Maré de Notícias #90

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ANO VIII. JULHO DE 2018. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO. ELISÂNGELA LEITE

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O BRT enguiçou na Avenida Brasil Obra orçada em 1,4 bilhão de reais e criticada por especialistas está parada PÁGINAS 8 E 9

DOUGLAS LOPES

O Brasil vai às urnas em outubro

Um artista popular Ele poderia estar numa galeria de arte e, certamente, um dia vai chegar lá, mas Wallace Pato gosta mesmo é de pintar muros em Ramos, Olaria, Bonsucesso, Penha e Complexo do Alemão. Na maioria das vezes, figuras nordestinas que, segundo ele, trazem nas expressões faciais exemplos de luta, persistência e dignidade. PÁGINAS 10 E 11

PÁGINAS 4 E 5

Maré: acessibilidade para quem? Fique por dentro da sua Associação de Moradores PÁGINA 16

Os perigos da obesidade No Brasil, o sobrepeso em adultos passou de 51,1% em 2010, para 54,1% em 2014. Os números também aumentaram, na Avaliação Nacional da Obesidade: em 2010, 17,8% das pessoas eram obesas; em 2014, o índice chegou aos 20%. PÁGINAS 6 E 7

DOUGLAS LOPES

PÁGINA 13


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EDIÇÃO 90 | JULHO 2018

EDITORIAL

HUMOR - TRANSPORTE PÚBLICO

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lá, moradora! Olá, morador! Estamos chegando à nossa Edição de nº 90 do Maré de Notícias. O BRT Transbrasil foi apresentado como a solução capaz de tornar mais fácil a vida de quem enfrenta o trânsito na Avenida Brasil todos os dias para chegar ao Centro da cidade. Mas as obras já foram interrompidas várias vezes e, no momento, estão paradas. Não fosse isso suficiente, os especialistas consideram que o projeto foi mal-formulado e que “a Transbrasil liga nada a lugar nenhum”. A obesidade é um problema mundial. E o número de pessoas acima do peso, em todos os continentes, preocupa a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, o sobrepeso afeta 54% da população. Cerca de 20% dos homens e 24% das mulheres estão obesos. E um dos fatores é a má alimentação. Ou seja, a pessoa engorda, mas está desnutrida. Os vilões são os alimentos industrializados e ultraprocessados, ricos em gorduras e pobres em nutrientes. Alimentação saudável e prática de exercícios ajudam a manter a forma. Em outubro tem Eleições no Brasil. O País vive um momento político conturbado e o voto é uma das formas de a população se posicionar diante do que está acontecendo. Vamos eleger o Presidente da República, os governadores dos Estados e do Distrito Federal, senadores, deputados federais e deputados estaduais. Você sabe quais são as atribuições de cada cargo? O que podem e não podem decidir? Quanto ganham? A vida não é nada fácil para quem tem alguma deficiência física. As cidades, com raras exceções, não estão preparadas para garantir a esses cidadãos o direito de ir e vir. Na Maré não é diferente: ruas esburacadas, calçadas altas e sem partes rebaixadas, ausência de guias para deficientes visuais nas ruas, falta de rampas e todos os tipos de obstáculos impedem que essas pessoas possam trabalhar, estudar, se divertir. Existe algo mais desagradável do que pisar nas fezes de um cachorro, numa via pública? Infelizmente, na Maré, a maioria dos proprietários de cães e gatos não fazem o que é certo, que é recolher e colocar em local apropriado, nas lixeiras. O problema se agrava com o grande número de animais abandonados. As Associações de Moradores fazem apelos, mas nem sempre são atendidas. Está aí um problema que não precisa do poder público para ser resolvido: ele pinta os muros, sempre com personagens nordestinos, mas não é grafiteiro, é um pintor e dos mais talentosos. Estamos falando de Wallace Pato, uma artista da periferia que você precisa conhecer. Guarde esse nome. No Bairro do Humaitá, até o início dos anos 1970, existia uma favela, chamada Macedo Sobrinho. Porém, a política de expulsão dos pobres da Zona Sul e a especulação imobiliária acabaram por expulsar os moradores do local. Alguns vieram para a Maré. Você vai conhecer as histórias de mulheres batalhadoras que tiveram de recomeçar a vida do zero. E ainda nessa Edição, informações sobre o trabalho das Associações de Moradores das 16 favelas da Maré, e as Dicas Culturais, para que quem quer se divertir perto de casa.

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EU, LEITOR Seremos muitas Marielles Era noite de 14 de março de 2018. Quando recebi a infeliz notícia, através do celular “Vereadora Marielle Franco morta a tiros” Eu lia e relia, mas não queria acreditar

ENVIE SUA PO ESIA FOTO, R ECEITA , OU PIA Abri a geladeira e a cerveja. Parei, sentei e ali DA. ESS permaneci E ESPAÇO Tentando pensar: Alguém vai desmentir É SEU! Me obriguei a ir dormir pra tentar absorver, comunicaçã esquecer, procurar outra faceta Sonhei com Djamila Ribeiro, outra mina preta Acordei confusa, afinal, quem morreu? Foi Djamila, Marielle ou fui eu?

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COMPORTAMENTO

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Putz, pisei.... Um cão passou por aqui

Cuidado com as armadilhas nas ruas e calçadas da Maré HÉLIO EUCLIDES

vel, as fezes dos animais podem transmitir doenças. “É preciso se conscientizar de que não é certo deixar as fezes nas ruas, pois contaminam os seres humanos. Um dos parasitas eliminados nas fezes de cães e gatos é a larva migrans cutânea, também conhecida como “bicho geográfico”, que provoca irritação e muita coceira no local da lesão”, alerta. Um trabalho de formiguinha Alguns moradores da Maré já saem de casa com seus saquinhos, é o caso de Maria José Galdiano, que cuida de duas cachorrinhas, Ariel e Laila. “Acho nojento não cuidar das ruas. As pessoas passam e pisam nas fezes. Eu limpo, para não deixar nas portas das casas dos outros. Comecei esse hábito vendo pela televisão que os donos dos animais pegavam as fezes com um saco, e aderi a esse jeito. Acredito que só faço a minha parte”. Para alguns, a justificativa para que calçadas fiquem poluídas é o abandono. Eunice Cunha, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Pinheiro, faz o contrário, cuida de 20 gatos e quatro cachorros que foram encontrados nas ruas: “na maioria das vezes os animais são abandonados após serem maltratados. Aqui dou carinho, o que ajuda no comportamento

do animal, que até melhora das doenças. Alguns desses animais foram salvos, pois iriam morrer na rua”. Segundo a Organização Mundial da Saúde, existem mais de 30 milhões de animais abandonados no Brasil. Maria Catharine acredita que a sociedade precisa enxergar o animal como um amigo, pois “o abandono dos animais tem acontecido frequentemente; acho desumano pegar um animal para criar e depois soltá-lo na rua. Esse ato acaba trazendo risco não só para o animal, que pode contrair alguma doença ao comer lixos que contenham venenos. Mas há o risco também para nós, pois o animal, se tiver o vírus da raiva, pode passar para o ser humano”. Uma Secretaria para cuidar dos animais A SUBEM tem um abri-

go na Fazenda Modelo, com cerca de 900 animais entre cães, gatos e cavalos. No abrigo não há mais espaço para receber novos animais e, além disso, também não é considerado o lugar ideal para um animal passar a vida toda. Por isso, há campanhas de adoção, que acontecem semanalmente. Mais informações no site da Secretaria: http://www.rio. rj.gov.br/web/subem. A SUBEM realiza a castração de cães e gatos gratuitamente, em 10 postos. Para agendar a castração, o cidadão precisa acessar o site da Secretaria, cadastrar o animal e marcar a cirurgia. O agendamento tem início sempre no dia 1º de cada mês, a partir das 8 horas. Posto Bonsucesso: Avenida Brasil, nº 6475, esquina com a Rua Teixeira Ribeiro Passarela 9 – pista sentido Centro.

ELISÂNGELA LEITE

“O

s usuários dos parques, praças e logradouros públicos que frequentarem estes locais com animais de estimação são responsáveis pela limpeza, remoção e destino adequado das fezes geradas por seus animais”. Esse é o artigo 1º da Lei nº 4.893, de 10/09/2008. Mas quem anda pela Maré sabe que essa Lei não funciona por aqui, pois caminha como se estivesse numa pista de obstáculos, tendo de driblar os dejetos dos animais. A Subsecretaria de Bem-Estar Animal (SUBEM) orienta que os donos de animais providenciem a limpeza imediata e assumam sua responsabilidade. Pisar em cocô de cachorro é, sem dúvida alguma, extremamente desagradável. Mas segundo a crença popular, quando se pisa em fezes de um canino sem querer, é sinal de sorte, sinal de dinheiro. Valdecio Pereira, o Delcio, funcionário de um pet shop na Vila do João, discorda dessa superstição. “O pessoal sai para trabalhar arrumadinho, ou para levar a criança à escola, e pisa no cocô do cão do vizinho. Tem de ter conscientização e incentivar a cultura de sair com uma sacola para pegar as fezes, assim outros vão copiar e essa ação vai se espalhar”. Para Maria Catharine, estudante de Ciências Biológicas e moradora da Maré, além de desagradá-

Muita atenção para não pisar no cocô do cachorro, que é uma experiência muito desagradável


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ELEIÇÕES

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Em outubro tem Eleições no Brasil

Tudo muda em 2019: presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais

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Brasil vive um momento político conturbado, mas até agora, apesar de algumas previsões alarmistas, tudo indica que vamos às urnas em outubro. As Eleições serão realizadas em todo o País, para eleger o presidente e o vice-presidente da República, os governadores e seus vices, senadores, deputados federais e estaduais. O primeiro turno está marcado para o dia 7 de outubro. E o segundo, será no dia 28 do mesmo mês. Nas eleições majoritárias (presidente e governadores), quem conseguir maioria absoluta dos votos válidos (50% + 1) já no primeiro turno, é considerado eleito, não se realizando, assim, o segundo turno. Presidente O presidente da República eleito governará o País por quatro anos, começando no primeiro dia de 2019. O presidente exerce atribuições administrativas, executivas e militares, de acordo com a Constituição Federal. Cabe a ele nomear os ministros, os ministros do Supremo Tribunal Federal, dos tribunais superiores e o advogado-geral da União. O presidente é também o comandante supremo das Forças Armadas. O salário é de R$ 30.934,70 por mês.

Governadores Em outubro também serão eleitos 27 governadores com mandato de quatro anos. O governador é auxiliado pelos secretários de Estado, participa do processo legislativo e responde pela Segurança Pública. Para isso, conta com as Polícias Civil e Militar e com o Corpo de Bombeiros. O salário mensal do governador é de R$ 19.867,00 (média de todos os Estados). Senadores Cada um dos 26 Estados além do Distrito Federal elege três Senadores, totalizando 81. O mandato é de oito anos, porém existem eleições para o cargo de quatro em quatro anos, quando renovam-se as cadeiras por um e dois terços. Daí a razão de podermos votar em 1 ou 2 candidatos ao Senado. Os senadores têm a prerrogativa de fiscalizar os atos do Poder Executivo; processar e julgar, nos crimes de responsabilidade, o presidente e o vice-presidente, os ministros e os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; os ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o procurador-geral da República e o advogado-

AGÊNCIA BRASIL / ARQUIVO

JORGE MELO

O primeiro turno da Eleição está marcado para o dia 07 de outubro e segundo, no dia 28

-geral da União, além de aprovar ou rejeitar projetos de lei e afins. Salário bruto do cargo de senador: R$ 33.763,00 mensais. Deputados Federais Os deputados federais têm mandato de quatro anos e são os representantes do povo na esfera federal, assim como os senadores que igualmente representam a população. Sua atribuição é fazer leis de abrangência nacional e fiscalizar os atos do presidente da República. Eles também podem apresentar projetos de lei, emendas à Constituição, criar Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) e discutir e votar medidas provisórias editadas pelo Executivo. A Câmara dos Deputados compõe-se de 513 deputados, eleitos pelo

sistema proporcional em cada Estado e no Distrito Federal. Atualmente, cada unidade da Federação pode eleger de 8 a 70 deputados. O Estado que tem mais deputados é São Paulo, com 70, o limite máximo. Nove estados - Acre, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins e o Distrito Federal têm o número mínimo, oito. O Estado do Rio de Janeiro tem 46. O salário bruto de cada deputado é de R$ 33.763,00. Deputados Estaduais Os deputados estaduais e distritais (de Brasília) também têm mandato de quatro anos e representam o povo na esfera estadual (Assembleia Legislativa) ou distrital (Câmara Legislativa


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do Distrito Federal). Sua função principal é a de propor, emendar, alterar e revogar leis estaduais. Eles também fiscalizam as contas do Poder Executivo. O número de Deputados Estaduais corresponde ao triplo dos Deputados Federais e recebem o equivalente a R$ 25.300,00 por mês. O Brasil tem 1.059 Deputados Estaduais.

eleito para um cargo com menos votos que outro. Isso acontece porque existe o quociente eleitoral e partidário que influencia o número de votos necessários para que um candidato seja eleito. Por exemplo: em uma cidade foram apurados 3 mil votos e existem 10 vagas a serem ocupadas na Câmara Municipal. A conta a ser feita é: 3 mil votos ÷ 10 vagas = 300, ou seja, o quociente eleitoral é de 300. Então, se um Partido recebeu 900 votos, o cálculo é: 900 votos ÷ 300 (QE) = 3. Assim, o Partido terá direito a três vagas, que serão ocupadas pelos três candidatos mais votados do Partido ou da coligação. Mas a partir da reforma eleitoral, para o preenchimento das vagas só serão considerados eleitos os candidatos que tiverem um número de votos que seja igual ou superior a 10% do valor do quociente eleitoral (QE). No caso do exemplo acima: se o quociente eleitoral é 300, para ser eleito o candidato precisa ter no mínimo 30 votos (10% do QE).

Votos brancos e nulos Apesar de o voto em branco não ir diretamente para nenhum candidato, quanto maior o número de votos em branco ou nulos, menos votos válidos serão necessários para vencer a eleição. Por exemplo: em uma suposta cidade com 20 eleitores e três candidatos, quando não houver nenhum voto em branco ou nulo, será eleito aquele que conseguir mais de 50% dos votos válidos, neste caso 11 votos. Na mesma cidade, com os mesmos 20 eleitores e três candidatos, se três eleitores votarem em branco e um eleitor votar nulo, o número de votos válidos necessários para ser eleito cai para 9. Portanto, os Recursos de campanha votos em branco ou nulos podem A eleição de outubro deste ano interferir matematicamente no re- traz uma boa notícia para as musultado da eleição e não quer dizer lheres: os Partidos brasileiros vão que são nulos e nem em branco, na receber R$ 1,716 bilhão do Orçaverdade. mento da União para organizar Como vimos, os votos nulos não as campanhas eleitorais e podesão considerados válidos e, por rão decidir como distribuir a cota isso, não contam para a apuração a que têm direito, mas terão de do resultado. O voto “nulo” - no aplicar o mínimo de 30% em cansentido da nulidade - acontece didaturas de mulheres. A criação quando é confirma- RECURSOS DE CAMPANHA deste Fundo, abasda alguma fraude no tecido com dinheiro processo eleitoral ou público, foi aprovada PR o candidato está impelo Congresso NaMDB 6,5% pedido por ter seu cional no ano passaPSB 13,6% nome na Lei da Ficha do. O MDB é o Par6,9% Limpa. Neste caso, a tido que terá direito eleição pode ser anuao maior percentual PP lada (cancelada). do Fundo – cerca de PT 7,6% 13,6%. Em seguida, na 12,3% Quem tem mais ordem, o PT terá diPSDB votos é eleito? reito a 12,3%; o PSDB, 10,8% Nas eleições, um 10,8%; o PP, 7,6%; o candidato pode ser PSB, 6,9%; o PR 6,5%.

Os candidatos poderão investir, na campanha, o limite de 10% da renda pessoal para financiar a própria candidatura. Ele também pode organizar vaquinhas virtuais. O crowdfunding [uma espécie de vaquinha on-line] é o nome do financiamento coletivo captado por meio da internet. A novidade foi legalizada no ano passado, numa minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso e surgiu na esteira da proibição, em 2015, das doações empresariais para os políticos. Esse tipo de doação só será possível por meio de empresas/ sites autorizados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Mas o eleitor poderá doar ao candidato da sua preferência pelo sistema antigo, por meio de transação bancária para a conta do candidato/Partido aberta especificamente para a campanha. É muito importante que cada cidadão, que é também eleitor, escolha de forma consciente os seus representantes para não se arrepender depois! CALENDÁRIO ELEITORAL Fique atento às datas De 17/06 a 28/08 Habilitação para voto em trânsito ou pedir mudança para uma seção eleitoral especial em sua cidade (eleitores com deficiência ou mobilidade reduzida). 08/08 Último dia para o eleitor requerer a 2ª via do título de eleitor fora do seu domicílio eleitoral. 31/08 Início do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. 27/09 Último dia para o eleitor solicitar a 2ª via do título de eleitor em seu domicílio eleitoral


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SAÚDE

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Obesidade e subnutrição caminham juntas Para a Organização Mundial da Saúde, o excesso de gordura é uma doença crônica

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stamos cada vez mais gordos e com menos saúde. É o que revelam os dados da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), indicando que o sobrepeso afeta 54% da população brasileira. Ainda segundo o “Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe”, cerca de 20% dos homens e 24% das mulheres estão obesos. A situação não é melhor para as crianças com menos de 5 anos de idade: 7,3% estão com sobrepeso.

Epidemia global O Relatório afirma que o sobrepeso em adultos passou de 51,1% em 2010, para 54,1% em 2014. Os números também aumentaram na avaliação nacional da obesidade: em 2010, 17,8% da população eram obesa; em 2014, o índice chegou aos 20%. No “Mapa da Obesidade” produzido pela “Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica”, a Região Sudeste, que inclui os Estados de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o número de adultos com excesso de peso é de 50.45%, perdendo apenas para a Região Sul, com 56.08%. Para a Organização Mundial da Saúde, a obesidade é uma doença crônica. Em 1997, foi reconhecida, formalmente, como epidemia em escala global. O diag-

nóstico é dado quando o paciente tem acúmulo excessivo de gordura, medido pelo Índice de Massa Corporal, o IMC, que é o resultado do cálculo da fórmula matemática do peso mais a altura dividido pela altura (veja tabela). Preconceito A nutricionista Carolina Coutinho explica que a obesidade é uma doença causada por diversos fatores que podem interagir , em determinado indivíduo, para gerar o quadro de obesidade e também perpetuá-lo. “É uma doença extremamente complexa, não é à toa que a prevalência de obesidade aumenta, não só no Brasil, mas em diversos lugares no mundo. Não é uma coisa fácil de se resolver. E um dos motivos é ter uma causa multifatorial. Dentre os que podem estar envolvidos na geração da obesidade, tem desde fatores genéticos até fisiológicos, como, por exemplo, alterações endócrinas, metabólicas e fatores psicológicos - que também é uma causa importante - e ambientais. Aí entram a questão da dieta e da alimentação inadequada, a inatividade física que sofre influência de fatores sociais e socioculturais. Então são diversos fatores que colaboram para a geração do quadro de obesidade”, explica a nutricionista. Para a especialista, existe uma tendência de se estig-

DOUGLAS LOPES

MARIA MORGANTI

Em maio do ano passado foi aprovado o projeto que cria o Estatuto da Pessoa com Obesidade

matizar os indivíduos com excesso de peso e tratar a obesidade simplesmente como falta de força de vontade, ou falta de disciplina. “A gente vê muito isso nos discursos que têm sido propagados atualmente. Mas quando pensamos que é uma doença extremamente complexa, causada por diversos fatores, acho que fica mais fácil de entender que não é possível reduzir isso a uma falta de força de vontade ou de disciplina”. Tratamento difícil Apesar de ter sido aprovado, em maio do ano passado, o Projeto de Lei 4328/2016, que cria o “Estatuto da Pessoa com Obesidade” para garantir à pessoa obesa proteção à saúde, com a efetivação de políticas públicas que permitam o tratamento adequado, a alimentação saudável e a vida em condições de dignidade, no município do Rio de Janeiro

só existem dois Centros de Referência em Obesidade (CRO) em funcionamento. Para conseguir atendimento, o paciente precisa ter o IMC entre 40 e 50, com diabetes, e maior que 50, com qualquer ou nenhuma comorbidade, doenças associadas à obesidade, e ser encaminhado pela Clínica da Família e do Sistema de Regulação (Sisreg). O atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar, que inclui enfermeiro, professor de Educação Física, endocrinologista, psicólogo e nutricionista. Na Unidade da Rua Barreiros, em Ramos, mais próxima à Maré, o time de profissionais está desfalcado de nutricionista e psicólogo desde o ano passado. Na esfera estadual, o Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede), que fica no Centro, oferece gratuitamente atendimento para obesos e para pacientes


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DOUGLAS LOPES

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O consumo de produtos ultraprocessados continua sendo o grande vilão dos obesos

com transtornos alimentares, como anorexia e bulimia. Segundo dados oficiais da Secretaria de Saúde, o ambulatório atende 1.300 pacientes por mês de todo o Estado, que são encaminhados pela Rede de Atenção Básica de Saúde pela Central Estadual de Regulação. Também com equipe multidisciplinar, a primeira consulta sempre é com o endocrinologista, que faz uma avaliação geral e encaminha para as outras especialidades. As consultas acontecem, em média, uma vez por mês. São oferecidos exames complementares, acompanhamento nutricional, orientação para exercícios físicos, terapia familiar e individual e, em alguns casos, pode ser indicada a cirurgia bariátrica, que é realizada em outras unidades da Rede pública. Alimentos perigosos Em estágios menos avançados, jovens como Carolina Antoniolli, 28 anos, com sobrepeso e deficiência de vitamina D, são cada vez mais comuns. “A primeira vez eu procurei uma nutricionista, porque

a minha imunidade estava muito baixa”. Na segunda, um ano depois, o motivo era outro: “minha vitamina D estava muito baixa e eu queria emagrecer mesmo”. Com Vanessa Andrade, 33 anos, a situação foi parecida. “Por conta do sobrepeso, procurei um endocrinologista e uma nutricionista, que me prescreveram exames de sangue e deu que a minha vitamina D estava muito baixa”. Larissa Valença, nutricionista que atendeu Carolina, esclarece que estar acima do peso não significa que o paciente está bem-nutrido. “Estar acima do peso ou com obesidade não é sinônimo de estar bem-nutrido. Embora nos últimos anos tenha se falado muito em alimentação saudável, o consumo de produtos alimentícios ultraprocessados continua sendo muito grande e isso pode estar ligado a fatores como: baixo custo, praticidade e fácil acesso. Muitos destes alimentos são ‘ricos em calorias vazias’, ou seja, são alimentos que, apesar de terem calorias, quase não apresentam nutrientes. Sendo assim, o consu-

mo excessivo destes prorina, pratos prontos congedutos pode levar ao ganho lados, sucos artificiais em de peso, mas este indivíduo pó, molhos industrializapode, ao mesmo tempo, dos, biscoitos, salgadinhos apresentar diferentes tipos tipo chips e doces indusde carências nutricionais trializados”, ressalta a nude vitaminas, minerais e, tricionista. até mesmo, de macronu“Agora consigo planejar trientes, como proteínas, já meu dia direitinho, o que que a grande maioria desvou comer, separo tudo tes produtos alimentícios bonitinho. Tenho até acorsão ricos em carboidratos e dado mais cedo para fazer têm baixo teor de proteína. as coisas, tranquilamente”, Esse paciente pode ser conta Carolina sobre a diediagnosticado por exame ta que está fazendo, “por físico e exames bioquímisaúde”. Para ela, o mais cos. Tem sido cada vez mais difícil foi parar de comer frequente, no consultório, doces. “Eu amo chocolate, atender pacientes que chemas eu vi que estava beigam buscando auxílio no rando o exagero, parei de emagrecimento, mas que comer todo dia”. Ela está se encontram com sinais participando de um desafio e sintomas de desnutrição. de 15 dias, organizado pela Os alimentos mais danonutricionista, para estisos são os industrializados, mular práticas saudáveis e ultraprocessados, que em pretende manter o estilo de sua maioria são alimentos vida após o fim do prograricos em sódio, gordura ma. “Depois do desafio, eu vegetal, açúcar e corantes. posso incluir essas coisas Todos os ultraprocessados, (chocolate) de novo. Mas de forma geral, podem ser não no meu dia a dia. Uma considerados alimentos vez ou outra não é proibimuitos ruins para a saúde; do. É saber dosar. Como dentre eles podemos desdiz meu avô, ‘veneno não tacar alguns como: refrigemata, o que mata é a quanrantes, embutidos, margatidade’”. ALIMENTOS DE RISCO Refrigerantes: um copo equivale a 10 colheres de chá de açúcar Sucos em pó: contém açúcares + corantes + conservantes + aditivos alimentares e apenas 1% de fruta. Alimentos congelados: ricos em sal, açúcar, gordura saturada. O consumo frequente aumenta a pressão arterial, diabetes e colesterol alto. Gelatinas: açúcar, colágeno de vaca ou porco, adoçantes artificiais, reguladores de acidez, corantes e aromatizantes artificiais. Temperos industrializados: rico em sódio e gorduras saturadas, prejudiciais ao coração; têm ligação com dificuldades de aprendizado, Mal de Alzheimer, Parkinson e Câncer. CALCULE SEU IMC

Peso:

÷ Altura

x

altura =


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TRANSPORTE

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ELISÂNGELA LEITE

BRT: uma obra que não sai do lugar

Transbrasil tem nova paralisação e sua conclusão fica cada vez mais distante

Até o momento, já foram gastos R$ 909 milhões de reais com a Transbrasil e, por causa das interrupções, partes do projeto estão se degradando

HÉLIO EUCLIDES

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rometida para esse ano, a conclusão das obras do Sistema Rápido de Ônibus (BRT) Transbrasil teve nova paralisação. No Maré de Notícias, Edição nº 80, de agosto de 2017, abordamos a retomada das obras que, no entanto, não duraram nem um ano. A construção da Transbrasil começou em janeiro de 2015 e a primeira interrupção das obras ocorreu em agosto de 2016, para a realização das Olimpíadas. Segundo os planos, o corredor expresso terá 32 quilômetros e vai ligar o Centro da cidade a Deodoro. A previsão da Prefeitura é de que sejam atendidos 900 mil passageiros por dia. Desde a retomada das obras até hoje, o que se percebe na Avenida Brasil são engarrafamentos, desvios e rotas improvisadas. “Até agora, só vejo engarrafamento; antes gastava 40 minutos para chegar ao trabalho, agora são duas horas. Quando tiver pronta, como vai ser? Nem sei como vou fazer para vir da Pavuna para a Penha, se vai precisar de baldeação”, argumenta Roberto Cândido. A Avenida Brasil também virou alvo de reclamações: “não vejo vantagem nessa obra. O que percebo é muita poeira e transtorno. Onde nunca ocorria alagamento, agora apareceu, tenho medo de qualquer chuva. Até pouco

tempo sofríamos também com a escuridão e muitos assaltos, depois de muitas reclamações voltou a luz nos postes”, relata Genilda de Souza, moradora de Ramos. A obra do BRT Transbrasil expõe falhas de projeto. Um exemplo é o viaduto que liga a Transcarioca à Avenida Brasil, que foi aberto e pouco utilizado e depois fechado novamente. “Está um lixo, um atraso de vida. Dizem que vai melhorar, estou pagando pra ver. A Avenida Brasil está uma porcaria”, avalia Selma Rodrigues. Na área da Maré apenas a estação em frente à Vila do João foi iniciada e hoje já está com alguns pontos de ferrugem. “A Prefeitura não tem dinheiro, então vai enrolando o tempo todo. O que foi construído vai sendo destruído com o tempo, estragando”, comenta Verônica Oliveira, moradora da Nova Holanda. Passarelas de andaimes geram reclamações Nas estações construídas ao longo da Avenida Brasil, as passarelas fixas foram substituídas por andaimes com piso de borracha. “Parece que não existe vontade política, por isso essa obra está parada. Essas passarelas não são seguras para a população. A

minha previsão não é otimista, comparando com os outros BRTs”, afirma Eliene Cunha, professora. Muitos consideram que a pior parte dessa obra são as passarelas improvisadas. “Temos de passar por essa passarela improvisada, que balança muito e os pedestres têm de disputar a passagem com as motos”, revela Eugênio Oliveira, vendedor ambulante da Passarela 12. Os moradores têm muitas dúvidas sobre a obra, pois “esse assoalho não é bom, o cadeirante sofre. Imagino que pode ficar pior, se ao final da obra ficar só a Passarela 6, em frente à Vila do João, vai ser complicado para nós do Conjunto Esperança”, afirma Edileusa Francisco, vendedora ambulante. O presidente da Associação de Moradores de Rubens Vaz, Vilmar Gomes, o Magá, ainda não sabe ao certo onde será o acesso dos moradores à estação do BRT. “Outra preocupação são as passarelas provisórias, a que fica no lugar da antiga Caracol está com o assoalho podre, e a demanda de pessoas que utilizam é grande. Já a Passarela 9 treme e a grade está solta, prende na roupa das pessoas e pode causar um acidente. Já liguei para a Prefeitura, pelo número 1746, e nada”.


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Estação Marcílio Dias não entra no projeto No Maré de Notícias, Edição nº 82, de novembro de 2017, abordou-se a questão de Marcílio Dias não ser atendida por uma estação do BRT. A previsão é de que a estação mais próxima seja a Passarela 15, denominada Marinha do Brasil. “Quando fomos à Região Administrativa da Penha, nos informaram que o projeto ainda não está fechado. Uma estação seria a oportunidade de melhoria da área do ponto de ônibus. O que temos hoje é ausência de iluminação. A Marinha é contra a iluminação do acesso à comunidade”, declara Jupira dos Santos, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias. Para seguir até à Passarela 15, moradores teriam de gastar 10 minutos a mais, além da falta de segurança da via. “Está muito difícil para a população. Não acredito nessa obra, e nem que vai melhorar. Os exemplos são as outras linhas do BRT que estão em funcionamento com diversos problemas. O pior é que se não tiver a estação na Passarela 16, vai prejudicar muito”, segundo Leonardo Leite, morador de Marcílio Dias. Para Maria José, também moradora de Marcílio Dias, a Transbrasil não convenceu: “não vejo mudança, espero que melhore, pois está horrível. Ainda mais se não tiver estação em Marcílio Dias”. A voz do especialista Orlando Alves dos Santos, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), da UFRJ, e pesquisador da Rede Observatório das Metrópoles acha que o projeto não é o ideal. “O sistema dos BRTs não tem capacidade de acomodar a demanda de

passageiros, não é o melhor modal. A população que usa, sofre e fica espremida. Tem de se pensar na saturação”. Para ele, os BRTs obedecem a interesses econômicos: “o que ocorre é uma mercantilização da cidade, e não a melhoria de uma área com deficiência de transporte público. Não há um planejamento de um projeto de justiça social, ele ainda vem acompanhado de remoções”, enfatiza. Orlando acredita que o projeto não é um meio permanente e nem prioritário. “O trajeto ligando Deodoro ao Caju não beneficia o sistema, pois não liga o Centro e a Zona Sul. Uma racionalização da qualidade de vida da população são barreiras para um transporte ideal”, comenta. Ele entende que há algo por trás nesse sistema de transporte: “o BRT Transbrasil é de interesse das grandes empreiteiras, operadoras de ônibus e das imobiliárias, resumo: uma máfia. A população fica subordinada a interesses diversos de classes dominantes”. Prefeitura promete a retomada das obras A Secretaria de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação informou que as obras do BRT Transbrasil serão retomadas em julho. Explicou que o Ministério das Cidades ameaçou cortar os investimentos, alegando que o BRT Deodoro-Caju não seria útil para a população. Uma nova proposta foi apresentada pela Prefeitura para estender o traçado até o Terminal Américo Fontenelle, no Centro. O projeto, sem custo financeiro adicional, foi aprovado pelo Ministério das Cidades, mas ficou em avaliação da Caixa Econômica Federal, que contin-

genciou os recursos. Sem o fôlego financeiro para manter a megaestrutura, o Consórcio Transbrasil suspendeu as atividades. A Secretaria garante que o BRT Transbrasil está 85% concluído e, com a liberação dos recursos, vai operar em ritmo acelerado para concluir a obra com a maior brevidade possível. Informou também que, após a retomada, a obra será concluída em 12 meses, pois

agora só falta a liberação do restante dos recursos por parte do Governo Federal para a continuidade dos serviços. As obras foram licitadas por 1,4 bilhão de reais, sendo 1,3 bilhão de reais recursos do Ministério das Cidades, a cargo da Caixa Econômica Federal. O restante foi oferecido como contrapartida do Município. Até o momento foram desembolsados 909 milhões de reais.

TRANSBRASIL - ESTAÇÕES PREVISTAS


CULTURA

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A força do Nordestino retratada nos muros Wallace Marques, o Pato, está criando um museu a céu aberto

A

s paredes e muros das ruas de Ramos, Olaria, Bonsucesso, Penha e Complexo do Alemão estão se transformando em telas de pintura, nas quais o Nordeste brasileiro se impõe pelo traço do artista Wallace Marques Riscado Ramos, o Pato. É difícil passar por uma das pinturas sem parar para olhar com mais calma, ficar abobalhado e admirar a força que tem o traço do jovem de 24 anos. “Ele desenha bem”, disse uma criança que posou para ser fotografada pelo pai, ao lado de Pato, em frente a um muro em que ele estava pintando o retrato de um senhor tocando gaita, numa terça-feira, na Rua Emílio Zaluar, em Ramos. Super-homens e Supermulheres Olhando o telefone de onde copia a foto que vai reproduzir, ele diz: “eu pinto sobre o Nordeste. Tenho vários objetivos, mas eu acho que o maior deles é ser porta-voz de quem nunca foi ouvido. Pessoas que são gigantes, têm muita força, carregam uma história muito grande mesmo. Carregaram muita coisa nas costas e nunca tiveram oportunidade de falar ou, quando tiveram, foram ofuscadas. A minha intenção é ser porta-voz disso. Eu acho que muitas pessoas são ofuscadas por tudo o que acontece, e acabam

DOUGLAS LOPES

MARIA MORGANTI

Figuras de homens e mulheres nordestinas são as preferidas de Wallace Pato. Ele diz que quer dar voz a essas pessoas sofridas

passando despercebidas aos olhos de muitos”. Enquanto pinta, fala sobre o que pensa de seus personagems: “tem de ser uma supermulher, um super-homem mesmo para viver o que eles vivem. Não só eles. Eu resolvi levantar essa bandeira e falar do Nordeste. Mas não é só eles que passam isso. Certo que eles passam uma dificuldade tremenda, mas aqui mesmo dentro das favelas tem um monte de gente que passa uns perrengues sinistros, mas eu resolvi levantar essa bandeira e falar do Nordeste. Como tudo, inspiração, imagina?” De repente, ele descansa

o rolinho de pintura para falar, olhando para a repórter. “Você não ter nada, não comer há vários dias, sem água, viver numa seca tremenda de não ter nada, e disso tudo tu ainda conseguir tirar um sorriso do rosto, tu conseguir viver ainda, é muito forte, muito lindo”. A tarde segue e o trabalho também. Pato molha o rolo na bandeja de tinta, e volta à parede. “Não é a situação, mas a força deles. Eu não conheço outro povo assim. Eu precisava falar disso. É de onde vem a inspiração de pintar e falar do Nordeste. O povo é muito forte”.

Autodidata Sua técnica é muito particular. De vez em quando, esfrega a mão na pintura para “não ficar tão perfeito”. E continua: “eu tento desconstruir algumas coisas, mas para desconstruir você tem de saber construir. Aí eu fui vendo para onde a minha pintura ia se inclinando, naturalmente. Eu comecei a pintar assim, perfeito, o máximo que eu conseguia, e depois, natural meu, comecei ir “cagando” mais. Na real, eu acho até que eu tento correr do perfeito. Tento fazer expressionismo, um realismo, mas não é aquela parada perfeitinha”. Pato nasceu e foi criado


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na região limítrofe entre Ramos e Bonsucesso. Pintando nos muros há cinco anos, conta que nunca fez nenhum curso de pintura e na família não tem ninguém que pinte profissionalmente. Até o dia da entrevista, nunca tinha ido em nenhum Estado da Região que é tema da sua arte, mas estava com viagem marcada para pintar em Canudos, no Sertão da Bahia, a convite do presidente do Projeto Canudos, do qual faz parte. Ele diz também que só conhecia o Nordeste por fotos e que começou a pesquisar e ouvir as histórias dos nordestinos que conhecia. “Eu vejo algo que fale muito com eles e com todos, algo que é bem-característico. E também ouvindo pessoas que estão aqui. Muitos nordestinos que estão aqui tocam gaita. Meu vizinho mesmo. Essa pintura aqui me lembra muito um vizinho meu que faleceu, que era o Seu Brás”. Enquanto trabalha, é constantemente interrompido pelas pessoas que não o param de elogiar. “É você que faz essa pintura bonita aí?”, indaga um senhor que pede o contato do artista. “Eu olhei ao redor e vi que era muito importante falar disso. Quando eu me liguei, caramba, cara. Por que eu não tô falando disso já há muito tempo? Pô, acho que eu tô viajando aqui, foi o momento em que comecei a falar sobre o Nordeste. Isso mexeu muito comigo. O sentimento é o mesmo, desde quando eu comecei a fazer o primeiro. Chegou o momento que isso precisava ser falado”.

Pintor das ruas Com jeito de menino e algumas tatuagens pelo corpo, como a data de nascimento em números romanos, e um fat cap, instrumento usado para fazer grafite, Pato está se preparando para ingressar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele relembra que começou a rabiscar com mais ou menos 10 anos de idade, quando pedia para a mãe comprar cadernos. Ao receber mais um aceno simpático de transeunte, lembra que nem sempre foi assim: “uma vez eu pintando, parou um taxista e ele queria me bater, ameaçou pegar uma barra de ferro na mala do carro. Disse que eu estava esculachando a cidade. Eu fiquei meio sem reação, comecei a recolher as tintas rápido pra ir embora, porque ele estava muito nervoso. Eu tento levar a pessoa com clareza, com calma. Pintar na rua tem muito disso. Tem de lidar com um monte de pessoas ali o tempo todo, várias pessoas com opiniões diferentes da sua. Tem pessoas que respeitam a opinião, que não tem a mesma que você, mas respeita, e tem outras que são totalmente explosivas, fazer o quê?” Chamado “mais de vagabundo que de doido” na rua, isso nunca foi motivo para desmotivá-lo. Ele conta: “foram vários momentos que eu pensei em desistir, cara. É muito complicado. Até mesmo por estar desanimado com as coisas, de às vezes faltar grana. Porque eu bato nessa tecla, eu não

DOUGLAS LOPES

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Apesar da técnica sofisticada, Wallace Pato gosta mesmo de pintar muros e paredes

quero parar de falar disso, e às vezes a gente precisa de grana, porque eu tenho de pagar aluguel, tu ainda precisa de dinheiro pra comprar tinta, pra poder pintar na rua, é difícil. Tem hora que tu chega ali no momento que, pô, preciso fazer alguma coisa, sei lá, acho que eu vou parar de pintar. Mas o que mais me impulsiona a pintar são eles”, diz, olhando para o retrato ainda em construção e continua sua arte. Viver de arte “Parece que te dá um gás. Quando eu pensava em desistir, eu falava, pô, não vou parar, não vou parar e continuava pintando, mas eu pensei várias vezes”. Estimulado pela esposa, Thaíza Pereira, Pato já serviu o Exército e chegou a trabalhar em uma loja de tintas, “porque tinha desconto para comprá-las”, mas hoje vive da arte. Ouvinte de cantores como Gilberto Gil, Criolo e Emicida, e inspirado por outros artistas suburbanos, o jovem tem como sonho o “de pintar e viver com o que eu faço.

De poder pintar em outros lugares, de poder passar a mensagem que eu quero passar, assim, pra todo mundo, em vários lugares. Onde a arte for me levando, eu vou, sem fronteiras”. Na lista de planos, uma série de pinturas sobre o Programa Bolsa Família. “Tem um monte de gente que não concorda com isso e acha que tem de acabar. Eu já acho totalmente diferente, acho que tem de continuar mesmo, aquilo ali tirou muita gente da miséria. E ajuda muita gente, acho que a pessoa que não passou fome, não passou sede, o chinelo dela não foi uma garrafa PET, o cara que não passou nada disso, acho que ele tem de ficar calado, não tem de opinar sobre nada disso não. E a gente vê muita gente aí de um nível extremo de riqueza, o cara super playboy e dando opinião sobre isso. Achando que tem de acabar, que isso alimenta vagabundo, que isso incentiva os outros a não fazer as coisas. Acho que ele tem de ficar calado, está perdendo tempo falando besteira”.


MEMÓRIA

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Um pedaço de Macedo Sobrinho na Maré

Favela foi extinta e parte dos moradores veio para Nova Holanda

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m dia você acorda e recebe a notícia de que a favela em que você mora será extinta e todos os moradores serão transferidos para o outro lado da cidade. Isso foi o que ocorreu com moradores da favela Macedo Sobrinho, no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro. A política de remoções teve início na gestão do governador Carlos Lacerda (1960-1965), no então Estado da Guanabara, e seguiu por muito tempo. Os moradores da Macedo Sobrinho foram distribuídos pelo município como forma de desarticular uma possível resistência. Alguns vieram para Nova Holanda. Mudança forçada Na Zona Sul, havia pressões da especulação imobiliária. Lacerda, com recursos dos Estados Unidos, implementou conjuntos habitacionais longe do Centro e sem contemplar as necessidades dos moradores. Foram 32 favelas erradicadas parcial ou totalmente, duas delas foram a Praia de Ramos e a Maria Angu, numa área que hoje compreende a Maré. A favela Macedo Sobrinho ocupava a encosta do Morro da Saudade, que no final dos anos 1980 foi transformada no Parque Municipal do Morro da Saudade. Os moradores foram tirados à força e levados para locais muitas vezes indesejados, sem saneamento básico e transporte, entre outros problemas. Elza Cristina da Silveira lembra que a família não tinha renda, então foi encaminhada para a Nova Holanda. “Foi difícil acostumar com o novo local de moradia, longe da Zona Sul. Lá no morro tínhamos uma tendinha e um ponto de luz,

ELISÂNGELA LEITE

HÉLIO EUCLIDES

Transferida da Macedo Soares, Argentina Tibúrcio, de 89 anos, resistiu à ideia de morar na Maré, mas hoje não sai daqui de jeito nenhum

que distribuía energia a outros moradores. Aqui, a luz era precária. Viemos com a ideia de que seria provisório, e ficou para sempre”, conta. A luta “Mamãe foi guerreira e lutadora para criar os seis filhos, com tanta dificuldade. O bom era a união da família, um ajudava o outro. Aqui faltava água, mas conforme a comunidade foi crescendo ficou melhor”, avalia Elza Cristina. Sua irmã, Regina Maria Silveira, ainda tem tudo na cabeça: “nos colocaram num ônibus conhecido como cata-mendigo, como animais. A mudança veio num caminhão. Depois nos destinaram uma casa toda ruim, de madeira podre. Minha mãe chorou com a mudança de casa, sofreu e insistiu. Conseguimos trocar por outra, um pouco melhor, na mesma Rua G”, detalha. “No morro, tínhamos duas caixas d’água, e oferecíamos

água para os vizinhos. Aqui, carreguei muita água de uma vila, que existiu onde funcionou o McDonald’s. No morro, lembro do Carnaval, onde a família tinha a barraquinha de lanches e assim ganhávamos um dinheirinho”. Regina tinha 15 anos quando sentiu na pele a remoção. “Para a Nova Holanda vieram os mais pobres. Remoção é tirar o chão do favelado, é separar os amigos, lembro de muito choro”. Adaptação difícil Morando no mesmo lugar até hoje, na Rua H, Jorgina Maria, a Bina, lembra o dia da remoção, 16/01/1971. “Um período de tristeza, não queria sair de lá, aliás ninguém queria. Lá era como uma família só, nos defendíamos. Aqui ninguém se conhecia. O ônibus que trouxe a gente era do DLU (Departamento de Limpeza Urbana), tipo da Comlurb, vínhamos como bichos. Fomos divididos entre Cidade de Deus, Avenida

Suburbana, Nova Holanda, Vila Kennedy e Engenho da Rainha. Primeiro fizeram o levantamento, o salário era o que definia para onde cada um iria”, relembra. “Aqui era muita lama e parecia que os mosquitos iam nos carregar. Tinha 16 anos e ajudei a cuidar dos quatro irmãos. Carregava lata na cabeça lá do Parque União, me equilibrando. Com o tempo, as coisas foram se acertando, reformamos e construímos em cima”, conta Jorgina. Sua mãe, Argentina Tibúrcio, de 89 anos, era acostumada a trabalhar perto de onde morava e, como outros, sofreu com a distância: “eu adorava o meu barraquinho. Lá, o meu trabalho era perto e tinha os amigos para cuidar das crianças. No morro, o ruim era a escada, mas tinha mais espaço para as crianças brincarem”, conclui ela, que até hoje guarda os carnês que pagava da casa na Nova Holanda.


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MOBILIDADE URBANA

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Acessibilidade é um direito Deficientes encontram barreiras nos caminhos da favela HÉLIO EUCLIDES

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termo “acessibilidade”, segundo o Ministério da Saúde, significa incluir a pessoa com deficiência em todos os setores da vida, ou seja, no uso de produtos, serviços e informações. A Lei nº 13.146/2015, que instituiu a Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), reúne 127 artigos, mas segundo os especialistas, o País ainda não derrubou o muro que dificulta a acessibilidade. Na Maré não é diferente. Ir à padaria, pela manhã, pode virar uma aventura perigosa para quem, de alguma forma, tem os movimentos restritos.

Acessibilidade é caro? Para Bira Carvalho, cadeirante, a acessibilidade vai além do comércio. “Tem instituições na Maré que não têm rampa e banheiro adaptado. Isso tira o direito do deficiente de crescer. Ir ao banheiro é uma coisa simples, mas para nós se torna um obstáculo. Falta sensibilizar a sociedade sobre essa causa. A justificativa é de que a adaptação é cara, mas um sonho não tem preço. Me sinto preso em uma cadeira de rodas, uma das violências é a falta de direitos. Em todo espaço público é obrigatório se pensar na acessibilidade, não estou inventando nada, isso é lei”, afirma; Vanda Sousa, redutora de danos do Centro

DOUGLAS LOPES

Mobilidade é direito “A Maré não é exceção da cidade, aqui existem calçadas altas, que dificultam a passagem. Eu (Jorge Geraldo) e o Bira (Carvalho) fomos à Rua Teixeira Ribeiro e falamos com alguns comerciantes sobre a criação de rampas; “conto nos de-

dos” os que fizeram a reforma da calçada”, reclama Jorge Geraldo, conhecido como Jorge Bob’s, que na infância teve poliomielite e utiliza um carrinho de rolimã para se movimentar.

Jorge Bob's reclama das calçadas, que não são adaptadas para deficientes

de Atenção Psicossocial (CAPS) Álcool e Drogas III Miriam Makeba, acredita que falta muito para uma acessibilidade plena. “Não existe o cuidado terapêutico que faça um bom trabalho de colocar o deficiente de volta à vida. Existem poucas crianças com deficiência nas escolas. E onde estão? Em casa. Acho que para a acessibilidade existir, é necessário o envolvimento de todos, desde os governantes aos que cercam o deficiente, ou seja, somos responsáveis para dar livre acesso para quem não tem”. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), existe no mundo cerca de um milhão de pessoas com algum tipo de deficiência. O Censo Maré, de 2013 mostra que a favela tem 47.758 moradores com algum tipo de deficiência física, motora ou intelectual, ou ainda transtorno psíquico. Um mundo sem visão da acessibilidade Vanessa Cavalcanti é mãe de Yasmin Cavalcanti, de 15 anos, que nasceu prematura. O oxigênio da incubadora afetou a visão da criança. Para sua educação, a menina permanece no Instituto Benjamim Constant, de segunda a sexta-feira. “No entorno do Instituto é tudo adaptado. Aqui, minha filha tem dificuldades de andar sozinha nessas ruas esburacadas, com carros e motos por to-

dos os lados. Até acompanhado está difícil”, revela. Sua filha pede algo bem simples: “queria ir à padaria sozinha, com o auxílio da minha bengala (Bastão de Hoover), mas tenho medo de ir e vir nas ruas da Maré”. A relação da Maré com as calçadas é muito complexa até para quem não tem deficiência. Calçada com pisos táteis é uma realidade ainda distante. A acessibilidade deve chegar para todos. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma forma que o deficiente auditivo tem para se comunicar, portanto, é necessário que escolas, empresas e órgãos governamentais estejam cientes desta necessidade. Zilda Bezerra, moradora do Morro do Timbau, entende que ela precisa contribuir na inclusão. “Comecei a fazer o Curso de Libras com o desejo de me comunicar com todos, o que é uma troca. Imagina não ouvir e não falar e também não conseguir se comunicar, é triste”! A Subsecretaria da Pessoa com Deficiência informa que seis equipamentos municipais fazem atendimentos para as pessoas com deficiência. O mais próximo é o Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência Mestre Candeia, que fica na Avenida Presidente Vargas, 1.997, no Centro. Mais informações: http://prefeitura.rio/web/ smpd/principal


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CONJUNTO ESPERANÇA Bar do Grande Sextas - DJ -19h Sábados – Baile Funk -23h Domingo – Roda de Samba 19h Localização – Rua Manoel Ribeiro Vasconcelos, 322 MORRO DO TIMBAU Dogueria Resenha Há menos de um ano aberto como um Food Truck carioca, especializado em hot dog artesanal, já aparece como um dos espaços mais “bombados” do momento, com pelo menos três eventos semanais. Quando – sextas, sábados e domingos Horário – a partir das 22h Localização – Avenida Guilherme Maxwel, 95 NOVA HOLANDA Baile Funk da NH Quando – sábados Horário – a partir das 22h Localização – Rua Teixeira Ribeiro – alguns eventos acontecem no Campo da Paty

Pagofunk da BT Abre a semana de eventos na Nova Holanda, e acontece na rua que dá nome à festa. Quando – quintas Horário – a partir das 22h Localização – Rua Bitencourt Sampaio CAM: Centro de Artes da Maré RUA BITTENCOURT SAMPAIO, Nº 181, NOVA HOLANDA, MARÉ TELEFONE: (21) 3105-7265 facebook.com/ centrodeartesdamare 05/07 (quinta-feira) Perturbando o Juízo: Outra Maré É Possível? Horário - 10h Debate sobre a garantia do Direito à Segurança Pública da população da Maré e seus trabalhadores, baseandose nos valores dos direitos humanos. 14/07 (sábado) Oficina livre de Bike Horário: a confirmar O Maré sem Fronteiras é um projeto do Eixo de Desenvolvimento Territorial, que tem como objetivo incentivar a mobilidade dos moradores entre as diferentes comunidades da região, pelo uso de bicicletas, e, com isso, valorizar a memória e a cultura locais.

DICAS CULTURAIS 24/07 (terça-feira) Seminário Tereza de Benguela Horário - 17h O Seminário Tereza de Benguela, em sua 3ª edição, tem por objetivo refletir sobre os 130 anos do pós-abolição, trazendo a provocação: “Abolição para quem?” 27/07 (sexta-feira) Cine Conceição: Gaypira Horário - 19h A Mostra "Gaypira" é a terceira ocupação do Cine Conceição, espaço de cinema, debates, acolhimento e encontro, no Centro de Artes da Maré. TODA PROGRAMAÇÃO É GRATUITA NOVA MARÉ Lona Cultural Municipal Herbert Vianna RUA IVANILDO ALVES, S/N°, NOVA MARÉ TELEFONE: (21) 3105-6815 facebook.com/ lonaculturaldamare Todas as sextas-feiras Oficina de Percussão Horário - 15h30 às 17h30 Público infantil Todos os sábados Oficina de Stilleto (Maré Sobre Saltos) Horário - 11h às 13h A partir de 14 anos Aos sábados Oficina de percussão Panderolando Horário - 15h às 17h30 A oficina propõe a iniciação e experimentação livre dos instrumentos de percussão, por meio do desenvolvimento coletivo, baseado-se em diferentes manifestações artísticas. 11 e 25/07 (quartas-feiras) Contação de Histórias e oficina de tradições afroindígenas Horário - 15h30 Bumba Meu Boi, Maracatu, Jongo, Coco, Tambor de Crioula e Capoeira são algumas das manifestações culturais que constituem um universo da Cultura Popular Brasileira.

Projeto Nenhum a Menos: Segunda a sexta - 15h às 18h - Complementação Pedagógica - Iniciação Musical - Letramento - Robótica - Contação de histórias Faixa etária 8 a 12 anos Cine Clube Rabiola Acontece todas as quintasfeiras do mês Horário - 17h 13/07 (sexta-feira) Favela Rock Show Horário: 21h O Favela Rock Show é um dos principais eventos da Lona Cultural da Maré. O Projeto acontece há mais de 6 anos e abre espaço para bandas de toda a parte da cidade, mas tem a anfitriã da noite, que é da Maré, que convida duas novas bandas do rock alternativo. De junho a dezembro Oficina de Estencil Horário: 14h às 17h A Oficina é mediada e conduzida pelo Coletivo Nata Família, que trabalha com pinturas de interiores e exteriores, quadros e camisas, trazendo uma formação por meio de várias linguagens do cotidiano da periferia e favela junto aos seus alunos, que integram o Coletivo Maré Crew. TODA PROGRAMAÇÃO É GRATUITA PARQUE MARÉ Baile Charme da Teixeira Quando – domingos Horário – a partir das 20h Localização – Rua Teixeira Ribeiro 563 - na calçada da Loteria PARQUE UNIÃO Baile Funk do PU Quando - sextas Horário – a partir das 23h Localização – Rua Ari Leão Roda Cultural do Parque União Hip hop, trazendo sempre atrações musicais e batalhas de MCs. Quando – sextas Horário – 18h Localização – Rampa de Skate, no final da Rua Ari Leão

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Baile Retrô Baile funk da antiga e charme. Quando - domingo Horário – a partir das 23h Localização – Rua Roberto da Silveira Praça do Parque União O forró da Praça é um evento consagrado e que já trouxe grandes bandas para o local, com o apoio principalmente dos comerciantes do entorno. Quando – domingos Horário - a partir das 22h Localização – após a Passarela 10, antes da entrada da Ilha BBBar Tradicional Pagofunk já famoso na Maré e fora dela. Quando – sábados Horário – a partir das 22h Localização – Rua Larga PRAIA DE RAMOS Pagode do Litrão Pagofunk sempre com uma atração do funk e do pagode. Quando – sextas Horário – a partir das 23h Localização – Piscinão de Ramos – Passarela 13 SALSA E MERENGUE Pagode da C11 Um dos eventos mais tradicionais de funk e pagode da Maré. Quando – sextas e domingos Horário – a partir das 22h Localização – Via C11 VILA DO JOÃO Baile da V.J Quando – sábados Horário – a partir das 23h Localização – Rua Quatorze e alguns eventos especiais na Quadra da Vila do João Estrela da Vila Barzinho com boa música ao vivo Quando – quinta a domingo Horário – 20h Localização – Rua Quatorze, 322 VILA DOS PINHEIROS Tabacaria Dread Locks Shows de bandas do cenário alternativo do rock, reggae, rap e eletrônico. O local tem frequentadores assíduos que colocam músicas para tocar a noite toda, numa playlist colaborativa. Quando – sextas e sábados Horário – a partir das 20h Localização – Via B9 - em frente ao bloco 1


CULTURA

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O rock que se faz aqui

Cinco rockeiros se reúnem para lembrar o passado e falar sobre o futuro

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de julho é o Dia Mundial do Rock, mas para cinco moradores da Maré um é muito pouco e “todo dia é dia de rock”. Mesmo assim, a data foi usada como mais um motivo para comemorar, falar sobre música e reunir a turma: Diogo Nascimento, 34 anos; Elza Carvalho, 39 anos; Rodrigo Câmara, o Mariola, 38 anos; Henrique Gomes, 35 anos e Adriano Ferreira, o AF, para conversar sobre esse estilo musical, que desde o fim dos anos 1980 tem forte expressão nas 16 favelas do Conjunto da Maré. “Para entender um pouco esse contexto, o que foi, o que era na nossa época, e o que é hoje, o que está acontecendo”, explica Henrique. De início, os roqueiros da Maré se reuniam sem muito compromisso, para tocar violão, assistir os clipes do canal MTV; ouvir rádio. Cada um teve sua forma de ser fisgado pelo rock. Além dos fones de ouvido e das roupas pretas, para eles a música tinha uma importância política, expressada pelos grupos como o “Rock em movimento”, integrado por Elza e Diogo, além de contar com a colaboração de Mariola.

Rock e política Em 2008, 2011 e 2017, eles promoveram o evento Maré de Rock, realizado de forma independente, em edições “pela vida contra o extermínio, direito à cidade e em defesa de todos os direitos, contra toda forma de preconceito”, apoiados por instituições locais, como a Redes da Maré, além da união e da força individual de todos eles. Elza explica que a intenção desses eventos era fazer uma integração entre músicos da Maré, público da Maré, público de fora, músicos de fora, e refletir sobre determinados temas, que não só estão vinculados à Maré, mas à sociedade de maneira geral. Apesar do empenho do grupo, eles concordam que a preocupação de problematizar questões da sociedade por meio do rock, acabou não se desenvolvendo. “Eu acho que o rock, que foi instrumento de contestação, hoje em dia ele está como todas as músicas, se transformando num produto, cada vez mais pasteurizado pra conseguir vender mais, meio que tudo igual,

DOUGLAS LOPES

MARIA MORGANTI

Cinco rockeiros se reuniram para lembrar o Maré de Rock, um evento que foi realizado até 2017 e que juntava música e política

e você não pode mais falar determinadas coisas, porque você não vai vender. Eu acho que, hoje, eu penso que o rock, inclusive é uma pena, é muito conservador, sabe?”, avalia Diogo. Fazendo coro a ele, Elza afirma que o gênero musical está “perdendo o perfil contestador e ficando mais enquadrado, tanto o rock geral quanto nacional”. Mariola discorda, dizendo que “o rock de periferia mantém um pouco a contestação”. A força da periferia “Aqui na periferia sempre vai haver uma construção, alguma válvula de escape, e a arte vem com isso”, enfatiza AF, “cria” da Nova Holanda. Para ele, essa força “nega que o espaço periférico seja, nesse momento histórico e no passado, espaço de violência”. E completa: “é onde mais se produz arte de uma maneira geral”. Henrique, que hoje vive “a crise dos caminhos do rock”, conta que fez o primeiro contato com a música ainda adolescente, e esse processo “foi muito importante, e depois de muito tempo eu fui entender que o que eu estava fazendo era político também, era um movimento de resistência”. Mas critica “o perfil do cara que ouve rock parou junto com o rock. Só que chega um mo-

mento em que a sociedade vai mudando”. Machismo no rock “Eu não tenho tido nem paciência pra ir em shows de rock, se você quer saber. Muito por conta do público. Muita letra machista pra caramba”, desabafa Elza, a única mulher do quinteto. “O rock dentro na Maré é uma herança de gerações, que foi chegando pra gente, e que vai passar pra outras figuras. Se vai ser um rock and roll mais contextualizado, vai voltar a ser um rock que contesta mais do que se preocupa em vender, eu não sei”, provoca AF, pensando sobre o futuro do gênero. Já Mariola reverencia o passado: “hoje a gente tá aí, porque teve uma galera que veio muito antes, trabalhando”. Coração de roqueiro De qualquer maneira, no Grupo, que tem representantes das mais diversas vertentes do rock, todos ainda têm coração de roqueiro e a presença do som na construção das suas identidades, e isso é o suficiente para não precisar de dia nenhum para comemorar, como observa AF. “Eu não vou comemorar, mas eu cultuo o rock and roll todos os dias, não tenho de me preocupar com o dia”. “O importante é estar junto”, finaliza Mariola.


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ACOMPANHE O TRABALHO DA SUA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES

VILA DO PINHEIRO / SALSA E MERENGUE O Conselho de Moradores fica na Via A1, em frente ao CIEP Gustavo Capanema. Funciona das 9h às 17h, de segunda a sexta-feira.

MARÉ QUE QUEREMOS MARCÍLIO DIAS

CONJUNTO PINHEIRO

NOVA HOLANDA

Telefones:2584-4534 e 2584-4527

Presidente: Jupira dos Santos

Telefone: 3104-7183 Presidente: Eunice Cunha

Telefone: 3105-7148 Presidente: Gilmar Gomes

A Associação informa que fez pedido à RA da Penha e à Superintendência de Ramos, para desentupir os esgotos da comunidade de Marcílio Dias. Algumas ruas e becos, como o Jardim América, precisam passar por obras. A Associação reclama que a CEDAE realiza os serviços, mas em poucos tempo o problema volta. A Associação tem participado de várias reuniões para reivindicar melhorias para a comunidade.

A Associação informa que realiza um trabalho com o objetivo de reduzir o número de animais abandonados na Maré. Quem estiver interessado em adotar um dos animais abrigados pode procurar a Associação, que oferece também os seguintes serviços: Fisioterapia, terças e quintas, das 8h às 14h; Assistente social, quartas e sextas, das 9h às 12h; Advogado, às sextas-feiras, das 11h às 13h. Mais informações pelo telefone: 3104-7183

A Associação, em parceria com uma pedagoga, vai oferecer aulas de reforço escolar, do 1° ao 5° ano. As aulas terão início no dia 2 de julho. A Associação tem também uma nova turma de formação de professores, com vagas limitadas. A Associação informa ainda que a limpeza de becos e a desratização continuam. Os interessados devem entrar em contato com a Associação. #JuntosSomosMaisFortes

VILA DO JOÃO

PARQUE ECOLÓGICO

MORRO DO TIMBAU

Telefone: 3109-3143 Presidente: Índio (Valtemir Messias)

Telefones: 3104-8950 e 31092576

Presidente: Caco (Glauco dos Santos)

A Associação oferece atendimento jurídico, de quinze em quinze dias, às quartas-feiras, das 9h às 12h.

PARQUE MARÉ

Telefone: 2270-1274 Presidente: Alexandre Ribeiro

Telefones: 3105-6930 e 3881-6182 Presidente: Vavá

A Associação informa que esse mês, dentro do programa Rio Luz, foram trocadas as lâmpadas dos postes. Além disso, o caminhão de coleta de lixo passa todos os dias na comunidade.

A Associação conseguiu isenção para a emissão de documentos, como carteiras de trabalho e outros, além da doação de cestas básicas. A Associação também está recebendo currículo para encaminhar para vagas de emprego. Os interessados devem entrar em contato com a Associação, e procurar o presidente Vavá ou o tesoureiro Nelson.

PARQUE UNIÃO

CONJUNTO ESPERANÇA

Telefones: 3882-5510 e 3881-9783

Telefone: 3104-7407 Presidente: Pedro dos Santos

A Associação de Moradores informa que seu funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. E ainda: dispõe de serviço de correio comunitário, que atende à população, inclusive naqueles locais em que o Correio regular não passa. A Associação pede que os moradores não joguem lixo na rua e respeitem o horário do caminhão de lixo. A Associação também oferece a prática de esportes, como Jiu-Jitsu, Capoeira, Muay Thai e Boxe.

Presidente: Cláudia Santana O Parque está aberto para parcerias e em condições de receber eventos. Maiores informações pelos telefones: 99640-0399 e 97533-4403

NOVA MARÉ

Presidente: Deraldo (Edinaldo dos Santos)

EDIÇÃO 90 | JULHO 2018

A Associação de Moradores e amigos oferece, gratuitamente, em parceria com a Escola de Luta José Aldo, as seguintes modalidades: Boxe, Judô, Jiu-Jitsu e Luta olímpica. A Associação oferece Supletivo de Ensino Médio, uma parceria com a Redes da Maré e a Fundação Roberto Marinho. E preparatório para o concurso Orosina Vieira. As inscrições estão abertas. Oferece também massagem corporal, gratuita. A preços populares: fisioterapia, drenagem linfática e nutricionista.

CONJUNTO BENTO RIBEIRO DANTAS A Associação funciona das 10h às 16h, de segunda a sexta-feira.

PRAIA DE RAMOS E ROQUETE PINTO

Telefone: 3104-5069 Presidente: Cristiano Anselmo A direção da Associação informa que está realizando serviços básicos na comunidade, de reparo de luz e saneamento básico, e que o serviço de esgoto realizado pela Associação não é do mesmo tipo daquele realizado pela CEDAE. A Associação tem duas pessoas que fazem essa limpeza. Para cobrir esse custo, cada associado paga um valor de cinco reais.

A Associação de Moradores fica na Rua dos Caetés, 131. Atendimento ao público de segunda a sexta, das 9h às 17h.

RUBENS VAZ Telefones: 3105-7146 e 3104-5388

Presidente: Magá (Vilmar Gomes) Coleta de lixo: a direção da Associação pede, mais uma vez, que os moradores da comunidade coloquem o lixo apenas nos horários e locais reservados para a coleta regular do caminhão da Comlurb, sem nenhum transtorno para os moradores e trabalhadores da empresa. O caminhão passa entre 6h e 7h da manhã.

BAIXA DO SAPATEIRO Telefone: 2290-1092 Presidente: Charles Gonçalves A Associação informa que no dia 02/06 foi realizada uma ação social, com técnicos de enfermagem, que fizeram 480 atendimentos. Também está previsto para o mês de julho, nos dias 14, 21 e 28/07 (sábados), a festa junina da Praça do 18, com quadrilha federada, comidas típicas e queima de fogos.


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