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DEZEMBRO | 2018 Primeira edição da revista Shutter, totalmente voltada para fotografia e entretenimento. Nessa edição contaremos com conteúdos diversificados focados nas diversas áreas dessa belissima profissão. Nosso foco é trazer pautas tanto aos fotografos profissionais quanto aos amantes dessa arte, dos que enxergam nesse setor, um bom hobbie. Aproveite a Shutter e boa leitura.
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7 - FOTOGRAFIAS SUBAQUÁTICAS QUE EVOCAM A BELEZA DE PINTURAS BARROCAS 10- A EVOLUÇÃO CONSTANTE DO FOTÓGRAFO LUIZ MOREIRA 14-DIANE ARBUS: FOTOGRAFIAS EXCÊNTRICAS E DE GRANDE IMPACTO 18-VENCEDORES DO CONCURSO DE FOTÓGRAFO AMBIENTAL 2018 20- FOTOGRAFIA DE LIZZIE DARDEN: MINIMALISMO,, SURREALMISMO E CANDY COLORS
22- O PROJETO FOTOGRÁFICO QUE “PROVOCA” POSTURA DE TURISTAS EM MEMORIAL 24- VIVIAN MAIER E O SELFIE 26- DICAS DE FOTOGRAFIA 28- EDITORIAL: O PODER DE UMA LENTE 55MM 34-A FOTOGRAFIA ETNOGRAFICA DE PIERRE VERGER 40- REGISTROS SENSÍVEIS DE UMA PARIS PÓS SEGUNDA GUERRA
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FOTOGRAFIAS SUBAQUÁTICAS QUE EVOCAM A BELEZA DE PINTURAS BARROCAS
A série fotográfica “muses” de Christy Lee Rogers pode ser mais facilmente comparada às pinturas barrocas de Caravaggio do que uma série fotográfica convencional comtemporânea. A artista visual produz seus trabalhos coloridos e iluminados submergindo na água o os fotografando. Em entrevista ao Photofair, ela explica que a inspiração para o projeto veio depois de um ano que perdeu muitas pessoas em sua vida. Num momento de bloqueio criativo, a liberação da tensão é ilustrada através de um entrelaçamento de corpos e tecidos nas águas iluminadas que produzem uma cena que representa uma simbiose de vulnerabilidade e tragédia. Pioneira na fotografia subaquática, o processo de experimentos de Christy estabelece um novo padrão para a fotografia. Incorporando e estudando elementos não tradicionais, relacionando movimento, cor, água e luz. A artista é capaz de trabalhar em sua arte diversas emoções.
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A EVOLUÇÃO CONSTANTE DO FOTÓGRAFO LUIZ MOREIRA
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Paulistano do Jardim Ângela, ex-modelo na juventude que passou de retratado a fotógrafo de editoriais de moda e formado em Comunicação Social, Moreira decidiu trilhar a descoberta da linguagem fotográfica há três anos. “Minha maior motivação ocorreu quando percebi que poderia ser feliz trabalhando como fotógrafo e que, de fato, sentia muito bem quando estava com uma câmera nas mãos”, conta Luiz, Hoje com 28 anos de idade – e após participar de um coletivo de artistas na Gabriel Wickbold Studio; Gallery e ter um trabalho exposto na SP Arte 2018 (pela mesma galeria), o fotógrafo diz que suas imagens são fruto de sua inquietação quanto às relações humanas, como a do homem com a natureza e com seu próprio espaço e o mais atemporal dos dilemas, a dicotomia da sobrevivência, seja da natureza e do meio ambiente, seja de sociedades inteiras. Foram dois anos de captação de imagens e tratamentos. O curador da exposição que é fotógrafo e
galerista Gabriel Wickbold conta que o projeto do Luiz chamou sua atenção pela textura e fotografia vibrantes, assim como a forma com que o olhar dele buscava captar texturas e formatos imagéticos. “Foi aí que ele me cativou. Além disso, delimitar a temática a uma viagem, no caso Portugal, permitiume exercitar uma curadoria focada em um lugar só e na relação desse local com seus moradores e suas rotinas de vida e trabalho”, afirma Wickbold. Sobre sua experiência com a fotografia, Luiz conta que “é um trabalho que me permite uma evolução constante como ser humano. Sempre estou em contato com diferentes pessoas, países e culturas, algo extremamente enriquecedor. Graças a essas experiências, percebo que minha conexão com pessoas e cenários fica cada vez mais intensa. Gosto de sentir isso e acabo abrindo minha mente para notar a sensibilidade desses momentos”, afirma.
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DIANE ARBUS: FOTOGRAFIAS EXCÊNTRICAS E DE GRANDE IMPACTO Nascida em Nova York, Diane Arbus iniciou no meio fotográfico ao abrir uma agência de fotografia profissional com seu marido, Allan Arbus. Nos anos 40 seu trabalho estampou diversas edições de publicidade e moda, inclusive matérias na Vogue. No final dos anos 50, Arbus mudou o rumo de seu trabalho para o mundo da fotografia independente e seguiu a linha de fotografia de rua, tirando fotos de pessoas que conheceu em circos estranhos, necrotérios sinistros, hospitais psiquiátricos e outras localidades. Ela se tornou famosa por suas fotografias excêntricas que
retratavam diferentes e incomuns sujeitos fotográficos como prostitutas, travestis. Suas fotografias não tinham qualidades refinadas, mas causam grande impacto em todos. Ela tinha numerosas exibições e seus trabalhos eram expostos em diferentes museus. Diane Arbus era amiga de outros fotógrafos como Walker Evans e Richard Avedon. Seu casamento teve fim em 1969 e a depressão consumiu a fotógrafa que cometeu suicídio dois anos depois, aos 48 anos. A coleção de fotografias de Diane continuam sendo objeto de grande interesse, assim como sua pessoa.
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VENCEDORES DO CONCURSO DE FOTÓGRAFO AMBIENTAL
2018 A competição de Fótografo Ambiental do Ano premia aqueles que usam sua criatividade para documentar o estado do planeta. O concurso de 2018 contou com inscrições de 89 países. No final, cinco fotógrafos foram selecionados como vencedores por suas poderosas habilidades de contar histórias e técnica de alta qualidade. O concurso anual é desenvolvido pela The Chartered Institution of Water and Environmental Management (CIWEM). O fotógrafo iraniano Saeed Mohammadzadeh levou para casa o título de Fotógafo Ambiental do Ano por seu incrível registro de
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um navio abandonado no Lago Urmia seco. A imagem bonita e, ao mesmo tempo, assustadora, mostra a combinação entre mudanças climáticas e a destruição da natureza pelo homem. Enquanto muitas imagens mostram destruição, há também fotografias que dão esperança com existencia de práticas sustentáveis. Além dos cinco vencedores, vários outros foram selecionados como imagens elogiadas. De um homem flutuando em um mar de lixo na Índia até um macaco na Malásia segurando uma garrafa de plástico, as fotos são para lembrarmos do quanto precisamos limpar o meio ambiente.
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A FOTOGRAFIA DE LIZZIE DARDEN: MINIMALISMO, SURREALISMO E CANDY COLORS Lizzie Darden é diretora criativa e fotógrafa norte-americana. A artista é conhecida por suas composições imagéticas recheadas de cores pastéis, formas geométricas, minimalismo e toques surrealistas que em sua maioria, utilizando objetos e comidas. O estilo estético que Lizzie ama explorar pode ser denominado como “aesthetically pleasing”.
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O PROJETO FOTOGRÁFICO QUE “PROVOCA” POSTURA DE TURISTAS EM MEMORIAL A frase “Para toda ação existe uma reação” é inevitavelmente aplicável em nossa vida. Seja na química, na física ou no nosso comportamento, é uma lei quase que infalível. E o projeto fotográfico criado pelo israelense Shahak Shapira vem exatamente mostrar com potência como essa realidade pode, muitas vezes, tornar um assunto até então “invisível” em algo que choca. De origem judaica, o artista começou a perceber que algumas fotos que era postadas nas redes sociais sobre o Memorial ao Holocausto em Berlim, na Alemanha, continham um gosto “duvidoso” mediante as tristes lembranças do local. Seja para ele e aqueles que seguem o judaísmo como para o mundo todo, já que os efeitos do nazismo criaram uma profunda “ferida” em todos aqueles que conhecem minimamente a história dos mandos e desmandos de Adolf Hitler. Tendo esse tipo de percepção, Shahak decidiu montar o projeto fotográfico usando uma série de montagens contendo como pano de fundo imagens das mais impactantes feitas na época do Holocausto. Criando, assim, uma verdadeira dicotomia entre a aparente “festa” dos turistas frente a uma câmera em meio a cenários de profundo horror e consternação. O resultado do projeto fotográfico batizado de Yolocaust gerou diversos comentários, inclusive, na página oficial em que ele foi postado. Enquanto algumas pessoas se mostram favoráveis a manifestação, outras entendem a ação como imprópria.
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VIVIAN MAIER E O SELFIE CONTEXTUALIZANDO A BELEZA DA FOTOGRAFIA NO QUASE ANONIMATO Na sociedade pós moderna, o conceito de self foi banalizado por rostos posados ensaiadamente, mas que denotam algo do vazio e do consumismo da nossa era: é o aparecer pelo prazer de aparecer, o exibicionismo descontextualizado e esvaziado de sua essência. O sucesso da fotografia de Maier revela-se justamente na sua antítese: a fixação da auto imagem, o self tão produzido com jogo de espelhos, luz e sombra poderiam levar o observador a crer que estamos diante de uma artista um tanto quanto performática
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e que guarda em sua essência algo tipicamente peculiar numa personalidade narcísica. É aí que aparentemente nos equivocamos, e que torna seu material tão interessante e intrigante. Não foi á toa que ela ganhou uma exposição póstuma que tem rodado nas principais capitais internacionais (“O Mundo Revelado de Vivian Maier”) e que sua trajetória de vida rendeu um documentário que concorreu ao Oscar neste ano de 2015. O mais interessante, belo e ao mesmo tempo trágico, foi o fato de sua obra vir a ter
reconhecimento mundial depois de sua morte. Maier fotografou a beleza do cotidiano nas cidades de Chicago e Nova York, rodava estes lugares “congelando”momentos que chegam a se assemelhar a uma pintura modernista ou revelam algo de misterioso e intrigante a “La Hitchcock”. Quase como um clima “noir”, suas fotos estão carregadas do preto e do branco. O tudo e o nada são motivos inspiradores: a beleza do cotidiano, crianças brincando e fazendo traquinagens na rua, pessoas posando para sua câmera. Tudo isso com o mais puro e leve toque de simplicidade. Nada parece ser ensaiado, a beleza do retrato está na espontaneidade e na simplicidade da vida cotidiana. O sucesso da fotografia de Maier revela-se justamente na sua antítese: a fixação da auto imagem, o self tão produzido com jogo de espelhos, luz e sombra poderiam levar o observador a crer que estamos diante de uma artista um tanto quanto performática e que guarda em sua essência algo tipicamente peculiar numa personalidade narcísica. É aí que aparentemente nos equivocamos, e que torna seu material tão interessante e intrigante. Explicando: Maier passou quarenta anos sendo babá, ninguém nunca soube detalhes de seu passado e de sua vida. Extremamente reservada, jamais revelava seu material a pessoas, sejam elas próximas ou distantes. A “revelação” de todo o material coletado era realizada
num quarto escuro de onde residia. Suas fotos eram quase que como uma produção catártica, ali a espontaneidade e a sensibilidade apareciam e revelavam algo de obscuro que seu discurso não podia revelar. Interessante fazer um paralelo com a era selfie tão cultuada por uns, repudiada por outros. Na sociedade pós moderna, o conceito de self foi banalizado por rostos posados ensaiadamente, mas que denotam algo do vazio e do consumismo da nossa era: é o aparecer pelo prazer de aparecer, o exibicionismo descontextualizado e esvaziado de sua essência. Milhares de poses, corpos, mas que nada tem a dizer, é o culto a imagem destituído de significação, o prazer do exibicionismo. Maier exibia uma sensibilidade apurada em um senso estético que somente os verdadeiros artistas têm. Uma das precursoras do conceito de selfie, tinha muito a retratar. A galera de hoje, que posa com caras e bocas, deveria tomar uma aula de estilo, simplicidade e humildade com a babá tímida e misteriosa, que guardou um tesouro da arca perdida em seus aposentos. Conselho: antes de pensar em repostar mais um auto retrato, vá conferir a exposição de fotos desta grande fotógrafa. Aposto que pensaríamos duas vezes antes de sucumbir ao prazer imediatista e exibicionista da era pós moderna. Uma aula de arte, humildade e simplicidade.
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EDITORIAL
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A FOTOGRAFIA ETNOGRAFICA DE PIERRE VERGER 34
O século XX veio consolidar a fotografia não apenas como uma das artes mais fundamentais do imaginário humano, capaz de eternizar e congelar o que chamamos de tempo e o que os poetas chamam de paisagens interiores. Este período também veio mostrar que técnicas poderiam ser empregadas para a documentação histórica, para o registro. E alguns espíritos indomáveis - uniram às significâncias artísticas da linguagem fotográfica para documentar sua época - um povo, e unir ocultamente nações – entre eles – um dos maiores fotógrafos de todos os tempos, o mestre francês - ou do mundo - Pierre Edouard Léopold Verger. Pierre nasceu em 1902. De uma família de classe social elevada. Seu pai era dono de uma gráfica – que Verger herdou tempos depois – entretanto, com trinta anos de idade, o então jovem de destino elementar estava completamente sozinho no mundo. Entre desgraças familiares e a solidão, optou por tornar a fotografia um ofício capaz de fazê-lo mergulhar no mundo e suas aglomerações raciais. Pierre Boucher - grande fotógrafo francês e amigo de Verger - o iniciava na fotografia e este começava a trabalhar na Aliança Foto, fundada por Boucher. Verger estava dando seus primeiros passos viajando entre alguns países, ajudando a montar sua visão etnográfica e sua relação com a realidade social destes povos.
Tornou-se andarilho, percorria quilômetros à pé fotografando e registrando suas andanças com uma Rolleiflex. Fazendo estudos e longas peregrinações. Vagava entre ilhas. Entre comunidades distantes e retratando seus cotidianos. Nestes descaminhos, Verger conhece Marc Chadourne, repórter da revista francesa Paris-Soir, esse o convida a trabalhar como repórterfotográfico. O jovem perdido até então em seus enigmáticos rumos acaba aceitando a incumbência de registrar as comunidades negras americanas e conflitos no Japão e China. Também neste período de 1934, Pierre começa a trabalhar para o Musée de l’Ethnographie, onde contribuiu entre outros com Helène Gordon e Alfred Métraux, este último, importante antropólogo suíço da primeira metade do século XX e grande amigo de Pierre Verger. Outro grande trabalho neste tempo foi as ilustrações para um dos últimos livros do francês erradicado em Londres, André Savignon. Trabalho este bastante elogiado que abriria algumas portas ao solitário viajante. Em 1935, Verger chegou a ser preso em Sevilha acusado de espionagem. Não obstante, acaba sendo solto e começa a ilustrar alguns livros do editor Paul Hartmann - entre estes trabalhos um deles marcaria profundamente Pierre, o livro Dieux d’Afrique. Este trabalho seria publicado apenas em 1954, mas bem antes - em meados
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da década de 30 - Verger começaria suas primeiras incursões pela África. O contato com a cultura, a história dos povos africanos, foi fundamental para a construção da carreira e do olhar demasiado de Verger. O fotógrafo passa por diversos países, como Mali, Mauritânia, atravessa o Saara, Burkina Fasso e conhece os rituais, suas etnias e suas manifestações populares, guerreiros, tribos e religião, além das condições políticas da sociedade.
Depois deste intenso momento e da volta a Paris e posteriormente, Londres, Verger seguia agora absolutamente autônomo, recusando contratos em nome da arte fotográfica em suas últimas consequências. Vai às Antilhas Francesas e depois a República Dominicana, onde é proibido de fotografar pela ditadura local. Verger ainda passou por Cuba e México. Estas importantes experiências viraram uma renomada exposição organizada pela Arts et Metiers Graphiques. A exibição foi batizada de “Exposição Universal”. Também neste ínterim - mais precisamente em 1935 - o romancista brasileiro Jorge Amado lança uma de suas obras primas. Jubiabá.
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Trazendo para a universalidade às peculiaridades brasileiras e a visão política do autor na pele do herói Antônio Balduíno. Não imaginava o importante autor brasileiro - que a obra seria decisiva para os rumos de Verger. Fascinado e instigado a conhecer a cidade de Salvador, o mestre acabou desembarcando no Brasil tempos depois. O final da década de trinta foi marcante também para o mestre. Iniciando uma jornada asiática, percorrendo os conflitos no Japão, China - onde foi impedido novamente de fotografar e Filipinas. Alguns destes documentos foram publicados pela LIFE Magazine. Verger ainda passou por Indochina e o atual Vietnã. Um grande mosaico cultural, filosófico, ritualístico é montado na obra do grande retratista. O contato com tribos distantes, algumas até então desconhecidas, de gestos, cores e dialetos peculiares é uma grande descoberta rica e documental para a arte de Verger. Pierre esteve algumas outras vezes no Brasil - antes de finalmente se instalar definitivamente em 1946. Com uma relação problemática com o DIP - Departamento de
Imprensa e Propaganda do Regime Vargas - o fotógrafo viaja para a Argentina e também para o Peru, neste, vive um tempo na terra de uma das suas maiores referências fotográficas, o mestre e pioneiro Martín Chambi. Léopold Verger Desembarca no Rio de Janeiro e faz contato com a revista “O Cruzeiro” que lhe mandaria a cidade de Salvador na Bahia. Profundamente embevecido pela
cultura africana, Pierre visita várias cidades brasileiras que têm relação próxima com esta cultura. Também através do amigo Alfred Métraux, ainda percorre a Guiana e o Haiti, onde tem contato com cerimônias religiosos, os rituais vodus e diversos cultos afros. De volta à Bahia, tornase, Pierre Fatumbi Verger, depois de fazer sua incipiência no candomblé nagô na casa “Opô Afonjá” em Salvador.
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Em 1998, sob a direção de Lula Buarque De Holanda e narração do musico Gilberto Gil, o documentário “Pierre Fatumbi Verger: O Mensageiro entre dois mundos” mostra esta relação intensa e apaixonada entre o artista e o Brasil e também sua admiração recíproca à cultura africana. Suas imagens são verdadeiros documentos antropológicos, históricos, alguns, únicos e preciosos na escrituração da imagem em ambientes até então, impenetráveis. Verger ainda lançou alguns notáveis trabalhos. “Notas sobre o culto aos orixás e voduns” (1957), resultado de pesquisas realizadas no início da década de 50, sobre cultos afros.”Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Baía de Todos os Santos, dos séculos XVII a XIX” lançado em 1968, é talvez sua obra mais extensa e ousada. Neste magnífico trabalho de pesquisa, Verger realiza um poderoso estudo de campo sobre o comércio de escravos na República do Benim na África e Brasil, mais específicamente a Bahia. O projeto acabou se tornando referência crucial para as posteriores pesquisas sobre o tráfico de escravos. “Retratos da Bahia” em 1980 e “Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo” (1981) versam
pela análise ao culto e a cultura africana tradicional. “Ewé - O Uso das Plantas na Sociedade Ioruba” lançado em 1995, foi prefaciado pelo escritor Jorge Amado e seria sua última obra. Verger ainda concebe - em 1988 - a Fundaçao Pierre Verger, e foi seu presidente até sua morte. A instituição é uma das mais importantes - para a manutenção da cultura africana no Brasil - além de possibilitar o contato com toda a obra de Verger, além de oficinas, encontros e intercâmbios entre artistas, estudantes e a sociedade geral. Um grande centro cultural com sede na antiga casa de Pierre na cidade baiana. Toda a obra deste magistral artista é capaz de erguer um grande painel de múltiplas tradições. Capaz de se fazer compreender em diversas línguas - algumas delas - incompreensíveis ou até abstrusas, mas fáceis de sentir suas nuances quando encontra um espírito complexo e porque não, onipresente. “Fatumbi” foi sem dúvida, um mensageiro entre mundos. Aquele que desvendou o âmago de diversas culturas e os revelou em imagens inexauríveis, como a própria cultura, como a arte, como a sua arte. Um patrimônio de todas as gerações.
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REGISTROS SENSÍVEIS DE UMA PARIS PÓS SEGUNDA GUERRA Willy Ronis é um nome importante na fotografia francesa. O artista começou sua carreira no estúdio de fotografia do seu pai. O lendário Ronis construiu uma ampla carreira que incluiu fotografia de moda para publicações como a Vogue, mas foram seus registros de rua – especialmente as de Paris pós Segunda Guerra Mundial – que consagrou seu trabalho. Uma capacidade fascinante de documentar momentos especiais entre as pessoas numa cidade que acabara de passar por tantas dificuldades da guerra, Ronis foi uma uma sensilibidade gigante nestes registros. De um garotinho correndo para casa a um rio dançando no meio da neve, ele tem um olhar especial para momentos simples de felicidade. Antes de morrer, Ronis doou seis de seus álbuns de fotografias para o estado e este arquivo está exposto no Pavillon Carré de Boudouin, em Paris até o dia 29 de setembro de 2018. Quem passa por lá encontra desde seus auto-retratos até registros de nus impressionantes. São mais de 200 fotos que levam o público para dentro da mente criativa de Willy Ronis.
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