O badlands é um projeto voltado às cronicas do dia-à-dia, coisas que podem ocorrer na vida de qualquer pessoa. Sua construção é dada a partir da ideia de que o visto por fora, difere do interior, somos martirizados todos os dias por estereótipos, ignorando nossa essencia, e aqui, isso é demonstrado. Esta edição conta também com ilustrações e uma playlist com músicas que foram inspiração e parte do processo criativo. Badlands é um projeto imersivo, aproveite.
hyperreal
o monstro
o desperto sonhador
10 08 06
as ilhas
o frio
o confuso
19 16 12
Olhava pela janela melancolicamente, escutava ao som do vento, via a chuva cair, pensava na rapidez que as coisas aconteciam, o quão rápido mudavam, um dia amava, em outro era amado e de repente nada era mais. Pensava em quais sentimentos iria se permitir sentir, o que gostaria de mudar, ser, viver, perceber, aprender. Um iludido era, um sonhador se tornava, vivo estava, buscando motivos para seguir em frente e sempre os encontrava, ansioso ia marchando em busca de seus êxitos, nos quais ansiava por vitória e prazer, nos quais depositava a superação de um passado longo, ressente, presente, assim ia em frente respirando o mesmo ar de sempre, as coisas a mudar. Olhava pela janela, olhava a vida passar, olhava as pessoas a andar, analisava seus trejeitos, pensava se o mesmo fazia, mas nada lhe tirava a vontade de ser o que era, confuso, ansioso, inquieto, cheio de vontade de trilhar dentro do desconhecido, com um frio no estomago acordou lembrando-se que a água para o café havia praticamente evaporado, a chaleira chiava, o som misturando-se com a chuva, lembrando-se que o vazio que ali estava, mas nada o incomodava pois o amanha logo, logo se apresentaria e tudo de forma diferente se sentiria.
Não quero deixar-me pensar em tais fatos, não consigo esquecê-los, causa-me angustia, medo, ansiedade. Ansiedade que não consigo evitar, fugir, ignorar, instalou-se em mim sem ao menos pedir permissão, meio as crises que me encontro com a tal, penso em tudo que poderia ter sido dito, feito, mudado. Angustia de não saber qual decisão tomar meio aos diversos conselhos dados por livre e espontânea vontade pelas pessoas que me rodeiam, ó angustia, por que tens que deixar-me assim? O que fiz para merecer-te? Medo de dar um simples passo à frente, medo de viver, medo de reagir, medo do resultado, não saberei nunca o que acontecerá devido a este, o medo, que me impede de ir e vir. Não compreendo o motivo de passar por tais coisas, encontrava-me tão bem, tão vivo, tão feliz, não me era necessário mudar, não queria coisas novas ou algo novo, eu estava bem, até tu, o monstro chegares, sem ao menos pedir permissão, sem ao menos dizer o porquê, entraste em mim e não sei como expulsar-te, não quero-te aqui, não quero sentir o que não se deve ser sentido sem consentimento, não quero apaixonar-me, não desta vez, não posso e não consigo. Como viver assim? Como seguir vivendo? A quem pedir ajuda? Agonizo, dia após dia, mergulhado neste sentimento desprezível que nunca imaginei encontrar novamente, eis que ele veio à minha procura, desrespeitoso tomou conta de mim, desrespeitoso tornou-se paixão, desrespeitoso é o tal Monstro.
Meio a todos os pensamentos que se alojam em minha cabeça fico refletindo, analisando e tentando filtra-los, confuso fico em segundos meticulosos que se tornam minutos e o tempo passa a se prolonga, as duvidas nunca são sanadas, como uma ferida aberta que corrói, machuca, incomoda e desconfortavelmente me desola. Vazio, este que dentro de mim se instala, quero combate-lo, mas como, jamais soube, fico sem folego e penso repetidamente num ciclo vicioso, o sufoco aumenta e a duvida nunca é sanada, não sei se realmente devo buscar as respostas ou esperar calado em um canto, onde me confortarei com a ig-
norância, me privando de uma felicidade ou de um súbito sofrimento. Confuso me encontro, decisões não sei tomar, concluir torna-se um enigma, buscar sem saber os objetivos, trilhar no desconhecido, me aventurar me assusta, não sei se devo ser livre ou devo simplesmente trancar-me em meu mundo, sinto que a solidão me espera, sei que pode ser exagero de meus pensamentos inconstantes, posso evita-la mas o medo para enfrentar o todo é crescente, não sei se sou um louco, um boçal ou simplesmente estaria eu simplesmente confuso??
“Ele disse não acreditar no amor, obviamente era mais um iludido pelos sonhos comprados, mais um que foi enganado por promessas e juras falsas, nas quais tornou-se neutro, quase frio, na esperança de um dia ser quente de novo...”
Solidão, assunto que assombra muitas mentes, dialogar sobre é um tanto desconfortante, é ironia da vida. O cansaço de viver, de tentar mudar e sempre seguir do mesmo jeito, se torna muito comum, não é? Querer e não ter, sentir falta de algo que nunca se teve, sentimentos contraditórios que nos perseguem. Muitas vezes o ”ter” e não impede que saibam dar valor o suficiente, perder possibilita o possível arrependimento. Desejar tanto alguém que nada mais na vida faz sentido, não ter opções, não ter nem horizontes pelos quais trilhar em meio a este mártir sufocante, esta cegueira da vida que te suga, a luta pela liberdade e
paz de espirito que é árdua, e quase sempre, sem sucesso algum. Felizes aqueles, os quais, que o que querem conquistam, os que não são doidos, os que fazem sentido, os que vivem sem se perguntar os porquês da vida, os que deixam a vida ir e acontecer conforme a correnteza de um rio, os que simplesmente fazem. Somos náufragos em um oceano sem fim, a espera de uma ilha, na qual possamos passar um momento ou o resto da vida. As vezes só queremos uma ilha que nos acolha, que como ilhas, acolheríamos um náufrago.