ANO VI. NOVEMBRO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO. ELISÂNGELA LEITE
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EDIÇÃO ESPECIAL
MÊS DA CONSCIÊNCIA
NEGRA
A denúncia da discriminação racial
Helena Edir integra a direção da Redes da Maré e não se furta a contar histórias e episódios que viveu por ser uma mulher negra. “Uma vez um rapaz, que não me conhecia, deixou o copinho de café cair no chão e eu estava chegando na sala naquela hora. Ele olhou para mim e disse: vá buscar um pano de chão para limpar essa sujeira. E eu respondi: tem pano na copa. Você pode ir pegar para limpar. Sabe o que é? Ninguém está acostumado a ver uma mulher negra ocupar um cargo de direção”. PÁGINAS 8 E 9
A trajetória de Abdias Nascimento
PÁGINA 11
Intolerância: maioria dos casos é contra religiões afro-brasileiras PÁGINA 12
A violência contra jovens e adolescentes negros PÁGINA 13
Documentário preserva memória das avós negras As protagonistas do filme "As griottes da Maré" são mulheres que chegaram à Nova Holanda ainda nos anos 1970, sem saber se sequer ficariam por lá. Passados os anos, elas continuam morando ali, compartilhando o dia a dia com filhos, netos, bisnetos e até tataranetos. PÁGINAS 6 E 7
Quando se fala de cultura negra não se pode esquecer o nome de Abdias Nascimento. Uma pessoa à frente de seu tempo, que lutava contra toda forma de discriminação racial, com uma trajetória incansável. Abdias deixou um vasto legado, como obras que se encontram no Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). PÁGINA 4 DIVULGAÇÃO IPEAFRO
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As mulheres negras são as que ganham menos
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EDITORIAL
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Da favela à Câmara Municipal
humor | André de Lucena
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m menino capturado durante uma das incursões de tropas coloniais contra Palmares, anos depois, viria a ser o rei do Quilombo. Zumbi nascera livre, provavelmente em 1655, mas depois de aprisionado foi entregue ao padre português Antônio Melo. Aprendeu a ler e escrever português e latim. Aos dez anos tornou-se coroinha do padre. Mas aos quinze anos fugiu e voltou ao Quilombo. Em 1678, o então chefe dos Palmares, seu tio Canga-Zumba, fez acordo de paz com o governo de Pernambuco. Zumbi reagiu e rompeu com ele. E foi aclamado rei de Palmares. A partir daquele momento, ele comandou a resistência à escravidão durante 17 anos. Morreu em 1695, no dia 20 de novembro, data que hoje representa o dia da consciência negra. Nesta edição do Maré de Notícias, em homenagem à memória de Zumbi, vamos saber mais das condições da população negra do Brasil. Vamos entender um pouco por que, nos últimos 20 anos, o Brasil teve iniciativas para reduzir das desigualdades sociais e raciais, mas fracassou. As desigualdades persistem, negros e negras ocupam postos de trabalho mais precários, ganham menos, estudam menos e morrem mais cedo, uma grande parcela vítima de assassinatos quando ainda estão na faixa etária dos 15 aos 29 anos. E ainda são perseguidos por causa de suas crenças. Vamos também conhecer melhor aspectos da cultura negra pouco divulgados no Brasil. Esperamos que tenham todos uma boa leitura.
ELEIÇÕES
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A
cidade do Rio de Janeiro, nas eleições deste ano, conseguiu renovar em 35% os seus representantes no Legislativo. Dos 51 vereadores eleitos, 18 vão ocupar, em 2017, as vagas de vereadores que não se reelegeram. Para 17 deles, é o primeiro mandato. É o caso de Marielle Franco, que conquistou o quinto lugar entre os mais votados: 46.502 votos. Engajada na luta pelos Direitos Humanos e criada no bairro da Maré, Marielle, hoje, aos 37 anos, é socióloga, com mestrado em Administração. Neste mês da consciência negra, ela fala ao Maré de Notícias sobre sua trajetória e como pretende atuar a favor da mulher, dos direitos de negras e negros e da favela. Entrevista a Thamyra Thâmara
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PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO IMPRESSÃO
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MN - Como moradora de favela que chegou à universidade, que importância teve essa experiência na sua trajetória considerando esse momento que se lança na política como vereadora? MARIELLE - Como favelada e negra, chegar em lugares onde não se espera a nossa presença sempre foi um desafio. É difícil estar na universidade sem ter os recursos que muitos dos colegas têm, é desigual de verdade. Tive que trabalhar, estudar e cuidar da minha filha ao mesmo tempo. Enquanto meus colegas só precisavam estudar, fazer cursinhos de línguas e conhecer o mundo. Na política, a história se repete com alguns ingredientes a mais, enfrentamos o machismo e campanhas milionárias que colocam as favelas em um esquema de troca de votos por favores. Ou seja, a minha trajetória trouxe a experiência de estar no lugar em que essa sociedade desigual, racista e machista não espera ou não quer que eu esteja.
As nossas principais ações legislativas serão nos campos da política para as mulheres, negritude e favela” MARIELLE FRANCO MN - Antes da sua candidatura para a Câmara Municipal, você coordenou a Comissão de Diretos Humanos na Assembleia Legislativa, como assessora do deputado Marcelo Freixo. Como era seu trabalho lá? MARIELLE - O trabalho na Comissão é muito árduo, mas também muito de gratificante. Atendemos desde famílias inteiras sem condições mínimas de sobrevivência a pessoas que perderam seus entes queridos. Foi ali que aprendi que dor nenhuma é maior que a outra. Não temos o direito de hierarquizar a dor. Dor é dor e ponto. Na Comissão compreendi o papel da mulher na resistência, na luta pelo direito de seus companheiros e filhos viverem. Já que a maioria dos atendimentos são para as mulheres. As famílias chegam ali depois que todos os seus direitos foram desrespeitados. MN - Quais os projetos que pretende levar ao legislativo municipal? MARIELLE - As nossas principais ações legislativas serão nos campos
da política para as mulheres, negritude e favela. Queremos garantir a maior inclusão das mulheres e da juventude de favela no mercado de trabalho e em cargos de chefia. Os temas relacionados à educação e à primeira infância também estão no nosso rol de prioridades. MN - E a questão da discriminação da população negra e afrodescendente, como pretende trabalhar no seu mandato? MARIELLE - O assassinato da juventude negra e a intolerância às religiões de matriz africana são práticas resultantes do racismo. Milhares de jovens entre 16 e 29 anos são mortos e centenas de templos religiosos são atacados, por ano. Vamos estimular a criação de editais e orçamento para a cultura negra de rua como roda de samba, o jongo, a capoeira, o rap e o funk. Além de fiscalizar o cumprimento da Lei 10.639/03 que tornou obrigatório nas escolas o ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira no Brasil.
MN - Como uma vereadora pode contribuir para a redução das desigualdades, considerando que as favelas e as periferias são regiões que sofrem com estereótipos e preconceitos que acabam refletindo nas políticas públicas? MARIELLE - O que existe é a utilização da política como trampolim pessoal, por isso a favela se torna alvo fácil de políticos corruptos que buscam seus próprios privilégios. E muitos entram na política para que os pobres continuem pobres e os ricos continuem ricos. E a favela é alvo de políticas públicas que não atendem a real necessidade. O que é mais importante: um teleférico ou saneamento básico? Essa decisão deveria ser da população e não de políticos e empresários trancados em um gabinete fechado. É isso que temos que mudar. A nossa ideia é que as políticas públicas sejam pensadas com e para as pessoas, principalmente nas favelas.
Uma trajetória de luta pela cultura negra HÉLIO EUCLIDES
ra. Lutava contra a discriminação, e sua bandeira era a integração. Ele combatia o estereótipo do negro pobre, sujo e bêbado. Os atores se apresentavam em grande estilo. Traziam a bandeira da luta contra a discriminação nacional e cultural. Preservavam a própria cultura”, relata Elisa. Em 1945, fez um manifesto contra o racismo, conseguindo a adesão de todos os partidos, visando influir na Constituinte de 1946. Mas o texto não foi incluído na redação final da Constituição. Em 1949, realizou uma conferência em preparação ao primeiro congresso negro. Escreveu o livro “Revoltado”, em que mostra a necessidade do Museu de Arte Negra, do qual assumiu a curadoria em 1955.No mesmo ano, no Congresso Eucarístico Mundial, propôs um Cristo negro, e incentivou artistas a perceber que na arte moderna brasileira a presença da cultura africana era necessária. Numa tendência de encontro entre a
Europa e a África, Abdias se propôs a discutir o assunto começando a colocar suas ideias nas suas próprias pinturas. Exilado em 1968, no período do AI-5, Abdias fez exposição nos Estados Unidos. Com o retorno ao Brasil, atuou pela redemocratização do país. Criou com Leonel Brizola, no PDT, uma secretaria interna dos movimentos negros, responsável pelo combate ao racismo. O pensamento de Abdias é que o negro seja o autor da mudança. No ano de 1981, fundou o IPEAFRO na PUC-SP. Em 1983, foi eleito único deputado federal negro, com o lema de que o racismo lesa a humanidade. Propôs projetos de ação compensatória, o ensino africano nas escolas, criação das cotas para o ensino superior e mercado de trabalho, mas nada foi aprovado. Só em 1996, que o assunto voltouà tona. E um ano depois foi eleito senador da República. No Rio de Janeiro, Abdias foi por duas vezes Secretário de Estado, de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras e de Direitos Humanos e Cidadania. Abdias durante toda a sua vida levou ao mundo a denúncia do racismo. Ele lançou diversas publicações que mostram que o Brasil precisa avançar na questão racial.
Abdias criou o teatro experimental do negro, trouxe a cultura negra para o povo e quebrou o teatro só para brancos
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A filosofia é de origem africana, mas não se pensa nisso”
Elisa Larkin e a linha do tempo dos povos africanos
ELISA LARKIN
IPEAFRO e Abdias hoje O IPEAFRO, hoje localizado no Rio de Janeiro, no bairro da Glória, tem o papel de preservar o acervo documental, que reúne obras de artes de Abdias e artistas negros. O trabalho é constante para a preservação, com atividades de microfilmagem e catalogação para a organização e divulgação do acervo. Parte dessas obras que se encontram no Instituto vai para São Paulo onde ocorre, até 15 de janeiro, a Ocupação Abdias Nascimento. Um dos pontos altos da festa será o lançamento da reedição do livro: "O genocídio do negro brasileiro".
DIVULGAÇÃO IPEAFRO
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uando se pensa em cultura negra no Brasil logo nos remetemos a luta do ativista Abdias Nascimento pelo povo afrodescendente. Uma pessoa à frente de seu tempo, que lutava contra toda forma de discriminação racial, com uma trajetória incansável. Abdias deixou um vasto legado, como obras que se encontram no Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Após sua morte, a esposa e cofundadora do IPEAFRO, Elisa Larkin, continua a trajetória de luta pela igualdade racial. Muito jovem Abdias já se revelava questionador das desigualdades raciais. No exército resistiu ao racismo e foi expulso por não aceitar entrar pela porta dos fundos. Indo morar fora do país, na Bolívia e na Argentina, entrou em contato com muitas experiências no campo das artes, em especial com o Teatro de Puebla. Voltou em 1941 para o Brasil e quando chegou em São Paulo foi preso à revelia pelo Exército indo para o presídio do Carandiru. Abdias não se calou e fundou o Teatro dos Sentenciados, o qual os detentos faziam apresentações uns para os outros. Dentro do presídio criou o Jornal Interno. Este falava da política penitenciária, num período que ainda se pensava no local para recuperáveis. Lá entrevistou presos e escreveu dois livros, ainda inéditos. Em 1944, criou o Teatro Experimental do Negro que trouxe a cultura negra para o povo. Nesse período os negros e as negras não podiam ficar na platéia. O lugar reservado no teatro era na faxina. Ele desnaturalizou a ideia de teatro só para os brancos. “No combate ao racismo, para ele, não há divisão entre política e cultu-
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HÉLIO EUCLIDES
MILITANTE
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Elisa Larkin e a cultura negra À frente do IPEAFRO, a doutora em psicologia e mestre em direito e em ciências
sociais, Elisa Larkin, mostra com orgulho o seu grande trabalho na parede, o qual denomina de a linha do tempo dos povos africanos. Elisa destaca que a sociedade, de modo geral,sempre associa a cultura erudita ao europeu, mas omite o conhecimento dos africanos. “Meu trabalho é trazer informações que ajude a superar essa ideia. A linha do tempo dos povos africanos insere o erudito ao negro, apaga aquela história de que o negro começou como escravo e não tem nada mais no passado, algo reduzido”, acentua. Para ela, o negro trouxe a cultura lúdica e conhecimento com o divino, algo de filosofia. “Eles chegaram aqui ao Brasil trazendo a sua própria cultura”, resume. A pesquisa mostra que na África nasceu à base da cultura erudita. Elisa coloca que
os gregos foram à África buscar conhecimento e isso enriqueceu a civilização, por volta de 4.500 antes de Cristo. Segundo Elisa, nesse período começa a cultura negra. “Em alguns desenhos mostram o faraó egípcio branco, de uma África do Norte, isso é balela. A África é negra, tem a miscigenação, mas é africano. Se teve a ideia que a embarcação portuguesa veio em nossas terras primeiro, só que não tinham sofisticação nenhuma, os egípcios tinham bem antes embarcações de papiro, algo criado na África”, exalta. Quando abrimos alguns livros de história, se apreende o mundo a partir da Grécia, nos quais os egípcios medem a altura das pirâmides pela sombra delas. O que se percebe uma construção com conhecimento geométrico e matemático. “As pirâmides não surgiram sozinhas, tem toda uma história, se não é tudo anedota”, frisa. O trabalho feito pela Elisa é dividido quadro a quadro, começa em 4.500 anos antes de Cristo e dividido a cada 500 anos, até o século atual. “A linha do tempo impressa ficou com quatro metros e meio de comprimento, e o que conhecemos dos negros, na parte da escravidão tem apenas 29 centímetros. É muito pequeno, isso é achar que o africano sempre foi escravizado, e esquece-se de buscar a história de sabedoria desse povo, em todos os tempos”, explica. “O Buda é negro, os indianos tem origem africana, em 2.000 anos antes de Cristo já tinha escultura negra. Se pensa sempre na história construída por brancos e louros, e não se lembra de Otelo de Shakespeare, que era negro. A própria Luzia, a primeira brasileira tinha o perfil negro”, comenta. Elisa acredita que op ovo asiático não estava sozinho há séculos atrás, a população negra estava presente. “Ocorreu à construção da tecnologia, do progressoe da organização política. A tribo não vive isoladamente, os negros eram impérios maiores do que os romanos. A linha do tempo do africano no mundo é um suprimento didático”, conclui.
DOCUMENTÁRIO
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"Quando cheguei aqui, vinda de Minas Gerais, não havia calçada e nem asfalto, era mato e um grande valão. Tudo melhorou muito, só falta um posto médico que nos atenda quando for preciso", Durvalina Pacheco de Souza, 86 anos
Documentário registra memória das avós da Nova Holanda
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um lindo e calorento fim de tarde de outubro de 2016, o barco segue devagar pelas águas margeadas, de um lado, pela Linha Vermelha, e de outro, pela Ilha do Fundão, enquanto Maria Vitória de Jesus, 74 anos, e Durvalina Pacheco de Souza, 86 anos, avistam não muito longe a terra que escolheram para viver há mais de quatro décadas. Ali, diante de uma plateia reverente, a dupla batizada carinhosamente de "avós da Maré" rememora histórias de seus primeiros momentos na Nova Holanda, quando, não muito raro, as mesmas águas que embalam o passeio daquela tarde invadiam suas casas de madeira. Entre sorrisos e cantorias, Vitória e Durvalina falam do ontem e de hoje, da falta de água potável que era o pior tormento dos primeiros moradores da Maré, dos preconceitos contra os negros, mas também de suas rezas e dos dias melhores que chegaram ao lado de suas famílias na mesma Nova Holanda. Tudo que elas dizem é registrado pela
equipe da Escola de Cinema Olhares da Maré (ECOM). Trata-se do último dia de filmagem do documentário "As griottes da Maré", da qual Vitória e Durvalina são protagonistas ao lado de mais duas senhoras negras como elas - Marta Maria dos Santos Melo, 55 anos, e Maria de Lourdes dos Santos da Silva, 75 anos - que também chegaram na primeira leva de moradores da Maré. O curta metragem é um dos pontos finais de um projeto da Redes da Maré que, ao longo de 2016, celebrou e refletiu sobre a presença negra nas comunidades da região, do passado até os nossos dias, com uma série de debates, encontros, oficinas, seminários e cursos. Oficialmente, o "Heranças negras na Maré" termina no dia 20 de novembro, não por acaso, Dia da Consciência Negra, com atividades que começam dois dias antes, no Centro de Artes da Maré, mas seus frutos e suas histórias não vão parar por aí. "Heranças negras na Maré" é mais uma iniciativa do Núcleo de Memória e Identida-
de da Maré (NUMIM), que está sob os cuidados do diretor da Redes da Maré Edson Diniz e que desde 2010 vem trabalhando intensamente pelo resgate do passado das 16 comunidades que formam a Maré e seus reflexos no presente, envolvendo um grupo considerável de moradores e pesquisadores. Um trabalho em grande parte baseado em registros orais de personagens emblemáticos da região, pessoas que foram vitais e fizeram a diferença nas comunidades em que escolheram viver há décadas. Um projeto de longo prazo, que já gerou dois livros sobre as formações de Nova Holanda, Morro do Timbau e Parque Maré, frutos da coleção "Tecendo Redes de Histórias da Maré", e que agora tem tudo para se espalhar, ainda mais, através das histórias das avós de Nova Holanda, registradas no documentário recém-finalizado. A sala do Núcleo de Memória e Identidade, ao lado da sede da Redes da Maré, já está equipada para receber pesquisadores interessados em entender melhor o passado e o
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Heranças negras na
Maré
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As avós são personagens muito simbólicas do território Maré, onde grande parte da população é negra. São figuras estruturantes de suas famílias, mulheres que, muitas vezes, lideraram ou ainda lideram suas famílias, sustentáculos e referências dentro de suas casas” TEREZA ONÃ presente da Maré, inclusive com os depoimentos de moradores antigos à disposição. Griot é o nome dado por africanos às pessoas que contam histórias ou cantam músicas, preservando de forma oral as tradições de seus povos. As protagonistas do filme "As griottes da Maré" são mulheres que chegaram à Nova Holanda ainda nos anos 1970, sem saber se sequer ficariam por lá. Passados os anos, elas continuam morando ali, compartilhando o dia a dia com filhos, netos, bisnetos e até tataranetos, como é o caso de Durvalina, que se orgulha de ter 4 filhos (o quinto já faleceu), 19 netos, 31 bisnetos e 3 tataranetos. Aos 86 anos e ainda na ativa como costureira, a única reclamação de Durvalina é justamente a falta de assistência médica 24 horas na Maré: "Quando cheguei aqui, vinda de Minas Gerais, não havia calçada e nem asfalto, era mato e um grande valão. Tudo melhorou muito, só falta um posto médico que nos atenda quando for preciso", diz ela. Já Vitória chegou à Nova Holanda com três filhos pequenos e uma na barriga, vinda do Morro da Catacumba, na Lagoa, de
onde foi removida com outros moradores, numa das muitas remoções de favelas da Zona Sul carioca entre os anos 1960 e 1970. A princípio, seria apenas uma passagem pela Maré, mas ela acabou ficando: "Era para irmos para a Cidade de Deus, mas achei muito longe e consegui trocar minha ficha para Manguinhos. No meio tempo, como já estávamos na Nova Holanda, acabamos ficando. Aqui as casas eram de madeira, germinadas. Aos poucos, fomos trocando a madeira por alvenaria, fazendo um cômodo por vez", lembra Vitória, que na maior parte da vida trabalhou como doméstica mas hoje está aposentada. Essas e muitas outras lembranças da Maré de outros tempos embalaram encontros regulares das avós da Nova Holanda durante os últimos meses, na sala do Núcleo de Memória e Identidade. "O chá com as avós" foi um dos carros-chefes do "Heranças negras na Maré", iniciativa coordenada por Tereza Onã, que saiu do papel após ter sido contemplada em edital da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, e contou com o apoio fundamental de parceiros como Galpão Bela Maré, Observatório de Favelas, Anistia Internacional, Projeto Afrobetizar e ONG Luta pela Paz. Tereza esteve à frente de uma equipe da qual também fizeram parte os pesquisadores Thais de Jesus, Higor Antônio e Henrique Gomes. "As avós são personagens muito simbólicas do território Maré, onde grande parte da população é negra. São figuras estruturantes de suas famílias, mulheres que, muitas vezes, lideraram ou ainda lideram suas famílias, sustentáculos e referências dentro de suas casas. Como nossa proposta maior no projeto é discutir o afrocentrismo, ou seja, mostrar o negro como sujeito da História, nada melhor Momento da gravação dos depoimentos das avós Durvalina e Maria Vitória pela equipe da Escola de Cinema Olhares da Maré
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do que escutar as avós negras falarem, contarem suas histórias, como estivessem contando suas lembranças para os netos", diz Tereza. "Uma cidade democrática, sem racismo e preconceito, tem que mostrar a contribuição da cultura negra, ressaltando sua importância para a construção da identidade local." Nos últimos meses, a programação do "Heranças negras na Maré" foi intensa e envolveu participantes de outros projetos da Redes da Maré. Houve uma série de oficinas de confecção de bonecas abayomi – bonecas negras artesanais feitas com pano – com professores da Espaço de Desenvolvimento Infantil Cleia Santos de Oliveira, participantes do projeto Maré de Sabores, alunos do Preparatório para o Ensino Médio e moradores da chamada Cena de Crack da Rua Flávia Farnese, que já são acompanhados regularmente por uma equipe multidisciplinar da Redes. Houve ainda um seminário sobre machismo e igualdade, em 26 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, no Centro de Artes da Maré, que reuniu, entre outros, a jornalista Flávia Oliveira, a lutadora de artes marciais Tamires e Bieta DJ. "A maior beleza do 'Heranças negras na Maré' é que está misturando pessoas de diferentes projetos, se espalhando e mostrando o que não está nos livros didáticos. Infelizmente, só vemos os negros nos livros apanhando como escravos e em datas como 13 de maio e 20 de novembro, Dia de Zumbi dos Palmares. As oficinas de abayomi, por exemplo, revisitam uma tradição dos navios negreiros, onde as mães, para distrair seus filhos naquele inferno, começaram a fazer bonecas com pedaços de panos arrancados de suas próprias roupas", completa Tereza.
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DISCRIMINAÇÃO
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Racismo e desigualdade no Brasil Como a discriminação da população negra historicamente enraizada no modelo socioeconômico impede a redução da desigualdade
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trabalho social sempre mobilizou a mineira Helena Edir Vicente pela melhoria da qualidade de vida na comunidade onde vive e contra as
desigualdades. Ainda jovem atuava nos segmentos organizados da Igreja Católica, na cidade natal, Conselheiro Lafayete, uma das mais antigas do estado, a cerca de 100 km
de Belo Horizonte. Ela veio para o Rio de Janeiro, aos 20 anos, em 1970. E em 1974 passou a residir na Nova Holanda, na Maré, por ficar mais perto da empresa onde trabalha-
gra ocupar um cargo de direção de uma Edir Vicente, Diretora da Redes da Maré
Ninguém está acostumado a ver uma mulher negra ocupar um cargo de direção de uma instituição” HELENA EDIR VICENTE, diretora da redes da maré
va, em São Cristóvão. Era um tempo difícil, não tinha água, a luz elétrica era precária e Helena não correu da luta. Hoje Helena Edir integra a direção da Redes da Maré e não se furta a contar histórias e episódios que viveu por ser uma mulher negra. “Uma vez um rapaz, que não me conhecia, deixou o copinho de café cair no chão e eu estava chegando na sala naquela hora. Ele olhou para mim e disse: vá buscar um pano de chão para limpar essa sujeira. E eu respondi: tem pano na copa. Você pode ir pegar para limpar. Sabe o que é? Ninguém está acostumado a ver uma mulher negra ocupar um cargo de direção de uma instituição”. De fato, pesquisadores têm mostrado que o senso comum no Brasil, a partir de papeis definidos e estratificados no sistema socioeconômico nacional, se espanta ao encontrar mulheres negras no comando de uma empresa ou instituição, como se espanta também ao encontrar homens brancos que estejam na condição de trabalhadores domésticos ou diaristas. E estudos feitos regularmente pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Dieese, reforçam que Helena Edir tem razão. As negras e negros têm os empregos mais
precários e os menores salários. E num momento de crise, como agora, são ainda os mais atingidos pelo desemprego. A Organização das Nações Unidas, a ONU, atesta que entre 94 e 2014 o Brasil tomou iniciativas para reduzir as desigualdades sociais e raciais, mas declara que o país fracassou na tentativa de mudar a realidade de discriminação contra a população negra. Em seu relatório sobre Direito de Minoria, concluído ainda no primeiro semestre deste ano, diz que “lamentavelmente, a pobreza continua tendo cor”: das cerca de 16 milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza no país, mais de 70% delas são “afro-brasileiros”. E os salários médios dos negros são mais de duas vezes mais baixos. Mesmo com projetos como Bolsa Família, “a desigualdade continuou”. Para os pesquisadores da ONU, o mito da democracia racial, que, durante muito tempo, levou ao entendimento de que “marginalização da população negra” era apenas uma questão de classe, impediu o enfrentamento de questões como o preconceito contra o afro-brasileiro. Para o economista e Coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser) da UFRJ, autor de obras importantes como “500 anos de solidão: Ensaio sobre as desigualdades raciais no Brasil”, Marcelo Paixão, o racismo neste
64% dos jovens negros não completam o ensino fundamental
77% de jovens e adolescentes, de 15 a 29 anos, assassinados no Brasil são negros
país tem caráter estrutural: “A marca racial das pessoas é uma variável decisiva no processo de classificação social. Ou seja, as pessoas são constantemente valorizadas, ou desvalorizadas, de acordo com a cor de sua pele, tipo de cabelo e traços faciais que revelem sua ancestralidade. Isto vale para o acesso aos mecanismos de mobilidade social e aos direitos sociais coletivos. Por exemplo, para pessoas socialmente identificadas como negras (os pretos e os pardos, tal classificados pelo IBGE) a taxa de desemprego costuma ser maior e a remuneração no trabalho costuma ser pior que o das pessoas brancas. Em grande medida estas dimensões dialogam com os diferentes ciclos de desvantagens que aquelas pessoas vão acumulando ao longo de suas vidas. Finalmente, considerando o peso relativo dos negros na população brasileira, 52%, tais processos acabam impactando nossa pirâmide social e o formato assumido pelas desigualdades sociais no país. Estes são alguns dos motivos que me fazem apontar que as desigualdades raciais são estruturantes das assimetrias sociais”, afirma Marcelo. A afirmação do Coordenador do Laeser da UFRJ remete luz sobre a discriminação enraizada e pobreza que pesam sobre a população negra brasileira que se revelam em estatísticas repetitivas e detentoras de um certo cinismo histórico:
15%
apenas
dos juízes brasileiros são negros
apenas
8%
dos deputados na Câmara Federal são negros
“A marca racial das pessoas é uma variável decisiva no processo de classificação social. As pessoas são constantemente valorizadas, ou desvalorizadas, de acordo com a cor de sua pele, tipo de cabelo e traços faciais que revelem sua ancestralidade”, Marcelo Paixão, Coordenador do Laeser da UFRJ
O recente sistema de cotas raciais, adotado por universidades federais e diversos concursos em redes públicas de ensino, aumentou o número de estudantes negros na educação superior e em escolas de excelência. Mais ainda é insuficiente e precisa ser expandido para outras áreas, como o Judiciário, por exemplo. “As políticas de ação afirmativa têm seu fundamento no tratamento desigual a pessoas desiguais visando justamente a redução destas desigualdades em termos sociais, econômicos e políticos. Elas podem ser adotadas pelo setor público e privado. E onde foram adotadas acabaram tendo um impacto positivo em termos das reduções das desigualdades de gênero e racial. Portanto, as ações afirmativas, somadas a outras medidas visando a redução das desigualdades e das injustiças sociais, são instrumentos valiosos no sentido da construção de uma nova sociedade fundada em valores mais fraternos e igualitários”, conclui o economista Marcelo Paixão.
ARTIGO
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EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016
TRABALHO
EDIÇÃO 68 | AGOSTO 2016
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Dia de conhecer a história e reverenciar tradição e cultura
Mulher negra ainda é mais discriminada no trabalho
FLÁVIA OLIVEIRA
Homens brancos ganham mais que mulheres brancas, mulheres brancas ganham mais que homens negros. E mulheres negras ganham menos que todos.
F
oi Abdias Nascimento, líder negro brasileiro mais importante do século XXI, morto em 2011, o ícone da luta para o Brasil instituir o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. O que para tantos não passaria de uma data a mais no inchado calendário de memórias nacionais, para o escritor, artista plástico, teatrólogo, professor, político e ativista, era a possibilidade de o país tomar conhecimento e reverenciar a resistência dos negros à escravidão. Foi assim que o dia morte de Zumbi dos Palmares, 321 anos atrás, tornou-se contraponto à História oficial, que apresenta a abolição como concessão da Princesa Isabel aos africanos escravizados e festeja o 13 de maio de 1888. Palmares – hoje parte de União dos Palmares, município da Zona da Mata de Alagoas – foi o maior, mais duradouro e mais organizado quilombo já implantado nas Américas. Durou um século, até 1694, e chegou a ter 30 mil habitantes. Hoje, na área quilombola remanescente vivem menos de duas dezenas de famílias. Zumbi tornou-se formalmente herói nacional em 1997. Dez anos depois, foi inaugurado o memorial que reproduz em tamanho real edificações do antigo quilombo e homenageia, além dele, Aqualtune, Gamba-Zumba e Dandara, líderes igualmente importantes do território. Todo ano, no dia 20 de novembro, grupos de religiosos de matriz africana, capoeiristas, militantes e turistas sobem a Serra da Barriga para, a 500 metros de altitude, festejar orixás, ancestrais, tradição e cultura afro-brasileiras. Nos bancos escolares, o país trata superficialmente do legado dos africanos trazidos à força do continente natal. É reflexo do modelo de colonização ancorado na depreciação dos outros povos, indígenas inclusive, pelos portugue-
O feriado de Zumbi deve servir às reflexões sobre a atuação dos negros pela liberdade”
THAMYRA THÂMARA
C
FLÁVIA OLIVEIRA
ses. Sem a data comemorativa, saberíamos ainda menos sobre a contribuição dos negros na economia, na cultura, na fé, na língua, nos hábitos, na formação da nação. Os Estados Unidos transformaram em feriado a data de nascimento do reverendo e ativista Martin Luther King Jr., assassinado em 1968. Desde os anos 1980, o país para toda terceira segunda-feira de janeiro em homenagem ao líder do movimento pelos direitos civis dos negros. Cinco anos atrás, em Nova York, assisti a uma cerimônia gospel em que o pastor dedicou parte do discurso à importância da data. Ele lembrava aos fiéis que o feriado próximo não deveria ser desperdiçado com churrascos e compras, mas aproveitado como
momento de reflexão em família sobre as conquistas obtidas e os desafios que ainda espreitam a comunidade negra americana. A recomendação se adequa perfeitamente ao 20 de novembro no Brasil. O feriado de Zumbi deve servir às reflexões sobre a atuação dos negros pela liberdade, ao debate sobre a importância dos africanos na construção do país e à celebração da identidade racial. Mais de um século após o fim da escravidão, os negros ainda estão em desvantagem nos indicadores de renda, educação, saúde, trabalho, habitação, pobreza. Fundamental é não perder de vista o quanto ainda será necessário caminhar para tornar real a igualdade plena entre os brasileiros de todas as cores.
ento e dezoito anos após a abolição da escravatura no Brasil, os negros e negras ainda continuam discriminados na sociedade. Eles têm mais dificuldades de ingresso ao mercado de trabalho, sofrem com as oportunidades desiguais em relação aos brancos, dificilmente chegando a cargos de chefia e de destaque nas empresas. Mais da metade dessa população ainda está nas atividades informais. No mercado de trabalho, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014 aponta a permanência de grandes desigualdades de gênero e raça no Brasil, atingindo especialmente as mulheres negras. O aumento do desemprego impactou mais profundamente o grupo de mulheres e homens negros do que os brancos. Assim, homens e mulheres que se declaram negros representam 60,3% de todo o aumento de desemprego gerado entre 2013 e 2014. Em 2014, o Brasil possuía 2,4 milhões de mulheres negras desempregadas e 1,2 milhão de homens brancos na mesma situação. Apenas 31,3% das mulheres negras ocupadas com 16 anos ou mais, em 2014, possuíam carteira assinada, taxa muito inferior ao percentual de homens, na mesma situação, uma década antes. Os homens brancos ainda recebem rendimentos 60% superiores aos das mulheres negras. Nos cargos diretivos, apenas 10,8% delas ocupam estes
cargos. “Há décadas a mulher negra vem sendo apontada como aquela que experimenta a maior precariedade no mercado de trabalho brasileiro”, afirma a Coordenadora do Centro de Estudos das Relações do trabalho e Desigualdade – CEERT, Cida Bento. As mulheres negras são ainda mais discriminadas por questões étnicas e de gênero. Larissa Neves, estudante de psicologia, conta que quando tinha 18 anos conseguiu emprego como recepcionista numa empresa multinacional, mas acabou tendo que sair por não aguentar mais ataques e piadas preconceituosas por ser negra. “Na época eu estava começando meu processo de transição, tinha parado de relaxar o cabelo e cortei ele bem curtinho. Quando ele começou a crescer começaram a dizer que minha aparência não era compatível com o trabalho, me questionaram se eu não iria relaxar o cabelo. Até que um dia eu estava na sala e começaram, além de fazer piada, a colocar objetos do escritório na minha cabeça”.
Histórias como essas acontecem todos os dias e é preciso denunciar. Atos de discriminação por raça e cor são considerados crimes no Brasil, desde 1989. Pela lei, está sujeito à pena de dois a cinco anos de prisão quem, por discriminação de raça, cor ou religião, impedir pessoas habilitadas de assumir cargos no serviço público ou se recusar a contratar trabalhadores em empresas privadas. Existem muitas formas de denunciar. É possível prestar queixa nas delegacias comuns e nas especializadas em crimes raciais como a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi-RJ). Por outro lado, estudo publicado pelo IBGE mostra que, nos últimos 10 anos, quase triplicou o percentual de negros e negras no Ensino Superior, devido a políticas afirmativas como as cotas para negros na universidade. Entretanto, segundo Cida Bento, negras e negros, continuam pressionando o mercado de trabalho em busca de inserção. E nos meios digitais, Cida denuncia: “nas grandes corporações, por exemplo, já não têm muitas mulheres, mas negras não têm. Nos comitês de diversidade dessas corporações não tem mulher negra, não tem representação. Isso coloca muitos conceitos em xeque, porque as mulheres negras não avançam em sua agenda de forma alguma”, finaliza.
Mulheres negras e o trabalho Desemprego em
2014
2.4
Milhões
10,8% 31,3% Ocupam cargos diretivos
trabalham com carteira assinada
RELIGIÃO
EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016
A luta contra a intolerância religiosa As crianças de candomblé, da umbanda são obrigadas a ler trechos da bíblia e quando revelam que são de religião de matriz africana são perseguidas, não podem estar com seus colares. A escola pública não pode ensinar religião. Tem que ser laica” BABALAÔ IVANIR DOS SANTOS
Os grupos mais atingidos pela intolerância religiosa são os de matriz africana
T
odos os anos, num final de semana de setembro, a orla de Copacabana é tomada por milhares de pessoas de todos os credos, de todas as religiões, candomblecistas, umbandistas, católicos, judeus, muçulmanos, wiccanos, budistas, kardecistas, seguidores do santo daime, hare krishnas, evangélicos, ciganos, ateus e agnósticos. Elas se reúnem para participar do que já ficou consagrado como a “Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa”. A iniciativa foi do Babalaô Ivanir dos Santos, de 61 anos, um destacado militante da defesa dos direitos da população negra e contra a discriminação racial. A caminhada, que este ano teve a sua nona edição, é uma resposta ao crescente número de casos de intolerância religiosa, no Rio de Janeiro e no Brasil. Especialistas dizem que os dados coletados no país sobre intolerância religiosa são de dez fontes e não dialogam. Isso deixa claro que não há uma base nacional de informações sobre a intolerância e que muitos casos não chegam à opinião pública. Só no Disque 100, principal canal de ouvidoria de denúncia de violações dos Direitos Humanos, mantido pelo Governo Federal, o número de caso pulou de 15, em
2011, quando o serviço incluiu o atendimento às vítimas de intolerância, para 556, em 2015. No Rio de Janeiro, nos últimos 4 anos, cerca de 70% dos casos de intolerância religiosa foram contra as religiões de matriz africana, segundo o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos do governo do estado, que é responsável pelo atendimento às vítimas. “Aqui no estado o número de casos não tem diminuído, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa e a própria caminhada têm contribuído para fique tudo mais explícito, cresceu muito a reação à intolerância, aumentaram as denúncias nas delegacias, mas a perseguição às religiões de matriz africana continua”, ressalta Ivanir. Para o Babalaô, a situação nas escolas públicas é muito preocupante. Muitas vezes o agressor é o próprio professor. “As crianças de candomblé, da umbanda são obrigadas a ler trechos da bíblia e quando revelam que são de religião de matriz africana são perseguidas, não podem estar com seus colares. A escola pública não pode ensinar religião. Tem que ser laica. É para ensinar cultura, conhecimento, filosofia”, defende Ivanir. Ivanir levanta uma questão que também é contestada por educadores e pesquisadores em textos
acadêmicos ou em revistas especializadas em educação. A doutora em Educação, Stela Guedes Caputo, autora do livro “Educação nos Terreiros”, pondera que se a Constituição Brasileira é laica, ou seja, não estabelece nenhuma religião oficial e garante a liberdade de culto,“como pode estabelecer o ensino religioso nas escolas públicas?” Educadores ainda atentam para outros questionamentos que podem ser feitos a partir dessa visível contradição da Constituição de 1988. O ensino religioso para os estudantes é facultativo. Mas a escola pública brasileira não é obrigada a oferecer outras atividades pedagógicas àqueles alunos que não querem assistir às aulas de religião. Isso não impede a implantação de um programa de ensino religioso?Como garantir que um professor de religião não imponha a sua crença a seus alunos? Ou então agir com preconceito contra aqueles que não o seguem? Uma outra questão é a diversidade religiosa. Como contemplar todos os grupos com um programa de ensino religioso? Os questionamentos de educadores, pesquisadores, professores e religiosos ao ensino de religião na escola pública são os mais diversos. Para o líder do movimento, que surgiu no Rio de Janeiro em 2008 e leva todos os anos milhares de pessoas a caminhar do Posto 6 de Copacabana ao Leme, em defesa da liberdade religiosa, o babalaô Ivanir dos Santos, o que se reivindica é ensino público laico e de qualidade e um Plano Nacional de Combate à Intolerância.
INFÂNCIA
EDIÇÃO 71 | NOVEMBRO 2016
Discriminação na infância e adolescência
N
o Brasil, 54% das crianças são negras e indígenas, segundo o IBGE. A mesma pesquisa mostra que em cada grupo de 100 crianças brancas, 37 vivem em condições de pobreza, enquanto que entre crianças negras e pardas, em cada 100, 61 vivem nessas condições. Uma outra pesquisa, feita pelo Unicef em parceria com o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência da UERJ, revela que o número de negros e pardos com idade até 19 anos assassinados é 3 vezes maior do que o de brancos com as mesmas idades. O estado que tem a maior população negra no país é a Bahia. De lá, o Maré de Notícias ouviu a Coordenadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef – para Bahia e Sergipe, Helena Oliveira. Abaixo, a opinião da especialista, a partir de tópicos distintos.
pos. Ao vivenciar esse cotidiano de desigualdade, a criança tem a percepção de que negros, brancos e indígenas ocupam lugares diferentes na sociedade. Por isso, torna-se fundamental uma ação que desconstrua essa percepção, contribuindo dessa forma para mudar a realidade. É fundamental que todos se beneficiem, igualmente, dos progressos alcançados.
Entrevista a Hélio Euclides
A pobreza
Desigualdade O Brasil alcançou progressos significativos na melhoria da vida de suas crianças nas últimas décadas. Contudo, isso ainda não está acontecendo para todas as crianças, especialmente quando observamos situação de meninos e meninas indígenas, negras e as crianças quilombolas. Um modelo de desenvolvimento que faz o enfrentamento à pobreza, porém acirra as desigualdades entre gru-
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DIVULGAÇÃO UNICEF
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Preconceito na vida infantil O racismo causa efeitos na vida de toda e qualquer criança ou adolescente. Estudos na área de educação infantil revelam que, ainda na pequena infância, a criança já percebe diferenças na aparência das pessoas, cor de pele, por exemplo. A responsabilidade dos adultos é muito importante, neste momento, evitando explicações ou orientações preconceituosas.
Pobreza não é o maior problema, mas sim a desigualdade acentuada por uma cultura do racismo nas relações entre os diferentes grupos. Sejam eles homens e mulheres, homo e heterossexuais, pretos e brancos, indígenas, judeus, entre outros. Nós adultos temos uma responsabilidade com o que dissemos e reproduzimos para as nossas crianças. Crianças não nascem racistas. Elas tão somente reproduzem o que lhes é ensinado ou visto como comum e naturalizado.
Violência contra adolescentes Dentre a mais trágica face das violações de direitos estão os homicídios sistemáticos de adolescentes. Apenas em 2013, mais de 10 mil adolescentes foram assassinados. Além disso, na maior parte dos casos, não se conhecem os autores desses crimes, porque falta investigação, o que gera um ciclo de impunidade que alimenta uma onda crescente de violência. O que observamos é o número de mortes de adolescentes e jovens, um dos maiores do mundo, ultrapassando inclusive as estatísticas de países em situação de guerra e conflitos armados.
Políticas públicas Nas últimas décadas, o Brasil avançou na garantia dos direitos de meninos e meninas. Muitas políticas e programas universais foram e têm sido implementados demostrando melhoria na média
dos indicadores de saúde, educação e assistência. Para se ter uma ideia, em 1991, a maioria dos municípios do País (85%) estava no nível “muito baixo” do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) – que analisa indicadores de saúde, educação e renda. Passados mais de 20 anos, apenas 0,6% dos municípios se mantêm nessa faixa e mais de 70% já apresentam um IDHM médio ou alto (1). No entanto, há ainda importantes desafios a superar para que os direitos de crianças e adolescentes brasileiros, especialmente os mais vulneráveis, sejam de fato garantidos. Nas últimas duas décadas, todos os indicadores relacionados à educação avançaram no País, que está próximo de assegurar 100% das crianças no ensino fundamental. No entanto, ainda existem mais de 3 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola e 75,4% dos meninos e meninas de até 3 anos fora da creche.
DICAS CULTURAIS
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Mulheres ao Vento Oficinas de danças combinadas com temas como feminismo, gênero, sexualidade, diversidade e racismo, inspiradas em Oya, um orixá, que, segundo a mitologia Yorubá, é uma deidade (dinvidade) que comanda os raios e os ventos. É o que propõe o projeto Mulheres ao Vento. São duas turmas compostas exclusivamente por mulheres, uma delas na faixa etária de 15 a 29 anos e outra com idade acima dos 30 anos. Não foi exigido experiência prévia de dança! Ao longo de 4 meses, os grupos vêm experimentando diferentes ritmos das danças populares brasileiras, como o samba e jongo, além de dialogar com a dança contemporânea. A ideia é poder compartilhar o processo
de criação de movimentos que são estimulados e vivenciados junto com as professoras Andreza Jorge e Simone Alves, ambas formadas em Licenciatura em Dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e com muita afinidade com os temas discutidos. As turmas, com 15 alunas cada, realizam um encontro semanal com duração de duas horas, um grupo trabalha no Centro da Maré e outro na sala de dança da Redes da Maré. As participantes contam ainda com uma ajuda de custo e ao final do período vão apresentar o resultado das experiências construídas coletivamente. A apresentação de encerramento será no sábado, 3 de dezembro, no
PROGRAMAÇÃO
OFICINAS
18 de novembro, a partir das 17h
PROJETO NENHUM A MENOS
MOSTRA MARÉ SEM FRONTEIRAS Exposição dos trabalhos das oficinas do Maré Sem Fronteiras. Azulejaria, Teatro Cia Marginal, Oficina de fotografia Mão na Lata e Oficina Livre de Bike. local:
Centro de Artes da Maré Rua Bitencourt Sampaio, 181 - Maré Rio de Janeiro - RJ, 21044-040
Alfabetização e Letramento, Música e Jogos Educativos horário: De Segunda à Sexta-feira de 15h às 18h local: Biblioteca Popular da Maré Jorge Amado (Lona da Maré) faixa etária: 06 à 14 anos
OFICINA DE DANÇA HIP HOP horário: Terça-feira
de 19h às 20h30 local: Lona Cultural da Maré
OFICINA LIVRE DE BIKE (MARÉ SEM FRONTEIRAS) Quartas-feiras de 14h às 17h local: Lona Cultural da Maré
10 de dezembro, a partir das 10h
OFICINA DE DANÇA STILETTO
FESTA DE ENCERRAMENTO LONA DA MARÉ 2016
horário:
Música, gincanas, oficinas, graffiti, teatro, atividades e apresentações circenses.
(MARÉ SOBRE SALTOS)
Sábado de 12h às 15h local: Lona Cultural da Maré
OFICINA DE VERÃO:
OFICINA DE STENCIL COM NATA FAMÍLIA data:
de 28 de novembro à 09 de dezembro Segunda à sexta-feira, de 14h às 18h classificação: a partir de 12 anos horário:
inscrições na secretaria da lona cultural da maré
Centro de Artes da Maré, um evento voltado para os temas relacionados à africanidade e feminismo, com mesa de debate, performance, exposição fotográfica e muita música.
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Meu black é lindo sim THAMYRA THÂMARA
É
Turma do “Mulheres ao Vento”, em atividade
BELEZA
comum vermos nos últimos anos nas redes sociais depoimentos de jovens negros e negras que estão cansados de serem discriminados por suas características físicas quando andam na rua, quando fazem uma entrevista de emprego ou quando passeiam no shopping. Jovens negros e negras que vem recriando suas próprias definições de bele-
za, usando cabelo crespo para cima, tranças, turbantes coloridos e roupas de estampas afros cada vez mais fazendo referência à estética afro-brasileira. No facebook estão histórias de meninas e mulheres sobre seus processos de transição de cabelo alisado para cabelo natural. Histórias que se multiplicam e inspiram tantas outras. E não foi diferente para Larissa Neves, 22 anos, que há quatro anos usa o cabelo natural e para Raissa Teixeira, 18 anos, que há dois anos também aderiu ao modelo.
Dias 19 e 20/nov às 18h • Espetáculo com a Pulsar Cia Dança, formada por bailarinos portadores e não portadores de deficiência, tem como objetivo causar no espectador um olhar diferenciado em relação à multiplicidade dos indivíduos a partir da estética da dança.
Larissa Neves
De 28/11 a 03/12 • Exposição "Outros Registros" em parceria com Lab Criativo: uma instalação sonora que aborda criticamente o impacto da violência policial em nossa cidade.
03/12 • Encerramento do projeto Mulheres Ao Vento, com apresentação de dança e debates sobre temas relacionados a africanidade e feminismo.
10/12 • Apresentação dos espetáculos de encerramento do Programa Teatro em Comunidades.
Raissa Teixeira Eu antes não me enxergava como negra, eu sempre me reconheci como moreninha, mulata, marrom bombom. Fui me assumir negra já com uns quatro meses de cabelo natural. Alguém escreveu que não dá para enfrentar o racismo quando você ainda odeia o seu cabelo crespo e sua pele negra. O racismo nos convence ao auto ódio e passamos a odiar nós mesmas e nossos semelhantes, por sermos diferentes dos padrões estéticos estabelecidos pela sociedade. Alisamos os cabelos na tentativa de sermos aceitos. É importante aceitarmos nossas belezas e entendermos que não somos nós negras e negros que precisamos mudar para sermos aceitos. A cultura é que precisa mudar e nos respeitar!
Meu cabelo sempre foi muito volumoso e isso me incomodava de uma tal forma... Era um saco ouvir o tempo inteiro que eu parecia um leão. Eu só saía com ele preso. Uma vez, minha tia estava fazendo escova no cabelo da minha prima e quis fazer também. Passei tanto tempo sentada na cadeira e no final o meu cabelo ficou tão horrível, que decidi não alisar mais por todo o trabalho que daria. Ainda que fizesse escova todos os dias, nunca ficaria o "liso perfeito". Então, era melhor ficar com o meu cabelo sempre preso mesmo. Sempre passei químicas e mais químicas no cabelo para tirar o volume dele. E, então, de tantas químicas diferentes começou a cair e ficar laranja (com a uma química muito forte). Eu cortava, passava química de novo, e de novo, de novo... Um dia pensei: "chega! não quero mais usar nada no meu cabelo". Obviamente, essa decisão não veio assim do nada, né? Na época, conheci duas pessoas que me fizeram conhecer mais outras pessoas. No final, todas essas pessoas, sem me dizer nada, apenas sendo quem elas são e tendo o cabelo que tem, serviram de espelho para mim. A tão famosa referência. Lembro que pensava "como fulana tem coragem de sair com esse cabelo?(...) se ela pode, eu também posso" - Pronto! Eu respirei fundo e disse "corta tudo!". Fiquei com o cabelo "joãozinho" (como chamamos aqui quando se corta o cabelo bem curtinho).
ESPAÇO ABERTO
No mundo No mundo da música da música
3 anos 3 anos
Júlio Nome
Guitarra Instrumento
1 ano Tempo
Mário Júlio
Piano Guitarra
31anos ano
Ricardo Mário
Bateria Piano
anos 32 anos
Ricardo
Bateria
2 anos
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Solução Solução
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Tempo Nome
1 ano Mário Ricardo Júlio
S N N N S N N N
N N N S N N N S
N N S N N N S N
Piano
Júlio
1 ano Tempo 1 ano
Nome
Piano
2 anos
Bateria Bateria
1 ano
3 anos
Guitarra Guitarra
2 anos
Mário
Nome Nome
2 anos 2 anos
Tempo
3 anos
Tempo
Instrumento
Tempo
Instrumento
A partir da edição de dezembro, O Maré de Notícias vai ter uma nova coluna, chamada “Somos da Maré, Temos Direitos”, destinada a responder perguntas dos moradores da Maré, que tiverem dúvidas sobre o que é legal e ilegal nos procedimentos e abordagens policiais. Se você tem alguma dúvida nesse sentido, envie já a sua questão para o endereço redes@redesdamare.org.br.
1 ano 1 ano
Instrumento
Tempo
NOVA COLUNA
Piano Piano
3 anos Nome
2 anos Ricardo 3 1 anos ano
Tempo Tempo
2 3 anos
N N S N N N S N N N S N N N S
três anos.
1 2 ano anos
S N N N S N S N N N N S N N N
tocando seu o que ganha instrumento tocando seu há três anos. instrumento há
Ricardo 1 ano
N N N S N N N S N S N N N S N
O cadeirante tem sempre dificultada a mobilidade, não é fácil chegar ao médico, escola, ou área de lazer, a vida não é plena. Existe sempre uma dependência de alguém da família, o que afeta até a renda. O deficiente muitas vezes fica preso a algum espaço, longe das ruas, é difícil até chegar a Bonsucesso. Não é a deficiência que o isola, é a cidade que o restringe de viver. Ela é cidade maravilhosa para quem? Uma coisa simples que é ir ao banheiro, se torna um problema. Desejo oportunidade para todos.
que ganha Mário vive com 3. o
Mário Ricardo
Guitarra
Bira Carvalho, morador da Nova Holanda, fotógrafo e cadeirante.
3. Mário anos. vive com
Júlio Mário
Instrumento
por:
bateria dois trabalhahá tocando anos. bateria há dois
N S N N N S N N N
2 anos Nome 3 anos Júlio
DIFICULDADES DIÁRIAS DE UM CADEIRANTE
tocando Um dos homens 2. trabalha
Júlio
Tempo
3 anos Tempo 2 anos 1 ano
CARTAS DO LEITOR
profissionalmente. toca guitarra 1. Júlio dos homens 2. Um profissionalmente.
Instrumento
3 anos
1. Júlio toca guitarra
Tempo
Guitarra Guitarra
custa da música.
Instrumento
Bateria Bateria
Júlio e outros dois homens estão pordois trabalhar com Júliofelizes e outros homens eso que mais gostam: a música. tão felizes por trabalhar com Cada homem tocaaum inso que mais gostam: música. trumento diferente. A partir Cada homem toca um insdas dicas adiferente. seguir, descubra trumento A partir o nome cada homem, o das dicasde a seguir, descubra instrumento que toca e há o nome de cada homem, o quanto tempoque estátoca vivendo à instrumento e há custa da música. quanto tempo está vivendo à
Piano Instrumento Bateria Guitarra
Após atravessar o atlântico, Cabral Viu alguém falar de vegetais rentáveis, E logo os “Lusos” empilham as árvores Elevando assim a economia de Portugal. Em seguida veio a extração mineral, Marcando a “História” com crimes incontáveis Mas deu aos britânicos milhões de vantagens Pelo apoio militar a família real. Adentrando as selvas dos índios nativos, Os lusos chicoteiam os negros cativos Dando aos açoites uma desculpa qualquer. Eis da história o descolorido prefácio, Até que sob a batuta de Bonifácio, Pedro ecoa no Ipiranga seu grito de fé.
Mário Nome Ricardo Júlio
S.M.
2 anos
por:
complete com N (não) os quadrinhos restantes (veja o exemplo). Para isso, use sempre a lógica, Resolva o passatempo, preenchendo o quadro. Coloque S (sim) em todas as afirmações e a partir das dicas. complete com N (não) os quadrinhos restantes (veja o exemplo). Para isso, use sempre a lógica, a partir das dicas.
Piano
COLONIZAÇÃO (LUSA)
Resolva o passatempo, preenchendo o quadro. Coloque S (sim) todas asCOQUETEL afirmações e www.coquetel.com.br © em Revistas
Bateria
POESIA
nicacao @redes damare .org.br
PROBLEMAS DE LÓGICA www.coquetel.com.br © Revistas COQUETEL PROBLEMAS DE LÓGICA
Mário
ENVIE SUA PO ESIA , FOTO, R ECEITA OU PIA DA. ESS E ESPAÇO É SEU! comu
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Ricardo
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