafite reforçando a comunicação.

Campanha “Somos da Maré, temos direitos” chega a nova etapa Deflagrada no início do mês de julho, a campanha segue firme pelas comunidades da Maré

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om início em julho do corrente ano,a campanha segue firme pelas diferentes comunidades da Maré. Nos primeiros trinta dias, foi embalada por eventos culturais e mutirões para distribuição de folhetos e adesivos, que levam informações e esclarecimentos à população sobre seus direitos e como agir diante de uma abordagem policial desrespeitosa. Após experiência entre 2012 e 2013, a atual edição da Campanha, está calcada em pesquisa amostral, feita pela Redes da Maré com apoio do Observatório de Favelas e da Anistia Internacional, que revela que um alto índice da população do bairro, 25%, teve seus direitos desrespeitados por agentes de segurança do Estado, policiais civis e militares. Ou seja, em cada grupo de quatro moradores, um já foi vítima de abordagem policial, no mínimo, constrangedora.

Os eventos de lançamento da Campanha Os três eventos de lançamentos da Campanha na Maré aconteceram na Vila do João, na Praia de Ramos e na Nova Holanda sucessivamente. A

moradora Cremilda Guedes aplaudiu a iniciativa: “eles (policiais) acreditam porque somos favelados, somos criminosos. Estudei pouco, mas sei que não podem entrar em nossas casas sem mandado e que para me revistar é preciso uma policial do sexo feminino”, relatou. Esses eventos deram a partida para a necessária mobilização dos moradores da Maré junto a Campanha e contaram com atividades como a bicicletada, que atravessou várias comunidades, da Baixa do Sapateiro até a Praia de Ramos; com a participação do artista Bhega fazendo um momento cultural; do Dream Team Passinho; do Nata Familia e o Cohy;de bailarinos da Escola Livre da Dança da Maré; do DJ Karen, além de uma oficina de pipa. Foi muito importante, nesse processo, a parceria com as associações de moradores, que apoiaram a Campanha desde a sua preparação. A ação estimula que o morador possa argumentar. Não é contra A ou B, e, sim, a favor da defesa da cidadania. Raquel Willadino, do Observatório de Favelas, umas das instituições que apóia a iniciativa, viu no interesse da população um sinal positivo para

os objetivos da campanha: “é muito importante esse trabalho, pois traz perspectiva e mostra o morador como personagem atuante da ação. Destaca, ainda, alguns pontos fundamentais como a mobilização e o fato de levar informações relevantes no campo do direito, mostrando os canais de ajuda e, o mais importante, atua na prevenção de uma abordagem”, analisou Raquel. O diretor executivo da Anistia Internacional, parceira da Campanha, Átila Roque, comentou: “acho importante trazer o protagonismo para o morador. A problemática da segurança pública precisa encontrar solução e um desses caminhos é o diálogo com o morador. O Estado acredita que a favela é problema e por isso realiza as operações policiais desastrosas. O importante é mostrar que a favela é a cidade e os habitantes do Rio são todos iguais. Os moradores da favelas são sujeitos e atores da cidade”, acrescenta. O diretor da Redes da Maré, instituição idealizadora da Campanha, Edson Diniz, reforçou: “nos três dias de lançamentos da Campanha, acompanhamos moradores muito receptivos. Antes tínhamos receio, mas a resposta veio dos moradores

que se edificaram com a ideia de entender como reivindicar o seu direito à segurança pública. Nesse mês de julho, o que aconteceu foi que as operações policiais se intensificaram e, nesse mesmo período, veio a campanha. Na realidade, aconteceu uma coincidências de agendas, um momento adequado para esclarecer o que é abuso”, resumiu. A moradora Érica Batista, de Nova Holanda, estava emocionada em atuar junto aos vizinhos: “estou adorando esse trabalho. Achei que iria ser complicado bater porta a porta distribuindo material falando do abuso da policia, mas vi que as pessoas aceitam a conversa e querem dialogar. Sempre tive o desejo de fazer isso, ajudar a conscientizar meus vizinhos. Percebi que a vivência é diferente, mas o pensamento é igual, queremos direitos”, relata. Érica conversou com Tereza Cristina da Silva, moradora da Nova Holanda há 39 anos: “é necessário que se faça uma abordagem policial respeitando o direito. Tem morador que não luta pelos seus direitos. É por issoque a favela é pisada. Vivemos uma ditadura camuflada”, desabafa Tereza.


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DIREITOS DA MULHER

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Uma casa na Maré para as mulheres chamarem de sua E difício de quatro andares com um total de 360 metros quadrados, na Rua da Paz, no Parque União, será o ponto de encontro e de reflexão das mulheres que vivem na Maré. Batizada de Casa das Mulheres da Maré, a construção ainda em obras, vai sediar uma série de projetos da Redes da Maré voltados para as mulheres: a começar pelo bem-sucedido Maré de Sabores, que inclui oficinas de gastronomia e serviço de bufê; além de serviços de assistência psicológica, jurídica e social. O novo espaço também estimulará debates sobre a temática de gênero, tendo ainda a proposta da abertura de cursos na área de estética, entre outros. A Casa das Mulheres é uma resposta concreta ao poder que moradoras da Maré conquista-

Acima, integrantes da Chapa Rosa; à direita, Eliana Sousa Silva assume a presidência da Associação dos Moradores da Nova Holanda; no centro da página, a equipe do Maré de Sabores

ram, nas últimas décadas, ao tornarem-se protagonistas de movimentos sociais ou de lutas ligadas à infraestrutura da região.A construção nasce também com a vocação de incentivar mais mulheres da favela a refletirem sobre sua condição, ainda frágil, diante do machismo reinante na sociedade. Um local que pretende estimular, por meio de encontros, simpósios, troca de experiências e até mesmo assistência direta, que novas formas de enfrentamento do machismo surjam. Um espaço que sonha pautar novos pensamentos e ações contra a desigualdade entre gêneros, congregando mulheres e homens de todas as idades. Historicamente, desde fins dos anos 1970, mulheres moradoras da Nova Holanda começaram a se organizar para

criar aquela que seria a primeira creche da região. Foi um movimento espontâneo, nascido da necessidade de muitas de ter onde deixar os filhos enquanto trabalhavam fora. Elas revezavam-se entre si para poder olhar as crianças. A partir daí, descobriram a força da união, o que foi demonstrado, mais uma vez na prática, quando, em 1984, a Chapa Rosa, encabeçada por mulheres, ganhou a primeira eleição direta para Associação de Moradores de Nova Holanda. Eliana Sousa Silva, hoje diretora da Redes da Maré, foi a primeira presidente mulher jovem de favela de uma associação de moradores no Rio de Janeiro. A partir daí, as mulheres da região perceberam que tinham voz e se engajaram nas dife-

A construção nasce com a vocação de incentivar mais mulheres da favela a refletirem sobre sua condição ainda frágil diante do machismo reinante na sociedade”


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Helena, ela também incansável em seu engajamento desde que chegou à Maré, em 1979, vinda do interior do Rio.

nais sobre gênero, mediados por Shirley Villela, coordenadora da Casa das Mulheres.

Um histórico de conquistas

O espaço para o Maré de Sabores O Maré de Sabores vai ocupar o primeiro e parte do segundo andar da casa, comprovando a dimensão conquistada pelo projeto desde a sua criação em 2010. Nesses seis anos, mais de 300 mulheres moradoras da Maré fizeram a formação básica em gastronomia, com duração de quatro meses, incluindo módulos de panificação, confeitaria e massa, num total de cinco horas semanais. Outras cerca de 60 mulheres passaram por uma etapa avançada, quando técnicas culinárias mais sofisticadas são ensinadas, como preparação de caldos e carnes menos usuais, como avestruz e codorna. Todas ainda participaram dos encontros semaELISÂNGELA LEITE

rentes lutas para a melhoria das condições de vida na favela. Diretora da Redes da Maré, a mineira Helena Edir Vicente lembra, claramente, como a energia e a união feminina foram fundamentais para muitas transformações positivas nos últimos 30 anos: “A eleição em que as mulheres saíram vitoriosas deu muita força para todos. Saímos à luta porque precisávamos de tudo, de água, luz, saneamento, calçamento, tudo. Costumávamos nos reunir semanalmente na Escola Municipal Nova Holanda e as mulheres eram maioria naqueles encontros que tinham 200, 300 pessoas, todos interessados em melhorar nossas condições de vida. Como os maridos, normalmente, iam trabalhar fora, as mulheres tinham mais tempo de se engajar e realmente se uniram. Íamos até a Prefeitura, à Light e onde fosse necessário para lutar por nossos direitos”, conta

Mais antiga aluna da oficina do Maré de Sabores em ação na cozinha do projeto, Michele Nogueira Gandra, de 41 anos, lembra que, ao chegarem ao espaço da cantina da Lona, havia apenas um fogão e três panelas doadas para dar conta tanto das aulas como para o serviço de bufê. Hoje, cinco anos depois, o rosto iluminado de Michele ao falar com orgulho do crescimento do Maré de Sabores ilustra também as transformações na sua própria vida desde então. Dona de casa que, até 2010, ocupava-se somente das tarefas do lar e do dia a dia de seu marido e dos três filhos, Michele viu na oficina de gastronomia a chance de cozinhar melhor para família. Entrou para a primeira turma do projeto e, já no mesmo ano de 2010, estava às voltas com a produção de um primeiro serviço de bufê. Ali, sem saber, começava um novo ciclo em sua vida: “De repente, me vi trabalhando 15 dias seguidos e gostando do que estava fazendo. Era tudo muito novo para mim e para a minha família que, de uma hora para outra, começou a sentir falta da minha presença. Com a ajuda das aulas de gênero, fui percebendo meu fortalecimento como mulher. Se antes eu ficava em casa mas estava sempre estressada e reclamando, passei a valorizar cada momento ao lado do meu marido e dos meus filhos”, conta Michele, que, com o di-

nheiro do trabalho, viu a vida financeira da família ficar mais confortável, estimulando passeios e viagens antes impensadas, como idas ao cinema e temporadas em Rio das Ostras. Desde que começou no Maré de Sabores, ela ainda pôde comemorar a entrada de dois de seus filhos na faculdade: a garota de 21 anos faz Psicologia no Ibmec e o rapaz, de 19 anos, cursa Administração na UFRJ. Michele é uma das profissionais fixas do bufê Maré de Sabores, num grupo que, dependendo da época do ano e das demandas, vai de seis a 12 mulheres. Ao seu lado estão as fiéis escudeiras Dara Ângela, de 19 anos, que sonha em cursar uma faculdade de gastronomia, e Lívia Santos Barros, de 30 anos, responsável, entre outras tarefas, pelos lanches diários das crianças que participam de um outro projeto da Redes da Maré, o Nenhum a Menos. “O Maré de Sabores trouxe independência à minha vida.A estabilidade financeira que conquistei me deu a chance de morar sozinha e não depender mais do meu pai e da minha irmã. Também sempre fui muito calada, não abria a boca. Aqui conheci muitas pessoas, aprendi a gostar do que eu faço, sou de verdade uma outra pessoa”, afirma Lívia. A construção da Casa das Mulheres da Maré vem sendo possível pelas contribuições da ActionAid, que realizou campanha junto a doadores individuais, em 2013; do Instituto Lojas Renner, através de edital púbico, em 2014; e, ainda, pela parceria institucional entre a Redes da Maré e a Fundação alemã Ireso.


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ARTIGO

A condição da mulher a partir das favelas cariocas ELIANA SOUSA SILVA DIRETORA DA REDES DA MARÉ

A

s violências contra as mulheres, com ênfase para o abuso sexual que se materializa, em muitos casos, em estupro, estão na ordem do dia no Brasil. Diante da gravidade do fato, é positiva a atenção que o tema vem recebendo, assim como o esforço de muitas e muitos para romper com sua naturalização. A minha compreensão sobre essa questão foi construída a partir da favela onde cresci e residi por 28 anos: Nova Holanda, Maré, Rio de Janeiro. Neste território, que não é diferente de outros da cidade, aprendi a reconhecer as relações sexistas como uma raiz central das violências direcionadas às mulheres, apesar de características peculiares às condições que a realidade da favela apresenta. Ali, a cultura do estupro se faz presente, historicamente, como em outras partes da cidade, mas foi sofrendo sanções diferenciadas durante os anos. Nesse sentido, remeto-me a um fato da década de 70, quando eu era criança: um morador próximo a minha casa ficou conhecido como tarado porque tinha como prática agarrar mulheres. Na ocasião, quando encontrávamos com ele, eu e algumas amigas gritávamos: “- Tarado!”e corríamos. Ele ficava procurando quem gritara, começava a vozear e nos xingar. Ele era hostilizado frequentemente e vivia sozinho, a mulher o havia deixado. Já na década de 80, relembro de outra situação impactante: um homem foi acusado de abusar de uma criança. Diante da situação, o chefe do grupo armado, à época, que era apenas um adolescente, mas com forte carisma, o vestiu de mulher e o aleijou, dando um tiro em cada joelho do abusador. A partir dali, ele ficou marcado e passou a ser objeto de ofensas e interdições. Dessa forma, desde aquela época, o estupro, assim como o roubo, o assalto ou o homicídio sem autorização do chefe do grupo armado, passaram ter como sentença a condenação à morte. O mesmo acontece em muitas favelas cariocas. Desse modo, o estupro numa via

pública é fortemente inibido nessas regiões. Já os abusos sexuais, por sua vez, que acontecem em espaços privados e, muitas vezes, são realizadas por familiares, nem tanto. Na realidade, é comum o próprio companheiro, namorado ou marido de uma mulher ocupar, às vezes, o lugar do estuprador, sendo, em alguns casos, permitido, inclusive, se patrocinar estupros coletivos, como o que pode ter ocorrido no episódio que veio a público em 26 de maio do corrente ano. Cabe salientar que essa violência é tão antiga e recorrente que foi criado um termo específico para defini-la, e que, raramente, tem sido utilizado nos debates: curra. A curra é tão antiga quanto às classes e se faz presente em toda a história feminina, legitimada desde a origem pelas interpretações religiosas, em particular as monoteístas, que colocam a mulher em posição inferior e como representação do mal, devendo, por isso, ser cerceada, controlada, punida, reprimida e castigada quando expressa posicionamentos autônomos, que escapam da autoridade masculina tradicional. A palavra HOMEM para nos designar como espécie humana, que inclui o homem e a mulher, demonstra o não reconhecimento de que a mulher deveria ser pensada de maneira independente e na sua especificidade como gênero. Ou seja, como bem propalou a filosofa Simone de Beauvoir “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Nesse sentido, o que caracteriza a feminilidade não se relaciona com o que as mulheres carregam

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de biológico, mas sim pelo que foi acumulado do ponto de vista da cultura e das crenças semeadas historicamente. É crucial reconhecer que se naturalizou historicamente a violência contra as mulheres, sendo essa um processo que se relaciona com as relações de poder estabelecidas na sociedade. As distintas ações/violências, com enfoque de gênero, que de forma proposital provocam numa mulher dor física, sexual e psicológica, seja no âmbito privado ou público, como é o caso do estupro, ocorrem como consequências de uma prática, essencialmente, masculina. Fui adquirindo um juízo crítico ao sexismo em meu processo de ampliação do repertório cultural, social e educacional. Conheço muitas mulheres nas favelas que ainda não colocaram o machismo em questão e o naturalizam como inerente às relações homem-mulher. Nesse sentido, tenho clareza que há um imenso desafio para ampliar a compreensão da maioria das mulheres e, também, dos homens das favelas sobre os direitos femininos e a superação do processo de transformação da diferença de gênero em desigualdade. Assim como as lutas raciais, as lutas de gênero, como movimentos organizados, ainda são hegemonizadas, infelizmente, pelas mulheres dos setores médios. Isso, sem dúvida, precisa mudar e de forma urgente. A nossa busca deve ser pela incorporação de mais e mais mulheres para esse campo de luta, reconhecendo que os homens precisam ser questionados e trazidos para esse debate, pois eles são parte do problema e, também, da solução. Apenas desse modo será possível desnaturalizar essa forma de opressão tão vil, criando formas de relacionamento nos quais mulheres e homens possam ser apenas pessoas, iguais nas suas diferenças, nos seus anseios e busca de uma vida plena, livre e segura.

Há um imenso desafio para ampliar a compreensão da maioria das mulheres e, também, dos homens das favelas sobre os direitos femininos e a superação do processo de transformação da diferença de gênero em desigualdade”


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MEIO AMBIENTE

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HÉLIO EUCLIDES

C

omo parte de uma das polêmicas sobre as Olimpíadas no Rio de Janeiro, estava à discussão sobre a qualidade da água da Baía de Guanabara. Velejadores de várias partes do mundo criticaram a poluição da baía, entre eles o campeão olímpico de 2012, o holandês Dorian Van Rijsselberghe. A despoluição da baía é uma questão que se arrasta desde a realizaçãoda Rio 92. No ano seguinte, foi elaborado o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), encerrado em 2006. Nesses treze anos do PDBG, foram gastos 1,2 bilhão de dólares (3 bilhões e 700 milhões de reais, atualizados), mas os resultados foram considerados “insatisfatórios”. Hoje, sete estações cuidam de esgotos que são lançados na baía, mas com exceção de uma, a de Icaraí, todas as outras tratam bem menos água do que a capacidade projetada. Na baía, ainda são despejados algo em torno de 18 mil litros de esgotos não tratados por segundo. A promessa era reduzir a poluição na baíaem 80%. Para isso foi elaborado o Programa de Saneamento Ambiental dos

Municípios do entorno da Baía de Guanabara (PSAM). Com o tempo, o Governo do Estado abandonou a meta, alegando falta de planejamento dos vários gestores da baía. No ano da Olimpíada, é estimado que menos de 40% do esgoto derramado na baía seja tratado e o programa não tem data para a conclusão das obras.

O recurso das ecobarreiras Nas margens do Canal do Cunha, na Maré, foi instalada uma ecobarreira. Na cidade são 17 delas, com o objetivo de conter o lixo flutuante. Esses equipamentos estão instalados na foz dos principais rios e canais que deságuam na Baía de Guanabara. O secretário estadual do Ambiente, André Correa, fala da necessária mudança de comportamento da população: “Peço uma reflexão da população. Somos oito ou nove milhões de pessoas. Quando chove, o lixo que as pessoas jogam no chão(...)vai parar na Baía de Guanabara. Não adianta esse sistema, se a gente não tiver uma mudança de hábitos. ” A Maré fica no meio de duas estações de tratamento, a da Penha e do Parque Alegria.

Contudo, o esgoto produzido ainda é lançado in natura nos rios que vão direto para o Canal do Fundão. A Secretaria Estadual de Ambiente informou que na ecobarreira do Canal do Cunha foram removidas 208 toneladas de resíduos no mês de junho.

FOTOS: ELISÂNGELA LEITE

A despoluição da Baía de Guanabara

O outro lado das ecobarreiras O ambientalista Sergio Ricardo discorda dos números apresentados pela Secretaria: “Tanto as ecobarreiras, quanto os ecobarcos são tratamentos paliativos. A baía recebe 10 toneladas de lixo por dia, o que é recolhido é pouco. O primeiro passo seria a coleta seletiva, que é obrigatório, mas não acontece. O poder público não obedece a lei que Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos”. O presidente da Associação de Pescadores Livres de Tubiacanga (APELT),Alex Sandro dos Santos, diz que o equipamento causa dificuldadespescadores. “Os equipamentos impedem o acesso dos barcos à baía”. Ele vê o projeto com receio: “Em Tubiacanga o assoreamento é de 32 metros,são toneladas de lixo. As ecobarreiras só inibem o lixo para os espaços olímpicos. Nem sabemos se o projeto vai continuar depois dos jogos”, conclui.

No topo da página, trabalhadores do programa de retirada de lixo no Canal do Cunha; acima, a retenção de lixo na área da comunidade de Salsa e Merengue pela ecobarreira

Não há dúvidas que a poluição da Baía de Guanabara exige um projeto abrangente de recuperação e de prevenção por parte do Governo do Estado. Isso porque a questão afeta toda a região metropolitana do Rio de Janeiro, principalmente os trabalhadores que vivem da pesca e que sofrem diariamente com a poluição de uma das áreas ambientalmente mais ricas e bonitas do Brasil.


Da esquerda para a direita, Rafael Galdino e Gustavo Glauber. Os jovens hoje integram a turma do Programa Internacional da Escola PARTS, na Bélgica

O voo

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FOTO: IURY CARVALHO

DANÇA

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pelo ideal da dança

Os primeiros estudantes da Escola Livre de Dança da Maré a integrar turma do Programa Internacional da Escola PARTS da Bélgica

O

s primeiros estudantes da Escola Livre de Dança da Maré a integrar turma do Programa Internacional da Escola PARTS da Bélgica Dois dos quatro brasileiros selecionados para o programa internacional de estudos da Escola PARTS, da Bélgica, considerada uma das melhores de dança contemporânea do mundo, são moradores do bairro da Maré. Ambos integraram, até o mês passado, a Escola Livre de Dança da Maré. Rafael Galdino veio com os pais, o torneiro mecânico Samuel Ferreira e a auxiliar de serviços gerais Patrícia Valéria, de Maceió, em Alagoas, para morar no Parque União, no bairro da Maré, aos seis anos de idade. O colega de turma, Gustavo Glauber, tinha onze quando chegou de Alagoa Grande, na Paraíba, para morar com a mãe, a também auxiliar de serviços gerais, Karina dos Santos Vieira, em Rubens Vaz. Aos vinte anos, são os primeiros bailarinos que saem da Maré diretamente para uma escola europeia. “Cheguei aqui ainda muito novo (...) toda aquela fase de descobertas, incertezas e

muita insegurança. Então acho que, não só como bailarino, mas também como pessoa, a maior parte de tudo que sou desenvolvi aqui nessa escola da Maré. A Lia Rodrigues conversa muito com a gente, puxa a orelha, orienta, não é somente a dança”, ressalta Rafael. A coreógrafa Lia Rodrigues e a Redes da Maré criaram, em 2009, o Centro de Artes da Maré– CAM. No CAM, funcionam a Lia Rodrigues Companhia de Danças e a Escola Livre de Dança da Maré, onde a coreógrafa concebeu o curso de formação continuada, o Núcleo Dois, hoje sob a coordenação pedagógica da professora Sílvia Soter. Além desse núcleo, cerca de trezentas pessoas participam de oficinas de dança, teatro e outras atividades.

A chegada à PARTS Os dois jovens bailarinos da Maré chegaram à escola PARTS por meio de uma seleção que foi realizada em trinta países. No Brasil, a audição aconteceu no Centro Coreográfico da Tijuca, no Rio de Janeiro. A final do concurso ocorreu em Bruxelas. Para eles

a grande dificuldade é o idioma, no país fala-se francês e as aulas serão em inglês. “Eu fiz um curso de francês realizado pela Redes da Maré e Aliança Francesa, isso vai me facilitar na Bélgica, mas o inglês estudei pouco por não me identificar com a língua, e agora tenho que aprender rápido”, revela Gustavo.“A dificuldade com o inglês fez com que eu apurasse mais a atenção para os movimentos da dança, para os movimentos do corpo do professor”, pondera Rafael. Para superar essa dificuldade, eles já estão em Bruxelas, onde frequentam aulas de inglês até o começo do curso de dança, em setembro. Rafael e Gustavo conseguiram uma bolsa parcial. “A gente pode trabalhar dentro da escola, é uma maneira de pagar os estudos(...)a gente dá um jeito”, comenta com entusiasmo Rafael. Determinado também revela-se Gustavo: “Vou e volto para ensinar aqui, nesta escola de dança da Maré, que me deu praticamente tudo, onde tive todo esse aprendizado”. Então meninos, nos vemos em breve e boa sorte!


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ENTREVISTA

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Dança para o céu não cair

MN – Como se deu a criação desse espetáculo? LIA RODRIGUES - Nós começamos em 2015 com um projeto que juntou o núcleo 2 da Escola Livre de Dança da Maré e os artistas -bailarinos da minha companhia. A ideia era criar um Questionário Afetivo–Cultural-Corporal para ser experimentado com os moradores da Maré. Fizemos um levantamento de questões possíveis, num total de 105 perguntas e saímos pelas ruas da Maré fazendo entrevistas com moradores de várias idades, perguntando sobre suas vidas, sobre como elas se expressavam, gravando depoimentos, filmando e fotografando... Às vezes pedíamos que fizessem algum movimento ligado ao seu dia a dia ou ao trabalho, às vezes contavam uma história, às vezes perguntávamos sobre seus medos seus sonhos e desejos e também se conheciam o Centro de Artes da Maré. Foram mais de cem encontros. Começamos então a trabalhar com todo esse material que foi coletado,

começaram a criar o Centro de Artes, fizemos um projeto chamado “Dança para Todos”. Depois de nossos ensaios oferecíamos aulas gratuitas para os moradores e nessas aulas alguns meninos e meninas começaram a aprender dança. Esses dois alunos que agora estão numa escola de dança muito importante na Bélgica começaram com 14 anos. Depois a Silvia Soter, diretora da escola, trouxe toda a sua experiência para recriar a escola que já tinha existido em 2004 no Timbau. É muito importante que jovens que não morem na zona sul do Rio possam ter a escolha como qualquer outro jovem: eu quero ser artista, eu quero ser bailarino, eu quero ser professor de dança… isso tem que fazer parte do repertório de escolhas que eles têm. É isso que a gente tenta proporcionar aqui na escola. É um trabalho constante de uma equipe de profissionais dedicados. Hoje a temos quase 400 inscritos na escola, com fila de espera para entrar nas aulas. O nosso trabalho tem compromisso com a qualidade e temos o cuidado de não termos um número excessivo de alunos para não prejudicar o aprendizado.

MN – E o que é “Para que o céu não caia”? LIA RODRIGUES - Uma outra fonte de inspiração foi o maravilhoso livro “A queda do céu” escrito a partir de relatos de Davi Kopenawa, recolhidos em língua Yanomami pelo etnólogo Bruce Albert onde o líder Yanomami relata sua história e suas meditações de xamã. Ao final, Davi alerta em tom profético que quando a Amazônia sucumbir à devastação desenfreada e o último xamã morrer, o céu cairá sobre todos e será o fim do mundo. O mundo já era para estar muito pior se eles não tivessem segurando nosso céu. O céu deles já caiu há muito tempo. Então, “Para que o céu não caia”, eu poderia falar assim: de quem você segura o céu? Por exemplo, quando tem um amigo doente, você vai lá ajudar na casa dele, está segurando o céu daquele amigo para não cair. Quando a gente vem aqui, se encontra na Escola Livre de Dança, nos nossos ensaios e aulas, cada um de nós está segurando o céu de alguém ou de um coletivo, ou de uma comunidade. E essa dança que a gente criou, ela tem esse sentido também. Nós estamos aqui no Centro de Artes da Maré sempre resistindo. Trabalho aqui na Maré ˙há mais de 10 anos em parceria com a Redes da Maré e é uma resistência, é um investimento. Acredito que a gente não vai deixar o céu cair, apesar de tudo. Então a gente dança para o céu não cair, em lugar nenhum, nem na Maré, nem em lugar nenhum da cidade, do país. MN – Há um mês, dois jovens saíram daqui da Maré para estudar na Escola PARTS da Bélgica. Como vê a evolução do ensino da dança no Centro de Artes da Maré? LIA RODRIGUES - Em 2008 e 2009 quando a Redes e a minha companhia

MN - População mais pobre tem hoje mais a cesso à dança? LIA RODRIGUES - Eu acho que não. As populações mais pobres tem muitas dificuldades de acesso às artes de uma maneira geral. Por isso a nossa preocupação em manter o Centro de Artes da Maré que é um espaço de convivência e encontro das artes, e a Escola Livre de Dança, além da sede da minha companhia e dos nossos projetos artísticos e pedagógicos. Existem vários outros projetos de dança no Brasil direcionados que fazem um trabalho importante como, por exemplo, em Paracuru no Ceará, a escola de Dança, do Flávio Sampaio, que faz um trabalho exemplar. Educação e formação são investimentos a longo prazo e que necessitam de recursos financeiros constantes.

A coreógrafa Lia Rodrigues

MN - Mas a escola está evoluindo? LIA RODRIGUES - Eu acho que de um lado, claro que sim, porque estamos todos crescendo com essa experiência. Mas precisamos de muito mais investimento financeiro a longo prazo. Espetáculo “Para que o céu não caia”

FOTO: ROSILENE MILIOTTI

um material super-rico e criamos um exercício coreográfico baseado nesses encontros, relacionando esses relatos individuais, em suas dimensões políticas e estéticas, com ações e situações criadas por nós. Foi aí que começaram a aparecer as primeiras ideias para essa criação, que se chama “Para que o céu não caia”.

FOTO: SAMMI LANDWEER

D

epois de uma estreia na Europa, em Dresden, na Alemanha, onde foi finalizado numa residência artística, e ser apresentado em outras cinco cidades alemãs e no Festival Montpellier, na França, o novo espetáculo da Lia Rodrigues Companhia de Danças faz temporada brasileira, em agosto, em sua sede, o Centro de Artes da Maré, no Rio de Janeiro. Inspirado no contexto da Maré, a partir de questões afetivas e culturais respondidas pela população do bairro, o espetáculo ainda se alimenta do relato de um xamã – líder inspirado pelos espíritos para conduzir cerimônias – da nação yanomami que prevê a “queda do céu” sobre nossas cabeças, caso cesse a harmonia da vida no universo. A provocação é clara, se consideradas a destruição ambiental e a crescente exclusão social promovidas pelo modelo econômico. E a pergunta que fica é o que nós podemos fazer Para que o céu não caia? A premiada coreógrafa Lia Rodrigues falou ao Maré de Notícias (MN) sobre mais uma criação da Companhia que dirige.


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DICAS CULTURAIS

Para que o céu não caia

Uma das fotos do antropólogo Anthony Leeds

Neste mês de agosto a grande atração no Centro de Artes da Maré é o novo espetáculo da Lia Rodrigues Companhia de Danças

Exposição mostra cotidiano de favelas nos anos 60

SINOPSE:

Diante de tantas catástrofes e barbáries que todos os dias nos assombram e emudecem, neste contexto de drásticas mudanças climáticas que escurecem o futuro, o que nos resta a fazer? Como imaginar formas de continuar e agir? O que cada um de nós pode fazer para, a seu modo, segurar o céu?

FOTO: SAMMI LANDWEER

CENTRO DE ARTES DA MARÉ ENDEREÇO: Rua Bittencourt Sampaio, 181, Nova Holanda, Maré (terceira rua à direita depois da passarela 9 da Av. Brasil, sentido Centro-Zona Oeste) TELEFONE: (21) 3105-7265. HORÁRIO: Em cartaz até a 28 de agosto de 2016. Quinta e sexta às 19h. Sábado e domingo às 18h.

DURAÇÃO: 75 min LOTAÇÃO: 130 pessoas CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 16 anos ENTRADA FRANCA Reservas e informações sobre a van que fará o trajeto Zona Sul-Maré, aos sábados e domingos: paraqueoceunaocaia@gmail.com

OPORTUNIDADE DE ESTUDAR PARA O VESTIBULAR O Pré-vestibular da Redes oferece todos os anos 235 vagas, número que não atende ao grande interesse da comunidade pelo curso. As aulas ocorrem na Sede da Redes, na Nova Holanda, e na Vila do João, em 4 turmas noturnas e aos sábados. Jovens moradores da Maré têm prioridade de acesso ao curso, cujo objetivo principal, além da aprovação em exames vestibulares, é favorecer à formação crítica e política de seus alunos.

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O Pré-vestibular da Redes da Maré já contribuiu para o acesso de milhares de estudantes às universidades. Este anos, entre os aprovados está Maria de Lourdes Pontes, que passou para o curso de filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela é a primeira de sua família aprovada para a faculdade pública. E conquistou um dos seus maiores sonhos aos 70 anos de idade.

O Museu da Vida oferece oportunidade de se conhecer registros fotográficos raros de favelas cariocas da década de 1960, na exposição “O Rio que se queria negar: as favelas do Rio de Janeiro no acervo de Anthony Leeds”, que revela parte das fotografias feitas pelo antropólogo norte-americano e que foram cedidas por sua mulher, a cientista política Elizabeth Leeds à Casa de Osvaldo Cruz em 2014. As lentes de Leeds captaram imagens que mostram a estrutura das favelas e suas dinâmicas, naquela época, quando o antropólogo morou no Tuiuti e Jacarezinho. São cenas de um passado já removido da paisagem da cidade, como as favelas Macedo Sobrinho, antes localizada no Humaitá. Muitos moradores dessas comunidades foram transferidos para os parques proletários, que tinham acabado de serem construídos e que também foram fotografados por Leeds. Leeds também acompanhou o dia a dia em favelas já tradicionais na época, como a Rocinha e a Providência, além de outros registros: os mutirões, o carteado entre amigos, as técnicas de construção, casas comerciais locais, como biroscas, armarinhos e barbearias, além de espaços comunitários, campos de futebol e quadras de escolas de samba.

MUSEU DA VIDA ENDEREÇO: Av. Brasil, 4.365, campus da Fiocruz, em Manguinhos, próximo à passarela seis. TELEFONE: (21) 2590-6747. HORÁRIO: em cartaz até 1º de outubro e pode ser visitada de terça a sexta, das 9h às 16h30, e aos sábados, das 10h às 16h. ENTRADA FRANCA


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POR DENTRO DA MARÉ

15 ELISÂNGELA LEITE

LONA CULTURAL DA MARÉ VAI SE TORNAR ARENINHA CARIOCA HERBERT VIANNA É com alegria que partilhamos a conquista da reestruturação da Lona Cultural da Maré. A responsável pelas obras é a Secretaria Municipal de Cultura. Ao final desse processo, que tem previsão de término em outubro deste ano, teremos a transformação do espaço em Areninha Carioca Herbert Vianna. Essa é uma importante conquista que deve ser comemorada pelos moradores da Maré. É importante citar que essa conquista é fruto de uma luta por melhorias para o único equipamento público, na Maré, dedicado a atividades artísticas e culturais. Não podemos esquecer que a Lona ficou vários anos sem funcionar; inclusive, com proposta de ser fechada. E para mostrar que a luta continua, trabalharemos, toda equipe, enquanto as obras acontecem, no projeto “Lona Itinerante”. Este ocupará diversos espaços de nossos parceiros na Maré. Estaremos informando em breve onde acontecerão as atividades. No tocante as bicicletas do projeto Maré Sem Fronteiras, que ficam na Lona, serão transferidas, após manutenção, para a sede principal da Redes da Maré.

O professor de futebol Alexandre Batista com alunos.

A escolinha do Parque Ecológico Na Arena da Mata, no Parque Ecológico, na Vila do Pinheiro, cento e dois meninos aprendem futebol com o professor Alexandre Batista, também conhecido por Pichetti. A escolinha tem 19 anos de funcionamento e se propõe a reforçar o processo de formação da meninada aliada com a prática esportiva. Além do aprendizado das técnicas e regras do futebol (o professor também atua como árbitro), os jovens atletas prestam contas de seu desempenho na escola. Os garotos são divididos por categorias: Fraldinha, de seis a nove anos, pré-mirim, 10 e 11 anos, mirim, 12 e 13, infantil,

14 e 15, e juvenil, 16 e 17 anos. Alguns que passaram pela escolinha já se encontram em clubes, como Botafogo, Olaria, Vasco e Fluminense. “Quando pequeno tive pneumonia, então teve uma preocupação, na família, com a prática do futebol. Mas fui atrás do sonho. Enfrentei dificuldades e minha família caminhou junto. Hoje tenho foco nos estudos, pois sei que aqui é um lazer”, conta Luiz Eduardo Honorado da Silva, de 15 anos, na escolinha desde os 8 anos. Seu colega, João Paulo da Silva Albuquerque, de 16 anos, conclui: “aqui encontro amigos. No fute-

bol encontro felicidade, diversão, amizade e união”. O futebol na Maré, como nas favelas de modo geral, é uma prática que reúne gerações de moradores, sendo uma paixão que passa de pai para filho, e agora, filhas também, já que as mulheres cada vez mais aderem à prática. Os campeonatos são disputados e os campos ficam cheios a cada final de semana. Escolinhas como a do professor Pichetti ajudam as crianças da Maré a correr atrás do sonho de se profissionalizarem, mas sem esquecer a importância de se construir uma boa carreira escolar para o futuro.


ESPAÇO ABERTO

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RECEITA

Bolo de milho no liquidificador Ingredientes

Modo de preparo

• 1 lata de milho sem água • 1 lata de leite condensado • A mesma medida de leite de vaca • 4 ovos • 1 colher de manteira • 1 pacote de 100 gramas de coco ralado

• Bata todos os ingredientes no liquidificador até formar uma massa consistente • Despeje numa forma redonda com furo no meio untada e enfarinhada e leve para assar em forno médio

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Carta da leitora

"Aonde Quer que Eu (?)", sucesso dos Paralamas

Extraterrestre (abrev.)

Tribunal Regional do Trabalho (sigla) (?) já: imediatamente Advérbio de tempo (Gram.)

Estar em (?): estar em perigo Medida agrária Seguir; rumar

Alcançar; conseguir Ancoradouro Sílaba de "tampa" Excursão do artista Achava graça

Formato da lua crescente

Animal como o pombo

Rebeldia Planta que reveste muros

Abraços a todos e a todas do Maré de Notícias. Boa Sorte! Parabéns!

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Solução

P O R T O A L E G R E

Que bom saber do retorno desse importante veículo de comunicação, um jornalismo participativo, enfim, sei que estou feliz por isto, pois acredito na participação comunitária, principalmente, apesar do nosso contexto social.

BANCO

A VE

te falando, ela também está feliz com o retorno de vocês, pois o jornal é “Algo do Bem”.

Tipo de vinho tinto de mesa

T D A R I L H E T A N O V A N C A O S AB A D V I L V E N T A V E T A A R P R A T O S P I E B T U R N T R A R C E I M O S I R A S U A

Minha amada mãe Marina, desencarnou em 25 de dezembro de 2015; ela, muito Especial não só para mim, mas para muita Gente deixa saudade, mas seu/nosso Amor é maior que tudo e acredito que, espiritualmen-

Lucrativo

Último dia da semana Desprezível; ordinário

A A N T I D E R T R A A P A E N T H E

Fiquei feliz em “encontrar” o Nosso Jornal Maré de Notícias em meu portão, novamente. Minha mãe sempre guardava para mim um exemplar e, quando eu chegava do trabalho, ela me entregava e falávamos sobre as matérias, as pessoas que conhecemos e que o Maré de Notícias mostrava.

(?) Lins, compositor Daniel de Oliveira: atuou em "O Rebu"

Tipo sanguíneo raro Passar para dentro

Sara Alves

Gato, em inglês Guloseima de açúcar

Doença prevenida pela vacina tríplice

3/cat. 4/após — hera. 8/rentável. 9/transitar.

por:

Significado do cartão amarelo (fut.)

Indivíduo que anda muito


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