Maré de Notícias #70

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ANO VI. OUTUBRO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO. ELISÂNGELA LEITE

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A cidade para as crianças Uma cidade que garanta o crescimento saudável das crianças e que as ruas sejam locais de brincadeiras e encontros, onde seja possível caminhar descalço. Uma cidade que proteja quem anda de bicicleta e tenha em suas praças o convívio comunitário. Uma cidade em que os bairros garantam as necessidades de seus moradores. Esse ideal de lugar é proposto pelo arquiteto e urbanista Pedro Rivera, que lista dez passos para que uma cidade siga em direção às crianças. PÁGINAS 8 E 9

Biblioteca Lima Barreto: espaço para estudos

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Saneamento é prioridade em Marcílio Dias PÁGINA 12

Pesquisa: usuários de crack mantêm vínculos familiares PÁGINA 3

A trajetória de um campeão paraolímpico Morador da Nova Holanda, na Maré, Felipe de Souza Gomes, de 30 anos, teve o melhor desempenho nas disputas de atletismo nas Paraolimpíadas, do Rio de Janeiro 2016, entre os esportistas com deficiência visual. Foram quatro medalhas, três de prata e uma de ouro. PÁGINA 6

Criada em 2005, a Biblioteca Popular Lima Barreto, na Nova Holanda, oferece atividades variadas para crianças e adolescentes e espaço de estudos para adultos. Na parte infantil, as crianças são recebidas por dinamizadoras e contadoras de histórias. Na sala de adultos, há um acervo de livros didáticos e serviços de empréstimo de livros, CDs e DVDs. PÁGINA 10 ELISÂNGELA LEITE

WHASHINGTON ALVES

Proliferação de pombos preocupa moradores da Maré


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EDIÇÃO 70 | OUTUBRO 2016

EDITORIAL

humor | André de Lucena

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mês de outubro, tradicionalmente consagrado às crianças, e o Maré de Notícias não poderia deixar passar em branco essa data. Nesta edição, lembramos que os direitos de crianças e adolescentes ainda não estão consolidados no Brasil, gritantes que são as desigualdades sociais. O país já construiu uma legislação considerada modelo, o Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, mas ainda faltam políticas públicas eficientes que promovam iguais oportunidades entre todos, nos diversos níveis de poder, a começar pelos municípios. E como seria uma cidade que acolhesse da mesma forma todas as crianças? Vamos conhecer as ideias de um especialista, com trabalhos e prêmios internacionais, que buscam respostas para essa questão. O arquiteto e urbanista Pedro Rivera, sócio do RUA Arquitetos, responsável pelo projeto de arquitetura do Bela Maré, e diretor do Studio-X Rio, integrante de uma rede global de laboratórios para pensar o futuro das cidades, nos apresenta uma lista de dez passos da cidade para as crianças. Chamamos a atenção também para Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto, projeto da Redes da Maré, que funciona ao lado de sua sede, na Nova Holanda, e que em mais de dez anos de funcionamento conquistou a frequência constante de crianças, adolescentes e jovens e já se transformou em um lugar de estudos. Que todos tenham uma boa leitura.

EXPEDIENTE REALIZAÇÃO:

UMA INICIATIVA:

Redes de Desenvolvimento da Maré DIRETORIA:

R. Sargento Silva Nunes, 1012 Nova Holanda - Maré Rio de Janeiro - RJ CEP: 21044-242 Telefone: (21) 3105-5531 (21) 3104.3276 comunicacao@redesdamare.org.br

Andréia Martins Edson Diniz Nóbrega Júnior Eliana Sousa Silva Helena Edir

Marcílio Brandão (Mtb – 1076 / PE) EDITOR ASSISTENTE

Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ) JORNALISTAS COLABORADORAS

Adriana Pavlova

APOIO:

FOTÓGRAFA

16 Associações de Moradores da Maré

Elisângela Leite

Observatório de Favelas

Mórula_Oficina de ideias

Conexão G PARCERIA:

EDITOR EXECUTIVO E JORNALISTA RESPONSÁVEL

Luta pela Paz Vida Real

LEIA O MARÉ DE NOTÍCIAS E BAIXE O PDF EM: www.redesdamare.org.br Distribuição gratuita.

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

IMPRESSÃO

Folha Dirigida TIRAGEM

50 mil exemplares

OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO REPRESENTAM A OPINIÃO DO JORNAL. PERMITIDA A REPRODUÇÃO DOS TEXTOS, DESDE QUE CITADA A FONTE.


EDIÇÃO 70 | OUTUBRO 2016

DROGAS

Reflexão sobre drogas em cena na Maré

A partir de pesquisa com usuários de crack, nascem fórum articulador de políticas públicas e mais debates sobre as drogas na Maré

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que as constantes operações policiais que interferem no dia a dia dos moradores da Maré têm a ver com as frequentes violências do próprio Estado contra os usuários de crack que vivem nas ruas do Rio? Em ambos os casos, as justificativas oficiais se baseiam na guerra contra as drogas, que se escora numa abordagem no âmbito da segurança pública, sem levar em consideração ações no campo da saúde ou dos direitos individuais. Neste cenário histórico, não é de se estranhar que os moradores da Maré tenham ficado incomodados com a presença de um grupo grande de usuários de crack vivendo na esquina da Flávia Farnese com a 29 de julho, rua paralela à Avenida Brasil. Ali cerca de 60 pessoas passam seus dias, e muitos outros, de várias partes da cidade e da Maré, apenas frequentam o local. “Era um medo constante por parte de quem mora e passa por aqui. Eles achavam que os usuários poderiam ser violentos”, conta Nelson Teixeira da Rosa, tesoureiro da Associação de Moradores do Parque Maré, que acompanhou de perto a chegada dos usuários de crack à região.

A Redes se aproxima No início de 2015, uma equipe da Redes fez uma aproximação efetiva com os usuários no ambiente deles, num projeto com diferentes parcerias. “A aproximação se deu para tentar entender um grupo específico de usuários de drogas que, de diferentes formas, vêm interferindo no cotidiano das comunidades locais. E tem como propósito ser parte de um processo mais amplo de debate

sobre as drogas na Maré”, explica Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré. Toda a aproximação foi devagar. A proposta era aplicar um questionário individual. O inventário contou, desde início, com da Open Society Foundations, fundação americana, que patrocina projetos de garantia de direitos em todo o mundo. As outras parcerias locais são com o Centro de Estudos de Segurança Pública e Cidadania (CESeC), com o Núcleo Interdisciplinar de Ações para Cidadania da UFRJ (Niac-UFRJ) e com a Associação de Moradores do Parque Maré. Para evitar o estigma relacionado ao espaço, optou-se por evitar o termo cracolândia, passando a chamar aquele ambiente de “cena aberta de consumo de drogas da Rua Flávia Farnese”. Coordenadora de campo da equipe, Maïra Gabriel Anhorn, lembra que uma das preocupações foi de entrar na cena com muito respeito. “Nós fomos cautelosos, primeiro oferecemos uma oficina ligada à fotografia”, diz Maïra. As atividades de fotografia foram organizadas por Tatiana Altberg, coordenadora do projeto Mão na Lata, oficinas de fotografia artesanal pinhole – com câmeras feitas de lata – para estudantes de escolas públicas da Maré, realizadas com apoio da Redes da Maré desde 2003. Além da fotografia, a equipe criou o “Cineminha na cena”, com o apoio do idealizador do projeto “Cineminha no Beco” na Maré, Begha Silva, e da Escola de Cinema Olhares da Maré, projeto da Redes. Nas exibições, alguns manifestaram o desejo de também serem filmados. A partir daí, foram feitas

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pequenas entrevistas. O material gerou um vídeo chamado “Cena”. Mas os vínculos se consolidaram, de fato, quando o questionário começou a ser aplicado.

Vínculo familiar não foi cortado De acordo com a pesquisa-intervenção, em julho de 2015, havia 83 pessoas morando ali, das quais 59 participaram das entrevistas. Dessas, 74% tinham entre 20 e 39 anos, sendo 28 mulheres e 31 homens. Quase metade (46%) não havia completado o Ensino Fundamental. Dos 59 entrevistados, 47 disseram ter filhos, com uma média de dois filhos cada. A maioria (32) disse manter algum tipo de relação com eles, e só em um caso o filho também morava na Flávia Farnese. Filhos menores de idade quase sempre estão sob os cuidados de tias ou avós. Outro dado importante foi que a grande maioria dos moradores da Flávia Farnese não havia rompido completamente os vínculos familiares, inclusive tendo visitado ou entrado em contato com familiares durante o período do levantamento. Dados que contrariam o estereótipo dos usuários de crack, geralmente vistos como pessoas sem vínculos afetivos e sociais.

Mais articulação entre as políticas públicas Com a conclusão da pesquisa, a equipe da Redes da Maré não saiu da cena. A Open Society Foundations garantiu apoio financeiro até final de 2017 e os demais parceiros continuaram engajados. Identificados os serviços de saúde e de assistência social que já atuavam no local, iniciou-se uma articulação maior entre eles tanto no campo como através de encontro mensal sobre a questão das drogas, o Fórum de Atenção e Cuidado aos Usuários de Álcool e outras Drogas da Maré. “E a partir da articulação das Unidades de Saúde da Família com o CAPS-ad Miriam Makeba, que atende à região de Bonsucesso, Manguinhos e Maré, houve um curso de formação de agentes redutores de danos. E o Centro de Saúde Samora Machel passou a dar atendimento prioritário aos usuários da Flávia Farnese”, finaliza Lidiane Malanquini, coordenadora de projetos do Eixo de Segurança Pública da Redes da Maré.


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ASSITÊNCIA

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Bolsa Família em alteração Mudanças no programa ainda não são claras para a população e causam desconfiança HÉLIO EUCLIDES

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ecentemente, o Brasil enfrentou um processo político traumático que terminou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Processo considerado como um golpe político - não ficou comprovado o crime atribuído à presidenta - e teve como um de seus principais articuladores o atual presidente Michel Temer. O governo Temer chega anunciando mudanças econômicas no país. Com o estabelecimento de metas e redução de gastos, os programas sociais podem ser afetados. No Bolsa Família, por exemplo, já surgiram novas regras que podem dificultar e diminuir o número de beneficiados. Como a obrigação de Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) para todos os integrantes de uma residência, o que significa um gasto de R$7 para cada um gerando custos para uma população que, muitas vezes, não tem recursos suficientes nem para a alimentação adequada. O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda direcionado às famílias em situação de pobreza - 13,9 milhões de famílias são atendidas - e de extrema pobreza em todo o País, de modo que consigam superar sua situação de vulnerabilidade. O programa busca garantir a essas famílias o direito à alimentação e o acesso à educação e à saúde. Para o assistente social Leonardo Fragoso: “O medo é o Bolsa Família diminuir a verba e o número de pessoas no programa. O objetivo das regras é dificultar a presença, o que vai acarretar a suspensão e o fim do direito. Os conselhos precisam reivindicar a não derrubada dos direitos”, observa. A moradora da Nova Holanda, Edmara Santos, mãe de um menino de cinco anos, como outras beneficiadas ainda não sabia das mudanças. “Comecei a receber, em 2011, o valor de 104 reais, agora são 124 re-

ais, uma importância que completa a renda e ajuda bastante. Não fui informada ainda de mudanças, pois não aconteceu nenhuma reunião no CRAS nesse período. Trabalho e crio meu filho sozinha e espero que não seja prejudicada por alterações”, detalha. Até o fechamento dessa edição a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social não tinha autorizado entrevistas com integrantes do CRAS Nelson Mandela.

Ministério ameniza alterações O Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário encaminhou informações sobre as novidades do programa Bolsa Família: Após dois anos sem alteração nos valores pagos, os benefícios do programa Bolsa Família sofreram reajuste de 12,5%, em junho, para recuperar o poder aquisitivo frente à inflação. O reajuste foi o maior já concedido desde a criação do programa. Outra medida para a melhoria na gestão é implementar uma fiscalização mais eficiente na base de dados do programa, para reduzir a ocorrência de fraudes e garantir que os recursos cheguem a quem realmente necessita. De forma gradual, as informações disponíveis sobre os beneficiários serão cruzadas com o conteúdo do Cadastro Único, porta de entrada dos programas sociais do governo federal. Uma nova frente de atuação é o Programa de Inclusão Produtiva, pacote de iniciativas que visa promover a autonomia das famílias inscritas, criando oportunidades para que não dependam mais dos benefícios sociais. Quem conseguir um emprego formal, no entanto, ainda terá direito a retornar ao programa por até dois anos. O governo federal também negocia com grandes empresas de tecnologia a criação de startups, experiência de grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, para jovens de famílias beneficiárias, para que aprendam a desen-

volver projetos e obtenham renda própria. Por fim, as prefeituras que trabalharem para reduzir o número de pessoas dependentes do programa participarão de uma premiação federal.” O fato, no entanto, é que apesar de não se ter clareza das mudanças, sabe-se que o governo Temer dá sinais de que vai mexer nos benefícios sociais e também nos benefícios trabalhistas, caso da previdência e aposentadoria, por exemplo. O problema dessas reformas é que os trabalhadores sempre são os mais sacrificados, por isso é preciso ficar atento, se informar e, principalmente, exigir que nenhum direito seja retirado.

O medo é o Bolsa Família diminuir a verba e o número de pessoas no programa. O objetivo das regras é dificultar a presença, o que vai acarretar a suspensão e o fim do direito. Os conselhos precisam reivindicar a não derrubada dos direitos” LEONARDO FRAGOSO,

Assistente social


ESPORTE

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A academia da Luta pela Paz THAMYRA THÂMARA

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ocalizado na rua Teixeira Ribeiro, Nova Holanda, no bairro da Maré, a Luta Pela Paz existe, desde o ano 2000, utilizando boxe e artes marciais combinados com educação para desenvolver o potencial de jovens moradores de favelas e periferias. Em 2007, o modelo foi exportado para Londres, onde a Organização abriu sua segunda Academia. Quatro anos depois, a Maré recebeu dois outros polos da instituição na Baixa do Sapateiro e Marcílio Dias. Atualmente, a Rede Global da Luta pela Paz está em mais de 150 organizações em 25 países, atendendo crianças, adolescentes e jovens de 7 a 29 anos de idade. Fundada pelo antropólogo inglês Luke Dowdney, o projeto na Maré começou com apenas 15 alunos. Na época, utilizava o espaço da associação de moradores. Após 16 anos, muita coisa mudou e para melhor. O projeto terminou o ano de 2015 com aproximadamente 1.900 jovens atendidos na comunidade. Somente no primeiro semestre deste ano, já são 1.450 crianças e jovens atendidos pelo projeto, um número que só cresce com o passar dos anos. O desejo da equipe é continuar apoiando os jovens a acessarem as oportunidades que já existem e, ao mesmo tempo, criando outras oportunidades. A Luta Pela Paz acredita na teoria da mudança onde o comportamento e as escolhas dos jovens estão relacionadas diretamente à forma como eles se veem, se relacionam com os outros e como enxergam o futuro. E por isso o foco do trabalho é o desenvolvimento pessoal de cada jovem, trabalhando por meio da metodologia dos Cinco Pilares:

Boxe e artes marciais Esses esportes promovem respeito, disciplina, autocontrole, sentimento de pertencimento, autoestima e ainda atraem os jovens a ingressarem nos projetos. Educação Suporte educacional e cursos são oferecidos para jovens que estão afastados da escola ou que possuem dificuldade de aprendizado. Empregabilidade Suporte para acesso ao mercado de trabalho, por meio de treinamentos, cursos profissionalizantes e encaminhamentos para oportunidades de emprego. Suporte Social Equipe multidisciplinar de apoio social que oferece serviços de mentoria individual, assistência social, encaminhamentos para redes públicas de saúde e justiça e visitas domiciliares e sensibilização da comunidade. Liderança juvenil Desenvolvimento de jovens líderes, por meio dos Conselhos Jovens, que passam a representar a instituição a partir dos projetos e das estratégias desenvolvidos pela Luta pela Paz.

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A continuidade é um dos aspectos mais importantes para o trabalho da Luta pela Paz. De acordo com pesquisas internas sobre as competências de desenvolvimento pessoal/habilidades, os jovens que se mantêm ativos no projeto por mais de 1 ano, apresentam resultados de 15 a 20% melhores em itens como autoconfiança, autoestima, relacionamento familiar e desempenho escolar, em comparação com aqueles que ficam somente 1 a 3 meses no projeto. De acordo com Lola Werneck, coordenadora de liderança juvenil da instituição, a maior contribuição do trabalho realizado é “mostrar para as crianças e adolescentes da Luta pela Paz e da Maré que eles são sujeitos de direitos e que existem ferramentas que eles podem utilizar para fazer valer esses direitos”. Na verdade, esses são direitos básicos garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas que muitas vezes não são efetivados pelo poder público. Nesse sentido, o projeto contribui para a luta e a garantia desse segmento na medida em que oferece um programa que integra esporte, educação e desenvolvimento pessoal.

OS CONTATOS DO PROJETO LUTA PELA PAZ SÃO: TELEFONE: (21) 3104-4115 E-MAIL: info@lutapelapaz.org


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PARAOLIMPÍADA

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Felipe Gomes, morador da Maré, conquista quatro medalhas paraolímpicas HÉLIO EUCLIDES

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orador da Nova Holanda, na Maré, Felipe de Souza Gomes, de 30 anos, teve o melhor desempenho nas disputas de atletismo nas Paraolimpíadas, do Rio de Janeiro 2016, entre os esportistas com deficiência visual. Nessa edição dos jogos foram quatro medalhas, três de prata nos 100m, 200m, e 400m, e uma de ouro, no revezamento 4x100m. Felipe disputa as categorias T11 e T13, deficiência visual total. Felipe nasceu com glaucoma congênito, depois teve catarata e descolamento de retina. Aos sete anos perdeu totalmente a visão. Quando começou os estudos ainda no Espírito Santo, conheceu o futebol de cinco e o golbol, jogo praticado por atletas que possuem deficiência visual, cujo objetivo é arremessar a bola no gol do adversário. Depois veio para o Rio de Janeiro e estudou no Colégio Benjamim Constant, onde descobriu o atletismo. Sua vinda para a Maré se mistura com inúmeras histórias de moradores na busca de melhores condições de vida na cidade maravilhosa. Em 2003, participou no Colégio Benjamim Constant de uma prova de atletismo, onde foi bronze, e no revezamento ficou com a prata. Tinha encontrado o caminho dos triunfos. Assim, participou de três jogos Parapan-Americanos, quatro mundiais e três Paraolimpíadas. Foi prata no Mundial de 2013, dois ouros e uma prata no Parapan de Toronto, ouro e prata no Mundial de Doha, no Catar, e ouro nos 200m dos Jogos Paraolímpicos de Londres. O

sucesso rendeu uma indicação ao prêmio de atleta do ano de 2012, pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB). Felipe cursou a faculdade de direito, mas não completou. Ele sabe da importância dos estudos. “Hoje estou indeciso entre muitas áreas, como turismo ou economia. A garotada precisa saber que o esporte é importante, mas que a escola é primordial para formar um cidadão e uma sociedade melhor”, enfatiza. Felipe precisa suar a camisa, já que os patrocínios são agregados a resultados, precisa está entre os três melhores e competir em provas internacionais. “Eu vivo do esporte, ganho pelo que produzo, o governo apoia com as bolsas pódio e atleta. A prefeitura tem o investimento do Timerio. Há a força das Loterias da Caixa. O Instituto Trevo também colabora no qual faço competições pela equipe Urece”, conta. No Rio, o peso da torcida não perturbou Felipe. “Quando ia entrar na prova sabia da responsabilidade, mas também confiava no trabalho, e sabia que tinha que mostrar a melhor forma. Estava feliz em mostrar o que é o esporte paraolímpico e, estar perto dos meus amigos, familiares e povo carioca é algo que influencia”, confessa. A valorização deve surgir em breve, com um local adequado para treinar que será um centro esportivo em São Paulo. Isso é um ganho para Felipe que já tem 30 anos e não pensa em aposentadoria. “Em Londres tinha um atleta com 40 anos que estava entre os três no pódio, e só parou por desejo próprio”, lembra. Felipe no momento só deseja descansar. Só depois pensar no

ELISÂNGELA LEITE

Da favela para o mundo

Felipe de Souza Gomes, de olhos vendados, medalhista paraolímpico

futuro, no Mundial de 2017, no Parapan-Americano de 2019, e nas Paraolimpíadas de Tóquio.

Acessibilidade uma questão a ser conquistada Para Felipe as Paraolimpíadas levantaram a bandeira da acessibilidade, a possibilidade de acesso a um lugar com adaptação e eliminação de barreiras. “Os jogos trouxeram uma melhor mobilidade, como nova linha de metrô e BRTs. É importante lembrar que o Brasil tem um processo evolutivo, há 10 anos não existia o piso tátil e as rampas. Precisamos lutar para mudar a realidade, brigar para que as coisas venham a acontecer, pois nada vem da noite para o dia. Os próximos passos serão conquistar mais rampas e os sinais sonoros em sinais de trânsito, pois não podemos ser esquecidos”, destaca.

Quando ia entrar na prova sabia da responsabilidade, mas também confiava no trabalho, e sabia que tinha que mostrar a melhor forma". FELIPES GOMES,

Medalhista paraolímpico


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DIREITOS

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Em defesa de crianças e adolescentes FOTOS: ELISÂNGELA LEITE

Com o Estatuto da Criança e do Adolescente houve avanços, mas ainda faltam políticas públicas

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Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – é um conjunto de leis criado, a partir da Constituição de 1988, com o objetivo de defender os direitos de meninos e meninas, com menos de 18 anos, que hoje somam no país cerca de 60 milhões, segundo o Censo de 2010. Pelo ECA, os direitos da criança começam quando ela ainda está na barriga da mãe, que deve receber do Estado atendimento médico e dentário e apoio alimentar, além de condições para amamentar. Ao nascer, o bebê deverá ter atendimento médico e receber as vacinas adequadas. Também pelo ECA, tanto a criança quanto o adolescente, têm direito de ir e vir, de liberdade de crença, de brincar, fazer esportes e se divertir. E mais: tem o direito de ser protegido de tratamento violento; de liberdade de expressão; de ser criado e educado pela família; de estudar numa escola pública de qualidade, perto de casa e ser respeitado nos seus valores culturais e artísticos. O Estatuto ainda proíbe o trabalho infantil, a não ser para adolescentes de 14 a 16 anos, nos programas destinados à aprendizes, sem prejuízo dos estudos. Em vigor há 26 anos, o ECA possibilitou e contribuiu para

Atualmente, o país ainda tem cerca de 3 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola, segundo o Censo Escolar 2015, o que representa cerca de 6% da faixa etária” avanços significativos, como, por exemplo, a grande redução da mortalidade infantil, do número de crianças e adolescentes fora da escola e do trabalho infantil. No entanto, essas questões ainda estão longe de serem resolvidas, o que pode sugerir que o Estatuto seja ainda um instrumento recente que, por si só, não é suficiente, diante de séculos de descasos e desigualdades sociais. O Brasil tem histórico de discriminação e desrespeito aos direitos das crianças e dos adolescentes. Historiadores, educadores e professores estão sempre a apontar as imensas desigualdades históricas entre os brancos em idade escolar, filhos de famílias de maior poder aquisitivo, e os negros, índios e

Escola, esporte e lazer: direitos fundamentais

mestiços na mesma faixa etária, de famílias pobres, em relação às oportunidades de estudar. Atualmente, o país ainda tem cerca de 3 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola, segundo o Censo Escolar 2015, o que representa cerca de 6% da faixa etária. E quase 1 milhão e 700 mil crianças e adolescentes entre 5 e 15 anos que ainda trabalham no Brasil. Para o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, o dado mais cruel, entre as estatísticas sobre o desrespeito aos direitos de crianças e adolescentes, está no número de assassinatos de crianças e adolescentes até 19 anos, que de 1990, ano da criação do ECA, a 2014 mais que dobrou:

de 5 mil foi para mais de 11 mil casos ao ano. Em outras palavras, em 2014, trinta crianças e adolescentes foram assassinadas a cada dia. E as vítimas são, na maioria, meninos negros, pobres, que vivem nas periferias das regiões metropolitanas das grandes cidades. Para especialistas, o Brasil tem uma legislação avançada, em relação à proteção da infância e da adolescência, mas faltam políticas públicas que combatam e superem as gritantes desigualdades sociais. É preciso que a sociedade brasileira se mobilize para enfrentar essas desigualdades e, com isso, proteja suas crianças, principalmente, as mais pobres que são as maiores vítimas.


CRIANÇAS

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Dez passos de uma cidade para as crianças Projetar para a média exclui os extremos. Projetar para os extremos garante uma cidade que atende a todos PEDRO RIVERA ARQUITETO E URBANISTA

A

s cidades deveriam visar as crianças e os velhos. A razão mais óbvia é que eles são os mais frágeis e por isto devem ter atenção especial. Mas também podemos argumentar em favor de suas inteligências próprias. No caso das crianças, ela vem do frescor de seu olhar e de sua capacidade de imaginar outros significados e usufrutos para o espaço urbano; de inventar e descobrir novos caminhos e usos. Já os velhos, por sua vez, guardam na mente e no corpo a memória da cidade. Eles decoraram suas ruas, seus sons e odores, seus prazeres e perigos. Projetar para os extremos não se trata, portanto, apenas de atender às suas necessidades cotidianas, mas sobretudo de aprender como eles podem contribuir para a vida comum, através da memória e de novas possibilidades para o presente e o futuro. Abaixo estão listados dez passos de uma cidade para as crianças. Alguns deles também se aplicam aos velhos. Esta, con-

tudo, não se pretende uma lista completa. Você pode imaginar e incluir outros passos, afinal a cidade também é sua.

1. Conquistando o território

A cidade precisa ter locais adequados para as crianças brincarem em segurança

Crescer é um processo contínuo de conquista do território. Saímos do ventre de nossas mães para aprender a engatinhar e mapear. Primeiro nossos quartos e casas. Um pouquinho maiores nos é permitido brincar na rua, mas não cruzar a via de carros ou dobrar a esquina. Em seguida percorremos o bairro e depois tomamos os primeiros ônibus. Adolescentes fazemos nossa primeira viagem sozinhos, e por aí vai... As cidades precisam garantir este processo através de um ambiente seguro e saudável para todas as idades, entendendo as diferentes escalas associadas a este processo.

Ao invés da via de automóveis, monofuncional e estéril, ela se presta a muitas situações e usos. Um de seus atributos é servir de território às crianças. De ser o lugar da brincadeira e do jogo, do encontro dos amigos; lugar de negociação com as crianças mais velhas e dos primeiros flertes. As cidades precisam ter calçadas generosas, bem arborizadas e livres de automóveis. Devem ter travessias seguras. Não podem ser cercadas por muros e cercas, mas alimentadas por portas e janelas cheias de vida, de onde são observadas para serem seguras.

2. Calçadas generosas A calçada é o território por excelência das cidades. É por ela onde transitam as pessoas, onde acontecem os encontros. A calçada tem a escala do olhar.

3. Andar descalço Andar descalço, em geral, é associado como um atributo doméstico. Mas não precisa ser assim. Nova Zelândia, por exemplo, as pessoas vão à padaria descalças. Não porque elas não tenham dinheiro para comprar um chinelo, mas porque as calçadas são

bem pavimentadas e limpas, permitindo caminhar sem sapatos, sem riscos de doenças e acidentes. Poder andar descalço é uma boa métrica para avaliar as qualidades do espaço urbano, pois ele precisa ser bem pavimentado, iluminado, limpo, até mesmo arborizado para o sol não esquentar excessivamente o piso. As cidades precisam de caminhos e serviços suficientemente tão bons que poderíamos andar descalços.

4. Brincar na rua As brincadeiras de rua são uma das formas mais bonitas de apropriação do espaço da cidade. Juntas, as crianças da vizinhança exploram cada pequeno espaço: as árvores, os muros, os pequenos vãos entre as casas. Na brincadeira, as crianças aprendem sobre socialização, conhecem ao outro e se fazem indivíduos. Brincar na rua é um


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queios visuais que impedem que elas apreendam o espaço urbano, tornando-as mais vulneráveis. As ruas não são o espaço dos automóveis, são o espaço das pessoas. As cidades devem restringir a quantidade e o uso dos veículos. Os estacionamentos devem ser localizados fora das vias públicas, liberando este espaço. A velocidade máxima deve ser inversamente proporcional à sua letalidade. Os carros não deveriam ultrapassar os 40km/h.

6. O passeio da bicicleta

exercício de liberdade que anima a vida urbana, afetando positivamente a todos. As cidades devem ser possuir uma rede de espaços adequados para as crianças brincarem com segurança. Rua, pequenas praças, parques. Cada escala representa uma diferente infraestrutura com novas possibilidades para o brincar.

5. Poucos automóveis A frota de automóveis nas cidades brasileiras mais do que dobrou dos últimos dez anos. São mais de dois milhões de veículos somente no Rio de Janeiro. Serão três milhões em 2020. O excesso de carros resulta em pouco espaço para as pessoas. Significa também mais poluição atmosférica, ruído e acidentes, produzindo um ambiente urbano hostil e estressante. Os carros têm em geral entre 1,40 e 1,50 metro de altura, portanto são mais alto que as crianças. Eles produzem blo-

Um dos momentos mais excitantes da infância é aprender a andar de bicicleta. Pedalar é divertido e permite alcançar distâncias maiores em tempos menores, em qualquer idade. Campanhas sistemáticas da indústria automotiva associaram a bicicleta a algo ultrapassado e inferior. Felizmente as bicicletas têm reconquistado as pessoas – não poluentes, baratas e práticas, elas nos permitem uma relação mais próxima no espaço público, contrastando com o isolamento do automóvel. Crianças não precisam de carteira de ciclista e podem se deslocar seguramente pelas ciclovias nas suas atividades cotidianas. As cidades devem garantir uma malha cicloviária extensa e segura, conectando os principais usos às infraestruturas de transporte de alta capacidade – metrô, trens e BRT.

7. Espaços semi-públicos Espaço semi-público é o jargão dos arquitetos para denominar aqueles locais que não são inteiramente públicos ou privados, mas ficam no meio do caminho. Eles podem pertencer a uma pequena comunidade, como uma vila; ou a uma instituição, como o pátio de uma Igreja. Espaços semi-públicos são importantes

porque produzem uma atmosfera controlada de vizinhança, onde as pessoas se reconhecem e cuidam umas das outras. Costumam ser locais seguros para as crianças, sem serem excludentes, como as áreas de lazer dos condomínios fechados. A legislação do Rio e Janeiro proibiu por muitas décadas a construção de vilas. Revogada nos anos 90, a proibição fazia parte da mesma lógica que ainda estimula os condomínios fechados e espaços segregados. As cidades devem possuir espaços de diferentes domínios, em múltiplas escalas, sempre com atenção ao seu usufruto pelas pessoas. Espaços semi-públicos, que estimulem o convívio dentre as comunidades, devem ser estimulados.

8. O projeto das praças Adultos sabem muito pouco sobre o universo infantil. Arquitetos sabem muito pouco sobre como as crianças usam os espaços. Também parecem pouco interessados em ouvir. Projetos em que os usuários foram engajados tendem a ter resultados melhores e mais garantia de manutenção futura. Os arquitetos do Al Borde, do Equador, estão projetando uma praça junto com as crianças. Para isto, eles desenvolveram uma serie de ferramentas para visualizar e tomar decisões em conjunto sobre como será esta praça. É um projeto verdadeiramente coletivo. As cidades precisam ter instrumentos participativos de fato. Participação não significa mostrar um projeto e pedir sua aprovação, ou perguntar a cor da parede; mas é um projeto de comprometimento profundo entre as partes, identificando as necessidades e os desafios para sua realização e manutenção.

9. A vida de bairro Os equívocos urbanísticos produzidos a partir da segunda metade do século XX segregaram os espaços das cidades ao defender que cada bairro deveria ter sua própria especialidade: moradia, trabalho ou lazer. Foram decisões impostas e traumáticas que, por exemplo, tornaram o centro do Rio de Janeiro um lugar desabitado à noite e finais de semana. Para uma cidade bem equilibrada os bairros precisam ser animados todos os dias, em todas as horas. Isto garante o uso eficiente da infraestrutura, diminui os deslocamentos e ativa a economia local, aproximando as pessoas. As cidades precisam estimular a diversidade de usos e oportunidades em todo o seu território. Os bairros devem garantir a maior parte das necessidades de seus moradores, que também devem ser diversos em sua composição social.

10. Ambiente seguro As cidades são ambientes cada vez mais hostis: violência urbana, trânsito, propaganda, barulho. Elas se tornam locais não seguros para as crianças, que são proibidas de percorrer o espaço público. As crianças ficam isoladas dentro de casa ou em playgrounds, limitadas em sua imaginação e do contato com o outro. As cidades precisam ser seguras para as crianças. Do ponto de vista do desenho urbano, isto significa principalmente um espaço público ativo de pessoas e de trânsito controlado. Os índices de violência são menores nas áreas onde há gente nas ruas.


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LEITURA

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O acesso ao mundo dos livros e muito mais Biblioteca Popular Lima Barreto oferece atividades variadas para crianças e espaço de estudo para adultos. Em 2015, recebeu mais de 15 mil visitas

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os últimos meses, a rotina da costureira Nice dos Santos Bacelar e de seu sobrinho Wesley, de 5 anos, que ela cria como filho, ganhou mais emoção e aventura. De segunda a sexta-feira, no fim de tarde, Nice leva o menino para passar pelo menos uma hora entre livros, jogos, desenhos e contação de histórias na sala Maria Clara Machado. O espaço faz parte da Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto, projeto da Redes da Maré, que funciona bem ao lado de sua sede, na Nova Holanda. Ali, entre uma história e outra, Wesley está descobrindo um mundo novo, com direito a muitos personagens divertidos, curiosos, amedrontadores, cativantes... O menino gosta tanto que volta e meia reconta os enredos para a tia, enquanto vive pegando li-

No espaço infantil, sempre há contação de histórias e outras atividades (à esquerda); Jovens e adolescentes fazem da Biblioteca seu refúgio para estudar (à direita)

vros emprestados, para continuar viajando nas histórias quando está em casa. Na escola onde ele estuda, o amor recém-descoberto pela literatura também já surtiu efeito: a concentração está melhor e as notas, agora, são só E, de excelente. "O Wesley era muito agitado. Vir aqui todos os dias fez com que ele ficasse muito mais calmo. Antes ele não parava quieto, agora se senta, escuta uma história, presta atenção, desenha, folheia os livros quietinho. Ele está se desenvolvendo muito depois que começou a vir à biblioteca. Eu acho tão bom que agora estou espalhando para todas as mães que existe um lugar assim aqui na Maré", conta Nice, sem esconder a empolgação. Wesley é uma das cerca de 50 crianças que circulam todas as tardes pela sala de

300 metros quadrados, com mais de dez mil livros espalhados pelas estantes, além de material para desenho, pintura e uma variedade de brincadeiras e jogos. No andar de cima, são os adultos que têm seu espaço, na versão para maiores da Biblioteca Lima Barreto, onde também há um acervo de cerca de dez mil livros, CDs e DVDs, para consulta e empréstimo.

Oficinas especiais de fotografia, música e brinquedo Este ano o principal projeto é o Maré de Histórias Brincantes, vencedor de um edital da Secretaria Municipal de Cultura, que, entre outras atividades, já ofereceu oficinas especiais de fotografia, sensibilização musical e construção de brinquedo. Outra prática é convidar escritores para participarem de encontros com as crianças, fazer lançamentos de livros e receber alunos de escolas e professores da região da Maré. A biblioteca sobrevive com dinheiro de editais e de doações de pessoas físicas e empresas. Todas as doações, de dinheiro ou


de livros, são muito bem-vindas. Justamente devido à pouca verba nos últimos tempos, o horário de funcionamento, que antes compreendia manhã e tarde, desde agosto passou a ser somente das 13h às 20h. De manhã, agora, são recebidos apenas grupos escolares, cuja visita é agendada com antecedência. É à tarde que há mais movimento, sobretudo na hora em que as crianças saem da escola. Às vezes, a procura é tanta que tem fila na porta. "Em geral, combinamos para que as crianças fiquem cerca de uma hora. Se tem muita gente dentro, pedimos que esperem um pouco, assim, enquanto umas saem, outras entram", conta Luciene de Andrade, coordenadora da Biblioteca Lima Barreto.

Demanda dos espaços para adultos veio dos estudantes A Sala Maria Clara Machado é um filhote do espaço para adultos da Biblioteca Popular Lima Barreto, cuja fundação, em 2005, se insere nas ações estruturantes desenvolvidas pela Re-

ELEIÇÕES des da Maré na região há quase duas décadas. Neste caso específico, a demanda mais forte partiu dos estudantes que frequentavam o curso preparatório para o Ensino Médio e a turma do pré-vestibular, como recorda Andréia Martins, diretora da Redes: "Existia uma demanda concreta dos estudantes para um espaço onde fosse possível se concentrar com tranquilidade para as provas. A biblioteca foi pensada para sanar essa necessidade na Maré, onde, até então, não existia nenhuma outra biblioteca ou espaço para estudos. Como todos os projetos da Redes, há a preocupação com a comunidade, em oferecer uma experiência transformadora. A biblioteca foi construída e desde o início houve a preocupação de termos livros didáticos importantes para quem está se preparando para os concursos." De fato, a sala dos adultos da Biblioteca Lima Barreto tem atrativos muito caros aos estudantes da Maré: um acervo importante de livros didáticos, silêncio, wi-fi, ar condiciona-

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do, além de abrir de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h, e emprestar livros, CDs e DVDs. Por tudo isso, naturalmente, se transformou em ponto de encontro de rapazes e moças em fase de preparação para provas do Ensino Médio e do vestibular. Uma turma concentrada e esforçada, que, em muitos casos, troca experiências e ensinamentos, num estimulante ciclo de aprendizagem. Hoje já são muitas histórias de aprovação nascidas entre os livros daquelas estantes. É o caso de Vanderson Felipe, de 21 anos, morador do Parque Rubens Vaz, que conquistou o primeiro lugar em Física na Uerj no último vestibular e o quarto lugar na UFF também em Física em 2015, além de ter passado para o mesmo curso na UFRJ. Ele foi aluno do Preparatório do Ensino Médio da Redes da Maré em 2010, que o ajudou a ser aprovado para o curso técnico de gerência em saúde na Fiocruz no ano seguinte. Em 2014, voltou à Redes, desta vez como aluno do curso Pré-Vestibular da Redes, CPV, mas não deu conta dos estudos junto com o trabalho de Jovem Aprendiz, numa empresa na Tijuca. Em 2015, sentiu-se mais confiante em equilibrar o CPV com o serviço de auxiliar administrativo no Hospital Federal do Andaraí. Mesmo assim, antes do meio do semestre, o cansaço voltou a bater e então ele, que já frequentava a Biblioteca Lima Barreto, decidiu refugiar-se diariamente ali, das 17h30m às 21h. E a estratégia, como se viu, deu muito certo. "Somos cinco na minha casa e eu ainda tenho um irmão pequeno. Precisava de tranquili-

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dade e já conhecia uns caras muito inteligentes que iam sempre na biblioteca da Redes. Pensei, caramba, se esses caras são tão bons indo na biblioteca, eu deveria ir também", conta Vanderson. Deste grupo assíduo que fez da Biblioteca Lima Barreto seu ponto de encontro faz parte Douglas do Nascimento Oliveira, de 21 anos, que de tanto ir à sala acabou se tornando funcionário, dividindo a tarefa de auxiliar os visitantes com Alessandra Cotta Domingos, estudante de Biblioteconomia da UFRJ. Douglas começou sua história de amor com a biblioteca ainda em 2008 quando cursava o preparatório para o Ensino Médio da Redes da Maré, mas foi em 2011 que realmente passou a frequentar o espaço com assiduidade, a remexer de fato o acervo e, mais do que isso, a se apaixonar realmente pelo mundo novo oferecido por cada livro, como ele revela abaixo: "A biblioteca é um ambiente mágico, aqui estamos expostos às diversidades, temos a chance de interiorizar mais as informações. Sem esse acervo aqui seria difícil eu conseguir a aprovação que tive e refletir sobre muito do que penso", diz ele que conquistou uma vaga em Ciência da Computação na Uerj em 2013, mas acabou desistindo do curso um ano depois e agora já pensa em prestar um novo vestibular em 2017. "Aqui temos, por exemplo, a melhor coleção de livros para o vestibular da área de exatas. É um local que responde aos principais objetivos da Redes da Maré que é a democratização do conhecimento e o estímulo ao desenvolvimento da cidadania."


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SANEAMENTO

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Entre as conquistas da comunidade, uma academia para idosos (à esquerda); Moradores convivem com valão na porta de casa (à direita)

Saneamento é prioridade em Marcílio Dias Exemplo de um valão no meio da comunidade mostra o descaso com reivindicação dos moradores

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m valão rodeado de casas por todos os lados vem preocupando os moradores da comunidade de Marcílio Dias, na Maré. Trata-se de um trecho de um antigo riacho que escapou do aterramento feito na área para a construção de casas, sem o menor ordenamento urbano, há mais de vinte anos. Hoje, além da água represada dos esgotos das residências do entorno, o valão está entupido de lixo. Lideranças comunitárias já levaram técnicos da Companhia Estadual de Águas e Esgotos ao local e aguardam uma solução. O caso do valão ressalta um problema antigo, em Marcílio Dias, que é a falta de saneamento, reivindicação da comunidade há algum tempo. “Tem que se mexer em toda rede de esgoto da comunidade, a tubulação é antiga e está estragada, é de cerâmica e não dá mais conta”, afirma o vice-presidente da Associação de Moradores, Luciano Aragão da Silva.

Sem retorno dos órgãos públicos, municipais e estaduais, responsáveis pelo planejamento e execução de obras de saneamento, a Associação de Moradores pretende montar uma equipe para fazer manutenção, ao menos, das canaletas para evitar entupimentos. “No último final de semana, tivemos que socorrer uma rua que tinha um trecho dos esgotos entupido, um morador teve que entrar no esgoto e não conseguimos na primeira tentativa. Só depois, outro morador com mais calma conseguiu”, informa a presidente da Associação, Jupira dos Santos. A Situação poderia ser melhor se na execução do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara a rede de esgotos da comunidade tivesse sido ampliada e ligada à Estação de Tratamento da Penha que, projetada inicialmente para tratar 1.600 litros por segundo, hoje opera com 67% dessa capacidade, segundo dados do Instituo Estadual do Ambiente.

Lixo e obras de urbanização Segundo a Associação de Moradores de Marcílio Dias a situação do lixo está parcialmente encaminhada. A comunidade conta com o programa “Gari Comunitário” e a coleta é feita todos os dias. “Precisa melhorar o nosso ecoponto”, lembra Jupira dos Santos. Recentemente, algumas obras de urbanização, como o asfaltamento de algumas ruas, a construção de uma ciclovia, que ainda não foi finalizada, e a implantação de uma academia para idosos foram feitas, de acordo com os dirigentes comunitários, por conta da intermediação, entre a Associação e a Prefeitura, de um vereador. Na área da Educação, a comunidade de Marcílio Dias se ressente da falta de uma creche. Por isso, os dirigentes comunitários reivindicam da Prefeitura a construção de um Espaço de Desenvolvimento Infantil, no

terreno atrás da sede da associação. E que seja chamado Madre Teresa de Calcutá.

Visita histórica A comunidade de Marcílio Dias tem origem em 1948, quando 8 famílias construíram suas palafitas na antiga Praia das Moreninhas, numa área entre a Casa do Marinheiro e a Fábrica da Kelson’s. Território de Marinha, até o início dos anos de 1980, a comunidade não tinha a terra regularizada. Em 1982, Madre Teresa de Calcutá, prêmio Nobel da Paz de 1979, em visita ao Brasil, esteve na comunidade e reforçou a pressão insistente da Pastoral da Favela a favor dos moradores que, enfim, tiveram o direito ao território.Madre Teresa foi canonizada pelo Papa Francisco no último 4 de setembro, pelo milagre que teria operado, depois de morta ao curar um brasileiro, com 8 tumores no cérebro, chamado Marcílio Haddad Andrino


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BAIXA DO SAPATEIRO

Proliferação de pombos preocupa moradores A recomendação da saúde pública é para não alimentar para que essas aves se afastem HÉLIO EUCLIDES

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o andar pelas ruas da Maré se percebe um crescimento no número de pombos. Alguns moradores, com o intuito de ajudá-los, alimentam e contribuem para propagação do columba livia, o popular pombo. Do outro lado, alguns criticam essa iniciativa, alegando que essa pequena ave transmite doenças. “Para três vizinhos sempre falei que não podia jogar comida, pois o pombo tem uma doença incurável. Jogavam pão e milho, pois não entendiam que a ave passa doença, algo que sei desde pequena. Até hoje vejo o gesto de alimentar na Cinelândia e na Tijuca”, conta a moradora da Vila do Pinheiro, Sueli Neves. No Morro do Timbau encontramos a história de um morador

já falecido, Fernando Volituski, o popular Siri, que chegava a comprar 100 quilos de milho para os animais. Uma parente disse que os vizinhos reclamavam, mas ele dizia que o que traz doença são as pessoas e não esses animaizinhos. Sua vizinha tem um pensamento diferente. “Eu achava que a transmissão era pelas penas, quando voavam. Depois que fiz um curso na área de saúde, descobri que é pelas fezes secas, quando venta”, explica Luzia Machado. O médico veterinário da Vigilância Sanitária, Sílvio Pimentel, lembra que a problemática da urbanização desordenada das cidades, associada à falta de políticas de controle ambiental urbano, rural e silvestre eficientes, vem criando nos últimos anos, dificuldades e desafios na relação homem/ambiente. “O nú-

mero destes animais na Maré ou em qualquer parte do nosso município é difícil de mensurar, pois às vezes há uma grande concentração destas aves em apenas em um ponto, ou às vezes pequenos grupos espalhados por todo um bairro”, esclarece Sílvio. O pombo é originário da Europa. Foram introduzidos por volta do século XVI na América do Sul, e se adaptaram aos centros urbanos pela facilidade de encontrar abrigo e alimento. Na natureza, os pombos têm a função de controlar insetos e disseminar sementes das plantas que utilizam como alimento, essas sementes são eliminadas nas fezes, prontas para germinar no solo. Abrigam-se em locais altos, como nas telhas dos prédios dos Conjuntos Pinheiro e Esperança. Quando recebem comida, as aves deixam de buscar na na-

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tureza os alimentos adequados à sua dieta, como grãos, frutos e sementes. Sem a dieta adequada, contrai doenças e tem o tempo de vida reduzido de 30 para cinco anos. Em locais onde há fartura de alimentos ocorre o aumento da população destas aves. Se há escassez de alimentos, a população tende a diminuir até chegar a um patamar de equilíbrio.

Riscos à saúde Vários fungos e bactérias podem se desenvolver nas fezes ressecadas dos pombos. A inalação da poeira desses restos, além do consumo de água e alimentos contaminados por esses micro-organismos, pode causar graves doenças respiratórias, como criptococose, histopasmose, clamidiose, salmonelose, dermatites e alergias. A Subsecretaria de Vigilância, Fiscalização Sanitária e Controle de Zoonoses recomenda a vedação de espaços de abrigos, como uso de telas protetoras. Também orienta evitar alimentar as aves. Adverte que o pombo não é um vilão, que não é necessário maltratá-lo. Que o correto é afastá-lo, uma boa atitude para evitar os riscos.

Pombos na Maré, presença preocpante

Eu achava que a transmissão era pelas penas, quando voavam. Depois que fiz um curso na área de saúde, descobri que é pelas fezes secas, quando venta” LUIZA MACHADO


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DICAS CULTURAIS

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PROGRAMAÇÃO A Lona da Maré está passando por um período de reforma e em breve será transformada em Areninha Carioca Herbert Vianna. Durante este período de obras, acontece o #Lonaitinerante que está passando por diversos espaços da Maré. Fique ligado!

14 de outubro, 21h

17 de outubro, 10h

OFICINAS NO CENTRO DE ARTES DA MARÉ

Favela Rock Show e Rock Em Movimento

Bicicletada Seminário TACE 10h

Com as bandas: Genomades, Bala n'agulha e Overdrive Saravá

Passeio pelos espaços artísticos e culturais da Maré, gratuito

Rua Bittencourt Sampaio, 181 – Nova Holanda (próximo à passarela 10 Avenida Brasil).

Praça da Nova Holanda (atrás do prédio central da Redes de Desenvolvimento da Maré)

#MaréSemFronteiras

Aula de Dança Hip Hop Terças-feiras de 19h às 20h30 Quinta-feira de 17h30 às 19h Oficina Livre de Bike Quartas-feiras 14h às 17h

Mão na Lata: inscrições abertas Mão na Lata é um projeto de educação que visa o desenvolvimento pessoal e social de adolescentes da Maré por meio da fotografia e da literatura. A técnica utilizada é a pinhole (ou “furo de agulha”), que resgata a simplicidade e os princípios básicos da fotografia para produzir imagens inesperadas com câmeras confeccionadas pelos próprios adolescentes do projeto que participam de todo o processo de forma coletiva. O projeto acontece em parceria com a fotógrafa Tatiana Altberg e a Redes de Desenvolvimento da Maré para crianças e adolescentes de 8 a 14 anos de idade. As oficinas acontecem toda segunda e quarta de 8:30h às 11h da manhã. Há vagas. Inscrições abertas na Secretaria da Redes.

Projeto Nenhum a Menos Segunda à sexta-feira de 13h às 16h Oficina de dança Stiletto Sábado de 09h às 12h

EXPOSIÇÃO A turma do Mão na Lata está com uma exposição no Centro de Artes da Maré, chamada "Em tudo há gente. Em tudo Nós". É a primeira vez que os participantes usam imagens digitais. Vale a pena conferir! A exposição fica até o final do mês de outubro.

Exposição: O triunfo da cor. O pós-impressionismo. Até 17.10, de quarta a segunda (fecha terça), das 9h às 21h. Entrada gratuita. Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Rua Primeiro de Março, 66 - Centro.


POR DENTRO DA MARÉ

Moradores sofrem com ruas alagadas Imagina alguém ter medo da chuva. É isso que vem passando moradores de um quarteirão da Vila do Pinheiro, que sofrem com alagamentos após as chuvas. A presidente da Associação de Moradores, Janaina Monteiro, disse que já fez reclamações mais nunca deram solução. O problema persiste desde 2007, e moradores das Vias A/1 e B/3 e Travessas 55, 56 e 57, sofrem com o descaso. O jornal Maré de Notícias percorreu essas ruas, na tarde de 31 de agosto e comprovou os alagamentos, num dia que ocorreu pouca chuva.

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ELISÂNGELA LEITE

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A situação de drenagem também é crítica nas residências que foram construídas sobre um valão aterrado, entre as ruas Teixeira Ribeiro e Sargento Silva Nunes. A água agora mina do chão. Quando chove os moradores ficam ilhados e precisam drenar a água.

Pescadores pedem socorro para o cais

ELISÂNGELA LEITE

Para o pescador o cais é a união entre o seu barco e a terra. Em Marcílio Dias, há quatro anos, começou uma erosão na estrutura da pequena platafor-

ma, até o desabamento total do cais. Para descarregar o barco, os pescadores da comunidade procuram outras opções, como o cais de Tubiacanga ou Niterói.

“Estamos correndo atrás, procuramos a Secretaria de Meio Ambiente, a Subprefeitura, e nada, é puro descaso. Tem mais de 500 pessoas que sobrevivem desse

espaço, como ficam as famílias?”, questiona a coordenadora da Cooperativa dos Pescadores de Marcílio Dias, Milca dos Santos. Ela lembra que são mais de 200 barcos que utilizavam o cais. “Há 15 anos que não existe reforma, a última foi realizada por pescadores e a Petrobras. Antes quando os pescadores desembarcavam aqui, sempre ocorria doação de peixe para moradores, hoje não existe isso, por falta do cais. Espero que os governantes olhem para nós com carinho”, reflete. Até o fechamento dessa edição, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente não tinha respondido à questão. A coordenadora da Cooperativa dos Pescadores, Milca dos Santos, mostra o cais despencando.


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ESPAÇO ABERTO ENVIE SUA PO ESIA , FOTO, R ECEITA OU PIA DA. ESS E ESPAÇO É S E comu U!

CARTA DO LEITOR

www.coquetel.com.br

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PICOLÉ

© Revistas COQUETEL

nicacao @redes damare .org.br

Gostaria, já que estamos entrando no Mês das Crianças, e também de Nossa Senhora Aparecida, saber da possibilidade da publicação de duas fotos, neste Espaço. É da Creche-Escola Comunitária Nova Holanda, quando funcionava no espaço que, hoje, é a Redes. A Homenagem seria para as Crianças que hoje são adultos/adultas, pais e mães de muitas outras crianças. Infelizmente, alguns não tiveram o futuro que desejamos para nossas crianças. Fazem parte de uma estatística cruel e vergonhosa, que apresenta altos índices de mortes de adolescentes pobres e negros. Muito triste, esta situação,...uffa Também Homenagear a Agente Comunitária Maria Aparecida Modesto, ex-moradora da Maré e Educadora que se aposenta neste ano. Seria reconhecer o trabalho Comunitário de décadas de luta de muitos moradores das favelas. Ela, assim como outros/outras educadores/as que estão em processo de aposentadoria. Além de mostrar como era o espaço que hoje é a Redes, pois muitas pessoas não têm noção de quantas conquistas já foram realizadas na Maré. A segunda foto é a demonstração da Liberdade. Atividade ao ar livre, quando ainda só existia a ciclovia. Um momento de lazer, diversão, Direito, experimentação, diálogo, aprendizado para crianças e profissionais. Espero que seja possível! As crianças merecem e a Aparecida também.

Sara Alves.

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Solução

UTILIDADE PÚBLICA

Desejo alguma notícia da amiga REGINA LUCIA CARVALHO DA SILVA, que perdi o contato. O que eu sei é que ela trabalhou em Higienópolis e mora na Vila do João. Maria Eulália


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