Maré de Notícias #67

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ANO VI. JULHO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO. ELISÂNGELA LEITE

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Mais de quinhentas ruas das 16 comunidades que compõem a Maré estão finalmente sendo reconhecidas oficialmente pela Prefeitura. Muitas foram batizadas com os nomes de pessoas que, de alguma forma, estão ligadas à história da região. Enfim, a favela da Maré e sua população entram no mapa oficial da cidade e ainda garantem o Código de Endereçamento Postal (CEP) de suas moradias. Uma conquista importante dos moradores, depois de muito tempo de empenho e trabalho. PÁGINAS 8 E 9

Jovens iniciam debate sobre política de drogas

Somos da Maré, temos direitos!

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A campanha vai passar pelas residências da Maré durante três meses distribuindo material informativo e orientando os moradores sobre seus direitos quando houver uma abordagem policial e como agir em caso de desrespeito. PÁGINAS 3 E 4

A resistência de pescadores na Baía de Guanabara PÁGINA 10

Nova Raíz do Samba comemora dez anos com DVD ao vivo PÁGINA 13

ELISÂNGELA LEITE

agora é minha

As visitas às residências não param

XÔ DENGUE!

Jovens e adolescentes vão de porta em porta para reforçar o combate ao mosquito aedes egypti. É o projeto Xô Dengue que acontece durante o ano inteiro na Maré. PÁGINA 12


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EDIÇÃO 67 | JULHO 2016

EDITORIAL

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Maré de Notícias volta à circulação nas dezesseis comunidades do bairro da Maré, depois de nove meses. De “cara” nova, com diagramação simples facilitando à leitura, nesta edição de número 67, o nosso jornal mensal ressalta a grande conquista dos moradores de terem a maioria de 62% das ruas do bairro finalmente incorporados ao mapa municipal do Rio de Janeiro. Uma vitória da organização e da persistência da população, que iniciou o processo de mapeamento e o conduziu até o fim, por meio da Redes da Maré e Observatório de Favelas, em parceria com a prefeitura. E uma vitória da cidadania! Afinal é direito de todos ter um endereço reconhecido oficialmente, com código de endereçamento postal (CEP), para que possam receber com tranquilidade serviços básicos e essenciais, além de suas correspondências. Por outro lado, nesse mesmo tempo em que a Maré dá um passo importante para o seu desenvolvimento social e econômico, a população residente e todos que trabalham no bairro seguem a conviver com a violência promovida pelas ações policiais na repressão às drogas. A relação da polícia com os moradores é marcada por violência e abusos, em virtude de uma abordagem dirigida à guerra ao tráfico que criminaliza

toda a comunidade, em particular jovens negros. O tema motiva sequência editorializada de 3 reportagens desta edição. Na primeira, mostramos que pesquisa feita na Maré revela que em cada grupo de 4 moradores, um já teve seus direitos desrespeitados pela polícia. A pesquisa serve de base à campanha que se desenvolve ao longo deste mês de julho, no bairro, com objetivo de esclarecer e orientar os moradores sobre seus direitos num momento de abordagem policial. Na segunda, evidenciamos o descompasso da legislação sobre droga no Brasil, em relação a diversos outros países. E a terceira conta que essa violência já é um de tantos problemas das escolas locais, segundo apurou a Secretaria De Educação do município em audiência pública realizada no bairro. Ou seja: legislação de droga que gera oportunidade à violência policial, que, por sua vez viola direitos dos moradores e atrapalha o andamento das escolas. Mostramos também, nesta edição, a resistência de pescadores que atuam na região da Ilha do Fundão, na Baía da Guanabara, e o esforço de jovens que visitam residência levando informações e orientações para o combate ao mosquito transmissor da dengue. A todos uma boa leitura.

humor | André de Lucena

charge | Robot

EXPEDIENTE REALIZAÇÃO:

UMA INICIATIVA:

Redes de Desenvolvimento da Maré DIRETORIA:

R. Sargento Silva Nunes, 1012 Nova Holanda - Maré Rio de Janeiro - RJ CEP: 21044-242 Telefone: (21) 3105-5531 (21) 3104.3276 comunicacao@redesdamare.org.br PARCERIA:

Andréia Martins Eliana Sousa Silva Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir APOIO:

16 Associações de Moradores da Maré Observatório de Favelas Conexão G

EDITOR EXECUTIVO E JORNALISTA RESPONSÁVEL

Marcílio Brandão (Mtb – 1076 / PE) EDITOR ASSISTENTE

Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ) FOTÓGRAFA

Elisângela Leite PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Mórula_Oficina de ideias IMPRESSÃO

Folha Dirigida

Luta pela Paz

TIRAGEM

Vida Real

50 mil exemplares

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OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO REPRESENTAM A OPINIÃO DO JORNAL. PERMITIDA A REPRODUÇÃO DOS TEXTOS, DESDE QUE CITADA A FONTE.


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CAMPANHA

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Com base em pesquisa, campanha contra violência policial chega a nova fase neste mês de julho na Maré. A maioria dos casos de violação aos direitos dos moradores do bairro ocorre nas abordagens da polícia

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Segurança Pública, violência e abordagem policial estão entre as primeiras preocupações de um quarto da população da Maré. Segundo pesquisa amostral realizada por iniciativa da Redes da Maré, com o apoio do Observatório de Favelas, a Luta pela Paz e a Anistia Internacional; cerca de 25% dos moradores de todas as favelas da Maré sugerem que esses temas sejam objeto de campanhas educativas e mobilizadoras, na busca de soluções para os problemas vivenciados no dia a dia dos moradores. A pesquisa, realizada entre novembro e dezembro de 2015, ainda revela que praticamente um em cada quatro moradores da Maré já sofreu algum tipo de violação dos seus direitos por parte de agentes da Segurança Pública. E a grande maioria de mais de 60% dessas pessoas disseram que foram desrespeitadas durante abordagem policial. E mais grave: cerca de 40% já tiveram suas casas invadidas pela polícia. Um presidente de Associação de Moradores, já teve a casa de sua família invadida e

revirada duas vezes pelos policiais e seu filho teve a moto quebrada. “É muita arbitrariedade. Jogam as motos no chão, mesmo com documentos ok. Meu filho é motoboy, regularizou os documentos e mesmo assim passou por essa situação. Perdeu dois dias de trabalho e ainda gastou R$ 500,00 com a troca do guidom”, conta. “Essa abordagem violenta, que se tornou corriqueira por parte dos policiais nas favelas, demonstra a falta de respeito e de reconhecimento pela polícia dos direitos dos moradores dessas regiões. Precisamos de servidores públicos – e entre eles estão os policiais – que atuem reconhecendo a condição humana e cidadã dos moradores das favelas”, ressalta Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré.

CAMPANHA A pesquisa é base para a campanha “Somos Maré. Temos Direitos”, tem por objetivo básico mobilizar os moradores sobre o direito a segurança pública. Durante três meses todas as casas na Maré receberão visita para

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Somos Maré e temos direitos

Distribuição de folhetos e adesivos na Vila do João

Essa abordagem violenta, que se tornou corriqueira por parte dos policiais nas favelas, demonstra a falta de respeito e de reconhecimento pela polícia dos direitos dos moradores dessas regiões” ELIANA SILVA, diretora da redes da maré

entrega do material da Campanha. Com foco nas operações e abordagem policial, a Campanha promoverá distribuição de impressos com explicações por que alguns atos cometidos pela polícia são ilegais, como a entrada nas casas sem mandato de busca e apreensão, e orientações sobre como agir no momento em que as policias estão atuando na Maré. Também serão utilizadas linguagens artísticas, a dança e o grafiti, para reforçar o entendimento das informações. A campanha já foi lançada na Vila do João. No próximo dia dezesseis, será lançada no Piscinão de Ramos e no final do mês, dia trinta de julho, na Nova Holanda.


CAMPANHA

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FOTOS: ELISÂNGELA LEITE

O LANÇAMENTO DA CAMPANHA Era manhã de sol, na Vila do João, na Maré, quando a campanha “Somos Maré Temos Direitos” foi lançada. Na rua 02 de julho aconteceram diversas apresentações de canto, dança e teatro, o que atraiu moradores que passavam pelo local. Na distribuição de material gráfico, adesivos e folhetos, o contato direto da equipe com a população, pontapé inicial de um desafio enorme que é levar, nos próximos três meses, esclarecimentos e orientações a todas as residências da Maré, o conjunto mais populoso do país, com cerca de 140 mil pessoas, de acordo com o último Censo Maré de 2015. "Foi bem legal, tinha uma galera boa. mobilizamos as instituições, e as pessoas receberam bem o material. Da equipe, tivemos 80 distribuidores, de dentro e fora da Maré, unindo todos pelo mesmo objetivo. Essa campanha trabalha segurança pública na pré-olimpíada e depois. Esse trabalho nas ruas une-se a ação judicial iniciada por organizações populares e que gerou liminar reconhecendo que as operações policiais precisam ser revistas”, avalia a assistente social da Redes da Maré, Lidiane Malanquini.

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Acima e à direita, equipe de 80 distribuidores de material impresso deflagrou a campanha; abaixo, apresentações de dança atraíram os moradores

PERFIL DOS ENTREVISTADOS PELA PESQUISA

Esse trabalho nas ruas une-se à ação judicial iniciada por organizações populares que gerou liminar reconhecendo que as operações policiais precisam ser revistas” LIDIANE MALANQUINI, assistente social da redes da maré

A pesquisa que orienta as ações e atividades da campanha “Somos Maré e Temos Direitos” ouviu 1909 moradores de todas as dezesseis comunidades da Maré. A grande maioria desses entrevistados se dizem afrodescendentes, cerca de 44% de pardos e 20% de negros, e 25% afirmam que são brancos. Ou seja, em cada 100 moradores, 64 são afro-brasileiros e 25 brancos. E as mulheres também são maioria entre as pessoas ouvidas, cerca de 52%.


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VIOLÊNCIA

DROGAS: discutir é preciso! Na Maré, a discussão sobre a política de “guerra às drogas”, suas consequências e alternativas, está posta pela população organizada, em particular os jovens

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necessidade de se refletir e discutir sobre a política de repressão às drogas e suas consequências está em pauta em diversos países do mundo. Em outros tantos, as discussões até já resultaram em leis mais flexíveis, que descriminalizaram o consumo de determinadas substâncias, antes consideradas ilícitas. Em outras palavras, em alguns países não é mais crime, por exemplo, o consumo de maconha. “A discussão não é se vai legalizar o consumo, mas quando. Portugal descriminalizou o uso da maconha em 2001. A Holanda, na década de 1970”, alerta Luciana Boiteux, professora de Direito Penal e Criminologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.

PEQUENO HISTÓRICO DA PROIBIÇÃO DA CANABIS A primeira proibição da maconha no Brasil ocorreu, em 1830, no Rio de Janeiro, se utilizada como “fumo” em pitos de pango, cachimbo de argila usado pelos negros, uma medida visivelmente dirigida à população negra, quase sem consequência para quem vendia. No início do século XX, a erva era liberada, em nosso país, embora ainda vista com preconceito por muita gente. A maconha era fumada nos terreiros de candomblé e por agricultores, em regiões distantes. Nos anos de 1920, nos Estados Unidos iniciou-se uma campanha contra a planta, sob a alegação de se combater o consumo de entorpecentes. Por trás, estavam grandes indústrias ligadas à exploração do petróleo, que desenvolviam produtos como plásticos, fibras sintéticas (o náilon), e processos químicos usados na produção de papel a partir da madeira. Ou seja,

indústrias que tinham como grande concorrente, no mundo, o cânhamo do tronco da canabis. A planta foi então proibida nos Estados Unidos, decisão acompanhada por outros países, entre eles o Brasil.

A DISCUSSÃO NA MARÉ O debate sobre essa política repressora ao consumo de drogas, seus impactos no dia a dia, já foi aberto nas comunidades da Maré, seja pela realização de encontros e seminários, com a participação de especialistas de diversas áreas, seja pela promoção de discussões entre segmentos sociais, em particular os jovens do local. Um exemplo foi a exibição de vídeos seguida de discussão entre os presentes, promovida pelo Rock em Movimento, um coletivo que busca ocupar espaços públicos para incentivar a produção de cultura voltada para o rock’n’roll. “Durante a apresentação dos curtas e do debate em si, ficou claro que as pessoas querem entender mais sobre as experiências referentes à política de drogas nos outros países... Acho que precisamos pensar agora em possibilidades reais de políticas públicas junto aos movimentos sociais e envolver ainda mais a comunidade”, afirma Elza Algoz, organizadora do evento. Emílio Figueiredo, militante de movimento pela legalização da maconha no Brasil, participou desse debate. “A reação foi excelente, muitos jovens interessados e com uma consistente base de crítica à política de drogas vigente. O mais importante agora é conscientizar esses jovens para participarem mais dos debates e propagarem suas ideias sobre a política de drogas”.

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A socióloga Julita Lengruber, Coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania – CESeC, defende que essas iniciativas precisam ser incentivadas em mais comunidades, não só do Rio de Janeiro como de outras cidades. “É na favela que a gente tem que discutir como mudar essa política e desafiar quem acredita que essa política pode proteger alguém”, ressaltou. É oportuno, portanto, lembrar que, na Maré, as operações policiais de repressão ao tráfico de drogas geralmente resultam em violência, às vezes mortes, comércio e escolas fechadas. A professora Luciana Boiteux, da UFRJ, também se mostra descrente quanto à eficácia da política de repressão às drogas. Ela chama a atenção para o fato de que o tráfico é o crime que mais leva pessoas para a cadeia no mundo. E o Brasil é o quarto que mais prende. “As carceragens estão repletas de jovens negros e mulheres. É essa política repressiva que vai solucionar? Isso significa controle da população”, observou a especialista em Direito Penal.

A DESCRIMINALIZAÇÃO Mais de 20 países de diferentes regiões do mundo já descriminalizaram o consumo de determinadas substâncias que estão na lista dos entorpecentes. Na Europa, a Espanha regulamentou o cultivo e a distribuição da canabis sativa. Nos Estados Unidos, vários estados regulamentaram o uso da erva, na maioria deles para fins medicinais. E na América do Sul, o Uruguai legalizou o plantio e a distribuição da maconha pelo estado, um processo ainda em consolidação. E o Chile é o primeiro país a promover o cultivo da canabis em terras públicas para fins medicinais. No Brasil, de uma maneira geral, a discussão sobre a necessidade de mudar a legislação já foi iniciada e se encontra principalmente na internet. São sites, artigos jornalísticos e científicos que defendem a descriminalização principalmente da Cannabis Sativa, por sua diversa aplicação medicinal. Há médicos que já receitam o Canabidiol ou CBD, óleo extraído da maconha, que é utilizado, por exemplo, em tratamentos de epilepsia, esclerose múltipla, de dores variadas e de pacientes oncológicos. E a importação da substância hoje é autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.


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VIOLÊNCIA

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Os reflexos nas escolas Entre fogo cruzado, escolas paralisam suas atividades pelo menos 2 dias a cada mês, professores não concluem suas tarefas e muitos estudante demoram para voltar às aulas

INTRANQUILIDADE DECORRENTE DE AÇÕES POLICIAIS Profissionais de Educação, pais e alunos enfrentam evidente violência, no momento em que ocorrem as operações policiais. Relatos de professo-

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violência policial, resultante da política de repressão às drogas, que ocorre nas comunidades do Rio de Janeiro tem reflexos no cotidiano das escolas. A discussão do tema é recorrente entre os moradores, professores e diretores de escolas e já foi objeto de audiência pública no bairro da Maré. Além dos profissionais que atuam nas escolas locais, pais e alunos já apresentaram suas preocupações e queixas à Secretaria Municipal de Educação. Este ano, por exemplo, segundo dados oficiais, muitas escolas já tiveram que paralisar as aulas em 8 dias, entre janeiro e maio, por causa de questões de segurança (conflitos entre a polícia e grupos armados), uma média de 2 dias fechadas a cada mês. E em 2015, ainda segundo a Secretaria de Educação, foram 18 dias sem aula. Entre os problemas das escolas a segurança aparece em determinadas situações e foram relacionados pelas comunidades escolares da Maré:

Audiência pública apura problemas nas escolas

res evidenciam situações de perigo quando se veem no meio de um tiroteio. Já houve caso em que o carro blindado da polícia, mais conhecido por “caveirão”, invadiu o terreno da escola e os policiais foram revistar as salas de aula da educação infantil. Em outra oportunidade, durante um tiroteio no horário escolar, alguns alunos faziam educação física na quadra, o que causou grande desespero. Além disso, há relatos de casos de “balas perdidas” que chegam ao interior de salas de aula. Sempre que há ações policiais, além das escolas fecharem, muitos alunos receosos não compareceram às aulas, nos dias seguintes.

NEM PORTEIROS, NEM SEGURANÇAS Professores reclamam que desde o início de 2014 nas escolas da Maré não tem porteiros nem seguranças. Em cada escola ou creche, um funcionário precisa ser desviado de sua função para suprir essa falta. DIFICULDADE DE PLANEJAMENTO ESCOLAR A paralisação das aulas por causa das ações policiais ou por algum problema de infraestrutura, como, por exemplo, falta d’água também impede que os professores completem seus planejamentos anuais. A falta d’água, por sinal, é frequente e não é considerada nas avaliações do trabalho.

ESCOLAS FECHADAS ENTRE JANEIRO E MAIO DE 2016 23

03 FEV 11

22 FEV 01 MAR

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16 MAR

13

18 MAR

13 16

11 ABR 13 ABR 12 MAI

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8 DIAS SEM AULAS FONTE: Secretaria Municipal de Educação


DIREITOS

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A missão do Conselho Tutelar Conselheiros têm o papel de zelar pelo cumprimento do ECA HÉLIO EUCLIDES

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ada Conselho Tutelar é formado por cinco membros, o de Bonsucesso, que além do bairro acompanha a Ilha do Governador, Maré e Penha Circular, é composto pelos conselheiros: Elisângela Viana, Rosimere Nascimento, Márcia Ventura, Ana Paula Marques e Marcelo Alves. Na eleição, 25 pessoas se inscreveram para o cargo, um número considerado grande. “Aqui é uma caixinha de surpresa. Têm pessoas que se candidatam a vaga por causa do dinheiro, não tem identidade com o trabalho e nem militância. O mandato é de quatro anos, mas tem gente que entra e sai logo, porque não tem a ideia, acham fácil, a realidade é outra e a demanda é grande. Aqui nos emocionamos, choramos, ficamos um caco”, grifa Márcia. Os conselheiros são eleitos pela comunidade para acompanharem as crianças e adolescentes e deci-

direm em conjunto sobre qual medida de proteção para cada caso. “Nós atuamos contra a violação do direito da criança e adolescente. O trabalho é todo fundamentado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), respeitamos o artigo 136, não fazemos nem mais, nem menos”, lembra Márcia. Ao senso comum falta entendimento de que o conselho que é visto como se tivesse como função levar as crianças com educação negligenciada ou direitos violados para o abrigo. Essa cultura de ligar o órgão ao medo vem da falta de conhecimento. O conselho não está vinculado a polícia. Um caso de medo dos pais é o atraso na hora de buscar os filhos na creche ou escola, que pode acarretar de ser levado ao conselho. Os conselheiros explicam que isso não pode acontecer na primeira vez, pois o responsável pode se encontrar numa situação que não permite buscá-los. Mas que a escola tem que comunicar desca-

CONSELHOS TUTELARES – DESAFIOS E EXPECTATIVAS POR MIRIAN GUINDANI PROFESSORA DA ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL DA UFRJ

Os (as) cariocas escolheram dia 28 de fevereiro deste ano os(as) novos(as) representantes dos Conselhos Tutelares. O processo eleitoral levou cinco meses para acontecer devido a denúncias de irregularidades. Qualquer cidadão (ã) com título de eleitor pôde participar. No dia 22 de março de 2016 aconteceu, finalmente, a cerimônia de posse dos(das) 90 Conselheiros(as) Tutelares, com mandato 2016 a 2019. O órgão “Conselho Tutelar”, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, foi instituído pela Lei 8.069 de 1990. Responsável por defender os direitos da criança e do adolescente, tem entre suas várias atribuições: • Atender crianças e adolescentes e aplicar medidas de proteção; • Atender e aconselhar os pais ou responsável e aplicar medidas de proteção; • Encaminhar ao Ministério Público notícia e fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou do adolescente; e à autoridade judiciária os casos de sua competência; • Tomar providências para que sejam cumpridas medidas protetivas aplicadas pela justiça a adolescentes infratores

sos com o menor. “Colocar uma criança num abrigo só em último caso, pois não há separação de caso lá dentro, isso pode violar o direito dela. Se os pais atrasam várias vezes, isso precisa ir para um relatório”, expos Ana Paula. A maior reclamação de quem trabalha no conselho é a falta de informações, que levam os pais procuram ao órgão sem saber suas atribuições. “O conselho é preventivo, não é pronto-socorro. Nosso trabalho não é feito para crianças que já passam a noite na rua, não somos santos milagrosos para solucionar algo tão difícil. Nesses casos indicamos para psicológico e cursos”, sugere Márcia. Para os funcionários a principal falha dos pais é deixar os filhos fazerem tudo. “Vemos adolescentes rebeldes, falta limite dos pais. O resultado são falta escolar. Tem mãe que nos procuram para dizer que os filhos não obedecem, e querem largá-los aqui. Explicamos para a mãe que o principal abrigo é a família”, comenta Marcelo.

7 Para garantir a integridade da criança, é importante que os pais cumpram com seus deveres. “Representante legal são os pais e responsáveis, são eles que devem procurar o respaldo. O conselho só atua na falta dos pais, e para garantir a proteção do direito da criança e do adolescente”, sublinha Elisângela. Muitas vezes o órgão fica no meio de um cabo de guerra. “Com o conflito familiar querem que o conselho esteja na guerrinha de guarda. Nos procuram e ficam em conflito na nossa frente, e não podemos atender outros casos”, ressalta Rosimere. Para Ana Paula a sociedade precisa se inteirar de como buscar atendimento. “Os pais precisam zelar pelo bem do filho. Primeiro ele deve procurar o órgão escolar ou hospitalar primeiro. Depois disso, não conseguir escola ou atendimento médico, ai sim deve procurar o conselho, para nós requisitarmos solução”, explica. Ela completa que o Eca é um documento de direitos e deveres. “Os pais precisam dar os direitos, mas lembrar de que os adolescentes também têm deveres. O direito acompanha o dever. Nós estamos aqui para aconselhar, e os pais precisam saber lidar com as dificuldades”, conclui.

• Requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou de adolescente quando necessário; • Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; • Representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no artigo 220, §3.º, Inciso II, da Constituição Federal; • Representar ao Ministério Público, para efeito de ações de perda ou suspensão do poder familiar; • Fiscalizar as Entidades de Atendimento (ECA, 1990). Importante esclarecer ao morador da Maré que não é atribuição do Conselho Tutelar fazer busca e apreensão de crianças e/ou adolescentes, expedir autorização para viagens ou desfiles, determinar a guarda legal da criança. O(a) conselheiro(a) somente aplicará medidas necessárias à proteção dos direitos da criança e/ou adolescente após a análise das situações específicas. Em caso de necessidade o(a) conselheiro(a) aplicará medidas, que serão executadas pelo poder público, pela família e sociedade. Tenho expectativa de que os(as) membros(as) do Conselho Tutelar 5 (Ramos e adjacências) estejam abertos (as) ao diálogo com os pais/ responsáveis legais das crianças e adolescentes do bairro Maré. Para isso desejo que essa nova equipe de conselheiros(as), recém eleita, seja formada por pessoas comunicativas, acolhedoras e com capacidade para mediar conflitos e articular com as potentes redes sociais de proteção da região.


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LUTA HISTÓRICA

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Maioria das ruas da Maré é integrada ao mapa da cidade A rua é o primeiro espaço de convivência pública do cidadão, onde nasce em cada um de nós o sentido de pertencimento a um lugar. No bairro da Maré, milhares de moradores, com muito empenho e luta, conquistaram a integração da maioria de suas ruas ao mapa da cidade do Rio de Janeiro

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epois de décadas de espera, mais de quinhentas ruas das 16 comunidades que compõem o território do Complexo da Maré estão finalmente sendo reconhecidas oficialmente pela Prefeitura. Cinco decretos assinados pelo prefeito Eduardo Paes oficializaram nomes de ruas, travessas e becos de Baixa do Sapateiro, Nova Maré, Praia de Ramos, Nova Holanda e Parque União. Segundo relatório do Instituto Pereira Passos, o IPP – órgão da Prefeitura que tem como missão gerir informação e conhecimento sobre o município do Rio de Janeiro para subsidiar o planejamento de políticas públicas e intervenções urbanas –, ao todo, são reconhecidos 505 logradouros de um total de 816 existentes na Maré. Para especialistas, um fato histórico na cidade. Para os moradores da Maré, um momento inédito de reconhecimento do território e da identidade local. Em muitos casos, as vias foram batizadas com os nomes de pessoas já mortas que, de alguma forma,

estão ligadas à história da região. Enfim, a favela da Maré e sua população entram no mapa oficial da cidade e ainda garantem o Código de Endereçamento Postal (CEP) de suas moradias. Por incrível que possa parecer, muitas comunidades populares semelhantes ainda não estão nessa condição. “Nunca houve um reconhecimento tão grande de logradouros ao mesmo tempo. É histórico e se deve muito à participação comunitária em todo o processo”, afirma Luis Valverde Salandía, da Coordenadoria de Articulação Institucional do IPP, que acompanhou passo a passo o processo, fruto de uma parceria da Redes da Maré e do Observatório de Favelas com o IPP e a Secretaria Municipal de Urbanismo. Esse momento, que marca uma nova fase de visibilidade urbana para todo o território da Maré e também para seus moradores, está diretamente ligado a uma série de lutas de caráter estruturante, iniciadas há cerca de três décadas na região. Até os anos de 1980, muitos logradouros da Maré não tinham nome, sendo conhecidos apenas

por números e letras. Em 1985, de forma inédita, a Associação de Moradores de Nova Holanda liderou uma grande campanha envolvendo moradores para que cada rua ganhasse seu nome, levando em conta a identidade local. “Fizemos reuniões em cada rua para trocar as letras e números por nomes que tivessem a ver com a história do lugar. Escolhemos nomes de pessoas importantes como do eletricista ou do fotógrafo que tinham deixado marcas na comunidade”, lembra a diretora da Redes da Maré, Eliana Sousa Silva, na época presidente da Associação de Moradores. “Aquela experiência foi importante para mostrar que era fundamental trabalhar as identidades locais, confirmando que os moradores estavam no começo do processo de conquista de seus direitos como cidadãos”. Mesmo sem serem reconhecidas pelo poder público, as ruas da Nova Holanda passaram a ter nomes de pessoas a partir de 1985 e a serem conhecidas por seus moradores como tal. Em 1994, a Maré foi declarada como um

bairro, mas nem assim seus logradouros entraram no mapa da cidade. O começo desse reconhecimento viria apenas vinte anos depois com o Censo Maré, outra iniciativa da Redes da Maré em parceria com o Observatório das Favelas, para produzir conhecimento sobre esse território e sua população. Antes mesmo de coletar dados demográficos sobre os moradores e a região, o projeto mapeou os logradouros das 15 comunidades da Maré e, também, de Marcílio Dias – historicamente pertencente ao Conjunto de Favelas da Maré, mas que não foi incluído na delimitação do bairro – estudando e identificando os limites entre cada uma delas.

Censo Maré 2012 Um acordo com o IPP permitiu que a equipe do projeto usasse a base digital do órgão. Com imagens digitalizadas em mãos, o grupo composto por graduados, técnicos e estudantes de áreas como geografia, topografia e geoprocessamento saiu para o trabalho de campo. Em áreas densas e


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FOTOS: ELISÂNGELA LEITE

Em sentido horário: Presidentes das Associações Moradores se reúnem com o prefeito Eduardo Paes; equipe do Censo Maré 2012 passa pelas ruas da comunidade informando os moradores; Laura Taves e assistente durante a construção de placas com nomes das ruas da Nova Holanda

de ocupação assimétrica, como as favelas, as imagens digitais, muitas vezes, não são tão esclarecedoras. Para eliminar quaisquer dúvidas, a equipe conferiu cada uma das mais de 800 vias existentes nas 16 favelas da Maré. Um trabalho que produziu o primeiro guia de ruas da Maré, em 2012, uma publicação distribuída gratuitamente. “O primeiro guia foi um retrato de como estava a Maré naquele momento, reproduzindo inclusive as ruas com seus nomes e letras. Foi importante para verificar os limites de cada região. Uma rua como a Tatajuba, uma das mais emblemáticas da Maré, aparecia no mapa oficial muito longe da sua localização de fato. Existiam, portanto, várias informações que precisavam ser corrigidas ou adicionadas. Depois de pronto, o guia passou a ser usado pelo carteiro, pelos agentes de saúde, pelo conselho tutelar, por assistentes sociais e outros agentes públicos, para se acharem na região”, diz Eliana Sousa Silva.

Nunca houve um reconhecimento tão grande de logradouros ao mesmo tempo. É histórico e se deve muito à participação comunitária em todo o processo” LUIS VALVERDE SALANDÍA, da coordenadoria de articulação institucional do ipp

Dando prosseguimento ao processo na Maré, entre 2012 e 2013, já dentro do projeto “Maré que queremos”, foram realizadas reuniões nas comunidades para que os próprios moradores escolhessem os nomes das ruas e, em alguns casos, discutissem os limites territoriais das comunidades. O trabalho resultou no Guia de Ruas da Maré 2014 – com tiragem de mil exemplares e distribuição gratuita – apresentando informações revistas e atualizadas, que incluíram os novos nomes das vias, além de um histórico de cada comunidade. Deu tão certo que a iniciativa ganhou, junto com o

Censo Maré, o prêmio de Menção Honrosa no Deustche Bank Urban Age Awards 2013 e ainda foi vencedora do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social de 2015, na categoria Tecnologias Sociais para o Meio Urbano. Apesar dos ganhos evidentes, contudo, ainda faltava o reconhecimento público dos nomes das ruas. O IPP entrou mais uma vez em cena e, com apoio da Secretaria Municipal de Urbanismo, liderou, ao lado da Redes da Maré, um processo rápido de confirmação dos nomes das vias, que envolveu a população das diferentes comunidades da Maré e teve a

intermediação fundamental das associações de moradores. A parceria permitiu o reconhecimento da realidade local, através do máximo aproveitamento dos nomes já identificados no Guia de Ruas. São muitas homenagens a personagens fundamentais da história da Maré, como Milton Jesus Militão, que foi diretor da Associação de Moradores de Nova Holanda, e Francisco José Jorge, que presidiu a escola de samba local. “Muitas pessoas tomaram um certo impacto com a mudança dos nomes de ruas que, lá atrás, antes do Censo Maré, ainda eram conhecidas por letras e números. Os próximos meses ainda serão de adaptação para quem mora nelas, mas logo que as cartas começarem a chegar sem problemas, todos vão gostar. Hoje, muitas vezes, as cartas vão parar em Bonsucesso, do outro lado da Avenida Brasil,”avalia de Leandro Sales, diretor da Associação de Moradores de Nova Holanda. Muito embora o Conjunto Esperança já tivesse suas seis ruas reconhecidas e até mesmo CEP para cada uma, Pedro Francisco, presidente da associação de moradores daquela comunidade, vê o reconhecimento das mais de 500 ruas como um ganho para a população da Maré como um todo, além da demonstração de força política do projeto “Maré que queremos”. “Esse reconhecimento é fruto de uma luta antiga, que começou há mais de seis anos, quando os presidentes das associações passaram a se reunir regularmente. É o resgate de cidadania porque finalmente vamos ter os mesmos direitos de quem mora em outros lugares da cidade, como CEP e comprovante de residência, completa Pedro.


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MEIO AMBIENTE

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A última parada Nessa nossa viagem pelas águas da Baía de Guanabara, paramos nos píeres de Marcílio Dias, Praia de Ramos, Parque União e Vila do Pinheiro. Saímos um pouco da Maré para visitar os nossos vizinhos, nas margens da Vila Residencial, na Ilha do Fundão FOTOS: ELISÂNGELA LEITE

HÉLIO EUCLIDES

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o desembarcar percebemos o único píer feito pelo governo do estado, já que Parque União e Vila do Pinheiro ficaram “a ver navios”, apesar da promessa. Marcílio Dias também está com o seu destruído. Na Vila Residencial chama atenção dois píeres pequenos de ambos os lados do principal. É que o espaço foi dividido. O principal é administrado pela Associação de Pescadores Livres da Ilha do Fundão (Apalif), fundada em 2008. Um dos píeres secundários é liderado pelo filho do mais antigo pescador do Fundão. Carlos Francisco de Mendonça, o Mongol, é filho de Milton Francisco de Mendonça, o popular Seu Carioca, que faleceu há 27 anos. “Meu pai também era funcionário público e pescava como complemento, contra o arrocho. Desde que me sinto gente sou pescador, meu pai me chamava para essa missão”, conta Milton. O apelido, ele diz ter ganhado quando era do setor de transporte da UFRJ, por se tornar careca igual ao personagem do “telequete” que tinha esse nome.

Píeres em condições precárias na Ilha do Fundão

Tempo que não volta mais Seu trabalho começou na Praia do Catalão, situada perto da Vila, com o amigo Roberto Lopes Vianna, o Beto, que nos conta um pouco sobre a história local. Segundo ele, as casas da Vila Residencial eram habitadas por extrabalhadores da Ponte Rio-Niterói, inclusive o prefeito Élcio Gonçalves, da Cidade Universitária. Dez anos depois, as casas passaram para

funcionários da UFRJ. Isso há 40 anos. “Na época eram poucos moradores por rua, aqui era palafita e encontrávamos cobras, rãs e caranguejos. Depois foi aterrado, mas até hoje não foi o suficiente”, relata Beto. Como esse pedaço da Ilha do Fundão é baixo, os alagamentos são comuns, em especial na Rua Camélia. No passado a ilha era inacessível de carro. Para fazer compras era preciso ir de barco

até o Caju e depois regressar. Alguns avanços chegaram, mas com eles veio a poluição. “Hoje a rede traz mais lixo do que peixe. No Catalão até urso de pelúcia já veio na rede e nada de peixe. Agora se fala em gramas, antes eram enchovas que chegavam ao lance de 100 quilos no barco. Atualmente só corvina e tem que ir bem cedo, na madrugada”, conta o também pescador Carlos Eduardo Pereira.


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Mongol já carregou muitas vezes o barco cheio de peixe. “Lembro de uma vez que estava sozinho, com a embarcação cheia de mexilhão e o vento mudou. Veio a ressaca e fiquei dois dedos para afundar, e com água no barco, mas superei o sufoco”, narra.

Profissão ameaçada Mongol teme pelo fim da profissão: “A tendência para os pescadores é diminuir, pois não dá mais para viver só de pesca. O pescador corre atrás para pagar as contas e fica com o arroz e o feijão. Ele se aposenta e precisa de ajuda dos outros. A carreira de pescador é ingrata, tem vezes que vai para o mar e volta sem nada. Para viver só do peixe tem que ir para o alto mar todo dia. Ser pescador é um futuro incerto”, desabafa. Para ele, navegar nas águas da Baía de Guanabara se tornou um negócio caro. “Quebra muito o barco, estraga o motor, o lixo fixa hélice, tem que parar e limpar. A rede prende o lixo e o pescador tem que tirar a camisa e cair no mar frio para soltar. É triste ver tartaruga morta por causa de plástico e pneu”, conta. Mongol diz que apesar de “desestressar”, o mar virou local de obstáculos, com sofá, colchão e monitor de computador pelo caminho. Beto acha que todos são culpados, já que o sofá jogado nos valões vem parar no Canal do Fundão. “Se hoje tivéssemos a fartura de peixe que tínhamos no passado, conseguiríamos R$ 5 mil por viagem”, calcula

Mongol, que reclama dos gastos com o óleo do barco, manutenção e rede. “Não existe lucro, se cobrarmos R$ 7,00 no quilo do peixe se torna um escândalo”, conclui.

Preservar é a solução Beto participa de um projeto de proteção do manguezal da Vila Residencial. Eles fazem parte da ONG Caramangue, que faz a limpeza do espaço, compostagem, cultiva mudas e cuida de um viveiro de peixinhos, com a função de acabar com as larvas do mosquito da dengue. As mudas de plantas estão se espalhando pela comunidade, em especial em áreas sedentárias. “Esse é o mais antigo mangue da Cidade Universitária, temos que preservá-lo. Agora também vamos trabalhar a sustentabilidade; um exemplo é o uso de tampa de computadores para fazer as placas de sinalização do ambiente”, finaliza.

Quebra muito o barco, estraga o motor, o lixo fixa hélice, tem que parar e limpar. A rede prende o lixo e o pescador tem que tirar a camisa e cair no mar frio para soltar. É triste ver tartaruga morta por causa de plástico e pneu” CARLOS FRANCISCO DE MENDONÇA, o mongol

Em sentido horário: Lixo em ambiente de pescadores; trabalho ambiental em defesa da baía; Carlos Eduardo, Beto e Mongol: resistência da pesca na baía


SAÚDE

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FOTOS: ELISÂNGELA LEITE

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Adolescentes incentivam a prevenção da doença e o fim do aedes aegypti

DENGUE HÉLIO EUCLIDES

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om o grande número de casos de Dengue no Brasil, a prevenção é algo primordial para eliminação do mosquito transmissor. Na Maré, uma iniciativa que vem combatendo a proliferação do aedes aegypti, ao longo do ano, é o projeto “Xô Dengue”. O projeto consiste em conversar com moradores sobre a eliminação de criadores e direcionar, ao posto mais próximo, as pessoas com sintomas da doença. O grupo já visitou mais de 2.000 domicílios na Maré. Como pioneiro na luta contra a dengue, o cantor Bhega ver com bons olhos essa ação da Redes da Maré. “Quando comecei em 2003 riam quando falava que o mosquito

mata. Esse projeto é uma força imensa, um jovem falando para outro jovem, isso é superimportante e tem que ter continuidade o ano todo”, conta. O projeto começou em agosto de 2013, numa construção coletiva, do Instituto de Microbiologia da UFRJ e a Redes da Maré. “No início o pensamento era coletar o mosquito, só que ficamos com medo de contrair a doença. Dessa forma, partimos para o educacional, a conscientização da população”, conta Fábio Barglini, o co-orientador cientifico. A equipe do “Xô Dengue” é formado por uma coordenadora, um co-orientador, uma técnica de campo uma captadora de recursos, dois doutores da UFRJ e 30 alunos. “Esses alunos se tornaram guardiões, que sensibilizam os moradores sobre

A equipe do projeto Xô Dengue após formação

a importância da prevenção”, comenta a técnica de campo, Joelma de Souza. Os alunos fizeram um treinamento na UFRJ sobre o ciclo de vida do mosquito, e o modo de transmissão da doença. Antes de ir a campo ainda tiveram noções de prática e diálogo. “Andando pelas ruas da Maré e já achamos focos na caixa de registro, em máquina de lavar desativada, em carro abandonado, e até no ferro de barraca, lugares que a cartilha do governo não menciona”, detalha Fábio. Para ele, os adolescentes do projeto conseguiram a desinibição e maior comunicação, após estudar e intervir na Maré, em prol da melhoria “Os alunos criaram vínculos com a realidade local, na busca da melhor qualidade de vida. Isso traz uma satisfação, ao perceber o trabalho da ciência junto com o social”, conclui.


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MÚSICA

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Grupo Nova Raiz do Samba comemora 10 anos com DVD HÉLIO EUCLIDES

DIVULGAÇÃO

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uem não gosta de samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”. Esses versos do Samba da Minha Terra, de Dorival Caymmi, se encaixam perfeitamente na trajetória de um grupo de amigos. Há 10 primaveras eles se uniram para fazer uma roda de samba e não sabiam que estavam inaugurando uma trajetória profissional. O grupo Nova Raiz do Samba chega a essa idade fazendo o que gosta e levando alegria a moradores da Maré. A comemoração das Bodas de Zinco vai acontecer neste mês de julho, com a gravação de um DVD ao vivo. “Vínhamos de outras experiências de samba, depois ocorreu um intervalo. Um dia toquei numa festa e pintou uma roda de samba tradicional. Assim tomou a proporção de 10 anos, tocando no Bar do Rodrigo, e lotando a Rua Sargento Silva Nunes. Percebemos que precisávamos de profissionalismo. O ressurgimento é difícil, mas é agradável, e todos abraçaram a ideia”, lembra o integrante do grupo, Alexandre de Mello Gonçalves, o Dão. Esse início o dono do bar, Rodrigo Pereira, não esquece. “No começo não tinha nem nome, e sentamos para escolher. Eles são bons, desejo boa sorte”, manda recado. Os componentes do Nova Raiz do Samba não gostam de polêmicas, mas afirmam tocar um ritmo tradicional. “O músico de raiz é caprichoso, faz algo

Esperamos que surjam novas gerações, e que a gente sirva de exemplo e inspiração. Temos felicidade de transmitir alguma coisa, isso é arte” ALEXANDRE DE MELLO GONÇALVES, músico bem feito, com sentimento e de qualidade. Todo o bairro tem sua roda de samba com essa essência. Já o pagode não é um gênero musical, o nome significa uma reunião de amigos. Todos os sambas reúnem um surdo e um pandeiro. O que surgiu foi um incremento, com um tempero da vovó, tem que respeitar cada um. O importante é tratar o samba com carinho, como ele merece”, salienta Alexandre. Nas horas vagas Alexandre é comerciante, trabalha com açaí. Contudo, espera um dia viver

da música. “Pensamos que o nosso grupo é como uma casa, precisa ter um alicerce para não cair. Não queremos só ganhar dinheiro. O samba já foi lazer, hoje se tornou profissão, o bom é que gostamos do que fazemos, e levamos a sério. Nos divertimos, esperamos explodir para viver mostrando o nosso trabalho”, destaca. O grupo é formado por Dão, Beto Silva, Marcelo Magrão, Cláudio Brito, Negro Dan e Luiz Henrique. No momento o Nova Raiz do Samba já pensa no futuro. “Cria-

mos o grupo com orgulho, e fazemos samba na palma da mão, para todas as gerações. O que eu prezo é influenciar a vida de alguém. Esperamos que surjam novas gerações, e que a gente sirva de exemplo e inspiração. Temos felicidade de transmitir alguma coisa, isso é arte”, enfatizou Alexandre. Como todo artista existem seguidores, e emitem uma energia aos músicos. “Elas não são fãs, nos acompanham, fazem parte do grupo. São um coral, a voz feminina no samba é alta, sobressai. Reverenciamos elas, pois são do tempo do Mataram Meu Gato”, destaca Alexandre. O grupo se denomina moradores do subúrbio, com raiz na comunidade. Os ensaios para o DVD vem acontecendo já algum tempo e o grupo vive a expectativa do momento da gravação na quadra do Gato de Bonsucesso, na Nova Holanda. A promessa é de música agradável, para todos os presentes, um ambiente familiar. Eles acreditam que seja a primeira festa nessa proporção na Maré. Esse será o primeiro Cd e Dvd do grupo, intitulado Samba de Favela. Para o dia da gravação do Dvd, é esperado nomes conhecidos do samba, no Rio de Janeiro, entre eles: Martinho Diniz, Luis Grande, Barbeirinho do Jacarezinho, Marcelinho Moreira, Renato da Rocinha, André Café, João Martins e Pretinho da Serrinha. Para informações de como participar dessa festa o telefone é 96454-7387.


DICAS CULTURAIS

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ANDRÉ GOMES DE MELO

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EVENTOS DE JULHO 21/07 (QUINTA-FEIRA) • Exibição do filme Favela Gay e debate com o Curso Pré-Vestibular (CPV) 23/07 (SÁBADO) • Sábado em família, oficinas de teatro, serigrafia e yoga • Espetáculo de Teatro Infantil, das 10h às 14h. 26/07 (TERÇA-FEIRA) • Seminário do Núcleo de Memória e Identidade da Maré (NUMIM) • Dia da mulher negra latinoamericana e afro-caribenha) • Aulão de Dança Afro e exibição do filme Kbela, debate e música. Das 18h às 21h.

OFICINAS PERMANENTES CONSCIÊNCIA CORPORAL professor: Bruno Damiã público: para adultos horário: segundas-feiras, 9h às 10h30 NÚCLEO DE FORMAÇÃO LR CIA DE DANÇAS horário: 14h30 às 17h30 INTRODUÇÃO AO BALLET professora: Sylvia Barreto público: de 8 a 14 anos horário: segundas-feiras, 17h30 às 18h30 DANÇA URBANA INICIANTE professor: Renato Cruz público: a partir de 08 anos horário: segundas-feiras, 18h30 às 19h30

BALLET INTERMEDIÁRIO professora: Sylvia Barreto, público: a partir de 16 anos horário: terças e quintas-feiras, 14h30 às 16h DANÇA CONTEMPORÂNEA INTERMEDIÁRIO professora: Marise Reis público: a partir de 16 anos horário: terças e quintas-feiras, 16h às 17h30 INTRODUÇÃO À DANÇA AFRO professor:Gabriel Lima, público: a partir de 16 anos horário: terças-feiras, 17h30 às 19h INTRODUÇÃO AO BALLET professora: Sylvia Barreto público: a partir de 14 anos horário: quartas-feiras, 17h30 às 18h30 YOGA professora: Ana

Olivia público: para adultos horário: sextas-feiras, 9h às 10h30 DANÇA DE SALÃO professor: Roberto Queiroz. público: a partir dos 16 anos. horário: sextas-feiras, 17h30 às 18h30

Biblioteca Parque de Manguinhos: convite à leitura

Cultura e lazer em Manguinhos Próximo à Maré, a Biblioteca Parque de Manguinhos oferece espaço de leitura, estudo, teatro, cinema e outras atividades culturais e de lazer para adultos e crianças. O local, mantido pelo Governo do Estado, funciona como um Centro Cultural, com projetos que incentivam a troca de conhecimento e de experiências entre seus frequentadores. A programação inclui oficinas, exposições, experimentações e outras atividades, como o baile de dança de salão. A entrada é gratuita. No mesmo local ainda funciona o Cine Manguinhos que mantém programação a preços polulares.

TEATRO EM COMUNIDADES público: acima de 13 anos horário: sábados, 10h às 12h30 O CENTRO DE ARTES DA MARÉ FUNCIONA NA RUA BITTENCOURT SAMPAIO, Nº 181, NOVA HOLANDA, MARÉ TELEFONE: (21) 31057265 /centrodeartesdamare

ENDEREÇO: Av. Dom Hélder Câmara nº 1184 (atrás do Colégio Estadual Luiz Carlos da Vila) HORÁRIO: de terça a sábado, das 10:30h às 18:30h, inclusive feriados TELEFONES: (21) 2334-8915/16/17 e 3895-0844/74/93 /Biblioteca Parque de Manguinhos


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POR DENTRO DA MARÉ

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Enquanto aguarda reforma, contêiner alivia a situação da UPA da Maré

UPA da Maré em reforma A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Maré, localizada na Vila do João, corria o risco de fechar as portas, precisava de reforma. O piso começava a afundar, e, para piorar, o governo estadual não tinha recursos para as melhorias. O Presidente da Associação de Moradores da Vila do João, Marquinho Gargalo, fez uma parceria com a iniciativa privada, o que viabilizou a reforma. A UPA já tem nova aparência, com a troca de assoalho em

algumas partes, ampliação das salas vermelha, refeitório, dormitório e escritório. Para que o atendimento não seja interrompido, foi instalado provisoriamente um container de campanha. “Iria fechar, então fizemos uma parceria com a diretoria da empresa de container NHJ do Brasil. A empresa vai reformar e manter, sem nenhum custo para o Estado, tudo no 0800. Essa unidade é muito importante, pois foi a primeira do Brasil”, destaca Marquinho Gargalo.

O Centro Comunitário da Defesa da Cidadania (CCDC) foi criado nos anos de 1990 e, de lá para cá, o projeto foi perdendo suas funções, com a redução dos serviços oferecidos. Esse ano o objetivo é retomar as atividades perdidas, entre elas as do Detran, como a emissão de habilitação e identificação civil. “Esperamos que o CCDC volte a ter a mesma essência do passado. Estou aqui para somar e buscar parcerias. Desejo trazer serviços da Agência Estadual de Fomento- Agerio, Sebrae, e Sine para cá, com banco de emprego, seguro desemprego e a possibilidade de tirar a carteira de trabalho aqui”, colocou o assessor chefe do CCDC Maré, Waldir Francisco da Costa. O CCDC tem a função de suprir a necessidade da população. “O objetivo é ajudar aos moradores que quando precisam do cartório tem que desembolsar mais de R$ 100,00”, acentuou Waldir. Além do Detran, o CCDC

ELISÂNGELA LEITE

ELISÂNGELA LEITE

CCDC com identidade e habilitação

Atendimento no CCDC

oferece isenção para segunda via de certidão de nascimento, de casamento, óbito, para averbação em certidões, registro tardio para menores de 12 anos, para celebração de casamento e declaração de hipossuficiência. Na atividade de curso há o Caminho Melhor Jovem e Arte Música da UFRJ. Waldir grifou que todos os funcionários do Detran são moradores da Maré, que fizeram a capacitação antes de atuar. ELISÂNGELA LEITE

Passarela 12 pede socorro A Passarela 12, situada na Avenida Brasil, na altura da Praia de Ramos, se encontra em estado precário, com necessidade de reforma. Moradores reclamam de piso com falhas, buraco na junta, degrau improvisado e telas soltas. Enquanto acompanhávamos os pedestres, uma senhora teve a sua blusa presa na tela, o que poderia causar um acidente. Para evitar imprevistos, pedestres usam a travessia com muita cautela. “Precisamos da passa-

rela, e a reforma seria bom. Além disso, ainda temos receio de derrubá-la, como fizeram com a seis, oito e dez, para a construção da Transbrasil, e colocaram no lugar travessias metálicas”, conta o morador da Praia de Ramos, João Paizinho. A Secretaria Municipal de Obras, através da Coordenadoria Geral de Projetos informou que uma equipe de técnicos fará vistoria na estrutura para levantamento dos serviços necessários.

Perigo iminente na travessia da passarela 12, na Av. Brasil


ESPAÇO ABERTO

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ENVIE SUA PO ESIA , FOTO, R ECEITA OU PIA DA. ESS E ESPAÇO É S E U com !

POESIA

unicaçã

o@rede sdamare

Capanema por:

.org

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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br Nadador brasileiro que (?) de é o maior medalhista estudos: é dos Jogos Pan-Ame- distribuída ricanos pelo CNPq Sistema colaborativo de empréstimo de livros

© Revistas COQUETEL

Aperitivo de bares muito apreciado nas estações frias, é servido com torresmo Piche, em Município gaúcho, conhecido pelos passeios na Maria-fumaça inglês

Instrumento análogo ao violão Tomba

Maria das Graças Silva

O meu lugar Fica lá na Maré e de manhã Ainda tem baile funk e tantã Uma mandinga, nem dá para falar O meu lugar Tem magia e muito suor Vive a esperança de um mundo melhor Tem clareza de quem quer formar O meu lugar Tem um jeito de ser que seduz Fica bem perto da Fiocruz Bonsucesso e a Baixa pra lá

O meu lugar Tem feitiço e quer paz, dá pra ver O seu nome é tão fácil dizer Capanemaaaaaa!(4x) É um corre corre pra lá e pra cá Capanemaaaaaa!(4x) Uma escola com cara de lar Capanemaaaaaa! (4x)

Tinta de sepulcros Ato, em inglês Barco de transporte fluvial de passageiros

Cidade colombiana

Formato do alargador de orelha Cobra que obedece o flautista encantador

Esquentar

Átomo positivo Carro de aluguel Cinza, em inglês Reclama (pop.) 1.200, em romanos Únicos; singulares

Restos (?): são guardados em urnas

Prática de pilotos de Fórmula 1

Registro de roubo na delegacia (sigla) À frente, em inglês Cobertas de gordura

O caderno pouco frequente em jornais

Apelido da capital gaúcha

Na versão original, o samba “O meu lugar”, de Arlindo Cruz e Mauro Diniz, canta o bairro de Madureira.

Cobalto (símbolo) Antigo altar hebreu

Bebida de maçã do réveillon Prometo

Edgar Allan (?), poeta de "O Corvo"

Fusão de peças metálicas

Árvores frondosas de madeira valorizada

(?) Hermanos, banda de rock alternativo

Relativo a carneiros e ovelhas

CRIATIVIDADE

Arnaldo Jabor, jornalista e diretor

Sabor do dropes azul

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Solução

M

A

T M N C

B A N D O L I M

C O C A C A L R D A L I R O N A S H B O E A D V R E B F P O E S S I A J S Ã I C O

BANCO

Fora de (?): desvairado

T R A R A C E T S C C A H L I D A A R O V N I S ON

Gostaria de compartilhar o trabalho realizado por uma professora no CIEP Operário Vicente Mariano. A disciplina de língua portuguesa, no 2° bimestre, tem a proposta de trabalhar o gênero textual notícia, sua estrutura e características. A culminância do projeto era a produção de uma capa de jornal. As turmas capricharam nessa produção, a criatividade estava à flor da pele. Parabéns, alunos queridos!!!! Professora Fabiana Martins.

Nicholas Sparks, escritor de best-seller

O L E O S A S

Viviane Couto

Pedido de socorro Matéria (abrev.)

B T R O C H A L A I S I A J A G U E O R T A P O A E X U R E I N O E S S I PE S R C E L O A I S A MA U L T RA

por:

Padre cantor de "Noites Traiçoeiras" Associação que luta pela inclusão do Peeling (?), autista (sigla) procedimento estético pouco agressivo à pele

3/act — ama — ara — ash — tar. 4/naja. 5/ahead. 7/chalana. 10/troca-troca.

Jornal


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